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Walter José Tchivela

Os Principais Fatores de Risco no Ordenamento


Territorial da Cidade do Namibe

Estudo de Caso do Bairro dos Eucaliptos  


Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em
Urbanismo Sustentável e Ordenamento do Território

Orientadora: Professora Doutora Lia Maldonado Teles de Vasconcelos,


NOVA FCT, Professora Associada
Coorientadora: Professora Doutora Isabel Maria de Freitas Abreu dos Santos,
Universidade Lusófona, Professora Auxiliar

Versão corrigida e melhorada após defesa pública

Lisboa, agosto 2021


Agradecimentos

O meu agradecimento especial vai para minha orientadora Professora Doutora


Lia Vasconcelos, a professora Doutora Isabel Abreu dos Santos minha coorientadora, e
para a professora Margarida Pereira.

Agradeço imenso à Professora Doutora Lia Vasconcelos por ter aceitado


trabalhar comigo nesta dissertação, à sua presença constante que me fez aprofundar os
meus conhecimentos e capacidade de aprendizagem em todo os momentos que eu
precisei, e a professora estava sempre lá. À professora Doutora Margarida Pereira, eu
agradeço pela simplicidade e a paciência que teve connosco durante este percurso
académico, porque se hoje já conseguimos discutir com propriedade o que é uma AUGI,
foi graças aos seus ensinamentos.

Gostaria também de endereçar algumas palavras de apreço há minha


coorientadora professora Doutora Isabel Abreu Santos, para mim foi um prazer ter
como coorientadora, pelas sábias correções que foi fazendo ao longo da nossa jornada
da componente não letiva. O meu muito obrigado professora.

Quero destacar pessoas que contribuíram para o êxito desta pesquisa,


disponibilizando fontes orais e materiais; Ildeberto Serra Madeira (Sociólogo), Simões
Xinana, Singa Vinbanda (secretario do soba, e um dos primeiros moradores do Bairro
Eucaliptos), Hélder Albuquerque (antigo Vice-Governador do Namibe), Elias Pedro Guito
(Jornalista), Domilde Pombal (Arquiteto do Governo da Província do Namibe), João de
Sousa (INE), Matos (IGCA), Maurício (Administração Municipal de Moçâmedes),
Okwuokei Chukwuedo Monday (Tradutor), Urânia Palma, Mariana Rocha Oliveira, Tomé
Wilson Tchivela, Kanhangue Dumbo, Nilton Ucuanjongo e Carlos Gaudari.

A todos os meus amigos que fiz ao longo deste Mestrado, o meu muito
obrigado.

Agradeço há minha família, em especial aos meus filhos Nélia e Txitxiwé, que
tive que os deixar durante muito tempo sem a minha companhia e proteção, a eles
peço as minhas sinceras desculpas por não estar com eles nestes momentos.

ii
Por fim, mas definitivamente não menos importante, quero agradecer ao Sr.
José Tchindongo António (Pai Jojo), que acreditou em mim quando decidi partir para
em busca de conhecimento. O meu muito obrigado por tudo!

iii
Resumo

O planeamento espacial tem constituido um desafio para Angola, em especial


devido aos problemas que surgiram durante o longo período da guerra civil vivida pelo
país durante 27 anos. Este período foi acompanhado por várias transformações que
ocorreram com as migrações internas, a falta de monitorização das políticas publicas e
consequentemente com a influência externa que o país teve de enfrentar durante a
guerra fria da Russia e EUA.

Angola torna-se em 1992 um país de mercado livre, com um sistema


multipartidário, e mais atores emergem no cenário político, económico e social,
trazendo conceitos e paradigmas diferentes para um contexto social mais alargado.

A provincia e cidade do Namibe/Moçâmedes atravessou todas estas mudanças e


reflete hoje as tendências gerais de Angola. Entre elas, e devido à ausencia de políticas
adequadas vários bairros requerem intervenção urgente. Entre eles temos o caso do
Bairro dos Eucaliptos hoje uma área de risco com grande fragilidade no que se refere à
saúde publica. Bairros de intervenção prioritária ou zonas de intervenção prioritária
(Bip-Zip) em Portugal podem servir de modelo de intervenção para zonas prioritárias
como seja para o caso do Bairro dos Eucaliptos.

O objetivo deste trabalho prende-se com tornar possível gerar soluções para a
relocalização de populações residentes no bairro através de linhas estratégicas
consonantes com os locais de uma forma segura e ordeira. O estudo apresenta uma
solução imediata para transformer a area num poligono florestal da cidade numa
perspetiva de sustentabilidade contribuindo para uma melhor integração social da
população reduzindo o impacte no ambiente.

A metodologia apoiou-se em questionarios a entidades administrativas,


representantes tradicionais locais e população residente, que permitiu fazer um
diagnostico preparar um conjunto de propostas para a reconversão da área em estudo
visando evitar uma situação catrastofica.

iv
Nesta dissertação analisam-se também diversos casos de estudo que
apresentam problemáticas semelhantes ao Bairro dos Eucaliptos. Entre esses casos de
estudo estão os Bairros de Panguila (Luanda), Tinguita (Namibe).

Deste trabalho, concluimos que as transformações como estas podem tornar-se


uma realidade se pudermos contar com o apoio do Governo Provincial do Namibe, de
entidades administrativas, representantes tradicionais locais e população residente, e
mesmo com a componente empresarial. O envolvimento de todos contribuirá
decisivamente para o sucesso deste projeto para o Bairro dos Eucaliptos, assim como
melhorará a qualidade de vida da população da cidade do Namibe.

Palavras-chave: Planeamento espacial; Risco; Cidade do Namibe; Bairro dos


Eucaliptos.

v
Abstract
Spatial planning is a great challenge for Angola, with several problems that arise
from the long period of civil war that the country has lived through for 27 years, which
in this period was also accompanied by various transformations that took place in
internal migrations, the lack of monitoring of public policies and consequently the
external influence that the country was facing during the cold war led by Russia and the
USA.

Angola entered 1992, as a country of free market economy, with a multiparty


system, and more actors appeared in the urban, political, economic, and social scenario,
thus bringing different concepts and paradigms in a broader social context.

The Namibe/Moçâmedes province and town went through all these changes and
reflect today the general tendencies of Angola. Among these, and due to lack of
adequate public policies several neighborhhoods need urgent intervention. This is the
case of the Bairro dos Eucaliptos today, an area of risk and with great fragility with
regard to public safety.

Priority intervention neighborhoods or priority intervention zones (Bip-Zip), in


Portugal, can serve as a model to also intervene in priority zones, such as Bairro dos
Eucaliptos.

The objective of this work is to make it possible to create relocation solutions of


the populations that reside in this neighborhood that is in a peri-urban area, proposing
strategic lines for relocation, articulated with the residents, in a safe and orderly
manner.

The study presents immediate solutions for transforming the area into a forest
polygon in the city, with the application of sustainable and more attractive means, thus
providing greater social integration for the population, with less impact on the
environment.

The methodology is based on questions formulated through questionnaires


targeting the local population, contributing to the diagnosis and preparation of a set of

vi
proposals for the reconversion of the peri-urban area under study, seeking to avoid
catastrophic situations.

In this dissertation, different case studies are analyzed, specifically, some


neighborhoods which present problems identical to those of Bairro dos Eucaliptos
(Namibe), to measure the high negative impacts they cause to the population. The
neighborhoods of Panguila (Luanda), Tinguita (Namibe) and other neighborhoods in
Luanda that are compared with the Bairro dos Eucaliptos (Namibe) are also pointed out.

From this work, we conclude that transformations like these will be a reality if
we can count on the support of the Provincial Government of Namibe, administrative
entities, traditional local representatives and resident population, as well as the
entrepreneurial component.

The involvement of everyone will decisively contribute to the success of this


project in the Bairro dos Eucaliptos, as well as to improve the quality of life of the
population of the city of Namibe.

Keywords: Spatial planning; Risk; City of Namibe; Bairro dos Eucaliptos

vii
Índice

Agradecimentos.....................................................................................................................ii
Resumo...................................................................................................................................ii
Índice......................................................................................................................................ii
Índice de Figuras....................................................................................................................ii
Índice de Gráficos..................................................................................................................ii
Índice de Tabelas...................................................................................................................ii
Índice de Anexos....................................................................................................................ii
Lista de Siglas e Acrónimos....................................................................................................ii
CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO..................................................................................................2
1. Enquadramento e Justificação do Tema..........................................................................2
Contexto geral de Angola....................................................................................................2
A província do Namibe........................................................................................................2
O Bairro dos Eucaliptos........................................................................................................2
2. Objetivos..........................................................................................................................2
2.1. Gerais............................................................................................................................2
2.2. Específicos....................................................................................................................2
3. Estrutura da Dissertação..................................................................................................2
CAPÍTULO II- METODOLOGIA DA DISSERTAÇÃO..................................................................2
1. Corpus e Metodologia..........................................................................................................2
1.1. Técnicas de investigação utilizadas para a recolha de dados........................................2
2. Métodos e técnicas de recolha de dados.............................................................................2
2.1. Métodos teóricos..........................................................................................................2
2.2. Método estatístico........................................................................................................2
CAPÍTULO III – ABORDAGENS DO CONCEITO DE ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO..........2
1. Referências Teóricas Sobre Ordenamento Territorial em Angola........................................2
1.1. O Ordenamento territorial em Angola..........................................................................2
1.2. Enquadramento no ordenamento jurídico angolano...............................................2
1.3. Objetivos e premissas do ordenamento territorial.......................................................2
1.4. As necessidades de realojamento territorial................................................................2

viii
2. Tendência das afetações e desastres nas últimas décadas em Angola e Namibe, afetações
económicas e em vidas humanas.............................................................................................2
2.1. A gestão local de risco, principais conclusões...............................................................2
2.2. Avaliação e estimativas do risco...................................................................................2
2.3. Práticas fundamentais para vincular risco com o desenvolvimento.............................2
3. Tendência mundial dos desastres nas últimas décadas, efeitos..........................................2
económicos e em vidas humanas........................................................................................2
3.1. Conceitos Básicos.........................................................................................................2
3.2. Etapa I – Avaliação e estimativa do risco......................................................................2
3.3. Etapa II - Redução do risco............................................................................................2
3.4. Atores e os momentos da gestão de risco....................................................................2
3.5. Termos e definições......................................................................................................2
3.6. A gestão do risco e a gestão do local do risco...............................................................2
3.7. As componentes ou fases do risco como um processo.................................................2
3.8. Tipos de gestão para enfrentar os riscos atuais e futuros............................................2
3.9. Dimensão do local na gestão do risco...........................................................................2
4. Impacto, Vulnerabilidade, Adaptação às Inundações no Contexto do Bairro dos Eucaliptos
2
4.1. Cenários de Alterações Climáticas................................................................................2
CAPÍTULO IV – CASO DE ESTUDO DO BAIRRO DOS EUCALIPTOS........................................2
1. Análise e Revisão dos Fatores de Riscos e Realojamento Urbanística..................................2
1.1 Caraterização desde o ponto de vista biofísico e urbanístico ao bairro dos
Eucaliptos............................................................................................................................2
1.2. Enquadramento histórico do Bairro dos Eucaliptos......................................................2
1.3. Caracterização Biofísica da Província do Namibe.........................................................2
2. As Grandes Cheias que se abateram no Dia 5 de Abril de 2001...........................................2
3. Problemas em processos de realojamento em alguns Bairros de Angola............................2
3.1. Determinação da estrutura físico-espacial do Bairro dos Eucaliptos e os vínculos com
as áreas de influência..........................................................................................................2
3.2. Organização urbanística e territorial............................................................................2
CAPÍTULO V – APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS..............................................................2
1. Inquéritos a Responsáveis por Entidades Governamentais..................................................2
2. Inquéritos à Autoridade Tradicional e à População do Bairro dos Eucaliptos......................2
CAPÍTULO VI – PROPOSTA DO PLANO DE REALOJAMENTO URBANÍSTICO TERRITORIAL
NO BAIRRO DOS EUCALIPTOS...............................................................................................2
ix
1. O Modelo Territorial............................................................................................................2
1.1 Estrutura organizacional do plano.................................................................................2
1.2. Processo de Realojamento das Populações no Bairro dos Eucaliptos...........................2
2. Etapa I - Avaliação e Estimativa dos Fatores de Risco na Província do Namibe....................2
3. Etapa II – Proposta do Plano para Mitigar o Risco................................................................2
CAPÍTULO VII – CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................2
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................................2
ANEXOS..................................................................................................................................2

x
Índice de Figuras

Figura 1 - Mapa da Divisão Administrativa de Angola...................................................................2


Figura 2 - Divisão Administrativa da Província do Namibe............................................................2
Figura 3 - Cidade do Namibe.........................................................................................................2
Figura 4 - Casas de abode Bairro dos Eucaliptos...........................................................................2
Figura 5 - A malha viária de algumas zonas da cidade de Moçâmedes.........................................2
Figura 6 - As construções desordenadas no bairro.......................................................................2
Figura 7 - Momentos da inundação em algumas fazendas da cidade do Namibe.........................2
Figura 8 - Escola do Ensino primário 31 de janeiro.......................................................................2
Figura 9 - Centro de Saúde do Bairro dos Eucaliptos....................................................................2
Figura 10 - Crianças a brincar no Lixo...........................................................................................2
Figura 11 - A pouca vegetação a ser invadida pelo lixo.................................................................2
Figura 12 - Hospital, água à entrada.............................................................................................2
Figura 13 - A falta de esgotos e valas de drenagem das águas......................................................2
Figura 14 - Rio Bero – causa das inundações no Bairro dos Eucaliptos.........................................2
Figura 15 - Os principais rios que inundam a província.................................................................2
Figura 16 - Alguns Bairros de Luanda, depois da última chuva......................................................2
Figura 17 - Divisão administrativa dos bairros de Moçâmedes.....................................................2
Figura 18 - Plano de Urbanização do futuro Bairro dos Eucaliptos -2............................................2
Figura 19 - Modelo do Novo Bairro do Eucaliptos.........................................................................2
Figura 20 - Estaleiro dos Netinhos obstáculo à passagem das águas............................................2
Figura 21 - Proposta da zona p/ B. Eucaliptos -2 (4 de março)......................................................2
Figura 22 - Modelo de Tipologia de uma Casa Plurifamiliar..........................................................2
Figura 23 - Proposta da zona p/ B. Eucaliptos -2...........................................................................2
Figura 24 - Novos Edifícios na Urbanização do 5 de abril..............................................................2
Figura 25 - Mapa das principais zonas de riscos da província.......................................................2
Figura 26 - Momento das cheias Bairro dos Eucaliptos - 2018......................................................2
Figura 27 - Delimitação da Área em Estudo..................................................................................2
Figura 28 - Bacia de Retenção de Águas Pluviais...........................................................................2
Figura 29 - Plantação de bananal..................................................................................................2

xi
Índice de Gráficos

Gráfico 1 - Tipos habitação que se encontra em Angola (Censos 2014)........................................2


Gráfico 2 - Resultados de inquéritos realizados no Bairro dos Eucaliptos.....................................2

Índice de Tabelas

Tabela 1 - Estrutura dos Planos territorias em termos do artigo nº28 da Lei nº3/04 25 de junho
2004.............................................................................................................................................2
Tabela 2 - Progressão de Perspetivas............................................................................................2
Tabela 3 - As etapas da gestão do risco........................................................................................2
Tabela 4 - Classificação dos perigos segundo sua origem.............................................................2
Tabela 5 - População do Bairro dos Eucaliptos | Censos 2011......................................................2
Tabela 6 - Análise de SWOT do Bairro dos Eucaliptos...................................................................2
Tabela 7 - Proposta para comercialização de Lotes de terras e habitação no futuro Bairro dos
Eucaliptos-2..................................................................................................................................2
Tabela 8 - Cronograma de atividades da fase I do Bairro dos Eucaliptos.......................................2

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xiii
Índice de Anexos

Anexo 1 - Regulamento de Licenciamento das Operações de Loteamento...................................2


Anexo 2 - Algumas referências sobre a Lei do ordenamento do território....................................2
Anexo 3 - Inquéritos aplicados ao Vice-Governador da área técnica e infraestrutura do Namibe.2
Anexo 4 - Inquérito aplicado ao administrador municipal de Moçâmedes...................................2
Anexo 5 - Inquérito aplicado à administradora Comunal do Forte Santa Rita (Moçâmedes)........2
Anexo 6 - Inquérito de aplicação autoridade tradicional e a população do Bairro dos Eucaliptos.2
Anexo 7 - Ficha de Inscrição para os moradores do Bairro dos Eucaliptos....................................2
Anexo 8 - LEVANTAMENTO FOTOGRÁFICO DO BAIRRO DOS EUCALIPTOS....................................2

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Lista de Siglas e Acrónimos

ADRA - Acção para o Desenvolvimento Rural e do Ambiente


BIP-ZIP - Bairros Intervenção Prioritária Ou Zonas de Intervenção Prioritária
CCDH - Conselho de Coordenação dos Direitos humanos
FNLA - Frente Nacional de Libertação de Angola
GURN - Governo de Unidade e Reconciliação Nacional
INE - Instituto Nacional de Estatística
MPLA - Movimento Popular de Libertação de Angola
ONU - Organização das Nações Unidas
PDM - Plano Director Municipal
PIB - Produto Interno Bruto
PIOT - Planos Intermunicipais de Ordenamento do Território
PMOT - Planos Municipais de Ordenamento do Território
POC - Programa Operacional da Cultura
PP - Plano de Pormenor
PU – Planos de Urbanização
UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
UNITA - União Nacional para a Independência Total de Angola

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CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO

1. Enquadramento e Justificação do Tema

Contexto geral de Angola

Angola possui uma extensão territorial de cerca de 1.246.700 km², e uma


população estimada de 25 milhões de habitantes. O país teve a presença dos
portugueses durante cerca de 500 anos e foi delimitado como colónia portuguesa na
Conferência de Berlim de 1885 (Bettencourt, 2011 p 37). O poder político-
administrativo assim como os recursos financeiros estão centralizados e concentrados
na capital Luanda (Francisco, 2013).

Após a revolução de 25 de Abril de 1974 em Portugal, e com a derrota do


regime ditatorial, foi dada independencia às colónias. Em Angola, emergiram os três
movimentos que se destacaram na indenpendência tendo esta sido declarada a 11 de
novembro de 1975. Contudo, estes movimentos não conseguiram entender-se,
desencadeando uma guerra civil entre 1980 e 2002. Estes 22 anos tiveram
consequências devastadoras na economia e nas populações do país. Após 2002, o país
iniciou diversos investimentos, desenvolveu a exploração dos seus recursos naturais
valiosos, nomeadamente, petróleo e diamantes, infraestruturou e evoluiu.

A província do Namibe

A província do Namibe situa-se na extremidade sudeste da República de Angola


(Figura 1), com uma população estimada 588.378 habitantes. Faz fronteira com a
República da Namíbia, sendo limitada ao norte pela província de Benguela, a leste pela
província da Huíla, a oeste pelo Oceano Atlântico, ao sul pelo rio Cunene e pela
República da Namíbia. Tem uma área total de 57.091 km 2 e uma faixa litoral com uma
extensão de cerca de 420 km2 (Francisco, 2013).

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Figura 1 - Mapa da Divisão Administrativa de
Angola.
Fonte: www.google.pt, 2021

A província do Namibe (Figura 2), do ponto de vista da divisão administrativa,


possui 5 municípios, e 11 comunas e apresenta um clima árido ao longo de uma faixa
ocidental e semiárida na parte restante, reservando uma estreita faixa NE da província
com clima subhúmido seco. Para além disso, verifica-se ainda que a temperatura do ar
sofre grande influência das correntes marítimas de Benguela (Francisco, 2013).

Figura 2 - Divisão Administrativa da


Província do Namibe.
Fonte: www.google.pt, 2021

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O Bairro dos Eucaliptos

O Bairro dos Eucaliptos, localiza-se na cidade do Namibe, município de


Moçamedes, Província do Namibe, alvo de estudo nesta dissertação, surgiu antes da
independência de Angola nos anos 1965/66, ainda colónia portuguesa. Os antigos
moradores que habitaram este bairro eram sobretudo presos políticos, que estavam
confinados na antiga Cadeia de São Nicolau (Bentiaba), vindos de vários pontos do país.
Quando um preso terminava a sua pena, frequentemente regressava à sua zona de
origem, isto porque muitos deles não tinham familiares no centro da cidade do Namibe.
Ao fazê-lo, muitos deles instalaram-se numa área descampada, hoje o Bairro dos
Eucaliptos. Reza a história que o primeiro morador que se fixou trazia consigo um
eucalipto, tendo-o plantado naquele local, razão por que o bairro ganhou o nome de
Bairro dos Eucaliptos.

conflito armado que assolou o país depois da independência, originado por três
movimentos (FNLA, MPLA e UNITA), contribuiu para o crescimento desorganizado do
bairro, de uma forma rápida, devido à migração das populações das regiões de Huambo
e Bié, regiões fragilizadas pela guerra.

Figura 3 - Cidade do Namibe


Fonte: www.google.pt, 2021

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Figura 4 - Casas de abode Bairro dos Eucaliptos
Fonte: Walter José Tchivela/Autor

Na cidade do Namibe os primeiros eixos viários surgiram em 1957, constituindo


quatro tipos estratégicos: a rede ferroviária, a rede marítima (ligando ao Porto do
Namibe), o transporte aéreo e o rodoviário.

A malha da cidade do Namibe (Figura 3) é dividida por uma avenida


perpendicular ao oceano Atlântico e à Avenida Marginal, que liga com a 2.ª circular na
rotunda do Governo da Província do Namibe. Estas vias que têm cerca de 42 anos,
originariamnete eram apenas terraplanadas, tendo sofrido, posteriormente à
independência de Angola, uma intervenção asfáltica.

Av. Marginal

Rotunda do
Governo da
Província do
Namibe

Figura 5 - A malha viária de algumas zonas da cidade de


Moçâmedes
Fonte: www.google.pt, 2021

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Relativamente à mobilidade, Namibe possui várias vias principais, sendo uma a
Avenida Eduardo Mondlane, uma perpendicular à marginal, com vários cruzamentos, e
zonas com velocidades reduzidas de 30 km/h de tráfego e outra uma subida para a
Fortaleza de São Fernandes (Marinha de Guerra), separando assim o tráfego viário do
ferroviário, e do Porto do Namibe.

O aeroporto da cidade do Namibe, sofreu uma profunda reforma de restauro,


com ampliação das suas mangas de aterragem de voos, tornando-se assim em
aeroporto internacional.

Localmente tem-se valorizado muito os automóveis, deixando para trás


construções de mais passeios para os pedestres. Pouca atenção é dada a áreas que
facilitem a movimentação dos peões, nomeadamente, no seu trajeto diário de casa para
o trabalho.

Em termos gerais de tipologia habitacional, Angola sobretudo viveu o período de


guerra civil que contribuiu para a invasão de terras e ocupação ilegal, o que fez surgir
construções de várias ordens e tipologias que hoje existem em quase todo país, como
apresenta o gráfico abaixo (Gráfico 1). É percetível, através da observação do gráfico,
verificar que as casas convencionais ou vivendas são as que se encontram em número
superior (74), seguidas das cubatas (22). Encontra-se ainda no gráfico nomeadamente
Apartamentos, Barracas e outros tipos de habitação.

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Gráfico 1 - Tipos habitação que se encontra em Angola (Censos 2014)
Fonte: INE, Resultados Definitivos de Censos 2014

Desde a antiguidade que o homem sentiu necessidade de regular o uso do solo,


à medida que se desenvolveu a sociedade. Com isto, surge a necessidade de criar
diferentes instrumentos de ordenamento territorial e urbanismo com caráter legal e
jurídico aceites pelos cidadãos, como um compromisso social.

Esta evolução encontra-se associada à necessidade de regular o uso de recursos


limitados disponíveis, para satisfazer as crescentes necessidades sociais, culturais,
económicas e ambientais de cada nação ou comunidade, num contexto ou suporte
físico-espacial que considera como sua a necessidade de propiciar um desenvolvimento
sustentável.

A razão da escolha e da proposta do tema “Os Principais Fatores de Riscos no


Ordenamento Territorial da cidade do Namibe: Caso de estudo Bairro dos Eucaliptos”,
objetivo de estudo, prende-se com o desenvolvimento de uma reflexão, identificação e
catalogação dos problemas existentes no bairro dos Eucaliptos, decorrentes desde a sua
origem até à atualidade, resultante de muitas modificações e transformações que se
foram operando ao nível do ordenamento do território.

2. Objetivos
21
2.1. Gerais

Elaborar um plano de realojamento urbanístico territorial no Bairro dos


Eucaliptos para mitigar os principais fatores de risco que se apresentam na atualidade,
partindo do estudo dos problemas existentes neste bairro.

2.2. Específicos

O objetivo geral enunciado em cima, é suportado por vários objetivos


específicos:

- Melhorar as infraestruturas, processos económicos, de saneamento básico, higiene,


de saúde, evitar os efeitos das inundações para elevar a qualidade de vida das
populações que vivem nesse bairro,

- Contribuir para a preservação físico-espacial do território em outros processos de


transformação como a reflorestação com árvores de eucaliptos.

O estudo procura responder as seguintes questões:

Será possível ficar a conhecer os principais fatores de riscos existentes no Bairro


dos Eucaliptos, em Angola, e consequentemente elaborar um Plano de realojamento
urbanístico territorial capaz de contribuir para a mitigação desses problemas e melhorar
a qualidade de vida da população?

A questão anterior divide-se nas seguintes perguntas:

1- Quais os principais riscos que existem no Bairro dos Eucaliptos que


contribuem para que a população não tenha uma vida de qualidade?
2- O tipo de construções e a sua localização influencia a população e a sua
qualidade de vida?
3- O que é necessário para elaborar um Plano de realojamento urbanístico?
4- Que outros fatores têm vindo a afetar a vida da população e que
consequentemente devem ser alterados ou mitigados?

22
5- Estarão as infraestruturas, processos económicos, saneamento básico,
higiene, saúde, efeitos das inundações, desflorestação também a contribuir
para os problemas da qualidade de vida da população?

De uma forma geral, pretende-se com a presente investigação conseguir:


Desenvolver os fundamentos teóricos sobre ordenamento territorial, urbanismo
e fatores de risco;

Caracterizar do ponto de vista biofísico e urbanístico o bairro eucaliptos a partir


das análises do clima, vegetação, fauna, solo, princípios da sustentabilidade e benefícios
e planificação física existente;

Identificar os principais fatores de riscos que se apresentam no bairro dos


eucaliptos;

Definirr a estrutura físico-espacial do bairro dos eucaliptos e os vínculos com as


áreas de influência;

Elaborar um esquema de realojamento urbanístico territorial no bairro dos


eucaliptos para outras zonas de menores riscos;

Integrar o plano de ordenamento territorial e urbanismo do bairro dos


Eucaliptos a nível nacional, provincial e municipal, com as projeções a médio e longo
prazos da economia e com o seu plano de intevenções;

Avaliar o plano de realojamento urbanístico territorial no bairro dos eucaliptos


para mitigar os principais fatores de riscos.

Este contributo será de importância capital para os futuros desenvolvimentos


previstos para o Bairro dos Eucaliptos aqui em análise.

3. Estrutura da Dissertação

23
A dissertação organiza-se em sete Capítulos descritos de seguida:

Capítulo I – No primeiro capítulo procede-se a uma breve contextualização de


Angola e ao enquadramento e justificação do tema em estudo, com uma descrição do
Bairro dos Eucaliptos, caso de estudo desta dissertação. Apresentam-se os objetivos
gerais e específicos bem como se explicitam as metas que se pretendem alcançar.

Capítulo II – O segundo capítulo descreve a metodologia da dissertação e o


enquadramento teórico da mesma. Refere-se ainda a técnicas de investigação utilizadas
e métodos e técnicas de recolha de dados desenvolvidos na dissertação.

Capítulo III – O início do capítulo aborda o enquadramento conceptual do


ordenamento do território em Angola. Referem-se ainda alguns conceitos sobre o
ordenamento territorial e urbanismo em Angola. Assinalam-se alguns objetivos e
premissas do ordenamento territorial, as necessidades de realojamento territorial e
menciona-se a planificação urbanística. Na parte dois deste capítulo inserem-se os
fatores de risco. Referem-se as causas das origens dos fatores de risco, as tendências
mundiais dos desastres das últimas décadas e as tendências das afetações e desastres
no que toca a Angola e ao Namibe. Faz-se referência à avaliação e estimativas de risco,
às práticas fundamentais para relacionar risco com desenvolvimento e ponderam-se
algumas conclusões sobre a gestão local de riscos. A terceira parte deste capítulo
reflete os impactes, a vulnerabilidade e a adaptação aos fenómenos de inundações no
contexto do Bairro dos Eucaliptos, bem como a relação com os cenários de alterações
climáticas.

Capítulo IV – Diz respeito ao caso de estudo do Bairro dos Eucaliptos, e numa


primeira parte considera-se a análise e revisão dos fatores de risco e realojamneto
urbanístico. Inclui-se a caraterização biofísica e urbanística do Bairro dos Eucaliptos,
enquadramento histórico do Bairro e caraterização biofísica da província do Namibe. A
segunda parte descreve a caracterização climática, em especial no referenete ao
enquadramento geral das precipitações anuais da província. Dedica-se a terceira parte
às grandes cheias que se abateram no Bairro dos Eucaliptos no dia 5 de abril de 2001.
Segue-se a quarta parte onde se faz alusão a outros bairros que surgiram, Panguila,
Chicala e Tinguita. Caracteriza-se a estrutura físico-espacial do Bairro dos Eucaliptos e
24
os vínculos com as áreas de influência descrevendo-se a organização urbanística e
territorial.

Capítulo V – Realização e apresentação dos resultados das entrevistas e dos


inquéritos, onde se referem as principais constatações da população e atores-chave
(representantes da Administração pública) sobre a perceção acerca dos fatores de risco
do Bairro dos Eucaliptos.

Capítulo VI – Neste capítulo apresenta-se a proposta do plano de realojamento


urbanístico territorial no Bairro dos Eucaliptos que visa mitigar os principais fatores de
riscos. Numa primeira parte, procede-se a uma abordagem ao modelo territorial,
nomeadamente ao nível da estrutura organizacional e das caraterísticas do plano. A
segunda parte, corresponde à Etapa I em que se faz a avaliação e estimativa dos fatores
de risco nas principais zonas de risco da província do Namibe. A Etapa II, corresponde à
proposta do plano para mitigar o risco.

Capítulo VII – Referem-se as considerações finais sobre o estudo e perspetivas


de futuro.

25
CAPÍTULO II- METODOLOGIA DA DISSERTAÇÃO

Para a realização deste trabalho foram desenvolvidos vários estudos no bairro


dos Eucaliptos em busca de dados, como levantamento de imagens, pesquisas
bibliográficas, conversas com Soba (autoridade tradicional), as populações, e aplicação
dos referidos inquéritos aos moradores, para assim ser possível entender os
verdadeiros problemas que o bairro enferenta atuamente.

1. Corpus e Metodologia

O corpus do projeto é o plano de realojamento urbanístico territorial no Bairro


dos Eucaliptos para mitigar os principais fatores de riscos. Para a realização deste
estudo, usar-se-á os métodos comparativo (tendo em conta a seleção das unidades e
subunidades temáticas que constam no plano e o seu desenvolvimento, a proposta do
plano para mitigar do risco), descritivo e analítico (identificação da estrutura e
organização do plano, recorrendo à identificação dos principais fatores de riscos que
apresenta o Bairro dos Eucaliptos), utilizando as técnicas de investigação.

1.1. Técnicas de investigação utilizadas para a recolha de dados

Para a elaboração das propostas referidas neste estudo e que se consideram


como soluções urgentes de evacuação da população do Bairro dos Eucaliptos, foi
necessário recorrer a algumas fontes orais da cidade do Namibe.

A falta de muitos instrumentos jurídicos que regem a leis de terra incentivou a


realização de inquéritos que foram aplicados a cerca de 100 moradores. As questões
foram formuladas de formas abertas e fechadas, refletindo um número representativo
dos 14.300 habitantes deste bairro. (Anexo 1).

De igual modo, foi também elaborado um questionário com perguntas para


aplicar a atores chave, os representantes da Administração Pública da Província do
Namibe (Anexo 2).

26
A realização de inquéritos por questionário auxiliou o diagnóstico da situação
atual dos principais fatores de risco no bairro dos eucaliptos.

O método de observação empregou-se para o levamento da situação


problemática, assim como na criação do problema científico da pesquisa, com vista a
alcançar o objetivo geral da investigação.

A comunicação pessoal aplicada para a recolha de dados, permitiu efetuar


conversas específicas com o Vice-Governador, Administrador Municipal, a
Administradora Comunal do Forte Santa Rita, as autoridades tradicionais e a população
a fim de obter informações concretas sobre o tema em estudo.

Com esta dissertação pretende-se criar um plano de realojamento urbanístico


territorial no Bairro dos Eucaliptos para mitigar os principais fatores de risco que se
apresentam na atualidade, partindo do estudo dos problemas que acontecem neste
bairro, com o propósito de garantir melhor qualidade de vida aos seus habitantes. Esta
é a razão da escolha e da proposta do tema “Os Principais Fatores de Riscos no
Ordenamento Territorial da cidade do Namibe: Caso de estudo Bairro dos Eucaliptos”,
cuja reflexão decorre ao longo do desenvolvimento de seis capítulos;

A pesquisa é de caráter descritivo com uma metodologia de enfoque qualitativo


e com um pendor quantitativo. De acordo com Moraes (2016, p. 47): “As metodologias
quantitativas e qualitativas oferecem perspetivas diferentes, mas não são
necessariamente polos opostos. De facto, elementos de ambas as abordagens podem
ser usadas conjuntamente em estudos mistos, para fornecer mais informações do que
poderia se obter utilizando um dos métodos isoladamente”.

A metodologia qualitativa envolve o uso de dados qualitativos, tais como


entrevistas e documentos, para a compreensão e explicação dos fenómenos. A
metodologia quantitativa encarrega-se no processamento de dados de forma a agregar
totais e médias (Dias & Silva, 2009 p 17).

Segundo Moraes (2016 p 47): “A maior distinção feita entre esses dois tipos de
métodos é que a metodologia qualitativa explora as características dos indivíduos e
cenários que não podem ser facilmente descritos numericamente. A metodologia

27
quantitativa, por outro lado, explora as características e situações com base na
mensuração e estatística. No entanto, ambas podem ser usadas no mesmo estudo.”

Ao longo desta dissertação foram feitos à população diferentes inquéritos para


perceber a opinião da população sobre o Bairro dos Eucaliptos, realizadas entrevistas,
para ficar a conhecer melhor os problemas mais antigos e mais recentes do Bairro dos
Eucaliptos e analisadas e estudados os diversos problemas à luz de bibliografia recente.
O estudo em questão envolveu ainda a visitas ao local, de forma a conhecer em maior
profundidade os diversos problemas e situações que foram sendo detetadas ao longo
da investigação.

2. Métodos e técnicas de recolha de dados

2.1. Métodos teóricos


O analítico-sintético utilizar-se-á para o levantamento de todos, os fundamentos
teóricos a respeito do objeto e do campo desta investigação, para determinar o ponto
de partida e os objetivos a atingir.

O indutivo-dedutivo possibilitará a realização do diagnóstico dos principais


fatores de risco no ordenamento territorial da cidade do Namibe: caso de estudo o
Bairro dos Eucaliptos.

O método empírico é um método de observação utilizada para aprofundar o


estudo desta investigação, podendo estabelecer regras através da conexão existente
entre causa e efeito num determinado contexto.

A revisão bibliográfica permitirá conhecer as diversas contribuições científicas


sobre o assunto em questão. Com objetivo de recolher, selecionar, analisar e
interpretar as contribuições teóricas já existentes sobre o tema em investigação
(Francisco, 2013).

A observação permitirá averiguar na prática quais são os principais fatores de


risco no ordenamento territorial da cidade do Namibe no caso do Bairro dos Eucaliptos.

28
2.2. Método estatístico

A análise percentual servirá para o processamento de dados obtidos através dos


inquéritos dirigidos ao Vice-Governador da Área Técnica e Infraestruturas do Namibe,
ao Administrador Municipal, à Administradora Comunal do Forte Santa Rita, as
autoridades tradicionais e a população.

29
CAPÍTULO III – ABORDAGENS DO CONCEITO DE
ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

1. Referências Teóricas Sobre Ordenamento Territorial em Angola

Neste capítulo faz-se a análise das referências teóricas sobre Ordenamento


Territorial em Angola, o que é urbanismo, o que são fatores de risco, tendência das
afetações dos terrenos e desastres nas últimas décadas em Angola no Namibe,
consequências para a vida económica e para as vidas humanas. Pretende-se
desenvolver e aprofundar cada um destes aspetos, apoiadas em múltiplas investigações
relacionadas com o tema.

Claudius-Petit (in Frade, 1999 p 35) especifica que o Ordenamento do Território


(OT), “Integra inúmeras linhas de pensamento e várias tentativas de definição e
conceptualização, que tentam responder a tal pretensão e que na maior parte dos
casos são divergentes entre si” (Papudo, 2007).

Lopes (2001, p 36) refere por sua vez, “que o ordenamento é entendido, como
um ato de gestão do planeamento das ocupações, um potenciar da faculdade de
aproveitamento das infraestruturas existentes e o assegurar da prevenção de recursos
limitados. Simplificando, é a gestão da interatividade do homem para com o espaço
natural ou físico”.

Segundo o artigo sobre os conceitos principais e objetivo do ordenamento do


território diz na pág. 42 “Do ponto de vista teórico, este tipo de argumentação
posiciona-se próximo de uma simples gestão de oportunidades, no entanto, esta é uma
definição “aberta” ou “ampla”, entendendo o conceito como “algo” que não deverá
cingir-se, apenas, à gestão do espaço, mas proporcionar uma envolvência que permita
um desenvolvimento a diferentes escalas, preservando o presente e potenciando o
futuro “ (Papudo, 2007).

Por sua vez, Oliveira (2002), citado por Papudo (2007, p 45), entende que estes
devem consistir, essencialmente, na distribuição racional, em termos geográficos, das
30
atividades económicas; no desenvolvimento socioeconómico e no restabelecimento de
equilíbrios entre partes e regiões do país; na melhoria da qualidade de vida; na gestão
responsável dos recursos naturais e na proteção do ambiente, bem como na utilização
racional do território. Perante o afirmado, são distinguidos dois sentidos distintos: um
lato e um restrito.

Caso o sentido lato seja adotado neste trabalho, “O OT deverá ter como
principal intento, segundo a autora, a aplicação ao solo de políticas públicas,
designadamente económico-sociais, urbanísticas e ambientais, visando a localização,
organização e gestão correta das atividades humanas, de forma a conseguir um
desenvolvimento regional harmonioso e equilibrado” (Oliveira, 2002 em Papudo, 2007).

Condesso (2001) adianta que se for em sentido restrito a opção escolhida, os


objetivos serão todos aqueles que se relacionam diretamente com o urbanismo,
destacando-se como razão para tal afirmação, o facto de que nem todo o objeto se
reporta diretamente à urbe. O autor assegura, contudo, que todo o urbanismo é
ordenamento ou tende a pressuposto, porque, segundo este, realiza uma seleção de
localizações e atos voluntários pré-estabelecidos, considerando sempre o respetivo
enquadramento. Em ambos os sentidos, esclarece Abercrombie (1959), que o conceito
tem como derradeira pretensão a alteração da sua envolvente física, considerando este
que o seu grau de sucesso é elevado (Papudo, 2007).

1.1. O Ordenamento territorial em Angola

Angola embora tenha sido uma colónia de Portugal até 1974, não tinha nem sequer uma
organização ou lei do ordenamento do território. Em 1975 com a independência, o país começa
a traçar seu próprio destino em termos de planificação e desenvolvimento económico e social,
com modo das várias exigências que uma jovem nação precisa para emergir.

De acordo com Viegas, 2015 (p. 81), a adaptação ao sistema ideológico socialista em Angola
acolheu influencia de Cuba realtivamente às questões de urbanização e de habitação. Foi assim
então que surgiu o desenvolvimento da orgânica dentro do Ministério da Construção e

31
habitação a criação da Direção Nacional de Planificação Física, forçada pelo decreto
nº52/77 de 14 de julho.

Deste modo a então Direção Nacional de Planificação Física foi transferida para
o Ministério do Plano, em 1981, por decreto da ex-República Popular de Angola em 09
de março 1981. Já em 1982 foi desfeita a Direção Nacional de Planificação Física, para
surgir dentro do Ministério do Plano, o Instituto Nacional de Planificação Física (INPF),
surgindo pelo decreto de 8 de fevereiro de 1982.

Com a constituição da primeira República (1992), surge a necessidade em 1995


de se reorganizar o Instituto, passando assim para o Ministério do Planeamento,
mudando também de nomenclatura em 22 de setembro 1995, conjugado pelo decreto-
lei nº06/95, para se denominar Instituto Nacional de Ordenamento do Território e
Urbanismo (INOTU).

1.2. Enquadramento no ordenamento jurídico angolano

O planeamento tradicional caracterizou-se por falta de operacionalização, pelo


seu afastamento temporário frente a uma realidade territorial e urbana em
permanente mudança. Os instrumentos de planeamento territorial estiveram numa
constante renovação e aperfeiçoamento ao reavaliar as suas qualidades e incorporar as
novas contribuições do planeamento estratégico como, por exemplo, a participação de
todos os atores sociais na sua execução e a utilização eficiente dos recursos humanos e
tecnológicos disponíveis e distribuídos espacialmente. O planeamento foi o meio para
expressar políticas de governo e que, segundo o momento histórico, responderam a
interesses de sistemas e correntes que incidem no modo de organizar o espaço e a
sociedade.

Na atualidade, e em toda sua magnitude, o ordenamento territorial tem como


pontos focais, a distribuição espacial dos investimentos, a mudança de uso da terra, o
desenvolvimento do sistema de assentamentos humanos, a interpretação e integração
das políticas setoriais, a busca do equilíbrio no desenvolvimento, a elevação da

32
qualidade de vida da população - “Carta Europeia do Ordenamento do Território”
(Concelho da Europa 1988 p 9 e 10)

O uso racional dos recursos naturais e o melhoramento da qualidade do meio


ambiente, a eliminação das desproporções territoriais e a contribuição para a
diminuição da pobreza imperante em muitas regiões do planeta, por sua vez, está
dirigida à redução da vulnerabilidade antes as ameaças naturais e antrópicas
causadoras de situações de desastre. Trata-se de recuperar situações não acertadas no
processo de assimilação do espaço e da exploração dos recursos naturais.

Determinados documentos, como a Lei N.º 3/04 de 25 de junho e a Lei 9/04 de


novembro de 2004, contém elementos importantes sobre como implantar um sistema
que assenta justamente numa conceção global da problemática do ordenamento
territorial como sistema de normas, princípios e instrumentos em que avultam os
planos territoriais (Francisco, 2013).

Segundo especialistas diversificados, em ordenamento dão razão do âmbito


territorial, valorizam os solos, ordenando-os, infraestruturando-os para uso geral e
coletivo, como formas sistemáticas de intervenção do Estado e das autarquias locais no
ordenamento do território tendo em conta os planos económicos e territoriais, ainda
que aqueles sejam objeto de leis e normas jurídicas para o cidadão (Francisco, 2013).

As regulações do ordenamento territorial e o urbanismo são o conjunto de


disposições jurídico-administrativo de caráter territorial, urbano e arquitetónico que
como saída do Planeamento, possibilitam tanto a sua implantação como o controlo dos
processos de transformação e a preservação física-espacial do território.

33
As normas jurídicas coloniais de produção e de transformação especial
destacamos a velha lei de terras (lei n 2.030/48, de 22 de junho) de acordo com a
legislação o governo central ou local, poderia ceder o direito de superficie e construção
para o efeito de utilidade pública. Viegas, 2015 (p. 52), relata que em 1960, o decreto-
lei e concessão de terrenos nas diversas provincias ultramarinas, nomeadamente o
aforamento, o arruamento e a concessão gratuita, contribuindo, assim, para a
mencionada metamorfose de Luanda como complementa, a Development Worksop
(2005) refere-se ao código de Construção Portuguesa (1954) e plano sanitario de
Luanda (1966) (Viegas, 2015).

Segundo a constituição, artigo nº15, Terras de Angola, a propriedade originária


do Estado, pode ser transmitida para pessoas singulares ou coletivas, tendo em vista o
seu racional e efectivo aproveitamento, nos termos da constituição e da lei (Rasga,
2015).

A estas normas jurídicas que o país adotou, surgiu em 1980, a lei da


Autoconstrução (decreto n188/80, de 17/11) e o regulamento (Decreto executivo
conjunto nº 91/80, de 13/12), onde define a autoconstrução como a construção
coletiva ou individual de habitação, obras socias pelas massas populares, suborientação
técnica do estado (Viegas, 2015).

Já a Lei de Terra de Angola 9/04 de novembro de 2004, que considera os


problemas fundiários gerais, procede a um enquadramento jurídico das várias questões
relacionadas com a terra, nomeadamente:

- Os vários suportes de abrigo ou habitação da população têm por base o


território, o que quer dizer um enquadramento do regime urbanístico;

- Ao abrigo das riquezas naturais refere que o uso e aproveitamento evidencia o


direito mineiro, agrário, florestal e de ordenamento do território;

- A lei de terra possibilita suporte no exercício econômico, agrário, industrial e


de prestação de serviços;

34
- Suporte de todos efeitos resultantes da ação desregrada ou degradante do
homem com impactes negativos no equilíbrio ecológico que realça para o direito do
ambiente;

A Lei de Terra de Angola, que é a lei 9/04 de 9 de novembro de 2004, no seu


Artigo 12º. Expropriação por utilidade pública diz que:
- Ninguém pode ser privado, no todo ou em parte, do seu direito de propriedade
ou do seu direito fundiário limitado, senão nos casos fixados na lei;
- O Estado e as autarquias locais podem expropriar terrenos, contanto que estes
sejam utilizados para um fim específico de utilidade pública;
- A expropriação extingue os direitos fundiários constituídos sobre os terrenos e
determina a sua transferência definitiva para o património do Estado ou para as
autarquias locais, cabendo a estes últimos pagar ao titular dos direitos extintos uma
justa indemnização.
As políticas do ordenamento do território e urbanismo tem por objectivo o
espaço bifisico, constituido pelo conjunto dos solos urbanos e rurais, do subsolo, da
plantaforma continental e das águas interiores, com vista acautelar as acções que se
traduzem na ocupação, uso e na utilização dos espaços supramencionados atraves da
implementação dos instrumentos do ordenamento do territorio e do urbanismo
previsto na lei, ainda assim o sistema do ordenamento do territorio no seu artigo nº3
diz sobre o instrumentos integrantes das normas, principios, instrumentos e acções da
administração pública que tem por função a organização e gestão do espaço biofisico
territorial, urbano e rural, em termos de enquadramento disciplinar, em defesa e da
valorização da sua ocupação e utilização pelas pessoas singulares e coletivas, privadas e
públicas, com vista a realização dos fins e segundo os principios previstos na lei
(Francisco, 2013).

Os Regulamentos de Planos Urbanisticos e Rurais decreto nº 2/06, 23 de janeiro


2006, têm como objectos o desenvolvimento regulamentar das bases gerais do
ordenamento do territorio e do urbanismo, consagrado na lei nº3/04 de 25 Junho, na
vertente dos respectivos instrumentos de gestão do espaço territorial urbano e rural,
regulando o quadro geral do sistema de planeamento territorial de modo integrado e
coordenado com outros, dimensões do territorio, designadamente o regime geral de
35
defesa, ocupação e uso dos solos e demais instrumentos do ordenamento do territorio.
Sendo assim o regulamento geral dos planos territorias urbanisticos e ruarais, adianta
designadamente e com ele se devem conformar os planos constante nº1 do artigo 5º
do presente diploma e de demais instrumentos de gestão territorial, bem como os
programas e projectos de iniciativas públicas e privado a realizar em todo o territorio de
angola, sintetizados na tabela 1 com os programas e planos territoriais nacional,
províncial e municipal.

Tabela 1 - Estrutura dos Planos territorias em termos do artigo nº28 da Lei nº3/04 25 de junho
2004

- Programas nacionais da política ordenamento do


territorio;

Ậmbito Nacional - Planos Setorias do ordenamento do territorio;

- Planos Especiais Estrategicos do Ordenamento do


territorio

- Planos Reginais do ordenamento do territorio;

Ậmbito Provincial e Regional - Planos Intermunicipais do ordenamento do


território (Planos regionais)

- Planos Municipais do Ordenamento do territorio;

- Planos Diretores Municipais;

Ậmbito Municipal - Planos de Urbanização (redes viárias, estruturas


ecologica, zonas de estacinamentos, etc)

- Plano de Pormenores

Fonte: Walter José Tchivela/Autor

36
Licenciamento das operações de Loteamento e obras de urbanização e obras de
construção, decreto presidencial nº48/06 de 30 outubro 2006

Para este diploma ela estabelece o regime geral de licenciamento das operações
urbanistica e em particular das operações de loteamento e das obras de construções de
edificios em conjugação com o regime de execução das operações ou obras de
urbanização nos termos referidos no artigo nº7/ do ponto 2 sobre as operações
urbanistica de interesse público designadamente as seguntes; linha b) classificação dos
terrenos urbanos, urbanizaveis e de construção, na linha g) o loteamento para novas
habitações de realojamento da população de áreas sujeitas a operação de reconversão,
ainda na linha h) as operações de realojamento das populações; a linha i) no que se
refere a valorização ambiental com plantação de defesa e reaqualificação ambiental e
urbana (Francisco, 2013).

O Regulamento das Edificações Urbanas, no seu artigo 166/2007, permite que o


Estado, os Governos provinciais e as administrações municipais, e de uma maneira geral
a todos as entidades que promovem a distribuição de casas de habitação social, que os
cidadãos possam usufruir da ocupação de moradias desocupadas, bem como proceder
a alterações, sem ter de comunicar às autoridades, ou serem sujeitos a possíveis
multas.

O Regulamento de Concessão de terrenos decreto presidencial nº13 de 13 de


Junho 2007, no seu artigo 1- (3 ponto), visa nomeadamente concretizar as bases gerais
do regime juridico das terras integradas na propriedade orginaria do Estado, definir
também o processo de concessão reconhecimento, transmissão, exercicios e extinção
de direito fundiário sobre essas terras, assegurar a necessaria publicidade aos factores
juridicos que determinem a constituição, o reconhecimento, a aquisição ou a
modificação desses direitos á situação juridica dos respectivos titulares e garantir a
segurança do comercio jurídico (Francisco, 2013).

A Lei do Fumento habitacional nº 3 de setembro 2007, que vai dar abertura do


enquadramento legal da estrategias do Estado para a promoção do programa Nacional
MEU SONHO MINHA CASA, enquadra-se na organização financeira de (2009), tem como
objetivo a definição de politicas de fomento habitacional factores primordial na
37
efetivação do direito á habitação que assiste a todos os cidadão, no quadro da lei
constitucional, de igual modo ela estabelece igualmente as balizas gerais da politica
fiscal e finaceiras para o acesso ao credito habitacional, como instrumento privilegiado
de fomento habitacional, no seu artigo nº4 para tal ela informa sobre as condições de
habitação a luz da lei, e define habitação como edificação implementada em lotes de
terrenos urbanizados ou rurais, para classificar em termos da legislação em vigor
(Rasga, 2015).

O que são políticas habitacionais? São um conjunto de diretrizes, acções,


programas, planos ou projectos de ambitos nacional ou local com finalidade de
promoção de habitação de acordo com a tipologia, podendo as habitações serem
classificadas como:

a) Habitações de alta renda: São aquelas cujos custos, ultrapassam os padrões


regulamentares fixados para a classificação de habitação social e cujas
promoções os deixa livre a iniciativa de privados e as leis do mercado;
b) Habitações Social Subvencionadas: destinadas aos cidadãos, com
rendimentos mínimos ou médios considerados para o efeito;
c) Habitações Social: A habitação de baixa ou média renda apoiado pelo Estado
ou pessoas colectivas de direito público destinadas a criar melhores
condições de acessos á habitação com qualidade, por parte das pessoas com
as mais desfavorecidas, nos termos a fixar por regulamento proprios e
especificos;
d) Habitações Autoconstrução dirigida: É aquela que resulta da iniciativa do
interessado mais atende as regras do urbanisticas e especificas;
e) Habitações Rurais: Elas são implantadas nos terrenos rurais, quer integradas
nos dominios úteis consuetudinários, pelos respectivos titulares em regime
de autoconstrução, quer as classificadas para fins de repovoamento ou
construção de novos aglomerados rurais de acordos com os planos de
ordenamento, programas de habitação social, rural e demais regulamentos
da lei.
Podemos também aqui incluir a lei das áreas urbanizaveis de genises ilegais
(AUGI) de Portugal lei 91/95 de 2 de setembro que sobretudo atua no
38
processo de reconversão das áreas urbanas de génese ilegal, considerando
assim as AUGI.
Angola ainda não tem esta lei, que achamos ser muito importante no
ordenamento jurídiico do território angolano, sobretudo devido algumas
alterações, dos prédios e abandono dos mesmos. Ela diz que são áreas
urbanizaveis de génises (AUGI) todo o conjunto de prédios contíguos
predominantemente ocupados por construções não lecenciadas ou que
tenham sido submetidas a operações físicas de parcelamento destinados a
construção apesar de não ter sido emitida uma licença de loteamento
(Rasga, 2015).

Para uma melhor abordagem deste estudo, ter-se-á, como suporte teórico, os
fatores de risco no Ordenamento Territorial e do discurso.

A inclusão das comunidades na vida das áreas urbanas, aplicando em simultâneo


com as intervenções físicas medidas imateriais de motivação à integração - emprego,
empreendedorismo, serviços de apoio, equipamentos, mistura de usos numa perspetiva
de integração inter-grupos;

• Aproximação dos cidadãos às cidades através do melhoramento dos espaços


urbanos;

• Possibilitar aos cidadãos espaços seguros. Incentivar o diálogo entre todas as


gerações, bem como a segurança, a justiça e a coesão social.

Angola tornou-se independente em 11 de novembro de 1975, mas, o Governo


de transição (que fez a substituição da autoridade colonial), já se preocupava com a
situação do ordenamento do território, aprovando assim algumas leis com vista,
nomeadamente a ordenação do território.

1.3. Objetivos e premissas do ordenamento territorial

Nestes momentos se incorporaram ao urbanismo novas tendências, novos


enfoques, e entre eles se destaca com muita força o Novo Urbanismo. Devem ter-se em

39
conta os seus princípios na hora de elaborar as regulações para obter um enfoque atual,
renovador, novo. Na atualidade para o Novo Urbanismo visualiza-se a falta de
investimento nas cidades centrais, o avanço da expansão urbana descontrolada, a cada
vez maior separação por raça e ganhos, a deterioração ambiental, a perda de terras
agrícolas e naturais, e o menoscabo do patrimônio edificado da sociedade, como um
desafio concernente à criação de comunidades. Entre os seus princípios fundamentais
encontram-se:

 As vizinhanças devem ter diversidade em usos e população.


 As comunidades devem estar desenhadas para o trânsito dos pedestres
e dos transportes públicos tão bem como para os automóveis.
 As cidades e povos devem estar formados por espaços públicos e
instituições comunitárias bem definidos e universalmente acessíveis.
 Os lugares urbanos devem estar rodeados de arquitetura e desenho de
paisagens que realcem a história local, o clima, a ecologia e as práticas de
construção. “(Duverger & Castro, 2011, p.36). “

Entretanto, apesar da experiência acumulada quanto a elaboração e aplicação


das regulações urbanas, persistem vários problemas, alguns dependentes dos próprios
documentos de regulações e outros causados por agentes externos. Entre estes últimos
se destacam:

 Má implementação de regulações.
 Incremento da deterioração da imagem das cidades e demais
assentamentos urbanos, provocados umas vezes pelo ineficiente
controlo do território e outras porque as regulações do ordenamento
territorial e o urbanismo não estiveram encaminhadas a melhorar o
desenho urbano.
 Incremento da indisciplina urbanística. “(Duverger & Castro, 2011, p.38)”

Entre os problemas próprios dos documentos de regulações existentes


persistem:

40
 Má aplicação de regulações a zonas onde não corresponde, por exemplo:
regulações específicas para zonas de espaços públicos e áreas verdes
estendidas a zonas industriais, entre outros muitos casos. Nisto influi
também a não acertada delimitação das zonas e setores objeto de
regulação, primeiro, segundo o uso, e depois, segundo as tipologias
urbano-arquitetónicas predominantes. Ambas são muito importantes,
sendo que as primeiras garantem o bom funcionamento do território e
as segundas a previdência da diversidade e a identidade local.
 Pouca objetividade e realismo em algumas de suas disposições,
impossíveis de cumprir nas condições materiais atuais de nosso país, o
que motiva a violação do estabelecido e acelera a deterioração das
construções e o ambiente urbano.
 Extensão e complexidade que as fazem difíceis de entender e utilizar,
apesar de que em ocasiões não recolhem a heterogeneidade existente
em nossos territórios e sistemas de assentamentos.
 Excessivamente proibitivas em alguns casos, por isso fica limitado o que
se permite e as possíveis alternativas.
 Proibiram-se ações em zonas que se desconhece em que momento
serão afetadas ou o porquê não podem usar-se.” (Menéndez,2011, p.45)

Toda esta situação motivou a necessidade de aperfeiçoar as regulações urbanas


dos assentamentos empregando uma linguagem clara e direta, que não se empreste a
interpretações pessoais, sem palavras rebuscadas, mas com o rigor técnico que as deve
caracterizar, e utilizando exemplos gráficos como desenhos, imagens, fotos, esquemas,
quadros-resumos que ajudem a sua compreensão e evitem as leituras extensas e
tediosas. Para obtê-lo existe o instrumento metodológico “Aperfeiçoamento das
regulações para o ordenamento territorial e o urbanismo”, que normaliza a estrutura e
conteúdo (República de Angola - Lei do território e urbanismo, artº4):

1. O ordenamento do território visa em geral a criação de condições


favoráveis, que garantam os fins gerais do desenvolvimento económico e

41
social, do bem-estar social, de defesa do ambiente e qualidade de vida
dos cidadãos e em particular:
a. Assegurar uma valorização integrada e racional da ocupação do espaço e
condições favoráveis para o desenvolvimento de atividades económicas,
sociais e culturais, sem prejuízo da salvaguarda dos interesses de defesa
do território, segurança interna e do equilíbrio ecológico e do património
histórico-cultural;
b. Assegurar a igualdade de oportunidades de acesso dos cidadãos aos
equipamentos coletivos e serviços públicos no meio urbano e rural;
c. Adequar os níveis de densificação dos aglomerados urbanos
potencialidades infraestruturas, de equipamentos e de serviços
existentes ou previstos, de modo a suster a degradação da qualidade de
vida para prevenir o desequilíbrio socioeconômico;
d. Recuperar ou reconverter as áreas degradadas e/ou ocupação ilegal;
e. Salvaguardar e valorizar as potencialidades e condições de vida dos
espaços rurais e criar oportunidades de empregos como forma de fixar
as populações no meio rural;
f. Preservar e defender os solos com aptidão natural ou aproveitados para
atividades agrícolas, pecuárias ou florestais, restringindo-se a sua
afetação a outras utilizações aos casos em que tal for comprovadamente
necessário;
g. Proteger os recursos hídricos, as zonas ribeirinhas, a orla costeira, as
florestas e outros locais com interesse particular para a conservação da
natureza, compatível com a normal fruição pelas populações das suas
potencialidades específicas;
h. Proteger o património natural e cultural e valorizar as paisagens
resultantes da atuação humana.
2. Os fins do ordenamento do território e do urbanismo devem harmonizar-
se com as políticas ambientais, nos termos da legislação em vigor.

No Artigo 3º (Sistema de Ordenamento do Território e do Urbanismo) refere-se


que o ordenamento do território é o sistema integrado das normas, princípios,
42
instrumentos e ações da Administração Pública que tem por função a organização e
gestão do espaço biofísico territorial, urbano e rural, em termos de enquadramento,
disciplina, defesa e valorização da sua ocupação e utilização pelas pessoas singulares e
coletivas, privadas e públicas, com vista à realização dos fins e segundo os princípios
previstos na presente lei.

1.4. As necessidades de realojamento territorial

O ordenamento do território resulta necessário em todos os países e regiões


onde o estilo de desenvolvimento da sociedade moderna tende a situações que
requerem de forma recorrente a prevenção dos problemas gerados pelos desequilíbrios
territoriais, a ocupação e uso desordenado do território e os problemas que originam o
espontâneo crescimento econômico.

Observa-se uma tendência de desenvolvimento que aponta para um futuro


problemático, devido à crescente demanda e deterioração dos recursos naturais, a
insuficiente criação de oportunidades produtivas, a incapacidade para satisfazer as
demandas de moradia, infraestrutura, equipamento e serviços, assim como o
incremento dos riscos naturais e antrópicos.

A incidência da globalização no território provoca o deslocamento das zonas


industriais tradicionais a portos internacionais, lugares nas fronteiras ou a zonas
francas. Um novo espaço produtivo se organiza segundo fluxos e para o
desenvolvimento é necessário contar, além de tecnologia e habilidade, poder e capital.
Em outra ordem, a globalização nas áreas metropolitanas provoca fortes processos de
concentração da população, a competência entre cidades, a maior relação com outras
cidades do exterior que com o sistema de assentamentos humanos do país, produz-se a
segregação dos espaços e a aparição da pobreza urbana. Além disso o irracional
comportamento da população favorece o aumento do consumo de energia e de bens
materiais; ao anterior se une a atual crise financeira mundial, que possui incidências até
a escala o local.

43
O território como suporte de todas as atividades humanas é motivo de conflitos.
Entre as principais causas destes processos se encontram (Otero, 2009):

- A escassez de solo, que como recurso finito, é objeto de demandas


competitivas, em ocasiões contraditórias, entre os diferentes atores (indivíduos
e organizações) que integram a sociedade, motivados por fins econômicos ou
sociais,
- A competência de distintos usos sobre um mesmo espaço,
- A sobre exploração dos recursos naturais,
- O conflito entre o interesse público e o privado,
- A competência entre setores socioeconômicos por determinados recursos,
- As históricas contradições cidade e o campo
- A aparente contradição entre conservação e desenvolvimento.

O primeiro passo para solucionar um conflito consiste em reconhecê-lo como


tal. Embora na atualidade se aceite o papel do ordenamento territorial para obter o
correto desenvolvimento socioeconômico, às vezes em um espaço territorial específico,
tropeça-se com interesses políticos ou econômicos muito arraigados e muitas vezes
difíceis de reconciliar com os objetivos da organização territorial e a equidade social.
Quando os interesses dos setores hegemônicos da sociedade estão por cima dos
interesses comuns contribui-se para: a concentração populacional nas cidades; o
desarraigo dos habitantes de zonas rurais; a conformação de cinturões de miséria nas
grandes cidades; a negligência nos controles de atividades económicas de alto impacto
ambiental; o aumento dos riscos a desastres naturais, entre outros (Otero, 2009).

Um exemplo importante que pode ser referido resulta dos conflitos da estrutura
rural-urbana de um determinado território, que são um reflexo dos processos históricos
de apropriação e uso de um espaço em prejuízo de outros espaços. Para os solucionar,
requer-se a superposição em um mesmo espaço pelo qual competem interesses
contrapostos e, por conseguinte, efeitos ambientais diversos. Torna-se fundamental
selecionar aqueles que devem ocupar prioritariamente esse espaço único. A este
exemplo cabem duas respostas, por um lado as entidades estatais transformam os
interesses dos setores hegemônicos e os apresentam como o interesse público; ou se

44
promovem critérios de sustentabilidade territorial e equidade social em proveito de
toda a comunidade (Otero, 2009).

Deve destacar-se a importância da gestão ambiental e a gestão de risco que são


processos indissociáveis do ordenamento do território e se caracterizam por ser de
caráter preventivos.

A gestão ambiental exige que ao localizar os novos investimentos produtivos e


não produtivos se realize de forma prévia a avaliação dos ecossistemas e paisagem, de
modo que se recomendem ações que tornem compatíveis as atividades no território.
Isto pode conseguir-se na localização de investimentos produtivos mediante o controle
dos processos de produção, a seleção das matérias-primas, o tratamento dos resíduos
que produzem e seu destino final (Otero, 2009).

Os impactes ambientais devem-se tanto à sub exportação dos recursos naturais,


como à sobre-exploração; um aumento desmedido da concentração da população em
uma cidade ou o abandono de um potencial natural dado, devido ao desolamento ou a
migração, são exemplos que expressam a falta de uso racional das potencialidades
existentes nos territórios ou de sua sobrecarga. Ambos suportam à perda de culturas e
tradições nas formas de exploração dos recursos de cada território (Otero, 2009).

A gestão de risco é uma necessidade atual, devido ao incremento das ameaças


ou perigos naturais e tecnológicos e a vulnerabilidade dos territórios, a economia e a
população em geral, em muitas ocasiões se deve há não consideração dos riscos
naturais na localização de atividades ou de componentes que podem contribuir para a
ocorrência de um desastre. Entre os principais perigos se encontram as secas, as
inundações por intensas chuvas ou por penetrações do mar, os movimentos de ladeira,
os deslizamentos, a sismicidade e o vulcanismo. Como parte da gestão destes riscos
devem ser estudados, inventariados, valorados e cartografados para evitar o uso das
zonas onde se produzem ou aplicar as medidas de prevenção, estruturais ou não
estruturais que permitem um uso seguro, embora em ocasiões se requer para isso de
altos custos de intervenção (Otero, 2009).

45
Otero, 2009, refere que “o ordenamento territorial pela necessidade de superar
a parcialidade e o reducionismo que caracteriza ao planejamento setorial, ao ficar tudo
plasmado em um sistema territorial, que de acordo com a teoria de sistemas, só pode
ser entendido e planejado como um todo. Para obtê-lo os planos de ordenamento
territorial utilizam dois tipos de instrumentos: a normativa, orientada, prioritária, mas
não exclusiva para manter quão positivo tem a situação atual e acautelar os problemas
futuros e os programas de atuações dirigidos a aproveitar as oportunidades e a corrigir
os problemas atuais” (Gómez Areja, 2003, p. 39, em Otero, 2009).

2. Tendência das afetações e desastres nas últimas décadas em


Angola e Namibe, afetações económicas e em vidas humanas

No dia 5 de abril de 2001, cerca das 11h as cheias invadem “a cidade de


Moçâmedes”1, “Nação Praia” (bairro adjacente ao Bairro dos Eucaliptos) e uma parte da
cidade alta, concretamente, a avenida Eduardo Mondlane, onde estão localizados vários
serviços sociais e económicos como a Delegação da Agência Angola Pres-Angop, BPC,
Caminhos-de-ferro, Correios, Angola-Telecom, Alfandegas, Capitania do Porto, e outros
serviços.
No anterior bairro Nação Tchinducuto (bairro adjacente ao Bairro dos
Eucaliptos), no dia das cheias, alguns munícipes ainda se encontravam no mercado
informal “Nação” a vender os seus produtos, outros já tinham ido para os seus locais de
trabalho, mas estavam atentos ao que ouviam pela manhã, sendo o termo usado
““Ndogui” está a vir água””, ou seja, o rio chegou. Contudo, ainda assim, desvalorizaram
a situação ignorando a sua gravidade.
Quando se aperceberam, tudo estava submerso. Houve mesmo quem nesse
momento, conseguisse tirar um eletrodoméstico ou uma peça de vestuário, outros
perderam tudo uma vez que não foi possível sequer retirarem o dinheiro das vendas
que guardavam em garrafões e sacos.
As águas das cheias invadiram a avenida Eduardo Mondlane e outras ruas
adjacentes entrando por alguns edifícios escolares, restaurantes e hotéis. No entanto,

1
Namibe
46
por incrível que pareça no dia seguinte tudo ficou vazio, devastado pela natureza. Com
o recuo da água, restaram apenas lama e insetos.
Milhares de famílias ficaram ao relento, tendo-se verificado uma intervenção
rápida por parte do então governador do Namibe, naquela altura, Salomão Xirimbibimbi
que se encontrava de férias na África do Sul. Decidiu enviar tendas para acomodar
todos os sinistrados, mas colocou-os numa área deserta, onde não havia água e nem
sequer um posto de saúde. Foi indicada uma comissão multissetorial dirigida pelo vice-
governador da área de Infraestruturas com o fim de coordenar a situação, desenvolver
planos de ajuda e controlar as necessidades básicas fundamentais para os sinistrados.
Após as cheias verificou-se um crescimento considerável, tendo inclusive sido
atribuído o nome “5 de abril” ao bairro mais populoso da cidade do Namibe, que
cresceu e conta com mais de dez mil habitantes, na maioria funcionários públicos.
Entretanto, surgiram novos quatros bairros com populações oriundas do Huambo,
Benguela, Cunene, Bié, Moxico e Cuando Cubango.
O atual Bairro 5 de Abril conta com várias infraestruturas sociais e económicas
como escolas, centros e postos de Saúde, captação de água, esquadras policiais,
mercado, lojas comerciais, centralidade, central térmica elétrica e outros serviços que
têm vindo a servir a população.
Desde aquela altura, até aos dias de hoje, os munícipes comemoram o dia 5 de
abril com uma maratona cultural mensal, onde as feirantes vendem alimentos e bebidas
tradicionais da região. Os artistas atuam aos fins-de-semana alegrando e animando os
moradores do bairro e dos seus arredores.
Hoje a cidade cresceu muito e conta com duas zonas centrais com tipologia T2,
T3 e prédios com 3 a 4 pisos, que começaram a ser erguidas em 2010. Existem cerca de
duas mil casas na urbanização do Bairro 5 de Abril, e outras duas mil na Praia da Amélia
totalizando quatro mil residências. Este projeto contou com ajuda do governo chinês no
âmbito “Vamos transformar Angola num Canteiro de Obras" e a sua conclusão decorreu
em 2016. Visivelmente satisfeitos, os beneficiários, que na sua maioria são os antigos
sinistrados, fazem saber que a partir dessa altura as famílias passaram a viver com
maior segurança e mais acomodadas, tendo deste modo sido assumido o bem-estar das
populações em geral.

47
2.1. A gestão local de risco, principais conclusões

Nos últimos anos produziram-se no mundo importantes mudanças em relação à


orientação das ações na gestão de riscos, que se focam na prevenção do risco, e se
refletem na fundação de instituições, na conformação dos instrumentos e a capacitação
dos recursos humanos necessários para desenvolver a gestão de risco de maneira
sustentada (Otero, 2009).
Ao mesmo tempo reconhece- se, de forma crescente, que a nível global temos
as mudanças climáticas, provocadas pelas excessivas emissões de gases com efeito
estufa para a atmosfera que geram o aquecimento do planeta e com isso o reforço de
determinados eventos hidro meteorológicos causadores de condições de desastres,
além disso as crescentes urbanizações com pouco planeamento, onde a população é
segregada, amontoada e exposta a condições muito vulneráveis que propiciam e
agudizarão as situações geradoras de riscos, que requer de uma atenção intensa e
constante que leve a neutralizar os efeitos negativos identificados (Otero, 2009).
A gestão de riscos é, e deve continuar a ser, um processo em construção cujo
êxito ou fracasso depende do compromisso e responsabilidade dos atores ao
desempenhar os seus papéis reais neste processo, ao atenuar as dificuldades próprias
impostas pelos modelos de desenvolvimento económico, exacerbados pelas
deficiências e insuficiências em sua implementação e que levaram em muitos lugares a
condições de alta vulnerabilidade a grandes grupos de população incapacitados de
mitigar e prever como se requer o amparo do recurso natural mais importante, o
Homem (Otero, 2009).

2.2. Avaliação e estimativas do risco

Em Angola é frequente construir em zona de risco não desenvolvendo planos de


redução e controle como medida de prevenção. O risco deve estar presente no
planeamento como uma componente imprescindível do desenvolvimento setorial e
territorial, da gestão ambiental e do paradigma do desenvolvimento sustentável.

48
É importante desenvolver planos de controle e medidas de prevençãode risco
que envolvam a participação de todos os atores que têm responsabilidade nas
transformações espaciais. É igualmente importante instrumentos jurídicos que
suportem estes planos incluindo mecanismos de obrigatoriedade e controlo
imprescindíveis para controlar e não incrementar as vulnerabilidades identificadas.
A gestão de risco deve então transitar através de um trabalho devidamente
articulado, consensual e coordenado entre os mais diversificados atores:
institucionalizados, setor privado, setores humanitários e a sociedade civil em seu
conjunto para materialização e controlo das ações, para minimizar vulnerabilidades e
diminuir os impactes negativos ao meio ambiente assim como a exposição da
população. A participação inclui, além disso, o acionar dos indivíduos, a família e as
comunidades em maior escala (Otero, 2009).
Os riscos são dinâmicos, alteram-se gradualmente no tempo, daí que a
realização de cenários de risco não deve ser exclusivamente obra dos técnicos, mas
deve incluir o parecer e critérios dos atores face a situações de risco, organizações
regionais, locais ou comunitárias de forma a possibilitar que sejam expostas todas as
considerações que perante um determinado risco requer ações corretivas ou
transformadoras (Otero, 2009)
A gestão do risco contempla entre suas finalidades-chave o possibilitar resposta
às fases que de forma tradicional reconhecemos como a prevenção e as emergências,
com seus momentos de reparação, reabilitação e reconstrução. Entre as principais
premissas da gestão local do risco encontram-se (Otero, 2009):

 - A importante relação com a gestão do desenvolvimento


 - A necessidade de aparelhos institucionais e estruturais que permitam a
sua operatividade
 - A participação e apropriação local do papel que tem de ser
desempenhado pelo município
 - O princípio de sustentabilidade
 - O caráter transversal e integral
 - A clareza das relações que se dão com os processos desdobrados em
zonas vizinhas.
49
Em resumo pode destacar-se que a gestão local de risco se caracteriza com base
nos seguintes pontos (Otero, 2009):

 - O risco constrói-se socialmente


 - É parte indissolúvel da gestão económica dos territórios
 - É parte da sustentabilidade do desenvolvimento
 - Atua pela interação entre os níveis do planeamento
 - O local é chave por ser o nível que se fortalece com os processos de
descentralização
 - A intervenção e solução do risco indevidamente expressa-se no local
 - O município e seus representantes são o elo principal pois são os
representantes da projeção do desenvolvimento local, são quem emite
normas e controla a aplicação de medidas e considera ainda o ponto
intermédio entre o nacional e o local
 - Dá possibilidade para a realização de projetos de intervenção nos
territórios, entre eles os projetos de desenvolvimento setorial, territorial
e integrais e os projetos corretivos ou preventivos para modificar alguma
situação de risco em particular.

2.3. Práticas fundamentais para vincular risco com o desenvolvimento

As práticas fundamentais para vincular risco com o desenvolvimento são (Otero,


2009):
- A existência de marcos lhes conceitue os projetos
- A realização de diagnósticos locais
- A participação dos atores locais nos projetos (participação e apropriação)
Para obter a prioridade 1 do Marco de Ação do Hyogo, 2005, dirigida a que “a
redução do risco de desastres seja prioridade; nacional e local”, requer-se uma sólida
base institucional para sua implementação, vital para garantir através de uma gestão de
risco integrada de planos de ação concretos que abranjam o enfoque territorial em
primeiro lugar e onde além se visualize a possível simultaneidade de ameaças em um
território dado que requer acionar sobre fatores de riscos mediante estratégias,
políticas, investimentos que permitam brindar operatividade compreensão pública em
50
busca de “uma maior efetividade e custo benefício” das intervenções. É importante
tomar em conta que a gestão de riscos abrange à gestão ambiental e a gestão social
como via para alcançar o desenvolvimento sustentável tão desejado (Otero, 2009).

3. Tendência mundial dos desastres nas últimas décadas, efeitos


económicos e em vidas humanas

Nos últimos 50 anos, uma série de sismos, secas, inundações e erupções


vulcânicas colocaram em risco as vidas de milhares de seres vivos e a destruição da
infraestrutura económica e social de vários países que acabaram por ir recuperando a
velocidades diversas, de acordo com a sua organização, nível de preparação, recursos
financeiros disponíveis, entre outros aspetos. Os desastres não se limitam a regiões
particulares, nem discriminam entre países desenvolvidos e países em
desenvolvimento.

Cabe assinalar como exemplo: o terramoto na China do 2008, todos são casos
eloquentes da crescente vulnerabilidade tanto dos países desenvolvidos como dos
países em desenvolvimento ante os perigos que desencadeiam desastres naturais,
ambientais e tecnológicos. Entretanto, apesar de todos os países serem suscetíveis aos
perigos naturais, constata-se que os países em desenvolvimento se veem muito mais
gravemente afetados, especialmente no que respeita à perda de vidas e à percentagem
de perdas económicas em relação com seu produto nacional bruto (PNB) ou em
términos de tempo de recuperação. Diversos estudos das Nações Unidas em 2006
revelaram que 90% das vítimas de desastres viviam em países em desenvolvimento.

Segundo António Guterres, Secretário-Geral das nações unidas, os políticos


devem abraçar os planos de gestão dos riscos e desastres para existir um
comprometimento com as populações mais vulneráveis. A referência a essa situação foi
realizada no dia 13 de outubro 2020, ano em que se celebra o dia internacional da
redução dos riscos e desastres naturais. Na realidade, é de alertar que os riscos também
devem ser da responsabilidade dos políticos de alto nível.

51
O relatório da ONU refere que as duas primeiras décadas do século XXI,
respetivamente de 2000 a 2010 e de 2010 a 2020, foram marcadas por surpreendentes
desastres climáticos.

Estima-se a ocorrência de 7.348 desastres em todo o mundo, sendo que


aproximadamente 1,23 milhões de pessoas morreram, “Segundo o relatório da agência
da ONU para a redução dos riscos dos Desastres”

Além disso 4 mil milhões de pessoas foram afetadas por desastres naturais, ou
seja, estas duas décadas causaram uma perda de 2,97 triliões de dólares na economia
global. Comparativamente com os anos transatos de 1980 a 1999, constataram-se
4.212 desastres relacionadas, com eventos naturais tendo estes causado 1,19 milhões
de mortes e uma estimativa da perda da economia de 1,63 triliões de dólares e mais de
3 mil milhões de pessoas foram afetadas por catástrofes naturais.

Verificou-se ainda que 37 739 pessoas foram afetadas por tsunamis e 21 656 por
sismos, sendo que, a esses valores se adicionaram as vítimas por inundações que
superaram o número de 5 000 mortos.

No princípio de 2005, realizou-se a Conferência Mundial das Nações Unidas


sobre a Redução de Desastres na cidade do Kobe, no Japão. No fim de 2004 tinha-se já
realizado a Conferência do Clima de Paris (COP 10) de Mudanças Climáticas. Portugal,
Alemanha, França e outros Países, bem como os investigadores e participantes das duas
conferências, consideraram preocupantes as alterações climáticas. Para desenvolver
adequadamente os temas debatidos consideraram uma insuficiente gestão do risco e
na preparação dos estados para enfrentar os eventos naturais e as modificações
prognosticadas do clima, situação esta que se reafirma todos os anos. Outros aspetos
que podem complicar a situação atual têm a ver com a crise financeira internacional
que se tem vindo a desenvolver com maior intensidade desde 2008.

3.1. Conceitos Básicos

52
No ano 2000 a gestão de desastre se converte em uma disciplina do
conhecimento e adquire uma terminologia e linguagem própria de grande utilidade
para enfrentar um problema de incidência global (Otero, 2009).

Arenas, A., 2002 realiza uma análise da progressão de perspetivas sobre a


temática, da década dos anos 40 quando surge o termo emergência, passando pelos
desastres, ameaças, vulnerabilidade, até o de risco que já no ano 2000 inclui a relação
que se estabelece entre perigos e vulnerabilidade, como se explica na Tabela 2 (Otero,
2009).

Tabela 2 - Progressão de Perspetivas

Década Término/Termo Enfoque/Perspetivas Atores

2000 Riscos Enfoque ao Atores do desenvolvimento


desenvolvimento

1990 Vulnerabilidade Enfoque social Acadêmicos de ciências sociais

1980 Ameaça Estudos científicos Comitês consultivos cientistas


exposição, obras de
engenharia

1970 Desastres Preparativos, Ciclo de desastres, ajuda


prevenção, mitigação. humanitária, emergência,
recuperação Organismos ad
hoc, Saúde, Cruz Vermelha

1940 Emergência Atenção a situações de Exercito, FF.AA


guerra

Fonte: Adaptado de Arenas, 2002, em Otero, 2009

Os termos básicos para conhecer o risco são 6 e dividem-se em duas categorias:


o de avaliação e estimativa do risco e o de redução do risco, que se distribuem
conforme expresso na Tabela 3, a seguir apresentada (Otero, 2009):

Tabela 3 - As etapas da gestão do risco

I. Avaliação e estimativa do risco a. Perigo


b. Vulnerabilidade
c. Risco

53
II. Redução do risco. d. Prevenção
e. Preparação e educação
f. Resposta à emergência

Fonte: Arenas, 2002, em Otero, 2009.

3.2. Etapa I – Avaliação e estimativa do risco

Ameaça ou perigo

É a probabilidade e intensidade com que pode produzir um fenômeno natural


ou antrópico que gera, em um determinado tempo e espaço, uma situação que
modifique o estado original de forma traumática. Na tabela 4 apresenta-se uma
classificação dos tipos de perigos conhecidos segundo sua origem (Otero, 2009).

Tabela 4 - Classificação dos perigos segundo sua origem

Perigos Causas diretas

Tipo Subtipo

Hidrometeorológicos Chuvas intensas, inundações e


Ciclones tropicais
ventos fortes

Tormentas severas Chuvas intensas, chuvas de granizo

Inundações Inundações costeiras por


penetrações do mar

Seca Modificação no regime de chuva e


temperaturas

Geofísicos Endógeno Movimentos Mudanças morfológicas, subsidência


Dinâmica eustáticos e ou elevação das costas
interna da tectónicos,
terra terremotos,
erupções vulcânicas
54
e tsunamis

Deslizamentos de
terra, derrube,
desabamento de
Mudanças morfológicas e erosão da
Exógeno geleiras,
costa
Dinâmica inundações, e
externa da retrocesso da linha
terra de costa

Rutura de represas,
Tecnológicos modificação da Inundações, deslizamentos de terras
drenagem e o relevo

Desmatamento,
Humano Inundações, enfermidades
contaminação

Infestações e
Biológico Enfermidades humanas, e animais
epidemias

Fonte: Otero, 2009

Vulnerabilidade

É a condição pela qual a população, a economia, o território, os imóveis, ficam


expostos a uma ameaça e depende da capacidade de resposta para enfrentá-la. Possui
um caráter multidimensional emoldurado em um processo de causa – efeito (Otero,
2009).

Fatores de vulnerabilidade segundo Otero, 2009:

- Económicos (inclui a ausência ou a má utilização dos recursos disponíveis).


Segmentos de população envolta, capacidade de gastos, posse e propriedade de
imóveis, ocupação e emprego, atividade económica, prioridade de investimentos, entre
outros
- Físicos (relativos à localização espacial dos assentamentos, qualidade
construtiva, aproveitamento do ambiente e seus recursos). Modalidade de ocupação,
55
zonamento de assentamentos e dotação de serviços, uso do solo e das edificações,
materiais e sistemas construtivos, antiguidade, nível de manutenção, entre outros.
- Ambientais ou ecológicos (prática agrícola, uso e dependência de
agroquímicos, uso de produções poluentes, fluxos de substâncias perigosas, qualidade
da água tratada, refugos sólidos e disposição, níveis de desmatamento, entre outros).
- Ideológicos culturais (abrange visão, conceitos e prejuízos, social, identidade,
pertença). Mitos, lendas, perceção do risco, conhecimento, consciência, costumes,
memória histórica, modelos patrões de adaptação ao entorno, consenso popular, nível
técnico e científico.

A vulnerabilidade aos desastres é multifatorial e a determinação de cálculo exige


o domínio do comportamento de diversos indicadores. Cada um possui um peso na
valoração definitiva, dependente do nível de exposição da população e bens
económicos, da resiliência, fatores importantes para diminuir as consequências dos
desastres (Otero, 2009).

A vulnerabilidade, por sua vez pode ser subdividida, de acordo com alguns
autores (e.g., Arenas, 2002) da seguinte forma (Otero, 2009):
- Estrutural: referida às diferenças e capacidades das edificações para resistir o
embate de um determinado perigo.
- Não estrutural: abrange a análise de redes vitais, infraestruturas técnicas,
eletricidade, comunicações, água, oleodutos, gasodutos, entre outras, que podem ficar
total ou parcialmente inutilizados.
- Funcional: refere-se ao conhecimento do efeito sobre as atividades da
população, cidades e territórios em geral gerados pelos diversos graus de afetação
alcançadas por vulnerabilidades estrutural e não estrutural.
- Ecológica: diz respeito aos valores de biodiversidade, recursos naturais, em
particular os ecossistemas mais sensíveis e áreas protegidas que perdem valores ou têm
capacidades de recuperação diferenciadas ante um perigo severo dado.
- Económica: reconhecida a partir dos elementos económicos expostos, áreas
agrícolas, pesca, indústrias, entre outras cuja destruição ou paralisação incidem no

56
desenvolvimento dos territórios, inclui além disso a aplicação de orçamentos dirigidos a
diminuir a vulnerabilidade dos diversos elementos em exposição.
- Social: é a expressão da afetação direta à população por um evento severo,
mediante a densidade, distribuição espacial, perceção do risco, capacidade de resposta.
Consoante o seu nível de capacitação e organização, pode abranger outros aspetos
como educação, valores culturais e a visão alcançada pelo tema. Pode considerar ainda
a preparação de políticas de centralização e descentralização ou centralização) e o
fortalecimento de instâncias locais para acionar ou prevenir desastres.

Risco

É a coexistência numa localidade da ameaça e da vulnerabilidade, e expressa-se


mediante a estimativa ou avaliação matemática de prováveis perdas de vidas, de danos
aos bens materiais, à propriedade, a economia, e às atividades da sociedade em pleno,
num determinado espaço e momento. O risco estima-se ou avalia-se como uma função
da magnitude do perigo (P) e o grau de vulnerabilidade (V) (Otero, 2009):
R ƒ (P, V)

Alguns autores identificam o risco a partir da relação probabilística (Otero,


2009):

R=P x V

A magnitude do risco depende em alto grau da capacidade de resposta ou


preparação que possui o território (resiliência), o governo, a população, a sociedade em
seu conjunto para acautelar e/ou responder ante o desencadeamento de um evento
severo capaz de gerar situação de catástrofe (Otero, 2009).
A materialização do risco tem como expressão: o desequilíbrio de componentes
naturais, a interrupção ou o retrocesso da economia de uma localidade, região ou país,
interrompendo por um tempo os avanços da sociedade (Otero, 2009).

57
3.3. Etapa II - Redução do risco

De acordo com as etapas denominadas: antes, durante e depois do


acontecimento (de um sinistro), na atualidade constata-se uma intenção generalizada
que tende a ir trocando o foco na gestão de risco, que passa agora de uma ação
limitada dirigida a uma outra ação que considera a prevenção como prioridade e via
para controlar situações de emergência, sendo que estas são sempre mais custosas de
executar nos instantes em que já se produziu a catástrofe. É fundamental pôr mais
ênfase nas ações de prevenção, sem desatender as ações a combater quando se estiver
em presença de uma situação inevitável de desastre, dada pelo modo em que vai
crescendo o nível de exposição de elementos ante os perigos (Otero, 2009).

Prevenção

Dentro do contexto da etapa de redução de risco se identificam as medidas ou


conjunto de medidas específicas de engenharia, legislativas, condutoras, entre outras,
desenhadas para proporcionar amparo contra os efeitos do desastre, considerando
perigos específicos, para ser implementadas no tempo, enquanto não se produzem
situações de urgência ou emergência. Com frequência observa-se que as autoridades,
estão mais dispostas a gastar na emergência (com tudo o que isso pode representar em
vidas humanas, perdas ambientais, materiais e económicas), que em investir na
prevenção (Otero, 2009).
O Momento da Prevenção, em cada país possui uma estrutura
institucional/organizativa que apesar das frequentes semelhanças, pode diferir
fundamentalmente das outras devido a sua particular cultura e idiossincrasia (Otero,
2009).

Preparação e educação

A preparação refere-se ao planeamento de ações para as emergências, o


estabelecimento de alertas e os exercícios sistemáticos de evacuação para uma
resposta rápida e efetiva durante uma emergência ou desastre. A educação se refere a
58
sensibilização ou consciencialização da população sobre os princípios e filosofia da
Defesa Civil de cada país, orientados principalmente para fomentar uma cultura da
prevenção (Otero, 2009).

Resposta à emergência

É o conjunto de ações e medidas utilizadas durante a ocorrência de uma


emergência ou desastre a fim de minimizar seus efeitos. Neste momento, requerem-se
decisões e ações rápidas e eficientes, implica efetuar evacuações para assegurar a
sobrevivência dos lesados e satisfazer as suas necessidades imediatas de segurança,
alimentação, saúde e dar segurança a seus bens. Especial ênfase deve dar-se ao tema
de gênero, infância e adulto, pois em todos os casos de desastre são os componentes
mais vulneráveis da sociedade (Otero, 2009).
Ações do Momento de Emergência segundo Otero, 2009:
- Alerta
- Ativação dos postos de direção para casos de desastre
- Resgate de vítimas
- Procedimento para a declarar emergência ou desastre
- Implementação de albergues provisórios
- Administração dos recursos públicos e doações
- Fontes de trabalho.
Nas emergências de pequena magnitude e pouco alcance, as responsabilidades
dos atores, geralmente não desenvolvem situações de conflito, entretanto, nas
emergências de grande magnitude, com situações à escala local que podem afetar um
ou vários municípios, uma região ou nação, podem desenvolver-se conflitos complexos
entre comunidades ou indivíduos, se estes não foram submetidos a educação ou
formação e se não foram prévia e claramente estabelecidas normas e procedimentos.
Uma elevada quantidade e diversidade de atores envolvidos podem converter-se em
potenciadores de incerteza. Isto também pode ter um alcance internacional (Ex.
Tsunami do Sudeste da Ásia, ou dos furacões que afetaram ao Caribe), nestes casos é
essencial estabelecer novos critérios internacionais de procedimento, para captar e/ou
outorgar e distribuir a ajuda externa (Otero, 2009).

59
No momento da emergência torna-se fundamental o bom funcionamento das
estruturas, e a clara delimitação das responsabilidades, pertinências, e competências,
para evitar o “desastre sobre o desastre”, que acontece em geral, pelas indefinições
existentes neste aspeto, ou pelos afãs de protagonismo ou oportunismo político que
frequentemente se apresentam durante as situações de crise em alguns países (Otero,
2009).
A modo de resumo mostramos as ações mais importantes para controlar um
risco identificado segundo (Lavell et al, 2003, Lavell, 2005 em Otero, 2009):
- Avaliar nos novos investimentos o risco de cada localidade e implementar as
ações para as reduzir ou as eliminar
- Estabelecer normas de ordenamento territorial e uso de solo que contribuam
para a segurança e investimento da população
- Destacar usos alternativos em localidades expostas a perigos de forma
reiterada
- Aplicar normas construtivas que minimizem a vulnerabilidade das instalações
- Propiciar o fortalecimento dos governos locais, comunais para garantir uma
intervenção efetiva na gestão do território,
- Capacitar a sociedade para as situações e fomentar a consciência da prevenção
- Aperfeiçoar os mecanismos de controlo de normas e fiscalização de
irregularidades e possibilitar novas soluções,
- Orientar projetos sob o princípio de obter sustentabilidade ambiental
- Incorporar a gestão do risco nos programas curriculares do ensino e fortalecer
na população a cultura da segurança e a gestão ambiental do risco
- Prover de iniciativas de prevenção ao âmbito local e promover políticas de
melhoria no que toca às práticas de gestão de recursos
- Propiciar os incentivos económicos por conceito da contribuição à redução de
riscos.
Estas ações possuem plena vigência na atualidade e dão respostas aos objetivos
referidos na na Cimeira de Hyogo, 2005. (World Conference on Disaster Risk Reduction
2005, Hyogo, Japão).

60
A sua adequada interpretação e implementação em todas as escalas do
planeamento contribuiriam para melhorar situações atuais diagnosticadas, ao evitar a
improvisação em contextos onde se atenta a incrementação da pobreza global (Otero,
2009).

3.4. Atores e os momentos da gestão de risco

Entre os atores, estão os agentes e organismos de desenvolvimento de um


território, ou uma localidade, um assentamento, uma cidade, um país, uma região, o
governo, os organismos de investigação, as organizações de massa, as instituições civis
e privadas e a população em seu conjunto como recetora do impacto gerado por uma
ameaça ou por seu alto nível de exposição e vulnerabilidade (Otero, 2009).

3.5. Termos e definições

Para abordar o tema dos riscos definido como um processo no nível da


localidade se faz útil precisar alguns termos e as suas definições que contribuem para
que os esforços no local sejam dirigidos de forma correta, eficaz e conveniente a
direção de a definição destes conceitos referidos Francisco (2013) são:
Risco: é a probabilidade de danos, perdas futuras associadas com o impacto de
um evento físico externo sobre uma sociedade vulnerável, onde a magnitude e
extensão destes são tais que excedem a capacidade da sociedade afetada para receber
o impacto e seus efeitos, bem como recuperar-se autonomamente deles (Francisco,
2013).
Risco primário: condição de risco existente na sociedade em situações de
normalidade inerentes aos processos de desenvolvimento e evolução da sociedade que
pode modificar-se a partir do impacto provocado por fenômenos físico naturais e crise
conjunturais da economia e a sociedade.
Risco social: referido às condições sociais de vida da população que podem
identificar-se como a pobreza, o subdesenvolvimento, a insegurança de estruturas,

61
entre outras que podem influir ou fazer perigar o desenvolvimento humano
sustentável.
Risco de desastre: é a probabilidade de ocorrência de impactes adversos sobre
as atividades económicas e sociais num sítio em particular e num determinado
momento, sendo que gera interrupção das atividades e não é possível a recuperação
autônoma, dependendo de ajuda externa (Francisco, 2013).
Risco secundário: constroem-se sobre a base do risco primário no instante em
que um fenômeno físico perigoso se instala e gera um impacto físico, entre os exemplos
podem referir-se: a insegurança alimentar e a falta de acesso à água potável (Rasga,
2015).
Sistema de gestão de risco: é a estrutura aberta, lógica, dinâmica e funcional de
instituições e organizações, normas, recursos, programas, atividades científicas
técnicas, de planeamento e participação da comunidade que velam por incorporar na
prática os processos de gestão de risco na cultura e desenvolvimento econômico e
social das comunidades (Rasga, 2015).
Gestão de risco: é um processo social complexo cujo único fim é o de fazer que
se reduza, se preveja e controle permanentemente o risco mediante a integração com o
desenvolvimento econômico, ambiental e territorial. Conta com diversos níveis de
intervenção nomeadamente, o global, a integral, o setorial e o macro territorial até o
local, o comunitário e o familiar (Louzeiro et al., 2019).
Gestão de risco local: consiste no processo de redução, de previsão e controle
de riscos manifestados no nível local, que se executam com a participação de atores
sociais de diversas jurisdições territoriais, internacionais, nacionais, regionais e locais.

3.6. A gestão do risco e a gestão do local do risco

A gestão do risco consiste num processo de construção social complexo, cujos


objetivos são a prevenção e controle permanente dos riscos de desastres na sociedade,
vistos de forma integral para permitir garantir lucros no desenvolvimento humano,
económico, social, ambiental e territorial com caráter sustentável (Otero, 2009).

62
Por sua vez surge como produto da materialização de um determinado modelo
de desenvolvimento que implica transformações económicas, sociais e ambientais, que
não devem comprometer mais ainda a vulnerabilidade das localidades (Otero, 2009).
Cada um destes níveis tem as suas particularidades e todos em conjunto
contribuem para a gestão do risco (Otero, 2009).

3.7. As componentes ou fases do risco como um processo

Os componentes ou fases do risco como um processo são (Otero, 2009):


- A dimensão atual e futura, resultante da construção coletiva a partir dos
processos de transformação económica e social de uma localidade
- A valorização de risco aceitável no contexto das transformações que no tempo
terão que dar-se
- A identificação de políticas, medidas e ações capazes de permitir tomar
decisões consequentes com os objetivos do desenvolvimento e a preservação da
população, o desenvolvimento econômico e social alcançados e a qualidade ambiental
- A implementação das estratégias, projetos e a monitorização dos seus efeitos.
A gestão de risco tem que fazer-se com uma visão integral que possibilita
alcançar os objetivos que se pretendem, não consiste apenas na soma de projetos
isolados com iguais fins. Requer uma análise de integração para obter os resultados
desejados (Otero, 2009).

3.8. Tipos de gestão para enfrentar os riscos atuais e futuros

Existem dois tipos de gestão para enfrentar os riscos atuais e futuros (Arenas,
2002 em Otero, 2009):
Gestão Correctiva: dirigida a solucionar os problemas identificados para uma
situação de partida ou diagnosticada, retificar os enganos cometidos na construção de
imóveis, na localização de investimentos iniciais, e também na aparição de novas
condicionais de vulnerabilidade no tempo produto da dinâmica do desenvolvimento

63
não consequente com a diminuição do risco (Otero, 2009). Este tipo de gestão divide-se
em (Otero, 2009):
- Conservacionista: intervenção de proteção sem incluir ou perseguir mudanças
significativas no contexto avaliado
- Transformadora: intervenção proposta que estimula as mudanças ambientais,
de produção, de assentamento; dirigidas mais à eliminação das ameaças e a redução da
vulnerabilidade de forma integral

Gestão prospetiva: considera-se como parte integrante. Executa-se como parte


do interesse que visa evitar um risco não existente que se projetou a partir de um
cenário, que inclui as novas intervenções do desenvolvimento. Um exemplo podem ser
as ações de adaptação para administrar os riscos esperados por conceito de mudança
climática, entre eles, a ascensão do nível médio do mar e a intensificação de secas
(Otero, 2009).

3.9. Dimensão do local na gestão do risco

A gestão de risco requer estruturas institucionais permanentes e organizadas


para desenvolver o trabalho, neste sentido os arredores do município constituem o
espaço ideal para realizar a gestão local de risco, por desempenharem um papel
promotor no desenvolvimento local (Arenas, 2002 em Otero, 2009).
A nível local, na prática, podem ter lugar 4 situações básicas relativas aos riscos
(Otero, 2009):
- O desastre frente a um nível dado de riscos preexistentes
- As diferenças territoriais do risco e de suas formas de expressão: o ambiental,
o económico, o social ou todos em uníssono
- O maior número de atores que levam a prática as políticas e programas de
redução de riscos e de recuperação, reabilitação/reconstrução
- O lugar onde se realiza a gestão a redução mais eficiente do risco, a partir da
coordenação e visa a integração das propostas de solução.

64
A esta escala aprovam-se planos de prevenção, incentiva-se a investigação e
efetua-se a monitorização do risco, pretende-se ainda contribuir para reduzir
vulnerabilidades, propor operações de emergência, efetuar ações de recuperação e
aplicar-se o marco normativo para a construção das edificações (Otero, 2009).
A gestão local do risco deve envolver o governo e toda a sociedade na
materialização das respostas em plena concordância com as realidades e possibilidades
de cada comunidade, que respaldem as orientações, políticas, ações e investimentos
que se brindam nacional ou regionalmente que se desenharam para conduzir o
processo de mitigar efeitos, reduzir vulnerabilidades, obter adaptações e reconstruir se
for necessário, para fechar o ciclo da gestão do risco (Otero, 2009).
O local pode construir-se também a um nível inferior (e até possivelmente o
trabalho de participação se obtenha com maior eficiência) e não se descartam outras
unidades de ação como a comunidade, a aldeia, ou a família, entre outros. Ao intervir
cada um age de acordo com uma cota de responsabilidade na gestão do risco, com
maior ênfase nas fases de captação do conhecimento e de implementação de ações,
sendo que a participação se ativa como um todo e é um processo contínuo. Para isso
pode precisar-se de comissões locais de emergência, que assumem diversas estruturas
(segundo os países), e que encaminhem por igual os seus esforços não apenas de apoio
às ações de emergência, mas também que desempenhem, pouco a pouco, papéis
interventivos mais importantes no momento da prevenção e na mitigação de efeitos
previsíveis, onde a integração de autoridades, instituições públicas, científicas, etc.,
permitem-lhes assumir uma maior responsabilidade, a ampla diversidade e
complexidade de trabalhos, sob um conceito totalmente integrador (Otero, 2009).
Alguns países com mais recursos económicos e humanos, organização e
prioridade política no tema da redução de desastres, conseguem estruturar o modelo
de gestão de riscos que pode ir do nível nacional da base ao topo, pondo em prática
todo um instrumental de comunicação, organização da sociedade, domínio dos perigos
e vulnerabilidades que permitem minimizar perdas em vidas humanas em primeira
instância e dos recursos económicos, móveis e imóveis chegando até a comunidade em
todos seus momentos e com um amplo trabalho participativo de atores (Arenas,2002
em Otero, 2009).

65
4. Impacto, Vulnerabilidade, Adaptação às Inundações no
Contexto do Bairro dos Eucaliptos

O homem sendo o elemento transformador do ambiente, que nele vai


desenvolvendo certas atividades que podem causar impactes positivos ou impactes
negativos ao próprio ambiente, vai alterando assim o cenário das mudanças climáticas
que se verificam hoje, tais como as cheias, a seca os grandes eventos extremos (ilhas de
calor, e ventos fortes), ao desaparecimento de várias espécies marinhas, a subida das
águas do mar, os tsunamis e as erosões ao meio ambiente.

4.1. Cenários de Alterações Climáticas

As modificações do clima a longo prazo, assim como sua variabilidade atual, são
objeto de estudo pela comunidade científica internacional; o uso pelo homem de
combustíveis fósseis para gerar eletricidade, no desenvolvimento dos processos
produtivos industriais, as atividades agrícolas, de serviço e o transporte, assim como no
uso domiciliário para calefação ou refrigeração e cocção de mantimentos constitui a
causa principal do incremento da proporção de gases de efeito estufa em particular o
CO2 à atmosfera, que repercutem na ascensão das temperaturas da atmosfera, os
mares e oceanos; estes fenômenos de caráter global que provocam impactes
diferenciados por latitudes, regiões, ecossistemas e setores de atividades (Otero, 2009).
Desenvolveram-se várias gerações de cenários e modelos de cálculo do
comportamento das temperaturas e sua distribuição espacial a nível global, de
moderados, regiões e países nos últimos anos para estimar uma situação previsível.
Estes modelos possuem diversos níveis de precisão, quando ocorrem requerem um
elevado número de indicadores do comportamento meteorológico, séries históricas de
dados, entre eles, os ritmos estimados de crescimento das emissões de gases de efeito
de estufa pelos países e se executam por programas e técnicas computadorizadas
(Otero, 2009).

66
Outro fenomeno esperado é a mudança na intensidade e frequência de eventos
meteorológicos extremos, que como os ciclones e furacões, as altas precipitações e as
secas aparecem com maior periodicidade em territórios mais amplos e causam grandes
perdas à economia dos países e a população, com especial interesse no âmbito da
produção de mantimentos e a satisfação das necessidades alimentares de uma
população crescente (Otero, 2009).
Entre outros impactes esperados se encontra as afetações aos ecossistemas
marinhos e terrestres, a redução das disponibilidades dos recursos hídricos, a redução
dos rendimentos e níveis de produção de mantimentos agrícolas, a modificação dos
padrões de aparição e desenvolvimento de enfermidades humanas (Otero, 2009).
As zonas costeiras podem vir a apresentar os impactes mais significativos, em
particular em zonas baixas e em pequenas zonas insulares onde a ascensão do nível
médio do mar provocado pela dilatação da água dos oceanos e o acelerado processo de
derretimento das calotes polares com valores entre 27 e 85 cm de ascensão nos
próximos 50 e 100 anos com impactes à população e atividades económicas assentes
nas costas, IPCC, 2007 (Otero, 2009).
Os trabalhos de redução de desastres e os estudos de mudança climática têm
pedestais de uma coluna diferentes e transitaram que forma independente. A mudança
climática é o resultado da ação antrópica ao emitir o homem elevados volume de gases
efeito estufa (GEI) à atmosfera como resultado do uso do combustível fóssil nos
processos industriais, o consumo doméstico, o transporte, entre outros, com o
consequente aquecimento da atmosfera e aumento das águas do nível médio do mar,
além disso influi na frequência ou recrudescimento de eventos meteorológicos severos
causadores por igual de situações de estresse de territórios e de catástrofes (secas,
chuvas intensas, e intensidade de furacões), portanto as ações que se tomem em uma
ou outra disciplina suportam o mesmo objetivo. EIRD referiu gestão de riscos e
prevenção, enquanto IPCC desenvolveu duas linhas de trabalho: a mitigação (redução
de emissões do GEI) e a adaptação dos ecossistemas, as comunidades, as atividades
económicas e o homem em geral (Otero, 2009).
As duas organizações estão adstritas ao Sistema de Nações Unidas e junto ao
PNUD e ao PNUMA, entre outros, disseram unir os seus esforços e recursos e

67
estabelecer as sinergias necessárias para contribuir à formulação de políticas do global
ao local e incidir na preparação da população ante as emergências que se apresentam,
com programas de ação conjunta capazes de enfrentar com maior eficiência a
ocorrência dos eventos Hidrometeorológicos severos derivados tanto da variabilidade
como das mudanças climáticas (Otero, 2009).
Outros eventos naturais alheios ao comportamento do clima e com incidência
na população, economia e meio ambiente como, sismos, tsunamis, seguirão sendo
tratados de maneira personalizada pelo EIRD dadas as perdas que destes fenômenos
naturais têm vindo a causar e as necessidades de encontrar respostas necessárias pela
comunidade internacional (Otero, 2009).
Unir estes esforços foi a colocação deixada pelo UNFCCC - Technical Workshop
on integrating pratique, tools and systems for climate risk assessment and management
and disaster risk reducction strategies into national policies and programes”, que sob o
programa do Nairobi sobre os impactes, vulnerabilidade e adaptação ante a mudança
climática, teve por sede a Havana, Cuba em março do 2009; onde ficou de manifesto a
necessidade de aglutinar e especificar estes temas e fortalecer os esforços em todas as
ordens e muito em particular ao canalizar recursos financeiros para desenvolver uma
estratégia comum de trabalho no futuro. (Otero, 2009).

68
CAPÍTULO IV – CASO DE ESTUDO DO BAIRRO DOS
EUCALIPTOS

1. Análise e Revisão dos Fatores de Riscos e Realojamento


Urbanística

Neste capítulo caracteriza-se o Bairro dos Eucaliptos: (1) do ponto de vista


biofísico e urbanístico, nomeadamente clima, vegetação, fauna, solo, sustentabilidade,
princípios da sustentabilidade e benefícios e a planificação física existente; (2) define-se
a estrutura físico-espacial do Bairro e os vínculos com as áreas de influência; a
organização urbanística e territorial; a estratégia de realojar as populações deste
território dos Eucaliptos; o modelo territorial, os Instrumentos do Ordenamento para
realojamento e a determinação dos pontos fortes, pontos fracos, oportunidades e
ameaças.

1.1 Caraterização desde o ponto de vista biofísico e urbanístico ao bairro dos


Eucaliptos

As imagens a seguir apresentadas assinalam algumas das problemáticas já


referidas. Na Figura 6 é possível observar uma visão panorâmica que mostra as
construções desordenadas no Bairro dos Eucaliptos.

De seguida transcrevem-se as respostas às perguntas de investigação elaboradas


no início desta dissertação, com base nas entrevistas e inquéritos conduzidos.

Será possível ficar a conhecer os principais fatores de riscos existentes no Bairro


dos Eucaliptos, em Angola, e consequentemente elaborar um Plano de realojamento
urbanístico territorial capaz de contribuir para a mitigação desses problemas e melhorar
a qualidade de vida da população?

A questão anterior poderá ser ainda subdividida nas seguintes perguntas:

69
Quais os principais riscos que existem no Bairro dos Eucaliptos que contribuem
para que a população não tenha uma vida de qualidade?

Existem inúmeros problemas que estão na base dos riscos eminente que o
bairro enfrenta:

1- O fraco saneamento básico; que torna uma ameaça para a saúde dos
moradores

2- Água que a população consome não adequada devido a salubridade


excessiva;

3- Relativamente ao solo, não reúnem condições para a sua construção


devido há existência do lençol freático;

4- Na questão ambiental o bairro é muito pobre no referente à cobertura


vegetal; a arborização é praticamente inexistente;

5- O bairro está localizado em uma linha de água, que é praticamente a


passagem das águas, quando o rio Bero faz o seu transbordo para o seu
leito de cheia.

O tipo de construções e a sua localização influencia a população e a sua


qualidade de vida?

1- O bairro em si, por ser uma periurbna muita segregação urbana,


construções desordenadas (autoconstruções dirigidas), o que contribui
para uma débil qualidade de vida dos moradores, nomeadamente:

2- Falta de planos diretores municipais, planos urbanísticos, e planos


urbanísticos de ordenamento de território junto das autoridades
governativas do país e da provincial;

3- Falta de comprometimento com o bem-estar das populações, de quem


governa o país;

4- Falta de planos das Reservas Agrícolas Nacional (RAN), e Reserva


Ecológica Nacional (REN);

70
5- Falta de planos de asseguramento para eventos extremos como cheias
e seca que assolam a região sul de Angola.

O que é necessário para elaborar um Plano de realojamento urbanístico?

Para que se elabore um plano é necessário que se crie uma equipa


multissectorial, liderado por especialistas, como arquitetos, urbanistas, projetistas e
outros elementos, dotados na matéria para se encontrar soluções para mitigar os vários
problemas que a população deste bairro enfrenta.

Que outros fatores têm vindo a afetar a vida da população e que


consequentemente devem ser alterados ou mitigados? (Infraestruturas, processos
económicos, de saneamento básico, higiene, saúde, efeitos das inundações,
desflorestação estarão também a contribuir para os problemas da população?)

Existem muitos problemas que é necessário mencionar, tais como a


criminalidade. O bairro em estudo já foi considerado como um dos lugares mais
perigosos da cidade, devido a formação de grupos de meliantes que aí existiram (anos
1990). Com o passar dos anos as situações tonaram-se mais calmas, devido a um
esforço grande das forças policiais. Hoje viver no Bairro dos Eucaliptos é um desafio
devido a vários fenómenos que se desenvolvem neste local, como criminalidade, a
delinquência juvenil, o tráfico de drogas ou as construções desordenadas de casas.

Figura 6 - As construções desordenadas no bairro 71


Fonte: Walter José Tchivela/Nilton Ucuanjongo
Por outro lado, fica expresso na imagem seguinte (Figura 7) os momentos de
inundação que tiveram lugar nalgumas fazendas.

Figura 7 - Momentos da inundação em algumas fazendas da


cidade do Namibe
Fonte: Governo do Namibe

72
1.2. Enquadramento histórico do Bairro dos Eucaliptos

O Bairro em estudo surgiu antes da independência de Angola, nos anos


1965/66. Após a independência, teve um crescimento desordenado (construções
anárquicas, ruas estreitas, material utilizados adobes, coberturas de chapas zinco,
inexistência de conexão entre as ruas, etc.). Dia após dia, foram surgindo construções
sem um plano de loteamento de terrenos e ou um estudo ambiental da área, pois, por
ser uma zona de risco em todas as vertentes, era necessária uma intervenção de
especialistas ligados à área do ambiente, para melhor ordenar o território.

1.2.1. Caraterização socioeconómica do Bairro dos Eucaliptos

Relativamente à caracterização socioeconómica, o Bairro em estudo conta com


vários estabelecimentos comerciais legais e alguns ilegais. Quanto aos equipamentos
sociais, tem quatro Escolas, um Centro de Saúde, e um Posto de Saúde, pertencente à
Polícia Nacional, uma esquadra policial, um campo de futebol onze. No que diz respeito
aos equipamentos económicos, existem treze, dezassete lojas de pequena dimensão,
quatro oficinas de serralheiros, três moageiros, três farmácias e sete armazéns de
grande e média dimensões. De notar que na Figura 8 apresenta-se uma visão ampla de
uma das escolas - a Escola do Ensino primário 31 de janeiro -, e a Figura 9 mostra o
Centro de Saúde do Bairro dos Eucaliptos.

73
Para além disso, com base no ponto de vista socioeconómico o Vice-governador
da Área Técnica e Infraestrutura do Namibe assinalou que o Bairro dos Eucaliptos como
um bairro não viável socialmente. Constatou ainda que não há recolha, nem tratamento
de águas residuais e de resíduos sólidos e existe uma forte atividade comercial informal
que contribui substancialmente para a produção de resíduos.

Figura 8 - Escola do Ensino primário 31 de janeiro


Fonte: Walter José Tchivela/Autor

Na Figura 9 conseguimos observar a entrada do centro de saúde do bairro dos


eucaliptos, de construção pré-fabricada, material de batlite e hoje apresenta algumas
precariedades.

74
Figura 9 - Centro de Saúde do Bairro dos Eucaliptos
Fonte: Walter José Tchivela/Autor

1.3. Caracterização Biofísica da Província do Namibe

1.3.1. Ambiente biofísico da Província

A província do Namibe por apresentar um clima que árido, ao longo da sua faixa,
ela sofre grande influência pelas correntes frias de Benguela que nos meses de maio e
agosto os valores são muito baixos rodando aos 15ºC, já nos meses de novembro e
dezembro ocorrem os valores mínimos da humidade relativa do ar.
Os ventos são muito regulares por serem influenciados pelas correntes de
Benguela que sopram das altas monções e vai até a baixa monções em todo ano.

Clima
O clima da província do Namibe é considerado o melhor de toda costa litoral de
Angola, tropical de altitude, nas zonas limites (com variação entre os 17 e os 25ºC) ao
longo do litoral (Francisco, 2013).
De acordo com a classificação de Thornthwaite, o clima da província do Namibe
é árido ao longo de uma faixa ocidental e semiárida na parte restante, excetuando uma
estreita faixa no (NE) da província com clima sub-húmida seco, marcando a transição
para os planaltos do interior com clima húmido (Francisco, 2013).
A humidade relativa diminui do litoral para o interior, sendo da ordem dos 75 a
80% junto à costa e de 55 a 60% no planalto (Francisco, 2013).
75
Na zona costeira, isto é, Benguela, Luanda e Namibe, os valores mais altos
ocorrem de junho a agosto, sendo da ordem dos 85%. (Francisco, 2013). No interior os
valores mais elevados, cerca de 70%, verificam-se no mês de março.

Vegetação e Fauna
Fruto das características climáticas da região, as comunidades vegetais típicas
são essencialmente moldadas pela sua capacidade de se adaptar a secura. A vegetação
predominante nesta parcela do país é o deserto, estepes povoadas de pequenos
arbustos, destacando a rara planta Weliwítschia mirabilis (Francisco, 2013).
A fauna terrestre apresenta características únicas ao nível das suas
componentes específicas no panorama nacional, fruto das particularidades
biogeográficas da região (Francisco, 2013).

Solo
De acordo com a classificação FAO-UNESCO, dos 10 agrupamentos principais de
solos que ocorrem na província, o mais representativo é o agrupamento Calciosolos
(solos com o interesse agrícola limitado) cerca de 28,6%, devido sobretudo à presença
de Calciosóis lúcidos com cerca de (16,1%) (Francisco, 2013).
No entanto, verifica-se que cerca de 45% da província (quase a totalidade da
região Sul), foi cartografada com a designação de Terrenos Rochosos. As áreas com
potencial de utilização agrícola são restritas limitando-se às baixas aluviais dos
princípios rios. Fora da faixa costeira, as áreas com potencial agrícola mantem-se
reduzida às estreitas orlas fluviais dos principais rios (Francisco, 2013).

Sustentabilidade
A componente da sustentabilidade implica definir as ações e atividades humanas
que visam suprir as necessidades atuais dos seres humanos, sem comprometer o futuro
das próximas gerações. Ou seja, a sustentabilidade está diretamente relacionada ao
desenvolvimento económico e material sem agredir o meio ambiente, usando os
recursos naturais de forma inteligente para que se mantenham no futuro. Segundo
estes parâmetros, a humanidade pode garantir o desenvolvimento sustentável
(Francisco, 2013).
76
Princípios da Sustentabilidade
Partindo do princípio de que a sustentabilidade é a exploração de um
determinado recurso com responsabilidade, pensando e salvaguardando as gerações
vindoura (filhos, netos e bisnetos).
Assim podemos garantir o equilíbrio dos grandes ecossistemas terrestres
(marinho, aquático e terrestre), mas para tal devemos pensar em fontes de energias
limpas (energia eólica e energia solar), pautar para o processo de reciclar os materiais
que achamos que já não se tem utilidade, sobretudo os resíduos urbanos, passarem por
um processo de seleção de forma a futuramente serem reutilizados.

Benefícios
Os vários estudos leva-nos a orientar que o processo de combater o
desmatamento é um esforço que não pode apenas ser apenas do Ministério do
ambiente, mais sim de todos.
A província do Namibe encontra-se entre o deserto e o mar, por esta razão
temos registados aumento de altas temperaturas nos meses de verão. Para tal o
processo de plantação de árvores tem que ser algo contínuo, devido às alterações
climáticas que se têm verificado. Entretanto, a escassez de zonas verde leva-nos muitas
das vezes a consumir muito ar condicionado, que é bastante prejudicial à nossa saúde,
forçando assim as máquinas a libertar CO2 para atmosfera.
Estudos revelam que lugares com pouca arborização têm poucos estudos em
termos de capturas de imagens por satélite, porque elas ficam com pouca resolução,
devemos denunciar publicamente a exploração abate das árvores na floresta do
Maiombe (Cabinda), para que as gerações futuras possam também beneficiar do
encanto desta floresta. Pesquisas publicadas na revista Nature, afirmam que cobriram
uma área de 1,3 milhões de Km e analisaram mais de 11 mil imagens. Estas técnicas de
análises sugerem que no futuro talvez seja possível mapear uma determinada
localidade para se determinar a quantidade de Carbono está sendo armazenado nessa
área. Contudo, Brandt, diz que ainda é prematuro falar disto porque os estudos ainda
estão a ser realizados.

77
1.3.2 Caraterização biofísica do Bairro Eucaliptos

O Bairro dos Eucaliptos, está situada num perímetro urbano da cidade de


Moçâmedes, na Província do Namibe e ocupa uma área de aproximadamente 57 km². É
limitado ao Sul pelo Bairro Forte Santa Rita, a Este por uma área florestal, pertencente
ao Instituto de Desenvolvimento Florestal (IDF), a Norte pelo Armazém do Sr. Rafael e a
Oeste pelo Centro Médico dos Eucaliptos.
Existe uma zona florestal, mas encontra-se alterada por estar destituída da
vegetação natural que exerça o papel ecológico necessário à estabilidade do local.
Portanto, pode salientar-se que, do ponto de vista biofísico, a floresta necessita de uma
intervenção urgente dos ambientalistas, por se encontrar muito degradada, invadida
por abundante lixo em decomposição que afeta quer a área, quer as comunidades
vizinhas, causando doenças que provocam o aumento da taxa de mortalidade,
sobretudo relativa a crianças da região.
De referir que muitas vezes em vez de brincar em terrenos limpos as crianças
recorrem as lixeiras para as suas brincadeiras e frequentemente procuram restos de
alimentos em casos extremos de pobreza (Figura 10). Essas expedições contribuem para
o aumento de doenças infeciosas e de mortalidade infantil.

Figura 10 - Crianças a brincar no Lixo


Fonte: Walter José Tchivela

Por outro lado, é também possível constatar outras situações problemáticas,


nomeadamente o facto de as lixeiras com o tempo tenderem cada vez mais a aumentar

78
de tamanho e a invadir a pouca vegetação que ainda existe. Isso pode ser constatado
através da observação da Figura 11.

Figura 11 - A pouca vegetação a ser invadida


pelo lixo
Fonte: Walter José Tchivela

O Bairro dos Eucaliptos está marcado por numerosas deficiências quer no


domínio da biodiversidade que contribuem para a desproteção face a ocorrências
extremas (secas, inundações); quer relativo à existência de informação sobre a fauna, o
que gera conflitos entre partes defensoras da fauna selvagem e os produtores de gado.
A outra situação que afeta o ambiente da região é o saneamento da zona ou da
área. Nas zonas periféricas, o saneamento é ainda deficiente; embora existam vários
recipientes para o depósito dos resíduos, a sua recolha é muito deficitária. É possível
encontrar focos de lixo em diferentes áreas. Para além disso é também possível
observar focos de água estagnada, como se verifica na Figura 12, à entrada do Hospital,
no Bairro dos Eucaliptos.

Figura 12 - Hospital, água à entrada


Fonte: Walter José Tchivela 79
Em termos de saneamento pode ainda referir-se, tal como apresentado na
Figura 13, que a falta de esgotos e valas de drenagem das águas são alguns dos
problemas com os quais a população se depara.

Figura 13 - A falta de esgotos e valas de


drenagem das águas
Fonte: Walter José Tchivela

1.3.3. Caraterização demográfica do Bairro dos Eucaliptos

Do ponto de vista de números de famílias comerciantes, o Bairro conta


aproximadamente com 2 860 famílias comerciantes, uma média de 6 pessoas por
agregado familiar.
Segundo os dados vindo da administração comunal do Bairro, o número total de
habitantes é de 14 300.
A Tabela 5 apresenta a totalidade da população em termos de gênero. Nota-se
que, de acordo com os Censos de 2011, realizados pelo Instituto Nacional de Estatística,
se verificava que a população consistia num maior número de mulheres do que
homens.

Tabela 5 - População do Bairro dos Eucaliptos | Censos 2011

Bairro dos Eucaliptos Total da População Homens Mulheres

80
14 300 Habitantes 6 963 7 337

Fonte: INE, 2020

Relativamente aos rios que inundam o bairro, apenas existe um, o Bero, um
curso de água do Namibe que faz parte da vertente atlântica.
A província apresenta-se dividida, do ponto de vista geomorfológico, em três
sectores:

1. O do Norte do Bero, correspondendo a uma plataforma de largura


relativamente reduzida e de relevo praticamente inexistente, onde os
cursos de água cavaram vales de orientação E-W;
2. O do Sul do Bero, em que o número de linhas de água diminui
consideravelmente, correspondendo este sector a uma vasta
peneplanície cortada pelos vales do rio Matere, Flamingos e Curoca;
3. O do Sul do Curoca, onde se observa apenas uma extensa área coberta
por dunas, produto da erosão associada àquele rio.
4. Diante do fraco desassoreamento verificado nesses últimos anos e por
falta da não conclusão da obra ligada à construção dos esporões,
verificou-se que a água começou a correr fora do seu curso normal,
verificando-se cheias que, habitualmente, surgem de forma cíclica (10
em 10 anos ou 15 em 15 anos). A água passou pelas fazendas,
atravessando a estrada e acabou por inundar o Bairro dos Eucaliptos e
arredores, causando transtorno a todos os domínios sociais.

2. As Grandes Cheias que se abateram no Dia 5 de Abril de 2001

Os meses com maiores precipitações anuais da província são fevereiro, março e


abril que rondam entre as precipitações média anual de 39mm no local e de cerca de
300mm na bacia. Estas precipitações sazonais contribuem para o aumento do caudal
dos rios causando inundações.

81
Figura 14 - Rio Bero – causa das inundações
no Bairro dos Eucaliptos
Fonte: IGCA, 2019

Em princípio temos que ter em conta que o rio Bero é um rio intermitente ou
temporário (Figura 14) alternando de acordo com as precipitações. Este tipo de rio
possui água apenas na época chuvosa e não tem caudal na época de seca ou estiagem.
O rio Bero por apresentar estas características e por ser o único rio que passa
junto à cidade do Namibe, é alimentado pelos outros rios da província vizinha (Figura
15) como por exemplo da Huíla, pelo rio Nambambi. Por sua vez esta província sofre a
realimentação pelos rios do planalto central Huambo e Bié, originando assim grandes
transtornos nos meses de fevereiro, março e abril.

82
Figura 15 - Os principais rios que inundam a
província
Fonte: IGCA, 2019

No que diz respeito aos aglomerados urbanos e às hortas, foram traçados planos
na sequência das cheias catastróficas de abril de 2001. Deu-se início, em setembro do
mesmo ano, à execução de um conjunto de intervenções que tiveram como objetivos:

1. Defender a cidade e a sua população, impedindo que as águas


inundassem a cidade;
2. Impedir que as águas afetassem a circulação rodoviária e as
infraestruturas, redes técnicas urbanas, nomeadamente, a captação de
abastecimento da cidade, que se situa junto da margem esquerda do rio;
3. Garantir a atividade agrícola contínua nos terrenos adjacentes ao rio,
aproveitando as suas enormes potencialidades.
4. Para atingir este objetivo, foram executadas as seguintes intervenções:
a. Reconstituição do leito do rio, procurando, com isso, evitar o espraiamento das
águas;
b. Fixação e defesa da margem esquerda, tendo em vista garantir que as águas
não saiam do leito.

83
O Gabinete de Obras Públicas do Namibe adotou as seguintes medidas da
reconstituição do leito do rio:

 Eliminação da vegetação arbustiva que se tinha desenvolvido ao longo


dos anos no leito do rio;
 Regularização do leito, eliminando os inúmeros depósitos que se forma
criando o leito;
 Aprofundamento do leito do rio, em toda largura (400m), com
aproveitamento dos materiais escavados na criação de diques marginais;
 A fixação e defesa da margem esquerda, os objetivos fundamentais da
intervenção, foram conseguidos com recursos da construção de um
dique, com 5m de altura e cerca de 7 670m;
 No da margem esquerda, que protege a cidade, não se aceitou esta
situação, porque esta margem pretendia ser uma barreira inexpugnável
até as cheias excecionais. Por um lado, enquanto o dique da margem
esquerda estava enraizado a montante numa zona alta, por outro, o
dique da margem direita terminava a montante desenraizado. Esta
situação tornava-o vulnerável à erosão do talude de tardoz, se a água,
numa cheia, passasse por trás do dique.

A Tabela 6 que refere análise de SWOT foi elaborado na base nas fragilidades
que o bairro apresenta desde o ponto de vista biofísico, ordenamento do território, a
mobilidade, o saneamento básico a criminalidade e da gentrificação urbana.

84
Tabela 6 - Análise de SWOT do Bairro dos Eucaliptos

Pontos Fortes Pontos Fracos Oportunidades Ameaças

 Localização geográfica do  O Bairro está situado numa  Reconversão do bairro  Elevados índices de criminalidade
Bairro, na entrada da zona periurbana  Plantação de Eucaliptos e Bananal por assaltos à mão armada
cidade  O Bairro esta localizada na linha no bairro  População fragilizada por
 Constitui a cintura verde, d´água do Rio Bero  Transformar em zona verde da imigrantes vindos da RDC
área adjacente do Bairro  Esta sobre um lençol freático Cidade (polígono florestal)  Fortes frequências de construções
 Facilidade no escoamento  Habitações precária (adobe)  Criação de um plano estratégico de armazéns
dos produtos vindo das  Fracas condições de de evacuação das populações  Números construções de cubatas
zonas de cultivos para os saneamento básico (esgotos,  Colocar o bairro em manutenção de chapas ainda podem aumentar
mercados formal e latrinas, falta de passagem de temporária (Demolição)  Muito quente, por falta de
informal águas paradas)  Uma forte predominância no arborização
 Passagem da estrada que  Solo impróprio para a comércio tradicional (informal)  Aumento de doenças tropicais
liga a cidade do Namibe construção de residências  Criação de chafarizes, sondas para (paludismo, febre tifoide, as
com as demais províncias (impermeável) a população consumir água em diarreias agudas e a malária)
(Lubango, Benguela e  Falta de arborização no bairro perfeitas condições
Cunene)  Autoconstrução, com
 Concentração de possibilidade de ilegalidade de
infraestruturas de grande lotes
impacto (armazéns)  Baixo índice de classe social e

85
 População de escolaridade
maioritariamente jovem  Área não planeada
 Instalação de
Crescimento desordenado de
equipamentos sociais
casas

 Falta de segurança
policiamento de proximidade
 Grandes aglomerados de lixos
ao redor do Bairro
 Grandes dificuldades de
mobilidades das pessoas e dos
veículos

Elaborada pelo autor

86
3. Problemas em processos de realojamento em alguns Bairros de
Angola

O Panguila (Luanda) e Valodia II (Namibe) são dois bairros para onde foram
realojados moradores de grandes bairros problemáticos.
Os moradores da Chicala (Luanda) foram relocalizados para uma zona com
menos risco, indo ocupar o Bairro Panguila. No entanto, este realojamento teve sérias
críticas uma vez que houve ausência de acompanhamento por parte das autoridades e
as pessoas foram colocadas em habitações sem condições. A construção destas
habitações era inadequada e com materiais precários. De facto, estavam revestidas a
esferovite, tinham paredes metálicas, apenas três pequenas divisões, chão de cimento
bruto e tecto de chapa de zinco vermelha, falta de água para o consumo. Em questões
de equipamentos sociais, faltavam hospitais e esquadras policias, deixando assim as
populações em condições de grande vulnerabilidade.
A par disso o mesmo sucedeu com as populações que viviam no Tinguita, o
estado retirou as populações daquele local e colocou-as numa zona muito distante, a
Substação electrica do Valodia II. Tendo cedido lotes de terras para aquelas populações.
Isto demonstra que o processo de realojamento das populaçãoes em Angola é
ainda muito deficiente e pouco adquado, fundamentalmente devido à falta de
acompanhamento e monitorização por parte do Estado.
A título ilustrativo apresenta-se aqui a imagem após chuvada de um bairro em
Luanda (Figura 16).

87
Figura 16 - Alguns Bairros de Luanda, depois da última chuva
Fonte: www.google.pt, 2021

3.1. Determinação da estrutura físico-espacial do Bairro dos Eucaliptos e os


vínculos com as áreas de influência

Podemos salientar que o bairro dos Eucaliptos do ponto de vista físico-espacial


requer uma análise e intervenção urgente, para a sua integração urbana. De facto,
apresenta uma situação peculiar caraterizada pela existência de mercados informais
que geram situações difíceis de resolver por deposição desregrada de abundante lixo
que entra em decomposição afetando a comunidade local, bem como as comunidades
vizinhas, causando doenças, ou até mesmo levando à morte de crianças na região.
O Bairro dos Eucaliptos sendo uma área periurbana está na proximidade de
diversos bairros tais como: Praia Amélia, Forte Santa Rita, Torre do Tombo, Valódia
(Plató), Cambongue, Macala Tchipati, Saco-Mar, Mandume Nação Praia, Cassanje,
Popular e bairro Aida. Tal como o dos Eucaliptos estes bairros apresentam condições
problemáticas do ponto de vista habitacional.
A Figura 17 apresenta a divisão administrativa dos bairros realizada pelo Sr.
Ildeberto Serra Madeira. A Figura mostra os bairros que constituem a cidade de
Moçâmedes.

88
Figura 17 - Divisão administrativa dos bairros de Moçâmedes
Fonte: Imagem de Ildeberto Madeira (2002)

3.2. Organização urbanística e territorial

Na cidade do Namibe, a fixação das populações teve lugar, inicialmente, nos


bairros periféricos. Com o alastramento e densificação dos mesmos, surgiram novas
edificações em espaços vagos, tanto nos logradouros dos lotes já formados, como nos
espaços expectantes. Isto deu lugar ao surgimento de novos bairros de construção
irregular na periferia, tal como o Bairro dos Eucaliptos, junto da estrada de saída para o
Lubango (GPN, 2013).
Com as inundações do Rio Bero, em 2001, que provocaram o desalojamento do
enorme aglomerado populacional do Bairro da Nação Praia tem início a construção de
um dos maiores Bairros da cidade – o Bairro 5 de Abril. De forma a responder ao
alojamento daquela população foi delineado o loteamento de uma vasta área, na zona
SE da cidade, destinado a autoconstrução (GPN, 2013). O Bairro dos Eucaliptos foi
também impactado por estas inundações e posteriores ocupações.
O contínuo crescimento urbano e a procura de terrenos para o desenvolvimento
de novos projetos levam a que áreas marcantes e com forte valor simbólico sejam
desde já acauteladas, tendo em conta princípios urbanísticos de base que permitam a
salvaguarda destes espaços. Apesar da simplicidade a que se soma a fraca qualidade
das construções (material local), houve a preocupação em assegurar uma ocupação
regrada do espaço, tendo em vista a sua futura infraestruturação (GPN, 2013).
89
De notar, que em todos municípios da província existe uma contínua procura de
terrenos para construção, o que pressupõe a necessidade de acautelar os
procedimentos urbanísticos dadas as características naturais dos municípios sobretudo
do Namibe e Tômbwa. Ainda assim, segundo o GNP (2013) todos os projetos de
urbanização a realizar nestas duas cidades devem ter em conta os seguintes fatores de
elevada perigosidade/vulnerabilidade natural:
1. Área envolvente de feição desértica (Tômbwa) e semidesértica (Namibe);
2. Tipo de escoamento superficial associado aos rios Bero e Curoca, que implica
a regularização das margens e trabalhos aplicados de hidráulica à gestão adequada dos
leitos e margens, bem como ao aproveitamento subterrâneo das águas superficiais (de
modo a permitir a continuidade da retenção de água no subsolo);
3. Contaminação dos aquíferos, em especial na cidade do Namibe – apesar das
suas características desérticas e semidesérticas, o tipo de solo permite a retenção e o
abastecimento a pouca profundidade, devendo-se preservar a não poluição deste bem
tão valioso para a população;
4. Dinâmica de evolução da plataforma litoral na zona sul da Província,
nomeadamente na Baía do Tômbwa.

90
CAPÍTULO V – APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

1. Inquéritos a Responsáveis por Entidades Governamentais

De seguida apresentam-se alguns resultados obtidos através dos inquéritos a


responsáveis de entidades governamentais.
Relativamente ao inquérito aplicado ao Vice-Governador da Área Técnica e
Infraestrutura do Namibe constatou-se na resposta que este considera que o Bairro dos
Eucaliptos é um bairro suburbano, pobre em infraestruturas básicas, em vias de acesso;
com deficiente distribuição de água e energia elétrica; redes de águas residuais e
pluviais. Considerou-o como um bairro que não é viável, pois não há recolha de
resíduos sólidos, nem tratamento de águas residuais e existe uma forte atividade
comercial informal que contribui fortemente para a produção do lixo.
No inquérito ao Sr. Administrador Municipal de Moçâmedes este considerou,
por sua vez, que, do ponto de vista socioeconómico é um bairro semiestruturado, tendo
em conta os serviços existentes (escolas, hospitais e centros comerciais).
Por sua vez, a Administradora Comunal do Forte Santa Rita (Moçâmedes)
considera que o Bairro dos Eucaliptos, do ponto de vista socioeconómico, é
caracterizado como fonte de receitas para o desenvolvimento da cidade de
Moçâmedes, pelo facto de existirem algumas lojas e armazéns.
Em termos de vegetação foi referido que no bairro quase não tem uma única
árvore. Também foi mencionado que não há recolha de resíduos depositados no limite
do bairro, e que o saneamento básico não existe, e há casas sem latrinas. Tendo ainda o
Vice-Governador da Área Técnica e Infraestrutura do Namibe alertado para a
possibilidade deste tipo de problemas contribuir para contaminar os poços de água
existentes.
No que toca aos maiores problemas que a população do Bairro dos Eucaliptos
enfrenta em termos de eventos extremos - cheias e secas - o Vice-Governador da Área
Técnica e Infraestrutura do Namibe informou que existem muitas enchentes no período
da chuva, porque a zona faz parte do leito do antigo rio hoje desviado por ação do

91
homem e por isso existem inundações quer através das águas subterrâneas como das
águas superficiais por transbordo do rio Bero. Considerou ainda que a população que
habita o bairro quase não possui organização e gestão em caso de ocorrência de
eventos extremos.
As questões relativas aos problemas mais graves que a população do bairro dos
Eucaliptos enfrenta face aos eventos extremos- cheias e seca - são também assinaladas
pela Administradora Comunal do Forte Santa Rita (Moçâmedes). No que se refere à
seca extrema, não temos nada a dizer. Quanto às cheias podemos dizer que o maior
problema é a falta de esgotos que não existem, pois, o bairro não está urbanizado.
Na opinião do Sr. Administrador Municipal de Moçâmedes os principais
problemas que o Bairro dos Eucaliptos enfrenta face aos eventos extremos - cheias e
seca - são o saneamento básico (águas estagnadas) e consequentemente as doenças
endémicas. Na resposta ao questionário considera ainda que tendo em conta o número
da população hoje existente no Bairro dos Eucaliptos, consideram-se insuficientes as
infraestruturas ali disponibilizadas. Tal opinião é também partilhada pela
Administradora Comunal do Forte Santa Rita (Moçâmedes) que assinala que as
infraestruturas que o Bairro dos Eucaliptos tem não correspondem à demanda da
população.
No que se refere às políticas que o governo tem para mitigar os problemas que a
população do Bairro dos Eucaliptos enfrenta em caso de eventos extremos, o Sr.
Administrador assinala, para além do restante, que seriam fundamentais campanhas de
sensibilização às populações, campanhas de vacinação e fumigação em redor de todo o
bairro para matar os insetos.
Na sua opinião no que se refere às estratégias que o Governo tem para
requalificar o Bairro dos Eucaliptos, tem de se tomar atenção pois é uma zona de risco
devido à existência do lençol freático no local, sendo que considera uma boa estratégia
transferir a população para zonas mais seguras.
Por outro lado, também o Vice-Governador da Área Técnica e Infraestrutura do
Namibe aponta algumas soluções como forma de o Governo mitigar os problemas que a
população do Bairro dos Eucaliptos enfrenta face a estes eventos, tais como:

92
 Sensibilização da população para retirada das zonas mais críticas e até do
bairro todo.
 Reforço da única infraestrutura (Talude do rio Bero)
 Construção de canais de drenagem.

A Administradora Comunal do Forte Santa Rita (Moçâmedes) considera também


que em caso de eventos extremos referentes a cheias, as políticas que o governo tem
para mitigar os problemas que a população dos eucaliptos enfrenta é futuramente
retirar as populações daquela zona e serem transferidas para áreas urbanizadas,
seguras e que ofereçam melhores condições de habitabilidade.
Relativamente à segurança do Bairro dos Eucaliptos, no que diz respeito às
alterações climáticas é ainda referido pelo Vice-Governador da Área Técnica e
Infraestrutura do Namibe que o Governo pode:

 - Melhorar os taludes do rio Bero, para evitar grandes transbordos para o


bairro em causa;
 - Registar a população e realojá-la em locais de maior segurança;
 - Construir canais de drenagem para circulação da água para o mar;

Também o Sr. Administrador Municipal de Moçâmedes assinala que no que toca


às medidas de segurança o governo pondera o reassentamento da população em zonas
com maior segurança.
O estado atual do saneamento básico é preocupante, bem como a ausência de
recolha e tratamento de resíduos.
São ainda, por parte do Vice-Governador da Área Técnica e Infraestrutura do
Namibe, referidas algumas estratégias que o Governo possui para requalificar o bairro
dos Eucaliptos:

 Deslocalização de alguns moradores em zonas críticas;


 Implementação de um novo modelo de alinhamento ou estruturação
para uma urbanização minimamente aceitável;
 Fixação de novas famílias constituídas para novas zonas por indicação da
administração municipal de Moçâmedes.

93
A Administradora Comunal do Forte Santa Rita (Moçâmedes) diz que as
estratégias que o Governo tem para o bairro é de requalificar, e criar condições de
habitação dessas populações e posteriormente realojá-los e requalificar o bairro.
Considera também que as medidas que o governo tem traçado para garantir a
segurança das populações são:

 - Trabalhar na sensibilização da população para evitar construírem em


zona de risco, bem como informar acerca dos perigos que o bairro dos
eucaliptos apresenta;
 - Transferir a população para uma zona apropriada de modo a garantir a
sua segurança.

O atual estado de saneamento básico do bairro dos eucaliptos é crítico, por falta
de colaboração da parte dos moradores, apesar das constantes campanhas de
sensibilização no combate pela higiene, ambiente e pelo esforço em regularizar os
horários estabelecidos para o depósito dos resíduos sólidos (lixo). Tem havido recolha
uma vez por outra por camiões do governo. No que se refere à água a solução tem sido
recorrer a motobombas como meio de drenagem. Ainda sobre arborização tem havido
campanhas de sensibilização para a prática de plantação de árvores.
Vários inquiridos defendem que a população do Bairro deveria ser deslocalizada
para uma zona com maior segurança, pois este não oferece condições de
habitabilidade, não tem garantia de higiene, o que constitui um grande atentado a
saúde pública. Verifica-se também amontoados de resíduos urbanos ao redor das
residências, nas escolas, hospitais e postos polícias e nas imediações do bairro.
De acordo com a opinião do Vice-Governador da Área Técnica e Infraestrutura
do Namibe e relativamente à questão de o Bairro dos Eucaliptos deixar de existir é
também referido que o Bairro dos Eucaliptos pode existir, mas deve ser requalificado,
com arruamentos, quer longitudinais e transversais, para dar lugar às infraestruturas
básicas. Deve-se ainda proceder a uma consolidação da infraestrutura do saneamento
básico. Considera-se ainda que a população do bairro dos Eucaliptos deveria ser
deslocalizada para uma zona com maior segurança.

94
2. Inquéritos à Autoridade Tradicional e à População do Bairro dos
Eucaliptos

Foi realizado o inquérito à autoridade tradicional e à população com o objetivo


de recolher dados para avaliar o nível socioeconómico, ambiental demográfico, e os
riscos devido as alterações climáticas que a população do bairro do Eucaliptos
enfrentam.
De seguida apresentam-se alguns resultados obtidos através dos inquéritos à
autoridade tradicional e à população. Este instrumento aplicou-se a 100 pessoas que
vivem no Bairro (ver anexo 4) e constatou-se que:

 No que se refere à questão da presença de lojas no Bairro dos Eucaliptos


70 inquiridos responderam positivamente a esta questão enquanto 22
inquiridos assinalaram não.
 É possível ainda verificar que 92 inquiridos assinalaram que o comércio
no Bairro dos Eucaliptos não está organizado, que as lojas não vendem
os produtos básicos para a população.
 No que se refere à durabilidade do material usado na construção de
casas, lojas, cantinas, lanchonetes e armazéns, 92 inquiridos
consideraram que os materiais não eram duraveis.
 De acordo com a opinião dos 92 inquiridos percebe-se que o Bairro dos
Eucaliptos tem escolas em número suficiente, contudo foi assinalado
pela população que respondeu aos inquéritos, que o bairro não tem
creches.
 De notar ainda que 12 pessoas consideram que o saneamento básico é
bom, enquanto, em contrapartida 80 assinalaram que não é bom.
 Por outro lado, 60 pessoas assinalaram que todas as casas têm latrinas
enquanto 42 referiram o contrário.
 Os inquiridos consideraram ainda que os principais animais e insetos que
aparecem no bairro são mosquitos, baratas, ratos, moscas, e outros
rastejantes. E as principais doenças são as diarreias agudas e malarias.

95
 Quanto à presença de água canalizada em casa verificou-se que 37
inquiridos responderam positivamente e 55 negativamente.
 De destacar ainda que 90 inquiridos assinalaram que não há recolha de
lixo no bairro enquanto dois destacaram que sim.
 Um total de 92 inquiridos assinalaram que não existem espaços verdes
no Bairro dos Eucaliptos, tendo simultaneamente o mesmo número
considerado que não há árvores suficientes no Bairro.
 Relativamente às cheias e às ações da população quando estas ocorrem
ficou registado que muitas pessoas permanecem mesmo nas suas casas,
e outros vão para zonas que oferecem melhor segurança.
 Para terminar, ficou ainda a saber-se que o Soba considera que o bairro
deveria ser requalificado e que a população deveria ser evacuada para as
zonas mais seguras quando há cheias.

Em resumo:

 No que se refere aos resultados dos inquéritos, foi possível constatar,


com base na análise que que 92 dos moradores dos 100 inquiridos têm a
noção de que vivem em zonas de risco.
 Relativamente a essa situação alguns moradores sabem que vivem em
zonas de risco e assinalam que o Governo deveria criar condições que
ofereçam maior segurança:
 Em termos de vegetação foi ainda considerado na resposta a este
questionário que no bairro quase não há uma única árvore; não há
recolha de resíduos depositados no limite do bairro; o saneamento
básico não existe; e há casas sem latrinas.

Em suma, no que se refere aos resultados dos inquéritos 100 habitantes, foi possível
constatar, com base na análise dos mesmos, que 92 dos moradores têm a noção de que
vivem em zonas de risco. e reclamam que o Governo deveria criar condições que
ofereçam maior segurança.

96
Como resposta aos problemas, uma forma de o Governo mitigar os problemas que a
população dos Eucaliptos enfrenta face a estes eventos tem a ver, na opinião do Sr.
Vice-governador com:

1. A sensibilização da população para retirada nas zonas mais críticas e até


do bairro todo.
2. O reforço da única infraestrutura (Talude do rio Bero)
3. A construção de canais de drenagem.

São ainda referidas algumas estratégias que o Governo possui para requalificar o bairro
dos Eucaliptos:

 Deslocalização de alguns moradores em zonas críticas;


 Implementação de um novo modelo de alinhamento ou estruturação
para uma urbanização minimamente aceitável;
 Fixação de novas famílias constituídas para novas zonas de indicação da
administração municipal de Moçâmedes.

Os planos do Governo em relação à segurança do bairro face às alterações climáticas


passam pelo:

 - Melhoramento dos taludes do rio Bero, para evitar grandes transbordos


para o bairro em causa;
 -Cadastramento da população e realojamento em locais de mais
segurança;
 - Construção dos canais de drenagem para circulação da água, para o
mar;

O representante da administração pública considera que o Bairro pode existir, mas deve
ser requalificado, com arruamentos, quer longitudinais e transversais, para dar lugar as
infraestruturas básicas consolidar a infraestrutura de proteção para o saneamento
básico.
Com base nas análises dos inquéritos e resultados obtidos elaborou-se o Gráfico
2, que apresenta de forma sucinta os resultados:

97
98
Sim Não Sim2 Não2 Series5 Series6
Series7 Series8
100
92 92 92 92 92 92 92 90 92 92
90
80 80
80
70
60
60 55
50
42
Gráfico dos resultados do inqueritos feito
40 37

30
20
12
10 5
0 0 0 0 0 2 0
0

Gráfico 2 - Resultados de inquéritos realizados no Bairro dos Eucaliptos

99
Com base nos estudos e análise dos questionários foi possível realizar a proposta
apresentada no capítulo a seguir. Esta proposta terá como âncora de estudo a Proposta
de plano de realojamento da população do bairro dos Eucaliptos, para podermos
mitigar os vários problemas que o bairro enfrenta, nomeadamente: ordenamento do
território, saneamento básico, mobilidade no bairro e maior segurança face aos eventos
naturais (seca e cheias).

100
CAPÍTULO VI – PROPOSTA DO PLANO DE REALOJAMENTO
URBANÍSTICO TERRITORIAL NO BAIRRO DOS EUCALIPTOS

Nesta parte do estudo propõe-se um plano de realojamento urbanístico


territorial para o Bairro dos Eucaliptos visando mitigar os principais fatores de risco
existentes naquela zona.
Visto que com o apuramento dos resultados 92% da população aponta que
existem problemas em domínios diversificados, conforme ilustra o gráfico acima
referenciado conseguimos compreender os vários fatores que afetam o bairro, dai
propormos um plano de realojamento das populações que residem neste bairro.
O plano a implementar será modelo para replicação nas demais áreas
periurbanas e periferica uma vez que este será o primeiro bairro na região a ser
submetido a uma intervenção organizada do ponto de vista urbanístico que incorpora
um estudo prévio de reassentamento.

1. O Modelo Territorial

O trabalho no Bairro dos Eucaliptos foi muito dificultado devido à ausência do


Planos, nomeadamente o Plano Diretor Municipal (PDM), o Plano de Pormenor (PP).
Este modelo, desenvolvido por uma equipa, pretende ser exemplificativo para
posterior trabalho a realizar nos restantes bairros, tais como: Bairros Praia Amélia Forte
Santa Rita, Torre do Tombo, Valódia (Plató), Cambongue, Macala Tchipati, Saco-Mar,
Mandume Nação Praia, Cassanje, Popular, e bairro Aida.
Para o caso do novo eixo viário proposto, pretende-se que este funcione como
auxílio à criação no local, de melhoria de acessos, de hierarquia viária, ligação de centro
urbano e nova linha de transporte público. Pretende-se ainda, um espaço público
central e comum aos bairros Forte Santa Rita, e 5 de abril, bem como um espaço
aglomerante de novas vivências e usos como equipamentos urbanos (escolas, centro de
saúde, comercio e serviços, campo de futebol, zonas verdes, equipamentos públicos,
esquadras policiais, futuro mercado formal, e serviços de comercios), a cultura de

101
hortas comunitárias e um sistema de eixos pedonais. Todos estes gestos procuram
atribuir a estes espaços, novas centralidades que permitam o seu maior dinamismo,
abertura e que se insiram na estrutura de bairros inteligentes (Francisco, 2013).
Localizado na estrada que liga Namibe-Lubango passando pelo Giraúl de baixo,
numa via com aproximadamente 10km, da sede, o bairro eucaliptos-2, terá:

 Área total a propor o Bairro de 149 hectares


 Nº de total de lotes de terra para autoconstrução dirigida
 Comercialização por estimativa / ou pagamento de direito de superfície
por lotes 1000 m2
 Nº de residências construídas 3.000 fogos habitacionais

Tabela 7 - Proposta para comercialização de Lotes de terras e habitação no futuro Bairro dos
Eucaliptos-2

Estimativa de valores para


Estimativa de valores para
Venda dos lotes de terras Habitação que já existem, os
Habitação Evolutivas (Pessoas
autoconstrução dirigida devolutos da Cidade.
que vivem em extrema pobreza)
(pessoas a salariadas)

50.000 mil kwanzas


18.000 mil kwanzas 35.000 mil kwanzas
(aproximadamente
(aproximadamente 20euros) (aproximadamente 25euros)
50euros) 1000 m2

Fonte: Walter José Tchivela/Autor

Na primeira fase o governo pode começar a construir as primeiras casas dos


moradores de forma faseada com 100 casas, de T3, para as pessoas que vivem em
estrema pobreza, nessa altura estamos a falar de casas com material de baixo custo,
com adobe, com cobertuas de chapas de zincos e com chão bruto, e nesta sequência,
podemos também começar já a fazer o levantamento de quanto sdevolutos existem na
cidade do Namibe, contando com os das urnbanização da Praia Amelia e a do 5 de abril.
Pois assim podemos conseguir realojar as pessoas que tem condições financeiras para
habitarem nestas moradias que existem na cidade do Namibe. A ideia não é apenas de

102
instalarmos no novo bairro dos Eucaliptos -2, pessoas que vivem no actual bairro dos
Eucaliptos, mais sim de pessoas que também sintam a necessidade de irem viver em
locais com maior espaço de lazeres de acomunidade.

Figura 18 - Plano de Urbanização do futuro Bairro dos Eucaliptos -2


Área total de 149 hectares
Fonte: IGCA, 2020

Com uma área total de 149 hectares para o novo Bairro dos Eucaliptos-2, o
bairro terá uma estrutura pensando em cidades inteligentes com os serviços próximo
ao cidadão. Para tornar o plano possível, propõem-se demolições de forma faseada
que, após uma análise mais detalhada, apresentam baixo valor para o local (Francisco,
2013), que é uma zona de risco, onde maior parte das casas estão degradadas ou que
não se enquadrarão no futuro plano, como é possível observar na Figura 19.

103
Figura 19 - Modelo do Novo Bairro do Eucaliptos
Fonte: Walter José Tchivela/Autor

1.1 Estrutura organizacional do plano

Os Estaleiros dos Netinhos (Figura 20) torna-se um obstáculo na trajetória das


águas das cheias, porque quando elas se concentram em redor do bairro, não
conseguem encaminhar-se no seu curso normal, devido à barreira que esta
infraestrutura causa, no sentido jusante em direção à foz do rio, que passaria nas
manilhas que estão abaixo da linha férrea, ganhado o seu verdadeiro destino que seria
desaguar no seu leito de rio.

104
Figura 20 - Estaleiro dos Netinhos obstáculo à passagem das águas
Fonte: Walter José Tchivela/Autor

Sobre a mobilidade do bairro dos eucaliptos -2, as estradas terão as dimensões


mínimas de largura de perfis, continuidades de eixos e principalmente ao desenho de
vias com declives amenos e suaves para todos os utilizadores (Francisco, 2013).
No caso do Bairro Forte Santa Rita, que se localiza entre os bairros Forte de
Cima, a proposta passa pela sua total reconversão com ligeiras demolições. Este Bairro
do Forte Santa Rita localiza-se numa zona alta (Francisco, 2013).

Figura 21 - Proposta da zona p/ B. Eucaliptos -2 (4 de março)


Fonte: IGCA, 2020

105
Na génese da proposta, e como se pode constatar no presente plano, procurou-
se conciliar alguns temas teóricos e ideológicos do urbanismo de intervenção na cidade,
aplicados no plano proposto e desenhado para os bairros periurbano.
A ideia de Permeabilidade através dos conjuntos de fatores é também
asseverada como objetivo da proposta, uma vez que o próprio tecido que conforma
este bairro possui uma complexidade tal que acaba por os segregar do ponto de vista
de acessos e aberturas, procurando desta forma estabelecer ou reforçar dependências
entre os diferentes pontos do bairro e também entre o próprio bairro e as suas
vizinhanças.
O estabelecimento de hierarquia que o novo bairro terá vai contar com a
homogeneidade do uso dos espaços, permitindo tornar os bairros inteligíveis, mais
seguros, e estabelecendo uma nova ordem.
Esta valorização converge para a restrição ao uso geral de determinados espaços
e a sua requalificação, de tal forma que permita a continuação das práticas atuais da
população sem que a intervenção se assuma como uma incisão agressiva. São exemplos
destas práticas o cultivo de hortas para autoconsumo e venda de produtos em feiras,
que se assumam importantes para a sustentabilidade do bairro, uma vez que muitos
dos residentes delas dependem.
Valoriza-se também a acessibilidade a todos os pontos da intervenção, criando
condições para facilitar a mobilidade de todos os utilizadores dentro dos pontos
principais dos bairros.
É aqui que o tema das Novas Centralidades assume papel primordial, trazendo
aqui um conceito mais atualizado de bairros inteligentes. É possível que a solução não
passe apenas por criar condições à existência de transportes públicos que facilitem a
mobilidade e abertura aos bairros, nem de criar espaços públicos impostos ou pouco
identificados com o local, sem questionar as suas capacidades estruturantes dentro e
fora das localidades.
É pertinente criar centralidades mais dinâmicas no seio de cada bairro, quando a
sua dimensão e número de ocupantes o permite, e de outras mais amplas e
abrangentes para o conjunto de vizinhança em que se inserem.

106
Quatro mil residências, este projeto contou com ajuda do governo chinês no
âmbito “Vamos transformar Angola num Canteiro de Obras" e a sua conclusão foi em
2016. Visivelmente satisfeitos, os beneficiários, na sua maioria são os antigos
sinistrados, que afirmam, que a partir dessa altura as famílias passaram a viver mais
acomodadas e em segurança assumindo assim o bem-estar das populações em geral.

Figura 22 - Modelo de Tipologia de uma Casa Plurifamiliar


Fonte: www.Imogestin.co.a , 2019

Figura 23 - Proposta da zona p/ B. Eucaliptos -2


(4 de março)
Fonte: www.Imogestin.co.ao, 2019

107
Figura 24 - Novos Edifícios na Urbanização do 5 de abril
Fonte: www.Imogestin.co.ao, 2019

1.2. Processo de Realojamento das Populações no Bairro dos Eucaliptos

A proposta da Equipa de Trabalho para o realojamento das populações do Bairro


dos Eucaliptos considerará uma fase de realojamento. É apresentado um cronograma
do desenvolvimento de trabalhos coordenados pela Vice-governadora para Área
Técnica e Infraestruturas, envolvendo o Urbanista Walter Tchivela (Pivó), Administrador
municipal de Moçâmedes, Comissão de Moradores e o Soba (autoridade do Bairro);

1. O processo realojamento vai contar com oito etapas:


a. Contato direto com a população por meio de auscultação;
b. Identificação em articulação com os moradores das habitações
prioritárias no processo de demolição;
c. Registos, nomeadamente preenchimento das fichas de Inscrição,
levantamento dos bens pessoais, etc
d. Plano logístico para a movimentação de pessoas e máquinas
e. Plano de reassentamento da população;
f. Identificação de locais ou a zonas para realojamento das populações;
g. Propor construções económicas para as populações em pobreza
extrema;
h. Estruturar o faseamento para o processo total de realojamento do
bairro.

108
Na medida em que as populações forem reassentadas, serão demolidas as suas
casas, para não criar outros constrangimentos no processo. Será também imperioso
proceder à deslocalização do mercado dos eucaliptos para o bairro 4 de março e alterar
a denominação para Mercado dos Eucaliptos -2, que se pensa vir a ser o maior da
província (desde que sejam criados outros serviços e infraestruturas para o efeito).
A ideia de se levar o mercado para aquela zona é que por ser um planalto (zona
alta), será possível desenvolver (no 4 de março), um novo local para a evolução do
comércio precário de forma organizada, visto que o Mercado 5 de Abril não consegue
suportar a demanda quer de tantos vendedores, quer de um número tão elevado de
compradores. Bem como, trará um crescimento e tendência de abertura e aumento do
número de lojas e armazéns ao longo da única estrada que dá acesso ao mercado 5 de
abril.
Para tal, levando em consideração esses pressupostos que estão bem
modelados na lei de terra, foi tida em consideração na estruturação do plano a
elaboração de um cronograma (Tabela 8).

109
Tabela 8 - Cronograma de atividades da fase I do Bairro dos Eucaliptos

2022
Tarefas
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Constituição da Equipa de Trabalho

Auscultação da População do Bairro dos Eucaliptos

Cadastramento das residências que serão abrangidas na


1 fase

Identificação da zona para realojamento

Análises e discussão de tipologia de residências

Construção das primeiras residências do Bairro


Eucaliptos-2

Início da 1.ª fase de realojamento dos moradores

110
2. Etapa I - Avaliação e Estimativa dos Fatores de Risco na
Província do Namibe

A província do Namibe ocupa uma grande extensão do Sudeste de


Angola, no distrito de Moçâmedes. Este deserto inclui-se entre os desertos
quentes do continente africano e representa o prolongamento norte do
Namibe, deserto do sudeste africano.
King (1951, p.318) fixa-lhe limites a cerca de 7 milhas a norte do Namibe,
limites considerados difíceis uma vez que tão variados são os seus aspetos
morfológicos, função de paleomecanismos morfologenéticos e de estruturas
geológicas variadas. Tal, impossibilita obter uma imagem simplificada da sua
realidade.
Não é uma extensão contínua e exclusivo domínio de areias e dunas, mas
inclui uma grande extensão de superfícies pedregosas, com vegetação pouco
densa, às vezes totalmente ausente, onde age um sistema estrutural e atual em
que domina.
A sua rede hidrográfica (em geral não funcional ou funcionando
intermitentemente) é constituída por vales de vertentes com pendor acentuado,
às vezes praticamente verticais (as dambas) que se prolongam para montante
por rede, verdadeiramente dendríticas, de depressões arenosas, pouco
profundas e largas (as mulolas), que, por sua vez, separam os vales, secos a
maior parte de cada ano (vales do rio Carunjamba, do rio Inamangando do rio de
São Nicolau, do rio Piambo ou Mucongo, do rio Giraul, do rio Bero, do rio
Curoca, etc.) ou então durante longos períodos de vários anos, denuncia
paleoclimas mas mais pluviosos do que o atual” (Filipe, 2019).

111
Figura 25 - Mapa das principais zonas de riscos da
província
Fonte: Carlos Gaudari

A província do Namibe é caraterizada por apresentar uma especificidade


no ponto de vista do solo começando pelo Bentiaba, Lucira, e o Piambo
(Moçâmedes), uma vez que existe nesta zona uma grande falha vulcânica
inativa, que, de acordo, com alguns estudos geológicos se encontra neste
momento em extinção.
Já na Bibala, mais concretamente na Muntipa, existem águas termais que
possibilitam a existência de um vulcão adormecido em Tizimbia e Kokoto.
A proposta de estudo no que se refere a esta zona vulcânica, que pode
albergar um vulcão que não está extinto e onde, em redor, vivem pessoas,
refere que o governo devia começar de imediato a tomar providências e a
procurar soluções céleres que possam contemplar a evacuação de locais em
risco para lugares que lhes ofereçam segurança.
O Tômbwa tem como dificuldade o avanço das áreas movediças no
deserto, sendo, deste modo, muito problemático em termos de ordenamento
territorial. A título de comparação podemos referir os Emirados Árabes Unidos,
onde se utiliza o deserto para práticas agrícolas, plantação de árvores de grande
porte (que servem de cortinas florestais) e onde também se verifica a
construção de grandes residências.

3. Etapa II – Proposta do Plano para Mitigar o Risco

112
A Cidade Namibe, e, por conseguinte, a área de intervenção, não é
exceção no que respeita a ser afetada pela problemática atual das Alterações
Climáticas, sobretudo no que toca às questões que se prendem com os efeitos
causados pela “Ilha de Calor” (Seca que assola toda região sul de Angola),
“Ventos Fortes”, correntes marítimas de Benguela, e Cheias que se têm
registado nos últimos anos.
No seguimento da análise efetuada ao território em causa, e tendo em
conta as lições aprendidas com os casos de estudo suprarreferidos, a proposta
apresentada visa estabelecer as regras de intervenção na área em estudo,
nomeadamente, no que toca às medidas de adaptação às alterações climáticas.

a. Ilha de Calor

Tendo em vista minimizar o impacte da ilha de calor na área de


intervenção, optou-se por prever o maior espaço possível de solo permeável. Na
zona consolidada, poderão ser preenchidas com alguns alpendres. Não se irão
colocar infraestruturas resistentes porque a zona é uma área de risco total, o
ambiente construído, com surgimento de árvores serão reduzidas ao máximo e
assim a ilha de calor não terá grande impacto. Com o surgimento desta área
verde florestal (árvores, plantas e jardins) que vai proporcionar um ambiente
com menos calor e mais ambiente saudável realçando o ambiente verdes sendo
preferencial a utilização de materiais sustentáveis implantados em extensas
áreas verdes com grande permeabilidade do solo.

b. Ventos Fortes

A ação do vento é difícil de prever existindo, no entanto, na cidade do


Namibe, por estar entre o mar e o deserto, ventos característicos como sejam
no inverno os ventos dominantes de Nordeste e Sudoeste, e no Verão de Norte
e Noroeste.
No quadro dos ventos fortes, é importante a seleção para a área de
intervenção de vegetação e árvores robustas e resilientes, para que resistam à
ação forte do vento e não provoquem danos físicos e económicos. O mesmo se
poderá dizer do mobiliário urbano e da sinalética para esta área que tem que ser
113
forte e encontrar-se implantada de forma segura e resistente, para que não voe,
ou se movimente de forma a causar estragos ou vítimas.

c. Chuvas e Cheias

No âmbito da mitigação do efeito negativo das chuvas foi proposta a


implementação de soluções que evitem uma maior vulnerabilidade e a
ocorrência de elevadas inundações. Pretende-se instalar equipamentos
(cadeiras urbanas, depósitos de resíduos urbanos, material para prática de
desporto resistente).
Também foram propostas a implementação de bacias de retenção das
águas da chuva – nomeadamente ao longo do parque – de forma a captar parte
da água pluvial, de forma a serem reutilizadas (na rega das hortas urbanas,
combate a incêndios, ingestão de água pelos animais, etc.). O pavimento, em
várias áreas de intervenção, será permeável – nomeadamente na zona do
parque urbano – e semipermeável, permitindo deste modo absorver parte da
água da chuva, evitando zonas alagadas. A inserção de pavimento permeável –
na zona pedonal junto dos eucaliptos – localizada em áreas mais carentes de
espaços verdes –, ambos com aproveitamento de água pluvial, permitem assim
que esta seja utilizada, mais tarde, em períodos mais seco (na irrigação e
combate a incêndios). Posto isto, procedeu-se assim, à elaboração de um
projeto estratégico de urbanismo sustentável, que abrange uma área com cerca
de 57m2 localizado nas áreas Administrativa da Comuna do Forte Santa Rita,
pertencente ao município de Namibe.

Figura 26 - Momento das cheias Bairro dos Eucaliptos - 2018


Fonte: Walter José Tchivela
114
O aproveitamento de água pluvial permite que a água seja reutilizada,
posteriormente, em períodos de maior seca, na irrigação e combate a incêndios.
Para além disto, procedeu-se ainda à elaboração de um projeto
estratégico de urbanismo sustentável, que abrange uma área com cerca de
57m2 localizado nas áreas Administrativas da Comuna do Forte Santa Rita,
pertencente ao município de Namibe.

Figura 27 - Delimitação da Área em Estudo


Fonte: Walter José Tchivela

A infraestrutura verde (Polígono Florestal), inspirando no corredor


periférico de Carnide de acordo com alguns ensinamentos do Professor Dr. José
Carlos Ferreira (2010), que assinala os Corredores Verdes como instrumentos de
requalificação ambiental de território desestruturado com maior realce nas
áreas urbanas.
Deste modo, na proposta inclui-se:

1. 20 Talhões para plantação de bananal (e outras culturas);


2. Criação de bacias de retenção das águas pluviais;
3. Estacionamento com pisos impermeáveis;
4. Parque urbano de lazer com alguns mobiliários urbanos;
5. Pista de motocross;
6. Trilhas para caminhada;
7. Uma cortina na sua envolvente de Eucaliptos e outras espécies de
árvores por causa da ação do vento.
115
A proposta prevê a criação de 2 bacias de “bacia de retenção”, que
visam, mitigar eventuais inundações. A vegetação criada ao redor terá a função
de trazer sombras e sensação de conforto, combatendo também o efeito da ilha
de calor, e com isso ganha-se, também espaço para atividades culturais ao seu
redor.
A água das bacias serve também de rega das pequenas hortas em redor,
promovendo a reutilização da água das chuvas, trazendo harmonia com a
natureza e alta qualidade de vida, com evidente benefício ecológico para esta
área urbana.
O desenho dos lagos implementados no projeto prevê uma área com
volumes de 39,50 metros de diâmetros cada e uma profundidade que varia
entre os 0.60 e os 0,80 cm.

Figura 28 - Bacia de Retenção de Águas Pluviais


Fonte: Walter José Tchivela

Ao contrário das áreas verdes no interior da cidade do Namibe, que


correspondem essencialmente áreas aráveis para prática da agricultura de
subsistência e por vezes integrados em estruturas verdes contínuas, a periferia
corresponde na sua grande maioria a espaços alargados não consolidados. No
âmbito do processo de transformação de usos do solo, ao urbanizar-se o
território rural, contudo consegue-se ainda identificar quintas com alguma
agricultura familiar, por vezes informal.

116
Neste contexto, a presente proposta desta dissertação prevê ir ao
encontro das raízes e da vocação rural anterior deste território, implementando
hortas comunitárias e prevendo a plantação de um bananal, tendo em vista o
usufruto da população.

Figura 29 - Plantação de bananal


Fonte: Walter José Tchivela

No estudo a implementar, vamos ter que trabalhar com as


administrações municipais para lhes incutir espírito de empreendedorismo a
partir das hortas comunitárias. As hortas comunitárias são espaços de natureza
que contribuem para a preservação dos ecossistemas e da fauna e flora
existentes.
O estudo visou também abordar a problemática local da ausência de
gestão de resíduos, inspirando-se em experiências noutros locais.

117
CAPÍTULO VII – CONSIDERAÇÕES FINAIS

As limitações das políticas publicas angolanas face ao ordenamento do


território, exige que se estabeleçam formas mais equilibradas de ligação urbano-
rural, criando meios desenvolvimento sustentavel, mais com um pendor de uma
distribuição equilibrada dos recursos administrativos, economicos e naturais,
para a qualidade de vida das populações.
Cada vez mais o cidadão se mobiliza para participar na transformação
das cidades ou bairros, transformando-os em locais melhores para habitar. A
transformação oferecida pelo modelo das Smart City, que alberga um conjunto
de soluções inteligentes e que nomeadamente são consideradas sistemas mais
multiculturais, inclusivos e sustentáveis, que apostam em espaços acolhedores
para os seus moradores e são menos dependentes dos meios de transporte,
pode constituir uma forma inovadora de evolução visando a sustentabilidade.
A visão de cidades inteligentes embora ainda pouco comum na realidade
angolana, pode oferecer uma forma de abordar e resolver os inúmeros
problemas no que tange as políticas públicas em ordenamento do território.
Para tal será necessário conferir maior seriedade e dinamismo a vários setores,
mobilidade urbana, habitação, procurando assim um acompanhamento e
monitorização dos planos de intervenção mais profundos com o propósito de
solucionar problemas. Ao conceito de cidade inteligentes, podemos reforçar o
serem também lugares no qual o cidadão não se desloca num raio superior a
500 m, como é o caso dos bairros multidiversos em usos (Vauban, Alemanha).
Considera-se que o Bairro dos Eucaliptos, a par de outros que foram
surgindo sem estudo prévio, enfrentam grandes desafios, que passam pelo
ordenamento territorial e abrangem o saneamento básico, algo que se
assemelha ao Bairro dos Eucaliptos.
Mais ainda, no caso do Bairro dos Eucaliptos, colocam-se também
questões relacionadas com a saúde, nomeadamente doenças resultantes da

118
ausência de recolha e tratamento de resíduos urbanos atualmente depositados
a céu aberto e à ausência de um saneamento básico adequado.
As análises às respostas dos inquéritos demonstraram que existe uma
perceção por parte das populações quanto aos riscos e às fragilidades do local
onde vivem a par de uma vontade expressa e da necessidade de procurarem
alternativas. Contudo, tudo isso vai depender muito das políticas publicas
angolanas a serem implementadas.
Com este estudo foi possível traçar um plano de realojamento do Bairro
dos Eucaliptos, que foi aprovado pelo Governo da Província do Namibe, para
poder realojar de uma forma faseada a população num local com melhores
condições e mais seguro.
O contacto direto com os locais e o envolvimento das populações, e
respetivas autoridades permitirá uma maior eficácia da implementação do
plano, nomeadamente
através de uma ação mais interventiva e ativa junto dos moradores, a serem realojado
para o novo Bairro dos Eucaliptos-2.
Esperamos que este trabalho e o respetivo estudo possa servir como
contributo para ajudar a ultrapassar/responder aos vários problemas e riscos do
Bairro dos Eucaliptos e evitar reicidências e possíveis consequências mais graves
de futuro. Nesta senda assume-se esta seja uma ideia com potencial para se
obter uma base sólida para intervir nas demais áreas com carateristicas
semelhantes que existem em Angola e nomeadamente na província do Namibe.

119
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123
PÁGINAS DA INTERNET
Água & Ambiente – Portal Ambiente Online - http://www.ambienteonline.pt
Grupo de Estudos de Ordenamento de Território e Ambiente - http://www.geota.pt
Plano director do Namibe -
http://www.anip.co.ao/ficheiros/pdfs/plano_directorio_Namibe_2013.pdf
Portal do Ambiente - http://www.iambiente.pt
República Portuguesa - XXII Governo - http://www.portugal.gov.pt

124
ANEXOS
Anexo 1 - Regulamento de Licenciamento das Operações de Loteamento
Filipa da Graça Domingos António Martins (2016)

O ordenamento do território em Angola: Uma tarefa em curso é um desafio futuro. Relatório


apresentada à Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra no âmbito do 2.º Ciclo de
Estudos em Administração Pública Empresarial (conducente ao grau de Mestre). Coimbra

Governo da Província da Huíla, Estudos de Caracterização e Diagnóstico, 2004, p.14 ss


Fernanda Paula Oliveira, Revista CEDOUA, Nº 34_ Ano XVII, Três Sistemas de Planeamento
Territorial na Lusofonia: O sistema português entre o Híper complexo Sistema angolano e o
Simplificado Sistema macaense,2014 28 Decreto nº 2/06 de 23 de janeiro Regulamento Geral
dos Planos Territoriais e Urbanísticos 29 Decreto nº 80/06 de 30 de outubro: Regulamento de
Licenciamento das Operações de Loteamento, obras de Urbanização e Obras de Construção. 30
Resolução nº 60/ 06 de 4 de setembro, Política do Governo para o Fomento de Habitação

125
Anexo 2 - Algumas referências sobre a Lei do ordenamento do território

Fernanda Paula Oliveira, Direito do Urbanismo do Planeamento à Gestão, Braga, AEDREL, 2015,
p. 24 e Diogo Freitas do Amaral, Revista jurídica do Urbanismo e do Ambiente, 1994, p. 18
Governo da Província da Huíla, Estudos de Caracterização e Diagnóstico, 2004, p.14

Governo da Província da Huíla. Estudo de Caraterização e Diagnóstico,2004, p.15 25


Lei n.º 9/04 de 9 de novembro; Lei das Terras.
A Lei nº3/04 de 25 de junho, Lei do Ordenamento do Território e do Urbanismo. Fernanda Paula
Oliveira, Revista CEDOUA, Nº 34_ Ano XVII, Três Sistemas de Planeamento Territorial na
Lusofonia: O sistema português entre o Híper complexo Sistema angolano e o Simplificado
Sistema macaense,2014
Javier Oliván del Cacho/Juan Pemán Gavín, (2011). El nuevo derecho urbanístico: estudios
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Habana

126
Anexo 3 - Inquéritos aplicados ao Vice-Governador da área técnica e infraestrutura do Namibe

OS INSTRUMENTOS APLICADOS PARA RECOLHA DE DADOS

Ao aplicar o inquérito ao Vice-Governador da Área Técnica E Infraestrutura Do Namibe com o


objetivo de recolher dados para avaliar o nível socioeconómico, ambiental demográfico, e os
riscos devido as alterações climáticas que a população do bairro do Eucaliptos Enfrenta (ver
anexo 1) constou-se que:

Habilitações Literárias: Licenciado; Sua ocupação Profissional: Funcionário Público; Sua Faixa
Etária: 45 -54; Área em que trabalha: Sector de Infraestruturas.

Respostas às questões formuladas.

Na questão um (1) Como caracteriza o bairro dos Eucaliptos no ponto vista de


infraestruturação?

R: Por se um bairro Suburbano, esta muito pobre em Infraestruturas básicas como: vias de
acesso pelo bairro; deficiente distribuição de água e energia elétrica; redes de águas residuais e
pluviais.

(2) Como caracteriza o bairro dos Eucaliptos do ponto de vista socioeconómico?


R: O bairro socialmente não é viável, pois não há recolha e nem tratamento de águas residuais e
resíduos sólidos; existe uma forte atividade comercial informal que contribui fortemente na
produção do lixo.

(3) Qual é o estado atual se encontra o saneamento básico do bairro (ambiente, os resíduos,
sólidos e arborização)?
R: No bairro quase não há única árvore, por escassez de espaços; não há recolha de resíduos
depositados no limite do bairro; o saneamento básico não existe; há casas sem latrinas e as que
possuem podem contaminar os poços de águas existentes.
(4) Quais são os maiores problemas que esta população enfrenta face a eventos extremos
cheias e secas?
R: Enchentes no período da chuva, porque a zona faz parte do leito antigo do rio hoje desviado
por ação do homem e por isso existem inundações que por curso de águas subterrâneas como
águas superficiais por transbordo do rio Bero.

127
(5) Por exemplo; considera que a população que habita no bairro tem infraestruturas
suficientes no que se refere a eventos extremos?
R: Não, quase que não existem infraestruturas para eventos extremos.
(6) Quais são as políticas que o Governo tem para mitigar os problemas que a população dos
Eucaliptos enfrenta face a estes eventos?
R: 1. Sensibilização da população para retirada nas zonas mais críticas e até do bairro todo.

1. Reforço da única infraestrutura (Talude do rio Bero)


2. Construção de canais de drenagem.

(7) Quais são as estratégias que o Governo tem para requalificar o bairro dos Eucaliptos face a
estes eventos?
R: - Deslocalização de alguns moradores em zonas críticas;
- Implementação de um novo modelo de alinhamento ou estruturação para uma urbanização
minimamente aceitável;
-Fixação de novas famílias constituídas para novas zonas de indicação da administração
municipal de Moçâmedes.

(8) Que planos o Governo tem em relação a segurança do bairro no ponto de viste das
alterações climáticas como se deu na antiga Nação Praia (Cheias de 2001)
R: - Melhoramento dos taludes do rio Bero, para evitar grandes transbordos para o bairro em
causa;

- Cadastramento da população e realojamento em locais de mais segurança;

- Construção dos canais de drenagem para circulação da água, para o mar;

(9) Como representante da administração pública, achas que o bairro dos Eucaliptos deve deixar
de existir por apresentar um risco para as populações? Sim ou Não e Porquê?
R: O Bairro pode existir, mas deve ser requalificado, com arruamentos, quer longitudinais e
transversais, para dar lugar as infraestruturas básicas consolidar a infraestrutura de proteção
para o saneamento básico.

128
Anexo 4 - Inquérito aplicado ao administrador municipal de Moçâmedes

O inquérito aplicado ao Administrador Municipal de Moçâmedes com o objetivo de recolher


dados para avaliar o nível socioeconómico, ambiental demográfico, e os riscos devido as
alterações climáticas que a população do bairro do Eucaliptos enfrenta (ver anexo 2). Constou-
se que:

Habilitações Literárias: Mestre

Ocupação Profissional: Administrador Municipal de Moçâmedes

Faixa Etária: 45; 54;

Área em que trabalha: Administração Municipal Moçâmedes

Respostas às questões formuladas.

(1) Relacionada com a caracterização do bairro dos Eucaliptos do ponto de vista


socioeconómico refere que?

R: Do ponto de vista socioeconómico é um bairro semiestruturado, tendo em conta os serviços


existentes (Escolas, hospitais e centros comerciais).

(2) Quais dirias que são os problemas maiores que a população do bairro Eucaliptos enfrenta
face aos eventos extremos- cheias e seca?
R: O saneamento básico (águas estagnadas) e consequentemente as doenças endémicas.
(3) Considera que a população que habita o bairro tem infraestruturas suficientes?
R: Tendo em conta o número da população hoje existente, considera-se insuficientes as
infraestruturas ali disponibilizadas.

(4) Quais são as políticas que o governo tem para mitigar os problemas que a população dos
Eucaliptos enfrenta em caso de eventos extremos, cheias e seca?
R: Campanha de sensibilização as populações, campanha de vacinação e fumigação ao arredor
do bairro para matar os insetos.

(5) Quais são as estratégias que o Governo tem para requalificar o bairro dos Eucaliptos?
129
R: Considerando como zona de risco através do lençol freático existente no bairro passa por
uma estratégia de transferir a população em zonas seguras.
(6) Que medidas de segurança o governo tem traçado para acudir as populações em caso de
alterações climáticas; como se deu na antiga Nação Praia (Cheias 2001)?
R: Reassentamento da população em zonas com maior segurança.

(7) Qual é o estado atual do saneamento básico do bairro? (tratamento dos resíduos sólidos,
cuidados com águas paradas ou águas residuais e arborização)
R: O estado atual do saneamento básico e preocupante, em função da falta de cuidado de como
tem sido tratado e depositado os resíduos.

(8) Como representante da administração pública, acha que a população do bairro dos
Eucaliptos deveria ser evacuada para uma zona com maior segurança? Por este apresentar um
risco para as populações em vários domínios? Sim ou Não; e porquê?
R: Sim. Porque é estratégia do governo reassentar a população para zona de segurança
(Aeroporto, 4 de março, e Boa Esperança).

130
Anexo 5 - Inquérito aplicado à administradora Comunal do Forte Santa Rita (Moçâmedes)

Ao aplicar o inquérito a Administradora Comunal do Forte Santa Rita (Moçâmedes) com o


objetivo de recolher dados para avaliar o nível socioeconómico, ambiental demográfico, e os
riscos devido as alterações climáticas que a população do bairro do Eucaliptos enfrenta.
Já agradecemos pelo seu contributo para a responder ao que se segue

Habilitação Literárias: Técnica Superior

Ocupação Profissional: Administração Comunal do Forte Santa Rita

Faixa Etária: 45; 54;

Área em que trabalha: Administração Comunal do Forte Santa Rita

Na questão um (1) Como caracteriza o bairro dos Eucaliptos do ponto de vista socioeconómico?
R: Do ponto de vista socioeconómico, o bairro do Eucaliptos é caracterizado como fontes de
receitas para o desenvolvimento da cidade de Moçâmedes, pelo facto de existirem algumas
lojas e armazéns.
(2) Quais dirias que são os problemas maiores que a população do bairro Eucaliptos enfrenta
face aos eventos extremos- cheias e seca?
R: Os problemas maiores que a população do bairro do Eucaliptos enfrentam face aos eventos
extremos- Cheias e Secas é de salientar que o extremo seca, não temos por dizer, agora
relativamente a cheias podemos dizer que temos maior problema é a falta de esgotos no bairro
não tem, pelo facto de o bairro não estar urbanizado.
(3) Considera que a população que habita o bairro tem infraestruturas suficientes?
R: Não, Porque as infraestruturas que o bairro dos Eucaliptos tem não corresponde com a
demanda da população.
(4) Quais são as políticas que o governo tem para mitigar os problemas que a população dos
Eucaliptos enfrenta em caso de eventos extremos, cheias e seca?
R: Em caso de eventos extremos - cheias, as políticas que o governo tem para mitigar os
problemas que a população dos eucaliptos enfrenta é futuramente retirar as populações
daquela zona e serem transferida para áreas urbanizadas, segura e que oferece melhor
condições de habitabilidade.
(5) Quais são as estratégias que o Governo tem para requalificar o bairro dos Eucaliptos?

131
R: As estratégias que o Governo tem para o bairro é de requalificar, e criar condições de
habitação dessas populações e posteriormente desalojá-los e requalificar o bairro.
(6) Que medidas de segurança o governo tem traçado para acudir as populações em caso de
alterações climáticas; como se deu na antiga Nação Praia (Cheias 2001)?
R: As medidas que o governo tem traçado para garantir a segurança as populações são:
- Trabalhar na sensibilização da população para não construírem em zona de risco, bem como o
perigo que o bairro dos eucaliptos apresenta;
- Transferir a população para uma zona apropriada de modo a garantir segurança.

(7) Qual é o estado atual do saneamento básico do bairro? (tratamento dos resíduos sólidos,
cuidados com águas paradas ou águas residuais e arborização)
R: O atual estado do saneamento básico do bairro dos eucaliptos é crítico, por falta de
colaboração por parte dos moradores, apesar das contantes campanhas de sensibilização no
combate contra a higiene, ambiente e lutando também para regularização de horários
estabelecidos para o depósito dos resíduos (Lixo) os resíduos sólidos, e o tratamento tem sido
por recolha uma vez a outra por camiões do governo, sobre água o cuidado tem sido por meio
de evacuação com ajuda de motobombas. Ainda sobre arborização tem havido campanha de
sensibilização para a prática de plantação de árvores.

Na questão um (8) Como representante da administração pública acha que a população do


bairro dos Eucaliptos deveria ser evacuada para uma zona com maior segurança? Por este
apresentar um risco para as populações em vários domínios? Sim ou Não; e porquê?
R: Sim. Por um lado, porque o bairro dos Eucaliptos não oferece condições de habitabilidade,
pelo facto de não estar urbanizada, que tem sido um dos maiores problemas quando acontece
calamidades e por outro lado o bairro não oferece garantia de higiene, e isto constitui um
grande atentado a saúde pública, visto que se verificam amontoados de resíduos urbanos ao
arredor das residências nas escolas hospitais e postos polícias e ao arredor do bairro.

132
Anexo 6 - Inquérito de aplicação autoridade tradicional e a população do Bairro dos Eucaliptos

Ao aplicar o inquérito de aplicação autoridade tradicional e a população com o objetivo de


recolher dados para avaliar o nível socioeconómico, ambiental demográfico, e os riscos devido
as alterações climáticas que a população do bairro do Eucaliptos enfrentam. Este instrumento
aplicou-se a 100 pessoas que vivem no Bairro (ver anexo 4) e constatou-se que:

Idade: _____/ Sexo:____/Estado civil:_____/Nível de Escolaridade_______/Há quanto tempo


reside neste bairro:___anos

Marca com (X) o SIM no primeiro quadro e NÃO no segundo SIM NÃO

1. O bairro dos Eucaliptos tem lojas…………………........... 70 22

2. O comércio do bairro dos Eucaliptos é organizado…….. 92

3. As lojas do bairro dos Eucaliptos vendem produtos básicos para a


população…………………………………………………….
92

4. O material usado na construção de casas, lojas, cantinas, lanchonetes e armazéns é


duradouro ou precário?..................................
Sim
R: Existe uma variedade na construção alguns responderam que SIM, e outros
responderam que NÃO.

5. O bairro tem escolas.......................................................... 92

92
6. Considera o número de escolas é suficiente………………

7. O bairro tem creches………………………………………… 92

133
8. O Saneamento básico é bom………………………………. 12 80

9. Todas as casas têm latrinas………………………………. 60 42

10. Quais são os principais animais e insetos que aparecem no Bairro?

R: Mosquitos, baratas, ratos, moscas, e outros rastejantes.

11. Quais são as principais doenças que predominam o bairro?

R: Diarreias agudas e malarias.

12. Existe água canalizada na sua casa……………………. 37 55

13. Há recolha do lixo no bairro……………………………….. 2


90

14. Tem espaços verdes no bairro dos eucaliptos……………


92

15. Há árvores suficientes no bairro…………….……………. 92

16. Quando há cheias o que faz o Povo? Fica.

R: Muitos deles permanecem mesmo nas suas casas, e outros vão para umas zonas que
oferecem melhor segurança.

17. O soba acha que o bairro deveria ser requalificado……. sim

18. O soba acha que a população deveria ser evacuada para as zonas mais seguras quando
há cheias?……………………………….
sim

134
Anexo 7 - Ficha de Inscrição para os moradores do Bairro dos Eucaliptos

REPÚBLICA DE ANGOLA

GOVERNO DA PROVINCIA DO NAMIBE


Foto
ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL DE MOÇẬMEDES
Chefe Agregado

FICHA DE CADASTRAMENTO DE AGREGADOS FAMILIARES Foto


1- Dados Agregados Familiar

Nome__________________________________________________________

Est.Civil________, Data Nascimento____/____/____ Local de


Nascimento_______________BI.nº_____________________Naturalidade___________

Profissão/Ocupação________________ Local deTrabalho _______________

Rendimento Mensal_________________AKZ.

Nome do Cônjuge______________________________Data Nascimento___/___/____ Nº de


filhos_____, Feminino_____,Masculino______Nº Crianças em idade escolar______
Ens.Primário____IºCiclo_____IIºCiclo_____Ens.Superior______, Contacto
telefonico________________/______________________________________

Assinatura______________________________________________________________

2- Dados da Residência

Tipo de Construção______________________________ Casa própria_____ Casa alugada_____,


Nome do Proprietário_________________________________________

Nº de Quartos______________, Nº de Anexo_________________, Outras


especificações__________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
________________________________________________________

135
3- Dados do Inquiridor

Nome_____________________________________________________

Est.Civil________, Data Nascimento____/____/____Local


Nascimento_______________BInº_____________________Naturalidade___________Profissã
o/Ocupação________________

Data______________/_____/___________

(O) Administradora do Forte Santa Rita

_______________________________________________

136
Anexo 8 - Levantamento Fotográfico Do Bairro Dos Eucaliptos

COMÉRCIO INFORMAL NO BAIRRO DOS EUCALIPTOS

HABITAÇÃO DE ADOBE E COBERTURA DE CHAPA DE ZINCO

ARMAZÉM, FARMÁCIA E MOANGEIRA (INDÚSTRIA TRANSFORMADORA)

VIAS DE ACESSO DO BAIRRO DOS EUCALIPTOS

137
138

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