Você está na página 1de 8

MT ESCOLA DE TEATRO

CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIAS EM TEATRO

TRABALHO DA PRIMEIRA AULA ESPECÍFICA DO MÓDULO AMARELO –


NARRATIVIDADE

Aprendiz: Waltair França da Silva


Área: Atuação

Cuiabá, 2019
TRABALHO DA PRIMEIRA AULA ESPECÍFICA DO MÓDULO AMARELO –
NARRATIVIDADE
INTRODUÇÃO
Consta neste trabalho a descrição de dois verbetes do Dicionário de Teatro, de
Patrice Pavis: Narrativa e Narrador, para diferenciar um do outro, articular esses
conceitos na área de Atuação do Curso Superior de Tecnologias em Teatro da MT
Escola de Teatro, com citação de exemplos de obras do gênero narrativo, para
registro de presença na primeira aula específica EAD do dia 11 de agosto de 2019.

NARRATIVA
Narrativa, em sentido estrito, de acordo com a maneira como é usada pela
crítica teatral, consiste no discurso de uma personagem que narra um
acontecimento que ocorreu fora de cena. Em princípio excluída do teatro, que
mostra mimeticamente a ação em vez de fazer alusão a ela por meio de um
discurso, a narrativa, no entanto, é freqüente no texto dramático e hoje, no teatro
épico, no qual a personagem é frequentemente instada a externar seu ponto de vista
sobre o desenvolvimento do drama. Quando é efetuada junto com a ação que ocorre
fora da vista dos espectadores, a narrativa recebe o nome de teicoscopia (visão
através das paredes). De maneira geral, há narrativa quando a ação, por si só,
apresente dificuldades de ser encenada: “Uma das regras do teatro consiste em pôr
como relato apenas as coisas que não podem se passar em ação” (RACINE,
prefácio de Britannicus).
Na época clássica, a narrativa é tida como um sucedâneo1, que não é tão
eficiente quanto uma ação real, pois “aquilo que se expõe à vista toca bem mais do
que aquilo que se apreende através de um relato” (CORNEILLE, “Exame do Cid”).

A noção de narrativa no teatro


O teatro ainda não foi objeto de uma análise sistemática, sem dúvida por causa
da sua extrema complexidade, provavelmente ainda por estar associado, na
consciência crítica, à mimese (imitação da ação) mais que à diégese (o relato de um
narrador), especialmente porque a narrativa teatral não é senão um caso particular

1
Sucedâneo - suplente, substituto. https://www.sinonimos.com.br/sucedaneo/
dos sistemas narrativos cujas leis são independentes da natureza do sistema
semiológico utilizado.

Definição geral da narrativa


A definição mais geral da narrativa convém àquela da narrativa no teatro: uma
narrativa é sempre “sistema 2monossemiológico (um romance) ou polissemiológico
(uma história em quadrinhos, um filme), antropomorfo3 ou não, regulamentando a
conservação e a transformação do sentido dentro de um enunciado orientado"
(HAMON, 1974: 150).

Articulação da narrativa
Na falta de se encontrar um número preciso de funções ou de regras de
constituição da superfície discursiva, pode-se determinar algumas articulações da
narrativa.
É preciso, evidentemente, contentar-se com uma descrição muito genérica das
etapas obrigatórias de toda narrativa. Todas as análises giram em torno da noção de
um obstáculo" imposto ao herói que aceita ou recusa o desafio de um conflito para
sair dele vencedor ou vencido. Quando aceita o desafio, o herói é investido pelo
destinador (isto é, o distribuidor dos valores morais, religiosos, humanos etc.) e se
constitui em sujeito real da ação (lIAMON, 1974: 139).
São, por exemplo, as regras de funcionamento da narrativa raciniana 4 descrita
por T. PAVEL: as personagens "são vítimas de amor fulminante; sentem os efeitos
da proibição, tentam lutar contra a paixão e pensam às vezes serem bem sucedidas;
compreendem a inutilidade desta luta e se abandonam à sua paixão" (PAVEL, 1976: 8).

Narrativização da teatralidade
Apesar do postulado de uma teoria semiótica da narrativa independente da
manifestação (conto, romance, gestualidade), deve-se perguntar se o teatro, por sua
faculdade de representar as coisas, não escapa, em certas formas, à tirania de uma

2
Teoria que atribui um só sentido ao texto, ou pelo menos reduz as proporções do sentido alegórico,
de forma a não prejudicar o sentido histórico. Populu - Dicionário de Português.
3
O antropomorfismo é uma forma de pensamento que atribui características ou aspectos humanos a
animais, deuses, elementos da natureza e constituintes da realidade em geral. Nesse sentido, toda a
mitologia grega, por exemplo, é antropomórfica. Wikipédia.
4
Relativo ou pertencente a Jean Racine (1639 – 1699), poeta e dramaturgo francês.
http://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/raciniano/
lógica da narrativa. Talvez seja por conseqüência de uma reação contra a insistência
de BRECHT e dos brechtianos em denunciar a fábula, e em querer determinar o
sentido do texto, sem preocupar-se suficientemente com a materialidade e com os
jogos significantes da escritura, que certas experiências atuais, como o teatro de
Robert WILSON ou o Bread and Puppet5, baseiam-se precisamente na vontade de
entregar de maneira desordenada imagens cênicas sem ligação necessária e
unívoca (que admite somente uma interpretação ou significado; sem teor ambíguo). Ainda
que se procurasse e se conseguisse construir para cada imagem cênica uma mini
narrativa, a grande quantidade e as contradições das narrativas impediriam a
constituição de uma macronarrativa responsável por uma lógica dos
acontecimentos. Seja como for, a descoberta das estruturas narrativas não daria
conta da riqueza plástica do espetáculo. Por isso a análise da narrativa não é senão
uma disciplina muito parcial da teatrologia6.

NARRADOR
Em princípio excluído do teatro dramático no qual o dramaturgo nunca fala em
seu próprio nome, o narrador reaparece em determinadas formas teatrais, em
particular no teatro épico. Certas tradições populares (teatros africanos e orientais)
usam-no frequentemente como mediador entre público e personagens (contador de
histórias). Também se pode considerar que o encenador se comporta, diante do
texto e do palco, como um narrador que escolhe um ponto de vista e conta uma
fábula, como um sujeito da enunciação, que comanda todos os enunciados textuais
e cênicos.
O narrador não intervém no texto da peça (exceto, às vezes, no prólogo, no
epílogo ou nas indicações cênicas quando elas são ditas ou mostradas). Portanto,
só pode haver narrador sob a forma de uma personagem que é encarregada de
informar os outros caracteres ou o público contando e comentando diretamente os
acontecimentos. O caso mais freqüente é aquele de uma personagem-narradora
que, como no caso do relato clássico, narre o que não pôde ser mostrado

5
Traduzido do inglês-O Bread andPuppetTheatre é um teatro de fantoches politicamente radical, ativo
desde a década de 1960, atualmente sediado em Glover, Vermont. Seu fundador e diretor é Peter
Schumann. Wikipédia.
6
Estéticas e Teorias do Teatro ou Teatrologia é o estudo oferecido na forma de graduação técnica ou
superior da performance teatral em relação aos contextos histórico, literário, físico, psico-biológico e
sociológico. É um campo interdisciplinar que abrange o estudo da estética e semiótica
teatral. Wikipédia.
diretamente em cena por razões de conveniência ou verossimilhança. Existe
narrativa (logo, narrador, e não simplesmente personagem que age) desde que as
informações trazidas não estejam concretamente ligadas à situação cênica, que o
discurso apele para a representação mental do espectador e não para a
representação cênica real do acontecimento. A fronteira entre narrativa e ação
dramática é, por vezes, difícil de ser traçada, pois a enunciação do narrador
permanece ligada à cena, de modo que uma narrativa é sempre mais ou menos
“dramatizada”.
O narrador se encarrega do espetáculo, é o mestre de cerimônia, o organizador
dos materiais da história (assim, o mendigo em A Guerra de Tróia não Ocorrerá, de
GIRAUDOUX, antecipa o fim da história. Em Biografia, de Max FRISCH, o
comentarista passa a palavra às personagens, propõe esta ou aquela solução para
seus problemas).

Intermediário entre fábula e ator


Nas criações coletivas a partir de romances ou para troupes que trabalham a
partir de improvisações antes de elaborar um texto a ser representado, o
ator/narrador explica como sente a personagem, o que ele poderia ser levado a
dizer, o que não chega a expressar etc. sem nenhum temor de fazer os narradores
figurarem em cena, encenam-se textos narrativos não “previstos” para a cena
(poema, romance, notícia de jornal etc.). A insistência no narrador se explica muitas
vezes pela vontade de levar em conta a enunciação do autor e sua atitude crítica
diante daquilo que está representando, de seu desejo de representar o fato de
representar, talvez na esperança de reencontrar assim uma autenticidade perdida.

Citação de exemplos
Como exemplo de teatro no gênero narrativo, destaco aqui Bread and Puppet. O
Bread & Puppet (pão e fantoches) surgiu em 1963, nos Estados Unidos, e tornou-se
célebre junto à vanguarda que se criou na cidade de Nova York nos anos sessenta,
atuando com teatro de animação inicialmente em espetáculos e protestos de rua
contra a guerra do Vietnã.
Do repertório de espetáculos de circo de Bread & Puppet consta “Portões do
Inferno” (Gates of Hell) – Circo de Ressurreição Doméstica (último “grande circo”,
baseado em um poema de B. Brecht e a ele dedicado, 1998) abordou o lugar do
homem no capitalismo.
Fogo – peça dedicada a Normam Morrison, Roger LaPorte e Alice Henry, três
norte-americanos que se auto-imolaram com fogo em protesto contra os crimes de
seu país no Vietnã. Após distribuir pão à platéia (sempre se faz isso nos espetáculos
de Bread & Puppet), uma mulher lê a seguinte dedicatória, tendo ao fundo uma
cortina vermelha:
“A peça não tem palavras. Ela descreve sete dias em um vilarejo no Vietnã. Um grupo
de mulheres vietnamitas é apresentado. Elas conversam, comem, bebem, dançam e
libertam um americano que chega amarrado por cordas e morre entre elas. As mulheres
ficam apavoradas por um ataque aéreo, e são queimadas pelo fogo. Dentre os corpos dos
mortos, três americanos montam uma jaula para uma freira budista, deixam-na ali e ela
queima vagarosamente até a morte. ”

Cantata da Dama Cinzenta II – Tanto Fogo (Fire) como A Cantata da Dama


Cinzenta II (Grey Lady Cantata II), em suas várias versões, são peças sobre o
Vietnã. Essas peças são mudas, e têm em comum bonecas que representam
mulheres vietnamitas imoladas durante a guerra.

Ainda, os romances O Sertanejo, O Guarani e Iracema de José Martiniano de


Alencar. O Guarani surge em 1857, em forma de folhetim, (um ano antes José de
Alencar publicou seu primeiro romance, “Cinco Minutos”), O Guarani, posteriormente
adaptada para ópera por Carlos Gomes.
Em 1865 publica Iracema, romance polêmico onde é acusado de abusar da
liberdade com a língua portuguesa, e Machado de Assis (1839 – 1908) o defende.
O Sertanejo, romance publicado em 1875, apresenta uma prosa com
personagens característicos do sertão brasileiro. A personagem principal é
"Arnaldo", o narrador é o próprio ator que conta a história do sertanejo, história que
se passa no sertão de Quixeramobim, no Ceará.
Resumindo, a Narrativa se estrutura em Apresentação ou Introdução, nesta
parte inicial o autor apresenta os personagens, o local e o tempo da trama; o
Desenvolvimento, o Clímax, e o Desfecho. Os elementos da Narrativa são o
Narrador, que é aquele que narra e pode ser observador em 1ª pessoa, personagem
em 3ª pessoa ou onisciente, sabe tudo, narra em 3ª pessoa, mas quando apresenta
fluxo de pensamentos dos personagens narra em 1ª pessoa; os Personagens,
principais (protagonista e antagonista) e secundários; o Tempo, cronológico ou
psicológico; e espaço físico, psicológico ou social.
Logo, a narrativa envolve todos esses elementos aí, enquanto o narrador é um
elemento da narrativa.
Referências

PAVIS, Patrice. Dicionário de teatro.

MAYUMI, Denise SenoiIlari. Teatro Político e Contestação no Mundo Globalizado – O


Bread & Puppet Theater na Sociedade de Consumo.

<http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa3332/jose-de-alencar> Acesso em 14 de ago


de 2019.

VIEIRA, Juan. NARRATIVIDADE. Anotações da aula de Literatura, dia 10 de agosto de


2019.

Você também pode gostar