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Universidade Federal Rural do Semi-Árido

Curso de Engenharia Mecânica

TRANSFERÊNCIA METÁLICA EM SOLDAGEM


COM ARCO ELÉTRICO

Profª Adiana Nascimento Silva


INTRODUÇÃO

O conhecimento dos fenômenos envolvidos na transferência metálica


(principalmente eletrodos revestidos) é de fundamental importância para:
• Melhor controle do processo de soldagem;
• Obtenção de cordões de solda sem defeitos;
• Diminuir a quantidade de respingos;
• Prever a penetração do passe;
• Avaliar a quantidade de calor transferida para o metal-base;
• Controlar a distorção da estrutura soldada etc.

Fonte: Wainer et al. (1992)


ARCO ELÉTRICO
Definições:
• “A descarga elétrica mantida através de um gás ionizado, iniciada por
uma quantidade de elétrons emitidos do eletrodo (catodo) aquecido e
mantido pela ionização térmica do gás aquecido” Undin et al. (1954)
apud Wainer et al. (2004).
• “Consiste de uma descarga elétrica, sustentada através de um gás
ionizado, a alta temperatura, conhecido como plasma, podendo produzir
energia térmica suficiente para ser usado em soldagem, pela fusão
localizada das peças a serem unidas” Marques et al. (2009)
ARCO ELÉTRICO
• ARCO ELÉTRICO → Descarga elétrica de baixa tensão e alta intensidade;
Três conceitos importantes para conhecimento do arco elétrico:
• Calor, Ionização e Emissão.
• CALOR: gerado devido a movimentação de cargas elétricas no arco de
um eletrodo permanente; a ocorrência de choques entre essas cargas
gera o calor. No ARCO: os íons positivos podem ser considerados imóveis
em relação aos elétrons (devido a sua velocidade), logo sendo os
responsáveis pela geração de calor.
• Em eletrodos consumíveis, além da colisão entre íons, há também o
choque entre íons e átomos gerados na fusão do eletrodo e entre íons
e as gotas que atravessam o arco.

Fonte: Wainer et al. (1992)


ARCO ELÉTRICO
• IONIZAÇÃO: ocorre quando um elétron localizado em uma determinada
órbita recebe energia e é forçado a “mudar” para a orbita de maior
energia.
• ↑ Energia: o elétron pode ou não sair da influência do campo
magnético do átomo, podendo tornar-se um elétron livre (quando
consegue essa energia, a mesma e chamada de potencial de
ionização);
• EM ARCOS ELÉTRICOS DE SOLDAGEM: ionização térmica (obtida da
colisão entre as partículas aquecidas). Após a ionização, tem-se um
elétron livre e um íon positivo, formando um meio condutor de
eletricidade.
• EMISSÃO termoiônica: é o processo que ocasiona na liberação de
elétrons de uma superfície aquecida.

Fonte: Wainer et al. (1992)


ARCO ELÉTRICO
ABERTURA DO ARCO ELÉTRICO PARA SOLDAGEM
• Necessita do aquecimento e bombardeamento com elétrons do gás que
circunda o eletrodo; Eletrodo toca o metal de base:
A fonte de energia V (cai rapidamente → 0)
possui uma diferença “Por efeito Joule, a região do eletrodo
de potencial que tocou o metal de base fica
característica - incandescente, favorecendo a
Favorece a abertura emissão termiônica”
do arco
“Os elétrons emitidos fornecem mais
energia térmica, promovendo
ionização térmica tanto do gás como
do vapor metálico na região entre o
metal de base e o eletrodo”

“Obtida a ionização térmica, o


eletrodo pode ser afastado do metal
de base sem que o arco elétrico seja
extinto”

Fonte: Wainer et al. (1992)


ARCO ELÉTRICO
• CARACTERIZAÇÃO DO ARCO ELÉTRICO COM ELETRODO PERMANENTE:
• Aproximadamente cônico;
• Pode ser divido em três partes: região anódica, coluna de plasma e
região catódica (mancha catódica).

formam o PLASMA
Cargas existentes
“Na região catódica, os elétrons são emitidos e acelerados para o anodo através de
campos elétricos , aquecendo-o e favorecendo a emissão de mais elétrons pelo anodo.”
Fonte: Wainer et al. (1992)
ARCO ELÉTRICO
• A queda de tensão no arco elétrico pode ser dividida em três partes:

Esquema das partes do arco elétrico, segundo as quedas de tensão, em soldagem TIG
com argônio

Tensão do
Arco elétrico

Queda de tensão anódica


(vária de 1 a 25 V/cm – o
Queda de mínimo é igual ao
tensão Queda de tensão na coluna do potencial de ionização do
catódica arco (pequena comparada a gás circundante)
queda de tensão catódica e
anódica). Fonte: Wainer et al. (1992)
ARCO ELÉTRICO
• A diferença de potencial na região da coluna de plasma varia de forma
aproximadamente linear com o comprimento do arco;

 A diferença de potencial entre as


extremidades do arco, necessárias
para manter a descarga elétrica,
varia com a distância entre os
eletrodos (chamada de
comprimento do arco), com a forma,
tamanho e material dos eletrodos,
composição e pressão do gás na
coluna de plasma e corrente que
atravessa o arco, entre outros fatores
.

Fonte: Marques et al. (2016)


ARCO ELÉTRICO
O comportamento encontrado para baixos valores de corrente e
próprio do arco elétrico e reflete o fato de que, neste, a condução
da corrente elétrica é feita por íons e elétrons gerados por ionização
• Análise da variação da térmica. Quando a corrente é baixa, existe pouca energia disponível
tensão no arco elétrico para o aquecimento e ionização do meio em que o arco ocorre,
resultando em uma maior dificuldade para a passagem da corrente
com a corrente de e, como consequência, tem-se um aumento da tensão do arco.
soldagem, para três
Aumento de tensão
diferentes comprimentos A Curva passa por
para valores elevados
um valor mínimo de
de arco e com outros tensão para valores de corrente – similar
parâmetros, como a intermediários de ao observado para
composição do gás de corrente resistências comuns
proteção, mantidos fixos.
Chamada
"CARACTERÍSTICA
ESTÁTICA DO ARCO".

OBS: Difere da curva de uma resistência


comum - Lei de Ohm (V = R.I).
Curvas características estáticas do arco entre um eletrodo de tungstênio e
Fonte: Marques et al. (2016) um anodo do cobre para diferentes comprimentos de arco.
ARCO ELÉTRICO

• Curva de variação
da queda de
tensão ao longo do
arco com o seu -
comprimento para
dois valores de
corrente.

Observa-se uma relação


aproximadamente linear entre a
tensão e o comprimento do arco e
que, quando este último torna-se
muito curto, o valor da tensão NÃO
tende para zero. Variação da diferença de potencial entre as extremidades de um arco de
soldagem com a distancia de separação entre elas. para diferentes níveis de
corrente (dados da figura anterior)

Fonte: Marques et al. (2016)


ARCO ELÉTRICO
• PLASMA: “é constituído por moléculas, átomos, íons e elétrons. Destes, os dois
últimos são os responsáveis pela passagem da corrente elétrica no arco.
Assim, a estabilidade do arco está intimamente ligada às condições de
produção de elétrons e íons, em grande quantidade”.
• “A possibilidade de ocorrência de diferentes mecanismos de emissão de
elétrons junto com diferenças de composição, forma e temperatura dos
eletrodos faz com que a polaridade dos eletrodos influencie
significativamente a estabilidade do arco e outras características
operacionais de um processo de soldagem”.
• “A estabilidade é importante, tanto do ponto de vista operacional quanto
da qualidade da solda”.
• “Um arco instável é mais difícil de ser controlado pelo soldador, já que este
precisa ter maior habilidade para mantê-lo operando e executar a solda de
maneira adequada. Além disso, o cordão de solda obtido com um arco
instável tende a ter uma forma mais irregular com dimensões variáveis e
pode apresentar uma maior quantidade de porosidade, tornando-se muitas
vezes inaceitável”.
Fonte: Marques et al. (2009)
TIPOS DE TRANSFERÊNCIA
METÁLICA
• Os modos de transferência metálica se caracterizam como sendo a
forma com que o metal líquido superaquecido (gota metálica) se
transfere desde a ponta do arame (eletrodo) até a poça de fusão
(Barra, 2003).
• Existem várias classificações dos tipos de transferência metálica, pode-
se classificadas em quatro: Globular, Por curto-circuito, Por pulverização
e por arco pulsado (Wainer et al., 2004).
TIPOS DE TRANSFERÊNCIA
METÁLICA
De acordo com Barra (2003): “O modo pelo qual a gota irá se
transferir, em uma determinada condição de soldagem dependerá,
entre outros, da combinação dos seguintes fatores :
• Tipo de gás de proteção e nível de vazão;
• Tipo (CC, CA ou pulsada) e magnitude da corrente de soldagem
empregada;
• Diâmetro e composição química do eletrodo;
• Projeção do arame em relação ao bico de contato;
• Tensão de soldagem;
• Polaridade;
• Pressão ambiente”.
TIPOS DE TRANSFERÊNCIA
METÁLICA
• “TRANSFERÊNCIA GLOBULAR: O metal é transferido por glóbulos com
diâmetro próximo ao eletrodo nu, ou alma do eletrodo. Não é
adequado para soldagem fora da posição”.

Fonte: Wainer et al. (1992)


TIPOS DE TRANSFERÊNCIA
METÁLICA
• “TRANSFERÊNCIA POR CURTO-CIRCUITO: O metal é transferido por
contato direto entre o eletrodo e a poça de fusão através de uma
gota. Pode ser utilizado em qualquer posição”.

Fonte: Wainer et al. (1992)


TIPOS DE TRANSFERÊNCIA
METÁLICA
• “TRANSFERÊNCIA POR PULVERIZAÇÃO: O metal é transferido por gotas
pequenas, bem menores que o diâmetro do eletrodo nu, ou alma do
eletrodo. Pode ser utilizada na soldagem em posição plana ou
horizontal. A transferência por pulverização pode ser axial, onde o
jato tem formato cônico na direção do eixo do eletrodo nu, ou
rotacional, onde o jato gira em torno do eixo do eletrodo nu”.

Fonte: Wainer et al. (1992)


TIPOS DE TRANSFERÊNCIA
METÁLICA
• “TRANSFERÊNCIA POR ARCO PULSADO: Similar à transferência por
pulverização, dela difere que uma gota é transferido por pulso. Solda
em todas as posição.

Fonte: Wainer et al. (1992)


FORÇAS ATUANTES NA GOTA
DURANTE A TRANSFERÊNCIA
• Tipos de forças:
• Peso da gota – o peso que uma gota esférica fica sujeita é dado por:
4 3
𝑃 = 𝜋𝑟 𝜌𝑔
3
Onde: r = raio da gota(cm)
ρ = densidade da gota (kg/cm3)
g = aceleração da gravidade (cm/s2)
• Força devido à tensão superficial – é uma das mais importantes para
manter a gota em contato com eletrodo nu, qualquer que seja a
posição de soldagem.
𝑇 = 2𝜋𝛾𝑎Ψ(𝑎/𝑐 )
Onde: a = raio do arame, ou eletrodo (cm)
γ = tensão superficial (kgf/cm)
c2 = constante de capilaridade do metal = γ/gρ
Ψ(a/c) = função que varia entre 0,6 e 1,0
Fonte: Wainer et al. (1992)
FORÇAS ATUANTES NA GOTA
DURANTE A TRANSFERÊNCIA
• Tipos de forças:
• Força de origem eletromagnética (Força de Lorenz) – Dois fios
condutores percorridos por correntes de mesmo sentido, o campo
eletromagnético gerado pela passagem da corrente irá atraí-los.

Imaginando-se uma gota como se fosse constituída de uma quantidade


de fios condutores percorridos por correntes de mesmo sentido, haveria
atração entre esses fios condutores imaginários.

Porém, como a gota está líquida, haverá um estrangulamento na região


de menor área e ela será lançada na direção axial(efeito dependente
da polaridade)
𝐼2
Expressão: 𝐹 = ln(𝐴2
𝐴1
)
200
onde: F = força eletromagnética(dinas)
I = corrente(A)
A1 = área do condutor(entra corrente)(cm2)
A2 = área do condutor(sai corrente)(cm2)
Fonte: Wainer et al. (1992)
FORÇAS ATUANTES NA GOTA
DURANTE A TRANSFERÊNCIA
• Tipos de forças:
• Força de origem eletromagnética (Força de Lorenz) - continuação

Componentes da força eletromagnética que age na gota, em função da


relação entre as áreas de entrada e saída da corrente e da polaridade

Fonte: Wainer et al. (1992)


FORÇAS ATUANTES NA GOTA
DURANTE A TRANSFERÊNCIA
• Tipos de forças:
• Força de arraste – surge quando se tem uma vazão de gás protetor
e é devida ao atrito entre a gota e o gás. Ela age no sentido de
desprender a gota

• Força de expansão gasosa – São importantes na soldagem com


eletrodos revestidos. Acredita-se que o carbono da alma reage com
o oxigênio formando bolhas de CO, que se expandem e causam
microexplosões, as quais empurram as gotas para a poça de fusão,
facilitando a soldagem fora de posição.

Fonte: Wainer et al. (1992)


FORÇAS ATUANTES NA GOTA
DURANTE A TRANSFERÊNCIA
Forças que agem nos diversos processos de soldagem

Fonte: Wainer et al. (1992)


TRANSFERÊNCIA METÁLICA
(MIG/MAG)
• Nos processos MIG pode ocorrer uma mudança brusca no volume e na
massa das gotas, devido a um aumento na corrente de soldagem.

pulverização

globular

Fonte: Wainer et al. (1992)


TRANSFERÊNCIA METÁLICA
(MIG/MAG)
• O tipo de transferência metálica está relacionado com a energia
necessária para fundir o eletrodo e com a taxa de fusão.

• Exemplo: Transferência globular  taxa de fusão baixa, o mesmo não


ocorre para a transferência por pulverização, que tem elevada taxa de
deposição.
• Transferência metálica  energia necessária para fundir o eletrodo nu
 fonte de aquecimento (anódico, catódico, por resistência e por
radiação)

Fonte: Wainer et al. (1992)


TRANSFERÊNCIA METÁLICA
(MIG/MAG)
• Variáveis que afetam a corrente de transição
• Composição química do eletrodo
• Geometria do eletrodo
• Ativação e polaridade

Fonte: Wainer et al. (1992)


REFERÊNCIAS
• Wainer, E., 2004, “Soldagem: Processos e Metalurgia”, 1ª Edição,
Editora Edgard Blücher, São Paulo.
• Barra, R. Sérgio, 2003, “Influência do processo MIG/MAG Térmico sobre
a microestrutura e a geometria da zona fundida”, Tese de Doutorado,
UFSC.

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