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A torre, em seu estado atual, está sem qualquer superfície envoltória, e mostra-se como
um esqueleto que exibe inteiramente e explicitamente todo o seu interior. O objeto
arquitetônico é posto em diálogo com a Slow House, casa projetada por Elizabeth Diller
e Ricardo Scofidio em 1991, e a partir de seus contrastes pretende-se entender suas
dinâmicas visuais, para além do que é visível. Finalmente, utiliza-se dos conceitos de meio-
lugar, acontecimento, tela e objeto2 de Richard Scoffier, para propor experimentalmente
sobre a forma como a torre é apreendida pelo sujeito.
1. Colin Rowe and Robert Slutzky, “Transparency: Literal and Phenomenal” in Colin Rowe, The Ma-
thematics of the Ideal Villa and Other Essays. Cambridge, MA:MIT Press, 1976. Originally published
in Perspecta, v.8, 1963, p. 45-54.
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Antecedentes
A ordem visual moderna tem suas origens no Palácio de Cristal, uma estufa de vidro e
ferro fundido que comportou a feira internacional de 1851, em Londres, projetada por
Joseph Paxton. A utilização do vidro em sua total transparência, para Walter Benjamin, é
um inimigo do mistério e da experiência.3 Na plenitude do iluminismo, a hiperexposição
modernista, em sua clareza estrutural e material, retira a aura dos objetos, marca os
contrastes entre figura e fundo, construído e vazio. Com pontuais ressalvas, a arquitetura
moderna é influenciada pelo mito da transparência.
O conceito da transparência pode ser lido pela inteligibilidade, pela objetividade visual
e por uma ética de honestidade e pureza na qual a arquitetura se apresenta. Sob este
regime, as obras modernas se manifestam através do que é visível. A exposição do que
ocorre internamente, a função, e a estrutura independente do edifício determinam a forma
como estas obras são apreendidas. A separação explícita dos elementos estruturais
dos não estruturantes, como paredes e a fachada, propõe um entendimento brando da
composição do edifício moderno. Identifica-se a estrutura independente, o que é móvel,
os seus limites e profundidades.
Sou mais pela riqueza de significado do que pela clareza de significado; pela
função implícita, tanto quanto pela função explícita (...) Uma arquitetura
válida evoca muitos níveis de significado e combinações de enfoques: o
espaço arquitetônico e seus elementos tornam-se legíveis e viáveis de
muitas maneiras ao mesmo tempo.4
6. Fashid Moussavi y Michael Kubo, La función del ornamento. Boston: Harvard University. Gradu-
ate School of Design, 2006, p.3.
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(Figura 6, 7 e 8) Le Corbusier, Vila Stein, 1927.
No início dos anos 90, uma arquitetura enevoada começa a surgir no cenário mundial. A
exposição Light Construction, realizada em 1995 no MoMA de Nova Iorque e curada por
Terence Riley, apresenta obras cujas superfícies nublam seu interior. A transparência
fenomênica,7 que se distingue da transparência literal, é um conceito de Colin Rowe e
Robert Slutzky e caracteriza interpretações espaciais ambíguas.
Sua singularidade se manifesta na forma como a obra escolhe se situar. Observa-se que
o pavilhão não se coloca no meio de forma monumental, mas opostamente, ele se oculta
para não se permitir entender por inteiro. Ao se camuflar, ele dissolve o jogo de figura e
fundo, e é nessa indeterminação que sua sedução se constrói. O sujeito, em suspensão,
é atraído a adentrar em uma experiência onde curiosidade e descoberta se intermediam.
O vidro não é utilizado pela sua qualidade translúcida, mas pela possibilidade de distorção
e desorientação. Segundo Michel Masson, arquiteto, professor e pesquisador sobre a
obra de Dan Graham:
Ele desestabiliza para exaltar uma leitura fenomênica. A escala humana e a proximidade
tangível na qual a superfície envidraçada se coloca é afetiva. Ela estabelece uma
comunicação abstrata e imediata ao corpo sensível.
7. Colin Rowe and Robert Slutzky, “Transparency: Literal and Phenomenal” in Colin Rowe, The Ma-
thematics of the Ideal Villa and Other Essays. Cambridge, MA:MIT Press, 1976. Originally published
in Perspecta, v.8, 1963, p. 45-54.
8. Michel Masson, "Jogos reflexivos: os pavilhões de Dan Graham" em ARTE & ENSAIO (UFRJ), n. 34,
2018, p.151.
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(Figura 10 e 11) Herzog & de Meuron,
Edifício de armazenamento da fábrica Ficola, 1993.
9. Iñaki Ábalos y Juan Herreros, “La Piel Fragil” en Áreas de Impunidad. Barcelona: Actar, 1997. p. 18.
10. Hal Foster, O complexo arte-arquitetura. Tradução de Célia Euvaldo. São Paulo, Ubu Editora,
2017, p. 149-150.
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(Figura 14) Yoshio Taniguchi, Expansão do Moma, 2004.
As obras comentadas acima poderiam ser brinquedos lúdicos de designers. São como
objetos de desejo com complexidades internas e beleza superficial, inseridos sobre um
contexto vago. Ainda que pareçam aludir ao consumismo, essas obras se voltam para
a percepção sensorial. Como bem observado por Farshid Moussavi em A Função do
Ornamento, são obras que se abrem não só para a expressão cultural atual, mas contém
a sensibilidade necessária para espelhar essa cultura ao longo do tempo.
(Figura 18) Projeto da Slow House, North Haven, Long Island, New York, Perspectiva e plantas de um
televisor em um aparato de janela para imagem, 1991.
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Prática arquitetônica
Manifesto em favor da imagem, a Slow House põe em questão a diferença entre a imagem
autêntica e a mediada. A tensão se dá a partir da paisagem que condiciona a implantação
arquitetônica em paralelo com uma tela que exibe novamente a vista mediada. A paisagem
é posta em diálogo com a tela que é estendida por uma antena estrutural. O paralelismo
imagético permite a visão simultânea ou a exposição de contrastes temporais. O vídeo
exposto na tela permite o atraso, o zoom e um controle sobre a paisagem.
A situação de um diálogo imagético e uma relação formal com a paisagem também podem
ser observadas na Torre H. A implantação de centro de quadra e a escolha pela forma
circular visam potencializar a vista da paisagem em 360º, e da mesma forma, poupar o
terreno virgem de ocupações demasiadas. A planta circulare é segmentada em módulos
semelhantes, de forma que todos os apartamentos e edifícios possuem qualidades
semelhantes. Ainda que se assemelhem, as duas torres vizinhas (A e H) compõem uma
dupla enigmática. Suas circunstâncias atuais evocam questionamentos acerca de sua
diferença.
12 Igor Fracalossi, "Terrain Vague / Ignasi de Solà-Morales", Archdaily Brasil, 01 Mar 2012, p. 5.
Acessado em 12 Nov 2021. <http://www.archdaily.com.br/35561/terrain-vague-ignasi-de-sola-
morales> Texto original em espanhol: Ignasi de Solà-Morales, "Terrain Vague" em Territórios.
Barcelona, Gustavo Gili, 2002.
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(Figura 19) Planta de situação ilustrando o plano de massas com 71 torres propostas para o Centro
da Barra, 1970. A Torres construídas estão sinalizadas em vermelho.
H A
Sobre o viés de uma crítica funcional, a Slow House é projetada como uma máquina de
olhar13 enquanto a torre acaba se tornando um organismo improdutivo. A arquitetura
da casa é um maquinário subjetivado, como um ciborgue em sua autoconsciência, ela
intermedia e propõe vistas. O habitante da casa é um espectador ativo, uma vez que é a
partir da sua experimentação visual que os fenômenos são incorporados. Diferente de um
uso previsto por programas e dimensionado por necessidades, o acontecimento permite
a abertura ao acaso, à descontinuidade e à irredutibilidade do momento presente.
A torre se ocupada como o previsto por Niemeyer, seria composta por diferentes
tipologias de dois à seis módulos. Apesar de seu desejo, são executadas somente
plantas de dois módulos. No caso da Torre H, os apartamentos nunca chegam a ser
ocupados, mas todos são configurados igualmente. No labirinto vertical, todos os
módulos se parecem e não há diferenciação senão pela orientação da paisagem.
Não procura-se esgotar o campo territorial da torre, mas talvez exista a possibilidade
de multiplicação da experiência de deslumbre visual. Seria o caso de potencializar o
descobrimento e mistério ao explorar espaços sempre iguais. Por meio de uma superfície
translúcida, a percepção da paisagem e o entendimento do objeto cilíndrico como um
sólido são nublados, como proposto por Jean Nouvel na Tour Sans Fins (1992). Seus
limites, com o solo e com o céu, são ofuscados pelo uso de transparências graduais ou
opacidades que indefinem a forma da torre.
Em questões formais, a Slow House, assim como a Torre H, não possui fachada ou
frontalidade. Como um corpo estranho e de forma indeterminada, a casa se coloca como
uma passagem. A estrada leva a um portal de entrada, e seguindo por seções espaciais
de mesmo raio, chega-se ao recorte imagético. Contudo, a sua curvatura permite que
a imagem final não seja exposta de primeira mão. A casa cria um jogo de sedução que
valoriza o seu ponto máximo.
Ainda que a Torre H não se coloque frontalmente e também não seja constituída por uma
fachada, sua forma é objetiva e apreensível para quem a vê de fora. A implantação circular
é elaborada para que o contato com o solo e a interferência visual entre as torres sejam
mínimos. Internamente, a vista panorâmica não é poupada, de forma que quarto e sala
possuem a vista frontal e imediata. Poderia-se dizer que a Slow House fetichiza a vista
enquanto a Torre H entrega-a de graça, tornando-a rotineira e banalizada.
13. Nicholas Baume, “It’s Still Fun to Have Architecture: An Interview with Elizabeth Diller, Ricardo
Scofidio, and Charles Renfro”, in Baume (org.), Super Vision. Cambridge, MA:MIT Press, 2006, p. 187.
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(Figura 21) Manchete, 26.01.1974, Anúncio de jornal da Desenvolvimento
Engenharia, empresa responsável pela entrega das Torres A e H, sendo
que a última nunca foi concluída.
A Torre H também pode ser lida como um monumento, uma forma escultórica que
representa a falência de uma utopia. O sonho por um bairro que conserva sua vegetação
local e diversifica as classes sociais é concebido por sua vez como um local sem a
possibilidade de diálogo e conflito, possíveis somente nas ruas. Esconder este monumento
é uma forma de revelar as contradições inerentes nele mesmo (figura 21).
O espaço entre as torres A e H é indeterminado, enquanto seus limites são bem definidos.
A implantação moderna no centro de quadra, alienada de qualquer relação imediata,
concebe não-lugares16. O meio-lugar se diferencia deste posicionamento porque se recusa
a escolher entre estabelecer laços ou se colocar impositivamente, monumentalmente. A
partir de um não posicionamento, e de sua desmaterialização, a Torre H deixa de ser um
marco histórico e entra em um campo de possibilidades interpretativas.
14. Richard Scoffier, “Os quatro conceitos fundamentais da arquitetura contemporânea”, em Lei-
turas em teoria da arquitetura, tradução de Guilherme Lassance. Rio de Janeiro, Viana & Mosly
Editora, 2009, p. 165-166.
15. Idem, p. 166-167.
16. Marc Augé, Não-Lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade. São Paulo:
Papirus, 1994.
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pavimento térreo
pavimento tipo
22 medidas em metro
A Torre H
O Centro da Barra faz parte do plano de urbanização da Barra da Tijuca desenvolvido por
Lúcio Costa em 1969 para o projeto de urbanização do bairro. 71 torres cilíndricas são
propostas por Oscar Niemeyer para uma região até então não ocupada. A expansão para
a barra propõe uma espécie de cidade jardim, onde edifícios altos, que mal tocam o solo,
são rodeados por mata nativa e pelos jardins de Roberto Burle Marx.
As torres são estruturadas por três núcleos rígidos excêntricos: o núcleo da escada
enclausurada; o núcleo dos elevadores; o anel que dá acesso às unidades. O desencontro
de seus centros permite inteligentes configurações internas, diferente do que se espera
de um edifício de forma perfeita. Em uma extremidade, a circulação comum é mais
estreita, e onde as portas dos elevadores se abrem, a circulação ganha mais espaço.
Um eixo circular de pilares redondos compõe a estrutura secundária, dos subsolos até o
primeiro pavimento tipo. A partir do segundo andar os pilares de 1,15m de diâmetro são
convertidos, por meio de vigas de transição, em outros retangulares, que se alinham às
paredes e delimitam um módulo habitacional. Estes pilares retangulares se estendem
até a área técnica da cobertura, onde morrem e dão lugar ao coroamento da torre.
Este trabalho propõe outras formas de interagir com a Torre H, sem delimitar sua função ou
a forma como é apreendida. A partir de novas operativas arquitetônicas por uma relação
sensorial entre sujeito-objeto, as possibilidades espaciais e visuais são multiplicadas.
As propostas a seguir se colocam como experimentações que estabelecem, em primeira
instância, uma tensão entre o objeto e sua percepção para além do que é visto.
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A Torre como nuvem
A torre, que hoje se mostra por inteiro, é então levada ao seu ponto oposto, a desaparição.
A torre como nuvem é lida como algo etéreo, e o objeto cilíndrico reconhecível se
desmaterializa para então ser percebido como algo estranho. Similarmente, Solà-Morales
discorre sobre a arquitetura imaterial contemporânea:
São infinitas as analogias ao Blur Building, pavilhão construído pelos arquitetos Diller
Scofidio + Renfro em 2002 para a Swiss Expo. Os arquitetos constroem um pavilhão
que produz o efeito atmosférico de converter água em névoa. A estrutura, o entorno e
o público são encobertos por esta nuvem que indefine o espaço e o entendimento sobre
o mesmo. O pavilhão faz uma apologia à baixa resolução imagética, em contraposição à
alta definição e objetividade visual. Ele propõe uma experiência sensorial única onde não
há nada para se ver ou ouvir.
O Blur Building não existe mais, mas sua presença na memória coletiva é talvez mais
forte por conta do curto período de tempo no qual ficou exposto. Vivenciar um pavilhão é
um acontecimento que, segundo Scoffier, "afirma a descontinuidade, a irredutibilidade de
cada instante"18. Os arquitetos exploram o evento como substância tangível nesta obra. A
fumaça, em sua leveza e fluxo constante, é um elemento construtivo que desmaterializa
o pavilhão e o revela como máquina sensorial.
A torre possui uma otimização visual que a distingue dos edifícios ao seu redor. Sua forma
cilíndrica alcança a maior amplitude óptica possível. Enquanto seus vizinhos possuem
quinas cegas e hierarquias espaciais, a torre é a forma perfeita para, de seu interior, ver
sem ser visto. Não há pontos cegos a partir da torre e tudo que a rodeia está ao alcance
do olhar.
O panóptico é uma idealização da prisão ideal, constituída por uma torre central de
17. Ignasi de Solà-Morales, "Arquitectura Inmaterial" em Territórios. Barcelona, Gustavo Gili, 2002.
p. 148.
18. Idem, p. 167.
27
(Figura 28) A torre como panóptico.
(Figura 29)
(Figura 30)
28
onde o vigilante pode observar todos os prisioneiros sem ser percebido. O esquema foi
concebido pelo filósofo Jeremy Bentham em 1785 e depois fundamentado pelo também
filósofo Michel Foucault em seu livro Vigiar e Punir de 1975. A vigilância constante que
decorre deste sistema é uma forma arquitetônica de poder e doutrinação sobre os corpos.
Apesar de remeter ao sistema de vigilância do pan-óptico (que tudo vê), a torre se coloca
como um mirante que sensualiza a experiência do voyeur, em oposição ao controle
proposto pelo sistema original. A torre como panóptico é um miradouro de 36 patamares
recobertos por uma malha perfurada. Esta permite ver, do escuro para o claro, a paisagem,
as ruas e a intimidade alheia dos prédios vizinhos sem ser percebido. A pele externa se
estende da cobertura ao térreo, como uma cortina ou uma saia, que esconde segredos e
erotiza a experiência do olhar.
As aberturas são mediadas por uma máscara. Essa, de forma contínua, pretende guardar
os segredos contidos no edifício, tornando-o em um objeto não identificável. Como
objeto refere-se ao conceito elaborado por Scoffier, “(...)os edifícios que continuam
a ser silenciosos sobre o seu modo de fabricação, que se recusam a explicar como se
sustentam e para quê servem.”19 Vela-se o funcionamento interno da torre e conspira-
se a sua assombração em uma narrativa de mistério. A superfície é capaz de filtrar a
permeabilidade do olhar e de controlar a percepção sobre a vista panorâmica.
A Torre H é uma das 71 torres propostas no plano de massas do Centro da Barra, cada
qual contendo 36 pavimentos idênticos. A repetição serial pressupõe uniformidade, sem
qualquer diferenciação identitária ou de norteamento espacial. Desta mesma maneira
vive o minotauro de A casa de Astérion20 de Jorge Luis Borges, guardando um labirinto de
infinitas aberturas que o conduzem para inúmeras narrativas de controle e contemplação.
O labirinto descrito por Borges é o calabouço do mundo, cavernoso, e seus caminhos
levam até uma espécie de inferno mitológico.
Em 2016, sete artistas intervêm diretamente sobre a Torre H para a mostra Permanências
e Destruições organizada por João Paulo Quintella. Cada artista propõe uma série de
trabalhos, de forma que cada andar contém instalações que incitam o percurso até a
cobertura. Ali, o artista Igor Vidor instala uma cama elástica, propondo uma experiência
corporal desestabilizante. O acontecimento de se estar suspenso sobre todos os prédios
da barra é único e efêmero.
O cilindro é superfície infinita, assim como o mirante perfeito também é um objeto para
ser visto ou entre-visto. Sobre uma pele externa, a cultura pode espelhar-se por meio
de projeções efêmeras ou especular sobre os seus funcionamentos internos. Assim, a
superfície se mostra como um espelho, manifestando sem de fato modificar-se pelos
acontecimentos que sedia. A torre como pavilhão midiático é um suporte, uma nova mídia
para experiências. De acordo com Beatriz Colomina em seu texto Beyond Pavilions sobre
a obra de Dan Graham, uma sensibilidade distinta é conquistada pela efemeridade do
pavilhão:
"A força máxima do pavilhão é sempre a possibilidade de que ele irá sumir
tão abruptamente como chegou, reorganizando ambições e criando novas
conexões entre o que antes pareciam ser fantasias utópicas e agora são
realidades construídas e plausíveis. O verdadeiro sinal de que um edifício é
um pavilhão é que ele se vai, voa para longe, ou pelo menos promete fazê-
lo. O encontro com um objeto que está prestes a ir é fundamentalmente
diferente. O pensamento de que você pode não conseguir voltar torna a
experiência indescritível, até mesmo romântica. Desafia-se o entendimento
convencional. Posteriormente, o que ocorreu torna-se estranhamente
obscuro, e é esta falta de clareza que abre novos horizontes."21
21. Beatriz Colomina, "Beyond Pavilions: Architecture as a Machine to See." em Dan Graham:
Beyond. Cambridge: MIT Press, 2009, p. 206.
31
(Figura 32)
32
Considerações finais
O Centro da Barra foi concebido para ser o novo centro do rio, no entanto diversos fatores
levaram o plano à falência. Hoje, em meio a prédios americanizados, a Torre H é uma ruína
moderna que se mostra como um suporte para outras possibilidades espaciais.
Será possível que o objeto arquitetônico pode se colocar para o sujeito sem definir
interpretações espaciais, e desta forma continuar evocando o estranhamento do espaço
indeterminado do terrain vague?
As provocações abertas aqui são base para um projeto que será desenvolvido utilizando
a torre como meio. Pretende-se elaborar uma intervenção até a escala de sua execução,
detalhando como este objeto arquitetônico será manifestado para o sujeito no intuito de
uma relação menos literal e mais propositiva.
33
(Figura 33)
34
Bibliografia
Antony Vidler, The Architectural Uncanny: Essays in the Modern Unhomely. Cambridge:
MIT Press, 1992.
Colin Rowe and Robert Slutzky, “Transparency: Literal and Phenomenal” in Colin Rowe,
The Mathematics of the Ideal Villa and Other Essays. Cambridge, MA:MIT Press, 1976.
Originally published in Perspecta, v.8, 1963.
Denise Scott Brown, Robert Venturi e Steven Izenour, Aprendendo com Las Vegas. São
Paulo, Cosac Naify, 2003.
Fashid Moussavi y Michael Kubo, La función del ornamento. Boston: Harvard University.
Graduate School of Design, 2006.
Gerônimo Leitão, “Lúcio Costa e o plano piloto para a Barra da Tijuca: a vida é mais rica
e mais selvagem que os planos urbanísticos” em Revista do Centro Interdisciplinar de
Estudos sobre a Cidade, v. 6 nº 8, 2014.
Hal Foster, O complexo arte-arquitetura. Tradução de Célia Euvaldo. São Paulo, Ubu
Editora, 2017.
Igor Fracalossi, "Terrain Vague / Ignasi de Solà-Morales", Archdaily Brasil, 01 Mar 2012.
Acessado em 12 Nov 2021. <http://www.archdaily.com.br/35561/terrain-vague-ignasi-
de-sola-morales> Texto original em espanhol: Ignasi de Solà-Morales, "Terrain Vague"
em Territórios. Barcelona, Gustavo Gili, 2002.
Iñaki Ábalos y Juan Herreros, “La Piel Fragil” en Áreas de Impunidad. Barcelona: Actar, 1997.
Iñaki Ábalos, A boa-vida.: Visita guiada às casas da modernidade. Barcelona, Gustavo Gili,
2001.
35
(Figura 34)
36
Jorge Luis Borges, “A Casa de Astérion”, em O Aleph, São Paulo, Companhia das Letras,
2008.
Michel Masson, "Jogos reflexivos: os pavilhões de Dan Graham" em ARTE & ENSAIO (UFRJ),
n. 34, 2018, p.151.
Nicholas Baume, “It’s Still Fun to Have Architecture: An Interview with Elizabeth Diller,
Ricardo Scofidio, and Charles Renfro”, in Baume (org.), Super Vision. Cambridge, MA:MIT
Press, 2006.
37
(Figura 35)
38
Créditos de imagem
Figura 3: Ilustração de Robert Venturi, Denise Scott Brown e Steven Izenour, via 99 Percent
Invisible.
Figura 19: Desenho para construção (impressão assinada sobre papel de esboço
impregnado): “Projeto de arquitetura para construção de prédios residenciais no Centro
da Barra, Est. Guanabara, Barra da Tijuca, Situação, Tipo - 6”, escala: 1:100, Oscar Niemeyer,
18.03.1970, tamanho: 770x1200 mm
39
(Figura 36)
40
Figura 21: Anúncio de jornal: “Devolvemos em concreto armado o que recebemos em
confiança”, Manchete, 26.01.1974, tamanho: 512x348 mm.
Figura 23: Desenho para construção (impressão assinada sobre papel de esboço
impregnado): “Projeto de arquitetura para construção de prédios residenciais no Centro
da Barra, Est. Guanabara, Barra da Tijuca, Fachada, Tipo - 6”, escala: 1:100, Oscar Niemeyer,
18.03.1970, tamanho: 770x1200 mm.
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