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Neste bloco serão estudadas estruturas reticuladas especiais. Além de esforços de fle-
xão e de cisalhamento que, quando submetidas a quaisquer carregamentos, suas vigas
inclinadas também desenvolvem esforços normais internos. Trata-se, portanto, de uma
solicitação combinada de cisalhamento com flexão composta e grande excentricidade.
Mesmo com múltiplos apoios, as vigas Gerber possuem articulações internas, que per-
mitem liberdade de rotações, aniquilando, no ponto da rótula, os momentos fletores,
eliminando a continuidade da estrutura. Assim, cada um de seus trechos é reduzido a
vigas articuladas que são estaticamente determinadas.
No Desenho 4.1 é representada uma viga simplesmente apoiada com inclinação 𝜃 com
a horizontal. A resultante do carregamento distribuído é centralizada, com direção ver-
tical, sentido descendente e de intensidade:
𝑃 = 𝑝 ⋅ ℓ ⋅ cos 𝜃
𝐻𝐴 = 0
2
Desenho 4.1 – Reações de apoio em viga inclinada isostática
Fonte: O autor.
ℓ ⋅ cos 𝜃 ⟹ 𝑝 ⋅ ℓ ⋅ cos 𝜃
𝑉𝐵 ⋅ ℓ ⋅ cos 𝜃 + 𝑃 ⋅ =0 𝑉𝐵 =
2 2
A reação vertical no apoio fixo (𝐴) é diretamente determinada pela aplicação das equa-
ções de equilíbrio de momentos rotacionais em relação ao ponto (𝐵).
ℓ ⋅ cos 𝜃 ⟹ 𝑝 ⋅ ℓ ⋅ cos 𝜃
−𝑉𝐴 ⋅ ℓ ⋅ cos 𝜃 − 𝑃 ⋅ =0 𝑉𝐴 =
2 2
A conclusão é que, com relação às reações de apoio, não há alteração em relação a tudo
que se refere às soluções de vigas isostáticas, quando estas estão inclinadas.
3
4.2 Vigas inclinadas – problemas
Fonte: O autor.
𝑋 = 𝑥 ⋅ cos 𝜃 𝑌 = 𝑥 ⋅ sin 𝜃 𝑌
𝑥 = tan−1 ( )
𝑋
Fonte: O autor.
4
As forças normais são determinadas com base nas projeções das forças na direção do
eixo da barra. Cortando a barra na seção 𝑺 e observando as forças à esquerda, há as
componentes das forças {𝑉𝐴 , 𝐻𝐴 } comprimindo o trecho da barra restante. Tracionando
o trecho de viga, há a resultante parcial correspondente ao carregamento distribuído,
de intensidade:
𝑃(𝑋) = 𝑝 ⋅ 𝑋
ℓ ⋅ cos 𝜃
𝑁(𝑋) = −𝑉𝐴 ⋅ sin 𝜃 + 𝑝 ⋅ 𝑋 ⋅ sin 𝜃 ⟹ 𝑁(𝑋) = 𝑝 ⋅ sin 𝜃 ⋅ (𝑋 − )
2
Mudando das coordenadas globais (𝑋, 𝑌) para as locais (𝑥, 𝑦), conforme as relações do
Quadro 4.1, a força normal interna atuante na barra, em cada seção 𝑺, vale:
ℓ
𝑁(𝑥) = −𝑝 ⋅ sin 𝜃 ⋅ cos 𝜃 ⋅ ( − 𝑥)
2
Trata-se de uma função de primeiro grau, cujo gráfico é um segmento de reta. Os valores
nos extremos são:
𝑝⋅ℓ 𝑝⋅ℓ
𝑁(0) = − ⋅ sin 𝜃 ⋅ cos 𝜃 ⟹ 𝑁(𝑥) = ⋅ sin 𝜃 ⋅ cos 𝜃
2 2
5
Desenho 4.3 – Diagrama de forças normais
Fonte: O autor.
Como as forças estão representadas nas direções globais (𝑋, 𝑌), é mais fácil obter os
momentos fletores. Cortando a barra na seção 𝑺 e observando os esforços à esquerda,
há a força 𝑉𝐴 tracionando a face inferior da mesa da viga, com distância 𝑋.
𝑋2 𝑝 ⋅ ℓ ⋅ cos 𝜃 𝑋2
𝑀(𝑋) = 𝑉𝐴 ⋅ 𝑋 − 𝐻𝐴 ⋅ 𝑌 − 𝑝 ⋅ ⟹ 𝑀(𝑋) = ⋅𝑋−𝑝⋅
2 2 2
𝑝 𝑝
𝑀(𝑋) = ⋅ (ℓ ⋅ cos 𝜃 ⋅ 𝑋 − 𝑋 2 ) ⟹ 𝑀(𝑋) = ⋅ 𝑋 ⋅ (ℓ ⋅ cos 𝜃 − 𝑋)
2 2
𝑋2 = ℓ ⋅ cos 𝜃
6
Se essa função admitir um ponto de máximo ou de mínimo, ele será o ponto de derivada
nula:
𝜕𝑀 𝑝 ℓ ⋅ cos 𝜃
= ⋅ (ℓ ⋅ cos 𝜃 − 2 ⋅ 𝑋) = 0 ⟹ 𝑋̂ =
𝜕𝑋 2 2
𝑝 𝑝 ⋅ ℓ2
𝑀(𝑋̂) = ⋅ 𝑋̂ ⋅ (ℓ ⋅ cos 𝜃 − 𝑋̂) ⟹ 𝑀(𝑋̂) = ⋅ (cos 𝜃)2
2 8
Fonte: O autor.
Para calcular as forças cortante e normal, é necessário mudar das coordenadas globais
(𝑋, 𝑌) para as locais (𝑥, 𝑦), conforme as relações do Quadro 4.1.
𝑝 𝑝
𝑀(𝑥) = ⋅ (cos 𝜃)2 ⋅ 𝑥 ⋅ (ℓ − 𝑥) ⟹ 𝑀(𝑥) = ⋅ (cos 𝜃)2 ⋅ (ℓ ⋅ 𝑥 − 𝑥 2 )
2 2
7
A função força cortante é obtida por diferenciação:
𝜕𝑀 𝑝
𝑉(𝑥) = ⟹ 𝑉(𝑥) = ⋅ (cos 𝜃)2 ⋅ (ℓ − 2 ⋅ 𝑥)
𝜕𝑥 2
Trata-se de uma função de primeiro grau, cujo gráfico é um segmento de reta. Os valores
nos extremos são:
𝑝⋅ℓ 𝑝⋅ℓ
𝑉(0) = ⋅ (cos 𝜃)2 ⟹ 𝑉(ℓ) = − ⋅ (cos 𝜃)2
2 2
A cortante será nula no meio do vão, como esperado, e como mostrado no Desenho
4.5
Fonte: O autor.
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4.3 Vigas Gerber – conceituação
Este tipo de viga foi patenteado em 1866 por Heinrich Gottfried Gerber (1832-1912).
São vigas com vários apoios e que, no lugar de serem hiperestáticas, possuem articula-
ções internas em quantidade suficiente para que, internamente, cada trecho seja esta-
ticamente determinado, e a viga, globalmente, seja isostática.
A viga mais simples deste tipo é apresentada no Desenho 4.6. Por ser articulada em (𝐵),
o momento fletor neste ponto é nulo. Essa é a equação de compatibilidade introduzida
pela rótula, e que permitirá resolver estaticamente a estrutura.
Fonte: O autor.
A estrutura do Desenho 4.6 pode ser desmembrada em duas vigas isostáticas. Devido à
rótula em (𝐵), o momento 𝑀𝐴 não é transmitido da barra (𝐴𝐵) para a barra (𝐵𝐶). Com
isso, cada trecho do Desenho 4.7 pode ser resolvido separadamente, começando prefe-
rencialmente por aquele que tenha um apoio na extremidade.
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Desenho 4.7 – Trechos da viga Gerber do Desenho 4.6
Fonte: O autor.
Começando a análise da viga Gerber (𝐴𝐵𝐶) pelo trecho (𝐵𝐶), obtém-se, por equilíbrio
de momentos rotacionais em relação ao nó (𝐵), a reação no apoio móvel:
𝑝 ⋅ ℓ𝐵𝐶
𝑅𝐶 =
2
A força (𝑅𝐵 ), que age da rótula sobre a barra (𝐵𝐶), é determinada de maneira indepen-
dente pelo equilíbrio de momentos em relação ao apoio móvel:
𝑝 ⋅ ℓ𝐵𝐶
𝑅𝐵 =
2
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O equilíbrio de forças verticais faz o papel de verificação da solução obtida. Agora será
possível resolver o outro trecho (𝐴𝐵) da estrutura. Em relação ao engaste (𝐴), a reação
𝑅𝐴 não produz momentos rotacionais, e este equilíbrio permite obter o momento rea-
tivo:
𝑝 ⋅ (ℓ𝐴𝐵 )2 𝑝 ⋅ ℓ𝐵𝐶
𝑅𝐴 ⋅ ℓ𝐴𝐵 − − 𝑀𝐴 = 0 ⟹ 𝑅𝐴 = 𝑝 ⋅ ℓ𝐴𝐵 +
2 2
Fonte: O autor.
No nó (3) foi colocada uma rótula total, de modo que à esquerda o vínculo é de barra
solta, tornando o trecho (1 − 2 − 3) da viga com apoio móvel em (1), apoio fixo em
(2) e com balanço em (2 − 3). À direita da rótula do nó (3), o vínculo é de apoio móvel.
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O trecho (4 − 5 − 6) tem apoio fixo em (5), apoio móvel em (6), com um balanço em
(4 − 5). Trata-se, portanto, de uma viga (1 − 3 − 4 − 6) que tem o comportamento
global de três vigas isostáticas.
Sendo vãos livres de (8𝑚), há de se tomar muito cuidado na hora de se atribuir as car-
gas, porque grandes deflexões ocorrerão.
Fonte: O autor.
Fonte: O autor.
Observar que, na posição das rótulas, os momentos fletores são nulos e a função das
forças cortantes tem limites laterais iguais. Claramente são identificadas nesta estrutura
três trechos de vigas isostáticas.
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Os resultados, obtidos pelo software Ftool, são um pouco diferentes, e isso se deve prin-
cipalmente pelo fato de não existir rótula perfeita.
Fonte: O autor.
13
4.5 Comportamento de grelhas
Um exemplo desse tipo de construção são aquelas constituídas por vigas, formando um
reticulado que compõe uma malha que receberá solicitações fora do plano. As barras se
interceptam, trabalhando conjuntamente, permitindo vencer maiores vãos, (SOUZA;
RODRIGUES; MASCIA, 2009).
14
Imagem 4.3 – Estrutura modular em concreto
15
Desenho 4.12 – Grelha hiperestática
Fonte: O autor.
𝑉𝐴 + 𝑉𝐵 + 𝑉𝐶 + 𝑉𝐷 + 𝑉𝐸 + 𝑉𝐹 = 𝑃
Essa força também causa flexão no trecho (𝐸𝐺𝐹) sendo uma função de primeiro grau
em partes e que atinge o máximo em (𝐺). Pelo efeito da continuidade da viga (𝐹𝐸𝐷),
ocorre uma flexão na barra (𝐷𝐸), com uma linha elástica em sentido oposto ao do tre-
cho original.
Por causa da flexão em (𝐷𝐸𝐹) e pela continuidade da estrutura no nó (𝐸), a viga (𝐵𝐸)
terá tendência de rotação em torno do próprio eixo, com ângulo medido no sentido
(𝐷𝐸𝐺). Trata-se, portanto, de uma torção na viga (𝐵𝐸).
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O carregamento distribuído de intensidade (𝑝) produz forças cortantes na barra (𝐵𝐸)
conforme uma função contínua de primeiro grau e momentos fletores na mesma barra
como uma função de segundo grau. Pela continuidade da estrutura em (𝐵), há torção
na viga (𝐴𝐵𝐶) e pela continuidade da estrutura em (𝐸), há torção na viga (𝐷𝐸𝐺), mas
em sentido oposto ao da outra.
A grelha do Desenho 4.13 é mais simples de analisar e mostra todos os tipos de solicita-
ções que aparecem nesses tipos de estruturas. Trata-se de uma grelha isostática, pois a
estrutura está contida no plano e o carregamento é ortogonal ao plano, e pode ser ra-
pidamente resolvida sem a necessidade de utilização de software estrutural.
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Desenho 4.13 – Grelha isostática
Fonte: O autor.
EQUILÍBRIOS DE FORÇAS
𝑍𝐴 = 𝑝 ⋅ ℓ + 𝑃 𝑋𝐴 = 𝑄 𝑌𝐴 = 0
EQUILÍBRIOS DE MOMENTOS
𝑄⋅ℓ 𝑄⋅ℓ 𝑝 ⋅ ℓ2
(𝑀𝐴 )𝑦 = − (𝑀𝐴 )𝑧 = − (𝑀𝐴 )𝑥 = +𝑃⋅ℓ
2 2 2
Fonte: O autor.
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4.8 Diagramas de esforços em grelhas isostáticas
Somente a força (𝑄) produz esforços normais, que são de compressão nas barras
{(𝐴𝐵); (𝐸𝐹)}. A força (𝑃) e a resultante (𝑝 ⋅ ℓ) produzem torção na barra (𝐴𝐵), de:
𝑝 ⋅ ℓ2
𝑇 =𝑃⋅ℓ+
2
Fonte: O autor.
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Desenho 4.15 – Diagrama de momento torçor
Fonte: O autor.
Há cortantes em dois planos: a força (𝑄) a produz no plano (𝑥𝑦) da estrutura e as outras
produzem nos outros planos.
Fonte: O autor.
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Da mesma forma, há flexão em dois planos. Há de se aproveitar o fato de que, nos tre-
chos onde 𝑉(𝑥) é constante (por partes), o momento é uma função de primeiro grau.
No trecho (𝐵𝐸), em que 𝑉(𝑥) é uma função de primeiro grau, 𝑀(𝑥) é uma função de
segundo grau.
Fonte: O autor.
As grelhas são planas apenas geometricamente, mas não do ponto de vista do carrega-
mento. Observa-se que o reticulado da Imagem 4.2 serve como estrutura matemática
para a construção de um modelo matemático para uma estrutura de grelha.
Por sorte, existe um programa “Grelha1” criado por Andrew John Richter Cass e Roberto
Chust Carvalho e atualizado em 20 de outubro de 2017, que permite resolver esses tipos
de estruturas, incluindo a construção dos diagramas de esforços solicitantes.
1
“Programa Grelha”. Disponível em: <http://www.deciv.ufscar.br/calco/grelhacalco.html>. Acesso em
18 jan. 2021.
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Uma grelha quadrada foi construída utilizando o programa, com a malha apresentada
na Imagem 4.4 e o resultado do processamento na Imagem 4.5.
Fonte: O autor.
Fonte: O autor.
Uma grelha retangular foi construída utilizando o programa, com a malha apresentada
na Imagem 4.6 e o resultado do processamento na Imagem 4.7.
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Imagem 4.6 – Lançamento de malha reticulada
Fonte: O autor.
Fonte: O autor.
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4.10 Aplicação do FTOOL para determinação de esforços solicitantes em estruturas
reticuladas planas
O programa Ftool, na versão 3.01, permite resolver quaisquer tipos de estruturas reti-
culadas planas com carregamento no plano. Como exemplo, temos a estrutura do De-
senho 4.18, com as propriedades dos materiais e das seções transversais das peças es-
truturais conforme Desenho 4.19, produzindo no programa temos o modelo do Dese-
nho 4.20.
cabo de aço
3,0 m 3,0 m
1,0 m
3,0 m
2,0 m
0,5 m
3,0 m 4,0 m
Fonte: O autor.
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Desenho 4.19 – Parâmetros de projeto
TUBO DE AÇO
A36
2mm
CABO DE AÇO INOX 20mm
AISI 316
10mm 7 kN 7 kN 8 kN 8 kN 8 kN 8 kN 4 kN
8 kN
8 kN
8 kN
8 kN
4 kN
CONCRETO
C35
400
200
500
20 kN/m
200
Fonte: O autor.
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Desenho 4.20 – Modelo no Ftool
Fonte: O autor.
Conclusão
Estruturas de vigas especiais são utilizadas em pontes e viadutos, apoiando rampas in-
clinadas e vencendo grandes vãos.
REFERÊNCIAS
SOUZA, Luiz Antonio de; PEREIRA, Vitor Faustino. Mecânica das Estruturas III, material
de aulas. Disponível em: <https://bit.ly/3bG5NHB>. Acesso em: 15 jan. 2021.
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