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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

Setor de Tecnologia
Departamento de Arquitetura e Urbanismo
ARQUITETURA BRASILEIRA II

Atividade 2

Nome: Gabriela Zaruvne Baptista


GRR: 20182079

Lina Bo Bardi: Olá, Lúcio! Tudo bem? Estava me recordando da minha chegada ao Brasil e do
quanto fiquei impressionada com a cidade do Rio de Janeiro. Um dos edifícios que mais me
cativou foi o Palácio de Capanema. Seu trabalho foi de imensa importância para a arquitetura
moderna brasileira.

Lúcio Costa: Olá, Lina! Que felicidade receber esta mensagem de uma arquiteta deslumbrante
como você. Fico muito grato pelas palavras! A construção deste edifício foi um grande desafio
para a época e ficamos muito felizes com o resultado e a proporção nacional que acabou
recebendo.

Lina Bo Bardi: Adoraria saber um pouco mais a respeito dessa grandiosa arquitetura e acredito
que ninguém melhor que você para me contar um pouco sobre as suas dificuldades e
inspirações.

Lúcio Costa: Será um prazer! Para a elaboração desse projeto tivemos a ajuda e consultoria do
grande arquiteto franco-suíço Le Corbusier. Com isso, diversos elementos utilizados na
arquitetura de Corbusier foram empregadas ao Palácio, como os pilotis, planta livre, fachada
livre, janelas em fita e terraço jardim.
Nesta foto você pode visualizar um dos pontos mais importantes desse projeto: os pilotis de
nove metros de altura. O objetivo para esse pé-direito monumental que sustenta os 16 andares
do edifício era o de abrigar uma praça pública no terreno no pavimento térreo, o tornando
permeável e possibilitando a livre circulação de pessoas.

Lina Bo Bardi: Que incrível! Para o MASP eu utilizei a mesma perspectiva de relação entre o
edifício e a cidade que você aplicou para o Palácio. Atualmente a praça criada embaixo do vão
do museu é intensamente utilizada pela população. É de extrema importância que o arquiteto
considere os diversos usos que já acontecem no local antes da implantação de uma construção,
além da criação de novos espaços para novas atividades.

Lúcio Costa: Concordo com você, Lina. A implantação livre de um grande edifício, suspendendo
o volume vertical que ocupa um grande espaço numa área movimentada da cidade, como ocorre
no Palácio e também no MASP é uma ótima alternativa para agregar valor ao espaço urbano
que acontece no entorno.
Outra coisa que gostaria de comentar com você sobre a obra do Palácio é que além de
refletirmos e incorporarmos os preceitos racionais da arquitetura corbusiana, nós buscamos
trazer uma arquitetura moderna e única para o Brasil. Com a integração dos usos internos e
externos, a implementação do uso de brises em lâminas móveis horizontais (sendo um dos
primeiros edifícios no mundo com este recurso para o controle da luz solar que adentra ao
edifício), o estudo do melhor aproveitamento da iluminação e ventilação naturais e a integração
entre arquitetura, paisagismo e artes plásticas, através do terraço jardim de Burle Marx e os
revestimentos em azulejos por Portinari. Assim, criamos uma combinação entre o racionalismo
arquitetônico trazido por Corbusier e as obras que até então tinham sido realizadas pela escola
carioca de arquitetura.

Aqui está uma imagem do terraço e outra do revestimento em azulejo que mencionei:

É possível observar como a composição das formas conversam entre os elementos do jardim e
do painel de Portinari. Incrível, não acha?

Lina Bo Bardi: Espetacular! A arquitetura desenvolvida para esse edifício foi um marco para a
arquitetura moderna brasileira e com toda a certeza serviu e ainda serve de inspiração para
milhares de arquitetos. Acho admirável a forma como vocês trabalharam os elementos da
arquitetura corbusiana de uma forma única, explorando o uso das formas de acordo com o
contexto urbano. O estudo desenvolvido para a adaptação da construção ao clima também foi
outro ponto fascinante, já que era pouco abordado na arquitetura da época.
Parabéns a você e sua equipe, Lúcio! O Palácio Capanema é com certeza um dos exemplos
mais magnificentes da arquitetura moderna desenvolvida até então no país. Diante do resultado
que obtiveram é perceptível que você e Corbusier formam uma grande dupla!

Lúcio Costa: Muito obrigado, Lina! Fico lisonjeado com suas palavras. Trabalhar com Corbusier
foi muito gratificante, trocamos muito conhecimento e ideias enriquecedoras juntos. Tanto que
um pouco mais de dez anos depois da construção do Palácio Capanema eu tive a oportunidade
de trabalhar novamente com ele, desta vez em um projeto na Cité Universitaire, em Paris.

Lina Bo Bardi: Não sabia! É uma ótima oportunidade poder trabalhar com este grande arquiteto,
ainda mais em dois projetos. Qual obra vocês realizaram juntos em Paris?

Lúcio Costa: Nós elaboramos uma residência voltada para estudantes e pesquisadores
brasileiros na Cité Internationale Universitaire de Paris, o Maison du Brésil, como é conhecido.
Foi desenvolvida uma arquitetura no estilo das residências de alta densidade criadas por
Corbusier. O programa é composto por espaços administrativos, espaços de lazer, teatro,
biblioteca e diversos espaços comunitários e de encontros distribuídos em um edifício de cinco
pavimentos sustentado por pilotis. O complexo é dividido em duas alas, leste e oeste.
Na ala leste estão estabelecidos as cozinhas comunitárias, escadas e outras instalações.
A fachada desta ala é composta por grandes vidros que permitem a entrada de luz nas cozinhas,
e pequenas aberturas quadradas que iluminam a circulação das escadas. Já na ala oeste estão
localizados os dormitórios. A fachada desta parte do edifício apresenta grandes varandas,
pintadas com cores policromáticas que proporcionam um caráter rítmico ao edifício. Essas
mesmas cores também foram distribuídas no interior, principalmente no primeiro andar com o
evidente uso do amarelo.
A estrutura que comporta o edifício foi feita em concreto armado aparente. A estética
expressada pela textura do material nas paredes e cobertura é de aspereza, com o desenho da
madeira enraizado na superfície do concreto definido pelas fôrmas na hora da concretagem. A
escolha dessa expressividade trazida pelo concreto busca evidenciar a mão de obra, os
processos formativos e as matérias primas utilizadas na construção.

Nesta imagem é possível observar o ritmo gerado pelas aberturas e cores da fachada da ala
oeste.
Lina Bo Bardi: Outro projeto muito imponente, Lúcio, parabéns! Nesta obra percebi que os
elementos de Corbusier ficaram mais expressivos que no Palácio.

Lúcio Costa: Sim! Quando Corbusier tornou-se colaborador do meu projeto ele acabou fazendo
alterações significativas no meu desenho original, apesar de manter as formas principais que
elaborei, suas características arquitetônicas acabaram prevalecendo. Enfim, essas questões já
foram resolvidas.
Bom, acho que já falei bastante sobre mim. Me lembrei que você mencionou sobre o
MASP quando eu estava contando sobre o Palácio. Fiquei sabendo que tiveram grandes
desafios, principalmente se tratando da estrutura, é verdade?

Lina Bo Bardi: É verdade! Foi um imenso desafio suspender uma construção tão grande como
o corpo do edifício do MASP em oito metros em um vão livre de setenta. A maioria das pessoas
acredita que a estrutura principal é composta pelos quatro pilares de quatro metros de largura e
pelas duas vigas vermelhas que são os elementos mais marcantes do edifício. Porém, a viga
principal que sustenta todo o complexo está localizada no interior do museu, entre os dois
pavimentos, ela é isostática e bi-apoiada nos grandes pilares, que por sua vez estão apoiados
em sapatas excêntricas. Acima desta grande viga há uma laje apoiada que forma o pavimento
superior e abaixo dela há outra laje presa a esta viga por tirantes, que compõem o primeiro
pavimento. As vigas vermelhas que estão localizadas no exterior do edifício têm a função de
sustentar apenas a cobertura, ao contrário do que muitos pensam, não são elas que suspendem
a caixa envidraçada do MASP.
Tenho aqui umas imagens dos cortes elaborados para o projeto:
Lúcio Costa: Nossa! Essa estrutura é de uma complexidade muito grande. Para quem vê a
parte externa do edifício é fácil subentender que os pilares e vigas vermelhas são os
responsáveis pela sustentação do edifício. A sua estratégia para que o vão livre ocorresse é
genial, ainda mais considerando as dificuldades e a tecnologia escassa da época. Qual foi o
principal motivo para fazer do MASP um museu suspenso com esse grande vão livre?

Lina Bo Bardi: Um dos principais fatores para que fosse feita uma praça pública no pavimento
térreo do museu era o de não obstruir a Avenida 9 De Julho. Para isso, resolvemos elevar o
edifício em altura criando uma arquitetura simples e objetiva, com vigas paralelas à Avenida
Paulista, vidros que recobrem toda a fachada e refletem o centro da cidade e a Serra da
Cantareira, fazendo com que todas as vistas fossem preservadas.
O principal material estrutural utilizado foi o concreto protendido e cabos de aço de alta
resistência. A estética alcançada pela plasticidade bruta do concreto expressa superfícies de
aspecto áspero, porém a leveza da estrutura e a transparência dos vidros também são capazes
de manifestar sutileza para a obra.
O programa do museu é subdividido entre os dois pavimentos sobre o grande vão, que
comportam os espaços expositivos de arte e o acervo, e os três pavimentos do subsolo, onde
também há exposições, restaurante e loja. Na área interna do museu não há subdivisões entre
as exposições, as obras são expostas em painéis transparentes apoiados em blocos de concreto
dentro de um ambiente único e amplo. O acesso entre os pavimentos ocorre por duas grandes
escadarias em vermelho que demarcam visualmente os ambientes e conversam com os
imensos elementos estruturais externos.
Diante das premissas para que o projeto acontecesse acabou-se criando o grande vão
livre abaixo do MASP. Esse vão transformou o museu numa extensão física da cidade. Ali
ocorrem diversas manifestações urbanas, como: feiras, manifestações, encontros,
apresentações, aulas, shows, entre tantas outras coisas. É incrível como um espaço
aparentemente “vazio” pode ser ocupado pelas pessoas de variadas formas.

Encontrei um croqui que fiz em 1950, nos meus primeiros estudos.

Lúcio Costa: Incrível, Lina! A arquitetura que você criou para o MASP para que suas premissas
fossem atingidas é espetacular. Se eu não soubesse que essa obra foi efetivamente construída,
eu diria que a estrutura proposta, considerando os materiais e tecnologia, seria utópica para a
época em que foi executada. É de uma maestria admirável a forma como você tratou o contexto
urbano de São Paulo e especialmente da Avenida Paulista na criação da praça pública que
ocorre sob o vão. As formas simples e racionalistas, mas ao mesmo tempo muito expressivas
fazem com que esta obra seja notada mesmo de muito longe, é incrível a combinação entre
imponência, sutileza e até mesmo permeabilidade que você apresentou nesse projeto.

Lina Bo Bardi: Muito obrigada, Lúcio! É uma honra receber um elogio como esse.

Lúcio Costa: Imagina, é apenas a verdade. Pensando agora sobre esse contexto de convívio
social que você criou para o MASP me lembrei do SESC Pompeia. Esse é outro projeto de sua
autoria que me encanta muito.

Lina Bo Bardi: Ah, o SESC… Adorei trabalhar nesse projeto! Para a criação do SESC eu
trabalhei na restauração de uma antiga fábrica do local. Fiz um processo de recuperação das
paredes em concreto armado do edifício, mantendo a estrutura original da fábrica. Além disso,
projetei três grandes volumes para compor todo o programa proposto para a construção.

Lúcio Costa: Eu gosto muito dessa obra. Me conte mais…

Lina Bo Bardi: Vamos lá! O SESC é composto pelos espaços restaurados da antiga fábrica,
como mencionei, e pelos três volumes de concreto armado aparente. Os volumes maiores, que
foram construídos após a restauração, tiveram seu concreto moldado em tábuas horizontais de
madeira, deixando uma textura ranhurada para o edifício que optei em manter aparente. O bloco
mais alto possui 12 pavimentos e o menor 5, e o elemento cilíndrico próximo ao mais alto serve
de apoio para o sistema de caixa d’água.
A estrutura dos blocos acontece por meio de paredes de 35 centímetros de espessura
sem nenhum apoio interno complementar. Na cobertura foram posicionadas lajes nervuradas
protendidas e treliças sustentando tetos cobertos com vidro. As aberturas das fachadas foram
pensadas para contrastarem uma com a outra: no bloco mais alto são todas em formatos
retangulares, porém desalinhadas e no mais baixo os formatos das aberturas são irregulares,
mas são alinhadas entre si.
Alguns dos elementos mais marcantes de todo o complexo do SESC são as passarelas
que conectam um bloco ao outro. Há uma conexão entre cada 2 pavimentos do prisma menor
com 1 do maior através de 4 passarelas de concreto protendido que possuem diferentes
desenhos, cada uma apresentando uma configuração diferente. Abaixo desses elementos passa
o córrego Água Preta, que fica oculto pela sobreposição de um píer de madeira. Os dois edifícios
conectados possuem espaços dedicados à cultura, esporte e áreas com piscinas.
Nesta fotografia da época em que o SESC ainda estava em construção é possível perceber a
expressividade do concreto, não é mesmo?
Para os edifícios da fábrica que foram restaurados eu criei espaços amplos e livres para
lazer, além de salas para atividades específicas. A área central entre essas construções antigas
ficou configurada como uma espécie de praça coberta, ocupada por diferentes mobiliários
também projetados por mim. Veja nesta fotografia:

Lúcio Costa: Maravilhoso, Lina! Externamente o complexo de três edifícios passa uma
concepção de estrutura pesada, espessa e de grande massa, transmitindo a ideia de algo frio e
robusto. Entretanto, os ambientes internos ocupados pelo mobiliário criado por você,
combinados com as lareiras, o riacho passando pelo chão, as cores intensas, a iluminação
natural e a combinação entre estruturas metálicas e paredes compostas por tijolos a vista,
trouxeram um conforto e aconchego incrível para os ambientes. É muito interessante a forma
como você trabalha esses contrastes entre algo pesado e rústico e ao mesmo tempo sutil e
agradável.

Lina Bo Bardi: Obrigada! Eu adoro criar essas diferentes relações e pensar no espaço
arquitetônico em sua simplicidade. Há um gosto de encanto e vitória em ser simples. Não é
preciso muito para ser muito.

Lúcio Costa: É encantadora a sua forma de pensar arquitetura. Bom Lina, eu preciso ir agora.
Foi maravilhoso poder conversar com você. Até outro dia!

Lina Bo Bardi: Fico honrada, Lúcio. Você é um arquiteto inspirador. Tenha um ótimo dia e até
mais!
REFERÊNCIAS
COSTA, Lucio. Edifício do Ministério da Educação e Saúde. AU-Arquitetura e Urbanismo. Rio de
Janeiro. jul./ago. 1939: p. 543-551.

C., Jonathan. "Clássicos da Arquitetura: Maison du Brésil / Le Corbusier" 12 Mai 2017. ArchDaily
Brasil.https://www.archdaily.com.br/br/871125/classicos-da-arquitetura-maison-du-bresil-le-corbu
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ArchDaily Brasil. Disponível em:
<https://www.archdaily.com.br/br/01-153205/classicos-da-arquitetura-sesc-pompeia-slash-lina-bo
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HOLANDA, M. "Clássicos da Arquitetura: MASP / Lina Bo Bardi" 14 Jul 2012. ArchDaily Brasil.
Disponível em:
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LEVY, C. M. Maison du Brésil à Paris. Vitruvius, 2011. Disponível em:


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2021.

MIYOSHI, A. O edifício do Masp como sujeito de estudo. Vitruvius, 2007. Disponível em:
<https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.084/245>. Acesso em 30 Jul. 2021.

PAIXÃO, L. Estudo de caso SESC Pompeia de Lina Bo Bardi. A Arquiteta, 2014. Disponível em:
<https://www.aarquiteta.com.br/blog/sesc-pompeia-curiosidades-historia-e-etc/>. Acesso em 30
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Palácio Gustavo Capanema | MEC. Arqguia Rio. Disponível em:


<http://arqguia.com/obra/palacio-gustavo-capanema-mec/?lang=ptbr
https://enciclopedia.itaucultural.org.br/instituicao333467/palacio-gustavo-capanema>. Acesso em
30 Jul. 2021.

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