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1º Capítulo – Contexto Histórico Internacional

Quando se fala do movimento pós-moderno não se está apenas a referir um estilo (ou uma
forma de criar) estanque no tempo e no espaço, mas está-se sim a falar de uma evolução natural
do que está para trás, e do que virá mais á frente, como num diálogo entre gerações com ideologias
muito distintas. Esta arquitetura não pretende apenas “romper” com o movimento moderno, aliás,
o seu objetivo é usar os ensinamentos que este propiciou para conseguir criar vanguardas onde a
racionalidade, o funcionalismo e a adversão pela história já não participam com o papel principal.
Uma destas primeiras vanguardas foi o Pop Archigramiano, que tinha como objetivo criar
uma nova realidade (principalmente urbanística) que seria baseada nas novas tecnologias. Junto,
viria a ideia do imediato – arquitetura e telegrama – que aceleraria o desenvolvimento da
arquitetura. O software e o hardware eram interconectáveis como numa máquina, que não faz
apenas uma coisa, mas sim várias. Um dos principais exemplos foi a Plug-in City (Peter Cook,
1964) que partia da ideia de cápsulas que se interconectavam com uma grande estrutura que servia
as várias necessidades de quem as habitava.
Haus-Rucker-Co foi um grupo vienense fundado em 1967 e explorava a experiência
individual da alteração da perceção do espaço e tinha interesse em instalações insufláveis. Este
tipo de objetivos teria alguma relação com grupos como os Superstudio, Archizoom e Ant Farm.1
O Estruturalismo (1950 – 1960s) acredita que os fenómenos da vida humana não se
conseguem compreender, a menos que se analisem as suas inter-relações. Estas constituem uma
estrutura (uma rede) que age segundo certas regras. A linguagem que pela qual estas regras se
propagam é clássica, pois se essa sempre foi entendida, porque não usa-la agora? Através da
observação destes fenómenos, desenvolveram-se três posicionamentos críticos a partir de
diferentes perspetivas: o «radical» que procurava erradicar as estruturas dominantes e os sistemas
de criação estabelecidos; o «tipológico» que procurava defender a consciência histórica das
invariantes formais; e o «minimalista» que procurava através das formas puras a realidade
intemporal, essencial, unitária e simples.2
Colin Rowe fez a ligação do movimento pós-moderno com a história na forma como ele
teorizava arquitetura. Discutia de forma abstrata os projetos e usava exemplos modernos ou
antigos para as comparações. Ele tinha um entendimento da cidade como uma colagem de utopias
(propor uma realidade de algo que não existe). Na ideia da cidade, ele acha que a cidade é uma
colagem de realidades utópicas de cidades perfeitas.
Dos anos 60 até ao final do século, os teóricos de arquitetura começaram a ter uma atitude
de resistência para redigir agendas. Como é que a arquitetura pode voltar a ser importante para a
forma como a sociedade funciona. Tanto as vanguardas do início do século como o pós-
modernismo estão á procura da grande função da arquitetura e ambos estão numa busca de saber
qual a sua verdadeira linguagem na sociedade e qual é o seu papel na modificação da cidade e da
vida. «Já estamos há muito tempo a desenvolver espaços acríticos que servem para todos os
propósitos menos os de servir a sociedade (ou seja, económicos)» - Tafuri3
No movimento moderno, havia a ideia de que as teorias científicas criavam a arquitetura
e os autores eram anónimos (tirando a subjetividade dos arquitetos). No pós-modernismo isso já
não acontece, cada arquiteto tem a sua maneira de projetar e de idealizar o projeto.
Nos anos 90/00 a arquitetura começa a ter um papel de ícone. Existe o entendimento de
que a arquitetura pode ser um artefacto cultural.4

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Analogias à história tornam-se extremamente comuns e importantes para a rápida
diferenciação desta nova arquitetura, como no edifício AT&T, em Nova Iorque, 1982, por Phillip
Johnson onde, no topo, se remata com um frontão (inspirado talvez no maneirismo de
Michelangelo) ou como na criação de exposições como «A Presença do Passado» (Primeira
Bienal de Veneza de 1980). Há dois paradoxos no pós-moderno: Moderno quebrava com a
história, logo, como é que posso fazer o pós-moderno sem quebrar com a história, uma vez que o
moderno é a RUTURA com a história? Tornou-se comum na teoria de arquitetura alguém não
defender uma ideia, que é o que não se deve fazer na teoria de algo. No pós-moderno, quando
tudo é legitimo, tudo fica homogéneo (ex. quando todos conseguem ser diferentes, se eu for
diferente, não me faz diferente porque na realidade, ser diferente não é ser diferente). A teoria
estava a afastar-se da prática porque a prática estava muito centrada em indivíduos sem uma ideia
fixa numa linha (linha pós-moderna). Torna-se comum para os arquitetos criarem grandes espaços
comuns que se tornam neutros por dentro, onde a única parte trabalhada são as fachadas (ex.:
shoppings).
Frank Gehry foi um dos impulsionadores do movimento desconstrutivista, cujo consistia
em desconstruir, de forma ordenada, para criar os seus edifícios. Ele fez maquetes à mão, e era a
partir destas que conseguia criar as suas formas, no entanto não é arquiteto, é urbanista, o que
mostra uma abordagem diferente na conceção dos seus projetos. Graças a isto, no entanto, não
tem um discurso teórico muito extenso.5
Chega-se ao ponto de se criar (no Dubai, por exemplo) imagens e renders de edifícios
construídos para circular nos jornais e televisão de forma a criar polémica. Esta ideia vem do
Tardo-Capitalismo e foi impulsionada por Frederic Jameson.6
A revolução democrática de abril 1974 é uma inquestionável charneira sociopolítica e
arquitetónica que desde logo, teve início com a experiência habitacional do SAAL que busca
novas linguagens em sintonia com o existente, tomando a postura de compatibilização da
arquitetura com o abaixamento dos custos.7
O edifício da faculdade de arquitetura do porto foi importantíssimo para catapultar o
reconhecimento da escola de arquitetura a nível internacional, pois enquanto a FAUP estava a ser
projetada, Álvaro Siza estava a entrar nos seus maiores concursos internacionais. A partir dos
anos 90 começa a ser discutida teoria de arquitetura nas revistas assim como alguns livros
começam a ser publicados, mostrando um maior interesse das massas pela arquitetura.8
O pós-estruturalismo, assim como o Inconformismo Punk, é uma geração um pouco
revoltada com o que se passa no seu tempo (exemplo: Centre George Pompidou, Paris, 1977 –
edifício totalmente despido, mas que cria uma praça mesmo em frente). O aparecimento destes
movimentos relacionam-se com o facto de, nos anos 70 a 90, o papel do arquiteto passar a ser o
de alguém que critica a realidade – é um técnico que acredita que no funcionalismo, continuando
a ser um artista. Assim, os primeiros designs de objetos e interiores são feitos pelos arquitetos e
só mais tarde é que se especializam para os seus próprios cursos.
No início dos anos 80 existe uma nova preocupação: o que fazer com todo este
conhecimento tecnológico? A partir desta altura alguns edifícios começam a incorporar o design
técnico na linguagem da arquitetura, como no Sainsbury Center Visual Arts, em Norwich, 1974-
78, por Norman Foster, em que toda a infraestrutura anda em volta da «pele» criada para revestir
o edifício,

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Arquitetura conceptual – enfatiza a ideia de conceitos e projeto, com uma vertente muito
teórica e critica. A desconstrução é impossível ser lida sem esta consciência. Não pode ser apenas
um debater sobre as suas formas e linhas (tortas), mas tem que ser também uma critica ao projeto
propriamente dito e á história em que se inscreve. Existe um questionamento permanente em
relação aos problemas da história da arquitetura.9
A transitoriedade do ESPAÇO
Algo que está sempre a mudar a sua aparência – muito protagonista principalmente nas
cidades, mas também nos interiores
A compressão da 4º dimensão: O espaço-Tempo – que torna todas as cidades e as pessoas
cada vez mais perto umas das outras graças aos aviões. A viagem e a mobilidade é algo que agora
é generalizado. Para quem nunca andou (até mesmo de comboio) a primeira vez é muito chocante
devido à velocidade a que se deslocam.
Anestética – é um contrário de estética, mas também a anestesia que ela provoca – algo
em que a arquitetura também vai participar. (the anesthectics of architecture – Neil Leach).
Fenómenos de familiarização dos espaços – quando regressam ao nosso quarto quando já não
vamos lá há muito tempo. Ou quando estamos num país longínquo (ex: China) e vemos um
McDonalds e sentimo-nos em casa.
As multifuncionalidades dos espaços da casa requerem cada vez mais uma maior
organização dos mesmos. Antigamente as casas tinhas salas especificas (ex: sala de fumar; sala
de costura; sala das crianças; etc.). Hoje em dia não existe esta estratificação e divisão das
divisões.
A liquidificação da espacialidade: NOX architects, «Edifício H2O»
Tudo está sujeito à experiência dos fluxos na arquitetura. O consumidor está cada vez
mais sujeito aos fluxos do próprio edifício. Num aeroporto, em que há muitas passadeiras, poucos
espaços de estar, check-in cada vez mais rápido, e torna tudo um fluxo muito eficiente.
A experiência do espaço no contemporâneo (O corpo como mercadoria). Le Corbusier já
achava que os aviões eram como casas uma vez que alguns voos demoravam cerca de 10 horas e
havia necessidade que se dormisse lá.
A arquitetura já não se estende apenas ás formas construídas ou teorizadas, agora noção
de espaço pode também ser designada de ciberespaço ou realidade virtual, noções que são
enfatizadas nos jogos como Second Life de simulação da realidade.10
2º Capítulo – Exposição do debate sobre a Metáfora Histórica Presente no Pós-Modernismo
Português
Souto de Moura, Eduardo; “Casa no Algarve”; in: Architécti; Nº5; Lisboa: ANO II, Julho de 1990;
páginas 108-114
Após ter sido pedida uma casa com apenas um piso, sem qualquer tipo de anexos (ou seja
uma construção em bloco) e com uma cor branca, Eduardo Souto de Moura decidiu optar pelo
desenho de um paralelepípedo pousado no relvado de golf. A casa vai buscar inspirações à
arquitetura do Sul e até à arquitetura de casas chinesas. Inclusive foi preciso recorrer-se a imagens
de Le Corbusier para retificar certos pontos débeis da construção. Em suma, o arquiteto teve uma
ideia inicial que depois se foi consolidando à medida que certos aspetos da história (mais próxima
ou mais distante) foram ajudando à resolução dos problemas. Um pormenor interessante que traça

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um paralelo com a história de modo a resolver um problema é a utilização da cupula na sala de
estar.
Gomes, Paulo; “Per Forza di Levare”; in; Architécti; Nº3; Lisboa: ANO I, Dezembro de 89;
páginas 33-39
“Se a arquitetura é uma cosa mentale, como pode ela, ao mesmo tempo, existeir de facto,
no mundo real e nos seus compromissos?”. A situação de Álvaro Siza Vieira é a mesma que a de
António Rodrigues (arquiteto de D. Sebastião) e o problema que se põe é: como voltar às origens?
É certo que as origens têm significados muito diferentes para estes dois arquitetos, no entanto a
vontade é a mesma. No caso de Siza, as origens são o inicio da arquitetura Moderna (Loos, Le
Corbusier). Não se tratava de um revivalismo ou de um neomoderno, mas sim de uma nova
compreensão de que a arquitetura é uma questão de lugar e não de história (e seguimento da
linhagem que esta proporciona).
Lima, Alfredo; “Duas Moradias no Porto”; in: Atrium; Nº 2; novembro/dezembro de 1959;
páginas 36-41;
Vieira de Lima é um arquiteto de vanguarda, que não foi muito bem compreendido nos
tempos em que a arquitetura interessava apenas a alguns. Este artigo analisa duas casas
construídas em 1941 e 1951. A casa de 1941 organiza-se em 4 pisos: primeiro com zona de estar
e jogos, segundo com zona de estar, jantar e cozinha, terceiro com zona de quartos e último com
terraço e zona de trabalho. A casa de 1951 tem 3 pisos: o primeiro possui a entrega, quarto da
empregada, arrumos e garagem, o segundo piso a zona de estar e comer e o terceiro a zona dos
quartos. Apenas 10 anos separam estas casas, no entanto, existem vários detalhes que as tornam
totalmente distintas, talvez até portantes de duas filosofias completamente diferentes. A casa de
1941 está suspensa em pilotes em 3 frentes e tenta criar uma volumetria falsa no terceiro andar,
de forma a unificar a forma paralelepipédica da casa. Em contraste, na segunda casa, a
característica que mais se destaca é o seu telhado de duas águas, que no seu alçado poente, se
solta do resto da casa, criando-se um plano com um falso frontão cortado que enquadra a paisagem
de quem o vê.
CARREIRO, João; “Vivenda em Esmoriz”; in Architécti; Nº 7; Lisboa: ANO II, dezembro de
1990; páginas 66-68
Vivenda construída em 1982/90 com pormenor interessante no seu interior: a presença de
uma coluna, sem capitel, no entanto assente num pedestal.
Referências
- MOURA, Eduardo; “Casa no Algarve”; in: Architécti; Nº 5; Lisboa: ANO II, julho de 1990;
páginas 108-114;
- GOMES, Paulo; “Per Forza di Levare”; in; Architécti; Nº 3; Lisboa: ANO I, dezembro de 89;
páginas 33-39;
- LIMA, Alfredo; “Duas Moradias no Porto”; in: Atrium; Nº 2; novembro/dezembro de 1959;
páginas 36-41;
- CRUZ, Antonio; “Estación de Santa Justa – Sevilha”; in Architécti; Nº 10; Lisboa: setembro de
1991; páginas 63-89;
- LOPES, João; “Central dos T.L.P. em Odivelas”; in Architécti; Nº 7; Lisboa: ANO II, dezembro
de 1990; páginas 30-32
- GOMES, Cândido; “Habitação Eng. Estela Santos – Moita”; in Architécti; Nº 7; Lisboa: ANO
II, dezembro de 1990; páginas 33-35
- SOALHEIRO, José; “Agência de Viagens e Transitários de João de Freitas Martins”; in
Architécti; Nº 7; Lisboa: ANO II, dezembro de 1990; páginas 56-58
- CARREIRO, João; “Vivenda em Esmoriz”; in Architécti; Nº 7; Lisboa: ANO II, dezembro de
1990; páginas 66-68

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