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Ordens Terceiras Franciscanas Setecentistas: três casos de emancipação espacial na arquitetura brasileira
capela fica visível através da gravura Rio Genero (1624) que ilustra o Reys-boeck
van het rijcke Brasilien. 8 A ilustração, realizada dezoito anos após a fundação
do convento, apresenta nitidamente a capela acoplada perpendicularmente ao
corpo da igreja, que na época estava vinculada à única instituição franciscana
brasileira – a Custódia de Santo Antônio do Brasil, 9 devendo como tal, assumir
configuração física semelhante àquela adotada nas casas nordestinas. 10
No convento de São Francisco de São Paulo, a existência da primitiva capela
dos terceiros com semelhante configuração está registrada em documento
existente no arquivo da casa do Rio de Janeiro, que, escrito em 1743, assim
se refere ao espaço de orações dos leigos franciscanos: “Nesse convento se
acha sita uma capela cujo arco está na parede de nossa igreja, a qual pertence
à Ordem Terceira da Penitência”. E acrescenta que em 1676 “principiaram os
irmãos terceiros a fazer a sua capela”. 11 Nesse caso apesar de a capela só ter
início trinta e sete anos após a fundação do convento, há registros de haver
terceiros no mesmo “logo do princípio de sua fundação”. 12
No âmbito dos conventos nordestinos, Frei Antônio de Santa Maria
Jaboatão, nomeado cronista da então Província de Santo Antônio do Brasil
em 1755, 13 se refere à instituição das Ordens Terceiras vinculadas às citadas
casas religiosas alguns anos logo após sua fundação. No caso da vila de Olinda,
onde foi fundado o primeiro cenóbio franciscano brasileiro, em 1585, 14 a
8 REIS, 2000:159.
9 Custódia compreendia um ou mais conventos que não qualificavam para constituir uma Província, já que a
constituição desta previa a associação de no mínimo oito comunidades de frades.
10 Entre 1585 e 1660 todos os conventos franciscanos brasileiros pertenciam à antiga custódia criada em
Lisboa em 1584, a qual se tornou Província de Santo Antônio do Brasil em 1657. A partir de meados do século
XVII os conventos do sudeste, já ultrapassando o requisito mínimo para criação de província – oito casas – se
emanciparam, constituindo outra província – a da Imaculada Conceição.
13 WILLEKE, 1977:92.
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... a quadra oposta à igreja que está para o Sul, com porta
principal ao Nascente, e um bem ordenado antiportico,
correspondente aos sinquo arcos de pedra lavrada, três sobre
que assenta a parede principal do frontispício, e dous ao lado
destes três, hum que dá entrada para a nossa portaria, da parte
do Norte, e outro ao Sul para a portaria dos Terceyros. 24
Considerando a forma como Frei Jaboatão redigiu seu texto na segunda metade
do século XVIII, fica claro que as capelas dos Terceiros já eram encaradas como
casas de oração independentes, com entrada própria, havendo ligação entre as
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duas Ordens apenas através da galilé. A provisão de entrada lateral exclusiva para
a confraternidade não implicou em fechamento do arco monumental aberto para
a nave da igreja conventual, sendo o mesmo via de regra guarnecido por gradil de
madeira torneada e entalhada, como se vê na casa da Paraíba.
No caso dos conventos de Penedo e de São Cristóvão, a emancipação
espacial ocorreu de forma diversa. Como tais conventos, providos de pórtico
de três arcos, tinham quadra claustral anexa e alinhada com o frontispício
da igreja, era impossível serem acrescentados arcos às suas extremidades,
exatamente aqueles que garantiriam as entradas independentes para as duas
Ordens a partir da galilé, como ocorrera na Paraíba e no Recife. Assim sendo,
foram anexados vestíbulos/corredores às laterais externas das respectivas
capelas das Ordens Terceiras a partir dos quais o acesso a elas ficava
totalmente independente das instalações do convento (FIGURA 3). Analogamente
ao caso anterior, o arco monumental de acesso à capela foi preservado.
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27 Sobre a criação da Custódia de Santo Antônio do Brasil, ver CONCEIÇÃO, 1733: 21-22.
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34 As instalações físicas da Ordem Terceira eram construídas em área cedida pelos frades menores, mediante
contrato de cessão celebrado em Capítulo ou congregação, que eram as reuniões periódicas (trienais ou
bienais) onde se deliberava sobre questões de ordem administrativa e religiosa da Província franciscana à qual
o convento estava vinculado.
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40 O Ministro era o representante legal da Venerável Ordem Terceira, aquele que presidia a instituição, e
deliberava, junto à mesa administrativa, sobre as ações da confraternidade.
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43 Ibid.: 24.
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46 O Definitório da Bahia constituia a instãncia através da qual eram tomadas as decisões concernentes as
solicitações das Ordens Terceiras, já que o convento de Salvador era sede da província franciscana.
49 Ibid.: 612-613.
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Considerações finais
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Bibliografia
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anos no Brasil; trans. Brandão, Cláudio. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife.
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5. ed. Recife: UFPE, 1975.
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