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Notas de Aula da Disciplina:

Sistemas Estruturais
(aço e madeira)

Prof.: MPhil. Sandro V. S. Cabral

Período: 2017.2

Assistência na elaboração e apoio:


Ramos Trajano

agosto - 2017
SUMÁRIO

0. INTRODUÇÃO

0.1 Objetivos e definições básicas

0.2 Bases históricas

0.3 Relação entre engenharia e arquitetura

1. PRINCÍPIOS ESTRUTURAIS

1.1 Introdução

1.2 Cargas e o caminho das forças

1.3 Estabilidade

1.4 Esforços e sua hierarquia

1.5 Efeito escala estrutural

1.6 Momento de inércia

1.7 Aerodinâmica e efeitos do vento

2. SISTEMAS ESTRUTURAIS

2.1 Introdução

2.2 Sistemas estruturais básicos e suas associações

2.3 Pré-dimensionamento em aço e madeira

2.4 Classificação quanto a forma geral

2.5 Relação entre forma, função e estrutura

3. CONCEPÇÃO EM AÇO E MADEIRA

3.1 Introdução

3.2 Sistemas construtivos em aço

3.3 Sistemas construtivos em madeira


3.4 Escolha do material estrutural e do sistema
construtivo

3.5 Princípios gerais de concepção

3.6 Concepção estrutural de cobertas em aço e madeira

3.7 Sustentabilidade e compatibilidade entre materiais

4. CONCEPÇÃO DE EDIFÍCIOS EM AÇO

4.1 Introdução

4.2 Concepção de edifícios com múltiplos pavimentos

4.3 Compatibilização entre arquitetura, estrutura,


instalações prediais e execução

4.4 Segurança contra incêndio e conforto acústico

5. BIBLIOGRAFIA
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0 INTRODUÇÃO

“A technically perfect work can be aesthetically inexpressive but there


does not exist, either in the past or the present, a work of architecture
which is accepted and recognised as excellent from the aesthetic point of
view which is not also excellent from the technical point of view. Good
engineering seems to be a necessary though not sufficient condition for
good architecture” (Pier Luigi Nervi).

0.1 OBJETIVOS E DEFINIÇÕES BÁSICAS

O objetivo geral da disciplina é conceber estruturas em aço e


madeira a partir de conceitos objetivos e aplicados.

Os objetivos específicos são:

a) Compreender a evolução da concepção estrutural e o papel


de arquitetos e engenheiros.

b) Compreender os sistemas estruturais e os conceitos


estruturais universais.

c) Conceber estruturas gerais em aço e madeira e edifícios de


múltiplos pavimentos em aço.

Estrutura é um conjunto de elementos interconectados com o


objetivo de abrigar primariamente o ser humano. É questão básica e
essencial em qualquer edificação pois está diretamente ligada a
própria existência do objeto construtivo.

A concepção estrutural se refere um conjunto de


procedimentos e definições de modo a delinear as estruturas de
edificações baseando-se em conhecimentos do funcionamento
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estrutural, espacialidade resultante e teorias físicas. Em geral a


concepção estrutural tem o papel de definir:

a) Quais elementos estruturais estão conectados (sistema


construtivo).

b) Onde estes elementos estão localizados (espacialidade).

c) Quais são as suas dimensões iniciais (pré-dimensionamento).

Das três etapas básicas do projeto estrutural (concepção,


dimensionamento e detalhamento), a concepção é a mais importante e
mais valorizada atualmente porque o sucesso do dimensionamento e
detalhamento, que às vezes são auxiliados por softwares, depende
diretamente de uma concepção equilibrada e realista. Em outras
palavras, a concepção estrutural é responsável direta pela
produtividade e assertividade das demais etapas. Na arquitetura, a
concepção estrutural deve estar presente porque tem relação
direta com a forma e a função da edificação.

Deste modo é necessário, além do conhecimento do


funcionamento estrutural e pré-dimensionamento, assuntos dos
capítulos 1 e 2, o conhecimento de sistemas construtivos e técnicas
de concepção, assuntos dos capítulos 3 e 4.

Teoricamente, a concepção estrutural é atribuição do


arquiteto mas na prática, principalmente no Brasil, a maioria das
estruturas são concebidas por engenheiros ou conjuntamente com
arquitetos.

0.2 BASES HISTÓRICAS

A história da concepção estrutural se confunde com a história


da engenharia e da arquitetura, embora este termo seja
relativamente recente. A seguir alguns fatos e períodos históricos
que ajudam a compreender o caminho traçado pela engenharia e pela
arquitetura até os dias de hoje com relação direta com a concepção
estrutural:
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a) Período neolítico (8000 aC): arco falso, imitação da


natureza e formações megalíticas.

b) Civilizações antigas:

- Egito antigo: pirâmides, existência de um projeto e


abóbora de berço.

-Mesopotâmia: sumérios criadores do arco.

-Mundo Egeu: primeira cúpula.

-Grécia antiga: estrutura ornamentada, mestres


construtores, princípio da alavanca

-Roma antiga: estrutura geradora da forma, vitruvius


(firmitas, utilitas, venustas), mestres construtores, arcos
semi-circulares, concreto antigo.

- Outras civilizações: abóboda de aresta (bizantino), arcos


ferradura (mundo islâmico), pontes em arco de pedra
(china), invenção da treliça (suíça), arcos pontiagudos
(persas), pirâmides e templos em pedra (maias, astecas,
incas).

c) Período românico (idade média, sécs. X-XII): abóbadas, pilares


macicos e paredes espessas, janelas estreitas, arcos, torres
no cruzamento das naves ou na fachada.

d) Período gótico (idade média, sécs. XII e XIII): leveza estrutural,


verticalidade, iluminação, abóbodas nervuradas, ogivais e
arcos botantes, contrafortes, contraventamento, trivium e
quadrivium (1250).
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Figura 0.1Elementos da arquitetura gótica

e) Período renascentista (séc. XV e XVI): arquiteto se diferencia


do mestre construtor, abandono de pesquisas estruturais na
arquitetura, projeto como finalidade principal, obra relegada
a um segundo plano, estrutura aceita, grande avanço na área
de estruturas (funicular, flambagem, lei de Hooke, fraqueza
dos gigantes, etc.), ruptura profunda entre os objetivos da
arquitetura e da engenharia.

Figura 0.2 Exemplo de estrutura aceita (Santo André de Mântua –


Leon Battista Alberti, 1470)
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f) Período barroco (séc. XVI e XVII): período onde a arquitetura


continua a desenvolver os seus conceitos artísticos mas de
uma forma mais teatral e cenográfica. A possibilidade de
construir deixa de ser essencial ao projeto.

g) Neoclassicismo (séc XVIII-XIX): retorno ao passado da era


clássica.

Academie d´Architecture fechada pela revolução francesa


(1789) – defesa do ensino da arte contra a ameaça da ciência.

Fundação da École des Ponts et Chaussées (1747).

École de Beaux- Arts (1806) junto com a École Polytechnique


são padrões para a época. Medo da vulgarização das artes: a
burguesia considerava os engenheiros incompetentes para
atender aos seus objetivos arquitetônicos.

Na revolução industrial o arquiteto perde o prestígio para o


engenheiro. Grandes avanços na engenharia (esqueleto
formado por vigas e pilares, módulo de elasticidade, cálculo
de vigas hiperestáticas, etc.). A maioria das grandes obras eram
projetadas por engenheiros. Surgimento do cimento Portland
em 1824.

h) Modernismo (sécs. XIX e XX): colaboração entre arquitetos e


engenheiros, formas simples e sem adornos, valorização da
estrutura, utilização de novos materiais (concreto, aço, vidro,
etc.), aproximação da arquitetura do progresso técnico-
científico, utilização de esqueletos metálicos.

Surgimento do concreto armado (1855), do aço (1856) e do


concreto protendido (1934).

Surgimento de formas livres e complexas geralmente


projetadas por engenheiros como Eduardo Torroja, Pier Luigi
Nervi e Félix Candela.
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Edifício Monadnock (1891) em Chicago marca o fim da


construção de edifícios altos com alvenaria estrutural
(mansory) até então o sistema construtivo predominante.

Figura 0.3 Restaurante Los Manantiales – Félix Candela

Hight-tech (séc XX): domínio da estrutura e da tecnologia,


estrutura como arquitetura, falsa high-tech.

j) Contemporâneo (até hoje): uso da vários materiais e formas,


grandes desafios estruturais, vertentes tecnológicas e
artísticas, etc.

Pós-modernismo e deconstrutivismo – estrutura ignorada.

Os termos - estrutura ornamentada, estrutura geradora da


forma, estrutura aceita, estrutura como arquitetura e estrutura
ignorada - são introduzidos por Macdonald (2001).

0.3 RELAÇÃO ENTRE ENGENHARIA E ARQUITETURA

Macdonald (2001) define três relações possíveis entre


engenharia e arquitetura quando da concepção estrutural da
edificação:

a) Arquiteto definidor da forma e engenheiro calculista.

b) Engenheiro-arquiteto.
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c) Arquitetos e engenheiros co-autores do projeto.

Uma análise destas relações mostra que hoje há exemplos de


projetos elaborados seguindo as três relações. As perguntas que
surgem são diretamente relacionadas à que tipo de relação é mais
produtiva ou conveniente ou qual é o campo de ação de cada
profissional.

Vários arquitetos e engenheiros consagrados já deixaram claro a


importância da cooperação e entendimento mútuo para que melhores
resultados sejam obtidos tanto com relação a segurança,
durabilidade e economia quanto com relação a estética e
funcionalidade. Na verdade, os objetivos da engenharia e
arquitetura devem convergir para suprir as necessidades do cliente
de modo a equalizar e integralizar conceitos, às vezes inicialmente
antagônicos, e não para hierarquizar princípios, podendo conduzir,
por exemplo, a soluções esteticamente desagradáveis ou
economicamente inviáveis. Frases famosas como “por trás de um
grande arquiteto há sempre um grande engenheiro” se mostraram
verdadeiras em vários projetos consagrados.

De modo geral, a arquitetura contemporânea tem explorado


exaustivamente a possibilidade de integração entre engenharia e
arquitetura, especialmente em países ditos desenvolvidos como
Inglaterra, Alemanha e EUA.

Por outro lado, esta relação é às vezes polemizada e pouco


produtiva com vários casos de desentendimentos baseados
principalmente em orgulho exagerado e desigualdade entre
prioridades, que tiram o foco do objeto construtivo e da satisfação
do cliente. As figuras do engenheiro insensível ou do arquiteto
maluco/sonhador não têm conduzido a resultados satisfatórios.
Algumas crenças infundadas como o do maior status ou
remuneração dos arquitetos, da falta de criatividade dos
engenheiros ou de sua dependência de softwares ou até mesmo da
hierarquização desproporcional de objetivos, não parecem fazer
parte de equipes que estão focadas em melhores resultados.
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Não por coincidência, vencedores da maioria dos concursos de


arquitetura no mundo e também no Brasil são compostos por equipes
multidisciplinares, às vezes obrigatórias, onde a concepção
estrutural não é relegada a um segundo plano. Em resumo, a relação
entre engenharia e arquitetura deve ser sempre baseada em dois
princípios fundamentais: igualdade e respeito mútuo.
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1 PRINCÍPIOS ESTRUTURAIS
“A integração da estrutura é central para os nossos objetivos arquitetônicos, e
só é possível quando se aceita a figura do engenheiro como força criativa
dentro do processo de projeto” (arq. Norman Foster)

1.1 INTRODUÇÃO

Alguns conceitos estruturais são universais no sentido de que


são aplicáveis a qualquer matéria existente, desde ao próprio corpo
humano até em grandes estruturas civis, como edifícios altos. Estes
conceitos, embora geralmente não possam isoladamente inviabilizar
uma determinada concepção projetual, têm influência decisiva no
seu custo e viabilidade técnica, além de influenciar na forma e no
funcionamento da edificação. Em alguns casos, estes conceitos,
quando não observados, podem conduzir a concepções inviáveis no
sentido mais amplo da palavra. A seguir são apresentados alguns
destes conceitos.

1.2 CARGAS E O CAMINHO DAS FORÇAS

Cargas são elementos externos às estruturas que produzem


esforços externos e internos.

As cargas podem ser classificadas quanto à duração


(permanentes ou acidentais), quanto à origem (diretas, indiretas ou
excepcionais) e quanto à geometria (concentradas ou distribuídas). A
referência mais utilizada para a determinação de cargas é a NBR
6120, que se encontra em processo de revisão.

Analisando a figura 1.1, nota-se que o menor caminho das


cargas até o apoio é o que consome a menor quantidade de material.
Este conceito universal é válido para qualquer material e situação e
deve sempre ser observado. Por outro lado, o menor caminho das
cargas até o apoio pode não ser a melhor opção do ponto de vista
funcional, cabe ao projetista decidir a melhor opção.
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Um outra maneira de ver este conceito é comparando com a


ligação entre dois bairros onde se há mais vias o fluxo de veículos é
menor em cada uma delas. Transladando para o raciocínio
estrutural, quanto mais caminhos houver das cargas até os apoios,
menores serão os esforços nos elementos e, portanto, menores
quantidades de material são gastas nestes elementos. Isto não
significa que o custo global é menor quando há mais caminhos até os
apoios, mas que a quantidade de material gasta em cada um é menor.

Figura 1.1 – Caminho das forças (fonte; Rebello, 2000)

Imagine uma barra bi-apoiada onde há a opção de uma treliça ou


uma viga de alma cheia (ver cap. 2), neste caso a opção por treliça
conduzirá a mais caminhos até os apoios e por este motivo os
elementos das treliças consomem menos material do que a viga de
alma cheia. Veja na figura 1.2 que uma viga de transição, elemento
comum em edifícios quando há mudança de uso ou modulação, é
geralmente um elemento massivo por conta deste conceito.
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Figura 1.2 Viga de transição

Dentro deste contexto surge a pergunta: qual é a melhor


solução estrutural? A resposta é dependente de diversos fatores
mas a pior solução estrutural é aquela que resulta em desencontro
entre os princípios técnicos/estruturais e arquitetônicos. A figura
1.3 ilustra tal desencontro: edifícios excessivamente esbeltos
(h/b=300/18=16.6).

Figura 1.3 Proposta para Brasília - Rino Levi (fonte Lopes


et al. 2006)

1.3 ESTABILIDADE
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O estudo de estabilidade das construções, geralmente conduz


a três raciocínios básicos: tipos de equilíbrio, tipos de apoio e
ligações e grau de estaticidade.

Há três tipos de equilíbrio: estável, instável e indiferente


(figura 1.4). É claro que estar-se-á interessado em um equilíbrio
estável na engenharia civil e arquitetura e que não deverá haver
movimento (vertical ou horizontal) ou rotação das estruturas civis.
Este conceito, embora bastante simples, às vezes não é bem
compreendido e não é raro se ver projetos onde as estruturas
encontram-se em condição de equilíbrio instável ou indiferente e,
portanto, inviáveis.

Um outro conceito também pouco compreendido é que o


equilíbrio de uma estrutura deve ser externo e interno ao mesmo
tempo. Em outras palavras, as cargas atuantes (esforços externos)
em uma estrutura devem estar em equilíbrio (por exemplo peso de
pessoas equilibrados por reações do solo nas fundações) como
também os esforços internos (tensões atuantes) nos elementos
envolvidos devem ser equilibrados pela resistência destes
elementos (tensões resistentes). De outro modo os elementos
entram em processo de falha, ou seja, o equilíbrio interno é perdido.
16

Figura 1.4 Tipos de equilíbrio (fonte: Dias, 2009)

Os tipos de apoio e ligações são: simplesmente apoiado,


rotulado e engastado. O apoio simplesmente apoiado não é muito
comum mas constitui a restrição do movimento em apenas uma
direção (horizontal ou vertical). O apoio ou ligação rotulada (ou
rótula) constitui a restrição ao movimento vertical e horizontal,
liberando a rotação. O apoio ou ligação engastada constitui a
restrição a todos os movimentos (vertical, horizontal e rotação). É
fácil se concluir que se o número de apoios ou ligações rotuladas
aumenta a estrutura torna-se mais leve (rotações são mais permitidas
e a ocorrência de esforços de flexão é minimizada) mas por outro
lado isto pode conduzir a um equilíbrio instável. O tipo de apoio ou
ligação rotulado é o mais comum em aço e madeira porque as
ligações engastadas são mais laboriosas e caras em ambos os
materiais.

Quanto ao grau de estaticidade, as estruturas podem ser


classificadas em hipoestáticas, isoestáticas e hiperestáticas (figura
1.5). Estruturas hipoestáticas são aquelas que não possuem as
condições mínimas de equilíbrio e, portanto, são instáveis.
Estruturas isoestáticas (iso=mesmo) são aquelas que possuem as
condições mínimas de equilíbrio e, portanto, são estáveis. Estruturas
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hiperestáticas são aquelas que possuem mais do que as condições


mínimas de equilíbrio e, portanto, são também estáveis.

Para o mesmo vão, as estruturas hiperestáticas consomem


menos material do que estruturas isoestáticas porque possuem mais
restrições ao movimento/deformação. Uma torre pode ser vista
como uma grande viga em balanço, engastada em sua fundação, e
pode ser classificada como uma estrutura isostática de maneira
geral. Estruturas hiperestáticas podem redistribuir esforços e
mesmo sob cargas acima da sua capacidade nominal podem não entrar
em colapso mas estruturas isostáticas não tem esta propriedade.
Este é o motivo porque erros em estruturas isóstaticas não são
admissíveis. Conclui-se que estruturas pré-moldadas, em aço ou em
madeira requerem maior cuidado na sua concepção e
dimensionamento por que a ocorrência de trechos isostáticos é
maior.

Figura 1.5 Grau de estaticidade (fonte Rebello, 2000)

Adicionalmente, os sistemas de contraventamento, citados no


no item 1.7, auxiliam na estabilidade lateral das estruturas,
especialmente em cobertas e edifícios de múltiplos pavimentos em
aço e madeira.

1.4 ESFORÇOS E SUA HIERARQUIA

Os esforços atuantes em estruturas podem ser externos ou


internos. Os principais esforços externos são tração, compressão,
flexão, torção e cisalhamento. Estes esforços externos geram
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tensões internas (de tração, compressão, flexão e cisalhamento)


nos elementos estruturais que devem ser resistidas pelo material
(tensões resistentes), estas tensões são chamadas de esforços
internos. Outro efeito dos esforços externos são as deformações.

Os esforços de cisalhamento e torção são geralmente


analisados separadamente porque não fazem parte do raciocínio
básico estrutural e podem ser combatidos com medidas simples,
embora possam ser bastante perigosos quando negligenciados.
Como regra geral, é preciso aumentar a largura de elementos com
esforço de torção ou cisalhamento mais pronunciados. Em alguns
casos, é preciso evitar a ocorrência de torção porque isto pode
resultar em seções transversais bastante anti-econômicas e
esteticamente desagradáveis. Portanto, estruturas alteadas não
simétricas devem ser evitadas. A figura 1.6 ilustra este efeito em um
edifício alto.

Figura 1.6 Edifício sujeito à torção devido a não simetria


estrutural

Os três tipos mais básicos de esforços externos envolvidos nas


estruturas são tração, compressão e flexão. O conceito de
hierarquia dos esforços diz respeito à ordem de eficiência dos
esforços estruturais, onde estruturas tracionadas (lonas
tensionadas, estruturas pensêis) são mais eficientes do que
estruturas comprimidas (arcos, pilares), que são muito mais
eficientes do que estruturas flexionadas (vigas, lajes). Este
raciocínio conduz a questionamentos interessantes: por quê lajes e
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vigas são os elementos mais utilizados em estruturas, já que são os


que consomem mais material? Porque lonas tensionadas são
pouquíssimo utilizadas no Brasil, já que são estruturas muito
eficientes?

Um elemento comprimido pode sofrer um processo de


instabilidade associado à flexão chamado de flambagem. A
flambagem ocorre quando elementos simplesmente comprimidos
deformam lateralmente (fig. 1.7) gerando flexão. É fácil perceber
que a susceptibilidade à flambagem depende das condições de apoio,
da seção transversal do elemento, de seu comprimento e também do
material.

Figura 1.7 – Ilustração dos modos de flambagem

A quantidade que melhor indica uma susceptibilidade à flambagem


é o índice de esbeltez, definido como a relação entre o comprimento
de flambagem (𝒍𝒇𝒍 ) e o raio de giração (𝒓) de uma seção transversal. Em
outras palavras, o índice de esbeltez traduz em números se um
elemento é susceptível à flambagem ou não. Por exemplo, elementos
comprimidos em aço não devem ter índice de esbeltez maior do que
200 (NBR 8800/2008). Como referência os índices de esbeltez de
seções retangulares e circulares são:
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l= 2 √𝟑 𝒍𝒇𝒍 /𝒃 , onde b é a menor dimensão da seção


retangular.

l= 4𝒍𝒇𝒍 /𝑫, onde D é o diâmetro da seção circular.

De modo geral para qualquer seção transversal, o índice


de esbeltez é dado por:

l= 𝒍𝒇𝒍 /𝒓, onde 𝒓=√𝑰/𝑨 e I é o menor momento de inércia (ver


item 1.6) e A é a área da seção. Como os cálculos são
laboriosos para seções transversais complexas é possível
utilizar tabelas para determinar o raio de giração
especialmente para elementos em aço.

Infelizmente a flambagem não ocorre apenas em pilares. Há dois


tipos de flambagem que podem ser perigosos também em vigas,
especialmente em aço: flambagem lateral com torção e flambagem
local.

1.5 EFEITO ESCALA ESTRUTURAL

Os esforços de flexão variam com o quadrado do vão


envolvido. Esta constatação matemática e física conduz a um
conceito chamado de fraqueza dos gigantes ou efeito escala
estrutural. Este conceito é muito importante quando maiores vãos
ou alturas são envolvidas já que os esforços não variam
linearmente com o vão. Então, por exemplo, se o vão aumentar de 7
para 14m não basta dobrar a altura da viga ou laje, é geralmente
necessário adotar uma concepção mais eficiente para aumentar a
viabilidade técnica da proposta. Este conceito também é aplicado às
deformações de estruturas, ou seja, quando o vão ou a altura
aumenta as deformações também não aumentam de maneira linear.

Galileu já discutia essas relações quando falava sobre a


“fraqueza dos gigantes”, argumentando que, para viabilizar um ser
humano de grandes dimensões, não bastaria aumentar
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proporcionalmente as dimensões de seus ossos, músculos etc., mas


uma outra concepção estrutural (Rebello, 2000).

Um conceito estrutural bastante utilizado é o de modulação.


Este conceito tem relação com o conceito de fraqueza dos gigantes
por equalizar os vãos envolvidos, minorando o efeito do aumento
localizado de vãos e da conseqüente mistura de soluções
estruturais, que poderá dificultar a execução ou onerar a obra.
Este conceito tem relação direta com a função da edificação e deve
ser praticado quando possível.

Outro exemplo prático do efeito escala estrutural é a escolha


de sistemas construtivos em função dos vãos envolvidos. Para vãos
ou balanços menores bastaria utilizar vigas em perfil I de aço
apoiando a laje mas para maiores desafios estruturais esta solução
pode ser ineficiente e ser necessário considerar o trabalho
conjunto da laje e do perfil, através de uma ligação entre eles
chamada de conector de cisalhamento (studbolts), formado uma viga
mista. Em madeira é comum se utilizar perfis simples (retangulares ou
circulares) quando o vão ou altura são menores, mas quando estes
aumentam as soluções compostas, de maior inércia, são mais
eficientes (vigas I de madeira, pilares compostos, etc.)

1.6 MOMENTO DE INÉRCIA

Cada barra de um sistema estrutural tem uma função específica,


dependendo da função que exerce, sendo assim a seção transversal
de cada peça deve ter a forma mais apropriada ao tipo de esforço a
que estará submetida (MARINGONI, 2004). Além disso, o tipo de seção
transversal também determina a facilidade de execução da forma, o
aproveitamento de materiais e o espaço físico ocupado, seja por
necessidade de área disponível ou por demandas estéticas.

O momento de inércia em uma peça é calculado em relação a um


eixo que passa no centro da gravidade da seção transversal. Quanto
maior o momento de inércia em relação a determinado eixo, maior é a
eficiência da seção (figura 1.8). Por exemplo, uma bailarina gira mais
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rapidamente se estiver com as mãos próximas ao seu centro de


gravidade, do mesmo modo uma peça giraria (fletiria) se as massas
também estivessem próximo ao seu centro de gravidade, embora não
seja este um comportamento indicado para uma estrutura (figura
1.9).

Figura 1.8 Seções transversais

Figura 1.9:
A) Massas longe do C.G.=
giro mais lento.

B) Massas próximas do
C.G.= giro mais rápido.

Em outras palavras, pode-se dizer que uma seção transversal é


tão mais eficiente quanto mais longe as massas estiverem de seu
centro (aumentando o momento de inércia). Isto quer dizer que um
pilar oco é muito mais eficiente do que um pilar maciço para a mesma
área e que uma telha trapezoidal é muito mais eficiente e capaz de
vencer maiores vãos do que uma telha reta (fig. 1.10). Em adição, uma
viga em perfil I é muito mais eficiente do que uma viga retangular para
a mesma área se uma maior quantidade de material é concentrada nas
suas duas mesas, como é o caso da maioria destes perfis.

Numericamente os momentos de inércia de seções retangulares


e circulares são:
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𝒃𝒉𝟑
I= 𝟏𝟐 , onde b é a dimensão paralela ao eixo considerado e h é a
dimensão perpendicular ao eixo considerado na seção retangular.

𝜋𝑫𝟒
I= 𝟔𝟒 onde D é o diâmetro da seção circular.

Em consequência, pode-se dizer que seções quadradas são


melhores para pilares e elementos torcionados (b é a menor
dimensão neste caso) e seções retangulares são melhores para vigas
desde que fletidas em torno do eixo de maior inércia (h é a maior
dimensão neste caso). Então, seções retangulares fletidas em torno
do eixo de menor inércia (vigas chatas, h é a menor dimensão) são
pouco eficientes. Também é possível concluir que pilares quadrados
(I=b4/12) têm maior inércia do que pilares circulares de mesmas
dimensões (I=b4/20.37).

Figura 1.10 Telha trapezoidal

É interessante notar que com o auxílio do teorema dos eixos


paralelos onde o momento de inércia com relação a outro eixo
paralelo ao que passa pelo centro de gravidade é dado por I+Ac2
onde c é a distância entre os eixos, é possível calcular a inércia de
muitas seções transversais incluindo as seções compostas, comuns
em estruturas de madeira, e perfis I, comuns em estruturas de aço.

Em relação ao perfil longitudinal de uma barra, o momento de


inércia determina a hierarquia de eficiência de um sistema estrutural
para vencer maiores vãos. Por exemplo, uma viga Vierendeel é muito
mais eficiente do que uma viga de alma cheia (ver cap. 2) porque as
massas estão mais concentradas longe do centro de gravidade. É
também comum aumentar a altura de vigas ou treliças para se obter
maior eficiência em pontos com maiores esforços como no exemplo
da fig. 1.10.
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Figura 1.10 – Viadut de l´arc- frança

1.7 AERODINÂMICA E EFEITOS DO VENTO

É fácil concluir que formas mais arredondadas conduzem a


minoração dos efeitos dos ventos nas construções, incluindo
edifícios altos. A NBR 6123 especifica coeficientes aerodinâmicos
para edifícios com formas comuns, conduzindo a uma redução de
esforços em edifícios arredondados ou com bordas arredondadas.

De modo geral, as forças devidas ao vento em edificações são


dadas pela expressão (NBR 6123):

F=C qA, onde C é o coeficiente aerodinâmico, q=0.613 Vk2


(N/m2) é a carga do vento, A é área perpendicular à direção do vento,
Vk=S1S2S3Vo é a velocidade característica do vento, Vo é a
velocidade básica (m/s), S1, S2 e S3 são fatores que consideram a
topografia, a rugosidade do terreno, as dimensões da edificação, a
variação da velocidade do vento com a altura, o grau de segurança
requerido e a vida útil da edificação.

A figura 1.11 ilustra a determinação do coeficiente


aerodinâmico, neste caso chamado de coeficiente de arrasto Ca,
para edificações alteadas retangulares. A tabela 10 da NBR 6123
mostra coeficientes de arrasto para outras formas de edificações
alteadas, onde é possível verificar que Ca pode variar em mais do que
100%, o que significa que as forças do vento podem mais do que
dobrar se a forma não for aerodinâmica.
25

Figura 1.11 Coeficiente de arrasto (fonte NBR 6123)

O conceito de contraventamento, cuja origem é na arquitetura


gótica, é interligado ao de aerodinâmica porque os sistemas de
enrijecimento de estruturas (contraventos) procuram combater
principalmente os efeitos horizontais provindos do vento. Por este
motivo, edifícios menos aerodinâmicos precisam de sistemas de
contraventamento mais eficientes. A figura 1.12 ilustra uma
aplicação do conceito de aerodinâmica em edifícios altos.
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Figura 1.12 Edifício Swiss Re em Londres (arq. Norman Foster)


27

2 SISTEMAS ESTRUTURAIS

What the structural engineer sees as load-bearing truss is seen as a sculpture by


the architect – naturally it is both” (Ove Arup)

2.1 INTRODUÇÃO

Há numerosos sistemas estruturais que podem compor


uma edificação. Existe uma lógica por trás da criação de todos
estes sistemas estruturais baseada em física e comportamento
estrutural de sistemas básicos.

Neste contexto é necessário analisar a criação destes


sistemas básicos e suas associações para se ter uma biblioteca
de possibilidades estruturais que podem ser utilizadas na
concepção estrutural, a partir de observações de seu
potencial volumétrico, eficiência, viabilidade
técnico/econômica, adequabilidade aos materiais estruturais,
adequação ao uso, etc.

2.2 SISTEMAS ESTRUTURAIS BÁSICOS E SUAS ASSOCIAÇÕES

Todas as estruturas concebidas e criadas pelo homem são


associações (ou individualizações) de 6 sistemas estruturais básicos:
cabo, arco, treliça, viga da alma cheia, viga Vierendeel e pilar, que
são descritos a seguir.

Os cabos mudam a sua forma conforme o carregamento


aplicado. A forma que estes adquirem é chamada de funicular e
indicam o menor caminho das forças até o apoio (figura 2.1). Os
cabos devem estar sempre tracionados e podem vencer vãos de até
30 km quando sujeitos apenas ao seu peso próprio.
28

Figura 2.1 Exemplos de funiculares

Cabos são muito utilizados em estruturas retesadas (lonas


tensionadas), pontes penseis, etc. É o sistema estrutural mais
eficiente de todos de acordo com o princípio da hierarquia de
esforços.

Diferente do cabo, o arco verdadeiro está submetido a


esforços de compressão simples. Para evitar esforços de flexão em
arcos é importante que haja um estudo prévio da forma do arco com
relação ao seu carregamento (Figura 2.2). A relação ideal entre
flecha e o vão do arco é entre 1/10 e 1/5. O arco pode vencer vãos
de até 500 metros.

Arcos são muito utilizados em pontes e cobertas, sendo o


segundo sistema estrutural mais eficiente. Para relações entre
flecha e vão menores do que 1/10, os arcos podem ser instáveis. As
forças horizontais induzidas nos apoios dos arcos são tanto
menores quanto maiores forem as flechas. O mesmo ocorre com os
cabos.

Figura 2.2 Arcos verdadeiros

A treliça é um sistema estrutural, que pode vencer grandes


vãos com um consumo relativamente reduzido de material (Figura
2.3). É muito utilizada em construções de grande porte como em
coberturas, atingindo 120 metros de vão, e pontes, atingindo até
29

300 metros de vão. Permitem a passagem de iluminação, ventilação e


tubulações.

O conceito de treliça vem diretamente dos conceitos de arco e


cabo e portanto estas estão sujeitas a esforços de tração e
compressão, desde que as cargas estejam aplicadas em seus nós.

Figura 2.3: Treliça


Pratt

Os seus elementos são chamados de banzos inferiores e


superiores, montantes e diagonais (Figura 2.4).

Figura 2.4: Treliças

Os tipos mais usuais de treliça são: a) Pratt que apresentam as


diagonais tracionadas e montantes comprimidos, b) Howe com
diagonais comprimidas e montantes tracionados c) Warren que não
apresentam montantes, d) Fink e) Bowstring (Figura 2.5). Treliças
30

Pratt são muito utilizadas em estruturas em aço e treliças Howe são


muito utilizadas em estruturas em madeira.

Figura 2.5 Tipos de


treliças

Os esforços atuantes em vigas de alma cheia são os de flexão e


cisalhamento. As vigas de alma cheia estão submetidas à tração e
compressão ao mesmo tempo em uma mesma seção transversal. A
figura 2.6 mostra uma viga em balanço sujeita a tração superior e
compressão inferior. É o sistema estrutural mais utilizado e também
o menos eficiente.

Figura 2.6 Viga em balanço

A viga Vierendeel é um sistema estrutural composto por barras


que se ligam por nós rígidos. Esta é empregada quando há a
necessidade de vazios para a passagem de tubulações, iluminação,
ventilação ou para tornar vigas de grande porte com aparência mais
leve (Figura 2.7).
31

Figura 2.7 (fonte: Rebello, 2001)

O pilar tem como função principal transmitir os esforços da


estrutura para as fundações ou para elementos que encaminhe esses
esforços para o solo. O pilar está submetido a esforços de
compressão e pode ser encarado como um caso especial de arco.

Diferentes associações dos sistemas estruturais básicos são


possíveis:

a) Cabo-cabo

É a associação mais eficiente. Há condições mínimas para que


esta associação seja possível:

1) No mínimo quatro pontos de fixação

2) Ortogonalidade da malha

3) Cabos sustentantes e estabilizantes tem curvaturas


opostas

4) Cabos periféricos tem a forma funicular

A associação contínua mais conhecida de cabos é a lona


tensionada.

b) cabo-viga

A associação de cabo x viga de alma cheia pode ser feita através


da viga vagão (Figura 2.8). Na viga vagão o cabo é usado para
sustentar a viga, diminuindo o vão da mesma e resultando em menor
consumo de material.
32

Figura 2.8 Viga vagão

c) outras associações

Dependendo das variantes do projeto, pode-se associar vários


sistemas estruturais básicos. Alguns exemplos interessantes
utilizados em estruturas em aço e madeira são:

- Arcos podem ser treliçados ou Vierendeel.

- A maioria das cobertas em aço e madeira são compostas por


uma associação de elementos treliçados (arcos, tesouras) com
vigas de alma cheia na outra direção (terças).

- Treliças espaciais são associações contínuas de treliças.

- Edifícios de múltiplos pavimentos geralmente são compostos


por associações de vigas de alma cheia e pilares em formatos de
múltiplos pórticos.

2.3 PRÉ-DIMENSIONAMENTO EM AÇO E MADEIRA

Para o pré-dimensionamento, busca-se a seção que consuma a


menor quantidade de material e ao mesmo tempo suporte os esforços
a qual estão submetidas. Para isto as relações de pré-
dimensionamento dependem, além do material, fundamentalmente das
cargas e vãos envolvidos (L). A quantidade mais fundamental para o
pré-dimensionamento é a altura dos elementos estruturais (H). A
tabela 2.1 resume o pré-dimensionamento de elementos em aço e a
tabela 2.2 para os elementos em madeira. A tabela se baseia em
grandes cargas, que equivale a carregamentos máximos em edifícios
33

de múltiplos pavimentos, ou seja, as alturas poderão ser diminuídas


em casos de cargas menores, como em cobertas (cerca de 15%).

Tabela 2.1 Pré-dimensionamento em aço (Fontes: Rebello 2007


e Sandro Cabral)

SISTEMA ESTRUTURAL VÃOS ALTURA


RECOMENDADOS

LAJE STEEL DECK 0 A 4M. Normal até H=0.05l


2.5m.

ARCO >20m H=0.02L

b= H/5 a H/10

TRELIÇA 6-30m H=1/7 a 1/10 L

VIGA DE ALMA CHEIA 0 a 12m Bi-apoiada H = 0.06L

Em balanço H = 0.12L

Contínuas H = 0.055L

b=0.4 a 0.6H

VIGA VIERENDEEL 6-30m H = 0.14L

b=0.6H a H.

VIGA VAGONADA 6-20m H= 0.06L

b=0.1H a 0.25H

PÓRTICO 0-20m Hviga=0.04L

Hpilar=Hviga e >h/25

b=0.4 a 0.6Hviga

TRELIÇA ESPACIAL >15m H=0.05(L+l)/2

Obs: L representa o maior vão da estrutura e l representa o menor vão da


estrutura, h é a altura do pórtico. b é base do elemento. No caso de balanços os
vãos recomendados são a metade do mostrado acima.
34

Tabela 2.2 Pré-dimensionamento em madeira (Fontes: Rebello


2007 e Sandro Cabral)

SISTEMA VÃOS ALTURA


ESTRUTURAL RECOMENDADOS

ARCO >15M H=0.02L

b=H/4 a H/3

TRELIÇA <15m H=1/5 a 1/10L

VIGA DE ALMA CHEIA <8m Maciça e MLC: H = 0.05L

MLC: <10m Composta: H = 0.1L

b=H/6

PÓRTICO <10M Hviga=0.04L

Hpilar<=Hviga

VIGA VAGONADA <10m H= 0.05L

b=H/4

Obs: L representa o maior vão da estrutura, b é base do elemento. No caso


de balanços os vãos recomendados são a metade do mostrado acima.

Em adição, há prescrições normativas que limitam as dimensões


dos elementos estruturais para prevenir possíveis problemas
relacionados ao excesso de esbeltez, instabilidade ou
inexequibilidade.

A NBR 8800/2008 não fixa limites diretos para dimensões de


elementos em aço mas limita as suas propriedades. As principais
limitações são:

-Índice de esbeltez máximo para elementos comprimidos:


200.

- Índice de esbeltez máximo para elementos tracionados:


300.

- Relação b/t em elementos comprimidos: mesa de perfil I-


16, alma de perfil I- 42, aba de cantoneira –13, mesa de
35

perfil U-16, alma de perfil U- 42, mesa ou alma de seção


tubular retangular-40 para aços A-36 (fy=250 MPa). Estes
valores são 15% menores para o aço A-572 (fy=345MPa),
comuns em perfis I.

As dimensões mínimas das peças em madeira estão listadas na


tabela 2.3. A NBR 7190/1997 também fixa que as chapas em aço de
ligação não devem ter espessura menor do que 6mm e que a esbeltez
(L/b) máxima de elementos comprimidos é de 40 e de elementos
tracionados é de 50. A esbeltez é a relação entre o comprimento da
peça (L) e a menor dimensão de sua seção transversal (b).

Tabela 2.3 – Dimensões mínimas de peças em madeira (fontes:


Moliterno 2010 e NBR 7190/1997)

Para pilares a situação é mais complexa porque as suas


dimensões são bem mais dependentes das cargas de compressão e até
dos efeitos do vento. De modo geral, para edifícios baixos e
cobertas, adota-se um critério de esbeltez e também um critério de
resistência para pré-dimensionar pilares.

Um procedimento prático pode ser:

a) Calcular a tensão atuante e comparar com a tensão


resistente, obtendo a área mínima do pilar.

Para edifícios em aço ou madeira onde a última laje é de


coberta, a carga no pilar pode ser aproximadamente
calculada por:

P=[(n-1)(400+SC)+400]Ainf
36

Onde: n é o número de lajes, SC é a sobrecarga atuante (tab.


2 da NBR 6120) e Ainf é a área de influência contribuinte do
pilar conforme figura 2.9.

Para edifícios onde a última laje é de piso (solários, áreas de


lazer, etc.): P=n(400+SC)Ainf

Para cobertas com laje n=1 e P=400Ainf mas para cobertas


em aço sem laje e com fechamentos leves (ex. telhas
metálicas) P pode ser reduzido para 60Ainf e para cobertas
em madeira e com fechamentos mais pesados (ex. telha
cerâmica) para 150Ainf.

A tensão atuante é dada por 1.4 P/A, onde A é a área do pilar,


e a tensão resistente é dada por 0.9fy para aço e 0.3fc para
madeira, onde fy é a tensão de escoamento do aço e fc é
tensão resistente à compressão da madeira (paralela as
fibras).

Portanto a área A do pilar deve ser maior do que 1.55P/fy


para aço e 4.66P/fc para madeira.

Os valores mais comuns de fy são 250 MPa=2500 kg/cm2


(aço ASTM A-36), 300 MPa (aço SAC300 ou COR 420) e 345
MPa (aço ASTM A-572). Para madeira os valores mais
representativos de fc são 10 MPa=100 kg/cm² para
dicotiledôneas (massanraduba, eucalipto, ipê, cumaru) e 5
Mpa para coníferas (pinhos) (Moliterno, 2010)

b) Verificar se o índice de esbeltez é menor do que 150 (l<150)

para pilares em aço e a esbeltez é menor do que 40 (L/b<40)


para pilares em madeira.

É fácil verificar que para tirantes o procedimento é o mesmo


mas a esbeltez pode ser maior (l<300 para aço e L/b<50 para

madeira).
37

Figura 2.9 Exemplo de área de influência

A tabela 2.4 ilustra a escolha de dimensões de peças em madeira


para vigas e terças de coberta de forma mais prática e baseada em
seções comerciais. A figura 2.5 ilustra a escolha de dimensões de
peças em madeira para pilares de coberta de forma mais prática e
baseada em seções comerciais.
38

Tabela 2.4 – Tabela de pré-dimensionamento de vigas e terças em


madeira para cobertas (fonte: Sandro Cabral)

OBS: Madeiras possíveis: Eucalipto, Maçaranduba, Ipê ou Cumaru. Perfis


serrados e toras. ɸ significa diâmetro, ou seja, diâmetro da tora ou perfil
circular.

Tabela 2.5 – Tabela de pré-dimensionamento de


pilares/pontaletes e elementos de treliças comprimidos em madeira
para cobertas (fonte: Sandro Cabral)

OBS: Madeiras possíveis: Eucalipto, Maçaranduba, Ipê ou Cumaru. Perfis


serrados e toras. ɸ significa diâmetro, ou seja, diâmetro da tora ou perfil
circular.

2.4 CLASSIFICAÇÃO QUANTO A FORMA GERAL

As estruturas podem ser classificadas quanto a sua forma


geral de acordo com a teoria de sistemas estruturais básicos e
momento de inércia em:
39

a) ESTRUTURAS ATIVAS

Estruturas de forma ativa são as que seguem os caminhos das


forças, transmitindo cargas somente através de esforços normais
simples (tração e compressão). Estas estruturas estão sujeitas aos
esforços de compressão e tração: arcos verdadeiros e cabos.

b) ESTRUTURAS SEMI-ATIVAS

As estruturas em forma semi-ativa seguem parcialmente os


caminhos das forças. Estão submetidas aos esforços de flexo-
compressão ou flexo-tração.

c) ESTRUTURAS NÃO-ATIVAS

Neste tipo de estrutura apenas esforços de flexão atuam,


sendo geralmente planas.

A figura 2.9 ilustra esta classificação.


40

Figura 2.9 Esquemas de estruturas quanto a forma geral


(fonte Macdonald, 2001)

2.5 RELAÇÃO ENTRE FORMA, FUNÇÃO E ESTRUTURA

Baseando-se no exposto acima, fica claro que há uma relação


intrínsica entre forma e estrutura. Por exemplo, cobertas
arqueadas são mais eficientes do que cobertas retas e vigas I em aço
41

são menos eficientes do que vigas Viereendel formadas a partir do


mesmo perfil, embora de maior altura.

Não é difícil constatar que a estrutura tem relação direta e


indireta com a função. Indiretamente através da forma e diretamente
através dos maiores vãos envolvidos quando se usa materiais mais
resistentes ou seções transversais mais eficientes, que podem
vencer maiores vãos.

Um exemplo disto é a concepção de um edifício onde todo o seu


sistema de contraventamento está localizado na fachada (maior
inércia). Isto proporciona uma solução eficiente e com maiores áreas
úteis. Por outro lado, imagine uma concepção de um edifício onde
todo o seu sistema de contraventamento está localizado no seu
núcleo com pilares modulados na fachada (figura 2.11), esta ideia
proporciona uma solução menos eficiente (menor inércia) do que a
anteriormente citada mas promove vãos livres em toda área útil do
edifício.

O tipo de material utilizado também pode influenciar na forma. O


aço é uma das melhores opções para estruturas esbeltas e com
aparência delicada. Na ordem, os materiais, por serem mais
resistentes e menos deformáveis, que vencem maiores vãos são:
madeira, vidro, alumínio, concreto armado, concreto protendido e
aço.

À medida que a exigência funcional de maiores vãos vai


aumentando, também vai aumentando a necessidade de estruturas ou
materiais mais eficientes e, por conseguinte, de estruturas com
formas mais ativas (arcos e cabos) ou até mesmo estruturas não-
ativas mais eficientes como a substituição de uma viga de alma cheia
por uma treliça.

A modulação, descrita no cap. 3, é também um parâmetro que


interfere na função.
42

3 CONCEPÇÃO EM AÇO E MADEIRA


“A eficiência da solução de uma estrutura, tanto em termos de segurança,
desempenho em serviço e economia, é completamente dependente de uma
concepção estrutural bem feita, e adequada às necessidades de cada edificação”
(Rodrigo Koerich)

3.1 INTRODUÇÃO

A concepção estrutural propriamente dita envolve, além do


conhecimento dos princípios e sistemas estruturais, várias questões
espaciais e construtivas. Portanto assuntos como escolha do
material estrutural e do sistema construtivo e também disposição
dos elementos estruturais também são importantes.

Muitos projetos estruturais se limitam a apenas obter uma


solução estável e em concreto armado, renegando questões
essenciais como escolha de modulação, material,
contraventamento, sistema construtivo, etc. a um segundo plano.
Isto pode significar a obtenção de soluções não adequadas à
arquitetura, anti-econômicas e até de difícil execução.

3.2 SISTEMAS CONSTRUTIVOS EM AÇO

O aço é uma liga metálica formada essencialmente por ferro e


carbono, com percentagens deste último variando entre 0,008 e
2,11%. Distingue-se do ferro fundido, que também é uma liga de ferro
e carbono, mas com teor de carbono entre 2,11% e 6,67%. A
diferença fundamental entre ambos é que o aço, pela sua
ductibilidade, é facilmente deformável por forja, laminação e
extrusão, enquanto que uma peça em ferro fundido é muito frágil.

Os tipos de aço mais utilizados como estruturas principais de


edificações são: ASTM A-36 (fy=250 MPa), ASTM A-572 (fy=345 MPa) e
SAC300 ou COR 420 (fy=300 MPa). Há uma demanda crescente,
especialmente em ambientes agressivos, da utilização da
galvanização à quente como proteção à corrosão destes aços como
43

alternativa mais durável do que os esquemas de pintura existentes.


Os aços inox, embora tenham propriedades físicas semelhantes e alta
durabilidade, são pouco utilizados como estrutura principal por
conta dos altos custos envolvidos.

O aço inox combina versatilidade com durabilidade. Quando


adequadamente especificado e utilizado, a principal diferença do aço
comum é a adição de cromo (mínimo de 10,5%) à sua composição,
dando-o uma incrível resistência à corrosão atmosférica. A
especificação correta do aço inox deve considerar as aplicações
finais do produto, o processo de fabricação e instalação além do
projeto e sua locação (tab. 3.1).

Tabela 3.1 Tipos de aço inox


AMBIENTES AMBIENTES EXTERNOS

TIPOS
DE RURAL LITORÂNE
ATMOSFERA ATMOSFERA URBANO URBANO LITOÂNEOS( FRENTE
INOX NÃO OS( 10 A
NORMAL INDUSTRIAL NORMAL SEVERO 20 A 10Km) AO MAR
POLUIDO 3Km)

430 0 ? 0 X X X X X

444 + 0 + 0 0 0 0 ?

304 + + + + ? + ? X

316 + + + + + + + ?

+ Boa performance, pode estar super especificado

0 Opção mais ecômica

X Não recomendado

? Pode ser aceitável mediante consulta

O uso do aço na construção civil é norteado do que se


costuma chamar de cultura do aço. Ou seja, quando o aço é
escolhido como material estrutural, é necessário uma alteração de
concepção com relação a escolha dos materiais de fechamento, de
revestimento, de telhamento, de forro e de piso. Materiais mais leves
44

e com melhor desempenho com relação à facilidade e rapidez de


execução são preferidos para otimizar a viabilidade do uso do aço.

É preciso lembrar que o custo da estrutura em aço com


relação ao total da construção é maior do que em concreto e isto
significa que há a necessidade de uso eficiente do material. Isto,
entretanto, não significa que o custo global seja maior.

Os perfis em aço podem ser laminados (obras médias e edifícios),


conformados à frio (dobrados, obras pequenas) ou soldados
(grandes obras). A escolha de perfis de aço é muito dependente da
disponibilidade comercial. A tabela 3.2 lista os perfis comerciais mais
utilizados em aço. Quando os perfis são dobrados é possível se ter
uma maior variedade de dimensões, dependendo da espessura da chapa
e também do maquinário utilizado.

Tabela 3.2 Perfis comerciais em aço

Tipo de perfil Dimensões comerciais

I laminado H=76, 100, 150, 200, 250, 310,


360, 410, 460, 530 e 610 mm

H laminado H=150, 200, 250, 310 e 360 mm

Tubulares sem costura D=26.7, 33.4, 38.1, 42.2, 48.3,


60.3, 73, 88.9, 101.6, 114.3,
141.3, 168.3 mm

Tubulares quadrados e 20x20, 25x25, 30x20, 30x30,


retangulares 40x20, 38x38, 50x25, 40x40,
60x30, 70x25, 50x50, 70x30,
80x40, 60x60, 70x70, 100x40,
80x60, 80x80, 100x100 mm

Cantoneiras 25x25,32x32, 50x50,75x75mm

Perfis U e U enrijecidos H=75,100,125 e 150mm


45

O sistema de piso utilizado em aço é apenas o laje-viga-pilar. Os


tipos de laje ou fechamentos que podem ser utilizados são:

a) Laje steel deck


b) Laje pré-moldada (convencionais, treliçadas, alveolares,
duplo T, etc.)

c) Paineis compostos de madeira (Masterboard ou Wall) ou


madeira prensada (OSB)

d) Chapas de aço

e) Placas pré-moldadas (argamassa armada, concreto


celular)

O esquema de piso em estruturas em aço é formado por pilares,


vigas principais (VP), vigas secundárias (VS) e laje/fechamento. Em
outras palavras, em geral, a laje ou fechamento geralmente vence
pequenos vãos. Em alguns casos é necessário o uso de vigas
terciárias (VT). A figura 3.1 ilustra o sistema de piso em aço.
46

Figura 3.1 Sistema de piso em aço (fonte Rebello, 2007)

A laje steel deck é a mais utilizada como sistema construtivo de


edifícios em aço. É preciso consultar o manual dos fabricantes das
lajes/fechamentos para determinar os vãos recomendados
especialmente em soluções industrializadas como os painéis em
madeira ou placas pré-moldadas. Em geral a concepção depende
enormemente das dimensões, cargas admissíveis e vãos
recomendados (espaçamento entre VS ou VT) destes tipos de
laje/fechamento. A figura 3.2 ilustra as dimensões das fôrmas da
laje steel deck da Metform e esquema de apoio.
47

MF
75

MF
50

Figura 3.2 Dimensões das formas para steel deck da Metform e


esquema de apoio com studbolts

Todos os tipos de viga podem ser utilizados em aço. As vigas


Viereendeel quando formadas a partir de perfis I são chamadas de
vigas casteladas. A eficiência da seção transversal das vigas em aço,
a partir do conceito de momento de inércia, é particularmente
importante e utilizada na maioria dos casos.

Há uma enorme quantidade de opções para sistemas de cobertas


em aço, desde apoios para lonas tensionadas até geodésias. É sempre
saudável lembrar que a estanqueidade e escoamento da água de
cobertas é um dos maiores problemas de concepções ousadas,
devendo ser tratada com cuidado. Algumas dicas para uma
apropriada concepção de cobertas em aço são:

a) Verificar a inclinação mínima necessária para a telha ou


fechamento.
48

b) Prever calhas com inclinação mínima de 0.5% e com no mínimo


dois tubos de queda. A área das calhas deve ser de 15cm² a
cada 10m² a esgotar.
c) O diâmetro mínimo dos tubos de queda é de 75mm. A área do
tubo de queda deve ser de 1cm2 a cada 1m2 a esgotar.

Os vãos recomendados para estruturas em aço podem ser


observados na tabela 2.1.

3.3 SISTEMAS CONSTRUTIVOS EM MADEIRA

Hoje a madeira é o material estrutural mais utilizado na


Scandinávia (cerca de 80% do total) mas é pouco utilizada no Brasil,
apesar do crescimento recente, mesmo sendo responsável por 20%
das reservas florestais mundiais. No Brasil, a maioria da madeira
utilizada é natural, quando não ilegal, e na Europa é comum utilizar
madeira reciclada. Ainda domina em algumas regiões do Brasil, como
na região nordeste, o uso da madeira de maneira não industrializada e
artesanal, o que impede o desenvolvimento tecnológico necessário
para a disseminação do seu uso.

A madeira tem um processo de formação que se inicia nas raízes. A


partir delas é recolhida a seiva bruta (água + sais minerais) que em
movimento ascendente pelo alburno atinge as folhas. Na presença
de luz, calor e absorção de gás carbônico ocorre a fotossíntese
havendo a formação da seiva elaborada. Esta em movimento
descendente (pela periferia) e horizontal para o centro vai se
depositando no lenho, tornando-o consistente como madeira (figura
3.3).

As duas grandes classes de árvores são as gimnospermas e as


angiospermas. As gimnospermas são árvores coníferas e resinosas,
não possuindo frutos. As angiospermas são divididas em
monocotiledônias (palmas e gramíneas) e dicotiledônias. O
cotiledone é a primeira folha que surge quando da germinação da
semente. As monocotiledônias resultam em madeiras de pouca
durabilidade, como o bambu.
49

As árvores para aplicações estruturais são classificadas em dois


tipos quanto à sua anatomia: coníferas e dicotiledôneas.

As coníferas são chamadas de madeiras moles, pela sua menor


resistência, menor densidade em comparação com as dicotiledôneas.
Têm folhas perenes com formato de escamas ou agulhas; são típicas
de regiões de clima frio. Os dois exemplos mais importantes desta
categoria de madeira são o Pinho do Paraná e os Pinus.

As dicotiledôneas são chamadas de madeiras duras (ou de lei) pela


sua maior resistência; têm maior densidade e aclimatam-se melhor em
regiões de clima quente. Como exemplo temos praticamente todas as
espécies de madeira da região amazônica. Podemos citar mais
explicitamente as seguintes espécies: Peroba Rosa, Aroeira, os
Eucaliptos (Citriodora,Tereticornis, Robusta, Saligna, Puntacta,
etc.), Garapa, Canafístula, Ipê, Maçaranduba, Mogno, Pau Marfim,
Faveiro, Angico, Jatobá, Maracatiara, Angelim Vermelho, etc.

A madeira é um material anisotrópico, ou seja, possui diferentes


propriedades em relação aos diversos planos ou direções
perpendiculares entre si. Não há simetria de propriedades em torno
de qualquer eixo.

Figura 3.3 – Processo de crescimento das árvores


50

As peças de madeira podem apresentar defeitos tais como:

A) Nós - Imperfeições nos pontos onde existiam galhos. Os


galhos vivos na época do abate da árvore produzem nós firmes
e os galhos mortos produzem nós soltos, estes últimos podem
cair durante a serragem da peça produzindo furos. Nos nós, as
fibras longitudinais sofrem desvios de direção o que baixa a
resistência à tração.

B) Fendas – Aberturas nas extremidades das peças, produzidas


pela secagem mais rápida da superfície. Podem ser evitadas
mediante a secagem lenta e uniforme da madeira.

C) Gretas ou ventas – Separação entre os anéis anuais,


provocada por tensões internas devidas ao crescimento
lateral da árvore, ou por ações externas, como flexão devida
ao vento.

D) Arqueadura – Encurvamento na direção longitudinal, isto é,


do comprimento da peça.

E) Abaulamento – Encurvamento na direção da largura da peça.

F) Fibras reversas – Fibras não paralelas ao eixo da peça,


podem ser provocadas por causas naturais ou serragem. As
causas naturais devem-se a proximidade de nós ou ao
crescimento das fibras em forma de espiral. A serragem da
peça em plano inadequado pode produzir peças com fibras
inclinadas em relação ao eixo. As fibras reversas reduzem a
resistência da madeira.
51

G) Esmoada ou quina morta – Canto arredondado, formado


pela curvatura natural do tronco. A quina morta significa
elevada proporção de alburno.

A figura 3.4 ilustra os principais defeitos da madeira.

Figura 3.4–A)Nó; B)1/2/3 Rachadura provocada por


ressecamento; C)1. Anel de Crescimento 2.
Cerne; D) Arqueamento; E) Encurvamento; F) Fissuras de
comportamento das fibras;

Apesar de ser um dos principais materiais estruturais, a madeira


raramente está diretamente associada a grandes edificações
desenvolvidas no Brasil. A madeira é comumente usada como
elementos horizontais de pisos e estrutura de telhados (cobertas).
Em outras palavras, não faz parte da nossa cultura encarar a
madeira como um material capaz de vencer grandes desafios
estruturais ou, embora com alterações significativas nos últimos
anos, como um material industrializado, capaz de conduzir a uma alta
produtividade a custos reduzidos.
52

Na Europa e Estados Unidos, além da consciência sustentável


do seu uso ser bem maior, a madeira é encarada como tendo as
mesmas potencialidades estruturais do aço e também como uma
indústria altamente produtiva capaz de atender a um grande público.

Outro aspecto ligado a nossa cultura é que estruturas em


madeira estão comumente ligadas a usos rurais ou rústicos,
incluindo os materiais para telhas. Deste modo é comum serem
rejeitados o uso de telhas metálicas ou a associação com outros
materiais ditos modernos. A madeira junto com o aço, por exemplo,
pode ser perfeitamente utilizada em contextos contemporâneos e até
em requalificação de sítios históricos.

As principais propriedades físicas da madeira são:

A) Anisotropia : A madeira apresenta 3 (três) direções principais


longitudinal, radial e tangencial. Para o dimensionamento
importam as propriedades nas direções das fibras principais e na
direção perpendicular a elas.

B) Umidade: A umidade da madeira tem grande importância sobre as


suas propriedades. O grau de umidade é o peso da água contida na
madeira expresso como uma percentagem do peso da madeira seca
em estufa. A quantidade de água retida nas células das madeiras
recém cortadas ou verdes varia muito com as espécies e estações
do ano. A umidade é cerca de 50% nas madeiras mais resistentes
podendo chegar a 100% nas muito macias. Exposta ao meio
ambiente, a madeira perde umidade continuamente até atingir um
ponto de equilíbrio, que depende da umidade atmosférica, assim é
chamada seca ao ar. A madeira seca ao ar apresenta teores de
umidade entre 10% e 30%. No Brasil adota-se como condição
padrão de referência para as propriedades de resistência e
rigidez a umidade de equilíbrio de12%

C) Retração da madeira : A madeiras sofrem retração ou


inchamento com a variação da umidade, o fenômeno é mais
53

importante na direção tangencial, sendo, na direção radial,


cerca de metade da tangencial. Na direção longitudinal a
retração é menos pronunciada. A variação volumétrica é
aproximadamente igual a soma das três retrações lineares
ortogonais.

D) Dilatação linear: O coeficiente de dilatação linear das


madeiras, na direção longitudinal, varia de 0,3.10-5 a 0,45.10-5 oC,
sendo 1/3 menor do que o coeficiente de dilatação do aço. Na
direção tangencial ou radial o coeficiente fica na ordem de
4,5.10-5 oC.

E) Deterioração da madeira : a madeira está sujeita a ação de


ataques biológicos e a ação do fogo. A vulnerabilidade da
madeira de construção ao ataque biológico depende da camada
do tronco onde foi extraída a madeira, da espécie da madeira,
pelas condições ambientais, contato com o solo e água.
Utilizando-se tratamento químico pode-se aumentar a capacidade
da madeira aos ataques biológicos. Por ser combustível é
frequentemente considerada um material de pequena resistência
ao fogo, porém quando corretamente projetadas e construídas,
apresentam ótimo desempenho à ação do fogo. As peças robustas
de madeira, possuem excelente resistência ao fogo, pois se oxidam
lentamente devido à baixa condutividade de calor, guardando um
núcleo de material íntegro. As peças esbeltas de madeira e as
peças metálicas das ligações requerem proteção contra a ação
do fogo.

Os principais tipos de madeira estão listados na tabela 3.3. As


principais madeiras utilizadas no Brasil estão em maiúsculo.

O bambu não é muito utilizado no Brasil, ficando limitado a


estruturas de pequena envergadura ou temporárias, pois a sua
durabilidade é extremamente dependente do tipo de tratamento a que
é submetido. A árvore do coqueiro, sendo classificada como
54

monocotiledônia, é também pouco utilizada devido a sua baixa


durabilidade.

A principal madeira de reflorestamento do Brasil é o eucalipto


citriodora por ter um crescimento rápido e boas propriedades
físicas, embora plantações comerciais na região nordeste do Brasil
ainda sejam escassas.

A maçaranduba é a madeira mais utilizada na região nordeste,


seguida pelo ipê e o cumaru. A maçaranduba não deve ser utilizada
quando exposta às intempéries pois aparecem fendas, que podem
prejudicar a sua resistência mecânica. Nestes casos recomenda-se
utilizar o ipê ou o cumaru.

Tabela 3.3 – Madeiras que podem ser utilizadas (fontes: Moliterno,


1981 e www.ibama.com.br)

Nome Origem Corte D E σp σm


(kg/m3) (kg/cm2) (kg/cm2) (kg/cm2)

Sucupira Pará 880 114000 113 27

MAÇARANDUBA Pará 1200 183000 130 39

Angelim vermelho Pará 1090 153000 123 21

Peroba rosa São Paulo 780 94250 85 25

EUCALIPTO São Paulo 1000 136000 100 30


CITRIODORA

Canafístula Maranhão 870 127000 99 22

Jatobá Pará 970 146000 112 20

Ipê amarelo Roraima 1030 153800 148 30


55

IPÊ Pará 990 121000 138 41

CUMARU Pará 910 162000 139 42

Andiroba Amazonas 720 116000 75 22

Pinho do Paraná Paraná 540 105225 51 15

Nota: D- densidade a 15% de umidade, E- módulo de elasticidade, σp – resistência


admissível à compressão paralela as fibras, σm – resistência admissível à
compressão perpendicular as fibras.

Os tipos de perfis utilizados em estruturas em madeiras são:

A) Perfis serrados ou maciços. Ex. Linhas, caibros, ripas,


sarrafos, toras, etc.
B) Perfis Laminados – Ex. compensados, OSB, MDF, etc.
C) Perfis laminados e colados (MLC) – são associações de
perfis laminados colados um sobre os outros de modo a
se obter um perfil mais alto e mais longo.

As seções comerciais para perfis serrados (região nordeste) são:

 Ripas: 4x1.5 cm e 4x2 cm.


 Linhas ou vigas: 3”x4” (7x9.5 cm), 3”x5” (7x12 cm), 3”x6”
(7x14.5 cm), 3”x8” (7x19.5 cm), 3”x10” (7x24.5 cm), 3”x12”
(7x29.5 cm).
 Caibros: 5x3.5 cm e 7x4.5 cm (caibrão, 3”x2”).
 Pontaletes: 7x7 cm (3”x3”) e 10x10 cm (4”x4”).
 Mourões: 15x15 cm e 20x20 cm.
 Sarrafos: 5x2.5 cm, 10x2.5 cm e 15x2.5 cm.
 Tábuas: 20x2.5 cm e 30x2.5 cm.
 Pranchas: 40x5 cm, 50x5cm, etc.

Estas seções estão baseadas no padrão americano embora já


existam perfis em outro padrão:

 Ripas: 1.5x5 cm.


56

 Linhas ou vigas: 6x12 cm, 6x16 cm, 6x20cm e 6x20cm.


 Caibros: 5x6 cm.
 Pontaletes: 7.5x7.5 cm e 10x10 cm.

É importante lembrar que os comprimentos das peças em


madeira serrada são limitados. Na maioria dos casos, as linhas tem
comprimento máximo de 8m, podendo chegar a 10m em situações
especiais mas os caibros, ripas, tábuas e sarrafos têm comprimentos
máximos de 5m. Os pontaletes e mourões também têm comprimentos
máximos reduzidos.

Os sistemas construtivos em madeira seguem o mesmo


raciocínio do aço (sistema laje-viga-pilar com fechamentos apoiados
em estrutura secundária apoiada em estrutura primária) com
limitações relacionadas às propriedades acima delineadas. Em geral,
as madeiras laminadas são utilizadas como fechamento de pisos em
madeira.

Os vãos recomendados para estruturas em madeira podem ser


observados na tabela 2.2.

3.4 ESCOLHA DO MATERIAL ESTRUTURAL E DO SISTEMA


CONSTRUTIVO

A tabela 3.4 descreve as principais vantagens e desvantagens


dos materiais estruturais. De modo mais específico, a escolha do
material e do sistema construtivo deve estar baseada nos fatores a
seguir:

a) Fatores técnicos

– Isotropia

– Homogeneidade

– Ductilidade

– Resistência aos esforços atuantes

– Deformabilidade

– Dilatação térmica
57

– Obtenção de seções transversais eficientes

– Facilidade de aquisição

– Facilidade de execução e mão de obra especializada


(desempenho)

– Durabilidade e manutenção

– Confiabilidade estrutural (coeficientes de segurança)

b) Parâmetros financeiros

– Custo inicial e custo global

– Antecipação do ganho e retorno financeiro

– Padrão da construção e perfil do cliente

- Eficiência energética

c) Fatores estéticos e funcionais

- Facilidade de moldagem

- Necessidade de maiores vãos e elementos estruturais


menores

- Materiais agregados ao seu uso

- Isolamento térmico e acústico

-Texturas e iteração com outros materiais

- Modulação mais adequada

Um procedimento geralmente útil para escolha do material é a


atribuição de pesos e pontos para cada item de modo a se obter um
índice geral e especifico de cada obra para cada material. Fatores
estéticos e funcionais podem ser mais importantes em obras de mais
alto padrão, fatores técnicos podem ser mais importantes em obras
de arte (como pontes) e edifícios altos ou fatores financeiros podem
ser mais importantes em obras de baixo padrão.
58

Tabela 3.4 – Vantagens e desvantagens dos materiais estruturais

Material Vantagens Desvantagens

Aço Baixo peso Custo inicial


Facilidade de execução e reforma Corrosão
Reciclabilidade Resistência ao fogo
Racionalização de mão de obra e materiais
Resistência
Concreto Baixo custo inicial Alto peso
Facilidade de execução Dificuldades em reformas
Adaptabilidade a formas complexas Proteção térmica
Durabilidade Velocidade de execução
Vidro Baixo peso Fragilidade
Transparência Custo inicial
Durabilidade
Reciclabilidade
Alumínio Baixo peso Custo inicial
Facilidade de execução e reforma Resistência
Racionalização de mão de obra e materiais Fadiga
Reciclabilidade Deformabilidade
Madeira Reciclabilidade Custo inicial
Consumo de energia Combustibilidade
Velocidade de execução Anisotropia
Estética higroscopiscidade
Maleabilidade

A tabela 3.5 resume as características mais importantes de


vários materiais.
59
Tabela 3.5 Características dos materiais (fonte: diversas)
Eficiência: Resistência Condut.
Preço Dens. Módulo de Característica Durabili Reutiliza Facilidade de Coef. dilatação
Material Resistencia/ Reciclabilidade térmica
(R$/kg) (kg/m³) elasticidade (Mpa) dade Cão obtenção térmica (m/°C)
Densidade (10-3) (MPa) (W/m/ºC)

ALVENARIA 0.05 1485.00 0.37 300-800 1-10 (C) excelente Ruim ruim excelente 0.000006 0,46

CONCRETO 0.1 2400.00 1.35 2800 15 -50 (C) excelente Boa ruim excelente 0.000012 1,75

PLACA
CIMENTÍCIA 2.7 1700.00 0.82 6500 14 (C) excelente excelente ruim excelente 0,000014 0,65

ARGAMASSA 1.10 2100.00 0.33 980 - 8500 1.2 - 12.5 (C) excelente Boa ruim excelente 0.00001 0,70

VIDRO COMUM 0.55 2500.00 1.60 74000 4 (F) excelente Muito boa excelente muito boa 0.00001 0,80

VIDRO
TEMPERADO 1.22 2500.00 6.40 74000 12-20 (F) excelente Muito boa excelente muito boa 0.00001 0,81

VIDRO
LAMINADO 1.60 2500.00 1.60 74000 4 (C) excelente Muito boa excelente muito boa 0.00001 0,82

GALVALUME 6.24 4600.00 6.63 13600 205 - 405 (T) excelente Muito boa excelente muito boa 0.00002 64.65

MADEIRA (Ipê) 2.00 1030.00 0.78 13620 3.7 – 12.4 (C) boa Ruim péssimo muito boa 0,000045 0,20

TITÂNIO 78.00 4507.00 19.8 11600 895 (tração) excelente excelente excelente péssimo 0.000086 22

ALUMÍNIO 6.23 2600.00 5.77 7000 150 (tração) excelente Boa excelente muito boa 0,000023 240,00

AÇO COMUM 3.10 7800.00 3.33 20600 150 - 370 boa Boa excelente muito boa 0,000012 50,00

AÇO
GALVANIZADO 4.77 7800.00 3.33 20600 150 - 370 muito boa Boa excelente muito boa 0.000012 50,00

AÇO ZINCADO 4.82 7800.00 3.33 20600 150 - 370 muito boa Boa excelente muito boa 0.000012 52,00

AÇO COR420 3.15 7800.00 3.33 20600 150 - 370 muito boa Boa excelente muito boa 0.000012 50,00

AÇO INOX 23.50 7800.00 3.33 20600 150 - 370 muito boa Boa excelente muito boa 0.000015 50,00

COBRE 16.00 8900.00 1.04 10566 85 - 100 muito boa Ruim excelente boa 0.000016 398,00

OURO 73.500.00 19300.00 - 78000 - excelente excelente excelente péssimo 0.000014 0.28
60

Definições formais e funcionais da arquitetura têm tido uma


grande importância na definição do tipo de material e do sistema
construtivo. É importante lembrar que a busca por maiores vãos não
deve ser aleatória e sim baseada nos fatores listados acima.

A escolha do material é intrinsicamente ligada à escolha do


sistema construtivo. Muitas vezes uma decisão tomada apenas
baseada na escolha do material ou do sistema construtivo pode
trazer prejuízos. Por exemplo, as vantagens do uso da laje steel
deck podem se perder se as vigas forem em concreto armado
moldadas in loco.

Atualmente, onde várias tecnologias estão prontamente


disponíveis, talvéz a referência mais importante para a escolha do
material e do sistema construtivo seja a eficiência geral resultante.
Esta tem relação direta com os princípios estruturais (cap. 1).

Sistemas mistos têm se mostrado excelentes alternativas para


obras onde é necessário se aliar as vantagens de dois ou mais
materiais. Dentro deste contexto, lajes, vigas e pilares mistos têm
sido alternativas cada vez mais utilizadas. Em adição, algumas obras
também podem ser híbridas (com parte em concreto, parte em aço e
/ou parte em madeira). Exemplos de obras híbridas são galpões com
pilares em concreto armado e coberta em aço, edifícios com
elementos mais esbeltos em aço e elementos mais robustos em
concreto ou edificações em concreto armado com coberta em
madeira.

3.5 PRINCÍPIOS GERAIS DE CONCEPÇÃO

Após a escolha do material e do sistema construtivo, as


questões espaciais e geométricas vêm à tona e perguntas essências
devem ser respondidas como:

a) Qual é a disposição de lajes/fechamento, vigas e pilares?

b) Quais são as dimensões dos elementos estruturais?

c) Qual é o sistema de contraventamento mais adequado?

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61

A disposição de pilares deve, na medida do possível, seguir os


princípios de modulação. A modulação envolve a escolha dos vãos
de uma maneira ordenada. O motivo principal é que a escolha do
material e do sistema construtivo é muito dependente da modulação
e vãos mais adequados.

Os tipos principais de modulação são: quadrada (L=l) e


retangular (L>=2l). A escolha do tipo de modulação depende do
sistema estrutural e construtivo adotado. Esquema de treliças
(retas ou arqueadas) e terças de alma cheia em cobertas geralmente
conduzem a modulações retangulares. Esquemas de treliças
espaciais ou grelhas, eficientes em duas direções, geralmente
conduzem a modulações quadradas (fig. 3.5).

Figura 3.5 Modulações quadradas para uma área do 600m² e


mesmo número de pilares. O índice DP é definido como a área dividida
pelo número de pilares.

Além da modulação, a disposição de pilares devem seguir, na


medida do possível, os princípios de alinhamento e orientação. O
alinhamento de pilares é muito importante em aço e madeira. A
orientação dos pilares deve seguir o sentido que dá maior inércia à
edificação (fig. 3.6).

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62

Planta
retangular

Planta
quadrada

Figura 3.6 Orientação e alinhamento de pilares

O alinhamento de pilares também é essencial quando a ação


lateral do vento for importante, especialmente em torres e edifícios
altos. O alinhamento deve ser horizontal e também vertical
(prumada). Por conta do princípio do caminho das forças, pilares em
diferentes posições em cada pavimento conduzem a soluções anti-
econômicas e até impossíveis do ponto de vista funcional pois
requerem vigas de transição, em geral de grandes dimensões (ver fig.
1.2).

O pré-dimensionamento de elementos em aço e madeira pode ser


feito a partir das tabelas 2.1 e 2.2.

O princípio da uniformização deve sempre ser aplicado quando


da definição das dimensões dos elementos estruturais de uma
edificação, trazendo benefícios como rapidez na execução e
facilidade de obtenção de perfis. Por exemplo, não é aconselhado
que um projeto em aço ou madeira tenha perfis de muitas dimensões.

O sistema de contraventamento a ser utilizado nas edificações


é comumente relegado a um segundo plano na concepção
estrutural, mas tem sido o principal motivo de muitas falhas de
estruturas devido a efeitos do vento ou instabilidade global. Os
sistemas de contraventamento estão presentes em praticamente
todos os tipos de estruturas em aço e podem também estar presentes
em estruturas de madeira, dependendo de sua esbeltez. A figura 3.8

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63

ilustra um sistema de contraventamento típico para cobertas em aço.


Para cobertas em madeira, os caibros e ripas podem funcionar como
contraventamento, mas em geral a sua ausência significa que a
estrutura necessita de contraventamento (semelhante ao da fig. 3.7)

Figura 3.7 Sistema de contraventamento típico de cobertas em


aço

Um procedimento simples que geralmente resulta em ótimos


resultados com relação à durabilidade de estruturas em aço é a
disposição de perfis e atenção em cuidados simples de modo a evitar
frestas e o acúmulo de água conforme ilustra a figura 3.8. Na
verdade, com as tecnologias atuais, é possível escolher a vida útil
das estruturas de aço conforme a necessidade, a partir de esquemas
de pintura (ISO 12944-5), galvanização ou células de sacrifício e
cuidados de concepção e projeto.

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64

Figura 3.8 Disposição de perfis e cuidados visando a


durabilidade (fonte: Manual CBCA)

3.6 CONCEPÇÃO DE COBERTAS EM AÇO E MADEIRA

Em geral, o esquema de concepção das cobertas em aço e


madeira segue o mesmo raciocínio dos pisos, ou seja, as estruturas
principais (arcos, treliças, vigas, pórticos) suportam estruturas

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65

secundárias (terças), que por sua vez suportam o telhamento ou


fechamento. Podem existir estruturas terciárias como espaçadores
(tirantes) e contraventamento (figura 3.7). As figuras 3.9 e 3.10
ilustram as partes principais de cobertas em aço e madeira.

Figura 3.9 Partes principais de uma coberta em aço (pórtico principal-


estrutura primária e terças –estrutura secundária)

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66

Figura 3.10 Partes principais de uma coberta em madeira (a


tesoura é a estrutura principal, as terças são as estruturas
secundárias e os caibros e ripas são as estruturas terciárias)

Pode-se explicar o funcionamento de cada parte através do


caminhamento dos esforços. Um carregamento incide diretamente
nos elementos de fechamento (vento e sobrecargas, por exemplo) e
estes transmitem os esforços para a estrutura secundária que por
sua vez transmitem os esforços para a estrutura primária que se
apóia em pilares/paredes e daí nas fundações.

É importante notar que devido a diferença de comportamento


dos materiais utilizados, a estrutura secundária deve ser capaz de
suportar as diferenças de movimento da estrutura primária e dos
elementos de fechamento.

Deve-se observar que em algumas cobertas, certas partes


podem funcionar juntas, formando um só elemento. Por exemplo, em
cobertas em grelha ou treliças espaciais, as estruturas primárias e
secundárias se confundem (Figuras 3.11 e 3.12).

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67

Figura 3.11 Coberta em treliça espacial (estruturas primária e


secundária se confundem).

Figura 3.11 Abóbada lamelar em madeira (fonte: Moliterno, 2010)

De modo geral, as cobertas podem ser classificadas em


(figuras 3.12, 3.13 e 3.14):

a) Uma água
b) Duas águas
c) Três ou mais águas
d) Multi-direcional ou espaciais
e) Arqueadas
f) Tipo shed
g) Curvas

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68

h) poligonais
i) Espaciais
A B

A B
C A
C

D E

Figura 3.12 – Tipos de coberta em madeira (fonte: Gauzin-Muller e


outros, 2005)

F G

Figura 3.13 – Tipos de coberta em madeira (fonte: Gauzin-Muller,


2005)

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69

No caso de cobertas com mais de duas águas aparecem


elementos adicionais: os espigões e águas furtadas (rincões)
mostrados na figura 3.16.

Figura 3.14 – Possíveis configurações de cobertas com duas águas


em aço

A nomenclatura das peças de uma cobertura em madeira é


diversificada. Há basicamente duas terminologias utilizadas, como
segue:

a) Terminologia dos construtores

A terminologia dos construtores é apresentada nas figuras


3.14 e 3.15.

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70

1.Ripa; 2.Caibro; 3.Terça; 4.Cumeeira; 5.Contrafrechal; 6.Frechal; 7.Chapuz, pedaço de


madeira, geralmente de forma triangular, pregado na asna da tesoura, destinado a suster ou
apoiar a terça; Conjunto de peças 8 a 12 – tesoura, viga em treliça plana vertical, formada de
barras dispostas de madeira a compor uma rede de triângulos, tornando o sistema estrutural
indeslocável; 8.Asna, perna, empena ou membrura superior; 9.Linha, rochante, tirante, tensor,
olivel ou membruna inferior; 10. Pendural ou pendural central; 11.Escora; 12.Pontalete,
montante, suspensório ou pendural; 13. Ferragens ou estribos; 14.Ferragem ou cobrejunta;
15.Testeira ou aba; 16.Mão francesa.

Figura 3.15 – Elementos de coberta em madeira – Nomenclatura dos


construtores (fonte: adaptado de MOLITERNO, 2010)

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71

Figura 3.16 – Elementos de coberta em madeira com várias águas


(fonte: MOLITERNO, 2010)

b) Terminologia estrutural (ou técnica)

Apesar de permanecer com alguns dos conceitos utilizados na


terminologia dos construtores, há algumas mudanças de
nomenclatura, principalmente nos elementos que compõem a
tesoura.

A figura 3.17 apresenta os elementos da nomenclatura


técnica, definidos como: 1.Terças; 2. Mãos-francesas; 3. Tesoura – S.
banzo superior; I. banzo inferior; V. barras verticais ou montantes; D.
barras diagonais ou simplesmente diagonais; N. nó ou junta – ponto
de interseção de barras; P. painel – distancia entre dois nós; h.
altura da tesoura; L. vão da tesoura – distância entre os apoios
externos; α. inclinação da tesoura –; 4. Contraventamento vertical;
5. Contraventamento horizontal; Oitão (última tesoura ou parede).

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72

Figura 3.17 – Elementos de coberta em madeira – Nomenclatura


estrutural (fonte: MOLITERNO, 2010)

Vários materiais, em sua maioria industrializados, podem ser


utilizados como telhamento e/ou fechamentos de cobertas. A tabela
3.6 mostra uma variedade de telhas que podem ser utilizadas em

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73

cobertas. Esta tabela é apenas orientativa e não substitui a consulta


indispensável ao catálogo do fabricante.

Tabela 3.6: Tabela orientativa de telhas (fonte: catálogos dos


fabricantes)

TIPO MATERIAL DIMENSÕES Peso ESPAÇ. INCL.


PADRÃO (kg/m2) ENTRE MÍNIMA (%)
APOIOS
Alumínio Alumínio larg: 1.06 m Até 4 até 2m em 5
trapeizoidal ou 1.26 m cobertas
comp:até 12 retas
m
Alumínio Alumínio larg: 1.06 m Até 4 até 1.7m em 5
ondulada ou 1.26 m cobertas
comp:até 12 retas e até 2
m em cobertas
curvas
Aço galvanizado Aço ou larg: 1.06 m Até 5 até 2.50 m 5
ou galvalume Galvalume comp: até
trapeizoidal 12 m
Aço galvanizado Aço ou larg:1.06 Até 5 até 2.00 m 5
ou galvalume Galvalume comp: 12 m
ondulada
Translúcida Resina de larg: 1.06 m Até 6 até 2.50 m 5
(Fibrazen) poliester comp: até
com fibra 12 m
de vidro
Policarbonato Policarbo larg: 1.05 m Até 3 Até aprox. 10
alveolar nato comp: 5.80 1.5 m para
m cobertas
curvas e até
70 cm para
cobertas
retas
Policarbonato Policarbo larg: 2.05 m Até 3 Até 1.20 m 2
compacto nato comp: 3.00
m
Telhas de Policarbo larg: entre Até 2 Até 1.20 m 5
policarbonato nato 1.10m e
1.27 m
comp: 5.8 m
Ecológica ou Material larg: 0.95 m Até 5 até 60 cm 10
Onduline reciclável comp: 2.00
m
Sanduíche Alumínio larg: 1.26 m Até 12 até 4m 5
(termo-acústica) ou comp:até 12
galvalume m
Ondulada Fibro- larg: 1.10 m 18 para até 1.69 m 9
(Brasilit) cimento comp:1.53, 6mm e para 6mm e
1.83,2.13, 24 para até 1.89m
2.44 m 8mm para 8mm
Thermocomfort Fibro- 1.83x1.10m 18 Até 1.69m 18 s/
tégula cimento vedação
9 c/
vedação
Telhas Tégula Concreto - 49-54 32 cm 30 outras
50

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74

p/plana
Telhas simples Cerâmica - 40-50 28-32 cm 25
Telhas duplas Cerâmica - 40-50 28-32cm 30
Perkus Argila - 35 36.5 cm 35
microgran
Gravicolor Galvalume 43x119cm 6.2 39.8cm 12
Colina (Brasilit)
Colonial Fibro- 62x82cm 15 53 cm 26
(Brasilit) cimento
Fibrotex Fibro- larg: 0.506 9 Até 1.15m 27
(Brasilit) cimento m
comp:1.22,
,2.13, 2.44 m

É importante lembrar que as telhas cerâmicas e de concreto


absorvem umidade, aumentando significativamente o seu peso por
conta disto. No caso de telhas cerâmicas, a inclinação a ser
utilizada na coberta depende da projeção horizontal do telhado e
do tipo de telha utilizado (figura 3.18). Para telhas simples
(colonial, paulista, etc.) a inclinação requerida é geralmente menor
do que para telhas duplas (portuguesa, duplanatex, etc.).

Figura 3.18 inclinações para telhados em telhas cerâmicas

Não é comum utilizar materiais cimentícios como telhamento de


cobertas em aço devido ao seu alto peso e possíveis problemas de
compatibilidade. Em geral, telhas com maior peso e maior inclinação
requerida são mais utilizadas em estruturas de madeira.

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3.7 SUSTENTABILIDADE E COMPATIBILIDADE ENTRE MATERIAIS

É dever do projetista buscar a sustentabilidade do projeto


pensando na reciclabilidade, reutilização, consumo de material e
energia. Sabendo que alguns materiais convencionais são
degradadores do meio ambiente. Estudos apontam para a busca por
materiais alternativos que utilizam a reciclagem e tentando assim,
minimizar o efeito da construção civil no meio ambiente.

É importante citar que várias medidas sustentáveis são


possíveis na concepção estrutural como eficiência no uso dos
materiais (diminuição de perdas, concepção estrutural eficiente) e
escolha de materiais (reutilizáveis, recicláveis e com menor impacto
no ambiente). Além disto, a arquitetura pode também considerar
economia de energia (escolha de materiais de fechamento e proteção
solar, sistemas de iluminação e ventilação natural) e
reaproveitamento de recursos naturais (coleta da água da chuva,
geração de energia alternativa).

O aço é a escolha mais natural da sustentabilidade, pois é um


dos materiais mais abundantes da terra, a energia consumida é co-
gerada, o processo é controlado e não lança poluentes na
atmosfera, consome 41% menos de água no processo que o
concreto e todos os componentes gerados pela produção são
aproveitados. Além disto, a fabricação da estrutura elimina os
desperdícios na obra, pois o processo é industrializado, o menor
peso da estrutura requer fundações menores, diminuindo o impacto
das mesmas no solo, a rapidez na montagem reduz o impacto na
comunidade local, permite grandes vãos, fachadas abertas e
coberturas que facilitam a utilização da energia solar, é um dos
componentes da construção industrializada, sua sucata tem alto
valor agregado e o processo de reciclagem é simples e eficiente.

A madeira é um material com excelentes respostas as questões


de reutilização e reciclagem, possuindo as seguintes
características: baixa densidade; boa resistência à tração e
compressão; totalmente reciclável; fácil trabalhabilidade; alta
produtividade; conserva-se indefinidamente imersa em água; seca e

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protegida, dura séculos; reduz o CO2 da atmosfera aumentando o


O2; possui boa insolação térmica; e fácil manutenção. O uso de
madeiras de demolição é uma ótima ação de sustentabilidade.

O reflorestamento é uma outra maneira de minimizar os


impactos do homem na natureza. Há muitos reflorestamentos de
eucalipto citriodora no Brasil porque esta árvore, sendo
dicotiledônea, apresenta excelentes propriedades físicas e boa
velocidade de crescimento. O uso do Paricá, árvore nativa do norte
do Brasil e praticamente sem nós, para laminados está crescendo no
estado do Pará.

O uso de estruturas mistas ou híbridas e a associação de vários


materiais na arquitetura contemporânea de edifícios pode gerar
problemas de compatibilidade entre eles. Deve-se pensar que os
materiais mais resistentes devem ser utilizados nas regiões com
maiores esforços, que deve haver compatibilidade de deformações
(térmicas ou não) e que cuidados especiais geralmente são
necessários na ligação entre os materiais. É também necessário
avaliar os custos envolvidos.

A corrosão é o principal problema de compatibilidade entre


materiais metálicos. Cada metal ou liga pode ser caracterizado pelo
seu potencial de corrosão, tornando possível, deste modo,
estabelecer o que se chama de série galvânica (figura 3.19), que
fornece, para um meio considerado, uma classificação de diferentes
metais e ligas segundo seu potencial de corrosão medido
experimentalmente. A partir destas indicações, torna-se possível
estimar a pilha que será criada pelo acoplamento elétrico dos dois
metais diferentes. Observa-se o aumento da velocidade de corrosão
do metal menos nobre (aquele que possui o menor potencial de
corrosão) e uma diminuição da velocidade de corrosão do metal mais
nobre (o que apresenta o maior potencial de corrosão) naquele
dado meio. Um exemplo comum em estruturas de aço é o uso de aço CA
soldado em aços A-36 ou A-572, o que é altamente condenável.

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Figura 3.19 – Série Galvânica (Fonte: Manual de Princípios da


Proteção de Estruturas Metálicas em situação de Corrosão e
Incêndio - GERDAU)

É muito comum fissurações em fachadas devido a deformações


diferenciais dos materiais com relação ao seu funcionamento como
estrutura e também com relação à variação da temperatura. É
importante lembrar que o vidro, a alvenaria, a madeira e o aço têm
coeficientes de dilatação diferentes, não podendo ser solidarizados
em vários casos. Deformações em estruturas podem causar quebras
em vidros, fissuração em alvenarias e até descolamento de
revestimentos. A NBR 8800/2008 fixa, por exemplo, que a
deformação máxima de uma viga em aço com alvenaria apoiada sobre
ela é de 15mm. Fôrros em estruturas de aço ou madeira devem ser
executados com materiais flexíveis como o gesso acartonado ou pvc.

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4 CONCEPÇÃO DE EDIFÍCIOS EM AÇO

“O projeto ideal não existe, a cada projeto existe a oportunidade de realizar uma
aproximação”(Paulo Mendes da Rocha)

4.1 INTRODUÇÃO

A concepção estrutural de edifícios de múltiplos pavimentos,


devido principalmente à altura, número de pavimentos e ocupação,
envolve elementos específicos e adicionais que devem ser
considerados. Estes elementos abrangem desde questões puramente
arquitetônicas até questões técnicas importantes. Exemplos disto
são os sistemas verticais de acesso, reservatórios, fluxo e
estacionamento de veículos, ocupações diversas, aspectos
técnico/estruturais, interação entre estrutura, arquitetura e
instalações prediais, segurança contra incêndio, conforto acústico
e procedimentos de montagem.

4.2 CONCEPÇÃO DE EDIFÍCIOS DE MÚLTIPLOS PAVIMENTOS

As questões de acesso e funcionamento alteram


significativamente a concepção estrutural de edifícios de múltiplos
pavimentos indo além dos conceitos e procedimentos dos caps. 1 a 3.

Os sistemas verticais de acesso (elevadores, escadas e rampas)


por serem localizados e envolverem cargas específicas geralmente
alteram a concepção estrutural promovendo uma série de apoios
adicionais e elementos especiais como segue:

a) Escadas e rampas – Necessitam de vigas para o seu apoio.


Podem ser necessárias vigas intermediárias entre um
pavimento e outro. É também necessário um correto
dimensionamento das rampas e escadas conforme a NBR
9050/2015.

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b) Elevadores – necessitam de vigas ao redor da caixa em


alturas pré-determinadas pelo fabricante, além de poço,
geralmente em concreto, e lajes com cargas específicas
(fundo do poço e laje de suspensão ou para casa de
máquinas). Para o delineamento completo dos elevadores,
várias informações geométricas são necessárias como a
profundidade do poço (FP), as dimensões da caixa (A e B), a
altura mínima acima da última parada (UA), etc. conforme
ilustra a figura 4.1.

Figura 4.1 Dimensões importantes para elevadores

Os reservatórios superiores de edifícios de múltiplos


pavimentos (reserva de água potável ou piscinas), são preocupação
constante da concepção estrutural pois em geral necessitam de

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apoios diretos (pilares) ou semi-diretos (vigas próximas a pilares)


devido ao seu peso muito superior aos usos comuns (geralmente
acima de 1000 kg/m²).

O fluxo e o estacionamento de veículos (fig. 4.2), geralmente


nos primeiros pavimentos, influencia toda a concepção estrutural
do edifício pois, em geral, os mesmos pilares (nas mesmas posições),
devem compatibilizar dois ou mais usos diferentes. O problema se
torna ainda mais sério quando mais usos estão envolvidos como
estacionamento de veículos no subsolo, uso comercial nos
primeiros pisos e uso residencial nos pisos superiores. Entre as
questões relatadas neste item, esta é a que mais provoca problemas
de compatibilização entre arquitetura e estrutura. Note que o uso
de vigas de transição deve ser limitado, podendo provocar
problemas funcionais sérios, ás vezes, inviabilizando até a existência
de toda a edificação, especialmente para edifícios em aço.

Figura 4.2 – Exemplo de concepção estrutural do subsolo de


edifício com 4 pavimentos em aço mostrando a falta de modulação
oriunda da falta de compatibilidade estrutural entre o
estacionamento de veículos e os demais pavimentos.

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Note que tanto os reservatórios quanto a mudança de uso


entre os pavimentos nada mais são do que aplicações diretas do
princípio do caminho das forças (cap. 1).

Dentre os parâmetros técnicos/estruturais que influenciam


na concepção estrutural de edifícios de múltiplos pavimentos em
aço estão:

a) SUSCETIBILIDADE AO VENTO

Esbeltez
Localização
Sistema de piso
Modulação/Simetria (esforços de torção)
Forma (aerodinâmica)
Altura (número de pavimentos)
Contraventamento (sistema estrutural)

b) PARÂMETROS DE DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL

Modulação
Uniformização
Alinhamento de pilares e vigas de transição
Vãos

c) PARÂMETROS DE DIMENSIONAMENTO

Recalques de fundação
Deslocamentos horizontais no topo e entre pisos
Deslocamentos verticais nos pisos
Deformação elástica longitudinal
Resistência dos materiais (fck para concreto e fy para aço)
Cura do concreto, retração e fluência
Variação da temperatura (juntas de dilatação)
Modos e freqüências naturais na direção do vento, laterais
(desprendimento de vórtices) e de torção.
Níveis de aceleração no topo (conforto humano)
Amortecimento estrutural
Dimensionamento contra incêndio
Efeitos de cargas gravitacionais
Efeitos estáticos e dinâmicos do vento
Efeitos de sismos
Diafragma rígido (lajes)

Note que todos estes fatores e parâmetros são


interconectados e que uma concepção satisfatória só é obtida
quando todos são levados em conta.

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Para edifícios em aço a facilidade de execução pode ser um


elemento chave para o sucesso da concepção. Dentro deste
contexto, facilidade de aquisição de perfis, consideração de meios
de transporte das peças, facilidade de montagem levando em conta o
peso e comprimento das peças e planejamento de execução podem ser
cruciais. É comum a elaboração de um projeto específico de
montagem de edifícios em aço para minimizar problemas executivos
principalmente relacionados à otimização do tempo e recursos
demandados.

4.3 COMPATIBILAÇÃO ENTRE ARQUITETURA, ESTRUTURA,


INSTALAÇÕES PREDIAIS E EXECUÇÃO

O resultado final da concepção estrutural deve estar


compatibilizado a diferentes áreas como:

a) Segurança contra incêndio (compartimentação, materiais,


shafts, etc)
b) Instalações prediais (shafts, engrossos, sistema de
elevadores, reservatórios intermediário/superior,
climatização, etc.)
c) Arquitetura (distribuição espacial, estética, planejamento de
fachada, vãos, estacionamento de veículos, escolha de
divisórias, fechamentos e revestimentos, etc.)
d) Execução (repetição, facilidade de montagem e execução,
uniformização dos elementos estruturais, etc).

A compatibilização entre todas estas áreas é uma tarefa


multidisciplinar e complexa, que envolve vários profissionais. É uma
etapa que envolve criatividade e habilidade social para impor ou
explanar normas e conceitos de uma maneira clara e concisa de
modo a achar pontos de concordância entre as diferentes
vertentes, sempre de modo respeitoso e igualitário.

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4.4 SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO E CONFORTO ACÚSTICO

Uma estrutura considerada segura na condição excepcional de


um incêndio é aquela que, com ou sem proteção contra incêndio, tem
grande probabilidade de resistir aos esforços solicitantes em
temperatura elevada, de forma a evitar o seu colapso.

A NBR 14432/2001 isenta de maiores cuidados contra o


incêndio, as edificações sob as condições listadas na tabela 4.1.

Na prática, o dimensionamento ou proteção da estrutura


contra o incêndio é regido de acordo com a sua ocupação e altura
para resistir o TRRF requerido por normas (nacionais ou locais),
conforme mostra a tabela 4.2.

Tabela 4.1 Isenções segundo a NBR 14432/2001

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Tabela 4.2 TRRF segundo a NBR 14432/2001

O corpo de bombeiros de São Paulo, por exemplo, especifica


que as estruturas de alguns edifícios altos devem resistir até a 4h
de fogo (TTRF=4h).

Para edifícios em aço é comum a proteção da estrutura contra


o fogo. Os tipos de proteção mais utilizados são argamassa
projetada, tinta intumescente e revestimentos cimentícios
convencionais (alvenaria, blocos cerâmicos, concreto, etc.).

Muitos cuidados devem ser tomados em edifícios em aço com


relação ao fogo como a consideração de ferragem adicional
positiva nas lajes steel deck para considerar a sua possível
diminuição de resistência, o uso de revestimento cimentício
(alvenarias, concreto) em rotas de fuga com escadas de material
incombustível e a compartimentação horizontal e vertical em
particular através dos perfis do perímetro do edifício.

É também possível dimensionar todo o edifício para a situação


do incêndio conforme a NBR 14323/2013 mas uma análise criteriosa
de custos deve ser feita para escolher a melhor forma de proteção.

A NBR 15575/2013 fixa procedimentos para melhorar o


desempenho das edificações, especialmente com relação ao
conforto térmico e acústico. Com relação ao conforto acústico
exige-se que a laje tenha espessura e/ou revestimento compatível
com uma isolação de no máximo 80 dB de um piso para outro. Isto
significa que, em geral, as lajes nervuradas precisam de

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revestimento acústico ou contra-piso mais espesso, que lajes


maciças devem ter espessura mínima de 10cm (em osso) e que lajes pré-
moldadas com 12cm raramente atingem tal nível de conforto
acústico. Não há ainda estudos específicos sobre o comportamento
acústico da laje steel deck mas pode-se inferir a partir dos dados
acima que o seu comportamento pode ser satisfatório para
espessuras usuais de 15cm.

Para edifícios de múltiplos pavimentos é saudável aliar as


especificações das NBR 15200/2012 e NBR 15575/2013 para se
obter segurança contra incêndio e conforto acústico ao mesmo
tempo.

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5 BIBLIOGRAFIA

LIVROS

Charleson, Andrew W. A estrutura aparente: um elemento de


composição em arquitetura, 2009.

Dias, Luis de A. de M. Estruturas de Aço: conceitos, técnicas e


linguagem. Zigurate editora, 7ª edição, 2009.

Lopes, Marcos L.; Bogéa, Marta; Rebello, Yopanan. Arquiteturas da


engenharia, engenharias da arquitetura. São Paulo: Mandarim
editora, 2006.

Macdonald, Angus. Structure and Architecture, second edition,


2001.

Moliterno, Antonio. Caderno de projetos de telhados em estruturas


de madeira, 2009.

Rebello, Yopanan. A concepção estrutural e a arquitetura, 2000.

Rebello, Yopanan. Bases para a concepção estrutural na


arquitetura, 2007.

Silva, Valdir; Pannoni, Fabio. Estruturas de aço para edifícios –


aspectos tecnológicos e de concepção, 2010

NORMAS e MANUAIS

NBR 8800/2008 – Projeto de estruturas de aço e de estrutura


mista de aço e concreto de edifícios

NBR 6120/1986 – Cargas para o cálculo de estruturas de


edificações

NBR 7190/1997 – Projeto de estruturas de madeira

NBR 14432/2001 – Exigências de resistência ao fogo de elementos


construtivos de edificações.

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NBR 14323/2013 - Projeto de estruturas de aço e de estruturas


mistas de aço e concreto de edifícios em situação de incêndio.

NBR 9050/2015 – Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e


equipamentos urbanos.

NBR 6123/1988 – Forças devidas ao vento em edificações.

Manuais CBCA (disponível em http://www.cbca-


acobrasil.org.br/site/publicacoes-manuais.php)

Manuais Gerdau (disponível em


https://www.gerdau.com/br/pt/produtos/catalogos-e-manuais#k=#s=41)

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