Você está na página 1de 50

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP

Escola de Engenharia de São Carlos - EESC


Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo

HABITAÇÃO MÍNIMA NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO 20

Autor: Ricardo Dias Silva


Doutorando em Arquitetura e Urbanismo
na Escola de Engenharia de São Carlos -
USP.
E-mail: rdsilva@uel.br

Monografia apresentada `a disciplina:


Habitação, Metrópoles e Modos de Vida -
SAP 5846
Prof. Dr. Marcelo Tramontano

São Carlos, Janeiro de 2006


SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

SUMÁRIO

RESUMO

INTRODUÇÃO 04

1.0 NOVO MUNDO - NOVO HOMEM - NOVAS PREOCUPAÇÕES 10

2.0 HABITAÇÃO MÍNIMA 27

3.0 SINTESE 44

4.0 CONSIDERAÇOES FINAIS 47

BIBLIOGRAFIA 49

2
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

RESUMO possibilitando a aproximação com


o pensamento contemporâneo.

Identificação e reconhecimento da
construção do conceito da
habitação mínima a partir da idéia
de “existenzminimum” concebida
pelos arquitetos modernos da
primeira geração do século 20.
Síntese do discurso funcionalista e
seus desdobramentos na
produção da habitação mínima
Palavras-chaves: Habitação Mínima,
unifamiliar através da interpretação
Arquitetura Funcional, Arquitetura
de obras referenciais.
Moderna.
Entendimento dos requisitos de
funcionalidade aplicados dentro do
período histórico estudado
considerando a teoria e as
propostas feitas por arquitetos com
reconhecida produção,

3
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

INTRODUÇÃO meios de produção fomentada pelas


revoluções cultural e tecnológica. Neste
ambiente após a primeira revolução
Compreender a construção do
industrial, conforme afirma Tramontano
conceito de habitação mínima
(2002), surgem desdobramentos de ordem
uniunifamiliar no século 20 mediante a
ideológica, econômica, política e técnica
reflexão dos chamados arquitetos
no eixo Inglaterra-França-Alemanha que
modernos, interessados em projetar um
influenciaram os conceitos norteadores da
novo habitat para uma nova realidade
“Nova Arquitetura” na Alemanha e do
sociao é o interesse deste trabalho.
“Espírito Novo” na França que foram
Período rico no debate em torno da
semente para uma nova ordem na
moradia ideal e de implantação de
produção arquitetônica mundial.
diversas experimentações no campo da
Arquitetos de diferentes formações
habitação, o século 20 deixo-nos projetos
e procedência se aprofundaram no debate
e obras de referência, resultado do
em torno da produção dos novos
intercâmbio de idéias e de uma grande
assentamentos urbanos e das novas
consciência co contexto social,político e
habitações. Trocaram informações
cultural da época.
sobretudo através de artigos e de
O cenário onde estas experiências
participação em congressos, com
se realizaram foi resultado de profundas
destaque para os CIAM – Congresso
mudanças na economia, devido aos novos

4
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

Internacional de Arquitetura Moderna. Na a maneira mais rentável de alojar o maior


primeira metade do século a Alemanha número de trabalhadores em um espaço
unificada que deixava a produção tão reduzido quanto possível”. O
artesanal e se lançava na produção alojamento típico era composto por um
industrial foi solo fértil para o dormitório e uma cozinha, ambiente que
desenvolvimento da arquitetura. o “Neus servia para tudo. Contra isto os arquitetos
Bauen”, preocupava-se sobretudo com a propuseram a cozinha laboratório que
produção industrial de objetos com facilitava as atividades da mulher e
qualidades artísticas. Entre aqueles que organizava o espaço habitacional.
estavam preocupados com a renovação
Num momento de solo fértil para
da arquitetura alemã destaca-se Walter
arquitetura experiências foram realizadas
Gropius, primeiro diretor da Bauhaus.
em grande parte da Europa. Destaca-se a
Segundo Kopp (1990), a situação das
Republica de Weimar na Alemanha e as
habitações na Alemanha eram pavorosas
décadas de 1920 e 1930 na União
antes da Guerra, assim como na maioria
Soviética. A transformações nos meios de
dos países que viveram a revolução
produção, a transferência da população do
industrial e sofreram com o grande êxodo
campo para as cidades, a inclusão da
rural em um curto espaço de tempo. “O
mulher no mercado de trabalho, a
habitat operário(..) não é produto do acaso
ascensão do socialismo na URSS e a
mas fruto de estudos aprofundados sobre
necessária reconstrução da Europa,

5
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

afetada por duas guerras, foram fatores Reconhecer a eficiência ou não destas e
que fomentaram a completa reformulação aventar a possibilidade de atualizar este
do modo de vida a partir da primeira discurso ainda depende do estudo de
metade da era da máquina. diversas gerações. Muitos já realizados.

Assim a intenção deste trabalho é


No campo do desenvolvimento
compreender a construção do conceito do
tecnológico, mudanças significativas já
existenzminimum na configuração da
vinham ocorrendo desde a última década
habitação modernista, identificando os
do século 19 com a possibilidade de
requisitos de projeto aplicados pelos
aquecimento central, encanamento, luz
arquitetos do período. Para isto faz-se
elétrica e água corrente no interior das
necessário a analise de algumas obras
moradias. Tudo teria contribuído para
representativas sob o enfoque da
formulação de propostas de habitações
funcionalidade e do conforto. Por fim, tem-
mais eficientes, funcionais e confortáveis
se uma síntese da experiência modernista
por parte dos arquitetos. Desta forma,
na produção da habitação mínima sob
fóruns de discussão foram criados em
estes aspectos.
torno do tema do mínimo necessário para
se habitar uma casa. Das mãos dos Talvez como em nenhum outro
arquitetos mais influentes do século período da história, os arquitetos tenham
saíram propostas que influenciaram todas se esforçado tanto para interpretar o
as gerações que vieram posteriormente. mundo em que viviam. Em paralelo às

6
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

rápidas e profundas transformações construímos reflete a visão que temos de


ocorridas, estes profissionais se nós mesmos como parte do mundo que
aprofundaram no estudo do homem de habitamos 1
sua época e dos novos materiais e
A importância da casa , conforme
técnicas trazidas com a Revolução
Rybczynski2 e Pople, cresceu ao longo
Cultural iniciada com a Revolução
dos séculos atingindo o status de reflexo
Francesa e a Revolução Industrial iniciada
do homem moderno, o que vem de
na Inglaterra e, rapidamente, transferida
encontro à tomada de consciência da
para toda a Europa. A principal
nossa individualidade.
preocupação foi incorporar as novas
tecnologias na solução dos problemas
Compreender a evolução da
relacionados aos novos assentamentos
construção do habitat moderno é
humanos. Para um novo homem, em um
fundamental para a atualização do
mundo novo, era necessário projetar uma
discurso e das metodologias aplicadas
nova habitação. A arquitetura, assim como
pelas diferentes correntes da arquitetura.
a arte, segundo Pople, reflete a evolução
A rapidez com que esta se difundiu a pode
humana e a pequena casa que a maioria
indicar eficiência nos métodos aplicados
de nós habitamos por necessidade
receberá cada vez mais atenção como
objeto de projeto. O modo como as 1
POPLE, Nicolas. Casas Pequeñas.
Barcelona: Gustavo Gili, 2003.

7
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

por aqueles arquitetos e portanto seria de como já constataram os arquitetos da


grande valia para os dias de hoje. No Neus Bauen faz-se necessário
entanto, desde aquele período, muitas racionalizar a construção do objeto
críticas foram publicadas e para arquitetônico, o que nem sempre garante
reconhecer sua conveniência ou não cabe a “eficiência da moradia” sob os aspectos
o aprofundamento do estudo das teorias e da funcionalidade e do conforto. Neste
obras realizadas, o que neste momento é sentido, conhecendo as experiências
possível ser feito com um certo passadas e a realidade do momento que
distanciamento histórico. estamos vivendo a probabilidade de uma
solução correta torna-se significativamente
Entender os atributos funcionais e
maior.
de conforto de uma moradia nos parece
extremamente complexo pois, conforme
O caminho para a realização do
afirma Rybczynski nem todas as
trabalho segue pela revisão bibliográfica
categorias de análise são mensuráveis.
sobre o século 20 e a questão da
No entanto, isto precisa ser feito.
habitação mínima moderna considerando
Principalmente quando tratamos do tema
seu reconhecimento histórico e o
da habitação econômica. Neste caso
pensamento dos atores proponentes,
posteriormente, a coleta e o registro de
2
RYBCZYNSKI, W. Casa Pequena informações sobre obras representativas
história de uma idéia. 1ª Edição. Rio de
Janeiro: Record, 1999 e, por fim, a realização de uma síntese

8
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

das informações levantadas, a partir do


entendimento crítico do surgimento de
uma arquitetura preocupada com o
minimumexistenz num período crucial da
história da arquitetura mundial, iniciado
pela “Nova Arquitetura” e o “Espírito Novo”
e que ainda exerce influências sobre a
arquitetura contemporânea.

9
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

de convivência cotidiana caracterizado


1.0
pelo núcleo familiar.
A mudança dos meios de produção
NOVO MUNDO – NOVO HOMEM
de bens e serviços, diretamente ligada ao
– NOVAS PREOCUPAÇOES
processo de industrialização vivido pela
Europa e as mudanças ocorridas dentro
Ao atingir a última década do século do núcleo familiar, segundo Tramontano3,
19 o mundo já havia passado por seriam os responsáveis pelas profundas
inúmeras transformações que deram a alterações na habitação do século 20. A
configuração, naquele momento, da população, na passagem do século,
sociedade existente. Desde o deixara de ser rural para se concentrar
Renascimento o homem já começara a ter nas cidades, devido às novas técnicas
noção da sua existência enquanto agrícolas e a maior oferta de emprego na
indivíduo, no entanto, ainda vive dentro de indústria que remunerava monetariamente
uma estrutura de clã. Em fins do século seus operários e incorporava mulheres e
18, vivendo dentro de uma sociedade crianças ao mercado de trabalho. O
agrária, vislumbra a possibilidade de livre mesmo autor nos informa que em 1914 a
arbítrio com a Revolução Francesa. No Inglaterra, primeiro país industrializado, já
século 19 vê-se parte de uma
engrenagem dentro dos novos meios de
produção e membro de um grupo menor

10
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

possuía 78% da sua população vivendo maior asseio, à melhora no tratamento do


nas cidades e Londres, que em 1801 tinha esgoto e da água e aos avanços da
1.088.000 habitantes, chega a 2.073.000 medicina. Assim a população da
em 40 anos, praticamente dobra sua Inglaterra e do país de Gales que era de
população. Este crescimento, nos anos cinco milhões e meio em 1700 subira em
seguintes, se estende por outros países 1801 para nove milhões e em 1831 para
com destaque para França e Alemanha. quatorze milhões de habitantes. Com o
aumento do mercado consumidor é
Ao deslocamento populacional,
preciso aumentar a produtividade, o que
soma-se o seu crescimento e a diminuição
leva a invenções técnicas que alteram
da taxa de mortalidade que de acordo com
radicalmente as condições de trabalho.
Ashton, citado por Benévolo4, deve-se à
Núcleos urbanos passam a concentrar
introdução da cultura dos tubérculos que
industrias e população, sendo a primeira é
facilitou a criação de gado no inverno,
beneficiada pela mão-de-obra em
aumentando o acesso à carne fresca
abundância e a segunda, embora
durante todo ano, à maior ingestão do
explorada, encontra maior possibilidade
trigo e de verduras na alimentação, ao
de escolha e reconhece-se como classe,

3 4
TRAMONTANO, M. Habitação moderna: Benévolo, L. Origens da urbanística
a construção de um conceito. São moderna. 2ª Edição. Lisboa: Editorial
Carlos, EESC/USP, 2002. Presença, 1987.

11
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

organizando-se em defesa de seus Ao descrever o núcleo antigo da


interesses comuns. cidade de Manchester em 1845, Engels
declara que “as casas são imundas,
velhas, a cair e o aspecto das ruas laterais
Devido às exigências de
é absolutamente horrível”. Nos novos
deslocamento dos insumos para produção
bairros operários, num esforço de
e para o comércio desenvolve-se uma
sistematização, constroem-se casas
rede de transporte mais eficiente que
mínimas em fileiras e entre estas há um
incorpora as estradas, as ferrovias e a
pátio que, confinado, mantém um ar
navegação. A cidade antiga muda
viciado e nocivo. Nestas casitas que
lentamente, não acompanhando a
contém no máximo dois quartos e as
velocidade do crescimento econômico, às
águas furtadas, habitam em média vinte
intervenções planejadas sobrepõe-se a
pessoas e no bairro pode existir uma
multidão de moradias independentes que
única latrina para 120 pessoas. Embora
abriga os pobres e miseráveis. A demanda
Engels cite o que existe de pior e esta
por novos locais de fixação da população,
situação de miséria não seja exclusividade
estimula o surgimento de novos bairros
deste período da história, agora ela é
em torno dos núcleos primitivos e
reconhecida e debatida. A busca de
próximos dos locais de trabalho. O
soluções parte das grandes obras públicas
aumento da densidade compromete as
de combate aos inconvenientes de ordem
condições de habitabilidade.

12
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

higiênica, no entanto, é reconhecível a habitações. Espaços de acomodação e de


colaboração dos utopistas do século 19 circulação de patrões e empregados são
como Saint-Simon, Fourier, Cabet e no diferenciados. Os primeiros permanecem
debate e na busca de soluções que entre as dependências de “prestigio” e os
influenciou os arquitetos da geração demais trabalham junto aos espaços de
seguinte como Le Corbusier. serviços. Estes têm acomodação no porão
com os animais e as caldeiras, próximo as
Em contraponto a situação da
cozinhas ou aos sótãos, sem a necessária
população operária, afirma-se a posição
privacidade. A maior atenção aos
da burguesia como vencedora do
“espaços de rejeição”, especificamente às
processo de industrialização. Esta vai
áreas da cozinha e “banheiro” virá com a
acomodar-se em habitações que atestam
ação dos higienistas cientes das más
o seu nível social. A presença de
condições de ventilação e acúmulo de
empregados domésticos é indispensável,
sujeira que são responsáveis por tantas
ainda que cada vez mais relegados aos
enfermidades. A higienização por latrinas
fundos e aos cantos sombrios nos diz
com ação da água passa a ser realidade
Tramontano. A segregação entre os mais
na Inglaterra a partir de 1855. Na França,
ricos e os mais pobres identifica e justifica
por questões culturais, isto levará mais
a criação de espaços para um e para o
tempo. A reforma da cozinha no decorrer
outro, tanto no meio urbano, confirmado
dos anos colocará a mesma como “centro
pelos projetos haussmanianos, como nas

13
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

nervoso” da habitação burguesa. O eram feitas em madeira com técnicas


cômodo, mais ventilado e iluminado, tradicionais. O ballon-frame, utilizado pela
passa a ocupar uma posição que permite primeira vez em 1833, consistiu em um
o isolamento dos empregados e o acesso sistema revolucionário por usar elementos
à sala de jantar e a circulação de serviço. pré-fabricados em madeira serrada unidos
Coberta de valores estéticos e derivados por pregos.
da salubridade e da moralidade, a cozinha
Antecedendo o século 20, em 1851,
vira o século assumindo características
na Exposição Universal de Londres o
de laboratório. (TRAMONTANO, 2002).
Príncipe Alberti expõe quatro pequenos
Outro aspecto observado por Pople modelos de pequenas casas com
(2003) é a romantização da vida preocupações de demonstrar as
campestre no século 19 em paralelo a possibilidades de melhoria da saúde e da
industrialização. Segundo o autor, na qualidade de vida de seus moradores.
Inglaterra proliferam pequenas casas de Neste período a produção de habitações
campo em diferentes estilos. John já adquirira um caráter social com a
Wodforde descreve uma moradia inglesa construção de casas destinadas aos
em 1831 como um só ambiente com um operários das indústrias, inclusive com
forno e uma chaminé, divisão de camas inovações tecnológicas como água
por cortinas e teto com forro de madeira corrente e banheiras embutidas no piso
coberto por palha. Nos EUA as casas presente nos projetos da Cia Cadbury na

14
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

região de Midlands. Vinte e sete anos sentimentos revolucionários. Koop (1990)


depois Richard Norman Shaw exibe na destaca o fato de que a tomada de poder
Exposição Universal de Paris, uma casa pelos bolcheviques botou o poder na mão
de campo pré-fabricada no estilo vitoriano. daqueles para quem a arquitetura e o
urbanismo não existia. Ao final da guerra a
burguesia sai enfraquecida e o
Um novo século
proletariado fortalecido. O déficit
habitacional na Alemanha chega a 1
O século 20 tem início com a
milhão e na Inglaterra a 500 mil. A cada
acomodação das nações no território
país caberá uma solução para o problema.
europeu e uma guerra que trará prejuízos
Na Inglaterra a lei Addison determina que
financeiros, restrições ao crédito e
a melhor solução é a casinha individual
conseqüentemente a paralização da
limitando pesquisas na área da pré-
construção de habitações nos territórios
fabricação e da habitação coletiva. Na
envolvidos no conflito, subindo o preço
Alemanha a concentração da população
dos imóveis e dos aluguéis o que levará
nas cidades agravava o problema da falta
ao congelamento dos valores por parte de
de moradia, o que era constantemente
alguns governos. No mesmo período em
lembrado pelos sindicatos. A república de
que se encerrava o conflito, a derrubada
Weimar estabelece então uma política de
do regime tsarista na Rússia causa
investimentos na área social priorizando a
instabilidade no continente avivando os

15
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

construção de habitações. As soluções Desenhando a nova habitação


serão apresentadas pelos arquitetos
ligados ao Werkbund que desde antes da Entre os participantes da Werlbund
guerra procurava a qualificação dos estão Walter Gropius e Bruno Taut. O
produtos industrializados e da arquitetura primeiro arquiteto nomeado diretor da
alemã. Na corrente dos expressionistas Bauhaus, escola de artes e arquitetura5
Hans Poelzig e Erich Mendelsohn em torno da qual dar-se-á importante
apontam para uma arquitetura escultural debate sobre a standardização da
baseada numa atividade criadora moradia. Num primeiro momento, a nova
subjetiva. Por outro lado, os racionalistas política habitacional retoma a construção
críticos reivindicam uma postura racional e de casas sem grandes inovações
objetiva que correspondesse às tecnológicas. Otto Haesler, em 1923,
necessidades da comunidade. Esta visão lança um projeto pioneiro de casas em
prevalece juntando as duas correntes em fileiras, Zeinlenbau, com preocupações
torno da idéia da união das artes e da em resolver aspectos de ventilação e
arquitetura com objetivo de servir ao povo. insolação. Este modelo foi largamente
empregado por Ernest May em Frankfurt a
partir de 1925. O tipo básico de

5
A escola foi criada como escola de artes
decorativas tendo o departamento de
arquitetura sido criado só em 1927.

16
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

apartamento proposto por Haesler era administração municipal de Frankfurt


composto por sala de estar e jantar, uma convida para assumir o posto de arquiteto-
pequena cozinha (maior inovação), chefe Ernest May que havia trabalhado na
banheiro e com variação do número de Inglaterra com Unwin, seguidor das idéias
dormitórios de três a seis. A partir de 1926 de Howard sobre as cidades jardins. May
a produção em massa de habitações com inicia um programa baseado na economia
uso de novos métodos industriais é no projeto e na construção que resultou no
intensificada, assim como as pesquisas incrível número de 15 mil unidades
em torno da sua configuração diminuindo habitacionais sob a sua direção. Esta
o déficit habitacional em 1930, graças a objetividade de abordagem levou
intervenção estatal. inevitavelmente a formulação de espaços
padrão do mínimo para a existência, que
A casa pequena isolada no lote
se tornaram o polêmico tema do
passa a ser discriminada já que o conjunto
Congresso dos CIAM de 1929 em
de habitações unifamiliares assume a
Frankfurt.6.
posição de modelo mais adequado para a
nova sociedade. Junto a estes
agrupamentos são incluídos
equipamentos públicos complexos O programa de May baseava-se no
identificados com a política social- acesso de todas as unidades ao sol e a
democrata. No ano de 1925 a ventilação e na facilitação das atividades

17
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

domésticas. A configuração dos espaços m2. A maioria dos equipamentos, assim


também pretendia diminuir os incômodos como os elementos construtivos, lajes,
entre os moradores que conviveriam mais paredes e vigas serão pré-fabricados em
próximos . Não existe mais a estratificação usinas a partir de normas específicas. A
da casa burguesa, as atividades tipificação das propostas deve atender ao
domésticas são assumidas pela mulher princípio de igualdade com qualidade.
que não possui empregados. A cozinha A busca pela redução dos aluguéis
higienizada tem seu funcionamento e do valor da moradia mediante a
otimizado. O espaço gerado é resultado racionalização da construção foi
do estudo das atividades humanas dentro perseguida também por Walter Gropius.
do espírito do existenzminimum. Assim, No projeto da colônia Törten, na periferia
vários equipamentos passam a ser móveis de Dessau, entre 1926 e 1928, a
ou escamoteáveis como camas e mesas, construção de 316 moradias foi
armários são embutidos e podem dividir organizada segundo o exemplo do
os ambientes e as portas podem correr. O Taylorismo aplicado anteriormente em
resultado é a considerável redução da Berlim por Martin Wagner. A organização
área habitada com apartamentos de 40m2 do canteiro, a padronização de
a 65 m2 e área média por ocupante de 10 componentes em concreto e escória e o
detalhamento do projeto garantiam o baixo
6
FRAMPTON, K. História crítica da
arquitetura moderna. 1ª Edição. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

18
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

custo dos imóveis que puderam ser uma casa experimental com sistema
ocupados por trabalhadores como se construtivo a seco em que a cozinha é o
pretendia. A preocupação com a núcleo em torno do qual se relacionam as
produção, feita em escala industrial, áreas de convívio e de estocagem,
sobrepunha as preocupações com o alterando a hierarquia dos espaços. Outra
atendimento as necessidades dos unidade isolada seria proposta em 1932
moradores, resultando em prejuízos do com novas preocupações relacionadas à
espaço interno como cozinhas pouco flexibilidade na execução, permitindo a
funcionais, janelas com peitoril muito alto montagem e desmontagem e a ampliação
e problemas na calefação. Os aspectos do núcleo gerador, formado por um
plásticos resultavam do modesto ambiente que poderia abrigar a área social
orçamento. Na construção de um protótipo e de descanso contígua à varanda e
de moradia em Stuttugard em 1927, na cozinha, em anexo tem-se a área de
colônia Weissenhof7, Gropius apresenta higienização e o depósito. A cozinha,
reduzida a uma bancada, lembra o projeto
7
Em Weissenhof surge a primeira de cozinha-armário proposto pelo comitê
manifestação do “estilo internacional” de
da construção na URSS em 1928. De
casas em volumes prismáticos brancos
de cobertura horizontal. Na construção acordo com Tramontano esta
deste conjunto de protótipos habitacionais
participaram vários membros do “imutabilidade” do corpo cozinha-higiene
Werkbund além de Le Corbusier, Mart
Stam , J. P. Oud e Vitor Bougeois. Estes já havia sido proposto por Mies van der
seriam formariam a base dos CIAM.

19
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

Rohe no seu edifício de apartamento em pontos da nova arquitetura sugeridos na


Weissenhofsiedlung. Para Mies a sua publicação dos “5 pontos da
racionalização e a standardização haviam Arquitetura Moderna”8. Duas paredes
se transformado em prerrogativas para o laterais suportam a estrutura e nas outras
projeto da nova habitação, assim como a duas uma única e ampla abertura garante
maleabilidade dos ambientes, o que a ventilação e iluminação. No teto plano é
justifica o emprego da estrutura proposto um solarium. Corbusier também
independente - no seu caso com foi o responsável pelo pavilhão do “Esprit
elementos metálicos, e divisórias internas Nouveau”9 na Exposição Internacional das
leves gerando assim a planta livre.

De forma crítica em contraposição 8


1. Os pilotis elevam a casa do solo
tornando-a mais saudável;2. As
ao existenzminimum Le Corbusier faz um coberturas-jardim proporcionam o uso do
apelo idealista o “máximo para a espaço do antigo telhado;a terra e as
plantas protegem o concreto;3. A planta
existência”. O tipo básico proposto era da livre permite que a divisão dos espaços
se dissocie da estrutura;4. As paredes de
caixa que abriga o espaço vital em dois ou vidros, ou largas janela, tornam-se
possíveis graças a estrutura
três pisos. No nível do chão o espaço independente; 5. As fachadas livres são
leves membranas, eventualmente de
social tem pé-direito duplo e no mezanino vidro, sem compromisso nem com a
são instalados os dormitórios. Os divisão interna. Tramontano, 2002.
9
O pavilhão é uma unidade do Edifício-
primeiros estudos da Maison Citrohan, villas, projeto de 1922 não executado.
1920/1922, antecipa alguns dos cinco Modelo de habitação para as cidades
grandes em que cada apartamento é uma

20
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

Artes Decorativas realizada em Paris em escadas feitas com tubos metálicos e a


1925 e onde foram apresentadas as não presença de ornamentação. O
últimas idéias em termos de móveis e pavilhão demonstrava certa displicência
decoração de interiores na época. nos detalhes técnicos como a localização
inconveniente das instalações elétricas e
poucas novidades com relação ao uso de
novos equipamentos domésticos, a
discussão deslocava-se para a crítica da
casa burguesa de colecionar móveis
desnecessários sugerindo que a arte
decorativa estaria na beleza dos
Fig. 1 Maison Citrohan 1
equipamentos, podendo este ser inclusive
Fonte: Fundação Le Corbusier
feito em série. Para o autor, ao ser

Segundo Rybczynski, o pavilhão, um cubo despida de seu espírito burguês, a casa

que lembrava um estabelecimento também comprometerá o bem estar

comercial, fora pouco notado pelos íntimo.

visitantes, tinha um aspecto industrial


Na França do início do século uma
devido às molduras de aço nas janelas,
das principais colaborações para a nova
habitação vem do engenheiro August
casinha com jardim a diferentes níveis do
solo. Perret responsável pela primeira aplicação

21
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

do concreto armado na execução de uma crença na produção industrial, o


habitação coletiva em 1903. Foi com compromisso de adequação às
Perret que Corbusier aprofundou seu necessidades da vida moderna e um
conhecimento sobre o concreto armado o refinamento estético proveniente de sua
que repercutiu no desenvolvimento do formação artística e cultural, influenciada
sistema Dominó e na possibilidade da principalmente pelo cubismo. Não
planta livre. satisfeito com o objeto arquitetônico
Resultado do intercâmbio com insere-o num plano de ocupação territorial
outras culturas e outros arquitetos, de proporções globais. Do projeto do
Corbusier reuniu em torno do debate mobiliário ao dos assentamentos humanos
sobre a nova arquitetura da habitação as tudo está vinculado a um novo projeto de
propostas utópicas de Fourier, das Dom sociedade. A idéia da casa como uma
Kommuna10 soviéticas e de tantos outros “máquina de morar” estava alinhada com
locais por onde viajou e pessoas com o pensamento tecnisista e a
quem teve contato, sobretudo através dos standardização propostas para o homem
CIAM. A proposta corbusiana reúne a da era da máquina. Nos projetos
desenvolvidos antes de Weisenhof

10
Corbusier “libertava-se gradualmente da
Edifício composto por residências
comunitárias com células individuais ou tripartição burguesa da habitação do
unifamiliares com serviços coletivos como
lavanderia, creche, escola, lojas e até século 19 – zonas íntima, social e de
mesmo cozinhas.

22
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

serviços – dirigindo-se para uma A realidade da América


bipartição centrada nos modos de vida da
família moderna – zonas de uso diurno e
Na América do Norte, o colapso da bolsa
de uso noturno”. Em uma das casas de
de Nova Iorque em 1929 traz a tona uma
Weissennhof esta bipartição é diluída pela
crise econômica que se estenderá por
adoção de divisórias leves que possibilita
toda década seguinte. Neste período as
a configuração de um espaço único de
pessoas enfrentam o desemprego e a falta
uso diurno e outro subdividido em cabines
de moradia, refletindo na proliferação de
de dormir durante a noite. Posteriormente
cortiços, efeito da revolução industrial e
estas idéias, já amadurecidas, ressurgem
das imigrações. Também no campo a
nos projeto da Unit´d’Habitation,
população esta vivendo de forma precária
aparentemente implantados tardiamente
devido ao processo migratório em direção
embora tenha influenciado a produção
à costa oeste justificada pelos desastres
habitacional do mundo capitalista,
ambientais ocorridos no sul.
desejoso de novidades e necessitado de
A resposta para esta situação vem
eficiência.
na forma de políticas públicas realizadas
pelo New Deal e que tem como objetivo a
implementação de um planejamento
global que irá organizar, financiar e
executar projetos de renovação urbana e

23
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

de construção de novas moradias. Neste e fora aplicado inclusive na Carl Machey


sentido, duas linhas foram adotadas, a House (1932-1934), um dos principais
primeira espelha-se na experiência do exemplos de public housing americano,
funcionalismo europeu e cria grandes cujos autores Oscar Stonorov e Alfred
conjuntos habitacionais providos de Kastner consistem em alguns dos
equipamentos de uso coletivo, a segunda, principais responsáveis pela introdução da
produziu assentamentos inspirados nas “nova arquitetura” européia nos Estados
cidades-jardim inglesas e nas casas Unidos.
simples da tradição americana com
Os novos assentamentos
poucas modificações. As maiores
conhecidos como “homesteads” permitiam
preocupações do programa americano era
o retorno a terra pelos camponeses e
de que estas unidades habitacionais
também abrigava trabalhadores
fossem higiênicas, seguras e confortáveis.
desempregados em caráter definitivo ou
No plano formal e estético ia-se do estilo
provisório. As Greenbelt Towns eram
colonial georgiano ao Neus Bauen.
assentamentos localizados entre a cidade
A realização de pesquisas junto aos e o campo insperados na Garden Town de
grupos de futuros moradores dos Howard. Algumas de suas casas eram
conjuntos de habitações coletivas, para pré-fabricadas e se mostravam
conhecer seus hábitos, desejos e inadequadas para as condições locais de
comportamentos, consistia em algo inédito clima., outras seguiam o estilo colonial

24
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

americano simplificado. Os melhores Isto devido à presença de paredes de


exemplos foram apresentados numa madeira pintadas de branco com
exposição no Museu de Arte Moderna de esquadrias de vidro e finas colunas de aço
Nova Iorque em 1944 com nome de “Built suportando volumes com diferentes
in USA”. Segundo os organizadores esta alinhamentos. Entre os principais objetivos
mostra apresentava a genuína arquitetura destes empreendimentos estava a
moderna americana. Entre as obras garantia de um nível de vida adequado
estavam as labor homes, residências com aos costumes e a prática social daquelas
terra batida estabilizada inspiradas na comunidades.
auto-construção dos migrantes. Estas
casas tinham um único cômodo servido
com banheiro e com dispositivos anti-
mosquitos, necessários para o clima
californiano.

As casas de algumas vilas não


deviam nada a arquitetura tradicional mas Fig. 2 Labor Home

ao mesmo tempo lembravam algumas Fonte: Library of Congres (memory.loc.gov)

realizações dos membros da Bauhaus que


se refugiaram nos Estados Unidos depois Assentamentos nos subúrbios de
da ascensão do nazismo na Alemanha. algumas cidades pretendia associar as

25
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

vantagens do campo à vida na cidade. A segundo normas e técnicas de pré-


habitação financiada pelo Estado, fabricação. As inovações estavam
instalada distante do centro não traria presentes na racionalização dos espaços
prejuízos ao trabalhador já que este tinha internos e externos, nas novas regras de
a sua disposição um sistema viário higiene e no emprego de formas
eficiente e centros de serviços adequados arquitetônicas simplificadas.
às suas necessidades. As vantagens do
novo modo de vida deveria atender ao
Por fim, não se pode dizer que os
sonho americano de proximidade com a
arquitetos americanos do período fossem
natureza. Para Koop o mérito está na
visionários ou idealistas na busca de uma
diversidade das habitações que foram
nova arquitetura para as habitações como
construídas.
Gropius ou Le Corbusier , no entanto
continuavam praticando sua arquitetura só
No Vale do Tennessee, pelo
que agora com maior apego social. De
contrário, houve um grande interesse na
qualquer maneira, resultados importantes
realização de uma nova arquitetura sem
foram alcançados no emprego de
decorativismos e adequada ao
materiais locais e na adequação ao clima
“funcionamente necessário”. As
e ao sítio dentro de uma arquitetura
residências dos operários contemplam
objetiva e não monumental.
aspectos como o transporte e a
desmontagem e eram executadas

26
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

“UNE PETIT MAISON” – LE


2.0
CORBUSIER, 1923

HABITAÇÃO MÍNIMA

A melhor forma de entender a resposta


dada pelos arquitetos ao novo contexto Fig. 3 Petit Maison - Vista do Lago 1
que se colocava frente à produção da Fonte: Galfetti,1995

habitação mínima no período estudado é


através da análise das suas obras, assim
selecionamos alguns projetos, não
necessariamente os mais importantes de
cada autor, mas aqueles que nos
possibilitam desenvolver um pensamento
reflexivo sobre as mudanças ocorridas.

Fig. 4 Petit Maison - Vista da rua 1

Fonte: Galfetti,1995

27
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

Em “História crítica da arquitetura o que obrigou o arquiteto a algumas


moderna” Frampton faz referência ao modificações no desenho preliminar.
apelo idealista de Le Corbusier para o
“máximo à existência” em contraposição a
A casa, um prisma regular
“mínimo para a existência” proposto pelos
longitudinal, encontra-se entre a via de
orgazanizadores do 2ª CIAM realizado em
acesso e o lago de Genebra, num terreno
meio as experiências de Ernest May em
estreito e comprido que definiu sua
Frankfurt. No entanto, seis anos antes, no
configuração. A planta é um retângulo, no
projeto da casa que construiu para seus
interior do qual um núcleo formado pelas
pais, em Conseaux-Vevey, “une petit
instalações de serviço - higiene pessoal, e
maison”, Le Corbusier traçara um plano
lavanderia- define o fracionamento do
rigoroso para responder ao programa de
espaço, no futuro classificado como
uma habitação mínima destinada a abrigar
miesiano, e que permite certa flexibilidade
duas pessoas que vivem sozinhas e não
de uso. No início da década de 1950, ao
têm empregados. A resposta vem na
identificar e empregar a mesma solução,
forma de uma casa funcional de 62m2
assim como o fez Philip Jonhson na sua
esboçada considerando-se os fatores
casa de vidro, Louis Khan define a relação
condicionantes do terreno, mesmo que
do retângulo com o cilindro como espaço
este tenha sido escolhido posteriormente,
servido e espaço servidor
respectivamente.

28
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

Identificada com os princípios da


“nova arquitetura” a casa ainda não exibe
os “cinco pontos da arquitetura” propostos
pelo autor inicialmente na revista “Sprit
Noveau”, mas já faz uso da abertura
longitudinal e da planta livre possibilitada
pela incorporação da estrutura junto às
paredes limítrofes da edificação,
construídas em bloco de concreto. As
divisórias mais leves do interior permitem
diferentes configurações num espaço com
camas retráteis utilizadas por eventuais
hóspedes, artifício que remete aos móveis
deslocáveis empregados por E. May em
edifícios destinados às habitações
econômicas com cozinhas compactas e
aparência austera como da “Petit Maison”.

29
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

Fig. 5 Planta: 1 – Acesso, 2 – Sala, 3 – Dormitório, 4 – Banho, 5


– Cozinha, 6 – Depósito, 7 – Lavanderia, 8 Escada
Fonte: Dunster, 1994

Fig. 6 Corte Transversal


Fonte: Dunster, 1994

30
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

CASAS GEMINADAS EM WEISENHOF – econômica, deveria renunciar à


MART STAM (1927) ostentação habituando-se a uma nova
escala de valores, que na construção da
moradia, implicaria na otimização do
espaço habitável e no uso de materiais de
menor custo e que colocaria o homem em
consonância com a nova sociedade. No
entanto, sua proposta em Weissenhof
Fig. 7 Casas Geminadas - Vista da Rua 1 ainda guarda traços da composição da
Fonte: Dunster, 1994
casa burguesa identificada na tripartição
do seu interior em íntimo, social e de
O conjunto de três casas em Weissenhof -
serviços – distribuídos nos três pisos
Stuttugart, antecede o debate em torno do
propostos. Assim como nos remete a casa
existenzminimum, tema do 2º CIAM,
rural em que os utensílios, ferramentas e
ilustrando as bases da arquitetura
animais eram colocados no porão, quando
funcionalista que triunfaria neste período
cria uma área de armazenagem e
na Alemanha e se estenderia por outros
posiciona a caldeira abaixo no nível do
países rapidamente. Dentro do espírito do
solo. No térreo encontra-se a entrada
Neus Bauen, Stam declarava que o
junto ao sanitário e a cozinha
homem deveria abandonar a forma
concentrando a instalação hidráulica,
tradicional de viver em favor de outra mais

31
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

inclusive com o andar superior onde está pode aproximar-se da natureza mesmo no
localizado o espaço destinado ao banho – período de inverno. Com algumas
novidade trazida pela tecnologia. Neste adequações, esta abordagem objetiva e a
piso ainda acontece o espaço social e de tipologia antimonumental irão predominar
refeições. O piso superior está reservado nas habitações coletivas da década
ao espaço íntimo e de descanso, além de seguinte.
incorporar a área destina ao banho que só
na virada do século passa a ter um
cômodo exclusivo dentro da moradia. Em
antítese a realidade do período e ao
discurso socialista dos arquitetos
racionalistas, um dormitório de
empregados é colocado junto aos outros
dois que servem à família. O fato causa
estranheza pois naquele momento a
mulher passava a assumir a criação dos
filhos e a baixa remuneração não permitia
a presença de empregados nas casas de
médio padrão. O programa termina por
contemplar um terraço onde o homem

32
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

Fig. 8 Planta do Subsolo 1


Fonte: Dunster, 1994

Fig. 9 Planta - Piso Térreo 1


Fonte: Dunster, 1994 1 Entrada
2 Lavabo
3 Cozinha
4 Sala
5 Dormitório
6 Depósito
7 Caldeira
8 Dormitório
9 Dormitório de empregado
10 Terraço

Fig. 10 Planta Piso Superior1

33
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

CASAS DE VERANEIO – J. J. P. de 1920 diversas moradias funcionalistas


OUD, 1933 com cobertura plana, ângulos retos e
“parede nua”. Esta pequena casa de
veraneio feita para Beye & Co. em 1933
experimenta o tema da standardização da
habitação mínima fora do contexto do
operariado urbano. Trata-se de uma
pausa no pensamento racionalista e o
início de sua ruptura com o funcionalismo
ortodoxo.

Ao analisar a proposta de Oud nos


remetemos à arquitetura da habitação
holandesa do século 17 que marcou a
Fig. 11 Casa de Veraneio 1

Fonte: Galfetti,1995
evolução do espaço doméstico num
momento em que o grupo familiar vivia
J. J. P. Oud pertenceu, ainda que num ambiente de extrema domicilidade e
por um breve período ao movimento The que começava a valorizar a praticidade na
Stijl holandês tendo construído na década vida cotidiana. A composição da sala-

34
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

cozinha em “L”, de acordo com Galfetti11, nos faz refletir, com a devida distância,
teria sido usada pela primeira vez pelo sobre a relação homem-natureza pregada
arquiteto. Uma solução até então pouco por F. L. Wright, arquiteto com influência
empregada de união do espaço da na obra de alguns importantes arquitetos
cozinha e da área de convivência. A holandeses.
cottage que mantém a divisão entre área
social e íntima através da adoção de dois
pisos, tem os dormitórios no piso superior.
Assim como na Maison Citrohan a área de
convivência tem pé-direito duplo e
iluminação através de um grande pano de
vidro que garante a entrada da luz do sol.
O sentimento “folk” do autor ao
elaborar o projeto assemelha-se ao das Fig. 11Planta do Piso Superior
Fonte: Galfetti,1995
labor homes americanas realizadas no
período de vigência do New Deal, que
acontecia do outro lado do Oceano
Atlântico nesta mesma época. Também

11
GALFETI, G. G. Casas Refúgio.
Barcelona: Gustavo Gili, 1995.

Fig. 12 Planta do Piso Inferior 35


Fonte: Galfetti,1995
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

CASA DO SR. E SR.A JACOBS família ter de adaptar-se àquele momento


(USONIAN HOUSE) – F. L. Wright, 1935- a uma vida simples, assim desfrutaria das
1937 vantagens da época. A casa deveria
refletir tais simplificações. Para atingir
estes objetivos foi confeccionada uma lista
com nove pontos que o projeto deveria
evitar: cobertura escondida, garagem,
subsolo, decoração interior, aquecedores
e acessório de iluminação, excesso de
Fig. 13 Casa Jacobs - Vista da rua 1
Fonte: Pfeiffer;Futagawa, 1991
mobiliário e de detalhes, paredes pintadas
ou revestidas e calhas. A solução vem de
Nos últimos anos da depressão um partido em “L” em que numa perna
econômica nos Estados Unidos, Frank localiza-se a área de convívio e na outra a
Loyd Wright elabora este projeto de área íntima, composta por dois dormitórios
habitação de baixo custo em Wisconsin e um escritório. No encontro das duas
para um jovem jornalista com uma mulher pernas tem-se o núcleo de serviços em
e uma filha. Trata-se de uma casa de 150 alvenaria que nos remete novamente ao
m2, de acordo com Pople (2003) pequena “espaço servidor” de L. Khan (1950)
para os padrões americanos da época, adotado exaustivamente por Mies a partir
com custo total de 5500 dólares. Ao da casa Farnsworth de 1945. As demais
concebê-la Wright destacava o fato da

36
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

paredes são compostas por tábuas e


sarrafos. A proximidade das instalações
hidráulicas e os materiais empregados –
madeira bruta, tijolo, cimento, papel e
vidro, foram determinantes na redução
dos custos.

Para resolver a questão do


aquecimento no inverno, Wright instala o
equipamento de calefação no subsolo e
lança mão de um piso aquecido. As
soluções criativas empregadas para
baratear a obra, não só despertou a
atenção do público como do mentor da
Bauhaus, Walter Gropius, que tinha
grande interesse na standardização da
habitação e que anos depois
desenvolveria um sistema de casas pré-
fabricadas em madeira, em parceria com
Marcel Breuer, em que aparecem algumas
destas soluções.

37
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

Fig. 14 Casa Jacobs Planta; Fig. 15 Corte

Fonte: Pfeiffer;Futagawa, 1991

38
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

CHAMBERLAIN COTTAGE – MARCEL


BREUER E WALTER GROPIUS, 1941
Para um arquiteto formado na
Bauhaus o projeto da casa “Chamberlain”
consiste na representação da objetividade
e do racionalismo alemão na sua melhor
forma. Espacialmente, não fosse pelo
conjunto lareira-chaminé, a casa poderia
ser interpretada como um interessante
protótipo de habitação econômica visando
a standardização, no entanto, trata-se de

Fig. 16 Casa Chamberlain - Acesso 1


uma casa de veraneio. A obra demonstra
Fonte: Dunster, 1994 o domínio dos arquitetos na aplicação da
técnica de construção leve em madeira
(sistema ballom-frame) dentro de uma
linguagem eminente moderna. Como nos
seus demais projetos, Breuer distingue o
espaço da moradia definindo zonas para o
dia e para a noite. A planta do volume
principal é composta por uma zona
Fig. 17 Casa Chamberlain - Lateral 1
Fonte: Galfetti, 1995 estreita que engloba a cozinha, o

39
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

banheiro, a área de vestir, e a outra, mais


larga, o dormitório e o lugar de convívio
social em que uma chaminé define o
espaço de refeições e de estar no piso
superior e de armazenagem e de um
ateliê no piso inferior – ambiente que
também é uma garagem de barco e
espaço da caldeira. Este emprego dos
materiais e da solução do núcleo maciço
Fig. 18 Planta Piso Inferior 1
da lareira na composição da planta deixa
Fonte: Galfetti, 1995
clara a influência das casas usonianas de
Wright.

Fig. 19 Planta Piso Superior 2


Fonte: Galfetti, 1995

40
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

CASA FUETER (Projeto) – LE


CORBUSIER, 1950.

Fig. 20 Fachada

Fonte: Boesiger, 1994


Em 1953 foi realizado o 9º CIAM em
Aix-em-Provcence com a participação de
um grupo de jovens arquitetos que
contestava a postura dogmática do
congresso impetrada pelos velhos mestres
e documentada na Carta de Atenas, cuja
atualização já vinha sendo contestada
desde o CIAM anterior realizado em 1951.
No nono encontro, em que o tema foi o

41
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

habitat, os arquitetos mais jovens e os malha estrutural, o zoneamento dos


estudantes, cobravam as razões para as ambientes segundo seu uso, a presença
decisões arquitetônicas e contestavam os do “núcleo servidor” – aqui expresso na
princípios mecânicos de ordenação até área de higienização, a cozinha compacta
então empregados. Esta nova geração muito empregada na década de 1920, e a
despertava o interesse e chamava a hierarquia das paredes dada pela sua
atenção para a identificação do homem espessura. O artifício da chaminé como
com a habitação. Naquele mesmo elemento estruturador do espaço social, já
momento, Corbusier, que se colocará ao aplicado na casa de fim-de-semana em La
lado dos estudantes, repensava sua Celle quinze anos antes e nas casas
produção redirecionando seu trabalho usonianas de Wright também pode ser
para um estreitamento do homem e do vista na casa Chamberlain de Breuer e
edifício com a natureza. Gropius. Mas a reflexão mais importante
advém do resgate da sua produção de
O projeto da casa do professor
casas dos anos de 1930, época em que o
Fueter, às margens do lago Constança,
arquiteto ensaiou o uso de materiais e
pode nos levar a uma série de indagações
técnicas primitivas em detrimento dos
sobre o novo rumo que a arquitetura
elementos industrializados, permitindo-se
estava tomando naquele período. Ao
uma maior liberdade de expressão.
estudarmos a planta notamos de imediato,
Intenção inicialmente identificada nas
princípios norteadores do funcionalismo: a

42
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

casas Monol de 1919 e prática comum conforto doméstico que na concepção de


nas construções vernaculares Rybczynski encontra-se na conveniência,
mediterrâneas. Já em 1950 o mestre do eficiência, domesticidade e no bem estar
espírito novo parece antever a o físico que o ambiente possibilita.
surgimento de um futuro próximo menos
doutrinário em que o homem teria
liberdade de misturar técnicas primitivas e
avançadas, segundo suas necessidades e
seus recursos. O pensamento
funcionalista da civilização da era da
máquina é substituído pela influência
brutalista de Fernand Léger e a pela
incorporação do vernáculo.

O espírito parece ser o mesmo da


obra em Lês Mathes (1935) em que a
ausência de recursos justifica as decisões
tomadas de empregar materiais naturais e
métodos primitivos. A seqüência de casas
realizadas depois desta confirma a opção Fig. 21 Casa Fueter - Planta 1

por uma linguagem mais próxima do Fonte: Boesiger, 1994

43
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

neste período que vai do início do século


3.0 SINTESE
até meados do mesmo.
Na colônia de Weissenhof
As habitações mínimas ou estiveram presentes tanto arquitetos
pequenas casas apesar de seu tamanho ligados ao Neus Bauen quanto ao Sprit
reduzido podem exprimir toda poética do Noveau, os dois principais movimentos
arquiteto autor. Em alguns momentos responsáveis pela gestação e propagação
consistem num experimento, por vezes da nova arquitetetura. Ali, na elaboração
necessário para amadurecer idéias que no de um conjunto de casas, estes arquitetos
futuro serão aplicadas em obras de tiveram oportunidade de aplicar idéias
grandes dimensões, em outros em inovadoras que caracterizariam o estilo
necessidade imposta pelo programa do internacional. Dentre os presentes
edifício ou por questões econômicas. estavam Le Corbusier, Walter Gropius e
O século 20 produziu inúmeras Mies van der Rohe, futuras referências da
experiências não só no tema habitação, arquitetura moderna e agentes
mas também no que se refere à sua fundamentais na composição da nova
menor escala. Apoiados nestes estudos habitação que estava sendo desenhada
de diferentes autores, em diferentes inicialmente com preocupações
situações, podemos compreender a direcionadas ao existenzminimum.
evolução desta moradia que resultou de Resultado do contexto histórico que vivia a
um debate extremamente rico no início

44
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

Europa esta arquitetura surge quase como entanto a situação social, econômica e
um dogma a ser seguido pela geração do cultural também requisitou novas ações.
entre-guerras. Legitimada pela situação Os anos de depressão também pediram
sócio-econômica vivida pela população mudanças na produção da moradia.
subseqüente a revolução industrial esta Como solução aplicou-se em algumas
maneira de resolver o tema da habitação situações o modelo europeu, sem as
econômica recebeu o apoio do CIAM, em mesmas preocupações e em outras o
particular o de Frankfurt (1929), no qual o modelo americano, fruto da influência
tema foi abordado e aprofundado, já com inglesa e da cultura folk. Esta diversidade
novas contribuições, principalmente dos aliou o pragmatismo europeu de Gropius,
arquitetos alemães. Breuer e Mies com a objetividade dos
arquitetos americanos.
A arquitetura burguesa, resultado
das transformações ocorridas devido as
mudanças dos meios de produção,
Numa posição independente no
revolução cultural e tecnológica não
debate em torno da produção habitacional
atendia mais a demanda da nova
de baixo custo Wright preocupava-se em
sociedade, por isso foi substituída pela
produzir uma arquitetura mais próxima da
máquina de morar.
natureza e do modo de vida do homem
Nos Estados Unidos esta americano sem abrir mão da tecnologia,
arquitetura demorou mais para chegar, no mas ao contrário dos funcionalistas, esta

45
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

tecnologia deveria servir ao homem


tornando sua vida mais confortável.
Após a 2ª Guerra o ambiente é
outro na Europa, muda o modo de vida e
os arquitetos jovens contestam o
dogmatismo dos CIAM. A arquitetura se
aproxima do homem e as condições de
conforto passam a ser revistas. O estilo de
vida e os arquitetos americanos passam
Fig. 22 Casa Sugden 1
não só a serem influenciados mas,
Fonte: Dunster, 1994
principalmente, a influenciar os europeus.
O funcionalismo e o racionalismo abrem Arq. Alison e Peter Smithsom, 1955
espaço para o velho brutalismo de Le
corbusier, dos anos de 1930 e resgatado
no início da década de 1950, ou o novo
brutalismo inglês de Alison e Peter
Smithson.

46
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

CONSIDERAÇÕES FINAIS emergenciais para enfrentar ao crescente


déficit de moradias e os problemas
causados pela rápida aglomeração da
A legibilidade lúcida da produção
população nos centros urbanos.
arquitetônica sob o tema da habitação
mínima pressupõe o domínio histórico dos
acontecimentos culturais, econômicos e A solução encontrada foi a racionalização
sociais do período precedente e do processo construtivo através da
principalmente do século 20. No qual incorporação de processos e
ocorre, pela primeira vez, a reflexão componentes industrializados e a
profunda dos arquitetos sobre o modo de priorização dos aspectos funcionais em
vida do homem e sobre a incorporação da detrimento do conforto das moradias. Para
nova tecnologia em progressão na tanto foi necessário o desenvolvimento de
melhoria da sua qualidade de vida. uma nova metodologia de trabalho
eficiente e didática que gerou modelos
muitas vezes aceitos de forma dogmática.
Profundamente abalado pelo impacto da
revolução cultural e industrial ocorridas no
século 19 e pela formação de um novo O tempo e as constantes transformações
núcleo doméstico padrão, o espaço da da realidade exigiram a revisão destes
habitação burguesa não serve mais a este dogmas da arquitetura moderna como a
novo homem. O contexto requer decisões mecanização e miniaturização dos

47
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

espaços. Por outro lado pensamentos de


vanguarda na época como a questão da
individualização dos espaços, do culto ao
corpo e do busca cada vez maior pelo
conforto – isto após a 2ª Guerra, hoje,
aproximam-se da unanimidade de
opiniões.

A pequena moradia ou habitação


econômica, ao longo de todo esse tempo
demostrou-se, um profícuo campo de
pesquisa, por isso é importante seguir o
percurso das suas transformações para
melhor compreender o que levou a
tomada de decisões que resultaram na
habitação contemporânea. Ao final
observamos que, assim como no passado,
seu redesenho não só é constante como
necessário.

48
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

BIBLIOGRAFIA FRAMPTON, K. História Crítica da


Arquitetura Moderna. São Paulo: Martins
Fontes: São Paulo, 1997.
ARGAN, G. C. Projeto e Destino. 1ª Edição.
GALFETI, G. G. Casas Refugio. 2ªedição.
São Paulo: Editora Ática, 2001. p. 269 –
Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 1995.
284.
GROPIUS, W. Bauhaus: novarquitetura. 5ª
BENÉVOLO, L. As Origens da Urbanística
edição. São Paulo: Editora Perspectiva,
moderna. 2ª Edição. Lisboa: Editora
1997.
Presença, 1987.
HATJE, G. Diccionario ilustrado de la
BOESIGER, W. Le Corbusier. São Paulo:
arquitectura contemporânea. 2ª Edição.
Martins Fontes, 1994
Barcelona: Gustavo Gili, 1970.
CORBUSIER, L. Por uma Arquitetura. KOOP, A. Quando o moderno não era um
4ªedição. SãoPaulo: Editora Perspectiva, estilo e sim uma causa. São Paulo: Nobel:
1989. Editora da Universidade de São Paulo,

CORBUSIER, L. Une Petit Maison. Zurich: 1990.

Editions Girsberger, 1954. LUPFER, G.; SIGEL, P. Gropius.

DUNSTER, D. 100 Casas Unifamiliares de Germany:Taschen, 2004.

La Arquitectura del Siglo XX. 4ªedição São MONTEYES, X.;FUERTES, P. Casa


Paulo: Perspectiva, 2003. Collage: un ensayo sobre la arquitectura

49
SAP 5846 – Habitação, metrópoles, modos de vida
Ricardo Dias Silva

de la casa. Barcelona: Editorial Gustavo TRAMONTANO, M. Habitação Moderna: a


Gili, 2001. construção de um conceito. São
Carlos:EESC/USP, 1993.
PFEIFER, B. B.; FUTUGAWA, Y. Frank
Lloyd Wright Select Houses 6. Tokyo:
WOLF, R. La Vivenda Mínima. Segunda
A.D.A. Edita, 1991.
Tirada. Barcelona: Gustavo Gili, 1973.

POPLE, N. Casas Pequeñas. Barcelona:


ZEVI, Bruno. Frank Loyd Wright. Estudio
Gustavo Gili, 2003.
Paperback. 4ª Edição 1990. Barcelona:
RYBCZYNSKI, W. Casa: pequena história Gustavo Gili, 1990.
de uma idéia. Rio de Janeiro: Record.
1996

50

Você também pode gostar