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Universidade de São Paulo

Université de Paris X Nanterre

Políticas públicas territoriais


na Amazônia brasileira
Conflitos entre conservação ambiental e desenvolvimento
1970 - 2000

Neli Aparecida de Mello

Trabalho apresentado à Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São


Paulo
para a obtençao do Título de Doutor em Geografia Humana
Travail présenté à Université de Paris X Nanterre pour l’obtention du titre de Docteur en Géographie

Orientadores / Directeurs
Wanderley Messias da Costa,
Professor na Universidade de São Paulo
Alain Musset,
Directeur d’Études à l’École des
Hautes Études en Sciences Sociales, Paris

São Paulo, setembro de 2002


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Universidade de São Paulo
Université de Paris X Nanterre

Políticas públicas territoriais


na Amazônia brasileira
Conflitos entre conservação ambiental e desenvolvimento
1970 - 2000

Neli Aparecida de Mello

Banca examinadora :
Wanderley Messias da Costa, Professor na Universidade de São Paulo
Alain Musset, Directeur d’Études à l’École des Hautes Études en Sciences Sociales
Wagner Costa Ribeiro, Professor na Universidade de São Paulo
Bernard Bret, Professeur à l’Université Paris VIII

São Paulo, Setembro de 2002


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Dedicatória

Aos meus pais, Messias e Anália.


À ele, devo as primeiras impressões sobre a Amazônia*, o respeito às diferenças deste mundo, ainda hoje
desconhecido. Suas descobertas e dificuldades enfrentadas estimularam-me a ver novos espaços, novas
dinâmicas, novas culturas.

À ela, que cuidou de nossa educação e nossa formação, devo o aprendizado da luta para vencer os obstá-
culos cotidianos e a vontade constante de compreender e de desvendar nossa complexa realidade.

* Veja o anexo 1, “Historia de um pioneiro” 5


Agradecimentos Resumo
Aos meus diretores, Alain Musset e Wanderley As políticas públicas territoriais na Amazônia bra-
Messias da Costa, pelas contribuições e pelo tempo sileira: conflitos entre conservação ambiental e
dedicado à evolução, passo a passo, deste trabalho. desenvolvimento
Às instituições francesas. À ENS - École Normale
Supérieure de Paris, ao acolher-me como pesquisado-
ra-visitante e disponibilizar-me meios para o desenvol- A conjuntura atual apresenta paradoxos que não
vimento do trabalho, durante minha estadia na França, se limitam à distância entre o discurso e a ação.
possibilitando-me a trocas de idéias e discussões com Tais paradoxos são objetos deste trabalho: os dis-
colegas da Seção de Geografia e da Unidade Mista de cursos governamentais refletem as modificações
Pesquisa «Territórios e Mundialização», com o IRD. da agenda internacional dos últimos anos, mas
Aos pesquisadores do «Groupe Amazonie» da ENS, contradições e conflitos resultam de políticas ter-
IHEAL-CREDAL, INRA, CIRAD, Université Paris X ritoriais muito diversas. A inclusão das questões
e Université de Rennes que, reunidos em torno da ambientais em outras políticas públicas é
Grande Amazônia, abriram-me o horizonte à outros embrionária e a interiorização do desenvolvi-
campos de pesquisa, aos espaços além-fronteiras, e mento para regiões ainda periféricas pouco se
participaram, ativamente, no debate de alguns aspectos alterou. De um lado, se consolidam as referências
da análise empreendida. Ao CRBC, pela oportunidade ambientais, a ampliação do debate a respeito dos
de acesso à biblioteca, aos pesquisadores, aos seminá- serviços ambientais que a Amazônia pode prestar
rios. ao planeta, o aporte de novos recursos interna-
À instituições brasileiras. Aos Ministérios da Ciência e cionais para proteção ambiental, o crescimento
Tecnologia, da Integração Regional, Ministério do da governança global. E de outro, se reafirmam
Meio Ambiente - Coordenação do PPG7, do as mudanças no papel do Estado Nacional e a
Planejamento, das Relações Exteriores que deram-me redução do seu poder de influência.
a possibilidade de acessar informações sobre o acom- Neste trabalho são abordados, deste ponto de
panhamento de programas e projetos ainda em execu- vista, a Conferência do Rio, o Programa Piloto de
ção e de analisá-las, numa perspectiva geográfica. Proteção das Florestas Tropicais do Brasil
Às pessoas amigas, que «dão alma» às organizações. (PPG7) e outros programas ambientais recentes,
Meu reconhecimento, pois mesmo estando há mais de seus papéis na difusão dos conceitos de sustenta-
10 000 km, não titubearam em contribuir, em respon- bilidade e de gestão participativa. São também
der aos meus pedidos e questões: Arthur Nobre assuntos de apreciação, os aspectos territoriais
Mendes, Delacir R. Poloni, Hidely Rizzo, Luciana das políticas de infra-estrutura e de assentamen-
Simões, Maria Augusta Fernandes, Mário Wall, Peter tos agrários presentes no PPA 2000-2003, cujas
Schweizer, Simone Azevedo, Wagner Ribeiro. À ações repercutem sobre o meio ambiente. Ao
Leonor Bertone, pelo carinho ao dedicar um tempo analisar os conflitos, as contradições e os impac-
precioso à leitura minuciosa do manuscrito. Jean-Paul tos territoriais para o período de 1970 a 2001,
Deler, por ter acompanhado o trabalho desde o início. considerou-se a influência da sociedade organi-
Ao Hervé Théry, colega, por suas contribuições, pelo zada e de suas territorialidades, as idéias do
uso das fotos, pela formação no uso dos instrumentos desenvolvimento local e os reais macrozonea-
de pesquisa, pelo tempo dedicado a ouvir, e responder mentos induzidos por estas políticas. No entanto,
aos meus argumentos. Ao companheiro. não se constitui em uma avaliação, a posteriori,
Aos meus filhos, Bruno, Camilla e Rafael, pelo apoio, destes programas, pois os mesmos, ainda em exe-
sem o qual, não teria conseguido dedicar-me à este tra- cução, são sujeitos à mudanças.
balho.

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Résumé Abstract
Les politiques publiques territoriales en Amazonie brésilien- The territorial public politics in Brazilian Amazon:
ne : conflits entre conservation de l’environnement et déve- conflicts between environment conservation and
loppement de 1970 à 2000 development

La conjoncture actuelle présente des paradoxes qui ne The current circumstances present paradoxes that
se résument pas à la distance entre le discours et l’ac- do not limit only on the distance between the spee-
tion. Ces paradoxes sont l’objet de ce travail : les dis- ch and the action. Such paradoxes are the objects of
cours gouvernementaux reflètent les changements this research: the governmental speeches reflect the
des mots-clés des négociations internationales de ces modifications of the international agenda of the last
dernières années, mais des contradictions et des years, but contradictions and conflicts result from
conflits surgissent de la diversité des politiques terri- the diverse territorial politics. The inclusion of
toriales. La prise en compte des questions d’environ- environmental issues in other public politics is still
nement dans les autres politiques publiques est embryonic and the internalisation of the develop-
embryonnaire et la percolation du développement ment of peripheral regions have slightly changed.
vers les régions périphériques a peu progressé. D’un In one side, the environmental references, the
côté on a vu se consolider les normes environnemen- magnifying of the debate regarding the environ-
tales et se développer le débat au sujet des services mental services that Amazon region can serve the
environnementaux que l’Amazonie peut rendre à la planet, the stimulation of new contributions of
planète, affluer de nouveaux crédits internationaux international resources for the environmental pro-
pour la protection de l’environnement, croître la gou- tection, the growth of the global governance, are
vernance globale. De l’autre côté on a assisté à des consolidating. While in the other side, changes in
mutations profondes du rôle de l’État et la réduction the role of the National State and the reduction of
de son pouvoir et de son influence. its influence power are reaffirmed.
Ce travail aborde, de ce point de vue, la Conférence In this work, Rio Conference, the Pilot Program for
de Rio, le Programme-pilote pour la préservation des the Protection of the Tropical Forests of Brazil
forêts tropicales du Brésil (PPG7) et d’autres pro- (PPG7) and other environmental programs, their
grammes environnementaux récents, analysant leur tasks in the diffusion of concepts of sustainability
rôle dans la diffusion des concepts de développement and partaking management are discussed. Also,
durable et de gestion participative. Il se concentre sur presented as subjects of studies, the territorial
les aspects territoriaux des politiques de construction aspects of the politics of infrastructure and agrarian
d’infrastructures et de colonisation agricole, incluses nestings presented in PPA 2000-2003, which
dans le Plan Pluriannuel 2000-2003, qui ont des actions re-echo on the environment are investiga-
répercussions sur l’environnement. Analysant les ted. The analysis of the conflicts, territorial contra-
conflits, les contradictions et les impacts territoriaux dictions and impacts, for the period of 1970 to
tout au long de la période qui va de 1970 à 2000, il 2001, are considered the influence of the organised
prend en compte l’influence de la société civile orga- society and its territorialities, the ideas of the local
nisée et de ses territorialités, les idées de développe- development and the real macrozonings induced by
ment local et les macro-zonages induits par toutes ces these politics. However, the inquires do not compo-
politiques. Il n’est toutefois pas une évaluation a pos- se the evaluation of these programs, in a posteriori
teriori de ces programmes, qui sont encore en cours et form, once these ongoing programs, are tenuous to
donc susceptibles de changer daily changes.
.

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Synthèse moitié du XX e siècle, ces politiques visaient à inté-
grer chaque Amazonie à son espace national, prin-
cipalement pour assurer la sécurité des frontières,
Les politiques publiques territo- aujourd’hui ils mènent des stratégies qui visent à
riales en Amazonie brésilienne ** développer les activités économiques et à renforcer
l’intégration continentale. Celles qui cherchent l’in-
tégration des réseaux de transport, en particulier par
Conflits entre conservation de l’environnement la création d’axes bi-océaniques, sont chaque jour
et développement de 1970 à 2000 plus concrètes. Les objectifs définis par la réunion
des experts du Traité de Coopération Amazonienne
(TCA) en 2002 vont dans ce sens et contribuent en
même temps à réduire les vieilles rivalités entre le
L’Amazonie brésilienne se trouve aujourd’hui prise
Brésil, le Venezuela et le Pérou. Des politiques
dans les débats entre conservation et développe-
communes sont envisagées, comme la mise en
ment, entre changement global et gouvernance
place commune de zonages des zones de frontière,
locale, en route vers l’intégration continentale …
l’élaboration d’un “ Agenda pour la Grande
Le discours a changé, incorporant la rhétorique du
Amazonie ”, des stratégies régionales de conserva-
développement durable issue de la conférence de
tion et d’usage de la biodiversité et un protocole
Rio de 1992. Des nombreuses réserves ont été
régional sur les forêts. Mais dans le même temps
créées et quelques politiques publiques ont effecti-
d’autres pays du bassin amazonien, comme la
vement évolué, par rapport à l’exploitation sans
Bolivie et le Pérou ont entrepris, comme au Brésil,
états d’âme des années 1970. De grands investisse-
des politiques de développement de leurs réseaux
ments sont en cours, qui vont changer les circula-
nationaux de transport, si bien qu’on assiste, en ce
tions de la région, donnant plus d’importance au
début de XXIe siècle, à la reproduction des phéno-
transport par voie d’eau, et permettre de nouveaux
mènes anciens du siècle passé, l’occupation par
développements industriels et urbains moins dom-
chaque pays de “ son ” Amazonie.
mageables pour l’environnement, en fournissant
Les Amazonies restent en effet partout l’espace de
davantage d’énergie plus propre.
déploiement de fronts pionniers, mitigé par des
Soumise à ces tensions contradictoires l’Amazonie
actions de caractère environnemental, comme la
se transforme, de nouveaux axes de peuplement et
constitution d’aires protégées et d’actions destinées
de circulation apparaissent, notamment vers le
aux populations traditionnelles. Dans le cas du
Nord. Et tandis que de vastes régions restent à
Brésil, ces politiques de colonisation et ces poli-
l’écart du mouvement et demeurent pratiquement
tiques “ vertes ” ne sont toutefois pas les seules que
vides d’autres sont soumises à une pression forte et
l’État mène en Amazonie. En fait il mène de front
voient leurs ressources naturelles se dégrader. Pour
au moins trois sortes d’actions différentes : les unes
pouvoir établir un bilan régionalisé, une analyse
visent à protéger des milieux naturels auxquels
précise des configurations spatiales résultant de
l’opinion publique brésilienne et internationale a
chaque politique sectorielle est donc nécessaire.
souvent manifesté son attachement ; d’autres ten-
Ces nouvelles conditions pèsent déjà sur le destin
dent à assurer le développement économique d’une
des territoires et bien que la situation politique ait
région de plus en plus nettement intégrée à l’espa-
changé, les questions de l’intégration nationale et
ce national ; d’autres enfin implantent des infra-
continentale sont toujours à l’ordre du jour, ce qui a
structures qui permettront, demain, de nouvelles
fait naître des politiques différentes dans chacun
conquêtes pionnières.
des pays du bassin amazonien. Si, dans la seconde
** Ce texte vise à donner, sous la forme résumée prévue par Configurations spatiales de l’action de l’État
les procédures de cotutell, une idée du contenu de la thèse. Il L’État brésilien mène en Amazonie, outre ses poli-
en reprend donc la substance, mais pas la structure et renvoie
aux cartes et graphiques du texte principal en se référant à tiques de conservation et ses politiques productives,
leurs numéro d’ordre. des politiques pionnières et des politiques sociales.

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On a choisi de privilégier ici les politiques territo- jusqu’à mettre au premier plan le développement
riales, celles qui ont une visée explicitement spatia- durable (1999), partant du principe qu’assurer aux
le ou au moins une dimension spatiale clairement populations locales les moyens de vivre décemment
identifiable était le meilleur moyen de réduire les déboise-
Politiques de conservation ments. Composé de plusieurs sous-programmes
(politique des ressources naturelles, délimitation
Parmi les fonctions qui incombent à l’État, selon la des terres indigènes, actions démonstratives avec
Constitution de 1988, figure la protection de l’envi- des ONGs, etc.) il a déjà produit des effets intéres-
ronnement et celle des communautés indigènes. sants en amenant le gouvernement fédéral et les
Ces politiques ont un impact particulier en gouvernements des États amazoniens à prendre
Amazonie, car si les programmes “ verts ” sont nor- davantage en compte la dimension écologique dans
malement dispersés sur le territoire, les espaces leurs politiques amazoniennes, en soutenant des
protégés (territoires indigènes ou unités de conser- expériences intéressantes (dans le domaine de
vation) sont plus nombreux et plus vastes en l’agro-foresterie, par exemple).
Amazonie qu’ailleurs. C’est par ailleurs là que se Douze ans ont passé depuis la première proposition
concentrent bon nombre des zones, comme l’“ arc du PPG7, un temps bien trop court pour produire
du déboisement ”, dans lesquelles il est nécessaire des changements profonds dans les politiques struc-
d’instaurer des contrôles, en raison de l’intensifica- turelles, mais assez long pour obtenir quelques
tion des processus d’occupation de l’espace. résultats et faire sentir l’influence de ses méthodes
Il existe aujourd’hui en Amazonie 48 réserves natu- dans d’autres secteurs des cercles de pouvoir. Des
relles fédérales (sans compter donc celles des États institutions qui menaient des politiques contradic-
fédérés, des communes et des particuliers), dont le toires et étaient rivales pour l’usage du sol, notam-
total représente 18,5 millions d’hectares, (3,71 % ment dans le domaine de la colonisation, agricole,
de la région, le tiers de la superficie de la France). sont devenues des partenaires et ont entrepris de
Les terres indigènes quant à elles totalisent 900 000 mettre en place des politiques plus cohérentes.
km2 (11 % du territoire national, ou plus d’une fois Des expérimentations nouvelles ont associé large-
et demie la France), dont la grande majorité en ment la population, des modèles nouveaux de sys-
Amazonie. Dans certaines régions, comme le tèmes productifs plus adaptés au milieu forestier
Roraima, à la frontière du Venezuela, la “ cabeça do ont été développés et diffusés, les institutions et les
cachorro ” (la “ tête du chien ”, ainsi nommée à moyens nécessaires à la protection de l’environne-
cause de sa forme caractéristique) et le haut Juruá, ment ont été renforcés, les expériences isolées sont
en Amazonas, ces réserves occupent plus de la moi- devenues des réalités quotidiennes. Des alliances
tié du territoire, au point que les habitants non-indi- institutionnelles ont été réalisées pour mettre en
gènes disent (non sans exagération et quelque mau- place des projets ou des réglementations com-
vaise foi), se sentir à l’étroit dans leurs “ réserves de munes. La définition de modèles de colonisation
Blancs ”. durable pourra produire de nouveaux changements
Les cartes 2.01 et 2.02 localisent ces réserves et réduire la dégradation des ressources naturelles.
Plus globalement, des progrès ont été faits dans la
C’est en grande partie vers eux que s’est tourné le connaissance et la prise en compte de l’environne-
Programme-pilote pour la préservation des forêts ment dans l’appareil d’État.
tropicales du Brésil (son nom est souvent abrégé en Tout cela est encore embryonnaire et peut être
“ PPG7 ”). Conçu à l’origine, en 1990-1991, dans réduit à néant si prédominent les querelles pour le
une optique de conservation des forêts, ce program- pouvoir et la définition des méthodes de travail, des
me ambitieux associe les pays du G7 et l’Union procédures et des activités de formation. La prise en
Européenne (qui ont donné 250 millions de dollars charge du Programme par les autorités brésiliennes
pour le financer), la Banque Mondiale (qui gère le a été retardée de plusieurs années par la compéti-
programme) et le gouvernement brésilien (qui le tion avec la Banque Mondiale. Cet point n’a été
conçoit et l’exécute). Il a progressivement évolué, tranché qu’à la Réunion des Participants de 1999,

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jusque là on se posait constamment des questions (“ Brésil en action ”) une des plus ambitieuses poli-
sur la place de chacun, la Banque insistant sur son tiques menées par le gouvernement du Président
rôle de coordination générale. Ces tensions et le Fernando Henrique Cardoso de 1996 à 1998, et pro-
manque de synergies ont créé bien des obstacles et longé après la réélection de celui-ci, pour quatre ans,
entravé la marche du Programme. le 4 octobre 1998. Une tout autre géographie apparaît
Mais il est clair qu’il pèse de toute façon bien peu avec cette action pionnière, qui agit principalement
face à d’autres actions publiques, dotées de moyens au long des routes amazoniennes et des nouveaux
autrement importants. Peu de ses sous-programmes couloirs multimodaux de transport. C’est notamment
ont eu dès l’origine un champ d’action spatialement la stratégie spatiale de l’institut national de colonisa-
déterminé, même parmi ceux-ci l’on peut compter tion et de réforme agraire (INCRA), certainement le
les programmes de gestion environnementale inté- plus représentatif d’une politique “ pionnière ”. Il ins-
grée du SPRN (sous-programme des politiques de talle des familles au long des routes de la région sur
ressources naturelles du PPG7). Les zones straté- leurs tronçons les moins consolidés, à la pointe extrê-
giques choisies par ce programme tracent un vaste me de l’avancée pionnière. On a pu constater que la
couloir Nord-Sud, du Roraima au Mato Grosso et concentration des familles et des terres à occuper est
de l’Amapá au Tocantins, ce qui montre que ces spécialement grande en Amapá, en Roraima et sur la
États ont inclus dans leurs priorités la gestion des Transamazonienne, sur son tronçon le moins occupé,
ressources naturelles dans les zones sensibles et entre Altamira et Humaitá. La logique qui sous-tend
qu’ils se soucient déjà des axes de transports qui les cette action peut ne plus être celle des années 1970,
traverseront dans les prochaines années quand l’Institut était parmi les instruments les plus
Les cartes 4.2 et 4.8 localisent tous les sous-pro- actifs d’une politique de colonisation de type géopo-
grammes et projets du PPG7 litique, mais elle est certainement en rapport avec le
Politiques de production et politiques de fait que la terre est moins chère dans ces zones que
conquête dans le Sudeste et le Sud.

Bien qu’elle pèse encore peu dans l’économie natio- La carte 9.5 met en relation les stratégies
nale, l’Amazonie n’en est pas moins entrée – en par- spatiale du programme Brasil em Ação et
tie du moins – dans le Brésil “ utile ”, dans l’orbite de des périmètres de colonisation
São Paulo, la capitale économique du pays. Sur ses Quelle que soit la motivation, l’effet produit est tou-
marges orientales et méridionales, aux confins des tefois le même : l’arrivée massive de famille peu pré-
savanes arborées et de la forêt dense, s’est dévelop- parées à travailler dans l’environnement difficile et
pée toute une frange de grandes exploitations d’éle- fragile de l’Amazonie. Un des aspects qui marque
vage et de production de soja, la culture qui a le plus une nette différence par rapport à la vieille politique
progressé au Brésil depuis vingt ans, avançant de plus de colonisation est le fait que les périmètres naissent
de deux mille kilomètres vers le nord, du Rio Grande aujourd’hui en grande partie en fonction des
do Sul au Mato Grosso. L’État n’appuie pas directe- demandes et des revendications du “ mouvement des
ment ces exploitations privées, mais elles n’existe- sans terre ” (MST). Cependant la forme des parcelles,
raient pas si les routes d’accès n’avaient pas été tra- la façon d’installer les familles et les systèmes pro-
cées. Ni si le prix du gazole (pour les tracteurs agri- ductifs mis en place fonctionnent toujours comme
coles et les camions qui écoulent la production) dans l’ancien modèle des projets de colonisation offi-
n’était pas subventionné (une péréquation générale le cielle. La priorité continue à être l’implantation de
met au même prix au fond de l’Amazonie qu’à la périmètres en Amazonie : leur nombre augmente
porte des raffineries). annuellement de près de 30 % et ils représentent déjà
Les choses sont différentes si l’on regarde plus loin, plus de 30 millions d’hectares. Cela signifie que
si l’on analyse les actions qui sont menées non pas chaque année de nouvelles zones sont ouvertes, de
pour gérer et consolider ce qui a déjà été conquis dans nouveaux déboisements effectués, et que de nou-
les décennies précédentes, mais pour continuer à inté- veaux processus de perte de la biodiversité et de sols
grer davantage l’Amazonie au reste du Brésil. C’était agricoles se déclenchent.
l’un des objectifs du programme Brasil em Ação
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Politiques de transports et politiques énergé- fourniture d’énergie pour toute l’Amazonie orientale.
tiques Sa connexion au réseau national est déjà réalisée par
La politique des transports est un autre levier puissant la liaison avec le réseau nordestin, via l’État du
à la disposition de l’État pour transformer l’organisa- Maranhão, et il le sera bientôt avec le réseau général
tion territoriale, surtout dans cette région. L’aspect le du pays, via l’État du Tocantins. Le réseau local est en
plus innovant, mais qui rejoint une très ancienne tra- cours de prolongement au long de la
dition amazonienne, le transport fluvial, est l’aména- Transamazonienne, jusqu’à Santarém et Itaituba, (le
gement des voies navigables du Madeira et de “ linhão ” tant attendu dans la région). Enfin l’appro-
l’Araguaia – Tocantins, afin d’écouler les productions visionnement énergétique devrait être amélioré à plus
de grains (soja surtout) du sud de l’Amazonie, via le long terme par l’arrivée jusqu’à Manaus des lignes
fleuve et Belém, plutôt que par camion via les ports venant du barrage vénézuélien de Guri.
du Sud du pays. Le transport routier n’est pourtant La construction du gazoduc entre le gisement
pas négligé puisque sont également prévus l’asphal- d’Urucu et le fleuve et Manaus devait permettre,
tage ou la remise en état des routes de l’axe Cuiabá – grâce à une flotte de barges réfrigérées, la fourniture
Manaus – Boa Vista – Venezuela, traversant donc de gaz naturel à toutes les villes de la région. Ce pro-
l’Amazonie du Sud au Nord. jet a déjà été modifié par le programme Avança
Les options prises par les récentes politiques gouver- Brasil, dans lequel est prévu le prolongement du
nementales dessinent deux axes nord sud : gazoduc jusqu’à Manaus, au nord, et jusqu’à Porto
- un axe oriental, qui accompagne et double la Velho, au Sud. Cette décision pourrait être lourde de
route Brasilia-Belém, dont la pièce principale conséquences pour l’environnement, non pas à cause
est la voie navigable Araguaia-Tocantins ; du gazoduc lui-même mais des routes de service qui
- un axe occidental, qui associe la voie navi- l’accompagnent, et qui pourraient permettre aux
gable du Madeira (parallèle à la route Porto défricheurs d’accéder à des régions jusque là intactes.
Velho-Manaus, dont la reconstruction est pro- L’ensemble de ces travaux change totalement le
grammée), les routes BR 364 (Cuiabá - Porto panorama énergétique de la région, rendant les prin-
Velho) et BR174 (Manaus - Venezuela). cipales villes autonomes et les dotant des ressources
Cette politique continue les grands travaux des suffisantes, grosso modo, pour promouvoir leur crois-
années 1970 et peut changer sensiblement l’organisa- sance et l’amélioration de leur niveau d’équipement
tion de l’espace amazonien, en créant de nouveaux et de confort. Ce processus est dialectique, car en trai-
axes de circulation dans le sens nord-sud, qui traver- tant mieux les villes que les zones rurales mal desser-
sent l’Amazonie et la relient non seulement au Sud du vies, il contribuera probablement à une plus grande
Brésil mais aussi au Nord du continent. Ces nouvelles concentration de la population en ville.
liaisons auront probablement d’importantes répercus- Sans prétendre en constituer une synthèse complète,
sions sur l’organisation de l’espace aux échelle régio- les cartes 8.4, 9.2, et 9.3 tentent de spatialiser les
nale, nationale et continentale. principaux facteurs évoqués tout au long de l’analy -
D’une certaine manière, ces configurations renfor- se précédente.
cent spatialement la politique brésilienne de consoli-
dation du Mercosul, développant les réseaux phy- Elle fait apparaître, à l’intérieur d’un cadre défini
siques de transport et d’énergie, les reliant à d’autres principalement par quelques limites naturelles et la
réseaux continentaux, et incorporant des régions plus répartition d’une population encore en phase de
distantes, amarrant de façon effective ce vaste espace conquête pionnière, que les politiques publiques
à l’économie nationale. Les négociations et les prennent en Amazonie quatre formes principales. La
contacts récents avec d’autres pays du continent mon- politique de conservation est dispersée mais avec de
trent la détermination politique du Brésil à intégrer nettes concentrations au nord du bassin. La politique
entre eux les marchés régionaux, incitant les autres de production se concentre sur les périphéries méri-
pays latino-américains à rejoindre le Mercosul. dionale et orientale. Et la politique de pénétration pri-
La construction du barrage de Tucuruí, de loin le plus vilégie certaines voies navigables et certaines routes.
grand de toute l’Amazonie, assume une abondante La résultante territoriale des interactions entre ce

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cadre, encore mouvant, et les politiques publiques 2- Changements de politiques, change-
serait le suivant : ment d’axes
- la vieille Amazonie des fleuves, au centre du bas-
sin, est pour sa plus grande partie ignorée des poli- Dans les années 1970, sous le régime militaire, la
tiques publiques, à l’exception notable des villes politique amazonienne de l’État brésilien était clai-
(où, il est important de le rappeler, vit plus de 60 % re : occuper et quadriller le terrain pour assurer la
de la population régionale) ; souveraineté nationale, “ integrar para não entre -
- l’arc externe de l’Amazonie légale, déjà incorpo- gar ” (intégrer pour ne pas brader). Dans les années
ré à l’espace national, s’étend sur les plateaux cou- 1980, avec la “ décennie perdue ” (sur le plan éco-
verts par les savanes arborées et par la forêt sèche. nomique du moins), et le retour de la démocratie
Il a été transformé par une politique très active de (en 1985) l’État n’a pas eu le loisir ni l’envie de
production et d’écoulement des grains, notamment mener une politique amazonienne bien définie. Il
le soja ; s’est donc contenté de mener à bien les grandes
- la frange intermédiaire, à l’avant du front d’ex- opérations lancées dans les décennies précédentes,
pansion, se trouve dans une situation moins bien comme la mise en exploitation du gisement de fer
définie, car divers scénarios peuvent être imaginés, de la serra de Carajás, ou des politiques très secto-
en fonction de la direction que prendront les poli- rielles, comme la mise en défense de la frontière
tiques publiques pour l’Amazonie ; Nord, l’opération Calha Norte. Dans les années
- le nord et l’ouest de la région forment encore un 1990 deux influences contradictoires ont joué en
espace de réserve, pour le moment presque unique- sens inverse. D’une part le Brésil a été l’hôte de la
ment affecté par les politiques de conservation. Son conférence de Rio en 1992, et de ce fait à la fois un
destin serait-il de continuer dans ce rôle ? actif négociateur des grandes conventions interna-
- finalement le fait nouveau est l’apparition de deux tionales qui y ont été conclues … et quelque peu sur
axes de pénétration vers le nord, un axe principal au la sellette. D’autre part le pays s’est lancé résolu-
long de la BR174, de Manaus à la frontière du ment dans une politique de privatisations, d’ouver-
Venezuela, et un axe secondaire de l’Amapá vers la ture économique et d’exportation, de grains notam-
Guyane. ment, dont on imagine bien qu’elle n’a pas que des
Si le résultat spatial est à peu près clair, comprendre avantages pour l’environnement.
son évolution probable dans l’avenir suppose de Au cours de ces trois périodes les diverses planifi-
regarder un instant en arrière. La multiplicité des cations gouvernementales ont eu des dess(e)ins dif-
stratégies que l’État brésilien (succédant en cela à férents, défini chacune de nouveaux zonages, privi-
la Couronne portugaise) a utilisé pour intégrer légié de nouveaux axes. L’analyse des plans du
l’Amazonie pourrait être racontée en commençant gouvernement et de leurs images territoriales révè-
en des temps lointains, quand elles étaient tournées le la mise en valeur de différents espaces : axes rou-
avant tout vers la prise de possession et la forma- tiers, zones de programmes spéciaux et de coloni-
tion de territoire [Théry 1979]. On se contentera des sation dans les années soixante-dix ; pôles de pro-
trois dernières décennies, au cours desquelles l’État duction dans les années quatre-vingts ; couloirs
a sensiblement renforcé sa politique d’intégration d’exportation à la fin de la décennie de 90 et jus-
de l’Amazonie. Elles sont marquées par des qu’à aujourd’hui.
conceptions bien distinctes, chacune typique de la Des décennies de plomb au plan Brasil em
période politique qui les a vu naître : les années 70 ação
et 80 , les années 90, et la période actuelle.
Au cours des décennies 1970 et 1980, sous le régi-
me militaire, l’Amazonie a été l’objet de grands
programmes de planification : la politique de colo-
nisation, pièce principale du programme d’intégra-
tion nationale (PIN); l’installation de la zone
franche de Manaus (Suframa) un vaste parc d’in-
dustries électroniques assis sur l’exemption de

12
taxes d’importation; le programme Polonoroeste, vestissement de l’État s’est sensiblement réduite,
pour la mise en valeur des régions traversées par la l’on a fait appel aux intérêts sectoriels ou spatiaux
BR364 ; le complexe minier et métallurgique des entreprises privées. Le montant des investisse-
Grande Carajás, fondé sur la valorisation du gise- ments, aux alentours de 70 milliards, obligea le
ment de fer et d’autres minerais de la région, au gouvernement fédéral à associer ses ressources
long des frontières septentrionales. Même avec des propres (41 milliards, dont 24 provenant des Fonds
objectifs très différents ces programmes avaient un structuraux et 16,7 du Budget) à celles des gouver-
trait commun, la délimitation d’un périmètre défini nements des États (4,2 milliards), du secteur privé
pour leur action, où s’exerçait la juridiction de l’or- (15,1 milliards) et des entreprises publiques (9,8
ganisme chargé de les mener à bien. milliards). Les investissements en infrastructures
Une autre base conceptuelle de ces politiques a été (télécommunications, transports, énergie et de tou-
la définition “ pôles de développement ”, où se risme) ont été de l’ordre de 22,1 milliards, les pro-
concentreraient l’action et les ressources que l’État grammes sociaux de 43,6 milliards, ceux qui tou-
mettrait au service du développement régional de chaient à l’information et à la connaissance de 3,5
l’Amazonie. Telle fut l’essence du IIe plan national milliards et ceux qui étaient consacrés à l’environ-
de développement, en partie en réaction contre la nement de 900 millions. Bien qu’officiellement
politique ambitieuse du programme d’intégration clos, le programme se poursuit en fait au cours du
nationale. Les politiques urbaines ont eu, par second mandat de Fernando Henrique Cardoso,
construction, la même vision, ainsi que les étapes sous la forme du programme Avança Brasil.
initiales des plans de valorisation des gisements de L’évolution des priorités du plan Brasil em Ação se
bauxite de Trombetas et de fer de Carajás, avant reflète dans l’appel d’offres conjoint (BNDES /
l’intégration de ce dernier dans le projet Grande Ministère de la Planification et du Budget) pour
Carajás. l’étude des axes nationaux d’intégration et de déve-
loppement : ces axes étaient centrés sur de grands
La carte 1.3 situe les principaux programmes 1er projets d’infrastructures du programme Brasil em
et 2e PND Ação. Les études commandées par le BNDES ont
Ces grands projets une fois exécutés, la planifica- élaboré des scénarios qui s’étendent jusqu’en 2007,
tion territoriale a de fait disparu des pratiques gou- utilisant les conditions existant sur le terrain: les
vernementales, jusqu’au lancement du programme réseaux physiques, l’infrastructure, les flux écono-
Brasil em ação (“ Brésil en action ”), qui a marqué miques, les flux d’information et de connaissance
une nette rupture et un retour à des habitudes per- et la dynamique sociale. Les questions du dévelop-
dues depuis longtemps. À côté de très importants pement social et de sa dynamique, ainsi que celle de
volets sociaux (emploi, santé, logement, crédit), l’information et de la connaissance, ont donc été
représentant au total 26 milliards de Reais,3 il incorporées à la marge, comme élément de caracté-
incluait un très vaste programme de construction ou risation des axes. L’environnement a quant à lui été
d’amélioration d’infrastructures de transport incorporé simplement comme une possibilité pour
(routes, voies navigables, ports), énergétiques les investissements et non comme une dimension
(lignes électriques, gazoducs) et de télécommunica- incluse dans un modèle de développement.
tions. Au total le montant des investissements en Parmi les produits attendus figurait une étude de la
infrastructures a dépassé 44 milliards de Reais. La “ zone d’influence des axes ”, qui a été effective-
seule construction du gazoduc reliant le gisement ment produite par le consortium Brasiliana. La
de gaz d’Urucu à Manaus et Porto Velho a repré- figure 8.01 montre que, outre ce travail, le consor-
senté à lui seul 1 635 millions de Reais, soit plus de tium a pris, en ce qui concerne l’Amazonie, une ini-
six fois le montant du PPG7. tiative intéressante en transformant le tracé et
Programme constitué par des investissements même la nature des axes. Des neuf axes nationaux,
venant de plusieurs sources, le programme Brasil quatre croisent l’Amazonie, les axes “ Oeste ”,
em Ação se rapproche fortement des priorités de la “ Madeira-Amazonas ”, “ Araguaia-Tocantins ” et
politique de privatisation. Comme la capacité d’in- “ sortie vers les Caraïbes ”.

13
La carte 8.1 –montre la configuration définitive de tique de développement durable semble ne présenter
ces Axes que des avantages, elle présente néanmoins une
contradiction fondamentale : en abandonnant le dis-
Compétition entre les stratégies cours écologiste radical au profit du concept de déve-
Il existe de toute évidence une compétition entre les loppement durable, encore en débat ne risque-t-elle
institutions, compétition entre leurs attributions, leurs pas de perdre ses limites ? Et qui sera chargé du
objectifs et les buts de leurs politiques. Le fédéralis- contrôle des dégradations de l’environnement, de la
me et la décentralisation des compétences, en pollution ?
conjonction avec le processus global de réduction du Quelles dynamiques territoriales résulteront de ces
rôle de l’État et le développement des concepts de politiques ? Continuera-t-on à voir cohabiter deux
gouvernance et de gouvernabilité, ont renforcé la univers fonctionnant à des vitesses différentes ?
compétition et la superposition de compétences entre Nombre d’arguments des études de création des Axes
l’Union et les États fédérés. Une compétition pour le nationaux sont fondés sur les potentiels des territoires
territoire se développe aux échelles locale, régionale, et sur les occasions de dynamiser l’économie de
nationale et internationale et renforce les tensions chaque région, de les rendre compétitives et capables
sociales et spatiales. Mais tous les groupes ont-ils les de s’insérer sur le marché mondial. En réalité ces
mêmes territorialités ? Leur intérêt pour la protection arguments ne s’appliquent pas bien en Amazonie,
de l’environnement et développement sont-ils les mais plutôt aux territoires qui répondront rapidement
mêmes, ou du moins semblables ? Les propositions aux demandes de la compétition mondiale. Les inves-
de modèles durables doivent non seulement rivaliser tissements dans les voies navigables transforment
avec la grande production appuyée par de puissants l’espace-temps des fleuves amazoniens en ce qu’ils
intérêts nationaux, régionaux et locaux, mais aussi servent de couloirs de transport pour les produits
entre elles et avec les visions de groupes sociaux exportés, mais les retombées de ces investissements
confortés par la recherche de la participation et de la n’apporteront guère d’avantages aux populations tra-
citoyenneté, et qui revendiquent la reconnaissance de ditionnelles, aux riverains qui dépendent des fleuves
leurs territorialités. pour leur vie quotidienne ou pour les paysans sans
Da ns ce contexte, le choix entre les divers terres récemment installés dans les projets de coloni-
modèles de développement de l’Amazonie est diffici- sation qui se plaignent du manque de routes pour
le, la conservation de l’environnement et la croissan- l’écoulement de leurs productions.
ce économique semblant rester contradictoires. On Malgré tous les efforts consentis, malgré le discours
commence à voir se développer des expériences fondé sur de nouvelles conceptions et sur les thèmes
d’utilisation des ressources naturelles et des res- environnementaux véhiculés par le débat internatio-
sources biologiques fondées sur de nouvelles techno- nal, il faut noter que les stratégies territoriales du pro-
logies, de nouveaux processus de formation profes- gramme Avança Brasil se heurtent aux lenteurs des
sionnelle et de nouvelles certifications. Elles sont tou- politiques de conservation. La définition des zones de
tefois peu représentatives dans un contexte où les sec- protection dépend des résultats de la recherche scien-
teurs de l’environnement, de l’information et de la tifique, de la systématisation des connaissances scien-
connaissance ne représentent que 6 % du plan plu- tifiques et des savoirs traditionnels, et des progrès des
riannuel 2000-2003, contre 58 % pour les investisse- techniques qui permettent leur utilisation. La mise en
ments en infrastructures. place des infrastructures n’est régie que par la dispo-
Au cœur de cette compétition pour les territoires, les nibilité des capitaux, puisque les connaissances et les
unités de conservation vouées à la protection intégra- techniques ont déjà été développées. Elles facilitent
le de l’environnement tendent à se réduire à des îles l’intégration de terres nouvelles et dessinent, en
éparses, de surcroît menacées d’invasion, sapant l’an- Amazonie occidentale, un arc nouveau de Porto
cien modèle de protection de l’environnement et le Velho à Boa Vista via Manaus, répétant une stratégie
remplaçant par un nouveau modèle, celui de l’usage déjà vue dans les années 1960, quand la liaison
durable des ressources naturelles. Même si l’évolu- Brasília-Belém a permis l’arrivée du front pionnier
tion d’une politique de conservation vers une poli- dans les savanes arborées des cerrados. Cet axe achè-

14
ve de relier l’extrême nord à l’extrême sud du pays et très ancien modèle de production pour l’exportation
sa consolidation peut être rapide à en juger par les et sur la recherche de la compétitivité sur un marché
investissements prévus. Ce processus est bénéfique international de plus en plus mondialisé.
par un côté en ce qu’il intègre les villes de cette Parmi les projets entrepris dans le programme Brasil
immense région, donne accès aux frontières très peu em Ação qui continue dans le programme pluriannuel
peuplées du pays et accélère l’apparition ou la revita- 2000-2003, certains touchent directement
lisation d’innombrables petites villes, mais par l’Amazonie :
ailleurs il encourage les migrations, crée de nouveaux - l’exploitation du gaz naturel d’Urucu et la
espaces propices à la production agricole destinée à construction des gazoducs Coari-Manaus et
l’exportation et accélère le déboisement. En permet- Urucu-Porto Velho, qui coûteront 1 milliard de
tant l’accès à des zones encore protégées, il permet dollars (2 milliards de Reais) ;
aussi l’accès à des ressources forestières et biolo- - le doublement de l’interconnexion nord-sud du
giques de haute valeur et peu connues. réseau électrique ;
Beaucoup de ces nouvelles formes d’intervention en - la réparation de tronçons des routes BR364 et
Amazonie se retrouvent dans la nouvelle politique BR163, pour 75 millions de Reais ;
gouvernementale, baptisée programme Avança Brasil - l’aménagement des voies navigables du
(littéralement “ avance, Brésil ”, un formule qui était Madeira et de l’Araguaia-Tocantins. Le pre-
le slogan principal de la campagne électorale pour la mier est déjà entrepris, mais a pris du retard à
réélection de Fernando Henrique Cardoso en 1998). cause des études d’impact environnemental
Dans le cadre du plan pluriannuel (PPA) 2000-2003, qui ont retardé l’exécution des travaux. Seront
le gouvernement coordonne des investissements de investis 16 millions sur le Madeira et de 135
près de 985 milliards de Reais4, un montant qui donne millions sur l’Araguaia-Tocantins;
une certaine consistance au discours du gouverne- - les routes BR 230 (Marabá-Itaituba); BR-156
ment quand il se dit disposé à reprendre la voie de la (Macapá-Oiapoque) et BR-317 (Rio Branco-
planification et à appuyer des actions sociales. Assis Brasil);
- le sytème ferroviaire Ferronorte sur les tron-
Les graphiques 8.2 et 8.6 montrent le détail çons Alto Taquari-Cuiabá et Alto Araguaia-
de ce programme par aire thématique Uberlândia, qui coûtera 1,33 milliard de Reais.
Pour garantir la mise en place du programme Avança Un certain nombre des projets approuvés incorporent
Brasil, la plus grande partie des crédits nécessaires une sensible amélioration du niveau scientifique et
ont été inscrits au budget fédéral, même si le gouver- technique par rapport aux infrastructures tradition-
nement redouble d’efforts pour obtenir des investis- nelles :
sements privés : le portefeuille d’investissements - le système SIVAM/SIPAM (Système de
complémentaires par rapport aux actions du PPA Vigilance de l’Amazônie et Système de
atteint près de 180 milliards. Une nouvelle phase du Protection de l’Amazonie), à base de radars et
programme Avança Brasil (PPA 2004-2007) devrait de télédétection satellitaire ou embarquée sur
mettre en jeu des crédits encore plus importants. des avions, est l’un des plus sophistiqués
Le projet Avança Brasil structure le territoire, notam- jamais conçus;
ment la région amazonienne, principalement par le - la ligne à haute tension Tucuruí à Altamira est
biais des transports. Une analyse des actions qui y doublée par des câbles de fibres optiques;
représentent le plus grand volume de crédits montre - les programmes PROBEM (Programme
que les montants les plus importants y sont destinés à Brésilien d’Écologie Moléculaire pour
la rénovation ou à la construction d’infrastructures de l’Utilisation Durable de la Biodiversité de
transport, voies navigables, chemins de fer et routes. l’Amaonie) et PROECOTUR (Programme de
Analyser la répartition de ces travaux montre que pra- Développement du l’Écotourisme en
tiquement toutes visent à relier des régions produc- Amazonie) marquent bien l’introduction de la
trices à des ports d’exportation. On pourrait dire ce dimension environnementale dans les priorités
nouveau modèle s’appuie à la fois sur un retour à un gouvernementales ;

15
En somme le programme Avança Brasil montre une Le développement ou la préservation de l’en-
nette reprise de la planification et inclut des projets du vironnement ?
plus haut niveau scientifique et technique mais ses À l’intérieur même du programme Avança Brasil
principaux investissements continuent à porter sur les existent des contradictions manifestes, qui résul-
infrastructures. C’est pourquoi les partis d’opposition tent, au fond, du désaccord, au sein même de l’ap-
au Congrès l’ont défini comme un “projet stratégique pareil d’État, entre différentes visions du dévelop-
d’investissements, mais non un projet de développe- pement de l’Amazonie: le modèle environnemental
ment ”. de développement durable et le modèle de compé-
3- Les conflits titivité et d’insertion sur le marché mondial d’ex-
portation. Le tableau 1 met en relation les politiques
Le déboisement continue environnementales et les infrastructures existantes,
Selon des données publiées en avril 2000, en insistant sur les mécanismes qui ont été adoptés
551 782 km2 de forêts avaient au total été déboisés Les points de conflit sont innombrables, et l’on se
depuis que des études sérieuses existent, soit une contentera ici d’évoquer ceux qui ont les plus fortes
superficie de peu supérieure à celle du territoire fran- implications spatiales:
çais. - c’est dans la zone occupée par les axes Oeste et
Fondées sur des analyses d’images satellitaires réali- Araguaia-Tocantins que se situe l’“ arc du
sées par l’INPE (Intituto Nacional de Pesquisa déboisement ”, où se concentrent les principaux
Espacial, l’Institut national de recherche spatiale bré- impacts sur les écosystèmes, surtout celui des
silien), ces études sont menées régulièrement depuis savanes arborées et de la transition forestière.
1978. Elles révèlent qu’après une baisse sensible au L’augmentation des financements et des activi-
début des années 1990, le rythme de déboisement a tés agricoles accroît les foyers de déboisement
recommencé à augmenter, il a été d’un peu moins de et de brûlis, dans une zone déjà relativement
15 000 km2 pour les années 1992-1994. Les nouvelles fragilisée ;
données publiées chaque année montrent que le mou- - les “ axes nationaux d’intégration et du déve-
vement ne se ralentit pas. L’année 1995 a été excep- loppement ” en Amazonie, c’est à dire les cou-
tionnellement mauvaise, 29 000 km2 ont été défri- loirs de transport, coupent les “ axes de conser-
chés, ce que l’on explique par la conjonction d’une vation de la biodiversité ”, les couloirs écolo-
année sèche et de l’euphorie économique qui a suivi giques proposés par le PPG7. Ces couloirs de
la stabilisation de la monnaie par le plan Real. Les transport vont, probablement, ouvrir de nou-
années 1996, 1997 et 1998 ont retrouvé un rythme veaux espaces aux actions prédatrices, aggra-
plus “ normal ” avec 18 000, 13 000 et 17 000 km2, vant la dégradation en cours sur la frontière
ce qui représente tout de même l’équivalent d’une agricole, par le biais de l’action des bûcherons,
forêt landaise (la plus grande d’Europe) détruite des producteurs de blé, des éleveurs, et peut-
chaque année. être, plus tard, des producteurs de soja.
- le séminaire sur l’utilisation et la préservation
La carte 4.1 montre l’évolution du déboise - de la biodiversité en Amazonie, réalisée à
ment de 1976 à 1991 Macapá en 1999, a défini 365 zones où devrait
se concentrer l’action gouvernementale dans les
Et ces déboisements, c’est sans doute le plus grave,
prochaines années, car pour que la forêt puisse
continuent d’être accompagnés de conflits fonciers
maintenir ses fonctions environnementales de
très graves, où meurent chaque année des dizaines de
base il faudrait conserver au moins 80 % de la
paysans. De ce côté le problème reste entier, et la
couverture forestière de la région. Parmi ces
politique de colonisation de l’INCRA (Institut
zones 64 devraient être prioritaires pour la créa-
National de Colonisation et Réforme Agraire), qui
tion de nouvelles unités de conservation. Or, si
continue à installer des milliers de familles dans des
l’on superpose ces zones prioritaires pour la
régions reculées, où elles n’ont pratiquement aucune
conservation et les zones réservées pour les
chance de réussir à monter des exploitations viables,
couloirs d’intégration et de développement, on
ne fait qu’aggraver les choses.
16
constate des conflits entre les fonctions de pré- leur soient données de meilleures conditions
servation et celle des axes, qui sont conçus pour pour la commercialisation de leur production, et
intensifier la production et l’exportation. de l’autre côté un processus de concentration
- aujourd’hui 395 communes de l’Amazonie (57 foncière et la croissance des périphérie
% du total) sont concernées par des actions du urbaines ;
PPG7, et bon nombre d’entre elles sont égale- - la grande quantité de terres publiques dispo-
ment localisées sur les axes de développement nibles dans le Roraima et l’Amapá a servi à
du programme Avança Brasil. Il est donc néces- accroître encore le nombre de zones de coloni-
saire de redéfinir la stratégie d’action du PPG7. sation créées depuis 1985. En Amapá il n’exis-
Si ce dernier est un programme de conserva- tait jusqu’en 1995 que huit colonies, elles
tion, les actions devront se concentrer en dehors étaient 28 en 2000, et les routes de l’Arc Nord
des axes, et s’il prétend être un programme de devraient intensifier encore davantage ce pro-
développement durable, il devra transformer les cessus. Aujourd’hui 37 % des zones de coloni-
actions incluses dans les axes en expériences sation rurale du pays se trouvent en Amazonie,
qui puissent s’appuyer sur les nouvelles infra- où se répète ainsi le cycle de déboisement et de
structures d’exportation et tenter de placer les brûlis, de croissance désordonnée de la petite
produits du développement durable sur le mar- production sans capital, appelée à être expulsée
ché national et international ; dès que les routes deviendront carrossables
- l’expansion du soja conduit à la concentration toute l’année.
foncière puisqu’il nécessite de très grandes sur-
Figure 9.6 Conflits entre conservation et
faces et de forts investissements, et de ce fait
entre en conflit avec la politique d’appui à la infrastructures
petite agriculture familiale, elle-même un des On assiste actuellement en Amazonie à la coexis-
principaux vecteurs de la politique de préserva- tence de politiques sectorielles mal intégrées, sans
tion de l’environnement. Un exemple en est harmonie, en conflit entre elles, résultant de visions
l’augmentation de 15 % du nombre des établis- différentes du modèle de développement et de son
sements de plus de 2 000 ha entre 1985 et 1996 insertion nationale et internationale. Il arrive même
dans les États de Mato Grosso, Goiás et que ces politiques soient en conflit dans le même
Tocantins, c’est-à-dire sur les axes Ouest et secteur : si l’importance des systèmes de transports
Araguaia-Tocantins. Et si l’on établit une rela- est reconnue par tous, dans un certain nombre de
tion entre la structure foncière concentrée et la cas il sont construits parallèlement les uns aux
pression sur les petits établissements (où les autres, à cause de la contradiction entre deux moti-
agriculteurs n’ont pas accès au crédit et ne dis- vations : faciliter le développement de la produc-
posent pas de bonnes voies vicinales donnant tion capitalisée tournée vers les demandes du mar-
accès aux marchés locaux), on est face à un scé- ché international et l’intégration des zones encore
nario d’expulsion de ces petits agriculteurs ; marginale en vue de la création de nouveaux mar-
- il existe une énorme concentration de projets de chés consommateurs.
colonisation dans le Pará, le Maranhão et le À côté de la priorité donnée à l’insertion internatio-
Tocantins, qui suppose l’implantation ou l’amé- nale existent des expériences gouvernementales,
lioration de routes vicinales. Bien qu’il existe par exemple dans Amapá et l’Acre, dont les gou-
dans le PPG7 quelques petits investissements verneurs ont été élus sur des programmes se réfé-
prévus pour des tronçons routiers dans ces rant explicitement au concept de développement
zones, le volume des investissements prévus durable. Ces expériences se fondent sur la partici-
pour la voie navigable Araguaia-Tocantins et pation de nouveaux acteurs sociaux à la construc-
l’encouragement à l’accroissement de la pro- tion d’un nouveau modèle de développement et
duction d’exportation pourront provoquer des recherchent l’harmonisation de la croissance éco-
processus socialement préjudiciables : d’un nomique et de la préservation de l’environnement,
côté, l’expulsion des colons, à moins que ne conditions indispensables selon leurs promoteurs à

17
l’amélioration de la qualité de vie de la population. Introdução
$$$ tableau
Este trabalho constitui mais um esforço de reflexão
Dans ce contexte, les médias peuvent avoir un rôle sobre a Amazônia e a sua inegável importância face
significatif de vulgarisation et de dissémination de à temática ambiental e à globalização da economia.
l’information. Même les plus conservateurs, dans la Ao mesmo tempo, examina sua nova organização
presse écrite et audio-visuelle, abordent aujour- social como forma de rever, deste ponto de vista, as
d’hui des thèmes qui ne suscitaient aucun intérêt relações e os desejos de construção que têm tanto
voilà quelques années. Et le couplage de l’action os grupos sociais que nela vivem como os segmen-
des ONGs et du pouvoir de la presse est un autre tos políticos nacionais, regionais e locais.
processus qui se développe en Amazonie. Des com- Esse desafio se renova numa Amazônia atualmente
munautés naguère complètement isolées sont submetida à múltiplas pressões porque ela se trans-
aujourd’hui connectées et reçoivent quotidienne- formou, desde a Conferência do Rio (1992), em
ment des informations générales ou relatives aux uma das principais áreas de experimentação de pro-
programmes en cours dans la région. Les journaux jetos de desenvolvimento sustentáveis e porque, ao
publient quotidiennement des informations sur les mesmo tempo, lá estão sendo implementados
alternatives au modèle actuel, renforçant le dis- numerosos programas de investimentos que criam
cours sur le développement durable. condições de rápidas mudanças. Ela é locus de
La figure 7.3 localise tous les lieux mention - tensões, de correntes que se cruzam, entre aqueles
nés dans les articles de journaux analysés que a vêem como um dos lugares-chave das
«mudanças globais» e, entre outros, que a tomam
Le réseau global devient chaque jour un fait plus tan- como uma das últimas fronteiras de expansão eco-
gible et renforce son action dans les processus régio- nômica e territorial. São influências que pesam
naux. La possibilité de surveiller l’Amazonie, de sobre a escolha de modelo(s) para o seu desenvol-
dénoncer les manœuvres politiques qui compromet- vimento, originadas no embate deste jogo de idéias,
tent les progrès environnementaux, de développer le de forças políticas.
processus de participation de la population aux débats Estes cruzamentos servem para ressaltar alguns dos
en cours, tout cela existe, en temps réel , pour les questionamentos vindos à tona ao longo da pesqui-
sociétés amazoniennes. L’usage intensif de ces tech- sa. A consciência mundial da escassez de recursos,
nologies de communication a renforcé encore davan- da exploração e depredação dos mesmos não terem
tage la présence internationale dans le débat national garantido a melhoria de condições de vida das
et local, entraînant parfois le blocage ou l’abandon de populações locais, não se constituiu em indicador,
projets. De ce point de vue la mise en place du systè- forte o suficiente, para provocar alterações de ati-
me de surveillance électronique de l’Amazonie (pro- tudes de determinados segmentos políticos e
jet SIVAM) pourra changer la donne des processus sociais. Indagações desta ordem orientam hipóteses
scientifiques, économiques et politiques en cours de pesquisas sobre as condições dos diferentes gru-
dans la région. C’est là un des domaines principaux pos sociais na Amazônia, seus modelos de desen-
des politiques d’intégration promues à l’occasion de volvimento e de organização do espaço geográfico,
la relance du Traité de Coopération Amazonienne et dentro de condições históricas e naturais particu-
dans le cadre de la concertation politique avec les lares.
pays de la Grande Amazonie. A Amazônia não representa em si uma unidade geo-
gráfica porque existem diversas Amazônias: do
ponto de vista ecológico ela é composta por dife-
rentes ecossistemas e biomas; do ponto de vista
social, também é um complexo - de diferentes gru-
pos humanos (indígenas, populações tradicionais,
ribeirinhos), migrantes antigos e atuais, colonos,
pequenos produtores, grandes fazendeiros, segmen-

18
tos sociais com suas territorialidades próprias e e ritmos, impulsionados pelas decisões tomadas,
conflitantes entre si. Do ponto de vista econômico, primordialmente, no seio do Estado, em escala
há processos em constantes mudanças : as diversas nacional ou regional.
formas de produção do pequeno agricultor dos É fato conhecido que os limites dos ecossistemas
assentamentos, dos médios pecuaristas, das empre- amazônicos não coincidem com as fronteiras políti-
sas agrícolas que produzem para exportação; do cas e apesar destas questões envolvendo desenvol-
ponto de vista político, representam um entrelaça- vimento e conservação não serem especificamente
mento de interesses destes diferenciados segmen- brasileiras, esta pesquisa não tratou da Bacia
tos, que se contrapõem uns aos outros, nas esferas Amazônica nem dos países do Tratado de
nacional, regional e locais. Cooperação Amazônica. As perspectivas sobre a
Valorizar as políticas territoriais públicas e privile- «Grande Amazônia» decorrem dos olhares nacio-
giá-las como a temática principal desta pesquisa, nais, próprios de cada um dos países, ainda que ten-
num momento em que, mundialmente, a diminui- ham sido identificados processos que articulam,
ção do tamanho e da importância do Estado parece entre si, os diferentes países, alguns dos seus pro-
ser uma tendência, assemelha-se paradoxal. blemas e algumas de suas políticas públicas.
Dedicar-se à sua compreensão induz considerá-las A escolha da Amazônia Legal deveu-se também ao
um objeto de estudo específico, mesmo que se conhecimento empírico já acumulado sobre essa
tenha em consideração a recorrente distância entre região, que evidencia o fato de que as estratégias de
o discurso e a realidade. desenvolvimento adotadas por sucessivos governos
Ao privilegiar esta temática buscou-se o desafio de federais tinham por objetivo favorecer segmentos
desvendar a sua racionalidade técnica, eficácia e da agropecuária nacional e explorar os recursos
compromissos ideológicos e políticos, suas articu- minerais e são as responsáveis pelos principais pro-
lações e oposições. Elas constituem, ainda, um blemas ambientais, ali observados.
poderoso vetor de estruturação e re-estruturação do Os discursos que ganharam significado a partir da
território, sendo capazes de aumentar a velocidade metade dos anos sessenta, traduziam uma vontade
dos processos, e o adensamento das relações no ter- política de ocupar as fronteiras e integrar as regiões,
ritório, sobretudo pelos objetos geografizados que de conquista dos espaços amazônicos, de imensa
cria e reproduz continuamente sob a forma de estru- riqueza mineral, traduzindo assim os objetivos
turas de circulação e de comunicações (estradas, estratégicos dos militares, então no poder. A abertu-
ferrovias, dutovias, redes de energia, telefone, ra de novas terras, a ocupação de fronteiras e a inte-
internet), incorporando valor no espaço e, frequen- gração regional não apenas provocaram reper-
temente, intensificando ainda mais os impactos cussões sobre o próprio território amazônico como
sobre o meio ambiente. também produziram reações, positivas e negativas,
Ao eleger a Amazônia Legal como o espaço desta no país e no exterior. Os discursos oficiais, em
pesquisa procurou-se ressaltar também o universo escala nacional e regional divulgavam o sucesso
do planejamento, da ação estatal embasada na apli- dos homens e suas conquistas sobre o desconheci-
cação de mecanismos de estímulo ao desenvolvi- do, sobre o «inferno verde», os grandes projetos, a
mento regional, visando encontrar as causas dos exploração e produção econômica enquanto a
conflitos, das convergências e as tendências territo- sociedade civil, tolhida em seu direito de expressão,
riais das políticas conservacionistas e desenvolvi- apenas se exprimiam em círculos mais restritos.
mentistas. A retomada do planejamento e a indução Em escala internacional, organizações governa-
de investimentos, pelo governo federal brasileiro, mentais e não-governamentais abordavam os efei-
no final dos anos noventa, encerrando um longo tos catastróficos da ocupação e integração da
período de ausência, estimularam os questionamen- Amazônia, as mal-sucedidas «histórias de vida» de
tos e o direcionamento deste trabalho. caboclos, seringueiros, posseiros, o risco do desa-
Tomou-se como premissa as configurações do parecimento de grupos indígenas e o desrespeito às
espaço geográfico, resultantes de todos esses suas reservas, as ameaças de intensificação dos pro-
vetores que agem simultaneamente, de seus fluxos blemas globais. Estes fatos conseguiram gerar um

19
clima de «momento final» de uma ordem destrui- setor ambiental, de instrumentos revalorizados, e
dora das próprias condições de vida planetária, pela evidenciava a existência de divergências e para-
predominância dos valores econômicos, sobre os doxos com as estratégias adotadas pelas políticas de
outros campos. infra-estruturas, ao recriar novos sistemas e novas
A Amazônia, foco das atenções nacionais e interna- redes de transportes. Que interesses refletem estas
cionais no final dos anos 80 e apontada como um novas redes? Que condições favoráveis têm os ter-
símbolo de políticas inadequadas – ecológica e ritórios para tornarem-se «ganhadores» ou «perde-
socialmente injustas - vem tornando-se, na atuali- dores»? A integração territorial, do final do século
dade, o locus privilegiado de propostas alternativas, XX, articula, simultaneamente, os vetores de infor-
alicerçadas em novos conceitos inseridos na agenda mação com as estratégias internacionais de grupos
política e no processo de participação social nas econômicos e de governos, dando-lhes a condição
decisões sobre políticas publicas. Um espaço que é, de participarem ou de serem excluídos das dinâmi-
contraditoriamente, causa e consequência do pro- cas deste movimento global. O Brasil insere-se
cesso de difusão das crises ambientais globais. A nesta lógica, por meio da Amazônia Legal e de
Conferência do Rio constituiu-se no referencial de outras áreas de relevante interesse ambiental.
valorização desta temática e seus compromissos Na busca de respostas à questões tão complexas,
aportavam, adjacentes, uma nova ordem ambiental, este trabalho procurou substantivar as análises teó-
internacional, de incorporação dos valores da natu- ricas recorrendo ao apoio de pesquisas empíricas, a
reza na proposição de novos modelos de desenvol- partir de numa abordagem «estatístico-cartográfi-
vimento. ca», complementada com testemunhos obtidos em
Assim, a inserção da temática ambiental na agenda entrevistas a gestores públicos, assim como na aná-
política, a transformação dos discursos e a utiliza- lise das convergências e divergências dos discursos
ção do conceito de desenvolvimento sustentável de instituições governamentais e multilaterais e de
por instituições governamentais e organizações determinados segmentos sociais e políticos. A recu-
multilaterais, científicas ou comunitárias, no plane- peração bibliográfica, privilegiando a produção
jamento de suas ações completa-se com o fortaleci- franco-brasileira, foi o primeiro passo.
mento das redes de organizações não-governamen- Evidentemente, esta prerrogativa não eliminou um
tais. Essas organizações, com os mais diferentes reconhecimento panorâmico dos estudos amazôni-
matizes, defendem saídas para enfrentar o agrava- cos realizados em outros países. De maneira geral,
mento dos problemas ambientais globais e locais, as análises empreendidas por autores americanos e
difundem idéias, instrumentos e mecanismos, ingleses trazem abordagens que valorizam aspectos
investindo-os em projetos alternativos de sistemas antropológicos ou específicos sobre a biomassa,
de produção e de gestão. orientados para ciências aplicadas, pelo viés das
Os reflexos desta globalização ambiental estão for- ciências naturais ou dos impactos globais. Dos geó-
temente presentes na Amazônia, um território em grafos alemães, orientados à aplicabilidade do
construção, lugar onde proliferam experiências desenvolvimento sustentável, procurou-se resgatar
baseadas em idéias de sustentabilidade, governan- análises baseadas na percepção do risco por distin-
ça, territorialidade, gestão ambiental, conservação tos grupos sociais. No entanto, a maneira de ver, de
da biodiversidade e recursos genéticos, negocia- analisar e de interrelacionar a sociedade com o ter-
ções de conflitos. Estes conceitos impulsionam, ritório, compreendê-la em seu movimento e suas
realimentam e exigem métodos que possam servir dinâmicas; de estabelecer configurações sócio-
para pressionar, para redirecionar ações do Estado. espaciais a partir da análise das estatísticas, de atri-
Recuperam-se, também, desta maneira, os nexos buir importância à intervenção e à regulação públi-
com políticas de desenvolvimento e de intervenção cas, presentes na produção francesa, estavam mais
públicas. próximas da temática desta pesquisa.
Este universo, este momento político, incitava à À esta seleção, seguiu-se a análise de documentos
interrogações a respeito da crescente valorização oficiais e a constituição desta base documental,
das áreas conservadas, de novas tecnologias do organizada para atender dois objetivos: o primeiro,

20
21
respaldar a apreciação que se fez do discurso gover- toriais ambientais (PPG7, unidades de conservação
namental, o segundo, constituir uma base de dados e terras indígenas, zoneamentos ecológico-econô-
e informações sobre a Amazônia, resgatadas de micos) e indicadores de desenvolvimento balizados
documentos de políticas públicas, e de outros, gera- pelos investimentos governamentais em infra-
dos no âmbito dos projetos estudados. estrutura nos Eixos Nacionais de Integração e
Desse modo, optou-se deliberadamente por um Desenvolvimento e nas políticas de assentamentos
método que agregou compreensivamente as propo- agrário. Foram estes os indicadores para o trata-
sições de políticas de infra-estrutura e ocupação do mento dos grandes cenários de conflitos ou de
território e de conservação ambiental, analisando as convergências na Amazônia e as tendências de arti-
compatibilidades, inconsistências e contradições culação complementares entre estas duas aborda-
entre elas, como base para a identificação das ten- gens.
dências de longo prazo para a Amazônia. A maioria A decisão de analisar as políticas de Estado defla-
destas propostas e suas configurações territoriais gradoras de mudanças ambientais começou há tem-
específicas puderam ser representadas em cartogra- pos atrás quando de minha participação, como
mas, destacando-se, desta maneira, a heterogenei- representante do IBAMA, no processo preparatório
dade de zonas de intervenção correspondentes às da Conferência do Rio. Eram inquietações, sem
políticas públicas territoriais. Cada capítulo procu- respostas, a respeito das negligências que eram
ra detalhar as particularidades metodológicas das apontadas, do diferenciado e contraditório universo
análises empreendidas para os diferentes temas, proposições que surgiam, incluindo a de ser uma
assim como ali estão expostas as formas de incor- região administrada por um conselho internacional
poração dos conceitos e idéias dos diversos autores e dos constantes discursos pela soberania; a questão
que constituem a base principal do trabalho, desta- das florestas e das mudanças climáticas, a proteção
cando-se, entre eles, Adams (1990), Albagli (1998), à diversidade biológica e a sua perda pelo desmata-
Andrade (1996), Becker (2001, 1999, 1994, 1989) mento.
Costa (1999, 1997, 1992), Deler (1997), Grataloup Alguns pontos foram constantemente revalorizados
(2001), Guimarães (1998), Leis (1991), Monbeig nas reuniões internacionais pelos discursos dos
(1977, 1981), Sachs e Mendes (1998), Sachs (1998, chefes da delegação brasileira: enquanto no grupo
1997, 1981), Théry (2001, 1997, 1995), Viola e que tratava de florestas (algumas vezes o próprio
Leis (2001). Secretário de Meio Ambiente) reintroduzia sistema-
A análise do discurso das instituições governamen- ticamente o princípio 21 - de soberania dos
tais foi feita procurando resgatar como se deu a Estados-membros sobre suas políticas de recursos
incorporação de princípios ambientais, dos instru- naturais, nas questões da conservação da biodiver-
mentos institucionais e teóricos das políticas de sidade as intervenções eram mais abertas aos acor-
meio ambiente e das noções de desenvolvimento dos. A estratégia da diplomacia brasileira já tinha
sustentável e em que medida estes estavam sendo sido definida no momento em que se candidatou a
reforçados ou não no contexto das estratégias polí- acolher a Conferência: ser incisivo sobre as
ticas. Aos discursos institucionais foram cotejadas questões de florestas, não aceitando acordos restri-
as abordagens dos mesmos temas pela imprensa tivos e manter-se fora da evidência em outros temas
escrita. As configurações espaciais das ações polêmicos, realizando um trabalho de bastidores
governamentais e as tendências territoriais das polí- para estabelecer os limites das normas que iriam
ticas conservacionistas e desenvolvimentistas regular as relações entre Estados, no que concerne
foram caracterizadas e examinadas criticamente a ao consumo do meio ambiente no processo de
partir do mapeamento das informações, bem como desenvolvimento.
procedeu-se ao cruzamento e à análise de dados Ainda que muitas das questões se situassem na
estatísticos mais gerais, indicadores das dinâmicas esfera das relações internacionais e continuassem
espaciais regionais. sem resposta, procurei trazê-las à uma reflexão, no
Os diferenciados modos de organização do espaço âmbito da experiência de docente no Departamento
foram identificados com base em indicadores terri- de Geografia da Universidade de Brasília, na disci-

22
plina Geografia do Meio Ambiente, centrada nas as noções de governança, democracia local e des-
origens das visões de natureza, no movimento centralização. Assim, a escala local requer, para si,
ambientalista, na própria pauta da Conferência e a maior participação e poder de decisão. Nesta
mobilização social, nas práticas da cooperação conjuntura, a gestão ambiental e as políticas territo-
internacional, na valorização das novas «tecnolo- riais ambientais são também exigidas como obriga-
gias ambientalmente seguras» e no elevado custo ção do Estado federal e nos discursos reclamavam-
para sua obtenção para os países apenas detentores se medidas para a redução das consequências
de recursos naturais. ambientais ocasionadas pelo avanço da frente pio-
Pouco tempo depois, uma nova oportunidade pro- neira na Amazônia Legal.
fissional, conduziu-me ao exercício da função de Estes processos induziram-me à buscar compreen-
gestora de um dos componentes do Programa Piloto der como se dá a aceleração do processo de apro-
para Proteção das Florestas Tropicais Brasileiras priação e estruturação territorial pelas diversas
(PPG7), originado pouco antes da Conferência do dinâmicas desta frente. Para analisar estas transfor-
Rio. Neste percurso, foi preciso enfrentar novos mações espaciais, a escolha da frente pioneira
desafios: observar e analisar a Amazônia por den- como a abordagem a partir da qual sistematiza-se as
tro, articular políticas federais e estaduais, integrar modificações, sendo complementada, a seguir, com
a variável da proteção ao processo de desenvolvi- um enfoque político.
mento. Um contexto nutrido cotidianamente por Os três principais elementos, referenciados em
visões internacionais que misturaram-se às dire- Monbeig (1981), continuam presentes: «um lugar»
trizes e estratégias nacionais e locais. (Amazonia), mas antes de tudo, a ocasião de obser-
Administração de recursos financeiros, idéias var «uma sociedade confrontada com um espaço novo» que
novas, poderes constituídos e estratégias para ela transforma e onde ela se transforma. Dentro
controle de novos espaços de poder misturavam-se dessa «franja pioneira se realiza um imenso trabalho» : nas-
com objetivos de gestão de recursos naturais atra- cimento e formação da paisagem rural, formação e
vés do controle e do monitoramento do desmata- crescimento de cidades, construção de uma rede de
mento. Um programa inicialmente conservacionis- comunicações, mistura de raças, elaboração de uma
ta e que, por força das pressões locais, aos poucos mentalidade regional. Uma sociedade em movi-
desviou-se na direção de outros resultados, de pro- mento, um espaço em construção: a compreensão
dutos ainda muito prospectivos que vão sendo geral deste fenômeno depende da informação, da
esboçados no dia-a-dia dos projetos ainda em exe- articulação e da incorporação de fatos elementares.
cução. Sendo a informação geográfica sua base metodoló-
É preciso, no entanto, ressaltar que após ter deixa- gica, a escolha de Monbeig e de seu método reali-
do esta função, dediquei-me a buscar respostas para mentaram a idéia do movimento ainda atual: ela
velhas e novas questões, algumas delas discutidas permite retraçar as etapas de uma marcha pioneira,
neste trabalho. Neste percurso de pesquisadora, a não apenas sobre os elementos naturais. Esta infor-
argumentação e o posicionamento técnico e pessoal mação pode marcar as fases da progressão, procu-
da ex-gestora, por vezes, entraram em colisão com rar em que medida elas são explicáveis pelo jogo
o indispensável distanciamento científico, e muitas dos elementos naturais ou, ao contrário, se sublin-
delas ainda continuam a ser relacionadas com ham mecanismos econômicos. A terceira premissa
mudanças que ocorrem no próprio Programa, ainda é a articulação desses elementos na análise geográ-
em execução. fica, incorporando outros fatores elementares.
Para compreender teoricamente os nexos entre o Este aporte permitiu-me explorar as diferenças
global e o local na Amazônia e, para fundamentar entre os anos 1970 e 1990: enquanto nos anos 70,
este trabalho, a primeira grande questão relacionou- na literatura produzida pelos pesquisadores a tônica
se às críticas às políticas públicas e desenvolvimen- era sobretudo os conflitos sociais, abordando em
to e suas diversas nuances. O processo de interrela- segundo plano, os impactos ambientais, e, apresen-
ção dos diversos atores é o requisito atual no plane- tando balanços; contrariamente, a literatura dos
jamento e na gestão. Estão indissociáveis, portanto, anos 90 pauta-se sobre centenas de propostas de

23
modelos alternativos, de métodos para inclusão e bilidades pela regulação urbana. A crise institucio-
negociação entre os atores. nal e paralização do setor urbano na estrutura
A avaliação do processo de ocupação e de degrada- governamental foi evidente: entre 1984 e 2000
ção levou-me a um trabalho de decodificação tam- Secretarias e Ministérios se substituíam nas atribui-
bém destas visões e as argumentações desenvolvi- ções e responsabilidades da política urbana desde o
das por grupos específicos ao dar a dimensão dos Ministério do Desenvolvimento Urbano, passando
impactos, principalmente os sociais. Neste contex- pelo Ministério de Habitação, Urbanismo e Meio
to, tornou-se claro também a mudança dos grupos Ambiente, Ministério da Ação Social e Bem-estar
sociais mais destacados pelos impactos, ainda que Social, às Secretarias de Desenvolvimento Urbano
os vetores do processo de incorporação de novas e Regiões Metropolitanas no Ministério da
terras continuem sendo as infra-estruturas. Se antes Integração Regional à atual Secretaria Especial de
nos grandes espaços florestais, de baixa densidade Desenvolvimento Urbano.
populacional as contradições se davam entre as ter- A falta da regulação pública foi perversa e o dia-
ritorialidades dos posseiros e dos colonos frente os gnóstico dos problemas ambientais urbanos no final
vetores das políticas de ocupação, na atualidade são da década se avolumou. Os impactos sobre as popu-
os indígenas, as populações ribeirinhas e tradicio- lações mais pobres, o esgoto lançado in natura nos
nais os segmentos sociais que reivindicam o recon- rios urbanos ou a perda de fontes de água potável,
hecimento de suas territorialidades e cidadania. por exemplo, já seriam fortes motivos para a sua
As tecnologias também alteraram a forma de trata- introdução nesta pesquisa. A fragmentação crescen-
mento do ambiente amazônico e de sua incorpora- te da fronteira urbana foi ressaltada em Becker
ção no espaço produtivo. Por exemplo, os pequenos (1998) caracterizando uma Amazônia marcada pelo
colonos e posseiros dos anos 70 praticamente des- crescimento de 35% para 61% da população urbana
conheciam a técnica de aceiros, assim como sua entre 1970 e 1996 (e pela multiplicação de núcleos
necessidade e tamanho, e muitas vezes o fogo e municípios, muitos deles dependentes dos recur-
usado na preparação de campos agrícolas e na lim- sos e transferências do governo federal). Os dados
peza de pastagens transformava-se em incêndios de 2000 revelaram ser, esta população, 67,3% da
acidentais. A difusão mais ampla a respeito do uso total.
controlado do fogo, incluindo a participação das Aqui se coloca, de uma outra maneira, a questão de
municipalidades, de associações de ambientalistas escala: a avaliação dos impactos territoriais das
e de produtores, somente passou a ocorrer no final políticas federais brasileiras na Amazônia impõe
da década de 1990. um olhar mais amplo, voltado para o macrozonea-
É importante frisar porque entre os vetores analisa- mento do modelo de ocupação do solo e de integra-
dos neste trabalho não tratou-se da questão urbana. ção nacional e regional em detrimento do aprofun-
Ainda que cerca de 75% da população brasileira, damento e do detalhamento do processo urbano e
desde a primeira metade dos anos 1990, tenha pas- de seu arranjo estrutural regional. Um macrozonea-
sado a viver nas cidades, a falta de uma política mento que pode ser alterado se as episódicas pro-
federal explícita para a totalidade do espaço urba- postas de redivisão territorial dos Estados do
no, e a compartimentação em políticas mais seto- Amazonas, Mato Grosso e Pará originar um novo
rializadas de habitação, saneamento, transportes mapa político da Amazônia.
públicos, assim como os instrumentos na agenda A abordagem cronológica que tenta convergir, a
ambiental conservacionista, viram-se atropelados maior parte do tempo, com a temática, estruturou
pelos processos de descentralização e de transfe- assim o desenvolvimento da pesquisa, vista como
rência de atribuições diversas para os municípios. uma maneira de responder às questões de conflitos,
O governo federal abdicou do seu papel de coorde- convergências e tendências entre as políticas públi-
nador único de políticas públicas permitindo, cas territoriais conservacionistas e de desenvolvi-
assim, que a crise urbana se instalasse de fato, e que mento. O fato de periodizar a temática ambiental e
a agenda ambiental urbana ficasse engessada pelos do desenvolvimento neste trabalho significou esta-
debates, postergações e indefinições das responsa- belecer intervalos de tempo para facilitar a com-

24
25
preensão de processos anteriores: do início dos teórica e política. Os valores contidos nestas repre-
anos 1970 à Conferência do Rio, época de pre- sentações passam também a ser disseminados. Foi
domínio das políticas de ocupação, seguindo-se o caso da Conferência de Estocolmo. No entanto,
pela fase pós-Rio, que envolve o «grande momento ainda que estes vínculos possam ser identificados, a
do meio ambiente» com o avanço de experiências ação do Estado brasileiro autoritário privilegiou a
conservacionistas e do discurso do desenvolvimen- ocupação, marginalizando a estrutura ambiental,
to sustentável, encerrando com o período que se em poder e em recursos, como se tivesse sido cria-
inicia a partir da concepção do Avança Brasil e de da apenas para responder à pressões.
seu plano orçamentário o PPA 2000-2003. No capítulo 2 - Políticas ambientais e a proteção
Neste contexto, as três partes em que se encerram territorial aborda-se criticamente avanços e recuos
os argumentos e análises foram organizadas de da política ambiental brasileira e a eficiência de
maneira à retomar as políticas que marcaram o seus instrumentos e mecanismos, alguns dos quais
movimento migratório de diferentes grupos sociais intrinsicamente vinculados às novas representações
para a Amazônia brasileira, a internacionalização ambientais entendidas como um sistema holístico,
da problemática ambiental e a importância de seus resultantes do embate político de caráter global.
reflexos sobre os discursos do novo modelo de Entre as Conferências de Estocolmo e do Rio,
desenvolvimento para a Região e finalmente o posi- houve evolução de uma visão preservacionista e de
cionamento da Amazônia entre o global e o local. controle da poluição para uma de questionamento
As transições de visões, de propósitos e de alterna- do modelo de desenvolvimento e dos padrões de
tivas de desenvolvimento, em cenários apresenta- consumo, incorporando na agenda internacional a
dos por cientistas, instituições governamentais, noção de sustentabilidade do desenvolvimento. A
analistas políticos e segmentos sociais para o futu- importância deste contexto é percebida dentro do
ro da Amazônia difundem diversas visões, normal- pais por meio da construção de novas formas no
mente contraditórias, explicitadas em discursos, exercício das funções de Estado. O Estado, res-
proposições, estratégias e ações. ponsável pelos processos de ordenação de seu ter-
No capítulo 1 - A ação territorial pública nas ritório, serve-se de elementos do discurso ecológi-
recentes frentes pioneiras amazônicas retoma-se as co para construir a proposição de um novo instru-
idéias de Pierre Monbeig e seus seguidores para mento de política pública: o zoneamento ecológico-
apresentar a visão de sociedades em movimento e econômico. Ao analisar a base de sustentação deste
das dinâmicas das frentes pioneiras como um discurso técnico-político procura-se valorizar as
assunto de Estado e ao mesmo tempo, aproveita-se oportunidades que foram aproveitadas para fazer
para introduzir uma reflexão da geopolítica que avançar a questão ambiental e a redução dos pro-
impulsionou as estratégias governamentais de ocu- cessos de degradação na Amazônia. Ainda neste
pação da Amazônia brasileira. Procura-se fazer um capítulo procura-se agregar a análise da demarca-
balanço a respeito dos elementos abordados e o ção das terras indígenas como um elemento do
enquadramento da temática ambiental tanto pelos zoneamento - terras sob proteção, ao mesmo agin-
cientistas sociais como na estrutura governamental do como elemento de proteção da biodiversidade e
e para atingir este objetivo, serviu-se de posições de restrição ao fracionamento fundiário e à mudan-
tomadas especialmente por geografos brasileiros e ça de uso da terra.
franceses. No capítulo 3 - A Conferência do Rio e seus
Ainda neste primeiro capítulo encontra-se uma das reflexos na Amazônia aborda-se o jogo geopolítico
principais formulações da pesquisa: os fortes vín- ambiental, as alianças formadas no seio das nego-
culos entre a globalização dos conceitos ambientais ciações entre os países, a ambiência, a mobilização
e seus reflexos sobre a trajetória e os modos de da sociedade organizada, em especial no Brasil.
organização da sociedade e do Estado brasileiro, Uma análise que enfatizará a transformação das
considerando que as grandes conferências mundiais pressões nacionais e internacionais pela destruição
embasaram-se na defesa de diferentes princípios à uma percepção da Amazônia como fonte de recur-
que, validados passam a constituir uma nova base sos biológicos e genéticos, como matéria-prima das

26
modernas tecnologias, as biotecnologias. Ênfase advindas da redução do poder e do papel do Estado
será dada à ação da diplomacia brasileira no blo- federal que tem abdicado de seu «direito e dever»
queio de negociações consideradas desvantajosas de ordenar o território, no que tange aos elementos
para as políticas nacionais e as articulações no tra- ecológicos do processo de desenvolvimento o que
tamento de temas amazônicos interrelacionados contrapõe-se à sua condição de estimular investi-
com as questões globais e a valorização de políticas mentos em detrimento de outros, num cenário mar-
experimentais. cado por estratégias territoriais, como será aborda-
O capítulo 4 - Soluções compartilhadas: o do no capítulo 8.
Programa Piloto de Proteção das Florestas O capítulo 6 - O governo e as novas tecnologias de
Tropicais Brasileiras - PPG-7 destacará o caráter gestão ambiental enfocará as crescentes mudanças
experimental desta cooperação multilateral e ao resultantes da mundialização na estrutura do
comentar suas decisões e seus projetos. São notá- Estado-nação e da redução do poder central, na
veis as diferentes concepções de conservação e de reconstrução do território político com a repartição
desenvolvimento sustentável, as mudanças no pla- do poder entre o nacional e o local e na com-
nejamento, na implantação e nos resultados conse- preensão da importância que o vetor ambiental
guidos até dezembro de 2001. É importante desta- assume na organização dos territórios estruturados
car que este ainda é um Programa em construção e pelas concepções e pelas novas relações mundiais
que as dinâmicas de execução muitas vezes da ordem ambiental internacional.
impõem mudanças cotidianas. Além do seu caráter Outra reflexão presente neste capítulo diz respeito
pioneiro, procura-se também elaborar um balanço às discussões e à ocorrências de novas tecnologias
das territorialidades da proteção e conservação na no setor ambiental, novas referências e produtos,
Amazônia e seu poder de influência sobre políticas em setores econômicos que começam a surgir
públicas e da valorização destes aspectos nas solu- baseados nos recursos da biodiversidade e também
ções governamentais participativas. Mas trata-se de dos projetos estritamente voltados para a preserva-
uma avaliação crítica do Programa, na medida em ção. Isto nos possibilita uma outra ponderação a
que se coloca ênfase nas polêmicas, conflitos e respeito da presença da dimensão ambiental em
visões defendidas pelos grupos participantes como todos eles e de verificar as influências dos mesmos
empecilhos à sua execução, abordando-se, ao em outras políticas públicas nacionais e para o
mesmo tempo, as influências e os setores favoreci- modelo de desenvolvimento regional.
dos pelo Programa. Este aspecto é fundamental No capítulo 7 - Novas alianças, novos atores: ONG
visto que o mesmo reforça os tempos diferenciados - governo - imprensa serão destacadas as condições
das políticas de conservação e de implantação de de governança com a ampliação do poder das par-
infra-estruturas. cerias entre governos, sociedades locais, organiza-
O capítulo 5 - O PPG-7 e o zoneamento ecológico- ções não-governamentais nacionais e internacio-
econômico mostrará as razões do privilégio dado a nais reunidos sob um ideal supostamente comum, o
este tema - trata-se de uma política territorial, sendo desenvolvimento sustentável. O encadeamento dos
discutidos seus conceitos basilares e metodologias, argumentos que sustentam esta idéia e a relevância
seus avanços e as indagações que bloqueiam, por do tema reside em mostrar o uso indiscriminado
razões técnicas, a falta de decisões políticas. Além deste termo, definido segundo os interesses dos
dos aspectos técnicos, foi atribuída ênfase aos «bas- segmentos que o manipulam, o que conduz à alian-
tidores», na disputa pelas esferas de influência das ças diversas e nutre as polêmicas constantes entre
instituições ou de grupos técnicos e acadêmicos, setores conservadores, nacionalistas, ambientalis-
por considerar o papel fundamental destes nos tas. Estes elementos nos conduz a compreender os
avanços ou nos recuos deste tema. Coloca-se, esta métodos usados pela sociedade civil organizada, na
problemática, no centro das questões de atuais de Amazônia, que conseguiu frear alguns dos vetores
governança com a elevação ao status de parceiros da degradação. Nesta conjuntura, significa indagar
que antigos atores adquirem e das funções que pas- a direção futura e a aplicabilidade deste conceito
saram a ser requeridas do zoneamento. Questões para o desenvolvimento da Amazônia e decodificar

27
o discurso, presente na imprensa. Este vem mos- Amazônia, na política pública responsável pela
trando, frequentemente, a existência de articulações implantação de cerca dos 30% dos sem terra do pais
entre os discursos que se escondem sob rótulos inteiro apenas nesta Região, seguindo ainda um
ambientalistas e os interesses internacionais sobre a modelo de projetos agrários.
Amazônia brasileira. Ao destacar tais elementos, as configurações atuais
A leitura do capítulo 8 - A estratégia nacional e os deste espaço geográfico sobressaem-se nitidamen-
grandes programas amazônicos permite a avalia- te: espaços da proteção, espaços dinamizados pela
ção da nova configuração espacial que esta sendo produção, territórios de expansão (desenvolvimen-
dada à Amazônia, decorrente da retomada do pla- tista ou conservacionista). Esta complexidade difi-
nejamento governamental da União. Um planeja- cultaria (ou facilitaria?) o direcionamento do desen-
mento que responde aos objetivos de integração volvimento amazônico, ao valorizar determinados
continental e de inserção competitiva no mercado espaços, ao sobrepor regiões economicamente
mundial. As estratégias nacionais para atender a dinâmicas e regiões deprimidas, ao limitar áreas de
estes objetivos baseiam-se fortemente nos vetores proteção? Porque continua sendo tão difícil optar
mais capitalizados, estruturadores do desenvolvi- por um modelo para a(s) Amazônia(s)? Por ser pre-
mento, incluindo uma elevação do patamar técnico- ciso articulação política, com a mesma força e
científico, adensando simultaneamente a tecnologia intensidade, com todos os segmentos sociais…
e a informação regional. A estruturação do território
regional visa a formação de um novo sistema, uma
nova rede física capaz de garantir as condições
favoráveis que interessam às empresas e organiza-
ções regionais. O volume do investimento público Notas
previsto torna-se um indicador relevante para a 1 À l’époque (1996) le Real et le dollar étaient pratiquement à

garantia da decisão política e, ao mesmo tempo, parité.


2 En 2000 le taux de change était d’environ 2 Reais pour un
uma forma de atração de outros. A velocidade de
Dollar US.
instalação e expansão destas infra-estruturas esta-
ria, portanto, em perfeita consonância com os
interesses destas organizações.
Neste contexto, uma questão incitou o direciona-
mento das reflexões: estaria havendo maior com-
plexidade e maior incoerência entre modelos de
desenvolvimento, tornando ainda mais complexa a
escolha entre conservação e desenvolvimento?
A leitura do capítulo 9 - Conflitos de estratégias e
impactos territoriais possibilitará o acompanha-
mento das transformações e impactos resultantes
das políticas prioritárias do governo federal para a
Região e dos modelos alternativos de gestão
ambiental, que visam reduzir perdas do patrimônio
amazônico. Ainda que mudanças de concepção e de
gestão tenham ocorrido entre os anos 1970 e o futu-
ro vislumbrado pelo programa Avança Brasil, os
impactos sobre o território amazônico estão vincu-
lados ainda ao vetor infra-estrutural, que impulsio-
nam, reestruturam e reequipam as áreas de interes-
se estratégico como forma de valorização aos olhos
do mercado. Simultaneamente outro vetor impor-
tante responde pela ênfase na ocupação da

28
Primeira parte - As políticas territoriais da frente pioneira
amazônica

Analisa-se o processo de apropriação territorial, marcado pela abertura de estradas e pelas ideologias de
conquista, aplicando-se à Amazônia o conceito de frente pioneira, cunhado por Pierre Monbeig e desen-
volvido pela escola francesa de geografia, procurando, desta maneira, articular os elementos importantes
desta historia. Esta frente, estimulada a partir dos anos 1970 pelas políticas territoriais governamentais,
por privilegiar a consolidação da soberania nacional sobre este território, promoveu transformações
ambientais na região. A análise das dinâmicas sociais, ambientais e politicas e suas configurações são tam-
bém ligadas aos mecanismos de integração regional, nacional e continental.
Assim, ao evidenciar o contexto em que se situam as realizações dos grandes projetos, os mecanismos de
cooperação entre o Brasil e os outros países da bacia amazônica, procurou-se identificar interrelações
entre as políticas nacionais e os conceitos difundidos internacionalmente, em especial o de ecodesenvol-
vimento, difundido a partir da reunião preparatória da Conferência de Estocolmo, em Founex, em 1971.
Daquela época à Conferência do Rio, em 1992, as políticas ambientais se desenvolvem e as regulamen-
tações avançam. Às críticas internacionais e nacionais a respeito dos impactos ambientais e sociais oca-
sionados pela ocupação e integração da região amazônica ao país, o governo federal responde propondo
novos instrumentos e mecanismos de regulação.
Verificar as relações entre o movimento da frente pioneira e as politicas publicas, o avançado universo
legislativo, o papel do Estado, que se redefine, e novo papel que a sociedade organizada assume são os
objetivos desta primeira parte.

29
Capítulo 1 - A ação territorial construido por populações diversas. Um espaço ao
mesmo tempo causa e consequência dos paradoxos
pública nas recentes frentes existentes em cada uma dessas escalas. As interpre-
pioneiras amazônicas tações, necessariamente, transitam entre essas esca-
las.
As razões políticas que conduziram as estratégias 1. O Estado e as frentes pioneiras
do recente processo de integração territorial da
Frente pioneira era considerada um assunto de
Amazônia brasileira é o ponto de partida para com-
Estado para MONBEIG (1981: 49-58). Insistindo
preender as transformações profundas no espaço
em exemplos do passado que o referendavam, des-
regional. Nos anos 1970, podiam-se buscá-las no
tacou como o conjunto da América Latina 2, a Selva
projeto geopolítico do governo, de garantir o poder
amazônica foi palco de ocorrência de significativas
do Estado sobre as fronteiras nacionais, alicerce da
frentes pioneiras, transformando-se em um «imen-
estratégia de ocupação e densificação do território,
so espaço de florestas densas que atraem, entre
acoplado ao projeto econômico, indutor dos inves-
outros, madeireiros, agricultores». A segunda meta-
timentos estatais e internacionais, explicitado nos
de do século XX marcou uma mudança nesse pro-
Planos Nacionais de Desenvolvimento, I e II.
cesso: os governantes tomaram consciência do
Numerosas análises sobre as repercussões na
valor potencial que representa «imensos territórios
Amazônia, desse período de governo militar, foram
excêntricos e vazios de homens». O conhecimento
realizadas por instituições e cientistas reconheci-
de novas técnicas permite enfrentar as florestas
dos, dentro e fora do país fazendo da problematica
densas e rapidamente a intervenção do Estado se
amazônica, objeto de suas reflexões.
percebe mais abertamente nas «terras novas». Esse
Pesquisadores oriundos de diversos grupos, com
1
tipo de intervenção pode ser explicada pela chega-
teorias e metodologias diferentes para interpretar as
da dos militares ao poder em quase todo o conti-
mudanças regionais, serviram de referência à esta
nente latino-americano (Guatemala, Equador, Peru,
pesquisa. Essa riqueza de abordagens aparece cla-
Bolivia, Paraguai, Brasil): eles pensavam ter o
ramente: a visão geopolítica, a dinâmica da frente
dever de garantir a segurança das fronteiras, fazê-
pioneira, a natureza biofísica e ecológica, os estu-
las mais povoadas, ligá-las aos centros dinâmicos
dos antropológicos das populações indígenas ou
do país e encontrar meios de reduzir tensões locais,
tradicionais da Região ou ainda a situação social e
ou nos níveis superiores da hierarquia militar, em
os conflitos do processo. No entanto, mesmo que
face às influências “além fronteiras” dos paises
essas análises privilegiassem uma ou outra
mais dinâmicos e modernos 3.
dimensão destacavam em sua totalidade, os confli-
O processo dos anos 1970 repete um sistema que
tos surgidos entre a sociedade local e interesses de
não tem nada de novo em relação à outras frentes
diversos segmentos envolvidos na apropriação eco-
pioneiras, insiste MONBEIG (1981). A única dife-
nômica dos espaços amazônicos.
rença é a agregação dos aspectos político - o da
Apesar da intensa dinâmica no debate externo sobre
segurança nacional - e econômico, fundamentado
as consequências das políticas somadas ao cresci-
nas empresas e nos tipos de investimentos. Esses
mento das denúncias com a ambiência favorável ao
elementos de intervenção facilitam a construção da
debate nos setores acadêmicos, este clima não pro-
teoria da «segurança nacional» relacionada tanto à
duziu mudanças nas diretrizes de governo brasilei-
problemática externa quanto a interna. O poder
ro. A preocupação ambiental, envolvendo proteção
político serviu-se da mesma para respaldar sua
e conservação, somente apareceu na estrutura do
ação: além de fortalecer a presença nas fronteiras
governo federal depois da Conferência de
externas, serviu também para elaborar estratégias
Estocolmo, assim sendo, suas ações também foram
de redução de conflitos internos. À primeira visão,
restritas.
a transferência de população vai reavivar os confli-
Hodiernamente, a Amazônia tornou-se um espaço
tos marcados pelos problemas agrários como a ori-
que representa a simultaniedade de interesses glo-
gem de focos de tensões sociais e gerar a necessi-
bais, regionais, nacionais e locais. Um espaço

30
dade de re-equilíbrio regional, mas ao mesmo novas indústrias e de pesquisar as novas matérias
tempo vai servir de mecanismo para «se livrar dos primas.
excedentes de população sem terra enviando-os em Para MONBEIG (1981), a outra parte integrante
direção às terras sem homens», distanciando-os dos dessa política pioneira foi o processo de coloniza-
poderes. ção oficial, fundamentado na noção de propriedade.
Analisando a direção dos fluxos migratórios brasi- Segundo ele, a noção de propriedade modificou
leiros do Sul, na histórica econômica recente do profundamente as relações ligadas ao direito de
país, tanto MONBEIG (1981) como FOREWA- posse, causou a expulsão dos posseiros e ampliou
KER (1981) destacam as três regiões distintas das os conflitos sociais; ao mesmo tempo, esse proces-
frentes pioneiras dos anos 30 e 40, suas semelhan- so que tem na sua base o direito de propriedade,
ças com o novo período e seus vínculos com as atuou como o motor da concentração, sendo as
questões da economia, as diferentes etapas que pequenas propriedades absorvidas pelas maiores,
constituiram as mudanças de um estágio pré-capita- funcionando como uma das formas de transformar
lista dessas fronteiras em movimento à violência terra em dinheiro. As configurações atuais trazem
que caracteriza esse processo4. A primeira direção, as marcas desse passado recente.
constituída pelos migrantes de regiões mais próxi- A interpretação geopolítica, difundida sobretudo
mas do rio Paraná que cruzaram a fronteira e se ins- por BECKER (2001: 8-11), revela três grandes
talaram no Paraguay 5. A segunda direção, em Mato períodos que marcaram a ocupação da Amazônia
Grosso com um novo padrão produtivo dos gaú- desde a formação territorial brasileira. Na analise
chos que, lançando-se à produção da soja aporta- desses periodos destacou o primeiro, entre 1616 e
ram suas técnicas modernas de pecuária e agricul- 1930, distinguindo-se a diplomacia nas negocia-
tura. A terceira, partindo de São Paulo e dos ções e relações internacionais, com o Exército no
Estados do Sul, vinculou-se à construção dos contrôle interno do território, desde a sua apropria-
grandes eixos rodoviários penetrando as «terras ção à definição dos seus limites. No segundo, entre
novas da Amazônia» e dando origem a centros 1930 e 1985, o planejamento regional e a produção
urbanos em suas bordas, os quais retomaram as fun- estatal do espaço tiveram grande importância. O
ções dos rios da Amazônia na época colonial e das terceiro, é o da fronteira experimental, ainda em
expedições dos bandeirantes. À esses processos tra- desenvolvimento, destacando-se a fase da fronteira
dicionais juntaram-se outro tipo pioneiro: as áreas socio-ambiental, entre 1985 e 1996, e a incógnita
industriais, os «enclaves» ou «pólos» - petroleiros, do «heartland» ecológico a partir dessa data.
minerais, complexos siderúrgicos, barragens hidre- A análise de BECKER (2001) nos interessa parti-
létricas ou centros de turismo, locais onde os gover- cularmente no período iniciado em 1966, conside-
nos interviam, diretamente, ou, apoiando financei- rado como o momento que o «Estado tomou a decisão
ramente empresas nacionais, estrangeiras e multi- de iniciar e ordenar um ciclo de devassamento amazônico
nacionais. num projeto geopolítico para a modernidade acelerada da
A nova frente pioneira para a Amazônia não teve sociedade e do territorio nacionais». A Amazônia foi vista
vínculo com a agricultura tradicional mas sim com como solução para as pressões sociais internas
grupos industriais nacionais, estrangeiros e multi- advindas da expulsão de pequenos produtores do
nacionais, sociedades anônimas e de capitais urba- Nordeste e do Sudeste pela modernização da agri-
nos, cujos investimentos foram respaldados pelo cultura. Todavia, se desenvolviam nela focos revo-
sistema de incentivos fiscais . O poder econômico lucionários. A possibilidade do Brasil perder sua
operava dentro da lógica de ocupação de terras vir- influência no coração do continente em função da
gens, de valorização dos espaços; as consequências construção da Carretera Bolivariana Marginal de
sobre os homens tinham pouco significado, o la Selva, colocando a Amazônia na orbita do Caribe
importante era que a exploração de «terras novas» e do Pacífico foi outro aspecto importante para
significasse a sua inserção na economia de merca- reforçar o projeto geopolítico. Para viabilizar a ocu-
do, o aumento da capacidade de exportação e a pação e a integração da Região, BECKER retoma o
continuidade de investimentos para equipar as que LEFEBVRE (1978) considera como «produção
do espaço» pelo Estado: a produção do espaço polí-

31
tico, com normas, regulamentos, leis, hierarquias demandavam a incorporação da ecologia nas politi-
para exercer o contrôle social. A escolha das estra- cas publicas assim como novas formas de gestão do
tégias territoriais estiveram voltadas para a apro- territorio amazônico.
priação fisica e o contrôle do território, na consti- Nesse contexto, dois programas marcarão e desta-
tuição do que Becker chama de malha tecno-politi- carão a importância do período entre as
ca. Essas estratégias estiveram alicerçadas na Conferências de Estocolmo e do Rio e os paradoxos
construção das redes de circulação, de comunica- presentes no ordenamento territorial e gestão
ção, nos fluxos de capital mediante incentivos fis- ambiental da Região.
cais e créditos subsidiados, na indução dos fluxos O primeiro, o Programa de Integração Nacional -
migratórios para o povoamento e formação de um PIN - aprovado em 1970 dentro do I Plano
mercado de trabalho regional, inclusive com proje- Nacional de Desenvolvimento, foi o mecanismo
tos de colonização. financeiro para viabilizar a ocupação e integração
Segundo BECKER (2001), a crise do petróleo de da região ao país. Gerou inúmeras alterações nas
1974 obrigou a alteração da geopolítica regional, paisagens amazônicas, marcadas pelos fluxos de
transformando a Amazônia numa grande fronteira população, pelas novas atividades, pelo desmata-
de recursos a serem exportados por meio da mento.
implantação de grandes projetos minerais e hidrelé- O segundo, o Programa Nossa Natureza, instituido
tricos, fazendo de Carajás sua maior expressão. pelo decreto n° 96.944/88, procurou refletir uma
Essa fase termina com o segundo choque do petró- resposta articulada do governo federal às pressões
leo, em 1985, com a elevação dos juros internacio- nacionais e internacionais visando reduzir os
nais, o aumento da dívida externa e com o projeto impactos ambientais na Amazônia. Resultado desse
Calha Norte (1985). Programa é a determinação do zoneamento ecoló-
A fase dessa continuada atuação do Estado, estrutu- gico-econômico como um instrumento articulador
rada com objetivos claros, deixou marcas advindas das duas dimensões opostas - ecologia / economia -
dos fortes conflitos sociais e dos impactos ambien- e a de sua utilização como base de orientação para
tais. Conflitos de terra entre fazendeiros, posseiros, a política pública. Esse mesmo Programa criou
seringueiros, índios. Desmatamento acelerado pela também o FNMA, o primeiro fundo para o meio
abertura de estradas, exploração da madeira, segui- ambiente, voltado para o investimento em projetos
da da expansão agropecuária e intensa mobilidade e experiências comunitárias locais, gerenciadas
espacial da população. pelas ONG, pequenas prefeituras ou instituições de
Cerca de trinta anos depois pretende-se aqui rever pesquisa, um mecanismo aberto que pôde favorecer
essas análises, colocando-as na perspectiva da evo- a participação de outros segmentos sociais na
lução das políticas ambientais erigidas no país. Ao gestão.
privilegiar-se a abordagem ambiental da política Os planos federais: uma retrospectiva territorial
territorial, adota-se como ponto de partida a com-
preensão dos elementos teoricos e metodologias O Estado nacional, desde fins da década de 60,
usados pelos grupos científicos da época ao expli- atuou no sentido de eliminar na região amazônica,
citarem as nuances desse processo. As atuais dinâ- os obstáculos à exploração dos recursos naturais
micas e configurações da Região podem ser com- existentes e acelerar a velocidade para a circulação
preendidas por meio das categorias que expressam de mercadorias. Além de implantar significativa
teoricamente os meios e instrumentos valorizados parcela da logística necessária à integração e circu-
por esses grupos: as redes, os fluxos e as dinâmicas lação no espaço nacional, e favorecer a expansão
populacionais e econômicas, as estratégias políticas das empresas e de grandes propriedades agro-
de incorporação territorial. A abordagem ambiental pecuarias, às redes físicas (viária, energética e de
irá referir-se, especialmente, às repercussões nega- comunicações) somaram-se outros tipos de incenti-
tivas dos desmatamentos e das condições de vida vos fiscais e econômicos. OLIVEIRA(1996) acom-
das populações locais, utilizadas como bandeira, panha a linha de raciocínio de BECKER e MON-
como o leme das mobilizações dos anos 1990 que BEIG ao considerar que a lógica presente e a tática
dirigida à Amazônia foi a mesma de uma fronteira
32
de acumulação, criando o suporte físico e institu- Centro Oeste e originou um sistema de cidades
cional, para a viabilização desses empreendimentos pouco mais estruturado, estimulou a conquista de
econômicos, cujas políticas públicas foram res- «terras novas» na Amazônia. O imenso espaço ter-
ponsáveis pelo estímulo à proposição e ao financia- ritorial brasileiro tornou-se sustentáculo das políti-
mento de projetos agropecuários, agroindustriais, cas de integração do Estado. A rodovia Belém-
madeireiros, de infra-estrutura. Brasília constituiu-se no mais importante elemento
Assim, se a lógica da presença das redes físicas foi de transformação e de mudanças territoriais na
parte do processo de integração da Região ao espa- Amazônia Oriental.
ço econômico nacional já consolidado, outros Com a modernização tecnológica da agricultura, na
aspectos compõem os antecedentes dessa ação verdade decorrente da própria articulação com a
pública. A base institucional e o primeiro passo para indústria, estabeleceu-se o processo de reprodução
políticas de desenvolvimento regional foi a SPVEA do próprio capital. MESQUITA (1988) ressalta
(Superintendência do Plano de Valorização como elementos importantes: o emprego maciço de
Econômica da Amazônia, institucionalizada em maquinaria na produção, o uso de insumos quími-
1953) acompanhada da definição da Amazônia cos, a incorporação de novos espaços da fronteira
Legal como área objeto de intervenção para políti- agrícola os quais transformaram-se em alternativas
cas econômico-regionais, por meio da lei 1806, de de investimentos, concretizados nos empreendi-
agosto de 1953, assim como da formulação do mentos agropecuários. Estas ações se refletem den-
Plano Quinquenal (1955-1959). Essas iniciativas tro da nova estrutura do Estado Nacional e na
somaram-se aos investimentos em infra-estrutura, modernização brasileira.
energia e transporte do Plano de Metas “ Quinze A Amazônia tornou-se um espaço de acumulação
Anos de Política Econômica ”, elaborado com o tecnológica e científica e um campo estratégico.
objetivo de promover o crescimento industrial do Primeiro por ser o local de formação e expansão
país e criar um mercado interno, fazendo da inte- das redes capazes de viabilizar os fluxos econômi-
gração do espaço, por eixos de penetração - as cos futuros; segundo porque para o Governo fede-
rodovias Belém-Brasília e a Brasília-Acre entre ral assume um posicionamento estratégico, não
outras, os seus meios. apenas pela importância das fronteiras internacio-
O Estado brasileiro viabilizou assim a expansão nais, mas também pela presença do próprio aparel-
capitalista em sua fase industrial ao concentrar ho de Estado, tanto no contrôle do território como
ações básicas e indispensáveis à ligação de regiões na exploração econômica. O Estado nacional asso-
não-capitalizadas ao centro difusor da economia cia-se ao poder tecnológico, constituindo o que
nacional, estabelecendo os mecanismos e instru- BECKER (1991:334-336) chama de vetor científi-
mentos capazes de reestruturar o território. Com co tecnológico moderno, e torna-se presença obri-
isto, criaram-se novas configurações inter-regionais gatória nos grandes projetos de exploração mineral
no país, estruturou-se um novo espaço para avanço e de infra-estrutura. Esse fato garantiu a continui-
e consolidação da economia capitalista, ligando dade da gestão nacional na Região.
áreas produtoras, centros industriais, mercados de Uma nova fase se estabelece com o golpe militar de
consumo, fazendo do território «o suporte, palco e março de 1964. A ação política centralizada orien-
objeto de sua reprodução ” (COSTA, 1997:55). tou o estabelecimento das diretrizes e estratégias de
A política de Juscelino Kubitscheck6 enfatizou duas longo prazo. O regime militar transformou antigos
vertentes da modernidade: a urbana e a da indústria. propósitos de reafirmar a soberania nacional sobre
Com a construção da “ capital do século XXI ”, a Amazônia em uma realidade: suas primeiras
simbolizando Brasília como um novo marco no estratégias voltaram-se para a ocupação da
processo de estruturação do território, o país se Amazônia.
adentrava na modernidade urbana. Brasília exerceu O passo seguinte foi reafirmar a ação centralizada
forte poder de atração, facilitado pela construção de do governo federal, com a criação, junto ao aparel-
redes de comunicação com outras capitais, drenou ho do Estado, do Ministério do Planejamento e
o direcionamento das novas frentes pioneiras para o Coordenação Econômica para coordenar as políti-

33
cas econômicas. O primeiro plano que esse minis- Os incentivos fiscais foram o motor do grande surto
tério elaborou foi o o Plano de Ação Econômica do de ocupação regional pelas grandes empresas. Este
Governo (PAEG), para o período 1964/66, conti- mesmo mecanismo tornou-se a base dos investi-
nuando após com uma sucessão de planos, de longo mentos industriais na Zona Franca de Manaus - “ o
ou de curto prazos, que convergiriam para a conso- pólo industrial ” da região, um dos primeiros atos
lidação daquelas metas (COSTA, 1997). do governo militar. Os outros pólos indutores do
O Plano Decenal de Desenvolvimento Econômico e desenvolvimento receberam também quantias ele-
Social (1967/1976), o segundo plano, reafirmava vadas de investimentos, especialmente em infra-
como prioritária a ocupação econômica da estrutura para a circulação da produção e atender
Amazônia e do Centro-Oeste e definia várias inicia- aos mecanismos de exportação, política prioritária
tivas de longo prazo, objetivando a constituição de do Governo.
um mercado nacional consolidado. Aos poucos, da O I Plano Nacional de Desenvolvimento - I PND
conquista e ocupação, as estratégias para a (70-72) acentuou a tendência anterior de integração
Amazônia transformaram-se em alicerces do espa- nacional e criou os meios de expansão da “ frontei-
ço produtivo, parte constituinte do mercado nacio- ra econômica ” do país na direção do Centro-Oeste,
nal. da Amazônia e do Nordeste, através do Programa
A ênfase da ação do Ministério de Planejamento e de Integração Nacional - PIN. E finalmente, o II
Coordenação foi a resolução dos problemas das Plano Nacional de Desenvolvimento para o período
desigualdades regionais, baseando-se na institucio- 1975/1979 determinou “ uma nova etapa de esforço
nalização de níveis de coordenação da ação gover- de integração nacional ”, adotando a estratégia de
namental na questão regional. Posteriormente o “ ocupação produtiva da Amazônia ”, esgotando-se
governo federal centraliza a coordenação dos assim essa sucessão de planos e consequentemente,
Organismos Regionais e reforça a incorporação das reduzindo-se a importância do próprio Ministério
diferentes regiões brasileiras ao projeto político- do Planejamento. Somente em 1995, com o Brasil
militar-ideológico nacional. A Amazônia é uma das em Ação, esse Ministério voltou a ter prestigio.
prioridades.
2. As políticas de escolha dos espaços
O Programa Estratégico de Governo para o período
de 1968/70, terceiro plano, elaborado pelo Articulando os elementos mais importantes da
Ministério e no quarto plano, o I Plano Nacional de recente historia de conquista territorial pela frente
Desenvolvimento, entre 1972/1974 também manti- pioneira amazônica e suas ligações com o resto do
veram a estratégia de integração nacional da pais e da América do Sul, procuramos distinguir as
Amazônia. estratégias territoriais e suas repercussões ambien-
O Plano Estratégico do Governo (1968-1970) tais, reflexo das politicas adotadas à época: as estra-
seguia as mesmas diretrizes do Plano Decenal tégias voltadas aos colonos e pequenos produtores,
(1967-1976) quanto às necessidades de integração substituidas pela prioridade à instalação das
nacional da Amazônia. Fundamentava-se em obje- grandes empresas.
tivos de preservar as fronteiras internacionais e As estratégias em pequena escala, para colo-
incorporar sua economia ao todo nacional, e enfati- nos e pequenos produtores
zava a concentração de investimentos em pólos
selecionados, ressaltando a necessidade de pólos As duas estratégicas básicas do PIN constituíram-se
industriais. na construção de estradas e na colonização “ ofi-
A fundamentação teórica deste plano é a aplicação cial ”. À Belém-Brasília, Brasília-Acre somaram-se
da “ teoria dos pólos de desenvolvimento ” ao caso a Transamazônica e Cuiabá-Santarém, ambas
brasileiro, com a eleição de “ regiões-programa ” implantadas com recursos gerenciados pelo gover-
onde se estabeleceriam “ pólos urbanos ” que no federal. Os projetos de colonização, implemen-
concentrariam investimentos e que atuassem como tados pelo Instituto Nacional de Colonização e
um foco de irradiação do dinamismo econômico Reforma Agrária - INCRA7, visaram o assentamen-
para a região. to de pequenos produtores e incluíam, além dos
lotes individuais, agrovilas, agropoles (vilas pouco
34
35
maiores e com alguns equipamentos) e rurópolis - nas “terras novas” da Amazônia e pelas origens dos
os núcleos urbanos mais importantes que assumiam centros urbanos que surgiram nas bordas das estra-
a função de centros regionais, elementos básicos das: a) de acampamentos de trabalhadores, b) de
para a consolidação dos assentamentos. simples pistas que se introduzem dentro da floresta
para dar acesso aos domínios de gado e c) de
KLEINPENNING (1981: 249-260) ao analisar a núcleos de colonização rural.
política do Estado, considerou que a incorporação A partir da segunda metade do século XX, com a
das agrovilas nos projetos de colonização reafirma- chegada dos militares ao poder, em vários paises
va o objetivo de produção. Todavia, uma série de latino-americanos, deu-se uma renovação nos pro-
problemas tanto relacionados com a falta de apoio cessos pioneiros: a intervenção dos Estados se
aos colonos como referentes ao custo de implanta- espalhou mais ou menos abertamente a todas «ter-
ção dos projetos provocaram a mudança da ação ras novas», porque os governos tomaram consciên-
institucional. Embora as agrovilas tenham sido pre- cia do valor potencial que representa esses territó-
vistas nos projetos, em 1971, apenas Brasil Novo, rios sem homens, a esperança de riqueza e o domí-
na Transamazônia, foi implantada e em 1973, o nio de novas técnicas. A marca dessa impulsão foi
Instituto já desistia desse modelo em função do alto a publicidade que envolveu a construção da
custo que representava. Até 1976 os colonos tinham Transamazônica e das outras estradas, com o obje-
desmatado não mais que 10 ha em seus lotes, um tivo de aumentar o número de colonos. Para MON-
ritmo reduzido, acarretando também redução das BEIG (1981) as intervenções dos Estados moder-
metas de produção. Sem produção, as agrovilas nos se exprimiam, assim, mais pela vontade de
perderam suas funções. Novos instrumentos foram povoamento das novas terras que uma política
disponibilizados: o Banco do Brasil se responsabi- explicita de crescimento do PIB. No entanto, na
lizaria pelo crédito aos colonos, a CIBRAZEM Amazonia brasileira, o número de pioneiros foi
pelos entrepostos e o governo federal pela assistên- inferior ao inicialmente previsto.
cia médica. Essa impulsão publicitária foi empreendida no sen-
Em sua análise KLEINPENNING considera a tido de ressaltar o «sonho de ascenção social» do
maior importância dos objetivos estratégicos inter- migrante brasileiro, a possibilidade de ser proprie-
nos e externos em face aos econômicos. A integra- tario de terra, outro aspecto específico das frentes
ção da Amazônia permitia ao Brasil se afirmar amazônicas e primordial para a ampliação do novo
como potência dominante no continente, ao mesmo fluxo de pioneiros. Um direito aparentemente
tempo, os militares davam importância ao papel democrático mas que provocou distorções porque
que podiam ter e ao aumento de seu prestígio por facilitou manobras de obtenção de titulos de pro-
dominar as técnicas de construção de rodovias. priedade por parte de pessoas relacionadas ao poder
Simultaneamente, essa influência aumentava as em detrimento dos direitos de posse. A onda pio-
tensões com os paises vizinhos e havia necessidade neira se propagou rapidamente e dentro da alguns
de encontrar formas de reduzi-las. O governo setores mais antigos a grande propriedade começou
encontra então um estratagema diplomático para a absorver as menores. Nessa fase os conflitos tor-
acalmar as tensões, lançado em 1977: inicialmente naram-se ainda mais agudos, violentos, sangrentos,
com a Venezuela e Peru, a negociação de um pacto aspectos ressaltado por BOTELHO (1981), KOTS-
de cooperação entre os paises amazônicos vizinhos, KO (1982), SADER (1983), CASTRO e
o Tratado de Cooperação Amazônico foi assinado HÉBETTE (1989).
em 19788. A colonização pública teve como resultado a multi-
Retomando os vetores importantes das estratégias plicação de colônias de pequenos agricultores ou
governamentais para os pequenos produtores, outros migrantes sem experiência no campo. As
MONBEIG (1981:49-58) destacou que o terceiro áreas de maior importância foram localizadas em
movimento nacional de migração, originado a par- Rondônia, Maranhão e trechos da Transamazônica.
tir de São Paulo e dos Estados do Sul caracterizou- Essa colonização representou uma experiência:
se pela construção dos grandes eixos rodoviarios ocupou e garantiu a valorização dos espaços, regu-

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lamentou terras, exacerbou os conflitos fundiários. e mercado, por exemplo, controlavam tanto as téc-
Mas, para MONBEIG (1981) a colonização públi- nicas agricolas quanto a escolha das culturas, a
ca foi muito criticada e pouco vista como exemplo. fixação do preço de venda e o fluxo de escoamento
Por ser um fato comum, a defasagem entre planos e da produção. No âmbito deste fenômeno espacial,
sua realização, a crítica sobre esse ponto não apre- os conflitos ocorriam entre dois grandes tipos de
sentou saídas. Ressaltou dois elementos impor- uso: os espaços da produção agricola e os espacos
tantes para a compreensão dos fracassos da coloni- da extração, e, simultaneamente entre os diferentes
zação pública: a inexistência de pesquisa científica atores sociais.
e técnica, pois mesmo que tenha havido esforço Os projetos de colonização desse período concen-
para desenvolvê-la só ocorreu depois do início da traram-se em três regiões: Rondônia, Mato Grosso
colonização; e o custo elevado, desproporcional aos e Transamazônica. Embora com estruturas, organi-
resultados obtidos. DROULERS e MAURY (1981) zações espaciais e dinâmicas distintas, razões simi-
e EGLIN e THERY (1982) elencaram duas causas litares serviram como provocadoras de uma geo-
mais frequentes do fracasso: a primeira relativa à grafia de conflitos. As figuras 1.1 e 1.2 ressaltam as
produção, que teve resultados inferiores às pre- antigas e recentes frentes pioneiras, assim como o
visões, decorrente da incompreensão dos conselhos processo de reorganização espacial no interior dos
técnicos dos agronomos e do fato de plantarem os projetos de colonização, com o reagrupamento de
mesmas culturas em qualquer lugar do lote, sem lotes e formação de grandes estabelecimentos e de
considerar as necessidades específicas de cada latifúndios. Estas imagens ilustram, também, os
uma. E, a segunda, relativa à organização da comer- aspectos estruturantes nas duas frentes pioneiras, a
cialização dos produtos colhidos, quando os colo- dos anos 1930-1940 e a dos anos 1970-1980.
nos ficaram à mercê do camioneiro-comerciante. THÉRY (1977) analisou o processo em Rondônia e
Não houve contrôle governamental. Nestas condi- destacou a coexistência tanto a colonização pública
ções, na ausência de financiamentos agricolas, nas federal, a estadual, como a privada. Ao ressaltar a
distâncias e inacessibilidade dos mercados de colonização realizada pelo INCRA, identificou no
consumo, os colonos lamentaram ter deixado sua Estado os Projetos Integrados de colonização -
terra. PICs Ouro Preto, Gy-Paraná e Sidney Girão, inicia-
Embora o Estado tivesse sido o principal ator nesse dos entre 1970 e 1974, onde habitavam mais de 5
processo de colonização, a crítica ao governo se 000 famílias, cerca de 30 000 pessoas, para os quais
focalizou sobre as dificuldades em implantar seus o INCRA havia previsto manter um escritório para
projetos, o que deu margem à argumentos favora- viabilizar a assistência técnica, um posto médico e
veis à colonização privada. De fato, ocorreram diferentes tipos de serviços. Na realidade, não havia
simultaneamente ações de colonização privada, meios de comercialização e a assistência técnica era
notadamente em Mato Grosso, mormente entre prestada por técnicos agrícolas que desconheciam
1974-76 e consubstanciado no II PND, quando os as origens e as tradições dos colonos, o que resulta-
sindicatos de pecuaristas de Goiás e do Mato va em orientações técnicas, por vezes, desconexas
Grosso conseguiram que o governo reduzisse, em das realidades dos migrantes. Alguns colonos trans-
benefício deles, o apoio dado ao Incra. Todavia, a formavam-se em patrões, os outros migrantes em
colonização privada não foi uniforme, nem quanto empregados. A pressão migratória transformou os
sua origem, nem quanto a organização espacial. projetos originais, ampliando rapidamente o núme-
Segundo COY9 (2001) ela nascia da iniciativa de ro de lotes disponibilizados e, posteriormente estes
cooperativas do Sul (a Cotriguaçu, por exemplo), núcleos transformaram-se em cidades (Ouro Preto e
de uma só pessoa ou, mais frequentemente, de gru- Jiparaná). Os resultados econômicos foram pratica-
pos de proprietários. Seu objetivo foi instalar, perto mente irrisórios. Os modelos desta colonização na
das grandes fazendas, pequenos agricultores, que Amazônia dos anos 1970, reproduziam, assim, os
podiam ser usados como assalariados para o des- esquemas ocorridos dos anos 30-40 nas frentes do
matamento e a preparação das pastagens. As Sudeste.
empresas mais estruturadas em termos de produção EGLIN e THÉRY (1982: 99-114) consideraram a

37
38
colonização pública um processo inacabado, inca- onde a pressão pela propriedade da terra era alta. Os
paz de garantir o sucesso aos migrantes. Várias sem-terra eram também atraídos pela distribuição
foram as razões: a grilagem de terras por grandes de lotes no Estado do Pará, pelos canteiros de tra-
empresas, que agiam na expectativa de se fazer balho ao longo da Transamazônica e pelo projeto
reconhecer mais tarde como «fato consumado». Jari. Essa imigração teve um duplo caráter: a) famí-
Analisaram a falta de atitude do governo federal lias inteiras à procura de um pedaço de terra, regru-
frente à Empresa de colonização Itaporanga S.A. pavam-se nas pequenas vilas, organizavam a aber-
que vendeu à colonos terras devolutas (de proprie- tura de novas roças, demandavam a titulação e
dade da União, da FUNAI ou ainda de parte de um faziam contatos com os comerciantes e políticos
projeto de colonização do INCRA), tomando-o locais; b) homens à procura de trabalho, recrutados
como um exemplo entre outros tantos. Entre o por dia para desmatar, seguido do plantio de pasta-
«paraiso» oferecido e as situações reais enfrentadas gens e às vezes pequenas areas de banana e café,
pelos migrantes havia uma longa distância: as dívi- trabalho que ao ser concluido obrigava o diarista a
das com os bancos atingiram cerca de 90% dos migrar.
colonos; a falta de mecanismos de comercialização
originaram distorções, ficando os colonos a mercê Pouco a pouco os caboclos se transformaram em
dos intermediários que, na verdade, eram os benefi- trabalhadores migrantes e a Amazonia começou a
ciados. perder sua cobertura florestal. A fase da coloniza-
Rondônia que fora escolhida para ser um território ção dirigida não permitiu o contrôle efetivo da ocu-
destinado a colonização social, foi transformado pação das terras, nem a integração de uma fração
em um «polo de desenvolvimento agro-pastoril» depois de importante de pequenos produtores ao processo de
1975. Com o II PND houve o redirecionamento do desenvolvimento econômico e social. E, apesar da
«orçamento do Tesouro aos projetos de pecuaristas e empresá- obrigatoriedade em manter reservas florestais, a
rios, economicamente mais eficazes» porque os projetos devastação da floresta foi quase total, aumentando
de colonização aliado ao atraso técnico dos colonos o risco de provocar a degradação dos solos à medio
custavam muito caro. Fora das areas ocupadas prazo.
pelos projetos, invasões ocorreram espontaneamen- Em menos de vinte anos, a ocupação da pré-
te. Em 1970, o IBGE enumerava os 730 000 pos- Amazônia contou com uma população pouco está-
seiros e entre eles, 63% no Pará, 74% no Mato vel e inumeráveis problemas de litígio entre pro-
Grosso e 96% Maranhão ocupavam propriedades prietários, obrigando o governo do Estado a acele-
com menos de 20 ha. rar a titularização de terras, e as companhias de
Planejada como eixos de colonização as rodovias se colonização a se esforçarem para estabilizar os
transformaram em verdadeiros espaços de «confli- colonos. O PIC Barra do Corda e o Projeto Piloto
tos de terra». de Colonização do Alto Turi (1971) foram exem-
Os elementos deste processo foram destacados na plos.
frente pioneira da Pré-Amazônia maranhense por
Os conflitos territoriais
DROULERS e MAURY (1981: 133-154): a exis-
tência de um saldo negativo entre o fluxo de Todo esse processo ocorreu sob a vigência do
migrantes e a taxa de permanência - um grande Estatuto da Terra, nos alertaram IANNI (1979),
número de migrantes chegavam, mas o numero dos VELHO (1972) e EGLIN e THÉRY (1982).
que ficavam era extretamamente reduzido. Aprovada em 1964, essa lei concedia o direito de
Avaliaram as duas frentes pioneiras anteriores, no propriedade em terra da União apos 10 anos, e em
Maranhão, como elementos para a compreensão do terra privada apos 20 anos de ocupação. Concedia
processo dos anos 60-70. Novos elementos se inse- também o direito de posse apos um ano e um dia, se
riram na colonização da Pré-Amazônia maranhen- o posseiro estivesse instalado pacificamente aos
se: havia forte pressão demográfica de nordestinos olhos de todos e se sua ocupação não fosse contes-
e dos próprios maranhenses nessa região de baixa tada, o ocupante sem titulo seria considerado pos-
densidade populacional e de terras devolutas, seiro legitimo e se beneficiaria da proteção da lei.
constituindo vantagens em relação às antigas areas Dois outros aspectos inseridos também nessa lei
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relacionavam à questão da sua expulsão do terreno CIBRAZEM (armazéns e estocagem), MEC e
ocupado somente com decisão judicial e com inde- SEDUC (educação), SESI (serviço social da indus-
nização pelos trabalhos realizados e o direito de tria), Banco do Brasil, BASA (Banco da Amazônia)
preempção até 100 hectares se fossem terras de e ACAR (extensão rural).
dominio publico. Mas, o processo de reconheci- Ao final desse periodo, diferentes organizações ter-
mento tinha que ser feito. No entanto, os posseiros, ritoriais podem ser identificadas dentro da
normalmente analfabetos, acabavam por se coloca- Amazônia Legal. O balanço apresentado por
rem à margem da lei porque nunca haviam tido que Foucher (1977:108) destaca:
demandar reconhecimento de suas posses. Fato que “ uma periferia, do Acre ao Maranhão ocidental -
facilitava apenas o atendimento aos requerimentos passando por Mato Grosso setentrional e central,
de fazendeiros e grileiros, que inumeras vezes pos- Araguaia e centro do Pará - domínio exclusivo das
suiam ligações estreitas com o judiciario. fazendas e de áreas de baixa densidade. Rondônia,
Foram violentos os conflitos de terra no Bico de Transamazônica e a leste da porção norte da Belém-
Papagaio, envolvendo os Estados do Para, do Brasília recebem uma colonização induzida e tam-
Maranhão e de Goias ligados, sobretudo, às possi- bém espontânea. A colonização interessa essencial-
bilidades de obtenção de titulos de propriedade de mente a Amazônia oriental e meridional. A oeste, as
terras. No início dos anos 70, desenvolveu-se um fronteiras continuavam vazias, exceto Acre e mais
dos mais trágicos processos de grilagem, especula- recentemente Roraima, no novo eixo Manaus-
ção, destruição organizada de familias de posseiros Venezuela. Implantações industriais e terciárias
e de reestruturação do espaço nos municipios de reforçam as capitais tradicionais, que conhecem
Imperatriz, Santa Luzia e Açailândia no Maranhão, rápido crescimento demográfico ”.
São Domingos do Capim, no Para; Peixe e povoa- Ainda FOUCHER (1977) ao analisar este processo,
do de Sampaio, em Goias. Normalmente a grilagem entende que a Amazônia assume também diferentes
e especulação eram respaldadas por propostas eco- “ lugares ” na escala nacional: ora objeto prioritário
nômicas e representavam exemplos de ligação entre na política oficial, ora símbolo de conquista e ima-
legislativo e judiciario. O caso da obtenção de 14 gem do domínio de um meio geograficamente difí-
mil alqueires goianos pelo deputado Adail Santana cil de ser ocupado; ora local de transferência de
no municipio de Peixe, que serviria à implantação tensões e desequilíbrios regionais. Ela eleva-se à
da Agropecuária Gurupi (Agropig) cujo objetivo condição de prioridade nacional, época do discurso
era «derrubar a mata para plantar babaçu, caju e do desenvolvimento no interior do país, “ época de
fazer construções» (KOTSCHO, 1982:90; SADER, seu reconhecimento científico ”, um imenso campo
1983) pode ser evocado como exemplo. de trabalho para o mapeamento de sua realidade e
Apesar dos resultados social (falta de escolas, hos- da descoberta de suas riquezas (ferro em Carajás,
pitais, equipamentos sociais urbanos, etc.) e econo- bauxita em Trombetas, urânio em Roraima). Em
micamente negativos (baixa produção, inacessibili- seguida, ela perde esta condição prioritária de
dade ao mercado consumidor, custos de produção reconhecimento científico para ter que adaptar seu
maiores que o preço de venda dos produtos, etc;), o desenvolvimento às necessidades do país.
programa de colonização fora de grande importân- Tanto FOUCHER quanto FOREWAKER (1981)
cia para o governo da época, como ressalta COSTA reforçam a avaliação das alianças contemporâneas
(1997) “pelo fato de que em três anos, o mesmo consumiu e das contradições dentro do próprio Estado. As
cerca da metade dos investimentos governamentais e envol- relações interinstitucionais dos organismos vincula-
veu a atuação de nove ministérios ”. FOREWAKER dos à questão agrária entre União e Estado embora
(1981:136) entretanto, chama a atenção para o fato buscassem demonstrar a possibilidade de novas
de terem havido superposições e possiveis conflitos alianças e procurassem amalgamar antigas relações
institucionais: na região de Altamira, não apenas o de poder entre o governo federal e estaduais, na
INCRA atuava, mas também o IPEAN (pesquisa verdade, reproduziram na fronteira os conflitos
agricola), DEMA (Assessoria no Ministério de legais não resolvidos entre as esferas de poder.
Agricultura), SESP (Saúde), SUCAM (contrôle da KLEINPENNING (1981) reforça também que,
malária), COBAL (companhia de alimentação);
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entre 1973 e 1975, essa estratégia é abandonada e a As estratégias em grande escala, para a
extensão das atividades à grande escala passa a ser empresa
o centro das atenções e mesmo o INCRA passa a O período subsequente ao descrito anteriormente,
favorecer os estabelecimentos médios. As preocu- foi marcado pela aprovação do II PND (1975-
pações sociais do Instituto tiveram importância 1979). Este Plano registrou uma mudança de estra-
somente durante poucos anos, entre 1970 e 1973. A tégia: a opção pelo grande empreendimento, com
nova orientação favorecia a ocupação de lotes de capital intensivo e tecnologia de nível internacio-
até 3 000 ha que podiam ser obtidos por meio de nal, “ uma nova etapa de esforço de integração nacional ”
inscrição à qual se anexava um plano detalhado (BRASIL, 1974:35), um esforço de crescimento
com o projeto de cultura e a gestão técnica: grandes econômico, em especial, para o crescimento das
cooperativas do Sul dirigem-se para a Amazônia exportações com estratégias industrial e agropecuá-
estimuladas por essa politica, a exemplo da ria. A colonização integrada visava, então, a inicia-
Cooperativa de Trigo de Ijuí-RS. Assim, grandes tiva privada: as companhias privadas poderiam
extensões de terreno acabaram nas mãos de relati- adquirir até 500 000 ha de terra, apresentando um
vamente poucas pessoas. plano de uso no qual o terreno seria distribuido em
As componentes desse processo refletiram-se lotes de 100 a 500 ha e os colonos receberiam a
profundamente sobre o espaço. O Estado, princi- ajuda necessaria. As grandes cooperativas do
pal ator dessas zonas pioneiras incita o processo Centro-Sul poderiam também contribuir contando
inicialmente apresentando projetos de coloniza- com seus cooperados minifundiarios em geral.
ção dentro de uma “função social”, voltado aos A utilização dos mecanismos de incentivos fiscais
pequenos produtores, aos sem-terra. Mas, ao gerenciados pela SUDAM foi dirigida aos projetos
introduzir dentro dessas zonas o conceito de pro- agropecuarios e industriais, marcando fundamen-
priedade e ao incitar projetos técnicos e politicos talmente o tipo de ocupação e uso das terras amazô-
de modernização capitalista, o Estado provocou nicas. Entre 1966 e 1977, a SUDAM aprovou 549
um aumento nas distorções decorrentes da exi- projetos para a implantação e modernização de
gência de novas técnicas e uma base populacional empresas, dos quais 335 eram relativos ao setor
sem condições e meios de absorver ou de repro- agricola e 214 ao setor industrial com investimen-
duzir essas técnicas. As operações pioneiras cria- tos de 7,2 bilhões de cruzeiros dos quais 5,5 bilhões
ram poucos empregos na agricultura, industria ou na agricultura10. Entre pagar impostos ou benefi-
empregos temporarios, no momento da derrubada ciar-se de incentivos, o momento foi propício ao
da mata, no plantio e nas colheitas. Diferindo das envolvimento de grandes empresas nacionais ou
frentes pioneiras do sul do pais, a frente amazôni- transnacionais: Camargo Corrêa, Liquigas, Nestlé,
ca introduziu enclaves - as zonas industriais, ou Goodyear, Ultra, Volkswagen, etc11.
polos, um novo fenômeno nas franjas de coloni- Esta mudança é decorrente da situação em que a
zação agropecuaria e transformou o migrante economia internacional encontrava-se naquele
eventual em permanente, reforçando as analises momento: uma fase crítica de depressão econômica
que alegam, como proposito do Estado, apenas a ocasionada pela crise do petróleo e por um novo
redução das tensões sociais do Nordeste e o inicio patamar industrial que se estabelecia. Para ajustar a
da exploração na Amazônia por considerações de economia interna, o Governo adotou “ medidas volta-
ordem econômica, geopolitica, de politica nacio- das à expansão de setores de ponta, com padrões tecnológicos
nal e de prestigio. mais elevados e propõe criar ‘novas frentes de exportação’,
A esse respeito, o Relatório do Brasil para a mesmo com o sacrifício interno ” (BRASIL, 1974:2).
Conferência das Nações Unidas para o Meio Outro elemento impulsionador das mudanças, nos
Ambiente e Desenvolvimento ressaltou que “ no lembram EGLIN e THÉRY (1982:16) foi o peso da
caso dos projetos de colonizacão, a Amazônia foi dívida externa brasileira, que absorvia cerca de
vista como espaço vazio e como forma de evitar a 60% do valor de suas exportações, provocando um
realização de uma reforma agrária no Centro- crônico déficit entre a balança comercial e a de
Sul ”. (BRASIL, 1991:99). pagamentos, somente compensado com novos

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empréstimos. lação das prioridades do Polamazônia. Assim
Assim, o II PND criou 15 “ pólos regionais ”, esta- concentrou-se a destinação dos recursos e a organi-
beleceu o tipo de atividade econômica das “ áreas zação do espaço nesses pólos de crescimento, fora
vazias ” do território, definindo a chamada “ ocu- dos núcleos urbanos da região, representado em 15
pação produtiva da Amazônia ”. Desta maneira, áreas prioritárias do Programa Polamazônia e cinco
selecionou os locais de investimentos e setores, no eixo Amazonas-Madeira.
especialmente aqueles voltados para o desenvolvi- Nesse nesse período os resultados dos investimen-
mento agropecuário e mineral, concentrou recursos tos no projeto Radam-Brasil na Amazônia assim
em grandes empreendimentos que permitiriam como alguns estudos da Prospec realizados para o
“ retorno a curto prazo ” e desestimulou a política DNPM já eram parcialmente conhecidos: riquezas
de ocupação extensiva, dos movimentos migrató- minerais em bauxita, ferro, caolim, cassiterita, lin-
rios que diluem a presença humana e a produção hita, manganês, cobre, niquel entre outros; o poten-
econômica dentro do espaço. A figura 1.3 apresen- cial hidrelétrico do Amazonas e seus afluentes. Até
ta os principais elementos dessa ocupação produti- 1976, somente duas grandes jazidas foram explora-
va na Amazônia no período, e delinea também as das: manganês na Serra do Navio e cassiterita em
areas de colonização publica e privada. Rondônia.
A análise de FOUCHER (1977) identifica clara- Assim, o II PND foi concebido com estratégias eco-
mente esta fase do realismo econômico da nômicas e territoriais bem definidas, sobretudo para
depressão mundial (subsequente ao período do promover os ajustes da economia nacional em fun-
“ milagre brasileiro ”). Destaca que ela acabou por ção dos desajustes causados pela crise internacio-
adaptar o desenvolvimento regional às necessi- nal.
dades do país de aumentar a exportação, de diversi- Os investimentos públicos destinados aos pólos
ficar a produção para conquistar novos mercados, agropecuários e agrominerais e ao complexo míne-
de uma nova política energética, da aceleração da ro-metalúrgico privilegiaram a Pré-Amazônia, a
prospecção mineral e do desenvolvimento agrícola sua porção oriental e o Baixo Tapajós, áreas de
para exportação. A colonização de caráter “ social ” concentração econômica e populacional exigida
fora substituída por uma nova política agrícola que como critério para a seleção dos polos, as quais per-
destinou créditos e terras virgens ao agrobusiness. mitiriam a ampliação e a velocidade de retorno do
O mecanismo importante desse Plano foi o POLA- capital aplicado. Apenas a implantação da Zona
MAZÔNIA, criado com o objetivo de melhorar as Franca de Manaus carreou investimentos para a
estruturas de equipamentos aos 15 polos, os quais ja Amazônia ocidental. No entanto, apesar dos inves-
haviam sido selecionados em função da existência timentos serem dirigidos à grandes empresas e
de solos férteis, de ricas reservas de madeiras ou de grandes projetos, os mesmos exerciam um forte
grandes jazidas minerais. Reproduzindo o modelo poder de atração, reforçando a ocorrência de
do I PND com o PIN, o Polamazônia garantia os grandes movimentos migratórios.
recursos financeiros para a viabilização do II PND. Em sua análise sobre este aspecto da ocupação ter-
Outro critério para a seleção desses polos tinha sido ritorial amazônica, o Relatório para UNCED
a existência de vias de comunicação já existentes e (BRASIL, 1991:99) destaca “ no caso dos projetos agro-
a possibilidade de produção de energia nesses pecuários e minerais, a região passou a ser entendida como
locais para atender à prioridade nacional de expor- fronteira de recursos para setores econômicos estabelecidos
fora da região. As atividades implantadas nesse período ten-
tação. Os investimentos deveriam privilegiar o deram a desagregar o ambiente sem reduzir as desigualdades
crescimento da produção de energia, a implantação socioeconômicas regionais».
de serviços urbanos – abastecimento de água e No final dessa década e início dos anos 80, além
esgotos, de educação e de saude – em cidades ja das denúncias empreendidas por estudiosos e cien-
existentes e facilitar o surgimento de novas cidades, tistas, começaram a se intensificar as reações no
a construção de entrepostos e abatedouros. A âmbito da sociedade organizada e na opinião inter-
extensão dos créditos do Banco do Brasil a outros nacional. Grupos ambientalistas nacionais engros-
projetos de pecuária foi uma das medidas de articu- savam os movimentos organizados e o discurso

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internacional da proteção aos índios, da preserva- Tesouro Nacional podia avalizar empréstimos inter-
ção da floresta, da proteção aos direitos humanos. nacionais necessários ao desenvolvimento dos pro-
Este foi um período significativo quanto aos aspec- jetos pelas empresas.
tos de denúncias e de pressões, que forçariam a Como resultado espacial, BECKER (1991) destaca
ocorrência de mudanças nas estratégias governa- que a gestão de Carajás constituiu um mosaico de
mentais, embora, poucos foram os projetos ambien- contrastes entre alguns territórios públicos à cida-
tais para a Região. dela de Carajás. Um mosaico físico correspondente
Polariza-se assim o debate constituindo-se cor- ao espaço de poder: enquanto o poder do Estado era
rentes com posições contrárias e extremas: as posi- exercido nos territórios indígenas, nas UC’s; o ter-
ções ambientalistas radicais sobre a preservação da ritório de Carajás foi controlado pela CVRD que
Amazônia que contrapunha-se radicalmente aos fechou seus limites, exerceu seu contrôle e criou no
argumentos do desenvolvimento a qualquer custo. seu entorno um vasto cinturão amortecedor. A Vila
Em suma, o crescimento da importância da temáti- de Carajás era totalmente planejada e sobre a qual
ca ambiental no país não fora capaz de alterar a manteve-se um rígido contrôle urbanístico, um
essência das políticas territoriais para a Amazônia. espaço urbano hierarquizado e seu acesso comple-
Ainda que os anos 80 tenham sido considerados tamente controlado. Vila que contrapunha-se ao
como “ a década perdida ” na economia, alguns núcleo geminado de Paraopebas/Rio Verde, cujo
investimentos cuja negociação já havia sido inicia- crescimento deu-se com total liberdade desconside-
da se implantaram na Região, impactando-a: o rando o planejamento inicial.
Programa Grande Carajás e a ferrovia ligando este Esse cinturão amortecedor foi constituído, a
pólo ao porto de Itaqui, cuja estrutura também foi sudoeste, pela Reserva Indígena Cateté (Xicrim)
melhorada; a construção das hidrelétricas de em terras regularizadas; a sul e leste os projetos de
Balbina e Tucuruí, e a montagem do Programa colonização Carajás II e III, implantados em 1983-
Calha Norte, o asfaltamento da BR-364, havendo 84, com 1.551 famílias, evitaram a propagação dos
ainda um processo de multiplicação e expansão das conflitos de terras até a base da Serra, serviu sobre-
empresas estatais, passando o Estado a adotar práti- tudo para reduzir as tensões do Bico de Papagaio;
cas de empresas privadas. ao norte e nordeste, um espaço vulnerável com
As ações do Estado no projeto Grande Carajás12 e conflitos de terras entre esferas federal e estadual,
sua relação com a Companhia Vale do Rio Doce - entre fazendeiros (grileiros) e posseiros, entre estes
CVRD foram importantes e marcaram o elevado e políticos, entre todos e a CVRD.
nível de conhecimento técnico e científico nos dois Enquanto isso, fora dos espaços dominados pela
quadros técnicos envolvidos e como nos distintos nova ordem econômica na Região o garimpo do
métodos de gestão. A CVRD serviu-se de todos ouro iniciou-se, em 1982, em Serra Pelada, um
seus meios técnicos e científicos para implementar espaço sem o contrôle do Estado e desprovido dos
o projeto Grande Carajás (1985-1991) e de investi- elementos do vetor cientifico-tecnológico,
mentos externos. O governo brasileiro ofereceu constrastando fortemente com os territórios de
vantagens para que o projeto pudesse ser viabiliza- limites rígidos e contrôle absoluto no interior do
do: matéria-prima (ferro, manganês, niquel, bauxi- projeto de mineração e da Vila de Carajás. Na ver-
ta e cobre), energia e mão-de-obra barata, trans- dade, em Serra Pelada o contrôle foi exercido por
portes eficientes e contrôle de poluição pouco rigo- grandes proprietários de lavras e máquinas, tendo
roso (EGLIN e THÉRY, 1982). O projeto envolveu sido o Major Curio o personagem de maior poder.
siderurgia na transformação do ferro-manganês, As mudanças de estratégias e de objetivos governa-
ferro-niquel e alumínio e valorizou a descoberta de mentais, a redução dos investimentos estrangeiros
jazidas que se encontravam em suas proximidades, no país, o peso da dívida externa se traduz numa
além da articulação com projetos de exploração retração do governo federal. OLIVEIRA (1996:36)
agropecuária e agroflorestal, explorando-se áreas em sua analise de alguns fatores da crise surgida
de reflorestamento. Além dos incentivos fiscais ja naquele período, ainda presentes em 1996, ressal-
existentes na politica de ocupação amazônica, o tando a necessidade dos Estados amazônicos arca-

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rem com as condições requeridas pelo desenvolvi- cesso motivador da frente pioneira dos anos 40, de
mento regional: São Paulo para o Paraná, ocupando terras cobertas
“a partir dos anos 80, se instala no país a crise com florestas foi, antes de mais nada, econômico,
financeira do Estado e as políticas públicas passam em busca de terras baratas e solos apropriados para
a perder espaço, força e rigidez, abre-se um vácuo o desenvolvimento do café. Aos aspectos econômi-
no próprio processo de desenvolvimento regional. cos reuniam-se os traços culturais da sociedade: ao
Isto atinge os governos estaduais, que se veêm for- grande números de jovens valorizava-se a sua
çados a praticar parcerias e procurar integração capacidade de correrem riscos e de desbravarem
entre si no sentido de “ tocar ” algumas obras de regiões inóspitas. Os estudos nessa região agrega-
infra-estrutura, sobretudo aquelas mais relaciona- ram-lhe elementos e consolidaram conceitos que
das com as possibilidades do seu crescimento eco- lhe permitiram a busca de semelhante processo em
nômico. E, dentre elas, uma das alternativas é pro- diversos países tropicais e serviram para consolidar
curar avançar para a integração com os mercados correntes de estudos geográficos.
externos. Neste particular, Mato Grosso é um caso Nos anos 70, o interesse de institutos latino-ameri-
típico, com a sua iniciativa de avançar na abertura canos europeus e de pesquisadores como FORE-
de uma rodovia para o Pacífico. Se isto de fato vier WAKER, MONBEIG e KOHLHEPP pelo fenôme-
a acontecer, abrangerá a área de interesse do Estado no, induziram-lhes a selecionar algumas áreas de
do Acre, que busca essa mesma abertura mas tem estudos na Amazônia, estimulando grupos de alu-
tido, até o momento, suas pretensões frustradas em nos a se deslocarem para o Brasil e a estudarem
razão de interesses geopolíticos internacionais. essas áreas - Rondônia, Maranhão e Mato Grosso -
Tanto o Mato Grosso como o Acre buscam se inte- e também a SUDAM. Para MONBEIG (1981) nes-
grar ao Pacífico a partir da construção de estradas. sas áreas parecia se repetir o processo identificado
O Estado do Amazonas também procura viabilizar nos anos 40, entre São Paulo e Paraná. Sua percep-
um sistema semelhante, voltado para a integração ção sobre o papel e a importância do Estado deman-
com a Venezuela e com o Caribe. Percebe-se, dava a necessidade de uma análise a respeito de que
assim, que há iniciativas - positivas ou não - de o suporte governamental seria utilizado para viabi-
integrar essas segmentações a novas territoriali- lizar o novo processo.
dades que estão a surgir na Amazônia. De certa Assim, as pesquisas nesses Estados amazônicos
forma, parece que esses processos todos contribuí- adotaram como principio o trato com uma socieda-
ram para conferir à região Amazônica um maior de em movimento, complexa e não preservada de
poder de competividade”. conflitos. Destacaram o papel crescente do Estado,
Hodiernamente, a rodovia BR-173 que liga Manaus de ordenador, de “colocar as terras virgens a serviço do
a Caracas representa a concretização de algumas crescimento econômico”, num novo momento, respal-
das iniciativas elencadas por OLIVEIRA (1996). dado pela introdução e difusão, na ação do Estado,
das condições de acesso à propriedade, dispondo
3. As sociedades em movimento e o interesses dos
também de um novo quadro legislativo no que
cientistas sociais europeus concernia à questão fundiária.
Muitos geógrafos franceses manifestaram seu inter- Registraram, esses estudiosos a ocorrência dos
esse em entender os fenômenos das frentes pionei- mesmos elementos da frente anterior, mas ressalta-
ras onde os processos e as mudanças ocorriam ram algumas diferenças que podiam permitir uma
extremamente rápidas. MONBEIG, um dos primei- interpretação melhor do mundo pioneiro e de suas
ros estudiosos desse fenômeno, acompanhou o paisagens, os enclaves, as zonas industriais e os
movimento das primeiras frentes, no sul, durante o polos. Consideraram que as paisagens permitem,
período em que viveu no Brasil. Decodificá-las e pela sua simples observação, destacar alguns ele-
compreendê-las exigiu-lhe entender o processo que mentos dominantes, mas não se pode prescindir de
as impulsionava. Identificou o alicerce para a com- um aprofundamento no estudo de seus processos,
preensão desses fenômenos, suas dinâmicas sociais, sua complexidade e contrastes para se ter o conhe-
políticas, econômicas ou culturais. Para ele, o pro- cimento de sua organização.

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O elemento de maior destaque era, para eles, a rede dores procuravam desvendar causas e consequên-
de transportes, principal instrumento de organiza- cias dos problemas sociais.
ção do território, disponibilizado aos promotores da Mais de vinte anos após a realização desses estu-
frente. As cidades e os eixos de transportes trans- dos, relê-los à luz da importância que o meio
formam-se em nós de novas redes. As cidades refle- ambiente adquiriu como um dos elementos a serem
tem os impulsos - em uma ou outra direção. O tomados como referência para a ordenação do espa-
domínio de novas técnicas, conseguidas pela ação ço nacional, certamente irá expô-los à algumas crí-
do Estado, impulsionou o processo de moderniza- ticas.
ção capitalista nas zonas pioneiras e a intensifica- Aspectos ambientais, abordagem marginal
ção dos contrastes. nas frentes pioneiras
DROULERS, FOUCHER, RIVIÈRE D’ARC e
THÉRY estudaram com maior profundidade os ele- O ponto de maior importância, quando se trabal-
mentos considerados mais importantes na estrutura- ha com o espaço amazônico, relaciona-se com a
ção do espaço: complexidade das sociedades em movimento, ou
i. os pequenos agricultores e os meios de produ- seja, seus aspectos intrínsicos e as consequências
ção (preço da terra, capital, trabalho), poste- dos movimentos de migração. A integração do
riormente formação de cooperativas e de uma espaço amazônico ao espaço nacional se deu no
classe média rural e urbana (correspondendo contexto das questões de fronteiras políticas, no
às diversas etapas de penetração do modo de sentido do dinamismo pioneiro da integração.
produção capitalista dentro da agricultura; Essas fronteiras foram elementos fundamentais
ii.a dinâmica da estrutura fundiária (os minifun- para a compreensão da “geopolítica dos mili-
dios e latifundios, as zonas invadidas, o tares” que não apenas objetivavam a “posse” do
tamanho dos lotes dos projetos) e a constitui- vazio demográfico mas, de uma certa maneira,
ção dos grandes domínios e conflitos violen- representavam os interesses do governo brasileiro
tos entre posseiros, grileiros e fazendeiros; em manter sob sua influência uma grande área no
iii. a dinâmica da população, com baixa pro- interior do continente.
porção de fixação e vagas sucessivas de Atualmente, um dos aspectos tomado como refe-
migrantes; rência na estruturação do espaço é a existência de
iv. a desterritorialização dos trabalhadores - em terras indígenas demarcadas e de um sistema de
função do baixo preço pago ao seu trabalho, unidades de conservação. Embora a posse dos ter-
que avançavam à procura de novos trabalhos, ritórios indígenas estivesse assegurada desde a
não lhes restando outra coisa que desmatar e Constituição de 1934, e ainda que o Serviço de
fazer os primeiros plantios. Proteção ao Indio tivesse a atribuição de
Outros elementos aparecerem secundariamente, a demarcá-las13, como a política da época era de
progressão do desmatamento, o desgaste dos solos, integração e assimilação cultural, a demarcação
o papel dos centros urbanos. de suas terras tornou-se uma questão secundária.
Além desses elementos da estruturação do espaço Os estudos franceses das frentes pioneiras amazô-
estudaram também as consequências relacionadas nicas analisaram os conflitos de integração e assi-
aos aspectos sociais, a situação dos trabalhadores milação cultural dos povos indigenas em decor-
(os tipos de trabalho, salários ou títulos de proprie- rência da construção de estradas, ferrovias, linhas
dade da terra, etc); a situação de abandono, de falta de transmissão ou usinas hidrelétricas, o que os
de assistência médico-sanitária e precariedade colocava em desvantagem em relação aos confli-
material; os conflitos entre grandes e médias pro- tos territoriais, comuns na região, originados com
priedades; os elementos frágeis da população (falta as invasões de mineradores, madeireiros e possei-
de conhecimentos e de meios, etc); a implantação ros. O balanço da colonização, apresentado nos
dos grandes projetos (hidrelétricos) e a expulsão anos 1980, indicava os projetos geradores de
dos posseiros; os empregos rurais insuficientes. maiores conflitos com as áreas indígenas:
Como muitos estudiosos brasileiros, estes pesquisa-

48
desequilíbrio ecológico
Tabela n° 1 – grandes projetos e terras indigenas mundial, normalmente apre-
sentavam vínculos entre a
destruição da floresta e a
Projetos Terras indígenas invadidas erosão e as modificações do
Grande Carajá (PA) Xicrin – Caiapó
Serra do Navio (AP) Palikur, Karipuana, Galibi- Marwôrno
ciclo de chuvas, derretimen-
Trombetas Parque Tumucumaque, Pianokoto-Tirio, to das calotas polares, eleva-
Warikyana-Arikiena, Parukoto-Charúma ção do nível dos mares. Os
Concessões de cassiterita - Rondônia Parque Indigena Aripuanã, Cintas Largas, Suruí estudos das frentes pioneiras
Jari Nove vilas Aparaí trataram apenas ligeiramente
Swif-Armour/ King Ranch Reservas Tembe/Urubu-Kaopor
Volkswagem do Brasil Grupos Caiapós do Norte
as perdas de solos e a erosão,
Suia-Missu Parque Nacional do Xingu assim como os impactos das
atividades industriais ao
Fonte: Eglin & Théry (1982) citando E. Martins, Opinião n° 128, 1975. meio natural ainda intacto,
aspectos novos nessa frente.
Uma sensível diferença pode
Quanto aos aspectos ambientais, que atualmente ser notada entre os estudos dos anos 70 e os da atua-
carregam a importância de seu valor intrínseco - os lidade quando se observa a inserção do conceito da
elementos que constituem cada ecossistema e de biodiversidade, sua conservação e os impactos da
sua capacidade de renovação -, foram vistos por ocupação e do seu uso, bem como os métodos, cri-
MONBEIG e seus seguidores, por meio da impor- térios e a distribuição dos benefícios de seu apro-
tância que os mesmos adquiriam frente aos aspec- veitamento e seu vínculo com o desenvolvimento
tos da própria economia. A capacidade de renova- da biotecnologia. Anteriormente, o conflito
ção natural ou artificial estava ligada à valoração ambiental ressaltava apenas os vínculos do desma-
econômica de cada ecossistema. Ainda que em sua tamento com a ocupação. No final dos anos 90,
tese MONBEIG (1959) tenha dedicado um capítu- com a maior consciência a respeito da biodiversi-
lo a “perdas e ganhos”, a avaliação relacionava aos dade e da revalorização do conhecimento e usos
desgastes ecológicos provocados pela marcha, tradicionais dos povos indígenas, evidencia-se que
considerando que a extrema mobilidade populacio- tanto a defesa dos territórios indígenas como o cres-
nal se explicava muito mais pela rapidez com que cimento da conservação in situ e o do sistema de
se desgatam os solos. Considerando a economia um Unidades de Conservação visam garantir a preser-
dos motores de manifestação das frentes, sua visão vação de um gigantesco patrimônio biológico.
privilegiava os fatores econômicos e procurava des- Nesse contexto, embora os parques nacionais e as
tacar as consequências geográficas. Para ele a reservas legais, previstas no Código Florestal, já
questão maior era se os desequilíbrios ecológicos existissem como um meio de preservação ambien-
seriam irreversíveis ou, até que ponto, eles repre- tal, não foram vistos como elementos de estrutura-
sentariam a criação a longo prazo de um novo equi- ção do espaço, mas sim mencionadas quando se
librio. referiam ao desmatamento, ou seja, como conse-
As estatísticas relacionadas aos aspectos de desma- quências do processo de ocupação.
tamento e destruição das riquezas naturais as apre- As análises da estruturação do espaço amazônico
sentavam como elementos essenciais dessas dinâ- não levaram em consideração os esforços da políti-
micas. EGLIN e THÉRY (1982) indicam que, entre ca preservacionista de Paulo Nogueira Netto na
1966 e 1975, segundo dados do IBDF, três milhões Secretaria Especial de Meio Ambiente - SEMA. As
de hectares foram desmatados para a construção de diretrizes e estratégias dessa política serão analisa-
estradas e 4,3 milhões de ha para implantação de dos no capitulo dois, a seguir, mas ressalta-se aqui,
áreas de pastagens (sendo que 3,8 milhões foram o seu eixo prioritário, a criação de Unidades de
áreas que se beneficiaram de incentivos fiscais). Conservação, visto como uma forma estrita de pre-
Algumas preocupações começavam a ser denuncia- servação. O quadro abaixo confirma o argumento.
das, pela imprensa alternativa, como fontes de
49
À exceção do Parque Nacional do Araguaia e da os dados que as serrarias lhes comunicavam, ainda
Flona Caxiuanã, criadas pelo IBDF, no período que os técnicos dessa instituição já pudessem iden-
anterior à década de 70, as outras nove Unidades tificar alterações que ocorriam na floresta, em fun-
foram criadas no periodo de 1974 a 1980, muitas ção da construção da Transamazônica: em diversos
delas ligadas aos grandes projetos, por exemplo, lugares, o resultado do corte das imensas árvores da
Reserva Biológica do rio Trombetas, a Estação floresta foi o surgimento de arbustos sem valor,
Ecológica do Jari ou a Floresta Nacional do pois se regeneram apenas uma dezena de essências
Tapajós. entre cerca de 300 que se extinguem.
Nestas UC a exploração florestal deveria ser Nesse sentido, pode-se avaliar que o aumento da
controlada pelo IBDF, mas a capacidade desse consciência mundial acerca do valor do meio
Instituto em monitorar os projetos de exploração da ambiente e da necessidade de redirecionar os mode-
madeira e verificar se as exigências de replantio los de desenvolvimento responsáveis pelos proces-
estavam sendo cumpridas era praticamente nula. sos de poluição e de depredação dos recursos natu-
rais, aspectos discutidos na Conferência de
Estocolmo, promoveram apenas influências seto-
Tabela n° 2 – Datas e areas das Unidades de riais dentro do país. Evidentemente, houve institu-
Conservação federais na Amazônia
cionalização do setor ambiental no seio da estrutu-
Unidade de Conservação área em Ha. ra governamental, houve mobilização em torno da
Bioma Estado elaboração de uma política nacional de meio
Data Criação
Parque Nacional do Araguaia (*) 557.714,00
ambiente, de instrumentos e normas, mas foram ati-
Cerrado TO vidades restritas à política ambiental. Da mesma
3l dezembro 59 maneira, o debate e as proposições pautadas no
FLONA Caxiuanã 200.000,00 conceito de ecodesenvolvimento se restringiram ao
Amazônia PA interior da área ambiental, assim como as denún-
novembro 61
Parque Nacional da Amazônia (*) 864.047,00
cias sobre os impactos e os processos não se tradu-
Amazônia AM e PA ziam, ainda, em ampliação da participação social.
19 fevereiro 74 Forçado pelo impacto das críticas internacionais,
FLONA Tapajós 600.000,00 pelas denúncias de responsabilidade por políticas
Amazônia PA destruidoras do meio ambiente e de culturas indíge-
01 novembro 74
Parque Nacional do Pico da Neblina 2.200.000,00
nas, em 1988, o governo brasileiro opta por dar
Amazônia AM uma resposta priorizando questões de ordenamento
05 junho 79 territorial, ao instituir o Programa Nossa Natureza,
Reserva Biológica do Jaru 268.150,00 associado à política de institucionalização de
Amazônia RO Unidades de Conservação e a ampliação da identi-
11 julho 79
Parque Nacional de Pacaás Novos 764.801,00
ficação e demarcação de terras indígenas. Como
Amazônia RO resultado, o Brasil ampliou sensivelmente os ter-
21 setembro 79 ritórios protegidos, aproximando-se de 15% de
Reserva Biológica do Rio Trombetas 385.000,00 áreas na Amazônia.
Amazônia PA Ao chegar o final da década, todos esses fatores
21 setembro 79
Total 5.839.712,00
atuaram simultaneamente, provocando a retração
do Estado e uma alteração profunda na política ter-
ritorial: até os organismos de financiamento inter-
Fonte : IBAMA, 2000. (*) valores calculados por geoproces- nacionais, que através de seus empréstimos finan-
samento ciaram estradas (BR-364, por exemplo) e grandes
projetos (Carajás, etc.) contribuíram para aumentar
Na verdade, segundo EGLIN & THÉRY (1982: 84- os impactos ambientais, em função das pressões
88), para um território do tamanho da França, exis- externas e internas, passaram a exigir “ estudos de
tiam dois funcionários, que se limitavam a registrar impacto e avaliações ambientais ” e a participação

50
51
das ONG na gestão dos projetos. O governo procu- iniciais que ocorreram no âmbito da reunião de
rou, com esta nova postura, demonstrar sua preocu- Founex (1971), a aparição do conceito em
pação com os impactos gerados pela sua própria Estocolmo (junho 1972) surgiu uma novidade, um
atuação. parâmetro a construir, e sua modificação à época do
Na linha histórica, as estradas construídas, associa- Relatório Brundtland (1987) e a Conferência do
das à política de colonização e incentivo à imigra- Rio (1992). As discussões acerca deste conceito
ção, na ótica dos governos militares significavam tem permitido a evolução do conhecimento e o apa-
integração e conquista do território amazônico, recimento de proposições metodológicas, embora
todavia, do ponto de vista ambiental produziram ainda não exista de fato um quadro teórico-concei-
impactos irreparáveis quanto ao uso do território e tual-metodológico pronto e apropriado pelas socie-
dos recursos naturais da região. A sucessão de pla- dades. Por enquanto, é um quadro aberto, que pro-
nos, programas e projetos que identificaram as voca as mais diferenciadas formas de apropriação e
potencialidades naturais e propunham meios de sua de utilização.
utilização permitiam ao Estado brasileiro não só SACHS (1979, 1980) considera que «ecodesenvolvi-
integrar a região ao mercado consolidado no cen- mento é uma abordagem do desenvolvimento harmonizando o
tro-sul do país, mas também fazer face às demandas social e econômico, objetivando a gestão ecológica, no espíri-
to de solidariedade com as futuras gerações», que repre-
do mercado internacional quanto ao fornecimento
de produtos primários. senta uma forma, requerida pelo um crescimento
No entanto, na visão dos seguidores da “doutrina qualitativo, que incorpora estratégias de baixo
da segurança nacional”, houve um processo extre- consumo de energia, fontes e recursos recicláveis,
mamente positivo ao ocupar economicamente a uso do solo e assentamentos planejados com base
Amazônia. Considera MATTOS (1980: 98-100) em princípios ecológicos e tecnologia apropriada.
que o fato geopolítico de maior relevância e a Para ele, o prefixo eco – ecologicamente viável –
estratégia de maior repercussão na integração da resulta das necessidades de se buscarem estratégias
Amazônia ao restante do país foi estabelecida de desenvolvimento conforme a solidariedade dia-
com a construção e a transferência da Capital crônica com as gerações futuras, ou seja, estratégias
que sejam capazes de assegurar uma produção sus-
Federal para Brasília. A partir deste fato, os tra-
balhos de “vertebrar o território continental tentada, salvaguardando e mesmo melhorando seu
amazônico, de transformá-lo à escala nacional”, suporte ecológico. Intrinsicamente ligado à
junta-se a outros como a criação do Banco de construção desse conceito situa-se a consideração
Crédito da Amazônia, a reformulação e reestrutu- de que o desenvolvimento tem que se alicerçar
ração das instituições de promoção do desenvol- numa ética que inclui o princípio de prudência
vimento da região; a criação da Zona Franca de ecológica, solidariedade diacrônica com as gera-
Manaus, “um artifício geopolítico” para acelerar ções futuras que não pode ser disassociado do
princípio de equidade social – a solidariedade sin-
a interiorização do território. Segundo este autor,
“a estratégia montada pelo Presidente Castello crônica com as gerações presentes. Insistia que o
Branco, em 1965, se prolongou pelos outros ecodesenvolvimento se distanciava tanto da conser-
governos revolucionários que o sucederam” e vação desmedida como do economicismo que bus-
consolidou-se no Programa de Integração cava resultados imediatos apropriando-se predato-
Nacional, que concebeu o “espaço amazônico à riamente dos recursos naturais. Para ele, um concei-
base da construção de duas rodovias, ambas com to que tem um ponto de partida conveniente, uma
reserva de terra até 10 km das suas margens para base heurística para a pesquisa concreta do desen-
a exploração e ocupação adequadas”. volvimento provocou inúmeros pesquisadores a tra-
balharem dentro dessa ótica e até mesmo algumas
4. A Amazônia entre Estocolmo e o Rio experiências em terreno, facilitando uma difusão
O caminho entre Estocolmo e Rio traz a marca de rapida do conceito pela França, Canadá, Suécia,
uma evolução do conceito de ecodesenvolvimento Holanda, e também México, Brasil, Venezuela,
ao desenvolvimento sustentável. Entre os debates Colômbia, vários países africanos, Índia e URSS,
logo após a Conferência.

52
Outro aspecto que SACHS (1981) inseriu no o Relatório do Clube de Roma.
conceito relacionou-se à exigência de que o desen- Há uma grande evolução na mundialização das
volvimento fosse endógeno, participativo, autôno- idéias ambientalistas, dos conceitos construídos
mo e autoconfiante, não uma simples transposição através dos debates, das lutas entre correntes e da
de modelos de fora. Deveria, o desenvolvimento, apropriação institucional desses, os quais tornaram-
apoiar-se sobre a lógica das necessidades e não a da se os fundamentos básicos de programas interna-
produção, buscando a harmonia com a Natureza e cionais. Se inicialmente SACHS considerava
ao mesmo tempo ser aberto às mudanças institucio- menos importante as discussões epistemológicas
nais. Como o conceito era novo, o autor admitia a acerca do conceito de ecodesenvolvimento para
existência de problemas epistemológicos, visto que fazer avançar a prática, outros autores WEBER,
o desenvolvimento deveria incluir a prudência GODARD e BOUSQUET (1997) procuravam
ecológica, entretanto, considerava que a idéia servi- desenvolver pesquisas de metodologias para
ria à fins extremamente práticos, ou seja, encontrar implantação destes conceitos, enquanto outros,
soluções susceptíveis de harmonizar os objetivos como ADAMS (1990), RIBEIRO (1999) ou
sociais, econômicos, ecológicos, valorizando os SMOUTS (2001) analisavam as forças políticas
recursos específicos a cada ecossistema e reduzir a que apoiavam a construção, a difusão e a própria
importância da discussão epistemológica. O meio transformação do conceito.
ambiente foi visto como um potencial de recursos a Para ADAMS (1990:14-83) o pensamento acerca
ser colocado a serviço do homem, à condição de do desenvolvimento sustentável está fortemente
que se encontrem formas ecologicamente viáveis ligado à história dos conceitos ambientais e das ati-
de sua exploração. tudes humanas frente à natureza. No seu entendi-
SACHS (1981, 1997, 1999) insiste, ainda hoje, que mento, os dois representam respostas para mudar o
o trabalho realizado em Founex e que sua proposi- entendimento científico, trocando conhecimento
ção de ecodesenvolvimento constituiu-se na tentati- acerca do mundo em idéias acerca da sociedade. Se
va de definir uma terceira opção, a meio caminho, a natureza emergiu no pensamento acerca do desen-
a “via intermediária entre o ecologismo absoluto e volvimento somente nos anos 60, é porque as exter-
o economicismo arrogante que permitisse a harmo- nalidades do desenvolvimento tornaram-se tão
nia da natureza, com desenvolvimento, baseado no complexas que exigia buscar as causas e compreen-
princípio de justiça social. Os pilares do desenvol- der o seu passado. Esses elementos estavam pre-
vimento alternativos são por um lado, a busca da sentes no globalismo, universo de ação do ambien-
harmonia com a natureza ou seja, a harmonização talismo nos anos 60 e 70 - um ambientalismo
dos objetivos sociais, ecológicos e econômicos e apolítico presente nas campanhas mundiais da bios-
por outro lado uma abertura conseqüente no senti- fera, foi duramente criticado pelos sistemas propos-
do da promoção de mudanças institucionais. tos por Harvey (1974) e Gregory (1980)14 - serviu
Traduzir esses conceitos em práticas implicava, para acelerar a presença de elementos de integração
sem dúvida, entrar num terreno onde somos todos no pensamento a respeito do meio ambiente e
aprendizes». desenvolvimento. Ainda que não tenha havido una-
Mas, a historiografia desse processo ressalta, no nimidade nesse forma de pensar, Adams considera
início dos anos 70, a existência de duas correntes que esses antecedentes reforçavam as formulações
diametralmente opostas que se confrontavam, colo- que fariam o alicerce das idéias do desenvolvimen-
cando-se de um lado os defensores do crescimento to sustentável. No entanto, o divórcio entre as
a qualquer custo e do outro, os catastrofistas que idéias históricas do ambientalismo e o contexto
anunciavam o apocalipse, apregoando o esgota- social e intelectual, embaçou a condição de enxer-
mento dos recursos naturais e a catástrofe, em gar com clareza as idéias relacionadas a cada um
conseqüência da poluição excessiva. O estudo «Os dos dois mundos – homem e natureza – tornando-se
limites do crescimento» (Meadows et al,1972) fun- o mais sério problema para compreender os diver-
damentou a segunda percepção mais comum do sas direções nas quais as distintas sociedades enxer-
ambientalismo daquela época e serviu de base para gam a natureza e atrasando a evolução do pensa-

53
mento. As grandes dificuldades inscreveram-se, gando os países em desenvolvimento a aguardar o
particularmente sobre os caminhos de gestão da encontro em Estocolmo. Nesse, ocorreu a redefini-
natureza e as idéias acerca das necessidades de ção dos objetivos de desenvolvimento e objetivos
mudança do desenvolvimento. que incluem fatores ecológicos, culturais e sociais.
Na historiografia elaborada por ADAMS (1990), o A controvérsia foi oportuna visto que provocou o
entendimento global acerca do ecodesenvolvimen- surgimento, ainda de forma marginal, durante a
to se desenvolveu a partir do Programa “ O Homem Conferência, a discussão sobre os vínculos entre
a Biosfera ”, sendo fortemente focalizado na pobreza e degradação ambiental e, alguns itens na
Conferência de Estocolmo, a partir da qual traçou o Declaração de Princípios reconheceram a natureza
seu caminho internacional. Essa Conferência for- dos problemas no Terceiro Mundo.
mou o quadro imediato para o desenvolvimento das A Conferência recebeu 113 nações, não teve a par-
estratégias mundiais para conservação. ticipação da República Democrática da Alemanha e
A situação do ambientalismo no mundo industriali- ocorreu sob protesto da União Soviética e de vários
zado nos anos 1960 a 1980 teve enorme importân- países da Europa de Leste. Somente 500 organiza-
cia no debate a respeito do papel da ecologia e da ções não-governamentais estiveram presentes no
conservação no desenvolvimento, referindo sobre- encontro paralelo, o fórum ambiental.
tudo às questões de meio ambiente global, visto que De maior importância foram algumas deliberações
a percepção social de meio ambiente raramente dirigidas aos problemas do Terceiro Mundo, à luz
transcendia as fronteiras e os interesses nacionais. da influência do «espírito de Estocolmo». A princi-
A crise na forma de pensar o meio ambiente em pal destaca o não condicionamento das necessi-
escala global é parcialmente vinculado à dades do desenvolvimento à proteção ambiental.
Conferência de Estocolmo que avança paralela- Também foram incluídas recomendações sobre o
mente ao crescimento apocalíptico da visão no neo- planejamento do desenvolvimento integrado e pla-
malthusianismo15. nejamento racional para resolver conflitos entre
Assim, a Conferência de Estocolmo tornou-se meio ambiente e desenvolvimento. A falta de méto-
chave na emergência do meio ambiente global. O dos para a solução destes conflitos foi a principal
foco dessa Conferência baseou-se nos clássicos crítica de ADAMS (1990), em função da perda do
conceitos do ambientalismo do Primeiro Mundo, conteudo de tais palavras, quando não se tem os
particularmente a poluição dominante naquele meios para a sua realização demonstrados. Talvez
tempo, e continuou a tratar os problemas de meio porisso mesmo Sachs insistia tanto em começar a
ambiente e de desenvolvimento separadamente, desenvolver experiências, so assim poderiam ser
perdendo-se o senso de integração entre as visões descobertos métodos…
dos países em desenvolvimento e industrializados. O resultado mais significativo dessa Conferência
E desta época também o aumento dos novos foi a criação do Programa das Nações Unidas para
conceitos politicamente construidos, ressaltam Meio Ambiente (UNEP). Um espaço específico
BECKER (1996) e SMOUTS (2001), como o de para as questões ambientais, com a meta de capita-
florestas tropicais. lizar a consciência do Sistema das Nações Unidas,
O balanço apresentado por ADAMS (1990) destaca mas, seu pequeno tamanho, pobreza de recursos, a
as contradições, os arranjos e as alianças da relativa fragilidade dentro do próprio Sistema e sua
Conferência. As reuniões do Comitê Preparatório posição periférica, em Nairóbi, limitou evidente-
que ocorreram em Founex, Suíça, em julho de 71 mente sua efetividade.
contando com a presença de 27 experts mostraram Um dos primeiros trabalhos de repercussão da
estas divergências: parecia ser possível que a gran- UNEP, após sua instalação, foi a «Estratégia de
de controvérsia sobre as prioridades relativas ao conservação Mundial» (IUCN/WWF/UNEP) com
meio ambiente e desenvolvimento do Terceiro a intenção de mostrar «como conservação pode contribuir
Mundo pudesse atrapalhar a Conferência de para os objetivos de desenvolvimento dos governos, da indús-
Estocolmo. As visões do Primeiro Mundo tiveram tria e comércio, da organização do trabalho e profissões»
um relativo sucesso no encontro de Founex, obri- (Peter Scott apud ADAMS, 1990:42). Esse trabalho
seguiu os princípios gerais oriundos das discussões
54
entre IUCN, ECOSOC e UNESCO, usando a base capaz de colocar o essencial das idéias ambientalis-
do Programa «Homem e a Biosfera», sucessor do tas na matriz do desenvolvimento.
IBP. Neste Programa, as Reservas da Biosfera16, Frentes pioneiras e conservação
identificadas segundo a classificação biogeográfica
global da IUCN, refletiram o aspecto político pois Para o Brasil das frentes pioneiras, SACHS já pro-
sua seleção cabia aos governos nacionais. punha em 1981, alternativas para uma nova estraté-
Ao lado das Estratégias para Conservação Mundial, gia de colonização, lembrando que o ponto de par-
a UNEP também promoveu o desenvolvimento de tida deveria ser a prudência, visto que cada ecossis-
outras idéias e princípios ambientais ligados ao tema deveria ter uma solução especifica; que ao
ecodesenvolvimento (SACHS, 1981; GLAE- invés de partir de técnicas existentes, exóticas ao
SER,1984a) as quais foram fortemente utilizadas meio, dever-se-ia analisar primeiro as potenciali-
nos encontros de Belo Horizonte, em 1978, Berlim, dades de cada ecossistema, começando por estudos
em 1979 e Ottawa, em 1986. Atrás das idéias de gerais de etnoecologia, incluindo a antropologia do
ecodesenvolvimento repousava a preocupação com cotidiano das populações indígenas e locais.
a complexidade intrínseca e as propriedades dinâ- Mesmo propondo esse caminho, Sachs tinha clare-
micas dos ecossistemas e o caminho que responde za que colonização implicava chegada de um gran-
pelas intervenções humanas. Assim, ao surgir, o de fluxo de migrantes, vindo de outros ecossiste-
ecodesenvolvimento, como conceito, procurou mas, de outras culturas. Porisso, considerava que
incorporar as vertentes da pressão politica entre deveriam ser colocadas em prática um dispositivo
paises desenvolvidos e em desenvolvimento, as de formação previa e que deveria continuar à medi-
correntes de pensamento dos anos 70 e aparece da da implantação do projeto de colonização assim
como uma maneira de «mudar ecossistemas na direção de como pesquisa para desenvolver métodos de gestão
sua mais alta produtividade e alta relevância das necessidades integrada de recursos e formas de ajudar os colonos
humanas enquanto respeitando a interdependência entre em suas necessidades de moradia, alimentação,
homem e natureza» (AMBIO, 1979 apud ADAMS); ou saúde, educação e cultura.
segundo DASMANN (1980) «melhorar as necessidades Sua proposta abrangia três condições fundamentais,
econômicas dos povos e reduzir o empobrecimento dos siste- para que a colonização visasse primeiro o bem estar
mas ecológicos dos quais depende o futuro». dos migrantes, complementada com novas formas
Essas idéias se aproximam dos conceitos de desen- de valorização dos recursos naturais:
volvimento sustentável e do pensamento acerca da i. a capacidade de criar uma economia micro-
sustentabilidade da década seguinte e posteriores: i) regional, articulada, reduzindo a dependência
o foco nas necessidades básicas; ii) ecodesenvolvi- com centros importantes da economia nacio-
mento demanda participação; iii) ecodesenvolvi- nal;
mento trabalha com idéias de tecnologias apropria- ii. ocupação seletiva do espaço compatível com a
das. gestão ecológica dos recursos renováveis, ou
Essas formulações de ecodesenvolvimento à parte seja, ordenação do território estabelecendo
das Estratégias de Conservação Mundial obviamen- “reservas de desenvolvimento”, se possível
te difere do escopo de compreensão dos aspectos ligadas por vias de transportes naturais, dando
sócio-econômicos do processo de desenvolvimen- condições de uma articulação de economias
to. A UNEP procurou enfatizar a descentralização micro-regionais, em economia regional, apor-
da burocracia, se aproximou da linguagem e das tando uma solução ao problema de proteção
idéias econômicas e políticas, oferecendo uma de populações indígenas, habitualmente cer-
agenda diferente daquela proposta pelas cadas dentro das “reservas indígenas”;
Estratégias. Finalmente, a aplicação dessas idéias iii. estabelecimento de relações seletivas e
para os países em desenvolvimento se traduziria em eqüitáveis entre as frentes pioneiras, as econo-
constrangimentos tanto de ordem de estrutura eco- mias micro-regionais, a economia nacional e
nômica e social, de implicações políticas, de internacional, cabendo ao Estado oferecer-
constrangimentos de capital, conhecimentos tec- lhes proteção institucional, sob a forma de
nológicos e poder. No entanto esta percepção foi mercados garantidos e rentáveis para certos
55
produtos e acesso em condições equitativas dos recursos minerais.
aos recursos materiais, técnicos e financeiros. Seria um erro supor a existência de conhecimento
Sua proposta tornava-se simultaneamente crítica mais genérico dos ecossistemas amazônicos e de suas
quanto aos objetivos da colonização como, eviden- funções nos anos 70 – 80, que servissem para orien-
temente, às condições políticas brasileiras da época, tar sua ocupação e uso. Por outro lado, propor méto-
ainda o periodo de governo militar. Para ele, a colo- dos de gestão integrada dos recursos era ainda depen-
nização deveria primeiro visar o bem-estar dos dente do desenvolvimento de pesquisa aplicadas
migrantes e não servir-se como meio para transferir nessa direção. O INCRA não dispunha de conheci-
população de certas regiões ou sequer, como rees- mento necessário do campo para propor seus projetos
truturação fundiária de regiões densamente povoa- de colonizacão, mas tinha premência de ação. Sua
das. Outra censura relacionava-se à necessidade de grande falha certamente relacionou-se à seleção dos
reduzir a velocidade do programa de colonização, técnicos e agrônomos disponibilizados para dar-lhe a
visto a falta de conhecimento científico suficiente assistência técnica. THÉRY(1977) refere-se à chega-
para permitir meios de exploração ecologicamente da de agrônomos vindos de Estados litorâneos
viáveis dos recursos naturais em regiões tropicais. (Espirito Santo, por exemplo), para orientar nordesti-
Dentro desse contexto, é evidente que esses conceitos nos, paranaenses e gaúchos, em plena floresta de
e propostas não poderiam encontrar ecos dentro das Rondônia. Três origens, três meios culturais, três
estruturas governamentais por serem paradoxalmente bases de conhecimentos diferenciadas para a explora-
contrários aos objetivos dos diferentes governos mili- ção de um meio completamente desconhecido.
tares. O primeiro grande paradoxo foi, sem duvida, a Outra grande contradição relacionou-se aos benefi-
questão do tempo necessário: uma colonização eco- ciários da colonização. Aproposta de SACHS (1981),
logicamente viável pressupunha um suporte cientifi- por exemplo, dirigia-se a colonos, a pequena agricul-
co anterior que permitisse selecionar espaços como tura familiar. Ainda que o foco do I PND tenha sido
núcleos da colonização ou, como SACHS (1981) inicialmente a população de sem-terra, os pequenos
propôs, “reservas de desenvolvimento”, mas, os produtores, em três anos a política do INCRAfoi pro-
objetivos governamentais eram de “ocupar” a região; fundamente alterada, priorizando o incentivo aos
reduzir a pressão social no Nordeste e grandes médios produtores para consolidar médios estabeleci-
cidades e fazer-se presente, com seu conhecimento mentos agrícolas e facilitando-lhes o acesso aos
técnico, que lhe garantiria reconhecimento. mecanismos de financiamento. O II PND corta, dras-
Relacionado à essas questões é conveniente esclare- ticamente, essas metas para voltar-se à “ocupação
cer que antes do projeto Radam-Brasil havia pouco produtiva” visando a exportação. Essa produção se
de conhecimento de base multi e interdisciplinar. As faz com grandes empresas estruturadas para tal fina-
experiências localizadas e estudos específicos, em lidade e não com colonos que não possuem conheci-
especial no Museu Goeldi e o INPA, existiam em mentos técnicos, que não têm garantias para respaldar
grande quantidade, mas estudos mais globais e inter- seus financiamentos bancários, que só têm sua força
disciplinares do território amazônico, pautados nes- de trabalho, tanto para desmatar, quanto para queimar
sas novas bases teórico-metodológicas, eram restri- a roça, para insistir na produção e no final, se ver ape-
tos. Evidentemente havia séculos de relatos de via- nas com alguns sacos de grãos e tendo que levá-los
gens, de estudos antropológicos, botânicos, políticos, nas costas até a cidade mais próxima, se não quises-
mas não serviram como elementos de base ao pro- sem ficar à mercê dos intermediários.
cesso de decisões de políticas públicas. Mas, a insufi- Dessa maneira, embora SACHS (1998) considerasse
ciência de conhecimentos permitiu a difusão, durante que o conceito de ecodesenvolvimento tenha tido
séculos, de conceitos como o de “pulmão do mundo”, uma rápida carreira, também no Brasil, considera-se
da geomorfologia da Amazônia como a “imensa que o mesmo expandiu-se nos meios acadêmicos,
planície” ou ainda do desconhecimento das reais nas- não-governamentais e que no governo manteve-se
centes do rio Amazonas, ainda que conhecimentos restrito ao setor ambiental, principalmente na SEMA.
específicos aprofundados, por exemplo, estudos Esta Secretaria, procurava difundir, ao máximo, o
geológicos, permitiram por outro lado, a exploração conteúdo de ecodesenvolvimento, concitando-o a

56
constituir-se na base da primeira lei da política nacio- potencial produtivo para o desenvolvimento. Já o
nal de meio ambiente (Lei n° 6983/81), assim como conceito atual de desenvolvimento sustentável é mais
das atividades de educação ambiental, da institucio- concertador de interesses, capaz de dissolver a
nalização das secretarias estaduais e à emergência de contraposição desenvolvimento e meio ambiente e o
políticas estaduais de meio ambiente onde ainda eram Estado passa a ser apenas mediador entre os inter-
inexistentes. A outra vertente ambiental, a de contrô- esses de apropriação dos recursos naturais e as estra-
le, policialesca, afrontava as dimensões humanísticas tégias das empresas transnacionais e os direitos das
desse conceito e se configurava numa luta contra o comunidades. Neste processo ha explicitação das
desmatamento descontrolado e uso indiscriminado de lutas sociais pela propriedade e pelo controle dos
agrotóxico. No final dos anos 80 a questão ambiental recursos naturais, aspecto com o qual POSEY (1996)
no Brasil amadureu e foi capaz de transcender o concorda. É o próprio confronto entre a assimilação
debate dos limites do crescimento, ampliando a com- das condições de sustentabilidade, os mecanismos de
preensão dos problemas de desenvolvimento e das mercado e os processos políticos de reapropriação da
articulações deste com a problemática ambiental . natureza.
Ainda que, SACHS (1989) continuasse considerando Assim, se considera-se o modelo anterior de desen-
mais importante a prática do ecodesenvolvimento, a volvimento regional da Amazônia desastroso do
difusão desse conceito implicou em conhecer dife- ponto de vista da inserção social e dos impactos
rentes bases epistemológicas necessárias para dar o ambientais, um dos grandes desafios da atualidade
mesmo valor às diferentes dimensões ambientais, passa a ser a gestão da Amazônia e o seu modelo de
sociais e econômicas e às novas dimensões - a políti- desenvolvimento sustentavel, transformando-a em
ca e a cultural, que lhes foram incorporadas. Assim, uma questão que é, ao mesmo tempo, regional, nacio-
ainda que se buscasse a realização de experiências nal e global.
locais, o ponto focal dessa corrente e modelo sempre Não cabe aqui trabalhar mais profundamente nas
foi o raciocínio em termos planetários e a longo diferenças de visões de desenvolvimento sustentável
prazo. Uma maneira de reproduzir esse pensar foi o ou no conjunto de instrumentos teórico metodológi-
clássico jargão: «pensar globalmente, agir localmen- cos de cada uma delas, inúmeros cientistas já o fize-
te». ram. O que pretende-se é decodificar o que estes
Embora para SACHS (1998), os termos desenvolvi- contribuiram para alterar as politicas territoriais. No
mento durável ou viável designam sua proposta dos entanto, fundamental é procurar compreender a
anos 70, um conceito que vai encontrar-se no meio constante progressão dessa base teorica, incluindo
das questões relativas ao meio ambiente e desenvol- novos elementos, buscando formas de interpretar
vimento nos anos 90. A diversidade de idéias que como esses elementos contribuem para modelos dife-
estão inclusas, ancoradas no título de desenvolvimen- renciados. O discurso do desenvolvimento sustentá-
to sustentável, em função de suas origens intelectuais vel tem sido explorado, apropriado, utilizado nas alo-
e dos outros movimentos dos quais ela emergiram. cuções a respeito das prioridades políticas governa-
É importante destacar que nem sempre as opiniões mentais, mas é importante analisar como essas priori-
são convergentes. Outros estudiosos têm opiniões dades irão se territorializar.
diferentes sobre o assunto. LEFF (1998) considera Para concluir o capitulo, considera-se importante res-
que existem diferenças marcantes entre o ecodesen- saltar que a analise da estruturação do espaço amazô-
volvimento e o desenvolvimento sustentável. Ao nico se fez por meio da utilização de duas correntes
esclarecer essas diferenças, destaca que no ecodesen- de pensamento, o estudo das dinâmicas territoriais
volvimento, o Estado é o estrategista e planejador do decorrentes das frentes pioneiras e das estratégias da
novo modelo, fundamentado em mudanças das geopolitica de segurança nacional, ambos reflexos de
macro-orientações do processo produtivista; é um processos externos à propria Região. Esses processos
processo de descentralização econômica e reordena- de estruturação do espaço são importantes porque a
mento ecológico do espaço produtivo; é também um serão reproduzidos na Amazônia do século XIX.
processo de conversão da natureza em um sistema de Embora exemplos de frentes pioneiras existiram num
recursos naturais, como condição da produção e passado mais remoto, novos elementos foram intro-

57
duzidos nos anos 1970: i) politicos, vinculados à no direcionamento do uso e da gestão do território,
questões de segurança nacional interna e externa; ii) sustentando estratégias de segurança e defesa do
econômicos, explicados pela substituição da agricul- desenvolvimento nacionais, propugnando o controle
tura tradicional pela empresa, grupos industriais e a soberania na ocupação do território amazônico.
novos tipos de investimentos; iii) legais, através dos Estes elementos foram tomados como o principal
nexos do direito de propriedade ao invés da posse. “ mote ” na incrementação e na politização do deba-
Inseparavel da estratégia geopolitica dos militares no te ambientalista desse Programa, tendo, seu eixo, sido
poder, a impulsão à ocupação da região pelas frentes deslocado para o setor estratégico do governo ainda
pioneiras esteve estimulada, de um lado pela propa- sob o domínio e visões militares.
ganda alicerçada no sonho da propriedade, elemento No proximo capitulo procurar-se-a encontrar respo-
estimulador no seio das classes sociais desprovidas stas para algumas questões que continuam pendentes.
de propriedades e da extrusão inerente ao processo de Como pode-se explicar a circunscrição dessas idéias
consolidação capitalista dos territorios, e de outro, novas, arregimentadoras de principios mais integra-
pelos novos formatos dos investimentos publicos. dores e humanistas aos limites do setor ambiental?
Processo alimentador de conflitos sociais e territoriais Quais foram as politicas de proteção ambiental e qual
e gerador de consequências ambientais. seu poder de influência na estruturação dos territorios
Esse contextou nutriu numerosas criticas nacionais e amazônicos? Que estratégias incorporam os novos
internacionais, mas foram estas ultimas que conse- instrumentos técnicos governamentais alicerçados na
guiram provocar mudanças sobretudo nos financia- diferenciação ecologica do espaço? Em que medida
mentos externos oriundos de organismos multilate- os militares conseguem manter sob suas influências o
rais: se antes seus empréstimos serviram para a discurso ambientalista?
construção das estradas que foram as causas do des-
matamento, da degradação ambiental e de conflitos
territoriais, no inicio dos anos 1990 esses mesmos
organismos passaram a exigir «estudos de impacto e
avaliações ambientais», a participação de ONG e de
comunidades locais que seriam beneficiadas pelos
programas, obrigando a adequação das politicas
nacionais à esses novos imperativos.
Com efeito, o elemento territorial do discurso do eco-
desenvolvimento serve de base para a análise dos ins-
trumentos e mecanismos que podem ser atribuídos a
demanda social gerada por esse discurso: a questão
de ocupação seletiva do espaço compatível com a
gestão ecológica dos recursos renováveis, ou seja, a
ordenação do território.
Vários estudos procuraram demonstrar que o proces-
so de denúncias, calcado no movimento ambientalis-
ta e nas organizações não-governamentais, ao ser
incorporado ao discurso governamental, tornou-se
gradativamente despolitizado MAGALHÃES
(1996), ou seja, para ele, um processo de cooptação,
pelo governo, de parcelas de sociedade organizada
nesse movimento ao incluí-los nos mecanismos de
gerenciamento da política ambiental.
Sera, nesse contexto, empreendida a analise, no
proximo capitulo, do Programa Nossa Natureza, que
centrou-se nas questões de ordenamento do espaço e

58
Notas 6 A presidência de Juscelino Kubitscheck compreen-
deu os anos de 1955 a 1960.
7 «O INCRA foi criado em 1970 como resultado da
1 Entre diversos pesquisadores, privilegiou-se as
obras de Castro e Hébette, do NAEA/UFPA; fusão do IBRA - Instituto Brasileiro de Reforma
Guilherme Velho (1972), Charles Wagley (1974), Agraria e INDA - Instituto Nacional do
Goodland (1975), Théry (1976), Foucher (1977), Desenvolvimento Agrario com o objetivo de coloni-
Monbeig (1977), Tricart (1977), Droulers (1978), zar a região Amazônica. Tornou-se o mecanismo cen-
Ianni (1979), Ab’saber (1980), Mattos (1980), tral de implantação do PIN», citado em FOREWA-
Valverde e Freitas (1980), Rivière d’arc (1981), KER (op cit,135).
8 O TCA reúne o Brasil, a Bolívia, Colômbia,
Foweraker (1981), Kleinpenning (1981), . Fernando
Henrique Cardoso (1981), Becker (1982), Salati et al Equador, Guyana, Peru, Suriname e Venezuela,
(1983), Bunker (1985), Fearnside (1990), Kohlhepp embora assinado em 1978, o TCA só entrou em vigor
(1991), Ariovaldo Umbelino de Oliveira, para identi- em 03 de agosto de 1980. Mas outras motivações
ficar as diversas correntes politicas também impulsionaram a proposição desse
2 Forewaker (1981) citando Nelson (1973) destaca Pacto: a necessidade de contrabalançar o peso da
que entre 1940 e 1973 mais de 100 projetos de colo- Venezuela que dirigia o Pacto Andino. Para aprofun-
nização foram realizados na América Latina. dar sobre esse tema ver APESTEGUY Cristine et al
3 As teses geopoliticas de militares brasileiros como (1979) e RIVIÈRE D’ARC, op cit.
9 Estes elementos foram reforçados por COY, Martin,
Golbery e Mattos, na verdade, so fizeram reforçar a
idéia de «imperialismo brasileiro». MATTOS (1980) na conferência «Différentiation des fronts pionniers
ressalta, entre seus argumentos, a melhor condição en Amazonie brésilienne», no seminario do «grupo
técnica e tecnologica das forças armadas brasileiras e, Amazonie», em 05 de abril de 2002.
10 KLEINPENNING, op cit, (251-256) analisa detal-
que a presença do Estado nas fronteiras permitia
consolidar o desejo de reconhecimento nacional. O hadamente os investimentos que encorajaram o apa-
«sonho» de Mattos quanto a conquista economica da recimento da pecuaria em grande escala e os merca-
Amazônia é reforçada com a necessidade de articula- dos que poderiam ser atendidos com o aumento do
ção entre os pactos amazônico e andino, no qual o rebanho bovino para 6 193 000 de cabeças.
11 Um balanço foi apresentado por EGLIN e THÉRY,
Brasil deveria assumir um papel que contrabalanças-
se o peso da Venezuela, na região. op cit, (86-87).
4 FOREWAKER (1981) estuda os diferentes passos 12 Segundo EGLIN e THÉRY, op cit (70-76) depois

do processo legal e as articulações empresas-institui- de 1957 a Prospec realizou estudos para o DNPM e
ções públicas e relaciona-os com as fases do movi- conhecedora das possibilidades da grande jazida de
mento, procurando mostrar que o nível de engaja- Carajás solicitou direitos de prospecção e de explora-
mento de empresários em atividades extrativistas vai ção em nome de seus funcionarios e em 1977 desis-
mostrar o estágio pré-capitalista das frentes. Seu estu- tiu da exploração, mas para isso demandou uma inde-
do pautou-se na comparação desse processo no nização de mais de 50 milhões de dolares pelos inves-
Paraná, Mato Grosso e Pará. timentos ja realizados.
5 RIVIÉRE D’ARC (1981:426) destaca que esse pro- 13 Esse Serviço (SPI) foi extinto em 1967, sendo sub-

cesso foi representativo da convergência de interesses stituído pela FUNAI, criada em 05/12/1967.
14 A Conferência da Biosfera, Paris 1968, tornou
de segmentos econômicos ao comprarem terras locais
e disporem de meios para produzir no Paraguay, alia- explícito o crescimento dos engajamento de conser-
dos às ofensivas diplomáticas para acelerar acordos vacionistas e ambientalistas com o processo de
com esse país que garantiriam a hegemonia do Brasil desenvolvimento. Depois dessa data, sobretudo
sobre os recursos hídricos do rio Paraná (a hidrelétri- depois de 1974, o Programa Biológico Internacional
ca de Itaipu) em detrimento da Argentina. SOU- (IBP) promoveu os vínculos entre a ciência ecológica
CHAUD (2000) faz uma análise da produção da soja e desenvolvimento, debatendo os problemas ambien-
na região limítrofe ao Brasil - Estado do Mato Grosso tais de natureza global.
15 Esse globalismo no meio ambiente não é novo,
e da importância dos «brasilguaios» nesse processo.

59
considera ADAMS (1990): já nos anos 20, Raymond
Pearl discutia o fenômeno do crescimento populacio-
nal e todo o espectro desse crescimento. A Unesco
nos anos 50 desenvolveu aplicação de evidências
científicas no debate acerca da população e do desen-
volvimento, ressaltando o problema do excesso popu-
lacional, argumentos conhecidos e comentado exten-
sivamente nos anos 50. Os argumentos neo-malthu-
sianos tiveram proeminente influência sobre o
ambientalismo dos anos 60 e 70. Embora renegado,
muitos ambientalistas continuaram a oferecer argu-
mentos sobre o crescimento da população nas
questões globais: «o remédio é deixar aos caminhos
da privação e da natureza, da violência, da fome ou
peste, pois é o próprio caminho do desenvolvimento
humano que tem aumentado esses problemas». Essa
forma catastrófica do pensamento ambiental também
tem paralelos próximos ao debate acerca do cresci-
mento econômico.
16 As Reservas da Biosfera, segundo o MAB é um

conceito e um instrumento para as populações de


regiões florestais. Elas deveriam cumprir três funções
complementares e interativas: a) função de conserva -
ção, para assegurar a manutenção das paisagens dos
ecossistemas, das espécies e de sua variabilidade
genética; b) função de desenvolvimento, para encora-
jar um desenvolvimento durável sobre o plano ecoló-
gico, sociológico e cultural no nível local; c) função
logística para a pesquisa, o monitoramento contínuo,
a formação e educação em matéria de conservação e
do desenvolvimento durável ao nível local, regional e
global.

60
Capítulo 2 - Políticas ambien- zoneamento ecológico-econômico. Este é um tema
constantemente em debate, muitas vezes visto
tais e a proteção territorial como a panaceia para os graves problemas ambien-
tais decorrentes da ocupação recente da Região e
Este capítulo propõe-se a abordar criticamente como o alicerce para os decisores políticos funda-
alguns dos avanços e recuos da questão ambiental mentarem tecnicamente suas decisões.
brasileira no âmbito das políticas públicas assim Além da política ambiental, estrito senso, agrega-se
como a eficiência dos instrumentos e mecanismos a análise da demarcação das terras indígenas1,
criados. Criados com base em fundamentos preser- considerando-a não somente um elemento de prote-
vacionistas e de controle a maioria desses mecanis- ção da biodiversidade amazônica, mas simultanea-
mos permaneceu setorial, ainda que alguns deles mente um fator de restrição ao fracionamento fun-
englobassem parcialmente, outros setores da políti- diário e de mudança de uso da terra. Ou seja, a
ca pública nacional. A abrangência desta política e demarcação das terras indígenas é um fator deter-
seus instrumentos foram sendo alterados e aperfei- minante na estruturação e dinâmica territorial
çoados em função de demandas sociais e do avanço amazônica.
da abertura democrática no pais.
1. A questão ambiental nas políticas
Abrangendo as modificações do quadro conserva-
cionista no país e em especial no que se refere à públicas
Amazônia, a análise deste capitulo inclui um perío- Um dos marcos mais significativos da política
do aproximado de 20 anos e focaliza algumas das ambiental brasileira é a lei 6938/812, por sua abran-
últimas ações governamentais realizadas no limiar gência e por procurar maneiras de introduzir a
da Conferência do Rio, em junho de 1992, adotadas variável ambiental em outros setores da economia.
como uma estratégia destinada a evidenciar, ao Vale destacar que, embora tenha sido aprovado em
mundo, uma radical transformação não apenas em pleno período militar, essa legislação alterava os
seus discursos, mas também em seus objetivos polí- papéis dos poderes públicos, descentralizando as
ticos. decisões e ampliando a participação na formulação
Neste contexto, procura-se enfatizar a evolução dos das políticas assim como sua execução para os
instrumentos da política ambiental voltados para a níveis estaduais e municipais, mantendo na União
proteção e gestão do território e as suas contradi- os papéis de coordenação, articulação e de fomen-
ções face a outros programas governamentais que to. Naquele período a proposição do SISNAMA
continuaram existindo, com objetivos relacionados (Sistema Nacional de Meio Ambiente) e seu órgão
às questões de segurança e soberania nacionais. consultivo e deliberativo, o CONAMA constituiu-
Desse modo, as restrições e denúncias ambientalis- se em inovação não apenas técnica, mas sobretudo
tas foram cooptadas e incorporadas no âmbito da política, por assegurar a participação de represen-
estrutura governamental federal. É assim que se tantes da sociedade organizada nas decisões e por
criou o Programa Nossa Natureza, com objetivos e contar com a cooperação inter-institucional, ofere-
coordenação militares (embora com participação cendo, com esse procedimento, maior capilaridade
técnica de outros setores governamentais, inclusive e consistência à política ambiental.
o de meio ambiente) transformado no exemplo de Os dez princípios daquela lei objetivavam assegu-
investimento governamental para a ocupação da rar as condições de desenvolvimento sócio-econô-
Amazônia, sem provocar os índices elevados de mico, garantindo a preservação, a melhoria da qua-
desmatamento. Um programa desenvolvido com a lidade ambiental e a participação da sociedade. O
utilização da propaganda, em grande escala, anun- objetivo maior tratava da compatibilização do
ciando a transformação das atitudes e planos gover- desenvolvimento econômico e social com a preser-
namentais. vação da qualidade do meio ambiente e do equilí-
Foi no âmbito deste Programa que se reiniciou a brio ecológico, ou seja, refletia as discussões inter-
discussão do ordenamento territorial da Amazônia, nacionais sobre o ecodesenvolvimento.
que se ampliaram as demandas e a formatação do A contemporaneidade da lei é um ponto a ser des-

61
tacado, pois embora tenha sido aprovada3 em um grau de conhecimento sobre o assunto.
contexto nacional no qual questões de ecologia e Uma visão geral crítica sobre as diversas etapas do
proteção de ecossistemas eram relegadas a segundo processo de avaliação de impactos ambientais e da
plano, seus princípios já demonstravam com- sua eficácia na prevenção dos danos ambientais
preensão acerca das diversidades locais bem como ocasionados pelas atividades humanas permite
da necessidade de envolvimento de todos os níveis apontar diversas de suas fragilidades, embora o sis-
de governo e todos os segmentos da sociedade. Por tema estivesse em pleno funcionamento no final
isso também já apontava que a política ambiental dos anos 1980. Isto afetava as escolhas nas catego-
não poderia ser apenas uma política setorial com- rias de impacto ambiental; nas metodologias de ela-
pensatória e que seus princípios deveriam ser incor- boração do RIMA; nos programas de mitigação e
porados pelas diversas outras políticas públicas. compensações ou de prevenção e contingência e
O escopo dessa política abrangia instrumentos que sobretudo nos programas de acompanhamento.
foram desenvolvidos para tornar efetiva sua imple- Somavam-se a estes pontos os mecanismos, ainda
mentação, os quais eram avançados tanto do ponto precários, de participação dos segmentos sociais.
de vista técnico quanto institucional em relação ao Os baixos valores das multas e os demorados pro-
contexto político nacional autoritário e voltado para cedimentos administrativos, quando aplicados, aca-
a expansão da economia. Esses mecanismos repre- bavam funcionando mais como um estímulo ao
sentavam a intenção de inserir a dimensão ambien- desrespeito das normas do que como uma repressão
tal nos processos de planejamento direcionados aos à continuidade das ilicitudes.
espaços urbanos, regional e áreas protegidas: No que se refere ao licenciamento ambiental esta-
- a avaliação de impactos, beleceu-se um expressivo conjunto normativo com
- licenciamento e a revisão das atividades poten- Leis, Decretos e Resoluções que constituíram o
cialmente poluidoras, Sistema de Licenciamento Ambiental (SLAP).
- as penalidades disciplinares ou compensatórias; Entretanto, para cumprir todos os passos previstos
- a criação de espaços territoriais protegidos nos fluxos dos procedimentos, o tempo gasto torna-
pelos poderes federal, estadual e municipal va-se extremamente longo, impulsionando à uma
(Sistema Nacional de Unidades de “política de fechar os olhos”, deixando as ações se
Conservação, que ampliou o antigo sistema desenvolverem irregularmente até que as mesmas
abrangendo áreas de proteção ambiental, de se tornassem irreversíveis. Um exemplo, que pode
relevante interesse ecológico e reservas extrati- ser emblemático, foi a expansão dos condomínios
vistas), urbanos no Distrito Federal, dentro das APAs do rio
- os padrões de qualidade ambiental (e as dire- São Bartolomeu e do Descoberto. Diante desse
trizes sobre o zoneamento industrial, o trans- quadro, as ações de controle ambiental perdiam sua
porte de cargas perigosas, a produção e acumu- razão de ser.
lação de agrotóxicos), Normalmente os estudos prévios sobre os impactos,
- a absorção de tecnologias voltadas para a mel- exigidos nas etapas preliminares dos empreendi-
horia da qualidade ambiental, mentos potencialmente geradores de impactos, ao
- zoneamento ambiental, serem realizados respondiam às exigências legais e
- sistema nacional de informações sobre o meio viabilizavam a implantação dos mesmos, no entan-
ambiente, to, o monitoramento e controle das recomendações
- cadastro técnico federal de atividades potencial- de mitigação de impactos identificados acabavam
mente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos por não se realizar.
ambientais, Os macroobjetivos das políticas de desenvolvimen-
- a definição de responsabilidade civil e criminal to econômico e de incorporação da Amazônia ao
por atos relacionados com a atividade nuclear. mercado nacional prevaleciam sobre as questões
À época estes instrumentos difundiam princípios a ecológicas e de preservação de áreas naturais, trans-
respeito da existência de limites para os usos dos formando os mecanismos e instrumentos da políti-
recursos ambientais e da necessidade de aumentar o ca ambiental em mecanismos compensatórios,

62
deixando as dimensões de sustentabilidade comple- enfatizando aspectos de controle da degradação
tamente esquecidas ou mesmo fragmentadas. ambiental e recursos hídricos, não se pode dizer o
A maneira pela qual estes instrumentos foram utili- mesmo quanto à sua importância na estrutura
zados reforçava esse caráter: sua aplicabilidade res- governamental pois a falta de espaço político-admi-
tringia-se a alguns setores privados – o próprio nistrativo e a insuficiência de recursos marcaram a
setor público se desobrigava de respeitar tais condi- sua trajetória. Assim a atuação da SEMA na década
cionantes. Mesmo com instrumentos de controle de 1970 circunscreveu-se à popularização da temá-
que já haviam sido criados no âmbito da legislação tica ambiental, fomentando a criação de órgãos
ambiental, os grandes projetos governamentais da estaduais e os Conselhos Municipais de Meio
década de 1980 nunca foram objeto de avaliação Ambiente, aumentando o número de Unidades de
ambiental e nem demandavam o licenciamento à Conservação, mas com uma característica predomi-
SEMA: a exemplo da fábrica de celulose do proje- nantemente setorializada: a de controle da poluição
to Jari. Os grandes projetos amazônicos passaram e preservação de áreas naturais.
ao largo desta legislação. BURZTYN (1994) considera que ao longo da déca-
Os padrões ambientais que tratam de uso da terra, da de 1980, em meio à recessão e crise, as políticas
de uso da água, da qualidade do ar e de coleta de ambientais foram descontínuas, apesar das tentati-
resíduos foram sendo cada vez mais aprimorados vas de decisores, técnicos e pessoal administrativo
por meio de um conjunto de resoluções do CONA- desse setor no governo federal. A maior atuação
MA, aprovadas ano a ano, o que permitiu um continuou a se dar no plano federal, mesmo com
respaldo técnico bastante amplo nos debates que um quadro de recursos humanos e materiais escas-
antecederam a inclusão do artigo 225 e do capítulo sos, e na maioria dos Estados os resultados foram
sobre o meio ambiente na Constituição nacional. reduzidos. Apesar dessa relativa marginalidade
Outro instrumento desenvolvido, o Sistema frente ao poder e ao aparelho do Estado foi, sem
Nacional de Unidades de Conservação4 (SNUC), dúvida, a existência desse conjunto de normas
permitiu a criação e enquadramento de diversas somada à participação ativa de funcionários em
áreas protegidas, ampliando o total de espaços pre- organizações ambientalistas e as atitudes mais
servados no país. Enquanto em 1973 existiam ape- agressivas dos segmentos ambientalistas não gover-
nas o Parque Nacional do Araguaia (TO) e a namentais que respaldaram as conquistas constitu-
Floresta Nacional de Caxiuanã (PA) como áreas cionais.
protegidas, em 1992 eram 61 (ver tabela n° 4), o Até meados de 1990, a ação federal no que se refe-
que permite constatar o aumento da importância da re à áreas protegidas5 privilegiava os parques nacio-
política ambiental e o seu direcionamento aos nais, as reservas biológicas, as estações ecológicas
aspectos da preservação. que excluíam a presença humana, mas embora
O zoneamento ambiental foi um dos instrumentos atuando no sentido de aumentar o número de áreas
propostos pela lei 6938/81 inicialmente pensado protegidas, pouca importância foi atribuída à regu-
para orientar o uso e ocupação de novos espaços, no larização fundiária dessas áreas.
entanto, por ter sido visto como restritivo acabou A forte pressão reunindo imprensa e ONG, nacio-
tendo sua aplicação restrita aos Planos de Manejo nais e internacionais no final dos anos 1980 sobre
de Unidades de Conservação. Consequência do os elevados índices de desmatamento divulgados
jogo de forças que se estabeleceu entre a área pelo INPE, criando inclusive restrições de mercado
ambiental e instituições responsáveis pelo ordena- a produtos brasileiros, notadamente a madeira
mento territorial, sendo substituído pelo zoneamen- amazônica, obrigou a adoção de uma medida de
to ecológico-econômico. impacto para provar que o governo se preocupava
Mas, se o «endereço» do setor ambiental no âmbito com o meio ambiente: a convocação de uma
do governo federal foi definido com a instituciona- comissão interministerial para a elaboração de um
lização da SEMA (Secretaria Especial do Meio programa que orientasse suas ações na Amazônia.
Ambiente) em 1973, atribuindo-lhe a responsabili-
dade de cuidar da conservação do meio ambiente,

63
2. O Programa Nossa Natureza sem terem sido demarcadas ou mesmo recon-
hecidas;
Este Programa, criado em 12 de outubro de 1988
- alto nível de impactos gerados pela mine-
pelo Decreto n° 96 944/88, objetivava encontrar
ração e pela garimpagem, assim como a ele-
meios de viabilizar uma nova política nacional de
vada taxa de mercúrio e substâncias químicas
meio ambiente, ampliando o universo das atribui-
usadas para preservar madeiras, etc.
ções para englobar questões relacionadas ao uso do
Os seis grupos de trabalho desenvolveram estudos
solo e dos recursos naturais. Os seis objetivos bási-
relacionados com os seguintes temas:
cos previam:
- Proteção da cobertura florística;
- conter a ação predatória do meio ambien-
- Substâncias químicas e processos inade-
te e dos recursos naturais renováveis,
quados de mineração;
- regenerar o complexo de ecossistemas
- Estruturação do sistema de proteção
afetados pela ação antrópica;
ambiental;
- estruturar o sistema de proteção ambien-
- Educação ambiental;
tal;
- Pesquisa;
- desenvolver o processo de educação
- Proteção do meio ambiente, das comuni-
ambiental e de conscientização pública para a
dades indígenas e ribeirinhas e das popula-
conservação dos recursos naturais renováveis
ções envolvidas no processo extrativista.
e proteção do meio ambiente;
Seus prognósticos indicaram alternativas de modi-
- disciplinar a ocupação e a exploração
ficações dos instrumentos legais e mecanismos
racional da Amazônia Legal, fundamentados
administrativos, assim como incluiu medidas e
na ordenação territorial;
meios complementares. Ao final dos trabalhos mais
- proteger as comunidades indígenas, as
de 50 propostas foram apresentadas (22 projetos de
populações envolvidas no processo extrati-
textos de leis, decretos e portarias; 25 memorandos
vista e as ribeirinhas.
do Presidente da República aos ministérios concer-
Esse grupo interministerial foi organizado em seis
nentes e os decretos de criação de três parques
grupos de trabalhos sob a coordenação de uma
nacionais e uma reserva biológica) que, de uma
Comissão Executiva presidida pela SADEN,
maneira ou outra, estavam relacionadas com a polí-
Secretaria de Assessoramento da Defesa Nacional.
tica ambiental e florestal, a proteção das comuni-
O diagnóstico apresentado por esse grupo, na ver-
dades indígenas e extrativistas, a pesquisa ambien-
dade, reafirmou a situação da Amazônia Legal,
tal, o ordenamento territorial.
denunciada sistematicamente por cientistas e orga-
Entre as medidas complementares destacavam-se
nizações não-governamentais e pelo próprio setor
aquelas vinculadas à reforma agrária nas regiões de
ambiental dentro do Governo:
origem dos fluxos migratórios, para a sua redução e
- altas taxas de desmatamento e de queima-
ordenamento em direção ao Norte e a intensificação
das, em função dos incentivos fiscais e dos
da ocupação econômica no Centro-Oeste, os estu-
investimentos em projetos agro-pecuários,
dos de viabilidade para montagem de uma estrutu-
especialmente nos dois anos que antecederam
ra unificada de monitoramento territorial, a formu-
a criação desse Programa (1987 e 1988);
lação de um programa de segurança pública e justi-
- superposição entre instrumentos e ações
ça na Região e a participação das Forças Armadas
dos responsáveis institucionais para tratar de
na Amazônia Legal.
temas ambientais e de recursos naturais no
Evidentemente, esse amplo leque de sugestões não
nível federal, sobretudo entre SEMA e IBDF;
foi implementado em sua totalidade. Primeiro, em
- falta de um sistema ordenado de proteção
função de que muitas delas exigiam não apenas
ambiental e existência de uma área extrema-
articulações constantes e o engajamento de diversos
mente reduzida de Unidades de Conservação
setores não interessados na conservação ambiental.
na Amazônia e embora houvesse a obrigato-
Segundo, pela falta de recursos financeiros. Como
riedade de demarcação das terras indígenas, a
o Programa foi inicialmente concebido sem um
maior parte entre elas ainda encontravam-se

64
montante de recursos definidos, ao final do prazo Investimentos Setorial (Florestamento e
de 120 dias quando relatório foi entregue, apresen- Reflorestamento) - FISET; dos créditos oficiais ou
tou-se um balanço das medidas já implementadas projetos agrícolas e pecuários na Amazônia Legal; da
(por exemplo, uma série de decretos, projetos de regulamentação do uso de agrotóxicos e do uso e
decretos e portarias, minutas de instrumentos comercialização do mercúrio e do cianeto em ativi-
decisórios) e a solicitação de sua continuidade ava- dades mineradoras; da inclusão na legislação de
lizada pela aprovação de novos recursos orça- mineração da pequena empresa e do processo de
mentários, como demonstra o quadro abaixo: garimpagem.

Tabela n° 1 - quadro sintético de custos para o Programa Nossa Natureza


Discriminação 1989* 1990*
Grupo I - Proteção da Cobertura Florística 21.982 26.813
Grupo II - Substâncias químicas e processos inadequados de mineração 26.266 4.052
Grupo III - Estruturação do sistema de proteção ambiental 13.594 19.734
Grupo IV - Educação ambiental 3.670 -
Grupo V – Pesquisa cientifica 35.100 49.500
Grupo VI – Proteção do meio ambiente, das comunidades indígenas
das populações envolvidas no processo extrativista 78.185 78.185
Total 178.797 178.284

Fonte: Exposição de motivos, 1990 (*) valores em NCz$ 1.000, a preços de janeiro de 1989.

Apesar da totalidade das recomendações sugeridas no Avanços puderam ser conseguidos também no
Programa Nossa Natureza6 não terem sido imple- Programa de Educação Ambiental, a cargo do
mentadas, houve resultados importantes: ampliou as MEC, por ter superado o longo debate entre criar
atribuições governamentais no setor ambiental e um uma nova disciplina ou incluir de maneira interdis-
dos resultados mais imediatos foi a reestruturação do ciplinar as noções de ecologia e preservação do
setor com a criação do IBAMA(Lei n° 7735 de 22 de meio ambiente assim como de experiências pionei-
fevereiro de 1989), que absorveu as antigas atribui- ras. À criação de oportunidades de debates sobre a
ções dos quatro órgãos de origem (SEMA, IBDF, questão e divulgação de informações ambientais,
SUDEPE e SUDHEVEA). Somaram-se à institucio- agregaram-se a dois novos mecanismos impor-
nalização dos mecanismos financeiros e operacionais tantes para a pesquisa: o Programa Norte de Pós-
da área ambiental, o Fundo Nacional de Meio graduação e a Comissão Coordenadora Regional de
Ambiente7, novas Unidades de Conservação (4 Pesquisas na Amazônia - CORPAM10.
APAs, 6 Reservas Biológicas, 1 Estação Ecológica, 6 Estabeleceram-se as bases para realização do
Parques Nacionais e 12 Florestas Nacionais), alguns zoneamento ecológico-econômico da Amazônia
programas específicos, com mecanismos de controle Legal pelo IBGE, tendo sido reafirmada a respon-
para conter as ações antrópicas predatórias na sabilidade da União na sua elaboração, assim como
Amazônia Legal, o Programa Nacional de Meio a necessidade de estreita colaboração com os
Ambiente8, o PREVFOGO e o Plano Emergencial de governos estaduais. O diagnóstico havia identifica-
Controle de Derrubadas e Queimadas na Amazônia do 23 áreas com base em critérios fisiográficos-
Legal. Aintensa campanha de fiscalização da fauna e ecológicos e eleitas nove como prioritárias
da flora e o grande esforço no controle das queimadas (Xingu/Iriri, Baixo Rio Negro/Uatumã, Médio e
que o IBAMA realizou imediatamente após sua cria- Baixo Amazonas, Carajás, Alto Capim e Baixo
ção promoveram um ganho político ao governo. Tocantins, Tocantins/Araguaia, Rio Branco,
Entre os outros resultados merecem destaque a sus- Juruena e Rio Araguari) onde seriam aprofundados
pensão dos incentivos fiscais 9 dos Fundos de os estudos para identificar as ações de fiscalização

65
e monitoramento da cobertura florística, de educa- dominante até o presente, serem estas ações consi-
ção ambiental, apoio comunitário, implementação e deradas antagônicas ao desenvolvimento econômi-
regularização de unidades de conservação, áreas co, e não complementares de uma ação visando o
indígenas e reservas extrativistas e recuperação de desenvolvimento integrado da região e da socieda-
áreas degradadas. Foi reforçada também a necessi- de brasileira».
dade de realização do ordenação territorial da Alguns aspectos relevantes do contexto nacional no
Amazônia visando orientar a ocupação e o uso do período em que esse Programa foi institucionaliza-
solo, através da definição de áreas destinadas às do merecem ser destacados, relacionados à existên-
diversas atividades tanto econômicas como outras e cia de condições ao mesmo tempo favoráveis e des-
também como um pré-requisito para a formulação favoráveis quer do ponto de vista político quer do
da política florestal. ponto de vista técnico:
Apesar da prioridade declarada nos documentos, o Um contexto politicamente favorável tinha sido
próprio zoneamento ecológico-econômico das criado com o clima de mobilização e debate nacio-
novas áreas críticas, não foi concluído no prazo de nal visando a nova Constituição brasileira, pondo
24 meses que foi estabelecido. em relevo as posições conservacionistas - um capi-
Argumentos «nacionalistas» presentes no Programa tulo tratava exclusivamente do meio ambiente;
O relatório da Comissão Executiva desse Programa fazendo avanços do ponto de vista técnico no que
destaca que, embora a Amazônia brasileira estives- se relacionava a proteção do meio ambiente no
se ocupando os noticiários nacionais e internacio- desenvolvimento do pais - por meio do artigo 21
nais em frequência nunca antes vista, “ a destruição da que trata da competência da União para promover
floresta amazônica não interessa ao Brasil pois as consequên- planos de ordenação territorial e de desenvolvimen-
cias seriam sentidas primeiramente na economia nacional e to econômico e social englobando a dimensão
regional ”. Continuando sua argumentação assinalou ambiental. Esses capítulos - e seus instrumentos -
que «o governo brasileiro, embora não abrindo mão de sua representavam, sem dúvida, ganhos a partir dos
determinação soberana de valorizar, em benefício da socieda-
anseios expressos pela sociedade organizada.
de brasileira, os recursos naturais desse enorme segmento do
território nacional, reconhece a gravidade das atuais tendên- Nesse sentido, o paradoxo foi manifestado pela
cias do processo de ocupação da Amazônia». Esta decisão presidencial de fazer da área militar - a
comissão ao lançar o Programa Nossa Natureza SADEN11 - a coordenadora do Programa, em detri-
reconheceu a necessidade imediata de ações efeti- mento da área ambiental, provocando o descrédito
vas, inserindo no âmbito desse, o Programa de do mesmo em relação à sociedade organizada, mas
Defesa do Complexo de Ecossistemas da Amazônia respondendo às preocupações dos setores militares
Legal. sobre a soberania do país na Amazônia - objeto de
A preocupação brasileira com a Amazônia relacio- propostas de internacionalização com a formação
nava-se à modificação do ciclo hidrológico e as de um «governo internacional» como alternativa ao
consequências na erosão dos solos, assim como o descaso brasileiro frente à degradação social e
desmatamento pelo empobrecimento do patrimônio ambiental da Região. Assim, o documento final rea-
genético do pais, mas simultaneamente ressaltou firmou a proposição de “participação das Forças
simultaneamente que «o governo brasileiro em pleno Armadas na Amazônia Legal, com a missão de
exercício de sua soberania nacional, vem desde os anos 50 até cooperar nas ações governamentais, sempre atentas
hoje realizando investimentos de monta e executando progra- aos princípios constitucionais”, contrapondo-se fir-
mas na região, visando sua efetiva integração econômica ao memente às denúncias dos segmentos indigenistas
pais, através de sua ocupação demográfica e exploração eco-
relacionadas ao descaso e a subtilidade do retalha-
nômica de seus recursos naturais». Esse relatório desta-
mento de terras indígenas face à face os interesses
cou ainda que
militares (ALBERT, 1990, CIMI, 1989, SAN-
«é preciso reconhecer que estas medidas (ações de
TILLI, 1987).
proteção ao meio ambiente e preservação de ecos-
De outro lado, a política externa visava trazer para
sistemas) têm sido modestas, resultado do baixo
dentro do território brasileiro um debate maior,
nível de investimento governamental no setor. Isto
internacional e que permitisse ao país assumir posi-
se deve, talvez, ao fato de, sob a visão política

66
ções mais estratégicas que o simples posicionamen- Portanto deixou claro que o país não poderia estar
to de defesa frente as acusações internacionais a sozinho no banco dos réus – constituindo, assim,
respeito da degradação da Amazônia. A oferta do parte dos argumentos que foram utilizados nas
Brasil sediar a “conferência que tratasse de desen- negociações internacionais sobre meio ambiente e
volvimento e de meio ambiente”12, foi apresentada desenvolvimento. Outros estudiosos unem-se à
pelo embaixador Paulo Nogueira Batista, durante a SANTILLI (1989b) na crítica à posição nacionalis-
Assembléia das Nações Unidas, em 13 de dezem- ta/ecologista que este Programa procurou divulgar,
bro de 1988. O desempenho do setor diplomático destacando a estratégia brasileira de buscar apoio
durante os preparativos e na Conferência corres- nos países do TCA para focalizar a rejeição ao
pondem a tais objetivos e a análise mais detalhada debate internacional sobre a Amazônia e a ameaça
das estratégias desenvolvidas tanto nesse período à soberania e segurança nacionais.
preparatório como na própria Conferência será
3. A Constituição Federal, novas institui-
objeto do próximo capítulo.
Portanto, é interessante analisar a argumentação ções, novos instrumentos e velhas práti-
desenvolvida, no diagnóstico do Programa, no sen- cas.
tido de comprovar os propósitos governamentais na A ocorrência de conflitos durante as décadas de
Região durante o período precedente: o crescimen- 1970 e 1980, especialmente os sociais e ambientais,
to das instituições científicas e acadêmicas; as ins- a mobilização internacional e nacional dos anos 80
tituições federais implantadas (SUDAM, SUDE- e a crise política e financeira do Estado nacional,
CO, SUFRAMA, SUCAM); os programas Grande pressionou governantes e representantes legislati-
Carajás, o RadamBrasil, o Polamazônia, o vos para mudanças. A Constituição Federal incor-
Polonoroeste; as redes viárias (Belém-Brasília, porou instrumentos e reforçou o aspecto democráti-
Transamazônica, Cuiabá-Rio Branco, Porto Velho- co, participativo e descentralizador da lei 6938/81 e
Manaus, Manaus-Boa Vista, Cuiabá-Santarém; a avançou na proposição de proteção dos diversos
ferrovia Carajás-Porto de Ponta da Madeira, em ecossistemas brasileiros. As mudanças institucio-
São Luís); a modernização da infra-estrutura dos nais refletiram, em parte, a pressão organizada da
aeroportos e das telecomunicações. Ainda como sociedade, ao mesmo tempo, o governo assumia
parte deste balanço, as autoridades reconheceram uma postura pró-ecologia e refletia também o cres-
que havia ocorrido fortes impactos sociais e cimento da postura nacionalista.
ambientais decorrentes dessa modernização. Assim no final dos anos 1980 a questão ambiental
Este relatório incluiu também acusações relaciona- tinha deixado de ser de uma questão, em função de
das à participação significativa dos países ricos no sua grande popularização e do elevado crescimento
processo de agravamento dos problemas globais e do número de órgãos ambientais nos Estados e
de salientou os interesses destes países: Municípios, os núcleos de meio ambiente em cada
«a destruição das florestas tropicais úmidas, parti- Ministério, nos órgãos setoriais e nas empresas.
cularmente da floresta amazônica, vem atraindo o Essa proliferação de instâncias ambientais mostra-
interesse dos países industrializados, não só porque va também a necessidade de que a dimensão
constituem os ecossistemas mais ricos em espécies ambiental deixasse sua órbita estritamente setorial.
biológicas, mas sobretudo pelas possíveis influên- A Constituição inovou também ao criar o
cias climáticas globais. Sob esse aspecto, a Ministério Público, nos níveis federal e estaduais,
Amazônia passa a ter um valor estratégico sem pre- os quais têm atribuições de autorizar ou negar ações
cedentes no cenário internacional, representando de uso do território e dos recursos ambientais. Essas
um importante fator de negociação política para os instâncias começaram a ser instaladas imediata-
países signatários do Tratado de Cooperação mente após serem criadas, servindo-se de estudos e
Amazônica e muito particularmente para o Brasil, pesquisas realizadas em universidades para funda-
que detém a soberania sobre a maior parte da área mentar suas ações.
deste complexo de ecossistemas florestais e aquáti- No entanto, uma série de problemas dificultavam a
cos». (Brasil, 1989:26) superação do modelo de atuação predominante-

67
68
mente corretivo. A reestruturação do setor ambien- IBAMA, com funções de “assessorar a SEMAM na for-
tal com a criação do IBAMA resultado da integra- mulação e coordenação, bem como executar e fazer executar
ção das quatro organizações que trabalhavam com a Política Nacional de Meio Ambiente e da preservação,
conservação e uso racional, fiscalização, controle e fomento
recursos naturais renováveis e controle ambiental,
dos recursos naturais”.
com o fomento e com a proteção ambiental, ficou à
Neste momento, em função de indefinições das
mercê das divergências internas, da permanência
competências e da disputa pelo espaço político, a
das visões setoriais que minavam as possibilidades
estrutura ambiental do Executivo federal enfrentou
de integração. Não havia uma cultura ambiental
a maior de suas crises, provocando uma redução
múltipla, mas sim diversas culturas profissionais de
sensível de sua capacidade de atuação e eliminando
fomento, de produção, nas quais a preocupação
toda a visibilidade conquistada logo após a sua cria-
com a sustentabilidade dos recursos era completa-
ção: em dois anos o IBAMA teve sete presidentes e
mente secundaria, marginal. A capacidade institu-
a SEMAM quatro secretários, coincidindo com a
cional dentro desses órgãos, naquele momento, era
política de “desmonte” do aparelho de Estado
reduzida para atender expectativas tão amplas.
implementada pelo governo Collor. Ao mesmo
Além desses agravantes, a disputa entre grupos das
tempo, o IBAMA enfrentou uma longa greve de
instituições extintas para assumirem o poder, fragi-
funcionários14: o momento em que o Brasil se pre-
lizavam ainda mais a nova estrutura.
parava para receber a Conferência do Rio, era cer-
Por outro lado, a criação do IBAMA centralizou as
tamente adequado para conquistarem alguns gan-
ações no nível federal. Seus amplos objetivos,
hos profissionais. Mas não houve ganhos funcio-
visando tratar de todas as políticas correlatas à
nais e o IBAMA perdeu ainda mais o pouco espaço
gestão dos recursos e do meio ambiente somado,
que tinha na estrutura governamental.
em parte, à predominância centralizadora das cultu-
Por outro lado, as políticas de pesca, de floresta, de
ras institucionais do IBDF e SUDEPE, desconside-
recursos hídricos levaram muito tempo para ser ela-
raram as estruturas estimuladas e implantadas a
boradas. Neste vácuo legislativo – institucional, os
partir do SISNAMA. As necessidades de rápidas
setores produtivos tradicionais que dependiam da
respostas às pressões internacionais criaram tam-
exploração de recursos ambientais, tiveram um
bém numerosas dificuldades de relacionamento
poder maior de pressão e conseguiram manter-se
entre os Estados e a União e de uma certa maneira,
longe de restrições. Como resultado, conservação e
ampliou o clima de competição entre estas instân-
fomento continuaram a ser tratados separadamente.
cias.
Mesmo o controle sobre o uso dos recursos torna-
A questão do federalismo e das competências
ram-se cada vez mais ineficientes. Os níveis de des-
concorrentes geraram também vácuos e dificul-
matamento na Amazônia e nos Cerrados continua-
dades. A área mais atingida neste processo foi a de
ram a crescer.
licenciamento13: como algumas leis deram margem
O zoneamento ecológico-econômico tornou-se a
à interpretações diversas, ocupou-se um tempo pre-
ser uma atribuição da Secretaria de Assuntos
cioso em discussões entre as instituições e abriram-
Estratégicos, passando da esfera ambiental para o
se brechas para a ocorrência de situações irreversí-
setor estratégico governamental, em setembro de
veis, facilitando as pressões de interesses econômi-
1990, quando o Governo Federal criou a «Comissão
cos e fortalecendo os meios de resistência ao Coordenadora do Zoneamento Ecológico-Econômico do
controle ambiental. Somente com a Resolução Território Nacional» (CCZEE) como instância interministe-
Conama 237/1997, reconheceu-se expressamente rial, sob a coordenação executiva da Secretaria de Assuntos
que cabe aos órgãos ambientais estaduais a decisão Estratégicos (SAE-PR) (BRASIL, 1990) .
no processo de licenciamento. Apesar da recomendação do Programa Nossa
Em 1990, uma nova reforma administrativa criou, Natureza, essa Comissão após o inicio de seus tra-
no âmbito da Presidência da República, a Secretaria balhos decidiu que, em função da extensão territo-
do Meio Ambiente como o novo órgão central do rial da Amazônia, seria melhor optar por uma abor-
SISNAMA com a atribuição de coordenar e fomen- dagem hierarquizada com diferentes escalas de
tar a política ambiental, à qual se subordinou o detalhamento, incluindo: i) um diagnóstico ambien-

69
tal de toda a Amazônia, visando proporcionar uma blemas enfocados.
visão de conjunto para o planejamento regional, Gastou-se muito tempo na discussão de uma meto-
incluindo a elaboração de mapas na escala de dologia que pudesse tratar amplamente elementos e
1:1.000.000, com apresentação de resultados na variáveis ambientais visíveis aos processos de ocu-
escala de 1:2.500.000, ii) zoneamento ecológico- pação do espaço nacional enquanto o uso dos recur-
econômico de áreas geográficas selecionadas, sos naturais continuaram a ser realizados à moda
segundo critérios econômicos e ambientais especí- antiga e de maneira acelerada. Esta questão será
ficos, considerando os interesses dos governos esta- analisada mais adiante, no capitulo cinco.
duais, com uma escala recomendada de 1:250.000, O Fundo Nacional de Meio Ambiente, apoiado por
e iii) estudos de áreas críticas (espaços geográficos um grande empréstimo internacional do BID,
mais restritos, submetidos ou em vias de serem sub- iniciou sua atuação de maneira extremamente pro-
metidos a grandes impactos ambientais) visando missora pois permitiu que inúmeras experiências
implementar ações de recuperação, ou preventivas, fossem desenvolvidas por ONG, Universidades,
de impactos ambientais localizados, numa escala Centros de Pesquisa e instituições governamentais
igual ou maior do que 1:100.000, conforme os pro- municipais, estaduais e, eventualmente, federais em

Tabela n° 2: Síntese das políticas ambientais e de desenvolvimento 1973 a 1992


Período Políticas Mecanismos, Políticas de Mecanismos, Articulações –
1973 a 1985 ambientais - Instrumentos desenvolvi instrumentos conflitos políticas
Referências ambientais –mento setoriais Forte movimento
básicas Sistema Nacional I, II e III Planos Colonização ambientalista e
Conservação - de Unidades de Nacionais de agrária – criação dos
preservação – Conservação Desenvolvimento Programas (de padrões ambien-
compatibiliza- (SNUC); Sistema (1970-72), 1975- Integração tais
ção harmoniosa Licenciamento de 79) e (1980- Nacional; Contradições com
entre meio Atividades 1985)* Polamazônia; as políticas seto-
ambiente e Poluidoras Plano de Polonoroeste); riais, sobretudo as
desenvolvimen- (SLAP), Desenvolvimento Incentivos fiscais de infra-estrutura
to Princípio da Nova para a Amazônia que permanecem
(lei 6938/81) Poluidor- paga- Republica (1985- autônomas;
dor; padrões 1990)*;
ambientais

1985 a 1992 Conservação e Art. 225 da I Plano Programação Projetos de pre-


ecossistemas Constituição PluriAnual orçamentário- servação chocam-
preservados Federal e Leis (1991-1995) que financeira se com os incenti-
Orgânicas subordina os vos fiscais para a
Estados e Planos Nacionais, Amazônia (até
Municípios; Regionais, 91);
Lei 7804/89 Setoriais e de Pequenos projetos
(altera a lei n° Ordenamento temáticos, finan-
6938/81); Territorial ciados pelo
Zoneamento FNMA.
ecológico-econô-
mico; Grandes financia-
Fundo Nacional mentos como
de Meio PNMA,
Ambiente; Prodeagro e
Programas inter- Planafloro mesmo
nacionais sendo "ambien-
(PNMA, tais", tratam de
Planafloro, aspectos setoriais.
Prodeagro)

70
71
todo o país. As linhas de financiamento nas quais as políticas ambientais e as de desenvolvimento
foram distribuídos os projetos classificados eram econômico.
abrangentes, envolvendo os seguintes: Extensão Foi neste contexto, de debate e mobilização nacio-
Florestal; Gestão Integrada de Áreas Protegidas; nal, de mudanças institucionais, que ocorreu, tam-
Manejo Sustentável da Flora e da Fauna; Uso bém, a conclusão dos trabalhos do Programa Nossa
Sustentável dos Recursos Pesqueiros; Educação Natureza, cujos resultados e proposições elabora-
Ambiental; Amazônia Sustentável; Qualidade das pelos diversos grupos foram consubstanciadas
Ambiental; Gestão Integrada de Resíduos Sólidos. no Projeto de Lei enviado ao Congresso Nacional.
Desde o seu início o FNMA funcionou como um O conteúdo deste Projeto de Lei foi modificado,
“balcão de projetos”, financiando as mais diversas por solicitação do CONAMA, atualizado sob o
propostas, as quais necessariamente, não eram des- título “Diretrizes para a Amazônia Legal” e, poste-
tinadas à implementação das prioridades da política riormente, aprovado pelo Conselho da Amazônia
nacional de meio ambiente. Entre seu início e o Legal.
momento de realização da Conferência do Rio, A prioridade e esforço governamental voltou-se,
ocorreram numerosas experiências dispersas pelo então, ao detalhamento técnico deste novo instru-
território nacional, embora tematicamente a mento, à capacitação de equipes técnicas estaduais
concentração tenha sido em projetos de educação e sua aplicação, prioritariamente, pelos Estados da
ambiental. De positivo pode-se considerar que a Amazônia Legal. Assim sendo, é importante anali-
dispersão geográfica destas experiências ampliou o sar os aspectos teórico-metodológicos do ZEE,
universo de conhecimento e a questão ambiental como um instrumento técnico contendo diretrizes
ganhou novos defensores. para o ordenamento territorial.
Pouca influência ambiental sobre outras políticas 4. O(s) zoneamento(s) ecológico-econômico em
Apesar de todos os avanços e das conquistas, a polí- escala nacional
tica de meio ambiente continuou sendo uma políti- Aspectos técnicos e metodológicos
ca setorial, restrita: continuou tratando de aumentar O estabelecimento de prioridade para a realização
quantidades de áreas preservadas; mantendo ações do zoneamento ecológico-econômico do país, em
marginais de controle sobre atividades potencial- especial na região Amazônia, impôs investimentos
mente poluidoras e monitoramento dos padrões de técnico-científicos para a sua definição. Na concei-
qualidade do ar, água e solo, apesar do esforço no tuação de zoneamento ambiental, fundamentado na
sentido de convencer setores produtivos e econômi- identificação da vulnerabilidade ambiental e de
cos das mudanças necessárias nas formas de produ- restrições visando a proteção ambiental e o novo
ção. A complexidade dos procedimentos, as dificul- conceito, inseriram-se os elementos da dimensão
dades de usos e o controle reduzido sobre estes ins- econômica e social. Ao assimilar esta vertente, foi
trumentos, construíram a sua própria fragilidade. preciso criar metodologias capazes de identificar e
Todos os avanços em meios e instrumentos preven- mapear as potencialidades naturais e bióticas das
tivos reduziram os impactos de outras ações gover- regiões estudadas. Tornavam-se fundamentais a
namentais promotoras do crescimento econômico. realização de estudos aprofundados a compreensão
Sempre coube-lhe o ônus de controlar apenas as das funções e relações entre os elementos da natu-
consequências dos processos de degradação decor- reza, até então vista apenas como uma base de
rentes do modelo de produção adotado. O próprio recursos a ser explorada. Esse processo representa-
Governo foi um dos maiores responsáveis por ati- va a inserção de novos conceitos, a necessidade de
vidades impactantes, sem submetê-las à avaliação novas metodologias, capazes de integrar elementos
dos impactos ambientais. da natureza e elementos sociais. Era evidente que
As diretrizes, estratégias, mecanismos e instrumen- tal processo gerasse simultaneamente dúvidas,
tos de políticas públicas continuaram sendo elabo- imprecisões e anseios ante os desafios.
radas dentro de suas próprias lógicas, sem levarem Esperava-se que com a precisão da informação e do
em consideração os conflitos que pudessem estar conhecimento, convencer-se-ia os decisores de pro-
gerando. A tabela abaixo, sintetiza as relações entre ceder ao aproveitamento econômico e o uso do

72
espaço, tomando como alicerces o uso dos conheci- SILVA, VOLSKY (1991), MORAN (1991),
mentos das interações ecológicas e da importância KOHLHEPP (1991).
da proteção ambiental. Ou seja, aos decisores esta- AB’SABER (1989:4-20), de um modo geral, opi-
va sendo dado o direito e o dever de zelarem pelos nou sobre como o trabalho para a Amazônia deve-
“bens difusos” ponderando e respeitando os dife- ria ser feito, sem detalha-lo15 enquanto metodolo-
rentes interesses. gia, no entanto, ressaltou uma série de condiciona-
No final dos anos 80 e início dos 90 vários pesqui- lidades. Primeiramente, ele enquadrou os tipos de
sadores, brasileiros e estrangeiros, haviam elabora- regiões que podem ser objeto de um zoneamento
do propostas metodológica, destacando-se: AB’SA- ecológico-econômico: maiores oportunidades de
BER (1989), VALVERDE (1990), CARDOSO DA sucesso se revelariam quando se tratasse de áreas
73
onde as condições naturais predominassem ampla- integrado do complexo natural da região e
mente sobre os processos de humanização e utiliza- seus contrastes internos;
ção antrópica dos terrenos, por extensão de ativi- b) uma metodologia ecodesenvolvimentista
dades agrárias e desdobramento de redes urbanas. para utilização dos espaços físicos e ecoló-
Assim, a existência na Amazônia de um largo pre- gicos e que fosse ao mesmo tempo
domínio de forças e fluxos de uma natureza primá- pragmática indicando caminhos para a uti-
ria sobre a natureza criada ou modificada pelos lização dos recursos;
homens e pela economia (apesar da ocorrência de c) a recuperação de experiências anteriores,
ações pontuais dos grandes projetos e de alguns seus fracassos e sucessos;
modelos inadequados de utilização dos solos), d) o cruzamento de conhecimentos fisiográfi-
ampliava a chances de sucesso para a aplicação de cos e ecológicos com fatos da conjuntura
técnicas de zoneamento ecológico-econômico. Mas econômica, demográfica e social da
para se poder subdividir a Amazônia em espaços região;
geográficos de menor grandeza para fins de plane- e) uma avaliação do papel que as cidades e a
jamento e administração – espaços de referência, rede urbana podem desempenhar no pro-
células espaciais, era necessário a utilização de téc- cesso de um desenvolvimento incentiva-
nicas cartográficas adequadas. do;
Em segundo lugar, devia recorrer-se à multidisci- f) o conhecimento da extensão, distribuição
plinaridade plena para poder identificar potenciali- e tipologia das áreas de preservação e
dades específicas ou preferenciais de cada um dos conservação existentes;
subespaços ou subáreas do território em estudo, sob g) infra-estruturas instaladas ou em processo
um critério basicamente ecodesenvolvimentista. de instalação;
Exigia conhecimento dos a) solos; b) uso econômi- h) um mosaico dos planos, programas e pro-
co ou especulativo dos espaços rurais, urbanos e jetos propostos para a região;
rurubanos; c) economicidade dos sistemas de i) o abandono da idéia de haver uma sobre-
exploração econômica; d) tipos de módulos rurais posição plena entre determinados espaços
passíveis de serem instalados; e) fatores de apoio às ecológicos e espaços econômicos;
atividades agrárias e o balanço das infra-estruturas j) o potencial dos recursos deveria ser ava-
existentes; f) reconhecimento da delimitação dos liado em termos de sociedades heterogê-
espaços sob legislações especiais (unidades de neas em suas estruturas de classe e de
conservação, terras indígenas, áreas de preservação consumo, pois cada sociedade tem óticas
permanente, etc.). diferentes para a percepção da economici-
Em terceiro lugar, devia se escolher entre um uni- dade dos recursos naturais;
verso de metodologias. AB’SABER considerava k) poderia haver distorções entre as regiões
que embora houvesse esforços na elaboração dos geoecológicas - a área de extensão das
zoneamento agro-ecológicos, por meio da adapta- condições naturais - e a área de abrangên-
ção de metodologias, era preciso buscar outras cia e atuação das infra-estruturas instala-
bases metodológicas para o ZEE de terras amazôni- das, visto que na experiência brasileira a
cas, destacando, simultaneamente o perigo da utili- frequente tendência de desajustes entre
zação de generalizações de qualquer ordem. Se a regiões geoecológicas e regiões geoeconô-
proposição agro-ecológica predominasse, estar-se- micas de industrialização restrita.
ia também prevalecendo a manutenção da região As orientações apresentadas por AB’SABER consi-
como fronteira agrícola e a defesa da biodiversida- deravam duas etapas para o macrozoneamento da
de in-situ estaria sendo relegada. Amazônia, para fins de planejamento regional:
Ainda para AB’SABER, era uma tarefa que exigia - uma fase preliminar de reconhecimento
inicialmente uma discussão conceitual, porisso pro- das potencialidades do espaço amazônico e
pôs a definição de alguns pressupostos e critérios: registro da infra-estrutura, servindo-se da
a) uma reflexão visando o entendimento base planimétrica e de vegetação em escala

74
1:250 00016 elaborada pelo RadamBrasil; das aspirações das comunidades residentes, uma
- uma identificação sobre as cartas-base avaliação dos defeitos da organização humana dos
dos dois conjuntos de espaços geográficos espaços, das situações de conflitos e das propostas
existentes na Amazônia: a) a somatória dos de melhorias progressivas e racionalizadas. E a
espaços de preservação permanente e conser- metodologia deveria incluir além desse perfil da
vação preferencial, dando como resultado o conjuntura espacial, a tendência de utilização dos
molde e b) o saldo dos espaços efetivamente agrupamentos regionais de ecossistemas, dos recur-
disponíveis para o planejamento racional do sos humanos e das potencialidades econômicas de
uso dos solos, de instalação de infra-estrutu- cada região.
ra, desenvolvimento urbano e rurbano a Diferentes grupos de técnicos e organizações
serem utilizados sob condições, que seria o governamentais que trabalharam o detalhamento de
contramolde. Estes espaços do contramolde uma base metodológica visando elevar os sistemas
incluiriam reservas de espaços estratégicos ambientais ao mesmo nível de importância dos sis-
para uso a médio e longo prazos. temas econômicos. Duas correntes institucionais se
AB’SABER propôs o primeiro mosaico de «células destacaram - INPE e IBGE - pois exerceram
espaciais amazônicas» como um ponto de partida influências, no decorrer da implementação do PPG-
para se chegar às de segunda grandeza, numa tenta- 7. BECKER e EGLER (1996) irão retomar alguns
tiva de aproximação progressiva até ao nível das dos elementos elencados por AB’SABER, a exem-
regiões habitadas: identificou 22 subespaços regio- plo das potencialidades econômicas e dos recursos
nais, colocando-os dentro da classificação de espa- humanos, na proposição metodológica endereçada
ços geográficos de segunda ordem de CAILLEUX ao SPRN do PPG-7.
e TRICART (1965). Praticamente a mesma classifi- O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais -
cação foi adotada pelo Programa Nossa Natureza. INPE, se notabilizou na metodologia do ZEE,
O autor propôs traçar um perfil concreto da conjun- desenvolveu um roteiro baseado em interpretações
tura espacial e considerava que entre esses 22 de imagens de satélite para identificar unidades de
subespaços poderiam subdividir parcelas menores paisagem natural - qualificada como âncora – sobre
com apresentarem maior numero de fatores de dife- as quais seriam avaliadas sua vulnerabilidade,
renciação regional. Para isto ressaltava a necessida- segundo os conceitos de TRICART em
de de atualizar as informações básicas encontradas Ecodinâmica (1977, 1992). Tricart analisa que a
na documentação do RadamBrasil, de se elaborar susceptibilidade à erosão decorrentes dos materiais
uma listagem dos principais problemas emergentes (rocha e solo) que a compõem e dos processos mor-
nas diferentes regiões em um só momento histórico fodinâmicos, forma do relevo e vegetação existente
e de cotejar informações de diversas fontes. e da modificação e densidade da cobertura vegetal;
Sugeriu que essas investigações considerassem a o uso da terra e o clima (intensidade e distribuição
visão dos municípios e dos Estados pois «sondar as da precipitação durante o ano). Nesse modelo
bases é dar fundamentação ao universo». Para ele, essa foram atribuídos valores e classes à estabilidade e à
primeira classificação seria objeto de alguns ajustes vulnerabilidade destas unidades de paisagem
em seus limites, após os quais, constituir-se-iam os (Estável onde prevalece a pedogênese (1);
espaços de referência regionais, de longa duração, Intermediária quando há um equilíbrio pedogênese
à qual juntava-se um segundo zoneamento: o de / morfogênese (2) e Instável onde prevalece a mor-
áreas criticas 17, situadas no meio ou entre os espa- fogênese) transformando-as em zonas ecológicas.
ços de referência, que mereciam um tratamento A proposta (IBGE/SAE, 1990) foi apresentada em
prioritário e polivalente. duas fases. A primeira fase envolvia a identificação
Salientava que era preciso fixar uma metodologia dos sistemas ambientais, através do conhecimento
mais ou menos homogênea e definir uma estratégia detalhado de dois conjuntos de elementos bióticos:
para a identificação dos problemas. Entre os pro- o primeiro conjunto, composto pela identificação
blemas, era imprescindível incluir uma revisão das da litoestrutura (parâmetros litológicos e estrutu-
infra-estruturas instaladas, uma sondagem seletiva rais; avaliação dos bens minerais), do relevo (análi-

75
se e evolução geomorfológica e paleogeográfica), nos meios técnicos responsáveis pelo gerenciamen-
do clima (parâmetros termo-hídricos e seu papel na to ambiental como nos meios científicos.
dinâmica ambiental e na oferta ecológica), das Seminários internacionais, realizados em Belém
águas superficiais (características e classificação (1990) e São Paulo (1992), sobre as estratégias para
das bacias hidrográficas; potencial hídrico e quali- a Amazônia ressaltam em suas conclusões e reco-
dade das águas), dos solos (características físicas mendações a importância do zoneamento: ARA-
mineralógicas e morfológicas que influenciam na GON e LESZEK KOSINSKI (1991:55-65) e
avaliação da vulnerabilidade; fatores favoráveis e PAVAN (1992) que antecederam a Conferência do
limitantes das classes de solos das atividades antró- Rio e destacaram que:
picas). O segundo conjunto composto pela vegeta- «um zoneamento ecológico-econômico considera
ção (estrutura da vegetação e seu papel na dinâmi- fatores naturais e se faz necessário na Amazônia. A
ca do ambiente; identificação das áreas desmatadas Amazônia deve ser tratada como um sistema inter-
e evolução do processo de desmatamento; potencial ligado de pequenos espaços - ‘células espaciais’
de vegetação para fins de aproveitamento e conser- muito diversas entre si, mas internamente homogê-
vação e proteção de ambiente), a flora e a fauna neas. Esse zoneamento deve identificar usos ade-
(identificação da flora e da fauna e análise da bio- quados voltados para o bem-estar da população
diversidade face às condições atuais e paleogeográ- local, o que deixa pouca chance de sucesso a estra-
ficas; indicação de áreas prioritárias para o planeja- tégias de planejamento de nível macro-regional.
mento de um sistema de unidades de conservação). Nesse sentido, a valorização dos fatores locais deve
A estrutura e dinâmica do ambiente seria construí- ser uma preocupação constante dos projetos de
da a partir da análise destes componentes, através desenvolvimento e de pesquisa na Região.
das regiões morfoestruturais, das associações mor- Instituições locais voltadas para a produção de
fopedológicas e hídricas e das regiões fitoecológi- C&T, pesquisadores, caboclos, índios e demais
cas e da biodiversidade. A correlação e a interrela- agentes da Região, envolvidos com o destino da
ção destes agrupamentos serviriam ao entendimen- mesma, desempenham papel central na busca de
to do arranjo geoambiental e da ecodinâmica, per- soluções alternativas para o futuro da Região. O
mitindo a identificação das ofertas e limitações físi- zoneamento por si só não resolve o problema da
co-bióticas e da vulnerabilidade do ambiente. Ao desordem ecológica na Amazônia. É fundamental
lado destes dois conjuntos de elementos, associava- que exista vontade política para a sua execução e
se um terceiro grupo, a dos riscos de desequilíbrio, monitoramento visando corrigir rapidamente possí-
resultantes das relações que os agentes e os fatores veis distorções. Para isso é necessário fortalecer as
de alteração sócio-econômica promovem sobre a instituições científicas da Região e melhorar a qua-
organização do seu espaço. lificação dos seus recursos humanos na área do
A segunda fase destinava-se à identificação dos meio ambiente
espaços para intervenção, resultantes do nível de
agregação e correlação entre as classes de sustenta- A implantação e monitoramento do ZEE da Região
bilidade e os níveis de qualidade ambiental, defi- poderá vir a controlar o avanço do desflorestamen-
nindo zonas de intervenção, objeto de políticas, to e do mau uso dos seus recursos naturais. O binô-
programas e planos. mio preservação-desenvolvimento deve ser tratado
Estas metodologias privilegiavam o conhecimento de maneira complementar e não bipolar para atingir
exaustivo dos elementos naturais e biológicos, mas uma verdadeira filosofia do ‘ecodesenvolvimento’
dava reduzida importância às relações econômico- critico».
sociais, levando com isto a equívocos de julgamen- As recomendações dos autores acima criticam a
to e à rejeição do zoneamento como uma ferramen- estratégia do governo federal:
ta pouco adequada para o planejamento e ordena- «a questão do ZEE não deve ser encarado apenas
mento do território. como uma questão de segurança nacional. O plane-
O nível de expectativa gerado a respeito da capaci- jamento e a execução desse zoneamento não pode
dade desse instrumento pode ser identificado tanto excluir a responsabilidade da Secretaria de Meio

76
Ambiente (SEMAN), da Secretaria de C&T, dos outro fator essencial, sobretudo pelo peso que o
representantes da sociedade civil e de ONG conjunto desses países poderiam adquirir nas nego-
ambientalistas». ciações internacionais. Aspectos, estes, abordados
Outra questão fundamental afeta conceitos e pres- por KOHLHEPP (1990), VALVERDE (1990);
supostos do zoneamento ecológico-econômico e RIBEIRO N. (1991).
sua definição metodológica, é quanto a sua finali- VALVERDE (1990) fez uma proposição no sentido
dade. KOHLHEPP (1989, 1990, 1991) insistia que de ressaltar que o desenvolvimento da Amazônia
o problema central do zoneamento era ultrapassar o não poderia continuar seguindo o modelo do
seu grande valor técnico e atingir os níveis políticos grandes projetos, grandes eixos, cabendo a revisão
de decisão. Para ele (1991:259), dos seus objetivos e resultados. Para ele, a Região
«o ZEE tinha que ser um «guia» para o desenvolvi- deveria se mobilizar em torno de seu produto
mento futuro, mas a realidade do uso atual da terra essencial - as madeiras tropicais, que se tornavam a
em grandes áreas pode ser - e provavelmente é - cada dia um produto mais escasso:
totalmente contrario aos resultados do zoneamento, «porisso, os países amazônicos - sua ultima grande
ou pelo menos é bem diferente. A questão decisiva reserva mundial - deveriam criar uma organização
se concentrava nos métodos e políticas de reorgani- semelhante à OPEP, para defesa dessa mercadoria e
zação do espaço (e dos títulos de propriedade) de reverter a maior parte das rendas dai provenientes
acordo com a vocação geoecológica e socio-econô- para a pesquisa e desenvolvimento de uma verda-
mica da respectiva subárea». deira silvicultura tropical. Bancos de genes e vivei-
Nesse sentido ressaltou a importância de pensar que ros devem ser logo organizados no CPATU, no
os modelos para a Amazônia, dentro das condições INPA, nas universidades, promovendo-se imediata-
do desenvolvimento científico e tecnológico do mente o intercâmbio de catálogos e experiências
momento que não se ajustavam ao modelo de entre as instituições conveniadas».
Brasil-grande, exigindo soluções mais individuali- Nesse período, 1990, as negociações regionais
zadas, mais trabalhadas, atendendo outro nível de visando a preparação da Conferência do Rio tinham
valores e preocupações. Essa organização espacial alterado positivamente as relações entre os países
deveria privilegiar unidades e projetos de pequeno da América do Sul e a conclusão do documento
porte e trabalhar num intenso quadro cooperativo regional, a Plataforma de Tlateloco, representou o
de programas municipais de desenvolvimento inte- posicionamento e o nível do compromisso regional.
grado. É importante resgatar o clima tenso, o período de
A Grande Amazônia e o avanço do zoneamento pressão entre o Brasil e seus países vizinhos
ecológico-econômico (APESTEGUY, MARTINIERE e THERY, 1979;
No cenário em que se situa o ZEE é difícil traçar RIVIÉRE D’ARC, 1981). É o momento da assina-
soluções: se de um lado, haviam as dúvidas tanto tura do Tratado de Cooperação Amazônica - TCA18
conceituais, metodológicas e de função desse novo entre os países da bacia amazônica, em 03 de julho
instrumento que eram apresentadas e demandavam de 1978. Este serviu para amenizar as tensões visto
tempo para serem amadurecidas, questões naturais que reafirmava textualmente a consciência e com-
dentro de um processo em construção; de outro promisso de todos de que cada um dos países era
lado, haviam as dificuldades quanto à extensão e soberano sobre seus territórios amazônicos.
complexidade internas ao espaço geográfico e que Provavelmente por essa razão o acordo foi pouco
dependia fundamentalmente do desenvolvimento expressivo ao longo da década de 1980, passando a
da pesquisa científica e do reconhecimento da utili- ter uma relativa importância a partir dos anos 1990,
zação do saber e experiência secular dos índios e já na fase preparatória da Conferência do Rio, num
povos locais habitantes da Amazônia. outro contexto. ARAGON (1994:82) definiu três
No entanto, a essa complexidade se somava ainda a períodos distintos na historia do TCA: i) entre 1978
necessidade de considerar a Amazônia em seus e 1989, um período de reconhecimento político e
limites internos e externos ao país e, portanto, a diplomático; ii) entre 1989 e 1991, período de for-
articulação com os países da bacia amazônica era mulação e aprovação do Plano de Ação e iii) a par-

77
tir de 1991, período de implementação do Plano de resources should be used in a rational and sustai-
Ação. nable way in order to contribute to raise the quality
A estrutura organizacional do TCAprevia a respon- of life of the population of today, respecting the
sabilidade para as representações diplomáticas no right of future generations to enjoy such resources»
nível regulatório - Encontro dos Ministros de (TCA, 1992 «apud» ARAGON, 1994:84).
Relações Exteriores e no nível de liderança - A reorganização interna dos Programas e Projetos
Conselho de Cooperação Amazônica. No nível exe- do Tratado de Cooperação Amazônica ocorreu
cutivo, a Secretaria Pró-Tempore, no nível opera- antes mesmo da Conferência do Rio e incluiu as
cional, as Comissões Especiais e a base de suporte diretrizes da Agenda 21.
operacional, as Comissões Nacionais Permanentes. Interessa-nos destacar que a Comissão de Meio
As Comissões Especiais somente foram criadas Ambiente deste Tratado estabeleceu oito grupos de
entre 1988 e 1990: i) Ciência e Tecnologia (1988); trabalho, estando o de «Avaliação dos recursos
ii) Saúde (1988); iii) Meio Ambiente (1989); iv) naturais, zoneamento ecológico-econômico e moni -
Assuntos indígenas (1989); v) Transportes, infra- toramento do uso da terra» a cargo de uma coorde-
estruturas e comunicações (1990) e Turismo nação brasileira, na qual a Secretaria de Assuntos
(1990). Estratégicos - SAE teve importante papel. Em fun-
Essa fase chamado por ARAGON de reconheci- ção desses compromissos internacionais assumidos
mento político e diplomático, na verdade significou pelo Governo Brasileiro, a SAE, com a participação
um período em que o acordo esteve quase comple- de representantes de ministérios federais, dos
tamente esquecido apesar de terem havidos alguns Estados da União e das instituições de pesquisa do
encontros de ministros (1980, 1983). Somente em país, começou a desenvolver uma metodologia
março de 1989, por iniciativa do Equador, ocorre o nacional de ZEE, que pudesse ser expandida aos
terceiro encontro de ministros e recomeça uma vizinhos sul-americanos19. Posteriormente, já em
mobilização visando reativar e tornar mais opera- coordenação com o Ministério das Relações
cional o Tratado. A existência de compromissos Exteriores, apresentou-se a posição brasileira foi
com o uso racional dos recursos entre seus objeti- apresentada perante os outros países que participam
vos, que segundo PROCÓPIO (1992:232) foi uma do TCA. A partir daquele momento, a CPRM –
«espécie de embrião de uma consciência ecológica Serviço Geológico do Brasil passou a realizar
coletiva da parte amazônica da América Latina», alguns dos projetos de ZEE fronteiriços, com o
embora ações concretas somente começassem a objetivo de estabelecer as diretrizes técnico-cientí-
existir após a definição do Plano de Ação. ficas de uma metodologia que viesse a ser comum
Assim, no contexto da mobilização para a a todos os países, com um referencial básico, esta-
Conferência do Rio, foram ampliados os focos de belecido pela CCZEE20. Na década de 1990 foram
atenção mundial sobre a Amazônia, seja por realizados alguns projetos binacionais de zonea-
questões relacionadas à degradação ambiental, seja mento em fronteira, iniciando com a Venezuela
pelos problemas de violação dos direitos indígenas, (1997), Peru, Colômbia e Bolívia (1999), sob a
seja porque cresceram as possibilidades de suporte égide da OEA.
financeiro para o desenvolvimento de atividades e o Críticas e dificuldades
numero de agências observadoras permanentes do Ao avaliarmos como o zoneamento ecológico-eco-
Tratado. Dessa maneira, a declaração de San nômico conquistou espaço e foi bem aceito entre
Francisco de Quito reforça os princípios de desen- algumas correntes ambientalistas, setores institu-
volvimento sustentável pelo reconhecimento dos cionais e científicos ligados à gestão de recursos
Ministros das Relações Exteriores: naturais e do meio ambiente, questiona-se quais as
«the growing preoccupation of the Member coun- causas de sua pouca efetividade.
tries for the conservation of the Amazonian envi- Primeiramente é importante ressaltar os desníveis
ronment, aware that the development of the region entre as expectativas que foram geradas, o conjun-
should be sustainable in such a way that the envi- to de argumentos favoráveis ao uso deste instru-
ronment in general and in particular the natural mento e a dificuldade de se chegar à sua aplicação

78
efetiva. A evolução e modificação das metodolo- a quantificação e a experimentação.
gias de maneira a torná-las mais adequadas e menos Não apenas as diferenças entre métodos científicos
custosas serão objeto de analise no âmbito dos capí- dificultaram consensos sobre o zoneamento, mas
tulos quatro e cinco que tratam do PPG7 e SPRN. mesmo no âmbito das ciências sociais as propostas
Mas é fundamental também salientar a preocupação de método eram diferenciadas. No macrozonea-
que já aparecia em AB’SABER (1989) quando aler- mento ou no ZEE em escala regional, as dificul-
tava para a necessidade de criar estratégias para dades para a utilização de uma mesma unidade de
produção de documentos intermediários, de utiliza- referência (unidades da paisagem) para analisar as
ção viável para a administração pública antes de condições sócio-econômicas também interferiram
fazer uma metodologia técnico-científica muito profundamente no debate e na definição metodoló-
sofisticada e por princípio custosa e demorada; gica. Os dados estatísticos nos censos, normalmen-
assim como era fundamental desenvolver paralela- te, seguem bases político-administrativas e setores
mente diretrizes concretas para o gerenciamento censitários, tornando-se um obstáculo para a corre-
ambiental e administrativo. Para ele, o zoneamento lação com as unidades de base física ou biótica.
detalhado dos subespaços interiores de cada região Além disso, estas condições sócio-econômicas
previamente definida podia contar com uma série estavam sendo vistas como fatores de antropização,
de metodologias, todas onerosas e demoradas mas desta maneira, a ação humana era considerada fator
isto implicava um trabalho de apuração e adaptação de risco e desequilíbrio.
de metodologias, todavia capazes de orientar os Entre os autores que trataram desta temática
diferentes usuários do espaço total. incluem KOHLHEPP (1987, 1990), AB’SABER
Esses argumentos são corroborados inicialmente (1989), MORAN (1990, 1991), VALVERDE
pela demora na elaboração do Diagnostico (1990), ou ainda no âmbito da mesma instituição -
Ambiental da Amazônia: previsto no Programa IBGE, as etapas não coincidiam. Por outro lado, o
Nossa Natureza, com o compromisso de estar pron- peso dado aos fatores naturais, representava, prova-
to para a Conferência do Rio só foi ser concluído velmente uma forma evidente de contrapor-se à
quase sete anos depois, não atingiu seu objetivo. prevalência dos fatores econômicos.
Assim ainda que a sistematização e a constituição Devendo ser o ZEE um instrumento orientador e
de novas informações e conhecimentos ambientais propositivo, a negociação política poderia ter sido
amazônicos não serviram ao planejamento e à orde- um caminho para a melhor gestão dos conflitos
nação do território regional. existentes. No entanto, as praticas e as metodolo-
Acresce o fato de que os objetivos dos processos gias de consulta aos diversos segmentos sociais
técnico e político encontram-se descompassados e ainda careciam ser desenvolvidas nos anos finais da
temporalmente distantes um do outro. Enquanto o década de 1980 e inicio dos anos 1990. O desen-
meio técnico buscava o nível mais profundo, mais volvimento de técnicas de negociação poderia ali-
detalhado do conhecimento científico, aquele que cerçar a utilização deste instrumento propositivo
permitisse identificar profundamente as relações visando induzir modelos de desenvolvimento mais
entre os atributos bióticos e abióticos e tornar adequados às condicionalidades ambientais pre-
conhecido cada milímetro do terreno; as decisões sentes, permitindo o acesso democrático aos
econômicas e políticas continuaram a ser tomadas. agentes sociais que nele convivem. Nesse aspecto,
E possível que as falhas na implementação do ZEE é preciso introduzir outro elemento de constrangi-
situem-se nas dificuldades de metodologias comuns mento: cada segmento social tem a sua noção de
às ciências naturais e sociais e na própria diferença territorialidade e um interesse distinto na sua apro-
de pesquisa e interpretação dessas realidades, sobre priação. Atingir um consenso no âmbito de uma
as quais a base conceitual se sedimenta. Enquanto negociação política que deve considerar o direito e
nas ciências naturais os métodos objetivam formas os interesses de todos os atores e traçar formas de
de quantificação, de experimentação, nas ciências garantir seu envolvimento, pode ser um objetivo
sociais, os mecanismos que os regem são distintos irreal, inatingível. Como garantir que todas essas
e se tem uma percepção diferente do que podem ser territorialidades e interesses podem estar contidas

79
na opção final do(s) modelo(s) de desenvolvimen- de preservação ambiental, mas o fato de que ambas
to? podem bloquear a fragmentação fundiária e conse-
Outra dificuldade referia-se os objetivos e escalas quentemente os impactos nocivos do uso da terra,
desse zoneamento. Um macrozoneamento, da inscrevem-nas no campo das políticas territoriais de
região amazônica como um todo, não pode usar a proteção, servindo como elementos vitais na prote-
mesma escala de informações e nem de negocia- ção do patrimônio existente nos ecossistemas
ções que um zoneamento de «subespaços» como amazônicos.
chamou AB’SABER, nem pode ser comparado No entanto, mesmo que tenha havido progressões
com um zoneamento a nível local: são objetivos de certas áreas sob cuidados e tutela governamen-
diferentes que pressupõe meios distintos. Deste tal, as políticas indigenistas e conservacionistas
ponto de vista, se zoneamento é instrumento para foram contraditórias. Os militares consideravam
planejar e gerenciar o território na determinação que era excessivo o domínio de terras nas mãos de
dos usos mais indicados para determinadas ativi- povos indígenas, sobretudo nas fronteiras nacio-
dades e segundo os interesses dos diferentes atores, nais, constituía uma ameaça à integridade do ter-
exige-se meios para efetivá-lo para estabelecer o ritório. Por outro lado, as unidades de conservação
nível de informação exigido em cada uma dessas a maioria das vezes foram localizadas de maneira
escalas, para definir como se dará a participação aleatória, dispersa pela território, muitas vezes
dos atores nos diversos níveis, envolvem detalha- constituindo-se áreas de trocas com executores de
mentos diferenciados. grandes projetos, conforme destacado no primeiro
A aplicabilidade do ZEE em áreas de economia capitulo.
consolidada tende a ser mais reduzida e sendo a A atual visão a respeito dos territórios indígenas
Amazônia ainda um dos últimos espaços pouco reforça o respeito às diferenças culturais, a liberda-
ocupados, como nos lembra AB’SABER (1989) e de de sua existência e a garantia de seus territórios,
onde poderia ser realizado o zoneamento ecológi- que somente começou a ser difundida no final dos
co-econômico utilizando os conhecimentos gerados anos 70. Assim, embora as Terras Indígenas deves-
como parâmetros para decisões a serem tomadas. sem ter sido demarcadas desde que o direito de
Soluções genéricas devem ser rejeitadas, mas este posse foi reconhecido - na Constituição de 1934, a
instrumento é fundamental em áreas de fronteira predominância da visão de integração desses
econômica e a decisão política evidentemente pre- povos, àquela época, relegou ao segundo plano o
cisa ser tomada. Discursos de apoio permanecerão trabalho de fixação dos limites das terras.
infrutíferos. Porisso é importante apresentar um Recentemente, com a conceituação do reconheci-
balanço dos resultados obtidos no processo do mento jurídico dessas Terras, sua concretização
zoneamento ecológico-econômico na Amazônia física se faz por meio do processo de demarcação.
realizados sob os auspícios do PPG7, a ser analisa- Assegurar constitucionalmente o direito à terra
do no capítulo cinco. significou garantir para os índios a sua própria sub-
5. As terras indígenas e as unidades de conservação: sistência e o espaço cultural necessário à atualiza-
elementos vitais à proteção ção de suas tradições. O reconhecimento dos índios
O sustentáculo territorial da proteção na Amazônia enquanto realidades sociais diferenciadas não pode,
é sem dúvida a demarcação das Terras Indígenas, portanto, estar dissociado da questão territorial,
ao qual agrega-se a implantação de Unidades de dado o papel relevante da terra para a reprodução
Conservação. Esses dois tipos de territórios, embo- econômica, ambiental, física e cultural destes.
ra incomparáveis entre si, representam, no entanto, Ao aceitar a territorialidade de cada um dos povos
a proteção e a garantia da preservação de um gigan- indígenas, o processo de demarcação tornou-se o
tesco patrimônio biológico. A riqueza cultural e seu elemento primordial. Já nos incitava FAULHA-
conhecimento secular detido pelas populações indí- BER (1991: 35) «ao territorializarem-se os índios desen-
genas a respeito deste patrimônio21 serão as bases volvem estratégias no sentido da conquista de sua autonomia,
para o seus aproveitamentos. Nesse contexto é pre- que talvez seja mais importante para eles que manter-se em
ciso deixar claro que terras indígenas não são áreas estado de alerta diante da ameaça de invasões constantes».
A concretização desse processo é uma responsabili-

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81
dade do Estado brasileiro, exigindo o ato governa- nou o prazo final para a demarcação. Nesse aspec-
mental22 de reconhecimento e de determinação pre- to é preciso ressaltar que, a Constituição ao consa-
cisa da extensão dessas terras. O Estatuto do Índio grar que «os índios são os primeiros e naturais sen-
(Lei 6.001/73 - em revisão pelo Congresso hores da terra» por si só já seria suficiente para
Nacional23) tratou com detalhamento dos procedi- garantir o reconhecimento dos direitos dos indíge-
mentos e do aprimoramento da regularização das nas, no entanto, ao precisar a real extensão da posse
terras, atribuindo à FUNAI a iniciativa de orientá- indígena, assegurar a proteção dos limites demarca-
los e executá-los. Ainda na atualidade esse é um dos e permitir o encaminhamento da questão fun-
campo complexo em vista dos diferentes procedi- diária nacional reforçou a obrigação do Estado de
mentos24 e etapas até chegar à homologação de uma promover o reconhecimento e a demarcação física
terra indígena, aos quais acrescem-se o fato de ser a dos limites dessas terras.
homologação, até recentemente (1996) realizado Assegura a FUNAI que as mesmas permaneçam
estritamente por meio da ação governamental. sendo bens da União (artigo 20), embora o procedi-
Somente após esta data que foi acordado a partici- mento seja:
pação dos próprios indígenas nas diferentes fases «União Federal busca, com a demarcação das terras
da demarcação. indígenas: a) resgatar uma dívida histórica com os
No balanço apresentado por ALBERT (1991:39) foi primeiros habitantes destas terras; b) propiciar as
destacado a lentidão do processo de demarcação condições fundamentais para a sobrevivência física
entre 1973 e 1981: apenas 15% das terras e nor- e cultural desses povos; e c) preservar a diversida-
malmente o processo se dava em situações emer- de cultural brasileira. Sempre que uma comunidade
genciais. Entre 1983 e 1985 somente 14 de um total indígena possuir direitos sobre uma determinada
de 50 propostas de delimitações enviadas pela área, nos termos do § 1º do Artigo 231, o poder
FUNAI foram aprovadas. Em 1983 essa atribuição público terá a atribuição de identificá-la e delimitá-
passou para um grupo interministerial coordenado la, de realizar a demarcação física dos seus limites,
(militarmente) pelo Ministério do Interior - Minter, de registrá-la em cartórios de registro de imóveis e
bloqueando a ação da FUNAI, por ser considerada protegê-la».
«muito a mercê dos índios». Se retomarmos a antiga visão predominante de inte-
Assim, como os objetivos militares contrapunham- gração cultural dos povos indígenas e os reconheci-
se ao reconhecimento das territorialidades indíge- dos impactos que essa política causou, torna-se
nas e sempre que o processo de demarcação foi rea- fácil perceber os porquês da mobilização nacional
lizado de maneira emergencial e sob pressão inter- de organizações indígenas e entidades de defesa de
nacional, as terras indígenas não eram demarcadas direitos ao promoveram amplos debates, visando a
em território contínuo. ALBERT (1991) analisa os assegurar a demarcação das terras dos índios e a
subterfúgios nas portarias concernentes à Terra realizarem reflexão crítica sobre a política de inte-
Indígena Yanomami, mostrando como o retalha- gração. Ao mesmo tempo, à época de elaboração da
mento em diversas unidades e a superposição com Constituição, passou-se a debater as bases de uma
Unidades de Conservação (que permitiam a explo- nova política indigenista, alicerçada no respeito às
ração dos recursos naturais) eram aspectos ainda formas próprias de organização sociocultural dos
mais problemáticos que se acresciam à complexa povos indígenas. Esta ampliação publica do debate
situação daquele povo. Ao mesmo tempo este autor levou a inclusão de um prazo final para a conclusão
ressaltava que a utilização de argumentos ecológi- do processo de demarcação: 5 de outubro de 1993.
cos na verdade tinha servido ao retalhamento de Esses fatos acabaram por acelerar os trabalhos de
várias terras indígenas nos anos de 1988 e 1989 (no demarcação e regularização das terras indígenas no
Alto do Rio Negro, no sul do Estado do Amazonas Brasil, mas não foram suficientes para cumprir a
as terras dos índios Apurinã, Kaxarari, Paumari, meta prevista. Assim, à época da elaboração do
Yamamadi e Yaminawa e também nas terras dos PPG-7, uma nova mobilização dos segmentos indi-
índios Kaxinawa no Estado do Acre). genistas associaram-se aos interesses demonstrados
Posteriormente a Constituição Federal25 determi- sobretudo pela Alemanha na demarcação desses

82
territórios. O resultado foi a elaboração de um pro- atinge cerca de 60%, nos Estados do Acre, Pará e
jeto específico, o PPTAL, que previu inicialmente a Amapá. No Pará, restam apenas duas áreas a serem
demarcação de 38 terras e a identificação de outras identificadas (Maranduba e Pacajá) e uma terceira
31. Esse número ampliou para 155 em 200126 que envolve também os Estados do Amazonas e
porque sendo os recursos contratados em dólares e Roraima, a Trombetas-Mapuera. Em Roraima, das
gastos em reais, a desvalorização da moeda brasi- 31 áreas indígenas, 10 não estão ainda demarcadas.
leira. Esse projeto é analisado no capitulo quatro, Política de conservação
assim como as diferentes situações que as mesmas
se encontram. Quanto à questão da proteção ambiental, a tabela n°
As terras indígenas na Amazônia Legal ocupam 4 mostra o aumento quantitativo dos territórios pro-
uma superfície de mais de 97 milhões de hectares, tegidos assim como a ampliação dos tipos de
dos quais 34.527.994 estão localizados no estado Unidades de Conservação, com especial crescimen-
do Amazonas, representando aproximadamente to no âmbito das unidades de uso direto como as
21,9% da área total deste estado e 41% dos indíge- Reservas Extrativistas:
nas que habitam a região amazônica. As densidades Apesar da ocorrência deste crescimento, em super-
populacionais nas terras indígenas amazônicas são fície, das UC, as instituições responsáveis por sua
baixas em contraste com terras de outras regiões do gestão colocam-se frente à problemática questão
pais, conforme pode ser visualizado na figura 2.1. orçamentária. Após a Conferência do Rio, esta
No Amazonas, algumas obras de infra-estrutura situação agrava-se. DOUROJEANNI e PÁDUA
econômica cruzam ou possuem em suas áreas de (2001) analisam a redução dos orçamentos públicos
influência terras indígenas, como é o caso da hidro- destacando que, no Brasil, o IBAMA, em 1989, dis-
via do Madeira, em operação desde 1997, tem em punha de um orçamento de US$ 21 milhões, e, em
suas adjacências pelo menos cinco áreas indígenas 1992, o valor foi de US$ 4 milhões. Esta perda que
e da BR-174 que cruza a área dos Waimiri-Atroari. refletiu na capacidade de manutenção e de gestão
A situação jurídico-fundiária das terras indígenas, das áreas protegidas. Em 1995, os gastos com as
UC eram R$ 29,5 milhões tiveram que ser reduzi-
dos a R$ 5,3 milhões em 1999, provocando, uma
Tabela n° 3 - Terras e população indígena na Amazônia
profunda defasagem entre as necessidades de
manejo e os valores disponíveis. Baseados no estu-
Estados Terras População Área % do de James et al (1999), os autores comparam as
indígenas em ha. no Estado
diferenças de gasto entre 108 países, destacando
AC 28 1 700 1 820 613 11,9 % que, enquanto os países desenvolvidos gastavam
AM 179 81 000 34 527 994 21,9 % em média US$ 20,6/ha, este valor decrescia para
AP 4 2 267 1 125 471 US$ 0,27/ha nos países menos desenvolvidos.
MA 16 12 907 1 908 389 Nesta classificação o Brasil, país que mais tinha
MT 62 16 409 17 691 067
PA 37 18 500 26 070 239 20,8 % recebido ajuda externa, teria gasto, em 1996 US$
RO 30 5 718 6.178.763 2,2/ha.
RR 32 23 791 14 844 016 Outro aspecto, também, analisado por DOURO-
TO 7 6 369 2 025 948 JEANNI e PÁDUA relacionou-se à qualificação e
Fontes: IBGE Anuário Estatístico do Brasil, 1997 ao número de funcionários vinculados ao manejo e
e Diagnósticos Estaduais, 1999
gestão das UC. Neste aspecto, destacam o Brasil e
na Amazônia, são relativamente favoráveis. Em, o Peru como os dois países que situavam, em 1999,
pelo menos, quatro Estados (Acre, Pará, Amapá, abaixo da média da América Latina.
Tocantins) mais de 60% delas encontram-se regis- A figura 2.2 evidencia as áreas protegidas exis-
tradas. Nos Estados do Maranhão e o Tocantins tentes nos municípios da Amazônia Legal
quase todas as áreas estão demarcadas, exceção No período de duas décadas, as políticas ambientais
feita para Javaés e Boto Velho (TO) e Guajá e se transformaram. Em seu inicio estiveram funda-
Amanayés (MA) e o percentual de demarcação mentadas no controle ambiental e de proteção de
áreas, e no final dos anos 1990 passaram à difusão
83
Tabela n° 4 - Unidades de Conservação criadas entre 1980 e 1992

Unidades de Conservação Área em Ha Bioma Estado Data criação (*)


APA do Igarapé Gelado 21 600 Amazônia PA 05 maio 89
APA Serra da Tabatinga 61 000 Cerrado MA, TO e BA 06 junho 90
ARIE Javari Buriti (1) 15 000 Amazônia AM 05 novembro 85
ARIE Projeto Fragmentos Florestais (1) 30 085 Amazônia AM 05 novembro 85
E.E. de Anavilhanas 350 018 Amazônia AM 02 junho 81
E.E. de Caracaraí 80 560 Amazônia RR 31 maio 82
E.E. de Iquê 200 000 Cerrado MT 02 junho 81
E.E. de Jutaí-Solimões 288 187 Amazônia AM 21 julho 83
E.E. de Maracá 101 312 Amazônia RR 02 junho 81
E.E. de Maracá-Jipioca 72 000 Amazônia AP 02 junho 81
E.E. de Taimã 11 200 Pantanal MT 02 junho 86
E.E. do Jari 227 126 Amazônia AP e PA 12 abril 82
E.E. Juami-Japurá (1) 870 300 Amazônia AM 03 junho 85
E.E. Niquiá 286 600 Amazônia RR 03 junho 85
E.E. Rio Acre 77 500 Amazônia AC 02 junho 81
E.E. Serra das Araras 28 700 Cerrado MT 31 maio 82
FLONAAmapá 412 000 Amazônia AP 1989
FLONAAmazonas 1 573 100 Amazônia AM 1989
FLONA Bom Futuro 280 000 Amazônia RO 1989
FLONA Cubaté 416 532 Amazônia AM 1990
FLONA Cuiari 109 518 Amazônia AM 1990
FLONA Içana 200 561 Amazônia AM 1990
FLONA Içana-Aiari 491 400 Amazônia AM 1990
FLONA Jamari 215 000 Amazônia RO 1984
FLONA Macauã 173 475 Amazônia AC 1988
FLONA Mapiá-Inauini 311 000 Amazônia AM 1989
FLONA Pari-Cachoeira I 18 000 Amazônia AM 1989
FLONA Pari-Cachoeira II 654 000 Amazônia AM 1989
FLONA Piraiauara 631 436 Amazônia AM 1990
FLONA Purus 256 000 Amazônia AM 1988
FLONA Roraima 2 664 685 Amazônia RR 1989
FLONA Saraçá-Taquera 429 600 Amazônia PA 1989
FLONA Tapirapé-Aquiri 190 000 Amazônia PA 1989
FLONA Taracuá I 647 744 Amazônia AM 1990
FLONA Taracuá II 559 504 Amazônia AM 1990
FLONA Tefé 1 020 000 Amazônia AM 1989
FLONA Urucu 66 496 Amazônia AM 1990
FLONA Xié 407 935 Amazônia AM 1990
PN da Chapada dos Guimarães 33 000 Cerrado MT 12 abril 89
PN da Serra do Divisor(1) 846 633 Amazônia AC 16 junho 89
PN do Cabo Orange 619 000 Amazônia AP 15 julho 80
PN do Jau 2 272 000 Amazônia AM 24 setembro 80
PN do Monte Roraima 116 000 Amazônia RR 28 junho 89
PN do Pantanal Matogrossense 135 000 Cerrado e Pantanal MT 24 setembro 81
RB do Abufari 288 000 Amazônia AM 20 setembro 82
RB do Gurupi 341 650 Amazônia MA 12 janeiro 88
RB do Lago Piratuba 357 000 Amazônia AP 16 julho 80
RB do Rio Guaporé 600 000 Amazônia RO 20 setembro 82
RB do Tapirapé 103 000 Amazônia PA 05 maio 89
RB do Uatumã 560 000 Amazônia AM 06 junho 90
REc. de Sauim-Castanheira 109 Amazônia AM 12 agosto 82
RESEX Alto Juruá 506 186 AC 23 janeiro 90
RESEX Chico Mendes 970 570 AC 12 março 90
RESEX Ciríaco(**) 7 050 MA 20 maio 92
RESEX Quilombo do Frexal 9 542 MA 20 maio 92
RESEX Rio Cajari 481 650 AP 12 março 90
RESEX Rio Ouro Preto 204 583 RO 13 março 90
TOTAL 22 900 147

Fonte: Sistema de Informações Unidades de Conservação - IBAMA, 2002.


(*) Alguns dos atos de criação constam apenas o ano.
(**)Esta Resex deverá ser transformada em Assentamento Extrativista
(1) áreas calculadas através de técnicas de geoprocessamento e não pelo decreto de criação.

84
de instrumentos de ordenamento territorial, bastan- tanto pelos setores militares como diplomáticos.
te conhecidos nas esferas de planejamento, mas, Agregaram-se este posicionamento preventivo, o
com um novo potencial por ter incorporado ele- conjunto de atividades prioritárias voltadas para a
mentos da dimensão ambiental. proteção de áreas com estabelecimento de novas
A recolocação desse instrumento de ordenamento unidades de conservação, de uso direto e indireto. A
no seio do debate ecologista, impulsionado pelos estas políticas ambientais somam-se os territórios
problemas ambientais sobretudo os amazônicos, foi indígenas demarcados, como mais um elemento
impregnado por posições nacionalistas defendidas importante na conservação das condições naturais e

85
ecossistêmicas amazônicas. ∑ a exploração e comercialização de recur-
Detivemo-nos no exame dos imperativos políticos e sos não são conciliáveis com as formas de
sociais que induziram mudanças no âmbito das exploração e a restrição de uso dos recur-
políticas ambientais, porque é o entendimento do sos florísticos e faunísticos podendo des-
contexto em que a mesma se desenvolve que vai truir algumas das atividades produtivas de
permitir a compreensão de seu posicionamento no grupos indígenas;
âmbito da estrutura governamental brasileira. No ∑ em terras indígenas a presença de estran-
entanto, uma avaliação geral da situação das áreas hos só é permitida mediante autorização.
protegidas na Amazônia às vésperas da Conferência Se houve influência dos processos globais nas polí-
do Rio mostra o aumento quantitativo das Unidades ticas publicas nacionais, é bem verdade que tam-
de Conservação, especialmente nos últimos anos da bém as circunstâncias da situação brasileira nas
década de 1980 e início dos anos 90, mas não a negociações internacionais serviram para reiterar a
regularização fundiária. Em apenas dois anos - defesa e o respeito ao principio de soberania de
1989 e 1990 - 29 novas áreas foram estabelecidas cada pais e não aceitação de intromissão em assun-
sob tutela administrativa do governo federal e em tos internos. E preciso portanto, buscar respostas
1992, duas novas Resex foram criadas no mês para algumas questões que ainda encontram-se sem
(maio) que antecedeu a Conferência (junho). respostas: houve influência na política externa bra-
No entanto, mesmo no âmbito das políticas que tra- sileira desses mecanismos e instrumentos ambien-
tam da proteção do território ocorrem conflitos tais? Em que medida o zoneamento ecológico-eco-
quanto ao aspecto de incompatibilidade de usos. nômico e outras diretrizes setoriais do meio
Pode-se exemplificar com quatro aspectos relativos ambiente foram levadas em consideração nas estra-
aos usos e à presença de estranhos: tégias da política externa?
∑ enquanto no espaço de uma Floresta Na verdade, as expectativas de uso desse aparato
Nacional é permitido a exploração econô- técnico, por menos complexo que fosse, como solu-
mica, comercialização da madeira ou de ção ao ordenamento do desenvolvimento foram
outros recursos, num Parque Nacional à além de suas próprias capacidades. A ação publica
restrições de exploração de determinados federal, nesse tema, circunscreveu-se num universo
recursos florísticos; pequeno, reduzido face a gravidade dos problemas
∑ em ambos a presença de turistas é permitido; ambientais e a complexidade da Região.

86
Notas 8 O PNMA, programa de financiamento externo
pelo BIRD e elaborado pela antiga SEMA, foi total-
1 Os demais aspectos da política indigenista não mente reestruturado, após a criação do IBAMA, por
serão analisados. sua equipe técnica e pela SEPLAN/PR. Os objeti-
2 Outras políticas tinham sido criadas anteriormen- vos estabelecidos nesse Programa visavam o forta-
te : o Código das Aguas, 1937 ; o Código Florestal, lecimento institucional do IBAMA e dos OEMAs,
1965 ; a Lei de Manejo e proteção da fauna, em a proteção de grandes ecossistemas e das Unidades
1967, mas tinham abrangência mais setorializada. de Conservação.
9 Lei 7714 de 29 de dezembro de 1988 eliminou o
A Lei 6938 foi aprovada em 1981.
3 A regulamentação desta lei somente ocorreu anos FISET e o Decreto n° 97.637, de 10 de abril de
mais tarde, em 1989, com o Decreto n° 97632. 1989 manteve a suspensão dos créditos oficiais de
4 A história do conservadorismo no Brasil é ante- investimentos a projetos pecuários na Amazônia até
rior à criação desse Sistema: data dos anos 1930 e que fossem concluídos os estudos de ordenamento
esteve ancorada na visão de que cabia ao Estado a territorial da Região. A SUDAM e o IBAMAteriam
regulação e o controle dos espaços protegidos. Essa que promover o levantamento de áreas degradadas,
visão predominou no SNUC até meados dos anos o que foi feito parcialmente. Ver CIMA, 1991,
1990, quando novos tipos de unidades foram cria- Relatório do Brasil para a CNUMAD e IBAMA,
dos. 1991, Relatório da Qualidade do Meio Ambiente.
10 Lei de criação n° 7796, de 10 de julho de 1989 e
5 Desde 1992 foi proposto, por iniciativa do

Executivo, o projeto de lei n° 2.892 que tratava de regulamentação através do Decreto n° 98 829, de
alterações no âmbito do Sistema Nacional de 15 de janeiro de 1990.
11 Esta Secretaria englobava o antigo SNI (Serviço
Unidades de Conservação. No entanto, dificuldades
políticas e, sobretudo, as relacionadas aos conceitos Nacional de Informações), departamento que
utilizados nas definições das unidades do sistema durante o período militar se ocupava da identifica-
impediram a rápida aprovação deste projeto. A ção de pessoas suspeitas, em função de suas opções
nova proposta do sistema envolvia a necessidade de ideológicas. A visão que esse setor tinha a respeito
integração das populações tradicionais para o esta- das organizações não-governamentais certamente
belecimento e no funcionamento das áreas preser- era impregnada de preconceitos, sobretudo, porque
vadas. Somente em 21 de junho de 2000 o novo muitas delas eram apoiadas por ONG internacio-
SNUC foi aprovado. A longa discussão entre pre- nais.
12 Entrevista com o ministro Everton Vieira Vargas,
servacionistas «puros» e os neoconservacionistas
defensores de distintas óticas acerca das populações do Departamento de Meio Ambiente e Temas
tradicionais e populações humanas locais e do Especiais do Ministério das Relações Exteriores,
controle estatal sobre os espaços protegidos foi tra- realizada em 05 de setembro de 2001.
13 Gouveia (1998) analisou em «A interpretação do
tado em Diegues (1996) e posteriormente em Neder
(1999). artigo 2° da Resolução Conama 1/86, Série
6 O relatório de resultados desse Programa, enca- Documentos Ambientais, Secretaria do Meio
minhado ao Presidente da República menciona Ambiente, São Paulo, pp. 11-23, as origens destes
como objetivo do mesmo não apenas a formulação mal-entendidos.
14 A convocação da greve destacava que se o Brasil
de uma nova política de meio ambiente mas como
«assegurar as condições essenciais para o desenvol- iria receber todos os países do mundo para discutir
vimento sustentado, aliado à integridade dos ecos- questões de meio ambiente e de desenvolvimento, a
sistemas e voltado, prioritariamente, para as neces- principal instituição ambiental brasileira deveria
sidades da chamada Amazônia Legal brasileira» estar no centro da organização e dos debates.
(Exposição de Motivos, documento de arquivo) Refletia uma falsa idéia das articulações internas no
7 Lei n° 7797, de 10 de julho de 1989 e sua regula- governo, assim como um desconhecimento do
mentação e administração através do Decreto n° 98 quanto o Itamaraty não permite que qualquer insti-
161 de 21 de setembro de 1989 tuição interna represente o pais no exterior. Na ver-

87
dade, a Comissão interministerial era presidida pelo potencialidades (1978-1992)»; Pimenta (1982)
Itamaraty, a SEMAM estava entre as instituições- «The Treaty for Amazonian Cooperation: an analy-
membros e o IBAMA apenas um dos órgãos asses- sis of the Brazilian proposal in the light of the
sores. Para os funcionários em greve, tratava-se de Brazil’s regional and international constraints».
uma conferência de meio ambiente e não uma Outros artigos citados são de Recupero (1984) «O
conferência diplomática. Tratado de Cooperação Amazônica»; Ferris (1981):
15 Informação verbal prestada em 07 de março de «The Andean Pact and the Amazon Treaty»;
2002, por Hidely G. Rizzo, representante do Landau (1985)»The Treaty for Amazonian
IBAMA no GT-Nossa Natureza. Cooperation: a bold new instrument for develop-
16 Como o procedimento de levantamento cartográ- ment»; Roman (1993) «Governing environmental
fico convencional 1:500.000, podia levar um longo «commons»: an introductory analysis of «the
período, deveria ser reservado às áreas críticas ou Amazon Cooperation Treaty» e Muniz Bandeira
locais de implantação de projetos múltiplos (faixa (1986) «Estratégias de planejamento e de desenvol-
Carajás - São Luís; maciço de Carajás e arredores; vimento a nível internacional: o Pacto Amazônico».
entorno de grandes barramentos fluviais; setores de A estes artigos podem ser somados Mattos (1980):
conflitos agrários como o Bico de Papagaio; as «Uma geopolítica Pan-Amazônica»; Procópio
áreas ecologicamente criticas selecionadas por cri- (1992): «Amazônia: ecologia e degradação social»
térios de prioridade). 19 O resultado obtido, após sete anos de trabalhos,

17 Outro aspecto que o autor ressaltou insistente- foi acatado pelas instituições participantes da
mente relacionava-se às diferenças metodológicas CCZEE como “metodologia oficial brasileira”, da
entre a identificação de espaços de referência regio- SAE-MMA. Expressa-se por meio de uma cartilha
nais permanentes e a identificação de áreas criticas. denominada “Detalhamento da Metodologia para a
Para as áreas críticas, exigia-se um procedimento Execução do Zoneamento Ecológico Econômico
de delimitação emergencial, flutuante no tempo e pelos Estados da Amazônia Legal” (Becker e Egler,
descontinuo, podendo envolver (ou não) problemas 1996), publicada em Português e Espanhol. O
específicos, portanto, exigiam também uma outra INPE, através de Crepani et al (1996), escreveu o
escala de detalhamento dos processos e roteiros trabalho “Metodologia para a Obtenção de
metodológicos próprios para a compreensão dos Unidades Homogêneas e Vulnerabilidade Natural”.
fatores que respondem por essas anomalias. 20 Numerosas reuniões bipartites foram realizadas,

Exigiam estudos, plantas e cartas topográficas incluindo trocas de documentos metodológicos e


detalhadas que servissem de base para a proposição posterior discussão pelas delegações. Essas reu-
de soluções. Assim, considerava Ab’Saber que toda niões visavam não apenas o nivelamento dos crité-
área critica era capaz de se transformar em região- rios estabelecidos para a delimitação das unidades
programa, com uma área nuclear para concentração ambientais mas também a construção da carta de
dos estudos e um entorno de delimitação mais unidades naturais assim como os aspectos meto-
aproximada e flexível. dológicos sócio-econômicos.
18 Uma série de estudos foi elaborado a respeito do 21 Por exemplo, as sociedades indígenas da

TCA, em diferentes perspectivas. Aragon (1994) Amazônia conhecem mais de 1.300 plantas porta-
destaca entre eles as dissertações de mestrado ou doras de princípios ativos medicinais e pelo menos
teses de doutorado de Cruz (1989): «A política 90 delas já são utilizadas comercialmente. Cerca de
externa como instrumento de autonomia e de 25% dos medicamentos utilizados nos Estados
desenvolvimento nacionais: analise comparada das Unidos possuem substâncias ativas derivadas de
experiências do Brasil e do Peru (1974-1980) e sua plantas nativas das florestas tropicais.
expressão no TCA»; Barberis (1982), uma visão 22 Faulhaber, Priscila (1991) assegura que a demar-

jurídica em o «Tratado de Cooperação cação de terras de Méria, do povo Miranha tinha


Amazônica»; Goméz (1993) «Desarrollo susten- sido efetuada pela SPI com a participação indígena,
table amazonico: estudio de las politicas de desar- nos anos 70, mas até dezembro de 1988 as mesmas
rollo planteada en el marco del TCA. Analisis y não tinham sido homologadas pela Presidência da

88
89
Republica. Para ela, isto demonstrava que o reconhe-
cimento dessa etapa da regularização da terra indíge-
na somente ocorria quando o órgão governamental se
ocupava do processo.
23 E objeto desta pesquisa apenas a avaliação dos

aspectos territoriais da questão indígena. Visões criti-


cas de antropólogos a respeito de outros aspectos do
Estatuto do Índio, como a questão da tutela jurídica,
da integração indígena por assimilação, de disposi-
ções expropriativas da propriedade indígena e da pre-
visão de remoção de grupos por razões de segurança,
por exploração mineral, por realização de obras
públicas são tratados em Oliveira (1985), Albert
(1991), Faulhaber (1991) e Lima (1991), entre outros.
24 O procedimento atual para a identificação e delimi-

tação, demarcação física, homologação e registro de


terras indígenas está estabelecido no Decreto nº
1.775, de 8/01/1996, que «dispõe sobre o procedi-
mento administrativo de demarcação das terras indí-
genas», definindo claramente o papel do órgão fede-
ral indigenista, as diferentes fases e sub-fases do pro-
cesso, bem como assegurando transparência ao pro-
cedimento, por meio de sua publicidade.
25 Conforme artigo 231 que trata da definição de ter-

ras tradicionalmente ocupadas pelos índios em seu


parágrafo 1º: são aquelas «por eles habitadas em cará-
ter permanente, as utilizadas para suas atividades pro-
dutivas, as imprescindíveis à preservação dos recur-
sos ambientais necessários a seu bem-estar e as
necessárias a sua reprodução física e cultural, segun-
do seus usos, costumes e tradições». No entanto,
segundo o inciso XI do artigo 20 essas terras «são
bens da União» e pelo §4º do art. 231, são «inaliená-
veis e indisponíveis e os direitos sobre elas impres-
critíveis» Assim, embora os índios detenham a posse
permanente e o «usufruto exclusivo das riquezas do
solo, dos rios e dos lagos» existentes em suas terras (§
2º do Art. 231) elas constituem patrimônio da União.
E, como bens públicos de uso especial, as terras indí-
genas, além de inalienáveis e indisponíveis, não
podem ser objeto de utilização de qualquer espécie
por outros que não os próprios índios.
26 Os recursos contratados para este projeto são em

dólares e gastos em reais. Com o processo de desva-


lorização da moeda brasileira, o valor em dólar per-
manecendo fixo, o câmbio para reais é em volume
crescente.

90
Segunda parte - A mudança pós-Rio 92: Sonho ou realidade?

A análise do jogo geopolítico ambiental, que atingiu seu apogeu na Conferência do Rio, das alianças for-
madas no interior das negociações entre os países, da mobilização da sociedade organizada, permite olhar
esta Conferência como um marco importante na aproximação das questões de meio ambiente e desenvol-
vimento.
O governo brasileiro atuou como um dos principais países na articulação dos acordos desta Conferência,
o que permitiu-lhe bloquear as singularizações sobre temas amazônicos. No entanto, ainda que não acei-
tasse interferências sobre as políticas nacionais, o governo brasileiro procurou mostrar que estava dispos-
to a aceitar experiências de políticas experimentais de gestão dos recursos naturais e na conservação da
biodiversidade.
Ao abordar-se as territorialidades da proteção e da conservação ambiental na Amazônia e a valorização
da conservação nas políticas, procura-se mostrar as transformações das prioridades e estratégias da polí-
tica ambiental, dos instrumentos de controle à experiências participativas; de política isolada, setorial, às
iniciativas estaduais que experimentam desenvolver mecanismos de inserção desta dimensão em outras
políticas. Apesar dos avanços, resta muito ainda à construir, como se destaca nesta segunda parte.

91
Capítulo 3 - A Conferência do so de desenvolvimento.
Com este delineamento, torna-se importante avaliar
Rio e seus reflexos na se os instrumentos criados pela Conferência - o
Amazônia capítulo 14, da Agenda XXI, definindo os progra-
mas de ação e as datas limites para o cumprimento
dos compromissos, e, os princípios autorizativos
A Conferência do Rio construiu um clima favorável
sobre florestas - foram exitosos, ou, se fracassa-
às negociações entre países ao serem abordadas as
ram. Após esta análise, concluir-se-á o capítulo
relações de estreita interdependência entre a pro-
apoiando-se sobre a avaliação do Rio +5, momento
blemática do desenvolvimento e a do meio ambien-
em que se elaborava também a «Agenda XXI
te, com as possíveis agendas para um novo modelo
Amazônica».
de desenvolvimento para os países. Inserida no
Os aspectos que favoreceram ou, ao contrário, prin-
bojo deste compromisso, a questão da proteção da
cipalmente, reduziram a ambiência desfavorável,
floresta e do desmatamento na Amazônia ganhou
de constrangimentos, de decisões e que resultariam
espaço no debate e na agenda internacional e
por impor um clima de aceitação e de compromis-
convergiu como temas polêmicos, obrigatórios, a
sos para a implantação e difusão do Programa
serem abordados no contexto desta Conferência.
Piloto para Proteção das Florestas Tropicais
A análise do seu significado para a Amazônia, do
Brasileiras, o PPG-7.
fim do século XX, permite compreender o jogo de
forças políticas, e suas consequências, nas proposi- 1. A geopolítica ambiental das Nações
ções de alternativas para a sua inserção nacional e Unidas
internacional. Permite também entender as razões
de toda a movimentação política de um grupo de A Conferência das Nações Unidas serviu para colo-
países que visava desviar o foco de uma convenção car em evidência posicionamentos distintos dos
de florestas para outros temas e atividades voltados diversos países-membros das Nações Unidas e para
para a questão do clima global. Assim, ao invés de demonstrar as alianças estabelecidas entre eles para
uma convenção internacional que obrigasse os sustentar suas posições.
signatários à sua regulamentação e sua transforma- Questões como a superexploração dos recursos
ção em leis nacionais, aceitou-se a constituição de ambientais, os avanços dos desmatamentos, a desi-
um conjunto de princípios. Simultaneamente, acor- gualdade do mercado internacional, a perda da bio-
dou-se a criação de um programa que viesse a ser diversidade, ou as mudanças climáticas foram obje-
implementado no médio prazo, tratando de buscar to não apenas de discussão, mas sobretudo, da rei-
formas para a conservação dos ecossistemas teração de polêmicas e conflitos, de difícil solução,
amazônicos, com alternativas que pudessem servir porque representam posicionamentos, concepções
de experimentos para a viabilidade de novos mode- de mundo, interesses e objetivos distintos. Apesar
los de uso dos ecossistemas florestais e de gestão da eventual clareza com que se colocam tais diver-
ambiental. gências, o fato é que o inicio dos anos 90, agrava-
Esta análise dar-se-á tomando como ponto de parti- ram-se os impactos sobre o meio ambiente, aumen-
da o contexto internacional em que se desenvolve- taram-se os riscos sobre as populações, demons-
ram as negociações. De um lado, aquelas oficial- trando a intrínseca dependência entre os espaços,
mente realizadas pelos países membros das Nações populações e ecossistemas passando a haver uma
Unidas e, de outro, as realizadas pelas pressões da maior difusão das consequências negativas de tais
sociedade civil, representada pelos movimentos processos em todas as nações.
organizados dos diferentes países. Pretende-se Nos anos que antecederam a Conferência aconteceu
neste contexto, desvendar suas resultantes, ou seja, no país o processo de mobilização que vinha ocor-
a relação de forças entre idéias conservacionistas e rendo internacionalmente, envolvendo instituições
ideais desenvolvimentistas, embora a Conferência de pesquisa, representações de governos e de insti-
tivesse por objetivo tratar de meio ambiente e de tuições multilaterais, fortemente reforçado pelas
questões relativas à forma de condução do proces- atividades das organizações não-governamentais.

92
Estas, muitas vezes, se encontravam trabalhando GARAY (2001), outros têm opiniões diferentes
em conjunto com governos de alguns países (euro- sobre o assunto. Destaca-se o que SANTOS (1986,
peus e o Canadá) ou organizadas em fóruns nacio- 2000) quando polemizou a noção do meio ecológi-
nais, fazendo-se representar nas negociações ofi- co, como parte do meio técnico, que substituiu a
ciais, como no caso brasileiro. natureza «selvagem» ou «cósmica» pela artificial, a
No entanto, no processo preparatório, a importância partir do momento que o homem tornou-se
dada à participação da sociedade civil, nos fóruns «homem social» com a produção social, o raio de
de negociações e nas delegações de governos, era ação da sua interferência no espaço extinguiu qual-
extremamente restrita, e sem poder de influência. A quer suspiro da natureza primeira e quando anali-
importância deste segmento, foi tornando-se cres- sou-a como uma contradição: a valorização da
cente à medida que as negociações avançavam, que natureza, para ele, é um processo histórico, um
as pressões das ONG tornavam-se cada vez maiores valor atribuído de acordo com uma escala de
e que a opinião pública internacional passava, tam- valores da sociedade para bens que antes eram cha-
bém, a exercer um papel fundamental. Assim, mados naturais. Por isso, se a preservação ganhar
alguns governos, o brasileiro incluso, defenderam a um «aspecto religioso»’, uma «pregação ecologis-
ampliação do número de participantes, mesmo mar- ta-naturalista», como ocorre muitas vezes no Brasil,
ginal. estará, na verdade, encobrindo um dado ideológico
Pereira (20001), ressalta a respeito: e reproduzindo um processo de globalização per-
“houve um momento em que o Itamaraty defendeu verso.
o aumento do número de ONG participantes, mas o No Brasil, o debate teve seu foco principal dirigido
trabalho de cada uma era feito independentemente. para as políticas públicas de integração da
Neste contexto, deixou, e até mesmo incentivou-as Amazônia e para o acelereado processo de desma-
a realizar um grande encontro, uma grande festa no tamento. Assim, durante a Assembléia das Nações
aterro do Flamengo – tornando-se um encontro de Unidas, em 13/12/88, Paulo Nogueira Batista pro-
segunda classe, sem importância para os posiciona- pôs, e ofereceu, o Brasil como sede para uma
mentos defendidos pelo governo e, com isto, “conferência que tratasse de desenvolvimento e de
demonstrando que sua presença, no encontro ofi- meio ambiente”, o que constituiu-se numa “ jogada
cial, seria reduzido à poucos participantes. O gover- diplomática de peso, embaralhando as cartas” e
no brasileiro só começa a dar atenção à ONG quan- obrigando o governo a criar um «novo foco de aten-
do percebe que elas não são necessariamente sub- ção dirigido às questões das relações internacio-
versivas”. nais, no âmbito das quais deveriam ser repensados
Na totalidade da sociedade crescia a importância da os problemas ambientais globais”2. A Conferência
opinião pública internacional, o que gerou oportu- do Rio, convocada pela Resolução 228/89, da
nidades para o julgamento do modelo de desenvol- Assembléia das Nações Unidas, constituiu-se numa
vimento adotado, nas diferentes regiões do planeta, conferência político-diplomática e colocou aos
e de avaliação de suas consequências sobre as países-membros das Nações Unidas a necessidade
populações e os ecossistemas. As políticas imple- de reflexão e de um debate mais amplo sobre o
mentadas, pelos diferentes Estados nacionais, pas- desenvolvimento, no qual se incorporava também a
saram a ser avaliadas em função dos impactos e das questão das florestas tropicais.
responsabilidades destes Estados quanto à adoção e Nesta época, a bipolaridade entre os objetivos dos
reprodução de modelos social e ambientalmente países do Norte e do Sul estava muito evidenciada.
predatórios. Para os países industrializados, as iniciativas de
Distinguem-se, nesta questão, intelectuais que se inserirem-se questões ambientais na agenda e no
colocam em posições diferentes para problematizá- modelo de desenvolvimento eram vistas como uma
la e analisá-la. Enquanto um grupo de estudiosos espécie de resposta ao trabalho da Comissão
encontram-se envolvidos no reconhecimento dos Brundtland3. Para os países em desenvolvimento,
elementos motores deste debate, destacando-se as preocupações acerca da inserção das questões
entre estes, SACHS (1997), ADAMS (1990), ambientais, em suas agendas, poderiam ser trans-

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formadas numa forma de condicionalidade para a aproveitamento por meio de commodities”.
obtenção de ajuda financeira para o desenvolvi- É preciso qualificar tais visões para avaliar os inter-
mento, e, finalmente, concordaram com a esses incorporados nos argumentos e nos posicio-
Conferência porque esperavam poder obter recur- namentos defendidos. A visão dos países em desen-
sos extras para o seu desenvolvimento. volvimento - o grupo dos 77 - era fundamental-
Ao mesmo tempo convergiram outras situações crí- mente pautada pelo discurso da soberania nacional
ticas, além da relacionada ao modelo de desenvol- sobre as políticas de exploração de seus recursos
vimento e de suas consequências - a crise do papel naturais, como ponto de partida para qualquer dis-
do Estado e os modelos de Estado em vigor: um cussão temática. Esse conjunto de países era lidera-
modelo pautado por uma preocupação social e a do ora pelo Brasil, ora pela Malásia e, em alguns
associação com a iniciativa privada, ou um outro, outros temas, por países africanos.
onde o Estado é “comandado” pelas estratégias das O grupo dos países árabes defendia interesses
empresas privadas. Em SANTOS (1996, 1997, específicos e, muitas vezes os colocava como
2000) encontra-se indicadores deste atual modelo, inegociáveis. No quarto Comitê Preparatório
predominante, de Estado, ao encarar a questão do (PREPCOM4), o Yemen, como coordenador deste
território, do mercado e do Estado nacional na glo- grupo, colocou todo o capítulo da atmosfera entre
balização, analisou a passagem do Estado territorial colchetes5 porque considerou que o mesmo dava
ao Estado transnacionalizado, e, neste contexto, a uma ênfase exagerada à questão da eficiência ener-
importância das empresas: gética e na redução do consumo de combustíveis
«antes era o território, base do Estado-nação, hoje, fósseis. As dificuldades apresentadas para se chegar
as empresas escolhem os lugares que lhes interes- a um consenso, sobre este capítulo, resultava em
sam, e exigem que os Estados nacionais aparelhem um prejuízo aos trabalhos do CIN, da Convenção
esses pontos. As empresas globais ali se instalam. É de Mudanças Climáticas. Portanto, durante o quin-
nesses pontos privilegiados que elas produzem to PREPCOM a chave principal de trabalho, era
nacionalmente uma produção global, no mercado encontrar uma solução para a área de energia que
global travestido de mercado nacional… (1997:4) pudesse comprometer e envolver todos os países.
A Conferência do Rio, serviu, portanto, para colo- (EARTH SUMMIT BULLETIN, 1992a). No quin-
car a descoberto o conflito latente entre três visões to PREPCOM, todos os países pertencentes a
distintas, politizar o debate das inter-relações entre OPEP, insistiram na necessidade de voltar a trabal-
questões econômicas e a ecologia e, mundializar har o documento.
ainda mais a questão ambiental: Os espaços de negociação e a visões privile-
ÿ os países chamados em desenvolvimento – o giadas pelos grupos de países
chamado grupo dos 77 e,
ÿ duas outras correntes defendidas pelos países As visões defendidas pelos países mais industriali-
mais industrializados do mundo, diferenciadas zados do mundo poderiam ser inscritas em duas
entre si. correntes. De um lado, os países mais progressistas
Serviu também, para criar “uma nova visão, resul- e que arriscavam em propostas mais “verdes”, ora
tante da mobilização das ONG nas discussões seto- liderados pela Holanda, ora pela Alemanha, ora
riais», resultando, segundo Pereira(2000) em duas pelo Canadá. Procuravam mostrar como os impac-
proposições: tos negativos do desenvolvimento interferem no
i. Um novo formato para a conservação que, meio ambiente global e como certas tendências
ao invés de manter desenhos isolados de induziriam a um futuro preocupante. Temas como
parques e áreas preservadas, mostrou a for- mudanças climáticas e o aumento do nível dos
mação de corredores - caminhos biológi- oceanos produziam discursos acirrados nos
cos favoráveis à conservação das espécies; PREPCOMs, assim como, em consequência,
ii. Uma nova forma de ver a floresta – um respaldavam um conjunto de propostas e de com-
ecossistema que presta serviços ambien- promissos, que estes países esperavam ver acorda-
tais, e cujos produtos podem resultar do dos por todos. Evidentemente, a ameaça do aqueci-
mento global e da Holanda vir a desaparecer sob as
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águas dos oceanos não pode ser negligenciada, tance next year. And we will reform at home, pha-
fazendo deste pais um dos mais ativos no debate e sing out clear-cutting as a standard practice on U.S.
nas proposições. Normalmente, esses países partici- National Forests, and working to plant one billion
pavam com grandes delegações, compostas não trees a year.
apenas de representantes governamentais mas tam- We come to Rio recognizing that the developing
bém de cientistas e de organizações não governa- countries must play a role in protecting the global
mentais. Esta interação entre governo, sociedade e environment, but will need assistance in pursuing
ciência normalmente permitia respaldar posições these cleaner growths. So we stand ready to increa-
mais avançadas sobre como conservar e como se US international aid by 66 percent above the
desenvolver ao mesmo tempo, sem predar o meio 1990 levels, on top of the more than US 2,5 billion
ambiente. dollars that we provide through the world’s deve-
Por outro lado, os Estados Unidos e seus aliados da lopment banks for Agenda XXI projects. We come
ASEAN, normalmente defendiam posições que to Rio with more scientific knowledge about the
buscavam mostrar a culpabilidade dos países em environment than ever before and with the wisdom
desenvolvimento na geração de impactos ambien- that there is much, much we do that’s not yet
tais globais. Assim, sua posição acerca das conven- known. And we stand ready to share our science
ções de mudanças climáticas e de biodiversidade and to lead the world in a program of continued
centrava-se sobre as contribuições do desmatamen- research.
to na formação dos gases de efeito estufa e no direi- We come to Rio prepared to continue America’s
to, das empresas e dos governos, de explorarem e unparalleled efforts to preserve species and habitat.
de venderem, a preços de mercado, a tecnologia por And let me be clear. Our efforts to protect biodiver-
eles desenvolvida, entre elas inclusa a biotecnolo- sity itself will exceed – will exceed – the require-
gia. ments of the treaty. But that proposed agreement
Desta maneira, formavam-se dois grupos refratá- threatens to retard biotechnology and undermine
rios a novos posicionamentos de inserção da the protection of ideas. And unlike the climate
dimensão ambiental no processo de desenvolvi- agreement, its financing scheme will not work. And
mento e de mudanças do atual padrão de desenvol- it is never easy, it is never easy to stand alone on
vimento de consumo: os países em desenvolvimen- principle, but sometimes leadership requires that
to, que em nenhuma hipótese aceitavam alterar seus you do. And now is such a time.
processos e modelos de desenvolvimento, visto Let’s face it, there has been some criticism of the
como a possibilidade de repetir as mesmas etapas United States. But I must tell you, we come to Rio
realizadas anteriormente pelos países ricos e, pro- proud of what we have accomplished and commit-
curavam encontrar os meios financeiros (doações, ted to extending the record on American leadership
empréstimos e cooperação) para a realização destes on the environment. In United States, we have the
propósitos, e os EUA, que procurava encontrar world’s tighest air quality standards on cars and
alternativas para alterar os processos predatórios factories, the most advanced laws for protecting
dos países em desenvolvimento, mas que não lands and waters, and the most open process for
abriam mão de prosseguir dentro do seu próprio public participation.
modelo. And now for a simple truth. America’s record on
Assim, em seu discurso em 12 de junho de 1992 no environmental protection is second to none. So I
plenário da Conferência do Rio o Presidente dos did not come here to apologize; we come to press
Estados Unidos assinala: on with deliberate purpose and forceful action. And
«It is never easy to stand alone on principle, but such action will demonstrate our continuing com-
sometimes leadership requires that you do. And mitment to leadership and to international coopera-
now is such a time. We come to Rio with a propo- tion on the environment.» (The White House,
sal to double global forest assistance. We stand 1992:2-3).
ready to work together, respecting national down- Não apenas os Estados Unidos, mas, um conjunto
payment, we will double U.S. forest bilateral assis- de representantes de países, de instituições e orga-

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nismos multilaterais, associações de povos indíge- do Comitê principal, realizadas no decorrer das
nas, representantes da juventude e outros se pro- duas semanas da Conferência, presidentes, minis-
nunciaram nas Assembléias Plenárias da tros ou representantes dos países e das instituições
Conferência, embora o Presidente estadunidense o multilaterais e organizações não governamentais
fizesse na reunião mais importante – a de encerra- expressaram suas visões do processo e suas expec-
mento. tativas sobre os resultados já negociados.
Com os pronunciamentos, em plenário, os Estados- Na abertura houve apenas os pronunciamentos do
membros marcavam seus pontos de vista. Sendo Presidente brasileiro, do Secretario Geral das
estes globais, tocavam en passant os dois grandes Nações Unidas, do Secretario Geral da Conferência
blocos temáticos da própria Conferência e, sobretu- e do rei da Suécia, presidente da Conferência sobre
do, ressaltavam que suas políticas nacionais já rea- o Meio Ambiente Humano, de 1972. O rei da
lizavam estratégias de sustentabilidade. Suécia, manifestou que «governments cannot do it
Procuravam, desta maneira, mostrar que as preocu- alone» expressando a importância do papel das
pações com os problemas globais e com a sustenta- ONG é vital para o sucesso, a longo prazo, da
bilidade do desenvolvimento integravam o quoti- Conferência e que o acompanhamento de sua
diano nacional e já estavam inseridas em suas implementação é essencial, e deveria ser seguido de
ações. Uma prestação de contas, com um balanço perto, tanto quanto a própria Conferência o foi.
sempre favorável ao país que se pronunciava. Outra sessão importante do plenário, a segunda,
Apesar da previsão de conclusão das negociações, teve pronunciamentos do G-77, da União Européia,
nos quatro PREPCOM, previamente acordados, da Agência de Proteção do Meio Ambiente (EPA)
ainda restavam questões indefinidas em alguns dos dos EUA. O ministro do meio ambiente e assuntos
textos da Agenda XXI e de outros documentos a urbanos do Paquistão, falando em nome do G-77,
serem adotados pela Conferência, não estando estes criticou a inadequação das convenções de mudan-
completamente aceitos por todos os países mem- ças climáticas e de biodiversidade, tanto quanto
bros da ONU. No Rio de Janeiro, ao iniciar a outros acordos da CNUMAD que não deveria
Conferência, foi necessário voltarem-se à solução «repetir cada shortcoming». Portugal, falando pela
destes assuntos polêmicos, entre eles florestas, União Européia, informou que a Comissão
transferência de tecnologias e recursos financeiros Européia endossou a Declaração do Rio e insistiu
para apoiar o desenvolvimento da Agenda XXI. na importância dos arranjos institucionais do segui-
Tais procedimentos servem para exemplificar o mento e da implementação da Agenda XXI. O
grau de dificuldade dessa grande negociação e administrador da Agência de Proteção Ambiental
reforçar, ainda mais, que a Conferência foi, de fato, dos EUA explicou que os EUA davam a mais alta
um encontro diplomático internacional, e não uma prioridade para os assuntos florestais. Argumentou
assembléia de ambientalistas ou de outros ativistas sobre a rápida implementação da Convenção de
interessados no tema. Mudanças Climáticas e a necessidade da CNU-
A Conferência foi organizada por meio de sessões MAD desenvolver um plano de ação para o contro-
plenárias, sessões do Comitê principal (em amplas le das fontes terrestres de poluição marinha. Israel,
reuniões) ou em reuniões mais restritas realizadas que havia duramente criticado a polinização dos
pelos 8 grupos de contato temáticos (recursos documentos da CNUMAD, restringiu-se, na fala do
financeiros, tecnologia, atmosfera, princípios de diretor geral do Ministério do Meio Ambiente, a
florestas, biodiversidade e biotecnologia, água apresentar 10 princípios que deveriam regular as
potável, instrumentos legais e instituições) criados relações do homem com o meio ambiente. Ao
para terminar as negociações pendentes da Agenda encerrar esta sessão, o ministro alemão do meio
XXI, da Declaração do Rio e dos princípios sobre ambiente e segurança nuclear, conclamou pelo for-
florestas. Estes grupos de contato6, temáticos, tin- talecimento de comportamentos ambientalmente
ham a responsabilidade de “limpar” os textos ainda sadios, pela inclusão das ONG no processo pós-
indefinidos constituindo-se, assim, no 5° PREP- CNUMAD e para o encontro dos signatários da
COM. Na sessão plenária de abertura e nas sessões Convenção de Mudanças Climáticas que seria rea-

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lizado na Alemanha em 1994. (EARTH SUMMIT fizeram com que o Comitê Principal adotasse o
BULLETIN, 1992b). texto apesar das reservas mantidas pela Arábia
Ao término do V PREPCOM, os três principais Saudita.
documentos (Agenda XXI, Declaração do Rio e No âmbito da Agenda XXI, a falta de consenso se
Princípios sobre Florestas) ainda apresentavam inscrevia majoritariamente nos aspectos vinculados
parte dos textos em colchetes, contendo vários pon- aos recursos financeiros a serem disponibilizados
tos críticos os quais deveriam ainda ser negociados para a implementação da mesma. Havia sido pre-
no nível ministerial nos últimos dois dias da visto pelo Secretariado da CNUMAD que seriam
Conferência, nas reuniões plenárias. Na Agenda necessários cerca de US$ 125 bilhões, por ano, de
XXI, os problemas apresentados pelos capítulos 9 – ajuda oficial internacional (ODA7) para que os
Atmosfera, 11 – Desmatamento e 16 – países em desenvolvimento pudessem acelerar seus
Biotecnologia, relacionados com outros instrumen- respectivos processos de desenvolvimento com
tos ou convenções (convenção de mudanças climá- metas ambientais. Este foi o valor tomado como
ticas e de biodiversidade e princípios autorizativos referência nas inúmeras controvérsias.
sobre florestas), e outros capítulos ainda apresenta- Existiam também outras pendências, relacionadas
vam inúmeros colchetes. aos capítulos: 19 (químicos tóxicos: recursos finan-
Um dos temas mais polêmicos, os princípios sobre ceiros); 20 (resíduos perigosos decorrentes de ações
florestas, foi objeto de muita discussão ainda militares); 22 (resíduos radioativos: estocagem de
durante o quinto PREPCOM, sendo decidido resíduos radioativos próximos aos ambientes
somente após ser levado à plenário, na reunião marinhos); 31 (comunidade cientifica e tecnológi-
ministerial dos Estados-membros. Os contenciosos ca: princípios éticos apropriados); 33 (recursos
situavam-se sobre o direito de se desenvolver, o financeiros: reafirmação da ampliação dos níveis de
interesse global das florestas, as aproximações com comprometimento do PNB dos países desenvolvi-
uma possível futura convenção de florestas, a com- dos para o ODA; reposição de fundos do IDA8 em
pensação histórica pelas perdas florestais, o recon- “custos incrementais” e condicionalidades do
hecimento da capacidade dos indígenas, os recursos GEF); 34 (transferência de tecnologia: tecnologia
financeiros para a gestão florestal e avaliação do ambientalmente saudável); 38 (arranjos institucio-
impacto ambiental e o comércio internacional dos nais internacionais: estabelecimento da Comissão
produtos florestais e o papel das mesmas no ciclo de Desenvolvimento Sustentável), algumas das
de carbono. Neste caso, a Malásia tornou-se a quais foram suprimidas, visto não ter havido acor-
porta-voz principal na defesa das autonomias do. Os meios de implementação de cada capitulo
nacionais sobre o uso da floresta. Situação esta foram uniformemente modificados de maneira a
extremamente cômoda para o Brasil, por que a refletir que apresentavam apenas uma magnitude de
Malásia expressava exatamente o seu ponto de custos, as quais dependiam das estratégias e dos
vista, e com isto não se colocava, o Brasil, em situa- programas associados às atividades dos capítulos.
ção de vulnerabilidade frente aos outros países e à Os capítulos: 26 (povos indígenas); 27 (ONG); 30
opinião publica nacional e internacional. (negócios, comércio e industria); 32 (agricultores);
Os textos dos capítulos 9 e 16 deveriam refletir os 35 (ciência para o desenvolvimento sustentável); 36
acordos já estabelecidos nas convenções e os esfor- (educação, ensino e treinamento); 37 (fortalecimen-
ços dos diversos governos se fizeram nesta direção, to institucional); 39 (instrumentos jurídicos interna-
mesmo que alguns grupos de países continuassem cionais); 40 (informações para tomadores de
apresentando reservas. No capitulo sobre atmosfe- decisões) foram rapidamente adotados.
ra, as polêmicas situavam-se sobre novas e renová- Quanto à transferência de tecnologia, esta resumia-
veis fontes energéticas, melhoria da eficiência ener- se principalmente na questão da transferência de
gética, fontes energéticas ambientalmente sadias e tecnologias ambientais do norte para o sul e das tec-
as necessidades de conferências regionais em trans- nologias ambientalmente sadias. Os países em
portes e meio ambiente, posições contrarias da desenvolvimento insistiam na transferência em ter-
Arábia Saudita, apoiada pelo Kuwait e Nigéria, mos concessionais enquanto os países do norte

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continuavam a insistir que essa tecnologia deveria Nações Unidas.
ser disponibilizada a preço de mercado. A O ECOSOC - Departamento de Desenvolvimento
Comunidade Européia e os países nórdicos, man- Econômico e Social do Secretariado das Nações
tendo-se sempre em posições intermediárias, defen- Unidas: “ reconhece a importância das empresas transnacio-
diam que a transferência de tecnologia deveria dar nais em termos de domínio de tecnologia, recursos econômi-
se em termos favoráveis não apenas respeitando os cos e também dos impactos ambientais que elas produzem ”
direitos de propriedade intelectual mas em especial O ECOSOC deteve-se a preparar padrões de desen-
as necessidades dos países em desenvolvimento, volvimento sustentável que incluiria também trans-
como um todo. ferência de tecnologia não poluídora em termos
Outro assunto, de extrema polêmica, relacionava-se favoráveis aos países em desenvolvimento, o qual
ao mandato e as operações do Global considera que “o conceito de proteção ambiental esta
Environmental Facilities - GEF como o principal estreitamente ligado ao crescimento e ao progresso dos países
mecanismo de recursos para as convenções globais. em desenvolvimento” (CNUMAD, 1992d: 2).
Esta questão relacionava-se especialmente à pro- O PNUD - Programa das Nações Unidas para o
posta de envolvimento dos países em desenvolvi- Desenvolvimento, relacionou meios e estratégias
mento no Comitê Executivo do GEF, a qual encon- que deveriam ser utilizadas para a transição para o
trava resistência dos países doadores, que conside- desenvolvimento sustentável, argumentando que os
ravam haver incompatibilidade que os utilizadores custos adicionais da transição do Sul ao desenvol-
dos fundos fossem seus próprios normalizadores. vimento sustentável deveria ser reconhecido como
O Encontro de personalidades eminentes em finan- uma obrigação das nações mais ricas. Considerou
ciamento global para o desenvolvimento e meio que se cada pais doador repassasse pelo menos
ambiente, realizado em Tóquio (15-17 abril 1992), 0,7% do seu PIB, ao invés de 0,35%, um volume
explicitou um posicionamento sempre subentendi- significativo de recursos seria colocado à disposi-
do nas entrelinhas, de seus desinteresses e resistên- ção dos países Sul. Além do discurso relativo ao
cias em aumentar o volume de contribuições: «Most financiamento do desenvolvimento sustentável, o
of the funds required by the developping countries to imple- PNUD incluiu outros aspectos fundamentais para
ment Agenda XXI, the program of cooperative action to be que êxito do plano global: “reconhecimento de que a
adopted in Rio, will come from these countries themselves» degradação não é um problema isolado; consciência de que as
(Earth Summit News,1992a). Para estas personali- prioridades ambientais em diferentes estágios de desenvolvi-
mento não permanecem inalteradas e, alterações nas carac-
dades, uma transição ao desenvolvimento sustentá- terísticas e distribuição do crescimento futuro, por este ser um
vel requeria a convergência de alguns fatores, como imperativo e não uma opção (UNDP-PNUD, 1992).
o incremento de acesso aos mercados dos países A Comissão Mundial de Meio Ambiente e
industrializados; o incremento dos fluxos de inves- Desenvolvimento - World Commission on
timentos privados e transferência de tecnologia; Environment and development 9: reuniu alguns
assim como a necessidade de solução aos proble- temas fundamentais para a transição para o desen-
mas de divida externa dos países em desenvolvi- volvimento sustentável, entre eles a questão da
mento. Em contrapartida, numerosos organismos pobreza, produção e consumo, o sistema do comér-
insistiam que as condições de transição so pode- cio internacional e as políticas econômicas. Nestas,
riam ocorrer com um substancial suporte externo. reafirma a necessidade de que as regulações, os
Diferentes enfoques marcavam posições antagôni- padrões de performance, taxas, incentivos e outros
cas, em uma ambiência multivariada, entre noções instrumentos precisam refletir custos ambientais e
conservacionistas e desenvolvimentistas. econômicos e reforça que esta Comissão poderia
Organismos multilaterais acompanhar as políticas, e os processos, voltados
para a transição para o desenvolvimento sustentá-
Grande parte dos organismos multilaterais ressalta-
vel.
vam suas atribuições e competências para a imple-
mentação dos programas da Agenda XXI e dos Estados-membros
Acordos assinados, como uma forma de garantir As posturas adotadas pelos países-membros refor-
sua própria sobrevivência no corpo do Sistema das çaram as idéias de que a Conferência constituía-se

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num mercado, no qual trocavam-se os compromis- ainda não tenha havido compreensão e acordo financeiro e
sos de proteção ao meio ambiente – desejo dos transferência de tecnologia ambiental para a implementação
países do Norte, pelos financiamentos para o desen- das determinações da Conferência” (CNUMAD, 1992c:
volvimento – desejo dos países do Sul. Em diversos 3-4)
fóruns, as alianças já existentes entre grupos de A aliança CANZ (Canadá – Austrália - Nova
países se mantinham, ora elaborando novas propo- Zelândia) ao longo do processo mostrou-se pronta a
sições temáticas, ora nas proposições de nova reda- fazer avançar as negociações, concretizando propo-
ção dos documentos em debate. Particularmente sições amplas como um reflexo da adoção de estra-
polêmicos foram os questionamentos sobre os tégias, planos e programas nacionais, insistindo
modelos de desenvolvimento e a controvérsias sobre as questões de prazos das Convenções e da
geradas entre as defesas de uma moratória ecológi- Agenda XXI. Assim, o Canadá ressalta a adoção do
ca, em função da degradação e do desperdício no Plano Verde, que lançou as bases do desenvolvi-
uso de recursos naturais e os ataques aos padrões de mento sustentável do pais, cujas decisões foram
“transparentes, e o processo incluiu todos os setores da socie-
consumo dos países industrializados. dade e as soluções tomadas foram claras e evidentes para
Os posicionamentos dos 178 países participantes todos”. Os compromissos estabelecidos pelo Plano
são exemplos significativos para demonstrar as Verde são mais restritos que as convenções e proto-
sutilezas dos conflitos estabelecidos entre os dife- colos existentes: “a emissão de gases causadores do efeito
rentes governos, e como cada um procurou cooptar estufa, não sujeitos ao Protocolo de Montreal serão reduzidos
este processo, na defesa de seus interesses. aos níveis de 1990, por volta do ano 2000. A produção de
Grosso modo, pode-se agrupar os países partici- cloro-fluor-carboneto usado na fabricação de aerosóis cessará
pantes em conjuntos, em função das abordagens de em 1995. O sistema de parques nacionais estará pronto até o
ano 2000; as emissões de dióxido de sulfureto serão reduzidas
seus discursos. Apesar do arranjo tradicional entre em 50% no leste do Canadá, por volta de 1994. Haverá uma
G-7 e G-77, o jogo de forças e o poder de conven- redução do desperdício de 50% até o ano 2000”. A Nova
cimento das argumentações utilizados pelos grupos Zelândia declarou que «seu país e vizinhos do Pacifico
de países nesta conferência político-diplomática, Sul em nada contribuíram para o aquecimento terrestre e
levou à uma reorganização das alianças entre serão os primeiros a sofrerem em caso de aumento do nível
países. Novos acordos estruturaram-se entre países dos mares» (CNUMAD, 1992d: 7)
europeus, emergentes e insulares; um grande espa- Países insulares uniram-se em posicionamentos
ço foi conquistado pelo agrupamento Canadá- rígidos sobre o compromisso das grandes potências
Austrália-Nova Zelândia. Houve também o reforço na situação de crise ambiental global em que se
de inúmeros posicionamentos da aliança EUA- encontra o final do século XX. Liderados pela
ASEAN. Holanda, as discussões mais acirradas deram-se
Os pronunciamentos, em plenário, da Malásia e tanto no âmbito do CIN da Convenção de
Coréia enfatizaram argumentos já apresentados nas Mudanças Climáticas quanto nos PREPCOM e na
conferências regionais anteriores e no próprio própria Conferência. Procuravam não transigir
PREPCOM: a Malásia insistindo que “o Norte precisa sobre os prazos e a adoção de medidas imediatas.
ajudar o Sul a acelerar seu desenvolvimento, providenciando Países insulares mais pobres avalizaram a argu-
o necessário fluxo de recursos e tecnologia para isso, além de mentação das ilhas Seychelles, que considerou a
mudar a intensidade de seus padrões de produção e consumo
para reduzir os desgastes e os estragos que atualmente impõe
responsabilidade dos países industrializados quanto
ao ambiente mundial. Sem estas atitudes os países desenvol- ao financiamento dos programas de recuperação
vidos não terão autoridade moral suficiente para pedir ao resto ambiental e desenvolvimento sustentável, pois “os
do mundo para preservarem recursos e pararem de poluir”, países em desenvolvimento não precisam só de encorajamen -
tendo, o ministro das relações exteriores desse pais to e aconselhamento, mas de apoio efetivo através de finan-
insistido que a CNUMAD ter-se-ia fragilizado ao ciamentos e tecnologias”. (CNUMAD, 1992d: 5).
ressaltar apenas os impactos da degradação como Os EUAmantiveram-se irredutíveis em suas propo-
resultantes das comunidades e companhias do Sul e sições. Durante o período preparatório houve uma
não destacar a pesada contribuição das transnacio- forte rejeição à proposta de uma convenção de flo-
nais para a situação mundial de contaminação e restas que gerou grande mobilização dos países
degradação dos recursos. A Coréia: “lamentou que possuidores de florestas tropicais, liderados pela

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Malásia. Esta, provocou a substituição da proposta demonstrassem “competência e relevância”, uma garan-
de instrumento jurídico por um conjunto de princí- tia de participação, somente possível por meio de
pios, sem valor legal. Desde a abertura da procedimentos de credenciamentos.
Conferência, os EUA ratificou publicamente sua Tais organizações teriam o direito de apresentar
visão de “ deste mercado ” declarando-se não assi- declarações orais e também por escrito, nos encon-
nante da Convenção de Biodiversidade, propondo tros formais e, se os coordenadores aceitassem,
em troca um programa “Forests for the Future também nas sessões das negociações governamen-
Iniciative” e uma futura convenção sobre florestas. tais informais. Mesmo sabendo que não podiam ter
Na conclusão dos trabalhos do Comitê Principal direitos nas negociações, foram elas que consegui-
sobre a Declaração do Rio, expressou-se “que reser- ram superar impasses, em determinados momentos
vava o direito de voltar atrás no principio 3, relacionado ao e instâncias, com suas propostas de redações alter-
‘direito para desenvolver’, o qual estava ainda indefinido no nativas aos textos sobre os quais haviam inúmeras
documento de princípios sobre florestas ”. (Earth Summit discordâncias. Muitas destas propostas por ter sido
Bulletin, 1992d). RIBEIRO (1999) analisou os encabeçadas pelas delegações oficiais acabaram
resultados deste posicionamento irredutível, quan- por serem aceitas por todos.
do os EUA foram o grande ausente das Durante o PREPCOM II, diversos subgrupos de
Convenções. A figura 3.2 retrata os países signatá- ONG formavam-se para prepararem suas interven-
rios da Convenção de Biodiversidade. ções, normalmente sob forma de declarações, abor-
2. As ONG e a consolidação da governan- dando especialmente as questões de biodiversidade
ça e proteção global de florestas. Durante os períodos
entre as sessões dos PREPCOM este grupo, chama-
A participação das organizações não-governamen- do grupo de estratégia de ONG, organizou-se para
tais durante todo o processo preparatório foi cres- manter-se mobilizado e passou a se reunir para dis-
cente, em número e em influência, sobre os temas e cutir e trocar informações sobre os documentos a
os acordos discutidos e negociados. Todavia, essa serem assinados na conferência. As ONG brasilei-
evolução não foi tranquila ao longo de todo o pro- ras presentes neste PREPCOM foram o Fórum
cesso. Brasileiro de ONG , o Instituto de Pré-Historia,
As diferentes visões dos Estados-membros de Antropologia e Ecologia (IPHAE), a Fundação
como, o que seria e que tipo de ONG estaria parti- Vitoria Amazônica, Ecotropic e Pró-Rio.
cipando, deu-se com conflitos de diversas ordens, Para manter a mobilização foram estabelecidos oito
muitas vezes não explicitados. Países como grupos de trabalho para tratarem dos temas relacio-
Tunísia, Argélia e Mauritânia apoiavam-se na nados à Carta da Terra, agenda XXI, mecanismos
Resolução 44/228 para obstruir, legalmente, a financeiros, transferência de tecnologia, institui-
ampliação do leque de participações. De acordo ções, Convenção de Florestas, Convenção de
com a Resolução, a participação estava garantida Alterações Climáticas, Convenção de
para “ as organizações não-governamentais relevantes, na Biodiversidade. Além desses grupos de trabalho, o
posição consultiva com o Conselho Econômico e Social, e conjunto de ONG envolvidas procuravam aumentar
contribuísse com a Conferência, de maneira apropriada ”.
a inclusão de outras no processo preparatório;
A definição adotada pela ONU para organizações consolidar informações relevantes para atuarem
não governamentais é ampla, “ comumente compreen- dentro das conferências temáticas, disseminar as
dida como organizações de pessoas voluntárias e sem fins
informações, canalizar e monitorar os outros pro-
lucrativos, incluindo os grupos de pressão ”, justificava
cessos de negociação intergovernamental.
posicionamentos de abertura à participação ampla.
(UNCED 92, 1991a).
Finalmente, ficou definido que as ONG têm um
“ papel-chave e legítimo nas preparações para a Conferência ” Se no decorrer dos dois primeiros PREPCOM as
(UNCED 92, 1991b: 1-2). ONG se depararam inicialmente com questões de
Durante o I PREPCOM decidiu-se aceitar a partici- procedimento para o seu cadastramento, após solu-
pação de todos os setores da sociedade e credenciar cionado esse aspecto, dispunham de autorização
aquelas de escopo nacional e internacional que para apenas realizarem declarações de caráter glo-

102
103
bal ; no terceiro PREPCOM, a estratégia de fazer Se o grupo CANZ era tão aberto e favorável à par-
lobby foi adotada. No final do III PREPCOM já ticipação mais ampla da sociedade nas negociações
havia sido aprovado pelo plenário da Conferência o formais e aceitavam contribuições, o grupo do G-
credenciamento de 355 não-governamentais. As 77 procurava obstruir, adotando uma posição restri-
ONG elaboraram mudanças textuais em documen- tiva, procurando ligar esta participação à outros
tos, agiram na tentativa de convencer governos a assuntos. De uma certa maneira, o G-77 também
defenderem também suas causas vinculadas à rela- pressionava e condicionava a discussão das
ção pobreza/riqueza, às florestas e às questões questões vinculadas ao meio ambiente e desenvol-
femininas. vimento ao debate anterior das relações do comér-
O crescimento numérico destas organizações, mun- cio internacional e da dívida dos países em desen-
dialmente, estão refletidas na figura 3.3. volvimento. A validade deste tipo de discussão era
As expectativas iniciais de participação foram questionado por diversas ONG vinculadas a institu-
superadas e, até o IV PREPCOM haviam sido cre- tos de pesquisa, indicando o GATT como local ade-
ditadas 1420 organizações10. Em maio de 1992 quado à discussão dessas questões e não a CNU-
esperava-se que o número de representantes na MAD. A pressão das ONG se exercia em temas de
Conferência atingisse 2500 pessoas. Para o extrema importância e, para os países do G-77, era
Secretariado da Conferência, tais números já super- evidente que o aumento e maior participação deste
avam as expectativas iniciais. No decorrer da grupo poderia causar-lhes problemas.
Conferência ocorreram diversos incidentes e muita Ao mesmo tempo, as ONG chamavam atenção
pressão, apoiado sobretudo pelos meios de comuni- sobre a existência de vários outros assuntos que não
cação, o que resultou em aumento do quantitativo estavam sendo levados em consideração. O papel
presente. da mulher frente às questões de meio ambiente e
Esta maciça presença foi significativa pois permitiu desenvolvimento que sempre foi visto marginal-
não apenas o desenvolvimento de novas relações mente. A percepção de que pobreza, degradação e
com governos, mas, sobretudo, incentivou a forma- subdesenvolvimento no Sul é uma questão resul-
ção de novas redes, sempre que estas estivessem tante da reprodução dos modelos de grande consu-
baseadas em problemas internacionais, interseto- mo e super desenvolvimento do Norte. A necessi-
riais, entre meio ambiente e desenvolvimento. dade de transformar as relações econômicas entre
Redes estas que consolidaram-se nos anos Norte-Sul. As consequências do impacto ambiental
seguintes, construindo importantes parcerias na que se vinculam à crescente feminilização da
implementação de experiências e de modelos locais pobreza. Assim, propunham «quaisquer medidas resul-
de desenvolvimento, nos trabalhos de preservação, tantes desta Conferência deveriam incorporar as incertezas
no controle de problemas ambientais, na pressão decorrentes da relação Norte-Sul, no que concerne as questões
econômicas e culturais». (UNCED 92, 1991b:9).
sobre o Estado e grupos econômicos.
Durante o processo preparatório, o tratamento das Entre as criticas a respeito de temas não considera-
questões transetoriais foi um dos focos de ação dos como prioritários, o Comitê Intertribal conside-
mais importante. Questões que incluíam pobreza e rava inaceitável a falta de atenção dada, pelo
degradação ambiental, meio ambiente e desenvol- Secretariado da Conferência, aos povos indígenas,
vimento, recursos financeiros, transferência de tec- lembrando que eles foram “relegados a plano secundário
nologia, aspectos da saúde ambiental no desenvol- nas relações entre os povos”. A base das propostas indí-
vimento e educação, foram analisadas intensamen- genas inseridas no documento que foi entregue ao
te pelas ONG participantes. Temas para os quais Secretariado no dia 10 de junho de 1992 assentava-
apresentavam visões inovadoras, estratégias e pro- se sobre “a luta pela preservação dos seus territórios e o
intercâmbio tecnológico com os povos não indígenas”
postas concretas de atuação. Mobilizações e propo-
(CNUMAD, 1992b: 2).
stas que serviram como ponta de lança para o esta-
belecimento de parcerias com representantes dos 3. Os êxitos e os fracassos da Conferência
governos mais abertos a este diálogo, podendo ser
Para o Itamaraty, prevaleceu o chamado «Espírito
citado entre estes o grupo CANZ.
do Rio» durante toda a preparação e a realização da

104
Conferência. O “espírito do Rio” era o esforço para 45/212, o Comitê Intergovernamental de
conciliar duas vertentes: a primeira, da necessidade Negociação (CIN), a Assembléia Geral das Nações
dos países industrializados compreenderem que Unidas assume a liderança do processo negociador,
sem desenvolvimento não há cuidado com o meio estabelecendo um secretariado próprio sob sua res-
ambiente; a segunda, da sensibilidade para as exi- ponsabilidade, ao invés de permanecer sob a
gências com a natureza, sem a qual muitos países influência, extremamente técnica da OMM e do
não poderiam contar com a adesão, solidariedade e PNUMA. A discussão politizada no âmbito da
recursos dos países industrializados para suas aspi- Assembléia Geral era favorável aos interesses do
rações de avanço econômico, científico e tecnológi- Brasil.
co. Na visão do Embaixador Azambuja, principal arti-
Nesta visão, ressaltada em BRASIL (1993:11), culador brasileiro12 nas negociações, outros êxitos
mostrou que o país buscava, com esta Conferência, foram relacionados com a organização e o avanço
demonstrar cinco grandes objetivos: conceitual:
“ - criar a primeira grande negociação multilateral “ a própria realização da Conferência, que contou
universal pós-guerra fria e resgatar esse indispensá- com a presença de quase todos os países. As difi-
vel tipo de multilateralismo, iniciando assim um culdades significativas na organização foram o
novo ciclo de grandes conferências que redefinis- acolhimento do Dalai Lama no país frente ao posi-
sem e redesenhassem as regras da cooperação inter- cionamento do governo chinês e a acomodação das
nacional; posições “ inegociáveis ” que a Malásia e os países
- credenciar-se como um grande ator internacional árabes participavam durante todo o processo nego-
e de atuar também como mediador universalmente ciador.
aceito; a grande conquista conceitual : a cristalização do
- viabilizar a realização no futuro, em capitais de conceito de desenvolvimento sustentável e a sua
países em desenvolvimento, de grandes aconteci- socialização. A Conferência do Rio tornou-se refe-
mentos internacionais, fazendo atrair para eles a rência (as conferências que vieram depois foram
sede de futuros centros de pesquisa e excelência, denominadas Rio +5, Rio +10). Kyoto se constituiu
resultante dessas grandes conferências; em outra grande referência. Falar em meio ambien-
- oferecer à opinião pública brasileira momentos de te, é falar de Estocolmo, Rio e Kyoto”.
prestígio e reconhecimento, mostrando o país como No entanto, este sucesso tem que ser relativizado,
exemplo de democracia em funcionamento, ao visto ter sido, de certa maneira, transitório. As eta-
ampliar o espaço às organizações não-governa- pas posteriores de detalhamento da Convenção de
mentais e movimentos alternativos e aceitar a Mudanças Climáticas impuseram a reabertura das
constatação dos problemas e dificuldades da socie- negociações (Berlim, Kyoto, Buenos Aires, Haia,
dade brasileira; Marrakech). Os avanços obtidos no Protocolo de
- demonstrar como é possível preservar a soberania Kyoto e os recuos posteriores advindos das
sobre nosso território e recursos, especialmente os constantes pressões dos EUA e sua recusa em acei-
amazônicos11, ao mesmo tempo, demonstrar dispo- tar ou cumprir condicionalidades previstas no
sição para o diálogo, cooperação e a negociação”. Anexo I da Convenção. A insistência dos EUA na
Consideraram a Convenção de Mudanças inclusão do Brasil, China, México, Índia e Coréia
Climáticas como um dos êxitos da Conferência. do Sul no Anexo I reforça a idéia anteriormente
Assunto de grande importância, começou a ser tra- analisada da transformação do meio ambiente em
tado num grande foro de discussão técnica a nível mercadoria valorizada.
internacional - o Painel Intergovernamental sobre A discussão sobre florestas
Alterações Climáticas IPCC - estabelecido pela
resolução 43/53 da Assembléia Geral das Nações As negociações internacionais a respeito das flores-
Unidas, em 1988. tas foi outro aspecto que envolveu muito trabalho e
Para o Brasil, o deslocamento dos debates para incorporou a presença majoritária de delegações
outro foro era fundamental. Ao criar, pela resolução oficiais, ONG, instituições internacionais multilate-
rais e organizações do próprio sistema das Nações
105
Unidas. No âmbito das Nações Unidas foi sempre a dução madeireira. Assim, ao invés de propor uma
FAO a agência encarregada das questões de flores- Convenção de Florestas, os Amigos da Terra procu-
tas, o que não agradava a diversos Estados-mem- raram mostrar a necessidade de se ter um instru-
bros; o tema teve que ser negociado no âmbito dos mento que abordasse os problemas de desmatamen-
PREPCOM. Esta negociação se mostrava dificíli- to.
ma e ressaltava ainda mais a polarização Norte-Sul. No avanço da negociação dos instrumentos sobre
As tentativas de despolarização desta questão sur- florestas, o Canadá encabeçou algumas proposi-
giram em vários foros regionais com a proposição ções, elaborando mesmo um documento geral com
de programas específicos. abrangência dos tipos de florestas existentes no
Este contexto internacional de desconfiança, de mundo. Este documento buscava um consenso
imposição de culpas sobre os países detentores de entre as opiniões das diversas delegações governa-
florestas, foi o pano de fundo das primeiras dis- mentais e enfatizava declarações anteriores, man-
cussões e da estruturação do PPG-7. tendo a polarização entre Norte e o Sul. O G-77
As origens da proposta de uma «Convenção de também apresentou suas demandas, em outro docu-
Florestas» remontam à cúpula do G-7, em Houston, mento.
1990, e partira dos EUA. Nesta mesma reunião, a No decorrer dos trabalhos do III PREPCOM, uma
Alemanha apresentou uma proposta de apoio à pro- infinidade de documentos dificultavam a constru-
jetos de controle do desmatamento na Amazonia, o ção de uma visão convergente. Os argumentos
que seria o embrião do PPG-7. A declaração de defendidos pelo G-77 levaram ao questionamento e
Houston é aprovada com o compromisso da doação à rejeição do documento apresentado pelo Canadá,
de recursos para a proteção das florestas tropicais considerando ser o mesmo inaceitável, pois tradu-
brasileiras. zia apenas o pensamento dos países desenvolvidos.
No andamento das negociações, alguns critérios Este quadro reduzia as possibilidades de avanço na
foram estabelecidos como básicos: o primeiro deles finalização de um documento legalmente instituído.
tratava da participação imprescindível dos países A este complicado quadro, incorporam-se ainda um
em desenvolvimento, onde a maioria das florestas conjunto de reuniões formais, encontros informais-
tropicais se localizam. O segundo, uma coordena- informais13 e proposições do grupo ad hoc. Se com-
ção melhor e a compreensão de que o trato das pararmos com os processos específicos das conven-
questões florestais não deveria ser realizado sem a ções de clima e de biodiversidade desenvolvidos
integração com a Convenção de Biodiversidade e a pelos secretariados específicos, a questão florestal
Convenção de Mudanças Climáticas. Foi estabele- não apenas se complicava, pelo próprio tema em si,
cido um grupo de trabalho ad hoc, presidido pela mas sobretudo por questões processuais e organiza-
Indonésia e vários foros regionais para discuti-la. cionais e de competência institucional. A FAO,
As diferentes visões serviram para polarizar o deba- enfraquecida e rejeitada pela maioria dos Estados-
te e as propostas de cada grupo. O primeiro, consti- membros perdeu, de fato, a sua principal função.
tuído pelos Estados Unidos e Suécia, defendiam Este quadro contribuiu fortemente como argumen-
uma convenção legalmente obrigatória ; o segundo, to dos países que bloqueavam a negociação. No
contrapunha-se fortemente, baseado na atuação da final da terceira semana, conseguiu-se um docu-
Malásia em nome do G-77, não aceitando que se mento consolidando os princípios florestais, o qual
discutisse uma convenção; o terceiro, defendia a posteriormente transformou-se no esboço da decla-
vinculação das questões florestais na estrutura da ração de princípios florestais, não obrigatórios.
Convenção de Mudanças Climáticas. No final do terceiro PREPCOM as ONG propuse-
Destaca-se, aqui, a contribuição dos Amigos da ram um acordo global de proteção florestal para
Terra na difusão da idéia de que outros valores flo- atender objetivos como: “a eliminação de todos subsídios
restais deveriam ser considerados, entre eles os nacionais e internacionais favoráveis ao comércio de madei-
benefícios para as populações que habitam estes ras, a construção de estradas em florestas virgens e as políti-
cas nacionais governamentais que favorecessem os desmata-
ecossistemas, e não apenas a sua conservação, mentos; eliminar até 1995 os mercados internacionais para
visando superar a crise florestal e os limites da pro- madeiras que não fossem produzidas através do manejo flo-

106
restal; garantir o direito à terra às populações indígenas, florestais nacionais, reforçando a idéia de fortalecimento da
respeitando seus limites territoriais; e aumentar até 1995 o cooperação internacional; da provisão de recursos financeiros
número de hectares de florestas virgens permanentemente específicos para os setores econômicos capazes de promover
protegidas, com a maior destinação de recursos para as áreas a conservação de florestas”. (BRASIL, 1993:64-65).
protegidas, novas áreas ou as já existentes”. Este acordo Estes posicionamentos eram constantemente forta-
global estaria também baseado em quatro princí- lecidos por raciocínios que contrapunham as
pios fundamentais destinados a demonstrar o valor questões de desmatamento ao da formação de gases
da floresta, entre eles, i) o envolvimento das populações de efeito estufa na atmosfera.
locais, ii) o reconhecimento de sua relação com a biodiversi- O debate sobre o desmatamento, protagonizado
dade, iii) sua função de captura de reserva de CO2 e iv) outros
benefícios além dos produtos madeireiros que a floresta pro-
pela comunidade internacional, foi marcado por
move» (UNCED 92, 1991b:13). posições contrárias: de um lado, países como o
A partir do terceiro PREPCOM as tensões, entre as Brasil e a Malásia, que se destacaram e que eram
proposições dos países desenvolvidos e as proposi- apontados como portadores de uma posição dura
ções dos países do G-77, se acirraram. Os primeiros contra ingerência estrangeira em matérias conside-
continuavam enfatizando, sobretudo, os aspectos radas restritas à soberania nacional; e, de outro
relacionados à proteção do meio ambiente, enquan- lado, países que exerciam pressões para «salvar as
to os segundos voltavam-se para as questões finan- florestas tropicais úmidas» (MMA, 1997), aos quais
ceiras, comerciais, de transferência de tecnologia e muitas organizações não governamentais recorriam
outros aspectos do desenvolvimento, negligencia- na busca de apoio financeiro a projetos específicos.
das pelo G-7, e criticavam duramente a maneira As posições brasileiras não permitiam particulari-
pela qual a questão da proteção do meio ambiente zar a Amazônia nem focalizar unicamente a contri-
era ressaltada. Para os países do G-77 era funda- buição do desmatamento para os problemas glo-
mental que as questões acerca do seu desenvolvi- bais. Embora esse fosse o foco da atenção interna-
mento passassem a fazer, de fato, parte das nego- cional, notadamente a partir da morte de Chico
ciações da Conferência, visto ser esta a problemáti- Mendes em 88, o governo brasileiro argumentava
ca que preocupava a maioria dos países do planeta. que o compromisso de uma boa gestão sobre os
recursos florestais amazônicos era interesse nacio-
Princípios sobre Florestas e Agenda XXI. nal e aliou-se à países como a Malásia e Indonésia,
A forte pressão dos países do Sul, capitaneado pela que defendiam também suas políticas nacionais.
Malásia que procurava representar a maioria dos No início de 1989, a pressão internacional já se
países-membros das Nações Unidas, dirigia-se à fazia sentir sobre o governo brasileiro: as matérias
bloquear a negociação e destruir os propósitos da publicadas em jornais europeus e norte-americanos
convenção de florestas. (Financial Times, Le Monde, etc); a interação entre
Configurava-se, assim, também uma expressão do ONG internacionais e brasileiras procuravam mos-
conflito Norte-Sul. Sobre alguns aspectos, dois gru- trar os perigos da frente pioneira e os impactos do
pos de países se contrapunham sistematicamente, desmatamento, extremamente rápido, sobre a
de acordo com . Para o G-7, mesmo com posições Região.
internas diferenciadas, defendiam14 o “interesse da O avanço nos dois anos de negociação foi pouco
comunidade internacional pelo gerenciamento, conservação e significativo e o resultado na Conferência do Rio
desenvolvimento sustentável das florestas, especialmente as foi a aprovação de dois documentos, da Declaração
tropicais; a ênfase na preservação das florestas em função dos de Princípios para o Desenvolvimento Sustentável
benefícios globais, especialmente em seu papel como sumi-
douros de carbono; mas também a resistência à vinculação da de todos os tipos de Florestas (Forest Principles) e
proteção à propriedade intelectual de tecnologias, para os do capítulo sobre o combate ao desmatamento, na
países em desenvolvimento implementar os compromissos Agenda XXI, nos quais os países em desenvolvi-
assumidos e a resistência à questão da provisão de recursos mento conseguiram o reconhecimento de suas posi-
necessários aos programas de desenvolvimento sustentável ções relativas ao tema. Ambos documentos sem
das florestas dos países em desenvolvimento”. Para o G-77,
valor jurídico, e para os quais havia apenas o com-
os aspectos importantes a serem reconhecidos eram promisso moral de implementação. Com a incorpo-
“direito de usar os recursos florestais em seus processos de
desenvolvimento; não aceitação da tutela sobre as políticas
ração do «conceito de soberania dos países sobre seus recur-

107
sos naturais - inclusive os florestais - e o conceito do direito teção das florestas. A respeito deste tema “os países
ao desenvolvimento que, no caso das florestas, significou o amazônicos mantém a posição contraria, expressa nas diver-
direito de os países manejarem seus recursos florestais de sas ocasiões” 15, e, a posição de negociação brasileira
acordo com seus objetivos e políticas” (MMA:1997), manteve-se se inflexível e coerente, não permitindo
incluindo, assim, todos os tipos de florestas – aus- avanços sobre a proposição da negociação de um
trais, boreais, subtemperadas, temperadas, subtro- instrumento jurídico, mas, substituindo-a pela
picais e tropicais – reduzindo o foco de atenções “noção de cooperação internacional para a promoção do
sobre as florestas tropicais e fazendo vitoriosos os desenvolvimento sustentável das florestas” (BRASIL,
posicionamentos brasileiros. 1993:48).
Toda esta ebulição resultou em avanços para o setor
Durante o período de negociação as alianças consti- florestal, em seus diversos campos. Alguns deles já
tuídas, entre grande parte dos países do G-77, for- podem ser vislumbrados em relação à legislação e
çaram que o texto final do mesmo refletisse a políticas, reestruturação e coordenação entre as
importância e a função social e econômica das flo- diversas instituições envolvidas (Estado, grupos de
restas, além de seus benefícios ecológicos. Assim, o usuários – comunidades e empresários, profissio-
capítulo sobre o combate ao desflorestamento nais e técnicos, ONG). Por outro lado, as recomen-
incluiu programas voltados para o fortalecimento dações do Painel insistem na necessidade de ação
institucional dos países na área florestal e correla- sobre as causas do desmatamento e da degradação
tas; de cooperação internacional visando intercâm- das florestas, relacionando entre estas causas, os
bio do conhecimento e programas de pesquisa de padrões de produção e consumo; a pobreza; o cres-
diversos organismos internacionais; além de pro- cimento populacional; insuficiência de conheci-
gramas para a manutenção dos múltiplos papéis da mento e educação ambiental; relações de troca no
floresta (BRASIL, 1993; Câmara dos Deputados, comércio e praticas discriminatórias do setor, além
1995). de políticas de maior impacto para o setor.
A negociação destes dois documentos passou por
todos os bloqueios e dificuldades, os esforços des- 4. Cinco anos depois: a Agenda
pendidos visava encontrar formas de refletir todos Amazônica XXI
os aspectos sociais, econômicos e ecológicos. A Agenda XXI, pensada para ser implementada nos
Os avanços relacionados à forma de abordagem do últimos sete anos do século XX, passou a ser um
tema e da forma de negociação, foram expressos no dos resultados mais expressivos da Conferência, ao
«Painel Intergovernamental de Floresta», ocorrido lado das Convenções de Mudanças Climáticas e de
a partir de 1995, na 3ª reunião da Comissão de Conservação da Biodiversidade e significou inúme-
Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas – ros desafios. Apesar das discussões continuadas,
CDS. Nesta reunião, definiu-se o tratamento do das pressões realizadas durante o período prepa-
tema tanto nas funções ambientais como nas de ratório e das discordâncias acerca dos mecanismos
desenvolvimento, contemplando o manejo florestal de sua implementação, havia o compromisso moral
sustentável, a conservação da diversidade biológi- de torná-la aplicável às realidades dos países, das
ca, a conservação do solo e dos recursos hídricos, grandes regiões, das comunidades. Assim, em
os produtos e serviços florestais e a participação decorrência da Agenda XXI global, deveriam ser
dos principais grupos, particularmente os povos preparadas Agendas nacionais e locais.
indígenas e as comunidades locais. Mais uma vez, As agendas brasileiras, elaboradas sob a coordena-
a ação do Itamaraty foi decisiva e coerente ao pro- ção do governo federal, somente tiveram inicio
por ao Secretariado da Conferência a realização do após a conferência Rio + 5, em 1997. Antes desta
«Painel Intergovernamental de Floresta», desfocali- data, os desafios de divulgação, de envolvimento de
zando as pressões sobre a floresta amazônica e evi- comunidades, de socialização do conteúdo do
tando a abertura de negociações para uma documento, de seus princípios e programas foram
«Convenção Internacional sobre Florestas». realizados, desde 1993, pelas ONG16, um trabalho
A agenda do Painel previu uma negociação futura dificultado sobretudo pela inexistência do docu-
sobre um instrumento jurídico internacional de pro- mento em português. Somente em 1995 a Agenda,

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em sua totalidade, foi publicada pela Câmara dos na. O Decreto presidencial, sem ter sua existência
Deputados. Do lado governamental, houve muito de fato, foi finalmente revogado quando da consti-
atraso tanto na elaboração, como na implementação tuição da Comissão de Políticas de
das Agendas XXI dos Estados. Embora o Canada, Desenvolvimento Sustentável e da Agenda XXI
Holanda, EUA, Suécia, China e Bolívia tivessem brasileira17.
apresentado suas agendas nas reuniões da CDS, A nova Comissão, presidida pelo Ministério do
este atraso foi partilhado com um grande número de Meio Ambiente, foi instalada com sucesso, com o
países-membros das Nações Unidas. objetivo principal de elaborar a Agenda XXI
Entretanto, as reuniões da Comissão de Brasileira. Propôs-se a trabalhar com os princípios
Desenvolvimento Sustentável da ONU, de periodi- e as regras estabelecidos na Declaração do Rio
cidade anual, adotou uma metodologia de trabalho sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, nas
baseada na apresentação de documentos nacionais Convenções sobre Biodiversidade, Clima e os
sobre o processo de implantação, os Perfis Princípios sobre Florestas, adequando e reprodu-
Nacionais (Country Profile). O Governo brasileiro zindo nacionalmente as diretrizes da Agenda XXI
não deixou de apresentar seus relatórios de avalia- Global. O ministro do meio ambiente (1998:10)
ção de implementação, mas tomou como base os ressaltou a sinalização governamental: “ o governo do
temas e capítulos selecionados como prioritários Presidente FHC sinalizava claramente seu objetivo de redefi-
para cada ano. nir o modelo de desenvolvimento do pais, introduzindo o
conceito de sustentabilidade e qualificando-o com os tons da
Os inúmeros desencontros internos notadamente potencialidade e da vulnerabilidade do Brasil no quadro inter-
entre as instituições governamentais brasileiras nacional ”. Assim, o governo comprometia-se a assu-
causaram atrasos e descensos. Uma primeira tenta- mir formas de incentivar a aproximação das preo-
tiva de dar seguimento interno aos compromissos cupações e questões globais com as questões locais,
da Conferência, pode ser considerada a CIDES – procurando superar o tradicional corte entre a pre-
Comissão Interministerial de Desenvolvimento e servação e o uso dos recursos e buscar alternativas
Meio Ambiente, presidida pela Secretaria de ao modelo de desenvolvimento do pais. Insiste que
Planejamento da Presidência da República. Um dos as comunidades locais tem papel central na defini-
argumentos que sustentavam esta iniciativa consi- ção de seu próprio desenvolvimento, valorizando e
derou ser, o setor de planejamento e orçamento do se dispondo a aceitar mudanças e acompanhar os
Governo, o responsável pela incorporação da novos procedimentos operacionais com respeito ao
dimensão ambiental nas políticas públicas governa- meio ambiente. O governo federal assumiu utilizar
mentais, e, por conseguinte, a noção de conserva- a Agenda XXI como “ base para elaboração do Plano
ção e aproveitamento adequado dos recursos deixa- PluriAnual 2000-2003 ” (BRASIL,1998b: 20).
ria de estar circunscrita ao setor ambiental, O início do processo nacional se da no bojo da pre-
ampliando-se os meios de incorporação das exter- paração da Rio +5, quando o Ministério do Meio
nalidades do desenvolvimento. Outro, relacionou- Ambiente - MMA desenvolve um conjunto de reu-
se à necessidade de instituição de critérios de clas- niões, seminários e consultas nacionais18. Ao
sificação e de seleção dos programas e atividades mesmo tempo em que ações de âmbito nacional são
sustentáveis, quando da definição de prioridades desenvolvidas, a Secretaria de Coordenação da
nacionais, no âmbito dos programas do governo Amazônia retoma as diretrizes da Política Nacional
federal. Integrada para a Amazônia, aprovada em 1995,
O desagrado no âmbito da estrutura governamental apresentando-as como o ponto de partida para a ela-
federal com a formulação desta Comissão, como a boração da Agenda Amazônica 21, documento
responsável por traduzir em ações nacionais os básico19.
compromissos externos assumidos, produziu o pri- Esta Agenda Amazônica se constituiu em uma das
meiro fracasso pós-Conferência. Assim, a primeiras agendas regionais. As linhas mestras
Comissão não foi instalada, não tendo apoio, nem deste documento básico indicam que “ a região deve
mesmo contribuições dos principais setores envol- ser tratada como questão nacional; ressaltando a opção por
vidos, o da política ambiental e o de política exter- um modelo de desenvolvimento sustentável, cujo objetivo

110
final seja a valorização social e humana ”. Ressaltava a dade espacial por todo o pais, associando-se assim
necessidade estratégica de “superar os desafios da inte- às iniciativas governamentais, na sua maioria cir-
gração interna e externa assim como a intra e inter regional; cunscrita ao setor ambiental. Ampliou-se a difusão
da constituição de atitudes de proteção ao meio ambiente e da de informações, os ensaios de modificação dos
ampliação da cooperação internacional”. Considerou-se rumos de políticas públicas e o número de expe-
que para tornar efetiva a Agenda, a desregionaliza- riências que procuram demonstrar a viabilidade de
ção da questão amazônica era fundamental. Ela mecanismos e de sistemas de produção sustentá-
deveria ser concebida como parte do projeto nacio- veis.
nal para o século 21, devendo ser encarada enquan- A importância deste processo foi manter, nos anos
to necessidade, responsabilidade e potencialidade posteriores à realização da Conferência, uma certa
nacional. movimentação nacional, embora sem o mesmo
Surge, portanto, um novo campo de conflitos. O poder de pressão e de mobilização do período pre-
Itamaraty não aceitou este esboço considerando-o ir paratório, entre os anos 90 e 92. O engajamento de
de encontro a princípios aceitos na Conferência. alguns segmentos na definição de novos progra-
Para eles o documento aceitável seria o resultante mas, no acompanhamento e na implantação de pro-
do processo nacional e da discussão regional em jetos consolida a sua mudança de patamar, deixan-
Belém20, ao se inserir no contexto das políticas do de lado a ação denunciatória, para assumir um
nacionais, e instar a ampliação da participação papel de executores ou coordenadores de experiên-
social e, principalmente, porque o fôro reconhecido cias de novos sistemas produtivos que pudessem
para a discussão sobre a grande Amazônia é o TCA ser replicados nas diversas regiões do país, bem
e o PPG-7. Esta é, provavelmente, a razão de o como a de participação na definição e no monitora-
mesmo ter sido referido como uma fonte de subsí- mento contínuo das políticas governamentais.
dios, “como um roteiro para a construção da sustentabilida- Um desdobramento favorável desta ambiência,
de nesse bioma” (CPDS, 2000:15). pode ser emputado ao aprendizado e ao desenvolvi-
Assim, a estrutura da Agenda Brasileira envolveu: mento de programas do tipo do PPG-7 e PRONA-
i) o perfil do país ; ii) a seleção dos 6 temas prio- BIO que consolidou parcerias. Embrião originado
ritários para o país (cidades sustentáveis, agricultu- com o CONAMA, cuja participação inicialmente
ra sustentável, infra-estrutura e integração regional, era restrita à determinadas instâncias, foi tornando-
gestão dos recursos naturais, redução das desigual- se mais propositiva, mais executiva, como resulta-
dades sociais e ciência, tecnologia para o desenvol- do da maturação de um longo processo, de redução
vimento sustentável), iii) meios de implementação. das desconfianças de ambos os lados, associado às
O processo de contratação e constituição de docu- transformações gerais em curso no país e consoli-
mentos básicos, seguidos de debates21 em seminá- dada com o surgimento de programas como o
rios tomou cerca de três anos, de 1997 a inicio de Programa Nacional de Meio Ambiente - PNMA e
2000, e congregou diversos segmentos, como o de fundos, como o FNMA e FUNBIO, que passa-
acadêmico, o empresarial, a sociedade organizada22, ram a buscar, a requerer e a apoiar financeiramente
além do governamental. Todo este processo mobili- a mais ampla participação social.
zou um conjunto consideravelmente grande de pro- Mas, o discurso da Agenda XXI não se traduziu na
fissionais brasileiros, tanto das universidades, cen- sua operacionalização. Embora não houvesse ator
tros de pesquisas, fóruns de ONG e organismos de social que se declarasse contrário aos princípios do
classe, de instituições privadas e públicas de âmbi- desenvolvimento sustentável, o processo de
to nacional, estadual e municipal. construção social da Agenda XXI Nacional foi
Independente das ações desenvolvidas no âmbito lento e difícil e os percalços em sua implementação
governamental, inúmeros trabalhos de mobilização foram notórios.
e de elaboração de Agendas Locais foram desen- As negociações diplomáticas levaram a um consen-
volvidos pelas ONG brasileiras 23. so sobre o conceito de desenvolvimento sustentá-
As iniciativas especialmente das diversas redes vel, engendrado pela Conferência e com compro-
nacionais de ONG, algumas vezes integrando-se à missos posteriores, mas o processo é cheio de
redes internacionais, permitiu um grau de capilari-

111
embates, muitos deles sem solução, pelas percep- os países do Tratado de Cooperação Amazônica
ções diferenciadas. Para tomar como exemplo ape- neste objetivo comum 24.
nas dois conjuntos, as instituições governamentais, GUIMARÃES (1998:53-68) expressa os compo-
organismos multilaterais e o de cientistas e acadê- nentes do novo paradigma de desenvolvimento,
micos. Enquanto o primeiro aceita os conceitos sur- elencando entre eles a questão do processo de
gidos com o Relatório Brundtland - ainda que os mudança qualitativa do desenvolvimento, da pre-
grupos de países menos desenvolvidos e periféricos servação da integridade dos processos naturais; da
procurem desnudar o embasamento geopolítico do sustentabilidade social (supressão da desigualdade
mesmo, consomem tempo e trabalho procurando e exclusão); preservação da diversidade e aprofun-
encontrar formas de aplica-los e operacionaliza-los damento da democracia com a construção da cida-
sem se deter em grandes questionamentos dos fun- dania e a necessidade de uma nova ética.
damentos filosóficos e éticos. A preocupação do Este paradigma esta em convergência com as preo-
segundo conjunto, de acadêmicos e cientistas reve- cupações expressas em MENDES E SACHS
la-se sobre vários aspectos: este segmento procura (1998:39-42)25 quando avaliam as dicotomias que
decodificar tais questões. Nas diversas oportuni- gravitam em torno deste conceito, como a contra-
dades de debates públicos, tornaram-se claros os posição natureza e cultura e a necessidade de opção
esforços da apreensão científica e dos fundamentos de uma em detrimento da outra, do fracionamento
teóricos que sustentam este paradigma, construído do mundo em dois lados: o econômico, dos ricos e
fundamentalmente pelas negociações político- o ecológico, dos pobres, impondo a uns a moratória
diplomáticas, com uma grande contribuição das ecológica, sem impor a outros a moratória econô-
agências multilaterais do sistema das Nações mica.
Unidas e dos Bancos de Desenvolvimento Na verdade estes autores buscam sua aplicabilidade
Internacionais e Regionais. às distintas realidades sócio-ambientais da grande
As contribuições acadêmicas ao debate Amazônia, e propõem avançar em direção a um
modelo de uma nova sociedade. MENDES e
Seminários e debates promovidos, ao longo dos SACHS (1998) distinguem desenvolvimento sus-
anos 90, por GOLDEMBERG (1994), PAVAN tentável e sociedade sustentável, sendo uma a
(1996), CORDANI et al (1997), BRASIL (1997b) condição de realização da outra. Conceito que pres-
abordaram grande universo de questões cobrindo supõe a incorporação da “sustentabilidade social, territo-
aspectos dos problemas e soluções da América do rial, cultural, econômica, ecológica e ambiental”.
Sul e do Brasil, adotando abordagens reflexivas Argumentos que demonstram a necessidade de que
sobre as condições de inserção do continente na os segmentos sociais das diversas realidades
ordem internacional e as condições de sucesso ou amazônicas possam perceber os “alvos” de um dis-
fracasso da adoção de novos modelos de desenvol- curso carregado de valores, da existência de uma
vimento. Conferências inseriram o pais e a grande geopolítica de países, de imposição de valores.
região sul-americana no contexto da globalização; Avançam mais do que GUIMARÃES, que, embora
os debates deixaram claro o esforço de com- questionando, procura desmitificar os componentes
preensão dos fundamentos éticos dos grandes fenô- necessários para a aplicabilidade do conceito de
menos mundiais. Ao mesmo tempo, tais reflexões desenvolvimento sustentável, ao mesmo tempo em
serviriam para montar os pilares básicos de constru- que ressalta a existência de um processo destinado
ção dos novos paradigmas, exercitando passos para a “enverdecer” sem mudar o estilo atual, configu-
introduzir a ética no desenvolvimento. rando-se em “transformações cosméticas”, embora
Na verdade, este conjunto de reflexões permitiu não assuma cunhar a nova expressão de sociedade
clarificar o desgaste do conceito de desenvolvimen- sustentável. Por isto, considera GUIMARÃES que
to e o excesso de uso da noção de sustentável ape- as soluções só existem no âmbito do próprio siste-
nas como qualificativo, e, passaram a propor as ma social, na construção de alianças entre todos os
bases de um mundo e de uma sociedade sustentá- grupos e estratos sociais e sobretudo a democrati-
vel. Estas referências definiram as bases da Agenda zação do Estado e seu fortalecimento, com capaci-
Amazônica continental, esforço que visou integrar
112
113
dade de dar respostas aos desafios ambientais e incorporados na política florestal brasileira.
sociais. A exploração das florestas amazônicas pode ser
Tais contraposições justamente afloram nos destacada como um dos macrovetores de desenvol-
momentos de construir um projeto de pais, ou de vimento, em escala de transformação industrial e
região, onde os choques de argumentações, as em utilização de recursos tecnológicos de produ-
experiências em execução, sejam locais (alguns ção. A despeito de gerarem empregos, renda e
municípios ou regiões brasileiras) ou cobrindo impostos, as atividades tem intensificado mais
Estados (os programas governamentais de desen- ainda o desmatamento. Assim, a definição de “Arco
volvimento sustentável no Amapá e no Acre), do Desmatamento” para os Estados do Pará, Mato
confirmam a noção comum de que transformações Grosso, Tocantins, Maranhão e Rondônia reflete a
globais não passam de mudanças cosméticas. situação, mas acaba por fazer com que toda a
Todavia, pode-se dizer que: Região mantenha-se no foco das atenções nacionais
i. há metodologias para invocar e garantir a e internacionais, gerando pressões de diferentes
participação dos mais diferenciados setores segmentos sociais para a exigência de manejo flo-
sociais, para mediação e solução de confli- restal.
tos, mas não na direção de operacionalizar Neste Arco, vários outros problemas surgem, em
o conceito; graus e dificuldades diferentes, e produz impactos
ii. não há critérios de classificação de ativida- ambientais ainda maiores que, associados ao des-
de sustentável e sob qual ótica, visto que a matamento, promovem a classificação da região
seleção da sustentabilidade se expressa por como uma zona de risco ambiental. A exploração
meio da contraposição entre as dicotomias, seletiva da madeira, «garimpagem», onde, para
elencadas por MENDES e SACHS (1998); cada metro cubico de madeira extraída, dois metros
iii. por isso mesmo, todo o discurso do são danificados, e a cultura do fogo aumentam da
programa governamental Avança Brasil e vulnerabilidade do ecossistema. Os impactos pró-
do Plano PluriAnual 2000-2003, insistiam prios do fogo ampliam ainda mais os ambientes
sobre o fato de que a Agenda XXI fosse susceptíveis às queimadas pela maior quantidade de
tomada como referência, pois são manifes- galhos quebrados e danificados prontos para com-
tas as contradições e o “enverdecimento” bustão. A velocidade da ocupação, facilitada pela
dos programas, mas não sua real transfor- existência de infra-estrutura, não tem deixado
mação. tempo para a definição do melhor tipo de explora-
ção. Este processo também é comum às Unidades
de conservação e áreas indígenas.
5. Algumas iniciativas atuais na
Inúmeras ações se fazem necessárias para promo-
Amazônia Legal ver o desenvolvimento sustentável das florestas
São grandes as incertezas quanto à adoção de novas brasileiras e o PPG-7, por exemplo, tem implemen-
práticas, amplamente defendidas por alguns seg- tado algumas experiências.
mentos. Existem dúvidas quanto a compreensão No diagnóstico da Agenda XXI Nacional (BRA-
técnica do que seja exploração sustentável de flo- SIL, 2000), levantou-se que as necessidades não se
restas, apesar da existência de algumas experiên- restringem apenas à ampliação dos conhecimentos
cias. Não se tem clareza dos métodos de adequação ecológicos, florestais e sociais da Região, mas
técnica dos sistemas de utilização sustentável aos requerem a urgente modificação dos instrumentos
diferenciados contextos sócio-econômicos e políti- da política florestal atual relacionados à tributação,
cos. No caso brasileiro, diagnósticos e estudos às regulações econômicas, a política industrial, os
recentes26 e algumas experiências desenvolvidas incentivos e as renúncias fiscais, os mecanismos de
por ONG (IMAZON, IPAM, REBRAF, etc.) e mais capitalização, crédito e financiamentos.
recentemente, no âmbito do PPG-7, com a aprova- Uma avaliação pelo próprio governo das medidas
ção do Projeto PROMANEJO (ver capitulo quatro), adotadas, nos últimos 6 anos, abrangem a) a incor-
ainda não produziram resultados que pudessem ser poração dos princípios e noções do manejo flores-

114
tal sustentável na legislação que regulamenta a do dois pólos contrários: os ruralistas e as ONG
exploração da floresta da bacia amazônica (Decreto ambientalistas, cientistas, instituições governamen-
n° 1.282, de 19.10.94); b) o reconhecimento de que tais do setor ambientalistas e parlamentares ligados
medidas regulatórias de comando e controle eram à defesa do meio ambiente. O assunto continua a
insuficientes para viabilizar formas sustentáveis de provocar polêmicas.
produção e conservação florestal; adoção de medi- Mas outros instrumentos regulatórios do Código
das de suspensão ou eliminação de estímulos implí- Florestal estão sendo também objeto de alterações,
citos ao uso predatório dos recursos contidos em num processo coordenado pelo MMA com ampla
instrumentos econômicos ; c) a institucionalização participação ampla. O IBAMA, a iniciativa privada
do Programa do Protocolo Verde para a economia e as organizações não-governamentais da
brasileira, que, entre outros objetivos, exige avalia- Amazônia tem debatido a questão de flexibilização
ções ambientais das instituições de crédito para das normas para pequenos e médios proprietários
quaisquer financiamentos ; d) o papel do Brasil na que desenvolvem atividade florestal (a reformula-
discussão internacional da questão florestal, que no ção do Decreto n° 1.282, de 19.10.94, para viabili-
âmbito do Painel Intergovernamental de Florestas zar a adoção do manejo sustentado das áreas flores-
(IPF/CDS), propôs a instalação de um Processo tais privadas); da adoção de novas tecnologias para
Regional de definição e discussão de Critérios e auxiliar no monitoramento, via sensoriamento dos
Princípios para o manejo sustentável da Floresta desmatamentos e queimadas, das vistorias e acom-
Amazônica, o «Processo de Tarapoto ; e) iniciativas panhamento dos planos de manejo. Independente
governamentais recentes quanto à Proteção da de modificação do arcabouço legal que cobre a área
Biodiversidade: a ratificação pelo Brasil da florestal, as ações de controle, monitoramento e fis-
Convenção da Biodiversidade, o decreto estabele- calização das atividades florestais na Amazônia
cendo o PRONABIO (Programa Nacional da continuam sendo realizadas.
Diversidade Biológica) e outras (MMA, 2000). A questão que se coloca, é, que, apesar dos esforços
Mas se, ao nível da política externa brasileira até agora desenvolvidos, do discurso sobre um
alguns avanços estão sendo contabilizados, interna- modelo sustentável para o desenvolvimento da
mente houve o recrudescimento das posições mais Amazônia, uma política regional que considere e
conservadoras no âmbito da discussão da Medida que consiga atender os objetivos dos governos
Provisória que propôs a alteração do Código federal e estaduais, mas ao mesmo tempo as dife-
Florestal - a MP 1.511 que altera o art. 44 da Lei renças socio-econômicas-ambientais, os potenciais,
4.771/65, enviada ao Congresso Nacional, em julho os anseios dos distintos segmentos sociais e setores
de 1996. continua sendo procurada. O enorme potencial eco-
Segundo esta MP as propriedades da Amazônia, nômico da biodiversidade vem servindo à argu-
com cobertura vegetal de florestas, só poderiam mentação dos governos estaduais e locais, mas, as
proceder ao corte raso em até 20% da área. Com experiências são ainda de limitada dimensão, tanto
isto visou-se, não apenas a reduzir a área total de territorial quanto temática.
florestas, legalmente passível de corte raso, mas, A experiência nacional em curso vislumbra a
principalmente, bloquear a expansão do desmata- regiões pelo viés dos Eixos Nacionais de
mento nas propriedades que já possuíssem áreas Desenvolvimento e Integração. Experiências esta-
desmatadas, subutilizadas ou degradadas, reduzin- duais identificadas como Política de
do o círculo vicioso de abertura e abandono de Desenvolvimento Sustentável do Amapá e Política
áreas, que marca o processo de expansão da fron- de Desenvolvimento Sustentável dos Povos da
teira agro-pecuária na Amazônia. Floresta, no Acre propõem-se a implementar alguns
Tais índices desagradaram tanto governos estaduais princípios do desenvolvimento sustentável. Há
como parlamentares ligados aos proprietários de experiências mais locais, experiências que tocam
terras na Amazônia. Ao se perceber a mobilização comunidades, como as populações extrativistas, ou
conservadora no Congresso Nacional, segmentos sub-regiões como as áreas dos Projetos de Gestão
da sociedade organizada também uniram-se, geran- Ambiental Integrada dos 9 Estados amazônicos. Na

115
Amazônia, coexistem, enfim, políticas diferencia- Notas
das de uso do território.
Pode-se, portanto, admitir que a ambiência criada 1 Entrevista realizada em 23 de julho de 2001. Paulo Pereira é
pela mobilização da Conferência teve, finalmente, diretor da Conservation International no Brasil.
dois aspectos altamente positivos: além de servir 2 Entrevista com o ministro Everton Vieira Vargas, do

para colocar em questão as políticas de integração Departamento de Meio Ambiente e Temas Especiais do
Ministério das Relações Exteriores, realizada em 05 de setem-
da Amazônia, ao pais e ao mundo, induziu também bro de 2001.
avaliações prospectivas dos cenários que tais políti- 3 A Comissão Brundtland foi instituída logo após a difusão do
cas poderiam causar. Por outro lado, serviu para Relatório de Roma, que defendia o crescimento zero. Esta
ampliar e garantir a participação social de maneira nova Comissão, presidida pela primeiro-ministro norueguesa
mais concreta e efetiva, seja das populações regio- Gro Brundtland, teve como missão identificar saídas para a
crise ambiental. Seu relatório, conhecido como “ Nosso
nais, dos governos, dos segmentos acadêmicos Futuro Comum ”, divulgado em 1987, trouxe as primeiras
regionais e nacionais, dando-lhes o direito de serem noções conceituais sobre desenvolvimento sustentável.
ouvidos nos momentos de decisão sobre o futuro de 4 O Comitê Preparatório – PREPCOM (Preparatory

seu habitat. Serviu também para ampliar a presença Committee), presidido por Tommy Koh, tinha a responsabili-
internacional num território valorado pelo mundo, dade de preparar os documentos que seriam “ aprovados ” na
Conferência. As Nações Unidas em geral e, especialmente o
valor simbólico e potencial. PREPCOM desta Conferência realizam o processo das
O PPG-7, que será analisado a seguir, pode ser visto decisões a serem adotadas através da obtenção de consensos
como um programa que fortalece a busca de expe- entre os Estados-membros. Foram organizados 4 reuniões
riências tanto na proteção ambiental, «estrito (Nairobi, agosto 90; Genebra, 18 março a 05 abril e 12 agos-
sensu», ao financiar projetos de constituição de cor- to a 04 setembro 91; Nova Iorque, 02 março a 03 abril 92), as
quais deveriam concluir os trabalhos preparatórios.
redores ecológicos; experiências de conservação de
Entretanto, a dificuldade em estabelecer consensos entre cor-
terras indígenas, além de propiciar experiências de rentes de visões tão distintas, levou à necessidade de realiza-
conservação e alternativas ambientais sustentáveis. ção do 5° PREPCOM no Rio de Janeiro, entre os dias 03 a 12
de junho 1992, no decorrer da própria Conferência. Os PREP-
COM foram organizados em sessões plenárias e grupos de tra-
balho. O grupo de trabalho I tratou de temas relativos à prote-
ção da atmosfera, recursos da terra, conservação da diversida-
de biológica, florestas e manejo ambientalmente sadio da bio-
tecnologia. O grupo de trabalho II tinha responsabilidade de
discutir assuntos relacionados a oceanos, mares e áreas litorâ-
neas, abastecimento e qualidade de agua doce, dejetos
(incluindo dejetos perigosos), produtos químicos tóxicos, tra-
fego internacional de produtos e dejetos tóxicos e perigosos.
O grupo de trabalho III (criado a partir do PREPCOM II) vol-
tou sua atenção à problemas legais e institucionais internacio-
nais incluindo aqueles relativos às questões transetoriais.
É importante destacar a minha participação neste processo
preparatório, enquanto representante do IBAMA, fato que
permitiu-me vivenciar negociações, muitas vezes carregadas
de tensão. A delegação brasileira conseguiu liderar diversas
discussões e especialmente articular alianças em temas de
especial importância para a política externa brasileira, como
florestas, biodiversidade e alterações climáticas, muitas vezes
sem se contrapor abertamente aos países desenvolvidos.
5 “ Texto entre colchetes ” (bracketed text) significa a falta de

consenso sobre o ponto destacado. Esta falta de acordo pode-


ria referir-se à redação proposta ou ao conteúdo do assunto
tratado, seus conceitos, idéias, temas, programas e atividades.
6 Os coordenadores destes grupos foram: a) recursos financei-

ros, o embaixador Rubens Ricúpero, do Brasil; b) tecnologia,


ministro Hans Alders, da Holanda; c) atmosfera, embaixador
Bo Kjellén, da Suécia; d) biodiversidade e biotecnologia,

116
embaixador Vicente Sanchez, do Chile; e) agua potável, Estratégicos ; Câmara de Políticas Sociais, Fórum Brasileiro
embaixador Bukar Shaib, da Nigéria; f) instrumentos legais, de ONG e Movimentos Sociais, Fundação Getúlio Vargas,
embaixador Nabil el-Arabi, do Egito e g) instituições, Fundação Movimento Onda Azul, Conselho Empresarial para
embaixador Ismail Razali, da Malásia e h) princípios sobre o Desenvolvimento Sustentável e Universidade Federal de
florestas. Minas Gerais.
7 ODA – (official development assistance – Assistência 18 I workshop preparatório da Agenda XXI do Brasil – abril

Oficial para o Desenvolvimento), fundo privado de financia- 1996; Agenda XXI – Utopia concreta – março 1997 ;
mento externo, particularmente dirigido para os países menos Desenvolvimento sustentável : 100 experiências brasileiras –
adiantados entre os países em desenvolvimento. entre outubro 1996 a fevereiro 1997 ; O que o brasileiro pensa
8 Associação Internacional de Desenvolvimento, fundo multi- sobre o meio ambiente, desenvolvimento e sustentabilidade e
lateral do Banco Mundial. o documento A caminho da Agenda XXI Brasileira – princí-
9 Esta Comissão teve seu mandado redefinido após o pios e ações 1992/1997
Encontro de Londres, 22 a 24 de abril de 1992. 19 O documento Agenda Amazônia 21, lançado pela Secretaria
10 O número de participantes foi crescente porque também de Coordenação da Amazônia no Seminário «Agenda XXI
contou com apoio de um fundo criado por um grupo de finan- Brasil - Uma Utopia Concreta», simultaneamente à
ciadores, inicialmente de 10 países desenvolvidos, liderados Conferência Rio+5, no Rio de Janeiro. O próprio Ministério
pelo Canadá em resposta às criticas de que o número de ONG considera que o documento teve o intuito de apresentar um
de países em desenvolvimento era reduzido. O Secretariado texto preliminar, com concepções e diretrizes expressas pela
da CNUMAD em cooperação com o NGO Liaison Service da sociedade organizada e pelo governo e com temas e encamin-
ONU e um grupo de ONG dos países financiadores contacta- hamentos que integrariam a discussão sobre o futuro da região
ram as redes destas organizações nos países em desenvolvi- amazônica. Preliminar porque a metodologia visava a
mento para o processo de seleção e credenciamento. (UNCED construção de um processo participativo de discussão e não
92, 1991b:4). somente estabelecimento de indicadores. (MMA, março
11 Grifo nosso. 1997)
12 O embaixador Azambuja presidiu a Comissão 20 Entrevista com Ministro Everton Vieira Va rg a s ,

Interministerial para a preparação da Conferência das Nações Departamento de Meio Ambiente e Temas Especiais do
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – CNU- Ministério das Relações Exteriores, em 05 de julho de 2001.
MAD. Este posicionamento foi obtido em entrevista realizada 21 A metodologia adotada para a elaboração da Agenda,

em 15 de outubro de 2001. reproduziu, de uma certa maneira, o processo do Relatório


13 Os chamados encontros «informais-informais» eram nego- Nacional para a Conferência, realizado entre outubro 1990 a
ciações em pequenos grupos fora dos plenários, entre repre- junho 1991 : papers encomendados a cientistas, expertos liga-
sentantes governamentais e não-governamentais. dos às universidades ou a empresas de consultoria, que trata-
14 Na própria Conferência, a posição dos EUA de não assinar ram de temas específicos, os quais serviram de base ao docu-
a Convenção de Biodiversidade em troca de um programa mento integrado. Foram constituídos grupos de trabalho e
“Forests for the Future Iniciative” e de uma futura convenção Comissões que acompanharam todo o processo. Tendo o
sobre florestas diferindo profundamente dos países europeus período de debates da Agenda sido mais longo, tornou possí-
que, desde o momento de abertura da Convenção à assinatu- vel a realização de seminários, workshops, ampliando o uni-
ra, a subscreveram imediatamente. verso de participantes, ao contrário do Relatório que utilizou-
15 Entrevista com o Ministro Everton Vieira Vargas, em 05 de se da publicação dos Subsídios no Diário Oficial, seguido de
setembro de 2001. uma videoconferência de âmbito nacional e de 4 reuniões
16 O primeiro encontro nacional foi proposto e organizado sob regionais.
a responsabilidade da Fundação Vitae Civilis, realizado em 22 O material produzido – diagnósticos e documentos analíti-

São Paulo, em abril de 1994, o “ Seminário de Implementação cos, produzidos por cientistas; relatórios de subsídios dos
dos Compromissos da Rio 92: as ações da Agenda XXI para workshops que foi realizado para cada um dos 6 temas; a par-
Saúde, Saneamento e Assentamentos Humanos ”. O projeto tir dai um segundo documento temático – bases para dis-
teve a contribuição financeira do PNUD e do Governo do cussão, foi produzido para a discussão do seminário nacional
Estado de SP, que à mesma época publicou uma versão sim- para integrar as agendas temáticas ; uma terceira versão foi
plificada, em português, do que era a Agenda XXI Global. realizada com as contribuições do seminário nacional e coor-
Este primeiro esforço enfatizou as ações de saúde, saneamen- denação das agendas temáticas e , finalmente, o documento
to e assentamentos humanos com o objetivo de produzir infor- final temático, colocado ao debate em reuniões regionais.
mações que subsidiariam o relatório a ser apresentado na 23 A Agenda Local do Vale do Ribeira foi a primeira agenda

Comissão de Desenvolvimento Sustentável da ONU, mas, de elaborada como um plano estratégico de longo prazo, como
uma maneira mais ampla procurava também socializar o sugerido pela metodologia da ICLEI (Conselho Internacional
significado e o conteúdo desta Agenda. para Iniciativas Locais, uma ONG canadense) e
17 Criada através do Decreto Presidencial de 26 de fevereiro Departamentto de Coordenação de Políticas de
de 1997, foi instalada em junho. Composta pelos Ministérios Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, sob a coor-
do Meio Ambiente, Planejamento e Orçamento, Ciência e denação do Instituto Vitae Civilis.
Tecnologia, Relações Exteriores, Secretaria de Assuntos 24 Inúmeras experiências de integração das questões de meio

117
ambiente e desenvolvimento dos países da América do Sul
podem ser evocadas, desde a preparação da Conferência do
Rio , merecendo destaque entre eles a Plataforma de Tlateloco
sobre meio ambiente e desenvolvimento (1991); a
Conferência Amazônica sobre meio ambiente e desenvolvi-
mento (1992); A Conferência Internacional Amazônia 21
(1997).
25 Dicotomias reconhecidas como a) contraposição natureza e

cultura, o homem tendo a mesma importância que qualquer


outro ser da natureza; b) a necessidade de opção entre a pre-
servação da natureza natural e da obra cultural, impondo-se a
escolha entre os direitos ao habitat ou ao desenvolvimento; c)
o envolvimento do ser humano com a natureza circundante,
frente à frente às exigências do seu próprio desenvolvimento;
d) perfil do desenvolvimento envolvido: moratórias ecológi-
cas, incidindo em áreas do mundo menos desenvolvido a exis-
tência de moratórias sobre o crescimento econômico no
mundo desenvolvido; e) modelo que implicaria dividir o
mundo em dois conjuntos de ecúmenos: orientado pela eco-
nomia (ricos, desenvolvidos) e outro orientado pela ecologia
(pobre, subdesenvolvido); f) equívoco ao supor que o desen-
volvimento material pode ser um processo sem fim; g) a
implacável necessidade de distinção entre desenvolvimento
sustentável e sociedade sustentável.
26 Diretrizes para uma Política Florestal Brasileira» (MMA);

«Diagnóstico e Avaliação do Setor Florestal Brasileiro»


(IBAMA/FUNATURA); «Ecossistemas Brasileiros e os
Principais Macrovetores do Desenvolvimento: Subsídios para
o Planejamento da Gestão Ambiental» (MMA).

118
Capítulo 4 - Soluções zoneamento ecológico-econômico, seus discursos e
práticas, por tratar-se de uma política territorial.
Compartilhadas: o Programa A analise anterior permitirá concluir com uma ava-
Piloto de Proteção das Florestas liação do grau de influência e dos setores favoreci-
dos pelo Programa, questionando como as novas
Tropicais Brasileiras- PPG-7 redes formadas entre governos (federal, estaduais e
municipais) e organizações não governamentais e
O PPG-7 foi um programa que exigiu soluções entre grupos de organizações não governamentais
compartilhadas em sucessivas negociações e poder cooperam para o gerenciamento de territórios
de decisão para realizá-las. São negociações difí- extensos e complexos como o amazônico.
ceis na concepção, na implementação e na avalia-
1. Mudanças no contexto político nacio-
ção dos resultados. O Programa Piloto foi e conti-
nua sendo um desafio, pelo seu caráter de experiên- nal
cia multilateral, pela abordagem de um tema polê- Antes de analisar os reflexos da estrutura organiza-
mico nacional e pelo envolvimento de atores e seg- cional e institucional e dos arranjos financeiros
mentos distintos, exigindo contínuos esforços de estabelecidos para a sua implantação é importante
todos os participantes. As diferentes visões de cada verificar em que contexto político encontrava se o
agente a respeito dos métodos, das estratégias e da Brasil no final dos anos 80 e início dos anos 90,
própria liderança dificultaram quotidianamente o período em que originou-se o Programa Piloto.
avanço do Programa. Apesar destes aspectos, ao No contexto internacional o Brasil era considerado
longo dos seus 10 anos produziu resultados positi- como um dos grandes contribuintes para o agrava-
vos. mento dos problemas globais1 e detentor de uma
No entanto, mudanças no planejamento, no uso e política de meio ambiente pouco expressiva. Não se
gestão dos recursos naturais decorrem de reestrutu- pode esquecer que neste mesmo período preparava-
ração econômica, política e social, incluindo o pró- se a Conferência do Rio, com a negociação dos
prio processo educativo que requerem longo prazo. acordos e convenções internacionais que seriam
O Programa Piloto não se destinou a provocar assinados na mesma. Assim, os vínculos Amazônia
mudanças estruturais. O seu valor está em ter sido – alterações climáticas; Amazônia – biodiversidade
pioneiro, em poder contribuir para as mudanças na e Amazônia - florestas sobressaíam-se em qualquer
constituição de novas políticas públicas. Serão foro científico ou político. Este contexto era sufi-
estas que poderão movimentar, modificar a forma cientemente forte para impulsionar o interesse
de gerir e de visualizar o desenvolvimento para a mundial e o aparecimento de proposições que obje-
Região. tivassem a preservação da Amazônia.
Assim, ao encarar o PPG-7 como precursor de uma
O contexto desfavorável
nova mentalidade ambiental em diversos campos,
este capitulo procurará apresentar um balanço criti- No final dos anos 80, segundo avaliações apresen-
co. Apoiado na análise do contexto político- tadas nos documentos do Banco Mundial, algumas
ambiental amazônico, mostrar-se-á a evolução da políticas brasileiras contribuíam para agravar as
conjuntura política nacional e também da amazôni- taxas de desmatamento: os incentivos fiscais para
ca e das ações do próprio PPG-7. Partindo da situa- investimentos, especialmente para a produção agro-
ção global do país e da Região, analisa-se o mode- pecuária; o crédito subsidiado e a garantia de pre-
lo institucional e suas relações internas, destacando ços para produção agro-pecuária; os programas de
as polêmicas e conflitos gerados pelas diversas infra-estrutura e desenvolvimento regional (rodo-
visões dos atores envolvidos no Programa, conco- vias, mineração com financiamento público, indús-
mitantemente, analisa-se as territorialidades tria, e hidroeletricidade); a política de colonização,
construídas, o poder de influência das experiências assentamentos e regularização fundiária; a política
implementadas e as alterações na sua estrutura fiscal econômica; a regulação do setor mineral
interna. Uma análise que privilegia a ênfase ao (WORLD BANK-CEC TECHNICAL MISSION
TO BRAZIL, 1991).
119
As taxas de desmatamento tinham sido medidas favoráveis. Entre estas contribuições3 destaca-se
pela primeira vez em dez anos, provocando alarme, Aziz Ab’Saber (1997), que propôs o Projeto FLO-
dentro e fora do país. Os resultados de 21 130 km2 RAM - Florestas para o Meio Ambiente4, cujo obje-
para o período de 1977-1988, de 17 860 km2 entre tivo era a introdução do reflorestamento em grande
1988–1989 e de 13 810 km2 entre 1989–1990, escala para absorção do CO2.
mobilizaram segmentos ambientalistas da socieda- As práticas governamentais favoráveis ao
de nacional e internacional, a imprensa e alguns meio ambiente
governos defensores desta causa. Esta amplitude do
fenômeno é evidenciada através dos esquemas O documento conjunto do Banco Mundial e
representados na figura 4.1. Comissão Européia ressalta as várias iniciativas,
O Banco Mundial, em sua avaliação da viabilidade colocadas em prática, a partir de 1987, que associa-
do PPG-7, apresenta diferentes dados que corrobo- das às mudanças institucionais no âmbito de
ram a dura crítica aos períodos anteriores (WORLD Governo, reduziram o peso dos incentivos que esti-
BANK-CEC TECHNICAL MISSION TO BRA- mulavam o desmatamento: o Programa
ZIL, 1991) e os cenários que resultariam da realiza- Polamazônia, voltado para o desenvolvimento
ção do Programa. Este documento ressalta a industrial e pólos minerais, tinha sido suspenso; em
conjuntura ambiental, os impactos mas, ao mesmo 1988, a Constituição declarou a Floresta
tempo, algumas iniciativas, de certa maneira à mar- Amazônica como Patrimônio Nacional; em 1989, o
gem das políticas estruturantes, que vinham sendo Programa Nossa Natureza estabeleceu o Fundo
tomadas pelo governo federal no final da década de Nacional de Meio Ambiente – FNMA, incluindo
80. organizações não governamentais representativas
O que nos leva a concluir que diagnósticos2 desfa- em seu Comitê Diretor. O PNMA – o primeiro
voráveis ao Brasil que serviram de base à elabora- financiamento exclusivamente ambiental no âmbito
ção do PPG7 procuravam, evidentemente, agravar nacional, negociado longamente com o BIRD,
ainda mais uma situação que já não era de todo começou a ser implementado em 1990. Em 1989, o
favorável. Duas hipóteses podem ser levantadas Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos
quanto aos posicionamentos do Banco Mundial: ou Naturais Renováveis - IBAMA foi criado e em
seus consultores e profissionais contratados esta- 1990 a Secretaria de Meio Ambiente da Presidência
vam voltados apenas aos aspectos ecológicos dos da República –SEMAM. Neste período, coinciden-
problemas, encarando a expansão da fronteira eco- te com os preparativos da Conferência do Rio, a
nômica brasileira como um processo de antropiza- estrutura institucional governamental foi reorgani-
ção, sob o rastro da destruição; ou se procuravam zada para dotar os ministérios de setores responsá-
problematizar a situação para induzir aos doadores veis pelo meio ambiente. Cada estado amazônico
uma maior disponibilidade de recursos para consti- possuía também uma estrutura institucional com
tuir as doações ao RFT. atribuições neste setor, embora fossem pouco repre-
Na verdade, o Banco Mundial havia dado grande sentativas (WORLD BANK-CEC TECHNICAL
contribuição ao desmatamento da Amazônia, com o MISSION TO BRAZIL, 1991).
asfaltamento da BR-364, viabilizado por meio do Os incentivos fiscais, distribuídos pelo FINAM,
financiamento do Polonoroeste, iniciado em 1982. foram suspensos entre 10 de abril 19895 (decreto
Quase quinze anos depois, entre 1996 e 1997, o 97.637) e janeiro de 1991. Como eles eram vistos
presidente do Banco fez publicamente sua “mea como a principal causa da problemática ambiental
culpa”. gerada na Amazônia, sendo alvo de pressões para a
É importante ressaltar que a situação brasileira era sua eliminação. Em contrapartida o lobby dos pro-
também abordada pela comunidade científica dutores agro-pecuários, que se beneficiavam com a
nacional, tendo alguns de seus representantes tra- existência de tais incentivos, pressionava em seu
balhando em conjunto com o governo federal. interesse.
Estudos procuravam prognosticar soluções referen- Neste período, as políticas conservacionistas gan-
ciadas em diagnósticos, muitas vezes também des- haram mais espaço no âmbito das políticas gover-
namentais. Dois momentos foram importantes :
120
121
i- em janeiro de 1991, os incentivos uma concessão foi autorizada à Ferronorte para
foram reinstalados, entretanto estavam concluir a ligação entre Santa Fé do Sul e Araguari
sujeitos à observação das diretrizes ambien- a Cuiabá.
tais e consistentes com os planos de desen- O programa Calha Norte6, planejado em outro
volvimento regional. período, 1985, com a lógica de promover os inter-
ii- em abril (decreto 101) e junho esses nacionais na Faixa de Fronteira, visou a ocu-
(decreto 153) os incentivos passam a ser pação e o desenvolvimento da Amazônia
proibidos em florestas primárias e deveriam Setentrional. Cobria prioritariamente uma área de
seguir as orientações do zoneamento ecoló- 1,2 milhões de km2 para a qual previu-se infra-
gico-econômico, já realizado ou em elabo- estrutura e projetos de assentamentos e colonização
ração. Quaisquer projetos deveriam obriga- (160 km de rodovias ao longo da fronteira com
toriamente ser aprovados pela SEMAM, Guiana, Guiana Francesa, Suriname, Venezuela e
IBAMA, FUNAI, OEMA, SAE e INCRA. Colômbia). Todos estes projetos tinham sido desa-
Estes momentos foram importantes por associar o celerados entre 1990-91 para aguardar os resultados
controle e o planejamento ambiental no âmbito do do zoneamento ecológico-econômico.
processo de ocupação que ocorria na Região, crian- Assim, no decorrer da última década do século,
do constrangimentos ao uso agro-pecuário e, uma série de iniciativas desenvolvidas pelo setor
consequentemente, tornou-se bastante desfavorá- ambiental do governo começou gradativamente a
vel, forçando a SUDAM a dar prioridade aos proje- ganhar credibilidade junto a setores não governa-
tos de desenvolvimento agro-pecuário para o mentais e acadêmicos.
Cerrado. Outro aspecto da política macroeconômi- Numerosas iniciativas podem ser contabilizadas,
ca que contribuiu para desestruturar o setor agro- desde a Constituição de 88, que destina um capítu-
pecuário regional foi a garantia dos preços mínimos lo ao Meio Ambiente e define a Amazônia como
nacionais: como os produtores haviam recebido Patrimônio Nacional. Entre as iniciativas mais
créditos subsidiados desde os anos 1970, a manu- importantes situam-se aquelas vinculadas à partici-
tenção do preço mínimo em todo o território nacio- pação social no processo do desenvolvimento da
nal penalizava os produtores de grãos na fronteira Região.
amazônica, especialmente com custos adicionais de Participação social facilitada pelos trabalhos desen-
transportes. volvidos pelas organizações não-governamentais
A redução dos financiamentos públicos, nos últi- que, nos últimos 20 anos, conseguiram conquistar
mos anos daquela década, afetou a infra-estrutura um espaço político ao deixarem a antiga posição de
de transportes e de energia e quaisquer novos pro- observadores e de denuncia, para assumirem fun-
gramas de geração de energia sujeitam-se a outro ções de gestores e de coordenadores7. Em 1991, foi
constrangimento ambiental - o licenciamento criado o GTA, que tem atuado quotidianamente na
ambiental concedido pela União (IBAMA) ou pelos negociação e execução de projetos, de políticas e
OEMA, exigência prevista na Resolução 001/86 do programas que se destinam à Amazônia. De uma
Conama, submetendo-se também ao licenciamento certa maneira, reproduz-se, na Amazônia, os
ambiental quaisquer novas vias de transportes, de caminhos traçados internacionalmente, com a
duas pistas. Do ponto de vista de planejamento a importância crescente da inter-relação entre diver-
longo prazo previa-se, para o período de 1991- sos atores nas decisões a respeito de instrumentos
1999, a expansão do uso de energia termo-elétrica, internacionais, como as convenções referentes ao
a partir do gás natural, assim como indicavam seis meio ambiente e desenvolvimento e a própria
novos projetos federais: Rio Acre, Santana, Agenda 21. Este tema foi analisado no capítulo
Manaus, Rio Negro, Floresta e Urucu. No Plano anterior.
PluriAnual, de 1991-1995, foi previsto pelo
Ministério da Economia, investimentos nos siste-
mas de transmissão de Tucuruí. A ferrovia Norte-
Sul foi paralisada por falta de recursos, entretanto,

122
123
2. Um pioneirismo lento e progressivo missos vis-a-vis questões ambientais e sócio
ambientais; c) novos segmentos econômicos se
Sem dúvida o maior resultado do PPG-7 é o de
envolveram com alternativas ao desmatamento; d)
contribuir para a reconfiguração das forças geopolí-
a demanda social por reforma agrária já contava
ticas no território amazônico, ao fomentar as liga-
com critérios ambientais, antes inexistentes; e) a
ções global - local e o aprendizado do enfoque
existência de articulações com outras esferas de
ambiental, ao difundir princípios, técnicas, alterna-
governo visando soluções econômicas sustentáveis
tivas de sistemas produtivos e ao desfazer estereó-
,e, f) sobretudo a pressão da opinião pública inter-
tipos técnicos e políticos.
nacional e nacional foram renovadas em relação à
Seu processo de implementação foi dificílimo8
Amazônia, superando argumentos antigos e incor-
pois, já no início do Programa (1990), haviam duas
porando elementos do novo contexto nacional e
visões, a do Governo brasileiro e a do Banco
regional.
Mundial9, se não antagônicas, de difícil convergên-
Este conjunto de fatores indica a existência de um
cia.
quadro favorável à implementação de projetos
Enquanto os relatórios preparados pelo Banco
alternativos.
Mundial, para servir de subsídios aos doadores
E, se hoje, o Programa Piloto pode ser considerado
enfatizavam os fatores limitantes, os problemas, a
uma inovação frente aos programas desenvolvidos
contribuição às mudanças climáticas do desmata-
na Amazônia, em décadas anteriores, é porque
mento e das queimadas florestais; os do Governo
reflete, certamente, o novo contexto político e
brasileiro ainda que mostrassem tais problemas,
social. Os anos 90, são marcados pela ação de
apresentavam saldo positivo, relacionando políticas
novos atores sociais, organizados, que reivindicam
e ações como resposta qualificada às pressões inter-
sua participação efetiva nas decisões e ações desen-
nacionais e nacionais, as críticas estatísticas do des-
volvidas pelo Estado. O Estado brasileiro avança
matamento amazônico. Ao mesmo tempo, as res-
também na constituição de um conjunto de leis que
ponsabilidades de país-anfitrião na Conferência do
visam a proteção do meio ambiente e a regulação
Rio gerava a necessidade de bem apresentar o país,
dos crimes ambientais.
de delimitar 10 o espaço de atuação e de ingerência
As organizações não-governamentais que trabalha-
externa, e especialmente dirigir o foco para as res-
vam normalmente em pequenos grupos, passaram a
ponsabilidades dos países desenvolvidos sobre as
constituir as redes de solidariedade (BEC-
emissões de gases estufa na atmosfera, defendendo
KER,1994) estabelecendo uma organização espa-
o uso do princípio poluidor-pagador como meio de
cial altamente capilarizada, atingindo regiões dis-
regulação. Desta maneira, a questão da floresta
tantes e de difícil acesso, como pode ser identifica-
inseria-se no contexto da soberania dos Estados,
do na figura 7.1, do capitulo sete. Estas redes incor-
sobre suas políticas de gestão dos recursos naturais.
poraram diversos segmentos da organização civil,
Por outro lado, o modelo institucional adotado
envolvendo associações ambientalistas e sociais,
pelos doadores, ao atribuir ao Banco Mundial a
cooperativas, sindicatos, representações indígenas.
gestão do Programa reforçava posicionamentos
Duas grandes redes têm importância fundamental:
contrários aos nacionais.
o Grupo de Trabalho Amazônico11, e a Rede Mata
O aprendizado do trabalho conjunto, e da co-res-
Atlântica, essenciais tanto como implementadores
ponsabilidade, permitiu que a ênfase atual encon-
de projetos quanto na participação do diálogo polí-
trasse sobre elementos mais positivos e mudanças
tico.
ambientais em curso. As críticas continuam, mas
O PPG-7 caracterizou-se como um programa de
em outro patamar. A evolução político institucional
grande vulto, pois além de destinar – àquela época
e da sociedade regional, em relação aos anos 80, é
- um elevado volume de recursos voltados unica-
um destes novos elementos.
mente à conservação da floresta, se bem que o mon-
Esta evolução foi caracterizada (MMA:1999)
tante comprometido ficou muito aquém das primei-
como: a) alguns governos estaduais contavam com
ras cifras, propôs-se a atingir objetivos importantes
programas de desenvolvimento sustentável; b) par-
como a redução da produção de gases de efeito
lamentares foram eleitos por possuírem compro-

124
estufa, do desmatamento e especialmente, o fortale- Grosso modo, pontos positivos são destacados nos
cimento da cooperação internacional em matéria de documentos de avaliação do Programa13:
meio ambiente. Cerca de 181 projetos de pequeno porte foram
Elaborado numa ambiência de muita polêmica e financiados pelo PD-A. Um balanço, abrangendo
mobilização criado pela preparação da Conferência cerca de 50% deles, baseou-se num trabalho de
do Rio, foi um dos poucos compromissos que fun- monitoria e avaliação (PPG7, 1998a: 20-24) sobre
damentou-se em princípios que visavam estruturar os indicadores de sustentabilidade ambiental, eco-
novos modelos de cooperação multilateral. O nômica e social, os aspectos que os caracterizam
Programa envolve, de um lado, uma participação como inovadores e demonstrativos e a ação multi-
ampla de diferenciados atores, como governos de plicadora. Tais indicadores basearam-se nas
países desenvolvidos, diversos setores do governo seguintes definições:
brasileiro (níveis federal, estaduais e municipais), 1. Sustentabilidade ambiental visa “contri-
organizações da sociedade; e de outro, mecanismos buir para o uso racional dos recurso naturais, ao longo
e formas de gestão que vem sendo testadas e que do tempo, de forma a garantir a diversidade biológica
e cultural, promovendo a melhoria da qualidade de
poderão servir para substituir os modelos utilizados
vida das populações envolvidas”. Dois indicadores
na cooperação multilateral, bilateral ou em finan-
foram utilizados para medi-la: o grau de
ciamentos. O Programa procura agora atingir um
contribuição dos subprojetos para preserva-
novo patamar: transformar o aprendizado com as
ção dos recursos naturais em suas proximi-
experiências desenvolvidas em instrumentos para a
dades e a capacidade de reverter um quadro
formulação de políticas públicas. Estes argumentos
devastador. Neste segundo indicador, impor-
foram fortemente enfatizados nos documentos de
tantes são as formas de implementação que
avaliação de meio termo12 tanto daqueles relaciona-
monitorem e/ou controlem possíveis impac-
dos especificamente aos projetos e subprogramas
tos ambientais negativos, dentro dos próprios
como o de revisão do próprio Programa (INDU-
subprojetos. 92% dos subprojetos indicam
FOR OY, 2000).
impactos positivos;
A positividade das experiências
A experiência de trabalho conjunto, governo - 2. Sustentabilidade econômica visa “auto-
suficiência econômica das comunidades envolvidas,
sociedade, tem-se constituído na verdade, em um
ou seja, desenvolver atividades econômicas que se
aprendizado de duas vias: o governo que aprende a coloquem como alternativa de obtenção de renda de
trabalhar com a participação social e a sociedade forma a substituir atividades convencionais potencial-
que exercita seu poder de negociação e cidadania. mente degradadoras e que sustentem a iniciativa após
Alguns dos subprogramas possuem maior visibili- o termino do apoio PD/A”. Este indicador apre-
dade e interesse, seja por parte dos países doadores, sentou insuficiências, seja pela falta de capa-
seja por causa da maneira mais atuante e dinâmica cidade gerencial dos executores, seja pela
da sociedade. Neste caso enquadram-se o fraca inserção dos produtos nos mercados, e,
Subprograma de Projetos Demonstrativos e o principalmente, pela falta de avaliação pré-
Projeto de Proteção e Demarcação de Terras via, nos estudos da viabilidade econômica ;
Indígenas, o Projeto Resex, de implementação mais 3. Sustentabilidade social visa “incremento e
rápida que outros, permitiu evoluir, simultanea- internalização do sentido de organização e cidadania
mente, na gestão e no modelo de projetos. Outro no dia a dia das comunidades”. O relatório argu-
programa importante, o Subprograma de Ciência e menta que a capacidade de multiplicação das
Tecnologia, já iniciou a segunda fase, estabelecida experiências é maior pela participação das
sobre um modelo de redes de pesquisa, após ter comunidades no planejamento e na imple-
concluído a primeira fase, voltada para o re-equipa- mentação, na execução e redefinição das ati-
mento do Museu Goeldi e do INPA, reforçando- vidades.
lhes seu papel de centros de excelência, e ao apoio 4. Caráter demonstrativo visa “ apresentar ati-
vidades práticas de campo, com potencial de aplicação
financeiro de aproximadamente 23 projetos de pes-
em outras comunidades e até em outras regiões do
quisa dirigida.
125
país ”78% dos projetos tem este objetivo, brasileiras, como “modelos apropriados de gerenciamento
notadamente naqueles de tecnologia e organi- econômico, social e ambiental, aperfeiçoando os métodos e
zação social. procedimentos utilizados pelas populações tradicionais na
administração dos recursos naturais renováveis das florestas,
5. Caráter inovador - “ não se aplica apenas à
por intermédio da co-gestão entre governo e sociedade”
tecnologias totalmente novas, mas subprojetos que
apresentam novos modelos de gestão, de organização (PPG7, 1997c:2). Ainda que o modelo e o conceito
social, ou subprojetos que propunham aplicar tecnolo- de reservas extrativistas anteriormente previsse a
gias ambientalmente sustentáveis ” 90% dos proje- organização social baseada na estrutura de um
tos têm aspectos inovadores tanto em tecno- seringal e o modelo de exploração estivesse restrito
logia, organização social ou abrangência da ao extrativismo (ALLEGRETTI, 1989) hoje este
ação ; modelo evoluiu para uma organização social que
6. Ação multiplicadora visa aumentar a corresponde a uma unidade de conservação, que
“ capacitação da população envolvida, sustentação das incorpora o componente ambiental e que possui o
atividades planejadas e difusão dos resultados ”. A manejo como modelo de exploração dos recursos
divulgação ocorreu de 2 formas: através de naturais. A gestão compartilhada entre governo e
seminários ou encontros (cursos, treinamen- comunidade foi adotada neste projeto, servindo
tos, eventos, visitas e estágios) e publicação também como uma experiência a ser difundida.
ou vídeos, 75% dos projetos atingiram este Este modelo de Subprograma serviu para orientar
resultado; as modificações do recém proposto projeto de
Dois projetos do Subprograma Manejo de Recursos desenvolvimento sustentável dos assentamentos
Naturais destacam-se: o Projeto de Terras Indígenas agrários (Portaria INCRA nº 477/99). O argumento
– PPTAL e o Projeto Resex. No PPTAL quase 50 de que este modelo corresponde à prestação de um
milhões de hectares estão sendo demarcados como serviço ambiental, e, como tal deveria ser compen-
terras indígenas, em fases diversas do processo, dos sado, serviu para garantir a continuidade e instruir a
quais, 128 000 km2 já tinham sido demarcados em segunda fase do Resex, que visa identificar meios
1999; os 8,5 milhões de ha do Vale do Javari esta- para garantir a sustentabilidade econômica das
vam em processo de demarcação, o sistema de ava- reservas, no longo prazo, que não estava prevista na
liação e monitoramento tinha sido implementado e primeira fase. Hoje, as Resex encontram-se mais
a capacitação dos recursos humanos envolvia tam- popularizadas.
bém os grupos indígenas (PPG7, 1998c; WORLD Os temas tratados extensivamente no PD/A e nas
BANK, 1999b: 8). Desde 1999 as terras a serem Resex foram os sistemas de conservação ambiental,
identificadas, durante o ano, constam de uma lista- sistemas de manejo baseados em agroflorestas, em
gem divulgada pela Internet. Os itens mais destaca- implantações florestais, em silvi-agricultura, api-
dos nos relatórios relacionam-se ao incremento da cultura e piscicultura, objetivaram encontrar novas
qualidade técnica e do fortalecimento da participa- formas de uso e manejo dos recursos naturais. Os
ção indígena, aspectos estes que provocaram altera- projetos comunitários atingiram 71% do total, indi-
ção dos processos e procedimentos da FUNAI na cando um considerável grau de envolvimento das
regularização fundiária. A Alemanha foi o país que populações locais vinculadas à rede do GTA e da
mais investiu neste projeto. RMA. Atenção especial tem sido dada à questão de
A redução do custo de demarcação e a ampliação gênero relacionada à participação de mulheres nas
do número de reservas incluídas no Subprograma e atividades dos projetos, e sobre o qual o Reino
consequentemente o aumento e a proteção de ter- Unido sistematicamente insiste. A divulgação,
ritórios demarcados, de populações e de biodiversi- pelos meios de comunicação tradicionais formais
dade na Amazônia, são resultados positivos deste (sobretudo radio, jornais, seminários, etc.) ou infor-
projeto, conforme destacado na figura 4.5. mais, como os vídeos, as visitas dirigidas, etc. tem
O Projeto de Reservas Extrativistas (Resex), cuja valorizado bastante estas experiências.
primeira fase encerrou-se em 1998, desde março de As realizações do Subprograma Ciência e
1999 aguarda o inicio de uma segunda fase14. O Tecnologia dirigidas aos dois maiores centros de
projeto visava testar as quatro reservas extrativistas pesquisa da Região, o Museu Goeldi e o INPA,

126
127
visaram o estímulo ao desenvolvimento de pesqui- assim, para mudanças substanciais na sociedade
sas e aos pesquisadores. Coleções foram recupera- local. Na atualidade, inúmeros municípios come-
das, restabelecidas e realizaram reforços para a çam a criar condições e construir suas bases cadas-
reciclagem e treinamentos dos pesquisadores destas trais para a realização do licenciamento, monitora-
instituições. Além disto, a infra-estrutura viabiliza- mento e controle ambiental. Há também um
da para redes, promoveu a interconecção local com constante diálogo e troca de experiências intra-
a comunidade científica nacional e internacional, e regional realizado pelos Estados e entre estes e
com redes de instituições geradoras de produtos e alguns longínquos municípios. Resultados impor-
informações, contribuindo para a ampliação do tantes para o contexto regional.
conhecimento sobre a floresta amazônica. As territorialidades da proteção e da conser-
Tomando-se a aprovação de novos investimentos vação: a reduzida influência do PPG7
como indicador do interesse e do grau de importân-
cia de cada Subprograma no contexto do Programa, Apesar de alguns dos estudos de pré-investimento
os mais prestigiosos serão, sem dúvida, o PD/A, o terem proposto ações de caráter espacial, a estrutu-
Ciência e Tecnologia e o PPTAL. Novos recursos ra aprovada para o Programa “ não definia explicita-
do RFT para uma segunda fase, desde 1998, foram mente uma estratégia territorial ” (THÉRY, 1998). Mas
comprometidos de maneira bastante rápida; a se tal estratégia não foi explícita, ao longo dos 10
Alemanha, não hesitou em investir mais 15 milhões anos de existência do Programa, podem ser identi-
de marcos e outros doadores também destinaram ficados efeitos espacialmente diferenciados; confi-
novos valores para a continuidade do PD/A e do gurações e dinâmicas territoriais que evoluíram;
Ciência e Tecnologia reduzindo os longos proces- projetos que desenham com clareza “quais” e
sos de negociação, detalhamento do projeto e apro- “porque” determinados espaços foram incorpora-
vação. Por outro lado, os gestores internacionais do dos, quais temas tratavam e quais direções toma-
PPG-7 sempre insistiram na idéia de “ lições apren- ram.
didas ”15 e o PD/A foi o primeiro Subprograma A presença de dez anos, do PPG7 na política terri-
objeto de avaliações destinadas a encontrar estas torial da Amazônia é analisada pelo seu desenho
lições16. disperso, nos meios naturais e sociais, baseando-se
Os outros Subprogramas também produziram avan- na rede de organizações também dispersas pela
ços técnicos e bons resultados, entretanto, não pos- Região. Ao se aperceber desta dispersão espacial,
suem a mesma difusão e envolvimento de atores, compreendeu-se sê-la uma forma de distribuição
nem a mesma atratividade, nem a mesma divulga- aleatória dos recursos. Consequentemente, se apos-
ção, seja porque sendo seus executores, majorita- tou possibilidade de se obter diferentes modelos
riamente, governos dependem de estruturas pesadas originados nas experiências específicas, todavia,
e lentas, contrastando com a informalidade e agili- acreditando-se na conquista dos atores sociais e ins-
dade das ONG; seja porque gastaram longo tempo titucionais, da Região, para a proposição de novo(s)
na negociação e na elaboração dos mesmos e com modelo(s) de desenvolvimento regional.
isto gerando descrédito na sua concretização. No entanto, a influência e a disseminação dos obje-
Modificações favoráveis ocorreram corroborando o tivos do PPG-7 e suas experiências restringiu-se a
processo da gestão ambiental nos Estados poucos territórios, a alguns Estados em função da
Amazônicos e são avaliadas como uma das contri- vontade política de seus governadores, como o
buições do Subprograma de Política de Recursos Amapá e Acre, aspectos destacados na figura 4.8, e,
Naturais, para o fortalecimento das instituições e praticamente a nenhum setor econômico. As outras
para a melhoria da política ambiental nos Estados políticas setoriais territoriais que se realizam sobre
da Região. Pode-se atribuir este relativo sucesso à a Amazônia continuam a originar impactos.
relação de forças entre todos os atores envolvidos O reconhecimento de que a influência ambiental do
na questão ambiental e também à criação de bases Programa foi pouco significativa ocasionou mudan-
técnicas qualificadas monitoram e, ao mesmo ça da macroestratégia geral, após a revisão de meio
tempo, fomentam a “ visão verde ”, contribuindo, termo do Programa e para uma segunda fase, enfa-
tizando a ação em áreas de risco do desmatamento
128
129
e de degradação ambiental. pudessem servir de exemplos ou de barreiras aos
E importante analisar o propósito e os resultados impactos de outros projetos setoriais de desenvolvi-
espaciais de cada componente do Programa. Alguns mento.
dos Subprogramas e Projetos tinham, nitidamente, O Projeto Resex foi concebido exclusivamente para
ações territoriais, mas estas se distribuíam no as Reservas Chico Mendes, Rio Cajari, Alto Juruá e
conjunto do espaço intra-regional. O único Ouro Preto escolhidas em três Estados Amazônicos
Subprograma que continha a previsão de basear-se (Acre, Amapá e Rondônia). O Projeto Parques e
em uma macro-visão territorial era o de Política de Reservas (conhecido também como Corredores
Recursos Naturais. Foi no âmbito deste Ecológicos) destinado à integração de unidades de
Subprograma que se previu a realização do conservação, públicas e privadas, e o ordenamento
Zoneamento ecológico-econômico na Amazônia, do uso de recursos naturais em corredores ecológi-
foi inicialmente um projeto específico, posterior- cos para permitirem o incremento do grau de
mente foi transformado em uma atividade de proje- conectividade entre áreas naturais remanescentes.
tos de gestão ambiental integrada, reduzindo-se à Foram definidos sete corredores ecológicos, sendo
uma tentativa de ordenamento territorial no interior dois prioritários, um na Mata Atlântica Central e
de grandes sub-regiões, definidas anteriormente um na Amazônia Central e no decorrer do projeto
como “áreas críticas” dentro dos Planos Estaduais outros 4 deverão ser definidos para a Amazônia e
Ambientais (PEA). O Prodesque, Projeto de contro- mais um para a Mata Atlântica, conforme pode a
le do desmatamento e queimadas na Amazônia, representação gráfica da figura 4.4.
nome que corresponde ao seu objetivo maior, foi O PPTAL programou trabalhar com 44 terras indí-
proposto em 1996, porém, somente depois de 4 genas (29% das terras indígenas brasileiras), em
anos de discussão, foram definidas 9 áreas-piloto, processos de identificação e demarcação de terras,
as quais deveriam coincidir com as áreas dos concentrando suas ações em 7 dos noves estados
PGAIs, conforme destacado na figura 4.3. amazônicos. Os Estados do Mato Grosso e
A resolução de áreas coincidentes foi tomada Rondônia não foram contemplados neste projeto
depois da Reunião dos Participantes, em Manaus, devido à existência dos dois programas financiados
tanto por razões técnicas, visto que os Estados pelo BIRD – o Prodeagro e o Planafloro, que
amazônicos estavam investindo nos sistemas de cobriam tais tipos de ações. Em julho de 2001, 22
monitoramento, programado no âmbito do SPRN, milhões de hectares de terras indígenas tinham sido
acompanhando o modelo experimentado pelo demarcados. Outro aspecto importante relaciona-se
IBAMA e a coincidência de áreas permitiria um aos períodos de concentração das fases do processo
controle mais eficaz do processo de desmatamento de demarcação e homologação das terras indígenas
e queimadas, pela convergência de esforços; como ressaltado nitidamente por meio das datas de iden-
também por razões políticas, expressas pelos os tificação destas terras, representado na figura 4.5.
interesses dos governos estaduais em criar compe- O Promanejo17, constituído de quatro componentes,
tência técnica, fazer convergir esforços, básicos objetiva análises estratégicas da questão florestal
para futuros investimentos econômicos e construir para subsidiar a formulação de políticas públicas; o
parcerias com os municípios, enfatizando o discur- desenvolvimento de um sistema operacional piloto
so da descentralização. de monitoramento e controle de atividades flores-
Os projetos de Reservas Extrativistas, Reservas tais; o apoio ao manejo de recursos florestais na
Indígenas e Corredores Ecológicos são fundamen- Floresta Nacional do Tapajós, para a qual deverá
talmente projetos territoriais, por terem seus espa- desenvolver e implementar um plano de gerência
ços delimitados de maneira precisa. Entretanto, participativa e conta, também, com uma linha de
pode-se classificá-los apenas como portadores de investimento na realização de experiências, classi-
ação territorial pontual e isto não significa que os ficadas de “iniciativas promissoras de manejo flo-
mesmos sejam reflexos de uma ampla estratégia restal”, geograficamente dispersas.
territorial sobre a Região. A envergadura destes
projetos foi restrita por não investir em ações que

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O Provárzea - Projeto de Manejo dos Recursos da 3. As regras do jogo: o difícil começo do
Várzea será implementado em toda a várzea do Rio PPG-7
Amazonas. O componente apoio e promoção de
iniciativas promissoras relacionadas à conservação, Dois documentos são fontes de referência para a
gestão e uso sustentável dos recursos já selecionou constituição do quadro geral de estruturação do
15 iniciativas. Outro componente trata da elabora- PPG-7: a Resolução que criou o Fundo Fiduciário
ção de estudos estratégicos para subsidiar a imple- das Florestas Tropicais e o Progress Report (o
mentação de atividades voltadas à conservação e Relatório de Progresso) preparado para orientar o
uso sustentável da várzea. Será também desenvol- posicionamento dos doadores para a Reunião de
vido um sistema piloto de monitoramento e contro- Genebra. Neles constam as definições dos
le do uso dos recursos da várzea. As iniciativas pré- Subprogramas e Projetos, dos instrumentos de
selecionadas pelos dois projetos estão representa- gestão, acompanhamento e controle, dos mecanis-
das na figura 4.6. mos financeiros. Cada instrumento institucionaliza-
Os 181 subprojetos18 aprovados pelo PD/A foram do, cada parceria estabelecida, cada novo projeto,
apresentados pelas comunidades organizadas. deveria se enquadrar nos condicionantes inscritos
Representam nitidamente o resultado de uma polí- nestes documentos. A aceitação e a aplicação deste
tica de balcão, aberta, ao invés de um direciona- conjunto de regras que irá, à medida do avanço de
mento dado pela política ambiental ou pela política implementação, gerar polêmicas e conflitos de
regional da amazônia. Esta abertura produziu interesse entre os participantes.
alguns resultados significativos, por apresentarem Este relatório estabeleceu também a estratégia geral
condições de replicabilidade, especialmente de coordenação e participação no Programa, desta-
naqueles projetos de implementação de sistemas cando-se os atores envolvidos e os responsáveis
agro-florestais. Espacialmente, eles encontram-se pela coordenação. Simultaneamente, foi proposto o
concentrados principalmente na Amazônia quadro de acompanhamento externo, como forma
Ocidental, nos Estados do Acre e Rondônia, e na de controle e de obtenção de análises estratégicas
Amazônia Oriental, na região do Bico de Papagaio sobre o Programa e sobre a Região, mas ao mesmo
e sudoeste do Maranhão, conforme destacado pela tempo uma maneira de comunicar aos governos,
figura 4.7. Na verdade, esta ocorrência geográfica é aos doadores, à população beneficiada e ao público
representativa do grau de mobilização das ONG em geral, o desenvolvimento do Programa
nestas áreas e do grau de maturidade técnica e capa- (WORLD BANK/CEC TECHNICAL MISSION
cidade de sobrevivência, observada em projetos TO BRAZIL, 1991).
anteriores. Esta implícito no Relatório a ampla diretriz de
apoio às ações dispersas na Região, visando esti-
mular a capilaridade e a difusão de modelos
Áreas temáticas Número de sub- ambientais para as várias Amazônias. Uma orienta-
projetos ção territorial, aplicada tanto para os pequenos
aprovados como para os grandes projetos, por um lado benefi-
ciou o surgimento de experiências em diferentes
Sistemas Agroflorestais 97 espaços socio-ambientais, por outro, não logrou
Manejo florestal 51 reduzir os impactos ambientais do desmatamento e
Manejo de recursos aquáticos 22 das políticas econômicas setoriais, já identificados
Preservação ambiental 11 nas diversas sub-regiões amazônicas.
A complexidade deste quadro, baseado em condi-
Total 181 cionalidades a serem cumpridas, é intensificada
Amazônia 139 pelas diferentes percepções e interesses de cada
Mata Atlântica 42 grupo de participantes com suas consequências
inevitáveis.
O PPG7 advém de uma idéia proposta pelo
Governo alemão e ampliada com base na vontade

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política e financeira dos países doadores, e portan- revisão individual dos projetos e ajuda à preparação
to, a questão de liderança do Programa e dos desa- do relatório aos doadores pelo Grupo de
fios geopolíticos intrínsecos à esta organização se Assessoramento Internacional (IAG); o forneci-
apresentaram. De um lado, os europeus que contri- mento de um relatório financeiro detalhado ao final
buíram como doadores, mas que deixaram as do ano fiscal do Banco. Por outro lado, o BIRD
decisões ao Banco Mundial e de outro, o Governo teria o direito de aplicar as doações do RFT em
brasileiro que se propôs a estabelecer os parâmetros outros fundos administrados pelo próprio Banco, as
do Programa, mas as dificuldades internas face às doações ao RFT; poderia entrar em co-financia-
distintas visões setoriais do desenvolvimento para a mentos com os doadores e aplicar a metodologia-
Amazônia, reduzia-lhe o universo de ação. padrão de avaliação de projetos às propostas elegí-
Este contexto político de fragilidade institucional veis para financiamento. Cabe a Diretoria
brasileira fortaleceu a argumentação utilizada nos Executiva do Banco encerrar esta função de “trus -
documentos do Banco Mundial, sobretudo no tee” (WORLD BANK, 1992).
período que se estendeu entre o inicio à revisão de Os aspectos relacionados ao prazo de execução,
meio termo, referindo-se constantemente às origens parcerias, participação financeira brasileira, rela-
do Programa e ao estabelecimento de diversos ções interinstitucionais a serem cumpridas e como
níveis de rígidas obrigações, aceitas pelos execu- se daria a constituição de projetos bilaterais asso-
tores brasileiros, que pesavam fortemente sobre os ciados foram também objeto de detalhamento:
coordenadores brasileiros: «i) o prazo de execução dos projetos de três anos,
“a proposta foi originada fora do Brasil, baseado devendo-se cumprir o ciclo de projeto, as normas e
sobre substancial ajuda financeira, o mais alto nível critérios de elegibilidade do Banco; ii) staff para a
político dentro do G-7; sendo a mesma aceita pelo aprovação (appraisal), constituído pelo Banco e
governo brasileiro, pois o Brasil não se sentia sufi- co-financiadores, devendo ser subsidiados por um
cientemente preparado para entrar numa parceria novo relatório feito pelos revisores antes da missão;
internacional como a visada pelo G719” (Pilot iii) projetos aprovados devem ser complementares
Program to Conserve the Brazilian Rain Forest, com outras ações e programas do governo (planeja-
1999: 01). dos ou em implementação e de recursos nacionais,
O primeiro passo concreto na implementação foi a do BID ou bilaterais); iv) cada projeto deve ser
criação, pela resolução 92/4520, do Rain Forest constituído com recursos de diversas fontes de
Trust Fund (RFT), um fundo vinculado aos objeti- financiamento (RFT, co-financiamentos); v) no
vos do Programa, com ima resolução genérica, âmbito dos projetos que financiam, os participantes
definiu a contribuição mínima dos doadores e obri- podem aportar sua própria expertise às agências
gou a aceitação, pelo Brasil, de três pontos impor- brasileiras; vi) os projetos devem ser consistentes
tantes: com as políticas brasileiras e com a estrutura insti-
- a análise, a aprovação e a administração dos tucional existente;
projetos a serem financiados pelo RFT deve- Projetos bilaterais, aprovados pelos doadores, para
riam seguir os procedimentos do BIRD; serem considerados associados ao Programa,
- o GOB teria de contribuir com pelo menos teriam que passar por uma rápida pós-avaliação
10% do custo total de cada projeto; pelo Banco, visando assegurar a coerência e a inte-
- os fundos adicionais de US$ 200 milhões gridade com o PPG7.
seriam colocados à disposição pelos doadores Os mecanismos de financiamento estabelecidos
e definidos, em acordo em separado, entre o constituem-se de três fontes: o RFT, os co-financia-
Brasil e o doador. mentos e recursos do orçamento brasileiro. Ao
Como administrador do Fundo (“trustee”), o BIRD RFT-PPG7 coube o financiamento dos custos ope-
tem obrigações e direitos, entre estes, o reembolso racionais (preparação, aprovação, supervisão) e dos
dos custos de administração. Exigiu-se a apresenta- estudos de “pré-investimento”21. Os co-financia-
ção de um relatório anual de progresso para o mentos, são disponibilizados através de mecanis-
Encontro dos Doadores; a realização de uma mos bilaterais diretamente entre executores e doa-

137
dores. A contribuição de recursos brasileiros, no penhar um papel ativo na preparação e imple-
montante mínimo de 10%, para cobrir os custos de mentação dos projetos, permitindo que o
implementação do Programa, poderiam advir de PPG7 pudesse se beneficiar de suas experiên-
entidades federais, estaduais ou privadas que pode- cias.
riam ter a função de agência executora. Um crono- O processo de supervisão e avaliação geral, dessa
grama de desembolsos de 3 anos foi proposto. estrutura, apoia-se em alguns mecanismos de
Como a maior parte dos recursos viria de projetos acompanhamento e controle específicos ao
bilaterais, associados ao PPG7, o Governo Programa:
Brasileiro comprometeu-se a revisar os mecanis- - Technical Working Committee, constituído
mos e procedimentos internos de aprovação para por representantes do quadro técnico dos parti-
torna-la mais rápida. cipantes, que, no entanto, jamais foi implanta-
Foi então constituído um conjunto de formas insti- do;
tucionais: - IAG: - constituído por peritos em temas bra-
- Reunião Anual dos Participantes para rea- sileiros e amazônicos, com o objetivo de apre-
valiar o quadro das políticas globais que sentar relatório técnico sobre relações entre o
regem o Programa, discutir a estrutura inter- Programa e as políticas brasileiras, assegurar a
na do Programa e do RFT; analisar o progres- coordenação com programas bilaterais e posi-
so na implementação; revisar experiências e cionar-se também, sobre o Projeto Executivo
lições que emergissem; Inicial (IEPS) e o acompanhamento dos proje-
- Comissão Brasileira: para definir a estrutu- tos. Estas avaliações são dirigidas ao GOB,
ra financeira de cada projeto; acompanhar e Banco e doadores, na Reunião Anual de
supervisionar os fluxos dos fundos RFT e co- Participantes;
financiadores; assegurar contrapartida brasi- - BIRD elabora o Relatório Anual de
leira. Esta Comissão, interministerial, criada Progresso e Relatórios de supervisão;
pelo Decreto n° 563, de 05 de junho de 1992, - Coordenação brasileira: responsável pelo
teria uma Secretaria Executiva (modificada monitoramento dos projetos dentro da unidade
pela portaria MMA n° 102/97), responsável brasileira de coordenação do Programa;
pela articulação entre a Comissão e as A preocupação com a duplicação de esforços e com
Secretarias Técnicas dos Subprogramas e a necessidade de articulação e coordenação multila-
pela implementação do Programa; teral transparece nos documentos e nos propósitos
- Agências multilaterais: Utilização do de outros projetos realizados por outras organiza-
PNUD para administrar pequenos recursos ções multilaterais. O Banco Mundial (WORLD
(“small grants”) e assessorar a preparação e BANK, 1992) ressaltava esta necessidade de
implementação de projetos com as ONG. aproximação indicando que o PPG7, embora imple-
PNUD e Governo Brasileiro (GOB) que assi- mentado pela Rain Forest Unit (RFU), deveria estar
nariam um “convênio guarda-chuva”. Outras em coordenação com todas as outras atividades
agências poderiam participar (BID, FAO, relacionadas ao meio ambiente realizadas pelo
PNUMA, etc.) para o gerenciamento dos BIRD. Uma concertação que se reduziu à esporádi-
pequenos recursos ou de assessoramento téc- cas tentativas, sem sucesso.
nico; A definição, a priori, clara e explícita, de todos os
- Cooperação técnica bilateral formada por arranjos institucionais, financeiros, políticos e de
dois organismos: a GTZ, que além de assis- participação social, demonstrou uma clara falta de
tência técnica, administra os Projetos de objetividade e de simplicidade. A complexidade,
Cooperação Técnica Brasil-Alemanha, e o tanto de implementação e gestão quanto da necessi-
DfID (à época chamado ODA), responsável dade de articulação política, tornou a implementa-
pela cooperação técnica britânica; ção do Programa um verdadeiro desafio.
- Organizações não governamentais brasi - A existência de compromissos simultâneos apoia-
leiras ou estrangeiras que deveriam desem- dos por recursos financeiras de diversos doadores e

138
também por diversas cooperações técnicas, se, por dos das dinâmicas sociais e econômicas da Região
um lado tinha uma dinâmica inovadora, por outro, e das novas configurações territoriais próprias deste
exigiu aprendizagem de todos os envolvidos. novo momento (THÉRY 1998, 2000). Criou-se e
Depois da Resolução do RFT e do Decreto 563/92 foram consolidados os OEMA e suas ações fortale-
que aprovou o Programa, o Acordo-Quadro, datado cem a articulação entre instituições governamentais
de 25 de fevereiro de 1994 foi o documento formal e organismos não-governamentais23.
que estabeleceu as obrigações entre Governo Neste mesmo período, a comunidade científica
Brasileiro e o Banco Mundial. aprofundava também debates sobre o(s) modelo(s)
A partir deste quadro de obrigações e direitos, para a Amazônia e a contribuição desta Região para
iniciou-se a implementação do Programa. Nos pri- os problemas globais, especialmente a questão das
meiros anos, desenvolveu-se uma relação de trabal- alterações climáticas, do aumento de emissões de
ho bastante pragmática entre os coordenadores e gases de efeito estufa, da perda da biodiversidade
executores, pois correspondeu ao momento em que associada aos desmatamentos, o que contribuiu
se cumpriam as exigências para as validações dos para a mudança do contexto regional e nacional.
Acordos entre o Brasil e os doadores. Esta compreensão complementou-se pela percep-
ção do processo de reestruturação e de competição
4. Polêmicas, diferentes visões e conflitos
mundiais, processo no qual uma das alternativas de
A partir da assinatura do Acordo-Quadro, os proje- inserção da Amazônia seria a exploração da sua
tos e Subprogramas começaram a ser implantados, biodiversidade e da conservação e proteção do
por vezes servindo-se de estudos que buscavam meio ambiente. Constituiu-se, assim, um novo
aprofundar as reflexões sobre a Amazônia e o ambiente nacional propicio, no qual os represen-
desenvolvimento do vetor tecno-ecológico (BEC- tantes do Governo brasileiro se contrapunham aos
KER, 1994). Um processo no qual a Secretaria da argumentos e críticas dos doadores e do Banco
Amazônia buscou caminhos e parcerias para a Mundial.
implementação da Política Nacional Integrada para Assim, após 4 anos da assinatura do Acordo, havia-
a Amazônia Legal. se superado o ambiente de fragilidade pelo qual foi
Apoiando-se na visão de que o PPG-7 poderia ser caracterizado o país no início do Programa e, a
um vetor de transformação na Amazônia, a estraté- inadequação destas complexas estruturas de gestão
gia estabelecida pelo governo, no período 1995 – e do quadro institucional existente tornou-se evi-
1999, buscava consolidar a mudança do patamar dente, sobretudo por estarem aplicadas a um proje-
técnico-científico existente na Região, instituindo to piloto, de caráter temático e político inovadores
dentro do aparelho de Estado, uma capacidade de - portanto deveria ser flexível -, mas também
planejamento, de gestão e de controle que pudesse porque aplicava-se a uma região com novas dinâ-
também construir parcerias com organizações não- micas sociais e políticas.
governamentais presentes na Região, em prol de
O acirramento das tensões
uma política que inserisse a variável ambiental.
Assim, com o objetivo de criar instrumentos para Os conflitos surgidos inicialmente entre o Banco e
apoiar uma reflexão mais aprofundada de modelos Governo brasileiro (através das Secretarias
para a Região, o Núcleo de Apoio às Políticas Técnicas ou da Secretaria Executiva da Comissão
Integradas para a Amazônia22, integrou peritos e de Coordenação) poderiam ser enquadrados em
consultores nacionais e internacionais para a for- dois tipos. O primeiro, diz respeito à conceituação
mulação de subsídios e propostas de negociação precisa sobre a proteção dos recursos das florestas
com os governos estaduais e outros atores impor- tropicais, das estratégias e dos tipos de atividades
tantes para o desenvolvimento da Região. da política de recursos naturais. O segundo, refere-
Neste período muito se investiu na capacitação do se à esfera gerencial, no que tange ao cumprimento
quadro técnico regional, na concepção de nova dos procedimentos exigidos no ciclo de projeto, as
metodologia e na difusão de instrumentos de orde- normas e critérios do Banco, o grau de detalhamen-
namento territorial, como o ZEE. Realizou-se estu- to das cláusulas de financiamento cruzado e das
condicionalidades para acessar os recursos, o quan-
139
tidade de “no objections”24 que, de uma certa ção de missões de aprovação. Estas posturas altera-
maneira, ratificavam as posturas anteriores de inse- ram o clima de boas relações profissionais e impli-
gurança dos doadores e do Banco quanto a capaci- caram em acentuação das desconfianças de ambos
dade gerencial e institucional do governo brasileiro os lados. Entre estas questões técnicas destacam-se,
e de suas agências executoras. pelas discordâncias e conflitos entre os partici-
As regras estabelecidas nas cláusulas de financia- pantes, como as mais importantes:
mento cruzado exigem que a efetividade de um i. versões sucessivas dos projetos “Parques e
Projeto seja dada pelo Banco Mundial, somente Reservas: corredores ecológicos”; “Educação
após a assinatura de todos os documentos de coope- Ambiental”, e o de “Áreas degradadas”, sub-
ração financeira e técnica relacionados ao mesmo. stituído posteriormente pelo “Controle do
As exigências de fontes de recursos distintas para Desmatamento e Queimadas”. Tomando-se
cada projeto ou Subprograma agravam esta situa- como exemplo o projeto de Educação
ção pois os acordos financeiros do RFT, KfW e Ambiental, proposto deste a primeira versão
União Européia necessitam do aval dos setores téc- do Programa, em 1991, o desgaste provocado
nico e jurídicos dos dois bancos - BIRD e KfW - do pelas diferentes versões e longa negociação
Ministério diretamente envolvido e da Agência resultou no descrédito de que algo pudesse ser
Executora, da SEAIN (Secretaria de Assuntos feito em relação as suas propostas.
Internacionais do Min. do Planejamento), da PGFN ii.a utilização de recursos comprometidos no
(Procuradoria Geral da Fazenda Nacional), da STN SPRN para a realização do projeto “Amazônia
(Secretaria do Tesouro Nacional) e agência finan- Fique Legal”, sob a argumentação dos lentos
ceira brasileira (Banco do Brasil, Finep, etc.). Um desembolsos deste Subprograma foi investido
fluxo longo, decorrente das negociações necessá- às pressas num projeto de controle ambiental,
rias para a efetivação de um contrato internacional de desmatamento, pois o projeto de Controle
e das competências institucionais, dos procedimen- do Desmatamento e Queimadas não tinha sido
tos administrativos e das condicionalidades que os ainda aprovado;
“tomadores da doação” devem cumprir. O grau de iii. as divergências a respeito dos objetivos e da
complexidade e o tempo despendido para a efetiva- amplitude do projeto de “Ações de Gestão,
ção dos instrumentos inerentes a cada projeto ou Monitoramento e Políticas”. acabou sendo
Subprograma decorrente deste fluxo, coloca conti- dividido em um projeto apoiado pelo RFT o
nuas condicionalidades estabelecidas no momento “Avaliação e Monitoramento do PPG7–
de aprovação do Programa. AMA” e outro apoiado pela União Européia,
Quanto ao papel do Banco, os representantes do o Núcleo de Apoio às Políticas Integradas para
Governo brasileiro não aceitavam as decisões e as a Amazônia. O projeto AMA iniciado em
ações originadas, unilateralmente, para a tomada de 1996, em julho de 2001 não tinha ainda pro-
decisão no âmbito do Programa e as divergências se duzido resultados, visto as continuas redefini-
acentuavam dia a dia. ções de objetivos, seguindo as óticas de cada
À medida que a execução do Programa avançava, um dos envolvidos. Há interesses e expectati-
um conflito crucial veio à tona relacionado às vas distintas tanto do GOB quanto dos ges-
questões técnicas dos projetos e às disputas pela tores e dos doadores em relação ao objeto e
tomada de decisão, pois o Banco Mundial, como objetivo deste projeto. Foram observados
coordenador internacional, em nome dos doadores, conflitos desde a sua concepção, na definição
colocava-se na posição de opinar sobre o conteúdo de objetivos, nos produtos esperados, nos
dos projetos; e, enquanto gestor do Trust Fund do estudos a serem realizados, na escolha do
Programa, aprovar, controlar e supervisionar o uso coordenador do projeto.
dos recursos financeiros. iv. Na implementação do SPRN os conflitos e
As disputas a respeito dos aspectos conceituais, polêmicas inscreviam-se principalmente no
metodológicos e de gestão, provocou diversas tema zoneamento ecológico-econômico; no
versões sucessivas de alguns projetos e a posterga- papel da Comissão de Projetos e no conteúdo

140
dos projetos de gestão ambiental integrada. Os aplicabilidade dos mesmos pelos diversos execu-
conflitos em relação ao zoneamento ecológi- tores, assim como, do escopo dos instrumentos de
co-econômico, aconteciam quanto o papel planejamento e comando e controle previstos.
deste instrumento no planejamento, a sua Discordâncias assentadas na fragilidade e impre-
metodologia, a utilização de resultados e o cisão de conceitos, nascidos da articulação interna-
nível de participação social. A interpretação cional no momento de transição da bipolaridade à
do papel da Comissão de Projetos (CP), insti- multipolaridade do mundo atual, no exercício da
tucionalizada para ser fórum de decisão do geopolítica dos Estados-nacionais. Assim, nas
Subprograma, teve sua decisão questionada bases epistemológicas do ecodesenvolvimento
no momento em que o BIRD (seguido poste- (Founex, 1971) ao desenvolvimento sustentável
riormente pelo KfW) não aceitou a aprovação (1986) encontram-se a valorização da esfera pla-
dos projetos de gestão ambiental integrada, netária, dos períodos intergeracionais e das
indicando que os mesmos não atingiam o grau dimensões ambientais, sociais, econômicas, políti-
de qualidade exigido pelo Banco e que a CP cas e culturais, a evolução conceitual problemati-
tinha tomado uma decisão política sem respal- zou as questões de base filosófica e ética no mundo
do técnico. Isto se constituiu numa afronta dos pensadores. Reflexões sobre a sustentabilidade
pois nenhum outro fórum de decisão do PPG7 do desenvolvimento26 e sua ética analisam como se
tinha sido desautorizado desta maneira. interrelacionam a mediação do Estado entre os
Do ponto de vista interno a cada Subprograma, interesses pela apropriação dos recursos naturais e
alguns dos documentos de avaliação e de revisão de as lutas entre estratégias das empresas e os direitos
meio-termo relataram o rol das polêmicas suscita- das comunidades. Participam deste complexo, ele-
das no desenvolvimento e implementação dos pro- mentos e variáveis que caracterizam as dimensões
jetos25. envolvidas nestes conceitos.
No âmbito do Subprograma Política de Recursos Por outro lado, na ótica dos setores ambientais do
Naturais: um dos fatores polêmicos e limitantes aparelho de Estado e de organizações de base local
constituiu-se na impossibilidade de apoiar práticas o compromisso fundamental era a concretização do
alternativas de uso sustentável dos recursos natu- desenvolvimento sustentável, restringindo-se os
rais. Aspecto, inclusive de uma grande disputa entre momentos de reflexões. No entanto, um debate
os próprios doadores, pelas posições defendidas. deveria ter sido realizado, a priori, quando da defi-
De um lado, os representantes do governo alemão nição do Programa, mas que foi postergado e só
KfW e GTZ, aos quais estava associado o Banco vindo ocorrer na execução dos projetos.
Mundial, e de outro lado os representantes do DfID Quanto aos mecanismos de gestão, o grau desta dis-
e da União Européia aos quais estavam associados cordância pode ser claramente medido pelo longo
os representantes dos Estados da Amazônia Legal. processo de preparação do Manual do Projeto
Na base dessa questão colocava-se a falta de clare- (documento de procedimentos e regras do jogo),
za entre os objetivos propostos para o tanto para sua preparação como para sua aprova-
Subprograma, que para muitos dos doadores confi- ção: este período se estendeu de outubro de 97 a
gurava-se se em projetos de gestão ambiental fevereiro de 99, quando foi aprovado pela
baseados em instrumentos de comando e controle Comissão de Projeto, mas continuou sendo um
ou em projetos de preservação ambiental. Para documento desconhecido das instituições executo-
estes doadores e para o Banco Mundial projetos de ras até o momento da revisão de meio termo deste
viabilização de novas alternativas sustentáveis esta- Subprograma.
riam mais apropriados no âmbito do Subprograma Na falta de um documento regulador, os conflitos
Projetos Demonstrativos-B, numa nova linha de se acirraram sobre procedimentos de preparação e
projetos, ainda em discussão. aprovação dos projetos de gestão ambiental inte-
Este ponto de discordância, refletia sobretudo a grada, sobre o padrão de qualidade dos produtos,
falta de clareza de conceitos como conservação, sobre as formas de colaboração e os cronogramas,
preservação ou desenvolvimento sustentável e a sobre as estratégias de monitoramento, supervisão e

141
avaliação dos projetos. Agravado por estes aspectos haviam buscado outros interlocutores, passando a
a definição dos papéis e das responsabilidades de trabalhar com comunidades, organizações não
cada um tornou-se um embate institucional. governamentais e populações marginalizadas.
Outros aspectos internos a cada projeto de gestão Este posicionamento é claramente perceptível nos
ambiental integrada também contribuíram: a falta documentos das missões de avaliação (PPG7, 1999,
de estabelecer prioridades na implementação das 2000b). Ao projeto Resex, por exemplo, a questão
atividades (alguns subprojetos tinham cerca de 30 da desarticulação entre o projeto e outras iniciativas
resultados que deveriam ser realizados simultanea- governamentais, do INCRA ou de prefeituras, era
mente), a falta de parcerias com o IBAMA para o apresentada de maneira positiva. Por seu lado, a
monitoramento e controle ambiental e a rigidez lentidão dos procedimentos de regularização fun-
excessiva na estruturação dos resultados esperados diária eram objeto de proposições que requeriam
reduziu sensivelmente a dinâmica, o escopo de reforço institucional para executar tais processos.
ação das atividades previstas dentro de cada proje- Outro aspecto representativo refere-se à questão de
to e sobretudo sua capacidade de agir como um metodologia para a elaboração dos planos de desen-
exemplo de projeto antecipativo. volvimento das reservas extrativistas: cabia a coor-
Portanto, todas estas questões constituíam um qua- denação do projeto apresentar uma proposta destes
dro explosivo, reforçados pela frequência de planos, a qual serviria de base de informações para
momentos de tensão, constrangimento e descon- a elaboração dos planos de desenvolvimento junto
fiança. Muitos dos projetos de gestão ambiental às comunidades nas reservas, ou seja, um método
integrada, complexos e confusos pelo grande uni- onde a coordenação faria a proposta para depois
verso de abrangência, não lograram avanços sobre levá-la à discussão com as comunidades.
os efeitos preventivos que poderiam gerar. Típico exemplo de opinião favorável previamente
Outros subprogramas, ou projetos, também eram concebida quando se nota que este método podia
palco de disputas, embora não tivessem bloqueios ser utilizado nas reservas extrativistas mas que não
em sua implementação. Questionamentos se resol- poderia ser utilizado na elaboração do zoneamento
viam de maneira gradativa, o que pode ser atribuí- ecológico-econômico dentro dos PGAIs dos esta-
do à fatores como a boa disposição do Banco e doa- dos amazônicos. A metodologia proposta para ser
dores sobre a temática ou sobre os atores envolvi- utilizada no zoneamento, de identificação e mapea-
dos. Atores sociais se configuravam como parceiros mento das informações do meio natural, elaboran-
preferenciais vis-a-vis às instituições governamen- do um documento técnico antes de apresentá-los a
tais27, pois com estas haviam vários constrangi- uma discussão junto às populações locais e comu-
mentos e portanto, os esquemas de monitoramentos nidades envolvidas foi duramente criticada. Se o
deveriam ser mais exigentes. plano de desenvolvimento elaborado pelos consul-
Na verdade, pode-se mencionar a ocorrência de um tores para as reservas extrativistas servia como uma
divisor de opiniões, com claras posturas: de um base de informações, porque o mesmo não poderia
lado, uma concepção favorável, em princípio, a ser adotado na elaboração das informações sobre os
todos os projetos onde participavam ou que imple- aspectos naturais do zoneamento ecológico-econô-
mentavam as organizações não-governamentais; de mico?
outro lado, um preconceito negativo, também em Pode-se também observar valores pré-concebidos
princípio, de todos os projetos que contassem com no âmbito dos Subprograma projetos demonstrati-
a participação do Estado, exigindo esquemas de vos - tipo A:
monitoramento mais exigentes. Sob estas e outras «a experiência com os projetos em andamento e dos
argumentações técnicas escondiam os verdadeiros PD-A sugere que a capacidade do governo federal
interesses de disputa pelo poder, pela influência, que efetivamente gerenciar um grande, complexo e
comando e controle do processo como um todo. largamente disperso projeto como o PD-A é ques-
Uma necessidade do Banco Mundial provar que, tionável. A preparação dos subprojetos, a aprova-
depois de anos sendo apenas aliado de governos, ção, e o monitoramento em todas as áreas necessi-
contribuindo em processos pouco transparentes, tam de melhoramento. Para melhor resolver esses

142
problemas, maior descentralização no arranjo insti- i. necessidade de seguir passo-a-passo o ciclo do
tucional precisa ser seriamente considerada.» (Food projeto (identificação, preparação, avaliação /
and Agriculture Organization of the United appraisal, aprovação, implementação, monito-
Nations, 1999). ramento e avaliação). Um ciclo obrigatório
O grau de discordância entre o Banco Mundial e a para empréstimos, mas cujo rigor não se ade-
Secretaria da Amazônia sobre questões de assistên- quava a uma doação, que procurava resultados
cia, gestão ou decisão sobre os projetos atingiu o mais rápidos;
seu ponto mais elevado no início de 1999, período ii. necessidade de se estabelecer contratos com
que antecede a Revisão de Meio Termo do cada um dos doadores. Dependendo do tipo de
Programa. A conjunção destes numerosos fatores doação (financeira ou cooperação técnica),
implicava na necessidade de revisão dos objetivos e implicava em inúmeros fluxos entre institui-
metas dos projetos do PPG7. ções, departamentos diferentes; e,
iii. estabelecimento das “condicionalidades
5. A revisão dos papéis dos principais
cruzadas”. Os projetos que dependiam de
atores recursos de diferentes doadores, somente
Para a Secretaria Executiva da Comissão do PPG7- poderiam ser considerados efetivos após todos
SCA, a leitura da documentação que instituiu o os contratos financeiros assinados. A autoriza-
Programa deixou claro que “o Programa Piloto foi pre- ção para que os desembolsos pudessem ser
parado pelo Governo Brasileiro, com assistência do Banco e iniciados só era dada a partir deste momento.
da Comissão Européia, sendo portanto, um programa brasilei- Outras questões de procedimento prejudicaram o
ro e cabendo ao Banco a gestão do RFT” (BRASIL, desempenho do PPG7, as quais estavam vinculadas
1998b:05). Estas divergências foram, inúmeras à “ausência de uma estratégia programática provocando pro-
vezes explicitadas em reuniões ou em documentos blemas na gestão, dificuldades por parte dos participantes
trocados entre o Banco e o Ministério do Meio para abordar e resolver questões programáticas fundamentais;
Ambiente28. Um documento que agravou um pouco complexidade dos desenhos dos projetos e dos arranjos finan-
ceiros resultam em processamento dispendioso e prolongado
mais a situação de alta tensão e reforça a idéia de
dos projetos” (WORLD BANK, 1999b).
briga pelo poder, foi a minuta do Acordo de
Em 1998/1999 as recomendações da consultoria
Cooperação entre o Banco e os doadores propondo
sobre os arranjos institucionais do Programa cen-
a participação do Banco em qualquer entendimento
traram-se sobre a formação de um Comitê Técnico
bilateral, a partir da assinatura de cada acordo em
tripartite, formado pelo governo brasileiro, o BIRD
separado. Esta minuta circulou logo após a Reunião
e os doadores, para discussões técnicas e com poder
dos Participantes, de outubro de 1997, realizada em
decisório (DfID, Roles and Responsabilities of
Manaus. Com base neste acordo todos os projetos,
Donors and the World Bank in G7 Pilot
incluindo os bilaterais, passariam a ser regidos
Programme: 1997). Parece ser uma re-invenção do
pelas regras do Banco. Evidentemente que com
Technical Working Committee, que, no entanto, se
todas as resistências apresentadas pelo GOB, o
transformou, posteriormente no JPSC, a CCC
Banco evitou dar prosseguimento a esta proposi-
(Comissão Coordenadora Conjunta).
ção.
Este estudo evidenciou de maneira ainda mais clara
Resgata-se que divergências ocorriam também
as divergências, ao relatar as visões de alguns dos
entre os doadores e o Banco. A situação de tensão
participantes a respeito dos papéis de cada um:
nesta complexa parceria levou à proposição, pelo
“O Governo Brasileiro teve expectativas que alguns dos doa-
DfID, de um estudo a respeito do papel dos doa- dores assumissem um papel de liderança” (PPG7, 1999:
dores e do Banco (DfID, 1997). O lento processo de 79). Mas, com o passar do tempo, mudanças foram
negociação de cada um dos projetos foi outro se processando de todos os lados, alterando-se
aspecto que serviu de forte argumento à época de completamente o contexto e não cabia mais um ou
realização do estudo proposto pelo DfID, posterior- outro doador assumir a liderança. A Reunião inter-
mente transformado em consultoria institucional. mediária dos Participantes que ocorreu em Paris (7
De fato, a lentidão da negociação e aprovação rela- a 9 de abril 1999) acabou por tratar, com a maior
cionava-se à:
143
emergência, deste tema crucial e reforçou o novo política.
papel do Brasil: “o princípio de melhorar a liderança e a A União Européia apresentou um conjunto de
“posse” do Programa pelo Brasil foi endossado” (PPG7, comentários enfatizando que os arranjos institucio-
1999: 55). nais propostos não representavam uma simplifica-
Nesta mesma reunião de Paris, os participantes ção, mas mantinham a impressão da complexidade
foram unânimes no julgamento de que “o PPG7 pre- institucional do Programa. Insistiram numa propos-
cisa tornar-se mais um Programa coerente que promove ta de estrutura leve e flexível devido aos objetivos
contribuições positivas para os objetivos brasileiros de de descentralização. Sugeriram a elaboração, em
conservação e desenvolvimento sustentável na Amazônia ao
documento separado, de uma análise da redução
invés de uma coleção de projetos” e ao endossaram as
dos “vazios” de eficiência e efetividade que será
quatro premissas propostas preliminarmente para a
proporcionada com os novos arranjos propostos.
revisão institucional (PPG7, 1999: 55). Tais propo-
Enfocaram especialmente a “necessidade da avaliação
stas visavam alterar o quadro de divergências exis- institucional abordar as superposições do papel de coordena-
tentes ao: ção do BIRD e do GOB, o que implicaria, segundo eles, numa
i. aumentar a liderança do Brasil no programa e análise em particular, do valor agregado do Banco”. (PPG7,
melhorar a integração do PPG7 com outras 1999: 64).
políticas brasileiras; A UE argumenta que “a especificação que o BIRD deve
ii.atribuir grande importância ao envolvimento coordenar o Comitê de doadores e dirigir o estratégico Grupo
crescente dos governos dos Estados; de Trabalho do JPSC, na aprovação, monitoramento e avalia-
iii. continuar incrementando o papel da socie- ção parece limitar a possibilidade da liderança do Brasil em
dade civil; áreas-chave do Programa” sugerindo maior detalha-
iv. envolver outros setores, incrementando o mento e clareza na proposição.
papel de outros ministérios. A USAID focaliza a necessidade de se ter estrutu-
Naquele momento novo dirigente assumia a ras de trabalho mais eficientes, racionalizando os
Secretaria de Coordenação da Amazônia. A nova procedimentos burocráticos, melhorando os progra-
Secretaria reforçou os aspectos que relacionam-se mas de contabilidade e aumentando a relevância da
aos procedimentos, falhas e interferências exis- sociedade brasileira. Reforça sua posição de que a
tentes no ciclo do projeto e incluiu outros aspectos natureza dos arranjos institucionais regula as rela-
a serem abordados no documento final da consulto- ções entre atores. Neste sentido, “parece ser pequeno o
ria, considerando que os mesmos interferiam no valor adido em ter uma proliferação de instâncias de gerência
/ consulta”. Ressalta o papel preponderante de cola-
andamento e/ou iniciação dos projetos: “a) falta de
competência gerencial de parcela dos proponentes; b) troca
boração do BIRD na efetividade do PPG7 e insiste
constante dos gerentes de projetos; c) falta de engajamento na “reafirmação do papel do BIRD, ao prover um programa
institucional; d) falta de visão estratégica na definição do independente de controle de qualidade e coordenação efetiva
conteúdo dos projetos; e) pouca flexibilidade no processo de de todas os componentes do PPG7 deve ser claramente espe-
aprovação e de adaptação do conteúdo do projeto às dinâmi- cificada” (PPG7, 1999: 66). Apoia a articulação e
cas contextuais”. implementação de uma estratégia de aprendizado
As diferenças de interpretações permanecem e das coerente; acentua a pouca atenção dada à Mata
argumentações pode-se depreender duas posições Atlântica e ao setor privado no contexto do PPG7.
marcantes. A União Européia enfoca a problemáti- Aos olhos deste parceiro, o PPG7 promove expe-
ca relacionada ao poder de decisão do governo bra- riência de aprendizado para todos os envolvidos: a
sileiro sobre o Programa, sua liderança; os repre- sociedade brasileira confronta-se com mudanças
sentantes da USAID privilegiam questões mais ope- econômicas e sociais que requer esforços coerentes
racionais, de eficiência e eficácia nos resultados e do GOB, doadores e BIRD.
da contribuição do Banco. De uma certa maneira, A análise do IAG reforçou o que foi recomendado
reproduz-se no nível operacional a grande oposição pela União Européia a respeito do papel preponde-
geopolítica Europa - Estados Unidos. O apoio ao rante dado ao BIRD, no JPSC, argumentando que
Governo Brasileiro dado pelo UE, representa, na tal proposição pareceria trabalhar contra o objetivo
verdade, a possibilidade de uma nova aliança com expresso de aumentar a responsabilidade do Brasil
o Brasil, convergindo-o para uma nova esfera geo- no Programa e que a estrutura proposta no relatório

144
intermediário (SCC – state co-ordinating e SMC - especialmente da biodiversidade e de outros recur-
state management committees) poderia aumentar sos naturais da Amazônia.
ainda mais a complexidade burocrática existente. Estes temas já vinham sendo abordados por pesqui-
Ressaltaram a falta de participação direta da socie- sadores como BECKER (1996); ALBAGLI (1998),
dade dentro do PPG7 na nova estrutura proposta, RIBEIRO (1999). Objeto de discursos e de propo-
sugerindo a inclusão de representantes da socieda- sições de políticas, o conceito de biodiversidade
de civil, do setor privado e da comunidade científi- engendra percepções diferentes para cada grupo
ca no JPSC. Avaliaram também que a proposta da social que o defende. Conceito este proposto e buri-
consultoria reduzia o IAG a uma espécie de sub- lado em escala internacional, como já visto na pri-
comitê técnico dependente das vontades do JPSC, meira parte deste trabalho, mas que, para ser apli-
retirando-lhe o papel de instância independente e cado em escalas nacional e local necessita ser
insistiram na manutenção de seu papel pró-ativo em concreto e de elementos e meios para concretiza-lo.
orientar e identificar problemas de natureza estraté- Assim, as mudanças que ocorrem no contexto polí-
gica dentro do PPG7. tico nacional e regional associam-se às tecnológicas
A orientação alternativa institucional retida pelo e técnicas, exigindo um grande dinamismo e rapi-
MMA de «parceria gerenciada», procurou catalisar dez no processo de implementação do PPG7,
as necessidades de “posse” e a liderança do Brasil ampliando os questionamentos sobre a complexida-
no Programa, devendo, ao mesmo tempo, resultar de interna e obrigando adequações. O amadureci-
em gerenciamento efetivo, menor custo e melhores mento da democracia nacional exige também uma
articulações com políticas e programas de desen- readequação institucional no fôro de discussões
volvimento do país, entre as três possibilidades29 internacionais sobre a Amazônia. O Brasil e os
sugeridas para o novo arranjo. A parceria gerencia - países amazônicos do continente somente reconhe-
da foi vista como uma maneira de formalizar as cem como foro legítimo o Tratado de Cooperação
aspirações dos Participantes do PPG7 e estabelecer da Amazônia ou a Reunião dos Participantes do
a base da liderança e a “posse” do Governo no PPG730, mecanismo internacional de julgamento do
PPG7 fazendo do MMA a secretaria executiva do Programa.
JPSC. «O Governo provê uma liderança coerente e capaci- Dois momentos foram marcantes nesta evolução:
dade efetiva de gerenciamento do Programa; os doadores em Manaus, 1997, quando o governador do Estado
devem preparar a forma de engajamento no programa e o do Amapá enfatiza que o PPG7 já teria algumas
BIRD deve colocar suas vantagens comparativas na nova par-
experiências positivas no âmbito dos subprojetos
ceria» (PPG7, 1999:2)
do PD/A e que portanto, devia-se dar prioridade à
A ocorrência de tais conflitos ainda liga-se, tecnica-
incorporação de tais experiências em políticas
mente, aos paradoxos teórico-conceituais, políticos
públicas, sobretudo nas de crédito e pesquisas; e em
e técnico-operacionais do discurso de desenvolvi-
1999, em Paris, quando os participantes propõem
mento sustentável, no seio da geopolítica ambiental
que o Programa deveria dar ênfase na articulação e
consolidada nas ultimas décadas do século XX.
na compatibilização com as outras políticas públi-
Visões que ora ressaltam aspectos negativos da
cas brasileiras.
Amazônia ao contribuir para o agravamento dos
No entanto, se ele evoluiu em concepção de ativi-
problemas relacionados às alterações climáticas, à
dades e formas de tratamento dos problemas que
emissão de gases de efeito estufa e à conservação
contribuem para o alcance de seus objetivos gerais,
da biodiversidade, quando são defendidas pelos
não se pode dizer o mesmo do conjunto de normas
países do Norte; visões que contradizem estas argu-
e instrumentos que resistem à alterações e que
mentações quando são defendidas pelo Brasil. O
continuam se constituindo em obrigatoriedade.
posicionamento brasileiro enfatiza os esforços das
políticas nacionais, insiste na defesa da soberania e 6. E, o espaço de regulação do Estado
dos interesses brasileiros com o aproveitamento reduz…
adequado dos recursos naturais, sustentado pela
consolidação da pesquisa tecnológica no desenvol- Marcado por um período de transição e mudanças
vimento de uma gama de novos produtos advindos institucionais no Governo brasileiro, especialmente

145
no âmbito do Ministério do Meio Ambiente, o cional do MMA resultou numa mistura entre o tra-
relatório final da RMT do PPG-7, de maneira geral, tamento temático das questões e o tratamento regio-
ratificou o senso comum existente entre os parcei- nal, com sobreposições de assuntos e responsabili-
ros do Programa em relação a vários aspectos, orga- dades. Havendo sobreposições de responsabili-
nizou as impressões antigas, geralmente discutidas dades sobre os mesmos assuntos – florestas e bio-
verbalmente, sistematizando-as para o conhecimen- diversidade - há que haver um grande esforço de
to geral. São elas: convergência de objetivos e visões para a conserva-
- amplitude dos objetivos; ção da biodiversidade e das florestas e sua inserção
- visão estratégica e de pontos de contactos com dentro do modelo de desenvolvimento do país.
outros programas governamentais; Pela estrutura aprovada, as competências e atribui-
- articulação e integração entre projetos e sub- ções sobre assuntos de interesse da Amazônia
programas; continuam sendo tratadas pela Secretaria da
- valorização de aspectos operacionais de imple- Amazônia, entre os quais a responsabilidade pela
mentação do Programa em detrimento de uma Secretaria Executiva do PPG-7. Mas, a Secretaria
visão mais geral e dirigida a uma meta estraté- de Biodiversidade tem a atribuição de trabalhar
gica de política; com a Mata Atlântica. Assim, a organização nacio-
- falta de estratégica geográfica e temática . nal no tratamento do Programa se divide entre duas
Em vários momentos, entretanto, este diagnostico Secretarias. O risco, para o PPG-7, em caso de não
inverteu a análise, tomando-se uma consequência convergência de interesses, entre a forma de trata-
como causa, provocando uma percepção diferen- mento das florestas tropicais brasileiras pelas duas
ciada do processo estudado. No entanto teve alguns Secretarias, é a disputa de interesses e o enclausu-
méritos ao ressaltar a importância de alguns garga- ramento do tema, dificultando a sua implantação.
los que dificultavam a implementação do A Secretaria-Executiva do PPG7 tem que visar o
Programa: a) a complexidade da matriz de finan- trabalho integrado destas duas Secretarias, através
ciamento e contratação; b) o ciclo de projeto, exces- de suas duas diretorias executivas, uma diretoria da
sivamente longo; c) o elevado custo de administra- Amazônia e uma diretoria da Mata Atlântica.
ção – 44% gastos em despesas administrativas e Estas diretorias executivas são formadas por
estudos de pré-investimentos; d) longo período de Secretarias Técnicas, responsável pelos compo-
negociação e maturação de propostas de projetos. nentes estratégicos, e no nível hierárquico abaixo
Apesar do amplo diagnostico, as propostas e alter- os gerentes de projetos, que são responsáveis pela
nativas para a solução dos problemas foram reduzi- gestão matricial. Apresentam assim uma resposta
das. organizacional às problemáticas que tinham sido
Conforme dito anteriormente, no início de 1999, o colocadas durante as missões de avaliação de meio-
Ministério do Meio Ambiente estava sendo re- termo dos subprogramas de projetos. Quase todos
estruturado31, passando a ser constituído por cinco os documentos de avaliação questionavam a estru-
secretarias, sendo quatro temáticas (biodiversidade, tura montada nos programas e propunham novos
recursos hídricos, assentamentos humanos e desen- arranjos. Os novos arranjos institucionais procura-
volvimento sustentável) e uma regional vam estabelecer, para as instâncias presentes em
(Amazônia). Este resultado não foi a reestruturação cada subprograma, uma atribuição modificada em
proposta no primeiro momento pelo novo Ministro relação à fase anterior, ou, em muitos casos, até
do Meio Ambiente, que vislumbrava extinguir a mesmo um novo papel procurando criar espaços de
Secretaria da Amazônia, reorganizando o setor discussão estratégica.
ambiental em «endereços» temáticos. Ao tomar As Comissões de Projetos, constituídas por repre-
conhecimento deste propósito, a bancada parlamen- sentantes governamentais e da sociedade civil e
tar amazônica aliou-se com os governadores (elei- vista como instância máxima de cada
tos pela primeira vez ou reeleitos) e pressionou para Subprograma, passou a ser o fórum de articulação
a continuidade daquela Secretaria. externa e interna, incluindo-se, como membros, as
Assim, na opinião da autora, a estrutura organiza- instituições doadoras e/ou gestoras. Coube, assim, a

146
estas Comissões enfatizar questões de cunho de outras políticas públicas foi objeto de debates
conceitual dos subprogramas, articular, com outras em duas oportunidades, no ano de 1999: quando os
instâncias, métodos para ordenar tecnicamente a elementos foram apresentados, em Paris e, quando
decisão política do PPG-7 assim como dirigir esfor- foram aprovados na 5° Reunião dos Participantes,
ços para maior visibilidade do programa. em Brasília.
Para a comissão do SPRN foi proposta a inclusão A primeira modificação implementada relacionou-
da Secretaria de Políticas de Desenvolvimento se ao papel do IAG, antes mesmo do início da
Sustentável do MMAque assumiu as atribuições do revisão de meio termo (RMT). Ao se alterar o uni-
zoneamento ecológico econômico, em substituição verso de ação do grupo de acompanhamento inde-
à SAE. A divisão de atribuições entre o zoneamen- pendente do programa, indicou-se que a discussão
to ecológico-econômico e o ordenamento territo- de toda a reformulação do programa se passaria
rial, entre Secretaria de Desenvolvimento entre os atores do quotidiano. O processo de revisão
Sustentável do MMA e o Ministério da Integração de meio-termo do Programa inicia-se somente após
Nacional, na opinião da autora, vai gerar uma nova a 5° Reunião dos Participantes.
crise política, deixando sem perspectivas políticas a A mesma Reunião aprovou também uma comissão
utilização técnica deste instrumento. de transição para o Programa, à qual se atribuía a
O SPRN devera também incentivar a criação dos análise mais madura para a implantação das modi-
Conselhos Municipais de Desenvolvimento ficações.
Sustentável, cabendo à sua Secretaria Técnica a A avaliação da RMT, realizada pelo IAG, em janei-
viabilização de um núcleo estratégico para compa- ro de 2001, mostrou contradições entre algumas das
tibilizar políticas públicas federais, as quais deve- propostas. Ressaltou, por exemplo, que a liderança
riam priorizar as demandas dos grupos de trabalhos do país e a necessidade de uma forte unidade de
e as agendas positivas. coordenação, dependentes de recursos do RFT para
É importante destacar que a nova função de viabili- sua manutenção, poderia enfrentar dificuldades no
zação de um núcleo estratégico vai duplicar esfor- momento que os recursos externos reduzissem, se o
ços com o Núcleo de Políticas Públicas para a Governo brasileiro não tiver assumido sua manu-
Amazônia – Napiam. Ao recomendarem esta fun- tenção.
ção para o SPRN, na RMT, deixaram sem avaliar o Acentuou o IAG, outras questões relativas à forma
papel do Núcleo e consequentemente sem proposi- e clareza do documento, falhas no conteúdo do
ções, ainda que a análise do projeto AMA eviden- relatório, a existência de inúmeros estudos realiza-
ciasse a ambiguidade entre o trabalho dos dois. A dos durante o período de pré investimento, cujas
proposta sobre o futuro do Núcleo foi apresentada sugestões e recomendações sobre políticas públi-
em separado no documento de avaliação do projeto cas, principalmente, jamais foram implantadas.
PNUD/025. Como a tônica da revisão de meio-termo relacio-
Na conclusão da avaliação de meio-termo do SPRN nou-se à importância do PPG7 quanto à políticas
procurou-se enfatizar a necessidade de ampliar a públicas, a falta de análise dos benefícios destes
visão conceitual da gestão ambiental, entendida estudos anteriores deixa um “vazio, constituindo apenas
como uma dimensão do processo de desenvolvi- uma visão lateral, como se tudo tivesse começado naquele
mento regional. momento….” Criticou também o IAG as novas estru-
O relatório da RMT reafirma também a existência turas montadas, sem avaliação da importância de
de opiniões divergentes sobre várias questões estra- atores como os Estados Amazônicos e as agências
tégicas entre participantes e partes interessadas no federais do governo brasileiro. Lembrou ainda, que
Programa, e, transforma em prioridades pensamen- o novo Comitê JSC é composto de representantes
tos já conhecidos, ora do Banco Mundial, ora de das embaixadas e escritórios locais em Brasília, do
alguns dos outros participantes, dando-lhe uma Banco Mundial, e do Ministério de Meio Ambiente,
importância e um caráter de ser a única proposição sendo que os primeiros se encontram antes de qual-
viável para a continuidade do Programa. quer reunião, para acordar uma posição comum dos
Assim a modificação do PPG7 visando aproximá-lo pontos a serem analisados, para o IAG, este fato
deixaria o Ministério do Meio Ambiente em uma
147
posição minoritária. A revisão de meio-termo deve- curtíssimo prazo.
ria portanto, avançar em proposições a respeito Para a melhoria da gestão do Programa, a RMT
deste processo. propôs cinco áreas principais: i) eficácia e coerên-
A RMT reafirmou a necessidade de continuar o cia espacial; ii) eficiência de procedimentos rela-
caráter “ piloto ” do Programa, notadamente na cionados aos ciclos de projetos; iii) melhor partici-
continuidade de seu objetivo de aplicação e incor- pação e comprometimento; iv) contribuição às polí-
poração dos resultados em políticas públicas, em ticas públicas e programas; v) preparação de uma
programas de Governo e em investimentos priva- estratégia de transferência legal e institucional do
dos. Nestes casos, haverá necessidade do desenvol- Programa.
vimento de mecanismos adequados. Além de propostas de arranjos financeiros, outras
A prioridade na integração com o setor privado, foi reforçam a idéia da retirada do Estado na execução
objeto de grande destaque. Sua ratificação e grau de do Programa, como também as propostas de rees-
importância situa-se no conjunto de propostas espe- truturação das Secretarias Técnicas dos
cialmente dirigidas ao atendimento do setor priva- Subprogramas.
do, definindo direções e linhas para o investimento Por outro lado, enquanto para medir o desempenho
dos recursos do Programa, em estudos que irão per- financeiro o Banco Mundial e o KfW dispõem de
mitir a redução do risco de investir. Neste caso indicadores e sistemas que lhes garantem identifi-
pode-se repetir um pensamento popularizado, já car a eficácia do programa, os indicadores de moni-
conhecido: privatização dos lucros, socialização toria e avaliação que poderiam indicar o desempen-
das perdas, ou seja, desvia-se recursos de doação ho qualitativo e técnico do programa continuam,
para reduzir riscos e dar garantias de que o investi- ainda sem definição e sem testes.
mento privado terá retorno. A sugestão de viabilizar Outros aspectos novos, tanto nos projetos já em
estudos de mercados alternativos para produtos execução quanto naqueles em processo de aprova-
regionais é a base necessária à incorporação do ção, foi o aparecimento de financiamentos para
setor privado. Ao visualizar este setor como um ator iniciativas promissoras (Provárzea e Promanejo) ou
fundamental para o alcance dos objetivos do pro- iniciativas da comunidade (SPRN e PD-B), que
grama, indicam a necessidade de novos mecanis- são, na verdade, uma reprodução de iniciativas
mos e instrumentos que permitam sua incorporação comunitárias criados à época da reformulação do
(INDUFOR OY, 2000:15). Planafloro e do Prodeagro. Sem dúvida, estes pro-
Esta tendência futura do Programa, para a inclusão jetos, difundidos mundialmente pelas instituições
do setor privado como uma parceira mais significa- multilaterais, conquistam, localmente, a participa-
tiva pode representar, na verdade, a redução e perda ção da comunidade, torna-se uma experiência a ser
de importância do Programa para o Governo brasi- reforçada.
leiro, tanto no nível federal quanto estadual, pois, Porisso, vale a lembrança do presidente do Banco
mesmo que o relatório ressalte o crescimento do Mundial ao fazer uma avaliação da atuação de sua
comprometimento brasileiro, o governo atualmente instituição, em 1997, assume a responsabilidade do
dirige sua atenção para outros programas e projetos Banco pela geração de impactos ambientais, os
mais interessantes e mais promissores. mais diversos, ao financiar projetos de infra-estru-
Quanto à questão financeira buscou-se a proposição tura, nos países do sul, sem ter dado os meios de
de um novo modelo que pudesse fazer face aos incorporação da variável ambiental (Reunião dos
constantes problemas de desembolso e de fluxo. Os Participantes, 1997).
fluxos financeiros são marcados pelos atrasos na Associado a estas questões que orientaram a avalia-
liberação de recursos em todos os projetos do pro- ção do PPG7, seus subprogramas e projetos, as
grama e isto reforça a idéia da oportunidade do grandes dificuldades referem-se a participação, dos
agente financeiro que poderia ser a forma mais ime- estados e municípios e de organizações não-gover-
diata de superar os entraves no fluxo financeiro. namentais. Depreende-se disto, a constatação de
Todos os relatórios sugerem a inclusão de um agen- que quase todos os subprogramas que dependiam
te financeiro, seguindo o modelo do PD-A e a da participação de instituições governamentais

148
apresentaram dificuldades de gerenciamento. Acompanhamento, com a utilização de tecnologias
Certamente isto está ligado ao processo, de redução para avaliações prospectivas e indicadores para a
do papel do Estado. Entretanto, como nos lembra priorização de ações preventivas estão em estágio
BECKER (1996) e COSTA (1995), o Estado ainda embrionário. Isto demonstra que o melhoramento
tem um papel fundamental em zonas de fronteira nas condições técnicas e do acesso à informações
econômica. Urge apoiar formas de a agilização den- não produz a sua consequente incorporação na
tro do Estado e não de desmontagem de suas fun- implantação de projetos e na definição de políticas
ções, salvo se o Estado mínimo é consequência de não se reproduz.
desconfiança em relação ao Estado. O quadro a seguir sintetiza parcialmente esta evo-
Como resultado do processo de revisão do lução. As alterações foram propostas no decorrer
Programa, as experiências dos projetos mais anti- dos períodos entre estas reuniões e somente passa-
gos não objetivavam servir, diretamente, às políti- ram a ter validade após o consenso com todos os
cas públicas, os mais recentes, como o Várzeas, envolvidos, nas Reuniões do Participantes.
demandam a articulação e a orientação para que as
iniciativas promissoras selecionadas possam servir
para implementar políticas públicas.
Ressaltamos, portanto, à questão da incoerência
entre as formas de apoio e fortalecimento às insti-
tuições estaduais, por exemplo, na montagem dos
sistemas de informação geográfica, dos bancos de
dados dos sistemas de monitoramento, da utilização
de redes tecnológicas. Este apoio amplia a capaci-
dade tecnológica dos Estados mas, ao mesmo
tempo reduzem-lhes seu escopo de ação, dando-lhe
um caráter de coordenação e retirando lhes as pos-
sibilidades de execução.
Estas novas orientações flexibilizarão o programa
ou, ao contrario, limitarão a questão ambiental
enclausurada no Ministério do Meio Ambiente?
Esta questão reforça a hipótese de que o termo
desenvolvimento sustentável tornou-se vazio, des-
provido de seu real significado e portanto, poderá
ser uma questão reduzida a um Ministério de pouca
importância na estrutura de Governo…
As constantes modificações no quadro geral
do PPG7
A complexidade dos arranjos institucionais, finan-
ceiros e organizacionais do PPG-7 ocasionaram
demoras excessivas na implementação dos proje-
tos, dificultando a ação concreta sobre os territó-
rios. Pode-se citar como exemplos os projetos de
monitoramento ambiental do desmatamento (PRO-
DESQUE) e do fogo (PROARCO) que somente
iniciaram no final da década de 90 – quase 5 anos
após o início do Programa que objetivava a redução
do desmatamento. Desta maneira, quase todos os
projetos do Programa propondo Sistemas de
Informações Geográficas e Sistemas de
149
governo federal, como uma estratégia adequada à região, visa
Notas desenvolver ações que contribuam para as duas principais
1 Embora o país fosse criticado por suas políticas, e muitas vertentes do Programa: o desenvolvimento regional e a manu-
delas realmente resultassem em impactos negativos sobre o tenção da soberania nacional e da integridade territorial.
meio ambiente, é importante destacar o avanço institucional, Atualmente, mediante convênio com a Fundação Getúlio
dos anos 70-80, no setor ambiental. A criação da Secretaria de Vargas, deu início à elaboração de um planejamento estratégi-
Meio Ambiente da Presidência da República em 1973, um ano co para os municípios da Região, como um modelo de gestão
após a Conferência de Estocolmo. Desde sua criação até e de diretrizes para investimentos. Cada município, ou sub-
1985, Dr. Paulo Nogueira Netto, na função de Secretário rea- região receberá um “Plano de Desenvolvimento Local,
liza uma fase pioneira, heróica na verdade, bem definida em Integrado e Sustentável. Os investimentos previstos para este
duas linhas : a do controle, criando todo o sistema de licen- Programa são analisados no capitulo 9.
7 Maior aprofundamento deste tema pode ser encontrado em
ciamento, com instrumentos e normas de controle ambiental e
a da preservação, estabelecendo o Sistema Brasileiro de Leis, H. e Viola, E. (org.) Ecologia e política mundial. 1991.
8 Importante destacar que parte desta avaliação foi sendo
Unidades de Conservação e criando inúmeras áreas de prote-
ção (Parques Nacionais, Reservas Ecológicas e Biológicas e construída a partir de uma base documental formada ao longo
Estações Ecológicas). Uma política baseada num sistema des- dos últimos 6 anos. A atuação como gestora de um dos
centralizado, constituído por instituições federais, estaduais e Subprogramas do PPG-7, permitiu-me a participação ativa na
municipais. Analise especifica a respeito desta política foi implementação e no acompanhamento do Programa entre os
empreendida no capitulo dois. anos 1995-1999. Além da vivência quotidiana, o acesso à
2 Ver Gross, Anthony : Amazônia in the nineties : sustainable documentação interna também foi facilitado, permitindo-me
development or another decade of destruction ? Third World identificar muitas (mas não todas) diferenças existentes entre
Quarterly, Vol. 12. 1990/1991. pontos de vista e direcionamentos político e técnico.
9 Por visão do Banco Mundial compreende-se todos os docu-
3 Pode-se destacar grande número de eventos, o seminário «A

desordem ecológica na Amazônia» (1991), o Seminário mentos elaborados, seja por funcionários do próprio Banco,
Internacional sobre Meio Ambiente, Pobreza e seja por consultorias contratadas para tal fim.
10 A posição brasileira foi parcialmente expressa no documen-
Desenvolvimento da Amazônia (SIMDAMAZONIA) (1992),
que debateram diferentes aspectos do processo de degradação to “ O desafio do desenvolvimento sustentável ” (BRASIL,
ambiental da Amazônia, repudiando, no entanto, soluções 1991). Posteriormente o Relatório Brasileiro sobre a
externas para tais problemas. O Fórum Nacional “ Como evi- Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
tar uma nova década perdida ”, organizado por João Paulo dos Desenvolvimento (BRASIL, 1993) fez uma avaliação do
Reis Vellozo e Carlos Moreira Garcia, em novembro de 1991, tema.
11 Esta rede contava inicialmente com aproximadamente 360
abordou a inserção da ecologia no novo padrão de desenvol-
vimento brasileiro. Goldemberg ao organizar o simpósio associações e sua organização ocorreu em função do interes-
“ Amazon : facts, problems and solutions ” buscou avaliar e se internacional e do movimento ambientalista na participa-
encontrar soluções alternativas ao desenvolvimento da ção e no acompanhamento do Programa Piloto para Proteção
Região. Em 1995 o MMA elaborou o estudo “ Os das Florestas Tropicais Brasileiras, Em 1999 o GTA reunia
Ecossistemas brasileiros e os principais macrovetores de 420 entidades.
12 Programas internacionais, financiados pelo BIRD, pos-
desenvolvimento: subsídios ao planejamento da gestão
ambiental”. suem condicionalidades e procedimentos que devem ser ado-
4 Para mais informações ver AB’SÁBER. Floram: história e tados: as avaliações (de appraisal-aprovação do projeto, de
endereço social de um projeto. In: CORDANI, Umberto G., meio termo e final) e as supervisões (missões constituídas por
MARCOVITCH, Jacques e SALATI, Enéas (Orgs.). Rio 92: representantes do Banco e dos executores de projetos para
cinco anos depois. São Paulo : IEA, 1997. Este programa teve acompanhamento). Na metade do período previsto para a
reconhecimento internacional ao receber premiações de orga- implementação cada componente e para o próprio do
nismos da ONU. Programa, realiza-se uma revisão de meio termo visando reo-
5 Um estudo de 958 projetos em operação pela SUDAM em rientar objetivos, componentes, atividades, indicadores, se
1990 identificou que 4,7% do desmatamento da região decor- necessário.
13 Para maior detalhamento as publicações, relatórios anuais e
reram dos projetos aprovados em 1988 pela FINAM. A área
acumulada dos projetos agro-pecuários era 44 240 km2, ou de avaliações produzidos pelo Ministério do Meio Ambiente,
0,88% da área da Amazonia Legal. Neste mesmo período Secretaria de Coordenação da Amazônia Legal e Banco
tinha sido estimada em 10,1% a área na Amazônia Legal cuja Mundial são as fontes de referência: Volumes I e II do
cobertura vegetal tinha sido modificada, segundo World Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do
Bank-CEC Technical Mission to Brazil (1991). Brasil; Relatório de Monitoria e Avaliação dos Subprojetos do
6 O projeto Calha Norte foi revitalizado, em 1997, em função PD/A ; Relatório Final da Revisão de Meio Termo do
do agravamento de certas tendências presentes no mundo Subprograma de Políticas de Recursos Naturais - vol. 1;
amazônico. Entre os principais problemas figuram o esvazia- Ajuda Memória da Missão de Avaliação do Meio Termo -
mento demográfico das áreas mais remotas e a intensificação Projeto Reservas Extrativistas; Missão de Avaliação do
dos problemas ligados ao narcotráfico. Considerada, pelo Projeto de Manejo dos Recursos Naturais da Várzea (Projeto

150
Várzea); Ajuda Memória da Missão de Avaliação do Meio trabalhos desenvolvidos pelo Ministério, os poucos resultados
Termo do Projeto de Terras Indígenas; Relatório de Avaliação conseguidos deveu-se, tanto às constantes superposições
do Subprograma Ciência e Tecnologia. Napiam - projeto AMA, como à utilização destes estudos e
produtos somente até o ano de 1999. Neste ano, a mudança do
14 Até julho de 2001 ainda não tinha sido iniciado, em função Secretário da Amazônia ocasionou uma ruptura com as estra-
de dificuldades no atendimento a alguns procedimentos e tégias, as prioridades e a forma de funcionamento da
condicionalidades. Secretaria da Amazônia.
15 Segundo o BIRD, “ lições aprendidas ” significam o apren- 23 Além de seminários nacionais e internacionais promovidos

dizado adquirido em cada projeto, os quais devem servir para por Universidades ou pelos governos estaduais e federal, no
reduzir o grau de risco e de resultados negativos de projetos âmbito dos Subprogramas e Projetos do PPG-7 um grande
futuros. Tais “ lições ” permitiriam também provocar mudan- número de cursos temáticos, de ateliers e grupos de trabalhos
ças nas políticas públicas, ou seja, tornam-se um modelo, foram realizados.
cujas aplicações ocorrerão por meio de «prescrições» em 24 No objection é o procedimento autorizativo do Banco

outros projetos ou políticas. Mundial. É a não-objeção aos contratos, às consultorias e aos


16 Ver o documento da FAO e Banco Mundial - Report n° produtos a serem pagos com recursos por eles gerenciados.
99/032 CP-BRA, Pilot Programme to Conserve the Brazilian 25 Para conhecimento de detalhes internos a cada
Rainforest (PPG7), An Evaluation of six demonstration pro- Subprograma: Subprograma de Políticas de Recursos
jects (PD/As). Naturais: Revisão de Meio-Termo:2000; Projeto Reservas
17 Promanejo – Projeto de Apoio ao Manejo Florestal na Extrativistas: Ajuda-memória da Missão de Avaliação de
Amazônia, conta com recursos de 6 fontes diferentes. Meio-Termo:1999; Projeto de Terras Indígenas: Missão de
Ocorreram inúmeras dificuldades tanto na sua concepção, Avaliação do Meio-termo:1998; Projetos Demonstrativos-
definição dos componentes e iniciativas, assim como na PD-A, Relatório de Monitoria e Avaliação dos Subprojetos do
concertação dos tipos de atividades a serem desenvolvidas. Os PD-A: 1998 ou PPG7, Annual Report 1999-2000.
diferentes interesses dos doadores, dos grupos nacionais 26 Reflexões tem sido desenvolvidas, entre outros, por

governamentais (federal e estaduais) e das ONG obrigou a GUIMARÃES (1991,1997,1998); SACHS (1997,1998,1999),
realização de diversos ateliers de discussão dos objetivos, das MENDES (1996,1997,1998), BECKER (1996); LEFF
ações e prioridades, dos métodos a serem implementados. (1998).
18 Conforme Relatório do Subprograma, em abril de 2001. 27 O quadro internacional estimulado pelo liberalismo econô-
19 Grifo nosso. mico, do domínio das leis de mercado e da livre iniciativa, e
20 Este foi o fundo criado, pelo BIRD, com a finalidade de da indefinição de um novo papel para o Estado, levou ao fra-
juntar recursos de doação dos países do G-7, em 13 de março cionamento do próprio poder do Estado e descrédito nas ins-
de 1992 e com o objetivo de financiar o Programa Piloto. Os tituições públicas e na abrangência de sua ação. Pré-julga-
fundos iniciais foram de US$ 58 665 566. A resolução pode mentos a respeito do predomínio da burocracia, da lentidão da
ser alterada, dependendo de consulta aos doadores e ao Brasil. ação e, muitas vezes de suspeitas de corrupção são reforçados
21 Os chamados “ estudos de pré-investimento ” realizados pelas políticas de desvalorização e de desmonte dos Governos
para este Programa se constituem de diagnósticos elaborados e, concomitamente, de crescimento da difusão do modelo de
como um pré-requisito à definição de cada projeto. Foram governança. O estabelecimento do papel do Estado na «era de
realizados 25 grandes estudos, todos antecedendo a definição reestruturação econômica mundial» foi tratado por BAUM-
final de cada um dos Subprogramas. Centenas de milhares de MAN (1995), CHOMSKY (1996), DUPAS (1997), entre
dólares foram utilizados neste conjunto de estudos, que enfa- outros.
tizavam o levantamento de informações e o desenho de alter- 28 Os ofícios trocados neste período entre a SCA-MMA e o

nativas. Muitos destes estudos não foram utilizados nas confi- Banco Mundial são bastante duros e, algumas vezes pontua-
gurações posteriores dos Subprogramas. dos por frases agressivas e irônicas.
22 Este Núcleo – Napiam, instalado em 1997, foi originado 29 As outras duas alternativas previam: a) G rupo de

dentro de um projeto concebido para ser um componente do Assessoramento: assistência técnica e financeira, coordenada
PPG-7, o Núcleo de Apoio, Monitoramento e de Políticas bilateral e multilateral, visando promover a melhoria na
Publicas para a Amazônia Legal. Este, dividiu-se em dois, um implementação do Programa pelo Governo; b) Fundação
projeto de monitoramento – Avaliação e Monitoramento do Independente: coordenada pelo Governo e financiada pelos
PPG7-AMA, financiado pelo RFT e outro projeto, bilateral doadores, a qual deve implementar o programa sob a gover-
associado, com o objetivo de estabelecer parcerias para a nança de um Conselho dos Fiduciários (“ Board of
concretização de políticas públicas integradas para a Trustees ”) que deveria ser desenhada com os lideres da
Amazônia, incorporando os resultados do PPG-7 e de outros sociedade civil brasileira (PPG7, 1999: 2-3).
Programas e implementando sistemas de informações que ser- 30 Entrevista com o Ministro Everton Vieira Vargas, do

vissem para subsidiar o processo de formulação e negociação Departamento de Meio Ambiente e Temas Especiais do
das mesmas. Por inúmeras razões, este Núcleo, pensado para Itamaraty, em 05/07/2001.
ter uma equipe composta de 15 a 20 profissionais não conse- 31 Reestruturação aprovada pelo Decreto n° 2972, de 26 de

guiu montar esta equipe, nem propor mudanças significativas fevereiro de 1999
para a política pública. Além da dificuldade de integração aos

151
Instrumentos de Acompanhamento (3) IAG: para começar a 2° fase é preciso transição e consolida-
Avaliação: Comitê de Avaliação Independente (IAG) com ção: projetos precisam ser concluídos, avaliações e lições
especialistas em áreas e temas relevantes e participação de aproveitadas. Regras claras entre GOB e BIRD para reduzir
ONG internacionais. Em 1993 o IAG propôs se reunir 2 conflitos. Verificar compatibilidade dos corredores de desen-
vezes ao ano. volvimento do Brasil em Ação com objetivos de conserva-
ção do PPG7. O contexto jurídico é favorável: lei de crimes
Encontro a cada dois meses com representantes das ambientais, novo SNUC,
embaixadas do G7: troca de informações e acompanhamento Incentivos econômicos: Prodex, FNO, Protocolo Verde, mas
de projetos específicos. é preciso encorajar investimentos ambientais em todos os
Período de teste (final de 94) e mudanças no começo de 95: níveis;
um cronograma de objetivos para implementação foi acorda- Aprofundar trabalho sobre os indicadores de desmatamento
do, visando o progresso do Programa; para verificar o impacto do Programa neste item.
Oferta de assistência técnica alemã para a preparação dos Identificar indicadores capazes de medir o desenvolvimento
projetos. do Programa e não de projetos;
Rain Forest Unit foi transferida para Brasília e foi criada Revisão do mandato do IAG (a ser preparado pelo Banco);
uma unidade coordenadora na Secretaria da Amazônia.
Os arranjos internos são variados (Comissões de Projeto, Nova Estrutura Institucional:
Grupos de Trabalho, participação das redes, etc.) Instância superior: Reunião dos Participantes
IAG: o relatório da 4° reunião indica como questão chave o Unidade Central do Programa: Comissão de Coordenação
relacionamento do PPG7 com outros planos de desenvolvi- Conjunta;
mento da região Comissão de Coordenação Institucional, composta por um
O papel dos projetos bilaterais continua sendo obscuro tanto Comitê de Doadores e uma Comissão de Coordenação do
para o GOB quanto para ONGs: definir estrutura gerencial Governo;
compatível com as do PPG7 Diretorias Executivas (Mata Atlântica e Amazônia) formada
Monitorar o desenvolvimento geral, incorporando tendências por uma Secretaria Técnica (por componente estratégico) e
de desmatamento, demográficas e mudanças nas práticas por gerentes de projetos (gestão matricial);
agrícolas Coordenação Regional do PPG7.
Estudos técnicos apresentados: IAG: apoiar a formulação de estratégias e subsidiar os
INPE: “Deforestations Assessment and the Fire Detecting Participantes, avaliando os resultados, no nível estratégico.
Programas in Brazil” Instituir uma Comissão de Transição (GOB, BIRD e
Woods Hole Research Center: “Preliminary results of the Doadores) para operacionalizar as mudanças para o novo
study on the determinants of fire in the Amazon”; modelo de gestão.
REBRAF: “The role of agroforestry in the sustainable deve-
lopment of the Amazon” - Projetos definidos com resultados verificáveis.
IMAZON: “Promissing Initiatives in Forestry Management
in the Amazon” - Clara estratégia para melhorar a eficiência e eficácia:
BIRD: “Land-use Zoning in the state of Rondônia” - dos sistemas de monitoramento e análise, particularmente o
Amigos da Terra e GTA apresentam uma analise do contexto projeto AMA;
amazônico, os rumos das políticas e do programa. - de aprendizagem
ONG alemãs: indicam preocupações com o crescimento do - de comunicação e disseminação interna e externa;
desmatamento entre 1991-1995; deficiências na qualidade de - análise das tendências nas regiões de floresta tropical;
vida da pop. Indígena e condições de pobreza na sociedade. - novas alianças.
- Disseminação de modelos de experiências e análises, com
IAG apresenta proposta de maior participação de seus mem- especial prioridade para o aprendizado com o Subprograma
bros (individualmente como especialistas ou grupos de espe- Projetos Demonstrativos.
cialistas) na preparação dos projetos, durante o período de - Governo Brasileiro deve revisar a estrutura e o funciona-
implementação bem como no AMA, intensificando a partici- mento da Comissão Brasileira de Coordenação (CCB),
pação desta instância entre os encontros regulares de 6 envolvendo outros atores importantes de maneira a aumentar
meses e dando continuidade ao acompanhamento; a sua influência sobre as políticas que afetam as florestas
Melhorar conceito de integração com outras iniciativas do tropicais.
GOB dirigida a ao desenvolvimento Sustentável - Novos membros do IAG passam a ser aprovados pelo JSC
– Doadores enfatizam que o sistema de indicadores deve ser (Comitê de Coordenação Conjunta).
simples: o estudo que o BIRD apresentou necessita refina- - O JSC revisará o progresso da implementação da agenda
mento. de compromissos da fase de transição.

Alguns doadores oferecem assistência técnica;


Amapá sugere indicadores ambientais objetivos: superfícies
desmatadas; superfícies recuperadas; numero de sistemas
agro-florestais estabelecidos, famílias beneficiadas, produtos
não madeireiros vendidos, etc.…
primeira avaliação da 1° fase será realizada em 1999; .
transição para a 2° fase: deve-se definir a data do inicio da
2° fase e a finalização dos compromissos da 1° fase; levando
em conta as “lições” da 1° fase, assim como deve estar coor-
denada temporalmente com a pressão atual para o desenvol-
vimento da Amazônia (corredores de desenvolvimento)
visando que as lições aprendidas sejam incorporadas;
Amapá sugere transformar as experiências de sucesso no
PD/A em políticas publicas (ex: políticas de credito, de pes-
quisa adaptadas, etc.)

152
Reunião Estrutura do Instrumentos Instrumentos de Mecanismos de
Programa (1) Reguladores e de Acompanhamento Coordenação e Papel
Controle (2) (3) Estratégico dos
Atores
Genebra – dezembro 91 3 subprogramas estrutu- Avaliação: Comitê de Estratégia: Inter-relação
rais: SPRN (5 projetos); Avaliação Independente entre os projetos garanti-
Unidades de (IAG) com especialistas da pela complementari-
Conservação e Manejo em áreas e temas rele- dade entre eles.
de Recursos Naturais (5 vantes e participação de Papel das ONG: partici-
projetos); Ciência e ONG internacionais. Em pação ativa da sociedade
Tecnologia (2 projetos) e 1993 o IAG propôs se da Amazônia. O GTA/G7
1 subprograma demons- reunir 2 vezes ao ano. criado em maio/91.
trativo: PD/A.
= 13 projetos.

Bruxelas Subprogramas estruturais O RFTcriado em 1992: Encontro a cada dois IAG sugere e o GOB
março 94 e demonstrativos com 12 recursos U$ 54,8 milhões meses com representantes adotou medidas para
1° Encontro de projetos; do RFTe mais U$ 111 das embaixadas do G7: exercer maior liderança
Participantes IAG ressalta: necessidade milhões de co-financia- troca de informações e no planejamento, geren-
de integração estratégica mento bilateral acompanhamento de pro- ciamento e coordenação
entre varias partes do Memorandum of the jetos específicos. do PPG7; para articular o
Programa e de estabele- Director (MOD) a partir Período de teste (final de PPG7 com outras iniciati-
cer prioridades; de 1994 e os Manuais de 94) e mudanças no come- vas públicas ou privadas
Aexecução de cada pro- Projeto são os documen- ço de 95: um cronograma na região e para o desen-
jeto não deve ser limitada tos reconhecidos. de objetivos para imple- volvimento de uma visão
a 3 anos. Decreto 563/92 de 05 mentação foi acordado, estratégica e um plano de
Acordo inicial para evitar junho autoriza a celebra- visando o progresso do ação para a Amazônia.
reedições de propostas de ção do Acordo-Quadro Programa; BIRD propõe que haja
projetos; entre Brasil e BIRD para Oferta de assistência téc- uma coordenação eficien-
Estudos de pré-investi- o PPG7. Valor de 250 nica alemã para a prepa- te e efetiva por parte dos
mento devem ser insumos milhões de dólares com ração dos projetos. doadores e do Banco;
para avaliação dos proje- contrapartida brasileira de visto o desafio que repre-
tos; 10%. senta a fragilidade das
Inclusão de projetos bila- Dificuldades existentes: instituições brasileiras
terais associados ao Complexidade dos acor- responsáveis pelo
PPG7: o MMAexpedira dos financeiros e existên- Programa.
aprovação destes proje- cia de “gap” financeiro
tos. Decisões:
BIRD deve adotar proce-
dimentos mais flexíveis:
simplificação de acordos
e maior utilização do
RFT;
Normas para determina-
ção da demarcação de
terras indígenas provoca
sensibilidade: o Brasil
não aceita firmas não bra-
sileiras na demarcação;
Fundos adicionais podem
ser mobilizados desde
que os projetos estejam
em andamento.

153
Reunião Estrutura do Instrumentos Instrumentos de Mecanismos de
Programa (1) Reguladores e de Acompanhamento Coordenação e Papel
Controle (2) (3) Estratégico dos
Atores
Belém Consenso sobre a realiza- Resolução 68 de 27 agos- Rain Forest Unit foi Governo brasileiro des-
6 – 7 julho 1995 ção do zoneamento to de 1995 estabelece transferida para Brasília e centraliza a gestão
2° Encontro ecológico-econômico, MMA como responsável foi criada uma unidade ambiental para Estados,
embora com dificuldades pelo repasse dos recursos coordenadora na Municípios e sociedade
políticas e metodológicas. aos demais executores Secretaria da Amazônia. civil.
IAG sugere usa-lo no (firmar convênios, incluir Os arranjos internos são Criado o Fórum de
sentido de planejamento previsão de ingressos de variados (Comissões de Secretários de Meio
estratégico e somente recursos junto a Projeto, Grupos de Ambiente e Planejamento
depois, detalhado em uso Secretaria do Orçamento Trabalho, participação da Amazônia.
da terra: Tipologia: 5 Federal/PR, respeitar nor- das redes, etc.) PNIAL, aprovada pelo
zonas; mas de execução finan- IAG: o relatório da 4° Conamaz, e o PPG7 estão
Projetos em implementa- ceira) reunião indica como sob a mesma coordena-
ção: PD/A; Resex; questão chave o relacio- ção, a da Secretaria da
Centros de Ciência e namento do PPG7 com Amazônia
Pesquisa dirigida; outros planos de desen-
Projetos aprovados: volvimento da região
PPTAL e SPRN, (integra O papel dos projetos bila-
4 projetos, assinado antes terais continua sendo obs-
da troca de governo fede- curo tanto para o GOB
ral e estaduais e o bilate- quanto para ONGs: defi-
ral para o ZEE do Acre nir estrutura gerencial
incorporado); compatível com as do
Projetos em preparação: PPG7
Flonas e Educação Monitorar o desenvolvi-
Ambiental; mento geral, incorporan-
Fase inicial de prepara- do tendências de desma-
ção: Parques e Reservas tamento, demográficas e
(recursos remanescentes mudanças nas práticas
da Ucs do PNMA), o de agrícolas
Recuperação de áreas
degradadas e o Manejo
de recursos naturais (a
focalizar sobre o ambien-
te aquático).
Consenso sobre a criação
de uma unidade de geren-
ciamento e monitoramen-
to do Programa.

154
Reunião Estrutura do Instrumentos Instrumentos de Mecanismos de
Programa (1) Reguladores e de Acompanhamento Coordenação e Papel
Controle (2) (3) Estratégico dos
Atores
Bonn Crescente progresso na Para facilitar execução Estudos técnicos apre- Crescem esforços de
10 – 12 setembro 96 implantação dos subpro- orçamentária e financei- sentados: integração PNIAL –
3° Encontro gramas e projetos ra, a Resolução 14, de INPE: “Deforestations PPG7.
Ênfase na reformulação 21 março 1996: MMA Assessment and the Fire Cresce a importância da
SPRN e na implantação coordena, acompanha, Detecting Programas in participação das ONG:
do AMA avalia e executa projetos Brazil” na execução de projetos,
Ressalta necessidade de na sua área e os Woods Hole Research na discussão política,
ênfase no monitoramen- Ministérios da Justiça e Center: “Preliminary nas reivindicações e em
to do desmatamento e no C&T executam os proje- results of the study on estudos:
apoio às iniciativas do tos que lhe são afetos. the determinants of fire COIAB destaca que a
setor privado (redução Impasses acerca dos pro- in the Amazon”; proteção das áreas indí-
de custos e promoção de cedimentos entre BIRD REBRAF: “The role of genas depende de educa-
mercado dos produtos e implementadores agroforestry in the sus- ção, saúde e atividades
amazônicos = (análise tainable development of econômicas e não apenas
conjunta nos projetos the Amazon” demarcação.
bilaterais) IMAZON: “Promissing Apoio dos Participantes
O PPG7 não pode resol - Initiatives in Forestry às iniciativas do
ver todos os problemas Management in the Conselho de Negócios
de desmatamento, mas Amazon” para o Desenvolvimento
sim demonstrar que BIRD: “Land-use Sustentável
objetivos econômicos e Zoning in the state of Governador do Amapá
ecológicos podem ser Rondônia” representou governa-
desenvolvidos ao mesmo Amigos da Terra e GTA dores da Amazônia:
tempo; preservar o apresentam uma analise ênfase na crescente lide-
recursos genéticos da do contexto amazônico, rança dos governos
floresta; reduzir a contri- os rumos das políticas e locais, a partir de 1995,
buição de emissão de do programa. na PNIAL e de suas
gases de efeito estufa e ONG alemãs: indicam políticas, bem como o
desenvolver um exemplo preocupações com o esforço de alguns, como
de cooperação interna- crescimento do desmata- no Amapá que foi cria-
cional em problemas mento entre 1991-1995; do o Grupo de
globais. deficiências na qualidade Coordenação Estadual
Novos recursos: de vida da pop. Indígena para o PPG7. Ressalta
União Européia – 11,3 e condições de pobreza que o PPG7 precisa
milhões de ecus para na sociedade. incluir, no futuro,
Pesquisa Dirigida, questões rurais e urba-
Educação Ambiental e IAG apresenta proposta nas, de infra-estrutura,
Assistência técnica a de maior participação de bem como, formas de
projetos; seus membros (indivi- envolver outros segmen-
França – US$ 2,5 dualmente como espe- tos, como a “comunida-
milhões para o PD/A e cialistas ou grupos de de de negócios” e proce-
Mata Atlântica especialistas) na prepara- dimentos rápidos no
Grã Bretanha – US$ 2 ção dos projetos, durante Programa
milhões para Estudos o período de implemen - Preocupação (doadores e
estratégicos do tação bem como no IAG) com os "poten-
Promanejo AMA, intensificando a ciais" impactos ambien-
Mata Atlântica pode ser participação desta ins- tais e sociais dos planos
um novo programa, mas tância entre os encontros de infra-estrutura do
há necessidade de fun- regulares de 6 meses e Governo nas diferentes
dos adicionais dando continuidade ao sub-regiões amazônicas
acompanhamento; (Brasil em Ação).
Ressaltam fundamental
importância da integra-
ção interna, entretanto,
deve-se tomar iniciativas
com outros setores,
sobretudo infra-estrutura
(transporte e energia)

155
Reunião Estrutura do Instrumentos Instrumentos de Mecanismos de
Programa (1) Reguladores e de Acompanhamento Coordenação e Papel
Controle (2) (3) Estratégico dos
Atores
Paris – Reunião MMA/BIRD: bases MMA/BIRD destacam Melhorar conceito de Foco estratégico: forta-
Intermediária em para transição para a 2° os mecanismos finan- integração com outras lecer parcerias com o
abril 1997 fase e recursos prioritá- ceiros em uso: os fun- iniciativas do GOB setor privado, com a
rios para a Reunião dos dos gerenciados pelo dirigida a ao desenvol- estratégia de biodiver-
Participantes em 1998: BIRD, os financiamen- vimento Sustentável sidade e com apoios
US$ 81,7 milhões
Solicita-se ao tos paralelos e os proje- locais
GOB/BIRD proposta tos bilaterais (ainda Continuar aprofundan-
2° fase, visando: novos sem definição o trata- do compromisso dos
países contribuintes; mento destes projetos).; Estados amazônicos
setor privado; novas com os objetivos do
fontes multilaterais e Programa
maior participação
financeira do GOB.
Manaus Tônica da 2a. fase do Programa Aprovados Critérios para inclusão – Doadores enfatizam que o siste- Doadores concordam com a visão
28-30 outubro 1997 – (dirigida para os Corredores de de projetos bilaterais associados. A ma de indicadores deve ser do GOB sobre a Amazônia, mas
4° reunião dos partici- Desenvolvimento da Amazônia : França apresenta a relação de seus simples: o estudo que o BIRD enfatizam: a) necessidade de um
pantes 3 tipologias – e transição entre 98 projetos bilaterais associados apresentou necessita refinamento. balanço sócio-ambiental e econô-
e 2000) Ênfase dada aos procedimentos do mico dos efeitos destes corredores
SPRN: investimentos produtivos
– estudar caso a caso e deve ser SPRN: dificuldades do lado dos Alguns doadores oferecem assis- b) necessidade balanço da partici-
revisto com objetivo de avaliar as doadores e do outro, os Estados e tência técnica; pação populações locais no zonea-
implicações conceituais União. Definir procedimentos dos Amapá sugere indicadores mento e que
AMA deve começar a funcionar subprojetos com investimentos ambientais objetivos: superfícies c) a experiência internacional
em 1998 produtivos. desmatadas; superfícies recupera- neste assunto deve ser avaliada;
Projetos esperando inicio de das; numero de sistemas agro-flo- União Européia considera difícil
implementação: Promanejo e restais estabelecidos, famílias fazer compromissos financeiros
Ceduc beneficiadas, produtos não madei- na 2° fase com projetos como
Em preparação: Parques e reiros vendidos, etc.… Parques e Reservas, Promanejo,
Reservas; Várzeas, Prodesque,
AMA primeira avaliação da 1° fase será Prodesque e AMA que não come-
Propôs inclusão MataAtlântica realizada em 1999; . çaram ainda; isto dificulta conhe-
com projeto específico na 2° fase transição para a 2° fase: deve-se cer as lições, mas reconhece a
Novas contribuições: U$ 47 definir a data do inicio da 2° fase e necessidade de uma transição com
milhões, dos quais U$ 25 milhões a finalização dos compromissos da fundos
em projetos bilaterais: 1° fase; levando em conta as Papel estratégico da Comissão
Alemanha: DM 50 milhões (DM “lições” da 1° fase, assim como Interministerial de Coordenação
15 em bilaterais e DM 12 para deve estar coordenada temporal- do PPG7 na discussão da 2° fase
cooperação técnica) e possíveis mente com a pressão atual para o Importância do CONAMAZ
contribuições para PD-I eAMA;
União Européia: Resex e Projetos desenvolvimento da Amazônia Importância do setor privado é
de pesquisa; Parques e Reservas e (corredores de desenvolvimento) destacada: autorizam BIRD a pro-
Prodesque (valores definidos após visando que as lições aprendidas mover articulação e oportunidades
avaliação) e 12 projetos bilaterais sejam incorporadas; com o setor privado.
associados; Amapá sugere transformar as
Franca: FF 12 milhões para o experiências de sucesso no PD/A Amapá: “falta de uma concepção
PD/A e projetos bilaterais associa- em políticas publicas (ex: políticas comum dos atores envolvidos
dos; de credito, de pesquisa adaptadas, sobre o desenvolvimento sustentá-
Estados Unidos: US$ 10 milhões etc.) vel” (28/10/97)
C&T; US$ 20 milhões para proje-
tos bilaterais associados e IAG: para começar a 2° fase é pre-
inclusão do projeto LBA(US$ 25 ciso transição e consolidação: pro- GTA: “corredores ecológicos
milhões) como bilateral associado jetos precisam ser concluídos, ava- como contraponto dos eixos de
Japão: recursos para preparação liações e lições aproveitadas. desenvolvimento não da certo: a
de projetos usando fundos do Regras claras entre GOB e BIRD região deve ser pensada integrada
PHRD (administrado pelo para reduzir conflitos. Verificar e dependente”. A2° fase tem que
BIRD); compatibilidade dos corredores de ter integração e coerência com
Grã Bretanha: Parques e Reservas desenvolvimento do Brasil em ações dos outros programas gover-
GEF e BID exploram possibili- Ação com objetivos de conserva- namentais – o Brasil em Ação tem
dades de financiamento no PPG7
Espanha demonstra interesse nos ção do PPG7. O contexto jurídico que incorporar a dimensão
projetos Várzea e Prodesque; é favorável: lei de crimes ambien- ambiental e do desenvolvimento
IFC oferece linha de crédito para tais, novo SNUC, Sustentável pelo menos para a
pequenos e inovativos projetos na Incentivos econômicos: Prodex, Amazônia.
Região Norte; FNO, Protocolo Verde, mas é pre-
ECIP – programa de investimento ciso encorajar investimentos
no setor privado (da UE) oferece ambientais em todos os níveis;
1 milhão de ECU para joint ven-
tures em negócios brasileiros-
europeus;

156
Reunião Estrutura do Instrumentos Instrumentos de Mecanismos de
Programa (1) Reguladores e de Acompanhamento Coordenação e Papel
Controle (2) (3) Estratégico dos
Atores
Paris GOB insere estrutura para Necessidade de ser estu- Aprofundar trabalho O MMAreestrutura-se: 5
Abril 1999 a Mata Atlântica dentro dado na Revisão sobre os indicadores de secretarias, sendo 4 temá-
do Programa. Institucional a simplifica- desmatamento para verifi- ticas (Biodiversidade,
Novos financiamentos: ção dos financiamentos, o car o impacto do Recursos Hídricos,
Alemanha, União período de efetividade dos Programa neste item. Assentamentos Humanos
Européia, Grã Bretanha projetos e o papel dos Identificar indicadores e Desenvolvimento
(foco em pobreza); diferentes atores do capazes de medir o desen- Sustentável) e 1 regional
Holanda (indígenas e Programa. volvimento do Programa (Amazônia).
Mata Atlântica); EUA e não de projetos; ALei de crimes ambien-
(C&T e prevenção fogo). Revisão do mandato do tais, aprovada em 1999,
Necessidade de coesão do IAG (a ser preparado pelo reforça papel do Governo;
PPG7 como um programa Banco); Participantes endossam
e não uma coleção de que o governo brasileiro
projetos. assuma a liderança do
SPRN: concordância com PPG7, considerando os
o princípio de utilização mecanismos legais que já
dos recursos em investi- existem.
mentos produtivos de Em função das altas taxas
municípios ou comuni- de desmatamento, GOB
dades (critério a ser apro- negocia alternativas junto
vado pelos doadores) até às lideranças locais.
que o PD/B seja operacio- Alguns doadores acordam
nal. que futuras contribuições
Proposição: ênfase em serão aprovadas em fun-
políticas públicas. ção da implementação
efetiva, o anúncio de polí-
ticas consistentes e fundos
de contrapartida.

Brasília Nova abordagem: Acelerar a execução dos proje- Nova Estrutura Institucional: Responsabilidades estratégicas
outubro 99 Propõe que cada componente tos, identificando os obstáculos Instância superior: Reunião dos dos atores:
seja dirigido a um objetivo que dificultam-na. Participantes O MMAdeve assumir a lide-
específico e diferenciado para Entraves: multiplicidade de Unidade Central do Programa: rança.
cada espaço regional: no Arco do fontes externas obriga o atendi- Comissão de Coordenação Influenciar na formulação e
Desmatamento, projetos de pro- mento de normas e procedi- Conjunta; coordenação de políticas públi-
dução sustentável; naAmazônia mentos próprios de cada doa- Comissão de Coordenação cas para o desenvolvimento
central, atravessada pelos ENID, dor; questionamento sobre as Institucional, composta por um sustentável;
combinação de proteção e produ- decisões e as alocações de Comitê de Doadores e uma Fortalecer a gestão do
ção e no “Patrimônio Florestal”, recursos principais e dos juros Comissão de Coordenação do Programa;
proteção e vigilância em larga acumulados pelo RFTe sobre Governo; Diminuir custos e prazos na
escala. o mecanismo de aprovação do Diretorias Executivas (Mata implementação dos projetos;
Nova organização: BIRD. Atlântica e Amazônia) formada Aumentar a participação e a
Políticas públicas: SPRN além do Financiamento: sugerem que por uma Secretaria Técnica formulação de alianças.
projeto de Gestão e Políticas do cada componente tenha um (por componente estratégico) e Novos atores: setor privado.
PPG7 e Educação Ambiental. único contrato. por gerentes de projetos (gestão
Proteção: Resex, Corredores Alocação prioritária deve ser matricial);
Ecológicos e PPTAL. do RFTe uma parcela menor Coordenação Regional do
Produção sustentável: Promanejo, do doador interessado, mas o PPG7.
Provárzeas, Prodesque, Proteger funcionamento do Fundo deve IAG: apoiar a formulação de
e Comercialização. incluir a participação dos doa- estratégias e subsidiar os
Pilotos – pesquisa; Centros de dores na tomada de decisão. Participantes, avaliando os
Ciência, Pesquisa dirigida, Implementação do Comitê resultados, no nível estratégico.
PD/A,PD/B, PDPI. Financeiro do Governo Instituir uma Comissão de
Cooperação exemplar: Apoio a Brasileiro. Transição (GOB, BIRD e
Monitoramento e Análise e Doadores) para operacionalizar
Reforço à Unidade de coordena- as mudanças para o novo
ção no MMA. modelo de gestão.
Proposta para criação e institucio-
nalização de um Subprograma
para a Mata Atlântica.
Articular PPG7 com Proecotur,
Probem e Amazônia Sustentável

157
Reunião Estrutura do Instrumentos Instrumentos de Mecanismos de
Programa (1) Reguladores e de Acompanhamento Coordenação e Papel
Controle (2) (3) Estratégico dos
Atores
Cuiabá Ênfase da fase de transi- - modificação da estrutu- - Projetos definidos com - Ministério de Meio
30 – 31 maio 2001 ção (18- 24 meses): apli- ra e dos mecanismos de resultados verificáveis. Ambiente deve assumir o
cabilidade das lições uso dos recursos para 2° papel de agência líder,
aprendidas; replicação de fase. Recomendado que - Clara estratégia para mantendo a importância
modelos; proposição de seja em linhas temáticas: melhorar a eficiência e do governo federal no
políticas e nas recomen- a ser definido na fase de eficácia: Programa; os novos
dações principais. transição. - dos sistemas de monito- arranjos institucionais
2° fase: 4 anos, com iní- - Na falta de novos recur- ramento e análise, parti- incluindo Estados e
cio em 2003. Visão de sos; recursos não com- cularmente o projeto Municípios devem ser
longo prazo sobre o futu- prometidos devem ser AMA; considerados na fase de
ro da Amazônia. definidos em comum - de aprendizagem transição.
Objetivos de: acordo do GOB, do - de comunicação e dis- - Banco Mundial mantém
integração: entre os pro- BIRD, dando prioridade seminação interna e o papel de fiduciário e
jetos do Programa e com ao funcionamento das externa; supervisor nos projetos
as políticas de desenvol- redes de organizações da - análise das tendências com recursos do RFT.
vimento dos governos sociedade civil e do IAG. nas regiões de floresta Entretanto deve apoiar o
federal e estaduais; - Ajustes no Acordo- tropical; GOB na formulação da
linhas temáticas que Quadro entre o GOB e o - novas alianças. estratégia do Programa;
abordem: assentamentos; BIRD, incluindo a pro- - Disseminação de mode- colaborar no envolvi-
praticas extensivas; polí- visão de fundos de los de experiências e aná- mento do setor privado e
ticas regionais e planos contrapartida, seguido lises, com especial priori- apoiar na coordenação
de infra-estrutura ou pela aprovação do dade para o aprendizado com outras atividades
outras políticas rele- Senado deve ser obtida com o Subprograma financiadas pelo GEF.
vantes; até março de 2002. Projetos Demonstrativos. Recomendações para o
foco: áreas com alto risco - Governo Brasileiro envolvimento de outros
de desmatamento e deve revisar a estrutura e atores externos ao
degradação; o funcionamento da Programa:
Enfases: Comissão Brasileira de - PPG7 deve ser uma
- sustentabilidade finan- Coordenação (CCB), linha separada no PPA;
ceira dos projetos; envolvendo outros atores - GOB deve revisar
- fortalecimento da parti- importantes de maneira a outros financiamentos
cipação das organizações aumentar a sua influência (FNMA; FUNBIO;
da sociedade civil; sobre as políticas que PNMA II) visando coor-
- envolvimento do setor afetam as florestas tropi- denação com o PPG7;
privado; cais. - sistematizar a troca de
- fortalecimento institu- - Novos membros do experiências com outros
cional das agências esta- IAG passam a ser apro- países amazônicos;
duais e federal. vados pelo JSC (Comitê - apresentar resultados do
Sem proposição de novos de Coordenação Programa na Rio + 10 e
recursos dos doadores, Conjunta). na Cúpula do G-8.
mas o governo brasileiro - O JSC revisará o pro-
deverá atingir a propor- gresso da implementação
ção de 50% dos recursos da agenda de compro-
com seu próprio orça- missos da fase de transi-
mento. ção.

(1) Envolve os subprogramas e projetos e o comprometimento de novos financiamentos.


(2) Refere-se às normas do desenho do projeto, a questão de acesso a recursos e prestação de contas, as condicionalidades previstas
nos Acordos;
(3) São os meios utilizados para a avaliação, acompanhamento e supervisão intra-projetos, externos e indicações pertinentes à neces-
sidade de apropriação interna da realidade regional.
Fontes: documentos oficiais do Banco Mundial, referenciados na bibliografia.

158
Capítulo 5 - O PPG7 e o zonea- demandada. Necessidade explícita, portanto, de um
zoneamento. O discurso que prevalece para a
mento ecológico-econômico Amazônia é a possibilidade de um outro modelo de
desenvolvimento, que não reproduza as mazelas
No período subsequente aos governos militares, a ambientais e sociais do modelo escolhido para o
fase de redemocratização da política nacional, o país. Assim, uma alternativa que pode ser testada
discurso do zoneamento ecológico-econômico e para incorporar as dimensões ambientais e sociais
sua prioridade para a Amazônia, ocupou um impor- se dá com a elaboração do zoneamento ecológico-
tante lugar nos meios técnicos brasileiros substi- econômico.
tuindo, parcialmente o debate sobre o ordenamento Trata-se de assunto polêmico em função das dife-
e planejamentos públicos. Enquanto em outros rentes correntes de pensamento e de experiências
países da América Latina a discussão girava em técnicas com maior ou menor grau de sucesso. Vale
torno do ordenamento territorial por meio da ação relembrar, por já ter sido tratado no capitulo dois,
do Estado, no Brasil, esse conceito parece ter entra- que também a base técnico-científica evoluiu consi-
do numa fase de esquecimento. Na própria deravelmente desde o início da década de 90. Sem
Constituição a questão do ordenamento ficou difu- ser uma relação exaustiva dos autores que analisa-
sa em vários capítulos, enquanto outros temas ram e apresentaram propostas para o zoneamento
foram tratados detalhadamente. na Amazônia, é importante destacar AB’SABER
Concomitantemente ao aumento da visibilidade e (1989); FERREIRA (1990); CARDOSO DA
da mobilização a respeito de temas ambientais e SILVA (1990), SCHUBART (1992); DENIS MAL-
conservacionistas, reduz-se o universo do planeja- HAR (199 ); ROSS (1998); STEINBERGER
mento estatal. Foi um momento propício para a dis- (1999), MILLIKAN (2000).
seminação de novas idéias, novos conceitos, novos A proposta final do processo de Revisão de Meio
instrumentos. Período coincidente com a elabora- Termo do PPG7 foi de atuar de maneira diferencia-
ção e início de implementação do PPG7 e, conse- da nas três sub-regiões denominadas de Arco do
quentemente, a aprovação da temática para integrar Desmatamento (Amazônia Oriental e Meridional),
o modelo do Programa. Eixos de Integração (Amazônia Central) e
Ao analisar o quadro político-institucional e os Patrimônio Florestal (Amazônia Ocidental). Esta
resultados do PPG7 indicou-se a importância da proposta, baseada em cenários traçados em função
configuração territorial nas políticas públicas e na das mudanças em curso na Região identificados por
possível redução dos vetores que causaram fortes BECKER (1999), apontava as tendências de uma
impactos na Amazônia. Neste Programa o tema nova espacialização da Amazônia. Traçados para a
ordenamento teve status diferenciados, mas de uma Reunião de Participantes de 1999, em Brasília, tais
certa maneira sempre foi relacionado com uma fun- cenários reforçaram as dinâmicas e as configura-
ção de Estado, democrático, aos quais se incorpora- ções territoriais da Região 1, identificadas por
va a participação social. Especialmente significati- THÉRY (1998), realizado no ano anterior por conta
vo como instrumento de base territorial, o zonea- da própria Secretaria da Amazônia. Os elementos
mento ecológico-econômico, tem sido objeto de identificados por ele serviram como balizadores nas
discursos, práticas e resultados diversos. discussões intersetoriais entre instituições do
governo federal sobre o real macrozoneamento da
1. Ordenamento territorial ou preserva-
Amazônia2. A Secretaria buscava se apoiar na com-
ção? preensão e na reflexão sobre o futuro da Região,
No decorrer do processo de revisão do PPG7 elegendo como prioritárias diversas outras frentes
(1999-2000), propôs-se uma estratégia espacial, que pudessem servir como modelos de desenvolvi-
considerada adequada às diferenciadas problemáti- mento sustentável, como o Probem, o Proecotur, e
cas amazônicas. Não foi esta a primeira vez que desta maneira, passou a considerar o PPG7 um pro-
uma macro-visão da Amazônia e as tendências de grama prioritário, mas não o único e nem o de
ocupação e incorporação econômica tinha sido maior importância para o contexto amazônico.

159
Inúmeras iniciativas, demandas variadas de setores econômico: o diagnóstico e as propostas de macro-
ambientalistas governamentais e não governamen- zoneamento da Amazônia, no entanto, só foram
tais vinham ocorrendo desde meados dos anos 80, concluídas em 1996.
demandas características do período que BECKER Foi neste contexto de expressivo aumento do
(1996) denomina período da fronteira sócio- conhecimento científico a respeito do meio ambien-
ambiental, das redes tecno(eco)lógicas. te e da importância do uso desse conhecimento para
Uma das mais importantes iniciativas deste período se planejar o desenvolvimento regional, que o
foi, sem dúvida, o Programa Nossa Natureza (1988- PPG7 foi negociado.
89) analisado no capítulo dois. Somente para reto- Em Genebra (dezembro de 1991), a SAE apresen-
mar alguns elementos do capitulo dois, destacaram- tou o projeto zoneamento ecológico-econômico,
se entre as recomendações ao próprio Governo como parte do SPRN, definindo-se como sua agên-
Federal a elaboração do macrozoneamento e dos cia executora. Era um dos cinco projetos do
zoneamentos ecológico-econômicos para a Região, Subprograma que deveria compatibilizar dados e
reforçando, assim, a necessidade de ampliar o informações geradas pelos outros projetos, sistema-
conhecimento e os mecanismos capazes de garantir tizar os dados do estudo do macrozoneamento e,
a qualidade ambiental na Amazônia, definida como com isto montar um sistema nacional de informa-
Patrimônio Nacional na Constituição de 1988. ção. Seria a SAE a agência executora a se encarre-
Embora com as críticas de alguns segmentos da gar da disponibilização destas informações para os
sociedade, principalmente os setores técnicos Estados amazônicos.
ambientalistas acreditavam que o deslocamento do Naquela época, o grau de complementaridade e
zoneamento, da área ambiental para a estratégica, inter-relação entre projetos era visto da seguinte
teria um expressivo papel no projeto de desenvolvi- maneira (PPG7, 1991:08):
mento nacional com a inclusão da dimensão “i) o ZEE seleciona áreas críticas para o monitora-
ambiental no mesmo grau de importância das mento; ii) os dados e informações gerados pelos
variáveis sociais e econômicas. Abriram-se novos projetos de pesquisa dirigida reforçam o monitora-
caminhos para que o IBGE, INPE, SAE, IBAMA, mento; iii) o fortalecimento institucional melhora a
Universidades entre outros, desenvolvessem teórica capacidade dos Estados na política, utiliza dados da
e conceitualmente este instrumental-operacional pesquisa dirigida, reforça legislação, facilita o pro-
para o planejamento regional. Estas instituições cesso de descentralização para manejo das
passaram a desenvolver estudos e iniciaram o uso Unidades de Conservação e as Unidades de conser-
do ZEE, com forte conteúdo ambiental, em planos vação são laboratórios naturais para pesquisa
e em novas experiências de reordenamento de áreas científica”
definidas (o IBGE chegou a fazer alguns módulos Assim como no contexto nacional, neste período,
prioritários, como exemplos, pode-se citar o elevou-se a importância do Zoneamento ecológico-
sudoeste amazônico; o núcleo Marabá-PA e a área econômico também no âmbito do PPG7. O IAG
da periferia nos estados do Pará e Maranhão do contribuiu neste debate com recomendações tanto
Programa Grande Carajás; a área Xingu-Iriri – PA; para a estruturação do projeto em si, como na dis-
a bacia do Rio Branco – RR). cussão sobre o macro-zoneamento regional e no
Foram criadas as Comissões Nacional e Estaduais reforço do zoneamento como instrumento de plane-
com prioridades para a realização do zoneamento, jamento.
definindo uma nova metodologia para ser testada. Já em suas primeiras missões o IAG indagava sobre
A SAE detinha o poder de elaborar toda estratégia a ambiguidade e a falta de conceitos explícitos de
de Governo e entre seus objetivos, destacava-se o zoneamento, monitoramento e controle, assim
de poder apresentar ao mundo, na Conferência do como os critérios escolhidos para a seleção de áreas
Rio, a alteração do posicionamento do governo prioritárias e também sobre os padrões compatíveis
federal em relação à Amazônia, com um modelo com os sistemas de informações previstos.
baseado em uma visão mais “verde”, na combina- Recomendação após recomendação, o IAG reforça
ção de elementos da preservação e de crescimento a necessidade de fundamentar a discussão acerca do

160
zoneamento através da explicitação do seu concei- nistrativas internas, às quais se juntavam inúme-
to, de sua metodologia e sua função e uso indican- ras razões de cunho político, impediram-na de
do a necessidade de dar-lhes um sentido de plane- cumprir as condicionalidades impostas pelo pro-
jamento estratégico e com isto, reorientar, inclusi- jeto para acessar os recursos disponibilizados no
ve, investimentos. SPRN. Esse fato estimulou a incorporação do
Desde 1994, portanto, o IAG já expressava sua ZEE como um dos componentes internos dos pro-
preocupação com a falta de uma estratégia territo- jetos de gestão ambiental integrada, seguindo-se
rial do programa, enfatizando que o ZEE poderia em uma nova modificação do SPRN, em 1996.
cumprir esta função. Foi a partir deste período que Apesar da perda de importância institucional e do
o SPRN voltou-se novamente a solicitar apoio na universo a que ficou reduzido o ZEE, o IAG
comunidade científica para detalhamento de uma continuou considerando o potencial de uso deste
metodologia que incorporasse tais preocupações, instrumento como orientador do uso do território,
sugerisse uma seleção dos aspectos mais impor- e recomendou em 1996 que:
tantes no levantamento de informações básicas, e “ para dar ao zoneamento uma força propulsora
que também incorporasse os atores sociais, não se maior, os financiamentos do Banco (Mundial)
restringindo ao universo governamental. poderiam estar disponíveis apenas para as ativi-
Aos poucos, no período entre 1989 a 1995, a SAE dades econômicas que estejam em consonância
foi perdendo poder - técnico, político e institucional com o zoneamento ecológico-econômico ”
- tornando-se incapaz de colocar nas mãos dos deci- (PPG7, IAG, 1996 :10).
sores as proposições concretas que pudessem servir Recomendou ainda que como instrumento orien-
como base para a adoção de um modelo de desen- tador do uso do território, o zoneamento faria
volvimento diferenciado do anterior. O processo de parte dos projetos de gestão ambiental integrada,
ocupação seguia livremente. A frente pioneira que estavam sendo previstos para abranger
continuou avançando, o desmatamento seguiu seu grandes áreas, ao testar sua metodologia e permi-
curso, as políticas setoriais de infra-estrutura pros- tir o seu uso num futuro imediato na sustentação
seguiram, novas cidades continuaram surgindo e de atividades econômicas ambientalmente viá-
crescendo. A densificação econômica regional veis.
seguia reproduzindo o antigo modelo já conhecido Mas, se por um lado, a integração do tema como
no país. componente de um sub-projeto poderia permitir
Os projetos e experiências “mais verdes”, basea- sua concretização, por outro, tal fato constituiu-se
dos nos conceitos de desenvolvimento sustentável num indicador de redução da importância do
difundidos internacionalmente ou se perderam ZEE, pois, de um projeto único, a macrodiretriz
nas complexidades conceituais e imprecisões estratégica para o desenvolvimento regional, aca-
científicas, nas relações interinstitucionais e obri- bou por se transformar em atividade de projeto,
gações internas administrativas complexas…e difícil de implementar pelo desconhecimento da
outros, construídos segundo a visão própria de maioria dos participantes e disputando espaço
cada segmento, em pequenas áreas. com outros instrumentos, bem mais precisos, de
No contexto nacional, a SAE perde importância comando e controle (controle, fiscalização, moni-
na estrutura governamental, que se vê refletida no toramento) e para os quais já haviam procedimen-
âmbito interno do PPG7. tos claros e estabelecidos e com os quais os
Entre a reunião de Genebra (1991) e a de Belém OEMA lidavam com maior segurança.
(1995), um dentre seus cinco projetos foi trans- Um dos grandes desafios durante a preparação
formado em atividade e, após o encontro de dos Projetos de Gestão Ambiental Integrada
Belém, transformou-se o SPRN em um único pro- (PGAI) foi destacar a função orientadora e pre-
jeto, constituído de quatro linhas de atividades, o ventiva do ZEE e procurar convencer os execu-
zoneamento ecológico-econômico, o fortaleci- tores estaduais da necessidade de experimentá-lo,
mento institucional, o monitoramento e controle e ainda que estivesse perpassado pelas dúvidas
fiscalização. A SAE, sufocada por questões admi- metodológicas.

161
Questões fundamentais, não resolvidas, mento e, podem ser classificados em quatro
reforçaram as dificuldades grandes conjuntos, os dois primeiros já analisados
As dificuldades técnicas e teórico-metodológicas no capítulo dois, desenvolvidas pelo IBGE e INPE.
sobre a escolha da base geográfica como unidade Servindo-se da metodologia proposta pelo INPE,
territorial (bacias hidrográficas, ecossistemas, bio- fundamentada na identificação da vulnerabilidade
mas ou município, cidade, região); da escala natural dos solos, BECKER e EGLER (1996) se
(macro-regional, sub-regional, local); das diferen- preocuparam em incluir novos parâmetros sociais,
ças no grau de detalhamento das informações e de políticos e institucionais, visando definir as poten-
sua integração à base geográfica; de adequabilidade cialidades sociais, deixando de lado outros aspectos
das informações à escala exigida e de métodos de ecológicos, não valorizando a biodiversidade.
negociações com os atores exigem constantes O terceiro agrupamento, constituído pelas metodo-
debates, não estando, no entanto, resolvidas. logias participativas que destinam-se a serem usa-
Embora os aspectos relacionados à definição do das para o planejamento do município e/ou de áreas
que é zoneamento ecológico-econômico e as cor- comunitárias. Estas incorporam as negociações dos
rentes teóricas que sustentam este instrumento téc- conflitos e, especialmente seminários para a socia-
nico, e, ao mesmo tempo político, já tenham sido lização das informações que visam a valorização
analisados no capítulo dois, compreender as difi- dos recursos naturais, desde o momento inicial dos
culdades de implementação deste instrumento no trabalhos. Estas metodologias baseiam-se no
SPRN3. imprescinde da apreciação destas aborda- conceito de unidades de desenvolvimento, definida
gens, pois que, o zoneamento inseriu-se, entre as como a unidade espacial (PPG7,1997b).
maiores polêmicas do PPG7. Isto, de certa maneira Finalmente, nos Estados de Rondônia e Mato
fez intensificar os mal-entendidos no âmbito do Grosso, na escala 1:250.000, se basearam no detal-
Subprograma Política de Recursos Naturais a hamento de aproximadamente 30 variáveis do meio
respeito do papel dos Estados, da União, dos doa- físico, social e econômico. Os levantamentos pro-
dores e de outros atores e ressaltar as diferentes longaram-se por períodos extremamente longos,
visões do zoneamento ecológico econômico. com inúmeras dificuldades de compatibilidade das
Essa temática envolve atores distintos, diferentes informações e com um custo também bastante ele-
territorialidades, criadas no âmbito da reconceitua- vado. Ambos os projetos de RO e MT, do início dos
ção da chamada “questão ambiental”4, e, conse- anos 90, foram concluídos somente em 2000. Seus
quentemente diferentes versões do mesmo objeto. resultados foram incorporados ao processo de pla-
Macrozoneamento, zoneamento ecológico-econô- nejamento de cada estado e estão disponibilizados
mico, zoneamento participativo, zoneamento na em meio digital.
ótica dos atores, zoneamento ambiental, são alguns Pode-se perceber portanto, que segundo a escala
dos qualificativos relacionados quando se definem desejada e o objetivo do zoneamento, há necessida-
as razões pelas quais deve-se elaborar um zonea- de de buscar-se uma metodologia mais apropriada.
mento. As experiências extremamente longas e de altíssi-
Destacando-se no conjunto de questões apresenta- mo custo dos zoneamentos da Amazônia Legal
das, a seleção das informações principais que (IBGE, 1990-1996), Rondônia (1991) e Mato
devem constar dos levantamentos é um aspecto for- Grosso (1992) e a reduzida aplicação dos conheci-
temente vinculado aos interesses e aos objetivos de mentos gerados nos zoneamentos, ao ordenamento
sua realização. Assim, um dos aspectos que defini- e uso do solo, foram, destarte, os motivadores da
riam a metodologia apropriada relaciona-se aos demanda de uma nova metodologia, para ser apli-
objetivos que o zoneamento deve atender e às cada aos projetos do SPRN.
questões quais e para quê serviriam as informações Ausência de diretriz global, perda de atribu-
a serem selecionadas. tos de comparação
Assim, as bases metodológicas serão, portanto, dis- É neste contexto, entre necessidades e questiona-
tintas. Grupos técnicos apoiados em avanços cientí- mentos, que uma metodologia para o SPRN foi
ficos na abordagem deste instrumento de planeja- desenvolvida. O termo de referência reforçava a

162
necessidade de rápidos procedimentos, de incluir no zoneamento ecológico-econômico da fronteira
aspectos sociais e econômicos, relegados à um com a Venezuela, no âmbito do Tratado de
segundo plano na metodologia do IBGE e do INPE Cooperação Amazônica, realizado pela CPRM, e,
e de permitir a comparabilidade regional, visando a introduzindo, de alguma forma, a biodiversidade
elaboração de políticas comuns de gestão ambien- como um dos aspectos fundamentais.
tal. A proposta final – um roteiro metodológico para Dificuldades também ocorriam a partir leitura do
o SPRN (BECKER e EGLER, 1996) trouxe a documento metodológico, por não permitir uma
inclusão de aspectos sócio-econômicos, institucio- visualização de sequências. De uma maneira
nais e de processos de discussão com governos esquemática, as figuras 5.1 (a e b) ressaltam-nos pas-
municipais e comunidades. Visualizando-o como sos das etapas previstas por esta metodologia, espe-
um instrumento técnico e político5 para o desenvol- cialmente quanto aos aspectos da realidade sócio-
vimento da Amazônia, BECKER e EGLER (1996) econômica, prevendo-se, com isto, avançar passo a
explicitaram os conflitos inerentes aos interesses de passo. O desafio era torná-la mais operacional,
classes na apropriação do espaço e dos recursos desenvolvendo-a, esquematizando- a e adaptando-a,
ambientais. Complementando a metodologia do à medida de sua aplicação, às características próprias
INPE, propuseram a avaliação do conjunto de ele- de cada realidade, junto com os municípios ou agru-
mentos biofísicos e econômico-sociais, através da pamentos de municípios das áreas prioritárias do
vulnerabilidade natural à erosão e da potencialida- SPRN. Esta operacionalidade resultaria num diagnós-
de social de cada unidade territorial e a sua repre- tico expedito como etapa às diretrizes para o ordena-
sentação em mapas-síntese. A terceira fase, baseada mento. De uma certa maneira, estar-se-ia servindo
nos parâmetros anteriores e nos níveis de sustenta- «molde» proposto por Ab’Saber, ao ressaltar os ele-
bilidade e na legislação existente, convergiu para mentos, ao proceder-se à identificação e ao reconhe-
uma tipologia de áreas produtivas, áreas críticas cimento da realidade existente (limites municipais,
(de conservação e de recuperação) e áreas institu - estradas, núcleos urbanos, limites propriedades,
cionais. Estes aspectos constituíam-se em subsídios frentes pioneiras, elementos que caracterizam dinâ-
à negociação com os atores da região onde o zonea- micas - demográficas, produtivas, sociais, etc.) e as
mento estaria sendo realizado. intervenções previstas a curto e médio prazo, espaços
Pensada para ser aplicada em escala regional – controlados (áreas protegidas, terras indígenas, etc.).
1:250.000, propôs negociações com comunidades Ao cartografar estes elementos destacar-se-iam as
locais, de importância no contexto regional, embo- dinâmicas e seus espaços, suas zonas de diferentes
ra sem sugerir qual o momento. A ausência de características. Com este retrato da realidade, promo-
aportes e métodos de participação e de resolução de ver-se-iam debates a respeito do ordenamento e do
conflitos nutriram as críticas, as acirradas polêmi- uso futuro do território.
cas e conflitos de interesses entre os participantes Como não houve convergência de interpretações
do Programa e suscitou debates por todo o país6. e nem consensos quanto ao uso, a metodologia,
Começar desde o inicio dos levantamentos? A partir objetivos e funções do ZEE, a disputa metodoló -
da seleção das variáveis? Depois de algumas etapas já gica escondeu as verdadeiras razões: entre os
concluídas e com proposições de zonas e usos; etc.? parceiros doadores do SPRN prevaleceu a idéia
Cada doador, cada supervisor ou executor do SPRN que os Estados e Ministério estariam usando
considerava o seu «momento» como o adequado, recursos de doação para cumprimento de uma
para a participação das comunidades, reduzindo for- obrigação estrutural, reduzindo com isto os
temente as possibilidades de início dos projetos nos recursos a serem aplicados nos objetivos
Estados. maiores do Subprograma, o monitoramento, o
Outro aspecto, também muito questionado foi a redu- controle, a fiscalização.
ção de todos os aspectos ecológicos à vulnerabilida- Na verdade, a existência destas falhas serviram de
de à erosão. Uma variante desta metodologia foi uti- escudo. Aeste fato, agrega-se a falta de vontade polí-
lizada por MARQUES e MARQUES (1999) substi- tica por parte das instituições envolvidas dispersou a
tuindo-a por vulnerabilidade à degradação ambiental discussão, reduzindo as chances de realização.

163
164
165
Em síntese, pode-se construir o seguinte quadro: […] os recursos financeiros alemães se destinam a
ß Enquanto para o Governo federal o contribuir diretamente para a proteção e conserva-
zoneamento ecológico-econômico repre- ção dos recursos naturais, especialmente às flores-
sentava a possibilidade de identificação tas e à biodiversidade, não podendo ser financiadas
dos quatro tipos de áreas para i) de quaisquer ações objetivando o desenvolvimento
expansão; ii) consolidação da economia e econômico em geral”.
do desenvolvimento; iii) áreas considera- Estas divergências criaram um divisor: os Estados
das frágeis e destinadas à conservação e do Pará, Amazonas e Acre, com financiamento do
preservação, estrito sensu; iv) áreas desti- governo alemão não adotaram a metodologia pro-
nadas à recuperação; posta para o SPRN. Desenvolveram diferentes
ß Para o Governo da Alemanha, o zonea- experiências, dirigindo-se para trabalhos de parce-
mento deveria servir exclusivamente para rias e zoneamentos locais. Estados financiados com
a identificação de áreas de preservação, recursos da UE, RFT e cooperação do governo bri-
destinadas ao estabelecimento de tânico, em função dos apoios políticos dos gover-
Unidades de Conservação; nos estaduais, avançaram na utilização técnica do
ß Para o Governo do Reino Unido, que instrumental como o Amapá e o Tocantins na pro-
dava assistência técnica para quatro posição da carta-síntese de subsídios à gestão,
Estados, o zoneamento teria que ser parti- entretanto, enfrentaram fortes resistências junto ao
cipativo e envolver mecanismos para BIRD. O avanço desta atividade em Roraima esta-
satisfazer os anseios de desenvolvimento va circunscrita ao setor ambiental, visto que a prio-
de cada comunidade. ridade do governo estadual era a produção de grãos.
ß Para os Estados amazônicos deveria ser- Rondônia e Mato Grosso dispunham de projetos
vir a um extenso leque de abordagens: específicos, com altos volumes de recursos e ativi-
para alguns estados, o zoneamento em dades bastante adiantadas, dentro do Prodeagro e
nada modificaria as tendências de ocupa- do Planafloro.
ção e de desenvolvimento já apresentadas São fatos que demonstram a inexistência de um fio
em suas regiões; para outros, a expectati- condutor capaz de agregar os interesses estaduais ao
va de uso efetivo no planejamento e na interesse do governo federal e dos parceiros interna-
determinação dos usos de seus territórios. cionais. Esta quebra de lógicas políticas já tinha sido
Estas divergências, especialmente entre o Governo ressaltado pelo GTA e AMIGOS DA TERRA
brasileiro e o Governo alemão foram expressas for- (1996:26), antes mesmo do acirramento dos confli-
malmente7, sinalizando: tos:
“a metodologia aplicada (Becker e Egler, 1996) se “(…) a solução de estadualizar o enfoque, principal-
nos apresenta mais como instrumento para desen- mente no que se refere às ações de monitoramento e
volvimento econômico do que para a proteção dos vigilância, controle e fiscalização deveria ser harmo-
recursos naturais no sentido mais estreito. Temos a nizada com abordagens mais estratégicas de gestão
impressão que, por equipar-se fragilidade com o ambiental, em que a lógica regional e ecossistêmica
risco de erosão, não valoriza o mérito ecológico da pudesse ser privilegiada. Deve-se efetivar compara-
proteção de um ecossistema. ções entre as diferentes agendas estaduais e federal no
[…] Um enfoque assim não nos parece apropriado que se refere à gestão ambiental e do território,
para levar aos objetivos desejados, uma vez que na construindo uma matriz de checagem na busca da
atualidade há um amplo consenso no sentido de que integridade do patrimônio ambiental da região”.
as múltiplas funções ecológicas da bacia amazôni- Certamente, neste processo de discussão metodológi-
ca somente poderão ser preservadas através de um ca não faltaram propostas e nem recomendações acer-
sistema de unidades de conservação interligadas ca da urgente necessidade do macrozoneamento da
por corredores, o que implica como inevitável a Amazônia e de zoneamentos mais regionalizados, de
criação de unidades de conservação mesmo em maneira que pudessem ser maximizados os resulta-
regiões com potencial econômico. dos e os produtos intermediários do PPG7.

166
Os diversos macrozoneamentos vas; fundos para infra-estrutura local ou para comu-
Entre o momento inicial do Programa, em 1992, 5 nidades locais e negócios que adotarem produtos e
anos após, em 1997, e em 2000, quando na Revisão tecnologias ambientais; financiar atividades de pre-
de Meio Termo do Programa dizia-se ter chegado paração de projetos (desenvolvimento de mercados
ao momento da “grande virada”, não faltaram reco- para produtos agroflorestais, etc)
mendações para que a estratégia territorial dispersa e “espaços inter-corredores (intermediários)”:
do PPG7 fosse redirecionada; nem para que se apoio a pequenos empresários para adoção de
ampliasse a importância dada ao macrozoneamento novos produtos, processos e tecnologias em negó-
da Amazônia. O PPG7 deveria ter incorporado, em cios sustentáveis, prioridades para atividades
sua estratégia geral, a preocupação com os impac- desenvolvidas nos PGAIs do SPRN, como extrati-
tos, com os conflitos de usos de recursos e com os vismo, gestão florestal sustentável, silvicultura,
modelos de desenvolvimento implantados pelos agrosilvicultura, piscicultura.
diferentes planos governamentais para a Amazônia, Esta clara proposição do Governo brasileiro
especialmente o “Brasil em Ação” e posteriormen- demonstrava a sua visão do uso do macro-zonea-
te o “Avança Brasil”. mento e dos zoneamentos ecologico-econômico
Em 1995, o seu 4° encontro, o IAG propunha que, dos PGAIs, a serem aplicados no caso da
para evitar ambiguidades, o zoneamento deveria Amazônia.
envolver 2 níveis: o zoneamento “estratégico” da Percebe-se, no entanto, posições inconciliáveis
função territorial (um macrozoneamento), outro de quanto ao entendimento e uso do instrumento, as
planejamento, mais detalhado, de uso da terra. Para quais se refletem fortemente no interior dos proje-
o nível estratégico propuseram: tos do PPG7 e que polarizam os argumentos de
Tipo 1 – “áreas de preservação”, as unidades de cada ator: se para o Governo brasileiro, o uso do
conservação de uso indireto; ZEE deveria servir ao desenvolvimento; para o
Tipo 2 – “áreas de uso restrito”, áreas indígenas, governo alemão, o uso deste instrumento seria
reservas extrativistas, florestas nacionais, etc.; restrito à preservação; para o governo inglês, sua
Tipo 3 – “pontos quentes”, áreas que estão sendo utilização voltava-se à negociação dos conflitos ori-
rapidamente colonizadas, com rápida mudança do ginados pelos diferentes usos requeridos pelos
ecossistema, para as quais seriam realizados estu- atores locais e sobretudo ao financiamento de ativi-
dos mais detalhados de zoneamento; dades produtivas sustentáveis; para o Banco
Tipo 4 – “áreas em produção com forte influência Mundial, havia uma indefinição entre defender, e
antropogênica”; replicar os modelos desenvolvidos pelos zonea-
Tipo 5 – “áreas degradadas”. mentos do Prodeagro e Planafloro, ou concordar
Em 1996, o Governo Brasileiro propunha, em com o posicionamento do governo alemão, restrin-
Bonn, durante a 4° reunião dos participantes, usar o gindo seu uso. Havia portanto, uma miscelânea
ZEE para negociar o uso do solo e definir as políti- entre conceitos, escalas, funções, usos e aplicabili-
cas que suportariam este uso, portanto, apresentava dade deste instrumento.
assim um macrozoneamento da Amazônia: Em 2000, na 6° Reunião de Participantes, em
“corredores de conservação” : as prioridades seriam Brasília propôs-se que cada componente do
para estabelecer Parques e Reservas (corredores Programa fosse dirigido a um objetivo específico e
ecológicos), enfatizando as atividades para manter que fosse diferenciado para cada espaço regional:
a biodiversidade, consolidar as Unidades de Arco do Desmatamento, projetos de produção sus-
Conservação (UC) ; promover, em áreas privadas, tentável;
atividades econômicas com conectividade com a Amazônia central, atravessada pelos ENID, combi-
UC (ecoturismo, desenvolvimento de recursos flo- nação de proteção e produção e
restais não madeireiros, etc.) “Patrimônio Florestal”, proteção e vigilância em
“corredores de desenvolvimento” : apoiar ativi- larga escala
dades com o setor privado para desenvolvimento de Certamente isto tudo demonstra que, mesmo se
atividades ambientais economicamente competiti- apoiando em diferentes metodologias, ou de dife-

167
rentes objetivos, foram feitas varias propostas para voz nos fóruns locais; baixo nível de sustentabili-
adoção imediata do macrozoneamento e, conse- dade política; riscos de uso indevido dos estudos de
quentemente, de políticas territoriais mais adequa- ZEE ” ;
das a cada sub-espaço regional. Assim, sendo o ZEE um instrumento de uso recen-
te no planejamento e na gestão territorial, ele
2. Discursos ou práticas?
depende, ainda, de uma melhor definição dos ele-
Estas crises que se estabeleceram quanto à com- mentos que o compõem, das escalas, bem como de
preensão do zoneamento, no âmbito do PPG7, metodologias de implementação correspondentes.
iniciam logo após a conclusão do estudo sobre a Uma discussão que deve ser realizada pelas comu-
metodologia (BECKER e EGLER, 1996), dificul- nidades científica e técnica.
tando a concretização de experiências que pudes- É preciso, portanto, voltar-se às propostas do IAG
sem comprovar, ou não, sua viabilidade. em 1993, sua primeira reunião. À época declara-
Por outro lado, a inclusão de aspectos que permi- ram-se preocupados com a falta de clareza do
tiam a definição de áreas de expansão e de consoli- conceito, da metodologia e da função do zonea-
dação econômica tornou-se também outro ponto de mento. Por outro lado, reforçaram a necessidade de
discordância, como visto anteriormente. Neste dar a ele máxima prioridade, da escala sub-regional
aspecto, a metodologia proposta visava reconhecer à regional. A experiência lenta na elaboração do
o potencial de desenvolvimento nas diversas áreas Diagnóstico - Macrozoneamento da Amazônia (do
da Amazônia. A discussão com representantes do IBGE/SAE) levou-os a recomendar:
governo alemão, em função da discordância com a “ maior prioridade dentro do projeto de
função de desenvolvimento no zoneamento, provo- Zoneamento deve ser dada à identificação e demar-
cou cerca de um ano de atraso na aprovação dos cação de áreas onde novas atividades econômicas
PGAI do PA, AM e AC. não devem ser permitidas, antes do processo de
Este embate entre doadores e governo foi resolvido zoneamento concluído. Elas poderiam ser denomi-
na Revisão de Meio Termo do SPRN (MMA, nadas “ Áreas de Reserva de Recursos ”. E ressal-
SPRN :2000), que define o ZEE como “ instrumento tavam aspectos relacionados à difusão e negociação
de planejamento e gestão voltado para o desenvolvimento com todos os atores envolvidos: “ critérios para
regional sustentável, que deve estabelecer referenciais para áreas selecionadas devem se tornar mais transpa-
orientar a ocupação do território, com vistas à proteção da
rentes para as populações afetadas ”, assim como
biodiversidade e ao uso sustentável dos recursos naturais”,
“ intensa informação a todos os grupos sociais é
que ressalta ainda as questões consideradas críticas
imediatamente necessária a fim de evitar reações
no tocante à metodologia BECKER e EGLER
negativas de grupos desinformados. Se isto não for
(1996):
feito, não há esperanças de que eles adotarão esse
- “ riscos de gastar um grande volume de recursos
zoneamento, como uma base valida para seus pró-
financeiros em levantamentos demorados e de
prios esforços ”.
pouca utilidade prática para o desenvolvimento
Insistiram na necessidade de iminente publicação
local e regional; pouca importância à participação
do diagnóstico ambiental da Amazônia que, ao se
publica na definição de “vocação natural”, privile-
constituir numa macro-visão da Região, serviria de
giando o levantamento dos recursos naturais; a
base para que os Estados pudessem selecionar suas
metodologia proposta não inclui questões refe-
áreas críticas, onde os zoneamentos em escala
rentes à biodiversidade, serviços ambientais e
1:250.000 seriam realizados (PPG7/IAG:1993).
necessidades das populações tradicionais; esvazia-
No entanto, vale relembrar que quando este
mento de discussões sobre a necessidade de mudan-
Diagnóstico ficou pronto, em 1996, o processo de
ças urgentes entre políticas publicas incompatíveis
definição e seleção das áreas prioritárias já tinha
com os princípios do Desenvolvimento
sido iniciado nos Planos Estaduais Ambientais,
Sustentável; abordagem restritiva (o que não
algumas das quais cristalizaram as preocupações
pode!); exercício essencialmente técnico; risco de
lembradas pelo IAG : “ Sem esta imagem, essas
que as necessidades de conservação e proteção do
equipes estão tentados a concentrar seus esforços
meio ambiente ‘interesses “difusos” fiquem sem

168
169
de zoneamento (estágio 2 – 1 :250.000) em regiões tinguem.
por eles consideradas importantes para os objetivos A leitura dos documentos apresentados no
de ações administrativas… ” (PPG7/IAG: Seminário de Manaus (2000) permite um balanço
1993:18). desse processo de realização do zoneamento ecoló-
A função primordial do zoneamento era, portanto, gico-econômico na Região. O quadro da situação,
indutora, “de natureza indicativa, integrando políti- naquela data, pode ser sintetizado em três conjun-
cas e ações setoriais e utilizando incentivos e desin- tos, e representados no mapa da figura 5.2:
centivos apropriados às circunstâncias locais” ß alguns Estados estão realizando-o em três
(PPG7/IAG, 1994:8) níveis simultaneamente: macro (toda superfície
A distorção, portanto, no eixo da discussão e priori- estadual, em escala 1:1 000 000), regionais (nas
dade de execução estaria, certamente, escondendo a áreas prioritárias dos PGAI, escala 1:250 000) e
falta de vontade política para realizá-lo, tanto nos municipais (escala 1:250 000, 1:100 000 ou
Estados quanto no Governo federal. Sendo visto 1:50 000). São os casos encontrados no Acre,
como um instrumento restritivo, ainda que tenha Amapá, Amazonas e Pará
uma boa aceitação no discurso, a ausência ou a frá- ß outros apenas nas áreas dos PGAI (escala 1:250
gil decisão política, permite a superestimação da 000). Enquadram-se os Estados do Maranhão,
discussão metodológica, tornando-a capaz de blo- Tocantins e Roraima.
quear o andamento dos projetos e dar elementos ß somente em escala 1:250.000 mas cobrindo a
para a concretização de uma política de incentivos superfície total do Estado, constituindo em uma
ou restrições, segundo os potenciais de uso de cada segunda aproximação do zoneamento. Neste
zona. caso enquadram-se apenas os Estados do Mato
O ZEE, por todos estes aspectos polêmicos e Grosso e Rondônia.
contraditórios vai, provavelmente, continuar sendo Sendo esta a situação de cada Estado, é importante
o centro das indefinições técnicas e políticas no destacar que o Amapá, Maranhão, Roraima e
seio do Governo federal. Desde a reestruturação Tocantins expressaram textualmente ter como obje-
institucional do governo federal, em 1999, as atri- tivo a utilização os resultados, depois da conclusão
buições do ordenamento territorial são atribuições do ZEE, como base ao licenciamento e ao monito-
do Ministério da Integração Nacional enquanto o ramento ambiental.
zoneamento ecológico-econômico, com a extinção O quadro de diferenciação entre as situações dos
da SAE, foi transferido para o Ministério do Meio Estados é notória. Com a modificação do próprio
Ambiente. Criou-se, de novo, um sombreamento Subprograma, a oferta de recursos do PPG7 impli-
institucional com este procedimento que reforça a cava no uso do zoneamento como atividades dos
visão restrita do uso do ZEE como instrumento no projetos de gestão ambiental integrada (PGAI).
âmbito do próprio setor ambiental – apesar dos Assim, apesar das discordâncias, todos os Estados
esforços técnicos e dos discursos a este respeito que cumpriam as normas, e passaram a propor as for-
reafirmam a função do ZEE no planejamento e no mas de uso segundo seus interesses e necessidades.
ordenamento territorial. O MMA continua seu Porisso, houveram Estados que optaram pela abran-
investimento no debate técnico e metodológico, gência municipal, ainda que o PGAI cobrisse vários
mas seus resultados dificilmente servirão como municípios; outros, para o detalhamento de
base para as políticas emanadas por outros ministé- (macro)zonas já estabelecidas. O zoneamento pas-
rios. sou a servir apenas a um ordenamento dessas áreas.
Ao analisar os resultados dos zoneamentos, nos Os discursos governamentais e a escolha dos atores
Estados amazônicos, percebe-se como cada um principais dessa negociação são bastante distintos e
atribuiu uma conceituação própria - dando-lhes bem clara: enquanto os governos do Amapá e do
maior ou menor importância na função de articula- Acre insistiram na utilização do zoneamento como
ção de políticas públicas, no ordenamento do ter- subsidio para negociações entre governo, sociedade
ritório ou gestão ambiental. Por isso, os objetivos e civil e setor produtivo ao desenho de estratégias de
as escalas de trabalho e de pesquisa também se dis- desenvolvimento regional sustentável, os Estados

170
do Para e Maranhão definiram sua utilização na nares grandes áreas para agricultura, por exemplo
definição de estratégias de desenvolvimento, ser- no oeste do Acre, ainda que o Acre fosse a melhor
vindo das informações como subsidio às políticas área para o estabelecimento das reservas extrativis-
de incentivo ou desincentivo aos investimentos e tas tanto pela organização social quanto pela exis-
para regular a iniciativa privada. tência de áreas de propriedade do governo (ALLE-
Um outro aspecto a destacar relaciona-se à partici- GRETTI 1990, FEARNSIDE, 1991), prevalecendo
pação da Embrapa na elaboração dos diagnósticos e o aspecto solo sobre diversidade biológica e flores-
prognósticos dos zoneamentos. SCHUBART (SIM- ta. No entanto, a Embrapa foi contratada para reali-
POSIO… 1990, informação verbal) e FEARNSIDE zar os zoneamentos em Roraima, Maranhão,
(1997:273) reforçavam o cuidado que dever-se-ia Itaituba confirmando, de uma certa maneira, alguns
ter com o forte viés agro-pecuário, a necessidade de dos conflitos de objetivos no âmbito dos zonea-
expansão de áreas para a agricultura e a existência mentos.
de manchas bons solos na Amazonia: a Embrapa Outro conflito frequente entre doadores, governo
(SNLCS:1988) indicava em seus mapas prelimi- federal e executores nos Estados relacionava-se a

171
quando e como a negociação com os atores deveria escondendo as intenções de manutenção de seu
ser realizada. Mas nem a metodologia SAE/PR- poder, naquele momento (1998-1999) fortemente
MMA nem os documentos do Subprograma questionado pela Secretaria de Coordenação da
(SPRN) formalizaram uma estratégia para o envol- Amazônia. Paradoxalmente as opiniões externali-
vimento dos mesmos, deixando também sem nen- zadas por DIEWALD (2000) a esse respeito pare-
huma orientação a superposição institucional: cem confirmar essa hipótese:
enquanto os PEA, nos quais as áreas dos PGAI «um processo pesado de negociação em todas as
foram delimitadas, foram aprovados pelos partes da Amazônia?
Conselhos Estaduais de Meio Ambiente os zonea- […]podemos economizar concentrando o proces-
mentos deveriam sê-lo nas Comissões Estaduais de so intensivo de negociação nas regiões onde os
Zoneamento. Muitos desses Conselhos e conflitos são mais agudos: na velha “fronteira”,
Comissões não funcionavam regularmente e embo- no arco do desmatamento, e onde a fronteira
ra tivessem a participação de representantes da avança rapidamente. Particularmente nas novas
sociedade civil, tanto essa irregularidade quanto os fronteiras será importante considerar e discutir os
métodos de participação eram insuficientes, segun- interesses da comunidade a longo prazo, sobretu-
do os doadores, para concretizar o processo de do o de evitar o “boom and bust” (crescimento
difusão e de discussão com a sociedade civil das rápido seguido por decadência) típico da explora-
propostas previstas no zoneamento. ção predatória de recursos tais como a madeira e
Para o BIRD e GTZ a negociação política deveria os minérios
ocorrer desde o inicio de elaboração do PGAI. […] Um trabalho de negociação menos intensivo
Um posicionamento e uma nova exigência, em áreas menos disputadas, onde a seleção de
contraditórios com os procedimentos que o BIRD áreas para conservação pode ser feita mais facil-
tinha visto serem adotados nos zoneamentos do mente em base de critérios técnicos. Tal seleção
Prodeagro e do Planafloro. Em outras palavras, parece uma função primordial do Governo
ainda que os projetos de ZEE do Mato Grosso e Federal»
Rondônia tenham tido um numero elevado de par- Essas pressões se embasavam no raciocínio de
ticipações da sociedade civil, estas somente envolvimento e participação da comunidade
começaram a ser realizadas em etapas posteriores afetada pelos projetos e a imposição aos execu-
aos diagnósticos. tores de projetos demonstrativos com as mes-
Neste aspecto é importante insistir, mais uma vez, mas. O aparecimento, no final dos anos 1990,
que estamos frente à processos ainda em constru- dos PIC - projetos de iniciativas comunitárias
ção teórica e operacional: são experiências do âmbito de projetos financiados pelo BIRD:
iniciais de zoneamentos que visavam testar uma Prodeagro, Planafloro, PNMA parecem confir-
nova metodologia - menos custosa que as desen- mar esta lógica. Mas A L M E I D A (2000) nos
volvidas em Mato Grosso e Rondônia - , e os pou- chama a atenção que essa é mais uma forma de
cos meios governamentais para a negociação de dominação: o aparecimento do mito da base e
conflitos de territorialidades com novos grupos das parcerias que hoje impregna o discurso das
sociais que emergiram nas ultimas décadas. As agências multilaterais, dos aparatos de Estado e
pressões dos doadores e do Banco Mundial pelo das próprias empresas privadas. Ressalta o
envolvimento da sociedade civil foi incessante, antropólogo que «parcerias», ao invés de
levando a intensas criticas sobre a qualidade e a expressar o fim do conflito, efetivamente abrem
validade dos trabalhos técnicas que não contaram um novo campo de contradições e de interesses
com um grande numero de participantes, desde o conflitantes visto que a parceria hoje com os
seu inicio. As ingerências e reações do BIRD movimentos sociais não passa de formas de
frente os trabalhos desenvolvidos no Amapá - que legitimação pois os fundos transnacionais ado-
era o projeto mais avançado na implementação - tam a «participação da comunidade afetada»
embora dirigidas aos aspectos metodológicos e como critério para liberação de recursos no
participativo, poderiam estar, provavelmente, âmbito de projetos por eles financiados».

172
3. De estratégias espaciais implícitas às dades do Programa e as políticas e práticas gover-
explícitas namentais”. Em 1997, o IAG (PPG7/IAG, 1997:
03-04) destacava a iminente questão de articulação
Retorna-se, portanto, à questão da inexistência de entre o PPG7 e outras iniciativas emergentes de
estratégias espaciais explícitas no âmbito do PPG7. políticas para o desenvolvimento regional - Política
À medida que o Programa evoluiu em sua imple- Integrada para a Amazônia, Agenda XXI
mentação, pode-se perceber alguns esforços dirigi- Amazônica, o Programa Brasil em Ação - e instru-
dos à necessidade de criar vinculações externas e mentos fiscais ou de outras políticas PRODEX,
articulações com outras políticas públicas territo- PRONAF, PFEM (garantia de mercado para produ-
riais. tos florestais excluída a madeira). “As complemen-
No momento de formulação do Programa procu- taridades e contradições potenciais deverão ser
rou-se expressar nos objetivos alguns bloqueios à levadas em conta durante a implementação do
continuidade das políticas territoriais passadas do Programa e suas atividades devem ser concentradas
Governo brasileiro e de seus impactos negativos, onde há probabilidade de exercer mais impacto”.
explicitado na parte I deste capitulo. Portanto, desenhavam uma estratégia territorial
Após 10 anos, os impactos territoriais positivos para o PPG7.
deste Programa são ainda embrionários ou mesmo OS PGAI acabaram “por acaso” cumprindo
inexistentes. E, o cenário no qual ele deve continuar isto…Quando os PGAIs foram definidos, os 42
a desenvolver-se é outro: um Brasil que evoluiu, projetos prioritários do Brasil em Ação já estavam
um governo que reinveste na função de planejar seu sendo implantados. No entanto, os participantes do
desenvolvimento, uma Amazônia que tem um novo Subprogama estavam retidos pelos conflitos, para-
status, um novo patamar técnico-científico, resul- doxos e dificuldades geradas pela pesada estrutura
tante da evolução da sociedade regional e nacional. institucional e financeira atribuindo pouca impor-
O fato é que um Programa que, em suas origens tância aos investimentos do Brasil em Ação, cujos
tomou o lugar de uma política, porque somente a projetos estavam territorializando sobre a Região: a
partir de 1995, com a aprovação da Política hidrovia do Madeira, a BR-163, a BR-174, a ferro-
Integrada para a Amazônia, um referencial político via que liga Cuiabá ao porto de Santos, o linhão
foi institucionalizado. Referencial que pouco foi Norte-Sul, os terminais portuários. Dois tempos
considerado pelos participantes do Programa, bem marcados: os investimentos, num ritmo, numa
conforme salientou OLIVEIRA (1996:237) porque: velocidade; as avaliações de seus impactos e políti-
“não se identificava uma política pública para a cas preventivas, noutros.
Amazônia que tratasse dos aspectos contidos no Também os participantes, respaldados nos docu-
Programa Piloto. Na verdade, em distintos momen- mentos de evolução do programa, sobretudo nos
tos foi ressaltada a inexistência de uma política que relatórios do IAG, enfatizaram a necessidade de
integrasse diretrizes setoriais a um objetivo articulação e integração entre as políticas públicas.
comum. Isto possibilitou ao Programa Piloto a ocu- Mas somente a partir de 1997, a partir de sua 4°
pação deste vazio institucional O livro Políticas reunião os discursos argumentam sobre a importân-
publicas para a Amazônia adaptadas ao PPG7 cia da concertação e da integração dos esforços
apresenta um bom conteúdo mas constitui-se numa desenvolvidos pelo Programa, com o objetivo de
inversão de papéis, provocada essencialmente pela influenciar positivamente sobre os impactos que as
carência de referências adequadas sobre o assunto, outras políticas territoriais geravam.
pois à falta de uma política adequada para a Portanto, apesar das persistentes recomendações dos
Amazônia, o PPG7 fazia as vezes da mesma, sem relatórios do IAG e posteriormente nos documentos
obviamente ter sido pensado para isto”. de avaliação de projetos e Subprogramas, os resulta-
As indicações de que o Programa poderia estar se dos do PPG7 sobre as políticas territoriais até aquele
isolando frente às políticas governamentais foram momento foi bastante reduzida, especialmente sua
dadas pelos seus grupos de acompanhamento. Em influência sobre os desmatamentos, conforme se des-
1996, o GTA (1996:196) reforça a necessidade de taca no mapa n° 4.01, do capítulo quatro.
“medidas para evitar contradições entre as ativi-

173
Quanto aos indicadores que pudessem mesurar o pondo-se espaços «verdes» e espaços antropizados,
objetivo de “reduzir o desmatamento” previsto no enquanto o mapa da figura 5.3, mostra os territórios
PPG7 também foi motivo de grande controvérsia de proteção, legalmente constituídos pelas UC e
entre os gestores do Banco Mundial, os doadores e áreas indígenas.
o GOB. Ao tê-lo aceito como objetivo, o GOB não Como estes resultados intermediários mostravam,
considerou a sua utilização como indicador, ou pelo de uma certa maneira, a dispersão de ações e a
menos, não quis aceitá-lo na fase piloto do pequena envergadura na conservação dos recursos
Programa, talvez posteriormente. Discussão moti- naturais em áreas de grande pressão antrópica,
vada, de uma lado, porque o próprio Banco durante o processo de revisão de meio-termo do
Mundial não tinha segurança sobre este indicador, programa (2000) todos os participantes voltam-se
sendo sempre confrontado com outras preocupa- para a elaboração de uma estratégia espacial que
ções dos doadores a respeito da pobreza, das pudesse respaldar diferentes ações do PPG7,
cidades (União Européia e Reino Unido, por exem- dando-lhe maior visibilidade. Vale lembrar que era
plo); e de outro lado, porque para o Brasil o balan- uma das preocupações expressas pelo IAG desde
ço no decréscimo da taxa de desmatamento tem 1997. Argumentos que reforçavam a necessidade
sido negativo. Nos últimos cinco anos, mantém-se desta estratégia espacial relacionando o Arco do
em constante alta nos estados do Mato Grosso e Desmatamento como um espaço que foi tratado
Tocantins e Pará, o chamado Arco do apenas parcialmente no âmbito de alguns
Desmatamento. Subprogramas e que as áreas de florestas, tinham
Quanto ao aspecto “proteção” inscrito no âmbito do sido objeto de uma fraca intervenção. Assim, os
objetivo de “maximizar os benefícios ambientais participantes procuram capitalizar o potencial do
das florestas tropicais brasileiras”, percebe-se que PPG7 por meio dos projetos que podem trazer
as áreas de proteção, constituída pelas reservas maiores resultados territoriais, como os PGAIs, os
indígenas, reservas extrativistas e outros tipos de PD-A, e, num futuro mais próximo, os corredores
unidades de conservação, encontram-se concentra- ecológicos e mesmo o Promanejo.
das na Amazônia ocidental. Assim, quando da releitura dos objetivos do PPG7
Os resultados territoriais decorrente dos objetivos na revisão de meio termo (RMT), desenharam-se
propostos entre impactos positivos e bloqueios ou novas estratégias e políticas prioritárias. Desenhou-
prevenção ao processo de ocupação da Região se um novo macrozoneamento e propôs-se a expli-
estão registrados no grande espaço onde hoje ocor- citação dos focos temáticos e geográfico: ao pri-
rem as principais dinâmicas: o conjunto formado meiro, correspondem os temas de desenvolvimento
pela Amazônia meridional, estendendo-se em parte de políticas, proteção, economia sustentável, desen-
à Amazônia ocidental e à Amazônia oriental. volvimento do conhecimento e da comunicação e
Espaço onde o uso de recursos naturais vem sendo construção da capacidade; ao segundo, o foco seria
intenso. no Arco do Desmatamento, cruzamento com os
Esta grande área foi selecionada nos Planos Eixos Nacionais (Oeste e Araguaia-Tocantins) e
Estaduais Ambientais como “região crítica”, por- nos Corredores Ecológicos (Amazônia Central e
tanto, deveria ser o espaço prioritário para ações de zona costeira da Mata Atlântica). A tipologia apro-
cunho preventivo ou mesmo de monitoramento e vada na 5° Reunião dos Participantes, indicou as
controle. Entretanto, os PGAIs nem sempre foram zonas e as atividades correspondentes
localizados nesta franja de maior dinâmica sócio- - No Arco do Desmatamento: «Reduzir a
econômica. Por outro lado, as áreas de proteção, instabilidade da ocupação», sugerindo como
especialmente na Amazônia Ocidental têm sido ações prioritárias o fortalecimento da produ-
beneficiadas pelo PPTAL e Resex, mas também ção familiar, a verticalização da produção
não estão imunes à possibilidades de riscos de agrícola, a consolidação de núcleos urbanos,
impactos das dinâmicas ocasionadas por outras reflorestamento das áreas já abertas, e a inser-
políticas governamentais. Neste sentido, a figura ção de prática sustentáveis nas atividades
4.8, mostra o impacto territorial do PPG7, contra- impactantes.

174
- Na Amazônia Central, a Amazônia dos dos eixos, a fiscalização e monitoramento e
Eixos de Integração: «Acelerar estratégias de controle e das atividades econômicas, a
conservação», para isso foram sugeridos demarcação das terras indígenas urgentemen-
como ações prioritárias, a implantação do te, a criação de áreas protegidas com o envol-
zoneamento ecológico econômico ao longo vimento das populações, a verticalização das

175
atividades agrícolas e fortalecimento da pro- 4. Uma revisão metodológica, a mais
dução familiar.
No que diz respeito ao zoneamento ecológico eco-
- Na Amazônia Ocidental, sobretudo em
nômico, foi proposto a revisão da metodologia
função da baixa densidade populacional e da
BECKER e EGLER (1996), visando formas de efe-
perspectiva de investimentos de comunicação
tivar a participação pública, bem como incorporar
e segurança SIVAM-SIPAM, «A vigilância e
biodiversidade e serviços ambientais e, sobretudo,
produção sustentável”. Como ações sugeridas
articular o zoneamento com os planos estratégicos
o fortalecimento da produção florestal, a
de desenvolvimento regional. O quadro (ou anexo?
implantação do corredor ecológico da
£££) mostra as orientações dadas pelas SCA e SDS
Amazônia central e, a consolidação da ocupa-
do Ministério, bem como as recomendações visan-
ção dos pequenos núcleos urbanos, o fortale-
do a presença destes elementos na metodologia.
cimento dos municípios de fronteira, e estu-
O processo da Agenda Positiva da Amazônia adota-
dos de mecanismos de compensação por ser-
do pela nova Secretaria entre maio de 1999 e junho
viços ambientais.
de 2000, foi concluído com uma discussão no
Assim reforçou-se a proposta, apresentada, em
plenário da Câmara dos Deputados sobre os dez
Paris, em 1999, de que o programa deveria passar a
temas prioritários de caráter regional selecionados
enfatizar as políticas públicas, a integração entre os
pelos Estados,
projetos e sobretudo agilidade administrativa e
Os três itens estabelecidos na Agenda quanto ao
financeira.
zoneamento ecologico-econômico abordavam:
A respeito das estratégias espaciais distintas o IAG
ß a aceleração da implementação do ZEE como
ressalta que ao se concentrar em estratégias de
instrumento estratégico para o desenvolvimento
conservação no Arco do Desmatamento, nos Eixos
regional sustentável, contanto com recursos
de Integração e no Patrimônio Florestal, parecem
financeiros da União - aumentando a participa-
deixar sem resposta uma questão crucial para o pro-
ção publica efetiva; articulando com planos e
grama, a preservação, ou seja, como proteger o
políticas setoriais existentes; incorporando bio-
meio ambiente em áreas onde a pressão antrópica é
diversidade e serviços ambientais na metodolo-
forte. Propostas essas que seriam também levanta-
gia e elaborando o macrozoneamento da
das, bem mais tarde, quando ocorreram os seminá-
Amazônia a partir da consolidação dos ZEE
rios regionais com a participação dos atores envol-
estaduais;
vidos.
ß a criação ou fortalecimento dos Conselhos
No que se refere às as ações de cunho territorial, ao
Estaduais de Meio Ambiente e as Comissões
enfatizar resultados para políticas públicas e inte-
Estaduais com câmaras técnicas paritárias,
grar projetos, as novas orientações para o SPRN, a
tendo princípios e regras claras de funciona-
partir de 2000 se assentam na: i) viabilização das
mento;
alternativas sustentáveis no uso dos recursos natu-
ß a definição de princípios básicos comuns que
rais; ii) na ampliação das iniciativas de planeja-
norteiem o macrozoneamento da região, respei-
mento participativo para desenvolvimento sustentá-
tando as peculiaridades dos estados e que ten-
vel local (apoio às experiências de implementação
ham flexibilidade para atender as prioridades
das agendas 21; aos planos municipais de desen-
dos beneficiários. Deverá ser concluído ainda
volvimento sustentável e aos projetos demonstrati-
no âmbito do PPA 2000-2003.
vos de gestão ambiental municipal). Coube também
A análise do material deste Seminário em Manaus
ao SPRN implementar as medidas acordadas na
permite concluir que, na verdade, procurava-se
Agenda Positiva e compatibilizar suas ações com
argumentos técnico-científicos para rejeitar aquela
outras agendas como a Agenda XXI e os PPA esta-
metodologia, ainda que nela existissem precarie-
duais e o nacional bem como o aproveitamento dos
dades, falta de explicitação de procedimentos. Uma
acordos e a incorporação dos progressos já realiza-
das grandes críticas relacionou-se ao fato de ser
dos no âmbito dos PGAIs e o financiamento do pro-
uma metodologia geral que não se enquadrava às
jeto Amazônia fique legal, em seu primeiro ano.
especificidades amazônicas, embora ela tenha sido

176
proposta visando exatamente a Amazônia; à falta de co-científica e que estejam mais de acordo com
flexibilidade; a noção de participação de baixo para suas realidades. Portanto, a questão metodológica é
cima (ou do local ao nacional). facilmente resolvida no âmbito de cada Estado,
A decisão de fazer o macrozoneamento incorporan- considerando que já se dispõe de uma razoável
do os ZEE estaduais, ou seja, estadualizando o massa de informações relativa às metodologias e
enfoque, já tinha sido objeto de critica do GTA e técnicas de processamento de informações. Ajustes,
AMIGOS DA TERRA (1996) quando argumenta- complementações e aprimoramentos, são atitudes
vam que tal procedimento poderia restringir uma esperadas e desejadas, haja vista a importância da
visão e estratégias nacionais mais amplas, de visão questão da biodiversidade e a valoração ambiental,
da Amazônia enquanto dimensão nacional e global, que eram assuntos não tratados nas metodologias
reforçada por DIEWALD (2000) quando coloca até o momento e que, agora, começam a emergir
como «perigo inerente do zoneamento local a possibilidade nas discussões como assuntos de relevante interes-
de uma ‘competição regulatória’ entre os municípios, para se ecológico-ambiental».
atrair investimentos através da redução de impostos e outros E FEARNSIDE (2000) também chamou a atenção
incentivos. Para ele o papel dos Estados e da União é de exi-
para o descompasso entre a necessidade de mel-
gir padrões mínimos do ZEE municipal e fiscalizar seu cum-
primento» e por ROSS (2000) que analisa a questão hores decisões de planejamento, das consequências
das escalas para nortear macropolíticas nacionais, de diferentes decisões de desenvolvimento, usando
regionais ou municipal e urbano. Para ele a ferramenta provida pelo zoneamento, a realidade
«o uso desse instrumental na Amazônia, enquanto observada hoje é bastante diferente. Para ele,
instrumento técnico científico e sobretudo geopolí- «o verdadeiro zoneamento está acontecendo hoje
tico, para uma região em que a mídia internacional sem primeiro avaliar os impactos, por meio de
e organizações de interesses internacionais diversos decisões sobre grandes programas de desenvolvi-
tendem a promover muita interferência, que fre- mento, tais como os eixos de desenvolvimento que
quentemente remetem a ações nem sempre adequa- são parte do programa Avança Brasil. Estão sendo
das aos interesses da nação. Neste sentido, o ZEE é buscados bilhões de dólares em investimentos
mais do que um instrumento de gestão territorial, é antes dos estudos ambientais, estudos de zonea-
também um importante instrumento/documento mento, e antes que outras informações sejam pro-
que reafirma a soberania nacional na região». duzidas e debatidas. Portanto, o zoneamento está
Portanto, ao adotá-lo visando a gestão territorial, é sendo feito, na prática, em grande escala sem
necessário o aprimoramento das informações técni- seguir quaisquer dos princípios discutidos neste
co-científicas e um determinado nível de participa- seminário».
ção da sociedade civil à cada nível de aplicação: Novas questões foram propostas, como a territoria-
porisso as escalas de trabalho dos ZEE devem ser lidade dos novos grupos que são chamados às par-
diferenciadas em função dos níveis de gestão terri- cerias. Mas, mesmo no âmbito das novas proposi-
torial, ressaltando a escala de trabalho mais genéri- ções o universo de elementos a serem incorporados
ca no nível nacional mas que possibilite tomadas de como, por exemplo, a utilização de indicadores de
decisões nacionais e regionais diferenciadas em sustentabilidade, dos conflitos estabelecidos em
função das características e peculiaridades de cada áreas com problemáticas semelhantes,
parte do território nacional. contrapõem-se a outras proposições do uso das
ROSS (2000) considera outros fatos importantes ecorregiões ou de indicadores biológicos. Este
merecem ser pensados no contexto do ZEE para a amplo espectro de proposições pautadas em distin-
Amazônia. tas visões dos objetivos do zoneamento: de que
«Não é tanto a questão metodológica em si, que se uma função de ordenamento, na qual o Estado
resolve no âmbito das equipes técnicas de execução ainda mantinha um papel significativo, para outras
no interior de cada Estado. É preciso ter uma meto- de construção de sociedades sustentáveis ou de
dologia que ofereça um rumo genérico dos trabal- conservação inter-corredores. Mas, em todas essas
hos, mas que seja suficientemente flexível para que propostas permanece a demanda de apoio (finan-
cada Estado ajuste dentro de sua capacidade técni- ceiro) do governo federal na implementação.

177
5. A valorização da conservação na políti- pela Agenda 21: a desregionalização da questão
ca regional amazônica, concebendo-a e integrando-a, como
parte do projeto nacional, às políticas públicas,
Uma avaliação elaborada pelo GTA (1996) destaca concertadas conjuntamente com a sociedade civil,
que as políticas desenhadas a partir da metade da devera estar alicerçada na integração ao pais e ao
década de 90 fundamentavam-se em dois pilares: i) continente, na reorientação do crescimento econô-
modelos de planejamento mais descentralizados mico e na valorização humana.
privilegiando estratégias voltadas para a incorpora- A indução das ações de integração, as diretrizes das
ção do uso dos recursos naturais de forma continua articulações internas e externas com a integração
e duradoura e, ii) desenvolvimento de tecnologias definitiva e completa da Amazônia ao todo nacional
adequadas para inserir o patrimônio local da diver- configura-se como uma das diretrizes. A diretriz de
sidade biológica na estrutura produtiva da região. reorientação do setor econômico visa inserir a eco-
Consideram que “as premissas básicas dessa política refe - nomia regional nos circuitos nacional e mundial e
rem-se à busca de padrões de desenvolvimento que contem-
convertê-la para padrões tecnológicos ambiental-
plem a integridade dos ecossistemas presentes na Amazônia”
mente adequados; superar as «disfunções» do cres-
(GTA e AMIGOS DA TERRA, 1996:156).
cimento econômico desordenado (concentração
Premissas que convergem para as diretrizes estabe-
econômica e espacial, disparidades sociais e regio-
lecidas na PNIAL (1995) ao apoiar-se na reorienta-
nais e destruição ambiental). Quanto a valorização
ção do crescimento econômico, a partir da valoriza-
humana e social, são soluções para as carências das
ção humana e social e da integração interna e exter-
populações interioranas, das populações urbanas e
na da região (PNIAL, 1995).
das populações tradicionais, especialmente as indí-
Reafirma-se, assim, o que para ROCHA (1996) foi
genas.
o conceito embasador desta política: a integração, o
Desafios para os quais não existem ainda respostas
mesmo conceito que em momentos anteriores
concretas, nem uma gama de alternativas testadas.
respaldou a construção de pactos na Região, ligan-
Assim, torna-se fundamental investimentos que
do o Brasil e outros países. Para ele, o Tratado de
possam contribuir para o desenvolvimento de pro-
Cooperação Amazônico representou este esquema
cessos e produtos ambientalmente aceitáveis, em
integracionista, retomado recentemente. A PNIAL e
constituir um capital humano na Região e a coorde-
a Agenda Amazônica 21 para a Grande Amazônia,
nar-se também com os vizinhos amazônicos.
são exemplos deste argumento.
Outros desafios, correspondendo às expectativas
O cenários desenhados na PNIAL (1995) se repro-
regionais e que devem ser tratados no âmbito das
duziram na Agenda Amazônia 21 (1998), delinean-
políticas públicas se colocam. São expectativas que
do: a) as evidências de que a Amazônia brasileira
só podem ser conhecidas se contarem com a parti-
não poderá isolar-se da tendência mundial - as rápi-
cipação de instituições e lideranças regionais.
das mudanças políticas e econômicas no contexto
da globalização; o avanço do MERCOSUL, os Há ainda um longo caminho…
acordos bilaterais ou a progressiva adesão ao bloco Expressas nos meios de comunicação atuais, as
regional sul-americano; b) os procedimentos de expectativas da sociedade local mostra que o
integração interregional devem explicitar os cuida- contexto regional modificou-se, e que, na atualida-
dos com a inclusão, na sociedade brasileira, dos de é possível o debate público, inexistente durante
segmentos sociais menos favorecidos. Nestes cená- as décadas anteriores. Mas é um debate que apre-
rios, o futuro da região amazônica não pode estar senta diferentes e divergentes tonalidades do mode-
vinculado aos grandes projetos voltados para o lo de desenvolvimento regional, que mostra setores
mercado extra-regional de matérias-primas e pro- mais vinculados à defesa do meio ambiente e da
dutos intermediários, nem à tendências de se redu- sociedade local, ao lado de setores ainda retrógra-
zirem à numerosos pequenos projetos, voltados dos, para os quais é mais importante tirar deste
sobretudo para a autosubsistência ou para mercados desenvolvimento vantagens individuais e não cole-
reduzidos de produtos agroflorestais e extrativistas. tivas, cujos discursos, estereotipados na maioria das
As diretrizes da PNIAL também foram ressaltadas vezes, estão impregnados pelas noções de intocabi-
178
lidade da floresta, ou, em contraposição, de uso. É, algumas vezes ainda não disponham de capacidade
enfim, a reprodução regional da sociedade nacio- para disponibilizar informação à outras instituições,
nal, com elites conservadoras, mas pressionadas isto representa, sem dúvida, um aumento da densi-
por uma base que procura alternativas. dade de ciência e tecnologia no espaço amazônico,
Opiniões assim tão divergentes reforçam a idéia da integrando os as redes tecnológicas existentes e
necessidade fundamental, nas regiões de fronteira, abrindo possibilidades de monitoramento dos
da presença do Estado. Presença esta que deve impactos das estratégias espaciais adotadas, tanto
garantir a participação mais ampla possível de no PPG7 como em outros planos regionais.
todos os segmentos da sociedade brasileira. Este novo patamar técnico-científico criado na
Coloca-se, assim, um outro desafio, ao qual o Região, com maior grau de exigência quanto ao
Estado Nacional brasileiro não estava acostumado controle e monitoramento dos impactos internali-
nos anos 70 e 80, e, portanto, terá que assumir: zando, ainda que pela obrigatoriedade exigida pela
como conseguir negociar soluções para um modelo legislação, o meio ambiente nas diferentes políticas
de desenvolvimento regional, negociar com seg- públicas setoriais federais e nos estados e municí-
mentos da população, partindo de visões contra- pios. Assim, na atualidade, as mega-obras para a
ditórias. região programadas no Avança Brasil (no PPA
Portanto, políticas amazônicas futuras terão que 2000-2003) debatem-se com inúmeras dificul-
encontrar pontos de consenso, enfrentando dois dades, sejam os embargos feitos pelos Ministérios
pontos cruciais: o primeiro refere-se a discussão Públicos, sejam os debates acirrados provocados
desta nova agenda de compromissos para a Região, nas audiências públicas dos Estudos de Impacto
e, o segundo refere-se à necessidade de integração Ambiental e em seus Relatórios e, ainda, pelo uso
com os países do Tratado de Cooperação constante das redes informáticas e dos meios de
Amazônica, ao norte do continente. comunicação, organizações civis e a comunidade
O grande esforço realizado a partir da década de 90, científica conseguem apresentar informações fun-
entretanto, não resultou em alterações substantivas damentadas e documentos cartográficos dos prová-
no modo de pensar dos setores produtivos e econô- veis impactos, ao invés de denúncias, como nos
mico dos governos. A desvinculação dos objetivos anos 80.
conservacionistas e produtivos continuam, apesar Esta mobilização conseguiu provocar no governo
da nova correlação de forças estabelecida. Ha federal a decisão de lançar um edital visando
necessidade de maior coordenação entre as políti- contratar consórcio para realizar uma avaliação
cas setoriais, programadas dentro dos inúmeros estratégica dos impactos ambientais dos eixos
programas e projetos integrados no PPA 2000- amazônicos.
2003, tanto os que são voltados para a conservação Além deste aspecto, a inserção da dimensão
dos recursos da Amazônia como os que visam a ambiental nas agendas setoriais e a difusão destas
densificação da infra-estrutura econômica, tradicio- idéias em outras áreas do governo tem originado
nal, para sua inserção nos mercados nacional e preocupações ambientais que começam lentamente
internacional. a se apropriarem das mesmas e aos poucos vão
A diferença é que, agora, o arcabouço do Estado criando procedimentos e mecanismos ambientais
tem, nesta região, meios de exercer um certo dentro de seus programas, de maneira a inseri-las
controle sobre atividades potencialmente poluido- em suas políticas setoriais. Duas instituições fede-
ras bem como o monitoramento dos padrões rais se destacam, o INCRA e a EMBRAPA.
ambientais exigidos em legislação nacional ou esta- Por outro lado, governos estaduais que elaboraram
dual. No setor ambiental regional praticamente suas políticas visando “implantar” o desenvolvi-
todos os OEMA dos Estados Amazônicos estão mento sustentável. O Estado do Amapá, desde 1995
estruturados, contando com legislação, diretrizes pauta-se no Programa de Desenvolvimento
políticas e prioridades estabelecidas e dispondo de Sustentável e na política de valorização dos produ-
tecnologias mais ágeis na constituição dos sistemas tos da floresta e buscou apoio técnico e científico
de monitoramento e bancos de dados. Embora, em diversas instâncias nacionais e internacionais.

179
Criou Reservas de Desenvolvimento Sustentável e Notas
institucionalizou apoios financeiros por meio da 1 Em “ Configurações territoriais da Amazônia ” THÉRY
Agência de Desenvolvimento Sustentável. Em (1998) analisa as redes, os eixos, os fluxos correlacionados a
1999, o governo recém-eleito do Acre institui o indicadores demográficos e sociais que constróem estas confi-
“Governo da Floresta”, também procurando valo- gurações.
2 Inúmeros trabalhos de consultoria foram realizados pelo
zar as experiências de manejo sustentado da flores-
Napiam, visando estabelecer os elementos e as políticas que
ta que já tinham sido desenvolvidas neste Estado. interferiam, geravam impactos não desejáveis na Amazônia,
Os dois governos assumiram o discurso do zonea- mas que poderiam indicar as tendências dos processos de
mento ecológico-econômico, apoiando sua realiza- incorporação da Amazônia nos cenários nacional e interna-
ção e tomando-o como base para suas políticas de cional. Armando Mendes, Bertha Becker, Hervé Théry,
Ignacy Sachs, Manoel Cabral de Castro, Paulo Kitamura,
ordenamento territorial. Experiências que merecem
entre outros, realizaram estudos voltados para este fim.
destaque, mas, cujos resultados são também 3 Embora baseados em fatos vivenciados pela pesquisadora
embrionários. enquanto gestora do SPRN, entre os anos 1995 a 1999, a apre-
ciação de documentos internos trocados entre os participantes
permite verificar a dimensão da polêmica que o tema atingiu.
4 Segundo Wagner (2001), a reconceituação da questão
ambiental atualmente depende da complexidade de elementos
identitários para o campo desta significação. A estas autodefi-
nições (de populações tradicionais, seringueiros, quilombolas,
etc.) correspondem territorialidades específicas, cujas frontei-
ras estão sendo socialmente construídas e nem sempre coinci-
dem com as áreas oficialmente definidas como reservadas
e/ou protegidas. Esse autor procura sintetizar o novo enqua-
dramento da questão ambiental: se antes a “questão ambien-
tal”, era vista através da categoria terra e considerada indisso-
ciável dos problemas agrários e agora, pela noção de territó-
rio, revela-se adstrita a fatores étnicos.
5 Um dos mais fortes oponentes à metodologia Becker &
Egler foi Manfred Nitsch, da Universidade de Berlim. Desde
o momento em que a metodologia foi encaminhada à SAE
para aprovação, em 1995 este pesquisador opôs-se aos parâ-
metros apresentados e tornou-se uma das referências mais uti-
lizadas pelo próprio BIRD para embasar contra-argumentos
em oposição. Em 2000, no Seminário “Avaliação de
Metodologia do ZEE para a Amazônia”, realizado em Manaus
de 3 a 5 de outubro de 2000, apresentou o documento “Anatu-
reza sem voz - Avaliação crítica do ordenamento territorial na
Amazônia pelo “Zoneamento Ecológico-Econômico” -
Comentário na Sessão “Experiências de Zoneamento nos
Estados Amazônicos”. Este Seminário, teve como objetivo
principal a avaliação da metodologia, no entanto, aos Estados
foi solicitado, além das críticas à metodologia, um diagnósti-
co da situação de elaboração do zoneamento e um prognósti-
co de implementação .
6 Os seminários nacionais para a discussão da proposição
metodológica, objetivando sua validação pela Comissão
Nacional de ZEE, ocorreram em maio/95 e maio/96 e foram
coordenados pela SAE. Após a publicação do documento, em
1996, iniciaram-se os seminários regionais, no Tocantins, no
Amapá e no Pará em 1997; no Amazonas e em Roraima em
1998 e constituíram-se em debates abertos e visavam a apre-
sentação dos propósitos do trabalho de zoneamento que seria
realizado no âmbito do SPRN.
7 Ofício datado de dezembro de 1997.

180
Capítulo 6 - O governo e as organização dos territórios no novo Estado mundia-
lizado.
novas tecnologias de gestão Neste capitulo pretende-se analisar aspectos confli-
ambiental tantes da descentralização na área ambiental, no
vácuo originado com a indefinição de competências
e atribuições. Nesse processo de competências
Premido pelas pressões nacionais e internacionais,
concorrentes, o resultado é a fragilização da gestão
e pelo desenvolvimento de novas tecnologias de
territorial e ambiental, haja vista não ser claro nem
gestão, de monitoramento e controle, o Governo
o papel do Estado, nem de cada ator governamen-
Federal promove avanços na incorporação dos
tal. Por outro lado, permite o nascimento de um
conceitos de sustentabilidade ambiental e de parti-
processo de governabilidade mesmo em lugares
cipação social. A área ambiental governamental
onde a presença da estrutura estatal é frágil, seja por
desde a sua estruturação, sempre investiu na identi-
meio de experiências realizadas em parceria com
ficação de formas de participação tanto do próprio
ONG, seja pelo debate mais socializado, fatores
governo (federal, estaduais e municipais) como da
que têm induzido à elaboração de políticas com
sociedade.
maior factibilidade de serem implantadas que nos
Nos anos 70 a estruturação da SEMA demonstrava
anos de centralização de decisões na esfera federal.
um avanço frente a rigidez dos outros setores
Todo esse processo de participação, de compartil-
governamentais, conforme já analisado no segundo
hamento de decisões e de co-responsabilidades em
capítulo, e desde o seu início, dentro da estrutura de
ações, da origem à políticas alternativas, como as
Governo esse foi um dos pilares de enraizamento
políticas estaduais pautadas no conceito de desen-
da estratégia da decisão colegiada.
volvimento sustentável.
No período posterior, num contexto político nacio-
Além das políticas públicas e dos mecanismos que
nal alterado pela Assembléia Constituinte, eleita em
as mesmas podem gerar, identifica-se o surgimento
1986; pela nova Constituição adotada em 1988 e
de novas possibilidades de aproveitamento dos
pela abertura democrática, a participação da socie-
recursos naturais e biológicos da Região, as quais
dade na construção da vida nacional torna-se vital.
movimentam sobretudo os setores produtivos. É o
As influências destes processos, o federalismo rea-
surgimento dos eco-negócios, alternativas de negó-
firmado na Constituição e a ser reconstruído pelos
cios e produtos novos a serem explorados. Fato
princípios da descentralização, a repartição de
possível na medida em que uma série de tecnolo-
poder entre o nacional e o local, obrigando a um
gias vem sendo desenvolvidas para o aproveita-
novo pacto político, a dedicação de um espaço
mento de recursos naturais, seu conhecimento e
especifico à proteção e conservação dos recursos
gestão. A Amazônia entra também nessa era por
naturais, constituem referências de mudança. Como
meio de parcerias entre setores científicos e indus-
o governo federal não pode manter mais a centrali-
triais. Essas novas formas de acordos entre gover-
zação e passa a dividir inúmeras competências atri-
nos, ONG, representantes da ciência e da tecnolo-
buindo-as simultaneamente aos diversos níveis de
gia, configuram novas territorialidades, (re)valori-
governo, não pode também prescindir da participa-
zando novos territórios; vetores que conduzirão a
ção da sociedade na reconstrução democrática do
direção da análise a seguir.
pais.
É o questionamento da estrutura enraizada do 1. O Território político: redução do poder
Estado-nação, noção construída e consolidada no central e descentralização
século XIX e meados do XX, mas re-elaborada
politicamente após as crescentes mudanças resul- Como ponto de partida, nesta reflexão ha que se
tantes da mundialização. O Estado é diverso e ressaltar a modificação incontestável da noção de
diversificado. Essa mudança é tão mais sensível Estado-nação e do princípio de territorialidade, pre-
quanto mais se aproxima de vetores que estruturam dominantemente nos dois últimos séculos. No
as novas relações mundiais. O vetor ambiental período de domínio do Estado-nação, durante o
passa a assumir um papel importante e definitivo na qual o mesmo voltou-se para a sua própria constru-

181
ção, consolidação e domínio político e econômico, sendo reduzido, simultaneamente ao fortalecimento
com o consequente surgimento de foros multilate- de outras instituições que operam fora desse
rais, na primeira metade do século XX, inicialmen- Sistema, como ressaltou Jamarillo1 «apud» CHOM-
te como locais onde se discutiam questões econô- SKY (1996:225): “instituições que passaram a ser
micas e seus mecanismos de regulação, acabou por, uma espécie de inter-Estado, como o Banco
marginalmente, incluir em seus debates os reflexos Mundial, o Fundo Monetário Internacional, o
da globalização econômica mundial, especialmente Banco Interamericano do Desenvolvimento, a
no mundo subdesenvolvido. Constituiu-se um siste- Agência Norte-Americana para o
ma onde os Estados participam do dialogo interna- Desenvolvimento, a Comunidade Européia, de
cional, visando assegurar os “grandes equilíbrios econô- característica transnacional e de influência econô-
micos e financeiros”. Um sistema-mundo, locus do mica maior que o mercado sobre os países do G-
jogo geopolítico, segundo O. DOLLFUS (1997). 77”. Esta opinião, reforça, de certa maneira, o pen-
A explicação de SANTOS (1997:19-20) a respeito samento de SANTOS (1997) quanto à influência e
deste período demonstra que o dialogo realiza-se domínio da competição globalizada, diferindo, no
dentro de uma relação de dominação do mercado e entanto, quanto ao espaço da cooperação, por vis-
de um sistema hierárquico de relações entre as lumbrar sua possibilidade somente no lugar, único
nações do mundo espaço de espontaneidade, de união.
«(…) hoje o que é federativo não é uma vontade de O debate atual acerca da globalização ilustra os
liberdade, mas de dominação, não é o desejo de diversos enfoques, à dicotomia entre aqueles que
cooperação mas de competição, tudo isso exigindo consideram a perda dos espaços internacionais de
um rígido esquema de organização que atravessa reconhecimento dos Estados, vis-à-vis, o cresci-
todos os rincões da vida humana. A dimensão mun- mento da importância das instituições transnacio-
dial é o mercado, são as organizações ditas mun- nais, que não reconhecem as fronteiras, e aqueles
diais, instituições supranacionais, organizações defendem os desafios e as fortes relações de trocas
internacionais, universidades mundiais, igrejas dis- impostas pelo mercado, frente as quais, os países
solventes, o mundo como fabrica de engano. O pobres tendem a ser excluídos. A competitividade,
embate se da entre a necessidade e a liberdade, dá- que parece bastar-se a si mesma, ressalta SANTOS
se pela luta entre a organização coercitiva e o (1997), não necessita justificativa ética nem de fun-
exercício da espontaneidade”. Conclui ele que damentos filosóficos ou teológicos.
“(…) a base das grandes transformações do mapa Ainda que este debate não seja conclusivo, o siste-
mundial talvez se encontre nesse tipo de movimen- ma das Nações Unidas parece representar, ainda
to: da necessidade de um Estado abstrato com refe- hoje, um locus importante para as discussões sobre
rência a si mesmo chegamos à necessidade de um temáticas mundiais, espaço onde esses novos ele-
Estado concreto, reconciliado com as verdades pro- mentos passam a integrar a agenda mundial, mas
fundas dos povos”. sua influência a respeito de decisões econômicas
O entendimento das mudanças na relação Estado- foram relativizadas. O final da Guerra-fria obrigou
território, passa pela compreensão de como estes uma nova forma de organização dessas instituições
conceitos se alteraram. A partir de meados do sécu- mundiais, cujas influências planetárias migram
lo XX, identifica-se um ciclo que foi marcado pela para a Organização Mundial de Comércio, sede dos
crescente importância da ONU e dos organismos debates e dos acordos sobre comércio e tarifas.
multilaterais, fôro no qual cada país participava Nessa intensa competição do sistema-mundo, cria-
visando exercer a internacionalidade e, ao mesmo ram-se situações de irreversibilidade sobretudo
tempo, consolidar sua soberania. Esta importância para as periferias - um povo e seu Estado como não
foi consagrada pelo fato de ser as Nações Unidas o conseguem aderir-se aos movimentos de competi-
único organismo multilateral no qual países em ção dos centros mundiais; o Estado e as coletivi-
desenvolvimento tinham alguma voz, tendo acolhi- dades territoriais devem inventar novos modos de
do, no pós-guerra, os debates a respeito do progres- gestão nas sociedades com desigualdades acentua-
so e do desenvolvimento. Aos poucos esse poder foi das, valorizando os seus recursos humanos, caben-

182
do ao Estado exercer suas regulamentações, sendo harmonizar as necessidades de segurança, de rique-
uma questão de ritmos, a partir das tomadas de za e as inclinações de valor». Um processo que per-
consciência pelas populações e das decisões políti- mitiria constituir «entendimentos universais em
ca. Exigem-se novas praticas, novos processos e a matéria humanitária, ecológica, constituindo-se
aceitação pelos habitantes (DOLLFUS, 1997: 23- base para ações da comunidade internacional».
45). Avaliam estes autores, que tais valores e mecanis-
A partir das noções de enfraquecimento do Estado- mos da lógica integradora da economia, e das cau-
nação GRATALOUP (2000:13) analisa as mudan- sas universais de direitos humanos, e ecologia-meio
ças como «le passage du singulier au pluriel territo- ambiente, vêm sendo destruídos pela lógica da
rial» construído sobre novos parâmetros. E o recon- fragmentação, de nacionalismos e preservação de
hecimento de que o Estado não pode se prestar à autonomias nacionais.
somente defender os interesses dos grupos domi- CHOMSKY (1996:205) analisa também os movi-
nantes. São valores novos a serem apreendidos, mentos, de aproximação ou de fragmentação, como
modelados pelos novos atores locais que aspiram o uma tendência, marcada por processos de redução e
reconhecimento de suas relações com o seu territó- perda de padrões: «à medida que a economia se
rio; pelas novas articulações, realizada através das globaliza, também os padrões de vida e ambientais
lógicas de redes, pelo aumento da mobilidade dos podem ser harmonizados globalmente, mas harmo-
homens e de uma malha territorial, herdada ou em nizados para baixo e não para cima».
gestação; pela nova articulação necessária entre Assim, a ecologia tornou-se um valor universal,
instituições estatais e sua fundamentação com as globalizado, para o qual é preciso criar formas de
novas dinâmicas territoriais. GRATALOUP gestão compatíveis com os interesses internacio-
(2000:17) considera mesmo que, com toda a altera- nais, nacionais e locais, simultaneamente. Pois que,
ção do contexto mundial «plus profondément, les a clara contradição internacional - nacional na
appareils d’État, par les régulations qu’ils permet- gestão do patrimônio mundial é uma constante. Do
tent, sont - jusqu’à preuve du contraire - les seuls ponto de vista territorial, resgata-se de GRATA-
qui assurent des cohérences de sociétés sur des ter- LOUP (2000) a contraposição dos níveis superiores
ritoires». ao nacional frente a importância da internacionali-
Entre os parâmetros da atualidade, registra-se o dade. Ele considera estar subentendido na mundia-
aparecimento de valores universais, como a noção lização uma interconexão que questiona e
ambiental, cujas manifestações ora se agregam, ora contrapõe-se ao nível nacional e que fortalece uma
se dispersam, se rompem, por influências do pro- tendência de desaparecimento do território do
cesso da fragmentação política e competitividade Estado-nação pelo crescimento dos outros níveis
econômica. superiores. As problemáticas que superam frontei-
Fundamentando-se na análise das relações políticas ras nacionais e a gestão dos problemas ambientais
internacionais pós Guerra-fria, LAFER e FONSE- globais ocorrem neste nível. Contraditoriamente,
CA (1994:55-56) assinalam o momento atual como cresce a importância deste espaço da internaciona-
de disputa entre paradigmas e tendências que se lidade como o locus da articulação e união dos
formam: «identificam-se dois movimentos contra- pequenos Estados com as organizações não-gover-
ditórios no sistema internacional, um primeiro que namentais, demandantes de uma regulação supra-
vai na direção da globalização, impulsionado por Estado, como ocorrem nas grandes conferências
forças centrípetas, e o segundo, que favorece a frag- internacionais. Supõe a existência dos atores nacio-
mentação, movido por forças centrífugas». nais tendo, como pré-requisito, a permanência do
Movimentos marcados por valores sobre os quais Estado no seu senso mais tradicional e, debatendo-
os autores se embasam, indicam uma perspectiva se sobre um novo tipo de soberania, de um territó-
que «finalmente os valores do liberalismo, entrela- rio mundial.
çando democracia e mercado, tendam à inexorável Assim sendo, ao abordar o território privilegia-se a
universalização», e que estaria sendo criada «uma dimensão ambiental. Aspecto esse que, se de um
mensagem única que prevaleceria e que permitiria lado é fortalecido pelo contexto internacional a par-

183
tir do aparecimento e da disseminação dos acordos grandes economias mundiais e o mesmo não ocor-
e convenções internacionais gerais ou mesmo espe- re no campo das relações políticas internacionais,
cializadas, de outro lado, irão colocar em questio- isto demonstra amadurecimento de um aspecto em
namento a tão cara idéia de soberania nacional, não relação ao outro, CHOMSKY (1996:225) conside-
que ela não esteja reafirmada em todos eles, mas ra que “os países mais poderosos do Norte, torna-
cujo conteúdo terá certamente que ser revisado, re- ram-se de facto um conselho de administração da
escrito. economia mundial, protegendo seus interesses e
No Brasil, reproduzem-se os mesmos questiona- impondo sua vontade ao Sul”. Mas, o fato de ser
mentos e pressões relacionadas à esses diferentes consenso, ou imposição, não altera a realidade da
valores e parâmetros: a sociedade, as entidades ter- primazia e da visão econômica sobre os mecanis-
ritoriais locais exigem posicionamentos do mos de integração das causas universais, como a do
Governo a respeito da proteção aos recursos natu- meio ambiente.
rais, mas ao mesmo tempo pretendem transformar Agrega-se a essas dificuldades, aspectos políticos
esses recursos em produtos de mercado. Exigem que reduzem a velocidade de avanços, mais concre-
preservação e inserção no mercado mundial. Dois tos e efetivos, nas convenções e protocolos sobre o
aspectos que parecem ser contraditórios. clima, sobre florestas, sobre a biodiversidade ou
Mas, enquanto uma parcela da sociedade ainda mesmo sobre os oceanos. As dificuldades de
apregoa a necessidade do governo entrar na compe- concretização do Protocolo de Kyoto pode servir
tição mundial com seus recursos naturais, para o como um exemplo emblemático: os consensos e os
GTA (1996:155) o “Brasil já é um país inserido avanços levaram anos, porque os princípios que os
numa lógica econômica mundial que se vê impeli- fundamentaram permanecem sendo a defesa políti-
do a lançar mão do seu patrimônio natural pelas ca do reconhecimento da soberania, da proibição da
forças de mercado presente, interna e externamen- ingerência sobre Estados nacionais e sobre outros
te”. Para ele na verdade seria um desafio alterar a povos. Nesse aspecto LAFER (1993) e BARBOSA
lógica existente, devendo o pais investir na valori- (1994:104) consideram que o Brasil mantém uma
zação de seus recursos, colocando seu patrimônio boa posição internacional pela sua capacidade de
natural no mercado, todavia com uma outra lógica, negociar, considerando ser esse seu modelo de
modificando os padrões presentes no competitivo inserção:
processo mundial. “o peso político internacional do Brasil é grande
Intelectuais e cientistas políticos têm também colabo- suficiente para assegurar-lhe influência na dis-
rado com discussões para a compreensão do proces- cussão das chamadas ‘questões globais’, como
so de reestruturação e de competição mundiais. As questões de meio ambiente e desenvolvimento, os
regiões são impelidas a se integrarem nos circuitos aspectos vinculados à emissão de CO2 e sua influên-
econômicos territoriais regionalmente constituídos cia para as alterações mundiais e a proteção de flo-
em torno dos principais pólos econômicos mundiais restas e oceanos, migrações internacionais, cresci-
(BARBOSA, 1994; BECKER, 1996) e a explorarem mento populacional, desarmamento, tráfico de dro-
suas diferentes vantagens comparativas, transforman- gas, não-proliferação nuclear, desertificação e
do-as, de fato, nos elementos de competição entre os desenvolvimento social”.
lugares. No Brasil, e particularmente na Amazônia, a Premissa corroborada pelas recentes conquistas de
biodiversidade e, portanto, a conservação e proteção consenso para as propostas brasileiras, nas negocia-
do meio ambiente são elementos intrínsecos da nova ções do Protocolo de Kyoto e no processo de
questão da divisão internacional do trabalho e, dentro Tarapoto.
desta máxima devem ser aproveitadas. Para tanto, a Divergências e convergências nas negocia-
interconexão entre as pressões internacionais e as ções nacionais
políticas nacionais se refletirão, cada vez mais, nos
mecanismos de regulação do uso dos territórios. Se no âmbito internacional o Brasil mantém uma
No entanto, BAUMANN (1995) considera que há boa capacidade de negociação, no âmbito nacional
mais consensos no campo econômico entre as e local ainda titubeia com as polêmicas e a inexis-
tência de consensos quanto ao(s) modelo(s) de
184
desenvolvimento e a forma de gestão territorial na hoje, os três princípios de formação da malha polí-
Amazônia. Dois aspectos podem reforçar as duas tico-administrativa, liberdade, divisão e desigual-
performances governamentais: o primeiro refere-se dade. Liberdade de criação, o que respalda ainda
a forma de construção e de gestão da política exter- hoje a vontade de grupos regionais na criação de
na brasileira que é construída no mais alto nível do novos Estados, ressaltando as divergências de inter-
Executivo nacional e defendida por uma única voz esse com as “velhas regiões-centrais”, contrapon-
– o Ministério das Relações Exteriores, que espora- do-se com o crescimento das regiões pioneiras.
dicamente procede a consultas entre os outros orga- Processo de divisão do litoral para o interior, de
nismos governamentais e representações de distin- leste para oeste, o qual deu como resultante uma
tos segmentos da sociedade brasileira a respeito de malha bastante fina nas regiões de povoamento
alguns temas em negociação. O segundo, refere-se mais antigo e o oposto, de grandes territórios nas
à política interna. É um caminho extremamente regiões interiores. As divisões sucessivas, resul-
difícil pretender-se uma política nacional democrá- tantes da grande heterogeneidade de superfícies e
tica e participativa, como é exigida na atualidade, de populações nos Estados brasileiros reproduzem-
quando as decisões necessitam ser compartilhadas se também no nível da malha municipal. «Aformação
quotidianamente. No modelo federativo brasileiro, jurídica homologa a formação de fato de nova unidade no
o governo federal, tradicionalmente, sempre preva- interior da unidade-mãe, um novo núcleo de povoamento
apoiado sobre uma pequena aglomeração que irá se desenvol-
leceu sobre os governos estaduais e municipais,
ver». Desigualdade porque não é nem a densidade
ainda que as Constituições brasileiras sempre iden-
nem o tamanho do núcleo, que promoverá propor-
tificassem os diferentes níveis de competência e
cionalidade ao tamanho do território, o que gera
atribuições.
uma grande desigualdade entre as unidades admi-
É bem provável que a dificuldade hodierna de des-
nistrativas e políticas.
centralização seja decorrente do processo histórico
Pode-se combinar os reflexos das análises de
de estruturação territorial. CASTRO (1996) consi-
SCHAPIRA (2000) e THÉRY (2000) com o que
derou que a construção federativa do território bra-
ANDRADE (1996:213-220) considerou a desterri-
sileiro mascarou, de uma certa maneira, a forte cen-
torialidade de grupos, prejudicados com as novas
tralização que acompanhou a consolidação do
formas de concepção do uso e do processo de
Estado brasileiro. Para SCHAPIRA (2000: 23-28) a
gestão do território, cada vez mais presente na visão
estrutura federal, na verdade, significou uma vonta-
do Estado liberal, e que a cada dia mais se enraíza
de de homogeneização das práticas sociais e uma
no Estado brasileiro. Considera também que
padronização das diversidades regionais. O projeto
“do ponto de vista político, esses encontros e
nacional fundado no “pacto corporativo” se firmou
desencontros vão levar à necessidade de que se
com vigor, e, na medida em que o Estado nacional-
pense na formação do Estado e na forma governo
populista conduzia ao crescimento e a moderniza-
que reflete, naturalmente, no processo de gestão do
ção, assegurava a redistribuição e previa o desen-
território. Daí a crescente importância do estudo do
volvimento, simultaneamente contribuiu para o
Estado e de sua forma e dos seus poderes, do limi-
retraimento dos diversos territórios regionais. Por
te de sua competência e do tamanho que deve ter,
outro lado, se essas condições podem ser recupera-
no momento histórico em que o neoliberalismo
das historicamente para a compreensão da forma-
tenta reduzi-lo ao mínimo o Estado, em favor das
ção territorial e dos desequilíbrios regionais; as
empresas. Um processo no qual agem forças centrí-
transformações atuais do papel dos governos locais
fugas que tentam desmembrá-lo e de forças centrí-
também provocam e ressaltam desequilíbrios de
petas que tentam concentrar os poderes em função
poder entre territórios.
do Governo nacional. E a sobrevivência do Estado
THÉRY (2000:36-45) considera o território ainda
depende do equilíbrio que se possa estabelecer
em estruturação e ressalta que as escolhas territo-
entre o Poder Central, os poderes regionais e
riais, feitas nos primeiros anos da conquista, há
locais”.
cinco séculos, ainda pesam nos modos de gestão do
Toda essa argumentação leva à proposição de que o
território nacional. Segundo ele, prevalecem, até
país passe a ser a federação que a Constituição lhe

185
atribui, içando Estados e Municípios à participação sileiros já o assinaram, quatro encontram-se em
de fato, nas decisões dos caminhos futuros, na dis- fase bem adiantada e dois já tiveram as discussões
tribuição dos poderes e das responsabilidades entre locais realizadas. Esses acordos na Amazônia
cada um. Um processo que vem se dando marcado reproduzem os mesmos momentos: no Mato
por dificuldades imensuráveis, sobretudo porque Grosso o acordo já foi assinado, no Acre o mesmo
ainda não foram regulamentados os artigos que tra- encontra-se em fase adiantada e em Rondônia foi
tam das formas de cooperação entre os três níveis discutido localmente. Entre os objetivos desses
de governo2, obrigando as instituições a encontra- pactos destacam-se a gestão ambiental descentrali-
rem alternativas. De um lado, o governo federal zada, visando a promoção da integração político-
tendo que aprender a dividir suas decisões com territorial; a minimização de conflitos e concorrên-
outros níveis hierárquicos administrativos – os cias entre os Órgãos federais e estaduais, além do
Estados e os municípios. Do outro lado, municípios fortalecimento institucional federativo, garantindo
que precisam aprender a superar o esquema atual de a supletividade da União. No entanto, um dos
viverem das transferências de fundos federais, da maiores desafios desses Pactos é o reconhecimento
troca de benefícios com segmentos locais podero- do seu valor jurídico, junto aos órgãos competentes.
sos e da simples função de fornecer e manter servi- Mais do que a implantação de novas modalidades
ços. Descentralizar responsabilidades, para as de gestão, SCHAPIRA (2000) nos coloca como o
municipalidades, pressupõe também a moderniza- primeiro imperativo decorrente do recuo da inter-
ção dos próprios meios e instrumentos locais, pres- venção do Estado federal a construção da gover-
supõe dispor de recursos financeiros e humanos nança. Estudiosos3 têm se reunido em torno deste
para se poder realizar a gestão, do território e dos ideário, como ANDRADE (1996), POUYLLAU
cidadãos. (1997), TENIERE-BOUCHOT (2001), VIOLA e
A alternativa encontrada para suprir o vácuo legal, LEIS (2001), JAGLIN (2002), seja na vertente de
no que se refere a gestão do meio ambiente, está sua consolidação, seja na sua critica, a partir de
sendo realizada por meio do “Pacto Federativo da novas categorias, como a planificação ascendente
Gestão Ambiental Compartilhada e (D’AQUINO, 2002). É a procura de novos modos
Descentralizada”. São acordos específicos entre o de consenso e legitimidade para a ação pública
Ministério do Meio Ambiente, IBAMA e as insti- local, em vista das tendências conflituais de toda
tuições de meio ambiente de cada Estado. Acordos ação pública. Portanto, há um imenso e tortuoso
nos quais se definem as responsabilidades de cada caminho a se construir. O êxito desse processo
parte para a realização das atividades de licencia- dependerá sobretudo da capacidade de aceitar desa-
mento, monitoramento e conservação ambiental, fios e desenvolver novas idéias, assim como formar
procurando harmonizar os conflitos de competência sólidas parcerias locais.
na execução da política nacional de meio ambiente. Experiências governamentais compartilha-
Aspectos críticos existem, vinculados tanto à das
questão de recursos financeiros quanto à aspectos
da proximidade das fontes de pressão sobre A evolução no modo de perceber o espaço amazô-
decisões que concernem a proteção ambiental. Os nico vem sendo imposto pela crise ambiental, agra-
Estados argumentam que não podem receber tare- vada pelos modos de inserção desta Região no
fas a cumprir sem a equivalência quanto às fontes contexto nacional e internacional. Tem sido estimu-
de recursos. A União, guarda o caráter de supletivi- lada pelo aumento da densidade de informações e
dade que lhe foi atribuído, mas sobrepõem ações do conhecimento, como também pela velocidade
com Estados e Municípios, inúmeras vezes gerando em que estes elementos tornam-se de domínio
conflitos para segmentos sociais que demandam público.
seus serviços. Esforços vêm sendo realizados, seja pelo setor
COUTINHO (2001) faz um balanço da situação público federal de meio ambiente, seja pela institui-
desses Pactos, entre o IBAMA e os Órgãos ções de cada Estado da Federação. Não se pretende
Estaduais, ressaltando que apenas seis Estados bra- analisar todas as ações do Ministério, mas indicar o
crescimento do número, da temática e da qualidade
186
de programas ambientais, desde os anos 70 até nismos de capitalização, crédito e financiamentos.
meados da década de 90, em especial àqueles diri- A Agenda, para a Grande Amazônia, aportou visões
gidos à Amazônia. de um modelo de desenvolvimento de representati-
Na verdade, o crescimento dos investimentos em vos atores dos países amazônicos, contando com
projetos ambientais, sejam de preservação, conser- proposições que extrapolam o território nacional.
vação ou de controle, deveu-se ao crescimento da Uma avaliação realizada pelo próprio governo das
importância internacional nestas questões via medidas adotadas, entre os anos de 1994 e 2000
pressões de segmentos sociais, estes últimos, indu- (BRASIL, 2000d), considera ter havido grande pro-
tores tanto de avanços no conhecimento científico, gresso, destacando-se:
sobre os comportamentos dos ecossistemas, como i. incorporação dos princípios e noções do
do surgimento de instrumentos normalizadores, manejo florestal sustentável na legislação que
como as convenções, suas ratificações e desdobra- regulamenta a exploração da floresta da bacia
mentos nos países signatários. Nesta esteira dilata- amazônica (Decreto n° 1.282, de 19.10.94);
ram-se as possibilidades de empréstimos e finan- ii.reconhecimento de que medidas regulatórias
ciamentos multilaterais de bancos, ampliaram-se os de comando e controle eram insuficientes para
recursos das instituições vinculadas ao sistema das viabilizar formas sustentáveis de produção e
Nações Unidas, sobretudo o PNUMA e o PNUD; conservação florestal; adoção de medidas de
reorientaram-se as diretrizes e prioridades das suspensão ou eliminação de estímulos implíci-
cooperações técnicas e científicas bilaterais. tos ao uso predatório dos recursos contidos em
O primeiro grande financiamento nacional para o instrumentos econômicos ;
meio ambiente foi o programa nacional para meio iii. institucionalização do Programa do
ambiente - PNMA, um empréstimo de cerca de Protocolo Verde para a economia brasileira,
US$ 180 milhões tomado do Banco Mundial. que, entre outros objetivos, exige avaliações
Seguiram-se outros como o PPG-7, analisado no ambientais das instituições de crédito para
capítulo anterior, o Pronabio, Probem, Proecotur, quaisquer financiamentos ;
de valores também importantes4. Além destes pro- iv. papel do Brasil na discussão da questão flo-
gramas, a constituição do Fundo Nacional de Meio restal em nível internacional, que no âmbito
Ambiente – FNMA e Fundo Nacional de do Painel Intergovernamental de Florestas -
Biodiversidade - Funbio, se constituíram em IPF/CDS, propôs a instalação de um Processo
suportes fundamentais para o financiamento e a Regional de definição e discussão de Critérios
expansão de experiências ambientais, tanto desen- e Princípios para o manejo sustentável da
volvidas por ONG, como por prefeituras de muni- Floresta Amazônica, o «Processo de
cipais de até 120 mil habitantes, como por cientis- Tarapoto ;
tas e instituições de pesquisas. v. iniciativas governamentais recentes quanto à
Também já analisado anteriormente, a Conferência Proteção da Biodiversidade: a ratificação pelo
do Rio, os avanços na constituição da Agenda XXI Brasil da Convenção da Biodiversidade, o
Brasileira e na Agenda para a Grande Amazônia. decreto estabelecendo o PRONABIO
Porém, ressalta-se que no diagnóstico da Agenda (Programa Nacional da Diversidade
21 Nacional (BRASIL: 2000d), as necessidades Biológica) e outras.
que foram elencadas para a inserção da dimensão Em todas essas experiências, o fato mais notório é
ambiental, em outras políticas públicas, para a o processo de negociação com novos atores. A ori-
Amazônia, não se restringiram apenas à proposi- ginalidade, em relação aos anos 70 e 80, é a pre-
ções relativas à ampliação dos conhecimentos sença constantes de novos atores da sociedade civil,
ecológicos, florestais e sociais da Região, mas da comunidade científica, dos governos locais,
demandaram a urgente modificação dos instrumen- desde o início do processo, garantindo a presença
tos da atual política florestal, relacionados à tribu- tanto nas decisões quanto posteriormente nas
tação, às regulações econômicas, à política indus- concretizações, das propostas será o tema analisado
trial, os incentivos e as renúncias fiscais, os meca- no capitulo 7. Originalidade é também em relação

187
aos setores econômicos capitalizados que possuem tem sido desenvolvidos, incluindo-se além das
outros ritmos, tanto na decisão quanto na implanta- espécies comerciais, aquelas ainda desconhecidas.
ção de seus projetos. Para esses setores, o meio Destes processos originam-se recomendações para
ambiente somente adquire importância se o pude- o manejo e o controle sobre a exploração destes
rem transformar em lucrativos negócios. recursos.
Atualmente, há uma conquista quanto aos avanços Interessa-nos analisar o surgimento de alguns
tecnológicos, da velocidade de monitoramento dos novos projetos ambientais, usuários destas novas
investimentos econômicos e no controle de seus tecnologias na ampliação das áreas protegidas na
impactos, e de acompanhamento na implantação de Amazônia. Três são os motivos da análise, no âmbi-
projetos de investimentos, também na difusão de to desta pesquisa, do projeto «Expansão das áreas
novos métodos e sistemas produtivos que podem protegidas na Amazônia»:
ser replicados, concomitantemente, em outras i. pelos reflexos sobre o território, da amplia-
regiões e outros ecossistemas. ção das áreas protegidas;
ii.pelo aspecto de parcerias constituídas entre
2. Novos instrumentos de gestão nos pro-
governo – organizações não governamen-
gramas federais tais e agência multilateral (MMA/IBAMA
O desenvolvimento das tecnologias de informação – Aliança WWF/BIRD - participação de
e a integração dos vetores ambientais foram desen- outras ONG nacionais, regionais ou locais)
volvidas inicialmente no campo do monitoramento e
e do controle: monitoramento da água, do ar, do uso iii. por sua complementaridade com o
do solo, do fogo, do desmatamento. A populariza- PPG-7, ao utilizar recursos deste Programa
ção deste instrumental permitiu a sucessão de e ao mesmo tempo por reproduzir e utilizar
outros passos, associando-se imagens de satélite mecanismos amplos de gestão participativa
com estatísticas e informações obtidas localmente, criados no âmbito deste Programa.
como também com resultados de pesquisas. Projeto Expansão… 10% de preservação na
Formaram-se meios intercambiáveis, entre estes, os Amazônia
bancos de dados de informações ambientais, de
imagens; estabeleceram-se sistemas geográficos de Essencialmente de preservação, o projeto
informação (SIG); bases cadastrais. “Expansão e consolidação de um sistema de áreas
Os setores de licenciamento dos órgãos ambientais protegidas na região Amazônica do Brasil” come-
baseiam-se nestes sistemas de informações geográ- çou a ser implantado em 2001, embora como outros
ficas, aos quais agregaram o conjunto mais amplo programas internacionais, teve um tempo de prepa-
possível de elementos ambientais necessários ao ração de aproximadamente quatro anos. Como pro-
processo de licenciamento de atividades potencial- jeto de responsabilidade do governo federal, passou
mente poluidoras (SLAP). Os SLAP têm servido de por momentos de críticas aos seus objetivos e de
dados de entrada aos sistemas de monitoramento tensão entre os atores sociais envolvidos.
gerais. Em 1998, o presidente e o legislativo brasileiro
Todos esses bancos de dados e sistemas operacio- apoiam politicamente a campanha mundial do
nais estão sendo acessados para a análise ambiental WWF “Forest for Life”5. Ponto de partida para a
por segmentos distintos. Numerosos produtos, elaboração da primeira versão da proposta e do
assim originados, são disseminados pela rede mun- recebimento de recursos para o seu detalhamento6.
dial de comunicação e o seu aproveitamento na O projeto aprovado, e em implementação, inclui
montagem de novos projetos, de um lado, visando não apenas novas áreas mas a consolidação das
alternativas produtivas, sejam estas de setores tra- Unidades de Conservação (UC)7 existentes. Os
dicionais (agricultura, por ex.), sejam de setores da recursos são doações constituídas pelo GEF, BIRD,
moderna tecnologia, e, de outro, os específicos de PPG-7 e contrapartida brasileira. A seleção e
preservação. Inventários sobre área de ocorrência decisão final de incluir tanto as categorias de uso
natural e a potencialidade dos recursos florestais indireto como as de uso direto previstas no âmbito
do Sistema Nacional de Unidades de Conservação,
188
em áreas federais, estaduais e/ou municipais, resul- na, implicaria em reassentar populações tradi-
tou de uma verdadeira queda-de-braço no interior cionais;
do universo das ONG assim como entre essas e o b) a implementação dos 10%, até final de
governo. A gestão das mesmas será também de res- 2000, implicaria em selecionar áreas mesmo
ponsabilidade dessas instâncias. antes de haver conhecimento e definição das
À época do engajamento do presidente brasileiro, o prioridades para a conservação da biodiversi-
comprometimento do MMA foi atingir a meta dos dade na Amazônia. Estudos já estavam sendo
10% em Unidades de Conservação (UC) de uso desenvolvidos pelo próprio MMA em parce-
indireto somente. Decisão que foi a origem de ria com ONG e pesquisadores, no âmbito do
numerosos questionamentos que incluíam não ape- Pronabio;
nas o tipo de unidade selecionado, mas também os c) ser ambígua quanto aos tipos de flores-
critérios de 10% de proteção foram objetados. ta;
As críticas indutoras dos avanços d) priorizar florestas e relegar outros bio-
Baseadas nas referências internacionais reconheci- mas para a conservação;
das como a da OMS que indicam ser necessários e) se houvesse a inclusão das áreas indíge-
“no mínimo 30% de um ecossistema para assegurar sua per- nas dentro da meta, os 10% da campanha já
enidade e sua contribuição à qualidade de vida das populações teriam sido superados;
que dele dependem”, as críticas de algumas ONG não f) ao privilegiar unidades de uso indireto,
pouparam a proposição do WWF (ISPN, 1998), reduzir-se-ia o escopo dos compromissos,
elencando especificidades brasileiras e demandan- pós-Rio 92, em programas que visem harmo-
do a difusão dos critérios técnicos selecionados nizar sustentabilidade ambiental e desenvol-
pelo WWF. Quanto aos tipos de UC selecionadas, o vimento;
compromisso do governo em limitar a meta às UC g) ao tornar o programa exclusivo às uni-
de uso indireto levou a posicionamentos contrários dades de uso indireto contradir-se-ia a estra-
provenientes de um conjunto de ONG que trabal- tégia de montagem de mosaicos, formados
ham com populações que vivem dentro de UC. por unidades de uso direto e indireto, zonas
Essas ONG visavam a adequação da proposta à rea- tampão, corredores ecológicos, reservas
lidade brasileira. legais e o zoneamento ecológico-econômico
Por outro lado, enquanto a campanha propugnava previstos no SNUC.
pelo aumento de áreas protegidas e pela certifica- As alternativas propostas no documento do ISPN
ção da produção florestal, o Brasil tinha se engaja- (1998) incluíam, à época, outros elementos, sobre-
do apenas na ampliação. Este ponto foi bastante tudo a incorporação de outros ecossistemas. A defi-
sensível em razão da situação atual das UC na nição de metas específicas para outros tipos de flo-
Amazônia, muitas delas existindo apenas nas leis restas; a ampliação para 50% da floresta protegida
que as criaram. A existência de vários problemas até o ano 2000, mas sendo 25% de áreas públicas
relacionados à falta de indenização das terras desa- protegidas (áreas indígenas, RESEX, FLONA, etc.)
propriadas, à invasões de frentes predatórias de e 25% em áreas particulares protegidas (RPPN) e,
exploração ilegal de madeira, mineração ou caça; à finalmente os 10% de proteção integral a ser imple-
falta de fiscalização, etc. justificavam as críticas. mentado até o ano 2010.
O engajamento da UC em unidades de uso indireto Esse movimento de mobilização e críticas resultou
significaria riscos diversos, tanto do ponto de vista na participação destes grupos descontentes no
político, se a meta não fosse atingida, ou então, de detalhamento do Projeto de Expansão.
se difundir a impressão de intocabilidade nas áreas Mas as críticas não se concentraram apenas na
protegidas e generalização da degradação nos demanda por participação, também no descrédito
outros 90% da Região, como do ponto de vista téc- da vontade política e no receio de que estes com-
nico-científico. Entre um largo elenco, segundo o promissos significariam apenas uma resposta às
ISPN (1998) e ISA (1998), os riscos mais significa- duras críticas nacionais e internacionais relaciona-
tivos seriam: das à falta de atitude do governo em relação ao
a) a opção por áreas sem a presença huma-

189
190
incêndio em Roraima (1998). Os ambientalistas estabelecimento da coordenação entre todos os pro-
mais cépticos qualificaram, polidamente, de um jetos que apoiam a implementação e manutenção de
“ambicioso compromisso”8, por apresentar facetas UC no âmbito do MMA. (MMA, 2000c). Este
politicamente difíceis de serem superadas para atin- propósito de coordenação e articulação têm espe-
gir sua concretização, primeiro pela necessidade de cial importância no contexto, pois com a profusão
negociação com as Forças Armadas, o seu projeto de projetos, de recursos novos e de diversas formas
de segurança na fronteira, e segundo, por serem de gestão há reincidência de objetivos, de metas e
áreas com ricos recursos minerais. Para esse grupo, ações a serem atendidos e, consequentemente,
o compromisso representava, na verdade, a possibi- perda de esforços.
lidade de aporte de novos recursos do Banco Às duas outras fases, entre 2005-2007 e 2008-2010,
Mundial. A problemática questão frente à ações além de manter a continuidade nos processos de
descoordenadas e declarações governamentais consolidação e criação de novas UC, caberão novas
divergentes durante 3 semanas do incêndio em ações voltadas para avaliação dos mecanismos de
Roraima, levava às palavras do presidente, o des- descentralização e dos dispositivos legais que dão
crédito. Segundo MANNING 9,: suporte à consolidação do Sistema (SNUC) e dos
“ In March, fires burned out of control in northeast procedimentos necessários à garantia financeira das
Brazil, causing the worst destruction ever recorded. UC.
Even parts of virgin forests, historically protected A fórmula de “projetos-pilotos” – classificadas
from fire by moist and dense root systems, went up como experiências inovadoras - seria também utili-
in flames, probably at least in part because loggers zada, sobretudo para testar formas de garantia do
illegally thin out trees while safely hidden under the futuro financeiro das UC, assim como o estabeleci-
forest canopy. […] and this parts of the rainforest, mento de um Fundo Fiduciário específico, visando
he adds (Steve Schwartzman) is 30 times larger a obtenção de recursos.
than the ravaged rainforest that made headlines in A análise de outro aspecto importante para o desen-
March” volvimento e a implantação de projetos desta natu-
As parcerias e estratégias de gestão reza são as novas tecnologias de comunicação, as
redes e os fluxos de informações. O uso destes ins-
O estímulo dado por esse contexto provocou a trumentos, empregados tanto para os diagnósticos
incorporação de propostas no projeto em desenvol- quanto para o seus monitoramentos e gerenciamen-
vimento objetivando: a) utilizar uma estratégia de tos reforçam a importância da informação ambien-
gestão descentralizada e participativa, assegurando tal10, que depende da integração de conhecimentos
aos Estados e municípios, e à sociedade organizada originados através de vários domínios científicos e,
e às ONG o direito de influenciarem no processo especialmente da capacidade de armazenar, recupe-
decisório do Projeto; b) dar prioridade ao estabele- rar e integrar dados que servirão à tomada de
cimento de grandes áreas de proteção, por meio de decisões. A ampla disseminação da informação
conjuntos integrados de unidades de conservação ambiental que hoje caminha lado a lado com a tec-
de diferentes categorias, sendo que as novas UC nologia de comunicação, utiliza-se dos meios digi-
complementem e ampliem esses conjuntos integra- tais, de imagens de satélites, da construção de ban-
dos de áreas para a consecução do Sistema de Áreas cos de dados e sistemas geográficos de informações
Protegidas; c) estudar formas de repasse de recur- e têm permitido aprofundamento em matéria de
sos similares aos mecanismos do PD/A-PPG7 ou a conhecimento do meio e o desenvolvimento de
utilização de Fundos, como o FUNBIO. novas metodologias, assim como o surgimento de
Esse projeto está previsto para ser executado em 10 novos indicadores. Portanto, há uma profusão de
anos, em três fases distintas, com recursos da possibilidades e os gestores públicos e segmentos
ordem de US$ 270 milhões. Nos primeiros quatro sociais distintos podem servir-se delas.
anos (fase I), serão investidos US$ 63 milhões, com No projeto de Expansão das UC é notória a solidi-
metas vinculadas ao i) atendimento dos objetivos ficação de propostas integradoras de atividades téc-
de aprovação da legislação (SNUC), ii) identifica- nico-científicas que anteriormente despendiam um
ção e início da constituição das novas UC e iii)
191
longo período e muitas vezes precisavam contar genéticos, serviços ambientais e para as UC de uso
com equipes numerosas, etc.; entretanto, atualmen- indireto, a conversão da dívida, que são temas bas-
te podem ser realizadas com equipes e tempos redu- tante debatidos e sobre os quais não há nem consen-
zidos: a análise das 23 ecorregiões encontradas na so, nem método, estabelecido de aproveitamento
Amazônia; o incremento de novas áreas com dessa conversão para a UC brasileiras.
mapeamento detalhado, o diagnóstico elaborado e Outro aspecto é o compromisso para a implantação
categorias de manejo identificadas; a realização de destas novas UC12, a prioridade I são as áreas que
monitoramento ambiental específico para as áreas foram recomendadas pelo Seminário “Avaliação e
de proteção estrita na Amazônia brasileira11, são Identificação de ações prioritárias para a conserva-
alguns exemplos. ção, utilização sustentável e repartição dos benefí-
A figura 6.1, ao evidenciar as diferentes ecorregiões cios da biodiversidade da Amazônia brasileira”
encontradas na Amazônia e relacioná-las às áreas (Pronabio), são parte do esforço nacional para defi-
definidas, prioritárias durante o primeiro ano do nir a Estratégia Nacional de Biodiversidade, para
projeto, permitem uma visão da diversidade ecos- ações futuras e monitoramento das políticas.
sistêmica que está sendo objeto de políticas para Ao servir-se de experiências anteriores tanto sobre as
conservação. formas ou mecanismos de gestão, como os instru-
Destacando apenas o uso destes instrumentos de mentos de planejamento desenvolvidos por outros
informação para a concretização das metas nego- projetos como o PPG-7, o PNMA, o Pronabio, espe-
ciadas, pode-se perceber sua importância: entre 50 ra-se que a superação de barreiras, já conhecidas
novas áreas que serão identificadas, 20 serão nesses outros projetos, possam introduzir ganhos de
mapeadas em escala 1:2.500.000 e servirá também tempo para a implantação do projeto.
como base para a identificação das áreas com Por outro lado, a importância desse novo projeto pre-
potencial, indicadas pelos Estados e Municípios. servacionista, que poderá dar uma nova configuração
Prevê-se também a elaboração de diagnósticos das na geografia da conservação na Amazônia, é real-
condições locais destas 20 UC para os mosaicos mente investir na ampliação e consolidação das áreas
preliminares e para a consulta pública; se for protegidas legalmente. Há ainda o compromisso de
necessário será feito o levantamento e cadastra- consolidar articulações entre os inúmeros projetos de
mento de ocupações em escala 1:10.000, das 20 dimensão regional.
UC, visando remanejamento de populações. Para as A interface deste projeto com o PPG7 não se realiza
novas UC, serão elaborados planos de manejo e apenas pelos recursos no valor de US$ 10 milhões
mobilização da população do entorno, para 10 retirados deste programa para serem destinados àque-
delas. No que concerne à monitoria, a meta é reali- le, mas também pela consolidação e criação de novas
zar o monitoramento ambiental, detalhado em 5 UC UC por meio do Projeto Corredores Ecológicos; pela
existentes e, de maneira geral em 25 UC federais já manutenção financeira da UC servindo-se das expe-
existentes. São metas planejadas, não significando, riências dos PD/A e dos PGAI e das atividades de
no entanto, sua concretização, como as análises monitoramento e avaliação ambiental desenvolvidas
anteriores a respeito de projetos internacionais pelos projetos do PPG-7.
demonstraram-no. Para a sua implementação, Por outro lado, à época do anúncio do projeto, as
torna-se evidente que deverá haver o acompanha- críticas de ambientalistas e jornalistas tinham
mento técnico constante e a vontade política de vê- razão de ser. Para eles, os incentivos em investir
lo realizado. na ampliação da conservação na Amazônia estava
Foram definidas também, um tamanho de área fundamentado no interesse de ampliar recursos
mínima ideal para conservação balizando-se nos para essa Região. Fato é que entre o compromis-
estudos de FERREIRA et al (2000) assim como so inicial do BIRD em conceder empréstimos
alternativas de mecanismos de geração de receitas entre 30 e 40 milhões de dólares, o valor aprova-
próprias para o financiamento das UC, incluindo do para a primeira fase foi de US$ 63 milhões,
entre os mecanismos para as unidades de uso dire- contando com uma previsão de US$ 270 milhões
to, os “royalities” decorrentes do acesso a recursos para as duas etapas seguintes.

192
193
Mas, mesmo que o projeto já tenha conseguido ven- para responder aos argumentos de inexistência de
cer os primeiros obstáculos haverão outros no recursos financeiros, KITAMURA (2001) conside-
decorrer de sua implementação. É importante des- ra que há meios criativos de implantá-las, especial-
tacar que outros estudiosos têm opiniões diferentes mente por intermédio das ONG internacionais.
sobre o assunto. KITAMURA (2001) por exemplo, Sugere ainda o incentivo à criação de áreas de pre-
afirma que o simples fato de criar e demarcar UC, servação privadas, que, em grandes propriedades
mesmo se associadas à fiscalização, são ineficazes poderiam mobilizar áreas de reservas legais previs-
em situações de existência de comunidades tradi- tas no Código Florestal.
cionais dentro ou no entorno de seus limites, isto Devido suas propostas alterarem o conceito e fun-
porque as mesmas desconhecem estes limites e a ção de alguns tipos de UC, KITAMURA (2001)
importância da biodiversidade, e também porque os está seguro que elas não se enquadram nem na atual
custos sociais da desconsideração dos problemas estrutura conceitual, nem gerencial dos órgãos
locais podem ser internalizados por estas comuni- públicos responsáveis por parques, reservas e
dades. Para ele, a existência de UC é um importan- outras figuras de conservação. Considera outros-
te instrumento de conservação, entretanto, para que sim, que a abordagem inovadora dos Projetos
sirvam efetivamente ao propósito de preservação, Integrados Conservação – Desenvolvimento13
assim como para prestar serviços ambientais, deve- (PICD de Brandon e Wells (1992) e Wells (1992))
riam ser adotadas outras estratégias de envolvimen- pode ser o cenário futuro das UC na Amazônia
to. Além do percentual atual (3,6% em UC de uso visto que, essas abordagens se propõem a realizar o
indireto) ser muito mais baixo que da África ou manejo de áreas protegidas em condições de pre-
Ásia implicando em seu aumento para atingir os sença de comunidades envolventes ou internas às
10% do território, as UC federais existentes nor- UC, incluindo as questões sociais, mas mantendo
malmente se restringem à demarcação da área, à os objetivos da conservação como prioritários. A
declaração de propriedade pública e uma fiscaliza- idéia de incorporar incentivos transforma as comu-
ção precaríssima, ou seja, um Estado ausente no nidades em aliadas da gestão.
exercício de direito sobre elas. Sobre o conceito de conservação, um dos condicio-
A política de restrições de acesso às comunidades nantes da mundialização atual, paira a questão
locais, às áreas protegidas, pode gerar problemas sobre quem se beneficiará da conservação da biodi-
maiores no manejo dessas, que segundo HOUGH versidade, se ela poderá servir a um desenvolvi-
(1988) «apud» KITAMURA (2001), atingem um mento mais justo, ou, se servirá apenas ao surgi-
grande leque, indo desde a hostilidade às próprias mento de novos negócios, lucrativos, específicos de
áreas e seus gestores; à ignorância dos limites e das determinados setores econômicos. Essa é uma
restrições de acesso, o uso dos recursos objeto da questão reincidente e para a qual a resposta depen-
proibição, ou mesmo, até vandalismo contra essas derá de um posicionamento político nacional e
áreas. Porisso é necessário aproximar a preservação regional explícito.
ambiental à realidade das populações locais.
3. A biodiversidade, uma nova referência
Para ele, os meios para atingir estas mudanças estão
relacionados à inclusão do desenvolvimento huma- A crise ambiental atual impõe a necessidade de
no associado à conservação. O segundo passo refe- considerar novos padrões da natureza que se entre-
re-se à descentralização na gestão das UC, dando laça com os novos padrões da revolução científico-
forte incentivo à criação de áreas protegidas esta- tecnológica (ALBAGLI, 1998; BECKER, 1996,
duais e municipais, dando-lhes funções diferencia- 2001; RIBEIRO, 1999, SMOUTS, 2001). Uma
das segundo o local onde forem criadas: nas áreas crise cujo processo decorre da formação desse novo
urbanas deveriam servir ao ecoturismo e ameni- par na geopolítica mundial, originando uma dinâ-
dades ambientais; nas áreas rurais, como meio de mica que aprofunda os conflitos nas formas de
complemento à subsistência (extrativismo, ecotu- apropriação dos recursos naturais e quem deles se
rismo, artesanato, etc.). Mesmo com esses novos beneficiam.
recursos do BIRD, há insuficiência de fundos, e, O surgimento do novo paradigma biotecno-científi-

194
co (ALBAGLI, 1998) fundamenta-se na obtenção Haia15, que objetivou a negociação das linhas dire-
de produtos e substâncias a partir de novas técnicas trizes para assegurar o quadro geral de acesso à bio-
genéticas. Potencializa-se assim o uso dos recursos diversidade. O conflito Norte-Sul se reproduziu,
biológicos e genéticos como matéria-prima, poten- evidenciando as polaridades bem definidas:
cializa os usos tradicionais e promove uma estreita Estados Unidos contra quaisquer modificações
ligação entre os novos medicamentos e os usos tra- sobre os direitos de patentes e a União Européia,
dicionais de seus componentes. Esse quadro ilustra favorável à evolução dos direitos de patentes e a
as questões de regulação do uso de tais matérias adoção das linhas diretrizes (LE MONDE, 12 abril
primas e da divisão dos benefícios, são grandes 2002). A figura 3.2 compara mundialmente as
debates, complexificados por preconceitos, ligados regiões de megadiversidade e a situação das flores-
ao desconhecimento do tema, os quais se difundem tas.
rapidamente pelo país, polemizam as análises e Os recuos refletem os problemas desse complexo
dificultam a tomada de decisão. quadro: a titularidade, o alcance, autoridade com-
As polêmicas e conflitos são gerados tanto em esca- petente, proteção dos conhecimentos tradicionais,
la mundial, como local. Mundial, entre os segmen- reconhecimento de direitos de propriedade intelec-
tos conservacionistas do Norte e do Sul; local, entre tual, partilha de benefícios, são questões que per-
setores que promovem a exploração predatória e manecem indefinidas. Para ALBAGLI (1998) esses
alianças conservacionistas locais-nacionais-inter- elementos são representativos das dificuldades e
nacionais. dos limites para a definição de uma estratégia
Um grande passo da atualidade e, simultaneamente, nacional para transformar a biodiversidade em fator
uma forma de regulação internacional, a do desenvolvimento futuro da Amazônia.
Convenção da Biodiversidade14, validada na A elaboração de uma estratégia nacional de biodi-
Conferência do Rio, reconheceu o direito de explo- versidade16 mobilizou diversos segmentos governa-
ração de cada Estado-membro sobre seus recursos. mentais, não governamentais, acadêmicos e políti-
Direito que deve ser democrático e incorporar os cos. A contribuição destes setores nos debates dos
anseios da sociedade nacional, abrindo assim um seminários, regionais e nacional, de “Avaliação e
leque entre anseios individuais e anseios coletivos. Identificação de ações prioritárias para a conserva-
No entanto, sua implementação no país se vê ção, utilização sustentável e repartição dos benefí-
influenciada por antagonismos e contradições. cios da biodiversidade brasileira” mostra um esfor-
Entre 1994 e 2000, os avanços foram sido obtidos ço nacional.
lentamente: o projeto de lei da senadora Marina Entretanto, não houve e nem haverá unanimidade
Silva (PL 306/95); as leis da propriedade intelectual sobre as propostas, especialmente sobre as 348
(lei 9279/96), a lei de cultivares (9456/97). São ins- áreas consideradas como prioritárias para a conser-
trumentos legais que não cobrem todos os aspectos vação na Amazônia. Setores ambientais consideram
relacionados ao tema e também não resolvem a imprescindível a incorporação destas áreas nas
questão do acesso, não têm nenhuma eficácia políticas públicas; já os setores produtivos, ou
contra a biopirataria. Finalmente, após quase 7 aqueles ligados à infra-estrutura, seguem suas dire-
anos, uma legislação específica, regula o acesso à trizes, contrapõem com argumentos que ressaltam o
biodiversidade e o Conselho de Gestão Federal que exagero dos ambientalistas, reafirmando que se
atuará nesse campo foi instalado em abril de 2002, todas as áreas fossem institucionalizadas, o desen-
com 18 membros governamentais e não-governa- volvimento da Região estaria prejudicado, assim
mentais) como o do país, pois são eles quem produzem,
Esta situação interna articula-se com a delicada quem fazem girar a economia.
situação internacional, com as constantes denuncias É o que reforça WASHINGTON NOVAES, em 19
de roubo de espécies raras por empresas ou univer- de fevereiro de 1999, no jornal O Estado de São
sidades dos países desenvolvidos. Mais uma vez, é Paulo a respeito das opções de política pública no
ao nível mundial de que fala GRATALOUP (2000) Brasil, paradoxal em relação ao grande potencial de
que a negociação é requisitada, na Conferência de biodiversidade existente:

195
«A atitude oficial oscila entre a previsão de abertu- BECKER, 2001; GARAY e DIAS, 2001) sobre a
ra de novas frentes agro-pecuárias pela finada necessidade de transformar a biodiversidade em
Secretaria de Assuntos Estratégicos (anunciada bem coletivo, só assim as políticas nacionais
pelos jornais), concorrendo para o desmatamento e poderão incorporá-la como um dos vetores do
os projetos de utilização da biodiversidade e cria- desenvolvimento.
ção de corredores ecológicos, que pressupõem sua FONSECA17 escreveu um conjunto de artigos para
conservação, mas enfrentam a crônica falta de o jornal Amazonas em Tempo, quando na direção
recursos. No meio, correm frouxos os projetos de do INPA. Ao analisar a questão da legalidade e bio-
reforma agrária, que, valendo-se da concordância diversidade, em 20 de abril de 1999, procurou
prazerosa dos donos de terras na região e do apoio decodificar sua polaridade e abrangência, a partir
discreto dos ruralistas de outras áreas, respondem do conceito de «bem comum» e de «bem privado»:
por mais de 50% do desmatamento, segundo o “…induzida pela pressão científica e tecnológica,
relatório da Comissão Externa da Câmara dos surgiu uma nova definição legal para o meio
Deputados (mais de 88% das terras destinadas à ambiente, que passou a ser o mais puro e cristalino
reforma agrária no período analisado, até final de exemplo de “BEM PÚBLICO”, cujo gerenciamen-
1997, estavam na Amazônia). […] E assim prova- to se inclui obrigatoriamente na esfera do Estado.
velmente continuará, enquanto o País não for capaz As novas metodologias de melhoramento genético,
de conceber um modelo de desenvolvimento de de manipulação gênica e de transformações biotec-
fato – e não na retórica – sustentável, fundado em nológicas, passaram a proporcionar lucros para a
suas especificidades e potencialidades tropicais. iniciativa privada, gerando uma forte associação
Não a mera concessão de incentivos fiscais, seja entre organismos e mercado. Esse fato novo, pro-
para o avanço da agro-pecuária, seja para indústrias porcionado pelo avanço científico e tecnológico,
importadoras ou montadoras». levou o setor produtivo a reivindicar o direito de
Assim, o desafio para a determinação de políticas posse sobre os recursos naturais. Com isso se inse-
públicas envolvendo dimensões biológicas, sociais riu na pauta do debate ambiental a aplicação do
e sobretudo políticas é compreender a complexida- conceito de “BEM PRIVADO” ao meio ambiente,
de das relações entre as funções, as diferentes for- já que a agregação de valor depende de enormes
mas de uso que ela pode ter, e o conceito amplo e investimentos empresariais que exigem retorno
ainda em construção de biodiversidade. financeiro. Esse moderno cenário de produção
Para BECKER (2001), o fato de que a biodiversi- industrial configurou novo conflito conceitual entre
dade existe num determinado território, com for- o poder econômico, que requer o direito de pro-
mas de apropriação que lhe são próprias, confere- priedade sobre parte do ambiente natural, e a socie-
lhe uma dimensão material, concreta, no contexto dade organizada, que insiste em manter a Natureza
das relações sociais e de poder; de soberania dos na esfera dos “BENS PÚBLICOS”. No Brasil, a
Estados que as detém, entretanto, agrega que o ordem jurídica que vai balizar o melhor ajuizamen-
cerne das contradições dessas dimensões políticas, to das disputas pelo uso e acesso aos organismos
é a falta de reflexões epistemológicas sobre esse que compõem a diversidade biológica, está sendo
objeto. Esse é um assunto que, embora fundamen- equacionado paulatinamente”.
tal, tem merecido pouca atenção, pois trata-se de Por enquanto as diferentes proposições de métodos
uma nova forma, global, de ver o mundo, influen- de resolução desses aspectos contraditórios abor-
ciada pela mundialização da ecologia e dos concei- dam tanto os elementos biológicos quanto políticos,
tos de governança, que pretendem valorizar as for- mesmo se não há um conhecimento claro de todas
mas locais de agir e pensar. as funções e propriedades da biodiversidade, mas a
Outro aspecto merecedor de reflexão relaciona-se à existência de opiniões diversas quanto ao seu apro-
mudança da forma de tratamento dos recursos natu- veitamento e sua preservação revelam um ardor
rais e biológicos. Até agora eles estão ligados à pro- popular na defesa da biodiversidade brasileira,
priedade individual. Há um certo consenso entre impregnando, no termo, a noção de propriedade
cientistas (HOMMA, 1997; FONSECA, 1999; coletiva.

196
O imaginário social coletivo cas às políticas atuais trataram, de um ou mais
A questão biodiversidade, analisada por meio dos aspectos, da biodiversidade, seja abordando a
artigos de jornais18 no capítulo sete, revela um ima- questão de que o discurso que a biodiversidade
ginário social quanto as suas potencialidades e estratégica, na verdade, esconde interesses exter-
reflete-se no interesse que ela desperta quanto às nos; seja abordando a questão das contradições
novas formas de novos negócios. Entre cerca de entre as políticas de desenvolvimento (dentro do
600 reportagens, aproximadamente 10% referem-se Avança Brasil) e as de conservação. Fortes críticas
à novos negócios, e desse total aproximadamente relacionaram-se à legislação sobre biopirataria,
15% das abordagens tratam das oportunidades das considerando-a um atraso: seja porque não há leis
riquezas em espécies para produtos alimentícios, que obstaculizem o processo, seja porque conside-
além da regulamentação e controle sobre os acor- raram que a lei de patentes aprovada a favorece. Na
dos de bioprospecção; da possibilidade de enrique- outra vertente da discussão as críticas identificam
cimento da biodiversidade para o comércio; das as políticas ambientais como uma resposta às
oportunidades da indústria de base tecnológica e do pressões internacionais e que seus instrumentos
ecoturismo, e turismo científico, como das novas atrapalham o desenvolvimento dos Estados amazô-
atividades econômicas sobre as quais o desenvolvi- nicos.
mento da Região deveria ser alicerçado. No imaginário social acerca da biodiversidade ela é
A preocupação com o controle e com a apropriação vista como um «bem» futuro e sua potencialidade
nacional da biodiversidade, é evitar que ela sirva poderá ser aproveitada, servindo de matéria prima e
como a matéria prima do futuro, somente para as de incremento à novas atividades econômicas, o
nações ricas. As matérias dos jornais (10%) salien- que poderá re-direcionar o desenvolvimento da
tam ainda que a mesma representa um mercado Amazônia.
potencial de US$ 3 trilhões; porisso o interesse em BECKER (2001:97-100) faz uma análise do inter-
projetos de armazenar informações e constituir ban- esse da apropriação da biodiversidade nas escalas
cos de dados genéticos e de biodiversidade, majori- internacional, nacional e regional. A sua proteção é
tariamente ligados ao rastreamento de plantas o objetivo maior do PPG-7, programa que repre-
medicinais; dos mecanismos de atração de empre- senta o interesse internacional preservacionista. Na
sas multinacionais. A falta de controle e de um ver- prática, um instrumento de pressão geopolítica, mas
dadeiro projeto brasileiro para deter seriamente também, um instrumento de construção de um
estas questões e, especialmente, o desinteresse modelo sustentável da biodiversidade. No entanto,
nacional sobre este tema é mola propulsora, incen- o projeto nacional, apoiado na Política Nacional
tivadora dos crescentes interesses internacionais, Integrada para a Amazônia Legal – PNIAL e no
são os argumentos evocados. Pronabio, é um desafio político sem precedentes
Acentuam ainda as matérias jornalísticas (8%) que por definir como objetivo final a valorização huma-
as propostas de novos modelos, assim se auto-inti- na, a ser conquistada com o aumento da base cientí-
tulam, baseiam-se em argumentos para criação de fico-tecnológica da Região, com ampla participa-
um modelo de desenvolvimento que se fundamente ção social no processo de mudança e na utilização
no aproveitamento e uso da biodiversidade, na bio- de um instrumento, ao mesmo tempo político e téc-
tecnologia, nos recursos hídricos, no ecoturismo; na nico, para operacionalizar a passagem para o novo
inovação que representa projetos que estão assenta- padrão de desenvolvimento, mas que proteja a bio-
dos sobre o aproveitamento da biodiversidade e do diversidade, o ZEE. Já os projetos elaborados pelos
meio para o turismo; nos novos produtos que o governos regionais são representativos das dife-
Centro de Biodiversidade de Manaus poderá desco- rentes visões dos grupos sociais e dos significados
brir. Em geral, apresentam propostas para ampliar diversos dados à biodiversidade. Para os grupos
os investimentos em ciência e tecnologia apoiado que BECKER classifica como implementadores de
pela cooperação internacional, como forma de projetos desenvolvimentistas, os interesses podem
reduzir a biopirataria. ser enquadrados como de mobilização e de geração
Cerca de 8% das matérias classificadas como críti- de negócios baseados em recursos naturais e nas

197
infra-estruturas, que permitam acessar mercados uso do rico patrimônio genético da região,
sul-americanos; já os grupos vinculados à concreti- em remédios, cosméticos, insecticidas natu-
zação de projetos conservacionistas, entre eles rais e outros produtos industriais. Este
seringueiros, populações indígenas e pequenos pro- Centro também atuará na certificação de pro-
dutores, buscam a valorização dos recursos naturais dutos (selo de qualidade), testes toxicológi-
por meio da agrosilvicultura, do aumento da produ- cos, gestão de inovação, propriedade intelec-
tividade agrícola. tual e industrial e incubação de empresas e
Há necessidade de se construir um «projeto nacio- coordenará uma Rede Nacional de
nal da biodiversidade», capaz de desdobrar-se nos Laboratórios e grupos de pesquisadores
níveis regionais. Antecedendo a este projeto, a envolvidos com biotecnologia. Este aspecto
região amazônica é o locus da primeira experiência foi tratado em A Crítica (19.02.98, p. A2):
do Programa Nacional de Ecologia Molecular para «Com o apoio financeiro da Superintendência da
o Uso Sustentável da Biodiversidade - PROBEM, Zona Franca de Manaus, que cedeu um terreno de
criado em 1997, com o objetivo de desenvolver a 20 mil metros quadrados, o Centro deverá reunir
biotecnologia e instalar bioindústrias a partir do pesquisas próprias às informações já coletadas por
manejo dos recursos naturais. Para atingir estes instituições da região, como o Instituto Emílio
objetivos interrelacionam-se estratégias de pesqui- Goeldi, do Pará, e usar a rede de laboratórios aca-
sa e de mercado. Este Programa está estruturado em dêmicos do País para encontrar usos práticos para o
cinco áreas básicas: a) sistema inventário de biodi- material coletado na Amazônia”.
versidade e coleta de amostras de espécies de inter- Esta iniciativa, de uma certa maneira, aproxima-
esse; b) sistemas de identificação de princípios ati- se de recomendações existentes em vários estudos
vos e de produtos derivados de interesse comercial; para a associação entre a preservação de gens e a
c) sistema de absorção, desenvolvimento e transfe- pesquisa e tecnologia aplicadas aos recursos e
rência de tecnologias para extração, purificação, potencialidades regionais e no estabelecimento de
envasamento e certificação de qualidade de produ- parcerias de diversos tipos. A prospecção de
tos; d) sistema de domesticação e multiplicação de novos negócios na área de biotecnologia, permi-
espécies de interesse comercial; e) formalização tirá identificar e desenvolver novos produtos, por
diversas modalidades de parcerias, definindo-se os exemplo, por meio de associações com empresas
direitos e responsabilidades das partes envolvidas. (joint ventures) que tenham interesse em ampliar
A gestão constitui-se também em uma parceria, sua área de atuação ou mesmo que pretendam
governo e organização social. 19. aperfeiçoar seus produtos. Investimento em bio-
Foi também estruturado o Fundo Permanente para o tecnologia pode ser realizado também através de
Uso Sustentável da Biodiversidade da Amazônia contratos específicos de prestação de serviço para
(FPBA), gerido por um Consórcio integrado pela bio-indústrias, caso do treinamento de recursos
Bioamazônia e a A2R Recursos Renováveis, humanos, certificação de qualidade para produtos
baseando-se na experiência internacional do Alaska e processos, ensaios e plantas industriais e incu-
Permananent Fund. O FPBA, deverá captar US$ bação de empresas.
150 milhões em dois anos, no Brasil e exterior. Esta mesma fonte, A crítica, ao publicar a posição
Um Pólo de Bio-indústrias será desenvolvido do Governo Federal em relação ao financiamento
no âmbito da Zona Franca de Manaus, onde público de um setor econômico na Amazônia,
já se concentram, hoje, indústrias e outras informa que a pesquisa e a produção transgênica,
atividades econômicas que recebem incenti- uma das atividades previstas do centro, mesmo
vos fiscais e subsídios pelos Fundos como alternativa econômica para a região, é polê-
Constitucionais. Uma das principais ativi- mica entre as organizações ambientalistas.
dades do PROBEM da Amazônia é o Centro Reabre-se uma nova temporada de financiamento
de Biotecnologia da Amazônia (CBA), com da ciência no âmbito das políticas de desenvolvi-
o objetivo de reunir, em Manaus20, laborató- mento. Reabre-se, também, una nova temporada
rios e grupos de cientistas para pesquisar o de debates.

198
4. Em direção à um Projeto Nacional… que definiram sua linha de conduta apoiada sobre
diretrizes de conservação dos recursos naturais e
Apesar dos esforços e de todo o discurso sobre um
inserção de populações marginalizadas no contexto
modelo sustentável para o desenvolvimento da
econômico e político estadual, estão sendo desen-
Amazônia, não existe, ainda, uma política regional
volvidas pelos atuais governos dos Estados do
fundamentada nos princípios desse(s) modelo(s).
Amapá e do Acre. As outras experiências, abran-
Inexiste porque pressupõe a superação dos para-
gendo sub-regiões no interior dos Estados amazôni-
doxos conceituais e políticos.
cos, tendo como executoras e beneficiárias as
O enorme potencial econômico da biodiversidade e
comunidades de populações tradicionais e indíge-
da floresta vem servindo como base de argumenta-
nas, ou tendo espaços geograficamente definidos
ção para os três níveis de governo, mas as expe-
como as áreas dos Projetos de Gestão Ambiental
riências normalmente correspondem à dimensões
Integrada do PPG-7 foram tratadas nos capítulos
territoriais limitadas e se restringem a determinados
seis e sete.
recursos naturais (floresta, várzeas, solo, água) ou
Ao definirem a Política de Desenvolvimento
se relacionam à métodos e sistemas de produção
Sustentável, no Amapá, e a Política de
agrícola.
Desenvolvimento Sustentável dos Povos da
A dificuldade para que se romper com estes para-
Floresta, no Acre, os governos desses Estados fun-
doxos é imensurável. De um lado, pela apropriação
damentaram seus programas na concretização de
ideológica dos elementos deste conceito; de outro,
alguns princípios do desenvolvimento sustentável.
porque há um fosso profundo entre os interesses
Por serem Estados menores e mais à margem das
diversos. Implantar o projeto nacional de integra-
grandes mudanças estruturais promovidas pelo
ção econômica dessa Região, ao país e ao continen-
governo federal, foram também esses Estados que,
te, deveria ser realizado pelo governo federal com
apesar de questionarem a forma e os mecanismos,
apoio de governos estaduais e alguns setores eco-
aproveitaram a doação do SPRN-PPG7 no suporte
nômicos; para atender os anseios de distintos
ao conjunto de ações de suas políticas, utilizando a
setores produtivos e segmentos sociais e ao mesmo
cooperação técnica alemã e britânica, para respal-
tempo, respeitar as diferenças e os potenciais socio-
dar e avançar tecnicamente em seus projetos.
ambientais. São objetivos inconciliáveis no modelo
Uma digressão pode ser feita também em relação à
atual. Adotá-los obriga à mudança de conduta e
história de vida e de opção política destes dois
postura política.
governadores, como aspectos motivadores à escol-
Inegável é que na atualidade coexistam na
ha destas populações como beneficiários maiores
Amazônia políticas diferenciadas de uso do territó-
de suas políticas públicas. Do ponto de vista profis-
rio, sejam elas políticas nacionais, regionais ou
sional, grande parte da experiência dos governa-
locais. Após longos períodos em que o governo
dores foi vivenciada em comunidades de pequenos
federal se ateve à elaboração de orçamentos nacio-
produtores, rurais ou urbanas, fatos aos quais
nais foi, somente no decorrer do primeiro mandato
podem ser incorporados sua vinculação política ao
do presidente Fernando Henrique Cardoso que
Partido Socialista Brasileiro e Partido dos
priorizou-se a retomada do planejamento nacional e
Trabalhadores.
da ação regulatória, sobretudo em fronteiras políti-
A implementação de tais experiências têm amplia-
cas, econômicas e sociais. O plano nacional de
do os espaços de conflitos e choques de opinião,
investimentos e de ampliação da densidade econô-
tanto no âmbito destes Estados, quanto na região,
mica na Região insere-se numa nova formulação
ou mesmo com outros setores e segmentos nacio-
para vislumbrar os distintos espaços brasileiros,
nais.
concebidos como Eixos Nacionais de
Desenvolvimento e Integração. Tema objeto da O Plano de Desenvolvimento Sustentável do
análise no capitulo oito. Amapá - PDSA.
Os programas Estaduais indutores Lançado nos primeiros dias de governo, em 1995 21,
o PDSA foi a primeira experiência governamental.
As duas únicas experiências de políticas estaduais,
O governador do Amapá serviu-se da proposta polí-
199
tica inovadora para atrair alguns focos de luz ao rencial foi estimular o crescimento da cooperação
Estado e projetá-lo no cenário político nacional, bilateral, especialmente a transfronteira com o
demonstrando que, mesmo com toda a complexida- Guiana e servir-se da cooperação técnica, inclusa
de em torno da sustentabilidade, havia a vontade no SPRN-PPG7, de maneira mais ampla, incitando
política de se lançar em algo novo. Novo por visar à elaboração de diagnósticos e o aumento de pro-
atingir equidade social e ambiental e que pudesse posições a respeito de alternativas econômicas.
alterar as condições do desenvolvimento do Estado. O aumento do número de pesquisadores nacionais e
O governo passa a valorizar campos do conheci- estrangeiros no Estado foi notório. O objetivo do
mento anteriormente olvidados: meio ambiente, governo visava a obtenção de resultados de pesqui-
educação, pesquisa, populações tradicionais, cultu- sas sobre usos dos recursos naturais ou de princí-
ra. Partindo da definição que “Le développement pios fitoterapêuticos (como a castanha, o açaí, a
durable associe l’activité économique, l’équité sociale et la borracha, o cupuaçu, a madeira de lei, a andiroba,
préservation de l’environnement ” (MOULIN, 2000:23), etc.), receber informações e contribuições das des-
o PDSA optou pela política de valorização cultural cobertas científicas aproveitando-as como alternati-
e uma economia sustentável baseada na utilização vas de transformação na base da nova economia do
equitativa dos recursos naturais e determinou dire- Estado.
trizes operacionais para poder alcançá-las. Procurou, ainda, ampliar ao máximo a parceria com
Para o modelo de desenvolvimento proposto, ênfa- ONG, cooperativas, associações e clubes de servi-
se foi dada aos diversos segmentos sociais, ante- ço, por entender que estava na parceria o caminho
riormente marginalizados, assim como o apoio à para melhorar a saúde, a educação e estimular alter-
pesquisa científica para melhor orientar as futuras nativas para geração de emprego e renda24. Ao
alternativas produtivas. contrário dos outros Estados amazônicos, adotou
Para, de fato, operacionalizar este conceito adota- como estratégia trabalhar com pequenas empresas,
do, o governador foi motor de estruturação do enquanto a maioria opta por grandes projetos como
PDSA e deu prioridade, durante seu primeiro man- fator de desenvolvimento (MOULIN, 2000:40).
dato, ao uso de novas tecnologias de obtenção de Outra prioridade do Programa foi a política de for-
informações e de planejamento ambiental. A elabo- mação e pós-graduação.
ração do (macro)zoneamento ecológico-econômi- O Amapá tornou-se referência para diversos seg-
co22 do Estado foi vista como a maneira de valori- mentos sócio-profissionais e para alguns setores,
zar as possibilidades e restrições do meio ambiente incluindo o ambiental. No final de seu primeiro
e utilizá-las para melhor definir as diretrizes gerais mandato havia ampliado consideravelmente a pre-
do programa, orientar os investimentos públicos e sença técnica e científica no âmbito do Governo,
induzir os privados. A ousadia23 do governador, em sua política havia tido aprovação do setor ambien-
termos de política pública, foi ter tomado a decisão tal federal. Uma aprovação que, em princípio,
de utilizar-se de instrumentos técnicos considera- extrapolou as fronteiras brasileiras.
dos indicados dentro do debate sobre desenvolvi- O apoio e a re-aproximação Brasil e França tornou-
mento sustentável e sustentabilidade, mesmo não se um fator político fundamental. Inscrita no
havendo consenso. A controvérsia a respeito das Acordo-Quadro de 1996, tendo como suporte a
metodologias de zoneamento, a questão da partici- idéia geral de aproximação União Européia –
pação e dos limites das interpretações e proposições Mercosul, a cooperação bilateral marcou a vontade
técnicos, a escolha da escala (macro ou micro), não política do Brasil de diversificação de parcerias.
foram empecilhos para a decisão política. Assim, Ampliou-se também a cooperação científica. A par-
para concretizar sua política o Governo decidiu ser- tir deste Acordo, o estabelecimento das prioridades
vir-se de todos os aportes do conhecimento técnico- entre Amapá e Guiana se inscreveram no âmbito da
científico disponíveis no âmbito de projetos que cooperação transfronteira e o fortalecimento das
estavam sendo implementados no Amapá relações, entre os dois, passou a ser uma política de
(GERCO, SPRN, cooperação bilateral), demons- integração realizada pelos dois governos locais, pri-
trando confiança que os mesmos poderiam servir de vilegiando domínios como ciência e tecnologia,
base às decisões político-participativas. Outro dife-
200
turismo, meio ambiente e ensino da língua france- Amazônia gerando riquezas e sem esgotar os recur-
sa. O fator geográfico da vizinhança permitiu a sos renováveis’. Mas fazem pouco-caso disso. Para
aproximação política dos governos brasileiros e nós que vivemos na Amazônia, está claro que a
francês. Outro aspecto importante foi a abertura de sobrevivência com desenvolvimento e qualidade de
possibilidades de financiamento da Agência vida está condicionada à manutenção da floresta e
Francesa do Desenvolvimento, para projetos ama- de outros ecossistemas, ou seja, à exploração de sua
paenses. Dois projetos importantes foram financia- biodiversidade de forma sustentável. Mas é exata-
dos: a produção de óleo da castanha do Brasil rea- mente a falta de vontade política que impede a
lizada entre a cooperativa de castanheiros e uma Amazônia de se tornar um exemplo de desenvolvi-
empresa francesa (Provence Régine) e a pequena mento para a humanidade».
usina hidrelétrica de Santo Antônio, para a coope- Para o governador, as escolhas do governo federal
rativa de castanheiros. nunca privilegiaram a melhoria das condições de
Outro setor de cooperação é a da pesca de vida das populações locais e nem das características
camarões. Realizado também sob a cooperação específicos dos ecossistemas amazônicos.
entre duas empresas, uma amapaense e outra guia- Argumentos que podem ser confirmados com fatos:
nense, na base de 50% para cada parceiro, tanto entre os grandes projetos nacionais, ao Amapá res-
para investimentos como para os benefícios obti- taram apenas as suas externalidades. O balanço
dos. apresentado por EGLIN e THÉRY (1982) é um
Em uma avaliação feita em 1998, o governador fez exemplo das escolhas do governo federal: durante

Tabela n° 1 - Investimentos no projeto Jari


Valores Empréstimos Déficit Perdas Empregados Empregados
em milhões nacionais na balança licenciados
de dólares e internacionais comercial

Em 1977 200
Até 1979 705 + 30 291 150 15 000
Até 1980 935 74 4 000

Fonte: Eglin & Théry, 1982.

apelo à necessidade de mudança, à falta de decisão os anos do I e II PND, muitos recursos federais e
e de visão política das estratégias nacionais para a internacionais foram investidos no Projeto Jari.
Amazônia. Divulgada pela Folha de São Paulo, de Mesmo tendo sido revisto e reestruturado depois
17 de junho de 1998, João Alberto Rodrigues dos anos 80, as medidas de correção das conse-
Capiberibe insiste em sua visão: quências sociais e ambientais ainda hoje cabem ao
«(…) os danos ambientais e sociais provocados por governo estadual. No momento em que governo
essa visão canhestra do desenvolvimento são visí- federal assumiu o projeto Jari em 1980, sua situa-
veis na Amazônia desde sua ocupação. Primeiro ção se apresentava com o seguinte quadro. Na ver-
vieram os europeus e massacraram os índios e o dade, os empréstimos tinham sido concedidos com
formidável conhecimento que eles tinham da flo- o aval da União.
resta. Depois, os próprios nativos e descendentes O governador, ao criticar o posicionamento do
seguiram o exemplo, passando a agredir a natureza governo federal considera que houve um distancia-
em nome de um progresso que nunca conseguiram mento entre o discurso e sua prática (Folha de São
usufruir». O governador considera que ‘as autori- Paulo, 17 de junho de 1998): ainda que tivesse elo-
dades brasileiras têm à sua disposição milhares de giado seu Programa, não havia tomado nenhuma
estudos, ensaios, teses, pesquisas e até experiências decisão que favorecesse o modelo escolhido pelo
comprovadas e bem-sucedidas de como explorar a Amapá, mas, continuava a responder as pressões de

201
segmentos do Sul e do Centro-Sul do país. Deixava, dados, como o investimento em pesquisas e a
desta maneira de aproveitar o grande potencial da outorga da lei sobre prospecção da biodiversidade.
Amazônia, abdicando do direito de transformá-la Enquanto no Congresso Nacional o debate se
em um símbolo de um novo modelo, perseverando intensificava, polarizado pela proposta de Marina
na manutenção do símbolo internacional de degra- Silva, o Amapá foi o segundo Estado a aprovar a
dação que ela representa. Em lugar de uma nova legislação após a Conferência do Rio. Qualquer tri-
postura política, o governo federal continuava bunal pode se ancorar nesta lei estadual, na ausên-
apoiando projetos impactantes como cia de legislação federal. Para o Governo do
«bovinizar» o Acre, inundar florestas no Amazonas Estado, que procurava uma nova base econômica,
e no Pará com a construção de hidrelétricas ou des- a aprovação daquela lei tornou-se uma garantia às
matar Roraima e Rondônia para plantar soja, mas a empresas que investem em produtos derivados da
Amazônia demanda uma política para a castanha, o biodiversidade. Institucionalizou-se também um
açaí, a borracha, o cupuaçu, a madeira de lei e outro mecanismo, o Fundo para o
outras espécies de nossa rica diversidade, provavel- Desenvolvimento Sustentável (FUNDES), cujos
mente menos dispendiosa que a dos usineiros do recursos são constituídos dos dividendos e dos
Nordeste, para os quais o governo federal acaba de benefícios dos produtos naturais e a Agência de
liberar R$ 1,3 bilhão» Desenvolvimento do Estado (ADAP).
Apesar do discurso de apoio do Presidente, a sua O estímulo ao ecoturismo e a inclusão de empresas
concretização se mede sobretudo pelos recursos privadas no programa; a elaboração de diretrizes
enviados, procedimento praticamente inexistente de uma política de gestão dos produtos madeireiros
visto as reduzidíssimas transferências federais no da floresta; a inserção dos impactos sociais das ati-
primeiro mandato do governador Capiberibe (1995- vidades econômicas; a prioridade dada a projetos
1998). Entre todos os Estados brasileiros, o Amapá baseados na ação comunitária e no aproveitamento
foi o Estado que recebeu o menor valor (MOULIN, dos conhecimentos culturais, no desenvolvimento
2000:35). Um certo reconhecimento do governo humano foram as inclusões no programa de gover-
federal, a respeito do esforço local, somente ocor- no, no seu segundo mandato.
reu no segundo mandato. Esta ambiência mais No entanto, os obstáculos só aumentaram continua-
favorável resulta de uma nova dinâmica política mente. Para o governador (CAPIBERIBE, 1999;
regional: não apenas o Amapá mantém os princí- MOULIN, 2000) os maiores obstáculos surgiram
pios de modelos sustentáveis no seu PDSA, mas os no momento de definir a atribuição dos benefícios
aprofunda, e os mesmos princípios fazem a base da da exploração dos recursos naturais à população
opção política feita no Acre, no mandato de Jorge local. Exemplo desta dificuldade, foi a renegocia-
Viana. ção das condições do acordo com a Champion para
Evidentemente, um mandato de governo é insufi- produção de papel e de celulose: inicialmente uma
ciente para consolidar quaisquer alterações pois, se produção unicamente para exportação, foi alterada
políticas fomentam visões e representam mudan- em função do debate generalizado na sociedade
ças na forma de gerenciar, ela só produzirá resulta- local e o apoio da opinião internacional. Ao final,
dos concretos a médio e longo prazo. O caminho é em 100.000 hectares para produção de exportação,
longo e cheio de obstáculos. Entre o desenvolvi- uma parcela (27.000 ha) foi destinada às indústrias
mento do conhecimento científico e de tecnologia locais do mobiliário e da construção civil, além do
para poder aproveitar os recursos naturais exis- compromisso da empresa em investir na construção
tentes sem desperdício e ampliar seus benefícios à de uma escola e na formação da mão-de-obra local.
maioria da população; entre a descoberta, o regis- Outros obstáculos são de ordem política, no proces-
tro da patente de um novo produto à sua produção so de negociação com as comunidades, quando
em grande escala; entre uma nova base econômica estas ainda não estavam interessadas e convencidas
e a redistribuição local dos seus benefícios, haverá do programa de governo, como também com as
um prazo consideravelmente longo. estratégias das políticas nacionais como a de assen-
Entretanto, no Amapá alguns passos já foram tamentos agrários.

202
A oposição das antigas oligarquias exemplificar, ao abordar a questão pelo ângulo dos
As antigas oligarquias locais impuseram obstáculos impactos econômicos, sociais e ambientais e ao
que transformaram-se em duras críticas e em ações considerar um vácuo entre a existência de recursos
de “impeachment” ao governador, junto ao naturais no Estado e uma qualidade de vida precá-
Judiciário estadual. Os reflexos políticos destes ria:
processos ecoaram, não somente no país, mas tam- “Aindústria de que dispomos representa apenas dez
bém no exterior.A imprensa nacional procurou cha- por cento da renda do Estado, talvez até menos.
mar a atenção, fazendo um balanço da situação, Ainda somos incipientes, industrialmente falando.
conforme O Estado de São Paulo, de 23 de outubro Quem assumir a próxima administração estadual,
de 2000: claro que dependerá de pelo menos três anos para
“ Os enormes obstáculos enfrentados por um chefe analisar e aprovar os projetos industriais que lhe
do Executivo que se dispõe a modernizar o seu serão apresentados. No entanto, as iniciativas
Estado, contrariando os interesses de oligarquias podem ser apressadas de forma paralela aos inter-
consolidadas … […] Capiberibe, que foi reeleito esses do tal desenvolvimento sustentável aplicado
nas últimas eleições e hoje conta com um índice de pelo governo. Atual governo que nada produz, em
popularidade de 70%, ousou enfrentar simultanea- nome da defesa da natureza, mas deixa em seu
mente o crime organizado e os interesses corporati- exercício a cobertura florestal amapaense ser
vos da Assembléia e do Judiciário local. Nessas devastada em percentual maior do que quando a
condições, e tendo em vista os viciados costumes encontrou— o Instituto Nacional de Pesquisas
políticos do Amapá, não é de se estranhar que o Espaciais descobriu que a floresta do Amapá está
governador esteja enfrentando mais um processo de devastada já em 5%, não mais em 2%. Quem usu-
impeachment. Desta vez,a acusação repete a ante- frui desta devastação? Uma coisa é certa: não é o
rior, de que o governador teria aplicado verbas do povo amapaense…”
Fundef para pagar a segurança nas escolas. No O desagrados ecoaram também fora do Estado. O
Amapá, a Assembléia recorre a expedientes escu- Editorial do Estado de São Paulo, de 23 de outubro
sos, já repelidos uma vez pelo Supremo Tribunal de 2000 destaca :
Federal, para promover o processo de cassação do “No período em que Capiberibe governa o Estado,
governador ”. nenhuma indústria se instalou por aqui; nenhum
O processo de “impeachment” se repetiu duas grande empresário do setor comercial abriu filial no
vezes, criou um “vácuo” institucional, obrigando o Estado; nenhum agricultor conseguiu mais que a
governador a encontrar, e utilizar, mecanismos simples sobrevivência — isto quando a consegue; a
legais para sua defesa e para continuar governando. Área de Livre Comércio, de Macapá e Santana,
Evidentemente políticas como estas, rompem com entrou em franco declínio; o turismo não se desen-
a continuidade do processo anterior e são motivos volveu conforme prometido; o PDSA é um retum-
de questionamento. Opiniões contraditórias se bante fracasso; a saúde pública é um caos e a segu-
difundem pelos meios de comunicações no país. Há rança só a tem quem pode pagar guardas armados
setores realmente refratários à estas correntes e a para acompanhá-los dia e noite ou goza das
estas duas políticas estaduais; elas são destoantes benesses governamentais, com direito à segurança
por evocar um desenvolvimento sustentável, por fardada para protegê-los diuturnamente. Só o que
terem sido erigidas sobre estes pilares e por serem não temos é um governador realmente preocupado
diferenciadas, tanto da nacional como dos outros com o nosso desenvolvimento, uma vez que sua
estados amazônicos. preocupação maior continua sendo a política
O desagrado da elite local fez desencadear fortes menor”.
críticas à política implementada no Amapá, mesmo A Política de Desenvolvimento Sustentável dos
com o aumento da popularidade do governador e da Povos da Floresta
aprovação pelas comunidades extrativistas, ressal- Outro exemplo, a política estadual do Acre, em
tando uma posição contraria. O Editorial do Diário implantação depois da eleição do governador Jorge
do Amapá, de 23 de julho de 2001, nos serve para Viana. Antigo prefeito de Xapuri e companheiro de

203
Chico Mendes forma, junto com a senadora Marina a lentidão do governo e sua pouca condição polí-
Silva e com o Conselho Nacional dos Seringueiros, tica de contratar recursos internacionais anterior-
uma nova e grande força política no extremo oeste mente negociados - um projeto de US$ 240
do país. Ao ser eleito optou por investir em um milhões com o Banco Interamericano do
modelo que beneficia suas populações tradicionais Desenvolvimento - assim como a necessidade de
e seus ecossistemas florestais. Desenhada como investir no desenvolvimento do Estado, em esta-
uma política voltada para os povos da floresta, o belecer uma economia de base industrial, um
governo do Acre pautou seu programa na experi- comércio dinâmico e superar o extrativismo pri-
mentação e difusão das possibilidades de aproveita- mitivo e a pecuária estagnada. Em 03 fevereiro
mento da floresta, ampliando para o conjunto do 2000, o jornal Rio Branco destacava em seu edi-
Estado o modelo das experiências iniciadas duran- torial:
te seu mandato em Xapuri. Alicerçando-se em dois «A rigor, pelos baixos indicadores econômicos e
instrumentos técnicos, o zoneamento ecológico- sociais, até agora o propalado desenvolvimento
econômico e o manejo florestal múltiplo, como ele- sustentável não aconteceu. Não passa de uma qui-
mentos básicos para subsidiar as decisões de gover- mera. O Estado continua dependendo em quase
no, valorizou instituições como a Secretaria de 90% dos repasses do governo federal, sem produ-
Meio Ambiente e a FUNTAC. zir nada de significativo. [;] O que se constata é
Entretanto, o mesmo caminho de oposição e de que, apesar da “auréola ecológica” que vem
enfrentamento com as oligarquias locais, propagam coroando este Estado há décadas, o Acre está
constantemente posicionamentos contrários em ficando na poeira e na rabeira no concerto dos
oposição à política de sustentabilidade no Acre. As Estados da região Norte. Estados como Rondônia,
dificuldades que esta política também vem enfren- Amazonas, Amapá vão encontrando seus rumos
tando, são relatadas constantemente nos jornais através da agricultura mecanizada, da agroindús-
locais e, eventualmente, em alguns nacionais e tria, do ecoturismo. Corrigiram o que tinha que
regionais. ser corrigido, os órgãos de fiscalização ambiental
Idelfonso de Sousa MENEZES, que se identifica estão presentes, para evitar os abusos. O que não
como advogado do povo, utiliza constantemente tem sentido ou graça é o Acre manter 90% de sua
os jornais locais para expressar sua contrariedade floresta, sem explorá-la, racionalmente, com um
com o estilo de desenvolvimento escolhido, povo cada vez mais faminto, mais miserável”.
considerando ser a pressão internacional e a O que até agora as políticas públicas não foram
história de Chico Mendes que forçam os governos capazes de fazer foi romper com o discurso e a
a manterem florestas no lugar de uma agricultura condição de que meio ambiente é problema e
que gerasse empregos. Para ele, o «congelamen- torná-lo uma condição de desenvolvimento. Até
to» do desenvolvimento do Estado está configura- agora, os planejamentos reproduzem paradoxos,
do nos 2/3 do território do Estado em Reservas da embora argumentando terem inserido a dimensão
União e no impedimento legal, também sobre ter- ambiental em seus diagnósticos e prognósticos.
ras privadas, de desmatar mais que 20%. Em 22 Os compromissos políticos do governo federal, na
de setembro de 2000 escreve no O Rio Branco : Região, continuam a ser conduzidos de acordo
«Urge cultivar mais a terra e cultuar menos a flo- com a política de integração continental. Neste
resta que, no Acre, tem mais governo que o Povo. contexto, também os meios de comunicação pro-
Desmatar terras agricultáveis para plantar não é curam chamar a atenção de que se os novos com-
devastar! E uma benção do verdadeiro Deus, promissos forem realizados nos métodos arcai-
quiçá gerando até mais de 40 mil empregos ao cos, a Amazônia continuará a constituir-se num
Povo. É insustentável desenvolvimento “sustentá- problema, no símbolo da degradação e da incapa-
vel” que prescinda da utilização dos recursos cidade do país de gerir este imenso território, com
naturais. É impensável a persistência do sacrifício toda a complexidade que lhe é peculiar.
de desenvolvimento social ao Povo!” Para parcela da sociedade acreana, no entanto, o
Outro discurso procurou apontar a incapacidade, compromisso de asfaltar as estradas pode signifi-

204
car a redenção econômica do Estado, segundo 5. Novos produtos, novos setores econô-
modelo de os outros Estados amazônicos. Muitos micos
a rgumentos já incorporam a necessidade de
desenvolver com tecnologia para não degradar o O novo setor emergente, dos eco-negócios, parte da
meio ambiente, mas, o argumento que alicerça premissa que o meio ambiente, seus elementos
todo o pensamento é ainda a reprodução do mode- biológicos e vegetais, constituem-se em uma nova
lo atual, pautado na exportação e na agricultura. fonte de recursos a serem exploradas. Foi assim que
O jornal Página 20, em seu editorial de 05 de o negociador brasileiro na preparação da
julho de 2001 incita ao questionamento: Conferência do Rio; embaixador Marcos C.
“O que esperar das duas rodovias depois de asfal- Azambuja25 já se exprimia: “Meio ambiente é negócios.
A convenção da biodiversidade representa o futuro; a de flo-
tadas? Primeiro, é desempenhar o papel de inte-
restas o passado…”
gração, principalmente a BR-364, que rasga o A inserção da região amazônica na economia-
Estado de cima abaixo. […] A outra expectativa, mundo, provavelmente, se dará por meio de certifi-
a BR-317, é a do futuro desta terra. Pronta esta cações de seus produtos primários, na gestão
via, o que escoar por ela para garantir nosso pro- empresarial por meio da adequação às normas da
gresso? Por enquanto, não muita coisa, apesar da ISO 14001, do controle da qualidade ambiental, da
nossa vocação ser agrícola. A c a n h a d a m e n t e união biodiversidade – bioindústria e do estabeleci-
exportamos 200 toneladas de milho para o Peru, mento de mecanismos de controle da biopirataria
mas precisamos de fôlego maior à agricultura, em suas fronteiras: por meio da criação de um setor
detonando o processo de mecanização agrícola, de produtos verdes. Isso significa que as possibili-
como faz a iniciativa privada no Acre. Portanto, o dades de investimentos serão predominantemente
próximo governo terá que buscar na agricultura a privados, unindo empresas nacionais a capitais de
redenção do Acre, ou ficaremos à beira do asfalto origem externa.
vendo apenas as carretas passarem de outros O caráter mais científico que sobressai dos discur-
Estados carregadas para o Pacífico. Seríamos sos acerca de novos negócios tem encontrado base
apenas um corredor de exportação, como em estudos detalhados que abordam as perspectivas
Singapura, olhando o desenvolvimento passar. de desenvolvimento. Existem já diversos tipos de
Para reverter o subdesenvolvimento de um sécu- zoneamentos mostrando áreas de concentração de
lo, no médio prazo, o Acre teria que buscar uma recursos. Ás vezes esses zoneamentos são feitos
produção agrícola acima dos quatro dígitos, como com objetivos de destacar um ou outro recurso
atinge hoje Rondônia, que exporta para alguns natural: toma-se como exemplo os zoneamentos
países dos Andes mais de duas mil toneladas de agroecológico ou florestal já realizados. Pode-se
grãos. O caminho é esse, irmos aos encontro da também apoiar-se sobre uma abordagem ligada às
nossa vocação: plantar, mas com tecnologia”. interações bioculturais e etnológicas. MORAN
Apesar de serem os menores Estados, no conjun- (1996) e KAHN (1996) sintetizam perspectivas de
to da Região amazônica, esses dois governos, desenvolvimento e aproveitamento de recursos de
Amapá e Acre, optaram por adotar políticas dife- alto potencial alimentar segundo o conhecimento
rentes que beneficiam os segmentos sociais tradi- das populações indígenas e as possibilidades das
cionalmente marginalizados e investimentos em palmeiras amazônicas.
novos negócios baseados nos produtos locais.
Eles têm sido importantes aliados no debate a
respeito do modelo de desenvolvimento para a As fragilidades
Amazônia. No entanto, a estrutura institucional ambiental não
Evidentemente ainda são experiências reduzidas esta preparada para acompanhar e monitorar esse
que necessitam de ter sua base tecnológica processo. O setor de ciência e tecnologia parece
ampliada, ao mesmo tempo em que precisam estar um pouco mais avançado ao propor platafor-
encontrar formas de aumentar os ganhos dessas mas tecnológicas para a Região. Será certamente
populações tradicionais. um processo para o qual o investimento em ciência

205
Tabela n° 2 - Palmeiras de alto potencial alimentar na bacia amazônica

Espécie Produtos População e habitat Repartição geográfica

Bactris gasipaes Caroço, fruto e óleo Cultivadas sobre terras Sobre todo o conjunto da
firmes (acrisol) e sobre solos bacia
aluviais (fluvisol)
Elaeis oleifera Óleo População densa mas espar- Sobre toda a bacia
sa, em florestas de várzea
Euterpe precatoria Caroço e óleo População densa em florestas Região oriental
de várzea (gleysol, histosol),
solos aluviais (fluvisol),
sobre influência antrópica
Euterpe precatoria Caroço e óleo População densa em florestas Região central e ocidental
de várzea de bas-fonds (gley-
sol), solos aluviais (fluvisol)
sobre influência antrópica
Jessenia bataua Fruto e óleo População densa, em flores- Sobre todo o conjunto da
tas de várzea de bas-fonds bacia
(gleysol), em florestas sobre
areais brancas hidromórficas Sobre todo o conjunto da
(podzol gleyique), florestas bacia
de terra firme sobre solo bem
drenados (piemont andino e
Guyane)
Maritia flexuosa Fruto, amido, larvas de População muito densa den- Sul da região oriental
coleópteros tro de várzeas (gleysol, his-
tosol)
Orbignya phalerata Óleo População densa em meio
desflorestado

Fonte: Kahn, p 263 in Unesco (1996).


e tecnologia é vital e certamente deve contar com a apenas internamente no governo.
contribuição da cooperação externa, considerando FONSECA (1999) avalia que apesar da populariza-
o nível de desenvolvimento tecnológico dos países ção do debate acerca da biodiversidade, e de seu
do Norte. uso, o mesmo se desenvolvia na órbita da socieda-
A exploração dos recursos ambientais passou a ser de e não dentro dela, fato que contribuiu para a
tema de conhecimento público e cresceu significa- confusão que se propagou em função das imagens
tivamente desde meados da década, quando da pre- de que a biopirataria continuava a aumentar: até a
paração da Convenção de Biodiversidade e o remessa de pequenas amostras para estudos cientí-
momento atual é de pressões por bio-negócios. ficos foram criticadas, mas ao mesmo tempo eram
Reforça-se assim a incapacidade governamental de exigidos incentivos governamentais para a comer-
dar respostas, enquanto laboratórios e indústrias cialização dos recursos da biota e para o incremen-
dos países ricos se beneficiavam da biodiversidade to da cooperação científica internacional.
brasileira, através da pirataria biológica, um dos O quadro é mais complexo ainda porque se desen-
mais fortes aspectos indutores da discussão na volve dentro de uma realidade que coloca de um
Conferência de Haia (7 a 19 de abril de 2002). lado os países ricos em tecnologia e pobres em bio-
Nesse contexto, os acordos de bioprospecção e a diversidade, e do outro os países do sul pobres em
ação de quaisquer cientistas estrangeiros, dentro do tecnologia e ricos em diversidade biológica e que
país, passaram a ser duramente criticados, trazendo representa sobretudo uma síntese da perspectiva de
a público questões que normalmente se discutiam lucros da bioindústria. Com os olhos na possibili-

206
dade de riqueza futura, os países do sul incentivam KAGEYAMA e LEPSCH-CUNHA (2001) identifi-
suas elites a discutirem mecanismos de controle cam na Floresta Atlântica e na Floresta Amazônica
sobre a movimentação de produtos biológicos atra- ocidental: regiões com alta biodiversidade, com
vés do Mundo, em contraposição aos países do alto nível de endemismo e grande pressão antrópi-
norte, à procura de organismos, genes e produtos ca, fato que reforça mais ainda a necessidade de
biológicos. Uma problemática de difícil solução, adoção imediata de metodologias para conservação
pois um produto ao ser adquirido deixa de ser pro- in situ, simultaneamente ao debate mais generaliza-
priedade dos países vendedores, passando a fazer do de métodos e de tipos de uso, que tem sido o
parte do patrimônio dos compradores que adquirem tema que ocupa a pauta nacional.
sobre eles o absoluto direito de propriedade: signi- SCHOLZE (2000) ao analisar a questão da proprie-
fica que eles podem mandar realizar análises dos dade e as oportunidades para a indústria biotec-
produtos e organismos adquiridos em qualquer nológica, considera que o patrimônio de biodiversi-
laboratório e usufruir dos resultados em benefício dade existente no país26 será a base da competitivi-
próprio. dade futura, mas que o país ainda precisa amadure-
Por outro lado, ressalta FONSECA(1999), para que cer no tratamento legal da questão e no desenvolvi-
essa megabiodiversidade brasileira se transforme mento tecnológico. Ela demonstra o quadro das
em negócios lucrativos e seja condição de desen- potencialidades de negócios que o pais pode
volvimento é necessário um investimento altíssimo conquistar, e aponta a necessidade de decisões e de
em ciência e tecnologia, que o Brasil não teria ações imediatas:
condições de suportar sozinho. Por isso sugeriu o a) a redução do consumo de agrotóxicos no
estabelecimento de uma rede mundial, de ciência e país (um mercado de mais de US$ 2
tecnologia, voltada para a construção de uma socie- bilhões anuais) se houver investimento
dade moderna, tecnologicamente sustentada no uso para o desenvolvimento de plantas geneti-
da biomassa. Considera impossível pensar em camente modificadas, mais resistentes a
desenvolver a Amazônia sem o apoio de grupos insetos, viroses e fungos fitopatogênicos,
internacionais de pesquisa, sem a troca de informa- Com isto atender-se-ia um mercado inter-
ções, sem a ajuda analítica de laboratórios com no significativo;
maior capacidade tecnológica, sem o treinamento b) Dos fármacos atualmente vendidos nos
de pessoal local. Entretanto, até que a capacidade EUA, estima-se que 25% sejam derivados
humana e tecnológica brasileira atinja um nível de plantas. O valor do mercado mundial de
capaz de processar os materiais biológicos, os mes- fármacos produzidos por meio de biotec-
mos teriam que ser enviados para o exterior, sob nologia é estimado em US$ 150 bilhões. O
convênios e acordos de cooperação interinstitucio- mercado mundial de fármacos, em 1994,
nal, legitimados pela comunidade científica, pelo chegou a US$ 345 bilhões, e estima-se que
governo e pela sociedade. cerca de 40% dos medicamentos receita-
Para ele, torna-se preciso mudar radicalmente o dos sejam derivados de recursos naturais.
nível de informação existente tanto na sociedade, c) Somente sete países (EUA, Japão,
como também no mundo cientifico, ou das institui- Inglaterra, Alemanha, Suíça, França e
ções, de maneira a se conscientizar que o progresso Itália) investem na área de fármacos,
científico é a única via para implementar um desen- aproximadamente, 80% dos investimentos
volvimento duradouro de base sustentável. E que, em pesquisa e desenvolvimento (P&D). A
isso não significa abrir mão do direito de proprie- maioria desses países concede incentivos
dade sobre o produto industrializado ou do direito fiscais para a indústria de base biotecnoló-
absoluto de propriedade das populações nativas, gica (EUA, Japão, Inglaterra, Alemanha,
sobre o conhecimento tradicional. França, Canadá, Taiwan e Austrália), valor
Apesar do imenso debate sobre a biodiversidade em que nos EUA pode chegar a 80% dos
geral, seus usos, sua conservação, o país continua investimentos empresariais em P&D em
mundialmente identificado por dois “hotspots”: biotecnologia, por meio da renúncia fiscal.

207
Em consequência, os investimentos priva- necessárias, destarte também os riscos. As expe-
dos em P&D dobraram de 1980 a 1986, riências-piloto impulsionadas com as doações do
alcançando cerca de US$ 60 bilhões no PPG-7 demonstraram crescimento deste modelo em
período. Adicionalmente aos investimen- pequenas áreas, e, ha grande demanda atualmente
tos privados e à renúncia fiscal, apenas em pela sua incorporação nos mecanismos de financia-
1990, o governo federal dos EUA investiu mento das políticas publicas.
cerca de US$ 3,5 bilhões em P&D em bio- Medidas de políticas tributárias como a criação do
tecnologia. ICMS ecológico (parcela do imposto estadual sobre
d) Em termos de estrutura e dimensão, os a circulação de mercadorias e serviços seria desti-
Estados Unidos dispõem da maior e mais nado aos municípios que tenham áreas de proteção,
diversificada indústria biotecnológica. A tendo sido Minas Gerais o primeiro Estado a adotá-
Ernst & Young estima que há mais de lo desde 1995) e incentivos econômicos a municí-
1.300 empresas de biotecnologia nos pios que investem no saneamento poderiam ser
Estados Unidos e aproximadamente 500 experimentados na Amazônia. Para ele, enquanto o
na Europa, sendo um terço delas localiza- sistema usuário-poluidor-pagador é antipático em
da na Inglaterra. países ou regiões pobres, o sistema protetor-recebe-
e) Cerca de 70% das empresas norte-ameri- dor poderia ser mais produtivo, com resultados
canas atuam na área da saúde e 8% na área mais concretos: aqueles que limpassem ou prote-
agrícola; 16% das européias estão envolvi- gessem os recursos naturais receberiam benefícios
das em pesquisa agrícola e 20% em quími- e os que continuassem prejudicando perderiam din-
ca e aplicações ambientais, contra 9% das heiro em relação àqueles que o protegem. Um sis-
norte-americanas. tema decrescente de benefícios à medida da adoção
Produto Amazônia? de tecnologias ambientalmente mais limpas.
Outra dimensão está relacionada com os produtos
HOMMA, pesquisador da EMBRAPA-CPATU, verdes da Amazônia. Os consumidores dos produ-
constantemente expressa idéias e proposições de tos verdes precisam estar bem informados de que
alternativas produtivas para a Região. Homma não ao adquirirem determinado produto, da Amazônia,
apenas tem procurado divulgar suas proposições no estarão contribuindo positivamente para salvar o
meio acadêmico e científico, mas em diversas opor- meio ambiente. Seria o governo em colaboração
tunidades, entre 1999 e 2001, decidiu expô-las em com outras agências privadas e ONG a divulgar tais
linguagem mais popular utilizando-se de jornais, informações.
revistas ou periódicos. Na Gazeta Mercantil do Os produtos verdes, na atual conjuntura, apresen-
Pará, em 13 de maio de 1999 analisou três conjun- tam-se disponíveis em pequena quantidade, com
tos estruturadores do que poderia ser constituído preços elevados e ocupando nichos de mercados.
um “produto Amazônia”. Considera a necessidade Se existir mercado, o alto preço pode induzir novos
de reestruturar o mercado para que produtos ou ser- processos visando a sua democratização e alterando
viços ambientais sejam valorizados, mas considera esse mercado cativo. Se os produtos verdes forem
que a privatização dos mesmos seria possível abordados dentro do conceito de mercado condu-
somente se o Brasil dispusesse de uma classe média zirão ao bem-estar da sociedade pela modificação
capaz e disposta a pagar pelo sistema, como ocorre nos padrões de produção e consumo e pela preser-
nos Estados Unidos. Considera indicadores da vação e conservação dos recursos naturais.
mudança o recente crescimento do turismo rural e Joelzio Bahia, químico industrial, procurou tam-
de fazendas “pesque e pague” no Sul do país. bém dar demonstrações de oportunidades de negó-
FEARNSIDE (1989, 1998) alertava para a necessi- cios para os recursos amazônicos e em que alterna-
dade de investimentos em pesquisas para sustentar tivas poderiam ser aproveitados. Na Gazeta
possibilidades de novas formas de aproveitamento Mercantil do Pará, dos dias 19 e 21 de abril de
e o desenvolvimento de sistemas experimentais de 1999, ele analisa a situação, esclarecendo que
produção, especialmente o manejo agro-florestal, mesmo considerando que o neo-extrativismo não
analisando passo a passo as condições existentes e
208
209
seria o único modelo para o desenvolvimento da saltado, ao mesmo tempo em que a sociedade exige
economia regional, se investimentos fossem dire- posicionamento do governo no controle, exige tam-
cionados para diversas atividades econômicas, bém ações para o aproveitamento da biodiversida-
baseadas nos produtos extrativos existentes na flo- de, mesmo que ainda não existam todos os instru-
resta amazônica criar-se-ia um novo modelo de mentos de controle previstos, nem uma legislação
extrativismo, pautando-se sobre melhores condi- que sirva de parâmetro para ordenar a exploração e
ções infra-estruturais que não existiam no passado. o aproveitamento. O Centro de Biotecnologia de
«O levantamento preliminar do inventário florestal Manaus, poderá servir de exemplo ao associar pes-
das espécies botânicas - realizado em algumas quisadores mundiais no desenvolvimento do conhe-
reservas pelo IBAMA - e o estudo do impacto cimento e do seu aproveitamento enquadrando-se
ambiental, vem mostrar as melhores opções para como uma atividade experimental dos governos
implantação de imediatos projetos de pesquisas federal, estadual e municipal.
sobre as substâncias de interesse industrial e medi- Perspectivas totalmente inovadoras abrem-se, por-
cinal. Investindo-se por exemplo na fitoquímica, ou tanto, para o «produto Amazônia». Um mercado
seja, na manipulação das plantas e nos métodos de que está se diversificando, com o uso de insumos
bio-processamento, novos fármacos, pesticidas bio- naturais provenientes das Florestas Tropicais, origi-
degradáveis, fibras, alimentos, óleos, essências, nando produtos medicinais, cosméticos, suplemen-
corantes, resinas, serão identificados, garantindo a tos nutricionais, produtos agrícolas ou de higiene
médio prazo o êxito na investigação desses produ- pessoal. Só o setor de higiene pessoal, atingiu a
tos nas reservas florestais e extrativistas. […] O marca dos US$ 12 bilhões de faturamento nacional,
neo-extrativismo não é utopia. Os investimentos no em 1999, e já representa 17% do mercado mundial.
plano internacional apresentam novas possibili-
dades para os diversos setores industriais decor-
rentes da variedade de produtos, especialmente nas
áreas de saúde, agricultura e especialidades quími-
cas. O processamento industrial dos produtos obti-
dos dos recursos naturais e a sua comercialização
em forma final para o varejo, afiançam o êxito
desse novo modelo de desenvolvimento da região».
A título de exemplos, Joelzio Bahia relaciona que a
domesticação de espécies valiosas poderão ser
exploradas, entre outros usos, no mercado de ali-
mentos, de cosméticos, de óleos: i) nos encostos e
assentos dos veículos automotivos, as fibras de
curauá, de grande durabilidade e resistência27; ii)
nos óleos (tucumã, curuá, urucurí, pirirema e de
outras palmeiras); iii) no mercado alimentício
(buriti, tucumã, pupunha, açaí, muru-muru,
patauá); iv) no mercado de cosméticos (sebo de
ucuuba, a cera de jabotí, o óleo de palma do
tucumã) no fabrico de sabonetes finos e essências
diversas (louro, cânfora e pilocarpina - extraída do
jaborandí – uma planta já explorada pela MERCK).
Mas, de fato, enquanto a exploração de produtos
naturais torna-se um tema de domínio público,
alguns projetos experimentais tem sido realizado
pelo governo federal provocando também polêmi-
cas. No entanto, como o diretor do INPA havia res-

210
Notas renováveis e dos processos ecológicos, mantendo a biodiver-
sidade e os demais atributos ecológicos, de forma socialmen-
1 No exercício da presidência do G-77, a aliança e interlocu- te justa e economicamente viável. O objetivo básico das
tor para o conjunto dos países pobres. Unidades de Proteção Integral é preservar a natureza, sendo
2 Na Constituição são os artigos 23 e 24 que tratam desta pro- admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais
blemática. Os mesmos deveriam ter sido regulamentados em (com algumas poucas exceções previstas em Lei) e o das
lei complementar e deveriam alterar a competência privada da Unidades de Uso Sustentável é compatibilizar a conservação
União. da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recur-
3 «Nouveaux acteurs, nouveaux territoires dans la mondialisa- sos naturais. O grupo das Unidades de Proteção Integral é
tion» Chaleard, Jean-Louis, Gérvais-Lambony, Philippe et composto pelas seguintes categorias de unidade de conserva-
Mesclier, Evelyn in Séminaire Annuel «Territoires et mondia- ção: I - Estação Ecológica; II - Reserva Biológica; III - Parque
lisation», ENS/IRD. Paris, décembre, 2001. Nacional; IV - Monumento Natural e V - Refúgio de Vida
4 É possível verificar o crescimento dos empréstimos e/ou Silvestre. Já no Grupo das Unidades de Uso Sustentável
doações atribuídas a estes projetos: PNMA, US$ 180 milhões; encontram-se: I - Área de Proteção Ambiental; II - Área de
FNMA, US$ 120 milhões; PPG-7, US$ 250 milhões; Funbio, Relevante Interesse Ecológico; III - Floresta Nacional; IV -
US$ 50 milhões; Proecotur, US$ 240 milhões; Probem, US$ Reserva Extrativista; V - Reserva de Fauna; VI - Reserva de
210 milhões; Expansão Áreas de Conservação, US$ 270 Desenvolvimento Sustentável; e VII - Reserva Particular do
milhões. A abertura de financiamentos para projetos ambien- Patrimônio Natural.
tais data de início dos anos 1990. 8, Elizabeth Manning – United Press International: ABC-
5 Esta campanha foi lançada mundialmente, em 1995, pelo NEWS, 30/04/1998.
WWF com o apoio da IUCN e tinha como meta para o ano 9.Elizabeth Manning, United Press International: ABC-

2000, a proteção de 10% de todos os biomas florestais e a cer- NEWS, 30/04/1998.


tificação de 10 milhões de hectares de florestas. Em 1997, a http://www.abcnews.com:80/sections/science/DailyNews/am
parceria com o Banco Mundial resulta em um novo programa azon980429.html.
– Aliança para a Floresta, amplia estas metas para 50 milhões 10 Para maior aprofundamento deste tema, o artigo de Dora

de florestas protegidas e 200 milhões de hectares certificados Ann Lange Canhos & Vanderlei Perez Canhos, in Garay, Irene
no mundo até o ano de 2005. Em 29 de abril de 1998, o Brasil e Dias, Bráulio (2001): Conservação da Biodiversidade em
entra na campanha, depois de um anúncio, em Londres, em Ecossistemas Tropicais. Editora Vozes.
dezembro 1997. Nesta data, outros 21 países já haviam se 11 Embora reconhecendo que existem ainda inúmeros obstá-

engajado (Argentina, Armênia, Austrália, Áustria, Bolívia, culos a superar, tanto de existência de infra-estrutura básica
Canadá, Chile, China, Colômbia, Grécia, Lituânia, Malawi, (linhas telefônicas, rede elétrica, etc.) legislação relacionada
Moçambique, Nova Zelândia, Nicarágua, Romênia, Sakha, ao livre acesso à informação e, sobretudo, à necessidade de
República Eslovaca, Tunísia, Uzbequistão, Vietnã). formação e capacitação para que o uso das mesmas seja de
6 O governo anunciou que, em conjunto com a WWF e o fato democrático e abrangente, o crescimento atual na partici-
Banco Mundial, gastaria US$ 720,000 entre abril e outubro de pação de pesquisadores e cientistas brasileiros no fluxo de
1998 para identificar as áreas de floresta que necessitariam de informação para a América Latina é bastante representativo,
proteção e o BIRD iria providenciar pelo menos US$ 45 sendo um dos cinco países que contribuem com 80% da pro-
milhões para a criação de parques. Laurie Goering, Tribune dução regional. O programa sistemas locais de inovação,
Foreign Correspondent, Chicago Tribune, NationWorld, visando fomentar o desenvolvimento científico e tecnológico
30/04/1998. regional na Amazônia destinou recursos no montante aproxi-
http://www.chicago.tribune.com/news/nationworld/article/0,1 mado de R$ 25 milhões e ao mesmo tempo a região deverá ser
051,SAV-980430011300.html. também beneficiada com melhoramentos da rede nacional de
7 Segundo a Lei que aprovou o Sistema Nacional de Unidades pesquisa II, atividade do programa sociedade da informação.
de Conservação (projeto de lei n° 27, aprovado em 21 de 12 Embora no documento de subsídios conceituais para a ela-

junho de 2000), UNIDADE DE CONSERVAÇÃO é o espaço boração do Projeto tenha se referido à seleção de novas áreas
territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas juris- tomando como referência os ZEE estaduais (PGAI do PPG-
dicionais, com características naturais relevantes, legalmente 7), complementados por análises de representatividade de pai-
instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação sagens nas ecorregiões, o documento de projeto, ao fazer a
e limites definidos, sob regime especial de administração, ao avaliação das metodologias para seleção de áreas para criação
qual se aplicam garantias adequadas de proteção. Elas devem de UC, descarta a utilização desses ZEE demonstrando as
ser criadas por ato do Poder Executivo. As unidades de principais razões da inviabilização da utilização dos mesmos:
conservação integrantes do SNUC dividem-se em dois gru- “são o espaço limitado de suas abrangências territoriais e a
pos, com características específicas: I - Unidades de Proteção falta de uniformidade metodológica desses ZEE” (BRASIL,
Integral, visando a manutenção dos ecossistemas livres de 2000c: 15).
alterações causadas por interferência humana, admitido ape-
nas o uso indireto dos seus atributos naturais; II - Unidades de 13 Este tipo de projeto, originado com base no conceito de
Uso Sustentável - que visa a exploração do ambiente de Reservas da Biosfera, mas consideravelmente ampliado,
maneira a garantir a perenidade dos recursos ambientais representam hoje a vanguarda em termos de manejo de áreas:

211
substituiu ações e atos restritivos e oferece às comunidades os localizado no Distrito Industrial de Manaus (AM).
benefícios do acesso aos recursos naturais tanto para sua sub - 21 Decreto do Governo do Estado Amapá, datado de 14 de

sistência como fonte de renda, reduzindo a pressão sobre as agosto de 1995.


áreas protegidas, associada a um programa de educação 22 O Laboratório de tratamento de dados geográficos do

ambiental. Com 3 tipos de estratégias para tratamento das Instituto de Estudos e Pesquisas do Amapá (IEPA) realizou
demandas das populações envolventes: a) reforço da fiscali- durante o primeiro mandato o (macro)zoneamento ecológico-
zação associado à criação de buffer zones, cujos limites e usos econômico do Estado, em escala 1:1 000 000 que, ao permitir
são negociados com a comunidade local; b) compensação das a análise integrada da dinâmica natural e sócio-econômica do
perdas sócio-econômicas impostas pela UC à comunidade Estado, serviu como referência a elaboração dos projetos de
local, via projetos na comunidade; c) implantação de projetos uso de recursos naturais a médio e longo prazo. Um trabalho
de desenvolvimento nas comunidades envolventes com ênfa- extremamente lento em relação a necessidade de tomar
se para potencializar o manejo mais produtivo e mais conser- decisões de curto prazo se pretende-se vê-las implantadas
vacionista dos recursos disponíveis fora das áreas protegidas. durante seu próprio mandato. Já analisado nos capítulos dois
Brandon e Wells (1992) «apud» Kitamura (2001:106) e cinco (Nossa Natureza e ZEE-PPG-7), a definição e escolha
14 Ratificação nacional por meio do Decreto Legislativo 2-94. da metodologia de zoneamento ecológico-econômico tem
15 Realizada entre os dias 7 e 19 de abril de 2002, tratou de sido uma das maiores controvérsias acerca de instrumentos
alternativas que visam a execução de um regime internacional técnicos que podem ser utilizados para o planejamento e para
que possa garantir meios de reduzir a biopirataria, conside- a gestão ambiental.
rando que o único avanço, depois da assinatura da convenção, 23 O próprio governador se considera entre as pessoas que

foi a adoção do protocolo sobre biosegurança, em 2000. Antes foram influenciadas pelas idéias de Chico Mendes. Por isso,
desta Conferência, os doze países que concentram cerca de para quem teve uma experiência fundamentada na organiza-
70% da biodiversidade mundial em seus territórios (África do ção e de valorização da produção de pequenos agricultores,
Sul, Brasil, China, Colômbia, Costa Rica, Equador, Índia, cuja base estava centrada no processo que envolve da planta-
Indonésia, Kenya, México, Peru, Venezuela), assinaram a ção à distribuição, à criação de renda: “desmatar, ocupar, pro-
«declaração de Cancun» recorrendo ao «principio de precau- duzir sem levar em conta a durabilidade. Minha preocupação
ção» demandando a criação de um fundo internacional, a maior era o desenvolvimento local, o valor agregado, a cria-
modificação dos direitos de patentes, a articulação com a ção de renda, etc. Eu jamais me preocupei com a utilização da
OMC. floresta” (Moulin, 2000:21). Descobrir um novo posiciona-
16 Inúmeras iniciativas foram e continuam sendo desenvolvi- mento e mudar de conduta é questão de aprendizagem, de
das pelo Ministério do Meio Ambiente visando cumprir os interesse pelos estudos destes novos conceitos e sobretudo,
compromissos assumidos junto aos mecanismos internacio- decisão de mudar. Em sua história de vida o governador rela-
nais da Convenção de Biodiversidade. Estes compromissos ta o seu ponto de inflexão: 1989-1990, com a desorientação
foram extremamente valiosos para o aprofundamento e apri- gerada pela queda do muro de Berlim, a queda do socialismo
moramento técnico-científico e institucional no contexto e dos principais ideais socialistas. É desta data o seu redire-
nacional. A elaboração de uma estratégia nacional da biodi- cionamento, após os primeiros contatos com organizações
versidade foi realizada em etapas regionais para convergir não-governamentais ambientalistas e também o início dos tra-
finalmente na nacional. Visando ampliar a participação de balhos com a questão indígena e com os castanheiros. Um
setores acadêmicos e não governamentais, estas últimas assu- grande passo na questão ambiental: de iniciante, em 1990 à
mindo coordenações regionais para a realização dos estudos e 1995, quando estabeleceu as linhas gerais de seu programa de
dos seminários (por exemplo, o ISA para a Amazônia; a SOS Governo, alicerçado na proposição de um novo modelo para
Mata Atlântica para a Mata Atlântica, etc.). o desenvolvimento do Amapá.
17 Trata-se do Diretor do INPA, Osório José Menezes 24 A escolha destes segmentos sociais para a política engen-

Fonseca. drada pelo governador Capiberibe está ancorada na própria


18 Trata-se da sistematização elaborada pelo projeto «análise e história de vida do governador. Para aprofundamento e mel-
monitoramento das políticas públicas, por meio do debate na hor compreensão, o livro “ Amapá, um norte para o Brasil”
imprensa brasileira», desenvolvido pelo Programa Amazônia (Moulin, Nilson: 2000) reúne as entrevistas realizadas por Rui
de Amigos da Terra, em parceria com o Grupo de Trabalho Xavier e Zuenir Ventura é recomendado.
Amazônico (GTA). O objetivo desse projeto, como o seu 25 Entrevista realizada em 17 de outubro de 2001.

nome indica, é o acompanhamento da divulgação de notícias 26 O Brasil encontra-se entre os 12 países de megadiversidade

e do debate acerca das políticas nacionais para a Amazônia. – aqueles que possuem cerca de 70% da diversidade biológi-
No capítulo 7 analisa-se, detalhadamente, os aspectos qualita- ca da Terra: Austrália, Colômbia, China, Equador, Índia,
tivos e quantitativos do debate. Indonésia, Madagascar, Malásia, México, Peru e Zaire e
19 A organização social Bioamazônia - Associação Brasileira detém entre 10% a 20% do número total de espécies do pla-
para o Uso Sustentável da Biodiversidade da Amazônia foi neta, subindo para 30% se incluírem-se as espécies vegetais.
qualificada através de Decreto Presidencial (19 de março de 27 Varias experiências foram desenvolvidas pelo projeto

1999) para auxiliar na execução do PROBEM. É uma insti- PROEZA, do NAEA/UFPA para a Mercedes-Benz, da
tuição de direito privado sem fins lucrativos. Alemanha, visando o aproveitamento de resíduos.
20 O Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA), que está

212
Terceira Parte - AAmazônia entre o global e o local

Cenários sobre o futuro da Amazônia são representativos de diferenciadas visões, normalmente contra-
ditórias, explicitadas em discursos, proposições, estratégias e ações. Ressaltam um território complexo,
aberto à influências da globalização e apontam tendências que se agravarão num futuro próximo.
Ressaltam cenários positivos, da inserção competitiva do país, salientam-se as vantagens e os potenciais
a serem explorados: os recursos genéticos ou recursos naturais, a prestação de serviços ambientais glo-
bais, como o sequestro de carbono e a importância de sua contribuição nas mudanças do clima, o apren-
dizado resultante de inúmeras experiências que procuram fortalecer a interação entre o progresso material
e a sustentabilidade social e ambiental.
Neste contexto, ao lado de investimentos na consolidação da economia regional, há também investimen-
tos para atividades de conservação e fortalecimento da proteção ambiental e também para o desenvolvi-
mento de experiências objetivando servir de efeito demonstrativo para produções sustentáveis. No entan-
to, a força econômica e política desses modelos alternativos é restrita, visto que isso não lhes permite tor-
nar reversíveis as atuais práticas predatórias no uso de recursos naturais; nem torná-las prioritárias nos
investimentos públicos nem no estímulo à definição de mecanismos financeiros que sustentem a replica-
ção de tais experiências em outros espaços da região.
Esta terceira parte coloca em destaque uma análise das estratégias nacionais de inserção da Amazônia no
mundo, destacando como estes modos de organização e de apropriação do território regional são diferen-
ciados entre si e quais são suas configurações territoriais.

213
Capítulo 7 - Novas alianças, mentos sociais locais (indígenas, extrativistas,
seringueiros, etc.), cooperativas de pequenos pro-
novos atores: ONG - governo - dutores que unem-se a ambientalistas locais, nacio-
imprensa nais e internacionais criando um espaço de nego-
ciações.
A conquista deste espaço e da confiança entre os
A última década do século XX foi marcada pelo
pares não tem sido tranquila, o grau de dificuldade
avanço de novas ideias, de novas representações,
e de pressão para a abertura e o respeito à sua par-
ecológico-ambientais, que ganharam força tanto na
ticipação foi grande, especialmente a partir da
sociedade quanto no Estado brasileiro. Esta dinâ-
Conferência do Rio (LÉNA, 1999). Essas organiza-
mica de novas experiências procuraram construir
ções se transformaram em parceiras tanto do setor
caminhos alternativos, baseados em conceitos até
privado como do governamental: elaboram e
então inexplorados.
implantam projetos, monitoram, propõem políticas,
Vários segmentos da sociedade organizada partici-
participam de alguns círculos de decisão.
pam ativamente nos diversos setores da vida nacio-
Serão objetos de análise algumas parcerias em pro-
nal. Para contrapor-se aos problemas globais, gera-
gramas ambientais dos últimos anos, muitas delas
dos na esteira do crescimento econômico sem
surgidos em decorrência de incentivos e mobiliza-
limites, do consumo ilimitado, os novos conceitos
ção, e também a ação das novas redes de organiza-
relativos à importância da ecologia e do meio
ções não-governamentais incentivadas pelo PPG7 e
ambiente, para o futuro da humanidade, passaram a
pela política ambiental, e sobretudo suas ações, no
fazer parte do quotidiano, assim como tornaram-se
debate nacional sobre as mudanças do Código
a bandeira de luta de organizações não-governa-
Florestal.
mentais. Na atualidade grupos ambientalistas, cujos
Toma-se como ponto de partida a diversidade de
esforços contribuíram para mudanças na agenda de
abordagens relacionadas aos novos modelos de
negociações, participam intensivamente no cenário
desenvolvimento, aos novos negócios e a preserva-
internacional e nacional. Esses grupos, unidos à
ção ambiental; aos temores nacionais acerca dos
outros movimentos sociais, têm alertado para o per-
interesses de outros países sobre a Amazônia, às
igo de que os resultados e os esforços incorporados
políticas públicas e aos impactos ambientais resul-
nos tratados internacionais, e normas nacionais
tantes das mesmas. Será também empreendida uma
ambientais, sejam proscritos, frente ao ciclo de
análise do discurso político-ambiental, presente na
negociações de livre comércio provindo da OMC.
imprensa internacional, nacional, regional e local,
Independentemente da origem, a participação dos
numa amostra coletada entre 1997 e 20011.
grupos organizados tem sido caracterizada pelas
São essas organizações que, com seus estudos e
mudanças provocadas no papel desempenhado
projetos, têm contribuído para melhorar a articula-
pelas organizações não-governamentais.
ção governo-sociedade e influenciado vários pro-
Associações militantes até décadas recentes vistas
gramas e políticas governamentais. Programas e
pelo Governo como “ subversivas ”, ou apenas
projetos que não se restringem aos modelos de pre-
como benévolas e caritativas, conquistaram “sta -
servação ambiental, mas constituem-se uma nova
tus” de parceiras. Hoje elas têm um papel crescen-
maneira de inserção das preocupações ambientais
te, de provocadoras de mudanças, capazes de
em outras políticas e outros setores nacionais, os
influenciar decisões e estabelecerem agendas. Seu
quais mostram configurações espaciais próprias.
perfil também modifica-se continuamente: atuam
fundamentadas no pensamento inovador e na espe- 1. As redes de ONG: seu papel e configu-
cialização científica. É dentro desta equação que ração
essas organizações são partícipes na Região e em
debates relacionados aos temas amazônicos, trans- As redes de ONG constituem-se em um novo tipo
formando a maneira de fazer política e constituindo de relações mundiais, comandadas por organiza-
equipes governamentais, como no Acre e no ções estruturadas em redes internacionais abran-
Amapá. São associações representativas de seg- gentes, graças à generalização das facilidades glo-

214
bais, especialmente ligadas à informática e às como seus papéis se reforçam com a globalização.
comunicações. Para RUNYAN (1999), a proliferação do número
Nas últimas décadas do século XX foi notável o dessas organizações, nos países em desenvolvimen-
crescimento e a visibilidade desses grupos nacio- to, deve-se à governos menos centralizadores e à
nais e internacionais (LÉNA, 1999). Foi um pro- ampliação da classe média e dos valores difundidos
cesso especialmente nítido no âmbito das questões pela mesma. Cientistas políticos por outro lado,
relacionadas com direitos humanos e meio ambien- vêem esta expansão fortemente vinculada ao fim da
te, que deveu-se sobretudo à capacidade de provo- bipolarização política-ideológica, à globalização
car mudanças, de exercer um poder de influência econômica, ao poder das empresas internacionais, à
frente aos governos, embora mantendo sua liberda- proliferação de tecnologias baratas de comunicação
de e independência. e sobretudo à redução do poder dos Estados-
Para P.J. SIMMONS, «apud» RUNYAN (1999), as nações, que têm se tornado menos capazes e menos
ações das ONG utilizam quatro formas de táticas: dispostos a regulamentar as corporações, as quais
a) o estabelecimento de agendas, b) a negociação de também tiveram um crescimento elevado. A redu-
resultados, c) a busca da legitimidade e d) a imple- ção do tamanho e do poder do Estado (MALDI-
mentação de soluções. Por desenvolver estratégias DIER, 1999; SMOUTS, 2001) deixou um imenso
de articulação e táticas agressivas, mesmo não dis- vácuo que tem sido preenchido pela ação das ONG,
pondo de grande volume de recursos, a sua influên- militantes em diversas direções, e atualmente são
cia é crescente. elas quem chamam a atenção contra abusos comer-
A participação mais ampla da sociedade civil se fez ciais e injustiças.
reproduzindo esse caminho, inúmeras vezes fazen- Esses grupos estão presentes na nova configuração
do-se representar através desses grupos ou neles de forças políticas na Amazônia brasileira e se
atuando ativamente. Segundo THOMAS FOX, expressam influenciados pela sociedade global,
«apud» RUNYAN (1999), “a sociedade civil pode ser pois, à imagem do que argumenta IANNI (1997:
definida quanto ao funcionamento do setor das ONG que têm 67-73), a sociedade nacional muda de figura, adota
em mente o bem estar da sociedade. E os grupos dedicados ao outras significações e conotações à medida que
meio ambiente, direitos humanos, direitos civis, desenvolvi-
emerge uma sociedade global, pois, ela sempre
mento, direitos indígenas, etc. – a chamada “organização da
mudança social” – se viram à frente dessa sociedade civil esteve desafiada pelas relações externas, exteriores
emergente”. ou internacionais, tanto de cunho social, econômi-
Os primeiros grupos ambientalistas originaram-se, co, político, militar, geopolítico, cultural ou outro.
segundo RUNYAN, por volta de 1890, mas o cres- Dessa maneira, entre os anos 70 e a atualidade,
cimento em número e importância pode ser indica- houve mudança de focos de interesse, de estratégias
do por volta de 19092.. Outras referências são dadas e táticas participativas, mas sem dúvida, encon-
por CHARNOVITZ “apud” Courrier de la Planète tram-se hoje em uma posição de interlocutores pri-
(2001:78) que considera 1775 o ano a partir do qual vilegiados (VIOLA e LEIS, 2001). É essa partici-
dos “individus ayant des intérêts communs ont créé des ONG pação que tem contribuído, profundamente para
orientées sur des thématiques nationales pour influencer les fazer avançar os modelos de políticas públicas para
prises de décisions politiques”. Este autor estabelece a Região. E, ainda que se possam ter limitações de
períodos para mostrar o crescimento do poder de recursos, as estratégias inovadoras resultam em
influência das ONG sobre a governança mundial. incitação de governos ou corporações, acabam por
Nestes termos sete períodos marcantes são: a) a obter apoio à suas causas, e confere-lhes legitimi-
emergência, que ocorre entre 1775 e 1918; b) o dade em políticas e ações. Sua atuação pode servir
engajamento, de 1919 a 1934; c) o desengajamen - tanto à garantia de obtenção de recursos para deter-
to, de 1935 a 1944; d) a formalização , de 1945 a minados projetos ou, pelo contrário, inviabilizá-los.
1949; e) limitação, de 1950 a 1971; f) de 1972 a RUNYAN (1999) atribui grande importância ao
1991, o período de intensificação e g) a partir de papel desse setor na assistência mundial chegando
1992, com a tomada do poder, quando na mesmo a compará-lo com o das Nações Unidas.
Conferência do Rio haviam mais ONG que gover- O seu modelo de organização em redes e de estru-
nos. A figura 3.3 mostra como se territorializam e
215
turas leves, reduzidas, trabalhando de forma a asso- presidência dessa Comissão. O prazo, inicialmente
ciar as comunidades de base local com as redes glo- previsto de 180 dias (agosto 2001), foi prorrogado
bais similares, lhes permite ter agilidade e atingir visto que até dezembro de 2001 quando já tinham
ampla capilaridade, agindo mais facilmente e mais sido realizadas 9 reuniões, os resultados ainda não
rápido que muitos governos. Essa presença simul- eram conclusivos.
tânea em níveis locais e globais, permite-lhes tam- Nesta Comissão, os representantes de algumas
bém conseguir mudanças que não obteriam sozin- organizações, deputados e representante da Polícia
has em seus países. Federal do Amazonas, convidados a prestar depoi-
Entretanto, apesar a imensa mobilização, das mento foram : a Revista Executive Intelligence
mudanças já provocadas e dos espaços políticos Review (EIR) através de seu correspondente no
conquistados, há um imenso campo de trabalho Brasil, Lorenzo Carrasco; a Cooperativa de
relacionado sobretudo a questões de pobreza, ao Produção dos Índios do Alto Rio Negro –
meio ambiente e perda de biodiversidade, à aceita- Cooperíndio – por meio de seu presidente Jorge
ção e atendimento aos compromissos estabelecidos Pereira dos Santos; a Associação Amazônia, repre-
nas diversas negociações sobre as mudanças climá- sentada por Christopher Julian Clark e Plínio Leite
ticas. As pressões feitas por ONG, especialmente as da Encarnação, respectivamente presidente e tesou-
internacionais, sobre esses temas continuam reiro; a Fundação “O Boticário”, representada por
aumentando e muitas vezes são pressões vitoriosas. Dr. Miguel Serediuk Milano; a SPVS – Sociedade
Também há questionamentos quanto às ações des- de Pesquisa em vida selvagem e educação ambien -
tas organizações. Como elas não são supervisiona- tal, por meio de seu representante, Dr. Clóvis R. S.
das, nem controladas pelo Estado, e muitas delas Borges.
somente prestam contas frente aos seus Conselhos Foram também ouvidos, o delegado da Polícia
de administração e associados, não há garantia de Federal de Manaus, Nivaldo Farias de Almeida ; os
seus objetivos filantrópicos. Ainda que numerosas deputados Mecias de Jesus, Urzeni da Rocha
vezes elas distorçam seus objetivos visando se tor- Freitas Filho, Neivo Beraldin - Presidente e
narem elegíveis à fontes de recursos diversas, e Tesoureiro da Comissão de Ecologia e Meio
que, sirvam de instrumentos para difundir e trans- Ambiente da Assembléia Legislativa do Paraná e
mitir interesses corporativos de segmentos políticos Sérgio Carvalho – Relator da CPI da “Grilagem de
ou empresariais, há uma contribuição ao avanço Terras na Amazônia” da Câmara dos Deputados.
das reflexões e das ações. Este fato foi ressaltado Não há relatório conclusivo desta Comissão, embo-
tanto por LÉNA (1999), MALDIDIER (1999) e ra a síntese de algumas das atas tenham sido publi-
SMOUTS (2001) como por LESTER SALAMON, cadas no Diário do Senado Federal. Sutis podem ter
«apud» RUNYAN (1999) ao considerar a atuação e sido os motivos que provocaram a implantação
abrangência das ONG como um terreno perigoso e, dessa CPI: o antagonismo entre os interesses estra-
ao apresentar resultados de um relatório que identi- tégicos nacionalistas e uma Amazônia já interna-
ficou a existência de financiamentos e parcerias cionalizada pela temática ambiental, de conserva-
entre organizações similares e empresas, distorcen- ção da biodiversidade, das alterações climáticas e
do os argumentos acerca de segurança alimentar, de dos gases de efeito estufa. Durante os anos de 2000
mudanças climáticas, da importância de áreas pro- e 2001, em períodos específicos, ocorreram três
tegidas, visando beneficiar grupos de interesses ondas de boatos 3 utilizando argumentos de redução
especulativos. da soberania nacional e de interesses internacionais
Essa controvérsia a nível mundial reproduz-se simbolizados nas ações das ONG. Repete-se,
internamente no Brasil. Em 19 de fevereiro de assim, as contraposições nas duas escalas e nos dois
2001, provocado pelo requerimento n° 22, do discursos: a soberania contra a internacionalização.
Senado Federal, foi instruída uma CPI (Comissão O discurso do senador, na sessão de abertura, é pon-
Parlamentar de Inquérito) que investiga as denún- tuado de expressões que indicam essas desconfian-
cias a respeito da atuação irregular das ONG. O ças.
senador Mazarildo Cavalcanti (PPB-RR) assumiu a Apesar de todo este contexto, do bem ou do mal,

216
tomamos como ponto de partida que o papel das Brundtland, muito maior do que a compreensão de
ONG, no Brasil e na Amazônia, tem sido de funda- seu conceito, abrangência e operacionalidade.
mental importância, procurando não ater-se à uma Distintas e controversas definições procuram des-
visão maniqueísta, e, parafraseando NORMAN vendar os elementos constituintes de um desenvol-
UPHOFF, «apud» RUNYAN (1999), “(…) não pode - vimento que satisfaça as necessidades das gerações
mos considerar as ONG como boas ou más, porém como um presentes sem comprometer a capacidade das gera-
amplo espectro de organizações díspares que podem realizar ções futuras supri-las. Apoia-se no que TÉNIÈRE-
mudanças ao longo do tempo (…) são as ações que importam
(…) pelo potencial de inovação, flexibilidade, engenhosidade
BUCHOT (2001) considera como elementos funda-
e pela diversidade de opiniões». Iniciando nesse patamar, mentais deste discurso: a base construída sobre uma
analisa-se a abrangência de suas ações no ordena- concepção «patriarcal e notarial», a transparência
mento e na gestão territorial, enfim, na política ter- restabelecida pelo fervor da governança e equili-
ritorial. brada pelas relações entre Estado, cidadãos e
empresas.
2. O território da dimensão ambiental e o É no contexto das heterogeneidades que cada setor
poder das parcerias busca maneiras específicas de comprovar suas for-
mas de produzir e reproduzir a incorporação desses
Impossível quantificar o número exato de experiên-
princípios.
cias em curso na Região, necessitar-se-ia uma atua-
Diferentemente do período militar quando qualquer
lização diária. Novos programas, projetos, experi-
movimento social era considerado lesivo à ordem
mentos, surgem tanto nas regiões já antropizadas ou
estabelecida, à liberdade de expressão dos anos 90
em áreas bastante preservadas, contando com
agregaram-se vozes e visões distintas sobre o
apoios de governos, de outras ONG ou mesmo de
modelo de desenvolvimento para a Amazônia,
organismos multilaterais. Na verdade, a expansão e
representativas de alguns vetores do novo discurso.
crescimento deste setor deveu-se sobretudo às exi-
Essa liberdade de expressão tem permitido aborda-
gências dos Bancos financiadores, que passaram a
gem, frequente pelos meios de comunicação, de
adotar como pré-condição suas presenças MALDI-
assuntos que se relacionam à Amazônia em geral,
DIER (1999). Muitas delas são decorrentes de
aos Estados que a constituem, ora criticando, ora
pressões internacionais e de determinados segmen-
aprovando as políticas públicas, analisando os
tos nacionais, mas, um conjunto significativo foi
impactos e as possibilidades de desenvolvimento
originado em programas de Governos estaduais e
existentes na Região. Estes argumentos são corro-
federal, ou localmente, pelo interesse próprio de
borados por meio da tabela n° 1 e da figura 7.2.
comunidades.
Duas vertentes predominaram entre os assuntos tra-
A difusão do discurso da sustentabilidade e do
tados: as críticas às políticas públicas para a
desenvolvimento sustentável ganhou um terreno
Amazônia, especialmente as definidas pelo gover-
consideravelmente grande, desde o Relatório

Tabela n° 1 - Territórios e temas abordados pelos meios de comunicação

Assuntos Amazônia AC PA AM MT RR AP RO Vários Brasil Total


Tratados Legal Estados

Preservação 4 2 1 1 1 3 0 0 1 0 13
Novos Negócios 18 9 8 2 4 1 1 0 6 0 49
Interesses Internacionais 47 2 3 8 2 4 0 1 13 0 80
Impactos Ambientais 40 2 6 5 9 6 0 1 10 4 83
Novos Modelos 66 31 17 3 5 2 3 3 11 9 150
Críticas Políticas Atuais 79 32 23 11 8 9 7 2 13 8 192
Total 254 78 58 30 29 25 11 7 54 21 567

Fonte: Amigos da Terra

217
no federal, embora os governos estaduais não esti- O vetor territorial também pode ser destacado. A
vessem à margem das mesmas; o segundo, os novos figura 7.2 coloca em destaque os espaços privile-
modelos de desenvolvimento. Esse vetor inclui giados nas reportagens analisadas. À Amazônia
uma enorme diversidade de sugestões, de aprovei- Legal enquanto região, seguem-se os Estados do
tamento das potencialidades dos ecossistemas Acre e do Para, mais presentes individualmente e as
amazônicos, como base para orientar um novo fronteiras dos Estados do Amazonas e Roraima,
modelo. frequentemente citadas em função dos interesses

218
internacionais e das ações do Plano Colômbia. Nos nacional e internacional para a preparação do
temas relacionados aos impactos ambientais, o Conferência do Rio. Duas redes, uma nacional e
Arco do Desmatamento, envolvendo Rondônia, outra regional, organizaram-se com objetivos de
Mato Grosso, Tocantins, Pará e Maranhão. Ao pro- acompanhar, participar, influenciar e ao mesmo
ceder-se à distribuição geográfica dos lugares men- tempo difundir amplamente aquelas negociações.
cionados nestes artigos, percebe-se que praticamen- De um lado, o Grupo de Trabalho Amazônico
te toda a Amazônia Legal tem sido abordada nos (GTA) para o PPG7, composto por diferentes asso-
meios de comunicação, à exceção de poucas sub- ciações, cooperativas e sindicatos da Amazônia, em
regiões, grandes espaços «esquecidos», provavel- uma negociação específica entre o governo brasi-
mente em função da pouca pressão antrópica: no leiro, o G-7 e o Banco Mundial; de outro, o Fórum
Estado do Para, à margem esquerda do rio Nacional de ONG, nos diversos eventos preparató-
Amazonas; as zonas de transição entre ecossiste- rios da Conferência, procurando influenciar as
mas florestais e o semi-árido nordestino, no posições dos países e as alianças que se formaram.
Maranhão; no Tocantins, as áreas situadas à mar- Essas duas redes passaram a fazer parte das delega-
gem direita do rio Tocantins, e, no Estado do ções de negociação e conquistaram um espaço polí-
Amazonas, a «cabeça do cachorro». Por outro lado, tico importante.
as menções de maiores frequências concentraram- A evolução das redes não se fez sentir apenas na
se no projeto de hidrovia do Araguaia-Tocantins, forma de expansão capilar, de organização, mas
nos corredores do Arco-Norte e Arco do também na alteração do seu perfil que, a cada dia se
Desmatamento, nas rodovias Cuiabá-Santarém e profissionaliza na prestação de serviços, muitas
Transamazônica, nos municípios capitais de delas incorporando profissionais com alta qualifica-
Estados e naqueles do nordeste paraense e próxi- ção. Elas têm assumido não apenas o papel de
mos à rodovia Transamazônica. As terras indígenas assessoria junto a instituições governamentais,
objeto de maior atenção foram as Terras Ianomami, especialmente da área ambiental, mas também de
São Marcos e Raposa Terra do Sol e Parque do participação na gestão de projetos e programas.
Xingu. Exemplos significativos podem ser identificados
Ainda que as organizações não-governamentais, nos trabalhos desenvolvidos pela própria rede do
partidos políticos, setores governamentais ligados GTA ou em conjunto com outras ONG nacionais e
ao meio ambiente e à ciência e tecnologia, insti- internacionais como Amigos da Terra; Instituto
guem e se agreguem à experiências diversas, majo- Sócio-Ambiental, FASE, IMAZON, IPAM, ISPN
ritamente comunitárias e pontuais, esses grupos para identificar apenas algumas. Não se pretende
divergem na fundamentação teórico-metodológica elaborar um levantamento exaustivo do que cada
das experiências, mas unem-se na discordância uma realiza, mas indicar o dinamismo que repre-
quanto o direcionamento dos programas do gover- sentam junto ao PPG7 e ao Ministério do Meio
no federal para a Amazônia. Ambiente, e analisar as configurações territoriais
Na Amazônia algumas redes e organizações não- que suas dinâmicas de organização e mobilização
governamentais conquistaram importância e poder desenham e como estas contribuem para aumentar
significativos e são em geral aquelas que estão vin- a governabilidade local.
culadas aos temas ambientais, indígenas e de Redes de ONG nas experiências desenvolvi-
desenvolvimento. São elas que se fazem presentes das
nos debates, nas denúncias, nas parcerias e que
sempre estão propondo caminhos alternativos. A participação do GTA, junto ao PPG7, foi analisa-
Partiram do reconhecimento dos grupos sociais da no capítulo cinco, entretanto suas contribuições
locais, constituindo os vínculos extraterritoriais extrapolaram as ações do Programa, colaborando
destas novas territorialidades locais. com amplas discussões na análise das políticas
Retomando alguns dos elementos já analisados, nos públicas, insistindo na necessidade de coerência
capítulos 4 e 5, destaca-se que o início de negocia- entre elas. Durante os 10 anos de implantação
ção do PPG7 coincide com a grande mobilização PPG7, investiram fortemente na mobilização de
diferentes segmentos sociais, tanto regionais como
219
220
nacionais. A incitação à organização da sociedade Amazônia adaptadas ao PPG75, apesar de apresen-
pelo GTA resultou positivamente numa dispersão tar um bom conteúdo, constitui-se numa inversão
de associações, cobrindo quase toda a Região, de papéis, provocada essencialmente pela carência
conforme foi ressaltado pela figura 7.1, embora, de referências adequadas sobre o assunto, pois à
evidentemente, em alguns lugares ocorra uma falta de uma política nacional para a Amazônia, o
concentração. É o caso de cidades maiores que PPG7 fazia as vezes da mesma, sem obviamente ter
exercem um certo poder na malha regional e que, sido pensado para isso».
ao mesmo tempo, são lugares em que havia uma Finalmente, em 1995, a Política Integrada para a
tradição de reagrupamento de segmentos sociais Amazônia foi aprovada pelo Conselho Nacional da
numa vida em associação. Amazônia, após intenso período de discussões e
Entre os diversos projetos, implantados pelas ONG articulações que envolveram e que integrou o dis-
e associações participantes da rede, retratados na curso político nas diversas esferas do governo fede-
figura 7.3, a secretaria-executiva do GTA manteve ral, estaduais e a sociedade civil. O GTA (1996)
um trabalho conjunto com a Amigos da Terra, atri- considerou que, finalmente as premissas básicas
buindo à análise e o monitoramento das condições dessa política referiam-se à busca de padrões de
do meio ambiente amazônico, seu ponto de partida. desenvolvimento contempladores da integridade
Assim, além da mobilização nos debates e prepara- dos ecossistemas amazônicos. Em continuidade aos
ção dos estudos, o mérito dos documentos4 elabora- estudos anteriores, em 1996, o GTA e AMIGOS
dos foi o de difundir a diversidade de visões exis- DATERRAnão apenas problematizaram a situação
tentes também entre elas. Nos dois primeiros estu- da Região, mas procuraram distinguir as dificul-
dos, em 1991 e 1994, chamam a atenção sobre a dades de implementação do Programa. E, em 1997,
inexistência de política regional. Foi intensa a ainda que continuassem a avaliar a implementação
mobilização para a preparação do Programa Piloto do Programa Piloto, chamaram a atenção para o seu
em 1991, e somente após três anos alguns contratos isolamento, tanto na estrutura federal, quanto na
são assinados e os primeiros projetos começam a dos Estados amazônicos, e sobre os poucos resulta-
ser implantados. dos conseguidos até aquele ano e, mais do que
Além das experiências de novos modelos, aos pou- nunca, o acirramento das contradições de políticas
cos diversificam-se os temas abordados nos proje- públicas e do longo caminho entre a retórica da
tos de ONG, muitas delas investindo em outros importância do setor ambiental e a ação política do
aspectos da gestão ambiental realizados com muni- Governo.
cipalidades. A Amigos da Terra investiu na solução A despeito de avanços conceituais incorporados nos
do problemas do fogo. projetos e na própria política ambiental e da aproxi-
GTA e AMIGOS DA TERRA (1991, 1994) consi- mação desse setor com a sociedade, o seu isola-
deram que, na ausência do Estado planejador, nor- mento dentro do governo é evidente.
malizador, foram os debates e seminários de prepa- A divulgação do agravamento dos impactos
ração de projetos os responsáveis pela origem da ambientais na Região constituiu-se na grande preo-
mobilização de segmentos sociais, regionais e cupação, também neste estudo, especialmente as
nacionais, na discussão do futuro do desenvolvi- altas taxas de desmatamento, os focos de fogo e o
mento amazônico. Assim, o Programa passa a ser incêndio, totalmente fora de controle em Roraima,
um dos mais importantes vetores na transformação as desarticulações governamentais na resolução dos
das políticas e das dinâmicas regionais. riscos e impactos. O GTA e AMIGOS DA TERRA
O conflito de opiniões sobre este Programa é mani- consideraram que alguns vetores de outras políticas
festado por OLIVEIRA (1996:237): públicas como investimentos, créditos e incentivos
«na verdade, em distintos momentos foi ressaltada estimularam o avanço da soja na Região; assim
a inexistência de uma política que integrasse dire- como os investimentos do Programa «Brasil em
trizes setoriais a um objetivo comum. Isto possibi- Ação». Consideraram também que novas macroes-
litou ao Programa Piloto a ocupação deste vazio tratégias propostas para a Região, configuradas
institucional. O livro Políticas Públicas para a posteriormente nos Eixos de Integração e

221
222
Desenvolvimento, constituir-se-iam em fatores de ainda, a existência de outros selos. A partir de 1999,
profunda preocupação para o futuro da Região e campanhas de conscientização dirigidas para
reforçavam a imagem de que o discurso do setor setores consumidores começaram a ser realizadas
ambiental continuava intra-muros. pelo grupo «Aliança para a Promoção do Consumo
A ONG Amigos da Terra - Programa Amazônia, Sustentável de Madeira», grupo que reúne a
tem participado ativamente e influenciado compor- Amigos da Terra, a Imaflora e o Imazon. O primei-
tamentos dentro da esfera governamental federal. ro estudo deste grupo foi «Acertando o Alvo»,
Seu diretor, Roberto SMERALDI vem, desde a relatório que desmitificou o dogma de que a madei-
negociação da convenção / princípios autorizativos ra brasileira estava sendo exportada e consumida no
sobre as florestas6, atuando tanto no âmbito técnico, exterior. Este estudo comprovou que somente 14%
quanto político, de maneira que a influência desta da madeira era consumida no mercado exterior,
ONG vem sendo crescente, na diversidade e no sendo o restante para o consumo interno. A própria
número de projetos. Além de sua participação no região amazônica consumia 10% da madeira pro-
IAG - Grupo de Assessoramento Internacional do duzida; o Sudeste 37,4% e o Sul 18,7%, mas
PPG7, e do acompanhamento dos projetos desen- somente dois Estados do Sul, São Paulo e Paraná,
volvidos no âmbito deste Programa, a Amigos da empregavam, cada um, aproximadamente a metade
Terra esta concentrando seus esforços nos projetos do consumo regional. Foi esse estudo que permitiu
Rádio Amazônia, Fogo, Certificação Florestal e à «Aliança» o direcionamento da estratégia de
Bancos. Muitos dos seus projetos são desenvolvi- modo a atingir grupos de consumidores brasileiros
dos em parceria com outras ONG, com governos e desenvolver experiências em pequenas escalas,
municipais, com o governo federal. Suas fontes de com grupos de compradores, iniciando com empre-
financiamento são também diversificadas, o que lhe sas de mobiliário, como a Tok & Stok.
garante uma certa estabilidade institucional, bastan- O grupo «Aliança» lança mão de argumentos eco-
te distinta da maioria de ONG ambientalistas, que nômicos sobre as vantagens comparativas do
nascem - como cogumelos, mas desaparecem tão empreendimento: i) as empresas que participam do
rápido quanto apareceram, por não disporem de processo de certificação poderão participar do mer-
condições para a sua própria manutenção. cado de compradores de produtos certificados; ii) a
Mantém, esta ONG, também, uma ativa participa- possibilidade de estender o acesso ao mercado para
ção nas negociações e no debate internacional sobre suas unidades industriais ou empresas fornecedo-
mudanças climáticas, especialmente na análise da ras; iii) a possibilidade de mostrarem aos consumi-
factibilidade do MDL (mecanismo de desenvolvi- dores que encontram-se à frente das tendências, ao
mento limpo) para as florestas brasileiras. Há, por- respeitar métodos justos de trabalho assim como o
tanto, não apenas o trabalho de controle e de edu- meio ambiente.
cação de comunidades e municípios, mas um avan- Merece destaque o fato de que, por meio do proje-
ço na direção de eco-negócios. to de certificação, a parceria entre este grupo e
O projeto de Certificação Florestal atua diretamen- empresas constitui-se num outro caminho, diferen-
te com empresas e consumidores. Tem como obje- te das experiências realizadas anteriormente basea-
tivo ampliar o número de empresas que trabalham das em comunidades de populações tradicionais.
com a cadeia de produtos de madeira, para a obten- Essa nova estratégia visa atingir um mercado
ção da certificação do FSC7 (Forest Stewardship específico: produtores e consumidores de bens
Council - Conselho de Manejo Florestal), criado, construídos a partir do uso de recursos florestais,
no nível internacional em 1993. SMOUTS (2001) dispostos a pagar mais por produtos com selos
analisa o crescimento do poder e da influência deste ambientais. Todos estão conscientes que o processo
organismo - qualificado como o único sistema com de certificação irá acarretar diferencial de preços,
credibilidade, a participação forte de ONG interna- mas a garantia de atingir um determinado segmen-
cionais como o Greenpeace e Amigos da Terra em to, diferenciado de consumidores, lhes estimula a
apoio ao WWF e, o perigo de se tornar uma impo- seguir por esse caminho.
sição à todos os tipos de florestas, ressaltando, Já o projeto Rádio Amazônia8 vem se desenvolven-

223
do desde 1991, período em que conseguiu instalar tura na área desmatada para reduzir a expansão para
180 estações de radio-transmissão, todas com novas áreas; e) incentivos à agricultura perene e
licenciamento legal autorizado pela Anatel. A formas de adubação que diminuam ou reduzam a
Amigos da Terra instala as estações completas necessidade de uso do fogo; f) acordo entre vizin-
(transmissores, antenas, painéis solares, acessó- hos para um calendário de queimadas que evite
rios), faz treinamentos e dá assistência. Nos últimos danos; g) medidas para evitar o fogo na floresta; h)
anos estabeleceu-se uma importante parceria entre criação e manutenção de brigadas municipais
este projeto e o projeto Fogo: Emergência Crônica, voluntárias; i) programas que disponibilizem o uso
articulação que contribuiu para ampliar as ativi- de horas de trator para pequenos agricultores.
dades de prevenção por parte das populações Os municípios selecionados, para a proposição dos
locais, reforçando ações locais com o objetivo de protocolos pela Amigos da Terra em sua grande
prevenir, reduzir e controlar o uso de fogo, na agri- maioria, encontram-se localizados no «Arco do
cultura e na pecuária. Desmatamento», nos Estados do Mato Grosso e
As ONG e a resolução de problemas causa- Pará; mas o programa abrange também o Acre,
dos pelo Fogo temáticas destacadas na figura 7.3 que integra as
áreas de focos de calor, seca e a localização das
Concebido dentro da ideia de soluções locais e inte- experiências destes acordos.
gradas (SMERALDI, 2001) o projeto Fogo: A estratégia de articulação, entre instituições fede-
Emergência Crônica originou-se a partir da doação rais, estaduais, municipais, parlamentares, organi-
do Ministério de Relações Exteriores da Itália, em zações não-governamentais diversas e segmentos
outubro 1999. Visava vincular métodos de preven- sociais locais, e as táticas para a difusão do trabal-
ção à gestão municipal, porisso o projeto desenvol- ho, os discursos de incentivo à participação, a
veu-se antes da época das queimadas, num proces- expansão da atividade para outros municípios e a
so experimental de colaboração com os municípios. responsabilidade frente à comunidade, pelos com-
Onze municípios participaram da primeira fase e 20 promissos assumidos, tiveram o poder de agrega-
da segunda. O tipo de atividades preventivas foi ção. Esta articulação incluiu instituições de pesqui-
definido pelos atores sociais, econômicos e institu- sa e órgãos governamentais e incluiu também o
cionais dos municípios, mas, envolveram uma apoio dos Ministérios do Meio Ambiente e Saúde.
plêiade de ações nas áreas de saúde; capacitação; No contexto do Projeto Fogo: Emergência crônica,
treinamento em técnicas alternativas ao uso do fogo um aspecto merece ser agregado à análise da reper-
e manejo de pastagens; alfabetização rural usando cussão positiva desse projeto sobre o fogo foram os
como tema interdisciplinar a prevenção e o contro- ecos políticos, mais do que as consequências
le do fogo; arte e renda com resíduos de serrarias; ambientais e sociais do incêndio de Roraima, ocor-
comunicação e rádio amazônia; negociação dos rido 2 anos antes. Fogo descontrolado, logo, trans-
protocolos municipais. formado em incêndio. A atuação governamental foi
Utilizando-se de mecanismos de estímulo à partici- marcada por altos e baixos, pelo descaso dos níveis
pação dos diferentes atores, presentes nos municí- governamentais, Estado e União, assim como pela
pios, os Protocolos municipais sobre fogo procura- atuação descoordenada. Situação que só se alterou
ram investir mais nas intenções e em compromissos quando fortes críticas começaram a ser divulgadas,
assumidos perante a comunidade e na «prestação de vindas de ONG nacionais e estrangeiras, assim
contas» do atendimento à estas responsabilidades, como do Parlamento Europeu. Fatos que viraram
do que na imposição legal de instrumentos de manchetes na imprensa nacional e internacional. O
controle ambiental. Os compromissos, de preven- jornal Le Monde, o Newsweek, o Daily News e
ção e de controle do fogo, foram debatidos publica- Chicago Tribune e relatórios do Greenpeace fize-
mente e compreenderam um amplo leque de medi- ram uma intensa cobertura, analisando fatos, ressal-
das e alternativas. Incluíram-se nestas: a) medidas tando questões institucionais e os impactos ambien-
de controle; b) medidas que limitem o uso do fogo tais resultantes.
em certos períodos; c) técnicas de limpeza de pasto Inúmeros artigos expressivos surgiram na mídia,
que dispensem o fogo; d) intensificação da agricul-
224
mas, a abordagem feita pelo editorial do Jornal do e que a mobilização nacional é imprescindível para
Brasil, 25 de março de 1998, intitulado “Agonia da evitar a ampliação de uma devastação de propor-
mata” pode resumir os aspectos fundamentais para ções imprevisíveis».
a compreensão da questão e das ações que deve- Nesse editorial estão sintetizadas as contradições
riam ter sido privilegiadas. entre o pensamento geopolítico e a necessidade de
«Assume proporções de catástrofe ambiental o outras bases de referência quando se trata de meio
incêndio que já atinge 1/4 de superfície de Roraima, ambiente. LÉNA (1999) considera que ao recusar a
calcinando cerca de 4% do Estado. Com três meses ajuda internacional, os setores militares brasileiros
de duração, exibindo uma frente de 400 km com reforçaram a imagem que, ainda na atualidade, a
milhares de focos pontilhando uma área de 36 Amazônia é estratégica para a questão da soberania
milhões de hectares, é o mais grave sinistro ecoló- nacional. As condições naturais, falhas técnicas, a
gico da Amazônia nos últimos 30 anos. A receita da defasagem administrativa são ingredientes intem-
destruição combina o tradicional primitivismo das pestivos quando colocados ao lado de visões geo-
queimadas indiscriminadas com uma estiagem pro- políticas.
longada pelo efeito do El Niño e ventos fortes que A lentidão na tomada de decisões e indefinições de
disseminam labaredas pela vegetação seca. A competências, a negligência do Ministério do Meio
imprevidência oficial em relação a flagelos ecoló- Ambiente, as divergências de opinião e de decisões,
gicos em pontos remotos e a demora em mobilizar mobilizadas por setores ligados à segurança nacio-
meios nacionais e internacionais completa o quadro nal pelo receio de ter soldados da ONU no territó-
da tragédia. Em vez de ações rápidas, decisivas, rio nacional, produziram um vácuo na presença
maciças, conjugadas, assistimos a esforços disper- governamental no Estado e constituíram uma situa-
sos, ausência de políticas preventivas, desprezo ção institucional complexa.
pelo know-how e apoio internacional. Impotentes, Dois outros importantes diários nacionais analisa-
as autoridades locais não se entendem nem quanto ram a situação criada e seus reflexos, a confirmação
à gravidade do incêndio, nem quanto ao tempo das ideias preconceituosas que marcam a imagem
necessário para debelá-lo. Enquanto o governador do país no exterior. A matéria assinada por Luiz
Neudo Campos (PPB) diz que a situação está fora Caversan, «O incêndio e o Exército», na Folha de
de controle, o coordenador da Defesa Civil do São Paulo, 27 de março de 1998, é elucidativa:
governo federal, coronel José Wilson Pereira, jura «É espantoso que tenha demorado tanto tempo para
que o incêndio está circunscrito. Mas o comandan- que, finalmente, as Forças Armadas se dignassem
te da Amazônia, general Luiz Gonzaga Schroeder fazer alguma coisa para tentar conter o monstruoso
Lessa, considera que o combate ao incêndio será incêndio que dizima florestas no Norte do país.
longo e imprevisível. O fato incontornável é que as Depois de semanas de labaredas consumindo san-
chamas avançam, os helicópteros encontram difi- tuários ecológicos e pondo a perder um patrimônio
culdade em operar devido às péssimas condições de natural formado ao longo de milhares de anos e que
visibilidade (por causa de fumaça), as turmas que se representa dos mais admiráveis bens do planeta,
movimentam por terra não conseguem deter um agora o Exército diz que vai comandar o combate
fogo que avança a 30 km por hora, 5.800 índios ao incêndio. O que, aliás, deveria ter feito desde a
Macuxis e Taurepangues estão ameaçados. Na falta primeira hora em que se teve a verdadeira dimensão
de uma ação mais drástica e determinada, o Parque do acidente ecológico no qual se converteram as
Nacional do Pico da Neblina, território de 2,2 queimadas criminosas de Roraima. Mas o Exército
milhões de hectares onde se situa a reserva dos não foi para lá por causa do fogo propriamente dito
índios Ianomami, fica ameaçado. O garimpo deixou ou porque a proteção do patrimônio territorial do
montanhas escalavradas que são mais vulneráveis país é uma de suas obrigações. Não, deslocou-se
ao fogo. Não contentes, começa a invasão da terra porque os militares sentiram-se feridos em seus
Ianomami para garimpar ouro e cassiterita. A tragé- brios nacionalistas, uma vez que o incêndio estava
dia de Roraima é um alerta de que tudo está por atraindo uma força-tarefa internacional, composta
fazer no capítulo da defesa ambiental da Amazônia por militares de outros países, que, mais sensíveis

225
226
que os brasileiros, já haviam se mobilizado. Diante para ampliar as atitudes nacionalistas, nesse mesmo
da «invasão estrangeira» o Exército resolveu se período, o Parlamento Europeu aprova uma resolu-
mexer e tirar da ociosidade pelo menos parte dos ção, sob forma de crítica, em que expõe a falta de
milhares de soldados que mantém espalhados pelo capacidade brasileira de solucionar o problema. A
país sem ter o que fazer. Antes tarde do que nunca? declaração de Jean Franco Dell’Allba, deputado
Talvez. Ao menos este é um bom momento para se italiano no Parlamento, ressalta que a resolução
questionar, mais uma vez, para que servem as dirige «à solicitação que o G-8 proponha medidas
Forças Armadas em tempo de paz». concretas a fim de agir conjuntamente com as
Na mesma data, o editorial de O Estado de São Nações Unidas para lutar mais eficazmente contra a
Paulo, 27 de março de 98, ressalta o exaltado tom exploração abusiva e ilegal da floresta amazônica»
de nacionalismo retrógrado em alguns discursos de já que a «Amazônia não é problema só do Brasil, mas
militares e as posições adotadas quanto a ajuda um problema da humanidade» («apud» Folha de São
ofertada pela ONU para combater o incêndio, pro- Paulo, de 04 de abril de 1998).
vocando reuniões na Câmara de Relações Este pronunciamento provocou fortes reações dos
Exteriores e Defesa Nacional para apaziguar os setores responsáveis pela segurança nacional.
temores da internacionalização da Amazônia. O A questão é que o incêndio não espera a resolução
editorial chama a atenção que o Estado brasileiro de sombreamentos e vácuos institucionais. Além de
não é frágil e nem o governo impotente: dificuldades dessa ordem, o desconhecimento do
«Mas a razão não parece presidir a questão. Receia- comportamento, das origens e tipos de incêndio,
se que o oferecimento de envio de especialistas da também contribuem para a falta de políticas ade-
ONU em combate a incêndios do tipo que devasta quadas.
Roraima preceda o envio dos chamado capacetes- Poucos meses após o incêndio em Roraima, estudos
verdes, fechando-se o ciclo com a constatação de desenvolvidos no IPAM, por NEPSTAD et al
que, se o Brasil não consegue controlar sozinho as (1999) disseminam novas informações a respeito
ocorrências ambientais na Amazônia, a comunida- dos tipos de fogo, desconhecidos até aquele
de internacional chamaria a si a tarefa de fazê-lo, momento, além de uma análise dos aspectos políti-
em detrimento da soberania brasileira sobre a área. co-institucionais que envolvem a questão. Avaliou
Trata-se de uma teoria conspirativa, como sempre as políticas públicas em função dos tipos de fogo e
com aparência lógica, mas montada sobre premis- mostrou que entre os diversos tipos de queimadas
sas falsas. Afinal, os capacetes-verdes simplesmen- as menos representativas são as queimadas para
te não existem. Não passam de um projeto. […] desmatamento (1/8 da área total queimada nas pro-
Essa teoria conspirativa, que com diferentes priedades), entretanto, é o único tipo monitorado
variantes é apresentada sempre que se discutem os continuamente. Todavia, a cobertura florestal origi-
problemas da Amazônia, é resultado da desinfor- nal vem sendo severamente afetada, atualmente,
mação, do preconceito e do chauvinismo. Seria pelos impactos combinados do desmatamento, da
inofensiva, se não influenciasse alguns setores mili- exploração madeireira e dos incêndios rasteiros,
tares, não perturbasse o processo decisório do sobre os quais praticamente inexistem ações de fis-
governo e do Congresso e não se constituísse calização e monitoramento.
potencial obstáculo à solução de crises, como a Autores diversos e instituições aprofundam seus
atual. O Brasil não precisa, neste exato momento, trabalhos sobre este tema e, normalmente há dis-
defender a soberania sobre a Amazônia de uma cordância de métodos para a avaliação dos danos
ameaça inexistente […] Não há tempo, agora, para causados. O tratamento de dados do INPE e os estu-
digressões defensivas, a respeito da cobiça interna- dos de NEPSTAD9 confirmam tais discordâncias,
cional sobre a Amazônia, ou sobre as possíveis entretanto NEPSTAD incluiu a questão dos incên-
consequências da eventual criação de um corpo de dios rasteiros, até então desconsiderados nas avalia-
capacetes-verdes sobre a soberania nacional». ções da importância do desmatamento na
Para deixar a situação mais delicada e dar argu- Amazônia. Com isto não apenas destacou a avalia-
mentos favoráveis à estes setores, contribuindo ção dos impactos econômicos do fogo, mas tam-

227
bém o aspecto de vulnerabilidade e de inflamabili- alternativas que mobilize os proprietários de terra,
dade da floresta, das modificações que podem pro- governos e comunidades a assumirem responsabili-
vocar na estrutura da floresta e como as queimadas dades tanto no uso quanto no controle do fogo.
contribuem para o fluxo de carbono na atmosfera. Aspectos que conquistaram adeptos para projetos
O uso da queimada é um processo enraizado cultu- tanto preventivos quanto de novos usos.
ralmente, no entanto, distinguindo-se a maneira Concomitantemente à situação anterior ocorre outra
deste uso segundo grupos sociais diferenciados e grande articulação, originada na Secretaria da
seus fins. No entanto, para este autor, é a ferramen- Amazônia: a constituição das Agendas Positivas.
ta agrícola mais utilizada para converter florestas Um novo período marcado por outro tipo de alian-
em área de lavoura e pastagens, pois aumenta a pro- ça, com dinamismo sustentado na parceria governo
dutividade destas áreas a curto prazo, tornando-se - ongs e na mobilização das sociedades locais.
ao mesmo tempo uma solução técnica. Incêndios Foram compromissos assumidos em grandes reu-
recorrentes empobrecem a floresta, exterminando niões públicas, ratificados pelos Governos
populações de animais e destruindo qualquer tipo Estaduais e alguns municípios, que se tornaram a
de investimento que tenha sido feito nas proprieda- nova diretriz política da Secretaria da Amazônia.
de, tornando-a mais susceptível a riscos de outros Diretriz que marca uma diferenciação nítida com a
incêndios10. estratégia adotada no período anterior de governo,
Outro aspecto de suma importância para a adoção que, desde a elaboração da Política Nacional
de políticas preventivas refere-se à compreensão da Integrada para a Amazônia tinha sido baseada na
inflamabilidade e de novos riscos de incêndios na parceria com o Fórum de Secretários de
Amazônia. Como a inflamabilidade dos ecossiste- Planejamento e Meio Ambiente, governos estaduais
mas tem sido intensificada por motivos tanto de e cientistas, das instituições regionais, nacionais e
ordem política, quanto técnica, pela falta de regula- da UNAMAZ - União das Universidades da
mentação das queimadas do lado governamental Amazônia11, esta também organizada em rede.
associada com as secas sazonais e os diversos tipos
3. Percepção pública do desenvolvimento
de uso da terra, geram dificuldades de controle do
fogo e contribuem para o aumento do risco na flo- da Amazônia: visões paradoxais
resta. A figura 7.3 evidencia o alerta de novos ris- Paralelamente, a intensa mobilização das ONG
cos de incêndios que NEPSTAD (1999) apresentou, relacionada às questões de meio ambiente, a sua
baseados na inflamabilidade que muitas regiões da presença ativa nos meios de comunicação assim
Amazônia já apresentam. como na estrutura do Estado (nos 3 poderes) têm
Como em 1998, as chuvas foram insuficientes para contribuído para a difusão do ideário do desenvol-
repor a umidade extraída do solo durante a estação vimento sustentável.
seca de 1997, reduziu também a capacidade de pro- Situação que é reforçada quotidianamente pelos
teção da floresta contra a seca, especialmente no profissionais dos meios de comunicação. A leitura
leste e sul da Amazônia, havendo ocorrência de mais atenta dos jornais e revistas nacionais mostra
déficit hídrico na floresta. o gradual e contínuo crescimento na abordagem de
NEPSTAD (1999) associa, também, outros fatores distintas visões quanto ao modelo de desenvolvi-
que podem agravar os riscos: a acelerada taxa de mento para a Amazônia.
urbanização, o aparecimento crescente de novos Nesse contexto, merecem distinção alguns aspectos
núcleos urbanos e a consequente pressão exercida que se sobressaem na análise do discurso ambien-
por estas populações sobre os recursos naturais e o tal, rico em contradições.
uso e ocupação do solo rural para os projetos de Tem-se argumentado acerca da maior liberdade de
assentamentos rurais, estendendo-se para novas ter- expressão que existe no país a qual tem permitido
ras, cada vez mais ao norte, sem criarem novas trazer à público temas e informações que anterior-
áreas produtivas. mente encontravam-se restritos a alguns setores
Certamente esse fato serviu para alertar a respeito governamentais ou segmentos sociais. Neste parti-
da necessidade de se buscar formas e propostas cular, os últimos anos, à essa liberdade associou-se

228
a rede de comunicação mundial que serve à difusão
cada vez maior do que se passa em qualquer canto Tabela n° 2 - Matérias classificadas por temas
do mundo, à mobilização social, à novas influên-
cias que surgem pelas descobertas científicas, Classe de Temas abordados Número %
gerando informações ricas de abordagens que têm Críticas políticas atuais 193 32,3
se tornado conhecidas. Novos modelos 153 25,7
Assim, aproveitando-se da amostra dos documen- Impactos ambientais 84 14,2
Interesses internacionais 82 13,8
tos sistematizados pelo projeto, «análise e monito- Novos negócios 50 8,3
ramento das políticas públicas»12 aos quais foram Preservação 14 2,3
agregados outras fontes, procedeu-se a uma avalia- Outros temas 20 3,4
ção do discurso político-ambiental-participativo, Total 598 100
divulgado pelas matérias de jornais e revistas de
Fonte: Projeto Monitoramento Políticas Públicas - Amigos da
abrangência internacional, nacional, regional e Terra
local, entre 1997 e 2002. Em função da universali-
dade e da diversidade de abordagens nesses assun-
tos, adotou-se como método uma leitura inicial, mente com 32,3% e 25,7% das opiniões.
geral, como base para a realização posterior de uma O tratamento quantitativo e a análise qualitativa
classificação das matérias analisadas em agrupa- destas informações reforça o argumento anterior de
mentos que guardam maior coerência entre si. que os meios de comunicação tem contribuído sis-
Classificou-se em 6 grupos temáticos: novos mode- tematicamente para a difusão destes novos princí-
los de desenvolvimento, novos negócios, preserva- pios e paradigmas, mesmo que não se encontre
ção, impactos ambientais, críticas às políticas atuais nesse setor o rigor teórico e metodológico que nor-
e interesses internacionais. malmente se espera dos meios acadêmicos e de pes-
Os assuntos tratados segundo sua abrangência terri- quisa.
torial e os lugares mencionados nestes artigos estão Importante é analisar o aspecto de popularização e
representados nas figuras 7.2. Em termos percen- de difusão que contribuem para alterar o quadro
tuais, quase metade da amostra avaliada - 44% - tra- político nacional e regional. A analise da frequência
tam, indistintamente, da Amazônia Legal. Outros em que determinados grupos de palavras são incluí-
42% de matérias cobriam os Estados, destacando- dos nas matérias serviu para mostrar que algumas
se o Acre, com cerca de 14% e o Pará com 10%; e associações já estão incorporadas no vocabulário
o restante, distribuindo-se entre Amazonas, Mato hoje disseminado pela imprensa, nacional e local,
Grosso e Roraima, aproximadamente 5% para cada de acordo com a tabela n° 3. Expressões como
um deles, e, Rondônia e Amapá com 2% e 1% res- «Meio ambiente» foi prioritário, com 357 ocorrên-
pectivamente. Os outros 14% referiram-se à áreas cias. Curiosamente, «Estados Unidos», aparece em
como o Arco do Desmatamento ou grupos de quinto lugar, aspecto ligado, ao grande destaque
Estados. dado pela imprensa a respeito do Plano Colômbia e
Já a figura 7.5 mostra a diversidade dessas fontes, da proposição de governo internacional para a
suas origens, e ressalta a maior frequência desses Amazônia, supostamente difundida em livros esco-
temas nos jornais O Estado de São Paulo e a Folha lares daquele pais.
de São Paulo, ambos de circulação nacional, segui- Retrocedendo-se ao período entre as décadas de 70
dos pelos jornais regionais vinculados à cadeia da e 80, quando a ruptura entre Estado e sociedade era
Gazeta Mercantil - Gazeta Mercantil do Pará, do tão profunda, seria inimaginável haver espaço para
Amazonas e de Cuiabá. o debate e difusão dos diferentes olhares sobre um
Em relação à frequência em que os temas são abor- modelo de desenvolvimento. As consequências
dados no total da amostra analisada, a tabela n° 2 sociais ligadas à grilagem de terras, expulsão e
ressalta claramente o predomínio das críticas às morte de populações de posseiros, ainda que fos-
políticas públicas atuais e à emergência absoluta do sem continuamente denunciadas, entre outros por
ideário a respeito dos novos modelos, respectiva- CASTRO e HEBETTE (1989), IANNI (1979),
SADER (1981), EGLIN e THÉRY (1981), VAL-

229
230
Tabela n° 3 - Frequência da ocorrência de grupos de duas palavras associadas

Grupo de palavras N° Grupo de palavras N° Grupo de palavras N° Grupo de palavras N°


Meio ambiente 357 Desenvolvimento regional 45 Países desenvolvidos 34 gazeta Cuiabá 29
Mato grosso 203 Governo brasileiro 43 Povos indígenas 34 José Sarney 29
Recursos naturais 155 Medida provisória 43 Sociedade brasileira 34 Mercantil amazonas 29
Governo federal 140 Outros países 43 Terras indígenas 34 Seus recursos 29
Estados unidos 112 Chico Mendes 42 Efeito estufa 33 Desenvolvimento amazônia 28
Gazeta mercantil 109 Países ricos 42 Policia federal 33 Fronteira agrícola 28
São Paulo 105 Zona franca 42 Todo pais 33 Nosso estado 28
Manejo florestal 94 Amazônia brasileira 41 Três anos 33 Presidente Fernando 28
Reforma agraria 94 Centro oeste 40 500 anos 32 Questão ambiental 28
Desenvolvimento sustentável 81 Matéria prima 40 Avança Brasil 32 Recursos florestais 28
Código florestal 78 Marina silva 39 Desenvolvimento econômico 32 Semana passada 28
Infra estrutura 77 Opinião publica 39 Henrique Cardoso 32 Soberania nacional 28
Floresta amazônica 75 Políticas publicas 39 Impacto ambiental 32 Desmatamento amazônia 27
Reserva legal 65 Amazônia legal 38 Longo prazo 32 Dez anos 27
Região amazônica 62 Incentivos fiscais 38 Sarney filho 32 Território nacional 27
Rio branco 58 Alfredo Homma 37 Suas terras 32 Últimos anos 27
Jorge Viana 55 Deputado federal 37 Unidades conservação 32 Araguaia Tocantins 26
Mercantil para 55 Jornal pessoal 37 Correio braziliense 31 Banco mundial 26
Washington Novaes 54 Presidente republica 37 Mata atlântica 31 Novaes jornalista 26
Forças armadas 51 Roberto Smeraldi 37 5 milhões 30 Qualidade vida 26
Fernando Henrique 50 Sociedade civil 37 Agenda 21 30 Uso sustentável 26
Poder publico 50 Instituto nacional 36 Floresta tropical 30 Áreas desmatadas 26
Lúcio Flávio 49 Sem terra 36 Ministério publico 30 Boa vista 25
Congresso nacional 46 Recursos hídricos 35 Amigos terra 29 Ciência tecnologia 25
mão obra 46 Rio janeiro 35 Energia elétrica 29 Diversidade biológica 25

Fonte: analise de frequência nos textos do projeto "análise e monitoramento das políticas públicas por meio do debate na
imprensa brasileira", Amigos da Terra

VERDE (1980), ficavam restritas aos espaços polí- ferocidade das críticas a respeito dos impactos e das
ticos alternativos ou científicos e não eram aborda- consequências das políticas setoriais nacionais
dos pelos meios de comunicação de massa. sobre a biodiversidade e os recursos locais. Uma
O espaço conquistado pouco a pouco pela socieda- agressividade crítica que é encontrada também em
de, na última década do século XX, é resultante de sentido inverso, quando se considera que as inicia-
um dinamismo crítico e, ao mesmo tempo, proposi- tivas de preservação e conservação da biodiversida-
tivo. Primeiro, decorrente da denúncia das conse- de impedem o desenvolvimento da Região. Na ver-
quências ambientais e territoriais da frente pioneira dade, o argumento de referência é que as iniciativas
de ocupação; segundo, porque a partir do momento conservacionistas bloqueiam o desenvolvimento da
em que a natureza se transforma em recurso para o Região. Ao fundamentarem-se sobre tais argumen-
desenvolvimento, mesmo desconhecendo-se ainda tos, recuperam assim a visão predominante durante
o seu real potencial de uso, abre-se uma verdadeira o período de governo militar recente, agora emba-
guerra pelo domínio de tecnologia para sua explo- sada no raciocínio de que a escolha pela melhoria
ração. E, no Brasil, o desvendamento das carac- das condições de vida da população local e pelo
terísticas e potencialidades dos recursos biológicos desenvolvimento contrapõe-se à guarda da Região
encontram-se ainda em estágio embrionário. como patrimônio intocável, cujo aproveitamento e
Terceiro, porque a Amazônia é um dos símbolos benefícios somente servirão a outros países, impe-
internacionais e há uma mobilização nacional para dindo a população local de beneficiar-se dos recur-
construir um modelo de desenvolvimento da sos que lhes pertencem.
Amazônia. Mas, lado a lado com essas críticas violentas,
Certamente este é um quadro que impulsiona a outros pontos de vista conquistam simultaneamen-
231
Tabela n° 4 – Temas abordados segundo grupo de autores

Temas Jornalista Órgão Pesquisador ONG Parlamentar Organismo ONG Total


público multilateral e org
multilat.
Críticas políticas atuais 112 9 25 17 16 2 0 181
Novos modelos 48 33 24 25 17 0 1 148
Impactos ambientais 54 9 6 9 2 1 0 81
Interesses internacionais 44 9 14 5 4 0 0 76
Novos negócios 15 17 5 2 5 0 0 44
Preservação 5 1 2 3 0 0 0 11
Total 278 78 76 61 44 3 1 541

Fonte: Projeto Monitoramento Políticas Públicas - Amigos da Terra

te espaço, em virtude do aumento sempre crescente A amostra utilizada permite que se perceba como se
dos segmentos sociais que defendem a sustentabili- apoderam deste conteúdo e como os direcionam.
dade do desenvolvimento. A apropriação do quali- Assim, grupos distintos servem-se dos conteúdos
ficativo - sustentável - é realizada tanto pelos seg- em sentidos opostos, falam de novo modelo, novos
mentos comunitários e ambientalistas e governos, negócios, impactos ambientais, preservação, criti-
como pelos setores produtivos, produtores de grãos cas às políticas públicas e interesses internacionais.
e outros setores mais conservadores. A tabela n° 5 e o figura 7.5 que relaciona os assun-
Entre as matérias analisadas identificam-se também tos abordados segundo a área de abrangência dos
posicionamentos que reforçam a necessidade de jornais, deixa ainda mais claro que a sociedade
condutas governamentais, e da sociedade, voltadas local, senão completamente envolvida, tem tido à
para a conservação, assim como a expectativa de sua disposição um nível maior de informação trans-
que investimentos em experiências comunitárias, formando questões anteriormente distantes, em
ou de pequena envergadura aportarão, resultados algo presente. Jornais locais já tratam de temas glo-
positivos. bais e suas articulações com as políticas locais, dos

Tabela n° 5 - Temas abordados segundo áreas de abrangência dos jornais

Abrangência Críticas Impactos Interesses Novos Novos Preservação Total


dos jornais políticas ambientais internacionais modelos negócios
atuais
Internacional 1 0 0 1 1 0 3
Local 106 37 41 61 18 5 268
Nacional 64 39 32 51 11 9 206
Regional 22 8 10 40 20 0 100
Total 193 84 82 154 50 14 577

Fonte: Amigos da Terra

Na verdade, são correntes que se entrecruzam receios da internacionalização da Região, e sobre-


defendendo condutas tão distintas sob as luzes dos tudo de novos modelos de desenvolvimento.
mesmos argumentos que tornam ainda mais confu- A temática abordada e sua organização
sa e mais difícil a escolha dos modelos de desen-
volvimento. É interessante perceber a forma que as No tema de novos modelos incluíram-se as matérias
diferentes correntes e representações se apropriam que trataram de propostas estaduais de políticas
do conteúdo das noções de sustentabilidade, prote- governamentais de desenvolvimento sustentável
ção, uso dos recursos naturais. assim como de programas sustentáveis dentro do
PPA, manejo e tecnologia (florestal, pesqueiro,
232
manejo da pecuária, etc.), novos sistemas de produ- governo federal, cidades e novos pólos de desen-
ção agro-florestal (SAFs), modificação da matriz volvimento, reestruturação institucional e ação do
energética, com a inclusão do gás natural, formas Ministério Publico, gestão ambiental de empresas
de redução da biopirataria com C&T e uso da bio- com ISO 14000, adequação do Código Florestal,
diversidade , agendas positivas propostas pelo Agenda XXI. Foram também inseridas nesse

233
conjunto as propostas que surgiram visando estabe- indígenas e dos avanços consubstanciados no novo
lecer o papel e objetivos de uma Agência de desen- Sistema de Unidades de Conservação, que inclui o
volvimento que deverá substituir a SUDAM.. respeito às populações tradicionais. Incluiu-se tam-
No tema novos negócios incorporam-se os debates, bém neste tema as matérias que trataram do ecotu-
ideias e projetos de produtos novos que podem ser rismo como uma forma de preservação da biodiver-
explorados a partir da biodiversidade através de sidade e como uma forma de controle da biopirata-
joint-ventures com pequenas empresas; dos valores ria; assim como a manutenção da navegabilidade
de mercado para novos produtos; do século XXI do rio Tocantins, sem o seu barramento em Tucuruí,
como o século de domínio do conhecimento bioló- como um instrumento de preservação; a implanta-
gico; mas também da nova forma de produção agrí- ção dos projetos SIVAM-SIPAM.
cola. A análise das matérias que utilizaram argu- No âmbito do tema críticas às políticas públicas
mentos sobre a produtividade agrícola desta foram classificados todos tipos de críticas às políti-
Região, tanto da soja como do algodão, apontaram cas setoriais, energéticas, de infra-estrutura, de
para o altíssimo potencial de tais produtos para a meio ambiente e mesmo a indígena. Incluíram-se
constituição de novos negócios, como consolida- aquelas dirigidas aos planos dos governos federal
dores do desenvolvimento regional. Ainda no (Avança Brasil) e estaduais relacionadas aos mode-
contexto deste tema incorporou-se também a utili- los sustentáveis propostos pelos Estados do Acre e
zação de algumas espécies como fonte de criação e Amapá, como um retrocesso ao desenvolvimento.
enriquecimento de novos produtos alimentícios; do Incorporaram-se também as matérias relacionadas
aproveitamento das oportunidades advindas pelo ao crescimento da indigência na Amazônia como
conhecimento da biodiversidade para fomentar consequência das políticas nacionais, os atos de
novas indústrias de base tecnológica, e as novas suborno, tema recorrente no ano de 2001, a partir
empresas que exploram os conhecimentos e recur- do momento em que começaram a ser desvendadas
sos das populações indígenas e tradicionais. as redes de corrupção, dentro das superintendências
No tema Impactos ambientais englobaram todas as regionais, especialmente a Sudam. A maioria abso-
matérias que relacionam, qualificam e/ou quantifi- luta das matérias constituíram-se em duras críticas
cam as consequências ambientais das políticas à falta de tomada de decisão política para estancar
públicas em geral, e especialmente do Avança o processo de corrupção, foram incorporadas neste
Brasil e das políticas de integração de infra-estrutu- conjunto.
ra na América do Sul, do fogo e do desmatamento; Outro tema controverso, contundente relacionado
da exploração predatória da floresta, do garimpo de aos interesses internacionais e frequentemente pre-
madeira e das madeireiras; da utilização do solo sente nos meios de comunicação abordam um
com assentamentos agrários e agro-pecuária; das amplo universo que se movimenta entre as razões
consequências sobre a saúde humana assim como ocultas, ou mal explicadas, para a preservação dos
da implantação de projetos com incentivos da índios e da Amazônia ou da suposta inexistência de
Sudam e Basa. controle da biopirataria. Neste tema inclui-se tam-
Neste universo, de diferenciadas apropriações dos bém o tráfego de drogas nas fronteiras regionais e o
novos princípios e paradigmas, o conteúdo incluso Plano Colômbia como ameaças à integridade da
no tema preservação foi praticamente o único cujos Amazônia; as relações de força e os interesses pre-
discursos e posicionamentos foram dotados de cla- sentes nas negociações internacionais sobre o
reza e explicitação. As matérias abordaram o com- Protocolo de Kyoto e o mecanismo de desenvolvi-
prometimento do próprio presidente Fernando mento limpo. Os posicionamentos internacionais
Henrique Cardoso e a inserção do Brasil nos propó- geralmente questionam a soberania nacional sobre
sitos do projeto “Forest for Life” da WWF – a Amazônia assim como, as defesas aos direitos
“Aliança para a Floresta” (WWF/BIRD) de elevar humanos e ao meio ambiente considerando-os além
para 10% as áreas sob proteção legal; as proposi- das questões relacionadas à soberania nacional.
ções que visam ampliar a educação ambiental e a Nesse contexto é que deve-se avaliar quanto as
consciência de preservar; a demarcação de reservas ONG se caracterizam pelo dinamismo de sua parti-

234
Tabela n° 6 – Autores em relação à abrangência dos jornais

Jornalista Pesquisador Órgão ONG Parlamentar Multilateral ONG Total


público multilateral

Internaciona 1 0 0 1 0 1 0 3
Local 164 33 21 21 25 1 0 265
Nacional 116 19 27 22 14 1 0 199
Regional 5 47 13 17 7 0 1 90
Total 286 99 61 61 46 3 1 557

Fonte: Projeto Monitoramento de Políticas Públicas. Amigos da Terra

cipação, marcada por proposições alternativas de argumentação favorável e justificativas ao manejo


modelos para o desenvolvimento da Região, super- florestal, as alternativas à exploração seletiva e pre-
ando totalmente uma fase anterior em que se carac- datória da madeira, ao zoneamento florestal, as flo-
terizavam mais pelas denúncias do que pelas pro- restas de produção e também, dirimindo dúvidas
posições. Esta participação é respaldada pelo quanto à certificação florestal; o envolvimento das
aumento significativo em números e também pela comunidades, propostas para superar a questão dos
mudança de perfil institucional, já anteriormente incêndios florestais. Pontos de vista coerentes com
apreciado. Há uma coerência entre o discurso bem seu perfil e modo de atuação. Acompanharam os
fundamentado, em amplos argumentos de defesa, debates no Congresso do Código Florestal e procu-
em favor da valorização da ecologia e da biodiver- raram ressaltar a importância da manutenção das
sidade. Argumentos que servem para o enquadra- condições da floresta para a economia regional. No
mento geral e o norteamento das ações de projetos Acre, a PESACRE, também, veio a público diver-
internacionais e nacionais e também para as expe- sas vezes defendendo o programa sustentável de
riências menores, em projetos locais. produção do Governo da Floresta.
Imagens disseminadas pelas ONG Por sua vez, o Instituto Sócio-Ambiental procurou
insistir acerca da necessidade de novos modelos.
Ao analisar o discurso da Amigos da Terra, IMA- Suas proposições, entretanto, foram antecedidas
ZON, ISA, WWF e outras associações compo- por fortes críticas ao modelo adotado pela FUNAI,
nentes desses grupos 13 percebe-se que, se nas déca- sugerindo pois a adoção e replicação de modelos
das de 70 e 80, esse se caracterizava pelas denún- experimentados no PPG7, por meio do PPTAL e
cias, duras críticas e incentivo à preservação; na dos PD/I. Analisou também os avanços atuais pra-
pós-Conferência do Rio e no final da década de 90, ticados, no Estado do Acre, por meio da política de
os mesmos se direcionaram à proposição de novos desenvolvimento sustentável dos povos da floresta
modelos14 e de instrumentos, de desenvolvimento, e suas propostas de zoneamento e uso múltiplo
embora as críticas às políticas governamentais frente ao legado de Chico Mendes. Divulgou o
ainda sejam seu alvo de preocupação e de ação, manejo florestal realizado por comunidades indíge-
ampliando-se para os impactos ambientais, decor- nas como a do Xikrin e Kaiapó, em Marabá, como
rentes da forma predatória ao uso dos recursos um modelo a ser replicado. O ISAtratou também de
naturais e consequentemente, às possibilidades de preservação ao analisar alguns avanços incorpora-
surgimento de novos negócios. dos no novo Sistema Nacional de Unidades de
Os novos modelos para estas 4 organizações estão Conservação, especialmente quanto às relações das
vinculados à melhoria do aproveitamento e a manu- populações tradicionais residentes em sítios preser-
tenção da sustentabilidade dos recursos naturais, da vados, ao incorporar, prioritariamente, a compatibi-
redução de impactos ambientais e da consequente lização da presença humana na UC, e somente
melhoria da renda dos atores envolvidos. quando essas populações tiverem que ser realoca-
Grande parte das matérias assinadas pelo IMAZON das, caberá ao poder público o seu reassentamento.
estiveram voltadas para as florestas, ou seja, com
235
No contexto de impactos ambientais, analisou as ampliar o debate e campanha nacionais e que ins-
relações das pequenas propriedades com o desma- trumentos propostos no projeto parlamentar de
tamento, especialmente no Arco do Desmatamento. conversão têm uso político, como foi o caso do
Já a abordagem mais frequente da Amigos da Terra ZEE de Rondônia.
relacionou-se às políticas públicas, à importância Quanto aos impactos ambientais duas questões
do novo programa do Governo do Acre, que asso- marcaram a preocupação das ONG: o desmatamen-
cia parceria na construção do modelo para o to, suas causas, seus agentes, e o fogo. A exploração
«Governo da Floresta»; do pacto construído entre predatória do mogno e os impactos que alguns pro-
os principais atores e os governos federais e esta- jetos governamentais de grande envergadura estão
duais com as Agendas Positivas; ao quadro institu- causando na Amazônia (o gás de Urucu, a forma de
cional existente de superposição de responsabili- exploração e o perigo que a fragilidade da Petrobrás
dades e ações governamentais; das contradições representa); dos grandes projetos de infra-estrutura
entre políticas e incentivos da SUDAM, assim do Avança Brasil como causadores de desmatamen-
como, aproveitando-se da crise que terminou com a to e de impactos.
extinção dessa instituição, apresenta a proposta de As opiniões da WWF vincularam-se à implementa-
uma avaliação de seu objetivo e futuro papel. ção do Protocolo Verde, à proposição de linhas de
Um outro eixo de análise foi o legado de Chico incentivos a modelos e tecnologias ambientais para
Mendes para a Amazônia e para o mundo; desta a Amazônia dentro dos programas de governo; à
herança para o atual governo e política florestal do preservação e certificação florestal como base eco-
Acre; o destaque à importância estratégica da bio- nômica fortalecida na Região; ao projeto de
diversidade amazônica, da preservação; das vanta- expansão e consolidação das Unidades de
gens da certificação florestal. Já as críticas às polí- Conservação.
ticas públicas abordaram a criação de Flonas sem o A argumentação dos jornalistas e pesquisa-
sistema de concessões, ao avanço legal mas sem a dores
capacidade institucional e administrativa para fazer
cumprir a lei de crimes ambientais, das razões que O maior conjunto de artigos relativos ao desenvol-
resultaram na posição oficial de não permitir que o vimento da Amazônia, os impactos sobre seus ecos-
mogno fosse inserido na CITES; na necessidade de sistemas, e aos negócios que possam dar densidade
reestruturação institucional e da falta de informa- econômica para a Região foram assinados por jor-
ções para planejamento; da difusão dos objetivos nalistas. A figura 7.6 mostra os assuntos que mais
do imposto verde; assim como denúncias de que interessam por grupo de autores. Além dos edito-
funcionários do IBAMA do Pará estariam associa- riais, a maior concentração de matérias estão assi-
dos à madeireiras; da necessidade do Ministério da nadas por dois jornalistas, Washington Novaes e
Política Fundiária e MMA se associarem para solu- Lúcio Flávio Pinto15. O primeiro, utiliza normal-
cionar questões de malária em assentamentos agrá- mente os jornais de circulação nacional – o Estado
rios; que o recuo do Congresso no debate sobre o de São Paulo e alguns jornais do Centro-Sul e o
Código Florestal deveria ser aproveitado para segundo, utiliza com maior frequência os jornais

Tabela n° 7 – Autores em relação à abrangência dos jornais

Jornalista Pesquisador Órgão ONG Parlamentar Multilateral ONG Total


público /multilateral
International 1 0 0 1 0 1 0 3
Local 164 33 21 21 25 1 0 265
Nacional 116 19 27 22 14 1 0 199
Regional 5 47 13 17 7 0 1 90
Total 286 99 61 61 46 3 1 557

Fonte: Projeto Monitoramento de Políticas Públicas. Amigos da Terra

236
237
regionais (Gazeta Mercantil do Pará) ou periódicos As avaliações críticas recaíram também na política
de outras ONG (Parabólicas) e, eventualmente, o ambiental e em sua incapacidade de dar respostas,
Estado de São Paulo. porque, suas estratégias e diretrizes, ao evidenciar o
Outro grupo de autores com expressão no universo avanço dos fundamentos legais, chocava com a fra-
de matérias analisadas foram os pesquisadores, nor- gilidade administrativa das instituições e com a
malmente vinculados às Universidades, localizadas incapacidade de alterar o quadro de impactos
na Região e em outros Estados brasileiros e, even- decorrentes do processo de incorporação econômi-
tualmente, pesquisadores reconhecidos dos ca da Região. Argumentavam que, mesmo com o
Institutos de Pesquisa como o INPA, o Museu compromisso político originado na negociação das
Goeldi ou a Embrapa/CPATU. Agendas Positivas, e da articulação com a política
É exatamente no conjunto de temas explorados por fundiária na proposição de assentamentos sustentá-
jornalistas, individualmente, ou nos editoriais, que veis, não se bloqueou o avanço do desmatamento.
se encontram as visões mais contraditórias sobre o Questionaram o IBAMA quanto à sua incapacidade
mesmo assunto e também as críticas mais duras. No de gestão, exemplificado pelo excesso de tempo na
que se relaciona às críticas, notou-se um vínculo aprovação da criação de RPPNs, pela fragilidade
estreito entre a intensidade das mesmas e fatos que representa a concessão de florestas, por meio
específicos com destaque às contradições internas, de licitação e do sistema de monitoramento e pre-
face às prioridades de privatização e de inserção venção.
internacional, adotadas pela política de Governo e Um dos assuntos mais tratados no âmbito do
seu programa nacional. grupo interesses internacionais, durante o período
Nas críticas às políticas públicas atuais o teor dos 1998 a 2001, relacionou-se aos problemas do trá-
artigos se referem, grosso modo: ao posicionamen- fico de drogas e de grupos armados que transitam
to indefinido, brigas institucionais e a negligência facilmente de um país para outro, sem controle de
do governo federal frente ao incêndio em Roraima, fronteiras, o Plano Colômbia e a possibilidade de
que durante três meses não cessou de crescer e de intromissão militar no território brasileiro. No
provocar danos ambientais, sociais e econômicos; contexto desta temática, é importante resgatar a
focalizando-se no lançamento do Avança Brasil e análise que PROST (2001) apresenta sobre a evo-
seus projetos de infra-estrutura, seguido de lução do discurso e a recolocação das forças
constantes questionamentos sobre o desconheci- armadas brasileiras frente ao cenário mundial da
mento dos impactos que o mesmo poderia provo- geopolítica ambiental e a Amazônia. PROST
car; o perigo de se investir novamente em grandes mostra a mudança do regime militar, fundamenta-
projetos hidrelétricos, assim como a incoerência do no novo discurso, de «defesa da Amazônia»,
entre objetivos e projetos do Governo. de significação nacionalista para os militares,
Outros aspectos criticados das políticas públicas criado pela necessidade, deste segmento nacional,
foram relacionados à questão agrária no Arco do ver seu trabalho, na fronteira brasileira, ser bem
Desmatamento ou “Arco da Destruição”, o proces- visto e aceito pela sociedade brasileira. Um novo
so de grilagem de terras; a anistia aos devedores do posicionamento que é marcado também pela acei-
FINOR/FINAM, cujos projetos contribuíram para o tação, pelo reconhecimento de grupos sociais e de
estado atual do meio ambiente amazônico, assim suas territorialidades.
como denúncias de corrupção na SUDAM, nas Capiberibe (MOULIN, 2000:47) chama a atenção
obras de Tucuruí. Denúncias estas, que jamais para o fato de que há riscos de conflitos graves
foram objeto de um sério procedimento judicial nas fronteiras com a Venezuela, Peru e Colômbia:
para sua apuração e solução. “os traficantes de drogas tornam-se cada dia mais ativos na
Um dos eixos mais abordados nos editoriais, por Amazônia: eles estabelecem pontos com os cartéis colom-
bianos, peruanos e venezuelanos, enriquecendo-se e for-
jornalistas e pesquisadores, foram as contradições mando uma rede de cumplicidade seja no executivo, no
das políticas públicas, vistas pelo ângulo do isola- legislativo, no judiciário” 16..
mento da política ambiental face às prioridades de Agrega-se, portanto, aos argumentos críticos dos
governo e os tipos de impactos decorrentes. jornalistas e pesquisadores as ações de governo,

238
pois mesmo que estas restrinjam-se ao setor mento do Ministério do Meio Ambiente, a coope-
ambiental ou incorporem ações de alguns poucos ração técnica e financeira bi e multilateral, consti-
setores. Na verdade, em se tratando de projetos, tuída dos financiamentos internacionais do Banco
ações e experiências concretas, realizáveis e em Mundial, Banco Interamericano e Fundo Mundial
implantação na Amazônia, seus limites estão nas para o Meio Ambiente (BIRD, BID, GEF), da
fontes de financiamento, que apenas são o orça- União Europeia e da OCDE.

239
A opinião dos parlamentares que permitem aumento da renda familiar; o poten-
Os parlamentares - deputados e senadores - também cial de remédios que podem ser explorados na flo-
têm comparecido em reportagens ou colunas de resta e como o turismo científico e o ecoturismo
opiniões dos meios de comunicação. O desenvolvi- podem constituir alternativas. Insistem na necessi-
mento sustentável e os novos negócios são, agora, dade do governo voltar-se para as iniciativas locais
parte integrante de seus discursos. Embora sejam o e comunitárias com a alteração dos beneficiários de
grupo de menor frequência, conforme ressaltado financiamentos, destacando como modelos os dois
pela tabela n° 4, suas proposições de novos mode - programas de governo, do Acre e do Amapá.
los aparecem como tema de maior interesse, Defenderam a alteração do Código Florestal mos-
seguindo-se ao qual seguem-se as críticas às políti - trando como o projeto de conversão interessava
cas públicas atuais. somente ao latifúndio improdutivo, defenderam
Os partidos políticos mais presentes no universo também a necessidade de reforma agrária e de
analisado, foram o Partido dos Trabalhadores (PT), implantação de um modelo de agricultura sustentá-
PMDB e PSDB. Entre os parlamentares do PT des- vel.
taca-se a senadora Marina Silva que vem defenden- Nabor Júnior criticou a manutenção de 80% como
do as ideias deixadas por Chico Mendes, vigentes reserva legal na floresta amazônica, em sua visita
vinte anos depois, nos trabalhos do governo de ao Acre, e considerou que o compromisso do gover-
Jorge Viana, no Acre, e do seu próprio. Defendeu, no federal, de apoio aos municípios representava
em diversos momentos, aspectos vinculados à sobretudo um novo caminho, um novo modelo de
construção da cidadania (das populações tradicio- federalismo. Já as críticas de Salomão Cruz relacio-
nais ou indígenas), e de uma sociedade mais justa. naram-se aos interesses internacionais sobre a
Avalia a originalidade e a importância de algumas Amazônia, ao modelo ultrapassado de agricultura
experiências entre populações indígenas e empresas familiar. Blairo Maggi e Ricarte Freitas, ambos do
sejam nacionais, sejam internacionais. Faz duras Mato Grosso, tem enfoques específicos: enquanto o
críticas ao retrocesso do governo quanto a Lei primeiro valoriza a agricultura moderna e a compe-
Ambiental (o Código) e quanto à ambiguidade no titividade da soja, defendendo a implantação da
que se relaciona ao modelo de desenvolvimento infra-estrutura; o segundo considera que os impac-
para a Amazônia. tos ambientais prejudicam não apenas a economia
Em termos de frequência, seguem os senadores local mas sobretudo traz prejuízos à saúde da popu-
Nabor Teles Júnior (PMDB-AC), Salomão Cruz lação, critica os conflitos entre governo federal e
(PPB-RR), Ricarte de Freitas (MT) e o deputado estaduais quanto à política ambiental, ressaltando
Moacir Micheletto (PMDB-PR). Os senadores dos que as exigências e indefinições concernentes às
partidos conservadores da chamada bancada guias de transporte, de produtos florestais, inviabi-
Amazônica privilegiam debates que contrapõem o lizam a atuação dos empresários.
sul e o norte do país: as desigualdades regionais O deputado Moacir Micheletto, do PMDB (PR) tra-
entre o Sul do país, rico, e a Amazônia pobre, à tando da questão do Código Florestal atribuiu à
inviabilidade do desenvolvimento da Amazônia incompetência do governo as altas taxas de desma-
com a alteração do percentual da reserva florestal e tamento, com solução equivocada em função da
cuja a mudança proposta só ocorreu por interferên- percepção também equivocada do problema. Para
cia das ONG, das desvantagens de continuar ele, a redução de desmatamento não se resolverá
implantando na Região um modelo ultrapassado de com o aumento da reserva legal.
agricultura familiar e do surgimento de novos 4. A mobilização em torno do Código
negócios, no país, com a implantação de infra- Florestal
estrutura do Avança Brasil, que garante aumento da
competitividade da soja brasileira. Enquanto alguns avanços estão sendo
Do outro lado do espectro político, os parlamen- contabilizados pela política externa brasileira, em
tares do PT e alguns do PSDB defenderam os novos termos de discussão e de negociação de florestas no
negócios com o aparecimento de novas tecnologias âmbito regional da América do Sul, internamente

240
houve o recrudescimento de posições mais conser- ser sobre formas de rompimento de relações de
vadoras no âmbito da discussão sobre a alteração poder e alternativas e não sobre percentuais:
do Código Florestal (Lei 4.771/65) - a Medida “(…) a partir do momento em que se pretende fixar
Provisória 1.511 que altera o art. 44 dessa Lei, um teto único de desmatamento para todas as
enviada ao Congresso em julho de 1996 e suas pos- regiões e para as propriedades de diferentes taman-
teriores reedições. hos. O teto único seria suficientemente realista para
Segundo esta MP, nas propriedades da Amazônia desencorajar a fraude? Por que não se imaginar,
onde a cobertura vegetal for constituída de flores- entre outras fórmulas, sistemas agroflorestais agru-
tas, o corte raso só será permitido em até 20% dessa pando pequenos e grandes proprietários, sobretudo
área. O objetivo governamental foi aumentar o per- nas áreas em que existem aquelas reservas flores-
centual da «área de reserva legal» não apenas a tais a serem conservadas intactas? Isso não iria ate-
reduzir a área de florestas legalmente passível de nuar as fragmentações e facilitar a transparência na
corte raso, mas, principalmente, não permitir a administração dos projetos agroflorestais privados?
expansão do desmatamento nas propriedades com Qualquer que seja a solução, ela não deveria ser
áreas já desmatadas e subtilizadas ou mesmo degra- indulgente com aqueles grandes proprietários que,
dadas. Com isto, legalmente, o círculo vicioso da na Amazônia e em particular no Pará, continuam
abertura e abandono de áreas, que marca o proces- desmatando ilegalmente milhares de hectares por
so de expansão da fronteira agro-pecuária na ano. O peso político deles na região é considerável
Amazônia, seria estancado. O antigo limite de 50% e, por isso, será necessário muita coragem e muitos
acabou por provocar uma fragmentação da floresta meios para que se acabe com a impunidade desses
remanescente que induz à alteração de sua compo- desflorestamentos”.
sição e estrutura. Para LÉNA (2001), a questão conjuga diversos
Entretanto, esses índices não agradaram alguns interesses de múltiplos atores, principalmente
governos estaduais e parlamentares ligados aos pro- governos locais, proprietários de terra, movimento
prietários de terras na Amazônia. Criaram uma ver- dos sem-terra, governo federal. Muitos governos
dadeira controvérsia. Razão pela qual ela foi reedi- locais não hesitam em conceder terras em troca de
tada cerca de 63 vezes17, transformando a proposta votos e reclamam continuamente pela melhoria das
que modificava apenas o artigo 16, do Código infra-estruturas de comunicação; grandes proprietá-
Florestal, em uma verdadeira reforma desse rios exercem forte pressão sobre o governo favorá-
Código, por ter incorporado outras modificações veis à colonização por se sentirem ameaçados por
em suas sucessivas reedições (José Arimatéia: possíveis invasões de terra pelo movimento dos
2001). sem-terra, protelando ações governamentais de
Esta polêmica mobilizou também representantes reforma agrária na Amazônia.
dos segmentos científicos, organizações não-gover- Ao lado desses movimentos, os governos estaduais
namentais, jornalistas, além de parlamentares. insistem nas demandas de infra-estruturas e no dis-
Cerca de 10% dos artigos de jornais e revistas tra- curso do desenvolvimento, visto como crescimento
taram exclusivamente de questões relacionadas ao econômico, não se importando com o grande deba-
Código Florestal, abordando com maior frequência, te sobre as taxas de desmatamento, ainda que seus
entre os diversos elementos presentes nas modifica- Estados se situem no topo destes índices, dentro do
ções, a reserva legal; a conversão; o zoneamento chamado “Arco do Desmatamento” (RO, MT, PA,
ecológico-econômico como instrumento para deter- TO, MA).
minação da reserva e dos usos; o valor da floresta Mesmo ao governo do Acre, Estado cuja política é
para a economia regional e dos meios para sua fundamentada sobre uma política de floresta e seu
manutenção. manejo, a proibição não resolve. O posicionamen-
THÉRY (Jornal da Tarde, 10 de junho de 2000) to do governador foi analisado pelo editorial da
considerou a controvérsia sobre os novos limites do Folha de São Paulo (24 de outubro de 1998):
Código Florestal uma questão mal colocada. Uma “Algumas declarações de líderes políticos, ainda
polêmica que mascara o debate, pois, esse deveria que não possam ser tomadas por seu valor de face,

241
têm o poder de questionar unanimidades e, com para impedir que os partidos conservadores, no
isso, de fazer avançar o debate de questões sobre as Congresso Nacional, derrubassem a MP do
quais só o ranço ideológico se acumula. Nessa cate- Executivo.
goria parece encaixar-se a defesa da exploração do Durante quase 4 anos, um processo de «medição de
mogno feita em entrevista a esta Folha pelo gover- forças» ocupou a pauta de discussão e de negocia-
nador eleito do Acre, o petista Jorge Viana. Suas ções, sobre as Medidas Provisórias, com recuos e
palavras encontrarão certamente apoio naquela avanços. Contraposições entre ruralistas e ambien-
parte da população do Estado do Acre – e da opi- talistas, cientistas, instituições governamentais e
nião pública nacional - que identifica responsabili- não-governamentais do setor ambiental e parlamen-
dade ambiental com restrição à exploração de tares, procuraram exprimir seus argumentos a favor
recursos naturais, e não com o modo adequado de ou contra as modificações. Este assunto continua
fazê-lo. É razoavelmente seguro também prever provocando polêmicas.
que despertará a ira de muitos ambientalistas, No decorrer de 2000, nos meses que precederam e
contrários por princípio à ideia. Fosse apenas por sucederam a votação do relatório do relator na
isso, sua manifestação não mereceria comentário. Câmara (maio), o tratamento do tema pelos meios
Ocorre que o governador eleito acompanhou-a de de comunicação foi bastante acentuado. Em segui-
um raciocínio correto e até certo ponto surpreen- da houve um acordo de lideranças e o Executivo
dente, vindo de um setor de espectro político mais pediu retirada do projeto. Polêmicas geradas acerca
próximo dos fundamentalistas ambientais do que dos objetivos da MP; a desinformação técnica18
dos exploradores a ferro e fogo (lamentavelmente, acerca das mudanças pretendidas deu lugar aos
é essa a dicotomia simplista que se resume boa debates políticos setoriais que vêem o processo de
parte do debate ambiental no Brasil). Viana, exigin- desenvolvimento e uso das florestas de maneira
do definições do governo federal, disse que o país diferenciada. Setores da sociedade organizada, uni-
precisa substituir a política do «não pode, não ram-se aos partidos de oposição ao Governo e utili-
pode» por uma política do «como é que pode». Tais zando as redes de solidariedade (de ONG, de cien-
palavras constituem uma forma direta de sumariar a tistas e de profissionais) conseguiram colocar em
conclusão que se deveria impor em todo debate destaque, mundo afora na velocidade da Internet, o
desapaixonado: melhor que proibir terminantemen- posicionamento dos ruralistas e a fragilidade do
te é investigar quanto do recurso florestal pode ser setor ambiental.
utilizado, sem esgotá-lo, para então disciplinar sua Provavelmente essa forte mobilização serviu para
exploração. No caso do mogno, o governo bloquear, por algum tempo, a prática da troca de
Fernando Henrique Cardoso decretou, em 1996, benefícios19 entre os partidos que constituem a base
moratória de exploração, prorrogada em junho por do Governo no Congresso. Diferentes segmentos
mais dois anos. A ideia é realizar estudos e inventá- sociais procuraram mostrar que a questão da
rios para definir quanto da madeira de lei pode ser conservação da floresta amazônica é um tema a ser
extraído sem ameaça para o futuro. Em que a pese analisado cuidadosamente, e que o mesmo não
a racionalidade da medida, ela não pode servir para pode servir de moeda de troca entre partidos da
adiar indefinidamente a formulação de uma política base política governamental.
moderna para o manejo e a exploração das florestas De um modo geral, podemos agrupar dois grandes
brasileiras, hoje submetidas ao saque desordena- conjuntos de argumentos: de um lado, os defen-
do”. sores não apenas de índices, mas do valor da «reser-
O debate acerca da reserva legal e do corte raso da va legal» e seus usos florestais, incluindo os instru-
vegetação florestal mobilizou não apenas os gover- mentos sugeridos; do outro, os defensores do
nos estaduais, no sentido destacado pelo governa- desenvolvimento baseado no uso agro-pecuário da
dor Jorge Viana de não aceitar o «congelamento» Amazônia, representados pela bancada ruralista no
do desenvolvimento regional ao respeitar estrita- Congresso e a Confederação Nacional da
mente os valores estabelecidos; mas também seg- Agricultura.
mentos da sociedade organizada quando se uniram Os defensores das propostas do Executivo muitas

242
vezes utilizaram o índice, 80-20, apenas para ilus- concedeu linha de financiamento especial à agricul-
trar, procurando dar maior racionalidade à dis- tura e nada ao setor florestal. […] bém aparece
cussão, criticavam a maneira como a bancada rura- timidamente quando a questão é a certificação de
lista apoderou-se de instrumentos caros aos madeira e de outros produtos pelo selo verde do
ambientalistas, como o ZEE, e como, no longo Forest Stewardship Council (FSC) ou Conselho de
caminho da MP, as alterações introduzidas quebra- Manejo Florestal. A busca de madeira certificada
vam a lógica ambientalmente correta e o conceito pelo FSC está se tornando o padrão do mercado
de capacidade de uso das terras segundo sua voca- internacional (Europa e EUA). […] A preservação
ção. Para Gilney VIANA, o resultado final propos- de florestas é inversamente proporcional à noção de
to pela relatoria da MP modifica altera os objetivos acúmulo de terras ociosas, mas a política oficial
e os meios previstos na versão primeira da MP, parece não ver dessa forma».
conforme destacado na A Gazeta de Cuiabá, 15 de Convém relembrar que de uma certa maneira, o que
março de 2000: Garo Batmanian demanda, no ano 2000, é a atenção
«(…) descaracteriza o ZEE; volatiliza o conceito de governamental para a criação de mecanismos de
Reserva Legal ao permitir que ela seja feita em valorização da floresta como a certificação florestal
outra propriedade; cria o mercado de títulos de ser- e linhas de financiamento - reproduz, quase vinte
vidão florestal sem preocupações com a biodiversi- anos depois as perspectivas inquietantes que apare-
dade, desde que o proprietário compense o desma- ciam nos anos 80. A madeira já era vista como um
tamento; transfere a responsabilidade material e dos recursos naturais de inserção mundial da região
técnica de recuperação das áreas degradadas e da amazônica e apesar da existência da «reserva legal»
recomposição da reserva ao poder público, depois os problemas ambientais já conhecidos, dessa
de dar facilidades aos proprietários; desobriga exploração, indicavam cautela e um estado de aler-
pequenas propriedades a averbar suas respectivas ta face às demandas crescentes dos países ricos e
reservas. […] É inconcebível que o governo ofere- seus reflexos sobre o próprio mercado internacio-
ça alternativas aos transgressores da lei sem antes nal. À época IBDF e FAO avaliaram o potencial das
colocar em vigor os dispositivos da Lei de Crimes reservas florestais num valor mínimo em torno de
ambientais suspensos através de uma MP. […] A US$ 90 bilhões de dólares. Defendiam a necessida-
agenda deve ser outra: é a proteção da floresta e os de de explorar esse potencial, argumentando que a
limites para ação antrópica dentro do conceito de criação de instrumentos e o controle, que era obri-
desenvolvimento sustentável». gação do IBDF, exercer sobre as empresas que
A atividade florestal e a possibilidade de que seu negociavam madeira poderiam reduzir as inquieta-
crescimento é de importância para a economia da ções. EGLIN e THÉRY (1982:81-90) analisaram as
Região foi outro aspecto analisado. Ilustrando com demandas mundiais, as empresas transnacionais
dados do próprio governo, Garo Batmanian, dire- envolvidas com a exploração degradadora e a pró-
tor-executivo do WWF, no Brasil, em O Estado de pria política de concessão de incentivos praticada
São Paulo, 21 de março de 2000, mostra as contra- pela SUDAM e os resultados negativos desse pro-
dições da política governamental ao criar mecanis- cesso. Os jornais alternativos da época como o
mos de incentivo à agricultura, aumentar a densida- Movimento, Resistência, Porantim, Amazônia
de de infra-estrutura na Amazônia e não dar devida Hoje, algumas ONG como a CNDDA, ao contrário
atenção aos impactos que causariam à conservação dos órgãos oficiais, denunciavam a continuidade do
e nem aproveitar a floresta como a solução lucrati- carácter predador dos empresários.
va para a economia regional e nacional. Vale res- Analisando em outra direção, Roberto SMERALDI
saltar alguns desses argumentos: (Amigos da Terra), em sua crítica, inclui as oportu-
«(…) O setor florestal, contribui com 4% na for- nidades de alterar a situação de maneira significati-
mação do PIB nacional e com 8% das exportações va, envolvendo outras políticas federais em benefí-
nacionais; gera 1,6 milhão de empregos diretos e cio da conservação da floresta e do desenvolvimen-
apresenta uma receita anual de R$ 20 bilhões. to regional. Primeiro, considera que o debate a
Apesar das evidências, recentemente o governo respeito do índice de preservação e manutenção da

243
reserva legal estaria mascarado pela proposta de ambientalistas, dos empresários rurais honestos e
uso do ZEE em cada Estado amazônico. Embora dos ministérios interessados para aproveitar o
dando uma roupagem técnica com a introdução de momento e redirecionar efetivamente os recursos
instrumentos de ordenamento e de participação do conjunto FNO – FCO – Basa –Sudam – Finam -
ativa dos Estados, na verdade, se o ZEE não estiver BNDES, agora para atividades sustentáveis. Isso
pronto e aprovado em 3 anos, poder-se-ia desmatar tornará economicamente interessante para qualquer
até 80% da propriedade. Obrigatoriedade que é um possuir floresta, pois ela se tornará lastro para
infactível, não somente pelo tempo necessário, se credenciar no acesso aos mecanismos de finan-
visto que os zoneamentos nos Estados de Rondônia ciamento e subsídio, acabando assim de vez com a
e Mato Grosso levaram entre 5 e 10 anos para equivocada discussão sobre ‘‘reserva legal’’.
serem realizados, mas sobretudo pelo custo que Os defensores do desenvolvimento baseado na
poderiam representar. agro-pecuária da Amazônia, representados pela
Outro aspecto abordado por Roberto SMERALDI, bancada ruralista no Congresso e a Confederação
em Correio Braziliense, 19 de maio de 2000 rela- Nacional da Agricultura, destacaram os imensos
ciona-se à validade dos obstáculos, à visão proibiti- prejuízos que o atendimento ao índice 80-20 pode-
va presente na MP, à discussão do papel do Estado ria causar a um Estado, como o Mato Grosso, que
e o volume de recursos destinados aos incentivos tem na sua base econômica a agricultura. Este
para o desenvolvimento regional. Para ele, se o grupo contrapôs exploração agrícola à pecuária,
governo considerasse a floresta como um recurso a sendo esta a causadora dos desmatamentos. Em
ser usado daria prioridade para definir mecanismos Gazeta de Cuiabá, de 27 de fevereiro de 2000, a
de crédito, de fomento, de capacitação, de incenti- necessidade de ampliação das fronteiras agrícolas
vo e até mesmo subsídios à atividade florestal, tanto foi defendida. Para eles, o setor rural detinha cerca
para o pequeno como para o grande produtor. de 70% do total das terras agricultáveis, utilizando
Aconselha transformá-la em base econômica regio- apenas 14%. Seus argumentos reforçavam a neces-
nal, incluindo as atividades madeireiras, o extrati- sidade do governo garantir esta ampliação, como
vismo, a pesca e criação aquática, o turismo, os sis- elemento fundamental porque o aumento do plantio
temas agroflorestais e culturas permanentes ou dos pequenos produtores depende deste aumento de
ainda ações que podem manter a cobertura flores- áreas, já que eles não tem tecnologia de ponta para
tal. Analisa que os resultados do modelo agro- a produção em larga escala, e os investimentos
pecuário que desmata, dos incentivos da SUDAM, requeridos pela produção em larga escala são altís-
deixaram um passivo econômico, social e ambien- simos.
tal sugerindo a utilização do mesmo mecanismo – No entanto, a figura 7.7 mostra que, enquanto, no
incentivos – transformando-os num programa pais, houve retração de área agricultável, a única
maciço de investimentos no manejo florestal. região em que houve aumento de áreas de lavouras
Considera que ainda que o limite do desmatamento plantadas foi a Amazônia: uma variação em até
seja apenas de 20%, para ele se não houver uma 233%, entre 1985 e 1991. Este processo ocorreu em
reconsideração da dinâmica dos incentivos, esta toda a área centro-norte do Mato Grosso, signifi-
continuará estimulando a frente de desmatamentos: cando, com isto, incorporação de novas áreas. O
“(…) dois os principais obstáculos para isso não mais impressionante relaciona-se à variação de pas-
acontecer são de ordem política e econômica: o pri- tagens, entre 17 e 2 403%, no mesmo período.
meiro é uma reforma agrária equivocada que conti- Desta maneira, não houve retracção, não houve
nua ‘‘jogando’’ pobres no meio da floresta, abrindo recuo de áreas disponíveis para a agricultura. A
assim novas fronteiras para sucessiva recomposição expansão continuou existindo e, se ainda hoje, os
de latifúndios; o segundo é a manutenção do siste- pequenos agricultores têm necessidade de novas
ma de incentivos e fomento para atividades de terras, toda a área que foi incorporada no processo
baixa produtividade, alto desmatamento e, inevita- produtivo agrícola não foi utilizada por este seg-
velmente, alta corrupção […]É preciso empenho mento. Teria sido por qual segmento?
dos parlamentares da região amazônica, dos SMERALDI argumenta que tem havido recomposi-

244
ção de latifúndios. Ao utilizar o aumento de estabe- arco formado por Rondônia, norte do Mato Grosso,
lecimentos agrícolas, como um indicador, verifica- centro-sul do Pará, oeste de Tocantins e noroeste de
se que há um aumento desse número, na franja e Goiás. Ao fator recomposição pode-se incluir dois
uma diminuição na retaguarda, onde a variação é outros fatores, a incorporação de terras anterior-
negativa. Os dados do censo agro-pecuário, no mente sem titulação ou a eventual redivisão de esta-
período de 1991 a 1996, permitem identificar um belecimentos agrícolas.
aumento em até 608%, em número, sobretudo no Já o senador Nabor Teles da Rocha Jr chamava a
245
um consenso: primeiro ponderou que o projeto de natureza técnica e reguladora da relação social
conversão ainda não fora apreciado em todas as versus recursos florestais: o Zoneamento Ecológico
suas implicações, apresentou um breve argumento Econômico (grifo nosso). Nas recentes audiências
da necessidade de conciliação dos objetivos, indi- públicas realizadas pela Comissão Mista do
cando a ideia de uso do zoneamento, mas ressaltou Congresso, no Acre e em Rondônia, ficou evidente
os danos à produção: que a MP do Executivo carece de agregação legis-
«Preservar apenas 50% da atual cobertura florestal lativa formal dos benefícios técnicos proporciona-
pode trazer efeitos devastadores para todo o sistema dos pelo instrumental do Zoneamento Ecológico
hídrico e vegetal, flora e fauna, afetando, de modo Econômico. […] É hora de pensar em como vão
violento e irremediável, os seres humanos que ali sobreviver os produtores rurais de menor porte, que
vivem. Tentar congelar a extensão da floresta em cultivam seu sustento e o da família em pequenas
80%, porém, é um irrealismo que prejudicará tanto propriedades de até 30 hectares, se lhes impuser-
os proprietários conscientes (impedindo-os de pro- mos uma lei que obriga à recomposição de áreas
duzir alimentos e bens de consumo para a popula- com mata nativa. […] Já existem tecnologias que
ção) como os próprios ecologistas (porque, na rea- introduzem um conceito de desenvolvimento sus-
lidade, essa exigência será quebrada diariamente, e tentável no campo, que orientam o produtor a um
cairá na triste vala comum das “leis que não pega- manejo ecologicamente correto, sem afetar drasti-
ram”). camente a atividade produtiva. Será que o campo
É interessante também perceber, neste debate, a brasileiro, com todo seu potencial agrícola não
perspicácia do deputado Moacir Michelleto, relator ficará relegado ao atraso pela análise inadequada da
do projeto de conversão da MP, ao defender as pro- questão?»
postas inseridas no projeto de conversão: ele Enquanto as polêmicas se focalizarem em índices,
propõe o uso de um instrumental importante para os o debate sobre a Amazônia irá relegar a escolha de
ambientalistas, o ZEE, contra eles mesmos, ao diretrizes e mecanismos que viabilizem a inserção
sugerir a incorporação do zoneamento ecológico- da dimensão ambiental nas outras políticas territo-
econômico, no seio do mecanismo de conversão. riais e a sua gestão. Gerenciar adequadamente a
Ao afirmar não haver conflito entre preservação apropriação dos recursos naturais, bem como as
ambiental, conservação das florestas e produção demandas de investimento em desenvolvimento de
agrícola e não poder adotar uma posição, simpática tecnologias, de novos sistemas de produção, requer
a muitos segmentos, de radical defesa da preserva- o tratamento não leviano da complexidade desses
ção de nossos bens naturais em função de sua res- conceitos que ainda estão em construção.
ponsabilidade social, destaca o uso do paradigma A adoção de novas tecnologias via sensoriamento
do desenvolvimento sustentável, socialmente justo. remoto, para auxiliar no monitoramento dos des-
Considera o ZEE a «saída ecologicamente correta», matamentos e queimadas, das vistorias e acompan-
pelos benefícios técnicos proporcionados, pois hamento dos planos de manejo são outros instru-
todos os Estados da Amazônia já iniciaram os seus mentos que tem sido bastante disseminados.
respectivos zoneamentos, sendo os de Rondônia e Independente de modificação do arcabouço legal
Mato Grosso concluídos e os do Acre, Tocantins, sobre florestas, as ações de controle, monitoramen-
Amapá em fase de conclusão. to e fiscalização dessas atividades na Amazônia
«(…) este princípio orientou meu relatório, que, por continuam sendo realizadas, assim como projetos-
sinal, recepciona quase integralmente o texto da pilotos e experiências novas borbulham nos mais
medida provisória nº 2.080, cuja formulação resul- diferentes espaços amazônicos.
tou de extraordinário esforço de discussão no âmbi- O fato é que a bancada ruralista, a Confederação
to do Conselho Nacional de Meio Ambiente Nacional de Agricultura, madeireiros e grandes
(Conama). Por esse motivo, mantive no texto as proprietários de terra nessa Região não têm o
limitações de uso de 80% das propriedades rurais menor interesse em alterar o «status quo», no qual
na região amazônica, 35% no cerrado e 20% no res- dispõem de todos os instrumentos de créditos a seu
tante do país. […] Optei por uma proposição de favor, de incentivos governamentais criados no

246
período onde se falava da necessidade de impulsio- Notas
nar a colonização, que estiveram acostumados a 1 Uma parte substancial do material analisado foi recolhido
utilizar, a seu favor, os meios que o Estado criou, pelo projeto «análise e monitoramento das políticas públicas
que questionamentos a respeito de preservação a por meio do debate na imprensa brasileira», uma parceria
longo prazo, da gestão sustentável, da população de entre o Programa Amazônia de Amigos da Terra e Grupo de
pequenos produtores desprovidos de meios não lhes Trabalho Amazônico (GTA). Outros documentos da mídia
interessa. São em situações dessa natureza que o impressa hebdomadária foram analisados à parte.
2 Segundo RUNYAN, Curtis (1999:13-14), os primeiros gru-
Estado, forte, tem parte do seu papel, de sua função. pos naturalistas internacionais no movimento ambiental
Da análise dos diversos discursos disseminados no foram a International Union of Forestry Research (União
seio do governo e da sociedade brasileira salta aos Internacional de Pesquisa Florestal) e a International Friends
olhos a importância dos meios de comunicação, of Nature (Amigos Internacionais da Natureza). Em 1909
tanto para críticas, denúncias e especialmente para haviam 176 ONG internacionais, em 1996 o número cresceu
para mais de 20 000. O crescimento mais significativo ocor-
a difusão de informações e novas ideias, quanto reu na década de 1990. Metade das ONG em atividade na
para o estímulo às idéias-força que embasam as Europa foi fundada na década anterior e nos EUA a estimati-
novas alianças que se formam entre setores gover- va é de 2 milhões, grupos que têm menos de 30 anos de exis-
namentais nacionais, ou locais, e segmentos tência.
3 O dossiê preparado por Paulo Almeida, da Embaixada do
sociais. Falta, no entanto, a inclusão, neste proces-
Brasil nos EUA, identifica as origens dessas ondas de boatos
so, de uma constante avaliação das diversas manei- que acirraram os ânimos de diversos segmentos brasileiros,
ras de apropriação dos conceitos e das incoerências entre eles professores da UNICAMP. Paulo Almeida identifi-
em seus usos. ca a primeira onda entre maio e junho de 2000, a segunda em
As responsabilidades, pelo atual cenário amazônico outubro do mesmo ano e a terceira, ainda em curso, iniciada
devem ser divididas, assim como as perspectivas em novembro de 2001.
4 Todos esses documentos, com uma periodicidade bianual,
futuras. Não existe apenas um culpado dos impac- procuraram ser críticos, diversos e propositivos. O primeiro
tos do processo atual, não existe também apenas deles foi realizado em 1991 - Mind the Gap!, ao qual foi dado
uma única alternativa para o desenvolvimento da continuidade em 1994 com Políticas Públicas Coerentes para
Região e a escolha do modelo deve produzir benefí- a Região Amazônica; em 1996 com Políticas Públicas
cios para toda a sociedade e para o país. Coerentes para uma Amazônia Sustentável e em 1997/1998
com Políticas Públicas para a Amazônia. Após este período
Em regiões de fronteira econômica e política cabe essa ação reduz seu escopo transformando-se no projeto de
ao Estado, apesar de toda a discussão não resolvida análise e monitoramento das políticas públicas, por meio do
a respeito do seu papel e suas funções, estar prepa- debate na imprensa brasileira.
rado para garantir a governabilidade. Os poderes 5 Documento com este título exato não foi localizado. Tende-

locais e os segmentos populacionais interessados se a considerar que o mesmo seja um documento elaborado
pelo GTA e Amigos da Terra, publicado em 23 de março de
no processo das discussões ambientais devem 1994, que visa a «harmonização das políticas públicas com os
construir alternativas conjuntas, com legitimidade, objetivos do PPG7», uma publicação que critica o atraso na
procurando tornar realidade conceitos complexos e, implementação do programa, pois o mesmo gerou expectati-
sobretudo não deixando disseminar um processo de vas entre as populações locais durante o longo processo de
manipulação da opinião pública, como um mero preparação, mas alerta que sua demora pode gerar reper-
cussões negativas. Este documento reforça a solicitação «de
jogo de palavras. medidas para evitar contradições entre as atividades do
Programa e as políticas e práticas governamentais» (GTA,
1996:169)
6 ver capítulo 4.
7 A certificação da FSC é o única de credibilidade internacio-

nal, baseada em critérios mundiais de que o manejo das flo-


restas foram feitos de maneira ambientalmente apropriada,
socialmente justa e economicamente viável (site da própria
FSC: www.fscax.org.). Desde 1997 um grupo de trabalho no
Brasil vem atuando na determinação dos padrões locais para
cada tipo de floresta. Estes padrões são utilizados pelas certi-
ficadoras autorizadas pelo FSC, que no Brasil são três:
Imaflora (Instituto de Manejo Florestal e Agrícola), SGC

247
(Societé Genérale de Surveillance Forestry Ltd., britânica) e 13 A maioria absoluta das matérias publicadas em jornais
SCS (Scientific Certification System, EUA). Entre 1997 a nacionais ou regionais são de autoria destas quatro organiza-
2000 a WWF funcionou como a Secretaria Executiva da FSC ções (Amigos da Terra, IMAZON, ISA e WWF), mas há tam-
no Brasil, mas em meados de 2001 foi criado o Conselho bém a difusão das opiniões da FASE, da SOS Florestas, da
Brasileiro de Manejo Florestal, reconhecido pela FSC (Gazeta FBCN, FBMC, IBASE, Fórum Globalisation San Francisco,
Mercantil latino-americana, de 22 a 28 de outubro de 2001). Rede Internacional de Rios, Associação Nacional pró Saúde
8 Este projeto contou com apoio financeiro de diversas fontes: Mental, ICV, CIMI, CUNPIR, segundo o universo tratado
a Agência de Cooperação Técnica do Governo Alemão pelos documentos elaborados pelo “projeto de análise e moni-
(GTZ); o Ministério das Relações Exteriores do Governo toramento das políticas públicas”.
Italiano (Departamento para Cooperação), Comissão da 14 Nesta tipologia novos modelos, foram enquadradas as

União Europeia (DGI), Fundação IKEA, Franca Bassi (ex- matérias que iniciavam com uma análise dos impactos
deputada italiana), FUNAI, Programa das Nações Unidas para ambientais, mas terminavam por apresentar proposições de
o Desenvolvimento (PNUD), Amigos da Terra (EUA), STET manejo ou de uso que superassem tais impactos.
- empresa de comunicações da Itália, VARA (Rádio Pública 15 Editor do Jornal Pessoal e da Agenda Amazônica.

Holandesa). 16 A CPI da corrupção foi concluída com a cassação do man-


9 A tipologia utilizada por Nepstad (1999) considera i) os dato do deputado federal pelo Acre, Hidelbrando Pascoal.
incêndios de desmatamento, que são as queimadas para des- 17 Segundo José de Arimatéia (Página 20, Acre, 12 junho

matamento e formação de pastagens ou para agricultura ou 2001), engenheiro florestal que escreve regularmente no
mesmo para reivindicação de posse da terra - são intencionais Pagina 20: além de ter sido reeditada, o projeto do Executivo
e atingem normalmente florestas exploradas por madeireiros através de MP, foi encaminhado ao Congresso sob o número
e floresta primária derrubada; ii) os incêndios florestais ras- 1511 (reeditada 17 vezes), 1605 (14 vezes); 1736 (7 vezes)
teiros, que normalmente é acidental e que atinge florestas em 1885 (6 vezes), 1956 (13 vezes) e 2080 (5 vezes). Em junho
pé, exploradas ou mesmo primárias; iii) incêndios em terras de 2001 completou 63 reedições, recebendo o número de
desmatadas que atingem tanto pastagens degradadas, quanto 2080-63.
florestas secundárias e que podem ser tanto dirigido à redução 18 O desconhecimento técnico dos elementos a serem modi-

de ervas daninhas ou preparação de campos agrícolas e pasta- ficados instigou os antagonismos. O índice proposto pelo
gens. Nestas áreas podem também ocorrer incêndios aciden- Executivo, os valores projetados de possíveis perdas na agri-
tais, não intencionais. cultura e os impactos que seriam gerados na floresta e na
10 Há alguns fatores que contribuem fortemente para a ocor- biodiversidade amazônica, o projeto de conversão através da
rência de incêndios: a) as queimadas intencionais, realizadas «servidão florestal” foram pouco explicados. A «servidão
no final da estação seca quando alguns tipos de vegetação são florestal», mecanismo proposto pelo deputado federal
mais vulneráveis ao fogo; b) alguns usos da terra, altamente Moacir Micheletto, permite a um proprietário oferecer parte
inflamáveis como as pastagens e capoeiras; e c) o custo da de suas terras como reserva legal a outro proprietário, a
prevenção dos incêndios, com a construção de aceiros que só preço negociado, parece ser um avanço. Representantes do
faz sentido se os benefícios econômicos gerados pelas lavou- governo, de entidades ambientalistas e dos proprietários
ras e pastos forem maiores. rurais, em reuniões no Conama, reconhecem a necessidade
11 A UNAMAZ é uma rede de instituições científicas que
de se criar um mecanismo de estímulo à preservação da área
reúne os reitorados e pesquisadores das Universidades de porque seria irreal apenas obrigar o proprietário a manter
todos os países amazônicos (Brasil, Colômbia, Venezuela, reserva legal, pois mesmo com a aplicação de grandes mul-
Peru, Bolívia, Guyanne, Guiana Francesa, Suriname). tas é um instrumento que não trará resultados concretos.
12 Projeto desenvolvido pelo Programa Amazônia de Amigos 19 Segundo matérias de jornais, as manobras visavam
da Terra, em parceria com o Grupo de Trabalho Amazônico aumentar a «sensibilidade» do governo aos argumentos de
(GTA) que conta com o apoio financeiro do Programa de sua base em momentos de pressão: a primeira jogada se deu
Pequenos Projetos da União Internacional para a Conservação no momento de aprovação do salário mínimo nacional em
da Natureza (IUCN), da Holanda e da Secretaria de maio 2000; a segunda seria no momento de instalação da
Coordenação da Amazônia do Ministério do Meio Ambiente. CPI da Corrupção.

248
Capítulo 8 - A estratégia nacio- ralizantes simultaneamente à distintos discursos
baseados em fundamentos de integração social e
nal e os grandes programas ambiental, politicamente corretos para a agenda
amazônicos internacional. Novos paradigmas favorecem o for-
talecimento da economia de mercado, da competi-
ção, de um novo ciclo de tecnologia, inovação e
A partir da Constituição Nacional de 1988 e duran-
informação. Coexistem ações de fortalecimento da
te a década de 90, estabeleceu-se no país o proces-
economia de mercado ao lado de discursos favorá-
so de construção de um novo federalismo. A cen-
veis a novos modelos de desenvolvimento que inte-
tralização é substituída por uma divisão de compe-
grem sustentavelmente o meio ambiente. Ações que
tências e de responsabilidades entre os três níveis
retomam o planejamento como indutor de impor-
de Governo, iniciando uma fase de descentraliza-
tantes investimentos na construção da infra-estrutu-
ção e redistribuição de poder do Governo federal
ra, de fortalecimento das redes de integração e de
para os Governos estaduais e destes para os muni-
inserção ao mercado mundial, estimulando a com-
cipais. O Novo Pacto Federativo1 passou a exigir o
petitividade de regiões dinâmicas.
debate porque não poderia transformar-se numa
Para BRANDÃO e GALVÃO (2000), as reformas
«iniciativa autoritária e unilateral de uma instância
na economia brasileira estavam afinadas com o
de governo, visando livrar-se de suas funções e nem
cenário internacional da globalização quanto à
tampouco em um mecanismo de captação de recur-
opção pela liberalização da economia do país e tin-
sos adicionais para as unidades federadas». Ao
ham sido anunciadas nos discursos das lideranças
assegurar-lhes pluralidade e a discussão democráti-
políticas da década: as privatizações, as concessões
ca, os Estados brasileiros e os amazônicos, em par-
de serviços públicos, o desmonte de controles esta-
ticular, passaram à fase de negociação - uma fase
tais. Parte das mesmas forças políticas que ampara-
difícil, e não totalmente superada no âmbito de
ram o governo de Collor, no início da década, esta-
todos os setores. Os reflexos dessa nova dinâmica
vam articuladas no comando do novo governo,
federativa se faziam sentir na Amazônia, tanto em
empossado em janeiro de 1995, garantindo assim a
matéria de meio ambiente, porque as competências
continuidade desse processo. Simultaneamente às
concorrentes obrigaram à busca da cooperação
reformas econômicas, as modificações do papel do
entre União, Estados e Municípios, como em maté-
Estado baseadas nesses princípios refletem-se na
ria de desenvolvimento regional e em tipos de
estrutura do Estado brasileiro.
investimentos federais programados - um processo
Entretanto, outros princípios fundamentais deve-
ainda em realização.
riam estar presentes para que o desenvolvimento do
O período imediatamente posterior à aprovação da
país incluísse todos os segmentos sociais. A refor-
Constituição foi marcado por um vácuo de planeja-
ma do Estado não pode ser pautada pelo recuo do
mento, se caracterizando por ações pontuais disper-
aparelho estatal de maneira a deixar tudo nas mãos
sas, normalmente setorializadas, realizadas tanto
do mercado e sua presença, sobretudo em regiões
pelos governos estaduais quanto pelo governo fede-
de fronteira econômica, é imprescindível. Nestas
ral. A ação planificadora do governo central que, no
regiões, as velocidades e a “desordem” das trans-
imaginário político-social representava o símbolo
formações tornam necessárias a regulação, seja por
do autoritarismo do período militar brasileiro, não
meio do bom funcionamento dos mecanismos de
se beneficiava de incentivos positivos para o seu
controle estatais, seja pela via do controle social. As
reforço, reduzindo assim sua importância. Os
políticas públicas de desenvolvimento e a ação de
poderes locais passaram a enfrentar as crises de
governo precisam seguir o ritmo das transforma-
incapacidade financeira do próprio Estado e enfati-
ções, não se admitindo prazos demasiados longos
zar a busca de soluções sobretudo para as políticas
para se elaborar planos, definir estratégias, instru-
sociais.
mentos e mecanismos. Nesse debate, BECKER
O predominante contexto mundial do final de sécu-
(1999), DUPAS (1997), CAMARGO (1994) defen-
lo reproduziu-se no país, e o próprio Estado se colo-
dem propostas de organização do Estado normali-
cou no centro dos paradoxos, assumindo ações libe-

249
zador e regulador - um importante papel que o posta dos “eixos” está no âmbito das ações federais
mesmo tem a exercer; enquanto as instituições mul- de planejamento e, em particular, da referência
tilaterais, argumentam na manutenção do papel de básica dessas ações, o PPA. No segundo, os antece-
“Estado mínimo”. dentes da estratégia dos “eixos” são vistos em seu
Esta ambiência é originada pelos debates que favo- contexto mais amplo: as políticas regionais tinham
recem um clima positivo para a reabilitação do pla- perdido importância e a estratégia dos “eixos” dava
nejamento, nos anos 90, visto que, os instrumentos a ilusão de enterrar definitivamente os traços dos
constitucionais previstos, em 1988, resguardaram e governos chamados «desenvolvimentistas».
enfatizavam apenas a estrutura programático-ope- Tomando-se como ponto de partida um macro
racional, aquela mais ligado aos orçamentos2, cenário nacional e o confronto das diferentes
deixando os elementos de planejamento e seus prin- demandas setoriais emergentes nas áreas dos Eixos,
cipais instrumentos como os Planos Nacionais, os estudos encomendados pelo BNDES elaboraram
Regionais, Setoriais e de Ordenamento Territorial, cenários que se estenderam até 2007. Esses estudos
relativamente dispersos pelo texto, sem menção a foram fundamentados na visão de infra-estrutura,
prazos, critérios ou aos responsáveis por sua reali- na logística como base para o escoamento da pro-
zação. dução. A metodologia utilizada privilegiou sobretu-
Assim, a recuperação do processo vêm caracteriza- do os indicadores econômicos, sociais e alguns
da pelo discurso técnico e político do ordenamento condicionantes ambientais dos ecossistemas locais
do território como a base física capaz de assegurar e suas restrições, as unidades de conservação e as
as condições fundamentais para o desenvolvimento áreas indígenas. A questão do desenvolvimento
regional. O último plano nacional tinha sido elabo- social e suas dinâmicas; da informação e conheci-
rado para a “Nova República”, na volta do governo mento e do meio ambiente, condições necessárias
civil ao país em 1985. Com a Constituição, veio a para identificar-se um novo modelo de desenvolvi-
obrigatoriedade dos Planos PluriAnuais (PPA)3, mento, foram marginais. Uma visão extremamente
entretanto estes significavam basicamente uma pro- parcial, fundamentalmente econômica da dimensão
gramação do Orçamento Nacional. BRANDÃO e ambiental, pois embasou-se apenas nas potenciali-
GALVÃO (2000) desenvolvem argumentos a dades e restrições dos solos e uso dos recursos
respeito da retomada do planejamento governamen- hídricos. As precárias condições existentes em
tal, na década de 90, analisando o caráter político quase todos os setores econômicos e sociais servi-
do processo, o aspecto de revalorização do espaço e ram como um rol de oportunidades para investi-
dos instrumentos constitucionais do planejamento. mentos privados. Embora houvessem esforços téc-
Esse processo significava a recolocação das fun- nicos para a continuidade e aperfeiçoamento destes
ções de planejamento num contexto de ampliação estudos, com a decisão política de investir para
dos debates e supriam o vazio da falta de reflexões reduzir os gargalos de circulação, energia e comu-
sobre os rumos das ações de governo e do desen- nicações, muitas obras já foram realizadas, e impri-
volvimento nacional. miu-se, de imediato, um novo ritmo para estas
A retomada do planejamento é, neste caso, a condi- áreas. Repetiu-se o velho estilo de planejamento e
ção e garantia da inserção de algumas regiões dinâ- deu-se prioridade aos aspectos econômicos do
micas do país na economia mundial. Estudos do desenvolvimento, ressaltam BRANDÃO e
BNDES propuseram novos recortes territoriais – GALVÃO (2000).
eixos - os chamados Eixos Nacionais de Integração
1. A retomada do planejamento territo-
e Desenvolvimento. Para compreender a proposta
da constituição de “eixos nacionais de desenvolvi- rial pela União
mento e integração” BRANDÃO e GALVÃO A análise do conteúdo dos programas e ações que
(2000) insistem que dois elementos estruturais estão inseridos no âmbito do Programa Avança
históricos merecem atenção: o primeiro concernen- Brasil e do Plano PluriAnual 2000-2003 – PPA,
te à sua introdução no contexto das funções de pla- será realizada a partir de duas vertentes que se
nejamento que cabem ao governo federal. A pro- entrelaçam: uma intrarregional - Amazônia, e a

250
outra de sua inserção no país e no mundo. A pri- tizar os tipos de negócios possíveis e os locais onde
meira, um juízo crítico tanto pelo ponto de vista da os mesmos se encontram. O Portfólio de investi-
significação que o volume de recursos investidos na mentos complementares às ações do PPA 2000-
Região representa em relação ao restante do país 2003 atinge cerca de US$ 180 bilhões (Gazeta
como dos conflitos entre políticas e seus prováveis Mercantil, 03 de abril de 2000). Uma segunda fase
impactos territoriais. A segunda, para uma aprecia- do Avança Brasil (novo PPA 2004 – 2007) prevê
ção prospectiva. recursos ainda maiores que os R$ 1,1 trilhão (US$
A ambiência favorável à recuperação do planeja- 560 bilhões)7 do período 2000 – 2003 e também
mento, no nível do governo federal, teve um estí- demanda investimentos complementares.
mulo positivo pela constituição de grupos de tra- Mas, COSTA (1999) reafirma que o Brasil em
balhos entre técnicos da Secretaria de Planejamento Ação, o Avança Brasil e o conjunto dos projetos do
e Orçamento, técnicos do Ministério do Meio PPA continuavam sendo vistos, por vários de seus
Ambiente, do Ministério da Integração Nacional e colegas, como se se tratasse de meia dúzia de pro-
do Ministério de Ciência e Tecnologia, incitando jetos de infra-estrutura para a Amazônia. Ele faz
assim um debate com bases territoriais4. uma outra leitura:
O Programa Avança Brasil é um programa para 7 «Eu posso ler o Avança Brasil de diferentes modos,
anos, uma continuidade do Programa Brasil em posso, por exemplo, relacionar aqui os mais de 30
Ação, elaborado para o segundo mandato do presi- projetos, programas do PPA para a Amazônia e
dente Fernando Henrique Cardoso, mas que ultra- mostrar os que são de infra-estrutura, que no meu
passa o período de seu governo. O programa apre- ponto de vista apontam para uma política de desen-
senta diretrizes e estratégias para 5 Agendas – os volvimento sustentável para a região. Que nem toda
“desafios para o próximo século”5: a) Agenda dos infra-estrutura é uma infra-estrutura burra como foi
Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento; parte delas nos anos 60 e 70. Não é justo então
b) Agenda de Gestão do Estado, c) Agenda caracterizar o PPA como um conjunto de projetos
Ambiental, d) Agenda de Empregos e de infra-estrutura. Há projetos sociais, há projetos
Oportunidades de Renda e e) Agenda de de alta tecnologia que vão repercutir no futuro da
Informação e Conhecimento. Amazônia em vários campos (…)8”.
Ela aponta os rumos prioritários para investimentos Na verdade, ainda que hajam programas mais tec-
públicos e futuras aplicações de capitais privados nológicos, mais sociais ou de criação de redes físi-
nos setores econômico, social, ambiental, de infor- cas de comunicação e informação para a Amazônia,
mação e de conhecimento, em decorrência das o volume de investimentos dos programas em infra-
orientações do Edital BNDES PBA/CN-01/976, estrutura é muito superior, e destinado a alguns
seus resultados e produtos, portanto, têm um forte locais no interior da Região que se transformam em
viés em infra-estrutura. Os estudos que sustentaram motivos de preocupação no que concerne às reper-
o Programa tiveram como enfoque a identificação cussões ambientais e territoriais que os mesmos
de oportunidades de investimentos, numa “aborda- podem ocasionar.
gem que prioriza a orientação voltada ao mercado e Os investimentos do Governo Federal, constituídos
aos negócios” (Brasiliana, 2000:1) reunidos no cha- por recursos da União (orçamento público, incenti-
mado Portfólio de investimentos. Segundo vos fiscais e fundos constitucionais) ou outras
Brasiliana (2000:10) foi um “esforço para dar visi- fontes de financiamentos nacionais ou estrangeiros
bilidade e rentabilidade aos investimentos em infra- foram direcionadas prioritariamente para a implan-
estrutura na busca de uma eficiência da economia tação da Agenda dos Eixos Nacionais de Integração
brasileira”, disponibilizando às empresas e investi- e Desenvolvimento9: os Eixos da Amazônia (Arco-
dores interessados, as deficiências e as possibili- Norte e Madeira-Amazonas), do Centro-Oeste
dades nos outros setores da economia a serem (Araguaia-Tocantins e Oeste), do Nordeste
exploradas. Nesse sentido, a organização do (Transnordestino e São Francisco), do Sul
Avança Brasil, em agendas, já se constitui numa (Sudoeste e Sul) e Rede Sudeste. A configuração
estratégia de indução aos investidores, ao sistema- desses Eixos é mostrada no figura 8.1.

251
BECKER (2000) 10 considera que os Eixos nindo-se o papel do Estado e introduzindo-se o
Nacionais de Integração e Desenvolvimento confi- setor privado, a estratégia permanece antiga, assu-
guraram-se como espaços selecionados para acele- mindo como carro-chefe a infra-estrutura de trans-
rar a produção, a partir do fato de que já dispõem de portes, energia e comunicações, mas, o fato é que
algum potencial – critério para sua seleção - com- agora novos atores - governamentais e sociais - par-
patível com as condições de competição em tempos ticipam do processo.
de globalização. Assim, uniram-se condições terri- A União, escala de regulação?
toriais favoráveis à objetivos de integração e articu-
lação do desenvolvimento ao longo destes Eixos, BECKER (2000) considera ainda que os Eixos
consolidando acessos e integrando parcelas dinâmi- podem se transformar, de fato, em novos instru-
cas rurais com o mercado internacional. Este crité- mentos de ordenação territorial, mas para isto é pre-
rio, na verdade, reproduz em velocidade muito ciso que o Estado consiga assumir seu novo papel,
maior, as formas de organização da produção capi- o de regulador e controlador, exigindo rigor na exe-
talista que sempre se fundamentou na busca da cução das atividades previstas para serem implanta-
redução do tempo de circulação, elementos que das nos espaços selecionados e cobrando os inves-
estão na origem de uma selectividade econômica e timentos complementares tanto em meio ambiente
espacial e que, atualmente, as novas técnicas de como nos setores sociais.
informação e de comunicação não farão mais que Essa nova política territorial federal parte de um
amplificar11. novo paradigma - eixos - abandonando as estraté-
Na verdade, o macro-zoneamento do país nesses gias anteriores de concentração de ações, meios,
Eixos, significou a retomada dos investimentos instrumentos e recursos em pólos - paradigma
produtivos, mas agora em parceria, uma nova orientador dos planos e programas governamentais
conformação do Estado Nacional. Segundo de toda a década de 70 e início dos anos 80 - e pas-
BRANDÃO e GALVÃO (2000) a estratégia dos sando a adotar o território como palco e ator do pro-
“eixos nacionais de desenvolvimento e integração”, cesso. Desta maneira a nova estratégia concentra
incorporada ao PPA de maneira tímida no início, investimentos e atividades em grandes corredores -
respondeu, em grande medida, por esse sucesso Eixos. O território passa a ser visto como rede,
inusitado, que adveio ainda de uma peculiar equipado em função dos fluxos de bens e serviços,
conjunção de elementos favoráveis. Os “eixos” e as estratégias visam transformar regiões e algu-
catalisaram o essencial dos investimentos em mas parcelas locais mais dinâmicas em espaços
grandes obras de infra-estrutura, recuperando o competitivos e integrando-as aos mercados nacio-
atraso face à penúria fiscal dos últimos anos, esti- nal e internacional. Esta nova estratégia dirige a
mulando o imaginário das unidades federadas e res- ação do planejamento federal refletida nas dire-
pectivas forças políticas em direção à esperadas trizes de cada Plano Regional de Desenvolvimento
transformações. Em suma, os “eixos” constituíram e induz os investimentos econômicos nas redes
o elemento inovador capaz de reiterar simbolica- escolhidas. Essas novas formas de apropriação e de
mente que se estava diante de mudanças tanto na organização da fronteira econômica constituem-se
forma de condução das ações de desenvolvimento numa nova regionalização nacional. E a maneira
pelo Estado, como nas condições gerais da econo- desta nova forma de espacialização se consolidar
mia. depende do poder de indução dos investimentos
BECKER (2000) e COSTA (2000) analisaram dife- nacionais sobre as dinâmicas regionais.
rentemente o papel do Estado a esse respeito. Para No entanto, essa estratégia territorial não é especí-
a primeira, o Estado Nacional e os governos esta- fica do país. O mesmo tema é tratado em SCHAPI-
duais redefiniram o seu papel, agora apenas como RA e RIVIÈRE D’ARC (2001) e tem-se reproduzi-
coordenadores, ficando o planejamento e execução do em toda a América Latina, do México à
como atribuições do setor privado. Mas para Argentina. Esse modelo, valorizando e alçando à
COSTA (2000) tanto o planejamento como a exe- competitividade internacional as regiões dinâmicas
cução são em parceria. Na verdade, mesmo redefi- internas, desconecta as áreas deprimidas por perde-
rem sua capacidade de competir.
252
Os reflexos se fazem, portanto, sentir sobre a eixos12, áreas para as quais serão destinados os
Amazônia: a Amazônia Legal que ocupa cerca de investimentos públicos e privados. A população e
55% do território brasileiro e que era um espaço áreas desses Eixos estão representadas na tabela n°
único do planejamento federal, encontra-se, agora, 1. O procedimento se repete para todo o país, des-
fracionada em novos espaços pelos quatro grandes configurando-se as antigas regiões.

253
Tabela n° 1 – população e área dos ENID

ENID Municípios Micro-regiões % território População total %


nacional População

Oeste 158 34 14,5 2,8 milhões 2%


Araguaia Tocantins 522 59 16,2 12,9 milhões 8,2 %
Madeira Amazonas 127 38 31,8 7,0 milhões 5,0 %
Arco Norte 24 9 4,4 627 mil 0,4 %
Total 831 140 66,9 23,327 milhões 15,6%

Fonte: Consórcio Brasiliana, 1999

E para viabilizar a implementação da estratégia, o complementados pela implantação de outras infra-


Governo federal lança mão dos instrumentos de estruturas (energia e comunicações) ou projetos
financiamento que detém em seu poder: o com novas bases tecnológicas que provocarão uma
Orçamento e os Fundos Constitucionais e Fiscais. influência14 que ultrapassa o estreito espaço de
Para atender a forma que permite acesso aos recur- implantação destes corredores. Ao longo destes
sos dos Fundos Constitucionais e Fiscais e ao quatro Eixos amazônicos está previsto também a
mesmo tempo, cumprir a obrigação constitucional, implantação de projetos sociais.
o Plano de Desenvolvimento da Amazônia terá Os Fundos Fiscais de Investimentos e
como base territorial os Eixos Nacionais de Constitucionais também têm um importante papel
Integração e Desenvolvimento. nas dinâmicas territoriais da região amazônica
Os investimentos previstos exclusivamente para os porque incentivam os setores produtivos, ao benefi-
9 Eixos Nacionais totalizam cerca de US$ 181,1 ciar pequenos, médios e grandes produtores. O
bilhões para o período 2000-2007, sendo destinado Fundo de Investimento da Amazônia – FINAM é o
à infra-estrutura US$ 106,3 bilhões, ao desenvolvi- fundo fiscal que concede recursos às demandas de
mento social US$ 64,5 bilhões, ao meio ambiente projetos de empresas e pessoas jurídicas a serem
US$ 9,0 bilhões e US$ 1,4 bilhões à informação e aplicados na Amazônia. Já os Fundos
conhecimento13. É importante ressaltar que este Constitucionais do Norte, do Centro Oeste e do
orçamento corresponde apenas a 30% dos recursos Nordeste (FNO, FCO e FNE) determinam “trata-
estimados necessários. Por isso, “a estratégia visa mento preferencial” para projetos cujas atividades e
servir de indutora à novas oportunidades de negó- localização convergentes com Programas do Plano
cios e atrair investimentos articulados; sobretudo PluriAnual 2000-2003 e Avança Brasil e suas prio-
originados através das parcerias com empresas pri- ridades são aprovadas pelos seus Conselhos
vadas” (BRASIL, 1999). A aplicação dos recursos Deliberativos. Nas prioridades destes Fundos
programados destina-se à construção ou a melhoria constam as atividades agrícolas, voltada para grãos
dos corredores multimodais de transportes, ainda (milho, soja e trigo, entre outros) e para pecuária;

Tabela n° 2 - Previsão de recursos para 2000

Recursos previstos FNO FCO FNE Total em mil Reais (R$)


Previsão de repasses da STN para 2000(a) 392 866 392 866 1 178 596 1 964 328
Retornos de resultados operacionais(b) 136 300 142 300 43 000 321 600
Disponibilidades de 1999 537 320 378 045 9 775 925 140
Total 1 066 486 913 211 1 231 371 3 211 068

Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional


(a) valores nominais previstos nas programações orçamentárias de 2000 e (b) valores apurados nos balanços de 31.12.99

254
Tabela n° 3 - Repasses anuais da STN aos Fundos entre 1989 a 2000

Anos FNO FCO FNE Total em mil Reais (R$)


1989/90 488 918 488 918 1 466 756 2 444 592
1991 297 591 297 591 892 787 1 487 969
1992 280 151 280 151 840 456 1 400 758
1993 355 672 355 672 1 067 017 1 778 361
1994 336 118 336 118 1 008 358 1 680 594
1995 345 301 345 301 1 035 903 1 726 505
1996 324 456 324 456 973 371 1 622 283
1997 334 858 334 858 1 004 574 1 674 290
1998 340 444 340 444 1 021 328 1 702 216
1999 350 789 350 789 1 052 370 1 753 948
2000 220 559 220 559 661 681 1 102 799 (*)
Total
(em US$) 3 674 857 3 674 857 11 024 601 18 374 315
1 997 204 1 997 204 5 991 630 9 986 040(**)

Fontes: Secretaria do Tesouro Nacional(STN) e SPOAdo Ministério da Integração Nacional


Valores atualizados pelo BTN e TR, a preços de julho 2000
(*) janeiro a junho
**) valores em MIL dólares (câmbio de 03/02/2000)

plantas medicinais, flores e frutas regionais; ativi- elegíveis nos mecanismos dos fundos fiscais, os
dades destinadas à implantação de projetos de pequenos, médios e grandes proprietários são nos
infra-estrutura hídrica, de irrigação ou econômica; constitucionais. Abre-se um reforço financeiro sub-
reabilitação de áreas degradadas, micro-bacias, stancial, como mostra a tabela n° 2.
turismo, etc. Por outro lado, ao proceder-se a um comparativo
Fundos que funcionam como um balcão de proje- com os anos anteriores, os valores diferenciados
tos, colocarão os recursos existentes para o atendi- dos Fundos mostraram a tendência à privilegiar
mento a estas prioridades, mas a atores diferencia- regiões que possuem os maiores desequilíbrios de
dos: enquanto empresas e pessoas jurídicas são desenvolvimento. Na última década, cerca de 18

Tabela n° 4 - Número de operações e valores contratados (1989-1999)

Estados Número Número Total Valores lValores Total


operações operações 1989/1998 1999 R$ mil (*)
1989/1998 1999

Acre 7 164 2 731 9 895 64 002 19 098 83 100


Amapá 3 040 527 3 567 70 090 1 034 71 124
Amazonas 8 819 768 9 587 139 180 9 236 148 416
Pará 40 072 12 015 52 087 942 561 160 322 1 102 883
Rondônia 16 570 3 959 20 529 262 623 46 275 308 898
Roraima 4 829 83 4 912 73 433 523 73 956
Tocantins 7 491 3 073 10 564 333 482 123 199 456 681
Maranhão (**) 18 967 4 855 23 822 633 266 33 098 666 364
Mato Grosso(***) 51 449 5 053 56 502 841 038 45 020 886 058

Fontes: Secretaria do Tesouro Nacional - STN e SPOA do Ministério Integração Nacional


(*) valores atualizados a preços de julho 2000
(**) FNE
(***) FCO

255
256
bilhões de reais foram destinados aos projetos execução passam também para a esfera das consul-
regionais. As tabelas 3 e 4 mostram esses repasses torias privadas e empresas via licitações ou carta-
globais por ano e por Estado amazônico. Teriam sido convite. No entanto, o repasse e a fiscalização do
uma boa destinação se, no final do ano 2000, não uso dos recursos continuarão sendo responsabilida-
tivessem sido descobertos os desvios de recursos e a de dos governos estaduais ou órgãos federais. Com
identificação de empresas «fantasmas». Um assunto a política de privatização colocada em prática a par-
que foi amplamente divulgado pela imprensa. tir de 1991, o Estado hodierno apresenta-se mais
Poderia ter sido uma fonte de incentivos à experiên- como um ente indutor, regulador e coordenador do
cias de modelos alternativos de desenvolvimento. processo.
Assim, estes fundos poderiam ser utilizados no ter- Para os anos de 2000 a 2003 o valor do PPA ultra-
ritório para testar e implementar novos modelos de passa 1 trilhão de reais16. Este valor representa uma
desenvolvimento, de sistemas de produção, a partir distribuição de cerca de 12% para a Região Norte,
de um macro-zoneamento da Região. Para tanto 24,6% ao Nordeste, 9,7% ao Centro-Oeste, 32,7%
caberia ao Estado optar pela questão sócio-ambien- ao Sudeste e 21,1% ao Sul.
tal, regulamentando estes Fundos com novos crité- Na elaboração do novo PPA 2000/2003 promoveu-
rios. Uma política de divulgação e editais de apre- se um grande estudo visando melhor redefinir os
sentação de projetos voltados para atividades produ- “eixos» assim como delimitar uma nova carteira de
tivas sustentáveis e conservação do meio ambiente, mega projetos relevantes, que interessasse às forças
poderia ampliar as influências positivas sobre os políticas ativas. BRANDÃO e GALVÃO (2000)
modelos de desenvolvimento. Além disto, poderiam ressaltam que o estudo não pôde ser concluído em
significar também uma ampliação na velocidade de prazo hábil de ser utilizado no processo de elabora-
reestruturação e configuração menos desigual do ção do PPA 2000/2003 e que o impacto de suas
espaço, incorporando territórios à margem das redes conclusões sobre as estruturas incumbidas de pro-
e dos fluxos. Entretanto, através da avaliação dos ceder à elaboração do Plano foi menor que o espe-
valores disponíveis verifica-se que a ação do poder rado. Mas consideram também que o PPA
público é dirigida preferencialmente para a solução 2000/2003 vem promovendo uma reforma das prá-
dos gargalos que interferem na rentabilidade dos ticas e referenciais básicos do planejamento, pro-
grandes negócios. movendo o desmonte da velha “classificação fun-
cional-programática” inspirada nos princípios do
2. O Plano PluriAnual 2000-2003
“Orçamento-Programa”. Em compensação, recom-
A recente alteração da política territorial inicia-se pôs-se o sentido das metas físicas, pretendendo
de maneira embrionária, a partir de 1994, durante o recuperar sua relação com as metas financeiras -
período de elaboração do PPA 95-99 e torna-se gerando parâmetros e indicadores de eficiência do
explícita no PPA 2000-2003. O PPA é uma obriga - gasto -, e com os objetivos mais amplos dos pro-
ção prevista na Constituição de 1988 – e corres- grama de governo - gerando indicadores de eficácia
ponde a programação financeira e orçamentária das ações. Mais importante ainda, buscou-se recu-
para determinar os usos dos recursos federais, perar a consistência da programação em torno a
devendo ser elaborado pelas instituições do poder problemas efetivos, como recomenda a boa prática
Executivo nacional e aprovado pelo poder do planejamento.17
Legislativo15. O PPA se concretiza via leis orça- Normalmente, a cada ano, com o envio ao
mentárias e orçamentos anualmente preparados Congresso do orçamento anual, rearranjos podem
pelo Executivo e aprovados pelo Congresso; geren- ser feitos nas prioridades e valores do PPA. Neste
ciados pela União ou Estados e municípios e repas- capitulo analisar-se-ão seus macroobjetivos, em
sados a eventuais executores através de convênios. número de 28, que foram organizados em
Mediante licitações, empresas privadas serão Programas, em 28 funções e 102 sub-funções,
contratadas para realizar obras de infra-estruturas. englobando aspectos econômicos, ambientais,
Mas, com a redução do tamanho do Estado, mesmo sociais, culturais e de cidadania, defesa nacional e
as funções de planejamento e acompanhamento da das relações exteriores, que se desdobram final-

257
mente em ações específicas. São 365 programas e 3 na estreita relação entre recursos e impactos.
975 ações. Não houve definição de prioridades no O primeiro conjunto ao qual denominamos de
primeiro ano, demonstrando que, na verdade, a Ações exclusivas destaca o espaço delimitado pela
falta de reais prioridades é demonstrada pela Amazônia Legal e baseou-se na identificação dos
impossibilidade de se implantar ao mesmo tempo Programas e ações especificamente amazônicos.
365 programas. À forte crítica da oposição nacional São os programas:
a um governo de pouca realização e de grande i. Amazônia Sustentável,
poder de retórica pode ser atribuída a seleção de 50 ii.Desenvolvimento da Amazônia Legal: progra-
programas como prioritários, um ano depois, em ma constituído pelos Fundos Fiscal de
2001. Investimento (FINAM) e o Fundo
Quanto à administração dos recursos, com a altera- Constitucional de Financiamento do Norte
ção da abordagem setorial usada nos PPA anteriores (FNO) e projetos de incentivos fiscais para
para a temática, introduziu-se uma outra forma de matérias primas regionais da Amazônia Legal;
gestão de recursos públicos – o modelo de gestão iii. Proteção da Amazônia, formado pelos pro-
por programas - que pode envolver simultaneamen- jetos SIVAM e SIPAM, um dos mais sofistica-
te vários ministérios ou outras instituições governa- dos sistemas de informação da atualidade,
mentais. No entanto, o mecanismo tradicional de orçado em US$ 1,5 bilhões para serem exe-
gestão – por setor, por instituição responsável – cutados em dez anos. Seu objetivo é a instala-
permanece para o conjunto classificado como ção de uma rede avançada de radares fixos e
Agenda da Gestão do Estado, uma série de progra- móveis, baseado no uso de informações colhi-
mas e atividades que se relacionam às diversas fun- das por satélites, etc., voltado para a detecção
ções do Estado englobando entre outras a gestão de do tráfego aéreo e terrestre. Sua capacidade de
políticas setoriais, a administração de redes e de sis- alcance supera as fronteiras nacionais. Existe
temas, de fiscalização de estoques, de controle, de uma expectativa em todos os Estados amazô-
operacionalização de setores ou as ações estrita- nicos, especialmente no que concerne à vigi-
mente sociais. Os recursos disponibilizados para o lância ambiental. Os novos meios tecnológi-
cumprimento desta Agenda são destinados aos cos que constituem a rede física do projeto
Ministérios encarregados da implantação da políti- disponibilizará informações e possibilitará o
ca específica ou suas Agências Executoras para mapeamento e o zoneamento dirigido de
serem aplicados e gerenciados no nível federal. Os determinadas áreas, e, em níveis de escala
Programas de Gestão, dessa Agenda, se desdobram apropriados a diferentes aplicações.
nas políticas de meio ambiente, fundiária, de inte- iv. PPG7 - Programa Piloto para Proteção das
gração nacional, de gestão do desenvolvimento Florestas Tropicais Brasileiras, analisado na
urbano e gestão urbana, de gestão da Política segunda parte;
Nacional Integrada e Administração de Redes e v. Gás Natural de Urucu, com o objetivo de
Sistemas18. construir um sistema de escoamento da produ-
Pretende-se centrar a análise em espaços que ção de gás natural do campo de Urucu, na
poderão ser modificados, valorizados ou revalori- bacia do rio Solimões, por meio de 3 gasodu-
zados pelas políticas públicas federais, ou seja, das tos Urucu – Coari (AM), Urucu (AM) – Porto
estratégias territoriais e dos grandes programas para Velho (RO) e Coari – Manaus (AM);
a Amazônia. Para isto adotou-se como método de vi. Probem da Amazônia, que visa contribuir
trabalho a seleção e a organização dos programas para o desenvolvimento da bio-indústria no
regionais segundo dois conjuntos de critérios (a país e em especial na Região, contribuindo
exclusividade e a probabilidade de ações) agregan- para a diversificação produtiva da Zona
do as atividades que compõem, ou integram, Franca de Manaus, atuando na geração de
vetores que impulsionam as configurações do ter- conhecimento e transferência de tecnologia de
ritório amazônico e que poderão provocar impactos ponta, mediante parcerias;
sobre a Região. Para esta análise fundamentou-se vii. Turismo Verde, que objetiva viabilizar o

258
ecoturismo como uma atividade sustentável te/centro-oeste;
para o desenvolvimento; xx. Zoneamento Ecológico-Econômico, inspi-
viii. Calha Norte, a nova etapa desse Programa, rado em abordagem ambiental, a ser realizado
criado em 1985, implementará ações que em áreas selecionadas da Amazônia Legal,
contribuam efetivamente para as duas princi- agregando às iniciativas multilaterais com
pais vertentes do Programa: o desenvolvimen- recursos de financiamento do G-7 e União
to regional e a manutenção da soberania Européia; e também através de iniciativas
nacional e da integridade territorial. A optimi- bilaterais, como são os casos dos programas
zação do desenvolvimento da área, por meio binacionais envolvendo as zonas fronteiriças
da elaboração de um planejamento estratégico de Brasil - Venezuela e Brasil - Bolívia, incluí-
para os municípios da Região, como modelo dos no âmbito das iniciativas do Tratado de
de gestão a ser adotado para emprego dos Cooperação Amazônica – TCA.
recursos disponíveis nas ações e a ampliação O segundo conjunto, denominado Ações que inci -
de vigilância da fronteira e proteção da popu- dem indiretamente destaca primeiramente o enqua-
lação da região, carente ainda de infra-estrutu- dramento temático de programas e ações com pro-
ra básica em educação, saúde, emprego, trans- babilidades de provocar repercussões na Amazônia,
portes e outras atividades fundamentais e baseados tanto na distribuição nacional, como
inerentes à cidadania; regional, dos recursos. Foram selecionados os
ix. Energia no Eixo Arco Norte, Programas relacionados ao:
x.Corredor Fronteira Norte, i. uso de recursos naturais e proteção ambiental:
xi. Energia no Eixo Madeira-Amazonas visa de biodiversidade e recursos genéticos,
reduzir os problemas de falta de energia e conservação, controle, qualidade e educação
inclui a linha de transmissão entre Tucuruí e ambiental, turismo sustentável;
Altamira, que leva cabos de fibras ópticas; ii.dos programas de território e cultura indíge-
xii. Corredor Araguaia-Tocantins, visa imple- nas;
mentar a complementação do corredor multi- iii. meios para produção: de capacitação para a
modal (hidro-rodo-ferroviário) ligando áreas produção, agricultura familiar, de assentamen-
do Centro-Oeste brasileiro aos portos do norte tos rurais e estrutura fundiária;
do país; iv. de desenvolvimento de infra-estrutura,
xiii. Polo Industrial de Manaus, saneamento e habitação;
xiv. Planafloro e v. dos programas de C&T e desenvolvimento
xv. Prodeagro. tecnológico.
Além destes programas incluem-se ações cujos Os grandes programas Amazônicos
recursos estavam destinados unicamente para
algum Estado, ou município, pertencente à À uma primeira apreciação sobre o espaço amazô-
Amazônia Legal: nico identifica-se que cerca de 50% dos macro-
xvi. C&T, ambientais, objetivos do PPA estão contidos dentro do conjun-
xvii. Transportes e energia nos corredores to de 40 programas e das 302 ações dirigidas à
Oeste-Norte e Sudoeste, que visa a restaura- região (ver detalhamento no Anexo n° 2) e devem
ção de trechos selecionados de rodovias e se transformar em vetores dinâmicos sobre este
melhorar as condições de trafego para permi- espaço, tendo em vista que cada programa produz
tir o melhor escoamento das safras de grãos do dinâmicas que resultam da aplicação de recursos.
centro-oeste brasileiro Assim identifica-se que vários objetivos gerais do
xviii. Etno-desenvolvimento das socie- PPA se refletirão na estruturação dos programas
dades indígenas, amazônicos, todos eles dispõem de recursos para
xix. Integração Norte-Sul, objetiva a construção investimento na Região:
de linha de transmissão para interligar os sis- 1. Ampliar a capacidade de inovação, destacan-
temas elétricos do norte/nordeste e sul/sudes- do-se o Probem da Amazônia e os programas
Ciência e Tecnologia para Gestão de
259
Ecossistemas e Sistemas locais de inovação; tas a estimular a competição no mercado inter -
2. Ampliar os serviços de saneamento básico e de no, com o programa de Desenvolvimento da
saneamento ambiental das cidades, com o pro- Amazônia Legal e Refino de petróleo;
grama Saneamento é vida; 12. Promover o desenvolvimento integrado do
3. Atingir U$ 100 bilhões de exportação até 2002 campo, através do Programa agroambiental do
que conta com os programas dedicados ao Polo Estado do Mato Grosso – Prodeagro e do Plano
industrial de Manaus e Design Brasil; agro-pecuário e florestal de Rondônia –
4. Aumentar a competitividade do agronegócio, Planafloro.
com o programa de Desenvolvimento dos Esses Programas propenderão a consolidar, ou alte-
Cerrados (Prodecer) e Irrigação e Drenagem; rar, as atuais estruturas territoriais e representam as
5. Desenvolver a indústria do turismo, pelo pro- tendências de políticas para a Amazônia.
grama Turismo verde; Ao relacionar o volume de recursos por área e para
6. Garantir a defesa nacional como fator de fins de análise neste trabalho, as ações dos progra-
consolidação da democracia e do desenvolvi - mas foram agrupados e sistematizados por grupos
mento, cujos programas Calha Norte e Proteção de objetivos do PPA – econômicos (2, 3, 4, 5, 10,
da Amazônia (Sivam e Sipam) são especial- 11, 12), sociais (objetivos 8, 9 e parcialmente o 6),
mente voltados para a Região; ambientais (objetivo 7) e de informação e conheci-
7. Melhorar a gestão ambiental com os programas mento (objetivo 1 e parcialmente o 6)19.A figura 8.2
Amazônia Sustentável; Conservação Ambiental sintetiza o conjunto das ações selecionadas e evi-
de regiões mineradas; Climatologia, dencia a discrepância entre o volume de investi-
Meteorologia e Hidrologia, Nossos rios mentos básicos ao crescimento econômico em
Araguaia-Tocantins; Prevenção e Combate a detrimento dos investimentos sociais, ambientais,
Desmatamentos, Queimadas e Incêndios ou mesmo, aqueles relacionados ao desenvolvi-
Florestais; Florestas Sustentáveis e mento do conhecimento e da informação. Embora
Zoneamento ecológico-econômico; em termos relativos, entre as regiões brasileiras, o
8. Mobilizar governo e sociedade para redução orçamento destinado à Amazônia representa apenas
da violência, pelo programa Modernização da cerca de 13% e são valores pequenos, os mesmos
polícia federal (Pró-Amazônia); possuem elevada importância em termos locais e
9. Promover a garantia dos direitos humanos, por regionais.
meio dos programas de Etnodesenvolvimento É preciso no entanto, verificar internamente o que
das sociedades indígenas e o de Território e cul- se passa em cada campo de ação. No campo econô-
tura indígenas; mico, os programas de energia, transportes e agri-
10. Promover a modernização da infra-estrutura e cultura, indústria e comércio e serviços, mobilizam
melhoria dos serviços de telecomunicações, um montante de recursos em torno de R$ 36,7
energia e transporte, pelos programas Corredor bilhões (US$20 19,9 bilhões), dos quais cerca de
Araguaia-Tocantins, Corredor Fronteira Norte, R$14,2 bilhões (US$ 7,71 bilhões) em programas
Corredor Oeste-Norte, Corredor Sudoeste, como o de Turismo Verde e o de Desenvolvimento
Desenvolvimento da infra-estrutura aeroportuá- da Amazônia Legal, através dos Fundos – FINAM
ria, Energia no eixo Arco Norte, Energia no e FNO, que podem servir de estimuladores à novas
eixo Madeira-Amazonas, Energia nos eixos do ações produtivas incorporadoras de métodos
Centro-Oeste, Energia nos eixos do Nordeste, conservacionistas apropriados ao desenvolvimento
Integração elétrica Norte-Sul; Serviços de da região. Os Ministérios envolvidos na gestão des-
transporte ferroviário de carga, Transportes tas ações são o Ministério das Minas e Energia,
dutoviário de petróleo, derivados e gás natural, Integração Nacional, Agricultura, Transportes,
Manutenção de hidrovias, Proteção do vôo e Defesa e Secretaria do Desenvolvimento Urbano,
segurança do tráfego aéreo; Oferta de petróleo e responsáveis pelo conjunto das atividades de cada
gás natural; programa. Poucos são os programas de responsabi-
11. Promover a reestruturação produtiva com vis - lidade conjunta, por ex. Turismo Verde, atribuídos

260
Tabela n° 5 - Valores Contratados (*) por Programa em 2000 (janeiro a maio)

Programas Acre Amapa Amazonas Pará Rondônia Roraima Tocantins Maranhão Mato Grosso
Pronaf-RA 779 0 9 180 7 382 806 2 886 0 14 884
Pronaf 783
Rural-Integração 924 2 654
Outros Rural 6 049 7 3 563 60 897 5 657 5 286 15 336 298
Agro-industrial 0 0 0 323 2 980 0 212 0
Industrial 477 2 059 1 421 24 114 592 14 2 956 0 1 703
Infra-estrutura 0
Giro-custeio 0
Turismo 695 0 0 4 027 0 0 0 0 424
Pro-natureza 0
Total (**)
(milhões US$) 7 221 2 845 4 984 98 541 16 611 6 106 21 389 1 270 20 448
3 924 1 546 2 708 53 554 9 027 3 318 11 624 690 11 113

Fontes: informações gerenciais fornecidas pelos Banco do Brasil (FCO), Banco da Amazônia (Basa) e Banco do Nordeste ao
Ministério Integração Nacional. (*) valores nominais, em milhões de reais. (**) Estes totais foram calculados com base no
câmbio de 03/02/200.

ao MMA e Ministério do Desenvolvimento. gramas sociais para a Amazônia foram complemen-


As estimativas de repasses, por estado 21, para o pri- tados pelo Calha Norte. Os Ministérios da Defesa e
meiro semestre de 2000, previstas para a Amazônia Justiça são os responsáveis pela gestão de aproxi-
Legal foram preparadas pelo STN e Ministério da madamente R$ 78,4 milhões, destinados a estes
Integração Nacional e integram-nas o FINAM e programas. O Programa Calha Norte no PPA, de
FNO, o FNE para o Estado do Maranhão e o FCO grande importância no período de sua criação,
para o Estado do Mato Grosso. reduziu-se a um programa que envolve apenas 15
No campo social, selecionou-se as atividades volta- ações, voltados à manutenção da presença em fron-
das para municípios ou para os povos indígenas teiras e o atendimento à comunidades isoladas.
amazônicos dos programas Saneamento é vida, No campo ambiental além dos programas exclusi-
Etno-desenvolvimento das Sociedades Indígenas e vos para a Amazônia foram incluídas ações especí-
Território e Cultura Indígenas. No conjunto, os pro- ficas voltadas para a melhoria e capacitação da

Tabela n° 6 - Número de Operações por Programa, em 2000 (janeiro a maio)

Programas Acre Amapa Amazonas Pará Rondônia Roraima Tocantins Maranhão Mato Grosso
Pronaf-RA 0 188 0 1337 1711 113 433 0 1852
Pronaf 0 193
Rural-Integração 36 47
Outros Rural 694 3 124 2836 131 44 431 38
Agro-industrial 0 0 0 3 1 0 2 0
Industrial 5 2 10 77 9 2 30 0 2
Infra-estrutura 0
Giro-custeio 0
Turismo 2 0 0 9 0 0 0 0 2
Pro-natureza 0
Total 701 193 134 4262 1852 159 896 77 2096

Fontes: Secretaria do Tesouro Nacional - STN e SPOA do Ministério Integração Nacional

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262
263
gestão; de controle ambiental, preservação e operacionais, do sistema de aeronaves ou
conservação ambiental, assim como as de recursos capacitação de recursos humanos, e as relati-
hídricos relacionadas aos rios Araguaia-Tocantins vas ao SIPAM – contratação de sinais de tele-
classificadas como subfunções de controle e de comunicações e teleprocessamento, estudo de
gestão ambiental no âmbito de outros programas. mercado para a elaboração da concepção do
Foram também incluídas ações de fiscalização e sistema de proteção, a implantação do próprio
vistoria do Programa Planafloro, de recuperação de sistema e a integração da base de dados do sis-
áreas degradadas do Prodeagro e de implementação tema de informação;
do Probem. Totalizam cerca de R$ 211,0 milhões v. Programa Pró-Amazônia – para a moderniza-
(US$ 114,6 milhões) distribuídos entre os ção da polícia federal.
Ministérios do Meio Ambiente, Ciência e O aspecto crítico na dotação dos recursos para as
Tecnologia e Minas e Energia. ações econômicas é o peso dos interesses econômi-
No campo de informação e conhecimento agrupou- cos, quer na orientação das ações, quer no tempo
se as ações cujos recursos são destinados unica- necessário para serem implantadas. Colocar em
mente para algum Estado ou município específico movimento recursos da ordem de R$ 36 bilhões
das Regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste, per- (US$ 19,5 bilhões), criar um enorme potencial para
tencentes à Amazônia Legal ou no âmbito das sub- atrair e/ou estimular a mobilização de pequenas e
funções de tecnologia da informação. Essas ações grandes empresas e formar de grupos consorciados,
mobilizam aproximadamente R$ 1,06 bilhões (US$ especialmente quando se trata de obras concer-
576,0 milhões) estando especificamente a cargo dos nentes à logística, são fatores de risco ao meio
Ministérios do Meio Ambiente, da Ciência e ambiente. Esse aspecto coloca em posições diame-
Tecnologia e da Presidência da República. tralmente opostas a política setorial de conservação
Constituem programas que propõem a incorporação e a política setorial de infra-estrutura para o desen-
de novos vetores técnico-científicos e informacio- volvimento regional. A política setorial de infra-
nais, fundamentais para alterar o padrão atual e estrutura refere-se a um universo formado pelo
reestruturar o desenvolvimento da Amazônia. A Estado e grandes empresas da construção civil,
figura 8.3 mostra o peso e o grau de importância onde as decisões de investimento são extremamen-
relativo de cada um dos programas: te velozes e a gestão financeira cabe a um número
i. Probem - com atividades relacionadas ao restrito de pessoas, caracterizando-se portanto em
Centro de Biotecnologia da Amazônia e ao processos rápidos.Por outro lado, as políticas
desenvolvimento de pesquisas de uso sus- ambientais envolvem maiores dimensões de espa-
tentável dos recursos naturais amazônicos, ços em maior número de municípios, assim como
ii.C&T para a gestão de ecossistemas – com ati- tem se utilizado de formas diversas de comunicação
vidades especificamente dirigidas aos ecossis- entre os atores em processos abertos de discussão e
temas amazônicos, entre elas aquelas voltadas acompanhamento públicos, de decisões colegiadas,
para a implementação dos centros de ciência processos que levam tempo para amadurecer, para
do PPG7 – Museu Goeldi e INPA; para desen- negociar, para implantar… logo, a defasagem nos
volvimento do Projeto Trópico Úmido; moni- resultados a curto prazo.
toramento ambiental da Amazônia; difusão de Analisando os aspectos relativos a distribuição
informação e conhecimento de C&T; preser- espacial dos recursos aprovados em cada programa,
vação e ampliação de coleções científicas ou atividades, evidencia-se a concentração nos
amazônicas; pesquisas na área de Mamirauá), Eixos Araguaia-Tocantins e no Madeira-Amazonas.
iii. Sistemas Locais de Inovação – de fomento A figura 8.4 representa esse padrão de distribuição.
do desenvolvimento científico e tecnológico Na apreciação sobre os dois eixos mais importantes
regional da Amazônia; para a Amazônia Legal destaca-se que a quantidade
iv. Proteção da Amazônia – com atividades e a diversidade de ações é mais significativa no
relacionadas ao SIVAM - sistema de vigilân- Eixo Madeira-Amazonas que no Eixo Araguaia-
cia, de instalação de equipamentos nos sítios Tocantins, embora seja neste último que o volume

264
de investimentos seja bem mais expressivo e sobre ambiental e socialmente aceitáveis, evitando-se
o qual concentra-se a infra-estrutura viária e ener- reproduzir, em seu processo de integração econô-
gética, dependente de elevados investimentos. mica ao território nacional, o modelo anterior de
Certamente, os impactos maiores poderão ocorrer incorporação dos Cerrados, com exclusão social e
nesse Eixo. Além da concentração nesse Eixo, algu- degradação ambiental.
mas das capitais regionais destacam-se também O cenário que se depreende é o da incorporação
pela concentração de recursos e atividades: progressiva de territórios da Amazônia Ocidental
Manaus, Belém, Porto Velho e Cuiabá, entretanto a ao mercado nacional e à política externa brasileira
primazia de Manaus evidente. de consolidação do Mercosul, quando se estrutura o
O fato de haver uma diversidade maior de ações no território nacional visando conectá-lo às redes
Eixo Madeira-Amazonas, este poderá tornar-se, de logísticas dos países vizinhos. A política brasileira
fato, um espaço para novas experiências com uso de integração não é apenas nacional, ela inclui a
de tecnologias, de informações, de técnicas, América do Sul e aponta a incorporação de novas

265
regiões ao escopo do processo produtivo, amplian- mação de consórcios internacionais para atender às
do ou criando fluxos, remodelando territórios. A oportunidades geradas pela integração sul-america-
maior atenção tem sido para a interligação, ou a na. As Comissões Binacionais dos países têm apre-
construção, das redes de comunicação, privilegian- sentado projetos para a concretização desses
do os múltiplos modos de transportes, rodoviário, Corredores Bioceânicos, que deverão interligar o
fluvial ou ferroviário. Atlântico ao Pacífico, com estruturas modais e
Se em décadas anteriores, especialmente nos anos alternativas mistas de percurso, entre os quais
70, havia dificuldades de relacionamento entre os incluem o eixo fluvio-ferroviário interligando
países em função dos governos autoritários, espe- Manaus, Tabatinga, Letícia, Iquitos, Bogotá e
cialmente no Brasil, embasados nas doutrinas de Quito, com aproveitamento dos rios Solimões e
segurança nacional (MATTOS, 1981) que muitos Putumayo. A rodovia BR-174 ligando Manaus a
estudiosos qualificaram de “imperialistas” Caracas concretiza a ligação do país ao Caribe e
(RIVIÈRE D’ARC e APESTENEGRY, 1981), os será complementada pelo Eixo Arco Norte, entre
novos governos eleitos democraticamente têm pri- Macapá e Boa Vista passando por Cayenne e
vilegiado outras estratégias. Tema analisado em Georgetown. Trata-se, portanto, de articular o siste-
COSTA (1996, 1999) e em BECKER (1997) quan- ma rodoviário com a rede hidroviária natural da
do ressaltam que novos vetores privilegiados no região, o qual poderá atrair, no futuro, os fluxos da
processo de negociação de acordos entre os países América do Sul Setentrional. Deste modo, COSTA
do Cone Sul, na década de 80, foram os instrumen- (1999) considera que a região se insere no processo
tos legais trabalhistas, sanitárias, ambientais, etc. Já de globalização através do adensamento das redes,
na década de 90, com a construção da democracia e permitindo movimentação de capitais nacionais e
a maior participação social, o governo brasileiro internacionais, constituídos pelo aumento de fluxos
tem privilegiado a estratégia de liderar a negocia- de bens e serviços econômicos.
ção do Mercosul, consolidando a inserção regional Mesmo na parte ocidental da floresta amazônica, as
e global, e inserindo nesta estratégia a região iniciativas bilaterais de integração têm apresentado
amazônica, incorporando-a de maneira efetiva na alguns resultados concretos, como a peruana, volta-
economia nacional. da para a construção da rodovia que deverá interli-
Nesta década, os governos começaram a enfrentar a gar o Porto de Ilo ao Acre e à BR-364. Com esses
questão da infra-estrutura deficiente de circulação projetos, o Brasil finalmente concretiza a sua anti-
continental, especialmente a terrestre e a fluvial. ga aspiração de alcançar o Pacífico e o Caribe, o
Neste particular, alguns projetos tem sido privile- Peru alcança o Atlântico, e a Venezuela redireciona
giados pelo BID – Banco Interamericano do parte dos seus fluxos para o sul do continente.
Desenvolvimento. Destacando-se os dois corre- Assim, a dinâmica de estruturação do território
dores bioceânicos que cruzam a Amazônia Legal, já amazônico, e o investimento em serviços, decorre
em implantação, e outros empreendimentos que de um processo maior de consolidação dos laços
vem sendo negociados para a região, chega-se a um internos nacionais e regionais com a América do
valor estimado de US$ 12,5 bilhões, previstos na Sul, num momento propício ao fortalecimento de
sua quase totalidade para a construção e a operação blocos regionais no contexto da mundialização. O
através de consórcios privados. COSTA (1999) res- território está sendo equipado pelo resgate e recons-
salta que este recurso mobiliza as agências de trução de novas redes físicas, em um sistema que
governo e os investidores potenciais e reais. As envolve portos (novos piers, novos terminais de
empresas, que já operam na região, têm pressiona- troca, etc.), hidrovias, ferrovias, novas rodovias ou
do o governo para a superação dos obstáculos à recuperação e asfaltamento de antigos trechos,
livre circulação dos produtos, especialmente nas complementados por melhorias em aeroportos e
suas áreas mais adensadas. terminais para armazenamento de carga.
Estas políticas de infra-estrutura aguçam os inter-
esses econômicos das empresas de construção civil, Neste movimento, três capitais estaduais deverão
tanto as antigas na região como as novas, e a for- ser revalorizadas pela política desenvolvimentista:

266
267
Manaus (ponto de encontro de rodovia com hidro- gestão territorial e regional, proteção ambiental e
via combinado com o porto graneleiro de indígena, desenvolvimento tecnológico, capacita-
Itacoatiara, pela reforma e melhoria do porto de ção para a produção, os programas poderão atuar
passageiros e de carga da cidade, estimulados por como vetores de mudança na Região. Procuramos
projetos do Distrito Industrial da zona franca, ter-
agrupá-los nos campos econômico, social, ambien-
minal aeroportuário importante); Porto Velho tal e de informação e conhecimento e retratá-los
(porto principal do Rio Madeira, centro regional do
nos gráficos 8.05 e 8.06. No entanto, a demonstra-
Sivam e um dos terminais do gasoduto de Urucu) e ção e a análise dos montantes de recursos destina-
Cuiabá, que deverá ser um entroncamento de siste- dos à Amazônia no âmbito desses programas não é
mas rodo-ferroviários através de Alto Taquari e possível pois são valores gerais para atividades
Alto Araguaia, que ligam o norte do país aos corre-
amplas como por exemplo “pesquisas em diversi-
dores que interligam à Bolívia, fortalecendo, maisdade vegetal” que podem ser realizadas em qual-
uma vez, a ligação Amazônia-Mercosul. quer local do território nacional e cujos montantes
É provável que as atividades de alta intensidade de
serão estabelecidos somente quando os convênios
capital, tecnologia e organização poderão gerar forem assinados. Na quase totalidade desses pro-
novos efeitos integradores, novos links, como por gramas o orçamento é de gestão nacional. A relação
exemplo as plataformas tecnológicas. abaixo e o anexo 4 representam a base de dados,
Portanto, o momento histórico atual clama pela a dos programas e ações, que poderão provocar trans-
incorporação dos custos sociais e ambientais à apli-
formações na região amazônica.
cação dos recursos econômicos nos Eixos. A incor- No campo econômico:
poração do custo de criação e manutenção de uni- i. Agricultura Familiar (Programa nacional de
dades de conservação, a elaboração de planos de agricultura familiar);
manejo em áreas de aproveitamento florestal privi- ii. Brasil em Ação (desenvolvimento de metodo-
legiadas com a consequente construção das redes logias);
logísticas de acesso, o monitoramento do desmata- iii. Desenvolvimento do Setor Exportador;
mento visando sua redução, as atividades de reflo- iv. Distribuição de derivados gás natural e
restamento e de recuperação e uso de áreas já álcool;
degradadas, a capacitação de populações para v. Emancipação de assentamentos rurais;
implantarem projetos de modelos alternativos, vi. Gerenciamento da estrutura fundiária;
constituem-se exemplos que deveriam ser inte- vii. Gestão urbana;
grantes das planilhas de custos das empresas candi- viii. Gestão da política de desenvolvimento
datas à construir a infra-estrutura na Região. urbano;
Todavia alguns setores ainda funcionam como gar- ix. Gestão da política de integração nacional;
galos, ou “ missing links22”, em infra-estrutura eco-x.Gestão da política fundiária;
nômica. Para suprir a demanda e terminar com xi. Morar Melhor;
esses gargalos, há necessidade de maiores investi- xii. Municipalização do Turismo
mentos. O governo tem procurado fontes externas xiii. Nosso Bairro
para financiar essas necessidades, abrindo possibi- xiv. Novo Mundo Rural : consolidação dos
lidades para novas atividades empresariais. assentamentos;
A visão estratégica do governo federal e o papel xv. Novo Mundo Rural : assentamentos rurais;
atribuído aos Eixos de integração, articulação e xvi. Oferta de petróleo e gás natural;
mudança do padrão territorial, sugerem um foco de xvii. Recursos para o desenvolvimento;
especial atenção para o o Eixo Araguaia-Tocantins. xviii. Reestruturação de Regiões metropo-
Vetores indiretos do desenvolvimento, reper- litanas;
cussões potenciais… xix. Turismo, indústria do novo milênio.
No campo social:
A partir do enquadramento temático das ações que xx. Comunidade Ativa;
se relacionam ao uso de recursos naturais, desen- xxi. Defesa Civil;
volvimento de infra-estrutura; saneamento urbano,
268
269
270
xxii. Desenvolvimento social da faixa de fron- volvimento para um novo modelo, com alternativas
teira; de tecnologias ambientais para o desenvolvimento
xxiii. Educação de jovens e adultos; produtivo ambientalmente adequado à Região. Se
xxiv. Etnodesenvolvimento de sociedades indí- as políticas forem orientadas nesta direção haverá
genas; um grande potencial, pela construção de novos cri-
xxv. Prevenção e controle da malária; térios aplicados na política de crédito à projetos
xxvi.Relações Brasil Estados estrangeiros e alternativos; muitos dos quais já foram experimen-
organismos internacionais; tados através do FNMA e dos Projetos
xxvii. Território e cultura indígenas; Demonstrativos do PPG-7, já analisados na segun-
xxviii. Saneamento é vida. da parte.
As atividades ambientais e as atividades previstas Um primeiro vetor de mudança poderia ser experi-
no campo de informação e conhecimento mentado na alteração das regras de programas já
xxix.Águas do Brasil; iniciados, como o PRONAF, autorizando-os a des-
xxx. Biodiversidade e recursos genéticos – tinarem o volume total de investimentos programa-
Biovida; dos para a Agricultura Familiar no financiamento
xxxi.Brasil joga limpo; de experiências-piloto com novas técnicas produti-
xxxii. Educação Ambiental; vas (plantio direto, por exemplo) ou novos sistemas
xxxiii. Florestar; produtivos (consórcios agroflorestais). Outros
xxxiv. Florestas Sustentáveis; exemplos poderiam ser disseminados pelos progra-
xxxv. Biodiversidade e recursos genéticos mas de Turismo, e Municipalização do Turismo,
– Genoma; com a promoção do ecoturismo. Se os mesmos
xxxvi. Gestão da política de meio ambiente; forem incluídos como passíveis de serem financia-
xxxvii. Parques do Brasil; dos pelos bancos públicos e privados, substancial
xxxviii. Prevenção e combate desmatamen- mudança da política atual estaria sendo produzida.
tos, Queimadas, incêndios florestais; Por outro lado, nos vastos espaços onde se encon-
xxxix. ProÁgua – gestão; tram as pequenas propriedades, os incentivos a
xl. Qualidade Ambiental; estes projetos poderão atingir rapidamente efeitos
xli. Recursos Pesqueiros Sustentáveis; positivos das experiências.
xlii. Vigilância Epidemiológica Ambiental; O gráfico 8.06 ressalta o peso do Programa Novo
xliii. Zoneamento Ecológico-Econômico; Mundo Rural: Assentamentos. Os documentos ofi-
xliv. Agricultura de Precisão(C&T); ciais determinaram diretrizes para a consolidação
xlv. Alocação estratégica de recursos; dos antigos projetos e a prioridade para novos
xlvi. Biodiversidade e recursos genéticos- assentamentos visando atender as metas propostas.
Biovida (C&T); As ações principais estão voltadas para a emanci-
xlvii. Biodiversidade e recursos genéticos pação de assentamentos criados até 1998;
– Genoma; concessão de infra-estrutura aos assentamentos, via
xlviii. C&T para gestão de ecossistemas; Banco da Terra, e concessão de crédito pelo Cédula
xlix. Florestar (desenvolvimento tecnológico); da Terra; assistência e capacitação, por intermédio
l. Informação e conhecimento em políticas do projeto Lumiar; titulação da terra, plano de
públicas; desenvolvimento dos assentamentos. O PRONAF -
li.Mudanças Climáticas; Agricultura Familiar, outro importante programa
lii. Pesquisa aplicada na área energética; procura atingir o agronegócio, a agroindústria, as
liii. Recursos do Mar; tecnologias de automação e pesquisas tecnológicas
liv. Sistemas Locais de inovação. para a agricultura familiar. As repercussões territo-
As possibilidades de ações no âmbito de setores riais e os impactos vinculados à política de reforma
produtivos, e desenvolvimento, bem como no agrária e as perspectivas de ampliação futura serão
campo tecnológico, poderão se tornar, de fato, em analisados no capitulo 9.
vetores de transformação do modelo atual de desen- Esse programa, Novo Mundo Rural -

271
Assentamentos, pela sua importância social e pelas ras de investimentos estão asseguradas tanto no
dinâmicas que provocam sobre o território poderia PPA 2000-2003 quanto nas proposições mais a
desenvolver novos modelos nas formas das parce- médio prazo do Avança Brasil.
las agrícolas e dos sistemas produtivos. Esse pro- Este Eixo concentra 50% dos investimentos previs-
grama utiliza o antigo modelo de projetos de colo- tos no âmbito dos corredores multimodais de trans-
nização agrícola, o diferente é que hoje tais assen- portes da Amazônia Legal (cerca de R$ 6,5 bilhões,
tamentos assimilam demandas e reivindicações do ou US$ 3,53 bilhões) e 70% deste montante estão
Movimento dos Sem-Terra e começam a experi- concentrados nos Estados do Pará e Tocantins,
mentar um modelo articulado junto com o confirmando seu papel no contexto regional e de
Ministério do Meio Ambiente. Hoje, há recursos integração nacional. O corredor Araguaia-
que poderiam estar associados à novos modelos de Tocantins se concretizará com a realização de um
assentamentos e de exploração econômica das par- conjunto de obras que envolvem pontes, rodovias,
celas, por meio de capacitação para uso de alterna- eclusas e ferrovias, hidrovias e terminais nos rios. A
tivas técnicas baseadas nos conceitos de sustentabi- maior obra é a hidrovia Araguaia-Tocantins que já
lidade, especialmente valorosa às famílias de esta sendo utilizada nas condições atuais, pela
migrantes, ainda hoje pouco preparadas para trabal- Ceval, para escoamento da soja produzida no leste
har na Amazônia. Neste aspecto, as recentes nego- de Mato Grosso até São Luís, pela Ferrovia
ciações entre o Ministério Extraordinário da Carajás. Facilitará também o escoamento da produ-
Reforma Agrária e o Ministério do Meio Ambiente ção agro-pecuária e agro-industrial dos cerrados e
visando capacitar o pequeno produtor e aproveitar mínero-metalúrgica da Amazônia Oriental, através
as próprias condições ambientais. Estes aspectos do porto de Itaquí. Integra aos investimentos, um
serão analisados no capítulo 9. conjunto de melhorias na rodovia Belém-Brasília,
Da mesma forma, o investimento em infra-estrutu- que corta longitudinalmente quase todo o Eixo,
ra e nas condições de habitabilidade urbanas, como o primeiro fator de estruturação recente do
poderão proporcionar melhoria na qualidade de espaço central do país.
vida e seria um passo para aumentar as possibili- Ao aspecto econômico somou-se também a argu-
dades sócio-econômicas das pequenas cidades e mentação relativa à sua posição territorial, estraté-
comunidades locais. gica na integração norte-sul, à qual aliam-se as
condições de facilitar o contacto entre o leste e o
3. O Eixo Araguaia-Tocantins
oeste do país, permitindo a articulação intermodal
A importância atribuída à região central do país, entre o sistema rodoviário do Centro-Oeste e o fer-
pelo Governo federal, está expressa no relatório roviário do Norte. Na verdade, entre os nove Eixos,
síntese do Edital BNDES-PBA/CN-01/97 este é o único Eixo interregional, constituído a par-
(2000:19) que considera «os Eixos do Centro-Oeste tir da sobreposição de duas grandes macrorregiões
como fatores de integração espacial do país, dando brasileiras.
importância estratégica à infra-estrutura econômica Sem dúvida, o Eixo Araguaia-Tocantins representa
e considerando-os como “locus” adequados a gran- a verdadeira configuração espacial do futuro desen-
de expansão da agricultura e da agroindústria volvimento do país: de estruturação central, no sen-
nacionais, fortemente integradas ao mercado inter- tido norte-sul. Todavia, repetindo-se os padrões
nacional». anteriores de exclusão, cujo alicerce é a competiti-
O nível de investimento econômico previsto respal- vidade econômica, esse modelo reforça o que a
da a posição que a região do Araguaia-Tocantins oposição legislativa definiu como “projeto estraté-
ocupa em relação à potencialidade da produção gico de investimento, mas não um projeto de desen-
nacional: a concentração dos investimentos para volvimento” (Gazeta Mercantil, 03 de abril de
permitir deslocar a produção rapidamente até os 2000).
locais de consumo. No primeiro mandato de BECKER e EGLER (1999) analisam que, todo esse
Fernando Henrique Cardoso a área foi privilegiada processo desenvolve-se com o objetivo de integra-
com elevados investimentos e as perspectivas futu- ção continental, do norte ao sul, o que lhe possibi-

272
273
litará aumentar a capacidade de inserção competiti- áreas protegidas).
va de alguns de seus territórios nos mercados mun- A região do Eixo Araguaia-Tocantins é caracteriza-
diais. Para eles, a viabilização desses corredores da como de excelente potencial para produção de
dar-se-á através da extensão e/ou implantação de grãos, minérios, serviços e as melhores terras agrí-
redes de articulação, as quais envolvem toda infra- colas24 do país. A figura 8.7 destaca os investimen-
estrutura econômica, aproveitando-se, sobretudo, tos previstos para o Eixo. Entretanto este estudo
das vantagens da rede de fluxos dos ciclos de não apresenta nenhuma avaliação a respeito dos
expansão anteriores e que irradia influências para prováveis impactos do conjunto das obras sobre a
todos os setores. biodiversidade, nem dos Cerrados, nem das áreas
Ao aproveitar tais condições territoriais, o modelo é de transição ecológica, e sim especialmente pelo
espacialmente seletivo por articular o desenvolvi- papel estratégico de integração intermodal e de
mento ao longo dos Eixos, (re)equipando-os em facilitar o escoamento da produção.
função dos novos fluxos econômicos e desprezando Entretanto, é importante lembrar que esta não é
as áreas não rentáveis. Com isto aumenta a veloci- uma região que se estrutura neste momento. FAIS-
dade das transformações nestas áreas selecionadas SOL (1950), WAIBEL (1955) e KATZMAN (1975)
paralelamente ao aumento da rede de oportunidades destacam o clássico processo de colonização e
aos investidores. desenvolvimento regional em Goiás25. Conquanto
Com a intensificação dos investimentos, para viabi- interessa nesse momento ressaltar o período mais
lizar um sistema mais eficiente para o escoamento recente, quando o fator de estruturação é a rodovia
da produção, a expectativa do Governo é a ocorrên- Belém-Brasília, implantada nos anos 60, que corta
cia de investimentos privados em agro-indústrias, longitudinalmente quase todo o Eixo.
em função da proximidade das áreas de produção A área definida para este Eixo incorpora integral-
agrícola (soja, milho, algodão) ou pecuária (aves, mente os Estados de Goiás e Tocantins, o Distrito
suínos, bovinos), de madeira, ou de produção mine- Federal, 80% dos municípios do Maranhão e
ral resultante do desdobramento do complexo de pequenas áreas do Pará, Mato Grosso e Minas
Carajás, aumentando a competitividade brasileira Gerais. São 522 municípios, aproximadamente 16,2
no mercado mundial. “As potencialidades de % do território brasileiro. A população, em 1996,
desenvolvimento econômico e social, do Eixo correspondeu a 8,2% da população nacional,
Araguaia-Tocantins, estão fortemente vinculadas à 12.944.379 habitantes, com densidade relativamen-
consolidação de seu duplo papel estratégico de elo te baixa, 9,4 hab/km2, média inferior à nacional,
essencial do sistema intermodal de integração, mas de dinamismo populacional acelerado marcado
nacional e internacional, e celeiro da produção pelo crescimento de Palmas, Goiânia e Brasília.
primária nacional” (BNDES, 2000:106). É o O objetivo principal destacado no estudo do
«core» do modelo de planejamento no contexto Consórcio Brasiliana foram as vantagens existentes
atual dos planos do Governo Fernando Henrique para o crescimento econômico no Eixo. A existên-
Cardoso. cia de gargalos de infra-estrutura econômica e
A estruturação do Eixo Araguaia-Tocantins social é um fato, embora alguns deles já tenham
sido atendidos com recursos do Brasil em Ação, no
O estudo 23 centra-se na análise de indicadores eco- período 95-2000, (o corredor multimodal 26, -
nômicos gerais, como o PIB, e setoriais, da agricul- Hidrovia Araguaia-Tocantins e Ferrovia Norte-Sul
tura, pecuária, extrativismo mineral, e vegetal e da e Rodovia BR-153 – estavam entre os 60 projetos
indústria (agroindústria, têxtil e turismo); sociais deste Programa) – ou foram priorizados no Avança
(dinâmica populacional, ensino fundamental e qua- Brasil ou ainda com incentivos futuros investimen-
lidade do ensino, desemprego, saneamento e mora- tos privados.
dia). Esta análise é complementada por indicadores Assim, o grande esforço do Governo tem sido
de informação e de conhecimento (centros de pes- demonstrar que o Eixo poderá se inserir competiti-
quisa, escolas técnicas e profissionais, ligações na vamente, tanto no contexto nacional como interna-
Rede Nacional de Pesquisa e provedores de cional, dependendo unicamente do equacionamen-
Internet) e de meio ambiente (terras utilizadas e
274
to dos problemas relacionados à infra-estrutura de realizados. A construção do canal de Santa Isabel e
transporte. Neste sentido, o estudo ressalta as terminais hidroviários fortalecem os investimentos
condições favoráveis da região aos investimentos estruturadores do corredor de transporte.
privados na economia como a própria posição geo- O setor de comunicações também foi utilizado
gráfica, as grandes extensões de cerrados, as reser- como indicador da potencialidade de investimentos
vas vegetais e minerais, o potencial hídrico e de visto ter uma demanda para atendimento de 1,5
transportes intermodal. Como oportunidades de milhão de linhas telefônicas até 2007. O atendi-
negócios destacam-se a logística, a exploração das mento a estas demandas garante a tendência de
hidrovias, aeroportos, rodovias, a geração e distri- crescimento do mercado de comunicações por
buição de energia, a agregação de valor nas cadeias Internet e por telefonia fixa ou móvel, sobretudo
produtivas da agroindústria, equipamentos e tecno- tomando-se em consideração que inúmeras cidades
logias para irrigação e processamento, turismo e ainda não possuem esses serviços.
ecoturismo. Quanto à educação e saúde, propõe-se a ampliar o
Mas, para garantir o escoamento eficiente é preciso atendimento por meio da implantação de equipa-
ainda investir em diversas ações: mentos sociais em outras cidades fora do eixo
1. Construir infra-estrutura de transporte hidroviá- Goiânia-Brasília, assim como o ensino médio pro-
rio (faltam ainda terminais de transbordo, com- fissionalizante nas cidades de porte médio; investi-
boios fluviais e condições contínuas de navega- mento na qualificação e melhoria do quadro de pro-
bilidade nos rios Araguaia, das Mortes e fessores. Prioridade também deverá ser dada a pro-
Tocantins); gramas de controle e/ou erradicação de endemias, e
2. Facilitar acesso à Estrada de Ferro Carajás para na ampliação do sistema de abastecimento de água.
produtos transportados pelos rios Araguaia e A soja e a demanda de investimentos
das Mortes, que alcançam Xambioá distante
170 km do ponto final da Ferrovia Norte-Sul Com a intensificação dos investimentos para viabi-
(Imperatriz-Estreito); lizar um sistema mais eficiente para o escoamento
3. Conservar trechos rodoviários; da produção, o Governo espera que ocorram inves-
4. Vencer os obstáculos à navegabilidade do rio timentos privados em agro-indústrias, em função da
até a saída por Belém; proximidade das áreas de produção agrícola (soja,
5. Construir pontes sobre os rios na divisa do milho, algodão) ou pecuária (aves, suínos, bovi-
Maranhão e Piauí, com vistas à incorporação de nos), de madeira ou de produção resultante do des-
novas áreas para a produção de grãos na região dobramento do complexo de Carajás, o que, espera-
de Balsas (MA). se, aumentará a competitividade brasileira no mer-
Se tais empreendimentos forem realizados será cado mundial. “As potencialidades de desenvolvimento
possível explorar o elevado potencial de produção econômico e social do Eixo Araguaia-Tocantins estão forte-
mente vinculadas à consolidação de seu duplo papel estraté-
agrícola, visto que a região hoje responde por ape- gico de elo essencial do sistema intermodal de integração,
nas 5% da produção nacional. nacional e internacional e celeiro da produção primária nacio-
Para suprir a demanda de energia elétrica, o estudo nal”27.
ressalta a necessidade de cumprir o cronograma de A produção da soja nos estados do Pará, Tocantins
implantação, no período 2000-2007, das hidrelétri- e Goiás cresceu 81%, entre 1991-1994, com uma
cas da bacia do Araguaia-Tocantins: além da produtividade de 2,5 ton. / hectare, superior à média
conclusão da UHE Luís Eduardo Magalhães, antiga nacional (Brasil, MPO: 1997). No ano 2000 o Mato
Lajeado, a implantação da UHE Serra da Mesa e de Grosso tornou-se o maior produtor de soja do país.
Cana Brava e a ampliação da UHE Tucuruí, assim A produção moderna, normalmente, altera a estru-
como completar a interligação do sistema elétrico tura de produção e intensifica as relações com a
brasileiro ao da linha Norte/Sul. Os projetos de usi- estrutura fundiária, como evidenciada no figura 8.8:
nas de Serra Quebrada, Estreito, Tupiratins e Peixe, o primeiro mostra que, no período de 1977 a 1996,
todas no rio Tocantins, e Couto Magalhães no rio enquanto em Estados tradicionalmente produtores,
Araguaia, já estão com seus estudos de viabilidade no extremo sul do país, ocorreu uma redução da

275
Tabela n° 7 - Produção de soja (t) em Estados da Amazônia Legal e no Brasil

Programas Maranhão Rondônia Pará Tocantins Mato Grosso Brasil


1993 87.370 10.852 - 26.506 4.118.726 22.590.978
1994 140.637 11.052 - 57.585 5.319.793 24.931.832
1995 162.375 10.800 - 36.191 5.491.426 25.651.272
1996 194.868 11.250 - 14.030 4.759.114 23.210.877
1997 252.000 8.900 1.180 19.700 5.721.300 26.160.000
1998 302.400 14.100 80.200 7.150.000 31.364.400
1999 390.500 19.500 93.800 7.134.400 30.752.800

Fonte: CONAB, 1999. IBGE, 2000.

produção de soja, na região Centro-Oeste e limites çadas em 1997, apresentam uma análise econômica
sul da Amazônia, este produto conquista terreno e do potencial a ser explorado, ressaltando, especial-
passa a ser produzido especialmente nos Estados do mente as vantagens ambientais (climáticas, pedoló-
Mato Grosso, Goiás, Maranhão e oeste baiano. Ao gicas e hidrológicas) dos Cerrados. As prioridades
mesmo tempo, constata-se também a concentração identificadas foram integradas no Plano PluriAnual
de propriedade, representada pelos estabelecimen- 2000-2003: infra-estrutura econômica (corredores
tos agrícolas maiores que 2000 hectares. Como no de rodovias, ferrovia, hidrovia; energia elétrica,
início do processo de ocupação em regiões pionei- comunicações) e social (educação, saúde, habita-
ras são as pequenas propriedades que predominam, ção), apoio às atividades produtivas (reforma agrá-
quando ocorre a consolidação destas frentes, as ria, Pronaf), apoio à ciência e tecnologia (quase que
mesmas são compradas por grandes proprietários, exclusivamente os Centros da Embrapa e universi-
promovendo a concentração que é necessária para dades). Neste contexto de investimentos previstos,
produções que exigem investimento de capital e o anexo 5 destaca os projetos de maior porte finan-
mecanização. A variação tanto em número quanto ceiro (acima de US$ 50 milhões) inscritos no âmbi-
na proporção de grandes estabelecimentos é bastan- to desse PPA.
te elevada. No entanto, reforçando a argumentação da priorida-
Hipóteses podem ser elaboradas a partir dessa dinâ- de voltada para o crescimento econômico em detri-
mica que segue um ciclo que já caracteriza a frente mento de outros aspectos do desenvolvimento, o
pioneira brasileira: a pequena produção descapitali- documento (Brasil, MPO: 1997) traz uma análise
zada é substituída pela pecuária, num primeiro densa do potencial econômico a ser explorado,
tempo, para ser posteriormente substituída por uma entretanto é extremamente negligente com aspectos
produção de grãos para exportação. Se tomarmos ambientais, citando, em dois pequenos trechos, que
em consideração o que já ocorreu nestas regiões, é a diversidade ecológica do Centro-Oeste é extrema-
provável que grande número de pequenos produ- mente promissora para a atividade de ecoturismo,
tores que saíram do Sul e que compraram terras – ou seja, uma visão de exploração econômica,
mais baratas –no Centro Oeste e Amazônia, ou, inexistindo um estudo da capacidade de suporte dos
mesmo os sem-terra que hoje perambulam nestas ecossistemas centroestinos.
áreas, podem ter tido sua origem no momento que Em outras palavras, a maioria dos quadros técnicos
a soja passou a ser o produto de exportação brasi- do governo compartilhavam da idéia de responder
leiro. Há tendências de que essa dinâmica fundiária aos desafios da globalização, da abertura comercial
se repita nas novas regiões do Eixo incorporadas e da inserção competitiva da economia brasileira
aos novos processos produtivos. com uma estratégia organizada em agendas de
Em novembro de 2000 foi divulgado o novo Plano desenvolvimento. Na prática, mesmo que alguns
de Desenvolvimento para a Região, cujas bases lan- setores, primeiramente o da política ambiental, dis-

276
cordassem da forma de abordagem do tema, a conclusão da rodovia Belém-Brasília. As conse-
opção pela competitividade brasileira ao mercado quências desta reorganização espacial e da política
mundial prevalece. de desenvolvimento regional podem ser sintetiza-
A histórica integração regional das, segundo KATZMAN (1975) em um processo
de abertura da produção comercial das fazendas,
Consideráveis investimentos públicos foram apli- facilitada pela ferrovia (1919-1940); a indução do
cados, desde os anos 20, procurando aumentar a desenvolvimento agrícola; ao incremento dos
produção agro-pecuária e a importância do Estado padrões de consumo na região; à ligação entre o
de Goiás, sempre periférico à economia nacional. centro sul e o maior entreposto da Amazônia -
Acelerou-se a construção da rede de rodovias e da Belém, que provocou crescimento das exportações
cidade de Goiânia, nos anos 30. Entre os anos 1940 industriais e agrícolas, de São Paulo para Belém, e
e 1975, a taxa de crescimento do Estado atingiu atraiu um contingente de 150.000 migrantes para
60% a cada década (KATZMAN, 1975), dinâmica Goiás, no período 60-70. Nos anos 80, o processo
marcada sobretudo pela transferência da capital de ocupação econômica ganhou corpo com o
federal, Brasília, da “Marcha para o Oeste” e da Projeto Grande Carajás.

277
A despeito dos pesados investimentos desse perío- o GETAT (Grupo Executivo de Terras do Araguaia-
do, a estruturação deste espaço em área de frontei- Tocantins), em fevereiro de 80, encarregado de
ra econômica tem uma longa história, como já foi resolver a complexa situação fundiária, especial-
citado. As consequências sociais que acompanha- mente no Bico do Papagaio.
ram este processo ocorreram no início da década de A dinâmica desta fronteira associou um grande
80. Na região do Bico de Papagaio, SADER (1983) fenômeno de mobilidade cuja característica é o
destaca os principais conflitos nas formas de apro- forte êxodo rural com a explosão das cidades, sem
priação do espaço: os posseiros; os grandes pro- formar, entretanto, um sistema urbano mais sólido.
prietários e os grandes empresários, o espaço urba- Ao mesmo tempo, outros fatores provocaram na
no embrionário e em estruturação e as instituições Região um conjunto de impactos ambientais, como
que se movimentavam neste processo, através do a abertura de estradas, os incentivos fiscais para a
Estado, dos programas de desenvolvimento, de sua Amazônia, a dificuldade de controle sobre grandes
política de crédito e incentivos fiscais; da organiza- extensões e sobre projetos baseados no uso de
ção camponesa; da ação da Igreja. O Estado era recursos naturais. Além destes, a coleta seletiva de
financeiramente forte e autoritário, e dirigia seus madeira e o desmatamento de 50% dos lotes de
benefícios ao grande empresário, ao fazendeiro, ao assentamentos agrários para acessar o título de pro-
político; agia autoritariamente no controle dos priedade contribuíram fortemente para as altas
movimentos de organização social. Não cabe aqui taxas e volume total de desmatamento entre os anos
uma análise deste tema, já realizada por especialis- 78 e 98 29, representado na tabela 8.
tas28, mais é preciso relembrar algumas consequên-
cias daquele período. Os posseiros e os pequenos Tabela n° 8 – Volume do desmatamento em hectares
produtores, situados em regiões de interesse para o ESTADOS Janeiro 1978 Agosto 1988 Agosto 1998
grande capital eram expulsos, utilizando-se de Pará 56 400 139 300 188 372
todos os tipos de ardis, desde ações judiciais nas Tocantins - 22 300 26 404
quais os próprios juizes promoviam as grilagens, Maranhão 63 900 92 300 100 590
Mato Grosso 20 000 79 600 131 808
até posse, de grandes áreas para empresas, sob a Amazônia 152 200 401 400 551 782
proteção de deputados, ou mesmo da operação
militar deflagrada em 1979, na qual se estabeleceu Fonte: INPE, 2000
uma aliança entre órgãos militares e de segurança
com grandes proprietários (BOTELHO, 1981). Simultaneamente, uma nova ordem econômica era
Segundo KOTSCHO (1982), no início dos anos 70, pensada para a Região, marcada pelos grandes pro-
os primeiros conflitos ocorreram em Imperatriz, jetos que visavam a produção empresarial e não
Santa Luzia e Açailândia (MA) e São Domingos do possuíam caráter social. Segundo KOTSCHO
Capim (PA), e marcaram o início do processo de (1982), BARBOSA (1996) e OLIVEIRA (1996) os
grilagem, de especulação, e destruição organizada recursos eram fornecidos pelo orçamento público,
das famílias de posseiros. A partir daí, durante cerca via BNDES, através de empréstimos bancários
de 10 anos, a Igreja passou a atuar ativamente na internacionais com o aval do Estado.
defesa da população ameaçada, e na denúncia e Dos projetos orientados para a produção agrícola
combate, à marginalização social que tal processo pode-se destacar o Programa de Desenvolvimento
provocava. Integrado Araguaia-Tocantins (Prodiat), em convê-
Os conflitos de terra se davam principalmente entre nio com o Banco Mundial, voltado para a produção
os colonos migrantes, os sem-terra, os trabalha- de alimentos para 100 milhões de pessoas, destina-
dores agrícolas recrutados especialmente no do à exportação.
Nordeste e os pecuaristas, e entre estes e os índios. Os outros, se orientaram para o complexo centrado
A extrema violência destes conflitos resultou na sobre a barragem de Tucuruí, o complexo de alumí-
ocorrência de inúmeros assassinatos. Tal era a nio no Pará e para instalações necessárias à explo-
dimensão deste quadro de conflitos que o Estado ração da Serra dos Carajás - o Programa Grande
acabou sendo forçado a tomar providências e criou Carajás, analisado no capitulo 1.

278
279
Outro projeto importante foi o Projeto Rio somente no ano 2000 foram estabelecidas estraté-
Formoso, de produção de arroz irrigado, implanta- gias para sua conservação no âmbito do Programa
do pelo Governo de Goiás, em área do Eixo Nacional da Biodiversidade (PRONABIO) e do
Araguaia-Tocantins. O Governo construiu toda a projeto PROBIO.
infra-estrutura econômica para a irrigação, armaze- Salta aos olhos que desde àquela época, a incorpo-
namento e escoamento. Com isto, segundo BAR- ração dos espaços e implantação das redes de infra-
BOSA (1996), ocorreu a valorização das terras e estrutura não foram convergentes com a preocupa-
simultaneamente provocou a expulsão de posseiros ção conservacionista ou de sustentabilidade
que moravam na região e não possuíam títulos de ambiental.
propriedade. Assim que as obras foram concluídas As perspectivas futuras…
a área foi repassada para as cooperativas privadas,
que possuíam um número extremamente restrito de A decisão de dar ao Eixo Araguaia-Tocantins um
cooperados, muitos dos quais sem nunca terem tido papel econômico estratégico, fez com que algumas
vínculo com o meio rural. Com o aval do Estado, questões de ordem ambiental e social fossem colo-
uma das cooperativas – a Cooperformoso – conse- cadas à margem. As decisões de integrarem-se pon-
guiu financiamentos bancários para ampliar a pro- tos dinâmicos regionais às exigências do mercado
dução, penhorando toda a produção futura, sem que internacional, podem repetir o processo de avanço
os cooperados tivessem conhecimento do fato. Tais capitalista anterior, quando as relações de produção
recursos foram desviados. Para solucionar a situa- na região foram desestruturadas, concentrando pro-
ção o Estado brasileiro age: o Estado de Goiás assu- priedades e privilegiando a exportação, com exi-
me a enorme dívida, a qual foi repassada para o gências tecnológicas diferenciadas às da produção
Governo federal, quando o Estado do Tocantins foi para consumo interno e destruiu-se a pequena pro-
criado. dução para o consumo local. Apesar de ter-se
Para concluir, pode-se considerar que a política consolidado um espaço produtivo, ocorreram
engendrada pelo Estado federal atingiu os objetivos consequências ambientais relacionadas à perda de
e algumas das metas previstas para essa região, solos agricultáveis, a assoreamentos e contamina-
deixando também suas marcas impressas no territó- ção de rios por agrotóxicos. Pela ampliação da
rio, as marcas do processo histórico vivido pela mecanização – um novo padrão técnico, reduziu-se
região: o povoamento, a construção de estradas, o a necessidade de mão-de-obra, marginalizando
crescimento da produção comercial e para exporta- sobretudo pequenos produtores e populações tradi-
ção. cionais ou expulsando-os para regiões mais dis-
Mas, é impossível esconder os custos sociais e tantes ou sendo lançando-os para as periferias urba-
ambientais deste processo, os quais jamais foram nas.
mensurados, embora tenham sido estudados por Este modelo reforçará o padrão territorial linear de
HÉBETTE e MOREIRA (1996); KOTSCHO concentração (nas bordas dos rios ou das estradas)
(1981), entre outros, em sua relação políticas / característico da dinâmica dos anos 90, onde fenô-
resultados quando revelaram a situação social das menos como a migração e aumento das densidades,
áreas rurais amazônicas: terras indígenas invadidas, o crescimento em número das cidades, a expansão
expulsão e mortes pela luta pela terra, concentração da produção agrícola, expandiram os focos de des-
fundiária, crescimento da periferia das cidades. matamento e as queimadas acentuaram-se
Hoje sabemos que os Cerrados brasileiros são ecos- (THÉRY, 2000; BECKER, 2000). Os inter-espaços,
sistemas vulneráveis estando em risco de extinção, neste padrão, são locais de baixa densidade social e
conforme nos mostram os estudos recentes da econômica, propícios à permanência das grandes
Conservation International (PÁRA-RAIOS, 2000) extensões de terras e de concentração de grandes
que os classificam em 12° lugar, entre os 25 ecos- propriedades.
sistemas mais ameaçados de extinção no mundo, Por decorrência, se um complexo de infra-estrutura
embora tenham sido classificados como de grande porte é construído objetivando escoar
“Patrimônio Nacional” na Constituição Nacional; uma produção agrícola tendente a aumentar, novas
áreas de produção deverão ser incorporadas ao pro-
280
cesso produtivo, implicando provavelmente um rem sem as respostas necessárias às demandas
avanço sobre áreas de cerrado ou de florestas sociais existentes, a se basearem somente nos
ainda nativas, causando sua substituição. parâmetros de produtividade e competitividade
Do ponto de vista da alteração da estrutura fun- ditados pelo processo produtivo mundializado, a
diária existente, o processo ocorrido, entre 1985 e consequência será fragilização, ainda maior, da
1996, já mostra um crescimento de cerca de 15% capacidade de atuação do Estado, os conflitos
dos grandes estabelecimentos (maior que 2000 ambientais e a exclusão social, como os únicos
ha), concentração que ocorreu antes mesmo da resultados do processo. É preciso que tais
produção ser aumentada. Se tomamos o aumento questões sejam efetivamente debatidas e as políti-
de produção previsto, a necessidade de capital e cas sejam ampliadas na região, como por exem-
outros instrumentos para a exploração do meio plo, para garantir o financiamento às experiências
rural, a tendência será intensificar mais ainda o de sistemas agroflorestais ou para o aproveita-
processo de concentração da propriedade e do mento de produtos tipicos dos cerrados, além de
aumento da população urbana. A evolução da incluir a programação de investimentos sociais em
população urbana nos estados amazônicos, evi- atividades que incorporem as populações locais.
denciada na tabela n° 9 e no figura 8.9 corroboram Na análise anterior, ao se desvendar os aspectos

Tabela n° 9 - Evolução da população urbana 1970 - 2000

ESTADO 1970 1980 1991 1996 2000


Acre 59 307 132 169 258 520 375 404 369 796
Amapá 62 451 103 735 234 131 330 590 423 581
Amazonas 405 831 856 617 1 502 754 1 766 166 2 108 478
Maranhão 752 027 1 083 768 1 684 048 2 377 735 2 610 943
Mato Grosso 684 189 654 952 1 485 110 1 695 548 1 982 969
Pará 1 201 966 1 667 356 2 596 388 2 949 017 4 115 774
Rondônia 59 564 228 539 659 327 762 864 883 048
Roraima 17 481 48 734 140 818 174 277 246 732
Tocantins - 293 442 530 636 741 009 858 388
Total 3 062 816 5 071 292 9 093 723 11 114 606 11 695 548

Fonte: IBGE, 1996 e 2001

a afirmação anterior. da retomada do planejamento e dos vetores estru-


Por outro lado, um aspecto a ser ressaltado é o alto turantes do território, incorporados pelo PPA
índice de analfabetos que já existia em 1991, nos 2000-2003, e dos objetivos da atual política bra-
Estados de Tocantins (46,7%), Maranhão (54,8%), sileira, alicerçada nos Eixos Nacionais de
Pará (43,5%), Goiás (36,2%). Este elevado índice Integração e Desenvolvimento identificou-se a
de analfabetos constitui-se um potencial quadro de coexistência das políticas nacionais desenvolvi-
exclusão social. Se não se investir fortemente em mentistas e conservacionistas. Estas políticas tem
educação básica e em capacitação profissional este suas estratégias territoriais em conflito pois, por
contingente de população certamente não terá um lado continuam induzindo o processo de
condições de acesso aos novos postos de trabalho, incorporação de novas áreas destinadas aos assen-
advindos dos novos investimentos. tamentos agrários, e por outro lado, tem como
Neste cenário, torna-se fundamental, como primei- objetivo maior a expansão do moderno setor
ro passo, atuar rapidamente na regulação e norma- agro-pecuário. No capítulo nove, a seguir, deter-
lização desta nova fase de integração. A continua- se-à na avaliação dos elementos dessas políticas.

281
Notas urbain au Brésil. L’Harmattan. 1995.
12 O estudo classifica como Eixos da Amazônia apenas os
1 Alternativas para a construção desse novo pacto federativo Arco Norte e Madeira-Amazonas e do Centro-Oeste os Eixos
foram estudadas pelo IPEAno início da década que chamou a Oeste e Araguaia-Tocantins. Entretanto como o universo uti-
atenção para dois fatores fundamentais na negociação da des- lizado na pesquisa é a Amazônia Legal serão objeto de análi-
centralização: de um lado uma maneira de eximir-se de encar- se o conjunto dos 4 Eixos.
gos; do outro, uma forma de obtenção de novos recursos, sem 13 Documento Avança Brasil – Development Structures for

a contrapartida segura da prestação dos serviços publicos cor- Investment, Ministérios do Planejamento, Orçamento e
respondentes. Citado em COUTINHO (2001). Gestão; Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Banco
2 Deve-se reconhecer o mérito da Associação Brasileira de Nacional do Desenvolvimento, novembro. 1999. Incluem-se
Orçamento Público - ABOP- na sua participação ativa no pro- na infra-estrutura econômica os recursos destinados à energia,
cesso constituinte. Curiosamente, não existe ou existiu asso- transportes, telecomunicações e infra-estrutura hídrica; no
ciação análoga de “planejamento público”, nem houve inter- desenvolvimento social a previdência social, saúde, trabalho e
locutores credenciados a essa representação naquele processo. emprego, educação, habitação e urbanismo, assistência social,
3 Um estudo pormenorizado a respeito deste tema foi elabora- saneamento, reforma agrária e esporte e lazer; no setor infor-
do por Brandão & Galvão e apresentado no Seminário de mação e conhecimento desenvolvimento tecnológico, desen-
Economia Política, UNICAMP, novembro.2000. volvimento científico e difusão do conhecimento científico e
4 COSTA (1999) atribui ao conhecimento e utilização do estu- tecnológico.
do «Os ecossistemas brasileiros e os principais macrovetores 14 O relatório do Consórcio define que “área de influência do

do desenvolvimento – subsídios ao planejamento da gestão Eixo é o território complementar definido a partir das espa-
ambiental» o mais forte indício de que o planejamento federal cialidades das relações sociais, no sentido amplo, presentes
passava a apreender a dimensão ambiental como um dos ele- nas imediações das vias de transporte e cuja lógica se reflete
mentos importantes num processo planificador. O trabalho de na rede de cidades e sua hierarquia peculiar” (Brasiliana,
atualização e re-planificação do «PPA em 1995, pela primeira 2000:14)
vez, se fez partindo da decisão por um planejamento integra- 15 O PPA é elaborado para 5 anos, sendo sempre o último ano

do, no qual dever-se-ia partir dos lugares, das regiões e do correspondente ao primeiro ano de um novo mandato presi-
espaço. Portanto, do território e não dos temas. Então essa foi dencial. A primeira experiência do PPA 1991/1995 tratou-se
uma mudança de conceito, o pessoal de planejamento, que praticamente de uma programação financeira que representa-
sempre foi acusado de pensar o desenvolvimento em termos va a ação de cada Ministério ou órgão setorial, organizadas
de estradas, ferrovias, hidrelétricas,... estava chamando o pes- tematicamente, dispersas espacialmente. Nos primeiros anos
soal do meio ambiente para pensar os próximos 4 anos numa de vigência, a instabilidade monetária determinou uma dete-
nova concepção, num novo patamar...” (Conferência realiza- rioração crescente mesmo de seu núcleo efetivo representado
da no âmbito dos «Ateliers de Análises Prospectivas» no pelo arranjo “programático-operacional”, frente à incapacida-
Núcleo de Apoio às Políticas Públicas da Amazônia da de de se assegurar mínima correlação entre orçamentos e exe-
Secretaria da Amazônia, MMA, em novembro de 1999) cução financeira. Segundo Brandão & Galvão (2000) o PPA,
5 Expressão utilizada em documentos e sites oficiais do então, foi revisto por duas vezes no curto espaço de três anos,
Governo Brasileiro. de tão distante que estava da configuração real dos dispêndios
6 Produtos do Edital BNDES PBA/CN-01/97 foram estudos sendo que a sua última revisão, determinada pela Lei que
que delimitaram os Eixos, os Portfólios e o Banco de Dados, estruturava novamente o governo após o impedimento do
realizados pelo Consórcio Brasiliana Presidente Collor, sequer foi aprovada pelo Congresso
7 No câmbio de 03/janeiro/2000. Nacional. O novo PPA formulado para o período 1996/1999
8 Conferência realizada no âmbito dos «Ateliers de Análises logrou alcançar maior aceitação e prestígio que os anteriores,
Prospectivas» no Núcleo de Apoio às Políticas Públicas da num momento político em que José Serra assume o Ministério
Amazônia da Secretaria da Amazônia, MMA, em novembro do Planejamento e impulsionou o PPA a ocupar o espaço
de 1999. vazio dos Planos. Na elaboração dessa ultima revisão, antes
9 Os conceitos e as 9 áreas estão definidos nos relatórios do da período de elaboração do PPA 95-99 foram introduzidas
Edital BNDES PBA/CN-01/97, concluídos em 1999. O metodologias que permitiam a incorporação de entes geográ-
relatório síntese cita: “um conceito de Eixo Nacional de ficos (lugares, regiões) em complementação a abordagem
Integração e Desenvolvimento, que corresponde a uma pri- temática e novo modelo de gestão governamental, por
meira evolução da visão dos “corredores de exportação” é o Programas.
utilizado no PPA 1996-1999… Na nova edição do PPA (2000- 16 O valor aprovado pelo Congresso foi de R$
2003) o conceito é aplicado com maior amplitude, permitindo 1.031.862.496.487,00, correspondendo a US$
sua utilização adequada ao planejamento regional” 560.794.835,05 (câmbio de 03/janeiro/2000).
(Brasiliana, 2000:10) 17 Alguns especialistas no tema defendem a suficiência dessas
10 Conferência pública realizada em 22 de maio de 2000 na transformações para a recuperação do planejamento público,
Universidade de Tubingen, Alemanha, por ocasião do jubileu acreditando ser a revolução dos “meios”, mediante o avanço
do professor Gerd Kohlhepp. dos controles e do monitoramento das ações, o caminho ade-
11 Leila Christina Dias, Réseaux d’information et réseau quado para reativar essa função. Cf. GARCIA (2000). Em

282
sentido contrário, BRANDÃO e GALVÃO (2000) conside- ligadas aos setores rural e industrial. (jornal A critica de 06
ram que as mudanças do novo PPA são, ao menos em parte, de fevereiro de 2002).
condições necessárias mas não suficientes. Sem a recuperação 22 Expressão utilizada frequentemente nos estudos feitos

e democratização dos espaços normativos do planejamento, pelo consorcio Brasiliana ao Edital BNDES PBA/CN-
com o estabelecimento de processos e mecanismos que favo- 01/97.
reçam sua formulação e legitimação política, não se conse- 23 Edital BNDES-PBA/CN-01/97: o estudo apresenta a deli-

guirá avançar no estabelecimento de uma sistema de planeja- mitação, o diagnóstico e análise da interação interna e
mento ajustado à nova ordem democrática vigente. externa entre eixos. Estes estudos foram baseados no
18 É a seguinte denominação dada a estes Programas: conceito de “missing links” (gargalos), um conceito funda-
Programa de Gestão Urbana; Programa de Gestão da Política mental para a área de transportes, expandido, posteriormen-
de Desenvolvimento Urbano; Programa de Gestão da Política te, para outros setores da infra-estrutura econômica, energia
Fundiária; Programa de Gestão da Política de Meio Ambiente; e comunicações.
Programas de Gestão da Política Nacional Integrada e 24 É importante verificar como o conceito de melhores ter -

Programas de Administração de Redes e Sistemas. ras agrícolas é relativo: Nos anos 70, no início do processo
19 No detalhamento do PPA 2000-2003 o agrupamento das de expansão da fronteira agrícola e incorporação de novas
ações foi diferenciado, embora estejam classificadas utilizan- áreas ao sistema produtivo, os Cerrados eram considerados
do a mesma tipologia e mesmo setor (ex: social, econômico, como terras inaptas ou inapropriadas para a agricultura.
etc.). Após o desenvolvimento de pesquisas e identificação, sele-
20 No câmbio de 03 de janeiro de 2000. ção e melhoramento de sementes, hoje estas mesmas terras
21 A estimativa, para 2002, só para o Estado do Amazonas são reclassificadas como melhores terras…
foi de R$ 82,6 milhões, montante que deverá contemplar o 25 O Estado de Goiás englobava as terras do Estado do

setor rural com 50%, a indústria com 40% e comércio e ser- Tocantins, criado em 1988.
viços com 10%. 35% do volume de recursos para o setor 26 Os resultados do Brasil em Ação foram: pavimentados

rural é destinado à agricultura familiar. As prioridades defi- 108 dos 154 km e 14 pontes no trecho rodoviário BR-
nidas para a oferta de crédito no Amazonas: no setor rural 153/PA; 120 km e 8 pontes no trecho ferroviário entre
(bovinocultura, piscicultura, pesca artesanal, fruticultura, Imperatriz e Estreito. As obras de derrocamento e dragagem
essências florestais, avicultura de postura, oleicultura e as aguardam a licença ambiental. (Brasil. MPO: 2000:51).
culturas industriais; no setor industrial (industria do pesca- 27 Relatórios do estudo da Brasiliana (Edital BNDES
do, agroindústria de beneficiamento de frutas tropicais, PBA/CN-01/97). Setembro de 98 e janeiro de 1999.
setor moveleiro, química fina – fármacos e cosméticos – e 28 Para maior detalhamento e compreensão ler Barbosa, Y

o turismo – convencional e ecológico; nos setores comércio (1996); Botelho, M (1981); Kotscho (1982).
e prestação de serviços (a comercialização e serviços volta- 29 I N P E / M C T, 2000. Monitoramento da Floresta
dos para o atendimento de atividades apoiadas pelo FNO e Amazônica Brasileira por Satélite (1998-1999).

283
284
Capítulo 9 - Conflitos de principais tendências dos macrovetores, BRASIL
(1995) ressalta que as maiores tendências de cresci-
estratégias e impactos territo- mento e expansão dos processos impactantes coin-
riais cidem com os locais onde as instituições estaduais,
regionais e municipais se mostram mais debilita-
das.
Numerosas mudanças ocorreram, entre o início
E nesse contexto que pretende-se evidenciar as
dos anos 1970 e a década de 90, alterando substan-
divergências do projeto nacional de adensamento
cialmente tanto a forma de conceber e de decidir
econômico da Região em relação às exigências da
politicamente como a gestão das políticas públicas,
atual mundialização, nos aspectos relativos à valo-
incluindo nelas as territoriais. Apesar dessas trans-
rização da ecologia e do meio ambiente, e, simulta-
formações, ao se analisar os impactos e o compro-
neamente pretende-se identificar em que conver-
metimento ambiental no território amazônico per-
gem com o clamor dos diferentes segmentos da
cebe-se que elas estão vinculadas a vetores com
sociedade nacional, pela conservação.
forte poder de reestruturação do território brasilei-
Como as novas parcerias, as articulações das
ro.
cooperações bilaterais e multilaterais e as novas
Os primeiros, os mais profundos desses vetores,
tecnologias de gestão incluem a dimensão ambien-
correspondem à implantação da infra-estrutura eco-
tal, poder-se-ia supor o atendimento à essas exigên-
nômica que provoca a ação antrópica sobre os dife-
cias. Em outras palavras, esses elementos aproxi-
rentes ecossistemas. Podem ser vistos como corre-
mam valores globais à escala local, obrigando a
dores de maior intensidade, construídos em torno
construção de outros modelos de tomada de
das estradas, e que provocam intensos desmata-
decisão. Um processo quotidiano que liga esses
mentos e também deslocamentos de população e
aspectos e que vem se consolidando, concomitante-
atividades econômicas. Assim, para a análise dos
mente, à presença dos discursos e programas de
impactos territoriais na Amazônia toma-se como
desenvolvimento sustentável.
ponto de partida uma das conclusões de BRASIL
No seio desta problemática, a associação dos
(1995) ao destacar que em escala nacional a
temas descentralização-governança-democracia
expansão da infra-estrutura viabilizou uma rede de
local, evidenciam a necessidade de incluir atores
fluxos, irradiando influências para todos os setores,
públicos e privados nas decisões e de implantar
as quais foram extremamente negativas para o meio
mecanismos adequados à estas escalas territoriais.
ambiente amazônico.
Esta idéia de governança, disseminada mundial-
Os segundos são decorrentes da incorporação de
mente, consiste, assim, que cada grupo aceite e faça
novas áreas pelas frentes pioneiras, impulsionadas
compromisso com cada um dos outros. Para isto,
pelas políticas de governo, complementam os pri-
procurou-se apoiar no pensamento de TÉNIÈRE-
meiros. Outra conclusão apontada em BRASIL
BUCHOT (2001:46) que considera a aplicação
(1995) ressalta que as políticas de governo visavam
deste conceito baseada num esquema tríplice que
a incorporação dos espaços no mercado nacional e
liga poderes públicos, interesses privados e aqueles
internacional, incumbindo-se de equipar o território
que se representam a si mesmos: o meio ambiente,
e disponibilizar seus recursos naturais, oferecendo-
os cidadãos, os usuários-consumidores. Analisado
os, a custo rebaixado, ao mercado, usando como
no capitulo sete, esses métodos vem sendo aplica-
estratégia o avanço da infra-estrutura, utilizando-a
dos em alguns casos de gestão dos recursos naturais
como alavanca para os investimentos. Esta estraté-
na Amazônia, provocando uma retração da inter-
gia repete-se no Avança Brasil.
venção publica do Estado federal, em favor da esca-
Num conjunto maior, foram esses os dois
la local, constituída pelas comunidades, governos
vetores mais importantes, capazes de provocar des-
municipais, organizações não-governamentais,
locamentos e reestruturações do território brasilei-
apoiadas por instituições bi e multilaterais.
ro.
Ainda que tais processos possam indicar uma
Ao concluir a análise dos aspectos do comporta-
mudança da gestão do desenvolvimento amazôni-
mento espacial, das repercussões ambientais e das

285
co, os mesmos induzem à reflexão a respeito destes nuam fechadas em si, sendo poucos os setores a ser-
novos caminhos, vistos como forma de desfazer as virem-se desses instrumentos; as políticas de base
contradições entre a sustentabilidade e os requeri- econômica repetem ainda antigos modelos. As
mentos da economia de mercado. Mundialmente explicitas estratégias territoriais da atual política
difundido nos projetos de meio ambiente, de gestão federal provocam inúmeras transformações na
urbana e de desenvolvimento, financiados pelo Região, ao privilegiar a construção das redes logís-
Banco Mundial, e aplicados por meio dos instru- ticas no interior dos Eixos Nacionais de Integração
mentos de gestão exigidos, estes procedimentos e Desenvolvimento e ao manter a implantação prio-
tem sido criticados por segmentos científicos, que, ritária dos assentamentos agrários na Amazônia.
ao avaliarem ser esta instituição defensora do Os dois vetores são significativos e deles depen-
modelo liberal, suas exigências provocam a dem as dinâmicas atuais, suas configurações no ter-
ascensão da escala de gestão em prejuízo do poder ritório e seus resultados ambientais positivos ou
de regulação. DORIER-APPRILL e JAGLIN negativos.
(2002) procuram mostrar como estas concepções Antes de analisar detalhadamente a política de
representam a «face boa» deste modelo. assentamentos agrários - o segundo vetor de trans-
Neste contexto, novos modelos para a Amazônia formação - é preciso esclarecer que a mesma é clas-
devem ser alicerçados no aproveitamento de suas sificada pelo Governo federal como uma política
potencialidades fundamentando-se na criação de social, dando-se maior importância à redução da
novos setores econômicos que gerem novos empre- pressão do MST em detrimento da própria produ-
gos, que beneficiem as populações locais, não ção. Assim, não é prioridade a implantação e com-
podendo mais repetir as conhecidas formas de uso plementação da infra-estrutura viária, energética e
agro-pecuário ou industriais implantadas até agora de comunicações na Região para servir as áreas de
e que tantos problemas causaram e continuam cau- projetos de assentamentos agrários. Ao contrário, a
sando. expansão dessas novas redes físicas deverão servir
No entanto, as tendências objetivas dos proces- para atender as necessidades de setores do agrobus-
sos em curso mostram que a Amazônia insere-se no siness e outras organizações privadas. Ficam, por
projeto nacional de integração continental e de enquanto, suspensas algumas questões acerca de
competição mundial. Neste caso, que prospectivas prováveis impactos decorrentes de infra-estruturas,
pode-se ter quanto ao futuro das florestas e outros da acessibilidade dessas redes pelos projetos de
ecossistemas, de sua população, da extensão dos assentamento agrário, da articulação dos traçados
impactos ambientais? das mesmas entre os projetos de assentamentos e os
Os contra-sensos entre conservação e ocupação, pontos de comercialização de produtos.
entre sustentabilidade e economia de mercado, as Implícitas no contexto do primeiro vetor a
contradições entre velocidades e ritmos de produ- questão da velocidade em que áreas estão sendo
ção e de renovação da capacidade dos ecossistemas desmatadas para serem incorporadas ao espaço pro-
se reforçarão ou existirão meios e instrumentos dutivo nacional, a implantação de novas infra-
para encontrar pontos de compatibilidade entre tais estruturas torna-se um elemento de ampliação das
princípios na construção de um novo modelo? A preocupações com a continuidade e o agravamento
análise a seguir privilegiará os impactos decor- desse processo. A vulnerabilidade da floresta, em
rentes destas incoerências e as perspectivas futuras. função das características do novo estrato vegetal
reconstituído após queimadas e extração seletiva de
1. As contradições no Programa
madeira, continua estimulando discussões em foros
Avança Brasil e seus impactos mundiais. ONG não cessam de denunciar nem de
A Amazônia de hoje continua sendo exposta a apresentar proposições, nem sempre aceitas por
contraditórias políticas públicas, origem de reper- governos nacionais. Paulo Adário, coordenador da
cussões diferenciadas. As políticas ambientais campanha da Amazônia do Greenpeace, em A
mesmo com a grande evolução legislativa e de Crítica de 15 de maio de 2001afirma que:
mecanismos e instrumentos operacionais, conti- “conter a destruição das florestas se tornou uma

286
287
prioridade mundial, e não apenas um problema bra- Brasil, e, sobretudo procuraram mostrar as relações
sileiro. Restam hoje, em todo o planeta, apenas de causa e efeito entre estas ações e o crescimento
22% da cobertura florestal original. A Europa daquelas taxas.
Ocidental perdeu 99,7% de suas florestas primá- Ao mesmo tempo, foi realizado por NEPSTAD
rias; a Ásia, 94%; a África, 92%; a Oceânia, 78%, et al (2000), um estudo avaliando a área inflamável
a América do Norte, 66%, e a América do Sul, 54%. da floresta e relacionando-a com os itinerários das
Cerca de 45% das florestas tropicais, que cobriam rodovias propostas, adotando, 50 Km de cada lado,
originalmente 14 milhões de quilômetros quadra- como área de influência. Uma área, extremamente
dos (1,4 bilhão de hectares), desapareceram nas vulnerável, de cerca de 187.500 km2 foi definida, a
últimas décadas. No caso da Amazônia brasileira, o qual poderá ser ainda mais impactada com a pavi-
desmatamento da região, que até 1970 era de ape- mentação e/ou a reconstrução das rodovias Cuiabá-
nas 1%, saltou para quase 15% em 1999. Uma área Santarém; Transamazônica e Humaitá-Manaus. Em
do tamanho da França, desmatada em apenas 30 suas conclusões NESPSTAD acrescenta que, a
anos» pavimentação da rodovia BR-174 entre Manaus e
Estes dados induzem ao estabelecimento de Boa Vista, concluída em 1999, não tinha apresenta-
estreitos vínculos entre a importância do problema do valores adicionais na taxa de desmatamento, até
do desmatamento e os novos programas governa- aquele momento. Os conflitos entre estes traçados e
mentais do Avança Brasil. Assim, a análise do vetor as áreas ambientalmente sensíveis em função da
infra-estrutura e suas consequências tem como biodiversidade são representados na figura 9.3.
ponto de partida os itinerários traçados, as obras Estas obras, previstas para serem implantadas ao
previstas, os tipos de transportes que estão projeta- mesmo tempo, podem provocar outros impactos.
dos e suas áreas de influência. Os primeiros nexos Ainda que deva ser realizado o Estudo de Impacto
se sobressaem, em especial, entre os locais de agri- Ambiental para cada um destes Eixos, ou para cada
cultura moderna e das instalações das grandes obra em separado, os mesmos serão insuficientes
empresas de produção e/ou transformação destes para identificar o conjunto de impactos. Somente
produtos e as grandes extensões plantadas. A em 2001, o MMA e o MPO iniciaram discussões
conjunção desses elementos com as atuais taxas de em seminários nacionais temáticos objetivando
desmatamento e com as condições de risco decor- determinar os Termo de Referência para a elabora-
rentes da inflamabilidade da floresta, fazem sobres- ção de «Estudos Agregados da Avaliação dos
sair as zonas de ocorrência de potenciais proble- Impactos Sócio-ambientais dos Eixos Nacionais de
mas. Integração e Desenvolvimento». O EIA/RIMA dos
Transportes, desmatamento e queimadas projetos de derrocamento e dragagem da hidrovia
Araguaia-Tocantins e do gasoduto de Urucu foram
As taxas de desmatamento anunciadas pelo realizados, mas foram numerosos os questionamen-
MMA e INPE (1999 e 2000) mostraram alteração tos e as audiências públicas nacionais foram sus-
no perfil dos responsáveis e a concentração desse pensas.
processo no Arco do Desmatamento. Ao divulga- Reiterando-se que essas ações especialmente
rem estes valores, o INPE/MMA mostraram terem dirigidas à região amazônica, fazem parte de uma
feito uma alteração metodológica para obtenção estratégia mais ampla de consolidação da política
dos dados: a partir desta data, o monitoramento pas- de integração regional da América do Sul, os inves-
sou a ser realizado, separadamente, por tipo de timentos foram dirigidos para reduzir os pontos de
vegetação, ou seja, passaram a acompanhar como estrangulamento, desde o primeiro governo de
este processo ocorre em cada ecossistema. Naquele Fernando Henrique Cardoso. Receberam, assim,
período, os assuntos mais presentes nos meios de consideráveis recursos no período entre 1995 e
comunicação e nas denuncias das ONG, referiram- 1999 os projetos de recuperação das BR-364
se aos cortes no orçamento ambiental, as políticas (Brasília-Acre) e BR-163 (Cuiabá-Santarém); a
esparsas, desarticuladas de cada setor e as tímidas pavimentação da BR-174 (Manaus-Boa Vista); as
medidas que favoreciam ainda mais o desmatamen- hidrovias Araguaia-Tocantins e do Madeira; o gaso-
tos, as contradições dos programas do Avança
288
duto para transporte do gás natural de Urucu e a divisas estaduais - Amazonas e Roraima e
linha de transmissão de Tucuruí, incluídas no Acre e Amazonas -assim como prevê-se o
Programa Brasil em Ação. Os programas atuais do prosseguimento da BR-364, entre Sena
Avança Brasil representam continuidade à política Madureira e Cruzeiro do Sul objetivando a
anterior. conexão com outras redes no Peru e a com-
Os investimentos previstos para os quatro corre - plementação da ligação para o Pacífico.
dores multimodais de transportes para a Amazônia - no âmbito do corredor Sudoeste
Legal atingem cerca de US$ 3,53 bilhões1 sendo estão previstas obras no Estado do Mato
destinados ao Corredor Araguaia Tocantins aproxi- Grosso entre Cáceres e trechos de fronteira
madamente 50% desse valor; cerca de 30% para o com a Bolívia além de cerca de 1 000 km de
Corredor Sudoeste; 15% para o Corredor Oeste- ferrovias entre Alto Araguaia e Cuiabá e Alto
Norte e 5% para o Corredor Fronteira Norte. A figu- Taquari e Cuiabá e de cerca de 720 km de
ra 9.2 representa estes corredores e sintetiza as melhoria na navegação do Paraná-Paraguai
obras relacionadas abaixo: entre Cáceres e Corumbá.
- para o corredor Araguaia Destaca-se, portanto, que a inclusão no PPA
Tocantins, são obras nos portos de Itaqui, desses trechos de rodovias em fronteiras e a
Belém e Vila do Conde (PA), construção de conexão das redes físicas é uma clara sinalização de
pontes e rodovias; construção de eclusas e uma política de integração das fronteiras brasileiras
ferrovias (a Norte-Sul - Senador Canedo até com os países vizinhos. No entanto, muitas dessas
Imperatriz e a de Xambioá a Estreito) e as rodovias, não asfaltadas e, constantemente, em
hidrovias Araguaia-Tocantins, com constru- precárias condições, deverão tornarem-se os princi-
ção de terminais nos rios Araguaia, das pais elementos da consolidação de fluxos de mer-
Mortes e Tocantins e a hidrovia da Ilha de cadorias e serviços, a curto prazo.
Marajó. Cerca de 70% do investimentos serão Por outro lado, várias dessas rodovias cortam
concentrados nos Estados do Pará e áreas de proteção ambiental e terras indígenas.
Tocantins; Pode-se exemplificar com as rodovias BR-421
- para o corredor Oeste-Norte são entre Ariquemes, Guajará-Mirim e Nova Mamoré e
obras em portos de carga e passageiros a BR-429 entre Presidente Médici e São Miguel do
(Manaus, Santarém e Porto Velho), pontes Guaporé, ambas em Rondônia, atravessando as ter-
(BR 319 e 364), anéis rodoviários e viadutos ras indígenas (Uru-Eu-Wau-Wau e Igarapé Lago), o
(cidades do Mato Grosso), assim como Parque Nacional de Pacaás Novos, o Parque
construção e adequação de rodovias ou a Estadual de Guajara-Mirim, a Resex Rio Ouro
reconstrução da BR 319 no trecho Porto Preto, alguns deles ainda não completamente
Velho-Manaus ou de novas estradas (BR 421 demarcados. Impactos também são previsíveis com
e 429 em Rondônia). Ha previsão também de o prosseguimento e asfaltamento da BR-364 no
investimentos nas hidrovias do Tapajós e Acre entre Sena Madureira e Cruzeiro do Sul por
Madeira (de Porto Velho a foz do Madeira cruzarem novas áreas que deveriam ser transforma-
com o Amazonas); das em Unidades de conservação: (Riozinho da
- para o corredor Fronteira Norte Liberdade, Rio Liberdade e Médio Envira). Estas
alguns trechos de rodovias em duas frontei- áreas foram identificadas nos estudos e propostas
ras, além da construção de pontes. As duas de estratégias de conservação da biodiversidade,
obras de grande importância no extremo realizados para os diversos ecossistemas brasilei-
norte do país são a continuidade da rodovia ros, financiados pelo MMA/PRONABIO (1999-
BR-156 entre Ferreira Gomes (Amapá) e 2000). Para evitar a extensão dos impactos, como
Oiapoque (Guiana Francesa) e a ponte inter- ocorreu em Rondônia, tais obras devem ser acom-
nacional Brasil-Guiana sobre o rio Itacutu. panhadas com ações preventivas e devem ser obje-
Além de obras no porto de Santana, no to de discussão nacional.
Amapá serão melhorados trechos em duas As estratégias territoriais para a implantação

289
destas ações promovem gradualmente a incorpora- anteriores, como a Transamazônica…»
ção dos territórios do extremo ocidental do país, Esta estrada entre o Acre e o Peru existe e vem
refazendo um pouco mais à oeste, o traçado da sendo asfaltada, por madeireiros e autoridades
Belém-Brasília, através da recuperação da Cuiabá- locais, dos dois lados das fronteiras amazônicas2,
Santarém, e, um novo arco formado pela ligação de apesar do projeto de seu asfaltamento ter sido sus-
Porto Velho – Manaus - Boa Vista. Estas ações penso, pelo governo federal, no inicio dos anos 90,
ligam o norte ao sul e, pelo volume de investimen- em função do risco ambiental que o mesmo apre-
tos, podem gerar o aparecimento de inúmeras sentava. Destarte é necessário relativizar estas criti-
pequenas cidades ou revitalizar pequenas vilas, cas e discursos: normalmente, quando se trata de
incentivar novas migrações, criar novos espaços ação realizada pelo governo federal, as mesmas são
propícios à produção agrícola comercial. incisivas, todavia, são amenizadas ao dirigir à
Essa questão vincula-se o reaparecimento dos outros segmentos políticos ou sociais.
históricos impactos da colonização na Amazônia Outro aspecto que tem fortes impactos está rela-
em função dos interesses de integração da política cionado aos projetos de hidrovias. A escolha pela
externa brasileira, analisada no capitulo anterior. hidrovia deveria representar uma alternativa melhor
Mais recentemente essa problemática foi abordada que a rodovia em regiões de alta densidade hidro-
em O Estado de São Paulo, de 15 de junho de 2001, gráfica. Mas, por tratar-se de perenização da nave-
pela jornalista Liana John, no que se refere aos gação, o que implicará em obras de derrocamento e
impactos, ao destacar os compromissos de integra- dragagem e posterior sinalização, estas obras estão
ção fisica, estabelecidos entre os presidentes sujeitas ao atendimento da legislação ambiental.
Fernando Henrique Cardoso e Alejandro Toledo, do Esta é ampla e define as condições que obras e pro-
Peru: jetos potencialmente causadores de impactos
«[esses compromissos] não deixaram de acordar devem ser avaliados e debatidos em audiências
velhos fantasmas, que assombram a preservação da publicas, sejam de origem publica ou privada. A
floresta amazônica, onde a devastação anda no ras- Resolução 01/86 do CONAMA rege estes critérios
tro das estradas. A via para o Pacífico é um antigo e quando o empreendimento localiza-se em rios
sonho dos madeireiros e produtores rurais. Abriria federais, envolvendo diversos Estados, a responsa-
novas perspectivas de exportação para os mercados bilidade do licenciamento é do IBAMA.
asiáticos, conferindo competitividade aos produtos Quando estes procedimentos não são atendidos,
brasileiros. Mas é um pesadelo para os ambientalis- seja por investidores privados ou públicos, qual-
tas. Estradas na Amazônia atraem novos mora- quer segmento social pode valer-se de mecanismos
dores, que se assentam às suas margens de forma como a ação civil pública, criados para facilitar sua
caótica e ampliando a fronteira agrícola. Na época ação, e acionar o Ministério Público Federal ou
de queimadas, as imagens de satélite costumam Estaduais.
mostrar as principais rodovias como linhas de focos Nos projetos das hidrovias previstas no Avança
de fogo. Estradas atraem também madeireiros e/ou Brasil, os estudos dos impactos ambientais relacio-
garimpeiros, que movimentam o capital necessário nados com a proteção dos territórios indígenas e a
para sustentar a implantação de novas cidades, necessidade de preservação de sítios arqueológicos
novos serviços e novas necessidades. E todo o não tem sido priorizados. E dentro deste quadro que
conjunto significa perda de biodiversidade e des- colocam-se os projetos das hidrovias Araguaia-
perdício de recursos naturais. Tocantins e Tapajós, cujas obras foram suspensas
[…] A ocupação humana naquela porção de pelo Ministério Público Federal em vista de não
Brasil é esparsa e se fez toda por via fluvial. A flo- terem sido aceitos os estudos de avaliação de
resta é densa e passa metade do ano alagada. O impactos. Em consequência, as audiências públicas
acesso hoje é só por barco e avião. Os impactos de nacionais exigidas não tinham sido realizadas até
uma estrada ali não seriam só ambientais, mas tam- julho de 2001. Washington Novaes analisa e critica
bém econômicos, pois seria preciso domar uma o posicionamento do Ministério dos Transportes de
natureza bastante hostil, que já derrotou iniciativas total desconhecimento dessas ações públicas que

290
resultaram na suspensão das obras. Analisa no importante daquele Eixo pois constituirá um siste-
Estado de São Paulo, de 07 de agosto de 1998, ma multimodal de transportes entre as Regiões
«A parte pantaneira da Hidrovia Paraná- Norte e Sul do país, estabelecendo-se como alterna-
Paraguai está suspensa desde outubro do ano passa- tiva logística mais econômica para os fluxos de
do por causa de uma ação civil pública do longa distância hoje existentes. É formada pelo rio
Ministério […].A Hidrovia Teles Pires-Tapajós das Mortes, Araguaia e Tocantins. Essa hidrovia é
também foi suspensa pela Justiça, no mesmo mês, essencial para a consolidação da integração nacio-
porque o estudo de impacto ambiental, para fugir à nal, prioridade governamental, no entanto, a idéia
exigência de licença do Congresso, ocultou que ela do aproveitamento hidroviário dessa bacia é antiga:
atravessa áreas dos mundurucus: dividiu o estudo desde 1933, quando o Departamento Nacional de
em duas partes, uma a jusante e outra a montante Portos e Navegação a propôs. A implantação do sis-
das áreas indígenas, fazendo de conta que elas não tema multimodal (rodovia-ferrovia-hidrovia) visa
existem!” dar competitividade aos produtos agrícolas produ-
Opiniões semelhantes são também expressas zidos para que possam disputar o mercador exte-
acerca da hidrovia do Marajó, por Denise Pahl rior. Porisso, a alta relevância e importância econô-
Schaan, coordenadora do Programa de Salvamento mica à qual soma-se a possibilidade de uso imedia-
Arqueológico nos rios Anajás e Atuá, em O Liberal, to do terminal de Ponta da Madeira, no Maranhão,
01 dezembro 1999 quando ressalta a importância local de partida dos produtos. Após a conclusão das
dos sítios arqueológicos como testemunho sobre o etapas finais do projeto os produtos deverão sair
passado, da necessidade de salva-los, por se tratar pelo porto de Belém.
de um bem finito e não-renovável e a necessidade Forma-se, assim, um significativo “lobby” para
de se suscitar o debate público em torno dessas sua implementação, debatendo-se fortemente com
questões. Lembra ela que a Resolução n° 01/86 do os segmentos que apresentam argumentos acerca
Conama também prevê a avaliação do potencial dos impactos sócio-ambientais. Existem oposições
arqueológico das áreas pesquisadas, com a identifi- de grupos indígenas que temem pela integridade
cação dos sítios arqueológicos existentes e elabora- dos rios e da pesca devido à movimentação das bar-
ção de um programa de salvamento arqueológico, cas, ou a respeito das intervenções corretivas que
visando tanto estudar como propor medidas de pre- demandam derrocamentos e dragagens em alguns
servação e previsão da necessidade de implementa- trechos dos rios.
ção de medidas mitigadoras dos impactos negati- O EIA/RIMA da Hidrovia Araguaia-Tocantins
vos. É um trabalho demorado e delicado. Mas res- foi realizado pela Fundação de Amparo e
salta sobretudo que Desenvolvimento da Pesquisa da UFPA3, e atendeu
«Nossa preocupação é a de que, com o aumento os requisitos necessários a um Estudo de Impacto
do tráfego fluvial na área e consequentes facili- Ambiental, abordando aspectos de redução no
dades de acesso, esses e outros sítios venham a custo do transporte, no caso de serem atendidas as
estar ameaçados. Ainda que a cerâmica arqueológi- demandas potenciais de fluxos na área de influência
ca tenha um valor muito mais científico e cultural da rodovia (fluxos entre Belém-Goiânia, São Luís -
do que material, sabemos que muitas pessoas inter- Goiânia, Miracema - São Luís e total). Abordaram
essam-se por colecioná-la e que o comércio de também influências externas na área exemplifican-
peças existe. Felizmente, hoje já possuímos legisla- do com o projeto Urucu, com a instalação de
ção específica que prevê pena de prisão para o agroindústrias no Mato Grosso. Na análise dos
comércio de objetos arqueológicos (tanto para fluxos físicos interregionais, o ponto de partida foi
quem os vende como para quem os compra), assim a demanda de carga nos setores agro-pecuário,
como para qualquer pessoa que interfira em sítios agroindústria, extração e refinamento de petróleo,
arqueológicos e que não seja um arqueólogo autori- produção mineral; siderurgia e metalurgia, cimento,
zado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e madeira, papel e celulose, química, fertilizantes,
Artístico Nacional - Iphan». cana-de-açúcar e álcool, relacionando-a com a efe-
A hidrovia Araguaia – Tocantins é a obra mais tiva existência de carga no Centro-Oeste de manei-

291
ra que pudesse justificar a implantação da hidrovia. Este RIMA é objeto de inúmeras polêmicas
Outro aspecto relevante que foi considerado oriundas dos contraditórios interesses entre produ-
básico para o tamanho do empreendimento foi a tores, ambientalistas, comunidades indígenas,
necessidade de alteração da matriz origem/destino pequenos agricultores, extrativistas, etc.. As diver-
do transporte de cargas internas porque os produ- gências nos debates relacionam-se com o cruza-
tores saem dos tradicionais estados do Sul e se ins- mento das dimensões econômica e ambiental quan-
talam no Centro-Oeste. Cenários alternativos à to ao escopo dos estudos, amplitude, propostas de
hidrovia foram também considerados: o custo da mitigação dos impactos e aos planos e programas
ferrovia é 14 vezes (US$ 1,82 bilhões) maior que o de monitoramento e controle. O EIA/RIMA não foi
da hidrovia. Os números do desmatamento foram ainda aprovado, embora já tenha sido apresentado
vistos no contexto da implantação de uma rodovia em audiências públicas, outras deverão ainda ser
ou de uma hidrovia: enquanto para 2500 km de realizadas, em cada um dos Estados. E, também há
rodovia haveria um destamamento de 100 milhões uma decisão judicial que suspende a implantação
de m2, este valor baixaria para 77,1 milhões de m2 do conjunto das obras dessa hidrovia, que foi
no caso da implantação de uma ferrovia e pratica- contestada pela AHITAR.
mente inexistente quando o empreendimento trata- No Mato Grosso, realizaram-se vários seminá-
se de uma hidrovia. rios e pareceres técnicos, nos quais procurou-se

292
evidenciar que o RIMA estava apenas cumprindo a que ocorre na região;
formalidade de ratificar a decisão de implantação - em alguns trechos e existe a oposi-
da hidrovia. GONÇALVES4 (2000) ressalta que ção de grupos indígenas (aproximadamente
alguns aspectos essenciais que deveriam ter sido 6.000 índios) que temem pela integridade dos
analisados no RIMA não foram sequer menciona- rios e da pesca devido à movimentação das bar-
dos, como: cas.
- a existência de terras alagáveis, os Ainda no parecer, GONÇALVES ressalta a prin-
“varjões” das margens dos rios Araguaia e das cipal contradição relacionada ao uso da hidrovia,
Mortes (esquecendo, portanto fragilidades que ocorre nas posições do RIMA: como a hidrovia
deste ecossistema); está voltada para facilitar o escoamento da produ-
- a mudança do regime dos rios que ção de grãos para o exterior, o compromisso do
poderá prejudicar as práticas de uso comum governo brasileiro com a Agenda XXI, pode virar
destes varjões; “letra morta”, especialmente porque no capítulo
- aumento de pressão no “entorno” sobre águas interiores, dispõe sobre a “prioridade de
das Unidades de Conservação existentes na satisfazer as necessidades humanas essenciais e salvaguardar
área de influência do empreendimento. Não os ecossistemas” (GONÇALVES, 2000:177).
houve proposta de proteção adicional; Washington Novaes dá importância ainda maior
- as formas de integração dos perío- à situação desta hidrovia (O Estado de São Paulo,
dos de cheias e vazantes com a malha rodoviá- de 07 de agosto de 1998) ao insistir sobre os proce-
ria já existente; dimentos utilizados para burlar a necessidade dos
- os custos para a implantação e estudos aprofundados e do debate público, elencan-
manutenção do sistema viário (rodovia-ferro- do os pontos sensíveis deste projeto:
via-hidrovia), vinculadas à dinâmica ambiental «A realização da hidrovia no trecho do Rio das
do geossistema implicado; Mortes da Araguaia-Tocantins está suspenso, desde
- a análise da malha viária existente; junho de 1997, pelas mesmas razões: desrespeito
- outras alternativas de intervenção aos direitos dos índios Xavantes. Por isso, o estudo
nos rios além do derrocamento e dragagem. A «esqueceu» muitas coisas: Não previu o que fazer
dragagem pode aumentar a capacidade de com 2,5 milhões de metros cúbicos de sedimentos
transporte e de escoamento do rio e intensificar a serem dragados para criar um canal navegável (e
as cheias a jusante; 2,5 milhões de metros cúbicos significam uma
- estudo da dinâmica geomorfológica pilha de 1 metro de largura por 1 metro de altura e
e hidrológica dos rios considerados que neces- 2,5 mil quilômetros de extensão); não previu o que
sita aprofundamento, assim como o estudo que fazer com o material proveniente da explosão de
trata os afloramentos rochosos do Araguaia 204 mil metros cúbicos de rochas e travessões nem
como “barreiras” a serem eliminadas; as consequências dessas explosões sobre a fauna do
- as modificações no balanço de rio; não tomou conhecimento das áreas indígenas
nutrientes e as alterações na produtividade bió- ao longo da hidrovia nem da existência de um
tica na planície sedimentar do Araguaia em parque nacional, na Ilha do Bananal; não apontou a
função de ser a área de nascimento e cresci- inexistência de um sistema rodoviário alimentador
mento da ictiofauna; da hidrovia nem que impactos teria a sua eventual
- a extensão das terras alagáveis que implantação; não tomou conhecimento de que não
serão drenadas e as modificações na refertiliza- existe rede de armazenagem de grãos ao longo da
ção dos pastos naturais; hidrovia - e a soja é plantada no período da cheia do
- a confusa situação jurídico-fundiária Rio Araguaia e colhida quando o canal já não é
atual resultante do tenso processo de ocupação navegável, na estiagem (de junho a novembro);
e das diferentes práticas sociais de uso comum previu uma carga potencial de 30 milhões de tone-
dos recursos naturais e o intenso processo de ladas anuais de grãos para a hidrovia, embora admi-
“desruralização” (GONÇALVES, 2000:199) tisse expressamente que não existe nenhum pólo
importante de produção no seu trajeto; remeteu
293
para «estudos complementares» (inexistentes) o o projeto (faz parte do Brasil em Ação), quando ele
exame da maior parte dos impactos sobre a flora, a está suspenso na Justiça e continua sem EIA-RIMA
fauna, a vegetação ciliar, as populações ribeirinhas, aprovado».
etc.; previu uma carga de retorno na hidrovia (para A consolidação destas novas redes tanto no Eixo
fazer de conta que é viável economicamente) de do Araguaia-Tocantins quanto no Eixo Madeira-
50% da carga de ida - sem especificar um só pro- Amazonas interessa especialmente, por um lado, ao
duto; ignorou os impactos de um transporte de alta grupo de grandes produtores e transportadores de
densidade sobre o turismo na região, que recebe grãos, o Grupo Maggi por exemplo, e já tornou o
centenas de milhares de pessoas na temporada; escoamento e aumento da produção agrícola mais
ignorou estudos anteriores da Valec - que era uma barato e mais rápido. Segundo NETO (2001:47) a
empresa do Ministério dos Transportes - mostrando lógica utilizada até recentemente para a exportação
a falta de competitividade da hidrovia diante da fer- da soja era utilização dos portos do Sul e Sudeste;
rovia, em termos econômicos, sociais e ambientais essas redes estão propiciando a mudança de direção
de fluxo, privilegiando a rota alternativa entre
[…] Na verdade, em relação à Hidrovia Manaus/Itacoatiara para o Atlântico Norte porque a
Araguaia-Tocantins, segue-se há uma década a mesma permite uma enorme redução no custo do
política de fatos consumados, desde quando foram frete de mercadorias, baixando de US$ 105/ton
encomendados os protótipos para a navegação para US$ 75/ton, e reduzindo cerca de 10 dias no
nesse percurso - depois arrendados a uma empresa tempo de viagem para o porto de Rotterdam.
de navegação, antes que se aprovassem o projeto da Por outro lado, existem setores econômicos do
hidrovia e seu estudo de impacto. Até hoje se conti- governo federal e de seus parceiros estaduais que
nua a colocar verbas no orçamento da República buscam criar estratégias para a exportação da pro-
(R$ 50 milhões este ano) e a considerar prioritário dução, ampliada em volume e a custos cada vez

Tabela n° 1 – Hidrelétricas programadas para a Amazônia

Hidréletricas a serem implantadas Eixos Orçamento previsto*

Usina termelétrica no Amapá Arco Norte 55 000 000


2 centrais hidrelétricas de 6 MW e 2,5 MW Madeira-Amazonas 13 000 000
Usina hidrelétrica Belo Monte (PA) Madeira-Amazonas 63 160 000
Usina termelétrica Rondônia 300 MW Madeira-Amazonas 462 070 000
Usina termelétrica no Acre – 73MW Madeira-Amazonas 105 000 000
Usina termelétrica no Amazonas – 270 MW Madeira-Amazonas 397 375 000
Usina hidrelétrica Guaporé -rio Guaporé Centro Oeste 124 687 500
Usina hidrelétrica Itiquira I e II - MT Centro Oeste 204 400 000
Usina hidrelétrica Jauru – MT Centro Oeste 135 114 000
Usina hidrelétrica Manso – MT Centro Oeste 42 978 848
Usina hidrelétrica Ponte de Pedra II – MT Centro Oeste 39 300 000
Usina hidrelétrica Salto da Nuvens – MT Centro Oeste 31 160 000
Usina termelétrica em Cuiabá – MT Centro Oeste 2 251 285 348
Usina hidrelétrica Couto Magalhães (MT) Integração Norte-Sul 66 925 000
Usina hidrelétrica Estreito (MA) Integração Norte-Sul 45 480 000
Usina hidrelétrica Lajeado rio Tocantins (TO) Integração Norte-Sul 2 202 763 000
Usina hidrelétrica Peixe (TO) Integração Norte-Sul 94 700 000
Usina hidrelétrica Serra Quebrada (TO) Integração Norte-Sul 90 562 500
Usina hidrelétrica Tupiratins (TO) Integração Norte-Sul 72 750 000
Usina hidrelétrica Serra da Mesa (TO) Integração Norte-Sul 24 032 144
Usina hidrelétrica Canabrava (TO) Integração Norte-Sul 5 073 018 696

Fonte : PPA 2000/2003


* Valores incluem somente implantações, estudos de viabilidade são orçados à parte

294
menores. Eles acreditam ser esta a única maneira de amazônico, cujos problemas ambientais que causa-
inserir o país, competitivamente, no mercado mun- ram, com o afogamento de extensas áreas de flores-
dial, numa lógica que desconsidera a importância tas e impactos sobre as populações nativas, levou as
de procurar outros modelos de desenvolvimento, comunidades nacional e internacional a promove-
baseados nos conhecimentos e saberes locais e na rem duras críticas ao governo.
conservação do meio ambiente. No Estado do Pará, o tamanho e capacidade da
As convergências de opiniões quanto ao estraté- hidrelétrica de Belo Monte - 11 mil megawatts -
gico momento para a Amazônia, na atualidade, mas MW - maior que Tucuruí, produzira energia sufi-
divergem quanto à intervenção publica federal, ciente para aumentar a capacidade regional em
marcada por dinâmicas inscritas em paradigmas quase 20%, e que consolidara a Amazonia, espe-
distintos, o da conservação ambiental e o da inser- cialmente o Para, como província energética nacio-
ção econômica, para o qual concorrem as infra- nal, trata-se de uma energia que será exportada da
estruturas. Para Lúcio Flávio Pinto (Jornal Pessoal, Região, o que obrigará o Estado à modificação de
janeiro, 2000), apesar de estar vivendo um momen- seus projetos. Ele considera que por ter sido
to mais expressivo que o período do II PDA, a construída ha 15 anos, Tucuruí não foi discutida
Região mantém, ainda, sua condição colonial. Ela com a população acerca dos benefícios ou dos pro-
permanece não sendo a protagonista da sua história. blemas que poderiam gerar. Fazer o mesmo com
Ressalta que Belo Monte, não é mais aceitável, sobretudo porque
« A Amazônia está posta sob novos eixos, que o contexto é novo, valorado por outros princípios,
traduzem uma aproximação maior do conhecimen- que se consolidam dia a dia, os quais eram ainda
to. O problema é que essa abordagem não está ao nascentes à época de Tucuruí. Destaca, ainda,
alcance da consciência regional. A única atitude Lúcio Flávio Pinto:
saudável e positiva é a da antecipação. A adminis- “Belo Monte já estará conectada a um sistema
tração federal está agora combinando gás e energia interligado de transmissão, que, em ondas sucessi-
de fonte hidráulica, rodovias e hidrovias, vas, permitirá transferir para as áreas brasileiras
agroindústria e biotecnologia, mineração e metalur- mais desenvolvidas todo o excedente de energia
gia, empirismo e informação eletrônica, microscó- que vem sendo gerado no Pará, hoje o quinto maior
pio e satélite. Isto quer dizer que, mesmo conti- produtor e o terceiro maior exportador de energia
nuando a ser estruturalmente colonial, a Amazônia bruta do país.
está se sofisticando, tornando-se mais complexa». […] O ciclo dos grandes aproveitamentos ener-
géticos de rios amazônicos parecia ter sido definiti-
O investimento na geração de energia vamente interrompido pela reação que se seguiu
aos projetos de Tucuruí e de Balbina, no Amazonas.
Outro aspecto fundamental a ser avaliado é a No entanto, a Eletronorte vai construir uma única
retomada do planejamento hidrelétrico, baseado em represa - e não três, como originalmente estava pre-
algumas grandes usinas e quais as dinâmicas terri- visto. Assim, a área inundada será de apenas 440
toriais que o mesmo poderá provocar. Os impactos quilômetros quadrados, oito vezes menos do que
gerados por Balbina e Tucuruí são sempre lembra- antes (e seis vezes menos do que a área do reser-
dos. Vinte e duas hidrelétricas e termoelétricas vatório de Tucuruí, no Tocantins). Gerando 40%
estão previstas para os Eixos Arco Norte, Madeira- mais energia do que Tucuruí em sua etapa final (de
Amazonas e Oeste incluindo aquelas que fazem 8 mil MW, o dobro da atual capacidade de geração),
parte do sistema de integração Norte-Sul no Eixo sairá mais barata - se, desta vez, o orçamento cor-
Araguaia-Tocantins. A tabela n° 1 e a representação responder à realidade».
na figura 9.3, a seguir mostram a concentração das
mesmas para a formação do sistema de integração: Desmatamento e as estratégias de conserva-
ção
Lúcio Flávio Pinto analisava, no jornal A política nacional de conservação da biodiver-
Parabólicas (n° 44, de outubro de 1998) o signifi- sidade e as estratégias de conservação para cada
cado da volta das grandes hidrelétricas no cenário ecossistema ainda carece de aprofundamento do

295
conhecimento científico. Elas estão sendo imple- vação ambiental demanda-se maior conhecimento,
mentadas lentamente e sendo modificadas à medi- metodologias e técnicas, especificas para o uso e
da que novos conhecimentos surgem. Merecem conservação de recursos naturais e recursos genéti-
destaque, a esse respeito os seminários regionais cos, implicando em um necessário período de
realizados sob a coordenação de organizações não- desenvolvimento e experimentação nas pesquisas.
governamentais (ISA para a Amazônia; SOS Mata Assim, ha uma defasagem entre e a disponibiliza-
Atlântica para a Mata Atlântica, etc.), para o ção dos resultados científicos e a velocidade de
Programa Nacional de Conservação da ocorrência dos impactos, com perda de espécies da
Biodiversidade - PRONABIO, do Ministério do fauna ou flora.
Meio Ambiente. O modelo de desenvolvimento à duas veloci-
Para se traçar estratégias das políticas de conser- dades, identificado no início da década de 90 por

296
THÉRY (1995) continua se repetindo, agora, não garimpo mineral, o corte raso ou seletivo, predató-
apenas separando o espaço-tempo ligado aos rios rio, nas florestas, empobrece ou promove a perda
ou às rodovias, mas transpondo-se para os espaços- da biodiversidade; a queima da vegetação, o asso-
tempos da proteção e dos usos impactantes da infra- reamento e contaminação dos rios, a aceleração dos
estrutura econômica. São velocidades de maturação processos erosivos. A estes aspectos, somaram-se
e de implantação diferenciadas. questões sociais de expulsão de posseiros e peque-
Isto porque, para a implantação de infra-estrutu- nos proprietários, a marginalização de segmentos
ra já se dispõe de conhecimento e técnicas, além do sociais, a periferização até em pequenas cidades.
montante de investimentos disponíveis, assim Pode-se comparar estes resultados dos anos 70-
como de espaços selecionados. Estes espaços - os 90 com as tendências que foram modelizadas para
ENID, na maioria dos Estados amazônicos cruzam o futuro, com a implantação das obras previstas no
transversalmente áreas consideradas de extrema Avança Brasil.
importância para conservação da biodiversidade5. NEPSTAD et al (2000) alertam que os investi-
Estas áreas foram propostas como prioritárias, em mentos do Avança Brasil poderão provocar sobre a
1999, ao MMA, embora ainda não tenham sido área de floresta desmatamentos entre 80.000 e
inseridas na política de conservação da biodiversi- 180.000 km 2 nos próximos 25 a 35 anos, conside-
dade. A figura 9.3 permite identificar a territoriali- rando que do total de 4 600 km de rodovias, cerca
zação e as áreas de conflitos entre estas duas estra- de 3 600 km são em florestas. Os investimentos
tégias. apenas nos corredores de transportes destes Eixos
Em síntese, políticas e ações demonstrativas também colocam em risco outros 187.000 km2 de
vem sendo geradas, aos poucos, como mostram os florestas frágeis, comprovados como inflamáveis
resultados do PPG-7, estudado na segunda parte. durante a seca de 1997 e 1998.
Como são processos extremamente lentos, que Ao incorporar novas áreas, as políticas de avan-
cobrem superfícies menores, acabam tornando-se ço da fronteira têm também provocado o desperdí-
marginais, criando dois modelos de organização cio de recursos naturais. Repetindo-se o processo
espacial: experiências marginais sustentáveis em com as mesmas variáveis, é bastante provável que a
poucos locais, por vezes, integradas aos mercados pressão, tanto sobre novas áreas, ainda pouco alte-
nacional e locais, mas em muitos casos com recur- radas, como em regiões onde as dinâmicas de ocu-
sos, tecnologias e formas de gestão também inter- pação do espaço já resultaram em modificações dos
nacionais enquanto outras áreas são inseridas na ecossistemas amazônicos, seja ainda mais intensi-
competição do mercado mundial. va. A relação custo-benefício é mais vantajosa na
Retomamos o balanço sintético das políticas incorporação de novas áreas da floresta nativa, pois
implantadas na Amazônia, a partir dos anos setenta, o custo de derrubada da floresta primária é mais
já analisado no capitulo um. Pode-se destacar que reduzido que o custo de limpeza das áreas de
as mesmas atingiram seus objetivos de integração capoeiras ou de áreas que já se encontram alteradas.
territorial e proteção da soberania: ao aumentar a Isto significa novos desmatamentos. Na medida
população da Região, ao fazer surgir cidades ao que estradas, antes intransitáveis, serão melhoradas
longo das rodovias, ao forçar o aparecimento de e novas serão construídas, aumentando-se de 6 300
uma produção comercial e/ou de exportação resul- para 11 000 km de malha viária6 elas tornarão
tante da implantação de infra-estrutura viária, ener- acessíveis e valorizarão áreas antes “marginais”,
gética e de comunicações, e, especialmente, ao des- fazendo repetir o padrão já conhecido dos últimos
mantelar os focos de pressão social existentes no 40 anos.
pais. Apesar deste contexto geral, alguns Estados pro-
Inúmeros problemas ambientais e sociais foram curam atuar de maneira a reforçar a necessidade de
daí resultantes. Produto do longo período de ocupa- novos parâmetros e novos modelos. O Estado do
ção da Amazônia, os 550.000 km2 já desmatados Pará elaborou sua política ambiental fundamentan-
(INPE, 2000) comprovam a aceleração desta dinâ- do-a na resolução de problemas, especialmente o
mica nas frentes pioneiras dos últimos anos, o desmatamento. Em 1995 aprovou a lei n° 5887 cujo

297
princípio básico é «Desenvolver sem devastar», setores, baseados no aproveitamento da biodiversi-
estava dirigido à concretização dos princípios do dade. Mudar práticas, além da vontade política e
desenvolvimento sustentável. Em seguida, a apro- social de fazê-las, depende de se ter a condição de
vação da lei de proteção da fauna silvestre em 1996, colocar em uso outros instrumentos, sejam técnicas,
reforça a política ambiental nacional. Atitude sejam procedimentos de controle.
louvável, no entanto, utilizando-se como indicador Reforça-se a idéia de que a política ambiental
a resolução do problema do desmatamento, o constitui-se mais em discursos, cujos resultados
Estado não conseguiu minimizar os altos índices de concretos ainda são poucos. As ações de controle
desmatamento, que continuaram aumentando, efetivo do uso dos recursos naturais são insufi-
mesmo após a aprovação daquela lei. A extração de cientes, a promoção de outros modos de utilização
madeira é um dos produtos básicos para a economia dos recursos naturais, especialmente a madeira,
local, solidamente estabelecido. ainda não estão assegurados.
Ha uma competição, portanto, entre as condi- Capiberibe (2000:42) contribui para essa avalia-
ções já utilizadas por um setor econômico estabele- ção crítica ao mesmo tempo em que procura divul-
cido e a possibilidade de se desenvolver novos gar seu ponto de vista acerca de um outro modelo

298
para a Amazônia aqueles que deveriam estar protegidos pelo grau de
“[…] C’est lamentable mais il faut bien consta- extrema importância para a conservação da biodi-
ter que ce sont les politiques nationales qui sont les versidade existente. Os investimentos previstos no
grands responsables du déboisement en Amazonie. Avança Brasil para estes Eixos, colocarão também
Si on ne met pas en route des politiques pour l’açai em risco o processo de consolidação das áreas pro-
e qu’on lance une politique pour le soja, il est clair tegidas ao serem afetadas pelos impactos da
qu’on pousse au déboisement. Comme le soja exige construção da infra-estrutura viária:
le déboisement, on élimine toute la diversité végé- O Seminário de Macapá, realizado no final de
tale pour planter une seule espèce. Puis après vien- 1999, que discutiu e propôs as estratégias para
nent les insecticides, les herbicides et tout le reste; conservação da biodiversidade acabou conquistan-
après avoir déboisé, on contamine les eaux, on do um grande espaço nos meios de comunicação.
détruit les rivières” Os estudos básicos 7 realizados para aquele seminá-
No entanto, sabe-se também que é preciso rio apresentaram um mapeamento de todas as áreas
ampliar o universo dos argumentos econômicos que de alguma importância para a conservação da bio-
servem de base nas discussões de políticas públicas diversidade na Amazônia. Tratados também por
ambientais, incluindo elementos baseados na pres- MACHADO e AGUIAR (2001), essas áreas foram
tação de serviços ambientais e no próprio valor da selecionadas a partir de espaços já legalmente
floresta. A concepção mais moderna da floresta constituídos como as Terras indígenas, as Unidades
implica em vê-la como uma fonte de serviços glo- de Conservação federais, estaduais ou municipais, e
bais pois ao mantê-la em pé ela pode contribuir foram complementadas por áreas sobre quais se
tanto no nível local, como nacional ou mundial. tem algum conhecimento do potencial de biodiver-
FEARNSIDE (1989, 1991, 1997) destaca entre sidade e que não tem destinação de uso, mas que
esses serviços o balanço hidrológico, o clima, o estão ameaçadas pelo processo de expansão e pela
sequestro de carbono, a preservação do solo e a falta de mecanismos de proteção.
manutenção de boas condições de saúde. As terras indígenas na Amazônia Legal ocupam
Promover estudos e debates a respeito das per- uma superfície de mais de 128 milhões de hectares,
das econômicas causadas pelos desmatamentos correspondendo a 20,43% da área total de 500 631
poderia tornar-se um forte argumento para o 680 ha da Amazônia.
convencimento de setores que são impermeáveis Tabela 3 – Terras e população indígena na
aos argumentos ambientais. Amazônia
Os riscos sobre territórios protegidos Segundo o ISA (1998a) os conflitos não estão
relacionados apenas à infra-estrutura, mas também
Outro vetor de comprometimento e impacto da estão ligados à exploração madeireira em áreas pro-
política de infra-estrutura está relacionado aos ter- tegidas, relacionados com acordos feitos entre indí-
ritórios legalmente protegidos - terras indígenas, genas e empresários madeireiros ou ainda a contra-
unidades de conservação estaduais e federais e - e tos feitos com a própria FUNAI. Além da explora-

Tabela n° 2 - Risco de impactos sobre áreas protegidas

Tipo de área Numero de % sobre o total de


áreas afetadas unidades na Amazônia
Terras Indígenas 31 8,4
Unidades de Conservação Federal 18 22,2
Unidade de Conservação Estadual 8 10,9
Áreas Críticas para Conservação
da Biodiversidade 68 17,6
Total 125 59,1 %

Fonte: Nepstad et al (2000)

299
300
Tabela 3 – Terras e população indígena na Amazônia

Estados N° de terras indígenas População Área total das


TI no Estado (ha)

Acre 28 7 489 2 141 059


Amazonas 155 119 409 48 478 907
Amapá 5 4 689 4 196 521
Maranhão 18 12 648 1 908 387
Mato Grosso 68 19 974 14 646 803
Pará 44 42 069 30 807 992
Rondônia 29 5 135 6 200 854
Roraima 32 31 208 18 022 692
Tocantins 8 5 996 2 366 052
Total de TI na Amazônia Legal 387 248 617 128 769 267
% de TI na Amazônia Legal 20,43

Fonte: ISA, Amazônia Brasileira 2000


ção, ocorrem também ao roubo de madeira. O relató- espaços destinados à conservação e experimentação
rio da Câmara dos Deputados (VIANA et al, 1998) de modelos sustentáveis estariam destinados a com-
também destacou que a maioria do mogno e uma petir com os espaços da produção. Nesta competição,
parte significativa de toda a madeira produzida na os espaços de preservação se reduzirão a ilhas isola-
Amazônia é extraída de exploração predatória em ter- das, que poderão ser invadidas para a posse de terra
ras indígenas. Nos últimos 5 anos 80 áreas indígenas ou mesmo para a apropriação dos recursos naturais,
foram objeto de saques por madeireiros. como ocorrem nas áreas protegidas da Mata Atlântica
Outro grave na Região corresponde à superposi- ou dos Cerrados.
ção de 11,5 dentre os 28,7 milhões de hectares de ter- Estas dinâmicas somente podem ser alteradas com
ras indígenas já demarcadas e áreas da União sejam novas formas de gestão, que incluem na sua própria
destinadas à Unidades de Conservação federais ou à base instrumentos como zoneamentos, com investi-
áreas para fins militares. Ocorrem outras superposi- mentos contínuos em pesquisas ambientais aplicadas,
ções, também com Unidades de Conservação esta- com a transformação dos recursos em novos produtos
duais. Como os usos permitidos são distintos, apesar comercializáveis, mas também em função das
da existência de estatutos legais de proteção, a super- demandas sociais.
posição de áreas forma um desentendimento quanto As configurações territoriais resultantes desta
aos instrumentos e mecanismos de gestão. política estão marcadas pela distinção dos diversos
Apesar da constatação do cruzamento das redes espaços: espaços de preservação, espaços de consoli-
logísticas, dos Eixos, no sentido Norte-Sul, sobre cor- dação econômica, espaços que estão sendo integrados
redores ecológicos (BECKER, 2000, NEPSTAD et ao avanço capitalista, espaços dos conflitos.
al, 2000, PPG7/IAG, 2000), as propostas apresenta- 2. Impactos da Política de
das no projeto de Expansão e Consolidação de Áreas Assentamentos Agrários
Protegidas na Região Amazônica do Brasil se restrin- A análise da política de assentamentos agrários é
giram à prioridades, na primeira fase, ao espaços o outro vetor de grande relevância, sendo ela consi-
onde não há o menor sinal de ocupação econômica derada, pelo governo federal, um dos campos da
para os próximos anos, como pode ser identificado na política social para a qual o interesse não é a pro-
figura n° 9.4, a seguir. Ou seja, ratifica a definição dos dução mas sim a possibilidade de dar acesso à terra.
espaços de preservação, no sentido leste-oeste, cru- A análise de alguns dados globais da situação per-
zando os espaços de produção, Norte-Sul. mite constatar que o modelo atual de assentamentos
As diferentes estratégias foram traçadas separada- agrários em suas diversas fases (seleção da área,
mente, não considerando as consequências de uma definição do projeto com o número de famílias a
sobre a outra. Estas tendências indicariam que os serem assentadas, instalação das famílias) ainda
301
302
Tabela n° 4: Número de famílias beneficiadas
Períodos Governo Metas Famílias Famílias Famílias Total de famílias
propostas beneficiadas beneficiadas beneficiada beneficiadas
-projetos regulariz assentamentos
colonização de titulos ref. agr.

1964 - 1985 Regime 115 mil 113 mil 228.0


- autoritário

1985 - 1995 Sarney, , 1,4 milhão


Collor 500 mil 125,6 125,6
Itamar 20 mil
-

1995-1997 Fernando H Cardoso 400 mil 125,9 125,9

Fonte: David et all (1999)

reproduz o antigo modelo da colonização, sobretu- O Relatório de Atividades do período 1995 a


do quanto à incorporação de terras em regiões 1999 do INCRA informa que no período de 1964 a
pouco estruturadas. 1994 havia pouco mais que 800 projetos de coloni-
DAVID et al (1999) analisando o histórico da zação que contavam com apenas 218 mil famílias;
política agrária no período posterior ao fim do que em 1999 haviam 2 723 projetos criados e mais
governo militar, destacaram o clima favorável para de 370 mil famílias beneficiadas. A estimativa do
as reivindicações em torno da reforma agrária e o número de projetos instalados previa ultrapassar os
aumento da representatividade tanto do MST como 3.000 no ano 2000. As tabelas 5 e 6 indicam o cres-
da CONTAG, especialmente a partir da criação do cimento anual dos últimos 5 anos, abordando tanto
Ministério da Reforma Agraria. Lembram que o o crescimento de área a este fim destinado, quanto
primeiro plano da reforma agrária previa beneficiar o crescimento de número de famílias.
mais de um milhão de agricultores sem terra, mas Da apreciação daquele Relatório ressalta-se: a)

Tabela n° 5 - Área em hectares, segundo o modo de obtenção

Obtenção de Terras 1995 1996 1997 1998 1999 Total


Desapropriação 1 159 118 2 141 310 1 820 077 2 433 723 1 174 616 8 728 844
Aquisição 86 216 118 596 112 447 24 052 11 860 353 171
Arrecadação* 71 175 1 796 119 2 462 000 82 870 292 060 4 704 224
Áreas remanescentes
e doações** 395 871 395 871
Total 1 316 509 4 451 896 4 394 524 2 540 645 1 478 536 14 182 110

* Terras doadas da União


** Inclui terras estaduais e outras

que as desapropriações eram essencialmente no custo de implementação dos Assentamentos: há


centro-sul. Desde esse Governo, seguindo após uma redução no custo por família assentada em
Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique torno de 37%, variação indicada pelo valor em
Cardoso nunca as metas foram completamente 1999 de R$ 27,2 mil, enquanto em 1995 era de R$
atendidas. Disto pode-se deduzir que as tendências 40 mil; há também redução nos valores de indeni-
de impactos também serão reduzidas. zações que foram pagos, R$ 166,5 milhões em

303
1995, enquanto o montante desta ação reduz para taxa se explique em função de dois fatores: o pri-
R$ 46,6 milhões em 1999. Os recursos aplicados meiro, por se localizarem nesta região as terras de
em infra-estrutura básica no mesmo período foram domínio da União; o segundo porque as perdas de
de R$ 301 milhões de reais, sendo que somente no valor em cerca de 30% das terras rurais do país
ano de 1999 este montante atingiu 150,6 milhões de desde 1994 provocaram uma redução do custo de
reais; b) em segundo lugar, é importante destacar instalação ainda maior na Amazônia. Dados reuni-
outro fator que garante a implementação desta polí- dos pelo IBGE mostram que entre 50 e 60% das
tica: os investimentos do Banco da Terra que dispõe áreas existentes nos Estados, que foram Territórios
de cerca de R$ 223 milhões por ano para financia- Federais, estão sob a responsabilidade da FUNAI,
mento da compra da terra e de algumas obras bási- do IBAMA ou do Exército.
cas de infra-estrutura. Capiberibe (MOLIN, 2001:40) analisa como as

Tabela n° 6 - Balanço das realizações

1995 1996 1997 1998 1999 Total


Famílias assentadas
(*) 42.827 61.674 81.944 101.094 85.327 372.866
(** 42.912) 62.044 81.944 101.094 85.226 373.220

Projetos criados* 314 433 644 965 489 2.723

Fonte : (*) segundo o Balanço da Reforma Agrária e da Agricultura Familiar 1999 - INCRA
(**) segundo o Relatório de Atividades 1995 a 1999 – INCRA

Para o INCRA, esses resultados são bastante contradições entre políticas gera as consequências
positivos, mas os mesmos acirram as preocupações conhecidas e como podem ser agravadas constante-
a respeito das pressões causadas por esse processo mente:
no meio ambiente e na conservação dos recursos ““Je pense que la plus grande difficulté de
naturais. A meta de assentar 400 mil famílias até l’Amazonie est due à des politiques nationales
2003, imprime velocidade na proposição do proje- inadaptées. Il y a eu des époques dans l’histoire du
to e no cumprimento de todos os procedimentos pays, au cours desquelles l’INCRA, pour donner
necessários de seleção e desapropriação de novas des titres de propriété, exigeait qu’on déboise. En
áreas: a arrecadação de terras públicas, definição do même temps, l’IBAMA interdisait le déboisement.
número de famílias, sua instalação e implantação L’IBAMA interdisait, l’INCRA incitait et la
de infra-estrutura. Os programas Emancipação dos SUDAM finançait l’élevage. Ceci veut dire qu’il y
Assentamentos Rurais, Novo Mundo Rural – a des contradictions permanentes entre les poli-
Consolidação de Assentamentos e Assentamentos tiques amazoniennes des organismes nationaux. Et
de trabalhadores rurais, integrantes do PPA 2000 – d’une certaine façon, cette situation perdure”
2003 dão sustentação à essa política. O anexo 4 A Comissão Externa da Câmara dos Deputados
detalha as ações desses programas. embora encarregada de averiguar a aquisição de
Pode-se considerar também que a política adota- madeiras, serrarias e terras na Amazônia Legal por
da deu prioridade para que os projetos de assenta- grupos asiáticos, apresentou em seu relatório
mento fossem realizados na Amazônia, pois quase (VIANA et al., 1998) uma conclusão enfática sobre
a metade (cerca de 45,76%) dos projetos aprovados outro aspecto, relacionado à política de assenta-
estão localizados na região amazônica, representan- mentos agrários. Mostra que 88,15% das terras
do mais de 30 milhões de hectares. Um indicador destinadas à reforma agrária no Brasil nos últimos
desta prioridade é a taxa de crescimento do número 35 anos estão na Amazônia Legal. São 25,5 milhões
de projetos que em apenas um ano registrou aproxi- de hectares (contra 3,43 milhões no restante do
madamente 25% (tabela n° 6). É provável que esta país), onde foram assentadas 272.181 pessoas

304
(102.814 nas outras regiões). «Historicamente», diz o “Nem se pode dizer que tudo isso são águas pas-
relatório do coordenador da Comissão, deputado sadas. No atual governo federal, 6,48 milhões de
Gilney Viana (PT/MT), «a reforma agrária na Amazônia hectares da Amazônia Legal foram destinados à
é tão predatória quanto os projetos agropastoris incentivados reforma agrária (contra 6,29 milhões entre 1985 e
pela SUDAM». Ao todo, 15 milhões de hectares - 1994) e assentadas 103.458 pessoas na área (contra
cerca de 30% da área que a Comissão calcula tenha 96.658 nos dez anos anteriores).
sido desmatada na Amazônia - perderam a cobertu- 1. para não enfrentar a resistência política dos
ra originária por causa dos assentamentos. proprietários de terras com peso político no
Continuando a análise dos dados encontrados des- Congresso e fora dele, confina-se a reforma agrária
taca que mais 15 milhões de hectares, que deveriam às terras amazônicas, que, em sua esmagadora
ter sido preservados nos assentamentos (50% da maioria, são inadequadas para a agro-pecuária
área em cada lote), por força de lei, «estão irremedia- (numerosos estudos científicos comprovam isso);
velmente condenados, pela quebra de continuidade e pela 2. com solos inadequados, sem crédito, sem
antropização, através da extração de madeira, da caça e pela
expansão indisciplinada e ilegal dos desmatamentos e quei-
assistência técnica, sem nada, o desmatamento é
madas para estabelecimento de roças» (53,96% dos assen- inevitável: o colono tenta implantar sua própria
tados são agricultores/camponeses ou provêm de agro-pecuária em pequena escala - quase sempre
outras profissões relacionadas com a agricultura). perdendo o esforço - ou forma pastos para arrenda-
Segundo o relatório, na verdade a área atingida mento/venda, na esperança de, com o dinheiro apu-
pela reforma agrária na Amazônia chega a 60 rado, mais a venda da madeira, comprar um lote
milhões de hectares (600 mil quilômetros quadra- maior, onde repetirá o desmatamento;
dos), já que para cada hectare atingido diretamente 3. por esses caminhos avança o desmatamento
dentro dos lotes dos assentamentos, outro hectare é itinerante, com os resultados apontados pela
também prejudicado nas áreas circundantes. Comissão; o pior de todos é a perda da biodiversi-
Washington Novaes trata também desse tema. A dade, nossa grande possibilidade de futuro;
mesma matéria foi veiculada no O Popular e Jornal 4. por esse e outros formatos (principalmente o
de Brasília de 24 de janeiro de 1998. Ele elenca as garimpo), a Amazônia, com altíssimo custo,
causas a partir das quais a Comissão concluiu ser preenche a ausência de políticas de geração de
«As terras de baixo preço são o caminho do alto custo emprego, absorve migrações e compensa parcial-
ambiental»: mente a perda de empregos no campo (só de 1994

Tabela n° 7.7 - Ação do INCRA nos Estados da Amazônia Legal

Estados Ano N° de Projetos N° de projetos % da área % em relação


de início em 1998** em 1999 em relação ao Brasil
dos projetos ao Estado em 1999
em 1999

Acre 1977 50 62 5,0% 2,27


Amapá 1987 15 21 2,7% 0,77
Amazonas 1982 26 27 5,8% 0,99
Maranhão 1942* -1986 217 316 7,5% 11,60
Mato Grosso 1986 205 243 11,3% 8,92
Pará 1927*-1978 207 306 40,1% 11,23
Rondônia 1974 69 78 14,3% 2,86
Roraima 1979 31 30 11,1% 1,10
Tocantins 1987 132 164 2,2% 6,02
Amazônia 952 1 247 - 45,76
Total Brasil 2 485 2 723 - -

** Dados do Departamento de Metodologia de Projetos (DPM) - INCRA


* Primeiros projetos de colonização: PIC Monte Alegre (PA) e PIC Barra do Corda (MA)

305
306
Tabela n° 7.8 - Assentamentos agrários na Amazônia

Unidade da Federação N° de assentamentos N° de familias Total ha


Rondônia 33 13 324 720 080
Acre 3 1 104 326 500
Amazonas 10 5 847 461 514
Roraima 3 5 016 463 300
Amapá 13 1 696 254 277
Pará 57 21 624 1 259 216
Tocantins 62 5 606 326 318
Maranhão 51 12 847 1 104 582
Mato Grosso 119 18 646 956 562
Total 351 85 710 5 872 349
Brasil 1123 139 223 7 269 671

Fonte: (Stedile 1997)

para cá, alguns estudos apontam a perda de dois reforma agrária. Eles relacionam-se ao: i) aumento
milhões de postos de trabalho na agricultura). crescente do número de projetos de assentamentos
5. A situação pode piorar, já que a estratégia ofi- agrários, sobretudo nos Estados do Amapá,
cial prevê a abertura de três novas frentes agro- Amazonas, Maranhão e Tocantins; ii) aumento das
pecuárias na Amazônia, conjugadas com hidrovias queimadas no Mato Grosso e Pará; iii) altas taxas
e rodovias. Já passou da hora de repensar essas coi- de evasão no Pará; iv) e aumento das arrecadações
sas. De formular outra estratégia. E de integrar no em Roraima e Amapá.
processo da reforma agrária as universidades, as Nesse contexto, podemos analisar a quantidade
igrejas, entidades sindicais, ONG, ambientalistas, de projetos existentes e a dinâmica resultante desta
etc. Se não tivermos essa competência, não só a velocidade de implantação de projetos, na
reforma agrária não resolverá os problemas dos Amazônia, nos últimos anos. Agrupando-se os
sem-terra como contribuirá para gerar e/ou agravar Estados em três categorias, destacam-se diferentes
outros dramas brasileiros. Principalmente o da resultados:
Amazônia”. a) Pará, Maranhão e Mato Grosso, os três
Estes elementos são fundamentais no acirramen- Estados com o maior número de projetos - 629 -
to dos impactos na Região. Em função do elevado sendo que apenas o Pará já representa mais que
número de novas áreas que estão sendo abertas para 40% de todos os assentamentos implantados na
a implantação dos novos projetos aprovados, a Amazônia e onde a dinâmica da desapropriação e
perda de biodiversidade, em especial a diversidade velocidade de implantação tem provocado danos
florestal e, posteriormente pela perda de solos agri- ambientais praticamente irreversíveis, bastando ver
cultáveis. A figura 9.5 identifica a localização como a dinâmica de desapropriação coincide com a
desses projetos e a tabela 7, abaixo, os quantifica dinâmica do desmatamento. (ALVES, 1999).
em cada Estado amazônico. b) Tocantins, Rondônia e Acre que somam 251
Há uma divergência de dados entre o INCRA e o projetos. Iniciados em momentos distintos (Acre e
MST. A tabela 7.2 representa os dados utilizados Rondônia, durante a fase de abertura da BR-364 e
por Stedile, líder do MST. Tocantins mais recentemente, 1987, sobretudo no
A situação nos Estados amazônicos Bico do Papagaio, porque nos anos 70 era uma
região de grandes tensões fundiárias), passaram por
Todos estes fatores ampliam as preocupações e períodos de estagnação e que nos últimos anos,
devem ser levadas em conta no processo de dis- apresentaram o maior crescimento relativo.
cussão das inter-relações entre o modelo de desen- c) Amapá, Roraima e Amazonas, com um núme-
volvimento, a política de conservação da biodiver- ro relativamente reduzido de projetos - 72 -, tendo
sidade e as consequências da recente política de ocupado pequena área da superfície dos respectivos

307
Estados (6% do Amapá e 1 % do Amazonas). sentarem apenas 3% do total existente na
Apesar do reduzido quantitativo em projetos, são Amazônia, mas o acelerado crescimento anual e,
estes Estados objetos de maior preocupação em especialmente em função da localização dos mes-
função do crescimento anual que tem ocorrido, cujo mos, novos impactos podem ser gerado nos ecos-
exemplo mais significativo pode ser o Estado do sistemas locais, acelerando o processo de perda da
Amapá, onde, em apenas um ano (1998), o cresci- cobertura vegetal, principalmente em áreas de flo-
mento do número de projetos foi de 12 %. resta de terra firme. O domínio administrativo -
À esta dinâmica do crescimento do numero de cerca de 65 % das terras do Estado estão nas mãos
projetos, incluem-se outros elementos como locali- do INCRA é outro fator que, certamente, interfere
zação, domínio das terras, capacidade ociosa, área nas decisões sobre os locais dos novos assentamen-
dos projetos por famílias assentadas. tos.
No Estado do Amapá, apesar dos projetos repre- Em Roraima, é também significativo o aumento

308
do número de assentamentos. Entretanto, o que decorrentes deste processo que, mesmo havendo
chama a atenção é a ocorrência, na razão propor- um zoneamento sócio-ecológico econômico desde
cionalmente inversa, da área utilizada por família: 1988 (escala 1:1 000 000), a ação do INCRA não
as áreas dos projetos são cada vez menores em rela- considerou as restrições de uso do solo, implantan-
ção ao número de famílias atendidas, ou seja, há do projetos de assentamento mesmo nas zonas III,
redução no tamanho do módulo ofertado. IV, V e VI que estavam destinadas a usos restritos
No Estado do Amazonas, os 28 Projetos de ou à áreas protegidas. Por outro lado, embora com
Assentamentos ocupam o equivalente a 1% da área zonas definidas para esse tipo de uso, a maioria das
do Estado e representam 6% do total de assenta- propriedades rurais não dispõem mais dos 50% de
mentos amazônicos. O período boom de projetos florestas destinadas à preservação É nesse aspecto
foi entre 1981 e 1990. Todavia é um Estado que não que deve-se enfatizar os argumentos já utilizados
está protegido de uma nova aceleração por repre- sobre a expectativa gerada pela institucionalização
sentar um grande espaço não ocupado e pouco do Zoneamento Ecológico-Econômico e sua capa-
antropizado e novos projetos de assentamentos cidade de resposta às políticas públicas: O ZEE de
podem surgir em pouco tempo. Entre 1995 e 1999 Rondônia na escala 1:250 000 está concluído. Um
foram desapropriados apenas três imóveis e assen- trabalho minucioso do ponto de vista técnico, de
tadas 309 famílias. Os impactos ambientais ocasio- custo aproximado de US$ 20 milhões, mas pouco
nados são, entre outros, a poluição dos cursos de utilizado no governo local.
água e riscos de erosão. Outro fator a ser conside- O maior número de desapropriações ocorreu no
rado é a tentativa da Copasa de introduzir o cultivo Estado do Maranhão, com 217 terras desapropria-
de soja na região do entorno do PA Rio Juma, das, uma área de 1.802.693 ha., ocupadas por
incentivando os colonos a desmatarem a região 50.833 famílias. A relação área / número de famí-
para o plantio. lias é extremamente baixa, sobretudo se comparar-
Um total de 62 projetos de assentamento foram mos com outros Estados, por exemplo, o Para, onde
implantados no Acre até 1999, mas o crescimento os 207 projetos, numa área de 12 077 047 ha, ocu-
vertiginoso – um total de 50 em um único ano – pados por 98 245 famílias. A maior concentração
1998 recoloca a questão dos impactos gerados por dos assentamentos ocorre na região central do
esse tipo de política e pela alteração do perfil do Estado. No Pará, de 1996 a 1999, 103 imóveis
desmatamento. Nos últimos quatro anos, entre 1995 foram desapropriados, totalizando 872.511,40 ha
e 1999, foram desapropriadas 23 propriedades para ocupados por 19.162 famílias, o que representa
a instalação de novos projetos. Muitos destes proje- quase três novos assentamentos a cada mês, estan-
tos estão próximos à rodovia BR-364, mas há do, esta dinâmica, concentrada notadamente na
outros cujo acesso é bastante difícil, somente de região de Marabá. Os processos atuais prosseguem
barco ou por avião, aumentando o risco de insuces- os de décadas anteriores, reproduzindo-se os mes-
so, em função do isolamento. Como grande parte mos fatores e métodos, seja no desmatamento, no
dos PAs foram resultantes da desapropriação de abandono dos colonos, pelo INCRA, ou no proces-
seringais, a atividade principal continuou sendo a so de reconcentração, com a venda das terras, nor-
extração da borracha. malmente aos fazendeiros vizinhos, que continuam
Em Rondônia, a superfície total ocupada pelos aumentando seus domínios (PPG7, 2000a).
assentamentos ocupa o quarto lugar em relação à Após a instalação das famílias inicia-se o des-
Região, processo que repete a mesma tendência: matamento para plantio e pecuária, ano após ano
nos últimos quatro anos foram implantados 60% do cresce da área desmatada com o desaparecimento
total dos projetos no Estado, embora ocupando uma das áreas de reserva legal, e, inúmeras vezes o
área muito menor, significando também uma redu- abandono dos lotes, por falta de condições finan-
ção no tamanho do módulo rural. Na época do ceiras dos assentados para a produção. Este proce-
maior fluxo migratório para o Estado (80-86), o dimento se reinicia com um outro novo projeto,
módulo padrão era de 100 hectares. Deve-se agre- mesmo que o anterior não tenha sido totalmente
gar à análise e avaliação de impactos ambientais ocupado e que possua capacidade ociosa.

309
O poder gerador de impactos dos mecanismos duziam ainda os mesmos princípios dos PIC, os
desta política, é evidenciado ao interrelacionar modelos dos anos 1970. Nos últimos anos, estas
estes elementos à meta de 400 mil famílias a serem articulações resultaram em novas normas, consoli-
assentadas até 2003, ao montante de recursos pre- dando-se em dois aspectos: o primeiro, a Agenda
vistos no PPA 2000-2003 (Anexo 4) e à disponibi- Ambiental, de 1995, que aborda pontos importantes
lidade de terras públicas. Somam-se a estes fatores, como a “própria revisão do modelo, a revisão dos critérios
o baixo custo da terra e o baixo custo de desmata- para regularização e titulação fundiária”. Esta Agenda foi
mento da floresta primária. dirigida aos pequenos posseiros, às ocupações que
possuíam planos de manejo sustentado, às ocupa-
Tabela n° 9 - Custo médio da terra entre 1996 e 1998
ções compatíveis com programas municipais e
regionais de desenvolvimento e de zoneamento
ambiental, às áreas passíveis de recuperação
Região/ Estados Valores
em Reais ambiental. O compromisso do INCRA referiu-se a
não desapropriar áreas de reserva legal, nem áreas
NORTE 346,51 de preservação permanente, nem áreas onde 50%
Amazonas 357,63 ou mais estejam destinado ao manejo sustentado.
Rondônia 709,63
Não se tem, ainda, um balanço do que mudou nos
Pará 283,53
Acre 132,24 assentamentos, em função destes incentivos.
Tocantins 249,89 O segundo, o estabelecimento de diretrizes para
NORDESTE 539,42 o licenciamento ambiental de projetos de assenta-
Maranhão 244,6 mentos de reforma agrária, aprovadas pelo CONA-
CENTRO-OESTE 492,27
MA, a Resolução n° 289, de 25 de outubro de 2001.
Mato Grosso 263,07
BRASIL 680,72 São diretrizes de controle, gestão ambiental e disci-
plinamento do uso e exploração dos recursos natu-
Fonte: Balanço da Reforma Agrária e da Agricultura rais. Seguindo os procedimentos estabelecidos no
Familiar, 1999, "apud" PASQUIS et al, 2000 Sistema de Licenciamento Ambiental, prevê-se a
expedição das licenças prévia (LP) e de instalação
Quando ocorre a instalação de apenas um proje- e operação (LIO)8. Essa resolução regulamenta
to de assentamento, os impactos sobre o meio também a questão do corte de vegetação e dos
ambiente podem ser de pouca envergadura, espe- assentamentos na Amazônia.
cialmente por se tratar de uma exploração em esca- Se os projetos exigirem incremento de corte raso
la da unidade de produção – do lote, da baixa tec- não poderão ser criados em áreas com florestas e
nologia e produção restrita - comparado aos efeitos demais formas de vegetação protegidas por instru-
de atividades de monoculturas intensivas em capi- mentos legais. O órgão ambiental competente terá
tal as quais empregam grandes quantidades de pes- que manifestar-se, previamente, num prazo de até
ticidas, herbicidas, etc., que se constituem em prá- dez dias úteis, a partir do requerimento do licencia-
ticas predatórias ao meio ambiente. Consequências mento. Excepcionalmente, o órgão ambiental com-
maiores, quanto à implantação de projetos de petente poderá expedir autorização para supressão
assentamentos, podem ser originadas pela intensi- de vegetação ou uso alternativo de solo, para pro-
dade do uso do solo e pelo grande numero de pro- dução agrícola de subsistência, anteriormente à
jetos. emissão da LIO, em área restrita e previamente
identificada, se for solicitado pelo responsável pelo
3. Mecanismos ambientais reduzem
projeto de assentamento de reforma agrária.
efeitos da política de assentamentos? Os projetos de assentamento na Amazônia são
Articulações tem sido feitas visando maior coor- tratados no artigo 10 : o responsável de cada proje-
denação e integração entre as políticas do setor to deverá obter junto à Fundação Nacional de
ambiental e o de reforma agrária no sentido de alte- Saúde- FUNASA, anteriormente à solicitação da
rar o modelo dos assentamentos agrários que repro- LP, a avaliação do potencial malarígeno da área e,

310
311
antes da solicitação da LIO, o respectivo atestado projetos e assentados, assim como a perenização da
de aptidão sanitária, que poderá envolver a avalia- estrada de terra que cruza estas áreas indígenas,
ção da ocorrência de outras doenças de significân- constituem-se em áreas de conflitos.
cia epidemiológica. Em Mato Grosso, seguindo o traçado da BR-
Os projetos de assentamento de reforma agrária 163, direção a Santarém, outro conjunto de projetos
de baixo impacto ambiental são tratados no artigo de assentamentos à direita da rodovia, cortando
11 que admite, a critério do órgão ambiental com- áreas de extrema importância para a conservação da
petente fundamentando-se em parecer técnico, o biodiversidade.No Estado do Pará, na área contida
procedimento de licenciamento ambiental simplifi- entre esta rodovia (BR-163) e PA-150, existem
cado considerando, entre outros critérios, a sua áreas prioritárias nas quatro tipologias para conser-
localização em termos de ecossistema, a disponibi- vação da biodiversidade que foram propostas no
lidade hídrica, a proximidade de Unidades de Seminário de Macapá em 1999. Neste mesmo espa-
Conservação e outros espaços territoriais protegi- ço já existe um alto número de projetos de assenta-
dos, o número de famílias a serem assentadas e a mento, alguns com imensas áreas. A tendência à
dimensão do projeto e dos lotes, procedendo-se a uma intensificação dos processos, à maneira tradi-
elaboração de um relatório ambiental simplificado cional, e do não uso da biodiversidade: desmata-
(RAS). mento, substituição da vegetação natural por pasta-
Constata-se, desta maneira, a positividade destes gens ou lavouras.
procedimentos de coordenação entre a política O Bico do Papagaio de Goiás é igualmente
ambiental e a de assentamentos agrários. Sendo importante, pois aos projetos já implantados,
eles implementados, já estaria se atingindo um agrega-se, agora, a prioridade estabelecida para o
setor relevante na produção de impactos ambientais Eixo Araguaia-Tocantins e a instalação de infra-
em grandes extensões, ainda que não representem estrutura de transportes, energia e comunicações
um quadro referencial amplo, uma unidade de pen- e fortalecem as condições de influência que este
samento e ação. eixo pode ter. No Maranhão, as poucas áreas de
A figura 9.5 - Assentamentos agrários na extrema importância para conservação encon-
Amazônia corrobora os argumentos anteriores e tram-se contidas nos espaços existentes entre as
mostra a existência de concentração de projetos de rodovias estaduais e federais e ferrovias.
assentamento nas áreas que fazem a transição, o A intensificação do ritmo de aprovação de
contato da floresta densa da Região Norte com os novos projetos em Roraima e Amapá abre uma
cerrados do Centro Oeste, conhecida na literatura nova artéria de acesso à terra e exploração.
como “meia lua” ou “arco do desmatamento”, Se associarmos estes espaços, classificados
envolvendo os Estados de Rondônia, Mato Grosso, por BECKER (1996) como a «malha programa-
Tocantins, Pará e Maranhão. da» da rede de transportes previstas para os
Distribuem-se dos anos 70 à atualidade (tabelas Eixos, provavelmente induzira à ocorrência de
n° 7.1 ou 7.2) os momentos de implantação destes novos projetos em suas áreas de influência. Tudo
projetos, expandindo-se aos poucos por novas dependerá da velocidade em que os mesmos
áreas, e estão estreitamente vinculados à construção forem implementados, se haverá tempo suficiente
e melhoramento das vias de acesso. para cumprir a obrigatoriedade de licenciamento
Comparando a concentração de projetos em sub- para os novos assentamentos e para que comece a
espaços, dentro dos Estados, cartografados na figu- produzir resultados.
ra 9.5 com as áreas prioritárias para conservação e Dependerá também das diretrizes e da capaci-
uso sustentável da biodiversidade, localizadas dade dos Fundos Constitucionais e das novas
segundo a figura 9.3, sobressaem as áreas de riscos regras e linhas de financiamento. Estarão essas
e conflitos: sendo efetivas no financiamento de projetos
Em Rondônia, à leste da BR-364, em direção à extrativistas e agroflorestais? A análise da tabela
divisa com o Estado de Mato Grosso, onde hoje n° 9 permite ressaltar que no decorrer do primei-
existem Áreas indígenas. O aumento do número de ro semestre de 2000 a linha de financiamento que

312
Tabela n° 10 - Fundos Constitucionais: Programas por porte de tomadores

Programas Cooperativas Mini-Micro Mini- Pequeno Médio Grande


Pequeno
FCO
PRONAF-RA 0 30 867 79 0 0
PRONAF 0 1 094 197 0 0
Rural-Integração 4 826 1 280 3 799 7 653 4 218
Industrial 0 76 985 2 328 10 000
Infra-estrutura 0 0 0 0 0
Giro-Custeio 0 0 80 327 0
Turismo 0 65 424 0 0
Pronatureza 0 0 137 0 0
Total 4 826 33 382 5 701 10 308 14 218
FNO
PRONAF A 0 21 033 0 0
Outros Rural 817 37 154 23 425 24 653
Agroindustrial 0 84 451 0
Industrial 0 2 591 4 787 6 041
Turismo 0 679 3 783 260
Total 817 61 541 32 446 30 954
FNE
Rural 11 661 2 815 1 726
PRONAF A 6 305 0 0
Especiais Rural 6 654 211 0
Industrial 456 1 991 60 538
Agroindustrial 194 345 0
Especiais Industrial 697 0 24
Turismo 614 2 161 0
Total 26 581 7 523 62 288
Total em 2000(1) 5 643 94 923 26 581 38 147 48 785 76 506(**)
Total em 1999(2) 7 975 246 498 505 655 79 873 140 666 194 399(*)

Fontes:
(1) Informações gerenciais do FCO, FNO e FNE fornecidas pelos Bancos gestores;
(2) Relatórios de atividades dos Banco do Nordeste, do Brasil e da Amazônia
(*) Valores de 1999 atualizados a preços de julho de 2000
(**) Valores nominais de janeiro a maio de 2000

mais atendeu os mini e micro produtores é a de A tendência de pecuarização, outro vetor


financiamento especialmente dirigidos para os de impactos
projetos de Reforma Agraria, dentro do Pronaf, Outro processo importante na Região é o de
tanto no FNO e FCO, enquanto os valores conce- expansão e enorme evolução do rebanho bovino, na
didos ao programa Rural foram os mais impor- frente pioneira amazônica e a forte pressão pelo
tantes para os projetos do Maranhão (dentro do aumento de áreas de pastagens. Este aumento de
FNE). pastagens se dá por meio da incorporação de novas
Em ordem de grandeza o total dos financia- terras e não pelo melhoramento das atuais. No
mentos nos anos 1999 e 2000 expressam, enfim, geral, este fato pode transformar-se num significa-
que os programas Pronaf - RA e outros Rural tivo vetor de impactos, se não forem implementa-
foram intensamente procurados pelos mini-micro dos modelos e técnicas de gestão ambiental previa-
e pequenos produtores, seguido pelas concessões mente, assim como se não houverem ações ligadas
aos grandes empresários industriais. A referência ao aumento de áreas de preservação ambiental
tomada para os valores que estão representados é nesses municípios.
de R$ 1.000,00 9.
313
No território amazônico identificam-se porções os outros ecossistemas e que poderá continuar
do espaço sob maior ou menor grau de coação, cor- incorporando novas terras até os limites do país. Ou
respondendo às necessidades diferenciadas por talvez mesmo ultrapassando-os, a exemplo dos
novas áreas. O crescimento do rebanho bovino, até migrantes brasileiros no Paraguai (SOUCHAUD,
1996, está fortemente localizado nas porção meri- 2000)
dional e oriental e da Amazônia, o próprio «arco do Essa tendência indica também possíveis altera-
desmatamento», nos Estados do Mato Grosso, ções nos padrões de consumo na região - um vetor
Rondônia, Tocantins, Maranhão e Pará. Tema bas- que irá competir com os modelos regionais de
tante debatido nos meios acadêmicos e nos setores exploração dos próprios recursos na alimentação,
ambientais, procurando sempre evidenciar as eta- por exemplo, inviabilizando propostas alternativas
pas do processo de incorporação de novos espaços de valorização dos produtos locais.
amazônicos. ALVES (1996) já mapeava os municí- A convergência de todos esses vetores num
pios onde a taxa de desmatamento tinha sido mais mesmo território resultara em impactos impor-
representativa e indicava o processo de desmata- tantes. A sobreposição desses índices (assentamen-
mento seguido da formação de pastagens, bem tos, pecuarização) com os investimentos do PPA
como VIANA (1998) em seu relatorio à Câmara 2000-2003 para a Região ratificam o nível de
dos Deputados do Congresso Federal associa-os ao impactos. A figura 9.7 representa o grau de confli-
ciclo desmatamento-pecuária- soja. tos prováveis, segundo a tipologia proposta a
Esse crescimento mostra, em geral, sub-espaços seguir:
onde a pressão por pastagens é mais crítica, mais - Tipo 1 - alta tendência a conflitos e
intensa e mais concentrada. Analisando-se, nessas a perda de biodiversidade (extrema importância
sub-regiões, a evolução do número de cabeças por biodiversidade X muitos projetos de assenta-
habitante, esta relação é favorável para o rebanho mento X alto volume de investimento);
bovino, ou seja, este aumenta mais que o numero de - Tipo 2 – média tendência à conflitos
pessoas na área. Em toda essa sub-região, o centro (extrema importância biodiversidade X número
irradiador é especialmente o Estado de Mato médio de projetos X alto volume de investi-
Grosso, o leste e sul de Rondônia e o centro-sul do mento)
Pará, constatando-se a relação de 10 e 30 cabeças - Tipo 3 – baixa tendência de confli-
de bois por habitante. tos (extrema importância biodiversidade X
A tendência futura que esse processo pode repre- baixo número de projetos X baixo investimen-
sentar pode ser analisada servindo-se do método de to do PPA)
padronização (lissage) desses elementos dentro de - Tipo 4 – alta tendência de conflitos
um município com todo o seu entorno. Ao contra- (muita e alta importância biodiversidade X
por-se relação positiva e negativa, na Amazônia, a muitos projetos de assentamento X médio
maior progressão na relação bois/homens ocorreu investimento);
nos municípios localizados nos estados de - Tipo 5 – média tendência à conflitos
Rondônia e Acre, Amazonas e Pará, atingindo até (muita e alta importância biodiversidade X
os municípios situados às margens do rio médio número de projetos assentamento X
Amazonas e, por enquanto, as tendências negativas médio investimento PPA);
no extremo norte da Região, sobretudo o Amapá, - Tipo 6 – baixa tendência à conflitos
Roraima (regiões de terras indígenas) e o extremo (muita e alta importância biodiversidade X
oriental nos estados do Pará e Maranhão, configu- baixo número de projetos assentamento X
rações identificadas na figura 9.6. baixo investimento PPA);
Isso parece representar a continuidade dos movi- - Tipo 7 – alta tendência de conflitos
mentos de deslocamento das frentes pioneiras, que (conhecimentos insuficientes X muitos projetos
transferiram-se de sudeste para centro-oeste e deste assentamento X alto investimento);
para a Amazônia, avançando cada vez mais dentro - Tipo 8 - média tendência de confli-
da própria floresta, já tendo deixado para trás todos tos (conhecimentos insuficientes X médio

314
número de projetos assenta-
mento X médio investimento);
- Tipo 9 – baixa ten-
dência de conflitos (conheci-
mentos insuficientes X baixo
número de projetos assenta-
mento X baixo investimento
PPA)Uma conclusão parcial
que pode ser tirada dessas
complexas relações e merece
ser sublinhada é a continuida-
de da ação pública de planeja-
mento e ordenamento do ter-
ritório amazônico, na qual pre-
domina a dimensão econômica
sobre as atuais exigências de
conservação ambiental ou
mesmo de desenvolvimento
sustentável.
Por outro lado, vive-se um
momento de passagem de uma
lógica pioneira de ocupação do
espaço com seus eixos de
penetração viária e as frentes
de colonização para uma lógi-
ca de implantação de redes de
circulação, de energia, de
comunicações e de investi-
mentos com vínculos ao mer-
cado mundial e à integração
continental.
Esse processo acelera o
crescimento e o consumo anár-
quico do espaço amazônico,
resultado das contradições
entre as lógicas liberais de
desenvolvimento econômico,
sob o domínio do jogo de
interesses privados, e as lógi-
cas de conservação ou de
desenvolvimento sustentável,
sob o domínio dos interesses
locais e internacionais.

315
316
Considerações Finais teiras: Peru e Bolívia, por exemplo, também impul-
sionam a implantação das redes regionais de infra-
estrutura para seus territórios amazônicos, ao
Amazônia entre conservação e desenvolvimen-
mesmo tempo, dando impulsão às condições de
to, entre global e local, a caminho da integração
ocupação para «nacionalizar» as amazônias.
continental… Assiste-se à sua construção perma-
Os diversos territórios amazônicos foram, e
nente: dos objetivos geopolíticos do povoamento à
continuam sendo, locus de frentes pioneiras, atual-
densificação das redes técnicas e científicas; do
mente permeado por algumas ações de caráter
modelo do «Brasil grande» ao modelo do desenvol-
ambiental com a constituição de áreas legalmente
vimento sustentável. A Amazônia atual se vê mun-
protegidas. Na escala continental, as ações de
dializada pela ordem ambiental, apresentada frente
cooperação entre os países do Tratado de
ao «purismo» ambiental da preservação, ao
Cooperação Amazônica reforçam estes fatos, ao
ambientalismo de negócios e as alternativas de sis-
relevar aspectos que dizem respeito aos princípios
temas de produção sustentáveis.
de conservação ambiental e respeito às populações
A Amazônia é, hoje, a região onde se realizam
locais. Compromissos abordando a co-realização
experiências com múltiplos objetivos, oriundos de
nos zoneamentos ecológico-econômico nas frontei-
distintas correntes de pensamento. Os grupos
ras, a Agenda XXI da Grande Amazônia, a estraté-
sociais atuais substituem os antigos posseiros e
gia regional de uso e conservação da
caboclos, conquistando status de parceiros nas
Biodiversidade, a posição regional comum sobre
decisões do setor ambiental governamental. Novas
florestas foram estabelecidos e servem, ao mesmo
regulamentações ampliam as possibilidades de
tempo, para amenizar antigas rivalidades e disputas
conservação, proteção ambiental e controle do uso
entre Brasil, Venezuela e Peru pela hegemonia na
dos recursos naturais. Novas organizações surgem
região da bacia amazônica.
quotidianamente e se mobilizam, aliando-se às
Essas dinâmicas evidenciam as incoerências nas
mais antigas, na experimentação de um conjunto de
políticas territoriais públicas nacionais e continen-
alternativas nunca antes tentado.
tais, tornando a co-habitação entre desenvolvimen-
As dinâmicas atuais dessa região incluem
to, integração e conservação imperiosa.
vetores mais tecnológicos, o conhecimento científi-
Atualmente, as regulamentações ambientais podem
co e tecnológico, a ligação de áreas por meio das
obstaculizar processos predatórios e representam
redes de comunicação e informação, as certifica-
um avanço em relação ao período pós-Conferência
ções ambientais sobre recursos naturais ou sobre
de Estocolmo, quando a problemática da proteção
processos industriais (FSC e ISO 14 000) e novos
ambiental era marginal, mas as estratégias governa-
setores econômicos que se estabelecem a partir da
mentais ainda são díspares.
exploração da biodiversidade, do turismo ecológico
Mudanças de comportamentos políticos e com-
e dos sistemas agroflorestais.
promissos são sinalizadas entre os anos 1970 e
Essas novas condições já encontram-se incorpo-
2000. Os discursos inflamados dos anos 70 indica-
radas aos territórios e ainda que o momento políti-
vam - sem apresentar os meios - a necessidade de
co seja outro, as questões de integração nacional e
integrar, no planejamento, alternativas que resol-
continental continuam na ordem do dia, tornando as
vessem os conflitos entre meio ambiente e desen-
diversas Amazônias, objeto de políticas. Na segun-
volvimento e, trinta anos depois, pode-se fazer
da metade do século XX, estas se dirigiam à inte-
escolhas de métodos, de parâmetros, de diretrizes,
gração de cada Amazônia ao «seu país» sobretudo
no âmbito de um universo promissor em modelos
por questões de segurança de fronteira; na atualida-
produtivos conservacionistas. A presença das idéias
de, enfatizam a integração continental, estabelecen-
ecodesenvolvimentistas, dos anos 70, contrabalan-
do estratégias para densificar as atividades econô-
çavam parcialmente a predominância da visão dos
micas. As políticas de integração continental das
fatores ambientais apenas como consequências e
redes físicas de comunicação, especialmente dos
não como elementos constituintes da estruturação
corredores bioceânicos tornam-se a cada dia mais
do espaço geográfico. Pouco expressivas no
concretas. Políticas similares se passam além fron-

317
contexto das políticas públicas daquele período, rosos os projetos de conservação, proteção ou
estas propostas antigas permanecem coerentes com desenvolvimento sustentável, por outro, estes são
algumas diretrizes do discurso oficial da atualidade. dependentes do atendimento às condicionalidades,
A partir dos anos 1970 o Estado foi o ator prin- exigências e pré-requisitos que acabam por impor
cipal dos modelos de desenvolvimento aplicados aos executores um esforço suplementar, transfor-
aos seus territórios, embasados em estratégias geo- mam-se, por vezes, em agravantes.
políticas e pioneiras. Hoje, uma plêiade de atores Esta conjuntura nacional permitiu ao governo
fortaleceram-se na defesa de parâmetros próprios brasileiro converter as criticas do momento aceitan-
de suas territorialidades e reduzem o campo de ação do a oferta do Programa Piloto originada na
das decisões autoritárias. Um aspecto altamente Reunião de Houston (1990) sob o estímulo do
positivo mas que pode vir a ser fortemente negati- governo da Alemanha. Mesmo que o Banco
vo - na medida em que a presença de populações e Mundial tenha sido declarado coordenador interna-
comunidades locais ocorram apenas como uma cional, o governo brasileiro estabeleceu os alicerces
maneira de legitimar as regras impostas por orga- do Programa e se posicionou como coordenador
nismos financiadores internacionais. nacional. O mérito da proposição e da participação
Simultaneamente ao processo de redemocratiza- governamental alemã na Reunião deve ser relativi-
ção ocorreram avanços, transformações político- zado pela contribuição decisiva que a mobilização
sociais e também no âmbito dos instrumentos de das organizações não-governamentais ambientalis-
Estado. Houve aceitação do discurso ambientalista tas alemãs associadas à algumas brasileiras e inter-
no seio do aparelho de Estado, com a instituciona- nacionais desempenharam no debate contra as altas
lização de instâncias que se ocupavam do meio taxas de desmatamento da Amazônia. Em conse-
ambiente nos órgãos do Executivo. Ao invés de quência, os dois objetivos mais importantes do
manter-se nas conhecidas vertentes restritivo-edu- Programa foram definidos como a “redução do des-
cativas do controle, da preservação e educação matamento na Amazônia e a conservação da biodi-
ambientais, impulsionou-se a introdução dos meca- versidade”.
nismos preventivos. Entre o momento da primeira proposição do
As políticas territoriais de base conservacionista PPG7 e os dias atuais decorreram-se 12 anos. O
foram também impulsionadas resultando no Programa pode ser visto como indutor de experiên-
aumento do número das áreas sob proteção legal – cias e modelos. Um tempo curto para se promover
unidades de conservação e terras indígenas, tanto mudanças profundas nas políticas mais estruturais,
na Amazônia como em outras regiões do país. Na mas suficientemente longo para a obtenção de
verdade, um posicionamento ecologista / naciona- alguns resultados e para perceber as influências dos
lista que serviu para bem nutrir as negociações seus métodos e efeitos temáticos em outras esferas
continentais e internacionais, alicerçada na noção governamentais. Instituições que sustentavam polí-
de que a biodiversidade constituía-se no futuro do ticas contraditórias e competiam no uso do espaço
país. O Itamaraty conseguiu reduzir a importância amazônico, sobretudo as de assentamentos agrá-
da contribuição do desmatamento da Amazônia rios, passaram ao status de parceiras e ensaiam
frente às alterações climáticas ao ver reconhecido, desenhos e mecanismos de políticas mais coe-
naquela Convenção, os diferenciados níveis de rentes.
emissões dos gases, e consequentemente da partici- No entanto, a disputa pela liderança, pelo poder
pação dos países. Recentemente, as propostas bra- e suas esferas de influência entre instituições parti-
sileiras, que visaram minimizar os bloqueios ao cipantes do Programa constituiu-se no grande
Protocolo de Kyoto para a ratificação das medidas obstáculo à sua ampla implementação: as divergên-
acordadas; podem ser enquadradas como a perma- cias técnicas, a falta de clareza a respeito dos
nência das posições nacionalistas, nos anos 90 conceitos de proteção, conservação, desenvolvi-
apoiadas no ecologismo, hoje substituídas pelo mento, utilizados por todos, baseados em com-
ambientalismo de negócios. preensões e usos múltiplos; o demorado ciclo de
Assim, se por um lado, tornaram-se mais nume- projeto, o grau de exigência e as condicionalidades

318
impostas sob constante ameaça de negar acesso aos do Acre, transformando o aprendizado de base
recursos foram alguns dos motivos aparentes. social em políticas públicas. Avanços legislativos,
Idéias preconcebidas nutriram sutilmente os crité- mecanismos de planejamento e de financiamento
rios para a aceitação ou rejeição de propostas e pro- são contabilizados: a primeira lei sobre a proteção
jetos. da biodiversidade, no Amapá, os zoneamentos
Ainda que um dos grandes resultados do ecológico-econômico, as Agências de
Programa tenha sido o estímulo à governança com Desenvolvimento e a cooperação técnica e científi-
a presença de diversos grupos sociais regionais ca reforçando-os. No entanto, os resultados ainda
investindo em experiências demonstrativas e que são reduzidos.
essas alternativas tenham tido uma enorme visibili- Novos produtos locais continuam à margem do
dade organizacional e difusão espacial, é preciso mercado; a exploração positiva da imagem e dos
matizá-las com experiências do passado. A respos- recursos amazônicos no setor do eco-produtos,
ta imediata aos projetos demonstrativos encontrada mais tecnológicos são poucos, não se constituindo
nos Estados do Maranhão, Acre e Mato Grosso, numa nova base econômica. O apoio à este modelo
deve-se ao processo de construção da sólida base não é incondicional, faltando conquistar apoio de
comunitária de alguns grupos. Além desta organi- todas as comunidades do Estado. Estas alternativas
zação de base, que muito contribuiu para a implan- não possuíam, ainda, condições de serem reprodu-
tação dos projetos com menor grau de conflitos, as zidas em outros Estados ou regiões.
experiências de produção ou organização alternati- Neste ambiente, os meios de comunicação
vas dos grupos sociais tendem a ter resultados mais podem exercer, de fato, um papel significativo na
imediatos pelas pequenas dimensões das mesmas. ampliação da divulgação e disseminação de infor-
A grande vantagem foi a democratização do uso mação. A mídia impressa hoje se interessa por
de recursos, na atualidade disponíveis à populações temas que não abordavam alguns anos atrás.
que antes não tinham como acedê-los em função Associar a ação das ONG ao poder da informação é
das regras e condicionalidades impostas pelo siste- outro processo que esta em curso na Amazônia.
ma bancário. Inúmeros projetos reproduzem méto- Comunidades completamente isoladas estão hoje
dos e técnicas tradicionais, já experimentadas em conectadas, recebendo quotidianamente informa-
projetos comunitários (descascamento de castan- ções gerais ou relativas a projetos e processos exis-
has, consorciamento de plantas, etc.). tentes na Região, por meio do radio. Jornais passa-
As contribuições de pesquisadores das universi- ram a veicular diariamente notícias a respeito das
dades federais e dos institutos locais (UFPA, UA, alternativas ao modelo atual, fazendo crescer os
NAEA, INPA, Goeldi, Evandro Chagas, Embrapa, discursos a favor do desenvolvimento sustentável.
etc), de outras universidades do país e do exterior, A rede global tornou-se factível e a cada dia que
atualmente, circunscrevem-se mais como propostas passa tem presença mais forte nos processos regio-
alternativas do que criticas. No contexto do PPG-7, nais. A possibilidade de monitorar a Amazônia, de
o segmento de ciência e tecnologia evoluiu da for- denunciar manobras políticas que prejudicam gan-
mação dos centros de excelência e de pesquisas hos ambientais, de ampliar o processo de participa-
dirigidas segundo editais, para um novo modelo ção da população no debate dos grandes projetos
organizacional, fundamentando-se na formação e em curso na Amazônia existe em tempo real para
fortalecimento de redes temáticas. Um desenho que todas as sociedades. O uso destas tecnologias de
pode ser promissor aos grupos científicos locais, comunicação fortaleceu ainda mais a presença
facilitando também, o aumento da participação e internacional no debate nacional e local, bloquean-
poder das ONG no seio das comunidades científi- do ou fazendo recuar processos e projetos.
cas. O setor ambiental se vê no meio desta tormenta,
Experiências governamentais agregam-se a este recebendo, ao mesmo tempo, ajuda e pressões
conjunto de alternativas e são representativas da contrárias. Circulam nas redes mundiais informa-
opção política pelo desenvolvimento sustentável ções sobre os recuos e os avanços desta política.
que fizeram os governos dos Estados do Amapá e São pressões permanentes sobre as ações governa-

319
mentais constituindo-se em constrangimentos, em derão a se reduzirem a ilhas isoladas, ainda sujeitas
obstáculos que podem permitir ganhos de tempo, à invasões de terra, esmaecendo o antigo caráter
enquanto não se tem elementos mais consolidados conservacionista, substituindo-o por um outro
nas políticas de conservação, e atuam como freio às matiz, o de uso sustentável, de uso direto dos recur-
velocidades e aos impactos originados pela implan- sos naturais. A evolução da política conservacionis-
tação das infra-estruturas. Somam-se a estas ta à política de sustentabilidade se aparentemente
pressões as ações públicas e a atuação do só apresenta vantagens, na verdade, ela guarda uma
Ministério Público federal ou estaduais, como contradição imanente: ao deixar o discurso ecolo-
representante do Estado baseadas nas leis que gista mais radical, ao assumir o discurso da susten-
apoiam a ação popular. tabilidade, um conceito em constante debate e
Enquanto a participação social se consolida, ainda em construção, poderá significar também a
uma clara competição ocorre no âmbito das atribui- perda de limites, de restrições. E, a quem caberão
ções institucionais entre objetivos, poder político e os controles da degradação, da poluição?
metas de políticas públicas. A questão do federalis- O futuro das políticas ambientais brasileiras
mo e descentralização de competências, ao se deveria ser abordado por meio de propostas mais
enquadrar no processo global de redução do ousadas, mesmo que seja, ainda, necessário apro-
Estado, reforçou a competição e superposição de fundar métodos e modelos. O conhecimento acu-
ações federais e estaduais. Há uma competição por mulado e disponível sobre o funcionamento dos
territórios que articulam, nas escalas locais, regio- ecossistemas locais, mesmo que sejam insuficientes
nais, nacionais e internacionais, os componentes e precisam ser transformados no curto prazo em polí-
os constrangimentos sociais e espaciais. Novos gru- ticas públicas mais eficientes. Crescentes investi-
pos sociais agregam-se. mentos em inventários ecológicos, nas iniciativas
Teriam todos os grupos sociais as mesmas terri- socioculturais e econômicas locais, na valorização
torialidades? Os interesses na proteção e no desen- dos produtos florestais e serviços ambientais, no
volvimento seriam os mesmos, ou pelo menos, conhecimento da biodiversidade podem representar
semelhantes? A proposição de modelos - sustentá- a base econômica futura para a região e representar
veis - estaria portanto, destinada a competir não esta ousadia científica. Na sua ausência, conti-
apenas com os espaços da grande produção que nuarão existindo velocidades diferentes nos ritmos
atende os interesses nacionais, regionais ou locais, dos processos econômicos e sócio-ambientais, os
mas também a competir entre si, entre as visões de argumentos ambientais servindo apenas para
novos grupos sociais que, reforçadas pelos senti- constatações de impactos. Estas propostas depen-
mentos de participação e cidadania, reivindicam o derão de regulação, de alternativas de financiamen-
reconhecimento de suas territorialidades. to e crédito, de informação e divulgação e de
Neste contexto, as opções pelos modelos de controle social efetivo e contínuo.
desenvolvimento da Amazônia continuam sendo Os meios técnicos vinculados ao planejamento
difíceis, a conservação e o desenvolvimento perma- deveriam também ousar. Se a modernidade da
necem em esferas excludentes. As experiências de incorporação da dimensão ambiental no processo
aproveitamento de recursos naturais ou dos recur- de desenvolvimento e da análise dos macrovetores
sos biológicos embasadas em novas tecnologias e do desenvolvimento nacional, se viu refletida no
em processos de capacitação profissional, em novas novo marco teórico-conceitual que embasou o dis-
certificações começam a ser desenvolvidas, mas, curso da retomada do planejamento governamental,
têm pouca representatividade no contexto dos pla- a existência de uma realidade tradicional foi refor-
nos e orçamentos nacionais, nos quais meio çada pela análise da distribuição quantitativa e qua-
ambiente, informação e conhecimento correspon- litativa dos programas e recursos previstos no PPA
dem a apenas 6% do orçamento nacional compara- 2000-2003. Novamente aqui se identifica uma dis-
dos aos 58% em investimentos nas infra-estruturas. tância entre as intenções e os recursos. Ainda que o
Nesta competição por espaços, por territórios, as discurso presente no programa do governo federal
unidades de conservação de proteção integral ten- para o futuro, no PPA 2000-2003 os antigos proces-

320
sos se repetem: a marginalidade e a importância da Manaus e a Boa Vista, repetindo a estratégia dos
problemática ambiental é ressaltada pela diferença anos 60 quando a ligação Belém-Brasília, marcou a
entre os investimentos destinados a ações econômi- chegada da frente agrícola nos cerrados. Este arco
cas contrapostos aos investimentos em meio liga o extremo norte do pais ao extremo sul e sua
ambiente, informação e conhecimento, ainda que os consolidação pode se dar rapidamente em função
recursos dos Fundos setoriais de ciência e tecnolo- do volume de investimentos previstos. Este proces-
gia e de desenvolvimento possam ser acrescidos, so, se de um lado, é positivo por integrar as princi-
mas não são suficientes para contrabalançar a ten- pais cidades desta imensa região dando condições
dência de um crescimento econômico a qualquer de acesso às fronteiras pouco povoadas do pais, de
custo. outro, poderá acelerar o aparecimento ou a revitali-
Que dinâmicas territoriais resultarão destas polí- zação de inúmeras pequenas cidades, incentivar
ticas? Manteriam-se os dois universos regidos por novas migrações, criar novos espaços propícios à
velocidades distintas? Numerosos argumentos dos produção agrícola para exportação e acelerar o pro-
estudos dos Eixos são baseados nas potencialidades cesso de desmatamento. Ao permitir acesso à áreas
dos espaços e oportunidades de dinamização destas ainda preservadas, permite também o acesso a
regiões, na transformação das mesmas em competi- recursos florestais e biológicos, hoje altamente
tivas e sua inserção ao mercado mundial. valorizados e pouco conhecidos.
Estes argumentos não se aplicam generalizada- Essas dinâmicas podem gerar dois modelos de
mente na Amazônia, mas aos espaços que respon- organização espacial, de um lado experiências mar-
derão rapidamente às necessidades da competição ginais sustentáveis em poucos locais e integradas
mundial. Os investimentos nas hidrovias somente aos mercados nacional e locais, muitas vezes esti-
transformam o espaço-tempo dos rios na medida muladas por recursos, tecnologias e formas de
em que servem de corredores de transportes, aos gestão como as ações demonstrativas do PPG-7 ou
produtos dirigidos à exportação. Os subprodutos outros projetos internacionais. De outro lado,
destes investimentos poderão vir a beneficiar as regiões dinamizadas (ou redinamizadas) pela com-
populações tradicionais, os moradores ribeirinhos petição do mercado mundial. Um perigo pode estar
que dependem da circulação e dos transportes flu- subjacente, serão estas experiências política e eco-
viais no seu quotidiano ou os sem-terra recente- nomicamente sustentáveis depois que os recursos
mente instalados nos projetos de assentamentos que internacionais ou outras formas de subsídios deixa-
reclamam da falta de estradas para o escoamento de rem de existir?
suas produções. Questionamentos desta natureza não podem ainda
Apesar do discurso fundamentado nas novas ser respondidos, seja pelo tempo de implantação das
concepções e nos temas ambientais veiculados pela experiências, seja pela recentes ações de cidadania
agenda internacional, as estratégias territoriais para expressas pela liberdade de acesso às informações e o
implantação das infra-estruturas viárias e energéti- reconhecimento das reivindicações de grupos sociais
cas do Avança Brasil confrontam-se com as veloci- antes marginalizados, seja pelo aparecimento de
dades da maturação das políticas de conservação. resistências aos grandes projetos, antes também
As áreas de conservação são dependentes dos resul- pouco eficientes. Estas questões incitam à continui-
tados de pesquisa científica, da sistematização do dade da investigação e abre perspectivas para um
conhecimento e saberes tradicionais e sobretudo de futuro a curto prazo: conhecer, compreender e inves-
tecnologias que permitam o seu aproveitamento. A tigar o processo e as dinâmicas territoriais que mar-
implantação de infra-estruturas segue à velocidade cam o extremo ocidental da região com a consolida-
da disponibilidade dos investimentos visto o gran- ção da ligação Porto Velho – Manaus - Boa Vista e as
de conjunto de conhecimentos e técnicas já desen- tendências de repetição das consequências e dos
volvidos. Estas promovem gradualmente a incorpo- impactos semelhantes aos da construção da Belém-
ração de novas terras e retraçam, na Amazônia oci- Brasília na Amazônia oriental, pois que esta ligação
dental, no extremo oeste do pais, um novo arco inclui-se nas políticas de integração do Brasil e dos
constituído pela integração de Porto Velho a outros países amazônicos.

321
Estas iniciativas reforçam-me a intenção de des- Notas
vendar além-fronteiras e investir em pesquisas
sobre o que se passa nas outras Amazônias. Nos 1 O valor atribuído no orçamento foi de R$ 6,5 bilhões foi
transformado em dólares ao câmbio de R$ 1,84, na data de
países da grande Bacia Amazônica são cerca de 30
03/01/2000.
milhões de pessoas com uma grande diversidade 2 Informação verbal obtida dos pesquisadores Arnaud
social, cultural e étnica, abrindo perspectivas, Cuisenier Raynal, em 08 de março de 2002, no seminário do
sobretudo para maior compreensão, aceitação e «groupe Amazonie», ENS/CREDAL, Paris.
3 Os estudos de impacto ambiental e seu respectivo relató-
construção de modelos de desenvolvimento que
rio (EIA/RIMA) foram contratados pela Administração das
reflitam estas diversidades. Para esta construção
Hidrovias Tocantins e Araguaia, órgão vinculado à
serão necessários vontade política para inclusão dos Companhia Docas do Pará e ao Ministério dos Transportes, e
diversos setores sociais no processo decisório e, terminados em 1999. Ver FADESP (1999). Estudos de
mecanismos ágeis além recursos humanos e finan- Impacto Ambiental - EIA da Hidrovia Tocantins-Araguaia,
ceiros adequados. Mas, levam-me sobretudo a Fundação de Amparo e Desenvolvimento da pesquisa,
Volume I, texto principal, março 1999, 240 p.
reforçar a imperativa necessidade de ordenar o ter- 4 O parecer apresentado por Gonçalves é resultado de um
ritório, respeitando as organizações espaciais e as trabalho que contou com a colaboração de geógrafos e pro-
características e dinâmicas de cada povo, cada fessores da UNEMAT (Alexandre Regio, Luíz Gonzaga
comunidade, mas guardando os interesses mais Domingues, Flávio Luis Paula Almeida, Kelly Morgana
amplos, mais gerais. Moraes da Rocha e Keila S.R. Freitas) e o mesmo incorporou
propostas do Seminário realizado em Luciara, com profes-
sores e acadêmicos de Goiás e Tocantins, dos municípios de
Ribeirão Cascalheira, Cocalinho, Alto da Boa Vista, São Félix
do Araguaia, Luciara, Confresa, Canabrava do Norte, Santa
Terezinha, Porto Alegre do Norte, São José do Xingu e Vila
Rica, todos do Mato Grosso.
5 O Seminário de Macapá, realizado em outubro de 1999,

promovido pelo Programa Nacional de Diversidade Biológica


resultou na proposição de áreas prioritárias para conservação
por meio de 4 categorias (extrema, alta, muita e provável
importância). Os estudos básicos foram realizados pelo
Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia e Instituto
Sócio-Ambiental dentro do projeto “cenários futuros para a
Amazônia”, do Pronabio.
6 Nepstad et al (2000:10), apresenta os ciclos do empobre-

cimento ambiental para a Floresta Amazônica e a relação


destes com as estradas: “3/4 dos desmatamentos entre 1978 e
1994 ocorreram na faixa de 100 km de largura ao longo das
rodovias”.
7 Ver o site do Instituto Sócio-Ambiental: www.socioam-

biental.org
8 A LP constitui-se em documento obrigatório, anteceden -

do a fase de criação do projeto de assentamento. É a fase de


planejamento dos projetos, de aprovação de sua localização e
concepção, viabilidade ambiental e de estabelecimento dos
requisitos básicos a serem atendidos na fase seguinte. O prazo
para a expedição dessa licença é de até 90 dias. Já a licença de
Instalação e Operação- LIO é o documento que autoriza a
implantação dos projetos, de acordo com as especificações
constantes do Projeto Básico, incluindo as medidas de contro-
le ambiental e demais condicionantes. A LIO deverá ser
requerida em até cento e oitenta dias após o ato de criação do
projeto.

9 Em 03 janeiro de 2000, um real valia 0,54 dólares.

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343
Anexos naquela época.

Resolvemos ir para Cristalândia, a 400


1- História de um pioneiro quilômetros de Porangatú e 800 de Anápolis. A
estrada Belém-Brasília estava em partes encascal-
hadas e em outras somente desmatada e raspada,
não havia desvios. Chegando em Cristalândia,
Eu, Messias de Mello, conhecedor pri- tomamos conhecimento com fazendeiros. Lá
mitivo de partes da Belém-Brasília, relato que, mais conhecemos Celso Maranhão e Antenor Aguiar,
ou menos pelos anos de 1957, parti de Olímpia, ambos fazendeiros e comerciantes. Em
interior de São Paulo, com o meu amigo Sr. Elizeu Cristalândia, no ano de 1958, as transações comer-
Denadai com destino ao Buriti Alegre de Goiás ciais eram muito difíceis, pois não havia estradas e
para comprar bois, região de grande pecuária. De lá tudo era transportado através de cargueiros, levados
resolvemos conhecer Goiânia, pernoitamos no para o rio Tocantins e de lá seguia para Belém, de
Hotel Itajubá, na praça Araguaia, lá conversamos balsa. Quando se aproximava de algum tipo de cor-
com fazendeiros e nos informaram que, em redeira, era preciso tirar as mercadorias e trans-
Planaltina de Goiás, encontrava-se bois com preços portá-las por meio de cargueiros. Havia outra alter-
bons. Partimos para lá, e quando chegamos, locali- nativa também, por meio de avião, que passava
zamos um fazendeiro, dizendo que havia uma boia- uma vez por semana, vindo de Belém a Goiânia, e
da na sua fazenda no Vale do Rio Paranã. Falamos vice-versa, passando, na época, por Marabá,
em negociar os valores da boiada e que preço nos Imperatriz, Tocantinópolis, Carolina, Filadélfia,
agradaria, foi quando o fazendeiro nos disse que o Pedro Afonso, Araguacema (margem do rio
sistema da região era baseado nas seguintes formas: Araguaia) e Miracema do Norte. A margem direita
eu adiantaria parte do pagamento, ele pegaria os do rio Tocantins era habitada por índios.
bois e, depois de 20 dias, eu poderia voltar para
aparta-los. Isto acontecia porque era sertão e não Voltando para Goiânia vimos 35 bois
havia cerca naquela época. Criava-se no aberto, do fazendeiro Benedito Almeida e acabamos com-
ninguém tinha fazendas fechadas. Conhecia-se seu prando. Naquele tempo, não havia banco, então
animal pela marca. Então, diante dessas propostas tivemos que voltar para Olímpia para buscar o din-
desistimos do negócio. heiro. E, todo o dinheiro era levado em espécie.
Dentro de 40 dias comprei 750 bois.
Voltamos para Goiânia. Descobrimos
que, na área de Ceres era uma região com pastos No mesmo ano, (1958), formamos uma
fechados, e encontraríamos bois de boa qualidade. comitiva para transportar a boiada. Na comitiva
Fomos a Ceres, informados para falar com Sr. tinha 4 cargueiros para levar todos os materiais
Mariano Rodriguez, fazendeiro no povoado de como panelas e comida, rolos de arame para fazer
Castrinópolis. Encontramos os bois, mas eram um curral para, todos os dias, a tarde, na hora da
novos demais e procurávamos por uma boiada mais parada, prender os bois. Pregava-se o arame de uma
velha. Então ele nos encaminhou para o Sr. Uilton árvore à outra, em círculo, e no outro dia soltava a
Monteiro da Rocha, proprietário da Fazenda Matão, boiada e fazia a contagem. Não havia estradas, só
em Porangatú, na estrada Belém-Brasília. Quando trilhas e precisávamos arrancar o arame das árvores
chegamos na fazenda, fomos bem recebidos e deba- e enrolar as duas bolas e púnhamos em cima do car-
temos o assunto, mas o fazendeiro tinha acabado degueiro. Assim, foram os 47 dias de viagem até o
vender uma boiada e nos disse que dentro de 20 a pontal do Rio Água Fria com o Javaé, que era um
30 dias teria outra para nos mostrar. dos braços do Araguaia. Jantar e almoço eram fei-
tos nas margens dos córregos e pousadas debaixo
Segundo mais informações, seguimos de árvores. Neste percurso, passamos apenas por
para Porto Nacional, Miracema do Norte e quatro casas, margeando o Rio Araguaia.
Cristalândia. Eram as pequenas cidades existentes

344
Eu voltei da Fazenda Água Fria, perto ros da comitiva até o local.
do rio Javaé, que naquela época pertencia a um sen-
hor, Brigadeiro Clóvis Classi, que não conheci, e A jornada estava completando 4 meses
aluguei um caminhão da fazenda para nos levar em e, para viajar de Porangatú à Olímpia, eu e os
Porangatú e trazer 100 sacos de sal até a fazenda, peões, esperamos pelo caminhão do Sr. Elizeu, que
distância de 200 Km. Desta fazenda até onde esta- estava em Cristalândia, voltar para Olímpia. Neste
va a boiada, para engordar, tinha mais 20 Km e não período de engorda da boiada, eu e o Elizeu fica-
havia estradas, tudo era transportado pelos carguei- mos levando mercadorias de Olímpia para

345
Cristalândia. Vendíamos os produtos e compráva- de gados os fazendeiros possuíam.
mos porcos magros e púnhamos no caminhão e Consequentemente requisitavam uma parte ao
levava para Rio Verde, Bom Jesus, Itumbiara, preço de 18.000 cruzeiros, com 30 dias de prazo e
Quirinópolis e depois vendíamos para engordar, levavam. Na época, o Sr. Nego de Mello, nosso
pois aquelas regiões estavam em plena agricultura primo, proprietário da Fazenda Sta Amélia em
de milho para formação das fazendas. Naquele Auriflama, interior de São Paulo, tinha comprado
tempo, não havia meios de industrialização do 400 bois para engorda. A inspeção do exército foi à
milho e tudo era aproveitado para tratar dos porcos. Fazenda e requisitou 250 bois, e abateu-os em
Neste tipo de comércio houve muito prejuízo, tanto Araçatuba no Frigorífico Tumaia. Essa requisição
no comércio de porcos como no de mercadorias. durou mais ou menos 2 anos e meio. E os negócios,
ou melhor, o preço do gado, em geral, teve uma
Depois da boiada ter ficado 87 dias, ela grande desvalorização. Como eu estava com os
foi vendida para um senhor de Belém, Sr. Pedro bois do Rubens Marcondes e os do Tunico Pinheiro
Gomes. Este, levou a boiada de volta para em sociedade para repartir o lucro, em um ano os
Cristalândia, abateu-a e transportou de avião para bois engordaram e a única solução era vendê-los e
Belém. O negócio foi a prazo e o comprador não acertar com a sociedade. Foi quando vendi os bois,
honrou o combinado, e levamos um ano para rece- fizemos o acerto e apuramos o custo.
ber o que havíamos negociado, sem nenhuma atua-
lização, ou reajuste, ou seja, levamos prejuízo A desvalorização do dinheiro prejudi-
novamente. Até recebermos o dinheiro da boiada, cou e eu acabei ficando com várias despesas rela-
fizemos comércio de mercadorias e porcos, assim, cionadas ao pasto, sal, vacinas, remédios, peões.
completou um ano. Isso me obrigou a vender a Fazenda de Ceres para
arcar com as dívidas. Isto aconteceu em 1968.
Depois que recebemos o dinheiro, eu e
Elizeu repartimos e, com a minha parte, comprei Depois de colocar a vida em dia, com-
uma fazendinha lá em Ceres, do Sr. Lauriano prei a Fazenda Santa Rosa, em Paraíso do Norte,
Severino Botelho, mais ou menos no ano de 1959. Goiás, com 500 hectares. Lá trabalhei por dois
Ali, fui trabalhar com Rubens Marcondes, ele era anos, com capital do Sr. Rubens Marcondes.
um amigo, e me deu dinheiro para comprar 200 Naquela época eu também possuía um caminhão de
bois. Em 1963, na minha fazenda em Ceres, o Sr. boiadeiro, com o qual eu sustentava minha casa,
Tunico Pinheiro, me propôs uma sociedade de 450 fazendo fretes.
bois, para repartir o lucro. Então, aluguei uma
fazenda na margem do Rio Ouro, em Porangatú por No ano de 1976 eu vendi 120 bezerros
um ano, para pôr os bois do Sr. Tunico. ao Sr. Florentino Garcia, em São José do Rio Preto,
interior de São Paulo, mas neste ano eu ja estava
Depois que fizemos o negócio, passado morando em Altamira, Pára. A Transamazônica
um ano, entrou a revolução, foi deposto o Sr. estava recém construída, tinha a cada 100 metros
Presidente João Goulart e com a gestão do Exército, um acampamento com máquinas para dar assistên-
o preço do boi gordo caiu, na época o arroba era cia na estrada. Muitas vezes, uma ponte caía e havia
31.000 cruzeiros, baixou para 18.000 cruzeiros. vários atoleiros, que atrasavam a viagem entre
Resultado: ninguém queria vender bois com este Altamira e Araguarina, por 10 dias. Era um trecho
preço. de 800 Km passando por São Domingos e São
Geraldo no Pará, por uma estrada muito ruim, que
O Governo criou entidades compostas o Exército abriu, por dentro das matas, passando
de 1 tenente e 4 soldados, que iam nas fazendas e perto da Serra da Andorinha. Esta estrada foi feita
avisavam aos fazendeiros que, no dia seguinte, os na época da revolução, para prender os subversivos,
caminhões viriam pegar bois para o abate. que se escondiam na Serra e havia outros que tam-
Primeiramente os tenentes iam à Casa da Lavoura, bém se escondiam em vilarejos nas margens do
ou no Posto Fiscal e informavam quantas cabeças Tocantins.

346
O Exército vistoriava estradas, cidades pasto. Chegando na estrada do lote, descarreguei e
e fazendas até que prenderam todos os cabeças. aluguei 4 cavalos arriados com selas e fui transpor-
Foram presos e mortos. Naquela época, o Exército tar a semente. Levava 5 sacos de semente cada ani-
apertou em todos os Estados, muito no Para, Mato mal. Dormia na beira da rodovia. Foram 10 dias de
Grosso, Goiás... Eu viajava muito com meu carregamento, quando acabamos de jogar as
caminhão, e era revistado, na cabine, por baixo da sementes nas queimadas, acertei com os peões e
carroceria, todos os documentos, para depois ser voltei para Goiás, quando completou 60 dias que
liberado. havíamos jogado a semente, fui à Altamira nova-
mente, como havia chovido bastante, o capim já
Quando fui, pela primeira vez, a estava grande.
Altamira, fui até a Usina de Açúcar (90 Km de
Altamira no sentido Santarém), gostei das terras e A Transamazônica foi uma estrada
fui pedir informações no INCRA da cidade. Lá, me construída no governo do presidente Médici, sain-
informaram que eu precisaria fazer um cadastro, do do Estado de Alagoas rumo ao porto Itamarati,
um exame de saúde, e não podia possuir outras ter- no rio Madeira, para fazer a ligação com a estrada
ras e teria que morar nas terras que adquirisse. Teria que vinha de Cuiabá a Porto Velho e Manaus. Porto
que fazer, também, uma entrevista, com agrôno- Itamarati está na divisa do estado do Pará com o
mos, para testar o conhecimento de exploração de Amazonas. Esta estrada cortou o país de norte para
terras, na agricultura e pecuária. Então, fui aprova- oeste. O Governo a fez com a intenção de colonizá-
do e fomos localizar o lote, pois já eram cortados. la, de construir casas para as famílias e assentá-las,
e de dar escola e financiamento para famílias
Na margem da rodovia, os lotes eram sobreviverem. No primeiro ano, foram construídas
de 100 hectares com casa, estes já estavam todos agrovilas para servir de pontos de apoio para as
ocupados. De 2 km e meio até 16 km os lotes eram famílias novas que chegassem e para as que esta-
500 hectares, ou 100 alqueires, cortados também, vam assentadas. Agrovilas eram para ser pequenas
mas não tinha estrada e nem moradores, eram só cidades com armazéns, médicos e farmácias.
matas. Eu olhei em vários pontos. A cada 50 Km Construíram também barracões, para armazenar
havia uma pessoa encarregada (pelo INCRA) com produtos agrícolas dos colonos como o arroz, fei-
o mapa dos lotes todos numerados. A demarcação jão, café, cacau e outras variedades. Estes produtos,
foi feita com marcas de cimento a cada 100 metros o Banco do Brasil comprava, e também o Governo
encontrava-se um marco com o numero do lote, até mandou levar vacas de raça leiteira e vendeu a cada
o final dos 16 Km. Então o mais perto que achei foi família uma vaca. Isto era feito por intermédio do
o Km 27, sentido Altamira-Marabá, que localizava- Banco do Brasil, porém mais de 80% das famílias
se a direita da Transamazônica e seguia até o último abandonaram e foram embora para as cidades ou
lote, lá estava o marco de cimento G12; LT23. voltaram para sua terra natal, pois a vida lá era
Depois destes eram terras da União. dura. Não havia rádio, pois não havia sintonia com
nenhuma estação. Não havia lazer, se não fosse ir à
Voltei ao INCRA me apossei por cartas casa do vizinho.
de assentamentos agrários. Isto foi em agosto de
1976, época em que tirei as terras. Continuei com a Quando eu passava com meu caminhão
vida normal, comprando gado gordo e levando para carregando gado, levando para Altamira, as pessoas
Belém, vendia e comprava bezerros e levava-os escutavam o ronco do motor, as famílias corriam
para Altamira. Levei 10 peões para me ajudar, para a beira da estrada, esbarravam a mão e grita-
emprestei a eles 50 hectares para derrubarem; as vam em um gesto de saudades de sua terra natal e
derrubadas terminaram no fim de julho do mesmo parentes que ficaram para trás. Naquela época não
ano. Fomos abrir a estrada. existia ônibus também, não havia telefone, nem em
Altamira, nem em Marabá. Só havia rádio amador,
Voltei para Olímpia onde comprei e mesmo assim, quando conseguia. Completar liga-
1.500 quilos de semente de capim para formar ções, era uma raridade, e quase impossível conse-

347
guir mais de uma vez. O posto ficava o dia inteiro va bezerros em Goiás e levava de volta para
lotado de gente a espera de ligações, as quais tam- Altamira e vendia. Mas, na Transamazônica, quan-
bém eram raras. Estas ligações iam para Belém e, do chovia, não tinha quem andasse, pois escorrega-
de lá, ligava o rádio com o telefone. E aí, diante va demais. De Altamira levei gado várias vezes
dessa vida difícil, foram poucas famílias que fica- para Santarém (de Altamira a Santarém eram 460
ram. Estas, atualmente, estão bem financeiramente, Km de estrada de terra), também levei gado para
mas a pretensão do presidente era de colonizá-las e Itaituba, do outro lado do Tapajós, na
não conseguiu. Transamazônica.

Fui para Brasília e arrumei dinheiro O progresso veio devagar, com os


com o José Jacinto para comprar gado e por no madereiros, com grandes serrarias, com a constru-
pasto. Acertado o negocio fui comprar mais 100 ção da usina hidrelétrica do Tucuruí, agora com
vacas lá no Dueré, que é uma região do rio asfalto do Marabá ao Repartimento, são 185 Km.
Araguaia, e arrumei 5 caminhões e as levei para De Marabá, no rumo de Altamira já estava pronto.
Altamira. Já estavam gordas e as vendi para o Do rio Araguaia ao Marabá são 250 Km, é um
Senhor Oswaldo Passarelli, em Altamira, e acertei ramal que saiu fora da Transamazônica. Hoje a
com o José Jacinto entregando capital e lucro, pois Eletronorte está construindo uma Usina Elétrica em
ele tinha outro plano de negocio. Altamira, o asfalto segue para Altamira. Do
Repartimento à Altamira são 320 Km. De Altamira
Os pastos ficaram parados, voltei para a Itaituba, na beira do Tapajós, são 470 Km.
Goiás novamente e fui procurar vender minha Segundo o relato do Dr. Osias, neste trecho foram
fazenda, de Paraíso do Norte, para aplicar o dinhei- criados vários povoados, onde alguns cresceram,
ro nas terras de Altamira. Consegui vendê-la, mais assim como a cidade de Ruronópolis, Uruará,
ou menos no ano de 1982. Em Goiás, as terras eram Medicilândia, Brasil Novo (sede do INCRA). Neste
baratas, então, não me deu muito dinheiro. Quando trecho há bastante moradores, explorando cacau,
vendi a fazenda fui embora para Altamira, para pimenta do reino, café e pecuária.
continuar abrindo a estrada, pois só havia o que eu
tinha feito anteriormente, e ainda só se passava a Uma vez, fui levar gado gordo no
cavalo. Continuamos a abrir, com um trator de garimpo do Oripuri. Ia até um povoado, na
esteira, desmatamos, fizemos três pontes e nivela- Santarém-Cuiabá, por nome Moraes de Almeida.
mos a estrada para que carros pudessem passar. Deixava a Santarém-Cuiaba, entrava 200 Km até o
Rio Oripurizão. A estrada acabava ali, daí o trans-
Feito isto deixei Altamira e a fazenda, porte era feito de barco. Foi uma viagem muito difí-
que passou a chamar “fazenda abandonada”, nome cil, havia muitos atoleiros, onde quase não haviam
este por falta de assistência, e ai voltei para a Belém moradores, não tinha jeito de soltar o gado para
-Brasília, onde eu mantinha meus negócios, com- descansar, quando soltava era preciso encostar o
prando bois e levando para Belém. Não havia as caminhão em um barranco na beira da estrada e
cidades de Ribeira, Araguaina, Nova Olinda, Nova fazer uma cerca de madeira para podermos embar-
Colinas, Alvorada e Figueiropolis, naquela época. ca-los. Até sairmos do garimpo foram 12 dias A dis-
Porangatu nesta época era uma cidade bem peque- tância, de Altamira a Oripuri, era 1050 Km de estra-
nininha, pois antes da existência da Belém-Brasília das de terra, sem acostamentos e pontes de madei-
o transporte era feito por cargueiros e cavalos. ras todas quebradas. Chegando lá foi preciso espe-
Também tinha Ceres, que era colônia agrícola, rar 8 dias para matar o gado, porque haviam outros
depois Anápolis e Goiânia. Os anos foram passan- na frente.
do e o progresso chegando, e o DNER foi melho-
rando a estrada Belém- Brasília, fazendo pontes e De volta à Altamira, fui para a fazenda
asfalto. e resolvi plantar pimenta do reino, vendi o
caminhão para fazer dinheiro e comprei as mudas.
Novamente fui para Altamira, compra- Fui tirar madeira para fincar, aos pés da plantação

348
de pimenta, para poderem subir, porque eram tipos tando aterros até que acabou o trânsito e este tre-
de trepadeiras. Plantei 4000 mil pés, levou três anos cho hoje esta intransitável.
para produzir. Os preços foram abaixando e os pro-
dutores abandonaram as lavouras, mas eu insisti Alguns moradores que moravam entre
com a minha plantação. Foram dois anos sem nen- Itaituba e Jacareacanga mudaram-se. Entre
hum resultado. Fiz um financiamento, no banco da Jacareacanga e Itamarati não tinha mais ninguém,
Amazônia, em Altamira, para comprar 100 vacas, só havia mato no local, e até hoje é ainda uma
fazer currais, assentar uma balança para pesar os zona clandestina de madeira muito grande. Porto
bois. O financiamento, tinha sete anos para termi- Itamarati esta no rio Madeira .
nar, pagando no banco. O contrato, com o Banco,
previa que a TR era reajustada em 85%. Quando A Transamazônica, hoje, é movimen-
assinei o contrato, a TR estava 21%; em um ano e tada de Itaituba para Altamira e Santarém. E de
meio ela subiu para 63%. Consequentemente, a Altamira a Marabá, o progresso é maior, mas na
dívida com o banco triplicou, e o gado também pecuária, madeiras não existem mais; a agricultu-
subiu, mas todos que fizeram este tipo de negocio ra é pequena.
se atrapalharam. Quando o Presidente Fernando
Assim foram as partes da
Henrique mudou a moeda, a arroba do boi gordo
Transamazônica que conheci: entre Riachão,
subiu ,em Altamira, de 15,00 para 35,00. Eu tinha
Carolina e Estreito, no Estado do Maranhão;
188 rezes do Banco, todas gordas, fui ao Banco,
passa na ponte do rio Tocantins, na Belém-
pedi o saldo devedor e o gado dava para pagar a
Brasília, e na margem esquerda, do rio Tocantins
minha divida. Fiz o acerto.
até o rio Araguaia, na cidade de Araguantina. Este
Hoje existem muitos financiamentos trecho completa 120 Km e acabou devido aos
pelo Banco do Brasil e Banco da Amazônia. Com índios. Os movimentos que os protegiam foram
isso a cidade de Altamira cresceu muito, mas, as crescendo, e eles queimaram duas pontes e impe-
condições de escoamento dos produtos é ainda diram o trânsito de funcionar.
difícil, é feito mais por água, saindo para Belém,
Atualmente já existem frigoríficos em
e de lá segue por asfalto para o sul, sendo centro
Tacuã, Xinguara e estão construindo um em
consumidor Anápolis e Goiânia. Agora, de
Marabá. Para controlar a devastação na Amazônia
Itaituba a Jacareacanga, na margem esquerda do
não é fácil, porque tem muita gente vivendo por
rio Tapajós, são 400 Km e de Jacareacanga à
lá. E, com o asfalto até Altamira o progresso será
porto do Itamarati são 600 Km. Nesta extensão,
maior. E assim, ficou na lembrança, as dificul-
que completa 1000 Km, entre Itaituba a Itamarati,
dades do passado, e na mente a esperança de um
correu ônibus da Empresa Transbrasiliana por
dia voltar prá lá.
muito tempo. Depois, foram caindo pontes e cor-

349
2- Base de dados sobre documentos de imprensa

Primeira página, a base inteira encontra-se no CD-Rom

Cat Jornais Data Tema Tema2 Área Área2 Autor Autor2

N O estado de SP 17-déc-97 Preservação 10% WWF - unidades conservação AM Reserva


do javari ONG Amigos da Terra
N O estado de SP 05-jan-98 Impactos ambientais Atuação madeireiras asiáticas Amaz l
Jornalista Editorial
N Gazeta mercantil 27-jan-98 Impactos ambientais Desmatamento e zee Amaz l Floresta nacional
Tapajós JornalistaEditorial
L Correio braziliense 28-jan-98 Impactos ambientais Perfil do desmatamento altera PA/MT/RO
Arco do
desmatamento ONG Amigos da terra
N O estado de SP 29-jan-98 Impactos ambientais Desmatamento e readequação critérios Amaz l
Sete florestas
nacionais Jornalista Editorial
N O estado de SP 30-jan-98 Novos modelos Progr ambientais internalizados politicas publ Amaz l
Corr ecolog-ppg7
pronabio-flonas Jornalista W
Novaes
N Folha de SP 02-fév-98 Críticas pol atuais Retrocesso governo perda na lei amb Amaz l
Parlamentar Marina Silva -AC
N Jornal da tarde 04-fév-98 Críticas pol atuais Criação 7 flonas s/ sistema concessões Amaz l
Altamira, Xingu, ONG Amigos da terra
N Folha de SP 05-fév-98 Novos modelosSist monit inpe,pnial,probem,
prodex, Amaz l Órgão publ
MMA - Krause
N Folha de SP 10-fév-98 Críticas pol atuais Não implementação protocolo verde, pronaf Amaz l
ONG WWF
N O estado de SP 27-fév-98 Críticas pol atuais Medidas tímidas face ao desmatam Amaz l
Pesquisador José Goldemberg
N Parabólicas - 01-mars-98Impactos ambientais Desmatamento e pequenas propriedades Amaz l
AC, MT, PA e RO ONG ISA
N Jornal da tarde 01-mars-98 Novos negócios Produtos renováveis e joint ventures c/peq empresas
Amaz l ONG Amigos da Terra
N Globo 15-mars-98Impactos ambientais Exploração predatória dos rec naturaisAmaz l
Jornalista Editorial
L Correio braziliense 16-mars-98 Críticas pol atuais Lei crimes ambientais s/capacidade admin Amaz l
Serra do divisor/ AC ONG Amigos da
Terra

350
3- Dados sobre projetos PPA na Amazônia

A - Programas dirigidos à Amazônia

Primeira página, a base inteira encontra-se no CD-Rom

Ação função Programa valor orçamento


Gestão Amb terras indígenas Amaz G Ambiental Amazônia Sustentável 4 972 352
Apoio comun extrativistas Amaz (Amazônia Solidária) G Ambiental Amazônia Sustentável
242 620
Capac desenv sustentável Amaz G Ambiental Amazônia Sustentável 2 989 400
Desenv amb urbano Amaz G Ambiental Amazônia Sustentável 5 494 746
Expansão consolidação áreas protegidas Região AmazG Ambiental Amazônia Sustentável 17 295 998
Fomento a projeto gestão ambiental e desenv sustentável Amaz G Ambiental Amazônia Sustentável
6 450 441
Fomento projeto gestão RN Amaz (PPG7) G Ambiental Amazônia Sustentável 41 958 794
Proteção florestas tropicais Amaz (PPG7) G Ambiental Amazônia Sustentável 15 924 379
Recuperação áreas alteradas Amaz G Ambiental Amazônia Sustentável 4 966 098
Consolidação centro excelência e núcleo dif tecnológica C&T C&T para a Gestão de
Ecossistemas 15 580 000
Desenv de estudos dinâmica e composição de ecossistemas amazônicos C&T C&T
para a Gestão de Ecossistemas 7 938 420
Desenv projetos região Trópico Úmido C&T C&T para a Gestão de Ecossistemas 8 949
741
Estudos energia e aquaviário – Rede Amaz Centro Excelência C&T C&T para a Gestão de
Ecossistemas 2 400 000
Implementação centros de ciência do PPG-7 C&T C&T para a Gestão de Ecossistemas 5 624
911
Manutenção expansão acervo científico Museu Goeldi C&T C&T para a Gestão de
Ecossistemas 1 621 805
Pesquisa e desenvolvimento áreas reserva ambiental – Mamirauá C&T C&T para a Gestão de
Ecossistemas 8 054 768
Pesquisa e desenvolvimento sobre a Amaz brasileira C&T C&T para a Gestão de Ecossistemas 7 255
442
Preservação e ampliação das coleções científicas Amazônia C&T C&T para a Gestão de
Ecossistemas 1 754 151
Implementação pesquisa dirigida do PPG-7 C&T C&T para a Gestão de Ecossistemas 52 680
427
Monitoramento ambiental da Amazônia C&T C&T para a Gestão de Ecossistemas 4 013
958

351
B- Ações prováveis

Primeira página, a base inteira encontra-se no CD-Rom

Ação função Programas subfunção nacional R Norte R Nordeste Centro Oeste Valor
total
Desenvolvimento de metodologias avançadas para o agronegócio C&T Agricultura de precisão Desenv Tecnol e Eng
22 604 662
Desenvolvimento tecnol automação processos na produção agro-pecuária C&T Agricultura de precisão Desenv Tecnol e
Eng 28 042 530 50 647 192
Assistência financeira a projetos de infra-estrutura e serviços municipaisAgric Agricultura Familiar (Pronaf) Extensão Rural
106 986 603 332 490 168 82 035 664
Capacitação de agricultores familiares Agric Agricultura Familiar (Pronaf) Extensão Rural 1 842 956 5 721
311 1 409 324
Desenvolvimento do cooperativismo e associativismo rural Agric Agricultura Familiar (Pronaf) Extensão Rural
133 906 240
Estudos de avaliação do desempenho do Pronaf Agric Agricultura Familiar (Pronaf) Extensão Rural5 786 762

Execução da assistência técnica e extensão rural Agric Agricultura Familiar (Pronaf) Extensão Rural 5 619
859 17 434 327 4 292 153
Concessão de créditos para agricultores familiares Agric Agricultura Familiar - Pronaf Promoção Prod
vegetal 1 800 000 000 67 331 902 924 948 142 58 309 961
Pesquisas tecnológicas para a agricultura familiarC&T Agricultura Familiar – Pronaf Desenv Tecnol e Eng 56 466
182
Concessão crédito implantação agroindústrias vinculadas à agricultura familiar Agric Agricultura Familiar –Pronaf
Promoção Prod vegetal 1 000 000 000 4 604 581 554
Cooperação institucional e tecnológica para gestão de recursos hídricos Gambiental Aguas do Brasil Recursos Hídricos 14 088
000
Disciplinamento para atuação preventiva eventos hidrológicos críticos Gambiental Aguas do Brasil Recursos Hídricos 0

Elaboração de planos de recursos hídricos Gambiental Aguas do Brasil Recursos Hídricos16 369 008

Enquadramentos de corpos de água Gambiental Aguas do Brasil Recursos Hídricos 11 541 189

Estabelecimento critérios referenciais para cobrança uso d’água Gambiental Aguas do Brasil Recursos Hídricos 0

Estudos de monitoramento das águas de superfície e subterrânea Gambiental Aguas do Brasil Recursos Hídricos 5 545
434
Implantação Centro de Altos Estudos em Gestão das Águas Gambiental Aguas do Brasil Recursos Hídricos 11 427
529
Implantação do Sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos Gambiental Aguas do Brasil Recursos Hídricos 21 865
233
Outorga do direito de uso da água Gambiental Aguas do Brasil Recursos Hídricos6 484 033

Produção dados hidrológicos Gambiental Aguas do Brasil Recursos Hídricos3 087 852

352
3-Organogramas do PPG7

353
354
Relação das figuras
Figuras 1.1 Frentes pioneiras antigas e recentes 58
Figura 1.2 Esquemas de colonização 60
Figura 1.3 Ações do I e II PND 66
Figura 1.4 Rodovias em Rondônia 73
Figura 2.1 Terras indígenas 131
Figura 2.2 Número de Ucs e terras indígenas por município 135
Figura 3.1 Florestas e biodiversidade no mundo 149
Figura 3.2 Convenção de biodiversidade 156
Figura 3.3 ONGs no mundo 159
Figura 4.1 Desmatamento em 1976 e 1991 196
Figura 4.2 Os nove programas do PPG7 201
Figura 4.3 PGAIs e Prodesque 204
Figura 4.4 Corredores ecológicos e Resex 206
Figura 4.5 Datas de criação das Terras indígenas 207
Figura 4.6 Iniciativas promissoras Promanejo e Provarzea 209
Figura 4.7 PD/A 210
Figura 4.8 Impacto territorial do PPG7 211
Figura 5.1 a Metodologia do ZEE (esquemas das diversas etapas) 255
Figura 5.1 b Metodologia do ZEE, proposta final 256
Figura 5.2 Mapa de ZEE por Estado 265
Figura 5.3 Territórios protegidos 272
Figura 6.1 Ecorregiões e áreas de conservação 303
Figura 7.1 Sede das ONGs associadas ao GTA. 341
Figura 7.2 Áreas e territórios abordados pelos jornais 344
Figura 7.3 Projetos ambientais de ONGs e focos de calor 348
Figura 7.4 Frequência segundos os jornais 362
Figura 7.5 Temas tratados segundo abrangência dos jornais 366
Figura 7.6 Temas abordados por categoria de autores 375
Figura 7.7 Variação das áreas plantadas 1985-1966 386
Figura 8.1 Os nove eixos ENID 397
Figura 8.2 Programas gerais econômicos 411
Figura 8.3 Programas socio-ambientais e de informação e conhecimento 415
Figura 8.4 Programas relativos à Amazônia no PPA 417
Figura 8.5 Ações econômicas e sociais 424
Figura 8.6 Atividades ambientais e informações /conhecimento 427
Figura 8.7 Investimentos no eixo Araguaia Tocantins 432
Figura 8.8 Produtividade e deslocamento da soja 436
Figura 9.1 Corredores multimodais de transportes 455
Figura 9.2 Equipamento elétrico 463
Figura 9.3 Biodiversidade e estradas 466
Figura 9.4 Prioridades para conservação 474
Figura 9.5 Assentamentos e Brasil em Ação 482
Figura 9.6 Avanço da pecuarização 495
Figura 9.7 Tipologia das tendências (grau de conflitos) 497
Figura A1 Organograma do PPG7 em 1996 547
Figura A2 Organograma do PPG7 em 2001 549

355
Relação das fotografias

Foto 1.1 Colonização 53


Foto 1.2 Mineração 80
Foto 2.1 Barcos 98
Foto 2.2 Terras indígenas ou Unidades de conservação? 106
Foto 2.3 Terras indígenas 126
Foto 3.1 Florestas ou biodiversidade em perigo? 168
Foto 3.2 Desperdício 179
Foto 4.1 Beneficiamento 191
Foto 4.2 Experiências comunitárias 197
Foto 5.1 Zoneamentos 261
Foto 6.1 Ecossistemas 298
Foto 6.2 Recuperação ambiental - Peugeot 331
Foto 7.1 Fogo 354
Foto 7.2 Urucum 371
Foto 8.1 Integração 403
Foto 8.2 Rodovias 421
Foto 8.3 Saneamento 440
Foto 9.1 Serrarias 448
Foto 9.2 Conscientização 470
Foto 9.3 Boiada 478
Foto 9.4 Linha em assentamento e vicinal 487

Todas as fotografias são de autoria de Hervé Théry, com exceção de uma das fotografias da prancha
“Mineração” (Serra Pelada, à esquerda), que é de autoria de Hervé Collart Odinetz e tirada do livro
L’Amazone Time Life 1995.

356
Relação de siglas
AMA Projeto de Monitoramento e Análise do PPG7
BIRD Banco Mundial
BNDES Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social
CCZEE Comissão Coordenadora Nacional do Zoneamento Ecológico-Econômico
CEC Comissão das Comunidades Européias £££
CIMA Comissão Interministerial para Preparação da Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento
CIMI Conselho Indigenista Missionário
CNUMAD Conferência das Nações Unidades sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
CORPAM Comissão Coordenadora Regional de Pesquisas da Amazônia
CUNPIR Coordenação da União das Nações e Povos Indígenas de Rondônia, Noroeste do
Mato Grosso e Sul do Amazonas
CVRD Companhia Vale do Rio Doce
ECOSOC Conselho Econômico e Social das Nações Unidas
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EMBRAPA-CPATUCentro de Pesquisa Agroflorestal da Amazônia Oriental
ENID Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento
FAO Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura
FASE -
FBCN Fundação Brasileira para Conservação da Natureza
FCO Fundo Constitucional do Centro-Oeste
FINAM Fundo de Investimento da Amazônia
FINEP Agência Financiadora de Estudos e Projetos
FINOR Financiamento
FNE Fundo Constitucional do Nordeste
FNMA Fundo Nacional de Meio Ambiente
FNO Fundo Constitucional do Norte
FSC Forest Stewardship Council Conselho Brasileiro de Manejo Florestal
FUNAI Fundação Nacional do Indio
FUNBIO Fundo Nacional de Biodiversidade
FUNTAC Fundação de Tecnologia do Estado do Acre-FUNTAC.
GOB Governo da República Federativa do Brasil
IAG Grupo de Assessoramento Internacional
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
IBASE Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas
IBDF Instituto Brasileiro do Desenvolvimento Florestal
ICV Instituto Centro de Vida
IFC/CDS Painel Internacional de Florestas da Comissão de Desenvolvimento Sustentável das
Nações Unidas
IMAZON Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia
INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
INPA Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
ISA Instituto Sócio-Ambiental
ISPN Instituto Sociedade, População e Natureza

357
ITAMARATY Ministério das Relações Exteriores
IUCN União Internacional para a Conservação da Natureza
KfW Kreditanstalt fur Wiederaufbau (Governo da Alemanha)
MMA Ministério do Meio Ambiente
MPO Ministério do Planejamento e Orçamento
MUSEU GOELDI Museu Paraense Emílio Goeldi, de Belém
NAEA Núcleo de Altos Estudos Amazônicos
OEA Organização dos Estados Americanos
OEMA Instituições Estaduais de Meio Ambiente
OMC Organização Mundial de Comércio
OMS Organização Mundial da Saúde
ONG Organizações não-governamentais
ONU Organização das Nações Unidas
PDPI Projetos Demonstrativos dos povos indígenas do PPG7
PESACRE Grupo de Pesquisa e Extensão em Sistemas Agroflorestais do Acre
PGFN Procuradoria Geral da Fazenda Nacional
PIB Produto Interno Bruto
PIC Projeto Integrados de Colonização
PIN Programa de Integração Nacional
PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro
PNIAL Política Nacional Integrada da Amazônia Legal
PNMA II 2° Programa Nacional de Meio Ambiente
PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
POLAMAZÔNIA Programa de Polos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia
PPA Planos PluriAnuais
PPTAL Projeto Integrado de Proteção às Populações e das Terras Indigenas da Amazônia
Legal do PPG7
PREPCOM Preparatory Committee da CNUMAD
PROBEM Programa Nacional de Ecologia Molecular para o Uso Sustentável da Biodiversidade
da Amazônia
PRODEX Programa de Desenvolvimento Sustentável através do Extrativismo do BASA
PRODIAT Programa de Desenvolvimento Integrado Araguaia-Tocantins
PROECOTUR Programa de Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazônia Legal
PROMANEJO Programa de Apoio ao Manejo Sustentável na Amazônia
PRONABIO Programa Nacional da Diversidade Biológica
PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
PRONAF-RA Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar «grupo A»
PRO-NATUREZA Programa de Preservação da Natureza
PSDB Partido da Social Democracia Brasileira
PT Partido dos Trabalhadores
REBRAF Instituto Rede Brasileira Agroflorestal
RESEX Projeto das Reservas Extrativistas do PPG7
RFT Fundo Fiduciário das Florestas Tropicais
RMT Revisão de Meio Termo do PPG7
SADEN Secretaria de Assessoramento da Defesa Nacional
SAE Secretaria de Assuntos Estratégicos
SCA Secretaria de Coordenação da Amazônia do MMA
SDS Secretaria de Desenvolvimento Sustentável do MMA

358
SEAIN Secretaria de Assuntos Internacionais do Ministério do Planejamento
SEMA Secretaria Especial de Meio Ambiente
SEMAM Secretaria de Meio Ambiente da Presidência da República
SIVAM Sistema de Vigilância da Amazônia
SIPAM Sistema de Proteção da Amazônia
SNUC Sistema Naciona de Unidades de Conservação
SPRN Subprograma de Políticas de Recursos Naturais do PPG7
SPVEA Superintendência do Plano de Valorização da Amazônia
STN Secretaria do Tesouro Nacional
SUDAM Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia
SUDEPE Superintendência de Desenvolvimento da Pesca
SUDHEVEA Superintendência da Borracha
TCA Tratado de Cooperação Amazônica
UA Unidade de Administração de Projeto do PPG7
UFPA Universidade Federal do Pará
UNAMAZ União das Universidades Amazônicas
UNCED United Nations Conference for Environment and Development
UNEP United Nations Environment Program
WRI Woods Hole Research Center
WWF World Wildlife Foundation
ZEE Zoneamento Ecológico-Econômico

359

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