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HISTÓRIA DA

ARQUITETURA

Cássia Morais Mano


Conceito de arquitetura
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Definir a arquitetura.
 Identificar os princípios norteadores do profissional de arquitetura.
 Sintetizar a história da arquitetura.

Introdução
Segundo Roth (2017), a arquitetura é uma arte inevitável. Afinal, as pessoas
podem escolher não ver uma pintura ou escutar uma música, mas é
impossível evitar a arquitetura. Como você sabe, boa parte das ativida-
des humanas requer um espaço construído, projetado para atender às
necessidades das pessoas: habitação, trabalho ou recreação. Além disso,
a criação de abrigos para proteção acompanha a espécie humana desde
as construções rústicas até a atualidade, com edifícios residenciais, por
exemplo.
Assim, uma visão geral da história da arquitetura é fundamental
para a formação do arquiteto. Além disso, a profissão requer um co-
nhecimento interdisciplinar, envolvendo áreas como história, geome-
tria, sociologia e geografia. A ideia é que o arquiteto compreenda as
atividades humanas e construa espaços esteticamente funcionais para
o desenvolvimento delas.
Neste capítulo, você vai conhecer o conceito de arquitetura e as atri-
buições do profissional da área. Você também vai estudar os principais
períodos da história da arquitetura de maneira sucinta, se familiarizando
com os contextos e as construções mais importantes da trajetória da
disciplina.
2 Conceito de arquitetura

O que é a arquitetura?
Os dicionários costumam definir a arquitetura como a arte de projetar e cons-
truir edifícios. Porém, essa definição limita a arquitetura à construção, enquanto
ela abrange outras questões, como a necessidade de atender à funcionalidade da
construção, uma vez que as construções são feitas para as pessoas exercerem
as suas mais variadas atividades (COSTA, 1980; UNWIN, 2013; FAZIO;
MOFFET; WODEHOUS, 2013).
As pessoas se relacionam com o mundo a partir dos lugares que as cercam,
e aí reside outra atribuição da arquitetura: a criação de lugares, constantemente
posicionando as pessoas no espaço. Portanto, a arquitetura pode ser compre-
endida como a arte ou técnica de projetar e edificar ambientes, organizando o
espaço por meio de elementos e procedimentos compositivos que abrangem o
ordenamento, o contraste, a proporção, a textura, as cores, entre outros aspec-
tos. Segundo Unwin (2013), compreender que a arquitetura é intrinsecamente
ligada aos espaços é fundamental para considerar o papel das pessoas como
agentes transformadores e criadores dos ambientes.
O arquiteto romano Vitrúvio (40 a.C.) estabeleceu que a arquitetura com-
porta três aspectos essenciais: firmitas (solidez), utilitas (funcionalidade) e
venustas (beleza). Assim, para uma construção ser considerada arquitetura,
ela deve apresentar esses três aspectos (FAZIO; MOFFET; WODEHOUS,
2013). Leonardo da Vinci utilizou o trabalho teórico de Vitrúvio contido
na obra Os Dez Livros de Arquitetura para elaborar um esquema ilustrado
apresentando a relação entre o homem e a geometria. Tal esquema se chama
Homem Vitruviano e apresenta as proporções do corpo humano baseadas em
um ideal clássico de beleza, o qual estabeleceria padrões e módulos para as
construções romanas, como as colunas, os arcos e a estrutura geral dos templos
e teatros. Vitrúvio propõe seis divisões àquilo que ele considera a “causa” do
objeto arquitetônico (LEMOS, 1994). Veja a seguir.

 Ordenação: implica organizar os elementos que compõem a construção,


observando o programa de necessidades e o funcionamento pleno do
conjunto de atividades que serão realizadas. A ordenação pode ser feita
por meio de modulação.
 Disposição: consiste em projetar espaços buscando a relação entre os
ambientes, o resultado estético e harmônico da construção.
 Euritmia: significa buscar a harmonia do projeto.
Conceito de arquitetura 3

 Simetria: diferentemente do que se entende hoje por simetria, Vitrú-


vio se referia à procura pelas relações entre as partes, de modo que a
composição resulte em um volume proporcional.
 Conveniência: consiste em projetar espaços buscando a relação entre os
ambientes segundo as características do programa de necessidades do projeto.
 Distribuição: envolve a viabilidade da obra quanto à economia e ao
contexto onde será implantada.

Quanto à questão estética, é o que difere a arquitetura de uma simples


construção. O arquiteto brasileiro Lúcio Costa define a arquitetura como:

[...] construção concebida com o propósito de organizar e ordenar plasticamente


o espaço e os volumes decorrentes, em função de uma determinada época,
de um determinado meio, de uma determinada técnica, de um determinado
programa e de uma determinada intenção (COSTA, 1980, p. 7).

Nesse sentido, a arquitetura é o volume que delimita um lugar onde são


realizadas as atividades das pessoas. Tal lugar é caracterizado por: qualidade
estética, estrutura para resistir à passagem do tempo, correspondência com o
contexto e atendimento à funcionalidade. Considere o seguinte:

A arquitetura é uma disciplina muito complexa. A maioria das pessoas passa


toda a sua vida em contato constante com a arquitetura. Ela nos proporciona
um lugar para morarmos, trabalharmos e nos divertirmos. Com tantas res-
ponsabilidades para a determinação de nossas experiências e com tamanha
variedade de usos, a arquitetura tem formas demais para ser categorizada
com precisão (CHING; ECKLER, 2014, p. 2).

Outra particularidade da arquitetura é necessitar de um terreno ou sítio


para a construção (FARRELY, 2010). A construção deve estar vinculada a
determinado contexto, com características históricas, localização, topografia,
princípios visuais, orientação solar, entre outros aspectos. Por isso, os arqui-
tetos precisam trabalhar com a espacialidade de seus projetos arquitetônicos
no terreno por meio de maquetes eletrônicas ou físicas, apresentando uma
imagem em três dimensões daquilo que planejam para o espaço.
Em linhas gerais, é possível afirmar que criar em arquitetura é solucionar
um problema espacial por meio de um projeto que se mantenha estruturado e
viável ao longo do tempo. Tal projeto deve estar em harmonia com a estética
4 Conceito de arquitetura

e delimitar de forma adequada os lugares onde serão realizadas as atividades


das pessoas (RASMUSSEN, 1998). Conforme Ching (2013), a forma e o
espaço são meios de proporcionar uma resposta arquitetônica a um problema
de função, propósito e contexto.
Por fim, um aspecto que diferencia a arquitetura das demais artes, como
a pintura, a escultura ou a música: é impossível não olhar para a arquitetura,
porque ela está presente em todos os aspectos da vida urbana, afetando o
comportamento e o bem-estar das pessoas (ROTH, 2017). Mesmo aqueles que
apresentam algum impedimento físico, mental ou intelectual — por exemplo,
uma pessoa cega — precisam da arquitetura e entram em contato com ela.
Não é à toa que a arquitetura tem sido considerada a mãe das artes, porque ela
incorpora a vida, é influenciada pelas pessoas e feita para elas (UNWIN, 2013).

Em 1996, a União Internacional de Arquitetos (UIA) elaborou a Carta UNESCO/UIA da


Formação em Arquitetura. Esse documento tem como objetivo regular a qualidade
do ensino em arquitetura em vários países, a fim de aprimorar a formação dos futuros
arquitetos e estabelecer recomendações para instituições de ensino de arquitetura.
Em linhas gerais, o documento afirma o seguinte:
 questões relativas à edificação e ao ambiente devem ser apresentadas desde a
escola, para formar uma consciência sobre o ambiente construído;
 devem existir sistemas de educação continuada para arquitetos, de forma a capacitar
o profissional para lidar com mudanças tecnológicas e alternativas sustentáveis;
 deve-se incentivar o conhecimento sobre o patrimônio arquitetônico;
 existem determinados objetivos para a formação em arquitetura;
 há exigências para que uma instituição possa ministrar o curso de arquitetura.

Profissional de arquitetura
A intenção de construir pequenos abrigos para proteção acompanha a hu-
manidade desde o período Neolítico (Idade da Pedra, de 8000 a.C. até 5000
a.C.). Nesse período, os homens dominaram as ferramentas que permitiram a
construção de suas próprias moradias (Figura 1). Como você pode imaginar,
o ofício do arquiteto foi modificado ao longo dos séculos. O termo “arquiteto”
vem do grego arkhitektôn, que significa “construtor principal” ou “mestre de
obras” (KOSTOF, 1986).
Conceito de arquitetura 5

Figura 1. Construção neolítica.


Fonte: Pecold/Shutterstock.com.

Quanto à responsabilidade de um arquiteto, o Código de Hamurabi (séc.


XVIII a.C.) já elencava punições para o arquiteto que não executasse uma
construção adequadamente. Uma das figuras precursoras da atividade da
construção foi o mestre construtor, que assumia a função de projetar e executar
obras. Na Antiguidade, o prestígio era voltado para as atividades manuais. As-
sim, os ofícios vinculados à construção não eram valorizados (SOUZA, 2013).
As diretrizes para a educação profissional de arquitetos vieram posterior-
mente, com Vitrúvio. Ele afirmava que o arquiteto deveria conhecer artes e
ciências, como história, geometria, matemática, direito e música. Dessa forma,
não se especializaria em um único campo, sendo detentor de um conhecimento
amplo nas mais diversas áreas.
Coube ao arquiteto e artista Leon Battista Alberti (1404–1472) elaborar a
base teórica da arquitetura, estabelecendo princípios de concepção do projeto:
preocupação com o local onde estaria implantada a construção e com o meio
ambiente, os planos compositivos como a base das construções, as paredes,
os telhados e as aberturas. Alberti destacava a importância da cidade para
as realizações humanas e também a relevância das vias de circulação que a
comportam. Além disso, estabelecia uma similaridade entre o construtor de
edificações e o construtor de cidades.
Observando o avanço do conhecimento a respeito da construção pelos
séculos, pode-se dizer que a arquitetura e o urbanismo mantiveram a base e
os princípios elencados por Vitrúvio e Alberti até a atualidade. As principais
mudanças residem nas melhorias dos campos tecnológico e científico.
6 Conceito de arquitetura

Formação em arquitetura
A Resolução nº 2 do Ministério da Educação (MEC), de 19 de maio de 2010,
institui as diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em arqui-
tetura e urbanismo. É possível dividir a formação do profissional em:

 disciplinas de fundamentação teórica (teoria e história da arte e da


arquitetura, desenho arquitetônico, estética, etc.);
 profissionalização (projeto arquitetônico, projeto urbanístico, legislação,
estágio supervisionado em obra, etc.);
 trabalho final de graduação de natureza interdisciplinar, para avaliar
a capacidade do aluno de aplicar os conhecimentos adquiridos por
meio da apresentação de um projeto, desde a concepção até a solução
proposta (BRASIL, 2010, documento on-line).

Durante a colação de grau, os recém-formados arquitetos fazem o seguinte


juramento:

JURO, no cumprimento do meu dever de arquiteto e urbanista, exercer a


função dentro dos princípios da ética, da integridade, da honestidade e da
lealdade; respeitar a Constituição Federal, o Código de Ética Profissional
e as normas institucionais; buscar aperfeiçoamento contínuo e contribuir,
com meu trabalho, para uma sociedade mais justa e humana (TOSETTO;
PADILHA, 2015, p. 5).

Em geral, os cursos de formação em arquitetura possuem boa parte das


disciplinas voltadas para a prática da profissão, ou seja, o projeto arquitetô-
nico. Além disso, estão em jogo questões teóricas de história da arquitetura
e técnicas construtivas. É importante que o arquiteto saiba comunicar ade-
quadamente suas ideias para solucionar projetos, podendo utilizar qualquer
técnica de representação gráfica e modelagem em três dimensões (maquetes
e perspectivas). As representações devem esclarecer e elucidar os elementos
presentes no projeto por meio de uma linguagem gráfica compreendida por
todos (CHING; ECKLER, 2014).
O arquiteto deve nortear a sua atividade por algumas normas de trabalho
essenciais, que estabelecem padrões para garantir a qualidade e o atendimento
universal do projeto arquitetônico e da obra executada. No Quadro 1, a seguir,
você pode ver quais são essas normas.
Conceito de arquitetura 7

Quadro 1. Principais normas relacionadas à arquitetura

NBR 9.050: Norma


NBR 15.575: Norma de Acessibilidade
NBR 16.280: Norma
de Desempenho a Edificações,
de Reformas em
de Edificações Mobiliário, Espaços
Edificações
Habitacionais e Equipamentos
Urbanos

 Trata da qualidade  É válida para  Trata da acessibilidade


dos produtos para edifícios novos, universal aos espaços
garantir segurança, antigos, residenciais, com ou sem ajuda
conforto e resistência. comerciais e reformas de equipamentos
 Determina a dentro do imóvel. específicos.
obrigatoriedade  Determina que  Estabelece que
do profissional de reformas internas áreas comuns de
oferecer um manual deve ser informadas edificações novas
de uso, operação ao síndico e que é devem ser acessíveis,
e manutenção ao necessário apresentar devidamente
usuário do imóvel. plano de reforma. sinalizadas e, em
 Sistemas  Afirma que se deve caso de edificações
contemplados na atentar às alterações já construídas,
norma: estrutura, internas, que existem parâmetros
pisos, vedações, podem interferir flexibilizados
coberturas e na integridade da previstos.
instalações. edificação (estrutura).

Fonte: Adaptado de CAU/BR (2016).

Existem entidades civis responsáveis pelo controle, pela regulamentação


e pelo apoio da atividade de arquitetura e urbanismo. Como exemplos, você
pode considerar: o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), os Institutos
de Arquitetos do Brasil (IABs), os sindicatos de arquitetos (cada estado possui
sua própria entidade) e as associações que focam em atuações específicas
de algum grupo dentro da arquitetura (escritórios de interiores, paisagismo,
ensino de arquitetura e urbanismo, etc.).
Você sabe qual é a diferença entre esses órgãos? O CAU foi criado pela
Lei nº 12.378, de 31 de dezembro de 2010. Ele tem por objetivo:

[...] orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão de Arquitetura e


Urbanismo, zelar pela fiel observância dos princípios de ética e disciplina da
classe em todo o território nacional, bem como pugnar pelo aperfeiçoamento
do exercício da Arquitetura e Urbanismo (CAU/BR, 2016, p. 14).
8 Conceito de arquitetura

Por outro lado, os IABs tratam de questões de interesse do arquiteto, como


as relações entre o profissional e a sociedade e a cultura arquitetônica local. Por
fim, os sindicatos buscam defender e representar os arquitetos, atuam nos direitos
trabalhistas e se preocupam com condições de trabalho, emprego e serviço. Os
sindicatos podem oferecer assessoria técnica, administrativa e judicial à classe,
além de oferecer cursos e seminários com o objetivo de atualizar os profissionais.

A profissão de arquiteto e urbanista é regulamentada no Brasil desde 1933. Em 2010,


foi criado o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), órgão específico para pro-
fissionais da área.

História da arquitetura
A compreensão da história da arquitetura é fundamental para a formação do
arquiteto. Afinal, a história da arquitetura apresenta ao aluno conceitos básicos
da linguagem arquitetônica, bem como elementos que foram evoluindo até a
contemporaneidade. Além disso, confere a ele um conhecimento universal,
cultural e cronológico sobre a evolução da arquitetura.
A necessidade de procurar abrigo para proteção acompanha a humanidade
desde a Pré-História, quando os homens buscavam refúgio nas cavernas ou esta-
beleciam um lugar ao redor de uma fogueira para se proteger das intempéries e de
animais selvagens (UNWIN, 2013). Com o passar dos anos, os homens passaram
a abandonar as cavernas e criar suas próprias “construções” rudimentares, dando
início à organização das atividades ao redor de um lugar protegido, uma espécie
de casa delimitada por pedras.
Logo, ocorre na Pré-História a primeira expressão de construções com o
objetivo de organizar lugares, mas tal expressão ainda não pode ser chamada de
arquitetura. Conforme as construções foram evoluindo e adquirindo sentido em
termos simbólicos e estéticos, a arquitetura foi surgindo (GLANCEY, 2000). Um
dos primeiros monumentos de que se tem registro está localizado em Wiltshire,
na Inglaterra. Ele é denominado Stonehenge (Figura 2), data de 3100 a.C. e é
composto por um círculo de pedras marcando a importância daquele lugar para
celebrações e eventos (FARRELY, 2010).
Conceito de arquitetura 9

Figura 2. Stonehenge, Inglaterra.


Fonte: Nicholas Grey/Shutterstock.com.

Na Antiguidade, com o desenvolvimento da agricultura, surgiram as pri-


meiras cidades, no Vale do Crescente Fértil, próximo ao Mar Mediterrâneo.
As pirâmides são as construções mais expressivas da época. Elas foram cons-
truídas como túmulos reais para faraós. É o caso das pirâmides de Gizé, no
Egito, que datam de 2600 a.C. (Figura 3).

Figura 3. Pirâmides de Gizé, Egito.


Fonte: Baranyi (2018, documento on-line).
10 Conceito de arquitetura

Os templos egípcios para veneração dos deuses apresentavam todo um


tratamento da área externa, com avenidas cercadas por esfinges, conduzindo
as pessoas às áreas internas. Os templos egípcios mais conhecidos são: Templo
de Carnac, de 1530 a.C. (Figura 4) e Templo de Luxor e Tebas, que data de
1408 a 1300 a.C. (GLANCEY, 2000).

Figura 4. Templo de Carnac, Egito.


Fonte: Krivinis/Shutterstock.com.

Mais adiante, o mundo antigo grego apresentava ordem e harmonia em


seus templos dedicados aos deuses. O templo mais célebre é o Partenon (490
a.C.), com suas colunas dóricas, localizado em um ponto alto da cidade de
Atenas (Figura 5).

Figura 5. Partenon, Atenas.


Fonte: Orangehd/Shutterstock.com.
Conceito de arquitetura 11

Na Roma Antiga, o exemplar icônico da arquitetura é o Panteão (118 d.C.),


templo com uma cúpula grandiosa que permite a entrada da luz em um óculo
central, hoje localizado no centro de Roma (Figura 6).

Figura 6. Cúpula do Panteão, Roma.


Fonte: Rafael Dias Katayama/Shutterstock.com.

Na Idade Média, ocorreram construções de catedrais realizadas por toda


a população. O conhecimento relativo às construções era limitado a poucos
e guardado pelas corporações de ofício. Assim, mestres obreiros elaboravam
e conduziam as obras. Segundo Farrely (2010), um exemplar arquitetônico
expressivo foi executado em 1194: a Catedral de Chartres, próxima a Paris,
cuja arquitetura gótica apresenta nave central com altura de 37 metros e cujos
arcobotantes sustentam as paredes externamente (Figura 7).

Figura 7. Catedral de Chartres, França.


Fonte: Radu Razvan/Shutterstock.com.
12 Conceito de arquitetura

O período do Renascimento trouxe à tona os ideais e formas clássicas


(gregas e romanas) para a arquitetura, bem como o uso da geometria e da ma-
temática para a execução de obras harmoniosas e simétricas. Nessa fase, foram
construídas obras expressivas até a atualidade, como a Cúpula da Catedral de
Santa Maria del Fiore, em 1417 (Figura 8), e os palácios adornados com arcos,
predomínio de linhas horizontais e diferenciação nos pavimentos (Figura 9).

Figura 8. Catedral Santa Maria del Fiore,


Florença.
Fonte: SkandaRamana/Shutterstock.com.

Figura 9. Palácio Strozzi, Florença.


Fonte: Angeli (2015, documento on-line).
Conceito de arquitetura 13

Você sabia que um dos primeiros arquitetos a utilizar o desenho em escala foi Filippo
Brunelleschi (1377–1446)? Uma de suas construções mais expressivas foi a cúpula da
Catedral Santa Maria del Fiore, em Florença, feita em tijolos com um arranjo chamado
“espinha de peixe”. Tal arranjo consiste em ângulos que proporcionam uma fricção entre
os elementos, mantendo-os firmes e com a carga distribuída em toda a circunferência
da cúpula. Mesmo após mais de 500 anos de sua construção, essa continua sendo a
maior cúpula feita em alvenaria.

Com a Revolução Industrial, que começou na década de 1750, na Inglaterra,


o ferro e as suas potencialidades passam a dominar as construções da Idade
Moderna. A Biblioteca Nacional de Paris (1859–1867), do arquiteto Pierre-
-François-Henri Labrouste, foi construída com colunas esguias em ferro
fundido, e o espaço central é estruturado com treliças metálicas (Figura 10).

Figura 10. Biblioteca Nacional da França, em Paris.


Fonte: Martins (2015, documento on-line).

A arquitetura moderna emerge no século XX com a rejeição aos orna-


mentos clássicos e a procura por volumes simples, formas básicas e materiais
aparentes, como o concreto armado, o aço e o vidro. O Pavilhão de Barcelona,
do arquiteto alemão Ludwig Mies van der Rohe, é um exemplar arquitetônico
que engloba todos esses aspectos modernos (Figura 11).
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Figura 11. Pavilhão de Barcelona.


Fonte: Miguel(ito)/Shutterstock.com.

Na atualidade, predomina uma arquitetura que abraça diversas tendências


e técnicas. Destacam-se as inúmeras possibilidades de criação de estruturas
diferenciadas e o desenvolvimento de projetos realizados inteiramente por
meio de ferramentas computacionais. Há, por exemplo, arquiteturas com
linhas orgânicas e curvas, como proposto pela arquiteta Zaha Hadid no Heydar
Aliyev Centre, de 2003 (Figura 12).

Figura 12. Heydar Aliyev Centre.


Fonte: Heydar ... (2016, documento on-line).
Conceito de arquitetura 15

Além disso, há as formas geométricas com ângulos obtusos, como as cria-


das pelo arquiteto Daniel Libeskind no Museu Real de Ontário, em Toronto,
construído em 2005 (Figura 13).

Figura 13. Museu Real de Ontário, Toronto.


Fonte: Royal Ontario Museum ([201-?], documento on-line).

A Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo (ABEA) foi fundada


em 1973 com o intuito de regulamentar o processo de ensino e aprendizagem de
arquitetura e urbanismo. Como exemplos de legislação educacional no campo da
arquitetura, considere os documentos listados a seguir.
 Diretrizes curriculares nacionais: estabelecem a organização do curso de arquitetura
e urbanismo; o projeto pedagógico a ser seguido; as habilidades a serem desen-
volvidas; os conteúdos curriculares; a avaliação e o acompanhamento.
 Perfis da área e padrões de qualidade (MEC): diagnóstico e prognóstico da situação
nacional do ensino em arquitetura e urbanismo, com o objetivo de estabelecer
melhores condições para a formação de um profissional capaz de atender às
demandas da sociedade.
16 Conceito de arquitetura

ANGELI, F. Palazzo Strozzi e suas exposições imperdíveis em Firenze. In: FABIO in giro.
[S. l.: s. n.], 2015. Disponível em: https://fabioingiro.com/2015/10/21/palazzo-strozzi-e-
-suas-exposicoes-imperdiveis-em-firenze/. Acesso em: 10 jul. 2019.
BARANYI, L. Arqueólogo pode ter descoberto o segredo da forma das pirâmides. Su-
perInteressante, fev. 2018. Disponível em: https://super.abril.com.br/ciencia/arqueologo-
-pode-ter-descoberto-o-segredo-da-forma-das-piramides/. Acesso em: 8 jul. 2019.
BRASIL. Ministério da Educação. Resolução n. 2, de 19 de maio de 2010. Dispõe sobre as
Diretrizes Nacionais para a oferta de educação para jovens e adultos em situação de
privação de liberdade nos estabelecimentos penais. Brasília, DF, 2010. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=14906.
Acesso em: 8 jul. 2019.
CAU/BR. Manual do arquiteto e urbanista/conselho de arquitetura e urbanismo do Brasil.
Brasília: CAU/BR, 2016.
CHING, F. D. K. Forma, espaço e ordem. Porto Alegre: Bookman, 2013.
CHING, F. D. K.; ECKLER, J. F. Introdução à arquitetura. Porto Alegre: Bookman, 2014.
COSTA, L. Arquitetura: biblioteca educação é cultura. Rio de Janeiro: FENAME, 1980.
FARRELY, L. Fundamentos de arquitetura. Porto Alegre: Bookman, 2010.
FAZIO, M.; MOFFET, M.; WODEHOUSE, L. A história da arquitetura mundial. Porto Alegre:
AMGH, 2011.
GLANCEY, J. A história da arquitetura. São Paulo: Loyola, 2000.
HEYDAR Aliyev Center. In: BAKU Explorer. [S. l.: s. n.], 2016. Disponível em: http://www.
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KOSTOF, S. The architect: chapters in the history of the profession. New York: Oxford
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LEMOS, C. O que é arquitetura. São Paulo: Brasiliense, 1994.
MARTINS, A. A. Liberdade estática, razão estética: permeabilidades entre arquitetura e
engenharia na obra de Oscar Niemeyer. 2015. 259 f. Dissertação (Mestrado) – Univer-
sidade de São Paulo, São Paulo, 2015. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/
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RASMUSSEN, S. E. Arquitetura vivenciada. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
ROTH, L. M. Entender a arquitetura: seus elementos, história e significado. São Paulo:
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ponível em: https://www.hisour.com/pt/royal-ontario-museum-toronto-canada-5933/.
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Conceito de arquitetura 17

SOUZA, J. A. D. A prática profissional do arquiteto no Brasil: o debate em revistas espe-


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teses.usp.br/teses/disponiveis/102/102132/tde-02072013-144823/pt-br.php. Acesso
em: 8 jul. 2019.
TOSETTO, J.; PADILHA, E. Arquiteto 1.0: um manual para o profissional recém-formado.
Balneário Camboriú: Oitonovetrês, 2015.
UNWIN, S. A análise da arquitetura. Porto Alegre: Bookman, 2013.

Leituras recomendadas
ABEA. UNESCO/UIA carta para educação dos arquitetos. [S. l.: s. n.], 2011. Disponível em:
http://www.abea.org.br/?page_id=304. Acesso em: 8 jul. 2019.
PEREIRA, J. R. A. Introdução à história da arquitetura: das origens ao século XXI. Porto
Alegre: Bookman, 2010.

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