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Mafalda Vilar | 21568021

Mafalda D’ Ara Vilar | 21568021 | 3º ano | Introdução à teoria da Arquitetura | Ano Letivo 2022/23

Recensão crítica: “Saber ver a Arquitetura”, de Bruno Zevi

O autor faz-nos refletir sobre o desinteresse geral do público pela arquitetura. Diz-nos que
o público interessa-se pela música, pela pintura, mas não se interessa pela arquitetura, não a
conhece, não sabe explora-la, vê-la, aprecia-la. Culpa também os arquitetos, por serem incapazes de
espalhar uma mensagem clara, de paixão pelo presente e pelo passado. Os edifícios são vistos
externa e superficialmente, como se de simples fenómenos plásticos se tratassem. Diz-nos depois,
que talvez a culpa deste desinteresse não seja apenas do público, mas sim da forma complexa
através da qual a arquitetura é abordada e explicada no geral. Não existem métodos eficazes para a
divulgação da boa arquitetura, assim como também não existe conteúdo que nos revele a distinção
entre a boa e a má arquitetura. São escassos os meios através dos quais o grande público possa
interpreta-la de forma clara. Então o autor propõe uma “clareza de método” (ZEVI, “Saber Ver a
Arquitetura, cap. I, pág.7). A arquitetura é definida maioritariamente através de termos, que nós
arquitetos temos o dever e o prazer de estudar durante toda a vida para os entendermos da melhor
forma, porque sabemos que eles existem e são racionais, compreensíveis, eles ajudam-nos a
esclarecer a “essência da arquitetura” (ZEVI, “Saber Ver a Arquitetura, cap. I, pág.8), mas para o
grande público a dificuldade de os entender é maior, causando desinteresse.
Zevi culpa os homens pela “falta de hábito” “de entender o espaço” e os historiadores por
não terem um método claro para o “estudo espacial dos edifícios” (ZEVI, “Saber Ver a Arquitetura,
cap. II, pág.17), o que origina a inexistência de uma história da arquitetura. Explica-nos que a
arquitetura não tem origem nos comprimentos e nas larguras, mas no espaço vazio, onde os homens
habitam, vivem, percorrem. É ele o protagonista da arquitetura: de nada adianta termos desenhos
técnicos fantásticos se o espaço próprio da obra é pobre. É o espaço que nos faz compreender o
edifício. O espaço e o vazio são os elementos de maior importância, são os elementos mais
influentes no ambiente em que habitamos. Os cubistas, que descobriram a quarta dimensão, depois
da terceira dimensão descoberta no Renascimento e da invenção da fotografia, tentaram
compreender de forma profunda a realidade de um objeto, tentando representar todas as partes que o
constituem: internas e externas. Isto permitiu à arquitetura uma sustentação científica entre a
distinção entre arquitetura construída e desenhada, arquitetura e cenografia. A cenografia respondeu
de forma satisfatória à questão das dimensões da arquitetura.
O autor defende que a bela arquitetura é a que tem um espaço interior que nos atrai, que
nos fascina e acolhe, e que a feia arquitetura tem um espaço interior aborrecido. E que “tudo o que
não tem um espaço interior não é arquitetura” (ZEVI, “Saber Ver a Arquitetura, cap. II, pág. 24). A
arquitetura própria de um edifício não se resume apenas a ele mesmo, interfere na cidade, em tudo o
que a rodeia. Grandes e integras obras são aquelas que possuem volumetrias e prolongamentos
decorativos racionais e positivos. A arquitetura é a junção da arte com o mundo real, é onde
habitamos, onde vivemos, é a arte mais próxima do ser humano, a que mais influencia as nossas
vidas.

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Mafalda Vilar | 21568021

Gutenberg inventou a imprensa. Daguerre inventou a fotografia. Edison inventou um


aparelho para transmissão radiofónica. Explica-nos que há um progresso contínuo cientifico ao
nível de diversas áreas, mas a arquitetura continua isolada. Existe a problemática da representação
planimétrica do espaço por resolver, a educação arquitectónica não faz sentido. As elevações
revelam-se muito úteis, mas não satisfazem completamente, não conseguem, já que omitem um
ponto fulcral de toda a concepção espacial, o parâmetro humano, a escala. As fotografias foram um
grande contributo para parte dos problemas da representação a três dimensões, mas não revelam a
essência espacial. A cinematografia foi muito importante para resolver praticamente todos os
problemas causados pela quarta dimensão. A arquitetura ultrapassa as quatro dimensões, é preciso
mais que isso para a representar, compreender, ver, saber. Os espaços podem ser representados
através de plantas, fachadas, secções, maquetes, fotografias e até através da cinematografia, mas
nenhuma destas formas consegue expressa-la e representa-la completamente isoladamente,
nenhuma destas é suficiente para revelar a arquitetura de forma completa. Para percebermos a
arquitetura temos de a sentir, de a viver, de a presenciar.
A arquitetura leva em consideração pressupostos fundamentais: pressupostos sociais, que
servem a um programa de utilização; intelectuais, que servem as aspirações de um sonho; técnicos,
os progressos científicos; pressupostos figurativos e técnicos, todas as artes colaboram para o gosto.
Todos os monumentos articulam-se também esquematicamente numa classificação aproximativa. A
análise urbanística, que contribui para a criação através da história do espaço. A análise
arquitectónica, a história da concepção espacial, sentido e vivendo os espaços interiores. A análise
volumétrica, que consiste no estudo do invólucro que contém o espaço. A análise dos elementos
decorativos, que aplica a escultura e a pintura à arquitetura. A análise da escala, que relaciona as
dimensões do edifício com a escala humana.
No capítulo IV, referido já no parágrafo anterior, o autor carateriza-nos alguns conceitos. O
templo grego, que possuía uma autonomia contemplativa grega. Não era concebido como a casa dos
fieis, mas sim como a morada impenetrável dos deuses. Considera que este é um exemplar de não-
arquitetura, não existe uma concepção espacial racional. Fala-nos da arquitetura romana, em que o
espaço interior se mostra grandioso, mas é normalmente “frio”, não dá conforto ao seu utilizador. A
arquitetura cristã, por outro lado, reuniu na Igreja a escala humana dos gregos e a consciência do
espaço interior romano. Com o objetivo de criar uma trajetória especifica ao observador, a sua
concepção planimétrica e espacial tem um caráter dinâmico. Na arquitetura românica, elevar o
presbitério significou interromper o comprimento do ambiente, a arquitetura deixou de agir em
termos de superfície e exprimiu-se em termos estruturais, foi caracterizada pela “concatenação de
todos os elementos do edifício e a métrica espacial” (ZEVI, “Saber Ver a Arquitetura, cap. IV,
pág.89).
A arquitetura gótica veio aprofundar e concluir a investigação românica, os artistas
concebem espaços que estão em antítese com a escala humana e produzem no utilizador um estado
de espirito de desequilíbrio. O gótico encerrou o primeiro volume dos manuais de história de arte e
o Renascimento abriu o segundo volume. O Renascimento trouxe uma renovação radical do ponto
de vista psicológico e espiritual, o Homem tornou-se “a medidas de todas as coisas”, o Homem
aprendendo a lei simples do espaço, possui o segredo do edifício. Foi na arquitetura barroca que
triunfaram o volume e a plástica, representou espaço, volumetria e elementos decorativos em ação.
Significou um estado de espírito de liberdade dos preconceitos intelectuais e formais. O período
neo-clássico e o ecletismo do séc. XIX, estiveram ligados aos espaços exteriores, à urbanística, é
caraterizado pelos problemas do espaço urbano. Novos meios de locomoção surgiram, era preciso
estudar, perceber e organizar as cidades.

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Fala-nos por último na arquitetura moderna, caracterizada pela “planta livre”, a


problemática da concepção da casa adequada a cada classe social, da exploração de uma nova
técnica construtiva, o aço e o concreto, que permitiram colocar elementos de residência estética
num finíssimo esqueleto estrutural. As divisões internas tornaram-se mais finas, curvam-se e
movem-se livremente, criando a possibilidade de alterar ambientes. As duas maiores correntes do
movimento moderno são o funcionalismo, surgido na América na Escola de Chicago, e o
movimento orgânico, que teve como autor Frank Lloyd Wright nos Estados Unidos da América.
No capítulo V, o arquiteto apresenta análises que interpretam a arquitetura e a relaciona a
várias questões: políticas, filosófico-religiosas, cientificas, económico-sociais, materialistas,
técnicas, fisiopsicológicas, formalistas e interpretações espaciais. A arquitetura está intrinsecamente
relacionada com todas vertentes referidas anteriormente.
A Catedral de Wells, por exemplo, tornou-se possível também graças à nova técnica
construtiva dos arcos ogivais e arcobotantes e das abóbadas em guarda-chuva. Percebemos assim
que a arquitetura está relacionada com os progressos científicos.
No século V a.C., ano de 479 no combate de Plateia, Pericles afirma-se politicamente e
começa a atuar arquitectonicamente para mostrar o seu poder. Aqui presenciamos a ligação da
arquitetura com a política. O Gótico Francês, no reinado de Luís IX, afirmou o poder do rei,
mostrou a sua riqueza, o luxo em que vivia. No séc. XVIII, o rococó francês dá lugar ao ideal
clássico por influência política.
A arquitetura é o aspeto visual da história, acompanhou-a e descreveu-a desde as primeiras
construções. Transcreve uma sociedade através das formas de construção, humaniza-as, anima-as.
Explica-nos esta interpretação através da reforma protestante e do neoplatonismo da época
helenística.
A geometria euclidiana acompanhou a sensibilidade espacial grega. Surgiu o cubismo, o
neoplasticismo, o construtivismo e o futurismo. O futurismo contribuiu para os pensamentos nazis.
A arquitetura influenciou também questões económico-sociais, adapta-se a elas desde
sempre. A arquitetura medieval, por exemplo, estava sustentada numa economia agrícola. O
classicismo foi a arquitetura do imperialismo.
As formas usadas na arquitetura são explicadas através de condições geográficas e
geológicas. Nos templos gregos, e como já referido anteriormente, possui um espaço interior pobre,
porque as cerimónias religiosas decorriam fora do templo, ao ar livre. Defende que todo o edifício
deve responder ao seu objetivo, por vezes temos de pensar que este objetivo não foi apenas
utilitário, mas também espiritual.
Nas interpretações fisiopsicológicas, o autor refere que estas estão ligadas a “estados de
espírito” produzidos por “estilos arquitectónicos”. Fala-nos da importância dos elementos
geométricos: a linha horizontal que dá o sentido do racional, do intelectual. A vertical, representa o
infinito, a emoção. Linhas retas e curvas passam a ideia da decisão, da rigidez, da flexibilidade, da
decoração. A helicoidal, o símbolo do ascender, da libertação. O cubo representa a integridade, a
sensação de certeza. O círculo dá a sensação de equilíbrio. A esfera que representa a perfeição, a lei
final. A elipse torna a vista móvel e irrequieta. "A interpretação das formas geométricas é o símbolo
do dinamismo e do movimento.” As concepções estéticas antigas defendiam que a arquitetura era a
arte que sabia oferecer a mais restrita gama de emoções.
Para compreendermos um edifício arquitetónico, a sua arte, o seu objetivo, a sua utilidade,
temos de o sentir, de o percorrer, de o observar, é necessário realizar uma procura interior e exterior.
Interpretando o espaço do edifício temos acesso a todas as suas realidades.

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