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Universidade de Brasília

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo


Introdução ao Trabalho Final de Graduação

Roberta Nascentes Anselmo


12/0134616

Análise Comparativa da Sintaxe Espacial


nas residências de Frank Lloyd Wright e Vilanova Artigas
Plano de Trabalho

Orientadora: Prof. Dra. Ana Paula Campos Gurgel

Banca examinadora:
Prof. Me. Orlando Vinicius Rangel Nunes
Prof. Dra. Vania Raquel Teles Loureiro

Ensaio Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo


FAU - UNB

Brasília
JUNHO 2018
RESUMO

Muito se compara a respeito da influência de Frank Lloyd Wright nas obras de João Batista
Vilanovas Artiga, especialmente na primeira fase de seu trabalho, mais precisamente no período
compreendido entre 1937 a 1946, o que é considerado por diversos autores como período
wrightiano. Porém, tal influência não é reconhecida por Artigas. Talvez a negue por pensar que
assumir tais referências tiraria parte do brilho e originalidade de sua obra. Ou talvez por temor
de desvirtuar sua imagem política tão aversa ao imperialismo americano. Partindo deste dilema
se tal influência existiu ou não, o presente Ensaio compara duas obras de cada arquiteto, já
relacionadas entre si por outros autores, porém a partir de uma nova perspectiva: a da Teoria da
Lógica Social do Espaço, desenvolvida por Hillier e Hanson, nos anos 1970. Através desta
teoria, procura-se relacionar os aparatos físicos, sociais e espaciais da arquitetura, quesitos
indissociáveis e essenciais para seu amplo entendimento. Neste estudo foram utilizados dois
métodos preconizados pela Sintaxe Espacial (SE): a análise convexa, especificamente os
grafos justificados, utilizando as variáveis de profundidade, controle e integração RRA e a
análise gráfica visual (ou VGA), utilizando a variável de integração. Após a análise da
sintática espacial realizada, podemos afirmar que além de esteticamente semelhantes, as casas
comparadas possuem grandes semelhanças também no sentido da organização espacial.

PALAVRAS CHAVE: Frank Lloyd Wright, Vilanova Artigas, Sintaxe Espacial, análise
convexa, análise gráfica visual.

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INTRODUÇÃO

No início do século XX, duas grandes correntes da Arquitetura Moderna se formaram:


a Arquitetura Orgânica, nos Estados Unidos e a Arquitetura Racionalista, na Europa. As
diferenças entre as duas vertentes deveram-se principalmente à situação social e econômica que
cada continente atravessava na ocasião, decorrentes de diferentes contextos. Enquanto os
arquitetos modernos europeus defenderam a arquitetura racionalista, especialmente após a I
Guerra Mundial, que ocasionou em diversos problemas sociais e necessidades de reconstrução,
nos Estados Unidos, que não passaram pelas dificuldades e destruições ocorridas na guerra e
que estavam em franco desenvolvimento econômico, a Arquitetura Moderna Orgânica se
estabeleceu (TAGLIARI, 2008, p. 5-6).
Segundo o arquiteto francês Guadet (1909, apud VILELA, 2011, p. 89-90), a habitação
moderna nasceu no século XVIII, ocasião em que ocorreu uma revolução sob o ponto de vista
da distribuição interna dos edifícios. Ele define os principais pontos da casa moderna e aponta
a importância da independência das três áreas básicas de uma moradia – íntima, social e serviço.
Esta divisão da residência em três áreas básicas é o que chamamos de tripartição
burguesa e iniciou-se nas casas oitocentistas europeias e está presente nas habitações modernas
brasileiras até os dias atuais, desde as mais simples até as de padrão mais elevado
(TRAMONTANO, 1993, p. 15).
Um dos princípios básicos da habitação moderna resumidos por Le Corbusier em sua
publicação de 1926, Les cinq points de l’architecture nouvelle (em português “Os cinco pontos
da nova arquitetura”) 1 é a planta livre, resultado direto da independência entre estrutura e
vedação, possibilitando maior diversidade dos espaços internos, bem como mais flexibilidade
na sua articulação (MACIEL, 2002). Segue abaixo uma citação de Zevi (1996, p.121) acerca
deste tema:
Ele (o espaço moderno) se fundamenta na ‘planta livre’. A exigência social que já não
coloca à arquitetura temas áulicos e monumentais, mas o problema da casa para a
família média, da habitação operária e camponesa até agora fracionada em pequenos
e sufocantes cubos justapostos, e a nova técnica construtiva do aço e do concreto, que
permite concentrar os elementos de resistência estática num finíssimo esqueleto
estrutural, materializam as condições de execução para a teoria da ‘planta livre’.[...]
A arquitetura moderna reproduz o sonho gótico no espaço, explorando acertadamente
a nova técnica para realizar com extremo apego e audácia as suas intuições artísticas,
estabelece com os amplos vitrais, que se tornaram agora paredes de vidro, o contato
absoluto entre os espaços interior e exterior.

1Os cinco pontos da nova arquitetura definidos por Le Corbusier são: 1) pilotis; 2) terraço jardim; 3)
planta livre; 4) fachada livre; e 5) janela em fita (MACIEL, 2002).

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Apesar da liberdade projetual que a planta livre permite, a ordenação do plano a partir
das atividades afins em setores funcionais, que é definido por Amorim (2001) como o
“paradigma dos setores”, limita as possibilidades de arranjos que o arquiteto pode trabalhar a
planta. As limitações de natureza social também definem regras que o arquiteto deve atender
para satisfazer requerimentos de ordem sociocultural.
Dois arquitetos em particular tiveram grande influência no modernismo mundial, e mais
especificamente na arquitetura residencial moderna. São eles: o americano Frank Lloyd Wright
(1867-1959), que iniciou seus trabalhos desde o princípio do movimento, e o brasileiro João
Batista Vilanova Artigas (1915-1985), que iniciou seus trabalhos mais tardiamente, quando o
movimento já estava consolidado, mas nem por isso sua obra tem menos importância ou
relevância.
Segundo Cruz (2010), diversos autores convergem na identificação de três períodos
distintos na obra de Artigas, sempre vinculados às influências recebidas e identificam a primeira
fase, de 1938 a 1946, como fase “wrightiana” (FICHER e ACABAYA, 1982; ACABAYA,
1985; BRUAND, 1998, IRIGOYEN, 2002; THOMAZ, 1996; KAMITA, 2000). A segunda
fase, de 1946 a 1955, é denominada a fase “Corbusiana” (SEGAWA, 2000; SANVITTO 1992b;
(BRUAND, 1998, ZEIN, 1984, KAMITA, 2000) e a terceira fase, compreendendo o período
posterior a 1955, é denominada a fase “Brutalista (KATINSKY, 2003; KOURY, 2003;
BRUAND, 1998).
O presente trabalho terá o foco na primeira fase do arquiteto brasileiro, que é quando
sua obra é relacionada a possíveis influências do arquiteto Frank Lloyd Wright. Porém, esta
relação geralmente é feita apenas pelo ponto de vista da envoltória de ambas as obras, estilos
arquitetônicos e distribuição de planta e pretende-se, com este presente ensaio responder ao
seguinte questionamento: será que apesar de suas obras serem constantemente comparadas
como esteticamente semelhantes, podemos encontrar também semelhanças marcantes na
configuração do espaço construído?
Para responder a esta pergunta, faremos o uso da sintaxe espacial e de suas ferramentas
de análise. Acredita-se que uma análise sob este ponto de vista é de certa forma inédita e com
isso será possível comparar os dois arquitetos sobre uma ótica diferente da usualmente
apresentada, pois apesar de ambos possuírem produções semelhantes no ponto de vista estético,
possuem origens e repertórios distintos, além de terem produzido em períodos de tempos
diferentes. A respeito da sintaxe espacial para estudar arquitetura, podemos dizer:

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Arquitetura não se trata apenas de faces, ornamentos e elementos escultóricos e
palpáveis. Estes, apesar de relevantes, não traduzem a essência do que significa
arquitetura: a espacialidade. Dessa forma, analisar e discutir as diferenças e
semelhanças entre os projetos é abordar não apenas o sentido estrito, a envoltória, mas
também e principalmente o espaço como seu sentido mais amplo. (MACHADO,
2017, p. 9)

A sintaxe espacial indica um caminho para compreender as relações morfológicas entre


organização espacial e sociedade a partir do entendimento da função social como um aspecto
intrínseco do espaço construído. Um dos princípios da teoria de Hiller e Hanson é de que: “o
espaço não é um elemento passivo” e portanto podemos obter informações sobre a estrutura
social a partir da análise da organização espacial de edifícios e cidades. Na escala residencial,
a análise da organização espacial da planta pode descrever a lógica das relações das pessoas
que habitam e frequentam a residência (ALDRIGUE, 2012, p. 78-79). A seguir temos uma
citação dos criadores da sintaxe espacial sobre este assunto:

Apesar de muitos preferirem discutir a arquitetura em termos de estilos visuais, seus


mais profundos efeitos práticos não estão em nível de aparências, mas a nível de
espaço. Ao dar conteúdo e forma ao nosso mundo material, a arquitetura estrutura o
sistema espacial em que vivemos e nos movemos 2 (HILLIER; HANSON, 1984, p.ix,
apud ALDRIGUE, 2012, p. 76).

A escolha deste tema foi feita em acordo com as pesquisas de Iniciação Científica
desenvolvidas atualmente pela professora orientadora deste trabalho, nas quais vem sendo
modeladas e analisadas diversos exemplares da arquitetura residencial brasileira do século XX.
Assim posto, o presente trabalho acrescenta dados as pesquisas neste vasto campo ainda pouco
explorado da teoria e história no Brasil e no mundo.
Além disso, este é um tema de meu interesse particular e visa me auxiliar a aprofundar
no estudo do mestre Frank Lloyd Wright, que é também assunto do meu trabalho de conclusão
do curso de Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de Brasília.
Portanto, o objetivo desse estudo é analisar, de forma comparativa, a morfologia e a
organização social em duas residências de cada um dos arquitetos, Frank Lloyd Wright e João
Batista Vilanova Artigas (que serão apresentadas a seguir), a partir do aparato teórico
metodológico da Sintaxe Espacial.

2 Do original: “However much we may prefer to discuss architecture in terms of visual styles, its most of
a reaching practical effects are not all level to appearances at all, but at level of space. By giving shape and form
to our material world, architecture structures the system of space in which we live and move.” (HILLIER;
HANSON, 1984, p. ix, tradução ALDRIGUE, 2012 ).

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Para tanto, pretende-se avaliar o contexto histórico que os arquitetos a serem estudados
estão inseridos, traçar uma breve bibliografia de Frank Lloyd Wright e Vilanova Artigas e
compreender os conceitos de morar e de casa moderna, assim como as relações sociais de quem
as habita e frequenta, compreender os conceitos de Sintaxe Espacial e a aplicação de suas
ferramentas de análise.
A sintaxe espacial baseia-se no estudo de como as pessoas se movem dentro dos
espaços, interagem entre si e percebem as mudanças em seus campos de visão enquanto
transitam e para tanto, utiliza-se de três tipos de análise diferentes: axial, convexo e visual. Para
este trabalho iremos nos limitar nos dois últimos por serem melhor aplicados em edificações,
visto que o análise axial é mais recorrente em estudos acerca dos espaços urbanos (BRAGA,
2013, p. 83).
Para a análise convexa iremos utilizar os grafos justificados, gerados pelo software Jass
e para a análise visual, iremos utilizar os grafos de visibilidade (VGA) gerados pelo software
Depthmap. Estes procedimentos serão melhor discutidos no capítulo 2.
Após a obtenção dos resultados gerados nos softwares acima mencionados, será feita a
análise destes dados para que então possa se chegar aos resultados esperados, que seriam a
afirmação ou negação de que as casas são similares também em sua forma de organização do
espaço construído.
Para efeitos de estudo, limitou-se a análise de quatro residências. Para tanto, selecionou-
se duas casas de cada arquiteto que tenham fachadas e plantas similares para ser possível a
análise comparativa entre elas também no tocante aos seus aspectos estéticos e de composição
plástica. São elas: Robie House, llinois, 1908, Frank Lloyd Wright e Casa Rio Branco Paranhos,
São Paulo, 1943, Vilanova Artigas; Casa Delbert Meier, Monona, 1917, Frank Lloyd Wright e
Casa Luiz Gozaga Leme Monteiro, São Paulo, 1941, Vilanova Artigas.

Fig 1: Robie House, 1908, Frank Lloyd Wright Fig 2: Casa Rio Branco Paranhos, São Paulo, 1943, Artigas

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Figura 3: Casa Delbert Meier, Monona, 1917, Frank Figura 4: Casa Luiz Gozaga Leme Monteiro,
Lloyd Wright São Paulo, 1941, Vilanova Artigas

A escolha dos pares a serem analisados foi feita a partir de casas que foram previamente
comparadas como semelhantes por Adriana Irigoyen em seu livro intitulado Wright e Artigas:
Duas viagens, publicado em 2002, no qual ela faz um estudo a respeito da denominada
“wrightiana” de Artigas, que é uma fase pouco explorada na literatura disponível do arquiteto.
As duas primeiras foram escolhidas por serem obras icônicas de ambos arquitetos e de grande
importância em suas carreiras e as outras duas foram escolhidas justamente pelo motivo oposto,
ou seja, não serem obras muito conhecidas de ambos. Outro fator determinante para a escolha
foi a disponibilidade das plantas baixas, pois sem as quais não seria possível a modelagem nos
softwares que serão utilizados neste trabalho.
O presente trabalho estrutura-se inicialmente pela introdução ao assunto, onde se
apresenta o tema, sua problemática, os objetivos a serem alcançados e a metodologia a ser
aplicada. Após a introdução, o trabalho se organiza em quatro capítulos. No primeiro capítulo
será apresentado uma bibliografia dos arquitetos e a relação existente entre eles, no segundo
será apresentado os fundamentos da sintaxe espacial, no terceiro os estudos de caso, onde serão
analisadas as quatro obras já previamente selecionadas. E por fim, no quarto capítulo, serão
apresentadas as conclusões que se encontrou a partir das análises feitas.

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CAPÍTULO 1
Os arquitetos e a relação entre eles

1.1. FRANK LLOYD WRIGHT

Frank Lloyd Wright nasceu em uma pequena cidade agrícola localizada no estado de
Wisconsin, EUA. Responsável por mais de mil projetos, com pelo menos quinhentos destes
construídos, projetou desde residências, edifícios, escritórios, escolas, hotéis, templos e museus
(Figura 1). Destacam-se também seus trabalhos com mobiliário e vitrais. Ressalta-se que, além
de arquiteto (não possuía o diploma, apenas o título), Wright foi escritor, palestrante, estudou
engenharia, curso este não concluído. Em 1991, o American Institute of Architects conferiu-lhe
uma homenagem póstuma por meio do título de “Maior arquiteto americano de todos os
tempos”.

Fig 5: obras diversas de Frank Lloyd Wright: 1. Casa da Cascata (1939), 2. Guggenheim Museum (1937),
3. George Sturges House (1939), 4. Imperial Hotel (1923), 5. Taliesin West (1937). Fonte: www.pinterest.com

Seu objetivo era criar princípios e não regras a serem imitadas. Wright não aprovava
cópias de suas obras vindas de seus aprendizes, mas sim um aprendizado que gerasse uma
arquitetura autêntica e com uma linguagem orgânica. O arquiteto pormenoriza as características
e os seis princípios que norteiam sua arquitetura orgânica de maneira muito intensa em suas
publicações, particularmente no livro The Natural House, publicado em 1954. São estes:
simplicidade, continuidade, plasticidade, integridade, natureza dos materiais e gramática
(TAGLIARI; FLORIO, 2009).
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1.2. JOÃO BATISTA VILANOVAS ARTIGAS

João Batista Vilanova Artigas nasceu em Curitiba. Formou-se engenheiro-arquiteto pela


Escola Politécnica da USP, em 1937. Foi fundador da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade de São Paulo - FAU USP, em 1948, na qual liderou, mais tarde em 1962, um
movimento para a reforma de ensino que influenciou outras faculdades de arquitetura no Brasil.
Foi bolsista da John Simon Guggenheim Foundation em 1947, ocasião em que viajou
durante um ano e passou por várias cidades dos Estados Unidos para conhecer as produções
dos ícones da arquitetura local, incluindo Frank Lloyd Wright. Militante dos movimentos
populares no Brasil, foi perseguido pela ditadura militar, tendo sido expulso da Universidade
em 1969, juntamente com outros professores brasileiros. Sua obra foi duas vezes premiada
internacionalmente pela União Internacional de Arquitetos – UIA (Prêmio Jean Tschumi, em
1972; e Prêmio Auguste Perret, em 1985, este póstumo) (PORTELA, 2015).
A maior parte do seu legado está em São Paulo. Dentre os 700 projetos que produziu
durante sua carreira, destacam-se, além de suas diversas residências que se tornaram ícones de
residência moderna brasileira: Edifício da FAU USP; Conjunto Habitacional Zezinho
Magalhães Prado, em Guarulhos; Passarelas Urbanas; Estádio de Futebol do Morumbi; clubes
e sindicatos (Figura 2). Sua obra já mereceu exposições, publicações, pesquisas e teses no Brasil
no Brasil e no exterior (PORTELA, 2015).

Fig 6: obras diversas de Vilanovas Artigas: 1. FAU – USP (1969), 2. Conjunto Habitacional Cecap Zezinho Magalhães
Prado (1968), 3. Segunda Residência do arquiteto (1949), 4. Estádio Morumbi (1952), 5. Passarela sobre a Avenida
Washington Luís (1974). Fonte: www.pinterest.com

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1.3. WRIGHT E ARTIGAS

A partir da Primeira Guerra Mundial (1914 a 1918), com a Europa devastada pelos anos
de combate, a presença norte-americana ganha visibilidade no Brasil. A cidade de São Paulo,
em função de seu perfil industrial, não poderia desejar um modelo mais apropriado que os
Estados Unidos para seguir. A americanização impregna a técnica e a cultura, influencia objetos
domésticos e urbanizações. O american way of life torna-se objeto de desejo da classe média
paulistana, difundidos através do cinema e das propagandas. Paralelamente a este processo de
americanização, existe uma tendência que faz do estilo neocolonial e da tipologia da casa
isolada um referente paulistano. Neste contexto, a arquitetura de Frank Lloyd Wright representa
uma opção cujo impacto cultural é mínimo se comparado com o racionalismo europeu
(IRIGOYEN, 2002, p. 117-118).
Em uma entrevista concedida a professora Sylvia Ficher, em 1982, Vilanova Artigas
discursa a respeito de suas razões a utilizar o mestre norte americano como referência para
vários de seus projetos:

A verdade é que para fazer executar as teses corbusianas de construção: concreto


armado, pilotis, terraço-jardim, para o desenvolvimento tecnológico nosso, isso tinha
graus de ridículo. Graus de ridículo! Porque eu não podia oferecer para os meus jovens
clientes e intelectuais daquela época fazer um jardim no seu teto, sem fazê-los morrer
de rir e tinham muita razão. A verdade é, como propor a laje, quando a laje custava
cinquenta vezes mais caro do que o chão de vigas de peroba? E essa coisa só poderia
servir como forma construtiva para meia dúzia de latifundiários que vinham da Europa
e queriam fazer exibição do que tinham. [...] Agora, então, o que é que eu fiz, não foi
evidentemente esconder os meus telhados para fazer cara de moderno como
Warchavchik e companhia fizeram, mas fiz os telhados com as larguras e os beirais.
E procurei uma forma original e moderna de volume, onde era mais fácil buscar no
Wright que no Le Corbusier, as expressões formais mais agradáveis, bonitas e belas,
de certa maneira. (apud VILELA, 2011, p.84).

Conforme já citado anteriormente, diversos autores convergem na identificação de três


períodos distintos na obra de Artigas, vinculados às influências recebidas e identificam a
primeira fase, de 1938 (ano seguinte a sua formatura) a 1946 (ano de sua viagem aos Estados
Unidos), como fase “wrightiana” A segunda fase, de 1946 a 1955, é denominada a fase
“Corbusiana” e a terceira fase, compreendendo o período posterior a 1955, é denominada a fase
“Brutalista (CRUZ, 2010, p. 18).
Quando sai da universidade, Artigas é seduzido pela obra de Wright e, em linhas gerais,
pela arquitetura americana que aparecia em livros e revistas da época. Anos mais tarde, já
transformado em ícone da modernidade paulistana, negaria com veemência toda relação com o
“imperialismo” (IRIGOYEN, 2002, p. 121).
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Artigas evitava toda referência a sua fase denominada wrightiana e provavelmente por
essa razão, esta é a fase menos explorada e considerada mais sem importância em sua carreira
pelos autores. Talvez ele assim fazia temendo desvirtuar sua imagem política de esquerda, ou
talvez pensava que isso tiraria parte do brilho e originalidade de sua obra. Artigas profere em
discurso, em 1988: “Nunca fiz coisas “wrightianas” no Brasil e, se tivesse feito, também não
teria a menor importância” (IRIGOYEN, 2002, p. 126 e p. 147).
Artigas tem um discurso bastante contraditório em relação a este assunto. Apesar de seu
aparente desprezo por quem possivelmente havia inspirado alguns de seus trabalhos, reconhece:

Com Wright entrei no mundo moderno: ver como é que precisava ser leal e honesto
em relação à humanidade no seu conjunto. [...] Em todo caso, Wright me deu uma
visão do mundo: o respeito à natureza do material, procurar a cor tal como ela é na
natureza. [...] Mas, no fundo, me forneceu uma moral para a criatividade arquitetônica
que me fez muito bem (FERRAZ, 1997, p. 24, apud IRIGOYEN, 2002, p. 127).

Artigas escreve em seu plano de estudos apresentado em 1946 à Fundação Guggenheim:


“Os Estados Unidos representam no momento uma grande fonte para estudo e investigação em
arquitetura [...] porque tem atualmente quase que o monopólio dos grandes arquitetos do
mundo. F. L. Wright, Walter Gropius, R. Neutra, somente para começar uma grande lista.”
(IRIGOYEN, 2002, p. 148).
Sobre este assunto, Lina Bo Bardi escreve em sua revista HABITAT, em 1950 que
apesar de Artigas ter tido sua origem em Wright, após um estudo mais consciente, a arquitetura
orgânica de Wright que orienta a não contrastar com a natureza parece à atual consciência de
Artigas quase como um medievalismo. Conclui que sua moral arquitetônica o levou a formas
extremamente secas, ósseas, completamente independentes da paisagem que as rodeia e que
desta forma seriam sinceramente humanas e que dos postulados enunciados por Wright, Artigas
reteve apenas um, mas dando outras leis: a continuidade espacial (IRIGOYEN, 2002, p. 129 –
130).
Cotrim (2017) observa que na história da arquitetura moderna existe uma certa obsessão
em descobrir dívidas, filiações e heranças, enfim, tudo o quanto há na obra de seus protagonistas
daqueles que viveram antes: “quanto (há) de Louis Sullivan em Frank Lloyd Wright, quanto de
Wright no primeiro Vilanova Artigas, quanto de Le Corbusier no segundo, e assim
sucessivamente.” Segundo ele, é evidente que o contato com a produção de Wright existe e é
fundamental. Porém, ao simplificar todo um período em que o arquiteto elaborou um total de
89 projetos a partir da presença de alguns recursos formais empregados em sete ou oito projetos,
arrisca-se a restringir um complexo inventário de influências, semelhanças e interesses
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estabelecidos pelo trânsito de personagens e produções ocorridas naqueles anos entre a Europa
e as Américas, e que era filtrado na especificidade do lugar que em que foi absorvido ou
refletido. A respeito disso, Irigoyen (2002) completa:

Chamá-lo de “wrightiano” exclui referências como a de George Frederick Keck, que


Artigas menciona especialmente interessado em suas “casas solares”. Por que não
então “keckiano”, ou “americano”? Considerando as múltiplas fontes que ajudaram o
enriquecimento de seu repertório, chamá-lo de uma ou de outra maneira pode resultar
igualmente arbitrário.

Portanto, apesar de diversos autores definirem a fase inicial da carreira de Artigas como
wrightiano, podemos observar um discurso de certa forma contraditório de Artigas a respeito
deste assunto, hora elogiando e assumindo certa influência, hora negando e renegando tal
possibilidade. Pretendemos com este estudo, analisar esta possível influência, porém sob o
ponto de vista das relações efetivamente estabelecidas, que é possível através do uso da sintaxe
espacial, para que tenhamos mais dados a respeito deste assunto tão contraditório.

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CAPÍTULO 2
Sintaxe Espacial

A forma arquitetônica não é imparcial. Ela pode refletir processos sociais, bem como
refletir modos de se relacionar ou até mesmo afetar tais processos. Ao contrário de muitas
teorias que desmaterializam o espaço da organização social, a teoria da lógica social do espaço
rompe com o paradigma da distinção entre vida social e estrutura espacial. Isto traduz a teoria
de Hillier e Hanson e sua contribuição central à teoria da arquitetura: “o espaço não é um
elemento passivo” (ALDRIGUE, 2012, p. 78).
A Teoria da Lógica Social do Espaço, ou simplesmente, a Sintaxe Espacial, parte de três
leis subjacentes ao objeto urbano e arquitetônico que relacionam esses dois fenômenos
(organização espacial e estrutura social): do espaço propriamente dito (como as organizações
espaciais estão configuradas nos edifícios); da sociedade para o espaço (como os padrões
sociais se materializam espacialmente); e do espaço para a sociedade (como a organização
espacial afeta os padrões sociais de usos e costumes de determinada sociedade) (HILLIER;
HANSON, 1984, apud ALDRIGUE, 2012, p. 79).
Na prática, as estratégias projetuais utilizadas para ordenar o espaço arquitetônico de
modo a induzir, impedir, restringir ou controlar determinados acessos a grupos de pessoas
(usuários do sistema, que podem ser estranhos/visitantes, moradores, empregados) são
estabelecidas por padrões sociais. Segundo Trigueiro (1994, apud ALDRIGUE, 2012), as regras
que dão forma àquele construto podem ser recuperadas através de certos procedimentos
analíticos.
Como exemplo, podemos citar a posição dos quartos que, a partir de condições impostas
pela cultura, necessitam de certa privacidade e não devem ser acessados diretamente a partir de
espaços sociais, como salas, por exemplo, de modo que sejam criados espaços de transição ou
mediação, como salas íntimas ou corredores, por exemplo, para fazer a ligação entre tais
ambientes.
A sintaxe espacial propõe um meio de análise que, a partir das propriedades físicas do
objeto arquitetônico, revela-se os aspectos sociais intrínsecos à organização espacial: analisar a
estrutura de barreiras e permeabilidades que estabelece as conexões ou não conexões entre os
espaços. Neste contexto, a estrutura do espaço é entendida como elementos ou partes que se
relacionam entre si e determinam as características, a função ou o funcionamento do todo. De

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acordo com Hanson (1988), as relações espaciais existem onde há qualquer tipo de ligação entre
dois espaços (apud ALDRIGUE, 2012, p. 80).
Para aumentar a compreensão acerca do assunto, segue um modelo de arquitetura que,
a partir de quatro modelos hipotéticos que possuem o mesmo número, área e disposição de
ambientes, alterando apenas as aberturas (internas e externas), possibilita conexões distintas de
seus ambientes.

Fig 7: exemplo de edifícios e conexões entre os espaços internos. Fonte: HANSON, 1998, p. 25-26, modificado
por TRIGUEIRO, 1999, apud ALDRIGUE, 2012, p. 83).

Pela figura acima podemos entender que uma residência pode ser vista como uma rede
de paredes (barreiras) e portas (permeabilidades) que funcionam como delimitadores dos
diferentes vazios onde as pessoas interagem e executam suas atividades.
Segundo Holanda (2011), nas residências brasileiras existem cinco possíveis tipos de
inter-relações entre habitantes: moradores entre si; os mais jovens e os mais velhos; moradores
e hóspedes; moradores e visitantes; proprietários e empregados. Cada qual com seu nível
hierárquico de priorização dentro do projeto, o qual pode apresentar barreiras mais fortes ou
mais frágeis entre pessoas, ou na prática, na edificação (apud BRAGA, 2013, p. 92-93).
O modo como as pessoas se movem dentro dos espaços, interagem entre si e percebem
as mudanças em seus campos de visão enquanto transitam são alguns dos fatores que permitem
à Sintaxe Espacial quantificar as relações sociais dentro dos espaços habitados e para tanto,
utiliza-se de três tipos de análise diferentes (BRAGA, 2013, p. 83):
1) axial: baseia-se no fato de que as pessoas movem-se em linhas;
2) convexo: analisa a interação em espaços convexos;
3) visual: analisa as mudanças dos campos de visão enquanto se movimenta em
ambientes construídos.

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Para este trabalho iremos nos limitar nas duas últimas por serem as que melhor se
aplicam em edificações, visto que o método de análise axial é mais recorrente em estudos acerca
dos espaços urbanos.
convexo
axial
visual

Fig 8: elementos primários utilizados em análises pela sintaxe espacial. Fonte: VAUGHAN, 2007, apud BRAGA,
2013, p. 83)

Essas análises geram dados qualificáveis de um espaço cujas relações são topológicas,
sendo a topologia uma área da matemática que avalia as propriedades não dimensionais, isto é,
não métricas, como conexões, posições e relações de vizinhança.

2.1. ANÁLISE CONVEXA

A análise convexa é feita a partir dos grafos justificados, que é a representação de um


sistema de permeabilidades: espaços são representados por círculos e a relação de
permeabilidade entre espaços por linhas. Um grafo justificado é construído a partir de um
determinado espaço do sistema, que é chamado de “raíz” e ele é “justificado” em relação a esta
raíz (HOLANDA et al., 2011, p. 145).
Esses grafos são elaborados com o auxílio do software Jass, que nos dá informações
como integração, profundidade e controle entre os ambientes, a partir de medidas sintáticas
resultantes da análise das conexões entre os diversos cômodos de um edifício, e no caso deste
trabalho, de uma residência. Para tanto, carrega-se a planta baixa no software e lança-se sobre
cada cômodo um nó, que serão coloridos de acordo com a setorização (íntima, social, serviço,
circulação/transição e área externa). Entre os nós que existem conexão liga-se com linhas. As
diferentes cores de cada setor nos auxilia na compreensão de como essas funções se comunicam
e como é a dinâmica entre elas na casa.
As medidas sintáticas quantificam as qualidades de cada espaço representado,
considerando o sistema de relações. Desta forma, os atributos físicos relativo à configuração
espacial podem ser matematicamente comparados e mensurados. Destacamos a seguir as
medidas que serão utilizadas neste trabalho para a análise convexa das residências:

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1) Integração (Real Relative Asymmetry/ RRA): expressa matematicamente a
distância sintática de um espaço para todos os demais espaços do sistema. A partir
do valor da integração podemos dizer se um determinado cômodo é mais integrado
(mais acessível) ou mais segregado (menos acessível).

Fig 9: exemplo de grafo justificado. Fonte: HILLIER, 1996, apud ALDRIGUE, 2012, p. 88, editado pela autora)

2) Profundidade (depth): é a quantidade de ambientes existentes em um percurso a


partir do nó “raíz” até o nó do cômodo que deseja-se saber a profundidade.

3) Controle: valor que revela os ambientes de maior controle, ou seja, por onde tem
que se passar para chegar a outros ambientes. O tipo de grafo irá determinar se um
ambiente é de menor controle (grafo anelar) ou de maior controle (grafo tipo árvore),
como pode ser visto nas figuras abaixo.

Fig 10: (a) grafo anelar: o espaço em verde é menos controlador; (b) grafo em árvore: o espaço em amarelo é
mais controlador. Fonte: HILLIER, 1996, p. 318, apud ALDRIGUE, 2012, p. 90)

2.1. ANÁLISE VISUAL (VGA)

A análise visual, também chamada de VGA, é feita a partir dos mapas (ou grafos) de
visibilidades (ou mapas VGA), elaborados a partir do software Depthmap, a partir do conceito
de isovistas criado por Turner et al (2001), que proporcionam uma descrição do espaço vinda
de dentro do mesmo, do ponto de vista do indivíduo. Isovistas é tecnicamente um polígono
15
visível a partir de cada nó, sendo assim representa o nível de visibilidade de um espaço a partir
de um ponto.
No presente Ensaio utilizamos a variável de integração visual, que mede o quão
próximo (integrado) ou distante (segregado) um ponto está de todos os outros pontos do sistema
(e, portanto é uma medida global). O resultado gerado pelo software a partir desta variável é
um mapa traduzido em um sistema de cores, onde as cores mais quentes representam os locais
de onde se tem maior controle e acesso da planta, ou seja, os locais a partir dos quais se vê e se
conecta a mais locais. As cores mais frias indicam os locais mais segregados ou mais íntimos,
ou seja, onde pouco vê e pouco é visto. (BRAGA, 2013, p. 85)

Fig 11: Isovista, esquema de um grafo de visibilidade e grafo de visibilidade. Fonte: GURGEL, 2017, apud
MACHADO, 2017, p. 29)

16
CAPÍTULO 3
Estudos de caso

3.1. ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE ROBIE HOUSE E RIO BRANCO


PARANHOS

Robie House
Arquiteto: Frank Lloyd Wright
Ano: 1908
Área: 1214m²
Localização: Chicago, EUA

Fig 12: Robie House. Fonte: www.archdaily.com.br

Considerada como o melhor exemplar de suas Prairie houses (em português, casas da
pradaria), é tombada pelo patrimônio histórico dos Estados Unidos. Ao criar esta sobreposição
de planos, o espaço interior se expande ao exterior, ao mesmo tempo em que cria certo
enclausuramento. Um enorme balanço sobre a varanda se estende três metros de seu ponto
estrutural mais próximo. Linhas horizontais, extensos beirais, um interior acolhedor com o
mobiliário desenhado pelo arquiteto, equilíbrio entre os espaços públicos e privados.
A entrada da residência não é claramente definida. Uma lareira separa a sala de estar da
sala de jantar, que é aberta para a sala de bilhar e de jogos acima. Os balanços foram calculados
de acordo com os ângulos do sol. No verão, o sol do meio-dia atinge apenas o fundo de toda a
fachada. Já nos meses de primavera e outono, a luz entra e aquece a residência.

17
Rio Branco Paranhos
Arquiteto: Vilanova Artigas
Ano: 1943
Área: 300m²
Localização: São Paulo, Brasil

Fig 13: Rio Branco Paranhos.


Fonte: www.revistas.usp.br

Segundo Irigoyen (2002), a residência Rio Branco Paranhos é a única casa de Artigas
nitidamente inspirada nas Prairie houses. e talvez por este motivo tenha se tornado como a casa
emblemática deste período da carreira do arquiteto. Assim como a Robie House, esta casa
possui grandes balanços, volumes entrelaçados e extensas linhas horizontais. Mantém
elementos convencionais como o telhado, a chaminé, os terraços e a lareira
A seguir, temos as plantas das duas casas, divididas pelos setores de serviço (azul),
social (amarelo), circulação (laranja) e íntimo (lilás), com as linhas de conexão entre ambientes
e em seguida, a apresentação dos grafos justificados gerados a partir do software Jass, também
divididos cada ambiente por cores que indicam seus respectivos setores. Os grafos foram
gerados partindo de um ponto externo às casas e outro partindo da escada. Para facilitar a
visualização, utilizou-se as mesmas cores dos setores em ambas apresentações.

18
ROBIE HOUSE

Fig 14: Plantas da casa Robie House com separação dos setores por cores e apresentação das linhas de
conexão entre os ambientes. Fonte: produzido pela autora.

19
RIO BRANCO PARANHOS

Fig 15: Plantas da casa Rio Branco Paranhos com separação dos setores por cores e apresentação das
linhas de conexão entre os ambientes. Fonte: produzido pela autora.

20
Legenda setores

Fig 16: Grafos justificados da Robie House a partir de um ponto do exterior e outro da escada,
respectivamente. Fonte: produzido pela autora.

Fig 17: Grafos justificados da casa Rio Branco Paranhos a partir de um ponto do exterior e outro da escada,
respectivamente. Fonte: produzido pela autora.

Ao analisarmos os grafos gerados por ambas as casas, podemos nitidamente perceber


que o programa da Robie House é muito mais complexo que a da Rio Branco Paranhos, tendo
oito níveis topológicos e 45 nós enquanto temos apenas quatro níveis topológicos e 14 nós na
Rio Branco Paranhos. Em ambas foi encontrado grande dificuldade de se ler e entender a planta,
entender os acessos e os desníveis. Muita dessa dificuldade foi por limitações a se encontrar
informações precisas das plantas, além, é claro, da própria complexidade gerada pela grande
quantidade de desníveis e cômodos nas casas.

21
O primeiro grafo gerado é partindo de um ponto externo às casas. A Robie House não
possui uma escada principal que une os três pavimentos. Entre o térreo e o pavimento superior
1, existe uma escada de serviço e uma escada social, central a casa, que é onde está localizada
também a lareira e uma terceira escada que liga o pavimento superior 1 ao andar dos quartos
(pavimento superior 2). O segundo grafo da Robie House parte da escada social do térreo. O
segundo grafo da Rio Branco Paranhos é a partir da escada que liga o térreo ao pavimento
superior. Ambas as casas possuem muitas escadas. Algumas foram desconsideradas no
desenho, pois só mudam de nível sem chegar a mudar de pavimento.
Observando o grafo gerado pela área externa, percebemos que tanto o setor social quanto
o de serviço se ligam a área externa, o que simboliza uma certa segregação social. Como já foi
dito, na Robie House tem-se inclusive uma escada social e outra de serviço. Além disso,
observa-se também uma forte segregação dos ambientes de serviço, cozinha, e especialmente
os quartos de empregada, hábito este que se mantém até hoje ao se projetar.
Culturalmente, o setor íntimo é onde se precisa de mais privacidade na casa e isso é
alcançado a partir de espaços de transição antecedendo esse setor, como escadas, halls e
corredores, que funcionam como controladores do fluxo e segregam o sistema. Quanto mais
espaços de transição existirem entre ambientes de setores diferentes, social e íntimo por
exemplo, menos legível e acessível dentro do todo esse espaço se encontra. Segundo Aldrigue
(2012, p. 160): “O número de espaços de transição, por exemplo, principalmente aqueles que
separam os setores social e íntimo, aumenta proporcionalmente ao estrato social, revelando uma
tendência à maior segregação da família nessas residências.” Na Robie House temos quatro
setores de circulação entre a área social e a área íntima e na Rio Branco, três setores, o que
demonstra que essas áreas são extremamente segregadas.
As tabelas apresentadas a seguir mostram respectivamente os valores de profundidade,
controle e integração, fornecidos também pelo software Jass, nas casas Robie House e Rio
Branco Paranhos, respectivamente, e confirmam o que já foi dito a partir da análise das plantas
setorizadas e dos grafos justificados. Cabe ressaltar na análise dos números da tabela, que os
valores de integração são inversamente proporcionais, ou seja, quanto maior o número
encontrado, significa que este ambiente é menos integrado, ou seja, ele é mais segregado em
relação aos outros e quanto menor o número encontrado, mais integrado significa que o
ambiente está. Em destaque temos os maiores e menores valores de cada uma das variáveis
analisadas.

22
Tabela 1: Resultados obtidos para a casa Robie House de profundidade, controle e integração gerados no
software Jass. Fonte: produzido pela autora.
23
Tabela 2: Resultados obtidos para a casa Rio Branco Paranhos de profundidade, controle e integração
gerados no software Jass. Fonte: produzido pela autora

Na Robie House, o ambiente mais profundo e também o de menor integração (mais


segregado) é a sacada da suíte máster. Fato que demonstra que este é um espaço íntimo,
frequentado apenas pelo próprio casal e possivelmente por seus filhos. O local de maior controle
e maior integração é o hall em frente a escada social. Este hall liga as salas, o quarto de
hóspedes, lavabo, hall que acessa a cozinha e hall que acessa a escada que vai para a área íntima.
Os ambientes de menor controle são os quartos, banheiro e sacada de hóspedes, pois a partir de
cada um deles não se acessa nenhum outro cômodo.
Na Rio Branco Paranhos, os ambientes mais profundos coincidem também com os
ambientes de menor controle, que são os quartos e banheiro superior. As salas também
aparecem como ambientes de menor controle, pois a partir delas não se acessa nenhum outro
cômodo. O ambiente de maior controle é o hall superior, pois a partir dele se controla o acesso
a todos os quartos e o banheiro. Os ambientes de menor integração são os quartos e banheiro
de empregada, o que demonstra a clara segregação desses cômodos. O ambiente mais integrado
é o hall de entrada, pois ele funciona como um ambiente de distribuição da casa, integrando as
salas, a escada que dá acesso aos quartos e a cozinha.
A seguir, temos os mapas de visibilidades gerados no software Depthmap, utilizando-
se a variável de integração, que nos fornece informações dos pontos mais e menos visíveis nas
plantas, a partir de uma escala onde os tons mais quentes (vermelhos) são os mais visíveis e os
mais frios (azuis), menos visíveis. Optou-se por apresentar os mapas em pares dos mesmos
pavimentos de cada casa para facilitar a análise comparativa entre os mapas.

24
ROBIE HOUSE - TÉRREO

Fig 18: Mapa de visibilidade VGA gerados no software Dephtmap do pavimento térreo da casa Robie
House. Fonte: produzido pela autora

ROBIE HOUSE – PAVIMENTO SUPERIOR 1 X RIO BRANCO PARANHOS - TÉRREO

Fig 19: Mapa de visibilidade VGA gerados no software Dephtmap do pavimento superior 1 da casa Robie
House. Fonte: produzido pela autora.

Fig 20: Mapa de visibilidade VGA gerados no software Dephtmap do pavimento térreo da casa Rio Branco
Paranhos. Fonte: produzido pela autora.
25
ROBIE HOUSE – PAVIMENTO SUPERIOR 2 X RIO BRANCO PARANHOS –
PAVIMENTO SUPERIOR

Fig 21: Mapa de visibilidade VGA gerados no software Dephtmap do pavimento superior 2 da casa Robie
House. Fonte: produzido pela autora.

Fig 22: Mapa de visibilidade VGA gerados no software Dephtmap do pavimento superior da casa Rio
Branco Paranhos. Fonte: produzido pela autora.
26
Ao se analisar e comparar os mapas de visibilidade (VGA), podemos encontrar bastante
similaridade entre eles. Como a Robie House possui um nível a mais, para efeitos de
comparação será desconsiderado o nível térreo desta residência, pois o programa do pavimento
1 é o que mais se assemelha ao térreo da Rio Branco Paranhos.
Ao se comparar o pavimento 1 da Robie House e o térreo da Rio Branco Paranhos,
percebemos que em ambas as casas, os ambientes de menor visibilidade (tons mais azuis) são
nitidamente os quartos e banheiros de empregada, o que confirma mais uma vez a segregação
destes ambientes. Nas salas encontramos os tons de verde e amarelo, que são ambientes de
média visibilidade e os halls que servem como ambientes de distribuição com os tons mais
quentes (vermelhos). As áreas próximas às lareiras, que pelo discurso dos arquitetos, são pontos
importantes de integração da casa, não aparecem como pontos de destaque nesses mapas, como
seria de se esperar, o que se demonstra que estes são pontos de integração da casa muito mais
no discurso do que na prática.
Analisando os pavimentos dos quartos, percebemos claramente que os halls funcionam
como ambientes de distribuição. Na Robie House temos nitidamente o quarto do casal como
um ambiente de maior visibilidade, o que oferece maior controle dos seus ocupantes a partir
dali. Na Rio Branco Paranhos temos dois quartos de maior visibilidade e um outro menor em
área e de menor importância visual. A partir deste mapa não fica claro qual dos dois quartos
maiores é o do casal, mas pode-se notar que seria um desses dois que possuem os tons mais
quentes (vermelho e amarelo). Os banheiros (e a sacada do casal, no caso da Robie House) são
onde encontramos os tons mais azuis (menor visibilidade).

27
3.2. ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE DELBERT MEIER E LUIZ GONZAGA
LEME MONTEIRO

Delbert Meier
Arquiteto: Frank Lloyd Wright
Ano: 1917
Área: 170m²
Localização: Monona, Estados Unidos

Fig 23: Delbert Meier – fachada frontal. Fonte:


http://lifeat55mph.blogspot.com

Esta residência faz parte de uma série de casas que o arquiteto projetou para o construtor
Arthur Richards, o American System-Built Homes (em português, casas construídas pelo
sistema americano), que adapta o conceito das casas quadradas a uma planta retangular. O
conceito das casas quadradas consistem em casas de baixo custo, com espaço otimizado em
uma planta de lados iguais, que tem a lareira como pivô. A sala ocupa metade da planta,
separada das áreas utilitárias - cozinha e serviços - e pela área de circulação - acesso, hall e
escada (IRIGOYEN, 2002, p. 131-132).

Casa Luiz Gonzaga Leme Monteiro


Arquiteto: Vilanova Artigas
Ano: 1941
Área: 150m²
Localização: São Paulo, Brasil

Fig 24: Casa Luiz Gonzaga Leme Monteiro. Fonte:


www.pinterest.com

Frente a um programa idêntico e sujeito a condicionantes similares, Artigas faz nesta


fase de sua carreira uma série de plantas com variações mínimas de disposição. Com exceção
da localização da lareira, que aparece no muro lateral, sua disposição coincide com o American
System. A sala de estar e de jantar formam um espaço único, a entrada é frontal. A expressão
da fachada não esconde sua filiação wrightiana (IRIGOYEN, 2002, p. 138).
28
Seguindo a mesma lógica da análise anterior, temos a seguir as plantas das casas,
divididas em cores pelos setores (social, circulação, íntimo e serviço) e em seguida, a
apresentação dos grafos justificados gerados a partir do software Jass, também divididos cada
ambiente por cores que indicam seus respectivos setores.

CASA DELBERT MEIER

Fig 25: Plantas da casa Delbert Meier com separação dos setores por cores e apresentação das linhas de
conexão entre os ambientes. Fonte: produzido pela autora.

29
CASA LUIZ GONZAGA LEME

Fig 26: Plantas da casa Luiz Gonzaga Leme, com separação dos setores por cores e apresentação das
linhas de conexão entre os ambientes. Fonte: produzido pela autora.

30
Legenda
setores

Fig 27: Grafos justificados Delbert Meier e Luiz Gonzaga Leme gerados no software Jass. Fonte: produzido
pela autora.

Ao analisarmos os grafos gerados por ambas as casas, podemos perceber que as casas
possuem um programa bem simplificado e bastante similar, tendo ambas 5 níveis topológicos
e 14 nós na Delbert Meier e 13 nós na Luiz Gonzaga Leme, o que faz sentido, pois ambas tratam
de casas de baixo custo, com projetos feitos em série para comercialização.
O primeiro grafo gerado é partindo de um ponto externo às casas. As duas casas possuem
uma entrada frontal bem definida, além de uma entrada de serviço, mais escondida, o que nos
mostra, mais uma vez, a segregação social presente nessas áreas e consequentemente de quem
as frequentam, mesmo em se tratando de projetos para famílias menos abastadas que as das
casas analisadas anteriormente, o que nos demonstra que esta segregação é algo cultural e que
está presente desde as camadas mais simples até as mais altas da sociedade.
O segundo grafo de ambas é partindo da escada e pode-se ver claramente que ela serve
como um elemento significativo de divisão entre as áreas sociais e de serviço e as áreas íntimas,
o que comprova a valorização com a privacidade e a intimidade da família nas duas casas.
Os valores apresentados nas tabelas a seguir mostram respectivamente os valores de
profundidade, controle e integração, fornecidos também pelo software Jass, e confirmam o que
já foi dito a partir da análise das plantas setorizadas e dos grafos justificados. Em destaque
temos os maiores e menores valores de cada uma das variáveis analisadas.

31
Tabela 3: Resultados obtidos para a casa Delbert Meier de profundidade, controle e integração gerados no
software Jass. Fonte: produzido pela autora.

Tabela 4: Resultados obtidos para a casa Luiz Gonzaga Leme de profundidade, controle e integração
gerados no software Jass. Fonte: produzido pela autora.

Nas duas casas, o ambiente de maior controle é o hall superior, pois é a partir dele que
se acessa todos os cômodos íntimos da casa (exceto a sacada superior da Luiz Gonzaga Leme
que estranhamente é acessada a partir do banheiro íntimo). Na Delbert Meier, os ambientes de
menor controle coincidem também com os mais profundos, que são os quartos e banheiro
superior. Na Luiz Gonzaga, os resultados são parecidos, apenas com a diferença que a sacada
do banheiro é o ambiente mais profundo e, como nesta casa o banheiro “controla” o acesso à

32
sacada, isso altera o valor numérico do resultado e por isso ele acaba sendo considerado pelo
programa como um ambiente que possui um certo controle dentro da planta, ficando portanto
apenas os quartos como os ambientes de menor controle.
Em relação aos valores de integração, o hall de entrada aparece como o ambiente mais
integrado na Delbert Meier e a sala de estar na Luiz Gonzaga, que justamente por possuir um
programa simplificado, não possui hall de entrada e a sala de estar acaba cumprindo este papel
de integração e distribuição dos cômodos. Os cômodos menos integrados são a varanda
inferior, na Delbert Meier, que é acessada apenas pela sala de estar e a sacada superior, na Luiz
Gonzaga, que é acessada apenas pelo banheiro íntimo.
A seguir, temos os mapas de visibilidades gerados no software Depthmap, utilizando-
se a variável de integração, que nos fornece informações dos pontos mais e menos visíveis nas
plantas, a partir de uma escala onde os tons mais quentes (vermelhos) são os mais visíveis e os
mais frios (azuis), menos visíveis.

PAVIMENTOS TÉRREO DA CASA DELBERT MEIER X LUIZ GONZAGA LEME

Fig 28: Mapa de visibilidade VGA gerados no software Fig 29: Mapa de visibilidade VGA gerados no software
Dephtmap do pavimento térreo da casa Delbert Meier. Dephtmap do pavimento térreo da Luiz Gonzaga Leme.
Fonte: produzido pela autora. Fonte: produzido pela autora.

33
PAVIMENTOS SUPERIOR DA CASA DELBERT MEIER X LUIZ GONZAGA LEME

Fig 30: Mapa de visibilidade VGA gerados no software Fig 31: Mapa de visibilidade VGA gerados no software

Dephtmap do pavimento superior da casa Delbert Dephtmap do pavimento superior da Luiz Gonzaga

Meier. Fonte: produzido pela autora. Leme. Fonte: produzido pela autora.

Ao se analisar e comparar os mapas de visibilidade (VGA), podemos encontrar algumas


similaridades entre eles. Começando a análise pelos pavimentos térreos, em ambas, os tons mais
quentes se encontram na sala. A Delbert Meier, que possui a sala em formato “L”, a zona de
maior visibilidade se encontra no meio do “L”, a lareira, apesar de estar em um ponto central
da casa, não está exatamente dentro deste ponto de grande visibilidade, estando localizada num
local de média visibilidade (tons verdes). A sala de jantar nessa casa fica um pouco mais
escondida e aparentemente funciona também como uma copa, já que acessa diretamente a
cozinha. A casa Luiz Gonzaga possui um formato mais retangular e a área de maior visibilidade
se encontra no meio dela, próximo à escada e à entrada da cozinha. Como já foi dito
anteriormente, esta sala funciona também como um ambiente de distribuição, já que ela não
tem um hall específico para isso, e isso acontece bem neste ponto de maior visibilidade. A área
da lareira não aparece em um ponto de muito destaque nesta casa, está lateralizada e com pouca

34
visibilidade (tom azul esverdeado). Nas duas casas, as varandas não são um local de muito
destaque, apresentando tons que variam do verde para o azul claro. E finalmente, e como era
de se esperar, percebemos que em ambas, os setores de serviço são os que possuem menor
visibilidade dentro da casa, ou seja, os tons mais azuis.
Analisando os pavimentos dos quartos, percebemos que os halls funcionam como
ambientes de distribuição e de grande visibilidade. Na casa Delbert Meier, a visibilidade entre
os quartos está bem distribuída, não ficando claro qual seria o quarto destinado ao casal. Já na
Luiz Gonzaga, percebemos claramente que o quarto maior é o que possui maior controle, ou
seja, maior visibilidade, nos indicando que este possivelmente é o quarto destinado ao casal.
Na casa Delbert Meier, nos banheiros são onde encontramos os tons mais azuis (menor
visibilidade). Já na Luiz Gonzaga, os tons azuis estão distribuídos no quarto menor, no banheiro
e na sacada.
A partir dos resultados encontrados, podemos notar que os pares de casas comparados
possuem diversas semelhanças no sentido do espaço criado e nas relações efetivamente
estabelecidas que são geradas a partir deste espaço e serão sintetizadas no capítulo seguinte.

35
CAPÍTULO 4
Considerações finais

Na elaboração desse trabalho, primeiramente buscou-se enumerar um panorama geral,


foi feito um aparato histórico de suma importância para a melhor compreensão do que se está
avaliando na sintaxe espacial. Isto porque deve-se procurar compreender em qual contexto, por
quem e para quem, aquele espaço foi projetado. A partir deste embasamento teórico, a análise
é feita com maior segurança e qualidade.
Este estudo tinha como objetivo principal fazer a análise comparativa entre duas obras
de Frank Lloyd Wright que estavam relacionadas com outras duas obras do denominado
(segundo alguns autores) período wrightiano de Artigas (1938 a 1946) para se concluir se, além
das semelhanças estéticas, iríamos encontrar também semelhanças nas características do espaço
construído. A partir da análise comparativa da sintaxe espacial limitada a esses dois pares
de residências, a resposta a que se chega a essa pergunta é afirmativa, os espaços possuem
características consideravelmente semelhantes, apesar de serem projetados em épocas e
locais diferentes.
Temos a seguir alguns tópicos conclusivos a respeito das semelhanças encontradas a
partir da análise comparativa realizada neste trabalho:
- Em todas as quatro casas encontramos os espaços de serviço bastante segregados, todas
possuem uma entrada social e outra de serviço, demonstrando clara segregação social com os
que frequentam as áreas de serviço das casas;
- Pode-se também observar claramente o resultado do que é chamado na sintaxe espacial
de “paradigma dos setores”, que são os setores de serviço, social e íntimo bem definidos e
separados, e que provavelmente foram separados desde as fases iniciais de projeto;
- Em todas as quatro casas, as áreas íntimas são os locais de maior privacidade e
encontram-se separadas pelos setores sociais e de serviço por áreas de circulação, que
funcionam como barreiras para o acesso a essas áreas íntimas. Inclusive em todas as casas tem-
se um pavimento exclusivo para as áreas íntimas;
- Em todas as casas temos a lareira como locais de média visibilidade, o que mostra que
a importância delas na casa é muito maior no discurso do arquiteto que na prática.
- Observou-se também que em todas as casas as varandas não são um local de grande
destaque, recebendo pouca visibilidade e integração com a casa, fenômeno este que mudou
bastante nos projetos atuais, pois as varandas hoje em dia são locais muito valorizados e
36
integrados com a área social da casa. Uma observação sobre este fato é que as varandas são
pontos de conexão entre exterior e interior da residência e que neste método de análise elas são
consideradas como ambientes fechados (interior) e isso pode alterar em parte a percepção da
importância destes ambientes para o projeto;
- Observou-se também que as casas projetadas para as classes mais altas (Robie House
e Rio Branco Paranhos) possuem grande número de espaços destinados a circulação, já nas
outras duas casas (Delbert Meier e Luiz Gonzaga Leme), que são mais populares (Yrigoyen,
2002), estes espaços são mais limitados.
Apesar das diversas semelhanças encontradas, podemos encontrar também algumas
diferenças entre as casas, das quais podemos destacar:
- é muito nítida a diferença na complexidade e tamanho entre a Robie House e a Rio
Branco Paranhos;
- mesmo em se tratando de um programa simplificado, a casa Delbert Meier possui um
vestíbulo e um hall antes de dar acesso a sala de estar e, na Luiz Gonzaga, a porta de entrada já
dá acesso a sala de estar, não possuindo portanto nenhum hall de entrada.
Podemos concluir, portanto, que o uso da sintaxe espacial foi de grande importância e
nos permitiu comparar obras que anteriormente eram apenas comparadas esteticamente, e que
a partir deste trabalho tem-se dados mais concretos de que as casas são realmente muito
similares também do ponto de vista do espaço criado, apesar de Artigas possuir um discurso
altamente contraditório a respeito de sua possível inspiração nas obras do mestre americano
Frank Lloyd Whrigt.
Algo que devemos ressaltar é que por se tratarem de casas pertencentes ao mesmo
movimento (modernismo) e de épocas relativamente próximas, uma possibilidade de termos
encontrado tantas semelhanças pode se dever ao fato de ser uma espécie de zeitgeist da época,
ou seja, algo que, independente de se tratar de Wright ou Artigas, todos projetavam de forma
parecida e que se tivéssemos comparado casas de outros arquitetos também encontraríamos
resultados bastante semelhantes aos encontrados neste Ensaio.
Cabe também observar que devido ao fato de Artigas ter amadurecido com o tempo e
aumentado o discurso comunista de preocupações sociais e total repudio ao capitalismo e ao
imperialismo americano, e devido a isso, chegar a negar e até depreciar seus trabalhos iniciais,
percebeu-se com este trabalho que seria bastante válido uma análise comparativa das obras de
Artigas em sua fase wrightiana com as obras da fase mais madura de sua carreira, a denominada
fase brutalista (período posterior a 1955). Com este novo estudo, poder-se-ia concluir se as

37
mudanças de discurso do arquiteto vão de encontro com a sua forma de criar o espaço ou se o
que alterou-se em sua arquitetura está apenas restrito a envoltória e estilo arquitetônico da
mesma.

38
1. REFERÊNCIAS

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(Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Tecnologia,
Departamento de Arquitetura, Natal, 2012.
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alguns paradoxos. Ano 01, maio 2001, publicado em http://www.vitruvius.com.br/revistas/
read/arquitextos/01.012/889, acesso em 19 de junho de 2018.
BRAGA, Nathália. A Inter-relação entre Distribuição Espacial e Desempenho
Térmico em Residências Unifamiliares Naturalmente Ventiladas em Natal/RN,
Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Federal de Santa Catarina,
Centro Tecnológico, Florianópolis, 2013.
COTRIM, Márcio. Vilanova Artigas: Casas Paulistas 1967-1981. São Paulo, Romano
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CRUZ, Débora. A influência de Frank Lloyd Wright sobre João Batista Vilanova
Artigas: uma análise formal, Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - Faculdade
de Eng. Civil, Arquitetura e Urbanismo, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2010.
HOLANDA, Frederico et al. Arquitetura & Urbanidade. Brasília, FRBH Edições,
2011.
IRIGOYEN, Adriana. Wright e Artigas: Duas Viagens. São Paulo, Ateliê Editorial,
2002.
MACIEL, Carlos. Villa Savoye: arquitetura e manifesto. Ano 02, maio 2002, publicado
em http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/02.024/785., acesso em 19 de junho
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Brasil: Uma Leitura das Residências neocoloniais sob a Ótica da Sintaxe Espacial. Ensaio
Teórico apresentado na FAU-UNB (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de
Brasília), Brasília, 2017.
PORTELA, Giceli. João Batista Vilanova Artigas, Curitiba, 1915-2015 Exposição
“Nos pormenores um universo" no Museu Oscar Niemeyer. Ano 14, setembro 2015, publicado
em http://www.vitruvius.com.br/ revistas/read/resenhasonline/14.165/5675?fb_comment_id=
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39
TAGLIARI, Ana. Os Princípios Orgânicos na Obra de Frank Lloyd Wright: Uma
Abordagem Gráfica de Exemplares Residenciais. Dissertação de Mestrado em Arquitetura -
Instituto de Artes - UNICAMP, Campinas, 2008.
TAGLIARI, Ana; FLORIO, Wilson. The Natural House e a Usonian: Relações Entre
Texto e Arquitetura, Ensaio (V ENCONTRO DE HISTÓRIA DA ARTE) - UNICAMP,
Campinas, 2009, disponível em http://www.unicamp.br/chaa/eha/atas/2009/TAGLIARI,
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