Você está na página 1de 5

Clássicos da Arquitetura: Unite d´Habitation /Le Corbusier

Após a Segunda Guerra Mundial, o défice habitacional estava num nível nunca antes
visto. A Unidade de Habitação em Marselha, França, foi o primeiro projeto em larga escala do
famoso arquiteto, Le Corbusier. Em 1947, a Europa ainda sentia os efeitos da Segunda Guerra
Mundial, e Le Corbusier foi contratado para projetar um conjunto habitacional para a
população recolocada após os atentados.

Concluído em 1952, a Unite d’Habitation foi o primeiro de uma série de projetos


habitacionais de Le Corbusier, cujo principal objetivo era o foco na vida comunitária de todos
os moradores, um lugar para fazer compras, divertir-se, viver e socializar, uma “cidade-jardim
vertical”.
A Unite d’Habitation foi uma nova abordagem, tanto para Le Corbusier, quanto a
novas formas de criar um grande complexo residencial para acomodar cerca de 1600
moradores, especialmente pois o arquiteto nunca tinha feito edifícios de uma escala tão
importante, comparado às moradias dos anos 20. Ao projetar para um numero tao
significativo de habitantes, o instinto natural é projetar horizontalmente espalhando-se sobre
a paisagem, mas, em vez disso, o arquiteto projetou um edifício moderno, residencial e de
grande altura.

A ideia de Le Corbusier da “cidade-jardim vertical” baseou-se em trazer a vila para


dentro de um volume maior, permitindo aos habitantes terem os seus próprios espaços
privados e fora desses setores privados, poderiam fazer compras, comer, exercitar-se e reunir-
se.

Com cerca de 1600 habitantes divididos entre 18


pavimentos, o projeto exigia uma abordagem inovadora
para a organização espacial de modo a acomodar os
espaços de estar, bem como os espaços públicos.
Curiosamente, a maioria dos aspetos comuns não
ocorrem no interior do edifício, mas inseridos na
cobertura.

A cobertura torna-se um terraço jardim com uma


pista de corrida, um clube, um jardim de infância, um
ginásio e uma piscina. Ao lado, há lojas, instalações
médicas, e até mesmo um pequeno hotel distribuído por
todo o interior da edificação. A Unite d´Habitation é
essencialmente uma “cidade dentro da cidade”, que é
espacialmente, bem como funcionalmente, otimizada
para os moradores.

Diferente das usuais fachadas brancas de Le


Corbusier, a Unite d’Habitation foi construída em betão
armado aparente, que era o material mais acessível na
Europa pós-guerra. No entanto, isso também pode ser interpretado como uma aplicação
materialista com objetivo de caracterizar o estado condicional da vida após a guerra- áspera,
desgastada e implacável.
Mesmo que a Unite d’Habitation não assuma as mesmas qualidades materialistas da
maioria dos projetos de Le Corbusier, ainda há um sentimento de influência mecanista, além
dos 5 pontos desenvolvidos pelo mesmo na década de 1920: os grandes volumes dos edifícios
são apoiados sobre pilotis massivos que permitem a circulação, jardins e espaços de convívio
abaixo do edifício; o terraço jardim cria o maior espaço comum no edifico, e o pátio
incorporado no sistema de fachada minimiza a perceção da altura da edificação, criando
também uma janela fita enfatizando a horizontalidade do grande volume.

Além disso, é evidente que as influências mecanicistas de Le Corbusier de outras


indústrias não se tenham perdido no projeto. Tão massiva como a Unite d’Habitation é,
assemelha-se ao navio a vapor que tanto intriga o arquiteto.
O enorme volume parece estar a flutuar, as janelas
em fita lembram as cabines que correm ao longo do casco
do navio, enquanto que o terraço jardim e as torres de
ventilação esculturais aparentam ser o deck superior e as
chaminés. Apesar de esses elementos serem bastante
figurativos e abertos à interpretação baseada na perceção,
há uma ligação intrínseca entre ambos.

Um dos aspetos mais interessantes e importantes


do projeto é a organização espacial das unidades
residenciais. Diferentemente da maioria dos projetos
habitacionais que contam com um único corredor com
unidades em cada lado, Le Corbusier projetou as unidades
para abranger toda a largura do edifício, bem como ter um
espaço de estar com o pé-direito duplo reduzindo o
numero de corredores necessários para um a cada 3
pavimentos.

Ao estreitar as unidades e
permitir um espaço de pé-
direito duplo, o arquiteto
pôde inserir mais unidades
habitacionais no edifício,
criando um sistema
interligado de volumes. Em
cada extremidade das unidades há um balcão protegido por um “brise-solei” (expressão
francesa para dispositivo utilizado para impedir a incidência direta da radiação solar nos
interiores de um edifício), que permite a ventilação cruzada através da unidade, fluindo pelos
dormitórios estreitos até os espaços de pé-direito duplo, enfatizando um volume aberto, no
lugar de uma planta aberta.

A Unite d’Habitation em Marselha é um dos mais importantes projetos de Le


Corbusier, assim como uma das respostas arquitetónicas mais inovadoras para uma edificação
residencial, inclusive o projeto é citado como influência para o estilo brutalista com o uso de
betão aparente. O projeto tem sido exemplo para a habitação coletiva em todo o mundo, no
entanto, nenhum empreendimento foi tão bem-sucedido como este.

Você também pode gostar