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Prof.

Luiz Algemiro Cubas Guimarães


SISTEMAS ESTRUTURAIS I (AU 015)
MÓDULO 1 – INTEGRAÇÃO HARMÔNICA DO
ESPAÇO ESTRUTURAL AO ESPAÇO
ARQUITETÔNICO

1.1 Introdução
Todo arquiteto, como também todo estudante de arquitetura, já se convenceu ( ou, deveria ter se
convencido) da importância do conhecimento estrutural para a sua formação, mesmo que a
aquisição de tais conhecimentos seja complexa.

O arquiteto contemporâneo deve estar familiarizado com estatística, engenharia, sociologia,


economia, urbanismo e planejamento, entre outros. O conhecimento das ferramentas necessárias
para compreender a tecnologia moderna, na maioria das vezes, é limitado, pois a matemática, a
física e a química não são disciplinas essenciais para a sua formação.

Por outro lado, o conhecimento do engenheiro nas áreas sociológica, estética e do planejamento é
tão limitado quanto o do arquiteto com respeito às matérias técnicas.

Um diálogo entre arquiteto e engenheiro é praticamente impossível: carecem de um vocabulário


comum. Como este diálogo é necessário, pergunta-se: deve o engenheiro ter mais conhecimentos
de arquitetura ou o arquiteto mais conhecimento de engenharia?

A chamada Arquitetura Moderna deu lugar a criações das mais ousadas e originais e, por vezes,
excêntricos tipos estruturais. Sob este aspecto, têm surgido discussões e debates de opiniões,
nem sempre uniformes entre engenheiros e arquitetos, uns com aprecia es sob o ponto de vista
estrutural e outros sob o aspecto da arquitetura. Entre as questões sobre as quais divergem esses
profissionais, uma das mais importantes resume-se na indagação: uma edificação deve ser
dependente da estrutura ou o projeto estrutural deve adaptar-se às mais livres concepções
arquitetônicas? Inicialmente, de uma forma simplista, os dois profissionais estão diante de um
único problema que é o projeto de uma edificação. Normalmente surgem diferenças relativas à
própria formação de cada um e sua interação é importante, contribuindo assim, para soluções
melhores e mais adequadas.
Ao se abordar os aspectos necessários ao interesse daqueles que projetam ou constroem os
espaços, deve-se observar as diferenças de formação e experiências de cada um no que diz
respeito tecnologia construtiva. O sucesso do empreendimento está acima de todo e qualquer
interesse, pois o conhecimento sobre estruturas importante é para aqueles que (SALVADORI,
1990):
• amam as edificações e querem saber porque se mantém em pé;
• sonham em projetar edificações e querem que se mantenham em pé;
• tendo projetado edificações, querem saber porque têm se mantido em pé.

Para se entender bem a estreita ligação entre Engenharia e Arquitetura, deve-se estar atento para
o fato de que novos Sistemas Estruturais oferecem a possibilidade de criação de novas
Expressões Arquitetônicas que, por sua vez, exigem novos Sistemas Estruturais, formando um
círculo interminável que vem permitindo a evolução tanto da Engenharia como também da
Arquitetura através dos tempos.

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Teatro Villa-Lobos - São Paulo

Para se compreender melhor a parte TÉCNICA de uma obra, é necessário o conhecimento de


alguns pontos, como por exemplo: quais os tipos de carregamento que atuam em uma edificação,
quais os esforços que surgem nos elementos estruturais provenientes destes carregamentos,
quais as tensões que estes esforços provocam.

Algumas citações de ilustres “figuras” do ‘meio’ da ARTE DE PROJETAR:

ƒ Alfred Willer

"Não se admite mais que hoje se faça um anteprojeto e não se localizem os elementos estruturais,
ou seja, o projeto arquitetônico e o estrutural estão ligados, pois quem propõe a estrutura e quem a
viabiliza e a dimensiona é o engenheiro. Logo, o arquiteto tem que ter uma boa experiência de
como funciona a estrutura.
O objetivo da cadeira Sistemas Estruturais no curso de Arquitetura não é tornar o Arquiteto um
calculista, mas fazer os estudantes entenderem como funciona uma estrutura, conhecer as várias
opções estruturais e propor, dentro do projeto arquitetônico, uma solução viável".

ƒ Roberto Luiz Gandolfi

"A trilogia função, técnica e plástica é Arquitetura. Não é possível criar um espaço sem saber as
técnicas e instalações necessárias para que se desempenhe todas as funções satisfatoriamente.
As técnicas que têm que servir a esta função não são influência sobre a Arquitetura e sim a própria
Arquitetura".

ƒ Leonardo Tossiaki Oba

"Os elementos técnicos mais expressivos na Arquitetura são, em geral, as suas estruturas. A
estrutura define e estabelece o espaço arquitetônico. Cada arquiteto acaba por desenvolver um
modo particular de expressão estrutural. Pessoalmente acho que se devem evitar excessos e
buscar sempre uma coerência nas decisões usando técnicas adequadas para cada caso. Ou seja,
usar vãos maiores somente quando necessário e quando não houver necessidade de flexibilidade
ou grandes vãos, procurar soluções estruturais mais simples. Seria algo como uma”composição
estrutural" onde cada espaço tem uma solução mais sintonizada com as suas necessidades e o
conjunto se expressa como um todo coerente e composto."

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SISTEMAS ESTRUTURAIS I (AU 015)
MÓDULO 1 – INTEGRAÇÃO HARMÔNICA DO
ESPAÇO ESTRUTURAL AO ESPAÇO
ARQUITETÔNICO

ƒ Oscar Niemeyer

"A Arquitetura e a Engenharia são duas coisas inseparáveis.


A estrutura é a própria Arquitetura, não existe Arquitetura sem estrutura.
Quando o tema permite, é preciso invadir o campo fecundo da imaginação e fantasia e procurar a
forma diferente, a surpresa arquitetural. E aí surgem as conquistas estruturais inovadoras; os
grandes vãos livres, os balanços enormes, as cascas finíssimas, enfim, tudo que pode demonstrar
o progresso da técnica em toda sua plenitude".

ƒ Lúcio Costa

"Enquanto satisfaz apenas as exigências técnicas e funcionais - não é ainda Arquitetura; quando
se perdem intenções meramente decorativas - tudo não passa de cenografia; mas quando -
popular ou erudita - aquele que a ideou, pára e hesita, ante a simples escolha de um espaçamento
de pilar ou da relação entre a altura e a largura de um vão, e se detém na procura obstinada da
justa medida entre cheios e vazios, na fixação dos volumes e subordinação deles a uma lei, e se
demora atento ao jogo dos materiais e seu valor expressivo - quando tudo isto se vai pouco a
pouco somando, obedecendo aos mais severos preceitos técnicos e funcionais, mas, também,
àquela intenção superior que seleciona, coordena e orienta em determinado sentido toda essa
massa confusa e contraditória de detalhes, transmitindo assim ao conjunto, ritmo, expressão,
unidade e clareza - o que se confere à obra o seu caráter de permanência: isto sim é Arquitetura".

Conclui-se então, pelos depoimentos acima, que os Arquitetos sempre levam em


consideração a técnica, concluindo que ela é de grande importância no desenvolvimento
dos projetos tanto Arquitetônico quanto Estrutural, trabalhando sempre em conjunto,
sempre inseparáveis um do outro.

1.2 A Estrutura (Espaço Estrutural) como preservação da Forma


(Espaço Arquitetônico)
O meio material da humanidade é constituído por OBJETOS, isolados ou em conjunção, animados
ou inanimados, crescidos e construídos. Segundo a fonte de sua origem estão divididos em:
NATURAIS e TÉCNICOS.

Porém, todos os objetos operam e/ou manifestam-se através de sua FORMA, ou seja, a forma no
domínio físico é a distribuição da substância do objeto em três dimensões, ou mesmo, é a
geometria do objeto. Portanto, as formas sempre têm uma FUNÇÂO, ou seja, a preservação da
forma é um pré-requisito para a perpetuação da função.

Cada forma material, ou seja, o próprio objeto representado pela forma, está inevitavelmente
exposto à ação de forças gravitacionais (peso). Outras forças surgem de acordo com sua função,
com sua característica e finalmente das condições do ambiente.

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Podemos então afirmar, que a existência de um objeto e sua forma está necessariamente
condicionada à condição de suportar àquelas forças. Então, o objeto repousa sobre sua
capacidade de “suportar” forças de vários tipos, onde a consistência que confere esta capacidade
é a ESTRUTURA.
Finalmente, afirmamos (sem nenhum receio) que: somente através de suas estruturas, as formas
materiais do meio permanecerão intactas, e somente assim poderão exercer suas funções
específicas.

1.3 A Essência da Estrutura


As Estruturas na natureza e na técnica não se prestam somente a controlar o seu peso próprio,
mas também, e aqui é que falamos de OBJETOS TÉCNICOS, o de receber carga (forças)
adicional. Esta ação é o que se chama de “suporte”.
A essência do processo de suporte não é somente uma simples ação de recebimento de cargas; é,
na verdade, o processo interno de operação de TRANSMITI-LAS. Se não tiver a capacidade de
transferir e descarregar cargas, um sólido não pode suportar seu próprio peso e menos ainda uma
sobrecarga.
A estrutura, portanto, faz funcionar totalmente juntas as três operações subseqüentes:
1. Recepção de carga
2. Transmissão de carga
3. Descarga
Há quem defina Arquitetura como sendo o ESPAÇO TÉCNICO do meio físico, onde “Técnico”
significa a qualidade de ‘ser modelado pelo homem’, que consiste em ‘não ter sido originado por si
mesmo’, e se as Estruturas na natureza e na técnica servem essencialmente ao propósito de
sustentar a forma física, aquilo a ser modelado pelo homem. Então podemos afirmar que sem
estrutura, não há harmonia, nem a sustentação do Espaço Técnico.

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