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Resistência de Materiais Eléctricos

Tema IV:
Flexão da Recta.

Eng. Abdjate Ocame

Email:abdjatejoao@gmail.com
Objectivos

Pretende-se aqui reunir em um RESUMO as principais


características de flexão em vigas de estruturas lineares planas e
tridimensionais, ou seja, é um roteiro de visão geral sobre o assunto
apenas. Também são feitas algumas correlações com a prática
profissional.
Objectivos especificos

• Determinação de ângulos de flexão;

• Determinação de comprimentos de flexão da recta;


Deflexão em vigas de eixo reto
Definição

Linha elástica da flexão é a curva formada pelo eixo de uma viga


inicialmente retilíneo, devido à aplicação de momentos de flexão.

Figura 1: Exemplo de viga em flex˜ao Figura 2: Exemplo de viga em flex˜ao


Deflexão em vigas de eixo reto

A viga da Figura 1 é um exemplo de viga em flexão. Antes da aplicação das cargas, a


superfície neutra se encontra contida em um plano horizontal. Com a aplicação das cargas a
superfície neutra se transforma em uma superfície curva.

A curva da superfície neutra representa a deformação de toda a viga. Esta curva se


denomina curva elástica e, por simplicidade, é representada pela interseção do plano de simetria
com a superfície neutra.

Desta forma, a curva elástica representa os deslocamentos dos centros de gravidade de


todas as secções transversais que formam a viga. Se representarmos o eixo das deflexões por y a
curva elástica se torna uma função y(x), que dependera também das cargas aplicadas e das
propriedades mecânicas do material que compõe a viga.
Deflexão em vigas de eixo reto
A Figura 3 mostra uma representação plana da deformada da viga, onde x coincide
com o eixo da viga e y = y(x) é o deslocamento no caso vertical, de cada secção da viga.

Figura 3: Representação plana da deformada da viga

O objetivo portanto ´e o de determinar a equação da linha elástica para diversos


tipos de vigas. Com esta equação pode-se determinar as deflexões e rotações em todos os
seus pontos.
Equação diferencial da LE
Para a determinação da equação da LE de vigas sujeitas à flexão, considere a
barra de eixo originalmente reto que, mediante a atuação de um momento fletor M,
se torna curvo, de acordo com a Figura 4. Nesta Figura, tem-se:

• Secções A e B: duas secções adjacentes da viga. Antes da aplicação do


carregamento estas secções estavam paralelas e distantes entre si dx.

• ds = AB: o comprimento do trecho do eixo compreendido entre A e B

• y: A distancia entre A e A′, B e B′


Equação diferencial da LE
• 𝜌: o raio de curvatura do trecho AB do eixo da barra após a atuação de M;

• 𝑑𝜃: o ângulo de curvatura do trecho do eixo entre AB que, por consequência,


também ´e o ˆangulo de curvatura de A′ B′.

Figura 4: Trecho de uma barra sujeita à flexão pura


Equação diferencial da LE
As tensões normais na flexão se relacionam com o momento fletor atuante
𝑴𝒛
nela da seguinte forma: 𝝈𝒙 = 𝒚 (1)
𝑰𝒛

𝝈𝒙 𝑴𝒛
e a deformação correspondente é: 𝜺𝒙 = = 𝒚 (2)
𝑬 𝑬𝑰𝒛

O comprimento de 𝐴𝐵 após atuação do carregamento é 𝑑𝑠 pode ser


𝒅𝜽 𝟏
relacionado com 𝑅 e 𝑑𝜃 da seguinte forma: 𝒅𝒔 = 𝝆𝒅𝜽 → = (3)
𝒅𝒔 𝝆

Para pequenas deformações, pode-se fazer a seguinte simplificação:


𝒅𝒔 ≈ 𝒅𝒙
Equação diferencial da LE
Logo, o ângulo de curvatura pode ser obtido através da seguinte equação
que se segue. A equação é aplicável a barras retas com pequena curvatura.
𝒅𝜽 𝒅𝜽 𝑴𝒛
≈ = (𝟓)
𝒅𝒔 𝒅𝒙 𝑬𝑰𝒛
• Seja a barra de eixo originalmente reto submetida ao carregamento q(x) da
Figura 5. Nesta Figura tem-se o eixo na configuração indeformada representado
pela linha cheia, a LE representada pela linha tracejada, S e T secções
adjacentes originalmente verticais na configuração indeformada e S’ e T’ suas
correspondentes na configuração deformada.
Equação diferencial da LE

Figura 5: Viga sujeita a carregamento q(x)

A Figura 6 representa o trecho da barra nas proximidades de 𝑆 e 𝑇 com


maior nível de detalhes. Nesta Figura 𝑑𝜑 é o incremento de inclinação
correspondente `a diferença entre as tangentes em T e S, respectivamente e,
graficamente, verificamos que ´e equivalente `a 𝑑𝜃: 𝑑𝜑 = 𝑑𝜃 ⇒ 𝜑 = 𝜃 (6)
Equação diferencial da LE
Sendo tan 𝜑 o coeficiente angular da reta tangente à 𝐿𝐸 𝑦 numa posição 𝑥 e
considerando a hipótese de pequenos deslocamentos e deformações tem – se:

Figura 6: Detalhe da região que contém as secções S e T

𝒅𝒚 𝒅𝜽 𝒅𝟐 𝒚
𝒕𝒂𝒏𝝋 ≈ 𝝋 𝒙 = 𝒆 = (7)
𝒅𝒙 𝒅𝒙 𝒅𝒙𝟐
Equação diferencial da LE

Com isso, considerando equações 5, 6 e 7, tem-se que:

𝑑2 𝑦 𝑀𝑧
2
= (8)
𝑑𝑥 𝐸𝐼𝑧

A equação 8 é a equação diferencial da LE partindo-se dos momentos


fletores, que resolvida resultará em uma função 𝑦(𝑥) que representará a
configuração deformada do eixo da barra sujeita ao momento 𝑀𝑧(𝑥).
Equação diferencial da LE
Para adequar a equação 8.9 com o referencial de sinais que adota flecha
positiva para baixo e rotações positivas no sentido horário e considerando a
convenção de momento fletor positivo tracionado as fibras situadas abaixo da
linha neutra, faz-se necessário a inclusão do sinal negativo na equação do
momento fletor:

𝑑2 𝑦 𝑀𝑧
2
=− (9)
𝑑𝑥 𝐸𝐼𝑧

Derivando-se a equação 9 com relação à 𝑥, tem-se:


Equação diferencial da LE

𝑑3 𝑦 1 𝑑𝑀𝑧 𝑄𝑦
3
=− =− (10)
𝑑𝑥 𝐸𝐼𝑧 𝑑𝑥 𝐸𝐼𝑧

que é a equação diferencial da LE partindo-se dos esforços cortantes 𝑄𝑦(𝑥).

Derivando-se uma vez a equação com relação à x duas vezes, tem-se:


𝑑4 𝑦 1 𝑑𝑄𝑦 𝑞 𝑥
4
=− = (11)
𝑑𝑥 𝐸𝐼𝑧 𝑑𝑥 𝐸𝐼𝑧
que é a equação diferencial da LE partindo-se do carregamento 𝑞(𝑥).

Para se determinar 𝑦(𝑥) basta resolver uma das equações diferenciais 9,10 ou 11. As
constantes de integração são determinadas a partir da consideração das condições de contorno
(apoios).
Exemplo 1: Viga simplesmente apoiada com
carga distribuída

A equação diferencial da linha elástica será usada agora na obtenção das deflexões de
uma viga simplesmente apoiada. Se a viga suporta uma carga uniformemente distribuída 𝑞,
conforme a Figura 7, o momento fletor, a distancia 𝑥 do apoio da esquerda, será:

𝑞𝐿𝑥 𝑞𝑥 2
𝑀= −
2 2
Viga simplesmente apoiada com carga
distribuída
• Da equação 9 tem-se:
𝑑2 𝑦 𝑞𝐿𝑥 𝑞𝑥 2
𝐸𝐼 2 = − + (12)
𝑑𝑥 2 2
Sabe – se que:
𝑑2 𝑦 𝑑𝜃
𝐸𝐼 2 = 𝐸𝐼 13
𝑑𝑥 𝑑𝑥
𝑑𝑦
𝐸𝐼𝜃 = 𝐸𝐼
𝑑𝑥

Substituindo 13 na expressão 12 e integrando-se ambos os membros, tem-se:

𝑞𝐿𝑥 𝑞𝑥 2
𝐸𝐼 න 𝑑𝜃 = න − + 𝑑𝑥
2 2
Viga simplesmente apoiada com carga
distribuída
• Resolvendo a expressão, tem-se:

𝑞𝐿𝑥 2 𝑞𝑥 3
𝐸𝐼𝜃 = − + + 𝐶1 (14)
4 6
Substituindo 13 na expressão 14 e integrando-se ambos os membros, tem-se:

𝑞𝐿𝑥 2 𝑞𝑥 3
𝐸𝐼 න 𝑑𝑦 = න − + + 𝐶1 𝑑𝑥
4 6
Resolvendo a expressão, tem-se:
𝑞𝐿𝑥 3 𝑞𝑥 4
𝐸𝐼𝑦 = − + + 𝐶1 𝑥 + 𝐶2 (15)
12 24
Onde 𝐶1 e 𝐶2 são constantes de integração.
Viga simplesmente apoiada com carga
distribuída
• Condições de contorno:

Para a determinação de 𝐶1, observa-se que pela simetria, a inclinação da


curva elástica no meio do vão é zero. Então tem-se a condiçãao: Para 𝑥 =
𝑙/2, 𝜃𝑎 = 𝜃𝑏 = 0. Entrando na expressão 14, tem-se:
𝑞𝑙 3
𝐶1 = (16)
24
Assim a expressão 14 torna-se:
𝑞𝐿𝑥 2 𝑞𝑥 3 𝑞𝑙 3
𝐸𝐼𝜃 = − + + (17)
4 6 24
A constante de integração 𝐶2 é obtida pela condição:
Viga simplesmente apoiada com carga
distribuída
• Quando 𝑣 = 0, 𝑥 = 0. Com esta condição verifica-se pela expressão 15 que
𝐶2 = 0. A equação 15 transforma-se em:
𝑞𝐿𝑥 3 𝑞𝑥 4 𝑞𝑙 3
𝐸𝐼𝑦 = − + + (18)
12 24 24
A equaçã 18 permite obter a deflexão em qualquer ponto ao longo da viga.
O valor máximo de 𝑦, ocorre no meio do vão e é calculado fazendo-se 𝑥 = 𝐿/2:
5𝑞𝐿4
𝑦𝑚𝑎𝑥 =
384𝐸𝐼
A inclinação máxima ocorre nas extremidades da viga.
Viga simplesmente apoiada com carga
distribuída
• Na extremidade esquerda (𝑎) é:
𝑞𝐿3
𝜃𝑎 =
24𝐸𝐼
Na extremidade direita (𝑏) é
𝑞𝐿3
𝜃𝑏 = −
24𝐸𝐼
Exemplo 2: Viga simplesmente apoiada
com carga concentrada

Considere-se agora uma viga simplesmente apoiada com carga concentrada P


como mostra a Figura 8, cuja posição é definida pelas distâncias a e b das
extremidades.

Figura 8. Viga simplesmente apoiada com carga concentrada


Viga simplesmente apoiada com carga
concentrada
Neste caso, existem duas expressões para o momento fletor, uma para a parte a
esquerda da carga e outra para a direita. Assim, deve-se escrever a expressão 9
separadamente para cada parte da viga:

𝑑2 𝑦 𝑃𝑏𝑥
𝐸𝐼 2 = − (19)
𝑑𝑥 𝐿
Para: (0 ≤ 𝑥 ≤ 𝑎)

𝑑2 𝑦 𝑃𝑏𝑥
𝐸𝐼 2 = − +𝑃 𝑥−𝑎 ; 𝑝𝑎𝑟𝑎 (𝑎 ≤ 𝑥 ≤ 𝐿) (20)
𝑑𝑥 𝐿
Viga simplesmente apoiada com carga
concentrada
• Sabe-se que:
𝑑2𝑦 𝑑𝜃
𝐸𝐼 2 = 𝐸𝐼 21
𝑑𝑥 𝑑𝑥
𝑑𝑦
𝐸𝐼𝜃 = 𝐸𝐼 (22)
𝑑𝑥
• Substituindo a expressão 21 nas expressões 19 e 20 e integrando – se ambos os
membros, tem-se:
𝑃𝑏𝑥 2
𝐸𝐼𝜃 = − + 𝐶1 , 𝑝𝑎𝑟𝑎 0 ≤ 𝑥 ≤ 𝑎 (23)
2𝐿

𝑃𝑏𝑥 2 𝑃 𝑥 − 𝑎 2
𝐸𝐼𝜃 = − + + 𝐶2 , 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑎 ≤ 𝑥 ≤ 𝐿 (24)
2𝐿 2
Viga simplesmente apoiada com carga
concentrada

• Substituindo a expressão 22 nas expressões 23 e 24 e integrando – se


novamente ambos os membros, tem-se:

𝑃𝑏𝑥 3
𝐸𝐼𝑦 = − + 𝐶1 𝑥 + 𝐶3 , 𝑝𝑎𝑟𝑎 0 ≤ 𝑥 ≤ 𝑎 (25)
6𝐿

𝑃𝑏𝑥 3 𝑃 𝑥 − 𝑎 3
𝐸𝐼𝑦 = − + + 𝐶2 𝑥 + 𝐶4 , 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑎 ≤ 𝑥 ≤ 𝐿 (26)
6𝐿 6

Onde 𝐶1, 𝐶2, 𝐶3 𝑒 𝐶4 são constantes de integração


Viga simplesmente apoiada com carga
concentrada

• Condições de contorno:

As quatro constantes de integração que apareçem nas expressões anteriores


podem ser calculadas pelas seguintes condições:

1. Em 𝑥 = 𝑎: as rotações das duas partes da viga são iguais;

2. Em 𝑥 = 𝑎: as deflexões das duas partes da viga são iguais;

3. Em 𝑥 = 0: a deflexão é nula;

4. Em 𝑥 = 𝐿: a deflexão é nula.
Viga simplesmente apoiada com carga
concentrada
• Pela condição 1, as expressões 23 e 24, para as inclinações devem ser iguais
quando 𝑥 = 𝑎. Tem-se:
𝑃𝑏𝑎2 𝑃𝑏𝑎2
− + 𝐶1 = − + 𝐶2
2𝐿 2𝐿
Portanto, 𝐶1 = 𝐶2.
A condição 2, iguala as expressões 25 e 26, quando 𝑥 = 𝑎:
𝑃𝑏𝑎3 𝑃𝑏𝑎3
− + 𝐶1 𝑎 + 𝐶3 = − + 𝐶2 𝑎 + 𝐶4
6𝐿 6𝐿
O que torna C3 = C4. Finalmente, considerando as condições 3 e 4 e as
expressões 8.27 e 8.28, tem-se: 𝑪𝟑 = 𝟎
Viga simplesmente apoiada com carga
concentrada
𝑃𝑏𝐿2 𝑃𝑏 3
− + + 𝐶2 𝐿 = 0
6 6
De todos esses resultados, tem-se:
𝑃𝑏(𝐿2 − 𝑏 2 )
𝐶1 = 𝐶2 =
6𝐿
𝐶3 = 𝐶4 = 0
Com esses valores estabelicidos, as expressões 25 e 26 dão para a
linha elástica:
Viga simplesmente apoiada com carga
concentrada
𝑃𝑏𝑥 2
𝐸𝐼𝑦 = 𝐿 − 𝑏 2 − 𝑥 2 , 𝑝𝑎𝑟𝑎 0 ≤ 𝑥 ≤ 𝑎 (27)
6𝐿

𝑃𝑏𝑥 2 𝑃 𝑥−𝑎 3
𝐸𝐼𝑦 = 2 2
𝐿 −𝑏 −𝑥 + , 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑎 ≤ 𝑥 ≤ 𝐿 (28)
6𝐿 6
A equação 27 fornece a linha elástica para a parte da viga à esquerda da
carga P e a equação 28 fornece a deflexão da parte à direita. As equações 8.23 e
8.24 fornecem as rotações das duas partes da viga, após substituição dos valores
de C1 e C2:
Viga simplesmente apoiada com carga
concentrada
𝑃𝑏𝑥 2
𝐸𝐼𝜃 = 𝐿 − 𝑏 2 − 3𝑥 2 , 𝑝𝑎𝑟𝑎 0 ≤ 𝑥 ≤ 𝑎 (29)
6𝐿

𝑃𝑏𝑥 2 𝑃 𝑥−𝑎 2
𝐸𝐼𝜃 = 2 2
𝐿 − 𝑏 − 3𝑥 + , 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑎 ≤ 𝑥 ≤ 𝐿 (30)
6𝐿 2
Com estas equações, a inclinação, em qualquer ponto da linha elástica, pode
ser calculada. Para o calculo do ãngulo de rotação nas extremidades da viga, basta
fazer 𝑥 = 0 na equação 29 e 𝑥 = 𝐿 na equação 30. Assim, tem-se:
Viga simplesmente apoiada com carga
concentrada
𝑃𝑏(𝐿2 − 𝑏 2 ) 𝑃𝑎𝑏(𝐿 + 𝑏)
𝜃𝑎 = = (31)
6𝐿𝐸𝐼 6𝐿𝐸𝐼

𝑃𝑎𝑏(𝐿 + 𝑎)
𝜃𝑏 = (32)
6𝐿𝐸𝐼
Obrigado!

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