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Revista ESO Engenharia e Tecnologia

ANÁLISE DE FALHAS EM ENGRENAGENS DE


TRUCKS DE TRANSLAÇÃO PARA UMA
EMPILHADEIRA/RECUPERADORA – ESTUDO
DE CASO

Faculdade do Centro Leste, Rod. ES – 010, km 6, S/N, Manguinhos, Serra - ES

Resumo
Este artigo apresenta um estudo sobre falhas em engrenagens pertencentes a trucks de translação com a função de
movimentar uma empilhadeira/recuperadora, cuja função é movimentar grandes quantidades de minérios e
armazená-los em pátios de estocagem. Devido seu funcionamento ser de suma importância para mineradoras que
trabalham em grandes produções, se faz necessário o bom dimensionamento das engrenagens acopladas a rodas, que
sustentarão todo o peso da máquina de pátio. Por meio da análise realizada neste artigo, será feita uma revisão
quanto às possíveis falhas por mal dimensionamento em engrenagens e na escolha do material apropriado para a
carga que a ela será submetida.

Palavras-chaves: Análise de falhas, desgaste em engrenagens, fadiga de contato.

1. INTRODUÇÃO acopladas ao eixo das rodas motrizes, estarão


Com o crescimento da demanda de materiais a granel, submetidas a esta carga. [1]
como por exemplo o minério de ferro, a utilização de Como a falha de materiais é quase sempre uma
maquinários como empilhadeiras/recuperadoras vem se ocorrência indesejável na engenharia, por colocar vidas
tornando cada vez mais indispensável, já que humanas em perigo, causar perdas econômicas, assim
equipamentos como esse servem para movimentar como, a sua interferência na disponibilidade de
grandes quantidades de materiais que são extraídos e produtos e serviços; a transmissão das engrenagens
armazenadas em pátios de estocagem. O precisa atender a certas características, sendo a
armazenamento desse material acontece por meio de principal delas, a inexistência de qualquer diferença de
uma empilhadeira que distribui o material em enormes velocidades entre cada ponto em contato da
pilhas nos pátios. Após o processo de estocagem, transmissão do movimento. Estas diferenças fazem
através da recuperadora é realizado o transporte do com que ocorra perda do contato ou até mesmo o
material para os transportadores de correia que irão travamento, quando um dente da engrenagem motora
levar o material até seu destino final. [1] tenta transmitir velocidade acima da qual outro dente
Como esse tipo de equipamento agiliza o fluxo desse da mesma engrenagem em contato transmite [2]. Por
material, tal máquina de pátio torna-se fundamental na estes e outros motivos, o correto dimensionamento das
estocagem e transporte de minérios. Além disso, essa engrenagens se faz necessário, tendo como pontos
máquina possui alta capacidade de empilhamento e relevantes a seleção e o processamento do material de
retomada, além de um sistema de gerenciamento uma maneira apropriada, e o projeto adequado do
automático bastante eficiente na distribuição das pilhas, componente tal como a sua correta utilização [3].
prevenindo misturas de materiais, e pode ser controlado Portanto, qualquer dimensionamento mal feito pode
diretamente a partir de um operador em uma sala de resultar em desgaste excessivo o que é, geralmente,
controle remoto. [1] causado por fadiga de contato, deformação ou até
Os trucks ou carros de translação possuem rodas que mesmo quebras. [4]
servem para movimentar a máquina de pátio sobre os A causa mais comum de fratura em engrenagens é
trilhos. Tal movimento de translação é composto por aquela provocada por fadiga, que é o tipo de falha que
um sistema de acionamento, que fornece torque através ocorre devido a cargas cíclicas responsáveis por
de motores elétricos que acionam um trem de noventa por cento das falhas por causas mecânicas [5].
engrenagens. Esse conjunto de rodas sustentam o peso Normalmente as engrenagens podem falhar por dois
da estrutura da empilhadeira e do material que é tipos de solicitação: uma ocorre no contato e a outra
extraído. Sendo assim, as engrenagens, que estão ocorrem no pé do dente. A fadiga no pé do dente causa
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fratura do dente, o que é difícil de ocorrer em conjuntos Apesar das diferenças nos materiais a serem
de transmissão que foram bem projetados [6]. Já o armazenados e reaproveitados, as máquinas necessárias
desgaste dos dentes em engrenagens ocorre por meio para cada tipo de operação são basicamente
do atrito. Como há um contato direto entre os dentes na semelhantes, como a que é mostrada na figura 1. [1]
transmissão de potência e velocidade, isto acaba Assim, como uma máquina, mesmo construída de
proporcionando um desgaste nos dentes gerando perda recursos adicionais necessários, como sistema de
de material para o meio onde está trabalhando [4]. correia reversível e paredes de calha variável, é
Por isso o material da engrenagem precisa ser geralmente menos dispendiosa do que duas ou até três
criteriosamente selecionado devendo passar por um unidades separadas. E acrescentando-se a isto, o fato de
tratamento térmico como também deve possuir que é necessário apenas um operador para fazer o
características propriamente adequadas para sua controle da máquina no empilhamento e recuperação
aplicação como boa resistência ao desgaste, alta torna a empilhadeira combinada à recuperadora mais
resistência à fadiga superficial, bem como custo comumente utilizada em processos de movimentação
razoável. Na maioria das aplicações se utiliza de grandes quantidades de materiais. [1]
engrenagens de aço por causa da sua alta resistência e
custo moderado [7]. Como a maioria das engrenagens
para serviço pesado é feita de aço, e estes materiais
exibem um limite de fadiga, será possível projetá-las
para uma vida infinita [8]. Por meio de uma série de
testes para vários níveis de tensão máxima, é possível
encontrar esse número de ciclos de carregamentos
cíclicos ou alternados projetando para que o material
possa ter uma vida útil prolongada [9].
Portanto, este artigo tem como objetivo identificar as
possíveis causas para o desgaste excessivo nos dentes
das coroas e do pinhão nos trucks de translação da
Empilhadeira/Recuperadora de minérios. [4] Figura 1. Recuperadora [11]

2. METODOLOGIA Basicamente a empilhadeira é composta pelos


Em processos de produção em grande escala sempre há seguintes componentes: lança (útil para mover o
a possibilidade de ocorrência de problemas. As falhas material), mastro e pórtico, que podem se movimentar
são inevitáveis, mas isso não implica que devam ser tangencialmente sobre o anel de giro do equipamento,
negligenciadas, muito pelo contrário, deve-se tentar e os carros de translação (atuam no movimento do
minimizá-las ao máximo e buscar compreender a sua equipamento sobre os trilhos), como podem ser vistos
procedência. Portanto, a metodologia utilizada na figura 2. [1]
basicamente consiste em descrever o processo de
estoque e recuperação, os materiais que podem ser
utilizados em engrenagens de trucks de translação da
máquina de pátio, abordar os diversos tipos e
mecanismos de falhas, assim como os tipos de fraturas.
Também será abordado sobre o desgaste excessivo
ocorrido por fadiga, com o objetivo de se evitar
possíveis falhas por fadiga entre outras falhas que serão
abordados neste trabalho. [10] Figura 2. Modelo da empilhadeira/recuperadora –
Componentes Estruturais [12]
3. EMPILHADEIRA/RECUPERADORA Após o processo de estocagem, através da recuperadora
Em todos os locais onde existem diferenças entre a
é realizado o transporte do material para os
entrega e o re-transporte de grandes volumes de
transportadores de correias que irão levar o material até
material necessários para um processo em particular é
os carregadores de vagões. [1]
necessário a estocagem. Do estoque é então possível
O fluxo de material para máquinas combinadas deste
remover quantidades de material, como e quando a
tipo ocorre quando o material que chega e sai do
necessidade surgir. A quantidade de material que deve
estoque é transportado ou quando há duas esteiras
ser armazenada é determinada pelos requisitos do
separadas, visto na figura 3. E além disso, como o
respectivo processo e pelas possibilidades disponíveis
empilhador e o recuperador não são utilizados 100% do
para o transporte de material recebido. De acordo com
tempo, a máquina combinada, conciliando os dois
o tipo de operação, diferentes materiais a granel, como
processos, pode se manter integralmente em
carvão, minério, bauxita, fosfatos e assim por diante,
devem ser estocados e depois removidos do estoque.
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funcionamento para o processo (empilhamento ou


recuperação) que estiver sendo solicitado. [1]

Figura 3. Transportadores de correias (Tripper) para


estoque e recuperação do material dos pátios [12]

Os trucks fazem o movimento de translação ao longo


da pista do pátio de armazenamento por meio de rodas
de aço, como pode ser visto na figura 4. Um número
adequado de rodas é acionado para fornecer o
movimento para a frente do recuperador.
Ocasionalmente, é necessário viajar continuamente
Figura 6. Movimentos elementares de um recuperador e de
durante o empilhamento. [1] uma roda de caçamba na operação de recuperação [1]

4. TRANSMISSÃO DE ENGRENAGENS
As engrenagens são elementos de máquinas utilizados
na transmissão de movimentos rotativos entre eixos, e,
por meio de dois cilindros nos quais são fabricados os
dentes, torna-se possível a transmissão entre eles,
através do contato entre estes. [13]
Na figura 7, é mostrado o modelo de engrenagem mais
simples, que é conhecido como engrenagem cilíndrica
de dentes retos. Uma transmissão por engrenagens
consiste de dois ou mais elementos. Para uma
transmissão com duas engrenagens em contato, a
menor delas recebe o nome de pinhão e a maior de
coroa. (Lembrando de que a atribuição dos nomes das
engrenagens não é relativa ao fato de que um dos
Figura 4. Carro de translação da máquina de patio [11] elementos é o motor e o outro o movido, mas apenas
por conta das suas dimensões). [14]
O movimento propriamente dito é fornecido por
acionamentos de tração, geralmente por motores
elétricos que acionam as rodas através de um trem de
engrenagens que está representado na figura 5. [1]

Figura 5. Modelo de um carro de translação [Do autor]

Os acionadores dos trucks fornecem um deslocamento


para a frente de baixa velocidade no processo de
recuperação e um deslocamento de alta velocidade ao
transferir o recuperador de uma pilha para outra. [1]
Figura 7. Engrenagem Cilíndrica de Dentes Retos [2]

Na figura 8, são mostradas duas engrenagens


cilíndricas de dentes retos engrenadas. Através desse
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conjunto demonstrativo, é possível notar como os 5. QUALIDADE DE ENGRENAGENS


dentes entram em contato. [2] As engrenagens podem ser classificadas quanto à
qualidade pela norma de qualidade DIN 3960, 3968 e
AGMA 2001. Para uso em geral recomenda-se os
níveis 07, 08, 09. Para máquinas que exigem mais
precisão, como as empregadas na aviação, é utilizado
os níveis 04 e 05. [15]

Tabela 1. Qualidade de engrenagens [15]


Qualidade Aplicações
Raramente utilizada, devido a
dificuldade em sua obtenção. Foi
1
desenvolvida prevendo-se utilização
futura.
Figura 8. Transmissão por Engrenagens Cilíndricas de Utilizadas em indústria que se exigem
Dentes Retos [2] 2 precisão (como relojoarias e aparelhos
de precisão).
A transmissão de potência, expressão que se derivou da Utilizadas como padrão em laboratórios
lei da conservação de energia, que acontece nas 3 de controle de qualidade. São
engrenagens, ocorrem de maneira que acaba sendo consideradas engrenagens de precisão.
parcialmente dissipada devido ao deslizamento que Utilizadas na fabricação de engrenagens
ocorre entre os dentes das engrenagens. No entanto, o padrão, engrenagens para aviação,
objetivo principal de uma transmissão por engrenagens 4
engrenagens de alta precisão para torres
não é necessariamente a transmissão de potência, mas de radar.
a de gerar esforço na saída da transmissão. [2]
Utilizadas em aviões, turbinas, máquinas
Como a maioria dos motores operam em altas 5
operatrizes, instrumentos de medida etc.
velocidades e sabendo que as cargas solicitadas pelas
máquinas geralmente necessitam de velocidades baixas Utilizadas em automóveis, ônibus,
para estabelecer um maior controle da máquina, se faz 6 caminhões, navios, em mecanismos de
necessário a transmissão por engrenagens que alta rotação.
funcionarão como redutores. [8] Engrenagens Sheivadas são utilizadas
Por tanto, um redutor consegue suprir um torque em veículos, máquinas operatrizes,
7
quantas vezes maior que a do motor, por meio da máquinas de levantamento e transporte
relação de redução, tornando viável até mesmo o uso de etc.
motores menores, em que dado o aumento de esforço São as mais utilizadas, pois não
gerado por esta relação de redução, possibilita a partida 8e9 precisam ser retificadas. Utilizadas em
dos equipamentos mecânicos. [8] máquinas em geral.
São engrenagens mais rústicas,
10 a 12 normalmente utilizadas em máquinas
agrícolas.

Para definição, a qualidade de uma engrenagem pode


ser feita por meio da sua velocidade periférica. [15]

Tabela 2. Velocidade Periférica [15]


Velocidade Periférica m/s Qualidade
< 2 11 a 12
2 a 3 10 a 11
3 a 4 9 a 10
4 a 5 8 a 9
5 a 10 7 a 8
10 a 15 6 a 7
> 15 6
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6. CARACTERÍSTICAS GEOMÉTRICAS além da escolha do aço adequado é necessário realizar


DAS ENGRENAGENS tratamento termoquímico antes de colocar a
As engrenagens podem ser caracterizadas por: engrenagem para funcionar, os principais tratamentos
Seu diâmetro primitivo, que é o diâmetro da são a nitretação e a cementação. [7]
circunferência primitiva e proporcional ao módulo e
número de dentes. 7.2 Engrenagens de ferro fundido
Seu passo circular, que é a distância entre dois pontos São baratas quando comparadas com as de aço e
homólogos medida através do diâmetro primitivo. apresentam elevada capacidade de amortecimento
Seu módulo, razão entre diâmetro primitivo e número devido as lamelas de grafita contida na sua estrutura
de dentes. Ele deve ser expresso em milímetros. Duas interna. Pinhões de aço são montados com engrenagens
engrenagens que estão acopladas devem possuir o de ferro fundido, proporcionando uma resistência
mesmo módulo. razoável com uma operação silenciosa. [7]
Seu addendum, distância radial entre diâmetro
primitivo até a cabeça do dente. 7.3 Engrenagens de ligas não-ferrosas
Seu deddendum, distância radial entre pé do dente e As engrenagens de ligas não-ferrosas são empregadas
diâmetro primitivo. quando a resistência a corrosão é um dos fatores
Seu ângulo de ação, que é o ângulo que define a direção primordiais para o sucesso do projeto, o material mais
da força exercida pela engrenagem motora sobre a comum para a fabricação dessas engrenagens é o
movida. Bronze. [2]
Sua circunferência de base, onde os dentes são
formados. [8] 8. CLASSIFICAÇÕES DE FALHAS
Falhas são anomalias que não permitem o
funcionamento esperado de um determinado
mecanismo. As falhas são divididas em 6 aspectos, que
são: idade, manifestação, criticidade, origem, extensão
e velocidade. [16]

8.1 Quanto à origem


As falhas podem ser de origem primária, secundária, ou
de comando.
Falha primária: ocorre quando algum mecanismo falha
dentro dos limites normais de funcionamento.
Falha secundária: ocorre quando o mecanismo está
Figura 9. Nomenclatura de engrenagens cilíndricas de trabalhando fora do seu limite normal de
dentes retos [8] funcionamento (sobrecargas).
Falha de comando: ocorre quando existe uso indevido
7. MATERIAIS do mecanismo. [16]
Os materiais selecionados para a fabricação de
engrenagens, devem ter boas características mecânicas, 8.2 Quanto à extensão
a depender de sua aplicação é necessário a escolha de As falhas podem ser parciais ou completas. A falha
materiais específicos que tenham boa rigidez, boa parcial ocorre quando o mecanismo não exerce a
resistência ao desgaste, elevada resistência a fadiga função requerida de projeto, porém não perde sua total
superficial, boa usinabilidade e em determinadas funcionalidade, já na falha completa o mecanismo
aplicações boa resistência a corrosão, sendo assim, os perde sua total função. [16]
materiais que atendem a estes critérios incluem ligas de
aço, ferros fundidos, latão, bronze e alguns tipos de 8.3 Quanto à velocidade
poliméricos, porém podem ser aplicados outros São classificadas em falhas repentinas e graduais, as
materiais para situações especiais. [7] falhas graduais são passiveis de inspeções antes de
ocorrer a falha, já a falha repentina não. [16]
7.1 Engrenagens de aço
As engrenagens de aço são muito utilizadas na 8.4 Quanto à manifestação
fabricação de engrenagens, seu baixo custo e sua boa As falhas podem ser intermitentes, catastróficas ou por
resistência mecânica são as principais carcateristicas degradação. Falha por degradação ocorre de forma
responsáveis pela escolha deste material, porém, as gradual, antes de ocorrer a falha é possível a verificação
engrenanges de aço sofrem elevado desgaste, sendo de possíveis desgastes e etc. Falha catastrófica ocorre
recomendado tratamentos termoquímicos antes de sua de forma inesperada e por completo. Falha intermitente
utilização. A principal liga utilizada é o aço SAE 4140, é um tipo particular de falha, pois esta ocorre quando
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um determinado mecanismo apresenta uma falha por Para se poder classificar o tipo de falha, deve-se realizar
tempo determinado e após este tempo o item se uma inspeção visual e dos mecanismos de falhas
recupera sem intervenção externa, muito comum em através de um estudo cinemático e cinético do
equipamentos eletrônicos. [16] mecanismo. [7]
Também podem ocorrer falhas que estão ligadas a erros
8.5 Quanto à criticidade de projeto e de fabricação, os quais devem ser
São dividias em críticas e não-críticas. Falhas não- corrigidos com objetivo de prevenir a ocorrência de
críticas são aquelas que não oferecem perigo ao futuras quebras, que, subsequentemente, poderão
ambiente, e nem aos operadores, já as falhas críticas causar danos no mecanismo do conjunto de
apresentam perigo a ambos. [16] engrenagens. [7]
Portanto, as possíveis causas para ocorrer um desgaste
8.6 Quanto à idade em engrenagens são: Fadiga de contato, desgaste
As falhas se classificam em prematuras, aleatórias e adesivo, desgaste abrasivo, corrosão e quebras. [17]
progressivas, é possível traçar um gráfico conhecido
popularmente como curva da banheira, na Figura 10, 9.1 Fadiga de contato
que mostra com clareza todos os estágios descritos O acúmulo de tensões superficiais gerados por tensões
acima destas. As falhas prematuras acontecem na fase cíclicas e da existência do deslizamento relativo entre
inicial de funcionamento do mecanismo, normalmente os flancos dos dentes, causam a falha por fadiga de
ocorrem por causa de defeitos no processo de contato, que muda completamente a distribuição de
fabricação. As falhas aleatórias são geralmente tensões na superfície do dente. [18]
imprevisíveis e podem ocorrer durante toda a vida útil Como mostra a figura 11, a região do addendum,
do mecanismo. As falhas progressivas são decorrentes rolamento e deslizamento estão em mesma direção. Já
do final da vida útil do equipamento, elas aparecem por para a região do deddendum, ambas estão direções
causa de desgastes e envelhecimento. [16] opostas. [18]

Figura 11. Tensões de rolamento e deslizamento


combinadas nos dentes das engrenagens [18]

Figura 10. Curva da banheira [Do Autor] Na figura 12, o efeito na região do addendum, é que
enquanto a superfície do material é rolada em uma
9. FALHAS EM ENGRENAGENS direção na outra direção é deslizada, o que resulta em
As falhas em engrenagens são influenciadas por maiores tensões em relação à região em rolamento e
diversos fatores, como por exemplo a falta de deslizamento seguem o mesmo sentido. [18]
lubrificação, a escolha do lubrificante adequado, à
montagem, à sobrecarga em que está submetida e, as
partículas dos dentes que se soltam permanecendo entre
os dentes, dependendo do tipo de engrenagem, tipo de
transmissão requerida pelo sistema e pelo material base
do corpo da engrenagem, podem exigir uma
determinada velocidade de contato, podendo causar
geração de calor. [17]
As principais influências sobre desgastes em dentes são
a pressão de contato e a magnitude cíclica, pois as
cargas operacionais na engrenagem são concentradas
em regiões de altas tensões, ou seja, onde irão se
concentrar as tensões de contato no diâmetro primitivo
e as tensão de flexão na raiz do dente. [6]
Figura 12. Distribuição de tensões de duas superfícies em
contato [18]
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Por isso, os primeiro danos nos dentes surgem nessa


nessa região, sendo precursor de falhas mais sérias,
como a fratura por fadiga de flexão. [18]
E ela se torna visível quando começam a se formar
trincas microscópicas abaixo da superfície do dente,
como visto na figura 13. [2]

Figura 14. Desgaste por adesão nos dentes de uma


engrenagem [Do autor]

9.3 Desgaste abrasivo


Os resíduos em suspensão no lubrificante que vão se
formando por conta do desgaste nos dentes, faz com
que os dentes aumentem desgaste por atrito na
operação, sendo este desgaste também conhecido como
abrasão. Quando esses resíduos se misturam ao
lubrificante em trabalho, intensifica ainda mais esse
desgaste. Por isso, é importante a instalação de um filtro
de óleo, onde possam ser removidas as impurezas do
óleo, fazendo com que se melhore o desempenho para
Figura 13. Trincas microscópicas na superfície do dente assim prolongar a vida útil das engrenagens. Na figura
[Do autor] 15, pode ser visto um exemplo de engrenagem
desgastada pelo processo abrasivo[6]
9.2 Desgaste adesivo
A adesão acontece de forma contínua em toda a vida
útil de uma engrenagem, desde o momento que ela é
colocada em operação, começam a surgir
esfregamentos entre os dentes da engrenagem motora e
os dentes da engrenagem movida, causando alisamento
na superfície. A superfície onde ocorre esse contato
contínuo chega a ter partículas menores que 10μm. [6]
A adesão ocorre por meio do processo de contato entre
dente de metal com metal, que é o mesmo que
amaciamento da superfície, ocorrido durante a
operação normal das engrenagens e, como resultado do
atrito entre os dentes, forma-se uma superfície bastante
lisa no dente, sendo esta sua principal característica. E
podendo este amaciamento ocorrer na superfície Figura 15. Desgaste por abrasão [Do autor]
quando as engrenagens estiverem operando em baixas
velocidades e com um filme de óleo muito fino. Mas na 9.4 Corrosão
maioria dos casos, esse amaciamento não vem a ser um Já, a corrosão é quando há perda de material por causa
agravante, e, podendo ser resolvido por meio da de reações químicas ou decomposição eletrolítica na
alteração do tipo de óleo lubrificante, ou também, superfície, podem ser ocasionadas por diversas razões,
escolhendo-se um óleo com viscosidade maior. Um sendo estes o aditivo que foi aplicado no óleo
exemplo de desgaste pode ser visto na figura 14.[17] lubrificante, como também podendo ser o próprio ar do
meio de operação da engrenagem. Na figura 16, pode
ser visto uma figura desgastada por corrosão. [17]
Há quatro fatores que podem contribuir na corrosão
atmosférica:
Umidade relativa, na qual o ferro sofre corrosão lenta a
partir dos 60% de umidade atmosférica e o processo de
corrosão se torna mais acelerado a partir dos 70% de
umidade. [19]
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Substâncias poluentes, que se depositam na superfície


metálica proporcionam condições de aeração causando
corrosão situada abaixo dos particulados depositados.
Algumas destas substâncias podem até mesmo reterem
umidade acelerando ainda mais o processo corrosivo.
[19]
Temperatura, por sua vez, elevada reduz a ação
corrosiva, pois dificulta a condensação do vapor d’água
da umidade do ar. [19]
Tempo de permanência do filme eletrolítico na
superfície metálica, as soluções dos sais que podem
ficar depositados na superfície aumentam a
condutividade do eletrolítico com seu tempo de
permanência, portanto, acelerando o processo
corrosivo. Fatores climáticos possuem forte influência Figura 17. Fratura por sobrecarga [Do autor]
nesse caso, pois as chuvas podem solubilizar os sais que
ficarem retidos na superfície do material. Havendo A fratura por fadiga de flexão, a mais comum, ocorre
frestas ou regiões de estagnação, a solubilização já será dado a ação repetitiva de tensão superior ou próxima a
impossibilitada. [19] ao limite de resistência à fadiga do material do dente da
engrenagem. Até que um determinado momento surge
uma trinca no material, que facilita a nucleação e
propagação dessa trinca caso a tensão continue. A
trinca, também pode ser resultado de impurezas, e
pontos nas quais podem haver concentração de tensões.
[18]
Na figura 18, pode ser observado que a trinca progride
na extremidade do dente e segue o caminho ao longo
do pé do dente. Sendo essa, uma região muito favorável
para o surgimento de trincas. [18]

Figura 16. Desgaste por corrosão [Do autor]

9.5 Fraturas
A fratura dos dentes pode ser causada pela fadiga de
flexão ou por sobrecarga. A fratura por sobrecarga
acontece quando submetidas a grandes impactos, que
podem ocorrer por gripamento dos dentes causados por
falhas nos mancais ou rolamentos, por eixos
empenados ou por causa da entrada de corpos
estranhos. A seção fraturada terá aparência não
deformada, sedosa e fosca para materiais duros, e
severamente deformada, fribosa e brilhante para
materiais dúcteis, como visto na Figura 17. [18] Figura 18. Fratura por fadiga de flexão [Do autor]

10. ESTUDO DE CASOS


Em setembro de 2004 as coroas e pinhão do Truck de
uma empilhadeira/recuperadora do pátio de minérios
falharam. Foi constatado que as engrenagens originais
falhavam numa frequência de 4 meses e após a
substituição destas por engrenagens de compra
nacional, as falhas se tornaram mais frequentes. Que foi
o caso do pinhão e coroa, vistos na figura 19, que
pertencem ao carro de translação, cujo sofreram
desgaste excessivo nos dentes. [20]
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REFERÊNCIAS
[1]WÖHLBIER, R.H.: Stacking, Blending,
Reclaiming. Trans Tech Publications, 1977,
Clausthal, 1977.
[2]SANTOS JÚNIOR, Prof. Dr. Auteliano Antunes.
Engrenagens Cilíndricas de Dentes Retos.
Apostila para o curso: EM 718 – Elementos de
Figura 19. Pinhão e coroa de um truck de translação [20] Maquinas II. Campinas: Universidade Estadual de
Campinas – UNICAMP, 2002.
Motivo [3]CALLISTER, William D. Jr.; WILEY, John.
A coroa não passou por um tratamento de têmpera Ciência e Engenharia de Materiais. 5ª Ed. New
superficial e a especificação do material foi inadequada York, 2008.
ao projeto, que contribui com o desgaste excessivo dos [4]SEIDEL, Wilson. Falhas em engrenagens. Jaraguá
dentes do conjunto de engrenagens. [7] do Sul: Católica de Santa Catarina, 2011.
[5]NORTON, Robert L. Projeto de Máquinas. 4ª Ed.
Recomendações Bookman, 2004.
Durante a montagem, é recomendável que sempre se [6]KODA, Fabio. Estudo da fadiga de contato em
cheque a distância entre os eixos, que devem seguir a engrenagens cilíndricas de dentes retos. Paraná:
tolerância dimensional determinada. UTFPR, 2009.
O projeto do pinhão e da coroa devem ser revistados, [7]COLLINS, Jack A... Projeto Mecânico de
ambos adotando o material SAE 4140 temperado e Elementos de Maquinas. 1ª Ed. Editora LTC,
revenido. 2006.
Programar a substituição das outras engrenagens e [8]SHIGLEY, Joseph Edward. Projeto de Engenharia
coroas nacionais em situação semelhante às analisadas, Mecânica. 7ª Ed. McGraw–Hill, 2001.
no objetivo de atingir à estabilidade operacional da [9]BEER, Ferdinand P.; JOHNSTON JR, E. Russel.
empilhadeira/recuperadora. [7] Resistência dos materiais. 4ª. Ed. São Paulo:
McGraw–Hill, 2006.
11. CONSIDERAÇÕES FINAIS [10]AFFONSO, Luiz Otávio Amaral. Equipamentos
Portanto, a maior preocupação em relação às Mecânicos - Análise de Falhas e Solução de
engrenagens está na duração de sua vida útil. Que, Problemas. 3º Ed. Rio de Janeiro: Editora
como foi mostrado no artigo, depende de vários fatores, Qualitymark, 2002.
como a dureza requerida para determinada aplicação de [11]Trenching stacker reclaimer. Disponível em:
carga, o material utilizado no projeto das engrenagens, http://www.sid-tec.com/trenching-stacker-
a forma como o conjunto de engrenages foi montado, reclaimer.html. Acesso em: 04 jun. 2018.
como também a necessidade de um tratamento térmico [12]Bucketwheel Stacker Reclaimers. Disponível
específico para um projeto específico. em: www.metsominerals.com. Acesso em 20 out
Na maioria dos casos, as falhas ocorridas são devido ao 2018.
deslizamento dos dentes, o que pode ocasionar em [13]MAITRA, Gitin M. Handbook Of Gear Design.
fadiga de contato entre dentes, podendo até mesmo 2º Ed. McGraw–Hill, 2004.
chegar a provocar fratura por fadiga de flexão. [14]Stokes, Alec. Manual Gearbox Design.
Assim, deve ser feito um acompanhamento de perto, Butterworth-Heinemann, 1992.
seguindo as recomendações sugeridas pelos fabricantes [15]MELCONIAN, Sarkis. Elementos de Máquinas.
em acordo com as necessidades da aplicação e do local 8º Ed. São Paulo: editora Érica, 2007.
de trabalho, já que determinados ambientes de alta [16]SIQUEIRA, Iony Patriota de. Manutenção
umidade podem ocasionar em falhas inesperadas ao Centrada em Confiabilidade. Rio de Janeiro:
projeto, como por exemplo a corrosão. Qualitymark Editora Ltda, 2005.
Por isso, conclui-se que as engrenagens são um dos [17]RODRIGUES, Prof. Msc. Luis Eduardo Miranda.
dispostitivos mais inovadores da atualidade, e dado a Curso de Especialização em Manutenção
isso, a importância de que novos estudos surjam com o Produtiva Total. UNINOVE, 2008.
objetivo de promover conhecimento mais aprofundado [18]MAZZO, Noberto. Engrenagens cilíndricas: da
sobre esses componentes primordiais na transmissão de concepção à fabricação. 2º Ed. São Paulo: Edição
mecanismos, velocidade, esforço, torque e potência, Blucher, 2013.
sendo seu uso indispensável tanto para as máquinas [19]GENTIL, Vicente. Corrosão. 3º Ed. Rio de
mais rústicas como até para a aviação que exigem maior Janeiro: Editora LTC, 1996.
precisão, isso no objetivo de minimizar suas falhas para [20]Acervos Técnicos de uma grande Siderúrgica
que grandes produções como o processo de recuperação localizada na Serra - Relatórios Técnicos de
não sejam tão afetados. Engenharia com acesso restrito. Acesso em 2018.

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