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Notas sobre o Moderno: a(s) Carta(s) de

Atenas
e a emergência do Team X
Gabriela Rabelo (graduanda FAUFBA, bolsa CNPq)
Igor Queiroz (mestrando PPG-AU/FAUFBA, bolsa CNPq)
Janaina Chavier (doutoranda PPG-AU/FAUFBA, bolsa CNPq, CAPES/PDSE)
Leonardo Vieira (graduando FAUFBA, bolsa CNPq)
Milene Migliano (doutoranda PPG-AU/FAUFBA, bolsa FAPESB, CAPES/PDSE)
Solange Valladão (mestranda PPG-AU/FAUFBA, bolsa CAPES/DS)

[...] o tempo e o texto por onde erra o historiador embora se apresente – e há que buscar fazê-lo –
como preciso, neutro, situado – são como uma terra estranha. [...] Forma-se e desfaz-se em suas
próprias camadas de éter… É transitória. São nuvens, conjunto de nuvens de sentidos que, no entanto,
passam ou podem passar ao menor sopro ou são varridas pelas tempestades. São nebulosas que embora
consolidadas e densas não escondem sua natureza etérea, desgarrada, solta, estrangeira, incapturável:
longínquas, inalcançáveis. (PEREIRA, 2013, p. 17-18)

O debate acerca do movimento moderno em arquitetura e urbanismo emerge nesta leitura a partir do choque
entre dois Pontos de Inflexão:1 a(s) Carta(s) de Atenas(s) (1933-1942) e a emergência do grupo Team X (1943),
fundamentais para o entendimento do momento histórico de construção do próprio campo disciplinar e projetual
do urbanismo. Debate este que não está pautado num recorte temporal, como o traçado pelas metodologias de
trabalho anteriores na Cronologia do Pensamento Urbanístico, 2 e sim no embate (convergências ou divergências;
similaridades ou oposições) entre formas de pensar, práticas projetuais, fatos e eventos que conformam, sem
delimitar, “nuvens” de pensamento.

A proposta mais relevante da Cronologia do Pensamento Urbanístico não é desenvolver simplesmente uma linha do
tempo, mas, graças a ela, chamar a atenção para a circulação sistêmica de dados entre determinados círculos
urbanísticos, formando vastas redes de conhecimentos que atuam de maneira complexa. Neste contexto, as
“nebulosas” do pensamento são, atualmente, a principal ferramenta de pesquisa do site, pois permitem analisar e
cotejar informações relevantes e visualizar seus desdobramentos e repercussões. Elas cumprem um dos principais
objetivos da pesquisa: o de estabelecer condições de possibilidades para a emergência de novos entendimentos
sobre a circulação de ideias no campo do urbanismo.

As “nebulosas” do pensamento urbanístico estão estruturadas a partir de uma constelação de projetos, eventos,
publicações e fatos relevantes e suas correlações. Através desta ferramenta, é possível perceber, de certa forma,
a organização interna da pesquisa (os Pontos de Inflexão, ou PIs) e o alcance da circulação de ideias, suas
relações, vocabulários, autores, temas, planos, projetos e as próprias redes intelectuais de pensamento sobre a
cidade e o território que alimentam a dinâmica destes fluxos.

Esta construção historiográfica busca nas brechas, nos acontecimentos marginais, mesmo que inseridos entre
contextos maiores na história,3 que muitas vezes escapam ao próprio campo disciplinar do urbanismo, formas de
pensar que ajudem a enxergar e compor uma outra escrita da história, onde diversos tempos se sobrepõem,
fazendo emergir questões que, dentro da historiografia tradicional, passam despercebidas ou são, na maioria das
vezes, invisibilizadas. Ou, nas palavras de Margareth da Silva Pereira, é preciso trazer à tona estas pequenas
nuvens que são “clareiras desse céu opaco que esconde tudo”. É preciso, portanto, entender o momento histórico
que diz respeito a esta leitura dentro de uma conformação maior na constituição do que se pode chamar
urbanismo moderno que, segundo Paola Berenstein Jacques:

Podemos, grosso modo, classificá-lo em três momentos distintos, que se sobrepõem: a modernização
das cidades, de meados e final do século XIX até início do século XX; as vanguardas modernas e o
movimento moderno (Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna, CIAMs), dos anos 1910-20 até
1959 (fim dos CIAMs); e o que chamamos de modernismo (ou moderno tardio), do pós-guerra até os
anos 1970. (JACQUES, 2012, p. 32, destaque original)
Os Pontos de Inflexão CIAM IV – 1933 (S. S. Patris II: Marselha/Atenas) – A Cidade Funcional e a(s)Carta(s) de Atenas
e CIAM IX – 1943 (Aix-en-Provence) – Habitat e a Formação do TEAM X/Crítica à Cidade Funcional conformam o
primeiro período da pesquisa do grupo da UFBA dentro da Cronologia do Pensamento Urbanístico. 4 O debate
começa a ser traçado, portanto, a partir da crítica ao próprio movimento moderno.

Figura 1: Carta de Le Corbusier ao editor Karl Krämer (1961): “Montam sobre os (nossos) ombros, mas não dizem
obrigado”. Fonte: COHEN, 2013

Inicialmente, buscou-se entender o urbanismo funcionalista a partir da sua crítica, formulada pelo Team X, na
história dos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna (do francês Congrès Internationaux d’Architecture
Moderne, ou, simplesmente, CIAM), iniciando a conformação deste debate a partir de uma nebulosa de ligações
primárias ao grupo Team X (CIAM IX – 1943), para então se desdobrar em outros PIs, que vieram a conformar ou
não, outras nuvens de pensamento.

Naquele momento, na tentativa de evidenciar este debate numa produção nacional, sobretudo na cidade de
Salvador, optou-se pela formulação do segundo PI, relativo à criação do EPUCS (Escritório de Planejamento Urbano
da Cidade de Salvador). Entretanto, apesar de ser considerado uma experiência pioneira no Brasil, o EPUCS está
inserido dentro de uma lógica muito mais ampla, uma vez que a questão discutida pelo Escritório é o processo de
trabalho proposto pelo ideário da Cidade Funcional de Le Corbusier. Este tema, que emerge a partir das discussões
do CIAM IV, de 1933, conta com elaborações das várias versões da Carta de Atenas, que surge a partir do encontro
que lhe deu origem. O próprio estudo do EPUCS é introduzido na Cronologia do Pensamento Urbanístico a partir da
tradução da Carta de J. L. Sert (publicada em 1942, no livro Can our cities survive? An ABC of urban problems,
their analysis, their solutions), feita por Admar Guimarães, membro da equipe do Escritório, na qual o autor
intercala à tradução, notas sobre a Cidade do Salvador e aos trabalhos do EPUCS.

Por considerar-se pontos de inflexão acontecimentos que provocam rupturas dentro dos debates urbanísticos, o PI
que emergiu neste momento da pesquisa, para tratar do debate do urbanismo funcionalista, foi, portanto, o CIAM
IV e as diversas versões da(s) Carta(s) de Atenas. A multiplicidade de documentos dissonantes do CIAM IV alargaram
reflexões em torno do movimento moderno e da universalidade dos princípios funcionalistas.

Estes dois “acontecimentos” principais, de princípios aparentemente antagônicos, apresentam diversas relações e
cruzamentos, entendidos aqui como momentos de inflexão dentro da história do pensamento urbanístico. Neste
texto, pretende-se, a partir da narrativa historiográfica dos acontecimentos referentes aos Pontos de Inflexão,
evidenciar os motivos que levaram à emergência destes grupos e apresentar alguns verbetes relacionados ao
contexto dos acontecimentos, os movimentos, desdobramentos, atravessamentos e relações existentes nesta
nebulosa5 do pensamento urbanístico moderno em arquitetura e urbanismo. De maneira a facilitar o entendimento
do leitor, o texto será apresentado de maneira cronológica.

Urbanismo, de Cerdà a Le Corbusier


Ignoramos ou conhecemos mal o fato de que a constituição e a autorização de um discurso fundador de
espaço é recente e ocidental. Sua disseminação era inevitável desde que, mercê da revolução
industrial, o padrão cultural do ocidente se impunha, de bom ou mau grado. Pois, somente a partir da
segunda metade do século XIX é que o discurso fundador do espaço enunciou suas pretensões
científicas e designou seu campo de aplicação com o termo urbanismo; este termo, na verdade, foi
criado, e definia a vocação da “nova ciência urbanizadora”, em 1867 por [Ildefonso] Cerdà.

No entanto, não se trata de um verdadeiro começo. Para captar a força da transgressão e de ruptura
que anima os escritos teóricos do urbanismo, é preciso tentar apreender seu projeto fundador antes
das datas convencionadas, em seu aparecimento verdadeiro e ignorado, no alvorecer da primeira
Renascença italiana. Nesse caso, como em muitos outros, uma formação discursiva e uma prática cuja
paternidade se atribui ao século XIX, e que se localiza numa configuração epistêmica que teria
começado a definir-se na virada dos séculos XVIII e XIX, apenas consagram rupturas já operadas e
organizam domínios já definidos. (CHOAY, 1985, p. 03)

O termo urbanismo (do latim urbs, cidade) surge a partir dos trabalhos do engenheiro espanhol Ildefonso
Cerdà,6mais especificamente sua Teoría general de la urbanización (Teoria Geral da Urbanização) de 1867. Cerdà
determinou o urbanismo como uma nova disciplina científica que surgia de forma diferente, uma “nova ciência de
organização espacial das cidades” (CERDÀ, 1867, apud CAÚLA, 2008, p. 01), baseada em três códigos de
escrita/representação: o texto escrito, o desenho topográfico e a estatística. (CALABI, 2012, p. 27) Os campos
profissional e acadêmico da arquitetura, a partir de então, iniciam uma fase de estudos e planos reguladores para
as cidades, que surgem com o intuito de controlar o crescimento desordenado e orgânico como acontecia nas
cidades medievais, além do surgimento de novas cidades similares àquelas.

Entretanto, não se pode afirmar que as vilas e cidades anteriores à Cerdà não possuíam planos ou bases de
organização pensadas racionalmente. As primeiras problemáticas sobre o urbanismo são, certamente, mais antigas
do que o termo. Porém, reflexões sobre o urbanismo aparecem, no contexto de disciplina, a partir da segunda
metade do século XIX, quando o discurso fundador de espaço enunciou suas pretensões científicas e designou seu
campo de aplicação com o termo urbanismo. (CHOAY, 1979, p. 03)
Segundo Kenneth Frampton (FRAMPTON, 2008 [1997], p. 13), no século XIX, as cidades passaram por
transformações culturais, territoriais e técnicas. Aliado a isso, há uma queda no índice de mortalidade devido aos
avanços na área da medicina, que acabam por gerar uma concentração urbana muito maior. Mudanças também
aconteceram nos campos da arquitetura e do urbanismo, no que diz respeito a questões técnicas atreladas a um
domínio maior sobre materiais e métodos construtivos. Surge, nesse período, a possibilidade dos profissionais
urbanos – na época, sanitaristas, engenheiros e urbanistas – promoverem intervenções nas cidades, que, de forma
abrupta, transitavam de uma tipologia de cidade tradicional para uma metrópole sempre em expansão.

A transformação dos meios de produção e transporte, assim como o surgimento de novas funções urbanas,
contribuíram para romper os velhos quadros, justapostos, da cidade medieval e da cidade barroca. (CHOAY, 1979,
p. 04) Os núcleos urbanos, a partir dos processos de industrialização, deixaram de ser limitados por perímetros
definidos, que se expandiram à sua volta em todas as direções, sem obstáculos naturais ou artificiais. (CALABI,
2012, p. 16) Este crescimento volátil e desenfreado das cidades, consequentemente, levou à transformação de
bairros antigos em áreas miseráveis, com moradias baratas e cortiços lotados. A partir destes processos,
questionamentos sobre a racionalização das cidades passam a ser levantados no meio profissional da arquitetura e
observa-se, a partir daí, mudanças significativas no pensamento urbanístico.

Os profissionais da arquitetura e do urbanismo iniciam, então, experimentações projetuais, proposições e planos


para cidades racionalmente pensados. Muitas destas experimentações posicionavam-se em um plano imaginário,
“caídas de paraquedas em terras incontaminadas pela irracionalidade capitalista”. (CALABI, 2012, p. 22) Opondo-
se a uma expressão de desordem da cidade industrial, emergem propostas de ordenamentos urbanos livremente
construídas através de uma reflexão que se desdobra no imaginário. Essas propostas, por não poderem dar forma
prática aos questionamentos da sociedade, situam-se na dimensão da utopia. (CHOAY, 1979, p. 07)

O papel em branco, a tela em branco podem ser tomados como espaços abertos à construção utópica,
espaços do pensamento urbano, onde os arquitetos e urbanistas erigem suas cidades impulsionados
pelo seu desejo, como crítica e resistência ao mundo que os circunda. São eles também seres
desejantes de outros mundos, de outras cidades, criadores de imagens utópicas urbanas. (CAÚLA, 2008,
p. 02)

No início do século XX, aparece, neste panorama urbano, a figura do arquiteto franco-suíço Le Corbusier. Corbusier
é um desses pensadores7 da discussão da cidade moderna, propondo como fissura no pensamento urbanístico a
Cidade Funcional. Seu projeto modelo, apresentado em 1922 como Ville Contemporaine de trois millions
d’habitants (A cidade contemporânea de três milhões de habitantes), propunha um ordenamento projetual,
racional e articulado à geometria. (CHOAY, 1979, p. 188)

Para justificar as suas denúncias sobre a cidade moderna, Le Corbusier, em seus livros Vers une architecture (Por
uma Arquitetura) (1923) e Urbanisme (Urbanismo) (1925), indica uma série de imagens, fotomontagens e recortes
de jornais, tensionando a situação das cidades a partir de análises sobre as tecnologias contemporâneas. “As notas
oficiais desenham a curva registrada pelo aparelho sismológico do mundo, as ‘notícias do cotidiano’ martelam
diariamente o drama que se passa em toda parte e à nossa porta; explosões de ciência, de história; a economia, a
política”. (CORBUSIER, 2009b [1925], p. 117) A imagem da cidade é, assim, decomposta em elementos que a
constituem fisicamente (casas, ruas, canais, ferrovias, parques e jardins, indústrias). (CALABI, 2012, p. 23) São,
então, conferidas outras escalas de apropriação. “Ao espaço fragmentado, mas ordenado, da cidade-objeto,
corresponde rigorosamente o espaço dissociado, mas geometricamente composto, da cidade-espetáculo”. (CHOAY,
1979, p. 23)

Em Urbanismo, as várias páginas dedicadas aos recortes de jornais da época confirmam as hipóteses de Le
Corbusier: o desaparecimento quase total dos cavalos de Paris; o carro não mais como uma prova manifesta de
luxo, mas um instrumento de trabalho.

Em 1922, os diários ainda estavam mudos à respeito das questões do urbanismo; em 1923, o
aparecimento intermitente de artigos consagrados a tal questão era significativo; começava-se a
avaliar que se tratava de uma questão vital. Em 1924, pode-se dizer que toda a imprensa noticiou, e
quase diariamente; realmente o urbanismo fazia que falassem dele, pois Paris estava doente, muito
doente. (CORBUSIER, 2009b [1925], p. 24)

Uma vez ilustrados os problemas, concluía o arquiteto: “Eis um recorte de jornal que diz o que se torna o
caminhão na vida urbana. Então? Então é preciso conceber ruas que levem em conta o caminhão”. (CORBUSIER,
2009b [1925], p. 125) As cidades, enquanto instrumentos ordenadores e de trabalho, não cumpriam, normalmente,
essa função. Eram ineficazes nesse sentido. A desordem dominante era o principal agravante, “já não eram dignas
da época, nem dos urbanistas ou dos seus habitantes”. (CORBUSIER, 2009b [1925], p. 125)

A Cidade Funcional, assim como as demais propostas de cidades-modelo modernas, apresentava-se como
representação da ordem a partir de escalas. A casa, o trabalho, o lazer e a rua deveriam estar em ordem
constante. Uma vez em desordem, elas se oporiam ao morador/habitante, assim como se opõe à natureza,
constantemente controlada e combatida pelo homem moderno. A fim de dar fundo as suas respostas formais, o
arquiteto buscar nas ruas o que, para ele, seriam os maiores problemas das cidades modernas:

Poema de Edgar Poe? Não. Uma picaretada catastrófica nessa rua milenar que já não rima com nada. A
rua é uma máquina de circular; é uma fábrica cujas ferramentas devem realizar a circulação. A rua
moderna é um órgão novo. Urge criar tipos de ruas que sejam equipadas como é equipada uma fábrica.
(CORBUSIER, 2009b [1925], p. 124)

É a partir deste conceito de rua como justificativa para a construção do seu ideário que Le Corbusier direcionava o
seu discurso positivista. Em seus projetos, ficava claro que o arquiteto planejava abolir a rua da cidade ou, como
ele mesmo defendia, por serem ideias obsoletas, “não deveria existir nada parecido com uma rua; temos de criar
alguma coisa para substituí-lá”. (CORBUSIER, 2009b [1925], p. 128)

Figura 2: Alison e Peter Smithson: Grille Urban Reidentification, CIAM IX (1953). Fonte: RISSELADA e HEUVEL, 2005

Le Corbusier propõe projetos abstratos e utópicos, inserindo e difundindo ideias muito próximas em contextos dos
mais adversos, que vão desde o Plan Voisin para Paris (1925), ao Plano para São Paulo (1929). Através de
fotografias aéreas, maquetes, croquis, perspectivas e desenhos geométricos, fez emergir um movimento de
vanguarda na Europa a partir de 1928, ano da primeira edição dos CIAMs. “As transformações em seus protótipos
urbanos da década de 1920, em que a ‘hierárquica’ Ville Contemporaine de 1922 se converteu na Ville
Radieuse8 ‘sem classes’ de 1930, implicou mudanças significativas no modo de Le Corbusier conceber a cidade da
era da máquina”. (FRAMPTON, 2008, p. 217, destaques originais)

Navios, Cidades e Cartas


Dissipar o irracional e o meramente ornamentado. Purificar o corpo e curar a alma. A arquitetura moderna, e seu
desejoso estilo cosmopolita e internacional, estava cheia de boas intenções. Ao anunciar um novo começo, negou a
história e por vezes o próprio presente. Por algum tempo, pelo menos na Europa, pareceu possível manter-se nesta
ilusão. Então veio a queda: arquitetos se rebelaram contra restrições, moradores rejeitaram disciplinas severas e
historiadores começaram a expor suas conexões. No entanto, o pensamento modernista mantém algumas de suas
atrações; há uma sedutora disciplina do corpo e do espírito e uma nostalgia frequente por suas utopias j áá há tanto
questionadas.
Os CIAMs constituíram uma série de eventos organizados pelos principais nomes da arquitetura moderna europeia,
a fim de discutir os rumos da arquitetura, do urbanismo e do design no início do movimento. 9 Coube à Hélène de
Mandrot estimular aquilo que veio a se constituir o CIAM I, 10 realizado no Castelo de La Sarraz, na Suíça, em 1928.
Anunciou às delegações na época:

[...] o objetivo principal e a finalidade que aqui nos reúne, é articular os diferentes elementos da
arquitetura atual em um todo harmônico, e dar à arquitetura um sentido real, social e econômico. A
arquitetura deve, portanto, liberar-se da estéril influência das Academias e de suas fórmulas
antiquadas. (SAMPAIO, 2001, p. 31)

O ideário moderno dos CIAMs nasce, portanto, sob o compromisso de dar um sentido social e econômico à
arquitetura, vinculado à noção de um todo ordenado que rejeita o academicismo em voga no ensino e nas práticas.
No primeiro documento publicado – a Declaração de La Sarraz 11 – jáá se assume uma atitude radical em relação ao
planejamento de cidades, ao declarar que a essência do urbanismo era de ordem funcional, em defesa da
introdução de dimensões normativas e da eficiência dos métodos de produção.

No Congresso Internacional de Arquitetura Moderna, realizado em 1928, em La Sarraz (França) – o I


CIAM –, o urbanismo é definido como organização das funções da vida coletiva, que envolve a cidade e
o campo, cuja essência é a ordem funcional, j áá se apontando as três func ̧ões-chave da cidade –
habitação, trabalho, lazer – a serem articulados pela circulação. Para efetivar esses princípios,
controle do uso do solo, a legislação e a regulação do tráfego são destacados. (FELDMAN, 2005)

Os CIAMs, segundo Kenneth Frampton, passaram por três etapas distintas de desenvolvimento. Os CIAMs I a III,
dominada pelos arquitetos de língua alemã (suíços e alemães), de tendência socialista, trata do início do
movimento com preocupações sociais e técnicas (racionalização da construção). Os CIAMs IV a VII, com domínio da
língua francesa, representado pela figura de Le Corbusier, dá ênfase nas discussões para uma doutrina
funcionalista urbana, a Carta de Atenas. Os CIAMs VIII a X, com o domínio da língua inglesa (ingleses e holandeses),
trata da emergência do Team X, crítica e dissolução do movimento de ordem funcional, de defesa da introdução
de dimensões normativas e de eficiência nos métodos de produção. (FRAMPTON, 2008, p. 328)

Entre julho e agosto de 1933, grupos de arquitetos representantes de 10 idiomas partiram a bordo do navio S. S
Patris II, de Atenas a Marselha, através dos mares da França, Itália e Grécia. A viagem foi, na verdade, a ocasião
do CIAM IV,12 sob o tema A Cidade Funcional, e pretendia ser o primeiro de uma série de congressos sobre o
assunto. Um congresso de esplendor cênico, mas que aconteceu bem longe da realidade da Europa industrial. Uma
suspensão temporária da realidade que resultou, a partir da análise de 33 cidades, 13 num documento de conteúdo
dogmático, abstrato, desprovido de valor simbólico e cultural e, sobretudo, de aplicabilidade universal: a Carta de
Atenas.

Ao descrever a posteriori14 o clima do congresso, as palavras de Le Corbusier deixam escapar detalhes importantes
sobre o evento. Quando se pensa na ideia de “um sóá ruído” e “uma sóá atmosfera”, num congresso que se propunha
criar um “modelo” universal de urbanismo, ou, como ele define, “o instrumento que indicará o destino das
cidades”, ficaram ausentes as diversas realidades não contempladas nos diagnósticos 15 realizados sobre as cidades
analisadas (sendo 28 delas europeias, 3 americanas e 2 asiáticas). Como bem afirma o documento, estas “ilustram
a história da raça branca nos climas e latitudes mais diversos”. (SAMPAIO, 2001) Finalmente, as questões
formuladas possuem generalidades demasiadas e afastam-se muito das questões práticas levantadas nos primeiros
CIAMs. Por exemplo, para cidades tão diferentes como Paris e Varsóvia, eram vislumbradas as mesmas soluções
universais de ordenamento do espaço urbano.

É importante situar a discussão da Cidade Funcional em termos de instrumentos tecnológicos disponibilizados para
o planejamento urbano a partir da Primeira Guerra Mundial. Ao discutir os problemas urbanos neste período, os
arquitetos apontavam para as novas perspectivas reveladas pelas fotografias aéreas, que permitiam uma visão
total das cidades atéá então desconhecida.

Nas vistas aéreas, as cidades eram apreendidas em sua totalidade, como unidades, em uma escala que
não distinguia edifícios individuais, ruas, lotes, etc, mas tomava o objeto urbano como um todo,
colocando novos problemas. [...] A precisão da imagem nas fotos aéreas resultava em registros formais
que revelavam a composição da totalidade urbana. (...) essa disposição para lidar com o objeto total
era também um novo instrumento de controle nas mãos do planejador. (BARONE, 2002, p. 43)
Neste caso, os projetos e maquetes são geralmente concebidos em uma perspectiva aérea. As projeções são
representadas num “voo de pássaro”, de cima para baixo, apontando para uma visão da ação de arquitetos
urbanistas como artífices da ordem. Dessa forma, o projeto constitui um ato divino, demiúrgico e de postura
excludente e estatizante. Os mapas oferecem uma visão do alto, totalizante. A imagem de Le Corbusier apontando
de cima para baixo para a maquete do Plan Voisin é emblemática, pois reflete o olhar hierárquico do arquiteto, a
maneira vertical, manipuladora e totalizadora de abordar uma dada situação.

Figura 3: Le Corbusier (1929): Morro da Favella, Rio de Janeiro; Plano para o Rio de Janeiro. Fonte: CORBUSIER, 2004
[1930]

Todas as ditas Cartas de Atenas referem-se, de fato, às discussões acerca da Cidade Funcional, travadas durante o
CIAM IV, em 1933. As cento e onze propostas da Carta consistiam em um manifesto sobre os problemas das cidades
modernas e, em parte, de propostas para a correção dessas condições, agrupadas sob quatro categorias principais:
Habitar, Recrear, Trabalhar e Circular. A sobrevalorização da questão da unidade de habitação, tomada como
função primordial, acabou por criar um achatamento das diferenças entre o público e o privado na cidade.
Pretendia a Carta “dar a cada função e a cada indivíduo seu justo lugar”, fundamentada na “discriminação entre
as diversas atividades humanas que reclamavam individualmente seu espaço particular”.

O CICLO DAS FUNÇÕES COTIDIANAS: HABITAR, TRABALHAR, RECREAR-SE (RECUPERAÇÃO), SERA


REGULAMENTADA PELO URBANISMO DENTRO DA MAIS ESTRITA ECONOMIA DE TEMPO, CONSIDERANDO-SE
A HABITAÇÃO COMO O CENTRO PRÓPRIO DAS PREOCUPAÇÕES URBANÍSTICAS E O PONTO DE UNIÃO DE
TODAS AS MEDIDAS. (...) O zoneamento, tendo em conta as funções-chave: habitar, trabalhar, recrear-
se poráá ordem no território urbano. A circulação, quarta função, não deve ter senão um objeto: por
em comunicação, sob forma útil, as outras três. (CIRPAC, 1950 [1941], destaques originais)

O urbanismo moderno deveria ter, a partir de então, quatro objetivos: 1) Assegurar aos homens alojamento
saudável, isto é, lugares em que o espaço, o ar puro e o sol, estivessem amplamente garantidas; 2) Organizar os
lugares de trabalho de modo que este, em vez de ser uma penosa sujeição, recuperasse o seu caráter de atividade
humana natural; 3) Prever as instalações necessárias para uma boa utilização das horas livres, fazendo-as
benéficas e fecundas e; 4) Estabelecer o vínculo entre estas diversas organizações por meio de uma rede
circulatória que garantisse os intercâmbios, sem deixar de respeitar as prerrogativas de cada uma delas.
As propostas da Carta de Atenas tornam-se tentadoras e ganham resultados significativos a partir do fim da
Segunda Guerra Mundial, quando a destruição das cidades europeias exigia urgência nas políticas de reconstrução.
O ideário funcionalista, amplamente divulgado pelas revistas internacionais de arquitetura, foi adotado como
solução genérica nas cidades arrasadas. Era a efetivação da tão sonhada tábula rasa moderna. O movimento
moderno em arquitetura e urbanismo pautava-se na desconsideração das culturas, das diferenças, da própria
história das cidades e, sobretudo, na crença do poder transformador do campo disciplinar. Trabalhou dessa
maneira no sentido de desqualificar os homens comuns no que diz respeito aos aspectos ligados à vida urbana.
Elegeu especialistas que “viam a cidade” e que possuíam o conhecimento científico e métodos eficientes para a
resolução dos seus problemas.

[...] Tabula rasa do latim, “folha em branco”. Tabula se refere a uma superfície de pedra para se
escrever, Rasa, feminino de Rasus, significa apagado, i.e. “em branco”. Tabula rasa. Filos. No
empirismo mais radical, estado de indeterminação completa, de vazio total, que caracteriza a mente
antes de qualquer experiência. [...] Tábula rasa. S.F. Superfície plana preparada para receber uma
inscrição, porém onde nada ainda se gravou. Quadro ou tela antes de receber as tintas.
(FERREIRA,1996, p. 762. Apud. MARQUES, 2010, p. 20)

A tábula rasa será a proposição moderna fundamental, uma condição básica para a implementação das mudanças
por vir. Noção moderna que se refere ao poder de decisão sobre o que destruir e o que manter, bem como o que
introduzir “de novo” sobre um dado território. Implica, portanto, numa desafiante condição de potência criativa
frente à história, reiterando a atitude demiúrgica do arquiteto urbanista.

Cidades e Laboratórios (Experiências na América


Latina): Buenos Aires, São Paulo, Rio de Janeiro,
Salvador
Os desdobramentos dos ideais racional-funcionalistas levantados pelos arquitetos do CIAM IV são muitos e se
alastram devido, sobretudo, às viagens realizadas pelos arquitetos participantes dos CIAMs, assim como através dos
projetos realizados por eles. A cidade funcional, reduzida a seus quatro tipos básicos de atividade não são
discutidas apenas no âmbito europeu.

Le Corbusier foi um dos arquitetos modernos cujas viagens mais claramente fizeram parte da construção de uma
teoria e prática de arquitetura fortemente personalizada. Em 1929, incomodado com a falta de campo e interesse
dos europeus, principalmente os franceses, sobre seus trabalhos, articula-se, através de cartas, com intelectuais,
artistas e políticos sul-americanos (no Brasil, principalmente com Cendrars e Paulo Prado) para levar suas ideias e
projetos para uma série de conferências realizadas em Buenos Aires, São Paulo e Rio de Janeiro. Surge como
resultado desta viagem à América Latina (Brasil e Argentina) o livro Précisions sur un état présent de
l'architecture et de l'urbanism (Precisões sobre um estado presente da arquitetura e do urbanismo) 16, publicado
em 1930.

As conferências da América do Sul, improvisadas em 1929 diante de uma plateia muitas vezes renovada
[...] abordam o homem e seu meio. Evocam solidariamente os empreendimentos do engenheiro e do
arquiteto. Elas, com toda modéstia, abriram as portas e janelas. São ilustradas com esboços feitos sob
os olhos do público. Permitiram a seu autor perceber-se com clareza, ser ingênuo mais uma vez,
contando-se em apresentar os problemas e lhes dar a resposta mais natural. [...] Uma pessoa não viaja
para tão longe a fim de fazer conferências sobre a arquitetura e o urbanismo se ela não se sentir
capacitada para contribuir com alguns dados de realidade. Estas dez conferências foram realizadas
com o infatigável desejo de propiciar certezas. (CORBUSIER, 2004 [1930], p. 8)

Nesta primeira visita, Le Corbusier também elaborou um plano urbanístico para o Rio de Janeiro, que incluía um
dos primeiros projetos de alojamentos para as classes populares do século XX. Foi durante essa viagem que o
arquiteto tem a primeira oportunidade de voar num avião e olhar a natureza, a paisagem e as cidades sul-
americanas a partir das alturas. A impactante apreensão panorâmica do território fertilizou o diálogo entre as
escalas da arquitetura e do urbanismo. Dentro do avião a planície se estende à sua volta, ela cobre os quatro
horizontes e, para dizer a verdade, toda essa paisagem é uma única e mesma linha reta: o horizonte. (CORBUSIER,
2004 [1930], p. 17)
Figura 4: Le Corbusier, Aircraft (1935): uma celebração do voo, uma nova perspectiva sobre o mundo. Fonte: Cronologia
do Pensamento Urbanístico

A luz tonteia e cega os contemporâneos – há tumulto, incompreensão: demolição sumária de tudo o


que precedeu; negação intransigente do pouco que vai surgindo – iconoclastas e iconólatras se
digladiam. Mas, apesar do ambiente confuso, o novo ritmo – transfigurado – descobre na mesma
natureza e nas verdades de sempre encanto previsto, desconhecido sabor, resultando daí formas novas
de expressão. Mas um horizonte então surge, claro, na caminhada sem fim. (COSTA, 1936, p. 40 Apud.
XAVIER, 2007, p. 17)

No plano que traçou para o Rio de Janeiro, sua intenção declarada no projeto de alojamento popular, era
substituir as favelas e, com a construção dos apartamentos cem metros acima das casas dos ricos. O projeto, de
proposta utópica, pretendia traçar viadutos habitáveis no Rio de Janeiro e foi, de certa forma, a maneira que
Corbusier achou para ter uma tabula rasa em plena cidade construída. Os viadutos, de cima, quase que negavam a
existência desta outra cidade e evidenciam apenas a natureza soberana do Rio de Janeiro como paisagem. Em
nova vinda ao Brasil, em 1936, Corbusier traçou o esboço original para o Ministério da Educação e Saúde. 17 Segundo
Lúcio Costa,

o marco definitivo da nova arquitetura brasileira, que se haveria de revelar igualmente, apenas
construído, padrão internacional e onde a doutrina e as soluções preconizadas por Le Corbusier
tomaram corpo na sua feição monumental pela primeira vez, foi, sem dúvida, o edifício construído
pelo ministro Gustavo Capanema para a sede do novo ministério. Baseado no risco original do próprio
Le Corbusier para outro terreno, motivado pela consulta prévia, a meu pedido, tanto o projeto quanto
a construção do atual edifício, desde o primeiro esboço até a definitiva conclusão, foram levados a
cabo sem a mínima assistência do mestre, como espontânea contribuição nativa para a pública
consagração dos princípios por que sempre se bateu. (COSTA, 1936, p. 40 Apud. XAVIER, 2007, p. 20)

Segundo Cecília dos Santos e Margareth da Silva Pereira, essas primeiras viagens de Corbusier são momentos
singulares na história da arquitetura brasileira. “Cristalizando processo de ruptura, a figura do arquiteto francês
emerge desses eventos fortemente solidária ao nascimento de uma expressão arquitetônica genuinamente
‘brasileira’ que, embora reconhecida de forma autônoma, é considerada profundamente tributária das suas
teorias”. (SANTOS; PEREIRA, 1987, p. 10) A partir da viagem de 1929, e durante todo o período em que manteve
contatos com os brasileiros, Le Corbusier alimenta o desejo de construir no país algo “grandioso, puro e
verdadeiro”. (CORBUSIER, 2004 [1930].) Em 1930 ele escreve: “são vocês, do Brasil, que podem me dar esta
oportunidade”.18 (CORBUSIER, 2004 [1930].)
Figura 5: Le Corbusier, Urbanisme (1925): a tábula rasa moderna. Fonte: CORBUSIER, 2009b [1925].
A primeira proposta de intervenção urbanística no Rio de Janeiro com preocupações genuinamente modernas, no
entanto, pertence ao plano do urbanista francês Alfred Agache. O projeto, concluído em 1930, que ficaria
conhecido como Plano Agache, pretendia organizar o crescimento do Rio, determinando áreas de expansão,
prevendo a criação de redes de serviço e tratando da instalação da infraestrutura urbana. Em sua visita ao Rio, Le
Corbusier, educadamente, enfatiza sua admiração por Agache, mas sua proposta para a cidade é completamente
diferente daquilo que estava sendo proposto pelo urbanista.

Segundo a tradição urbanística representada por Alfred Agache, o Urbanismo é uma ciência de aplicação sobre
a urb(espaço físico da cidade), como também uma filosofia de remodelação da civita (comunidade urbana). A
cidade é apresentada por Agache como um organismo vivo que se desenvolve segundo sua própria lei de evolução,
donde o urbanismo seria a medicina da cidade, o urbanista seria o médico e o plano, a terapia. A compreensão
evolucionista do fenômeno urbano, assim como o uso da pesquisa e análise interdisciplinar antes do plano, Alfred
Agache devia ao escocês Patrick Geddes que, biólogo, era estudioso da teoria da evolução de Darwin. Geddes
dedicou-se a estudar a interação da vida com o meio ambiente, o que acabou o levando ao estudo das cidades.
Suas concepções sobre a cidade foram inspiradas pela “ciência da vida” e moldadas pela observação empírica e
intuição.

Na Bahia, as discussões sobre a cidade funcional começam a ser esboçadas com a EPUCS, 19 em 1942. Porém, o
espírito modernizador se fez presente pelo menos desde a década de 1930, marcado, principalmente, pela
demolição da Igreja da Sé em 1933.

A Bahia requeria, de há muito, o desafogo do trecho em que se elevava, dificultando o transito, o


imprestável templo abandonado. As exigências urbanas, cada dia maiores, de ar, de luz e de espaço, a
necessidade de aformoseamento e higienização do local, tudo estava a determinar uma providência
decisiva por parte dos poderes públicos. [...] Inútil velharia, bem como a chamou a pena luminosa de
Henrique Cancio, a finalidade dessa discutida ruinaria da Sé era deixar-se abater para abrir caminho ao
urbanismo, criador de higiene e beleza da cidade. (PMS, 1938, p. 113-114 Apud. BATISTA, 2014, p. 52)

Se a depreciação do valor histórico da igreja foi a estratégia, os objetivos declarados da demolição eram conferir
segurança e fluidez ao tráfego dos transeuntes e bondes da Companhia Circular de Carris da Bahia e sanear o velho
distrito da Sé. No bojo desses acontecimentos, organiza-se em Salvador, em 1935, a Primeira Semana de
Urbanismo.20 Trata-se do terceiro congresso de urbanismo nas américas e o primeiro no Brasil. Assim como Le
Corbusier fizera em seu livro Urbanismo, onde apontara que “Paris estava doente, muito doente” (CORBUSIER,
2009b [1925].), Salvador é assim retratada, também a partir de recorte de jornais. Os engenheiros participantes da
Primeira Semana de Urbanismo apontavam uma Salvador errada, confusa e tortuosa como “caminhos de rato”,
com sua promiscuidade no uso do solo, vendedores ambulantes e seus casebres insolúveis. Era preciso, então,
civilizá-la urgentemente, transformar a cidade errada em cidade certa.

É inserido neste processo que surge o EPUCS. Desde 1939, a Prefeitura de Salvador vinha realizando contatos com
escritórios do Rio de Janeiro, visando à contratação de um plano de urbanismo para a capital baiana. A vinda de
Agache à Bahia, em maio de 1941, já com fama no Brasil devido ao seu plano para o Rio de Janeiro, foi
amplamente divulgada nos jornais da época. Agache era tido como o urbanista que lançaria as bases da cidade
futura a partir de um plano para a cidade de Salvador. Nesta viagem, pretendia juntar informações para
elaboração do tão esperado plano.

Minha função, vindo à Bahia é idêntica ao do médico que é chamado a ver um doente. Antes tenho que
auscultá-lo, saber do seu estado geral, o que se lhe receitou antes, a fim de poder diagnosticar. E a
Bahia, ao que posso ver, é um doente que não se apercebe da sua real situação de saúde. Mas, ao
primeiro contato que venho de ter, não foi das piores a impressão do que já vi. (A TARDE, 24/04/1941)
Figura 6: J. L. Sert (1942): capa e título originais do livro Can our cities survive? An ABC of urban problems, their
analysis, their solution, onde foi publicada a versão norte-americana da Carta de Atenas. Fonte: Cronologia do
Pensamento Urbanístico

Em julho de 1942, o engenheiro baiano Mário Leal Ferreira encaminha à prefeitura uma proposta de trabalho para
elaboração de um plano urbanístico para Salvador. Por ser conhecido principalmente nas questões engenharia
sanitária e sociologia, tem a sua proposta aceita. Este fato cancela o plano que seria elaborado por Agache e,
neste mesmo ano, Mario Leal dá início aos trabalhos do EPUCS. Inicialmente, sob a coordenação de Mário Leal, o
Escritório contava com uma equipe multidisciplinar e elaborou uma série de estudos aprofundados em diversas
áreas, o levantamento aerofotogramétrico da zona urbana de Salvador e um conjunto de pesquisas históricas
visando a constituir a “enciclopédia urbanística da Cidade do Salvador”. É apenas após este estudo detalhado da
cidade que são elaborados planos urbanísticos.

O EPUCS, apesar de uma experiência pioneira no Brasil, por se tratar da primeira vez no país em que uma cidade é
entendida como um todo deve, em muitos aspectos, às propostas formuladas na Carta de Atenas e seus conceitos
de cidade funcional. As estreitas relações do grupo com as propostas do IV CIAM ficam ainda mais claras quando,
em 1955, Ademar de Guimarães, membro do escritório, traduz a versão da carta de J. L. Sert. Guimarães, no
entanto, intercalada a tradução da Carta com notas, em destaque, sobre a Cidade do Salvador e aos trabalhos do
EPUCS.21

A opção por manter os comentários feitos sobre Salvador [...] decorre da necessidade histórica de
registrar como as lideranças locais (ligadas ao EPUCS) absorviam e deglutiam, “antropofagicamente”, o
pensamento moderno dos CIAM's em nosso contexto, no meado do século XX. É instigante ver que,
embora o texto preferido para a tradução de GUIMARÃES seja The Town Planning Chart (1942), o título
adotado em português seja o de “A Carta de Atenas”, retomando o título consagrado pela versão
francesa e o mais divulgado no Brasil e no mundo a partir dos anos 50. (SAMPAIO, 2001, p. XX, destaque
original).

Os estudos iniciais do EPUCS subsidiaram as propostas do plano, dentre as quais estavam a diferenciação de zonas,
a definição de vias de comunicação, de áreas destinadas a parques e jardins e de zonas de habitações. Dentre as
propostas traçadas pelo Escritório, as chamadas “avenidas de vale” são, certamente, o aspecto mais conhecido do
plano. A ideia era propor uma articulação entre as cumeadas e os vales a partir do entendimento geomorfológico
de Salvador e da ocupação histórica que privilegiara o topo dos morros, deixando os vales livres para vias de
tráfego rápido. A primeira delas, a Avenida do Centenário, começou a ser implantada em 1949. 22

O Modulor, a Grille e os CIAM do pós-Guerra


Na tentativa de reafirmar suas ideias e moldar o estilo de representação projetual que propunha desde 1933, Le
Corbusier publica, entre 1942 e 1948, um sistema de medição conhecido por Modulor, uniformizando ainda mais os
parâmetros do desenho e do urbanismo modernos. Usando as dimensões médias humanas (1,75 metro como altura
padrão e, mais tarde, 1,83 metro), o modelo que o arquiteto usou para encontrar harmonia nas suas composições
arquiteturais corresponderia ao homem-padrão para habitar a sua “cidade ideal”, racional-funcionalista: um
homem de medidas ideais, um sistema de medidas e proporções, uma imagem de homem, sem contornos,
movimentos e identidade, contrapondo-se à multiplicidade das pessoas das cidades.
Figura 7: Nigel Henderson (1953): crianças brincando nos “slums” londrinos. Fonte: Cronologia do Pensamento Urbanístico

Durante os CIAMs, Le Corbusier pretende continuar promovendo a condução das discussões para a temática do
urbanismo funcionalista, através de uma padronização dos documentos e representações. Durante o CIAM
VI23 (1947) – a primeira edição do Congresso do pós-guerra –, ele propôs que todos os trabalhos discutidos nos CIAMs
fossem apresentados sob uma única forma, em uma “grade” – a “Grille corbusiana” – organizada a partir das
funções primárias contidas na Carta de Atenas. Sob o pretexto de facilitar a comparac ̧ão entre os projetos
apresentados de modo padronizado, a utilização da grade reforçava a leitura das cidades pela separação das
funções, produzindo e generalizando um método de análise que pretendia estar na base da própria produção de
projeto. Para dar continuidade à discussão da Cidade Funcional do CIAM IV (1933), o tema do CIAM V (1937) seria
“alojamento e lazer”, duas das funções primárias contidas na Carta. Uma tentativa de legitimar o conceito
urbanístico desenvolvido durante o Congresso anterior, a partir de soluções universais para cada função específica.

Crianças, Jogos e Cidade


No urbanismo, a noção de tábula rasa como um posicionamento que inclui ações, projetos, tomadas de decisões,
de ruptura em relação às experiências ou concepções anteriores, envolve também o desejo de abrir espaço para a
criação e destruição através da ruptura no que diz respeito a uma ordem existente. Uma elite acadêmica e
técnica, considerada detentora de um saber-fazer científico, naturaliza uma postura de se portar diante da cidade
e, sobretudo, dos seus habitantes. Promovem, a partir de um conhecimento prévio e determinado, indicações
superiores e iluminadas quanto aos melhores caminhos para a construção ou apropriação dos seus espaços sociais,
muitas vezes jáá praticados.

Por outro lado, a maioria daquela população, que não possuía outra alternativa senão aceitar as imposições
projetuais, acabou por criar mecanismos de defesa e superação: reverte os significados dos espaços que lhe são
impostos. Incorpora e cria ordens próprias que ultrapassem as ordens simplistas e abstratas dos planejadores. O
urbanismo, como meio disciplinador, possui suas brechas: os sujeitos praticantes da cidade e, dentro do próprio
campo, os arquitetos urbanistas que passam a contestar essa unidade na maneira de pensar/fazer cidade.

Durante o CIAM VIII (Hoddesdon, Inglaterra), em 1951, conflitos internos, que já começavam a ser esboçados
durante os primeiros Congressos do pós-guerra, tornam-se fundamentais para a quebra da hegemonia existente nas
discussões e ações dos CIAMs. Sob o tema The Heart of the City,24 o coração da cidade é apontado como núcleo,
uma ideia muito mais rica que a relação de centro cívico proposta pelos que ficariam conhecidos como a “velha
guarda” dos CIAMs. Fala-se do coração, dos espaços públicos, da escala humana, da nova monumentalidade e dos
edifícios históricos como força simbólica. Antes disso, a nova monumentalidade não representava a recuperação
dessa historicidade e os monumentos modernos deveriam ser construídos sobre grandes espaços abertos, sob a
ótica da tábula rasa.

Mudanças importantes são registradas em 1951: a chegada de novos países da Africa e Américas fez com que não
houvesse mais um único tema em debate e novas questões eram formuladas ainda durante os Congressos. É
durante o CIAM VIII que o arquiteto italiano Ernesto Nathan Rogers formula, pela primeira vez, a questão das
“preexistências ambientais”, uma metáfora para “contexto”, onde defende que a arquitetura não estaria isolada
do seu redor e, sobretudo, do que a precedeu. Os discursos anteriores perdem seu dogmatismo e tornam-se cada
vez mais absorventes e esponjosos. As novas ideias, mais complexas e sensíveis, apresentam-se irrecusáveis,
impossíveis de serem ignoradas e utilizadas de forma clara nos projetos propostos.

Contrapondo-se aos debates levantados até então pelos CIAMs, emerge, dentro dos próprios Congressos, o grupo
TEAM X25 (1953-1967). Este grupo dialoga questões da arquitetura e do urbanismo com outros “lugares” de
pensamento, como a Internationale Situationniste (Internacional Situacionista ou IS),26 o
grupo Cobra27(Copenhague-Bruxelas-Amsterdã, 1948-1951) e o The Independet Group28 –grupos de artistas,
intelectuais e arquitetos que atuaram entre 1950-1960 na Europa a partir de críticas sociais, culturais e políticas,
posicionando-se contra a cultura espetacular e a favor novas propostas de apropriação da cidade, por meio da
participação ativa dos seus habitantes. A proposta do TEAM X baseia-se em uma base metodológica que sobrepõe
pensamentos da antropologia e da sociologia, com os elementos de análise e projeto de arquitetura e urbanismo, a
partir de sínteses dos padrões de contatos urbanos, das relações/afetações que acontecem naturalmente na cidade
moderna. A crítica do grupo perpassa produções ligadas ao campo da arte e da cultura, e uma das referências para
os debates do TEAM X, a Internacional Situacionista “coloca-se contra as pretensões modernas racionalistas de
arquitetos e urbanistas, contra o urbanismo (chamado por eles de “ideologia espetacular” 29) e criticam
diretamente os maiores símbolos do modernismo: a Carta de Atenas e Le Corbusier”. (JACQUES, 2003, p. 14)

Durante o CIAM IX30 (Habitat), de 1953, ao mesmo tempo em que Le Corbusier apresenta exóticas experiências de
habitações padronizadas na cidade de Chandigarh 31 (Índia), George Candilis mostra suas análises de habitações
tradicionais no Marrocos (Africa) e a complexidade de transpor essas análises em edifícios de altura. É, sobretudo,
no trabalho apresentado pelo casal britânico Alison e Peter Smithson – o projeto Urban Re-identification – que a
crítica, ou melhor, o rompimento decisivo com a geração mais antiga do CIAM (FRAMPTON, 2008 [1997] p. 329) se
dá de forma mais direta. Nesta representação do que seria a “Grille corbusiana”, inexistem fotos aéreas das
cidades. Pela primeira vez na história dos CIAMs são retratadas pessoas reais (crianças brincando na rua), propondo
o questionamento das relações e dos conceitos de hierarquias e lugares. As quatro categorias funcionais são
substituídas por escalas de associação: a casa, a rua, as relações, o bairro e a cidade. A rua, aqui, seria como uma
extensão da casa, fundamental para a formação da identidade e da vida comunitária do habitante. Ao centro,
nota-se uma figura que pode ser entendida como um Modulor “explodido”. Elementos que representavam uma
crítica ao caráter da matriz racionalista precedente, considerado demasiado idealizante para interagir com as
particularidades da vida cotidiana.
Figura 8: Le Corbusier (1925): mão de Le Corbusier sobre o Plan Voisine para Paris. Fonte: FRAMPTON, 2008 [1997]

As fotografias do britânico Nigel Henderson (membro do Independent Group), que fazem parte da Grille Urban
Reidentification dos Smithson representam um mapeamento da experiência urbana que rompe barreiras entre a
casa e a rua, ou entre o bairro e a cidade. São as crianças brincando nos slums (favelas) de Londres que encarnam
o princípio orientador da interação social e que sustentam o conceito de “cluster city”32 dos Smithson. Uma
declaração visual influente de uma nova abordagem para o urbanismo, que rompe com o pensamento ortodoxo
modernista – do racional, da cidade zoneada. Em seu lugar, fica o questionamento para uma arquitetura de
desdobramento das relações espaciais, observadas naquelas brincadeiras de rua. A imagem de cidade produzia
pelo TEAM X representa um importante trabalho por sua carga crítica e inspiração utópica. Gestos urbanos 33 que,
sobrepostos ao desenho da Grille dos CIAMs, rompe com as funções-tipo previstas na Carta de Atenas.

Alison e Peter Smithson propõem, a partir do projeto Urban Re-identification, mesclando as fotografias, a análises
e projetos urbanos sobre a “Grille corbusiana” , um questionamento d o legado moderno funcionalista dos CIAMs.
Coloca, acima de tudo, a crítica ao caráter abstrato do movimento moderno racional funcionalista, declarando a
necessidade de uma nova abordagem metodológica para a arquitetura e o urbanismo. A produção do TEAM X, e
todo seu repertório de provocações lançadas ao grupo de arquitetos e urbanistas conservadores que difundiram o
ideário moderno, significa uma declaração influente de uma nova abordagem para a cidade e o urbanismo,
rompendo paradigmas anteriores, de racionalização das funções da cidade.

O fim dos CIAMs, de alguma forma, é anunciado por estas fotografias. Elas não provocam o colapso em si, mas
apontam para o aspecto que o CIAM tinha perdido de vista: a ambição do modernismo de assistir à totalidade da
vida cotidiana. Peter Smithson descreve as fotografias de Nigel Henderson: “a ‘vida nas ruas’ mostrada por estas
fotos é sobrevivente de uma cultura anterior – uma cultura substancial. Mas nós ainda não descobrimos uma forma
equivalente para a forma da rua no presente momento. Todos nós sabemos que a rua tem sido invadida pelo
carro.” A imagem de cidade proposta pelo TEAM X, contrariando as outras cidades até então mostradas nos CIAMs,
apresenta o cotidiano, o olhar horizontal para a cidade, como potência para uma apreensão sensível das cidades.

A nova geração dos CIAMs, liderada pelo holandês Jacob Bakema e composta pelos britânicos Alison e Peter
Smithson, pelos franceses Georges Candilis, Alexis Josic e Sadrach Woods, pelo italiano Giancarlo De Carlo, pelo
holandês Aldo Van Eyck e outros, declara que “a ruazinha estreita da favela funciona muito bem exatamente onde
fracassa com frequência o redesenvolvimento espaçoso.” (FRAMPTON, 2008 [1997], p. 330) O impulso crítico em
encontrar uma relação mais precisa entre a forma física e a necessidade sociopsicológica torna-se tema do CIAM
X,34realizado em Dubrovnick, em 1956 – o último encontro dos CIAMs, organizado pelo grupo de arquitetos do Team
X. Este Congresso é marcado por uma clara violência nas discussões. Embates ideológicos e pessoais entre gerações
bem distintas constata a fragmentação e descentralização dos grupos.

Entre o CIAM IX e o CIAM X, o grupo TEAM X publica a Declaração do Habitat e o Manifesto de Doorn. Os membros
do Team X esclarecem seus princípios sobre o que significa a construção do ambiente humano, desde a casa at éá a
cidade. Para exemplificar esse entendimento, os jovens arquitetos dos CIAMs introduzem uma adaptação do
diagrama da organização territorial do The Valley Section criado por Patrick Geddes. Nesse diagrama, em um corte
esquemático, Geddes apresenta diferentes agrupamentos humanos, em diferentes estágios de produção e de
urbanização, relacionado com seu meio ambiente.

Em seu livro Cities in evolution: an introduction to the town planning movement and to the study of
civics (1915),35Geddes escreve que a evolução das cidades deveria ser estudada não simplesmente como escrutínio
de suas origens, “mas como um estudo dentro da evolução social contemporânea, uma pesquisa das tendências em
evolução”. (GEDDES, 1915) Expõe a ideia de cidade como um instrumento de evolução e, a partir daí, começa a
formular a sua filosofia quanto à questão do ordenamento do território, propondo que o desenvolvimento da
cidade é apenas parte de uma rede mais ampla. O planejamento da cidade, portanto, não seria apenas a relação
entre as ruas e espaços públicos, mas também entre a cidade e sua paisagem circundante. Sua visão de cidade está
mais próxima de uma leitura orgânica do elemento urbano, a ser tratado através de um “diagnóstico”, a visão
orgânica rechaçada pelo CIAM. É deste livro que surge seu mantra “survey before planning”. Outra importante
contribuição de Geddes, que ilustra a separação da visão urbanística tradicional daquela do planejamento urbano,
seria o seu entendimento de cidade como um “contexto global”. A cidade deixaria de ser “coisa de arquiteto”,
para integrar uma série de aspectos: sociológicos, geográficos, econômicos, históricos e demográficos.
Institucionalizando, assim, o enfoque interdisciplinar e, de maneira embrionária, a participação ampliada no
plano.

O termo Habitat foi proposto inicialmente por Le Corbusier no CIAM VII, cujo significado, no primeiro momento,
era difuso e podia ser entendido como uma ideia análoga à de “habitação”. Para os jovens arquitetos que criticam
a visão funcionalista dos CIAM, o termo é entendido como um conceito novo que, partindo da comunidade,
pretende entender o “ambiente” no qual ela se desenvolve. Assim, o documento serve aos interesses de vários
grupos que de fato são antagônicos, o que o transformava num “Cavalo de Tróia” (RAMOS, 2013, p. 161) dentro dos
próprios Congressos.
Em 1961, ao escrever ao editor Karl Krämer, Le Corbusier se diz “feliz” com que “cada geração ocupe seu lugar no
devido tempo”. Porém, ao enviar cópia da carta aos outros colegas, rabisca nela uma caricatura de um jovem
brandindo a bandeira da “verdade” e pisoteando as “bobagens” que teriam resultado dos “trinta anos de trabalho”
da velha geração de “chatos”. E comenta: “Montam sobre os [nossos] ombros, mas não dizem obrigado.” (COHEN,
2013) A extinção oficial dos Congressos e a sucessão do Team X são confirmadas no Congresso de
Otterlo,36 realizado em 1959, na Holanda. Em carta dirigida ao CIAM de Dubrovnick, Le Corbusier afirma:

São aqueles que hoje tem quarenta anos de idade, nascidos por volta de 1916 durante guerras e
revoluções, e os que nessa época nem haviam nascido, e estão hoje com vinte e cinco anos, os que
nasceram por volta de 1930, durante os preparativos para uma nova guerra e em meio a uma profunda
crise econômica, social e política, e que, portanto, se situam no âmago do período presente, são esses
os únicos indivíduos capazes de sentir, pessoal e profundamente, os problemas concretos, os objetivos
a ser seguidos e os meios para alcançá-los, e a patética urgência da situação atual. São eles os que
sabem. Seus antecessores foram excluídos, ficaram de fora, não estão mais sujeitos ao impacto
imediato da situação. (LE CORBUSIER, 1956, Apud. FRAMPTON, 2008 [1997], p. 330)

O casal Smithson não é o único a fazer a crítica ao pensamento moderno a partir do uso da cidade pelas crianças.
Três anos após a exposição da sua Grille, o holandês Aldo van Eyck começa a aprofundar a ideia do brincar
enquanto ato criativo, capaz de invocar a atitude espontânea, improvisada e curiosa da criança: uma forma de
sociabilização fundamental para a vida urbana. “O funcionalismo matou a criatividade”, declarou em um artigo
publicado na revista holandesa Forum.37 Em 1963, o Team X ultrapassa o estágio de fértil intercâmbio e
colaboração e, a partir de então, o grupo só continua a existir como movimento nominalmente, uma vez que já
realizara aquilo que se pretendia alcançar por uma crítica criativa dos CIAMs. (FRAMPTON, 2008, p. 336)

Aldo van Eyck realiza ainda estudos etnológicos, principalmente nos Dogons e Pueblos, sempre interessado na
chamada arquitetura vernácula ou popular. Inspirado nestes estudos, desenvolve uma ideia de claridade labiríntica
em seus escritos e projetos. Em 1947, e nas décadas que se seguiram, projeta mais de setecentos playgrounds para
a cidade de Amsterdam. Espaços dotados de imaginação, desenhados conscientemente de forma mínima para
estimular a imaginação de seus usuários. O objetivo é que pudessem apropriar-se do espaço, deixando as
interpretações em aberto. A escolha por terrenos baldios e lotes vagos para a construção dos playgrounds foi uma
opção tática, uma vez que o Serviço de Preparação de Obras do Departamento de Desenvolvimento Urbano, em
colaboração com as associações de moradores locais, estipularam que cada bairro tivesse o seu
próprio playground.

Outro arquiteto importante na história do Team X, cujas inquietações sobre a responsabilidade social do arquiteto
se dá através de processos participativos na arquitetura e no urbanismo, é o italiano Giancarlo de Carlo. Em 1959,
durante o Congresso de Otterlo, ele se junta ao grupo Team X e sua contribuição para o discurso do grupo iria
gradualmente ganhar espaços. As questões elaboradas por de Carlo, autor de um dos primeiros livros sobre Le
Corbusier (1945), favorecem uma leitura do contexto histórico e territorial das cidades, bem como as questões
sociais, como a participação e a reutilização de locais e edifícios históricos. Ele é um dos pioneiros na reflexão
sobre o que hoje se conhece como “arquitetura participativa”, 38 no desenvolvimento de procedimentos de trabalho
que incorporassem a participação dos usuários no processo de elaboração de projetos. Seus planos estabelecem
relações com o padrão cultural popular através de uma linguagem que dialoga com a expressão arquitetônica e o
padrão cultural locais, atravessada por referências da tradição italiana. Contando com a participação de
antropólogos, sociólogos e outros profissionais, o acesso à arquitetura poderia ser popularizado, utilizando
métodos de trabalho interdisciplinares e aprimorando a apreensão da situação local. Ao estabelecer uma relação
da obra com a realidade social e política enfrentada e a inserção da comunidade como agente no processo, de
Carlo firma sua opção profissional de realizar arquitetura entendida como processo político.

Esse período da história da arquitetura e do urbanismo é marcado por uma intensa revisão de valores. A hegemonia
do movimento moderno abala-se justamente com a crítica à ideia de modelo funcionalista. Entretanto, enquanto
grande parte dos arquitetos dessa nova geração aguarda a chegada de uma nova vanguarda de inovação
tecnológica, forte o suficiente para substituir a anterior, o Team X posiciona-se na fronteira da crítica e
autorreflexão, que se desdobra em diferentes posturas. Coletivamente, o grupo tensiona a responsabilidade social
do arquiteto frente aos problemas das grandes cidades, mas as soluções dadas à questão da ordem social eram
procuradas no âmbito dos processos de trabalho de cada membro. Assim, para De Carlo a questão social deve ser
resolvida através da participação da comunidade nos processos de projeto; para os Smithson, é um compromisso
ético com a criação de elementos de identidade entre a arquitetura e a comunidade e; para Aldo van Eyck, é
alcançada através da apropriação dos elementos arquitetônicos por parte dos usuários, em um diálogo entre a obra
construída, e a interação das pessoas.
Se na visão moderna da velha guarda a cidade é vista como um objeto construído segundo regras padronizadas,
justificadas exclusivamente pelos critérios da racionalidade e da otimização, pelos novos critérios ela deve ser
produzida “pela valorização da ótica do usuário, pela consideração dos aspectos culturais envolvidos em
arquitetura, pela leitura da cidade em termo dos diferentes níveis de associação humana, pelo retorno da
valorização da rua como espaço de convivência”. (BARONE, 2002, p. 188) A queda da aspiração universalista faz
surgir a diversidade que o Team X privilegiou e procura preservar na sua constituição enquanto grupo.

Notas
1
Nesta pesquisa, para dar início aos debates acerca das “nuvens” ou “nebulosas do pensamento”, foram escolhidos
Pontos de Inflexão na história do pensamento urbanístico moderno, que se relacionam e debatem com o maior
número de ideias, sejam elas anteriores, posteriores, críticas ou armadoras, o que facilitaria a visualização e a
compreensão do pensamento urbano e sua evolução como um processo “nebuloso” e multifacetado, ao invés de
linear e evolutivo.

2
Num primeiro momento da pesquisa, sua metodologia priorizava o preenchimento cronológico dos dados, onde
cada membro era responsável por um ano específico, buscando obter o máximo de documentos e informações
desse período. Visando a potencializar e tornar mais abrangente as possíveis articulações entre as produções,
posteriormente, o trabalho passou a ser organizado por décadas, a partir das conexões existentes naquele recorte
temporal. Em seguida, passou-se a trabalhar a partir de recortes temáticos, que favoreciam o entendimento e a
demonstração da circulação de ideias. Estes temas se transformaram em “marcadores” temáticos (que
perpassavam o período estudado) no site da pesquisa. Após uma série de debates em diferentes seminários,
começou-se a avaliar o trabalho feito a partir dos marcadores e percebeu-se que, ao trabalhar com recortes
temáticos, limitava-se a circulação de ideias a um só tema. Percebeu-se, assim, o enorme risco de não se estar
compreendendo, historicamente, (mas somente a partir do tempo presente) os próprios termos usados como
marcadores, que mudam de compreensão ao longo dos diferentes períodos históricos.

3
Para aprofundar o conhecimento a respeito de um determinado dado, o usuário deste site pode acessar os
verbetes, que são elencados a partir dos debates históricos e representam diferentes acontecimentos do campo do
urbanismo, sejam publicações, eventos, projetos ou fatos relevantes. Cada verbete é dividido em diferentes
páginas secundárias (abas): apresentação, documentos, textos críticos, links, debates, biografias e bibliografias.
Por ocasião, um determinado acontecimento, dentro do seu debate histórico pode não configurar em si uma nuvem
de pensamentos ou um verbete, entretanto, podem provocar relações importantes para a complexificação da
pesquisa e evidenciar outras possibilidades de entendimento da história do urbanismo. Desta forma, os
acontecimentos marginais nesta pesquisa tanto podem configurar nuvens de pensamento, pontos de inflexão,
verbetes ou mesmo conteúdos inseridos dentro destes.

4
A partir da colaboração de duas equipes de pesquisa, o Laboratório de Estudos Urbanos (PROURB/FAU-UFRJ),
coordenado por Margareth da Silva Pereira, e o Laboratório Urbano (PPG AU/FAUFBA), coordenado por Paola
Berenstein Jacques, o projeto de pesquisa Cronologia do Pensamento Urbanístico atua, desde 2002, mapeando e
entendendo as redes complexas que constroem o pensamento urbanístico, reunindo dados referentes a projetos,
publicações, eventos e fatos relevantes no Brasil e no mundo. Recentemente, duas outras equipes tornaram-se
parceiras da pesquisa: o Cosmópolis (NPGAU/UFMG), coordenado por Rita de Cássia Lucena Velloso, e o
Laboratório de Estudos da Urbe (PPG-FAU-UnB), coordenado por Ricardo Trevisan.

5
“Essa amplitude e diversidade dos estudos históricos na área da arquitetura e do urbanismo nas últimas décadas é
de tal ordem que poderíamos imaginar várias nuvens de pesquisadores, professores, instituições com orientações
teóricas específicas, formando configurações gasosas e moventes. Pareceria que estamos diante de uma série de
nebulosas, entendendo-se o termo nebulosas menos em seu sentido corrente de algo pouco claro (embora não
deixe de sê-lo) do que no sentido arcaico de nebulae – nuvens ou conjunto de nuvens que se articulam ou
entrechocam.” (PEREIRA, 2014, p. 202, destaques originais)

6
Em 1859, Cerdà projetou a expansão de Barcelona como uma cidade quadriculada, com cerca de vinte e dois
quarteirões de profundidade, orlada pelo mar e cortada por duas avenidas diagonais. (FRAMPTON, 1997, p. 19)

7
Este ideal positivista foi experimentado em diferentes projetos de cidade-modelo desde o processo de
industrialização das cidades, como, por exemplo, a Cidade-Jardim Linear espanhola, de Arturo Soria y Mata (início
da década de 1880); a Cidade-Jardim Concêntrica inglesa, de Ebenezer Howard (1889); e a Cidade Industrial de
Tony Garnier (1899-1918).
8
Ver verbete Projeto da Ville Radieuse. Autor: Le Corbusier e suas relações, disponíveis em:
(http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=1580).

9
1928, Suíça – CIAM I (La Sarraz), fundação dos CIAMs; 1929, Alemanha – CIAM II (Frankfurt-am-Main), Die Wohnung
fur das Existenzminimum (Habitação para o mínimo nível de existência); 1930, Bélgica – CIAM III
(Bruxelas) Rationelle Bebauungsweisen (Uso racional do lote); 1933, Grécia – CIAM IV (Atenas) The Functional
City (A Cidade Funcional); 1937, França – CIAM V (Paris), Logis et loisirs (Habitação e lazer; 1947, Reino Unido – VI
CIAM (Bridewater), reafirmação dos objetivos dos CIAMs; 1949, Itália – CIAM VII (Bérgamo), Concerning
Architectural Culture (Sobre a cultura arquitetônica); 1951, Reino Unido – VIII CIAM (Hoddesdon), The heart of the
city (O coração da cidade); 1953, França – IX CIAM (Aix-en-Provence), Habitat; 1956, Croácia – X CIAM
(Dubrovnik), The Charter of Habitat (Carta do Habitat); 1959, Holanda – Congresso de Otterlo, fim dos CIAMs.

10
Ver verbete CIAM I (La Sarraz) – Fundação dos CIAM e suas relações, disponíveis em:
(http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=1464).

11
Ver documento Declaração de La Sarraz – Congrès Internationaux d’Architecture Moderne – CIAM – 1928,
disponível em: (http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/mais_documento.php?
idVerbete=1464&idDocumento=118).

12
O CIAM IV seria realizado em Moscou, cenário de um grande laboratório onde o problema da construção das
cidades socialistas já aparecia desde 1930, com Sotsgorod, de Nicolai Miliutini. As mudanças políticas na URSS, que
culminaram com a ascensão de Stalin, e as reações à nova postura face ao movimento moderno, explicaram a
mudança de planos. Em 1931, através do concurso para o Palácio dos Sovietes, Stalin veio propiciar, na URSS, a
volta da arquitetura como imagem do poder e da autoridade, rejeitando os projetos modernos (inclusive a
proposta de Le Corbusier). O resultado final do concurso e as reações do CIRPAC (Comité International pour la
Résolution des Problèmes de l’Architecture Contemporaine) mostraram uma fissura muito além do que se
imaginava, registrandos-se ali a desistência na escolha de Moscou como sede do CIAM IV, cuja ausência dos
alemães e soviéticos deixou o Congresso inteiramente sob o comando de Le Corbusier e José Luis Sert.

13
O CIRPAC, reunido de 29 a 31 de março de 1932 em Barcelona, havia feito um programa de análise de 33 cidades
em 18 países (Amsterdam, Atenas, Bruxelas, Baltimore, Bandoeng, Budapeste, Berlim, Barcelona, Charleroi,
Colônia, Como, Da Lat, Detroit, Dessau, Francfurt, Genebra, Gênova, La Haya, Los Angeles, Litoria, Londres,
Madrid, Oslo, Paris, Praga, Roma, Rotterdam, Estocolmo, Utrecht, Verona, Varsóvia, Zagreb, Zurich).

14
Não existe um documento original, mas sim versões da Carta de Atenas. Em 1933, foi publicado pelo GATEPAC
(Grupo de Artistas y Técnicos Españoles Para la Arquitectura Contemporánea) as Conclusões do CIAM IV, traduzidas
na revista AC-GATEPAC n. 12 (Barcelona, 1933). A famosa Carta em francês, cuja autoria se deve a Le Corbusier,
que não é sequer assinada pelo arquiteto, foi uma publicação atribuída ao grupo francês dos CIAM, publicada nove
anos após o CIAM IV. Como visto, uma dessas versões – Can our cities survive? (1942) – foi publicada por J. L. SERT,
membro fundador do GATCPAC e vice-presidente da primeira comissão permanente dos CIAM, que foi exilado nos
Estados Unidos. São encontradas, ainda, diversas traduções destes documento. Dentre elas, a publicada em 1955
por Admar Guimarães (A Carta de Atenas: urbanismo dos C.I.A.M.), membro do EPUCS e professor do curso de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia, traduzida da versão de Sert.

15
A ideia de “diagnóstico” foi proposta por Patrick Geddes, traduzido erroneamente da expressão “survey”,
mostrando pouco da sua complexa visão do termo, com o sentido de tratamento e cura das “doenças da cidade”.
Geddes foi “um biólogo e botânico anárquico do final do século XIX que revolucionou, no início do século XX, a
maneira de apreender, olhar, pensar a cidade ao inventar metodologias transdisciplinares, dentre as quais,
algumas hoje se tornaram rotinas, por vezes tidas como dadas, para todo plano urbano: o diagnóstico (survey)
antes do plano, por exemplo.” (BIASE, 2012, p. 195, destaque original) “Geddes introduziu um tipo de
planejamento fundado sobre o tempo, a paciência, o cuidado amoroso do detalhe, a interrelação atenta entre
passado e futuro, a insistência sobre a escala humana e sobre as aspirações humanas […] e finalmente a
disponibilidade de deixar uma parte essencial do processo para aqueles que estão intimamente implicados: os
cidadãos.” (MUMFORD, 1950, apud FERRARO, 1998, p. 269, apud BIASE, 2012, p. 195)

16
Ver verbete Le Corbusier publica Précisions e suas relações, disponíveis em:
(http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=1595).

17
Ver verbete Projeto para o Ministério da Educação e Saúde Pública – Lúcio Costa e equipe e suas relações,
disponíveis em: (http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=594).
18
Em 1926, Le Corbusier recebeu uma carta de Blaise Cendrars, poeta e intelectual suíço, falando sobre a intensão
do Governo Brasileiro na construção da nova capital federal do país: Planaltina (atualmente Brasília). A partir de
então, o arquiteto franco-suíço passou a trocar informações com intelectuais modernistas brasileiros,
principalmente, Paulo Prado e Blaise Cendrars. Ver as referidas cartas em:
(http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=1595).

19
Ver verbete Criação do Escritório do Plano de Urbanismo de Salvador e suas relações, disponíveis em:
(http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=1581).

20
Ver verbete I Semana de Urbanismo, em Salvador e suas relações, disponíveis em:
(http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=582).

21
Ver verbete Admar Guimarães publica “A Carta de Atenas (urbanismo dos C.I.A.M.)” e suas relações, disponíveis
em: (http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=1554).

22
Com a morte súbita de Mario Leal Ferreira em 1947, o arquiteto Diógenes Rebouças assume a liderança do
EPUCS. No período em que esteve sob sua direção, entre 1947 e 1950, o Escritório perde um pouco o cunho
urbanístico e se constituiu, de certa forma, em um escritório de arquitetura responsável pela elaboração direta
dos principais projetos demandados pela Prefeitura de Salvador e pelo Governo do Estado da Bahia.

23
Ver verbete 1947, Reino Unido – VI CIAM (Bridewater) – Reafirmação dos objetivos do CIAM e suas relações,
disponíveis em: (http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=1548).

24
O tema do CIAM VIII, Coração da Cidade, foi definido após o CIAM VII (1949), realizado em Bérgamo, cidade
histórica italiana devastada pela Guerra. Nesse caso, entretanto, os responsáveis pela escolha do tema do
Congresso comparam o centro da cidade ao coração dos seres vivos. No CIAM VIII, José Sert reconhecia que: “[…]
muitas cidades do passado possuem formas e padrões definidos e eram construídas em volta de um núcleo que
geralmente era um fator determinante para essas formas. Eram as cidades que faziam os núcleos, mas em retorno,
eles faziam da cidade uma cidade e não um agregado de indivíduos”. (SERT, 1952) Ver verbete 1955 - Publicação
El Corazon de La Ciudad - VIII CIAM e suas relações, disponíveis em:
(http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=1550).

25
Os mais ativos membros do grupo do TEAM X foram Aldo Van Eyck, Alison e Peter Smithson, Ernesto Nathan
Rogers, George Candilis, Giancarlo De Carlo, Jaap Bakema e Shadrach Woods.

26
Grupo formado por reminiscências da Internacional Letrista, na França na década de 1960: Guy Debord,
Constant, Raoul Vaneigem, Asger Jorn, Gilles Ivain/Ivan Chtcheglov, Attila Kotányi, Alexander Trocchi, Ralph
Rumney, Michèle Berstein foram alguns que fizeram parte do grupo, que tinha maioria formada por escritores com
inspirações dadaístas e surrealistas. (CAÚLA, 2002, p. 42) Ver verbete Publicado o primeiro número da revista
“Internationale Situationniste” e suas relações, disponíveis em:
(http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=83).

27
Ver verbete Exposição do Grupo Cobra em Liège e suas relações, disponíveis em:
(http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=1370).

28
Ver verbete Formado Independent Group, ligado ao ICA, Londres e suas relações, disponíveis em:
(http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=1377).

29
Principal relação entre as nebulosas do Ponto de Inflexão CIAM IX (Aix-en-Provence) Habitat – Formação do TEAM
X (1953) e do Ponto de Inflexão Plano Estratégico de Barcelona (1992).

30
Ver verbete IX CIAM (Aix-en-Provence) – Habitat e suas relações, disponíveis em:
(http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=205).

31
Ver verbete Inauguração de Chandigarh e suas relações, disponíveis em:
(http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=1527).

32
Ver verbete Apresentado conceito Cluster City. Autores: Alison e Peter Smithson e suas relações, disponíveis
em: (http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=1373).
33
“Ações que interrompem a cotidianidade – inscrevendo a co-presença em contextos que a renegam – implicam
em sincronização de gestos e na representação de papeis que não são esperados e nem programados.” (RIBEIRO,
2013, p. 63) “No cotidiano e no lugar, gestos-fio costuram saberes à co-presença, estimulando a superação do
prestígio ainda mantido pelas leituras mecanicistas e funcionalistas da vida urbana.” (RIBEIRO, 2005, p. 416)

34
Ver verbete X CIAM (Dubrovnik) – Carta do Habitat e suas relações, disponíveis em:
(http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=2).

35
Ver vebete Patrick Geddes publica “Cities in Evolution. An introduction to the Town-Planning movement” e suas
relações, disponíveis em: (http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=705).

36
Ver verbete Congresso de Otterlo – Fim dos CIAM e suas relações, disponíveis em:
(http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=1560).

37
A revista Forum foi fundada em 1946 e, entre 1959 e 1963, Bakema e Van Eyck nela colaboram. A revista
acompanhava as discussões dos CIAM a partir das atividades das delegações holandesas dos CIAMs. Ver verbete Van
Eyck e H. Hertzberger assumem a diretoria da Revista Forum e suas relações, disponíveis em:
(http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao.php?idVerbete=1589).

38
Principal relação entre as nebulosas do Ponto de Inflexão CIAM IX (Aix-en-Provence) Habitat – Formação do TEAM
X (1953) e do Ponto de Inflexão Reurbanizaçao da Favela de Brás de Pina (1969).

Referências
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Revisão do texto: Osnildo Adão Wan-Dall Junior

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