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Teoria e História da Arquitetura e do

Urbanismo: Séculos XIX e XX

O Movimento Moderno

Le Corbusier

Mies van der Rohe


Le Corbusier: primeiros anos
 Nascido Charles-Édouard Jeanneret
(1887-1965), na cidade suíça de La
Chaux-de-Fonds;
 Assume o pseudônimo “Le Corbusier”
em 1920, pondo em prática a sua
crença de que “qualquer um pode se
reinventar”;
 Ao longo de sua formação como designer e gravador
na escola local de artes e ofícios, Le Corbusier
envolveu-se, no final da adolescência, com as últimas
fases do movimento Arts and Crafts e com o
Jugendstil (o estilo correspondente ao Art Nouveau
nos países germânicos).
Le Corbusier: primeiros anos
 Após uma curta temporada de estudos em Viena (com
o arquiteto Joseph Hoffmann), e, principalmente,
após um encontro com Tony Garnier em 1907
(quando conhece a sua Cité Industrielle), Le Corbusier
muda radicalmente suas referências: “Esse homem
sabia que o nascimento iminente de uma nova
arquitetura dependia de fenômenos sociais. Seus
planos revelavam uma grande facilidade”.
(Depoimento sobre
Garnier)

Tony Garnier
(Cité Industrielle)
Le Corbusier: primeiros anos
 Em 1908, Le Corbusier muda-se para Paris e
consegue um emprego com Auguste Perret (àquela
altura, já famoso por suas realizações em concreto
armado);
 O contato com Perret, admirador
dos “valores humanistas das
formas clássicas”, convenceu-o
de que este material (o concreto
armado), por razões econômicas
e estéticas, era o material do
futuro.

Auguste Perret:
Garage Ponthieu (1907)
Le Corbusier: primeiros anos
Le Corbusier: primeiros anos
 Em 1910, Le Corbusier viajou para a Alemanha com o
objetivo de ampliar seu conhecimento da técnica do
concreto armado;
 Lá, manteve contato com as principais figuras do
Deutsche Werkbund, vindo inclusive a trabalhar no
escritório de Peter Behrens (onde ele conheceu Mies
van der Rohe e Walter Gropius também).

Peter Behrens
Le Corbusier: primeiros anos
 Em 1913, Le Corbusier retorna à Suiça, onde, além de
assumir um cargo docente, aproveita para abrir o seu
próprio escritório (e manter-se afastado dos horrores
da Primeira Guerra Mundial).

Cinema Scala
(1916)

Villa Jeanneret-Perret, também


conhecida por Maison
Blanche, construída em 1912
para seus pais
Le Corbusier: primeiros anos
 Durante este período na Suíça, Le Corbusier
aproveita para desenvolver estudos em arquitetura
usando justamente as modernas técnicas
construtivas;
 Em 1915, como fruto desses estudos (e junto com o
amigo engenheiro Max du Bois), Le Corbusier
“desenvolveu duas ideias que moldariam seu
desenvolvimento ao longo de toda a década de
1920”: a Maison Dom-Ino (que “se tornaria a base
estrutural da maioria de suas casas até 1935”) e os
conjuntos urbanos projetados para serem
construídos sobre pilastras (pilotis): a Ville
Radieuse.
Le Corbusier: primeiros anos
 O projeto da Casa Dom-Ino era bastante arrojado:
uma unidade modular que podia ser repetida em
inúmeros arranjos, de forma a atender a múltiplas
necessidades.
Le Corbusier: primeiros anos
 Detalhe: o próprio nome (Dom-Ino) era um jogo
com a palavra “dominó”, um nome industrial
patenteado, “denotando uma casa tão
estandardizada quanto um dominó”, imitando o
jogo inclusive no desenho em ziguezague de um
conjunto dessas casas.
Le Corbusier: primeiros anos
 Le Corbusier em Por uma arquitetura (1923): “Se
eliminarmos de nossos corações e mentes todos os
conceitos mortos a propósito das casas e examinarmos
a questão a partir de um ponto de vista crítico e
objetivo, chegaremos à “Máquina de Morar”, a casa de
produção em série, saudável (também moralmente) e
bela como são as ferramentas e os instrumentos de
trabalho que acompanham nossa existência”.

 Aldo Rossi: “É a definição


mais revolucionária da
arquitetura moderna.”
Le Corbusier: 1916-1927
 A primeira aplicação direta do conceito da Maison
Dom-Ino é apresentada em 1922 (mesmo ano do
projeto da Ville Contemporaine, que veremos mais
adiante), com o projeto da Maison Citrohan;
 A Maison Citrohan usava a estrutura em concreto
armado para projetar um longo volume retilíneo,
aberto numa das extremidades.
Le Corbusier: 1916-1927
 Dentro desse tipo básico, Le Corbusier “criou pela
primeira vez seu espaço vital característico de pé
direito duplo, completado por um mezanino-
dormitório e quartos para as crianças na parte
superior”.
Le Corbusier: 1916-1927
 Em suas palavras: “Simplificação da fonte de luz; uma
única abertura em cada extremidade; duas paredes
laterais de suporte; uma cobertura plana; uma
verdadeira caixa que poderia ser usada como uma
casa”.

Maison Citrohan
Le Corbusier: 1916-1927
 Em 1926, Le Corbusier teve a oportunidade de usar
uma versão da Maison Citrohan nos projetos das
cidades que projetou em Pessac e em Liége (França).

Pessac
Le Corbusier: 1916-1927
 Pessac, nas palavras de Frampton, “foi uma
culminação de suas incessantes tentativas, no início
da década de 1920, de pôr em prática seus diversos
projetos para a moradia estandardizada”.

Pessac
Le Corbusier: 1916-1927
 A Ville Contemporaine, por sua vez, evidenciou o
desejo de Le Corbusier em aplicar no urbanismo as
ideias propostas para a arquitetura;
 Influenciado pelas metrópoles de arranha-céus dos
EUA, Le Corbusier projetou a Ville Contemporaine
como uma “cidade capitalista de elite” para 3 milhões
de habitantes, que funcionaria como um “centro de
administração e controle” de um complexo maior que
incluía “cidades-jardim” para os trabalhadores, zonas
industriais, um cinturão verde etc.
Le Corbusier: 1916-1927
 A cidade - cujo plano era rigorosamente simétrico, com
vias ortogonais e diagonais “conforme o modelo
acadêmico” - consistia em blocos residenciais de 10 a
12 andares cada, além de 24 escritórios centrais com 60
andares, sendo o conjunto cercado por um parque que
manteria a separação
de classe entre a
“elite urbana” e o
“proletariado
suburbano”.
Le Corbusier: 1916-1927
As zonas da cidade também
seriam separadas por
FUNÇÕES!

Ville Contemporaine (1922): maquete


Le Corbusier: 1916-1927
 A maior crítica feita à Ville Contemporaine foi a falta
de previsão para o crescimento independente de
diferentes zonas da cidade... Ou seja, e se o setor
comercial precisasse crescer? E se o setor residencial
central quisesse aumentar? Não seria possível, pois
eles já estariam cercados pelos prédios de outros
setores!
Zonas monofuncionais
criam cidades
dependentes de carros e
com limitações de
crescimento seguindo
um mesmo plano!
Le Corbusier: 1916-1927
 Em 1926, Le Corbusier, condensando o resultado de
vários anos de pesquisas, finalmente relaciona os
seus famosos “Cinco pontos da Arquitetura”,
publicados pela primeira vez na revista francesa
L’Esprit Nouveau. São eles:
1. Planta Livre (obtida mediante a separação entre as
colunas estruturais e as paredes que subdividiam o
espaço): “O concreto armado traz, para a casa, a
planta livre! Os andares não precisam mais ser
encaixados uns sobre os outros. Estão livres. Grande
economia de volume construído, utilização rigorosa de
cada centímetro. Grande economia de dinheiro.
Cômoda racionalidade da nova planta!”.
Le Corbusier: 1916-1927
2. Fachada Livre (“o corolário da planta livre no plano
vertical”): “As pilastras afastam-se em relação à
fachada, na direção da parte interna da casa. O
pavimento prossegue em falso, na direção do
exterior. As fachadas são apenas
frágeis membranas, de paredes
isoladas ou de janelas. A fachada
está livre; as janelas, sem se
interromperem, podem correr de
um lado a outro da fachada”.

Casa Curutchet
(Buenos Aires,1949)
Le Corbusier: 1916-1927
3. Pilotis (que elevam a massa construída acima do
solo): “A casa sobre pilotis! (...) O concreto armado
torna possível os pilotis. A casa fica no ar, longe do
terreno; o jardim passa sob a casa, o jardim também
está sobre a casa, no teto”.
Villa Savoye

Sem ocupar totalmente


o terreno, o espaço
criado pelos pilotis pode
inclusive ser usado pela
comunidade! Ou seja, as
casas não seriam mais
obstáculos à plena
circulação...
Le Corbusier: 1916-1927
4. Terraço-jardim (o jardim de cobertura que “recriaria” o
terreno coberto pela construção da casa): “O concreto
armado é o novo meio que permite a realização das
coberturas homogêneas. (...) Medida particular de
proteção: (...) lajes de concreto com juntas afastadas.
Estas juntas são plantadas com grama. Areia e raízes
não deixam que a água se infiltre rapidamente. Os
jardins-terraço tornam-se opulentos: flores, arbustos e
árvores, um prado”.
“Razões técnicas, econômicas,
funcionais e sentimentais
levam à adoção do teto-
terraço.”
Villa Savoye
Le Corbusier: 1916-1927
5. Janelas em fita (ou fenétre en longueur, a longa
janela corrediça horizontal): “A janela é um dos
elementos essenciais da casa. O progresso traz uma
libertação. O concreto armado revoluciona a história
da janela. As janelas podem correr de um lado a outro
da fachada. A janela é o elemento mecânico-tipo da
casa: para todos os nossos alojamentos unifamiliares,
as nossas casas, nossas casas operárias, nossos
edifícios de aluguel...”.

Maison Cook
Le Corbusier: 1916-1927
 Esse texto, na época, provocou inúmeras críticas e
debates tanto entre os “modernistas” quanto entre
os “tradicionalistas”;
 L. Benevolo: “Hoje nos damos conta, naturalmente,
do caráter restrito e elementar do texto escrito em
1926, quando o comparamos com a enorme
problemática que temos à nossa frente. Tudo isto
não deve nos fazer esquecer o valor revolucionário
desse discurso, que elimina totalmente as
referências culturalistas e filosóficas que até então
eram de rigor em todo programa artístico”.
Le Corbusier: 1916-1927
 Como demonstração desses “5 pontos”, Le Corbusier
projetou uma série de villas burguesas num curto
espaço de tempo: a Maison Cook (1925-1926), a Villa
Meyer, a Villa Stein (ou Garches) e, finalmente, a Villa
Savoye (as últimas três construídas entre 1927-1929).

Villa (Maison) Cook Villa Stein


Le Corbusier: 1916-1927
 Na Villa Savoye, apesar da planta quase
quadrada, Le Corbuiser parece querer
afirmar “as qualidades espirais da
assimetria, da rotação e da dispersão
periférica”. (Benevolo)
Le Corbusier: 1916-1927
 Em seu livro Especificações sobre o estado atual da
arquitetura e do urbanismo (1930), Le Corbusier
assim descreveu a Villa Savoye: “Os habitantes aqui
vêm porque essa paisagem rústica se harmoniza com a
vida no campo. Eles observam todo o seu domínio das
alturas de um jardim suspenso, ou a partir dos (...)
aspectos de duas janelas em fita. Sua vida doméstica fica
inserida em um sonho virgiliano”.

Villa Savoye
Le Corbusier: 1916-1927

Villa Savoye
Le Corbusier: 1916-1927

Villa Savoye
Le Corbusier: a produção em série

 A partir do final da década de 1920, as exigências


inerentes à produção em larga escala forçam Le
Corbusier a uma reflexão e a fazer uma distinção,
em seus projetos, entre a “criação do monumento
exclusivo” (para poucos) e a “vantagem potencial”
de usar os métodos “racionais” de produção para a
oferta geral de moradias;
 Consequência: ele procura desenvolver projetos
voltados a “uma forma de construção mais
apropriada à produção em série”.
Le Corbusier: a produção em série
 Surge dessas pesquisas o “bloco” de sua Ville
Radieuse (1933), projetada como uma “faixa
contínua de moradias alinhadas”, com fachadas que
retrocediam e se alinhavam, “alternada e
regularmente a partir dos limites exteriores da rua”.

Le Corbusier e maquete
da Ville Radieuse
(blocos residenciais)
Le Corbusier: a produção em série
 Neste projeto, Le Corbusier substitui, de fato, uma
proposta qualitativa (jardins suspensos, terraços
ajardinados, pavimento duplo etc.) por uma opção
quantitativa, mais econômica em termos de espaço e
custos.
Na Ville Radieuse os
apartamentos teriam
tamanhos variáveis, mesmo
que estivessem num
mesmo pavimento! As
pessoas usariam uma área
(da grande laje) compatível
com suas necessidades! Ville Radieuse
(maquete)
Le Corbusier: a produção em série
 A unidade VR “otimizava cada cm² de espaço de que se
dispunha”, com divisões internas corrediças bastante
delgadas que mudavam de posição de acordo com o
o uso da unidade
durante dia e à noite,
além de núcleos de
serviços (cozinhas e
banheiros) reduzidos ao
mínimo.

Ville Radieuse (planta baixa de um


dos tipos “mínimos” de
apartamento)
Le Corbusier: a produção em série
 Por meio dessa solução, o apartamento VR típico
“destinava-se a ser tão ergonomicamente eficiente
quanto as cabines de dormir de um trem”,
distanciando-se da arquitetura no sentido tradicional
e aproximando-se do desenho industrial. (Frampton)
Le Corbusier: a produção em série
 Por outro lado, todos os edifícios seriam erguidos
sobre pilotis, deixando “livre” o pavimento térreo
para o fluxo de pedestres e áreas de lazer
comunitário.
Le Corbusier: a produção em série
 Ao conceber a sua “cidade da era da máquina”, a
grande mudança proposta por Le
Corbusier na VR foi justamente
o “abandono de um modelo
urbano centralizado” (criticado
em sua proposta anterior),
substituindo-o por “um conceito
teoricamente ilimitado cujo
princípio de ordem provinha do
fato de ser dividido (...) em
zonas de faixas paralelas”. (K.
Frampton)
Ville Radieuse
(plano geral)
Le Corbusier: a produção em série
 Na Ville Radieuse, essas faixas destinavam-se aos
seguintes usos: 1) cidades-satélites dedicadas à
educação; 2) zona comercial; 3) zona de transporte
(incluindo trens e transporte aéreo); 4) zona de
hotéis e embaixadas; 5) zona residencial; 6) zona
verde; 7) zona da indústria leve; 8) armazéns e trens
de carga e 9) indústria pesada. Com essa disposição,
permitia-se, de fato, que as diferentes zonas se
expandissem de forma independente umas das
outras, sem importar a sua “hierarquia”.
Qual a principal
desvantagem do
planejamento urbano por
zonas monofuncionais?
Le Corbusier: a produção em série
 Embora a VR jamais tenha saído do papel, ela teve
grande influência em inúmeros projetos urbanísticos
do pós-guerra;
 Pelo menos duas capitais estão “claramente em
dívida com as ideias contidas na Ville Radieuse”: o
projeto de Lúcio Costa para Brasília, em 1957, o plano
piloto do próprio Le Corbusier para Chandigarh
(Índia), de 1950.

Plano piloto de
Brasília
Le Corbusier: a “monumentalização
do vernáculo” (1930-1940)
 A partir da segunda metade da década (1930), porém, Le
Corbusier “começou a reagir contra a produção
racionalizada da “máquina de habitar”. De acordo com
alguns historiadores, essa mudança de postura teria sido
um efeito direto da complicada conjuntura mundial
daquele período (“um mundo arrebentado pela
depressão econômica”).
Le Corbusier: a “monumentalização
do vernáculo” (1930-1940)
 O fato é que, a partir de então, “elementos técnicos
primitivos começaram a aparecer em sua obra com
uma frequência e uma liberdade de expressão cada vez
maiores a partir de 1930”;
 Exemplos: a Villa Mandrot (1931), em Toulon, com suas
paredes de cascalho; o Pavillon des Temps Nouveaux,
feito em lona (evocando uma “tenda nômade”) para a
Exposição Internacional
de Paris de 1937.

Villa Mandrot
(1931)
Le Corbusier: a “monumentalização
do vernáculo” (1930-1940)

Pavillon des Temps


Nouveaux (1937)
Le Corbusier: a “monumentalização
do vernáculo” (1930-1940)
 No entanto, apesar das “referências arcaicas e
vernáculas”, ainda assim essas obras exploravam
aspectos de uma tecnologia avançada;
 O pavilhão em Paris, por exemplo, era “uma
demonstração espetacular de suspensão por cabos de
aço, fazendo-o de modo a lembrar as técnicas de
encaixe que, na época,
estavam circunscritas aos
domínios da construção
aeronáutica”. (Frampton)
Le Corbusier: a “monumentalização
do vernáculo” (1930-1940)
 Ou seja, elas podem ser interpretadas como uma forma
de enxergar um futuro menos “doutrinário”, em que o
homem teria a liberdade de misturar técnicas
primitivas e avançadas, segundo suas necessidades e
seus recursos”.

Pavillon des Temps


Nouveaux (1937)
Le Corbusier: a “monumentalização
do vernáculo” (1930-1940)
 Arquitetura vernacular: é a arquitetura própria,
característica de uma região ou de um país.

Maison les Marthes


(1935)
Le Corbusier: Unité d’Habitacion
 Contudo, depois da 2ª Guerra Mundial, Le Corbuiser
volta às suas origens com o projeto da Unité
d’Habitation, modelo de edifício de 18 andares
construído inicialmente em Marselha (e depois
replicado em outros locais da França).

Uma proposta para um


mundo em crise, sem
dinheiro, cansado do
passado e ávido por
mudanças...

Unité d’Habitation
Le Corbusier: Unité d’Habitacion
 Nesse caso, Le Corbusier opta por um método de
construção mais “brutalista”, em que, por exemplo, a
modelagem da superestrutura em concreto deixa
bastante evidente o processo de reutilização de formas
de madeira, “uma revelação deliberada do processo de
construção”.

Unité d’Habitation
Le Corbusier: Unité d’Habitacion
 Além desse aspecto de “concreto bruto”, a Unité
possui ainda uma disposição interna bastante
inovadora;
 As unidades (apartamentos) de 2 andares, por
exemplo, compreendem toda a largura do edifício e
estão dispostas de maneira “cruzada”, de forma que
os acessos internos são
feitos apenas em
andares alternados!

Unité d’Habitation
Le Corbusier: Unité d’Habitacion
 Ou seja, com esse partido extremamente original e
criativo, Le Corbusier não apenas valorizou a
ventilação cruzada nos apartamentos como também
reduziu quase à metade a área de circulação interna
do prédio (os corredores)!
circulação
Le Corbusier: Unité d’Habitacion
 Uma área comercial interna, uma cobertura dotada
de uma série de “instalações comunitárias” - piscina,
creche, parque infantil etc. - e um grande parque ao
redor da Unité completavam a visão de Le Corbusier
de um estilo de vida comunitário.
Le Corbusier: Unité d’Habitacion

Unité d’Habitation
(terraço)
Le Corbusier: Unité d’Habitacion

Unité d’Habitation
Le Corbusier: Unité d’Habitacion

Unité d’Habitation
(corredor interno)

Unité d’Habitation
(apartamento)
Le Corbusier: Conclusão
 Benevolo: “O grande mérito de Le Corbusier foi o de
empenhar o seu incomparável talento no campo da
razão e da comunicação geral. Ele nunca se
contentou com o fato de que suas invenções fossem
interessantes e sugestivas, mas sim úteis e aplicáveis
universalmente”.
Mies van der Rohe
 O alemão Ludwig Mies van der Rohe (1886-1969) foi
um dos principais representantes da arquitetura do
vidro e do aço e um dos ícones da arquitetura
moderna;
 Após trabalhar pouco tempo no
ramo da construção, mudou-se
para Berlim, tornando-se, de
início, assistente de um conhecido
designer e arquiteto de interiores;
 Entre 1908 e 1911, assim como Le
Corbusier, trabalhou no escritório
de Peter Behrens (convivendo
também com W. Gropius).
Mies van der Rohe
 Durante esses três anos no escritório de Behrens,
Mies também rendeu-se à estética “clássica-
brutalista” de Perret, não só enquanto “ideal de
elegância estética”, mas também como concepção
estrutural. (K. Frampton)

Altes Museum (1830),


de Schinkel
Mies van der Rohe
 Em 1912, abre o seu próprio escritório e constrói a
Casa Perls (Berlim), uma de cinco casas de inspiração
clássica projetadas por Mies antes do começo da
Primeira Guerra Mundial”. (K. Frampton)

Casa de Hugo Perls


Mies van der Rohe

Projeto da Casa Kroller (1912-1913), Wassenaar (Holanda): não executado


Mies van der Rohe
 Ainda em 1912, apresenta o seu projeto “clássico e
austero” para o concurso do monumento a Bismarck.
Este seria o seu último projeto significativo antes da
Primeira Guerra Mundial.
Mies van der Rohe
 A derrota - e posterior colapso – da Alemanha em 1918
levaram o país ao caos político e econômico...;
 A participação de Mies na guerra (ainda que na
condição de construtor de estradas e pontes para o
exército) mudou bastante sua vida: separou-se, entrou
em contato com a vanguarda arquitetônica da época e
“procurou criar uma arquitetura mais orgânica”. (K.
Frampton)
Mies van der Rohe
 Em 1919, Mies passou a dirigir a seção arquitetônica
do Novembergruppe, um grupo de vanguarda que se
dedicava à revitalização das artes em toda a
Alemanha;
 Essa associação, por sua vez, colocou-o
em contato com os ideais
expressionistas da Cadeia de Cristal de
Bruno Taut, resultando em seu
primeiro projeto para um arranha-céu
(1920), publicado em 1921 (na revista
de Taut) junto com o projeto do
arranha-céu “facetado” de vidro que
criou para o concurso da
Friedrichstrasse.
Mies van der Rohe
 Nessa época, “a
intenção de Mies era
usar o vidro como uma
superfície refletora
complexa que, sob o
impacto da luz, estaria
permanentemente
sujeita a
transformações”. (K.
Frampton)

Prédio de escritórios para a


Friedrichstrasse
em Berlim, 1921
Mies van der Rohe
 Mies: “Em meu projeto para um arranha-céu em
Berlim, usei uma forma prismática que me pareceu
ajustar-se melhor ao terreno triangular onde o edifício
seria construído. Coloquei as paredes de vidro
separadas por um ligeiro ângulo para evitar a
monotonia das superfícies de vidro de grandes
dimensões. Ao trabalhar com modelos de vidro,
descobri que o mais importante é o jogo dos reflexos, e
não, como acontece nos edifícios comuns, o efeito de
luz e sombra. “
Mies van der Rohe
http://www.dnavidros.com.br/
example/produtos-
refletidogd04.jpg

http://www.cliquearquitetura.com.br/public/Pai
nel/midia/imagem/grande/vidrorefletivo_0.jpg
Mies van der Rohe
 Em 1927, por encomenda da Deutsche Werkbund,
ocorre em Stuttgart (Alemanha) a Weissenhofsiedlung,
exposição de arquitetura moderna, sob o comando de
Mies van der Rohe.
Mies van der Rohe
 Texto de Mies para a exposição: “Hoje a questão da
economia torna a racionalização e a padronização
imperativas para as casas de aluguel. Por outro lado, a
crescente complexidades de nossas exigências requer
flexibilidade. O futuro terá que levar esses dois
fatores em conta. Tendo esse fim em vista, a
construção em esqueleto é o sistema mais adequado.
Possibilita os métodos de construção racionalizados e
permite a criação de interiores divididos com
liberdade. Se, devido à canalização doméstica,
considerarmos as cozinhas e os banheiros como um
núcleo fixo, então o restante do espaço deve ser
dividido com paredes móveis. Em minha opinião, isto
deve satisfazer todas as exigências normais”.
Mies van der Rohe

Prédio de Mies van der Rohe para a Weissenhofsiedlung (1927)


Mies van der Rohe
 A fase inicial da carreira de Mies atingiu o clímax
justamente com seus próximos projetos (na sequência da
Weissenhofsiedlung): o Pavilhão do Estado Alemão da
Exposição Mundial de Barcelona (1929) e a Casa
Tugendhat em Brno (na época, Tchecoslováquia) em
1930 (mesmo ano em que Mies assumiu a direção da
Bauhaus)

Pavilhão alemão em Barcelona:


maquete (1929) – demolido após a
exposição, foi reconstruído na década
de 1990 como símbolo do Modernismo
Mies van der Rohe

Pavilhão alemão em Barcelona (1929)


Mies van der Rohe

“O menos é
mais”

Pavilhão alemão em Barcelona (1929)


Mies van der Rohe

Tugendhat (1930)
Mies van der Rohe

Tugendhat (1930)
Mies van der Rohe
 No Pavilhão de Barcelona, Mies também introduziu
alguns móveis desenhados por ele;
 Tendo assumido a direção da Bauhaus em 1930, ele
continuou a projetar novas peças, uma atividade que
certamente lembraria o início de sua carreira com a
experiência no escritório de Peter Behrens.

Cadeira de
Barcelona Cadeira Brno
Mies van der Rohe
 Diante da situação política opressiva da Alemanha na
década de 1930, Mies resolve emigrar para os EUA
em 1938 (tornando-se inclusive cidadão americano
em 1944). A partir desse momento, suas obras mais
conhecidas concentram-se em solo americano;
 Destaque para o anteprojeto do campus do Instituto
de Tecnologia de Illinois (IIT), elaborado em 1939.
Mies van der Rohe
 Todas as estruturas possuem a forma de “prismas
puros, revestidos com paredes-cortina quadriculadas e
com suas superfícies animadas por reflexos do
horizonte visível”. (Frampton)

Instituto de Tecnologia
de Illinois (IIT)
Mies van der Rohe
 K. Frampton: “A articulação do sistema de colunas em
conjunção com o plano envidraçado torna-se cada vez
mais idealizada e monumental a cada estrutura
sucessiva”.

Prédios de Mies van der Rohe no IIT


Mies van der Rohe
 A Escola de Arquitetura (da qual Mies foi diretor até
1958, instalada no Crown Hall) e o Alumni Memorial
Hall do IIT, por sua vez, caracterizam a tipologia de
construção – e a solução estrutural – típicas da fase
final da carreira de Mies;
 O Crown Hall (1952-1956), por exemplo, antecipou as
construções de um andar e grande vão livre de Mies.

Crown Hall
Mies van der Rohe
 Para alguns autores, o Crown Hall “foi uma volta
decisiva à tradição do clássico alemão e, em
particular, ao Altes Museum berlinense” que Mies
tanto admirava.
Mies van der Rohe

Crown Hall (detalhes)

Crown Hall (detalhes)


Mies van der Rohe
 O Alumni Memorial Hall (IIT), por outro lado,
“antecipava sua típica laje de pavimentos (...) em que
o vidro, as esquadrias e a estrutura da parede externa
se combinam de modo a formar uma fachada
articulada”. (Benevolo)
Mies van der Rohe
 No Alumni Hall formulou-se a “linguagem” que Mies,
pouco depois (1948-1951), usaria na realização do
famoso par de torres de aço e vidro em Chicago
denominados 860 Lake Shore Drive.

Croquis de Mies van der


Rohe para o Alumni Hall
Mies van der Rohe
 Os apartamentos de Lake Shore Drive, construídos à
beira do Lago Michigan, “pegaram a cozinha, os
banheiros e os núcleos de acesso dos apartamentos
Weissenhofsiedlung de Mies, de 1927, e os
condensaram ao redor de 2 elevadores no meio de
uma laje”. (Giedion)
Mies van der Rohe
 Ou seja, com essa disposição, os usuários tinham
acesso (através de uma área de serviço
compreendendo cozinhas e banheiros) a um espaço
contínuo que corria ao redor de todo o perímetro; este
espaço, por sua vez, podia ser subdividido segundo
variações de tamanho e tipos de unidades.
Mies van der Rohe

Os próprios elementos
estruturais (em aço), em
formatos comerciais (perfis em
“I”, “L”, “U”, “T” etc.) e os
ritmos criados por Mies
compõem a “ornamentação”!
Mies van der Rohe
 Peter Carter: “As dimensões das colunas e dos mainéis
determinam a largura das janelas. As duas janelas
centrais (em cada vão estrutural) são, portanto, mais
largas do que às adjacentes às colunas. Essas variantes
produzem cadências visuais de intervalos de expansão e
contração: coluna – janela estreita – janela larga, e
depois o contrário: janela larga – janela estreita –
coluna, e assim por diante. Essas cadências são de uma
riqueza extraordinariamente sutil”.
Mies van der Rohe
 Peter Carter : “A isso vem acrescentar-se a opacidade
do aço e a reflexibilidade do vidro alternadas (...).”

Detalhe da estrutura
metálica
Mies van der Rohe

Apartamentos do Lake Shore


Drive (Mies)

Embora as torres de Mies


tenham sido muito
criticadas na época,
acabaram tornando-se os
protótipos dos arranha-céus
em aço e vidro das grandes
cidades ao redor do mundo!
Mies van der Rohe
 A falta de ornamentação nas fachadas das torres da Lake
Shore Drive refletem a maestria do minimalismo de Mies
e a aplicação prática de uma de suas frases mais famosas:
“menos é mais”.
Referências
BENEVOLO, Leonardo. Historia da arquitetura moderna. São Paulo: Perspectiva,
1994.

FRAMPTON, Kenneth. História crítica da arquitetura moderna. São Paulo:


Martins Fontes, 1997.

GIEDION, Siegfried. Espaço, tempo e arquitetura: o desenvolvimento de uma nova


tradição. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

PEVSNER, Nikolaus. Origens da arquitetura moderna e do design. São Paulo:


Martins Fontes, 1996.

______. Panorama da Arquitetura Ocidental. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

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