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Material de Apoio Pedagógico

Estratégias Educativas : A Poética criativa do arquiteto Oscar


Niemeyer

I. Apresentação:

O Museu de Arte Contemporãnea de Niterói como um dos projetos


arquitetônicos de destaque entre as criações do arquiteto Oscar Niemeyer
abrigará a partir do mês de dezembro de 2007 até março de 2008 a
exposição comemorativa ao seu centenário.

As comemorações dos 100 anos do arquiteto nos apresenta a


oportunidade de oferecermos aos educadores que acompanham nossos
encontros um programa especial e material de apoio pedagógico
enfocando a trajetória do arquiteto e sua poética criativa. Devemos
destacar que a obra de Oscar Niemeyer abriu caminhos para a evolução
da arquitetura brasileira.O seu processo criativo revela sua habilidade de
congregar arte, arquitetura e poesia, promovendo o interrrelacionamento
de elementos que fazem com que suas criações mais do que construções
arquitetônicas sejam consideradas obras artisticas.

Oscar Niemeyer considera que a vida é mais importante do que a


arquitetura, seu posicionamento politico revela sua visão socialista e
preocupação com as desigualdades sociais e engajamento na construção
de um mundo mais justo.

Como foco de abordagem pedagógica a comemoração do centenário de


Oscar Niemeyer apresenta aos educadores a oportunidade de
desenvolver, com seus alunos, projetos que enfoquem as variadas
vertentes que congregam a constução da modernidade brasileira.
Destacando-se os campos das artes plásticas,da música, da literatura, do
esporte e da politica .A partir dessas premissas organizamos esse material
que busca contribuir como apoio para o desenvolvimento de propostas
pedagógicas e abordagens educativas interdisciplinares abrangendo
diversificadas areas de conhecimento.

Desejamos que esse encontro pedagógico colabore para uma prática


pedagógica compartilhada e inovadora entre o Museu e a Escola.
Marcia Campos
Coordenação de Projetos Pedagógicos
Divisão de Arte Educação

II.Sintese da Trajetória Biográfica de Oscar Niemeyer:

Oscar Niemeyer nasceu no Rio de Janeiro em 15 de Dezembro de 1907.


Concluiu o ensino secundário aos 21 anos, mesma idade com que casa
com Anita Baldo, filha de imigrantes Italianos da província de Pádua, com
quem teve somente uma filha.

Após o casamento começa a trabalhar na oficina tipográfica do pai e


ingressa na Escola Nacional de Belas Artes, de onde sai formado como
engenheiro arquiteto em 1934. Na época passava por dificuldades
financeiras, mas mesmo assim decidiu trabalhar sem remuneração no
escritório de Lucio Costa e Carlos Leão.

Em 1937, o escritório de Lucio Costa e Carlos Leão onde trabalhava é


chamado pelo ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema (que
anulara o concurso público ganho por Archimedes Memória), para projetar
o novo edifício do Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro. Este
projeto estava inserido no contexto político do Estado Novo, quando
Getúlio Vargas, presidente do Brasil, usava a arquitetura e o urbanismo
como ferramentas para ilustrar os novos rumos da nação em uma fase
intermediária, tentando se transformar de potência agrícola exportadora
de café em um país industrializado.

Lucio dividiu a autoria do projeto com outros arquitetos: Affonso Eduardo


Reidy, Ernani Vasconcellos, Jorge Moreira, Carlos Leão e também um dos
grandes expoentes mundiais do Movimento Moderno, o arquiteto franco-
suíço Le Corbusier. O edifício, terminado em 1943, eleva-se da rua
apoiando-se em pilotis: sistema de pilares de concreto que mantém o
prédio "suspenso", permitindo o trânsito livre de pedestres por debaixo do
mesmo (um espaço público de passagem). O prédio uniu os maiores
nomes do modernismo brasileiro, com azulejos de Portinari, esculturas de
Alfredo Ceschiatti e jardins de Roberto Burle Marx.

Em 1939, Niemeyer viaja com Lucio Costa para projetar o Pavilhão


Brasileiro na Feira Mundial de Nova Iorque. Associa-se ao escritório de Paul
Lester Wiener, responsável pelo detalhamento dos interiores e stands de
exposição.

Em 1940, Niemeyer conheceu Juscelino Kubitschek. Este era na época o


prefeito de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, e tinha interesse em
desenvolver uma área ao norte da cidade, chamada Pampulha. Chamou
Niemeyer para projetar uma série de prédios que seriam conhecidos como
conjunto da Pampulha. Este seria o primeiro trabalho individual de
Niemeyer, com 33 anos de idade.

Prontos em 1943, os prédios renderam muitas críticas e admiração. A


Igreja católica negou-se a benzer a Igreja de São Francisco de Assis (Belo
Horizonte), em parte por sua forma não ortodoxa, em parte pelo mural
moderno pintado por Portinari.

No conjunto da Pampulha Niemeyer começa um estilo que irá marcar o


seu trabalho quase todo: utiliza-se das propriedades estruturais do
concreto armado para dar formas sinuosas aos prédios.

No início dos anos 40, Niemeyer foi contratado pelo industrial e intelectual
Francisco Inácio Peixoto para elaborar dois projetos em Cataguases: uma
casa e um colégio. O projeto arquitetônico da residência de Chico Peixoto
foi entregue em 1940. Os projetos contaram com jardins de Burle Marx.
Como ornamentos para o prédio do colégio, o arquiteto sugeriu a
instalação de um painel em mosaicos de Paulo Werneck e de um mural de
Cândido Portinari.
Em 1945 filia-se ao Partido Comunista Brasileiro e manifesta seu
idealismo politico defendendo um mundo mais justo e igualitário. Durante
alguns anos da ditadura militar do Brasil auto-exilou-se na França.
Em 1947, seu reconhecimento mundial é atestado: Niemeyer viaja para os
Estados Unidos para compor uma equipe de arquitetos renomados que
farão o projeto da sede das Nações Unidas em Nova Iorque. No ano
anterior havia recebido um convite para lecionar na Universidade de Yale,
porém teve seu visto negado devido à sua posição política. Em 1950, o
primeiro livro sobre seu trabalho (The Work of Oscar Niemeyer) é
publicado nos EUA, por Stamo Papadaki.

No Brasil, projeta em São Paulo o Conjunto do Ibirapuera (um parque com


pavilhões de exposições em homenagem ao aniversário de 400 anos da
cidade) e o COPAN, em 1951 e no ano seguinte constrói sua própria casa
no Rio de Janeiro. Esta, chamada a Casa das Canoas, nome da estrada em
que se encontra, tornar-se-á muitos anos mais tarde parte da Fundação
Oscar Niemeyer.

Juscelino Kubitschek, eleito presidente do Brasil em 1956, volta a entrar


em contato com Niemeyer. Desta vez tem um projeto político mais
ambicioso, e o chama para a direção da Novacap, empresa urbanizadora
da nova capital, um projeto para mover a capital nacional para uma região
despovoada do centro do país.
Por trás da construção de Brasília, uma campanha monumental para
construir uma cidade inteira a partir do nada, no centro árido do país,
estava a intenção de Kubitschek de alavancar a industria do país, integrar
suas áreas distantes, povoar regiões inóspitas e levar o progresso para
onde havia somente vaqueiros.

Brasília é projetada, construída e inaugurada no intervalo de tempo de um


mandato presidencial, 4 anos. Após sua construção, Niemeyer é nomeado
coordenador da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Brasília. Em
1963 é nomeado membro honorário do Instituto Americano de Arquitetos
dos Estados Unidos, no mesmo ano em que ganha um prêmio soviético de
paz, o Prêmio Lênin da Paz.

Em março o presidente João Goulart, (Jango), que assumira após o


presidente eleito Jânio Quadros renunciar, havia sido deposto por um
golpe dos militares. Os militares assumem o controle do país que se torna
uma ditadura.

Em 1965, duzentos professores, entre eles Niemeyer, pedem demissão da


Universidade de Brasília, em protesto contra a política universitária. No
mesmo ano viaja para França, para uma exposição sobre sua obra no
Museu do Louvre.

No ano seguinte, impedido de trabalhar no Brasil, muda-se para Paris.


Começa aí uma nova fase de sua vida e obra. Abre um escritório nos
Champs-Élysées, e tem clientes em diversos países, em especial na
Argélia, onde desenha a Universidade de Constantine e, em 1970, a
mesquita de Argel. Na França, cria a sede do Partido Comunista Francês, e
na Itália a da Editora Mondadori.

Nos anos 80 se distende uma abertura política lenta e gradual. É neste


contexto que Niemeyer volta ao seu país. Nesta época Niemeyer fez o
Memorial JK (1980), o prédio-sede da Rede Manchete de Televisão (1983),
os Sambódromos do Rio de Janeiro (1984) e de São Paulo (1991), o
Panteão da Pátria de Brasília (1985) e o Memorial da América Latina
(1987), em São Paulo, este último tem uma bela escultura representando
uma mão ferida como um Cristo, de cuja chaga na palma sangram a
América Latina. Em 1988, foi criada a Fundação Oscar Niemeyer com o
objetivo de preservar o seu acervo.

Em 1996, já com 89 anos, criou o Museu de Arte Contemporânea de


Niterói. Um museu em um lugar improvável, com uma forma bela e
original, uma escultura que se projeta no Mirante de Boa Viagem sob a
Baía de Guanabara no Rio de Janeiro.

Em 2003, Niemeyer foi escolhido para projetar um anexo provisório na


Serpentine Gallery -uma galeria londrina que constrói a cada ano um
pavilhão em seu jardim. Niemeyer permanece envolvido em diversos
projetos, entre esculturas e reformas ou readaptações de antigas obras. As
obras passaram a ser consideradas como Patrimônio da Humanidade pela
Unesco.

Em 2002 inaugura o Museu Oscar Niemey na cidade de Curitiba no Paraná.

Em novembro de 2006, suprende a todos ao casar-se com sua secretária,


Vera Lúcia Cabreira, de 60 anos.

Em 15 de dezembro de 2006, com quase 50 anos de atraso, foi


inaugurado o Museu Nacional Honestino Guimarães e a Biblioteca Nacional
Leonel de Moura Brizola, que formam, juntas, o maior centro cultural do
Brasil, denominado Complexo Cultural da República, na Esplanada dos
Ministérios em Brasília . A inauguração foi programada para coincidir com
o aniversario 99 de Oscar Niemeyer.

Recentemete, foi inaugurado no dia 15 de dezembro de 2006 o Complexo


Cultural da República João Herculino, o maior centro destinado à cultura no
Brasil. O Complexo, de 91,8 mil metros quadrados teve um gasto de R$
110 milhões do Governo do Distrito Federal, conta com o Museu Nacional
Honestino Guimarães e a Biblioteca Nacional Leonel de Moura
Brizola,Museu Nacional, Complexo Cultural da República, Brasilia, D.F.

Oscar Niemeyer também foi convidado a elaborar o projeto arquitetônico


do novo centro administrativo do governo de Minas Gerais. Este centro
localiza-se entre a capital mineira e o aeroporto internacional Tancredo
Neves (Confins). Mais um projeto ousado que - dentre outras edificações
no local - prevê uma laje de quase 150 metros apoiada em apenas dois
pilares.

Fora do Brasil, em 2007, o arquiteto prepara-se para iniciar as obras do


seu primeiro projeto na Espanha: um centro cultural com o seu nome, em
Avilés, com inauguração prevista para antes de 2010.

Em 2007 , Niemeyer completa 100 anos de vida e se mantém lúcido e


ativo.

III-Comentários Críticos

"É utilizando curvas desenvoltas e magistrais que Oscar Niemeyer ergue


formas imateriais e transparentes. Livres e fluidas, equilibradas apesar da
veemência do seu impulso, elas alternam delicadamente com faces de
sombra e de luz modelando seu concreto com uma total compreensão, o
arquiteto, escultor do espaço, harmoniza espontaneamente valores
culturais e valores espaciais. . . As primeiras obras de Oscar Niemeyer,
como o projeto para a Casa Henrique Xavier e a Obra do Berço, no Rio de
Janeiro, são diretamente influenciadas pelas realizações de Le Corbusier.
Mas pouco a pouco a sua obra vai de desligar da arquitetura funcionalista
do início da sua carreira, para desenvolver uma pesquisa cada vez mais
livre. Em 1942, quando Juscelino Kubitschek, então governador de Minas
Gerais, empreendeu em Belo Horizonte a criação de um bairro de lazer em
Pampulha, ele encomenda os planos a Oscar Niemeyer. Este então
abandonará deliberadamente a linha reta para experimentar a curva. Uma
curva utilizada com lirismo, por vezes arbitrariamente, mas pouco a pouco
conduzida a se tornar o complemento indispensável da linha reta.
Verdadeiro manifesto construído, contra um funcionalismo ortodoxo e
geralmente sistemático, as construções de Pampulha marcaram o
aparecimento de uma nova liberdade plástica, provocadora de emoção. A
experiência espacial de Oscar Niemeyer, considerando-se o espaço como
a própria essência da arquitetura, nunca se afasta dos fatores econômicos,
sociais, técnicos e plásticos. Dentro da grande massa dos seus projetos e
realizações, o arquiteto vai empregar todos os recursos do concreto para
criar um mundo de formas estranhas, surpreendentes e imprevistas. Seu
vocabulário plástico desenvolverá uma concepção cada vez mais livre, em
constante evolução. A espontaneidade de expressão e a exuberante
invenção da sua arquitetura sabem falar aos seus usuários. Além disso, a
perfeição estrutural e o sopro poético da sua obra impedem a imitação
dos seguidores, preservando assim a sua pureza."PETIT, Jean. Niemeyer:
poeta na arquitetura. s.l.: Fidia Edizione d'Arte, c1995. p. 88.

Depoimentos e reflexões de Oscar Niemeyer sobre o processo de


criação de um projeto arquitetônico

“Não e o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível
criada pelo homem. O que me atrai e a curva livre e sensual . A curva que
encontro nas montanhas do meu país, na mulher preferida, nas nuvens do
céu, nas ondas do mar. De curvas é feito todo o universo. O universo curvo
de Einstein.”

“Arquitetura é vencer espaços. Respeito o trabalho dos outros . Mas não


compreendo quem tem medo dos vãos livres. O espaço faz parte da
arquitetura”

"Penso que para ser uma obra de arte, no verdadeiro sentido da palavra,
uma obra arquitetural deve, esta é uma condição fundamental, conter um
mínimo de criatividade, ou seja, uma contribuição pessoal do arquiteto.
Senão, ela se contentará em reutilizar as formas e soluções já conhecidas,
produtos de escolas que caem rapidamente no academismo e se
encontram ultrapassadas." PETIT, Jean. Niemeyer: poeta na arquitetura.
s.l. : Fidia Edizione d'Arte, c1995. p.61.
A natureza do terreno, o ambiente em que será inserida a construção, o
sentido econômico que ela representa, a orientação etc.

E somente depois de se inteirar de tudo isso é que ele começa a desenhar,


fazendo croquis, na procura da idéia desejada.

É nesse momento de imaginação e fantasia que a solução aparece e nela


o arquiteto se detém, entusiasmado como alguém que encontrou um
diamante e o examina com a esperança de ser verdadeiro e, lapidado,
transformar-se numa bela pedra preciosa.

E os desenhos prosseguem. O arquiteto verifica então se a solução atende


internamente ao programa fornecido, se os técnicos do concreto armado
aceitam o sistema estrutural imaginado, se o dimensionamento
corresponde às seções fixadas, se tudo pode funcionar bem.

E se o seu método é adotado, ele começa então a redigir um texto


explicativo, procurando sentir, se lhe faltam argumentos, que alguma
coisa deve no projeto ser acrescentada.

É curioso (...) sentir como a imaginação varia, como as idéias vão surgindo
diferentes, (...) ora simples, caminhando para o monumental. Em todas
prevalece a curva, essa liberdade plástica que preferimos, decorrente de
“tudo que vimos e amamos na vida”, como me disse um dia André
Malraux do seu museu imaginário.

(...) Não raro o próprio terreno nos dá o caminho a seguir. No Museu de


Niterói, por exemplo, ele me guiou – como no projeto do Museu de
Caracas, criando a superfície lisa que sem interrupção sobe em curvas e
retas até a cobertura.

(...) Um dia, Carlos Drummond de Andrade escreveu num dos seus versos:
“Oscar desenha na areia seu edifício”. E tinha razão o nosso amigo. De um
risco inicial nasce a arquitetura e até na areia isso pode acontecer.

NIEMEYER,Oscar. Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de


Urbanismo. Rio de Janeiro, 1998.)

Texto:Escrito por Niemeyer sobre a concepção do projeto


arquitetônico do MAC de Niterói:

A Explicação Necessária :
Às vezes um projeto custa a se definir. Outras, ele surge de repente como
se, antes, nele nos tivéssemos detido cuidadosamente.

E isso aconteceu com este projeto. O terreno era estreito, cercado pelo
mar e a solução aconteceu naturalmente, tendo como ponto de partida o
apoio central inevitável.

Dele, a arquitetura decorreu espontânea como uma flor.

A vista para o mar era belíssima e cabia aproveita-la. E suspendi o edifício


e sob ele o panorama se estendeu mais rico ainda.

Defini então o perfil do museu. Uma linha que nasce do chão e sem
interrupção cresce e se desdobra, sensual, até a cobertura.

A forma do prédio, que sempre imaginei circular, se fixou e, no seu


interior, me detive apaixonado.

À volta do museu criei uma galeria aberta para o mar, repetindo-a no


segundo pavimento, como um mezanino debruçado sobre o grande salão
de exposições.

E me preocupei com os interiores, desejoso que fossem bonitos e


variados, convidando os visitantes para conhecê-los melhor.

No terreno, minha idéia foi acentuar a entrada do museu, desenhando a


rampa externa. Um passeio ao redor da arquitetura.

E senti que o museu seria bonito e tão diferente dos outros que ricos e
pobres teriam prazer em visitá-lo. (Org. NIEMEYER, Oscar. Museu de Arte
Contemporânea de Niterói. Rio de janeiro, Editora Revan, 1997.)

IV.Material de Apoio Pedagógico:

Reunimos nesse material textos, propostas de abordagem e estratégias


educativas que poderão servir como apoio para o desenvolvimento de
projetos interdisciplinares nas escolas.

Arquitetura como Poesia

Lição de Arquitetura

De: Ferreira Gullar (Buenos Aires, 22/01/76)

Dedicado: A Oscar Niemeyer

No ombro do planeta
em caracas
Oscar depositou
para sempre
uma ave flor
(ele não faz de pedra
nossas casas:
faz de asa)

No coração de Argel sofrida


faz aterrizar uma tarde
uma nave estelar
e linda
como ainda há de ser a vida
(com seu traço futuro
Oscar nos ensina
que o sonho é popular)

Nos ensina amar


mesmo se lidamos
com matéria dura
o ferro o cimento a fome
da humana arquitetura

Nos ensina a viver


no que ele transfigura
no açúcar da pedra
no sono do ovo
na argila da aurora
na alvura do novo
na pluma da neve
Oscar nos ensina
que a beleza é leve

O Poema da Curva

Não é o ângulo reto que me atrai


Nem a linha reta,dura,inflexível,
criada pelo homem.
O que me atrai é a curva livre e sensual,
a curva que encontro nas montanhas
do meu país,
no curso sinuoso dos seus rios,
nas ondas do mar,
no corpo da mulher preferida.
De curvas é feito todo o universo,
o universo curvo de Einstein.
Nuvens

Sempre que viajava de carro para Brasília minha distração era olhar as
nuvens do céu.
Quantas coisas inesperadas elas sugerem! Às vezes são catedrais
enormes e misteriosas, as catedrais de Exupéry com certeza; outras
vezes, guerreiros terríveis, carros romanos a cavalgarem pelos ares; outros
ainda, monstros desconhecidos a correrem pelos ventos em louca
disparada e, mais freqüentemente porque sempre as procurava lindas e
vaporosas mulheres recostadas nas nuvens, a sorrirem para mim dos
espaços infinitos.
Mas logo tudo se transformava: as catedrais se desvaneciam em branco
nevoeiro, os guerreiros viravam préstitos carnavalescos intermináveis; os
monstros se escondiam em escuras cavernas, para surgirem adiante mais
furiosos ainda, e as mulheres iam se esgarçando, se estendendo,
transformadas em pássaros ou negras serpentes.
Muitas vezes pensei fotografar tudo isso, tão exatas eram as figuras que
apareciam. Nunca o fiz.
Mas, sempre que viajo olhar para as nuvens é minha distração
predileta, curioso, procurando decifra-las como se estivesse em busca de
uma boa e esperada mensagem. Naquele dia, porém, a visão foi mais
surpreendente. Era uma bela mulher, rosada como uma figura de Renoir. O
rosto oval, os seios fartos, o ventre liso, e as pernas longas a se
entrelaçarem nas nuvens brancas do céu.
E fiquei a olhá-la embevecido, com medo de que se diluísse de repente.
Mas os ventos daquela tarde de verão me deviam estar ouvindo e durante
muito tempo ela ali ficou a me olhar de longe, como a convidar-me para
subir e com ela, entre as nuvens, brincar um pouco.
Mas o que temia tinha de acontecer. E pouco a pouco minha namorada
foi se diluindo, os braços se alongando com desespero, os seios a voarem
como se destacando do corpo, as longas pernas se contorcendo em
espiral, como se dali ela não quisesse sair. Só os olhos continuavam a me
fitar, cada vez maiores, cheios de espanto e tristeza, quando uma nuvem
maior, densa e negra, a levou para longe de mim.
E continuei a segui-la, inquieto, vendo-a entre nuvens que a envolviam,
fustigada pela fúria dos ventos que a dilaceravam impiedosamente.
E senti como aquela metamorfose perversa se assemelhava ao nosso
próprio destino, obrigados a nascer, crescer, lutar, morrer e desaparecer
para sempre, como ocorria com aquela bela figura de mulher.

Propostas de Roteiros e Instigações

 A VISITA COMEÇA LÁ FORA!

A mediação educativa, no pátio do MAC, considera a arquitetura do próprio


Museu como obra de arte. A observação e descrição da forma
arquitetônica do MAC, da paisagem e do entorno são objeto de análise. As
questões que se destacam são: Quais são as intenções do arquiteto Oscar
Niemeyer ao conceber o edifício do Museu? Quais as são as poéticas da
forma do MAC?

A observação de uma obra de arte, assim a forma do MAC, tem sempre


uma intenção artística, e que nós enquanto espectadores devemos adotar
uma posição de leitores e interpretes.

A etapa fundamental para a interpretação é a descrição,“pois constitui a


passagem das percepções visuais para a linguagem verbal. A verbalização
da mensagem visual manifesta processos de escolhas perceptivas e de
reconhecimento que presidem sua interpretação.”

Diálogos e Instigações sobre a arquitetura do MAC de Niterói

O que este prédio tem que chama tanto a atenção? Observem os outros
prédios a nossa volta e o MAC, quais as diferenças das formas
arquitetônicas?

Como podemos descrever a forma do MAC?

Ela se parece com muitas outras formas – uma taça, um disco voador, um
prato, um funil, etc. – mas ela é realmente alguma destas formas?
Podemos dizer então que ela é uma forma abstrata? O que é abstrato?

Existem formas no MAC que vocês reconhecem? Quais? (o círculo, a


esfera, o cilindro, a espiral) O que todas essas formas tem em comum? A
linha curva!

Trabalhe a percepção do grupo para a forma do MAC no espaço, as


montanhas e a cidade. Peça para desenharem com o dedo no espaço
experimentando o contorno dos morros, das praias e da cidade.

As formas do MAC se harmonizam mais com as formas encontradas na


cidade ou na natureza?

Observe e converse junto com o grupo sobre a escolha e intenção do


arquiteto ao conceber o edificio . Quais são os dálogos que se
estabelecem entre o Museu e a Paisagem?
Instigações sobre a relação Forma x Função do projeto
aequitetônico do MAC

 Museu suspenso x vista total da paisagem – “um apoio central e a


arquitetura solta no espaço.”
 Museu redondo x baia de Guanabara x vista 360o
 Museu envidraçado x paisagem dentro e fora do museu
 Espelho d´agua x continuidade com o mar, uma forma que nasce de
dentro da paisagem
 A curva x montanhas x a linha contínua do desenho do museu x
movimento contínuo do círculo
 A espiral x rampa x o leitor móvel do mundo x paisagem
 A rampa vermelha x a entrada do museu x um museu para todos
 Forma x função - um museu com uma forma do futuro x um museu
para a arte contemporânea.

A Idéia - a linha - o desenho

A partir do desenho de Niemeyer do esboço do MAC compare com a forma


real do museu. O esboço é o início e a idéia principal de um projeto,
observando o esboço de Niemeyer, o que seria então o essencial na forma
do MAC?

Como saber o que é essencial para descrever uma forma? O que seria
suficiente para descrever uma árvore, uma flor ou uma montanha?

Observe com o grupo como no desenho de Niemeyer a linha é única e


contínua, curva e solta, assim como a paisagem.

Quantas formas é possível fazer usando apenas uma linha?

Sugestões de Atividades

Desenhando com as Linhas de Niemeyer

Propomos a exploração do uso da linha curva e solta de Niemeyer e suas


infinitas possibilidades de construção. Experiemente desenhar com
apenas um pedaço de corda ou linha, quantas formas são possíveis de se
fazer?

Observe a mutiplicidade de formas e resultados obtidos a partir de cada


pequeno movimento com a corda. Os desenhos de Niemeyer são apenas a
essência de um projeto, uma idéia em poucos traços. Suas idéias e
projetos se resumem a poucas linhas, apenas o essencial, através de
linhas soltas, livres e contínuas.
Brincando com a corda, mudando sua posição, crie diferentes desenhos e
formas inspiradas nas curvas da natureza e nas formas do MAC. Depois
passe esses desenhos criados para o papel, tente trabalhar apenas com
uma linha contínua, sem tirar o lápis do papel e monte uma história
juntado essas imagens. Uma história para Niemeyer.

A Linha Essencial

Proponha a seus alunos a observação das formas presentes na paisagem


proponha o desvelamento das linhas sinteses. Como desdobramento o
grupo poderá a fazer registros através de desenhos.

Poetizando

A partir da leitura de poesias de Oscar Niemeyer proponha ao seu grupo a


interpretação formal e estética dos textos escolhidos. Proponha a
releitura criativa através da criação de pequenos poemas individuais. O
trabalho pode ser conjugado com a criação de desenhos que ilustrem os
poemas. Compartilhe a produção do grupo expondo os trabalhos.

Orientações para Visitação de Grupos Escolares

Os grupos escolares deverão estar acompanhados por um


número suficiente de professores representantes das
instituições, os quais deverão se responsabilizar pela
organização e controle do grupo de alunos durante toda a visita
ao Museu.

Dinâmica da Visita:

No Pátio do Museu:

Ao chegar ao MAC o grupo deverá esperar no pátio a


autorização para a entrada no Museu enquanto o professor se
dirige à recepção para comunicar a chegada do grupo, receber
os ingressos/adesivos e tomar conhecimento das normas de
visitação ao interior do Museu.

A Subida da Rampa de Acesso:

O percurso pela rampa de acesso ao interior do Museu é um


momento especial da visita. A rampa promove uma experiência
visual e interativa do visitante com o MAC e seu entorno,
fazendo parte da preparação do grupo para a entrada no
espaço museológico. O grupo, ao subir a rampa, deve ser
instigado a perceber e descobrir elementos presentes na
paisagem que dialogam com a arquitetura do MAC. Se o seu
grupo não estiver participando de uma visita mediada pelos
educadores da Divisão de Arte Educação, tente você mesmo
mediar essa experiência.

No Espaço Museológico:

As exposições apresentam conceitos que devem ser desvelados


pelos próprios alunos através da mediação educativa dos
educadores do MAC ou do próprio professor do grupo. Para que
o professor possa participar do trabalho de mediação é
importante que tome conhecimento antecipadamente do
contexto das exposições em cartaz. A Divisão de Arte Educação
oferece mensalmente um programa para professores, com
enfoque pedagógico, que busca preparar e oferecer material de
apoio para a visita ao MAC. Você também pode acessar os
textos e materiais sobre as exposições no site da instituição:
www.macniteroi.com

No interior do Museu não é permitido:

Tocar nas obras de arte.


Correr e falar alto.
Comer e beber.

Informe-se sobre a permissão para fotografar as obras de arte.


Em algumas exposições não é permitido ao visitante o registro
fotográfico das obras expostas no Museu.

Agendamento de grupos para visitas mediadas


Divisão de Arte-Educação pelos tel. (21) 2620 2400 / 2620 2481
ramal 29, de segunda a sexta, das 10 às 18h.
educacao@macniteroi.com.br
www.macniteroi.com.br
Equipe da Divisão de Arte-Educação

Diretora
Beatriz Jabor

Coordenação de Projetos Pedagógicos


Márcia Campos

Pesquisa e Mediação
Eduardo Machado
Ivan Henriques
Maria Thomas
Roberta Condeixa

Programa com Jovens


Roberta Condeixa

Programas de Educação Infantil


Ignês Guimarães

Programas Comunitários
Leandro Baptista

Estagiários
Ana Carolina Fortuna (Estagiária de Produção Cultural)
Camila Nagem Marques (Estagiária de Arte Educação)
Igor Valente (Estagiário de Arte Educação)

Equipe de Apoio

Ângela Lombardo
Danielle Amaro
Hugo Richard
Mônica Duque

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