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Clínica Médica II - Neurologia

DEMÊNCIAS
CONCEITO
 É uma síndrome adquirida de declínio de memória e de outras funções cognitivas, a partir de um nível prévio mais
elevado, importante o suficiente para interferir nas atividades da vida diária (capacidade funcional) e na
independência. Também se caracteriza por surgimento de alterações comportamentais em indivíduo alerta. O
aparecimento de sintomas é insidioso e gradual.
 A definição de disfunção cognitiva da demência requer déficit em 3 dos campos:
o Memória;
o Linguagem;
o Capacidades visuais e espaciais;
o Personalidade;
o Capacidades cognitivas instrumentais: abstração, cálculo, julgamento;
o Capacidades cognitivas executivas: ocorre apraxia ideomotora;

FATORES RELACIONADOS
 De risco: idade, sexo feminino, baixo nível educacional, história familiar, fatores genéticos;
 De proteção: alto nível educacional, boa quantidade de atividades de lazer (praticadas a longo prazo);
 Neurotransmissores:
o ↓ de acetilcolina;
o ↑ glutamato;

EPIDEMIOLOGIA
 A prevalência de demência é de 2,8% para a faixa etária de 70-74 anos e de 5,6% para o grupo de 75-79 anos. As
taxas duplicam a cada 5 anos de idade!
 A principal causa de demência é a Doença de Alzheimer (60%), seguida da demência vascular (20%). A demência de
corpos de Lewy é responsável por outros 15%.
 Uma pequena porção das demências é reversível e inclui intoxicações, distúrbios metabólicos, infecções, deficiências
e transtornos cardiopulmonares.
 Outras causas: tumores, traumática...

DETECÇÃO DO QUADRO DE DEMÊNCIA


 Raramente os pacientes procuram ajuda médica para os sintomas de demência, normalmente quem procura auxílio
é a família.
 Há um mito de que o envelhecimento normal é sinônimo de memória comprometida.
 A partir dos 75 anos, o exame do estado mental deve ser rotina entre os médicos.

Quadro clínico
 Início insidioso com evolução lentamente progressiva;
 Dura de meses a anos.
 Ciclo sono/vigília com sono fragmentado;
 Funções mentais:
o Nível de consciência: normal até fases tardia da doença;
o Comportamento: normal a lento, podendo ser inadequado;
o Discurso: afasia, dificuldade para encontrar palavras;
o Humor: embotado, deprimido;
o Processos ideativos: empobrecidos, o discurso fornece pouca informação;
o Conteúdo ideativo: podem ocorrer delírios;
o Aprendizado: crescentemente prejudicado ao longo da evolução da doença;
o Orientação: prejudicada nas fases tardias da doença;
o Atenção: em geral não é afetada até fases tardias da doença;
o Memória: prejuízo da recente e da capacidade de aprendizado de dados novos;

AVALIAÇÃO COGNITIVA
 Devem ser revisadas com um familiar ou cuidador, e geralmente é melhor discutida na ausência do paciente.
 Instrumentos de rastreio cognitivo geral:
o Mini-Exame do Estado Mental: avalia orientação, registro, atenção e cálculo, memória, denominação,
repetição, compreensão, leitura, escrita, visual e espacial;

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 Escore total máximo é 30 pontos, sendo que há dois pontos de corte:


 Pacientes com escolaridade > 4 anos completos: escore 24;
 Pacientes com escolaridade < 4 anos: escore 17;
o Teste de fluência verbal;
o Teste de desenhar o relógio;
o Escala CDR (Clinical Dementia Rating) – instrumento de diagnóstico e classificação da gravidade da
demência e de detecção de comprometimento cognitivo leve.

EXAMES LABORATORIAIS
 Hemograma, glicemia, eletrólitos, cálcio, uréia, creatinina, provas de função hepática, provas de função tireóidea,
vitamina B12 sérica, sorologia para sífilic, exame de neuroimagem (TC ou RM).
o Na doença de Alzheimer, a TC pode ser normal ou mostrar apenas atrofia cerebral;

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
 Envelhecimento, comprometimento cognitivo leve, delirium, depressão, psicose.

SÍNDROME DEMENCIAL CARACTERÍSTICAS DISTINTIVAS


Doença de Alzheimer Amnésia anterógrada proeminente de início gradual. Outros déficits cognitivos
podem estar presentes com a progressão da doença, mas podem ser leves no início.
Demência vascular História: anormalidades vasculares, incluindo história de AVC, e comprometimento
cognitivo.
Exame neurológico: sinais de tronco, achados motores assimétricos.
Imagem: infartos
Demência rapidamente progressiva História: apresentação em semanas, meses. História clínica sugere doença sistêmica.
Crises convulsivas, cefaléia, anormalidades motoras inesperadas estão presentes.
Demência associada ao História: anormalidades motoras antecedem o comprometimento cognitivo.
parkinsonismo Exame neurológico: sinais extrapiramidais.
Demência frontotemporal História: alterações no julgamento e no comportamento social.
Exame do estado mental: déficit executivo excede amnésia anterógrada.

TRATAMENTO - FARMACOLÓGICO
 Risperidona e olanzapina: Úteis para reduzir a agressividade. Risperidona reduz psicose, mas ambos estão
associados a efeitos adversos cerebrovasculares graves e sintomas extrapiramidais.
 Inibidores da colinesterase: (Donepezil) Aumento da secreção ou prolongamento da meia-vida da acetilcolina na
fenda sináptica em áreas relevantes no cérebro. Esse fármaco retarda a degradação da Ach naturalmente secretada.
Nas doses mais altas mostram eficácia no que diz respeito à função cognitiva, às atividades da vida diária, ao
comportamento e ao estado clínico global quando comparados ao placebo. EA: náusea, anorexia, vômito, cefaléia,
dor abdominal. A prescrição não deve ser continuada nos casos de falta de benefício. Uma tentativa de 3 meses é
apropriada.
 Drogas não-inibidoras da colinesterase: (Memantina) Modula o sistema glutamatérgico, bloqueando o receptor do
tipo NMDA. O aumento da ação excitatória desse aminoácido tem um papel na patogênese do dano provocado pelo
AVC isquêmico e, possivelmente, na DA. Foi associada a uma pequena melhora na função cognitiva em pacientes
com DA leve-moderada, DV ou mista. EA: maior impaciência e agitação.

DOENÇA DE ALZHEIMER

EPIDEMIOLOGIA
 A prevalência aumenta com a idade (é a causa mais comum de demência senil e pré-senil) e é maior entre as
mulheres e em pessoas de escolaridade mais baixa.
 4 fatores de risco bem definidos:
o Aumento da idade;
o Alelo e4 da apolipoproteína E;
o História familiar;
o Síndrome de Down;
 Fatores de proteção:
o Alto nível educacional;
o Atividades de lazer a longo prazo

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FISIOPATOLOGIA
 É uma doença do tipo cortical, degenerativa;
 Os neurônios do córtex cerebral (especialmente do lobo parietal, hipocampo e nucleus basalis de Meynert) estão
depletados de acetilcolina e outros neutrotransmissores;
 A degeneração neuronal é decorrente do acúmulo de placas senis amiloides (formadas pela proteína amiloide
Abeta) no interstício e de novelos neurofibrilares no citoplasma dos neurônios;

QUADRO CLÍNICO
 Primeiro estágio: O achado clínico predominante é a perda de memória para fatos recentes. A linguagem pode estar
alterada, com discurso vazio, poucos substantivos e pobreza de idéias, além de anomia e dificuldade de geração de
uma lista de palavras. Habilidades visuoespaciais podem estar alteradas, como perder-se nos arredores se deixado
sozinho. Tem dificuldade em planejar atividades complexas.
 Segundo estágio: Ambas as memórias recente e remota estão bastante comprometidas. A alteração da linguagem é
caracterizada por discurso fluente parafásico e prejuízo da compreensão. As habilidades visuoespaciais vão sendo
prejudicadas, perdem-se na própria casa. Cálculo e abstração estão comprometidos. Começa com dificuldades em
reconhecer familiares. Apraxia para vestir-se e utilizar alguns utensílios.
 Estágio final: Todas as funções cognitivas estão gravemente comprometidas. A fluência verbal se reduz a ecolalia,
palilalia ou mutismo. Ocorre incontinência esfincteriana, postura de flexão dos 4 membros, com rigidez
generalizada. O óbito geralmente ocorre por pneumonia aspirativa ou ITU com sepse. Déficit grave em reconhecer
familiares.

*Obs.: alterações de comportamento, desde apatia até delírios, alucinações, agitação e agressividade são comuns no curso
da doença, ocorrendo em até 80% dos casos.

 Então >> 10 sinais de alerta para Alzheimer:


o Déficit de memória precoce;
o Dificuldades de executar tarefas domésticas: apraxias;
o Problema com o vocabulário: dificuldade em encontrar as palavras;
o Desorientação no tempo e no espaço: distúrbios visuais e espaciais (agnosias);
o Incapacidade de julgar situações;
o Problemas com o raciocínio abstrato; incapacidade de fazer cálculos;
o Colocar objetos em lugares equivocados;
o Alterações de comportamento;
o Alterações de personalidade;
o Perda da iniciativa (passividade, apatia): distúrbio comportamental;

DIAGNÓSTICO
 É clínico! Critérios mais utilizados:

DSM-IV
- Vários déficits cognitivos devem estar presentes, um dos quais deve ser perda de memória.
- Além de problemas de memória, um ou mais dos seguintes procedimentos deve ser exibida:
 Afasia - uma deterioração das habilidades de linguagem, que pode se manifestar de várias maneiras
 Apraxia - dificuldade de executar atividades motoras, apesar do movimento, os sentidos, e a capacidade de
entender o que está sendo solicitado ainda estão intactos.

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 Agnosia - uma capacidade diminuída para reconhecer ou identificar objetos, apesar de habilidades sensoriais estão
intactos
 Problemas com funções executivas, tais como tarefas de planejamento, organização de projetos, ou à realização de
metas na seqüência correta
O déficit deve afetar a capacidade de manter um emprego ou de voluntariado, realizar tarefas domésticas e / ou
manter relações sociais. Os déficits também devem representar uma diminuição significativa do nível anterior da pessoa de
funcionamento. A síndrome demencial deve ser insidiosa e gradual.

NINCDS
 Diagnóstico definitivo: O paciente preenche os critérios para a doença de Alzheimer provável e tem evidência
histopatológica do AD através de autópsia ou biópsia.
 Provável Doença de Alzheimer: Demência foi estabelecida pelo exame clínico e neuropsicológico. Prejuízos
cognitivos também têm de ser progressivos e estar presentes em duas ou mais áreas da cognição. O início do déficit tem sido
entre as idades de 40 e 90 anos e, finalmente, deve haver uma ausência de outras doenças capazes de produzir uma
síndrome demencial.
 Possível Doença de Alzheimer: Existe uma síndrome de demência com um início atípico, apresentação ou
progressão, e sem uma etiologia conhecida, mas não co-morbidades capazes de produzir-la.
 Improvável doença de Alzheimer: O paciente apresenta uma síndrome de demência com um início repentino, sinais
neurológicos focais ou convulsões ou distúrbios da marcha no início do curso da doença.

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
 Síndrome de Korsakoff, demência alcoólica, disfunções endócrinas, principalmente tireoidianas, deficiência de
vitamina B12.

*Obs.: alguns pontos que devem ser valorizados: cronologia dos fatos, velocidade de progressão da doença, uso de
medicações, antecedentes pessoais e familiares e alterações de humor.

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