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“De um traço nasce a arquitetura. E quando ele é bonito e cria surpresa, ela pode atingir,
sendo bem conduzida, o nível superior de uma obra de arte.”
Oscar Niemeyer é um arquiteto brasileiro, considerado um dos nomes mais influentes na
Arquitetura Moderna internacional. Foi pioneiro na exploração das possibilidades construtivas e
plásticas do concreto armado.
Em 1940, com a obra da Pampulha – Cassino, Casa do Baile, Iate Club, e a Igreja de São
Francisco de Assis – passa a ser conhecido internacionalmente, demonstrando com formas
livres as possibilidades do concreto armado.
Para Niemeyer a Pampulha é o “começo de sua vida de arquiteto”.É onde rompe com a
ortodoxia do funcionalismo e a monotonia das estruturas retilíneas, em nome de formas livres,
curvas e sensuais. Assim, “se o prédio do Ministério, projetado por Le Corbusier, constituiu a
base do movimento moderno no Brasil, é à Pampulha que devemos o início de nossa
arquitetura voltada para a forma livre e criadora (…)”.Na realização da Pampulha, Niemeyer
conta com a importante colaboração do engenheiro Joaquim Cardozo e do paisagista Burle
Marx.
Em 1947 participa da equipe responsável pelo projeto da sede da Organização das Nações
Unidas – ONU, em New York dirigida pelo arquiteto Wallace Harrison.
Apesar da perseguição política, Niemeyer consolida seu prestígio. Em 1949, é nomeado
membro da American Academy of Arts and Sciences. No início da década de 1950, o debate
crítico em torno da obra de Niemeyer se intensifica. O arquiteto greco-americano Stamo
Papadaki publica a primeira monografia sobre a obra do arquiteto carioca, em 1950.Três anos
mais tarde, importantes arquitetos analisam seus projetos: Walter Gropius e Max Bill. O último
o ataca violentamente; critica, sobretudo, a dissociação entre forma e função.
No mesmo ano, Niemeyer é convidado por Ciccilo Matarazzo para construir o complexo do
Ibirapuera, em São Paulo. O concreto armado já é o mais importante material que utiliza, por
aceitar as formas leves e ousadas do arquiteto. Os vãos desses prédios tornam-se ainda mais
largos e as colunas, mais estreitas; os pontos de apoio são delicados; o conjunto tem um
aspecto leve e curvilíneo. No entanto, durante a construção, o projeto é bastante modificado,
incomodando o arquiteto.
Ao voltar ao país, sofre perseguições constantes da ditadura militar. Muitos de seus projetos
são interrompidos. A violência faz o arquiteto voltar a sua carreira para o exterior, onde obtém
muito êxito. Em 1965, o Museu de Artes Decorativas do Louvre expõe seus projetos. Dois anos
depois, é convidado para projetar a nova sede da Editora Arnaldo Mondadori nos arredores de
Milão. Niemeyer atende ao pedido do proprietário, Giorgio Mondadori, e cria um conjunto
monumental. A obra é centrada em um longo edifício de vidro e aço “envolvido por um sistema
de grandiosos arcos de concreto com vãos de larguras diversas que dão ritmo à fachada”. Em
1968 realiza ambicioso projeto para a Universidade Constantine, na Argélia, que custa a ser
terminado. Trabalha muito na Europa. Seu prestígio é tanto, que, em 1974, o filósofo e
sociólogo francês Raymond Aron propõe sua entrada no Collège de France.
Oscar Niemeyer, continua em intensa atividade, destacando-se em 1983 as obras da Passarela
do Samba (Sambódromo) e o conjunto de escolas pré-fabricadas – CIEPs, no Rio de Janeiro.
Entre seus projetos mais recentes encontram-se a Sede do Jornal “L Humanité”, na França; o
Panteão da Liberdade, na Praça dos Três Poderes, em Brasília; o projeto para a Embaixada
Brasileira em Cuba, o Memorial da América Latina, em São Paulo.
Entre os inúmeros prêmios recebidos destacam-se o Prêmio Lênin da Paz em 1963; Prêmio
“Lorenzo il Magnífico”, Itália, 1980; Membro Honorário da Academia de Artes da URSS, 1983;
Membro Titular da Academia Européia das Ciências, Artes e Letras, 1983; Doutor “Honoris
Causa” da Academia de Construção da República Democrática Alemã, 1988; Pritzker
Architecture Prize – Estados Unidos, 1988; Membro Honorário do “Royal Institute of British
Architects”, Inglaterra, 1989 ace, no mesmo ano, o Prêmio Príncipe de Asturias de Las Artes,
Espanha.
No campo da escultura, são conhecidos os projetos do Monumento a Carlos Fonseca Amador,
Nicaraguá, 1982; Monumento Cabanagem, Pará, 1984; Monumento “Tortura Nunca Mais”, Rio
de Janeiro, 1986; Monumento aos “Três operários assassinados durante a greve de novembro
de 1988, em Volta Redonda e a escultura na Praça Cívica do Memorial da América Latina ,
1989.
Formação
1929/1934 – Rio de Janeiro RJ – Estuda na Escola Nacional de Belas Artes – Enba, onde
forma-se em arquitetura. Mantém contatos com Lucio Costa (1902 – 1998)
1934/1935 – Rio de Janeiro RJ – Estágio no escritório de arquitetura de Lucio Costa
Cronologia
Curiosidades
Fachada exterior do Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, projetado por Oscar Niemeyer, com
jardins de Burle Marx
Livro – E agora:
Autor: Oscar Niemeyer
Editora: Revan
‘E agora?’ reúne – a fé peregrina de quem se recusa ao conforto da resignação, perseverança
em crer que existe, sim, saída para o ser humano, a persistência no ofício de caçar a beleza e
a liberdade. Esta breve novela é de narrativa suave, sem passagens mirabolantes , com traçps
rápidos e exatos que em seu conjunto criam a atmosfera criada pelo escritor.
Livro – O ser e a vida
Autor: Oscar Niemeyer
Editora: Revan
Em ‘O ser e a vida’, Oscar Niemeyer reflete acerca da importância da literatura na formação
humana e na construção de um país mais justo. O arquiteto discute um pouco sobre como a
leitura foi relevante em sua vida pessoal e profissional, uma vez que proporciona um
alargamento de horizontes. Obras clássicas, como as de Lima Barreto, Mário de Andrade, Eça
de Queiroz, Machado de Assis e Voltaire, e de colegas contemporâneos, como Jorge Amado e
Graciliano Ramos, levaram-no a conhecer diversos problemas e assuntos, mesmo aqueles que
já tinham sua atenção. Nesse contexto, sua preocupação maior é com os jovens.
Livro – Minha arquitetura – 1937-2005
Autor: Oscar Niemeyer
Editora: Revan
Este livro destaca os últimos grandes projetos de Oscar Niemeyer, de 2004-2005, entre os
quais a sede administrativa do governo de Minas Gerais, as sedes da usina de Itaipu nas duas
margens do Rio Paraná e um parque aquático em Potsdam, Alemanha. Aos 97 anos de vida e
68 de profissão, o grande arquiteto examina e mostra a sua obra, desde o conjunto da
Pampulha até as mais recentes, passando pelos palácios de Brasília, pela sede Mondadori em
Milão, a sede do Partido Comunista em Paris, o MAC de Niterói, e por outros projetos que
marcaram sua presença no Brasil e no exterior. Além de edifícios, Niemeyer faz e mostra suas
esculturas, desenhos e até peças de mobiliário. As 424 páginas de papel couché matte,
impressas com alta sofisticação de cores e de tecnologia gráfica, mostram um Niemeyer que,
além de projetar obras de arquitetura que maravilham o mundo – o New York Times acaba de
publicar em seu Magazine dominical uma matéria de 11 páginas sobre ele – escreve poemas
que falam das formas do corpo feminino e textos que misturam arquitetura, luta política e
trivialidades. De maneira despojada e simples, Niemeyer escreve sobre seu método de
trabalho na elaboração de projetos, suas experiências e trajetória. Com testemunhos de
personalidades como Chico Buarque, Celso Furtado, Eric Hobsbawn, José Saramago, entre
outros. O livro é fartamente documentado com fotos das obras, desenhos e plantas de projetos
do arquiteto.
Livro – Nosso Caminho – V.1 – Maio 2008
Autor: Oscar Niemeyer / Vera Niemeyer
Editora: 7 Letras
Criada e editada por Oscar Niemeyer, a revista Nosso caminho é voltada para a arquitetura, a
arte e a cultura. Este primeiro número traz uma série de projetos e desenhos do arquiteto, além
de artigos de diversos pensadores brasileiros e de uma homenagem a Chico Buarque.
Livro – Oscar Niemeyer – A marquise e o projeto original
Autor: Cecilia Scharlach
Editora: Imesp
Este livro traz depoimentos, croquis, desenhos técnicos e fotos de Nelson Kon revelando a
marquise e o projeto original do Parque Ibirapuera.
Livro – Oscar Niemeyer por Nelson Werneck Sodre
Oscar Niemeyer
Nunca Mais, representa aquele longo e negro período de tortura que pesou durante 20 anos
sobre nós. E a imaginei com a figura humana traspassada pelas forças do mal. Uma lança em
curva de 25 metros de extensão. (…) A terceira foi a grande mão que desenhei com o sangue a
correr até o punho, representando o continente latino-americano, explorado e oprimido.
Escultura que, com sete metros de altura, foi enriquecer o Memorial da América Latina, em São
Paulo. A quarta foi o monumento pedido pelo Sindicato dos Metalúrgicos, lembrando os três
operários mortos pela reação. E o fiz tão contestador que o explodiram, no mesmo dia da sua
inauguração. (…) Apesar das ameaças e cartas recebidas, propus que o pusessem de pé outra
vez, com as fraturas à mostra e esta frase que redigi: ‘Nada, nem a bomba que destruiu este
monumento, poderá deter os que lutam pela justiça e liberdade’. E o monumento lá permanece,
depois de guardado durante três dias pelos operários da metalúrgica. A Quinta escultura está
ligada a fato idêntico. Operários de Ipatinga, mortos numa manifestação pública. E a sexta,
solicitada pelo governo do Senegal, constitui uma homenagem aos milhares de negros
africanos enviados de Gorée, onde vai ser construído, para os cativeiros da América Latina.
Será uma grande placa de concreto, com 80 metros de altura, na qual recortei a figura do
escravo, desaparecido naqueles tempos de inqualificável violência”.
Oscar Niemeyer
Críticas
“É utilizando curvas desenvoltas e magistrais que Oscar Niemeyer ergue formas imateriais e
transparentes. Livres e fluidas, equilibradas apesar da veemência do seu impulso, elas
alternam delicadamente com faces de sombra e de luz (…) Modelando seu concreto com uma
total compreensão, o arquiteto, escultor do espaço, harmoniza espontaneamente valores
culturais e valores espaciais (…) As primeiras obras de Oscar Niemeyer, como o projeto para a
Casa Henrique Xavier e a Obra do Berço, no Rio de Janeiro, são diretamente influenciadas
pelas realizações de Le Corbusier. Mas pouco a pouco a sua obra vai de desligar da
arquitetura funcionalista do início da sua carreira, para desenvolver uma pesquisa cada vez
mais livre. Em 1942, quando Juscelino Kubitschek, então governador de Minas Gerais,
empreendeu em Belo Horizonte a criação de um bairro de lazer em Pampulha, ele encomenda
os planos a Oscar Niemeyer. Este então abandonará deliberadamente a linha reta para
experimentar a curva. Uma curva utilizada com lirismo, por vezes arbitrariamente, mas pouco a
pouco conduzida a se tornar o complemento indispensável da linha reta. Verdadeiro manifesto
construído, contra um funcionalismo ortodoxo e geralmente sistemático, as construções de
Pampulha marcaram o aparecimento de uma nova liberdade plástica, provocadora de emoção.
A experiência espacial de Oscar Niemeyer, considerando-se o espaço como a própria essência
da arquitetura, nunca se afasta dos fatores econômicos, sociais, técnicos e plásticos. Dentro da
grande massa dos seus projetos e realizações, o arquiteto vai empregar todos os recursos do
concreto para criar um mundo de formas estranhas, surpreendentes e imprevistas. Seu
vocabulário plástico desenvolverá uma concepção cada vez mais livre, em constante evolução.
A espontaneidade de expressão e a exuberante invenção da sua arquitetura sabem falar aos
seus usuários. Além disso, a perfeição estrutural e o sopro poético da sua obra impedem a
imitação dos seguidores, preservando assim a sua pureza”.
Jean Petit
Oscar Niemeyer
“Tendo manifestado grande agilidade mental e flexibilidade diante da vida, ele certamente não
viveu sem convicções nem sem um claro objetivo. Seu humanismo, sua intolerância diante da
injustiça, suas certezas políticas nunca foram turbadas. Ao atravessar sua nona década,
Niemeyer se arrisca no campo da escultura com a mesma generosidade de espírito, a mesma
inventividade e provocação que trouxe para sua arquitetura. Faz isso explorando temas que
ressoam dentro dele: as curvas ondulantes que ecoam na paisagem, nas mulheres, no mar do
Rio; a homenagem ao companheiro sacrificado na luta pela justiça social; a força e a graça do
arco, forma universal impregnada de associações culturais e simbólicas”.
Luis R. Cancel
“Nascida das novas técnicas de construção – que liberaram a fachada e as paredes dos
edifícios – e da negação do estilo revival que predominava no século 19 – a arquitetura
moderna adotou a funcionalidade como o princípio básico da criação: ‘a forma segue a função’.
Se é certo que esse princípio contribuiu para o surgimento de uma nova concepção formal na
arquitetura, também limitou-lhe a inventividade. Instaurou-se, então, a ditadura da linha reta,
com que rompe o jovem Oscar Niemeyer, ao projetar, em 1942, o famoso conjunto da
Pampulha. Essa ruptura com o estilo funcionalista não resultou apenas da necessidade de
inovar mas também da percepção das possibilidades plásticas do concreto armado. Quebrado
o dogma, que havia tornado repetitivas as soluções arquitetônicas, abriu-se o caminho de uma
revolução formal e técnica, de que o nosso arquiteto foi o pioneiro e também o mais inventivo
executor. Por sua audácia e pioneirismo, foi muitas vezes acusado de negligenciar a
funcionalidade dos edifícios que projeta. Essa crítica não leva em conta o fato de que a beleza
também é função da obra arquitetônica e que a funcionalidade prática dos edifícios muda com
os anos, é superada pela vida. Para que serve hoje o palácio dos Dogers, em Veneza, se
mudou o sistema de poder da sociedade e o modo de viver das pessoas? Mas a beleza do
edifício se mantém intacta, a nos encantar a todos. Esta é a visão de Niemeyer, para quem a
arquitetura deve, antes de tudo, surpreender as pessoas, inserir no cotidiano da cidade uma
coisa que nos deslumbre”.
Ferreira Gullar
Museu Oscar Niemeyer – MON ( Curitiba- PR)
Localizado no Centro Cívico de Curitiba, numa área de 144 mil metros quadrados, dedica-se a
exposições e pesquisas nas áreas de artes visuais, arquitetura e design, e realiza seus projetos
por meio da Lei Rouanet.
Suas instalações ocupam dois edifícios projetados por Oscar Niemeyer (1907). O primeiro,
inicialmente chamado de Edifício Presidente Humberto Castelo Branco, é inaugurado em 1978,
e abriga as secretarias do Estado. O segundo, também conhecido por “Olho”, é projetado em
2001 e construído com concreto e vidro, no ano seguinte. Instalado na frente do antigo edifício,
liga-se a ele internamente por uma passagem subterrânea.
Para a construção do “Olho”, Niemeyer utiliza a técnica do concreto protendido, pela qual se
aplicam tensões prévias ao concreto, permitindo a criação de grandes vãos livres. O edifício,
com três pavimentos, está assentado em uma base quadrangular, revestida com cerâmica
pintada com desenhos de Niemeyer.
O acervo do MON tem aproximadamente 2 mil obras, oriundas de coleções do antigo Museu de
Arte do Paraná (MAP) e do Banco do Estado do Paraná (Banestado), de artistas do Paraná e
outros Estados e de diferentes nacionalidades, como Miguel Bakun (1909-1963),Tarsila do
Amaral (1886-1973) e Arcangelo Ianelli (1922-2009), Alfredo Andersen (1860-1935) e Guido
Viaro (1897-1971). Recebendo novas doações, o acervo conta com obras de Tomie Ohtake
(1913), Nelson Leirner (1932) e Amelia Toledo (1926).
O setor fotográfico é também uma preocupação do museu. Em 2004 três novas salas são
inauguradas, exclusivamente para exposições fotográficas. O Centro de Documentação e
Pesquisa concentra material bibliográfico nas três áreas de atuação, trata da memória dos
eventos produzidos, além de manter um arquivo fotográfico com imagens de artistas e obras
paranaenses.
Entre as exposições promovidas pelo museu destacam-se: Viaro – Um Visionário da Arte,
Claudia Andujar – Yanomami, Siron Franco e Daniel Senise, em 2006; Para Nunca Esquecer –
Negras Memórias, Memórias de Negro, Vida Animada – Desenhos de Roy Lichtenstein, Antoni
Tàpies e Farnese (objetos), em 2005; Nelson Leirner, A Poética da Forma, Rembrandt e a Arte
da Gravura, em 2004.
Museu Oscar Niemeyer
Em entrevista, Oscar Niemeyer diz admirar Dilma, mas espera volta de Lula
Ana Dubeux
Ana Maria Campos
Publicação: 29/05/2011
Rio de Janeiro – A aposentadoria é algo impensável para Oscar Niemeyer. Aos 103 anos, o
arquiteto cultiva a rotina. Veste terno — sem gravata — e cumpre jornada de trabalho no
escritório com uma das mais belas vistas do mar de Copacabana, na cobertura do edifício
Ypiranga. O visual é impressionante, assim como a disposição do anfitrião para a vida.
Niemeyer reclama de que há um mês está sem andar, mesmo com a fisioterapia. A mente, no
entanto, segue perfeita. Além de projetos, da revista de arquitetura de que se orgulha,
Niemeyer anda satisfeito com o samba composto em parceria com um de seus enfermeiros,
Caio Almeida. Tranquilo com a vida foi criado na UTI, quando ele se recuperava de duas
cirurgias no ano passado. Vera Lúcia, a mulher do arquiteto, conta que um dia chegou ao
hospital e o tumulto estava formado em volta do marido. Eram médicos e enfermeiros curiosos
para ouvir a música. Um Niemeyer que continua a encantar e a surpreender. Nesta entrevista
ao Correio, ele fala com lucidez sobre arquitetura, política e conta histórias. Jura que voltará a
Brasília, mas com uma ressalva: “Quando for preciso”. Em muitos momentos, revela um lado
mais emocional. Diz que a mulher e os amigos são o melhor da vida. O resto, “seja o que Deus
quiser”. Fã do ex-presidente Lula, aposta na volta dele ao Palácio do Planalto, embora
demonstre admiração por Dilma Rousseff. No rol de elogios, não faltam palavras especiais
dedicadas ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e ao líder cubano Fidel Castro. Ainda
comunista, Niemeyer ataca o imperialismo e a burguesia. Sobre Brasília, lamenta a paralisação
da obra da Torre Digital. E divaga quanto aos rumos da cidade: “Na época de JK, as coisas
eram diferentes”.
Correio Braziliense – O que a vida tem de melhor?
Oscar Niemeyer - Você sabe que uma vez um amigo meu me perguntou: Oscar, e a vida? Eu
disse: mulher do lado e seja o que Deus quiser.
Correio Braziliense – O resto pouco importa?
Oscar Niemeyer - O resto, paciência…
Correio Braziliense – O senhor mantém isso?
Oscar Niemeyer - Lógico. Olha aí a minha mulher. Amizade, respeito, amor, entusiasmo. Hoje
eu ganhei uns livros (audiobook). Ontem eu coloquei Platão. Mas hoje ouvimos Machado de
Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas. Era uma choradeira, o sujeito está morrendo, mas
descrevia tão bem. É formidável. É muito bom esse aparelho para ouvir. O livro é bom e tem
uma entonação… É uma nova paixão, um caminho interessante de revisitar as coisas e ir
tocando a vida.
Correio Braziliense – E a arquitetura, o senhor ainda tem paixão?
Oscar Niemeyer - Desde que nasci, gostava de desenhar. Meu pai não fazia muita fé de eu
ser arquiteto, não. Mas eu quis ir. Fui para a escola, fui trabalhar com o Lucio (arquiteto Lucio
Costa) durante um tempo. Depois veio Pampulha (conjunto arquitetônico em Belo Horizonte).
Depois que eu fiz Pampulha, o mundo clareou. Começou a aparecer muito trabalho. Defendo
uma arquitetura diferente. Acho que a arquitetura não basta servir bem ao homem. Ela tem que
ser bonita e, para ser bonita, tem que ser diferente, tem que criar surpresa. De modo que
adotei um trabalho que é uma invenção.
Correio Braziliense – Como tem sido a sua rotina? O senhor vem ao escritório todo dia?
Oscar Niemeyer - A pessoa tem que se ocupar. Ficar parado, não dá. O mundo não é tão
amigo. É tanta complicação, quando não é com a gente, é com os amigos. O trabalho alivia a
dureza da vida.
Correio Braziliense – Além de projetos, como ocupa sua cabeça?
Oscar Niemeyer - Você viu a nossa revista? (Nosso Caminho, publicação idealizada pelo
arquiteto) A revista é o que queremos fazer da vida. Levar o conhecimento aos outros, ser útil,
aos mais jovens, fazer eles compreenderem e despertarem para ler muito. Senão o sujeito fica
fora da jogada, não sabe o que está se passando. De modo que é muito bom trabalhar olhando
para o futuro.
Correio Braziliense – E aos jovens? Que conselho daria?
Oscar Niemeyer - Leiam muito. Leiam sempre. Ler para conhecer, para descobrir, se encantar.
A revista de arquitetura é um pretexto para levar ao mais jovem o conhecimento. A gente
procura dar o exemplo. Nós temos um professor que nos dá aula de filosofia e sobre o cosmo
há cinco anos. Toda terça-feira aqui. A gente precisa se distrair, conhecer as coisas, saber por
que estamos aqui neste mundo, por que aparecemos, saber a vida como é. Gosto tanto de
ouvir o professor falar sobre o cosmo, sobre o universo, vendo que somos um pigmeuzinho em
cima da Terra. Somos insignificantes diante da grandeza do mundo.
Correio Braziliense – A arrogância hoje impera?
Oscar Niemeyer - Temos de lutar para mudar as coisas, contra as injustiças. A gente quer
todos iguais, com as mesmas possibilidades. É difícil, mas com o tempo todo mundo consegue
compreender. O importante, para mim, por exemplo, é ser útil. Se eu vejo uma pessoa nova,
que me apresentam, não vou ficar imaginando os defeitos que ela possa ter. Eu quero ser útil.
É um companheiro. Isso é que é posição para ficar mais tranquilo. O arrogante é um tolo.
Correio Braziliense – Dentre os arquitetos da atualidade, tem algum que se destaca?
Oscar Niemeyer - Tem muitos que começam a pensar melhor, fazem palestras, reuniões. Tem
muita gente boa pensando diferente.
Correio Braziliense – A vida vale a pena?
Oscar Niemeyer - A vida é difícil. É complicada, mas vale a pena. Eu tinha seis irmãos. Agora
estou sozinho.
Correio Braziliense – O senhor se sente só?
Oscar Niemeyer - Sozinho, não. Estou com a Vera. (risos)
Correio Braziliense – Ela é uma eterna companheira.
Oscar Niemeyer - Lógico. A vida tem que ser bem vivida, de coração aberto, o sujeito sentindo
que pode ser útil, que não é um sacana qualquer. Esse mundo é complicado. As escolhas são
tudo na vida.
Correio Braziliense – O senhor tem arrependimentos?
Oscar Niemeyer - Olhando para trás, vejo coisas que eu poderia ter evitado. Todo mundo tem
um lado bom e um ruim. Mas pelo menos tem predominado essa ideia. Na minha casa, na sala
de visitas tinha cinco janelas, eu me lembro que a minha avó fez de uma das janelas o oratório
e tinha missa em casa, então eu lidava com aquele pessoal, a família toda religiosa, os amigos
religiosos, e eu, aos 17 anos, gostava daquela gente, eram bons. Marcou para mim, que sou
ateu, uma tendência de aceitar a religião. Eu conheci diversos padres que frequentavam a
minha casa…
Oscar Niemeyer
Correio Braziliense – Mas agora o senhor tem se aproximado mais da religião e tem
desenhado igrejas.
Oscar Niemeyer - Bastante… É curioso esse reencontro com a minha juventude, com a
religião. Sabe, tenho lembrado muito da Pampulha. Minha vida de arquiteto começou lá.
Juscelino me chamou, me entusiasmou. Depois fiz outros projetos para ele. Engraçado, eu fui
sempre cercado pelos mineiros, no meio dessa coisa, o Rodrigo Melo Franco era o amigo
quase predileto. Era uma pessoa tão boa, tão correta. Ele me chamou para o Patrimônio. Eu ia
com ele ver as obras antigas, ia a Ouro Preto. Ele foi formidável. Defendeu esse passado de
arte do Brasil e arquitetura. Minas foi marcante na minha vida.
Correio Braziliense – E Brasília? Dos monumentos que o senhor criou para Brasília, qual
é o mais bonito?
Oscar Niemeyer - De Brasília, não falo não, porque a maioria fui eu quem fez.
Correio Braziliense – Mas qual é o mais bonito de sua autoria?
Oscar Niemeyer - O Palácio do Congresso. Por dentro, foi muita confusão porque é difícil. A
obra demora e, quando ela pede a presença do governo, o governo está se modificando e
criando problemas. De modo que é difícil. Mas gosto muito do Congresso. Minha profissão é
boa, cheia de surpresas. Quero fazer uma arquitetura diferente. Não quero que a arquitetura
seja apenas útil. Tem que ser bonita. E se tem que ser bonita, tem que criar surpresas. O
princípio da obra de arte é a surpresa. Importante é o sujeito se espantar com o que está
vendo, com o novo, a novidade. De modo que a coisa caminha assim.
Correio Braziliense – O senhor sabe que tem um comunista administrando Brasília?
Oscar Niemeyer - Acho bom, desde que entrei no partido conheci muita gente boa lá… Agora
na última revista nós estamos lembrando do Gregório Bezerra, que foi apedrejado nas ruas do
Recife. São essas coisas que prendem a gente no partido. O partido tem lutado muito. Tem
companheiros que dão força pra gente, que são tão corretos. Eu me lembro do Agildo Barata,
um militar que era do partido. Era uma coragem total. Dava o exemplo. Era formidável.
Correio Braziliense – E a Praça da Soberania, na Esplanada dos Ministérios, o senhor
desistiu?
Oscar Niemeyer - Eu não desisti, mas eles desistiram. Eu nunca tive muito ânimo de mexer no
trabalho do Lucio, que era um amigo, um sujeito muito competente. Aquele projeto, ele fez às
pressas, um projeto muito bem pensado. De modo que eu queria dar um tom de espanto a
quem fosse a Brasília, que tivesse uma praça que fosse um monumento, mas agora é melhor
não mexer mesmo. O Lucio merece cuidado em não mexer em Brasília. Foi ele que fez, com
muito empenho. Fez de um dia para o outro.
Correio Braziliense – Não é pela pressão daquele grupo de arquitetos contrários a obra,
né?
Oscar Niemeyer - Houve uma pressão, houve uma certa má vontade, sim, porque o
governador (Arruda) estava entusiasmado. Mas era difícil fazer. Por outro lado, vi que mexia no
projeto do Lucio, isso não me agradava. Eu quero que o projeto dele seja respeitado. Mas a
praça poderia dar a Brasília um ar mais monumental. Deixa pra lá. Não tem importância.
Brasília está bem. É uma cidade muito calma, muito tranquila. Está tudo bem.
Correio Braziliense – Brasília é um grande orgulho?
Oscar Niemeyer - De vez em quando, encontro um arquiteto de fora que diz que entrou para a
Escola de Arquitetura por minha causa. São coisas assim que fazem a gente ficar mais
contente com a profissão. Estou satisfeito com meu trabalho. Arquitetura é invenção. É você
modificar. O concreto permite tudo. Eu fiz agora na Espanha (em Avilés) um conjunto, uma
grande praça com auditório e um museu. Então a praça está fazendo sucesso. Muita gente
está visitando a praça. Isso nos dá um certo prazer. É verdade que eu tive muitas
oportunidades.
Oscar Niemeyer
Oscar Niemeyer
Oscar Niemeyer - Eu me lembro uma vez que tinha uma fileira de mesas e me apresentaram a
todos os policiais. Era uma coisa que humilhava um pouco.
Correio Braziliense – Os tempos são outros.
Oscar Niemeyer - São, mas ainda há muito a ser feito.
Correio Braziliense – O senhor está confiante no governo do DF?
Oscar Niemeyer - Estou confiante, sim. Conheci o pai dele, que era muito simpático. Amigo
nosso. Ele parece ser um rapaz com as mesmas qualidades.
Correio Braziliense – O Agnelo?
Oscar Niemeyer - Não. Estou falando do Sérgio Cabral. Fiz confusão, com o do Rio.
Correio Braziliense – No DF, Agnelo, que é governador, foi comunista…
Oscar Niemeyer - Esse eu não conheço. Conheço o que saiu. Era inteligente e ia fazer um
bom governo, mas a vida é assim, com seus contrastes.
Correio Braziliense – Mas o Agnelo teve aqui com o Tadeu Filippelli…
Oscar Niemeyer - O Arruda vinha sempre. Ah, estou me lembrando… Agnelo é muito
simpático. Espero que faça um trabalho decente. Brasília merece. É que o Arruda me visitava
mais. Agnelo só veio uma vez.
Correio Braziliense – O senhor está satisfeito com o governo Dilma?
Oscar Niemeyer - Até agora, sim. Ela é inteligente, preparada e firme nas posições. Uma
pessoa muito capaz e dedicada. Tem tudo para fazer um bom governo. Acho que Dilma fará o
povo brasileiro feliz.
Correio Braziliense – Chegou o momento de o povo brasileiro sorrir um pouco mais?
Oscar Niemeyer - Pois é. Chegou a oportunidade. Foram tantos desafios, tantos sofrimentos…
É inegável que hoje a populaçao está mais feliz e satisfeita. Mas vida é tão complicada. Tão
inesperada… Sorrir certamente ajuda a enfrentar a dureza do cotidiano. Dilma precisar
aprender isso.
Correio Braziliense – Mas a sua paixão mesmo é o ex-presidente Lula. Não sente falta
dele?
Oscar Niemeyer - O Lula foi ótimo. Ele compreendeu bem o problema da América Latina.
Compreendeu o trabalho de Fidel, de Chávez, dessa turma… Sabe o que interessa ao Brasil.
Correio Braziliense – Chávez ainda é uma boa opção, mesmo com tantas críticas à sua
tirania, apesar de tantos tropeços?
Oscar Niemeyer – Ele esteve aqui. É uma figura fascinante. Tão inteligente. Eu tenho
confiança nele. Tem que ter um brigador. Ele é um guerreiro. Se não brigar, não se faz nada.
Correio Braziliense – E o Fidel ainda o surpreende?
Oscar Niemeyer - Ele se recuperou. Ele escreveu recentemente um artigo tão bom. Falou até
da bomba atômica. Um dia ele mandou para mim uma roupa, mas era o dobro do meu
tamanho. Com dois metros. Era dele. Roupa de andar no campo. (risos).
Correio Braziliense – Chávez tem apanhado muito da imprensa internacional…
Oscar Niemeyer – Chávez é ótimo. Isso é balela. Ele defende o país dele contra o
imperialismo. Defende também a paz na América Latina.
Correio Braziliense – O que achou da visita do Obama ao Brasil?
Oscar Niemeyer - Ainda tenho esperança no Obama. Estou aguardando, com confiança. Mas
está demorando para aparecer com o entusiasmo que nós esperávamos. Gosto mesmo é do
Lula. Ele soube compreender o problema da América Latina, a posição do Fidel… Está tudo
muito bem.
Correio Braziliense – Dilma vai manter a política externa?
Oscar Niemeyer - A gente espera, né? Ela é inteligente, é competente. Mas vamos ver como
caminha. Temos esperança. Não podemos retroceder.
Correio Braziliense – A inflação é uma ameaça?
Oscar Niemeyer - Pois é. A vida é complicada e o mundo mais ainda. Ela precisa ter pulso
firme, não ceder às pressões, ser ainda mais corajosa.
Correio Braziliense – Em que áreas precisamos avançar para melhorar?
Oscar Niemeyer - Em muitas, mas Lula tem que ter tempo para agir.
Correio Braziliense – Mas ele não vai mais agir. Está fora do governo.
Centro cultural Oscar Niemeyer
Oscar Niemeyer - Mas ele tem força popular. É estimado. Foi uma pessoa muito importante
para o Brasil. Por trás, ele tem influência. Deve ser ouvido. Ele precisa ficar do lado dela
nessas horas, nesses momentos delicados. Lula o povo entende mais.
Correio Braziliense – E ele voltará à presidência?
Oscar Niemeyer - Lógico. Acho que, se ele quiser, volta. Ele é muito estimado.
Correio Braziliense – Quando o senhor vai voltar a Brasília?
Oscar Niemeyer - Eu vou. Não tenho data marcada ainda não. Quando for preciso, eu vou.
Quero voltar lá.
Correio Braziliense – Sua obra da Torre Digital está parada. O que acha disso?
Oscar Niemeyer - Pois é. Parece que faltou dinheiro. Ainda estou com esperança neste
governo, mas as coisas custam a andar. A torre estava entusiasmando o povo. Monumento
assim marcando a cidade. Mas… na época de JK, as coisas eram diferentes. Naquela época,
era muito bom porque tinha Israel Pinheiro. Lidei com ele. Era um sujeito honesto, corajoso,
entusiasmado, era um companheiro indispensável. Sempre satisfeito, sempre sorrindo. Sempre
contente. Isso transmite a mesma coisa. Por mais que o barco vá caminhar. Quando desce o
pessimismo e a coisa escurece, fica pesado. A vida já é tão injusta. Ficar sem andar é uma
m…. Não ando há um tempinho, mas tô firme, tô pelejando.
Correio Braziliense – O senhor ainda tem medo de avião?
Oscar Niemeyer - Eu detesto avião. Um dia estava almoçando com JK e ele disse: olha vamos
sobrevoar de helicóptero, se você não vier, mando te prender. Eu fui no helicóptero com ele.
Mas era horrível quando parava. Quando andava, tudo bem, estava no jogo. Mas esse
desastre que houve no caminho para a França, tinha um alemão que tinha vindo me pedir um
projeto. Ele veio e ficou aqui uns dois dias, um sujeito esportivo, alegre, contente, jovem. Pegou
o avião e entrou pelo cano. Não vou dar bobeira. Avião é uma incerteza. Eu já andei muito de
avião. Fui à Europa, com a Vera. Não me queixo. Vera viu. Fico quietinho. Não faço cena, mas
detesto. A mecânica pode falhar.
Correio Braziliense – E as recordações de Juscelino? Qual e a lembrança mais forte?
Oscar Niemeyer - Eu me lembro um dia em que estava sentado com ele e telefonaram da
polícia me chamando. Ele disse que não poderia me deixar ir porque precisava de mim em
Brasília. Foi engraçado, porque eu estava sentado com ele, quando telefonaram. Passaram-se
15 dias e eu tive de prestar declarações. A vida é complicada.
Correio Braziliense – O senhor gostou do que viu em Brasília quando esteve lá da última
vez?
Oscar Niemeyer - Brasília caminha bem. O governador que saiu era muito bom e esse agora
deve ser também.
Correio Braziliense – Mas Brasília já começa a ter problemas, como de trânsito…
Oscar Niemeyer - Isso é inevitável. Passei um tempo em Paris e o problema do trânsito era
muito sério. Tiraram os carros das ruas e melhorou. Se uma família abastada tem cinco carros,
não dá, não. Vai ser preciso repensar seriamente a questão do transporte público.
Correio Braziliense – Do Rio o senhor gosta muito mais, não é?
Oscar Niemeyer - Adoro o Rio. Não saio daqui para nada.
Correio Braziliense – Mas também com essa vista do seu escritório…
Oscar Niemeyer – É fantástica. O mar é uma inspiração constante.
Correio Braziliense – O senhor gosta de música?
Oscar Niemeyer -Gosto muito. Eu tocava um pouco de violão e até toquei com o Jobim. Gosto
do Wando, do Jorge Aragão. Outro dia fiz um samba. Querem ouvir o samba? Fiz no hospital.
Fiz de brincadeira. A letra é política. A vida é um samba-enredo, né?
Oscar Niemeyer
Oscar Niemayer – É, enfim. Trabalhei, não posso me queixar. O primeiro trabalho que eu fiz
em Pampulha foi tendo sucesso, eu trabalhei para JK naquela ocasião, eu me lembro que
Pampulha foi o início de Brasília, não é? A mesma correria, a mesma angústia, a mesma
preocupação com prazo, e tudo correu bem, Pampulha com a Igreja assim diferente, coberta
de curvas, ele ficou satisfeito. Tudo isso eu acredito, deu ao JK um ânimo assim para tocar
para Brasília. Eu me lembro que ele me procurou e disse, “Oscar, fizemos Pampulha, agora
vamos fazer a nova capital”. E começou essa aventura que durou alguns anos e que deu, pelo
menos, ao povo brasileiro a sensação de um pouco de otimismo diante do futuro que agora a
gente vê com um certo prazer. A gente sentindo que o Brasil está bem conduzido, que o
presidente é operário e está, pela própria origem, ligado ao povo, que o Brasil está crescendo
para ser um país importante, a América Latina está se unindo contra essa aventura do império
do Bush.
Paulo Henrique Amorim – O senhor não gosta do Bush?
Oscar Niemayer – Eu acho que ele é um merda, sabe.
Paulo Henrique Amorim – (risos) é muito simples. Mas deixa eu voltar um pouquinho aos
cem anos. Os cem anos, a gente pode enumerar uma série de defeitos dos cem anos,
mas tem vantagens nos cem anos também, não tem?
Oscar Niemayer – O pessoal fica mais condescendente, tratando a gente melhor.
Paulo Henrique Amorim – Mais generoso… não é?
Oscar Niemayer - …com pena. Cem anos dá pena não dá prazer. Eu ia passar os cem anos
sem muita alegria. A vida passou, eu procurei ser correto, trabalhar, mas não estou contente,
na verdade não traz nenhum prazer.
Paulo Henrique Amorim – Nada?
Oscar Niemayer – Não. Só se o sujeito pensar que é importante, e eu acho isso tão ridículo,
se ele pensar que é importante ele está fora do mundo.
Paulo Henrique Amorim – Mas nem o Oscar Niemayer é importante?
Oscar Niemayer – A nossa política agora é um pouco diferente, é ligada à arquitetura, mas
sempre procurando resolver o problema do jovem. Nós estamos pensando no Brasil, no sujeito
que entra para a escola sem ler um livro e depois é formado, sai da escola como um
especialista só falando da sua profissão e o mundo pede gente diferente, que se interesse, que
converse, saiba alguma coisa. Nós, por exemplo, aqui no escritório nós temos um professor de
filosofia há cinco anos. Ninguém quer ser um intelectual…
Paulo Henrique Amorim – O senhor estuda filosofia?
Oscar Niemayer – Há cinco anos. Mas ninguém tem esse interesse agora.
Paulo Henrique Amorim – Mas, qual é esse seu interesse por filosofia agora?
Oscar Niemayer – A gente quer se informar melhor sobre tudo, aprender outras coisas. O
importante é a pessoa ser curiosa. Não é um interesse de um intelectual, é um interesse de um
sujeito normal que sente a vida, que é solidário, que acha que o mundo pode ser melhor, que
um dia o homem possa ter prazer em ajudar o outro, é isso que é a generosidade num certo
sentido. E o ser – humano, é verdade, a perspectiva dele é muito pouco.
Paulo Henrique Amorim – É muito pouco?
Oscar Niemayer – A própria natureza está começando a evoluir, já falam que o sol pode
crescer, pode queimar tudo, essas teorias todas, a gente tem que querer, ter vontade de
participar, ter uma idéia também, para onde nós vamos… não é? De modo que o que eu acho
importante é o jovem ler, se informar, ter uma base patriótica, saber que o Brasil é importante.
Antigamente não era preciso falar muito em pátria não, mas hoje tem que falar. A América
Latina está ameaçada, nós temos que nos unir, o que eu acho que é importante é ter uma
visão geral do mundo.
Paulo Henrique Amorim – Você se considera um patriota?
Oscar Niemayer – Entre nós, geralmente os nossos irmãos militares, a gente traz a idéia da
pátria no peito, porque a própria profissão obriga. Quando precisamos dessas autoridades, eles
são indispensáveis. É lógico que eu penso o Brasil, penso o povo brasileiro, satisfeito, porque
eu estou sentindo que o Brasil está caminhando melhor, vai ser um grande país. A juventude
começa a compreender que a vida não é um passeio, que tem que se informar, o jovem tem
que ler, participar da vida, se informar, não pode se transformar num especialista que só fala
em arquitetura, que só fala em teoria, em medicina…
Paulo Henrique Amorim – O senhor não gosta de falar muito em arquitetura, não é?
Oscar Niemayer – Quando vêm estrangeiros aqui, repórteres estrangeiros, eles realmente
querem que eu fale o que eu fiz, os projetos, me dá uma preguiça de falar. A Arquitetura é
importante, é a minha profissão, passei a vida debruçado na prancheta. Mas o importante é a
vida, fazer a vida mais justa, isso é o que é importante e eles ficam assim e logo para eles
sentirem bem o meu ponto de vista eu digo: “vocês sabem, quando eu vejo os estudantes na
rua protestando, acho que o trabalho deles é mais importante do que o meu”.
Paulo Henrique Amorim – Você soube que foi feita uma enquete agora para localizar os
cem maiores gênios vivos.
Oscar Niemayer – Eles se enganaram, eu não tenho que estar nisso não…
Paulo Henrique Amorim – E você está entre os dez maiores dos cem. Isso não é uma
coisa que te dá alegria?
Oscar Niemayer – Não… quem é que julgou? Quem é que procedeu? Tem tanta gente mais
importante.
Paulo Henrique Amorim – Por exemplo?
Oscar Niemeyer
Oscar Niemayer – Ah… tem tanta gente… são tão importante. A vida é ingrata, é injusta. Eu
acho que a gente tem é que… não devemos manter uma posição assim, de falar das coisas,
mas por agir. Por exemplo, tem um colega meu aí, ele queria ser arquiteto, mas era muito
humilde, ele não podia ser. Então eu estou pagando a escola dele, no fim do ano ele vai ser
arquiteto. Mas ele tem um compromisso comigo, ele tem que ler. Então ele já sabe, tem que ler
Machado de Assis, tem que ler Graciliano Ramos, tem que ter uma idéia da vida. É preciso, a
leitura é indispensável. Eu me lembro que teve um período que eu já muito li muito o Simenon,
escritor francês de contos policiais. O pessoal do escritório falava, “para quem ler isso, esse
negócio não tem conteúdo nenhum”. Mas, um dia eu li um livro do Sartre, onde ele dizia, “hoje li
três livros de Simenon”. Então, se Sartre leu três livros de Simenon, a leitura é necessária,
qualquer leitura é necessária.
Paulo Henrique Amorim – Mas Oscar, por mais que você tenha resistência em falar de
arquitetura, um grande amigo seu, que é meu amigo também, o Ítalo Campofiorito deu
uma entrevista dizendo assim, “Que o Oscar, ele faz obras tão grandes que acabam se
tornando a marca, a cara, a personalidade de uma cidade”.
Oscar Niemayer – É um amigo que está falando, não é? Mas é bom, é verdade, eu procuro
fazer uma arquitetura diferente. Acho que a arquitetura tem que criar espanto, criar surpresa, é
feito a obra de arte, a obra de arte se caracteriza quando ela provoca emoção e surpresa.
Então, a arquitetura, ter uma arquitetura diferente, é importante, é a prova da criação. De modo
que eu trabalho nisso, eu tenho um projeto para fazer, eu estou nesse caminho, eu tiro metade
dos apoios, a arquitetura se faz mais audaciosa, não é, com espaços mais generosos, aí eu
posso atuar de uma forma diferente, o que ocorre sem nenhum preconceito antes. Um dia
perguntaram ao André Malraux uma pergunta semelhante e ele disse, “eu tenho dentro de mim
tudo o que eu amei na vida”, isso às vezes me ocorre, de modo que a coisa é espontânea, eu
acho que a arquitetura está na cabeça, eu posso, sentado aqui, pensar dois dias num projeto
levantar e desenhar. Agora, o desenho é importante também porque surge uma idéia… mas a
arquitetura não tem nada de especial. Hoje o concreto permite tudo, no período da renascença,
por exemplo, sujeito queria fazer uma cúpula, não passava de quarenta metros de vão. Eu fiz
agora o museu de Brasília, tem 80 metros de vão, eu podia ter feito de 150 metros de vão. O
arquiteto hoje tem à disposição dele uma técnica fantástica. Ele pode usar como bem entender.
Agora, alguns arquitetos procuram fazer alguma coisa mais simples, como se fosse estrutura
metálica, outros, como eu, procuram uma forma diferente, a surpresa, e faz parte da
arquitetura.
Paulo Henrique Amorim – Por que é que os brasileiros, por exemplo, não se dão conta
de que um dos prédios mais lindos de Nova York é de sua autoria, o prédio da ONU?
Oscar Niemayer – Foi da minha autoria. Um dia houve um concurso e escolheram o meu
projeto. Nesse projeto eu criava a Praça das Nações Unidas. Tinha um prédio alto no centro,
uma grande Assembléia de um lado, outro prédio do outro, então era muito bonito. E foi por
unanimidade que escolheram esse projeto. Mas depois, eu mesmo permiti mudar a posição da
Assembléia e o projeto mudou, o projeto com a Assembléia grudada em um prédio alto, não é
de boa arquitetura.
Paulo Henrique Amorim – Você próprio não gosta muito.
Oscar Niemayer – Eu me arrependo de ter aceitado mudar a posição da assembléia.
Paulo Henrique Amorim – Foi um pedido do Corbusier, não foi?
Oscar Niemayer – Eu era jovem e ele era um mestre e eu atendi, mas foi péssimo, o projeto
original era muito melhor.
Paulo Henrique Amorim – A sua memória é perfeita, não é isso? Com cem anos a sua
memória está ótima.
Oscar Niemayer – Para algumas coisas sim, para outras não. As coisas ruins eu procuro
esquecer.
Paulo Henrique Amorim – Mas, uma vez você estava com um amigo, num restaurante
aqui da Avenida Atlântica, o Lucas, e eu estava com a minha filha, que tinha acabado de
chegar de Brasília, eu fui mostrar a ela a capital do Brasil. Eu disse para ela, “minha filha,
quem está ali é o Oscar Niemayer”, e ela, “Ah, aquele da catedral, do Palácio da
Alvorada”, eu digo, “pois é, vamos lá conhecê-lo?”, e eu levei a minha filha para
conhecê-lo. Você foi muito gentil, muito simpático e ela perguntou, “como veio à sua
cabeça a idéia de fazer aquelas duas bolas do Congresso?”. Aí você pegou uma
laranja… lembra disso?
Oscar Niemayer – Não.
Paulo Henrique Amorim – Pegou uma laranja, cortou ao meio e disse, “assim ó”.
Oscar Niemayer – Realmente, o projeto do Congresso é o que eu gosto mais. Fui um pouco
corajoso fazer aquilo, aquilo deu mais trabalho do que parece, não era feito cortar uma laranja.
Eu me lembro que tempos depois o engenheiro que calculou, o Joaquim Cardoso, me telefonou
e disse, “Oscar, encontrei a tangente que vai permitir que a cúpula da Câmara pareça apenas
posada.” De modo que fazer uma forma assim, já conhecida, tem problemas de estrutura,
enfim, não é fácil de fazer. Eu gosto, o espaço entre elas é bom, o espaço faz parte da
arquitetura.
Oscar Niemeyer
Paulo Henrique Amorim – Mas e aquelas curvas do Palácio da Alvorada, o mundo inteiro
copia as suas curvas.
Oscar Niemayer – Você vê que nós estamos com a idéia do prazo na cabeça, tinha que correr.
Mas isso não me levou, felizmente, a procurar a solução mais simples, repetida. Em cada caso
eu queria uma solução nova. Então eu cheguei àquela solução, dos apoios em curva que eu vi
publicado pelo mundo e sem mágoa nenhuma. Quando o sujeito copia uma coisa minha eu
acho que ele é gentil, ele gostou daquilo. Há pouco tempo saiu nos Estados Unidos uma nota
dizendo que um arquiteto lá tinha copiado um arco que eu fiz ali num projeto. Eu disse logo que
não, que não estava zangado não, ele gostou do arco, ele foi gentil.
Paulo Henrique Amorim – É um elogio, o plágio é uma forma de elogio.
Oscar Niemayer – O difícil no mundo, é uma prática que eu faço e realmente é útil, é sempre
procurar viver tranqüilo, aceitar as coisas, aceitar a burrice, até a burrice ativa que incomoda.
Paulo Henrique Amorim – A burrice ativa? E tem muito burro ativo, não é? Tem burros
dinâmicos.
Oscar Niemayer – Pois é, é respeitar os amigos. Eu sou incapaz de criticar algum arquiteto.
Eu acho que ele teve trabalho, procurou fazer, a solução que ele pensou é aquela. Mas o
importante na arquitetura é o arquiteto fazer o que ele gosta e não o que os outros gostariam
que ele fizesse, esse é o ponto de partida.
Paulo Henrique Amorim – O JK foi o homem público que você mais admira?
Oscar Niemeyer – Não, tem tantos homens públicos… Eu admiro ele, eu admiro a coragem
dele, o espírito de empreendedor, de fazer Brasília. tem tanto brasileiro importante. Importante
como ele. Por exemplo, uma pessoa que eu admiro muito é o Capanema, que eu lhe dei
durante muito tempo.
Paulo Henrique Amorim – Gustavo Capanema, o ministro da Educação.
Oscar Niemeyer – Ministro da Educação, chamou Drummond, foi Capanema que me chamou
para Brasília.
Paulo Henrique Amorim – E foi para fazer o prédio do MEC, o primeiro prédio do
Ministério da Educação.
Oscar Niemeyer – Não, o prédio é do Corbusier, nós melhoramos. Agora, o trabalho que ele
me chamou para fazer Brasília. O Juscelino apareceu e ele me indicou. Essa história mostra
que as coisas surgem naturalmente. Eu trabalhava numa universidade e não gostei da
universidade, pedi demissão, Capanema não aceitou a minha demissão e deixou para mim um
bilhete. Eu fiquei um ano lá, ajudando, uma coisa e outra ligada a arte, com o Drummond,
aquela turma do gabinete dele e ficamos muito amigos. Então, quando veio o Juscelino, ele me
indicou. Quer dizer, se eu não tivesse brigado na universidade e saído e o Capanema me
chamado para o gabinete, não aceitando a minha demissão, eu não tinha ficado amigo dele, e
ele não me indicaria. Capanema foi fundamental na minha vida de arquiteto.
Paulo Henrique Amorim – Como está a encomenda que o Chávez fez, de fazer um
Memorial para o Bolívar?
Oscar Niemeyer – Não, não tem encomenda. Ele esteve aqui, muito simpático, falou muito em
Bolívar. Eu tinha idéia de um monumento e mandei para ele como presente. E admiro, é um
sujeito patriota, ele quer melhorar o país, ele acha que um bom governo pode continuar mais
tempo…
Paulo Henrique Amorim – Isso para você não é uma coisa grave?
Oscar Niemeyer – Não, acho que ele tem o direito, ele está no clima de revolução, ele tem que
defender a revolução e lutar contra tudo. Me lembro, por exemplo, uma vez eu fiz uma
mesquita em Argel. E o presidente da República, (Houari) Boumedienne, foi um grande general
lá. Eu levei a mesquita para ele e eu me lembro que ele disse assim: “Mas essa é uma
mesquita revolucionária”. Eu disse: “A revolução não deve parar”. Eu estava tão certo. A
revolução não deve parar. A revolução tem que continuar brigando, senão ela acaba, se as
forças contrárias fossem crescendo. De modo que a Revolução Cubana ainda existe. Qualquer
revolução dessas – o Chávez também –, os inimigos da revolução estão lá. A revolução está
em curso, não sumiu ainda. E quando sumir tem que continuar testando a continuidade.
Paulo Henrique Amorim – Você diria que hoje você é politicamente mais radical do que
50 anos atrás?
Oscar Niemeyer – Não. Eu desculpo muito as pessoas. Eu custo muito a ter raiva de uma
pessoa. Acho que toda pessoa tem um lado bom. Eu sou incapaz de criticar o trabalho de um
arquiteto, mesmo que eu não esteja de acordo. A gente tem que procurar o equilíbrio, isso é
que faz bem inclusive para a saúde.
Paulo Henrique Amorim – Como é que está a saúde?
Oscar Niemeyer – Eu nunca tive doente.
Paulo Henrique Amorim – Nada?
Oscar Niemeyer – Nada.
Paulo Henrique Amorim – Como é que é a sua dieta?
Oscar Niemeyer
Oscar Niemeyer
Oscar Niemayer – Pois é, eu estou dizendo. Estou dizendo que São Paulo é ruim também
porque é o mesmo espírito. Não há essa relação de volume e espaço livre que a boa
arquitetura exige.
Paulo Henrique Amorim – Você conhece essa frase do Chico Buarque, “a música do Tom
é uma casa desenhada pelo Niemayer”.
Oscar Niemayer – Nós estamos fazendo uma revista de arquitetura, (como a que) tivemos
uma há tempos atrás.
Paulo Henrique Amorim – A Modulo?
Oscar Niemayer – Agora é outra. O nome da revista é Nosso Caminho. A idéia que dá é o
nosso caminho para frente. Então, nessa revista, a arquitetura tem uma terça parte, o resto
artigos variados, filosofia, história, letras. Mas essa revista, nós já estamos pensando no meio
da revista uma página com um retrato do Chico e um textozinho. É uma homenagem da
revista, desse primeiro número para o Chico.
Paulo Henrique Amorim – E quem é que dirige a revista, é você?
Oscar Niemayer – Não, quem dirige é a minha mulher. Eu cuido assim das coisas de
organização das páginas.
Paulo Henrique Amorim – Da paginação, a parte gráfica.
Oscar Niemayer – É.
Paulo Henrique Amorim – Que legal, quando sai essa revista?
Oscar Niemayer – Está pronta, estamos acertando os textos e tudo. É uma revista assim,
aberta para o conhecimento. São artigos, tem artigos do Ferreira Gullar, tem artigo do…
Paulo Henrique Amorim – Do Gullar deve ser sobre artes plásticas.
Oscar Niemayer – Artes plásticas, tem artigo do Fiori.
Paulo Henrique Amorim – José Luiz Fiori.
Oscar Niemayer – São cinco artigos, os mais variados.
Paulo Henrique Amorim – E seu não tem nenhum?
Oscar Niemayer – Tem meu também.
Paulo Henrique Amorim – Sobre o que?
Oscar Niemayer – Eu estou querendo usar um artigo que eu falei sobre arquitetura também.
Mas sem fugir do assunto da vida.
Paulo Henrique Amorim – Mas você roda, roda, roda e volta para a arquitetura.
Oscar Niemeyer
Oscar Niemeyer – Se você concordar que nós fazemos arquitetura para o poder, a arquitetura
não chega aos barracos. Então, a arquitetura que deve crescer em função da técnica e da
sociedade, está faltando essa parte. Ela evoluiu, a arquitetura hoje é mais rica, imensamente
mais rica, como solução técnica do que antigamente. Mas continua voltada para os que têm
direitos à arquitetura, às classes mais favorecidas. O pobre está na favela olhando os palácios.
Paulo Henrique Amorim – Você diria que seria, em resumo, o seguinte: eis o que lhes
devia dizer sobre a minha arquitetura, feita com coragem e idealismo, mas consciente de
que o importante é a vida. Os amigos e esse mundo injusto que precisamos melhorar.
Oscar Niemeyer – Exatamente.
Paulo Henrique Amorim – Mas isso é seu.
Oscar Niemeyer – É, é o que eu penso.
Exposições Individuais
1964
Brasília DF – Oscar Niemeyer, 90 Dias em Israel, no Hotel Nacional
Rio de Janeiro RJ – Oscar Niemeyer, 90 Dias em Israel
1965
Paris (França) – Oscar Niemeyer, L’Architecte de Brasília, no Musée des Arts Décoratifs
1969
São Paulo SP – 70 Projetos Mais Importantes de Oscar Niemeyer, na FAU/USP
1980
Florença (Itália) – Individual, no Claustro Santa-Croce
Paris (França) – Individual, no Musée National d’Art Moderne. Centre de Création Industrielle
Veneza (Itália) – Individual, no Palazzo Grassi
1983
Rio de Janeiro RJ – Individual, no MAM/RJ
1986
Brasília DF – Individual, no Congresso Nacional
1987
Curitiba PR – Oscar Niemeyer 80 Anos, no Palácio do Iguaçu
Rio de Janeiro RJ – Oscar Niemeyer 80 Anos, no MAM/RJ
Turim (Itália) – Oscar Niemeyer Architetto, no Palazzo Vela
1988
Rio de Janeiro RJ – Oscar Niemeyer: alguns desenhos, um monumento e seu mais recente
projeto, na Galeria Anna Maria Niemeyer
1989
Compenhague (Dinamarca) – Individual, no Dansk Arkitektur Center – Gammel Dok
1990
Barcelona (Espanha) – Individual, na Fundació la Caixa
1994
Rio de Janeiro RJ – Como Nasce a Arquitetura, na Fundação Oscar Niemeyer
1995
Rio de Janeiro RJ – Oscar Niemeyer: desenhos e croquis, na Galeria Anna Maria Niemeyer
1997
Niterói RJ – Oscar Niemeyer: a arquitetura e a vida, no MAC/Niterói
Salvador BA – Oscar Niemeyer: desenhos e croquis, na Universidade Federal da Bahia.
Faculdade de Arquitetura
São Paulo SP – Os Museus de Oscar Niemeyer, no MAM/SP
São Paulo SP – Oscar Niemeyer 90 Anos, na Fundação Memorial da América Latina
1999
Niterói RJ – Oscar Niemeyer: esculturas, no MAC-Niterói
2001
Lisboa (Portugal) – Oscar Niemeyer 2001, no Parque das Nações. Pavilhão de Portugal
2003
Rio de Janeiro RJ – Individual, na Galeria Anna Maria Niemeyer
2004
São Paulo SP – Oscar Niemeyer, no Instituto Tomie Ohtake
Exposições Coletivas
1979
São Paulo SP – 15ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
1981
Brasília DF – Mostra de Artes Plásticas de Arquitetos, no Instituto de Arquitetos do Brasil.
Direção Nacional
1983
Chicago (Estados Unidos) – From Aleijadinho to Niemeyer, no Illinois Institute of Tecnology
Nova York (Estados Unidos) – From Aleijadinho to Niemeyer, na ONU
1984
São Paulo SP – Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
1986
Havana (Cuba) – 2ª Bienal de Havana, na Plaza de Armas do Castillo de la Real Fuerza
1988
São Paulo SP – De Gaudí a Niemeyer, na Traço Galeria de Arte
Nova York (Estados Unidos) – Brazil Projects, no P. S. 1
1989
Genebra (Suíça) – Homenagem aos 40 Anos da Declaração Universal dos Direitos do Homem,
no Palácio das Nações
1990
Brasília DF – Brasília, 30 Anos, na Performance Galeria de Arte
São Paulo SP – Croquis – a Criação do Arquiteto, no Instituto de Arquitetos do Brasil.
Departamento de São Paulo
1991
Rio de Janeiro RJ – É um Rio que Flui em Nossas Vidas, no Instituto de Arquitetos do Brasil.
Departamento do Rio de Janeiro
1992
Rio de Janeiro RJ – Saudades do Brasil: a era JK, no MAM/RJ
São Paulo SP – Saudades do Brasil: a era JK, no Masp
1993
La Paz (Bolívia) – 3ª Bienal Internacional de Arquitetura – 1º prêmio
Rio de Janeiro RJ – Mostra Latino-Americana de Arquitetura, no Rio Design Center
São Paulo SP – Mostra Latino-Americana de Arquitetura, no Museu da Casa Brasileira
São Paulo SP – 2ª Bienal Internacional de Arquitetura – Sala Especial a Oscar Niemeyer, na
Fundação Bienal
1996
Veneza (Itália) – 6ª Bienal Internacional de Arquitetura de Veneza, no Pavilhão do Brasil nos
Jardins Giardini – Prêmio Leão de Ouro
1997
Brasília DF – 10 Anos de Brasília: patrimônio cultural da humanidade, no Teatro Nacional
Cláudio Santoro
1998
Rio de Janeiro RJ – O Rio Jamais Visto, no CCBB
1999
São Paulo SP – Cotidiano/Arte. O Consumo. Paratodos, no Itaú Cultural
São Paulo SP – Década de 50 e seus Envolvimentos, na Jo Slaviero Galeria de Arte
2000
Valência (Espanha) – De la Antropofagia a Brasilía: Brasil 1920-1950, no IVAM. Centre Julio
Gonzáles
2001
Rio de Janeiro RJ – A Imagem do Som de Antônio Carlos Jobim, no Paço Imperial
2002
Brasília DF – JK – Uma Aventura Estética, no Conjunto Cultural da Caixa
Niterói RJ – A Recente Coleção do MAC, no MAC/Niterói
São Paulo SP – Da Antropofagia a Brasília: Brasil 1920-1950, no MAB/Faap
2003
São Paulo SP – Escultores – Esculturas, na Pinakotheke
São Paulo SP – Israel e Palestina: dois estados para dois povos, no Sesc Pompéia
São Paulo SP – Tomie Ohtake na Trama Espiritual da Arte Brasileira, no Instituto Tomie Ohtake
2004
Rio de Janeiro RJ – Tomie Ohtake na Trama Espiritual da Arte Brasileira, no MNBA
2005
Niterói RJ – A Poética da Forma, no MAC/Niterói
Cronologia
1935
Rio de Janeiro RJ – Trabalha no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN
1936
Rio de Janeiro RJ – Concebe seu primeiro projeto pessoal, a casa Henrique Xavier
Rio de Janeiro RJ – Integra, a convite de Lucio Costa, a comissão formada para definir os
planos da Cidade Universitária e do Ministério da Educação e Saúde, sob supervisão de Le
Corbusier, a quem assiste, como desenhista, durante sua estada de três semanas na cidade. É
Niemeyer quem apresenta a solução adotada na construção do edifício do Ministério da
Educação, baseada no primeiro projeto de Le Corbusier
1937
Rio de Janeiro RJ – Tem seu primeiro projeto de edifício realizado, a Obra do Berço,
maternidade e assistência infantil
1939
Nova York (Estados Unidos) – Orienta a realização do Pavilhão Brasileiro na Feira
Internacional de Nova York, que projeta com Lucio Costa e Paul Lester Wiener
Nova York (Estados Unidos) – É nomeado cidadão de honra da cidade pelo governador Fiorello
La Guardia
Rio de Janeiro RJ – Assume a função de arquiteto-chefe do grupo encarregado da elaboração
do edifício do Ministério da Educação
1940
Rio de Janeiro RJ – Abre seu primeiro escritório com seus amigos Affonso Eduardo Reidy
(1909 – 1964) e Hélio Uchoa
1940/1941
Rio de Janeiro RJ – É um dos três vencedores do concurso para o Estádio Nacional do Rio de
Janeiro
1940/1944
Belo Horizonte MG – Projeta, por encomenda do então prefeito da cidade, Juscelino
Kubitscheck (1902 – 1976), o conjunto arquitetônico da Pampulha, que inclui um cassino, um
restaurante circular, um clube náutico e a Capela de São Francisco de Assis, com painéis de
Candido Portinari (1903 – 1962) e esculturas de Alfredo Ceschiatti (1918 – 1989)
1947
Nova York (Estados Unidos) – É convidado pela ONU a participar da comissão de arquitetos
dirigida por Wallace Harrison, encarregada de definir os planos de sua futura sede na cidade.
Seu projeto, associado ao de Le Corbusier, é escolhido como base do plano definitivo
Nova York (Estados Unidos) – Passa sete meses na cidade trabalhando nas propostas para o
edifício da ONU, como membro do comitê consultivo para a definição de sua sede
1949
Estados Unidos – É nomeado membro honorário da American Academy on Arts and Sciences
1950
Nova York (Estados Unidos) – Stamo Papadaki publica pela editora Reinhold, a primeira
monografia dedicada a Oscar Niemeyer. Essa obra é traduzida e publicada em número
especial da revista Kokusai Keuchiku, em 1952, no Japão
1953
Berlim (Alemanha) – É convidado a fazer parte de um grupo de 15 arquitetos encarregados de
projetar unidades de habitações no bairro de Hansa
1954
Europa – Vai pela primeira vez a esse continente. Visita Lisboa, Berlim, Paris, Varsóvia,
Moscou, entre outras cidades
1955
Rio de Janeiro RJ – Funda a revista Módulo
1956/1957
Rio de Janeiro RJ – Recebe convite do então presidente da República, Juscelino Kubitschek,
para colaborar na construção da nova capital. Aceita criar os principais edifícios, mas recusa-se
a desenvolver o plano urbanístico. Um concurso para a criação do plano piloto de Brasília é
então lançado e o projeto de Lucio Costa é o vencedor.
Niemeyer participa, como representante da Novacap (entidade encarregada dos estudos para a
elaboração dos planos de construção da nova capital), da comissão de julgamento desse
concurso
1958
Brasília DF – É nomeado arquiteto-chefe da nova capital
1958/1960
Brasília DF – Nomeado arquiteto-chefe da nova capital, transfere-se para Brasília
1960
Brasília DF – Recebe do presidente Juscelino Kubitschek a Medalha do Trabalho do Brasil
Rio de Janeiro RJ – Vive nessa cidade
1961
Rio de janeiro RJ – Publica o livro Minha Experiência em Brasília
1962
Trípoli (Líbano) – Executa, a convite do governo libanês, projeto para a Exposição Internacional
Permanente de Trípoli, incluindo o pavilhão do Líbano, o museu espacial, o teatro experimental,
o museu da habitação e o teatro ao ar livre
Trípoli (Líbano) – Permanece por dois meses na cidade, onde executa, a convite do governo
libanês, projeto para a Exposição Internacional Permanente de Trípoli
1963
Brasília DF – Recebe o Prêmio Lênin Internacional da Paz, na UnB
1964
Tel Avive (Israel) – Durante seis meses de permanência, cria vários projetos, entre eles as
universidades de Haifa, em Israel, e de Acra em Gana
1965
Paris (França) – Recebe a Medalha Juliot-Curie
Paris (França) – Visita sua exposição no Pavilhão Marsan das Artes Decorativas do Palácio do
Louvre
1966
Rio de Janeiro RJ – Publica, pela Civilização Brasileira, o livro Viagens – quase memórias
1967
Paris (França), Portugal, Roma (Itália) e Líbano – Realiza, entre outros, o projeto da sede do
Partido Comunista Francês, em Paris
1968
Constantine (Argélia) e Milão (Itália) – Prepara os projetos da Universidade de Constantine e da
sede da Editora Mondadori, em Milão
Paris (França) – Recebe prêmio da revista Architecture d’Aujourd’hui
1970
Estados Unidos – Medalha Homenagem do Instituto de Arquitetos Norte-Americanos
1972
Paris (França) – Abre um escritório e, entre outros, inicia projeto da Casa de Cultura em Le
Havre
1973
Varsóvia (Polônia) – Recebe a medalha da Academia Polonesa de Arquitetura
1974
Paris (França) – A revista Architecture d’Aujourd’hui dedica um número especial aos seus
trabalhos recentes
1975
Milão (Itália) – A editora Mondadori publica o livro autobiográfico Oscar Niemeyer
1980
Brasília DF – Realiza o Memorial Juscelino Kubitschek
Florença (Itália) – Recebe o Prêmio Lorenzo il Magnífico, da Accademia Internazionale Medicea
Paris (França) – É promovido a Chevalier de la Légion d’Honneur e nomeado membro do
comitê dos conselheiros artísticos da Unesco
1981
Rio de Janeiro RJ – É editada, inserta na revista Módulo, uma serigrafia de sua autoria, com
tiragem de 100 exemplares
1982
França – Recebe a Ordem de Comendador das Artes e Letras e a medalha de ouro da
Academia de Arquitetura de Paris
1983
Rio de Janeiro RJ – Projeta a Passarela do Samba, conhecida também como Sambódromo
1985
São Paulo SP – Seu livro Oscar Niemeyer é publicado pela Editora Almed
1986
Petrópolis RJ – Publica Como se Faz Arquitetura, pela Editora Vozes
Rio de Janeiro RJ – Cria o monumento Tortura Nunca Mais, em homenagem aos perseguidos
políticos
1987
Saint-Denis (França) – Cria projeto da sede do jornal L’Humanité
1988
São Paulo SP – Cria os planos do Memorial da América Latina
Los Angeles (Estados Unidos) – Recebe The Pritzker Architecture Prize [Prêmio Pritzker de
Arquitetura], da The Hyatt Foundation, considerado o “Prêmio Nobel de arquitetura”
1990
Barcelona (Espanha) – O arquiteto Josep Maria Botey publica livro sobre a obra de Niemeyer
Vaticano (Itália) – Recebe do papa João Paulo II o título da Ordem de São Gregório, o Grande
1991
Brasília DF – É condecorado, pelo Ministério das Relações Exteriores, com a Grã-Cruz da
Ordem de Rio Branco
Rio de Janeiro RJ – Cria, entre outros, o projeto do Parlamento da América Latina em São
Paulo e do MAC/Niterói
1992
Rio de Janeiro RJ – Cria o monumento a Luís Carlos Prestes
Rio de Janeiro RJ – Publica Meu Sósia e Eu, pela Editora Revan
1993
Brasília DF – Torna-se Cidadão Honorário de Brasília
Rio de Janeiro RJ – Publica Conversa de Arquiteto, pela Editora Revan
São Paulo SP – É presidente de honra da 2ª Bienal Internacional de Arquitetura
1994
Rio de Janeiro RJ – É inaugurado no Palácio Gustavo Capanema, o Espaço Niemeyer, com
exposição permanente de sua obra
1995
Brasília DF – Recebe a insígnia da Ordem do Mérito Cultural
São Paulo SP e Belo Horizonte MG – Recebe o título de Doutor Honoris Causa da USP e da
UEMG
1996
Rio de Janeiro RJ – Projeta, a pedido do Movimento dos trabalhadores Rurais sem Terra –
MST, monumento para registrar o assassinato de sem-terras ocorrido em Eldorado dos
Carajás, PA
1997
Brasília DF – É homenageado, pelos seus 90 anos, com sessão solene no Congresso Nacional
Cuba – É condecorado com a Ordem do Mérito José Martí, pelo governo da República de
Cuba, rompendo a tradição de concedê-lo somente a chefes de estado
Reino Unido – Recebe o Diploma de Honra ao Mérito da Associação dos Arquitetos do Reino
Unido
1998
Rio de Janeiro RJ – Publica As Curvas do Tempo – Memórias, pela Editora Revan
Rio de Janeiro RJ – Recebe de uma delegação inglesa a Royal Gold Medal, do Royal Institute
of British Architectes
2001
Rio de Janeiro RJ – É eleito o arquiteto do século, pelo Conselho Superior do Instituto dos
Arquitetos do Brasil – IAB.