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TEORIA DA

ARQUITETURA E
DA CIDADE

Anna Carolina Manfroi Galinatti


O movimento moderno na
arquitetura e na cidade
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Sintetizar o movimento moderno.


„„ Reconhecer os grandes mestres da arquitetura moderna.
„„ Definir o urbanismo modernista.

Introdução
As obras do movimento moderno têm relevância em todos os conti-
nentes do mundo. Englobando características únicas e rompendo com
tradições projetuais muito enraizadas, o Modernismo invadiu o século XX
trazendo uma nova forma de enxergar não só a arquitetura, mas também
o urbanismo e a própria forma de se viver nas cidades.
Neste capítulo, você vai estudar o movimento moderno, vendo suas
principais características e identificando as razões pelas quais ele é o
principal movimento da arquitetura no século XX. Além disso, vai ver
exemplos de arquitetos, edificações e cidades que se fundamentaram sob
essas bases e ler sobre o legado desses arquitetos, que atravessa gerações.

1 O movimento moderno
Não é tarefa simples apontar um local ou período em que se iniciou o mo-
vimento moderno. Kenneth Frampton (1997, p. ix) pondera que tal marco
inicial pode ser colocado inclusive na Renascença, quando Claude Perrault
questionou a validade universal das proporções vitruvianas. No entanto,
é comum chamarmos de arquitetura de movimento moderno aquela produção
arquitetônica produzida nas primeiras décadas do século XX. Embora não seja
2 O movimento moderno na arquitetura e na cidade

possível afirmar quando e se o movimento moderno acabou, alguns autores


aceitam a proposta de Charles Jencks de colocar o dia 16 de março de 1972,
às 15h, como data oficial para o fim do Modernismo, dia e hora em que o
conjunto Pruitt-Igoe foi demolido.

O conjunto habitacional Pruitt-Igoe foi projetado e construído em 1955 pelo arquiteto


Minoru Yamasaki na cidade de Saint Louis, Missouri, nos Estados Unidos, como uma
tentativa de abrigar a população mais pobre da cidade em um novo conjunto edificado.
Ao longo dos quase 20 anos em que foi habitado, o conjunto foi tomado pela violência
e acabou se tornando um dos alvos preferidos dos críticos da arquitetura moderna.
Devido aos problemas sociais agravados pelo conjunto, decidiu-se pela demolição
dos edifícios, que ocorreu em 1972.

Fonte: Ficheiro... (2009, documento on-line).


O movimento moderno na arquitetura e na cidade 3

A arquitetura moderna pode ser colocada em um contínuo histórico com


a produção arquitetônica preconizada pela Escola de Belas Artes francesa,
que, no século XIX, explicitou métodos de projeto baseados na composição de
elementos em um esquema diagramático inicial com as estratégias principais
do projeto para, posteriormente, desenvolver as características principais do
projeto, responsáveis por guiar o desenvolvimento da obra arquitetônica (GON-
ZAGA, 2017). Sobre essa composição eram aplicados elementos decorativos
que transmitiam o caráter daquela edificação, independentemente do estilo
que seria aplicado. Por exemplo, um banco poderia ser projetado em estilo
dórico, mais robusto, enquanto uma estação de trens poderia ser projetada
em estilo gótico, com as estruturas mais delgadas. Alan Colquhoun defende
que o processo de composição se tornou, na Escola de Belas Artes, um meio
por meio do qual era possível escrever regras e desenho comum a todos os
estilos (COLQUHOUN, 1991).
É justamente a possibilidade de criar composições adequadas a todo e
qualquer estilo criada na Escola de Belas Artes, no século XIX, que permitiu
o surgimento de uma arquitetura que se dizia, inicialmente, livre de estilos e
decorações, com a intenção inicial de negar os procedimentos e a estética do
passado em favor de novos valores funcionais e construtivos.
Mahfuz (1995) defende que a mudança de paradigma entre a arquitetura
acadêmica — aquela da Escola de Belas Artes — e a moderna se dá pelo
surgimento da possibilidade da organização livre das partes no Modernismo,
obedecendo apenas ao desejo do arquiteto, ao contrário da arquitetura do século
XIX, que obedecia a um conjunto estabelecido de regras compositivas. Isso
revelou uma nova arquitetura, que seria livre dos estilos pré-estabelecidos
que conferiam o valor das obras arquitetônicas até o início do século XX.
Um dos mestres indiscutíveis da arquitetura moderna, o suíço Le Corbu-
sier, demonstra a posição da arquitetura moderna em um contínuo histórico
ao afirmar, no texto que acompanhava seu projeto para a Liga das Nações,
como “uma proposição alternativa, empregando os mesmos elementos de
composição” (BANHAM, 1960, p. 37).
4 O movimento moderno na arquitetura e na cidade

O mesmo Le Corbusier que admite o uso de ferramentas de projeto aca-


dêmicas é, justamente, um dos responsáveis por um dos textos que podem ser
considerado seminais no movimento moderno. No ano de 1927, o arquiteto
publica na revista L’Esprit Nouveau, em parceria com seu primo Pierre Jean-
neret, os cinco pontos da arquitetura moderna, que você pode ver no Quadro 1.

Quadro 1. Os cinco pontos da arquitetura moderna

Libera o edifício do solo e torna público o uso


Pilotis desse espaço antes ocupado, permitindo, inclusive,
a circulação de automóveis.

Transforma as coberturas em terraços habitáveis,


Terraço jardim em contraposição aos telhados inclinados das
construções tradicionais.

Resultado direto da independência entre estruturas


e vedações, possibilita maior diversidade dos
Planta livre
espaços internos, bem como mais flexibilidade na
sua articulação.

Também permitida pela separação entre estrutura


e vedação, possibilita a máxima abertura das
Fachada livre paredes externas em vidro, em contraposição às
maciças alvenarias que outrora recebiam todos os
esforços estruturais dos edifícios.

Ou fenêtre en longueur, também consequência


da independência entre estrutura e vedações, é
Janela em fita um tipo de abertura longilínea que corta toda a
extensão do edifício, permitindo iluminação mais
uniforme e vistas panorâmicas do exterior.

Fonte: Adaptado de Maciel (2002).

As cinco características elencadas por Le Corbusier na década de 1920


seriam largamente utilizadas e adaptadas ao longo da primeira metade do
século XX ao redor do mundo. Um dos exemplos mais conhecidos de adoção
total da teoria corbusiana é a Villa Savoye, projetada por ele em uma cidade
próxima a Paris, em 1928. Na Figura 1, você pode ver como a casa obedece
a todos os preceitos.
O movimento moderno na arquitetura e na cidade 5

(a)

(b)

Figura 1. Villa Savoye, Le Corbusier.


Fonte: Ching (2019, p. 723).

Em 1932, o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), Estados


Unidos, organizou uma exposição chamada Arquitetura Moderna: Exposição
Internacional, a qual definiria as bases para a categorização do que veio a
se convencionar como a estética do movimento moderno. Acompanhava a
exposição um livro escrito por Philip Johnson e Henry Russell Hitchcock inti-
tulado O Estilo Internacional, no qual eram analisadas as obras dos arquitetos
das primeiras décadas daquele século em busca de um denominador comum
capaz de configurar um movimento cultural mundial. Johnson e Hitchcock
resumiam o novo estilo da seguinte maneira:

Há antes de tudo um novo conceito de arquitetura como volume em vez de


massa. Em segundo lugar, a regularidade em vez da simetria axial serve
como principal meio para a ordenação do projeto. Esses dois princípios, com
um terceiro que condena a decoração aplicada arbitrariamente, marcam as
produções do Estilo Internacional (CURTIS, 2008, p. 239).
6 O movimento moderno na arquitetura e na cidade

Na exposição de 1932 os curadores se esforçaram em apresentar exemplos


dessa nova arquitetura produzidos ao redor do mundo, desde os já então canô-
nicos, como a Villa Savoye, até produções mais obscuras, como os edifícios
produzidos no leste europeu.
Embora fosse menos panfletária do que o manifesto corbusiano publicado
na década anterior, o texto de Johnson e Hitchcock não tinha a função de
apenas informar sobre a produção de uma nova arquitetura. Ao elencar os
exemplos escolhidos e apresentá-los em situação de igualdade ao redor do
mundo, o MoMA colocou aquela arquitetura moderna como a representante do
que havia de mais contemporâneo e adequado. Portanto, a exposição teve um
forte efeito sobre a nova geração de arquitetos, que encontrou na arquitetura
moderna um norte para o qual apontar a produção.
O resultado desses esforços anteriores à Segunda Guerra Mundial foi a
presença e dominação incontestável da arquitetura moderna dos anos 1930
aos anos 1970, quando o novo estilo se tornou verdadeiramente internacional
e difundido, recebendo características locais por onde passasse.
Agora que você conhece as origens e principais conceitos da arquitetura
moderna, vamos explorar algumas das figuras mais importantes desse período,
destacando tanto suas obras quanto seus escritos.

2 Grandes mestres da arquitetura moderna


O movimento moderno, como você já sabe, iniciou-se no começo do século
XX, tendo seu auge na metade daquele século. Durante esse período, pode-
mos destacar diversos profissionais que traçaram o caminho para que outras
gerações de arquitetos pudessem inovar e transformar as paisagens urbanas
de todo o mundo.
A seguir, você conhecerá alguns dos personagens mais relevantes do pe-
ríodo, iniciando com Le Corbusier e Mies van der Rohe, passando por Walter
Gropius, responsável pela mais importante escola de arquitetura do período,
a Bauhaus, e Frank Lloyd Wright, um americano que desenvolveu sua versão
da arquitetura moderna na mesma época.
O movimento moderno na arquitetura e na cidade 7

Le Corbusier
Charles Edouard Jeanneret nasceu em La Chaux-de-Fonds, na Suíça, em 1887.
A cidade era conhecida por suas fábricas de relógio, ofício para o qual foi
treinado. Em 1917, ele se muda para Paris, onde é apresentado por Amédée
Ozenfant à vanguarda pós-cubista, o que viria a influenciar a sua produção
posterior. Nos anos 1920 ele assume a alcunha de Le Corbusier e inicia a
publicação da revista L’Esprit Nouveau junto com Ozenfant, o que permitiria
espalhar suas ideias sobre arquitetura mesmo sem os contratos que levariam
seus projetos adiante (CURTIS, 2008).
Ao longo da década de 1920, Le Corbusier produziu uma série de casas
nos arredores de Paris que sedimentaria a sua importância como um dos
vanguardistas da nova arquitetura. Entre essas casas estão a casa atelier feita
para Ozenfant, em 1923, e a casa La Roche, projetos nos quais Le Corbusier
“desenvolveu uma técnica de retirada das coisas de seus contextos habituais e
estabelecimento de novas vibrações e significados para elas” (CURTIS, 2008,
p. 172). Exemplos são o uso de sheds industriais em ambientes domésticos e
paredes caiadas e terraços mediterrâneos em Paris. Na Figura 2, você pode
ver o interior da casa Ozenfant, em um desenho de Francis Ching (2013).

Figura 2. Casa Ozenfant, Le Corbusier.


Fonte: Ching (2013, p. 167).
8 O movimento moderno na arquitetura e na cidade

Uma de suas obras mais influentes é a Villa Savoye, em Poissy, que você
já pode explorar anteriormente. Esse projeto foi o ápice do período das casas
brancas de Le Corbusier, finalizando o período de defesa de uma nova ar-
quitetura que, nos anos 1930, já havia sido sedimentada ao redor do mundo.
Nas décadas seguintes, Le Corbusier se dedicou aos estudos de ocupação
urbana que se espalhariam como parte dos Congressos Internacionais de
Arquitetura Moderna (CIAM), que você verá em mais detalhes a seguir.
Após a Segunda Guerra Mundial, ele se dedicou a novas explorações formais,
aproximando-se do Movimento Brutalista.
Segundo William Curtis (2008, p. 417), Le Corbusier produziu, entre 1945
e sua morte, em 1965, “uma série de obras-primas complexas, cada uma delas
caracterizada por uma rica combinação de velhos temas e de novas formas
de expressão, por um toque de primitivismo e pela inserção proposital de
associações com o passado”. Entre essas obras, cabe destacar o conjunto de
unidades de habitação que ele produziu como um esforço para a reconstrução
da Europa no pós-guerra. Na Figura 3, você pode ver a unidade de habitação
de Marselha, França, construída em 1950.

Figura 3. Unidade de habitação de Marselha, Le Corbusier.


Fonte: Panerai, Castex e Depaule (2013, p. 146).
O movimento moderno na arquitetura e na cidade 9

Mies van der Rohe


Ludwig Mies van der Rohe nasceu em Aachen, na Alemanha, em 1886, e
iniciou sua carreira como assistente de Peter Behrens, pioneiro da arquitetura
moderna na Alemanha. Após o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1919,
a obra de Mies tornou-se cada vez mais alinhada com as vanguardas mo-
dernas europeias, caracterizando, segundo Kenneth Frampton (1997, p. 196)
“um modo de construção branco, prismático e de cobertura horizontal”.
O destaque miesiano é o projeto do edifício de apartamentos no Weissenhof-
siedlung, em Stuttgart, Alemanha, que pode ser visto na Figura 4.

Figura 4. Edifício de apartamentos no Weissenhofsiedlung, Mies van der Rohe.


Fonte: Ching (2019, p. 730).
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Entretanto, foi na virada da década de 1920 para 1930 que Mies produziu
aquela que é considerada por muitos a sua obra prima: o Pavilhão Alemão
em Barcelona, uma composição centrífuga horizontal articulada por planos
e colunas independentes. Na Figura 5, você pode ver o exterior do edifício e
detalhe do interior, com o mobiliário projetado especificamente para o espaço,
as poltronas Barcelona.

Figura 5. Pavilhão Alemão e poltronas Barcelona, Mies van der Rohe.


Fonte: Ching (2019, p. 735).

Em 1937, em meio ao governo nazista na Alemanha, o arquiteto se desloca


para os Estados Unidos, onde inicia uma nova fase em sua carreira. Logo após
sua mudança, Mies projeta o Instituto de Tecnologia de Illinois, em Chicago,
um campus universitário composto por diversos edifícios prismáticos com
quatro pavimentos.
Um dos projetos mais celebrados da etapa americana da obra de Mies é uma
pequena casa projetada na cidade de Plano, em Illinois. Com 23 × 9 metros,
essa casa está “erguida acima 1,5m acima do solo, sobre colunas de viga I
externas, separadas por uma distância de 6,7 metros entre si” (FRAMPTON,
1997, p. 285). O resultado formal é um volume de vidro puro que Frampton
(1997) considera a síntese da frase de Mies “quase nada”.
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Walter Gropius
Walter Gropius nasceu em Berlim, em 1883, e estudou em Munique e Berlim,
onde trabalhou com Peter Behrens — que também empregou Mies van der
Rohe — em 1907. Com o fim da Primeira Guerra Mundial e a derrota alemã,
surgiu na Alemanha uma oportunidade de materializar a tentativa de refor-
mular a educação artística no país, um desejo que, segundo Frampton (1997),
acompanhava os alemães desde a virada do século.
Em 1919, Gropius é nomeado diretor da recém fundada Bauhaus, uma
escola de artes, design e arquitetura que se tornaria uma das mais importantes
referências para o ensino de projeto no século XX. Entre os professores da
Bauhaus, podemos destacar Paul Klee, Wassily Kandinsky entre outros dos
mais relevantes nomes da arte moderna.
O edifício da Bauhaus na cidade de Dessau foi projetado por Gropius entre
1925 e 1926 em uma articulação de volumes com diferentes tratamentos de
fachada, cada qual adaptado a uma função específica, ligados por passarelas.
Veja na Figura 6 uma imagem com o pavilhão dos ateliers em primeiro plano
e o volume residencial ao fundo.

Figura 6. Edifício da Bauhaus, Walter Gropius.


Fonte: Cinematographer/Shutterstock.com.
12 O movimento moderno na arquitetura e na cidade

Frank Lloyd Wright


Frank Lloyd Wright nasceu no estado de Wisconsin, nos Estados Unidos, em
1867, e teve sua formação muito influenciada pelo trabalho com Louis Sullivan,
um dos mais importantes arquitetos do final do século XIX, que desenvolveu,
em Chicago, os primeiros arranha céus.
Na última década daquele século e início do século XX, Wright projetou
uma série de casas nos subúrbios de Chicago nas quais desenvolveu uma
linguagem arquitetônica própria. As chamadas “casas da pradaria” foram
marcadas, segundo Fazio, Moffett e Wodehouse, (2011, p. 478), pela:

[...] busca por uma expressão regional adequada para as casas norte-ameri-
canas, especialmente no Meio-Oeste. Inspirando-se nas suaves colinas dos
prados, projetou casas horizontalizadas que pareciam estar organicamente
amarradas à paisagem.

Entre as casas da pradaria, o exemplo mais importante foi a Casa Robie,


na qual é possível ver o esforço de Wright em transmitir a horizontalidade da
paisagem local nas longas janelas e lajes em balanço. Na Figura 7, você pode
ver a Casa Robie, projetada por Frank Lloyd Wright em 1909.

Figura 7. Casa Robie, Frank Lloyd Wright.


Fonte: Ching (2019, p. 697).
O movimento moderno na arquitetura e na cidade 13

A partir da década de 1930, superadas as experimentações iniciais de


Wright acerca da arquitetura moderna, o americano produziu algumas de suas
obras mais importantes. Entre elas está a casa da Cascata, projetada para a
família Kaufmann nas montanhas à oeste da Pensilvânia. Nesta casa, Wright
tomou partido do terreno para criar uma série de patamares com varandas
abertas para a paisagem.
O nome dado para a edificação, “Casa da Cascata”, se deve ao fato desta
estar locada sobre uma formação rochosa pela qual passa um córrego. Wri-
ght utilizou esta característica a seu favor, como explicam Fazio, Moffett e
Wodehouse (2001, p. 516):

Para ver a cascata, é preciso ir ao exterior, sob a casa, onde a água e a edifica-
ção podem ser vistas juntas na imagem clássica pretendida por Wright; antes
da construção, ele chegou a fazer um desenho em perspectiva deste ponto
específico para avaliar o efeito.

Veja na Figura 8 a inserção precisa da casa no entorno:

Figura 8. Casa da Cascata, Frank Lloyd Wright.


Fonte: Fazio, Moffett e Wodehouse (2011, p. 517).
14 O movimento moderno na arquitetura e na cidade

Por último, cabe destacar uma das últimas obras de Wright, o Museu
Guggenheim, em Nova York, projetado pouco antes de sua morte. O projeto
se localiza na Quinta Avenida, em frente ao Central Park, em um terreno que
ocupa toda a face do quarteirão virada para o parque. Veja na Figura 9 uma
foto do museu.

Figura 9. Museu Guggenheim, Frank Lloyd Wright.


Fonte: Fazio, Moffett e Wodehouse (2011, p. 518).

Trata-se de uma investigação inovadora tanto formal quanto de museografia.


O edifício conta com uma base na qual pousam dois cilindros, um mais baixo
e outro espiralado que é coberto por uma grande zenital. A espiral é vazada
internamente, revelando um grande átrio para o qual se abrem as galerias,
cujas paredes curvas abrigam as obras de arte. Na Figura 10 você pode ver
como esse espaço se revela internamente
O movimento moderno na arquitetura e na cidade 15

Figura 10. Interior do Museu Guggenheim, Frank Lloyd Wright.


Fonte: ItzaVU/Shutterstock.com.

3 O urbanismo modernista
Até agora vimos os principais personagens da arquitetura moderna e os princi-
pais edifícios projetados por cada um deles. No entanto, uma das mais impor-
tantes e controversas contribuições do Modernismo foram as experimentações
em escala urbana propostas na primeira metade do século XX.
Em 1922, Le Corbusier propôs uma cidade para responder aos problemas
da reurbanização pós-Primeira Guerra Mundial. A proposta de Le Corbusier
era baseada em Paris e deveria abrigar três milhões de habitantes ao redor de
um centro com 40 torres residenciais com 180 metros cada, que abrigariam,
segundo William Curtis (2008), os banqueiros, burocratas e administradores.
Os demais habitantes morariam em edifícios mais baixos, espalhados pela
cidade, com uma implantação bucólica, semelhante a um parque.

O tráfego de veículos automotores seria separado do de pedestres através do


uso de pilotis; na verdade, todo o tapete verde da cidade seria mantido livre
através da elevação do primeiro pavimento dos prédios. A rua tradicional era
abolida (CURTIS, 2008, p. 247).
16 O movimento moderno na arquitetura e na cidade

A abolição das ruas corredor das tradicionais cidades europeias foi um


dos principais temas do urbanismo moderno, como uma resposta técnica aos
problemas da superpopulação urbana no período pós-Revolução Industrial.
Le Corbusier atribuía à alta densidade e à pouca ventilação dos centros urbanos
uma parcela considerável das doenças do século XIX.
Na mesma época em que Le Corbusier planejava sua cidade para três
milhões de habitantes, o alemão Ludwig Karl Hilberseimer, que lecionava na
Bauhaus, divulgou um projeto em resposta ao suíço. Trata-se da Hochhausstadt,
ou cidade dos arranha céus, na qual os habitantes viveriam e trabalhariam
em grandes blocos verticais, limitando os deslocamentos a subidas e descidas
dentro do mesmo bloco. Na Figura 11, você pode ver uma perspectiva do
projeto de Hilberseimer.

Figura 11. Hochhausstadt, Ludwig Karl Hilberseimer.


Fonte: Art Institute of Chicago ([20--?], documento on-line).
O movimento moderno na arquitetura e na cidade 17

Em 1928, foi criado um grupo internacional de arquitetos de diversos países,


incluindo Le Corbusier e Walter Gropius, para discutir os rumos da arquitetura
moderna. Os CIAMs, ou Congresso Internacional de Arquitetura Moderna,
surgiram com o objetivo de discutir o inter-relacionamento entre arquitetura
e planejamento urbano (CURTIS, 2008). Foi, no entanto, no quarto encontro
do grupo, realizado a bordo do navio SS Patris, que navegou entre Marse-
lha e Atenas, que foi forjado o documento seminal do urbanismo moderno:
a Carta de Atenas.

A maioria das cidades estudadas oferece hoje a imagem do caos. Essas cidades
não correspondem de modo algum a sua destinação que seria satisfazer as
necessidades primordiais, biológicas e psicológicas da população.
[…]
Para realizar essa grande tarefa é indispensável utilizar os recursos da técnica
moderna (CURTIS, 2008, p. 255).

Esse documento propôs uma série de estratégias e medidas que deviam


ser adotadas nos projetos tanto para novas cidades quanto para renovações
urbanas. O documento de 1933 aponta, segundo Kenneth Frampton (1997),
109 propostas para corrigir a situação identificada como caótica pelos redatores.
Tais propostas eram divididas em cinco categorias principais: moradia, lazer,
trabalho, transporte e edifícios históricos.
No nono encontro do CIAM, realizado em Aix-en-Provence em 1953,
um grupo de jovens arquitetos liderados por Alison e Peter Smithson e Aldo
van Eyck desafiou as categorias funcionalistas da Carta de Atenas, moradia,
trabalho, lazer e transporte, apresentando uma situação urbana mais complexa,
na qual buscavam “uma relação mais precisa entre a forma física e a necessi-
dade sociopsicológica” (FRAMPTON, 1997, p. 330) dos habitantes da cidade.
Esse grupo, que ficou conhecido como Team X (time dez), organizou o
décimo e último encontro do CIAM, realizado em 1959, que marcou uma
virada nos valores arquitetônicos e urbanísticos europeus, deixando para trás
algumas das teorias dos primeiros mestres da arquitetura moderna.
Como você pode ver, o urbanismo moderno surgiu para responder aos
problemas de saúde das cidades europeias do início do século XX, que so-
friam com a superpopulação e a falta de infraestrutura. Nesse sentido, as
soluções encontradas pelos arquitetos daquele período pareciam bastante
razoáveis. No entanto, os exemplos construídos desse urbanismo provaram
ser insuficientemente complexos para abrigar a totalidade das experiências e
necessidades humanas.
18 O movimento moderno na arquitetura e na cidade

ART INSTITUTE OF CHICAGO. Highrise City (Hochhausstadt): Perspective View – North-


-South Street. [20--?]. Disponível em: https://www.artic.edu/artworks/101044/highrise-
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BANHAM, R. Theory and design in the first machine age. New York: Praeger, 1960.
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Anais [...]. Disponível em: https://www.academia.edu/attachments/54931322/down-
load_file?st=MTU4MzgzOTk2NywxODkuNi4xNzcuMw%3D%3D&s=profile&ct=MTU
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PANERAI, P.; CASTEX, J.; DEPAULE, J.-C. Formas urbanas: a dissolução da quadra. Porto
Alegre: Bookman, 2013.

Leitura recomendada
COMAS, C. E. D. Protótipo e monumento, um ministério, o ministério. Revista Projeto,
nº. 102, p. 136–148, ago. 1987.
O movimento moderno na arquitetura e na cidade 19

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