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Poetica
Material Teórico
O soneto e o diálogo entre a literatura e a filosofia
Revisão Textual:
Profa. Ms. Silvia Augusta Albert
O soneto e o diálogo entre a literatura
e a filosofia
Para que você consiga apreender de modo adequado o conteúdo da disciplina, é necessário que
realize o seguinte percurso:
a) Leitura da contextualização;
b) L
eitura do material teórico (esta leitura deve ser feita várias vezes destacando-se os principais
conceitos ou as definições contidas no texto, bem como procurando compreendê-las por meio
dos exemplos);
c) Realização da atividade de sistematização;
d) Realização da atividade de aprofundamento;
e) Consulta ao Material Complementar fornecido e visita aos sites sugeridos;
f) L
eitura da bibliografia da unidade, especialmente a que se encontra na biblioteca virtual
da universidade. Assim você entrará em contato com diferentes visões sobre o conteúdo
abordado, além de obter um repertório maior de conceitos sobre a lírica e métodos de análise
de textos poéticos.
g) C
ontato com o professor tutor para esclarecer dúvidas ou mesmo expor suas ideias a respeito
do assunto.
Lembre-se, a disciplina é a distância, mas isso não significa que você está sozinho nesse processo: o
diálogo é a forma mais produtiva de ensino e aprendizagem. É preciso compreender, ainda, que o
estudo deve ir além dos conteúdos disponibilizados nos textos da unidade e a forma de fazer isso é
consultar a bibliografia indicada.
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Unidade: O soneto e o diálogo entre a literatura e a filosofia
Contextualização
A literatura é uma forma de conhecimento e, como tal, dialoga com outras formas de
conhecimento. Entre elas, podemos encontrar tanto as diversas expressões populares, cristalizadas
na memória coletiva, quanto alguns conceitos filosóficos.
Não devemos entender o texto como simples tradução de conceitos de outras áreas, mas
podemos utilizar esses mesmos conceitos para realizar um exercício de leitura que amplie nossa
capacidade de compreensão da obra literária. Dessa forma, ampliamos a possibilidade de
compreender como o sujeito dialoga com essas outras formas de conhecimento.
Nesse sentido, esta unidade traz um gênero poético clássico, o soneto, construído no período
parnasiano, final do século XIX e início do século XX, em que se valorizava o aspecto formal,
para mostrar que se pode extrair do texto elementos que nos remetem tanto aos adágios, ditos
populares, quanto a mitologias grega e judaico-cristã. Além de nos remeter também à filosofia
do final do século XIX.
Trata-se, é claro, de uma possibilidade de leitura que não invalida outras, mas apresenta um
método que procura aliar aspectos formais, figuras de linguagem a elementos do conteúdo para
que você, caro aluno, reflita que não é possível dissociar a análise dos fenômenos linguísticos
da análise do conteúdo.
Portanto, fique atento às relações que vamos estabelecer para ampliar suas possibilidades de
leitura dos textos literários, principalmente dos poemas.
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O soneto e o diálogo entre a literatura e a filosofia
Muitas vezes, a ideia que se tem de literatura é a de algo distante do cotidiano. Em determinados
períodos, a literatura foi vista como algo elitizado e o conceito de belo como algo ligado apenas
aos modelos clássicos da antiguidade greco-latina. Um desses momentos foi o Parnasianismo,
tendência literária de origem francesa que também foi adotada no Brasil na segunda metade
do século XIX.
Como uma tentativa de reagir ao excesso de sentimentalismo do período anterior, o
Romantismo, os adeptos do Parnasianismo pregavam o racionalismo, a arte pela arte, o culto
às formas clássicas, como o soneto. Fazer poesia significava ter a capacidade de encontrar rimas
raras, construir versos rigorosamente metrificados. O nome do movimento remete a Parnasos,
um monte situado no centro da Grécia, sobre a antiga cidade de Delfos, a norte do golfo de
Corinto. Segundo a mitologia grega, era uma das residências do deus Apolo, justamente o deus
da beleza e de suas nove musas.
Na prática, porém, a literatura é indissociável da vida humana e os temas de que se apropria
são aqueles que fazem parte da nossa experiência, ainda que expostos de modo elevado.
Também é muito difícil para o artista manter a racionalidade diante de um gênero – o poético –
que se presta à expressão dos sentimentos.
Nesta unidade, vamos pensar sobre isso. Faremos a análise de um soneto, conceito com o
qual você já tomou contato nas unidades anteriores. Elegemos como uma das especificidades
fundamentais do gênero a sua característica racional e seu forte teor argumentativo. Em confronto
com essa rigidez formal, vamos estudar o tema que um soneto de Vicente de Carvalho, “Velho
Tema”, desenvolve. Vamos observar que, apesar do uso da forma clássica, o texto apresenta
uma série de conceitos que derivam de ditos populares. Além disso, o sujeito por assim dizer
costura aspectos da mitologia clássica e da ideologia judaico-cristã. Tudo isso irá se misturar às
condições de produção do poema: a segunda metade do século XIX e as correntes pessimistas
da filosofia da época.
Para realizar esse percurso, vamos convidá-lo a ler (e reler) o soneto que será apresentado a
seguir. Para analisar esse texto, vamos tecer considerações sobre o gênero soneto e as principais
figuras de linguagem e mostrar como esses elementos produzem sentido no texto.
Velho tema
Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais, a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.
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Unidade: O soneto e o diálogo entre a literatura e a filosofia
Então vamos à análise do poema “Velho Tema”. O texto anterior é um soneto, palavra
originária do italiano que significa “pequeno som”. Esse tipo de poema teve origem na lírica
italiana do século XII e é composto por duas quadras ou quartetos e dois tercetos. Geralmente,
segue uma rígida estrutura quanto à rima e é composto, na maioria dos casos, por versos
decassílabos. Também é desejável que o soneto seja concluído com uma “chave de ouro”,
ou seja, que no terceto final haja uma conclusão marcada por algum procedimento estilístico
especial, uma ideia brilhante que arremate o poema de forma original e bela.
O soneto é tem afinidades com o silogismo, o que o transforma em uma
estrutura argumentativa.
Glossário
Silogismo: segundo o aristotelismo, raciocínio dedutivo estruturado formalmente a partir de duas
proposições, ditas premissas, das quais, por inferência, se obtém necessariamente uma terceira,
chamada conclusão (p.ex.: “todos os homens são mortais; os gregos são homens; logo, os gregos
são mortais”).
Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa. Disponível em: http://houaiss.uol.com.br/
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Observando atentamente, percebemos que o poema transita do físico para o metafísico e
a ponte que liga esses dois estágios é a esperança da hora feliz. O poema trata do desejo de
felicidade que o homem jamais atinge, um sonho que é frustrado invariavelmente pela morte.
No primeiro quarteto, prevalecem as referências à “vida”, “à pena de viver” e à “existência”
(plano físico). No segundo, encontramos as expressões “eterno sonho” e “alma desterrada”
(plano metafísico). Há, neste trânsito, a ideia implícita de que a vida material (física) constitui
um caminho para a morte (metafísica).
Neste soneto de Vicente de Carvalho, o que chama a atenção, além da metáfora empregada
para a felicidade (árvore toda enfeitada de frutos dourados), é a utilização da paronomásia,
que vem a ser o emprego de palavras semelhantes na forma ou na prosódia - pronúncia - mas
opostas ou aparentadas no sentido, presente nos dois tercetos.
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Unidade: O soneto e o diálogo entre a literatura e a filosofia
Um bom texto, via de regra, apresenta uma série de procedimentos estilísticos que se combinam
para conferir maior valor conotativo à mensagem. No caso do soneto de Vicente de Carvalho,
isso não é diferente. Apesar da aura clássica, erudita, de que se reveste o soneto pela forma e
pelo momento literário em que ocorre, o Parnasianismo, o poema é todo estruturado por meio
do aproveitamento de adágios, ou seja, ditos populares que compõem o senso comum.
Glossário
Parnasianismo: movimento literário do século XIX que valorizava a arte pela arte; valorizava
a forma e procurava inspiração nos temas clássicos. Daí a importância dada ao soneto, às rimas
e à forma.
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Ambos os mitos, o grego e o judaico-cristão, remetem-nos à ideia da existência terrena como
desterro, resultado do rompimento que o homem, em algum momento, teve com a divindade
e, em consequência, o mundo tornou-se hostil a ele.
A ideia da felicidade como bem que nunca se alcança, resumida no segundo quarteto:
“É uma hora feliz, sempre adiada / E que não chega nunca em toda a vida” ganha força,
estilisticamente, por meio da utilização do quiasmo existente no último terceto. O quiasmo
“consiste no cruzamento de grupos sintáticos paralelos, de forma que um vocábulo do primeiro
se repete no segundo, em posição inversa (A B x B A)” (MOISÉS, 1997, p. 426):
Informação
William James Durant (1885 —1981) - filósofo, historiador e escritor estadunidense, conhecido
por sua autoria e co-autoria, junto à sua esposa Ariel Durant, da coleção A História da Civilização.
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Unidade: O soneto e o diálogo entre a literatura e a filosofia
Desse modo, é importante notar que um texto literário evoca, por meio de uma leitura atenta,
uma série de conceitos advindos de várias áreas do conhecimento com os quais dialoga. Assim,
além da observação de aspectos formais, é possível extrairmos uma série de sentidos que
ampliam a perspectiva de leitura do poema. Nesse caso, evidenciamos o diálogo estabelecido
tanto com os ditos populares quanto com a filosofia, tanto com o espírito clássico quanto com
o popular.
É importante que você leia outros poemas e procure neles ecos de outros textos tanto
literários quanto de outras áreas do conhecimento: filosofia, religião, ciência. É sabido que todo
discurso surge interligado a uma rede de outros discursos e compõe um sistema interdiscursivo
em interação com os discursos que o precedem e que o sucederão. Nesse processo, um discurso
pode citar, comentar, parodiar, enfim, dialogar com os outros transformando-se em um campo
em que locutores e vozes ocupando diferentes posições ideológicas, culturais e sociais interagem
uns com os outros.
É só a partir da identificação das diferentes fontes de onde emanam as diferentes vozes e
da busca de identificar a função ou o propósito de cada uma delas que podemos fazer uma
leitura interativa do texto. Quando se trata de um texto literário, essa tarefa se complica dada
a complexidade dos recursos expressivos mobilizados intencionalmente pelo sujeito. O que
pretendemos mostrar, não só nesta unidade, mas ao longo de toda disciplina, é que não basta
descrever a estrutura dos textos literários, mas extrair sentido da disposição dos elementos
estruturais do poema e buscar compreender como os temas remetem a outros temas. Enfim, o
que desejamos é que você se torne um leitor crítico que identifique a dimensão expressiva do
material literário.
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Material Complementar
Para que você possa entender melhor ainda como se analisa poemas, é indispensável que
você leia o livro: CANDIDO, A. Na sala de aula: caderno de análise literária. 8. ed. São Paulo:
Ática, 2000. (E-book)
Para esta atividade, já que abordamos como uma forma clássica tal qual o soneto, por
exemplo, pode reunir ditos populares e também recorrer a imagens da mitologia e a sínteses
de teorias filosóficas, leia o capítulo “No Coração do silêncio”, páginas 55 a 67. Nele, o crítico
analisa, a partir de um poema do também Parnasiano Alberto de Oliveira, aspectos da obra do
poeta. Apesar de o texto não se tratar de um soneto, prevalecem as ideias de inspiração clássica.
Este livro está disponível na Biblioteca Virtual da Universidade, acessível por meio do link:
http://sites.cruzeirodosulvirtual.com.br/biblioteca
Depois de acessar o sistema com seu login, clique em “E-books da Pearson (em português)”.
É muito importante você fichar o capítulo, pois assim poderá reler os principais conceitos
sempre que quiser sem ter de recorrer à leitura do capítulo todo. Além disso, o fichamento faz
com que você treine as habilidades de síntese e paráfrase de conceitos.
Bom trabalho!
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Unidade: O soneto e o diálogo entre a literatura e a filosofia
Referências
DURAND, Will. História da filosofia: vida e ideias dos grandes filósofos. 2v. Trad. Monteiro
Lobato. 10ª ed. São Paulo: São Paulo Editora, 1959.
BOSI, Alfredo (org.). Leitura de poesia. São Paulo : Ática, 2007. (E-book)
CANDIDO, A. Na sala de aula: caderno de análise literária. 8. ed. São Paulo: Ática, 2000.
(E-book)
GOLDSTEIN, N. S. Versos, sons, ritmos. 14. ed. São Paulo: Ática, 2007. (E-book)
MICHELETTI, G.; BOAVENTURA, A.; CURY, B. Estilística: um modo de ler... poesia. 2. ed. São
Paulo: Andross Editora, 2006.
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Anotações
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www.cruzeirodosulvirtual.com.br
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Tel: (55 11) 3385-3000