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ROTEIRO Nº 2

PEQUENA RESENHA HISTÓRICA DA ORDEM


TERCEIRA DO CARMO

Diferentemente das demais Ordens Terceiras — como por


exemplo a dos franciscanos, que desde o início tiveram uma
“Regra Terceira” — a Ordem Terceira do Carmo sofreu uma
lenta evolução.
A Ordem Carmelita surgiu no Monte Carmelo, na Palestina,
entre a metade do século XII e o início do século XIII. Motivos
de ordem política obrigaram logo os religiosos a dirigir-se a
Europa (cfr. roteiro nº 1), onde a Ordem se desenvolveu em duas
direções:
 adaptação às Ordens mendicantes (Humilhados, em
1201; franciscanos, em 1209; dominicanos, em 1216;
etc.) e
 a manutenção das instituições próprias dos Monges, que
tinha caracterizado a organização inicial.
Uma destas instituições monásticas era a “Oblação” pela qual
alguns membros se uniam àqueles que tinham entrado na Ordem
pela via normal da profissão religiosa. Apareceram assim os
“Conversos” ou “Donatos” — homens ou mulheres das mais
variadas denominações e agregados à Ordem de vários modos.
Foi o Papa Nicolau V é que com a bula “Cum nulla” de 7 de
outubro de 1452 que reconheceu oficialmente um estado de fato
já amplamente em uso. Foi assim que se desenvolveu uma dupla
instituição:
 a que resultou na Ordem II feminina com votos solenes,
vida comum e consequentemente clausura estrita
 e aqueles que não abraçavam a vida comum nem a
clausura rigorosa e estes um pouco mais tarde
chamaram-se “terceiros”, expressão inexata porque na
realidade tinham voto solene (pobreza, que incluía a
negação da propriedade, castidade e obediência).
Tal “solenidade” dos votos foi negada pelas Congregações
Romanas em 1583.
Adotaram então duas soluções: uma, a de continuar com os
votos, embora não solenes; outra, a de abolir o voto de pobreza e
tornar livre o voto de castidade celibatária ou matrimonial, com
a possibilidade de contrair matrimónio, mesmo depois dos
votos. Mas os “Privilégios dos terceiros” eram para a primeira
categoria de pessoas.
Mais especificamente, porém, o nome de “terceiro” (porque
permaneciam “seculares”, isto é, não faziam os votos), aplicou-
se aos assim chamados confrades ou consócias que juntamente
com os da “fraternidade” da Ordem assumiam compromissos de
vida espiritual, determinados por uma Regra e usavam como
distintivo uma capa branca. A organização destes — a exemplo
do modelo da Ordem Terceira da Penitência (Franciscanos) e
das outras Ordens Terceiras dos Mendicantes — tornara-se
possível por força de uma concessão de Sisto IV, em 1476.

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Uma terceira corrente que depois resultou na Ordem Terceira foi
a das “Confrarias de Nossa Senhora do Carmo” que usavam
como insígnia o Escapulário. Para gozar do “privilégio
sabatino” depois de 1580, muitos inscritos em tais confrarias
adotaram em grande parte as obrigações dos confrades terceiros,
tornando assim impercetível a distinção entre os membros das
duas associações (a do Escapulário e a da Capa Branca) e não
faltaram as lutas entre as duas. Paulo V, em 1606, reservou o
“privilégio dos confrades” aos adstritos ao Escapulário, e os de
Capa Branca deveriam ou aceitar a vida da Ordem Terceira ou
escolher a da Confraria.
O esclarecimento definitivo deu-se em 1637, quando o Geral da
Ordem de então, Teodoro Stracci, agregou à Ordem Terceira os
confrades e consócias que emitiam os votos de obediência e
castidade segundo o próprio estado e reservou aos outros a
Confraria do Escapulário. Por isso a Ordem Terceira foi
praticamente reservada unicamente às senhoras célebres com
voto; mas devido a gravidade das obrigações, o seu número foi
se tornando cada vez mais reduzido.
Na primeira metade do século XVIII em Florença, Roma e
Bolonha, tratou-se de mudar a situação, abolindo-se pelo menos
o hábito religioso e substituindo-o pelo escapulário pequeno;
mas não se obteve o resultado desejado.
Foi com uma maior “secularização” (no bom sentido) resultante
de novas edições da Regra e dos Estatutos da Ordem Terceira
(1849, 1869, 1896, 1915) que se conseguiu dar a Ordem
Terceira masculina e feminina um desenvolvimento numérico

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vistoso e nos Registos dos Superiores Gerais da Ordem no
último quartel do século XIX, começaram a aparecer as
“Ereções canónicas da Ordem Terceira”.
Na edição da Regra de 1924, foram abolidos os votos de
obediência e castidade, reintroduzidos facultativamente em
1948. E é desta mesma forma que está adotada na Regra atual,
que acentua claramente o caráter “laical” da Ordem Terceira1.

1
Cf. Claudio CATENA, «Carmelitani», in Dizionario degli Istituti di
Perfeizione, vol. 2, pp. 515-521.

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