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Prof.

Luiz Algemiro Cubas Guimarães


SISTEMAS ESTRUTURAIS I (AU 015)
MÓDULO 4 – ESTÁTICA: Conceitos
Básicos (Força e Momento) e
Princípios de Equilíbrio

4.1 Introdução

Para reafirmar alguns conceitos já postulados nos módulos anteriores e afirmarmos outros, a
fórmula a seguir é para você, que gosta de Arquitetura e ainda não sabe o que está fazendo nesta
disciplina.

PROJETO = ESTÉTICA + ESTÁTICA + OUTROS

ESTÉTICA:

Responsável pela "arte" de um projeto. A estética é dada pela expressão arquitetônica através de
várias disciplinas, sendo a principal delas a disciplina de Planejamento Arquitetônico.

ESTÁTICA:

Responsável pela "técnica" de um projeto. A estática se encarrega de fazer com que uma estrutura
fique "em pé", suportando as cargas e as transportando sem deformações excessivas até o
terreno. A palavra ESTÁTICA vem do grego "statikos" e quer dizer imóvel como estátua, parado.

OUTROS:

Alguns itens também devem ser considerados na execução de um projeto. Projeto elétrico, projeto
hidráulico, projeto de conforto ambiental, paisagismo, integração com o entorno, definição dos
materiais a serem utilizados, definição dos processos construtivos, entre outros.

A principal função, do ponto de vista estrutural, para uma edificação é ser estática, porém:

• Ela pode se "inclinar ⇒ por não estar bem travada ou por problemas de fundação.

• Ela pode se “deformar e/ou fissurar” excessivamente, em partes ou como um todo ⇒


devido a excesso de carga ou travamento inadequado.

• Um ou mais “pilares” de um edifício sujeitos a carga de compressão “podem romper” ⇒


pois podem flexionar ao máximo, a menos que o carregamento seja retirado.

• Os materiais podem estar “sobrecarregados” gerando ruptura.

Concluímos então, que após um período de tempo, pode haver decomposição dos materiais
devido a fatores externos (CARGAS) associados a fatores internos (RESISTÊNCIAS DOS
MATERIAIS UTILIZADOS).
A Estática propriamente dita, dedica-se a condição de estabilidade das formas arquitetônicas,
fundamentando-se a partir de procedimentos tecnológicos embasados em conhecimentos
científicos.

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A ciência que estuda os fenômenos relacionados com a estabilidade das formas arquitetônicas é a
Física. Na Física existem ramificações de estudos e a que nos interessa no momento é a
Mecânica. E a parte da Mecânica que estuda as condições de movimento dos corpos rígidos sob a
AÇÃO DE FORÇAS é chamada de MECÂNICA DOS CORPOS RÍGIDOS. E ainda subdivide-se
em Estática e Dinâmica, onde a primeira estuda as condições de repouso dos corpos.
Então, o estudo das condições de repouso (ou de equilíbrio) das formas arquitetônicas está
fundamentado na MECÂNICA ESTÁTICA. E esta se fundamenta nos estudos de um dos maiores
gênios da humanidade, Sir Isaac Newton (1642-1727).

4.2 Conceitos Básicos de Força e Momento

4.2.1 Leis de Newton e Força

Como qualquer história inglesa que se preze, também esta envolveu uma aposta. Cenário: uma
taberna londrina, próxima a Royal Society. Época: 1684. Animada pelo álcool, uma discussão se
instala entre três celebridades: o astrônomo Edmond Halley, o então presidente da Royal Society,
Robert Hooke, e o ilustre arquiteto Christopher Wren. O assunto, como convém a intelectuais
desse porte, é o movimento dos planetas ao redor do Sol. Halley diz que se pode calcular a força
que mantém os planetas em órbita. Ela variaria com o inverso do quadrado da distância que os
separa do Sol. Hooke argumenta que, se isso for verdade, será preciso demonstrar, a partir dai,
todas as leis sobre o movimento planetário, descobertas por Kepler, algo que ele próprio está certo
de poder fazer. Wren propõe então: quem resolver o problema recebera um prêmio simbólico de
40 xelins. A disputa estimula Halley a viajar a Cambridge, a procura do solitário Isaac Newton.
Qual não é sua surpresa quando Newton lhe diz que, realmente, já havia considerado a
possibilidade de que a força de atração variasse segundo o inverso do quadrado da distância.A
partir dessa hipótese acrescenta: era possível deduzir matematicamente as órbitas dos planetas,
estabelecidas por Kepler. E mais: tinha certeza disso porque fizera pessoalmente os cálculos, uns
vinte anos antes, durante a peste de Londres, mas depois se desinteressara do assunto. A
insistência de Halley o convenceu a retomar o estudo. Durante três anos, Newton trabalhou nas
idéias esboçadas naquele "ano maravilhoso" de sua juventude. Quando finalmente publica suas
conclusões, em 1687, está criada uma nova Física, simples e coerente. Sua base são as Três Leis
sobre o movimento dos corpos, apresentadas no livro I dos Principia.

Em linguagem atual, elas podem ser assim redigidas:

1) A menos que atue uma força externa, qualquer corpo tende a manter-se indefinidamente em
repouso ou em movimento retilíneo uniforme (Princípio da Inércia);

2) Caso uma força externa atue, a aceleração que o corpo recebe é proporcional a intensidade da
força (Princípio Fundamental da Dinâmica);

3) Toda vez que um corpo recebe de outro uma força, ele também exerce sobre este uma força de
mesma intensidade e direção, mas de sentido contrário (Princípio da Ação e Reação).

A partir dessas três leis, Newton calculou a força centrípeta (de fora para dentro) necessária para
fazer um corpo transformar seu movimento retilíneo uniforme em movimento circular. Depois
chegou a sua famosa Lei da Gravitação Universal: cada partícula de matéria do Universo atrai
qualquer outra com uma força proporcional ao produto de suas massas e inversamente
proporcional ao quadrado da distância que as separa. Não se sabe se Newton recebeu os 40
xelins de Wren, mas seus Principia se tornaram o paradigma da Física clássica.

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Trocando em “miúdos:
(Isaac Newton - 1642 - 1727)
Primeira Lei

"Qualquer corpo permanece em repouso ou em movimento retilíneo uniforme a menos que


alguma força seja aplicada sobre ele."

Pergunta: os carregamentos não exercem uma força sobre a estrutura? Resposta: Sim

Segunda Lei

"A aceleração de um corpo é diretamente proporcional à força aplicada sobre ele e inversamente
proporcional à sua massa."

a=F/m F=m.a

Terceira Lei

"A toda ação, corresponde uma reação igual e contrária."

Resposta à última pergunta da Primeira Lei: do ponto de vista estrutural, a toda ação
(carregamentos, na maioria para baixo), corresponde uma reação igual e contrária (para cima).
Logo: a resultante é nula e consequentemente a estrutura está em repouso.

Exemplo:

CALMA !!! CALMA!!! ESTA PREMISSA DA 3ª LEI DE NEWTON, QUE CHEGA A CONCLUSÃO
DE QUE A RESULTANTE É NULA, JÁ IREMOS A SEGUIR TRATAR DO ASSUNTO.

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Deve-se acrescentar ainda alguns conceitos:

SISTEMA DE FORÇAS:

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4.2.2 Momento

Por Definição : “Momento de uma força em relação a um ponto” é o produto desta força pela
sua distância até o ponto considerado.
Unidade: N.m

Momento de carga concentrada

(momento da força V em (momento da força H em


relação ao ponto A) relação ao ponto A)
(momento da força P em relação
sentido horário sentido anti-horário
ao ponto A)
sentido horário

Momento de carga distribuída

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Fórmula

MOMENTO = CARGA (q). COMPRIMENTO DA CARGA (b) . DISTÂNCIA DO CG DA


CARGA AO PONTO CONSIDERADO (b/2+a)

Mq/A=q . b.(a + b/2)

(momento da carga q em relação ao ponto A)


sentido horário

4.3 Equilíbrio

4.3.1 Introdução

A Estática é a parte da Física que estuda corpos em equilíbrio, como por exemplo: pontes,edifícios,
torres, etc. Para tal estudo teremos que nos preocupar com as condições que garantem, por
exemplo, que uma ponte não se mantenha estática mesmo que tenha que suportar inúmeros
carros que a atravessam. Qual é a “mágica” dessas estruturas que se mantém num equilíbrio
fantástico. Por isso mesmo que começamos a desvendar o mundo maravilhoso da Estática.

Neste módulo, já se falou nas Leis de Newton e que elas são a fundamentação dos estudos da
Estática, que, por conseguinte, estuda os corpos em repouso, ou melhor, os corpos em equilíbrio.
Este equilíbrio é o impedimento da estrutura de movimentar-se (transladar-se) na horizontal e na
vertical, bem como, de rotacionar em torno de qualquer eixo.
Porém, as estruturas civis se deformam quando submetidas a solicitações (cargas, etc.).
Mas as deformações e os deslocamentos de estruturas são muito pequenos, a ponto de
serem desprezados quando são impostas condições de equilíbrio. Isto é, as condições de
equilíbrio são impostas para a geometria original (indeformada) da estrutura. Esta hipótese é
chamada de hipótese de pequenos deslocamentos.
Isto posto e, para começar a introduzir e sedimentar mais conceitos, pergunta-se:

Será que se ao colocar um paralelepípedo


de um lado da viga e três paralelepípedos
sobrepostos do outro lado vai haver
equilíbrio?

A resposta intuitiva para esta pergunta é NÃO.

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Porém, observe a foto abaixo:

Vê-se portanto, que se o paralelepípedo único estiver mais longe do ponto de apoio que os
três paralelepípedos sobrepostos vai haver equilíbrio.

Logo, para haver equilíbrio, o momento causado pela força menor (paralelepípedo único
mais distante do ponto de apoio) deve ser igual ao momento causado pela força maior
(paralelepípedos sobrepostos mais próximos do ponto de apoio).

Conclusão 1:

Quanto maior a distância, menor a força.

Conclusão 2:

Então além da força aplicada o que importa também é a distância desta força em relação ao
ponto de apoio.

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Este conceito foi utilizado pela primeira vez por Arquimedes (287-212 a.C.) que proferiu a
seguinte frase:
"Me dê um ponto de apoio que eu poderei levantar o mundo."

Ainda sobre obre Momento, questiona-se então:

Porque será que a maçaneta de uma porta


é o mais longe possível da dobradiça?

Resposta:

Por que quanto mais longe do ponto de apoio, menor será a força aplicada.

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4.3.2 Forças sobre um corpo em Equilíbrio

• Estruturas civis estão sempre em estado de repouso (velocidade e aceleração nulas). Portanto,
“a força resultante em uma estrutura deve ser nula.”

• Lembre-se que uma força é uma grandeza vetorial, com intensidade, direção e sentido.
Para o caso de quadros planos, a imposição de resultante de força nula fornece duas condições
para o equilíbrio global da estrutura:

∑ Fx = 0 → somatório de forças na direção horizontal deve ser nulo;


∑ Fy = 0 → somatório de forças na direção vertical deve ser nulo.

Consideremos como caso geral uma partícula em equilíbrio sob a ação das quatro forças
mostradas na figura a seguir.

Neste caso, iniciamos a resolução por meio da decomposição de todas as forças que se
encontram inclinadas em relação aos eixos x e y.

Assim, temos:

F1x = F1 · cos
F1y = F1 · sen
F2x = F2 · cos
F2y = F2 · sen

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Em seguida, determinamos as expressões que nos dão o equilíbrio da partícula. Lembrando que o
somatório das forças deve ser igual a zero, escrevemos:

Ou seja: as resultantes, tanto no eixo x como no eixo y, devem ser iguais a zero.

Portanto, o equilíbrio de uma partícula sujeita a um número qualquer de forças pode ser expresso
pelas relações:

EXERCÍCIO RESOLVIDO:
r
Um bloco de peso P é sustentado por fios, como indica a figura.
r
Calcular o módulo da força horizontal F .

Resolução:

O esquema de forças no ponto C é:

Para que o ponto C esteja em equilíbrio, a resultante no ponto C deve ser nula.

r r r
Portanto, o polígono das forças P , T e F deve ser um triângulo retângulo.

Da figura:

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4.3.3 Momento num corpo em Equilíbrio

No caso de ponto material, basta garantir que o corpo não translade, estará garantido que o corpo
estará em equilíbrio. No caso de uma barra ou uma ponte (corpos extensos) teremos que garantir
que o corpo não rotacione também. A grandeza física que relaciona força e rotação num ponto é
chamada de momento ou torque. Discutiremos seu cálculo e aplicação nos próximos parágrafos.
Definimos Momento (M) em relação a um referencial, no caso ponto A, o produto da força aplicada
a um corpo pela distância desta força até o ponto de referência.

Momento é uma grandeza escalar, como tal, pode ser positiva ou negativa. O sinal segue a
seguinte convenção:

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Então, para garantirmos que um corpo permanece em equilíbrio estático teremos que impor,
também, a condição que não permita rotação de nenhuma força aplicada, ou seja:

EXERCÍCIO

Calcule o momento resultante em relação ao ponto O, em cada um dos itens abaixo:

4.3.4 As Três Equações Fundamentais da Estática (do EQUILÍBRIO)

Condições gerais para o equilíbrio de forças paralelas:


(TRÊS EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS DA ESTÁTICA)

1. A toda ação corresponde uma reação igual e contrária: P+Q=R

P+Q-R=0

2. Vale o mesmo se houvesse forças horizontais:

3. Momento da força menor em relação ao apoio é igual ao P.a1 = Q.a2


momento da força maior: (anti-horário)
(horário)

P.a1 - Q.a2 = 0

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As três equações acima definidas (somatório das forças verticais igual a zero, somatório
das forças horizontais igual a zero e somatório dos momentos em relação a um ponto igual
a zero) são conhecidas como as TRÊS EQUAÇÕES FUNDAMENTAIS DA ESTÁTICA.

É indiferente a escolha da convenção de sinais (de baixo para cima ou de cima para baixo, da
esquerda para a direita ou da direita para a esquerda, horário ou anti-horário), o resultado é o
mesmo.

4.3.5 Condição de Equilíbrio na Construção Civil

• Uma estrutura tem dimensões grandes e tem comportamento diferente de uma partícula sem
dimensão. Além disso, as cargas atuam em uma estrutura em vários pontos de aplicação. Nesse
caso, a ação à distância de uma força deve ser considerada. O efeito de uma força F atuando à
distância h é chamado de momento: M = F x h:

Assim, a 2ª lei de Newton, para estruturas em repouso, pode ser estendida para momentos: “o
momento resultante em uma estrutura deve ser nulo”. No caso de quadros planos, isso resulta em
mais uma condição para o equilíbrio global da estrutura:

Essa condição de equilíbrio garante que o corpo não vai girar:

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• Estruturas civis se deformam quando submetidas a solicitações (cargas, etc.). Mas as
deformações e os deslocamentos de estruturas são muito pequenos, a ponto de serem
desprezados quando são impostas condições de equilíbrio. Isto é, as condições de equilíbrio são
impostas para a geometria original (indeformada) da estrutura. Esta hipótese é chamada de
hipótese de pequenos deslocamentos.

4.4 Exemplo de Sistema em Equilíbrio

Definir a distância a e a reação R para que o sistema abaixo esteja em


equilíbrio.

Trocando as convenções:
convenção de baixo para cima, positivo
-3-6+R=0
R=9 convenção de cima para baixo, positivo

3+6-R=0
não há forças horizontais aplicadas R=9

ΣMapoio = 0 ΣMapoio = 0
convenção sentido horário, positivo convenção anti-horário, positivo

-3 x 4 + R . 0 + 6 . a = 0 3x4+R.0-6.a=0
a=2 a=2

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