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SONEGAÇÃO FISCAL E INADIMPLÊNCIA DA PREVIDÊNCIA

Dentre os importantes resultados trazidos com a CPI, a análise da sonegação e


inadimplência que impactam nas contas da previdência social pode ser considerada, ao
lado de alguns outros, o que mais se destaca. A partir da tipificação elencada através da
Lei nº 9.983/2000, que incluiu no Código Penal os tipos da “Apropriação Indébita
Previdenciária” (Art. 168-A, CP) e “Sonegação de Contribuição Previdenciária” (Art.
337-A, CP), o relatório final da CPI ouviu uma série de organizações1 e teve acesso à
uma série de estudos relacionados ao tema.

A princípio, como ponto de partida para compreender os matizes que compõem o


complexo contingente de sujeitos e situações que dão base à grande supressão de
receitas da previdência social, merece atenção o conceito de Apropriação Indébita
Previdenciária, trazido pelo Art. 168-A do Código Penal:

Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições


recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional.
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa (...). (Código
Penal Brasileiro)

Bem como o conceito de Sonegação de Contribuição Previdenciária, conforme o Art.


337-A do mesmo dispositivo:

Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição social previdenciária e


qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:

I – omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de


informações previsto pela legislação previdenciária, segurados
empregados, empresário, trabalhador avulso ou trabalhador
autônomo ou a este equiparado que lhe prestem serviços;

II – deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da


contabilidade da empresa as quantias descontadas dos segurados ou
as devidas pelo empregador ou pelo tomador de serviços;

III – omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos,


remunerações pagas ou creditadas e demais fatos geradores de
contribuições sociais previdenciárias.

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

As contribuições dos especialistas tiveram maior preocupação em delinear o volume das


condutas e valores perdidos decorrente do não recolhimento das verbas previdenciárias,

1
Dentre outras, O Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (SINAIT); O Sindicato Nacional
dos Procuradores da Fazenda Nacional (SINPROFAZ); a Associação Nacional dos Procuradores e
Advogados Públicos Federais (ANPREV); o Tribunal de Contas da União (TCU)
do que em discriminar o que era sonegação ou inadimplência. (RELATÓRIO FINAL
CPI PREVIDÊNCIA, p. 187, 2017). Assim, em maior ou menor grau, apontaram, ao
longo dos debates da Comissão Parlamentar, como fatores importantes que estimulam
ou não coíbem a sonegação da previdência, dentre outros: I. Os dispositivos legais que
extiguem, com o pagamento do débito, a punibilidade de crime contra a ordem
tributária; II. A falta de um sistema integrado das agências públicas estatais de
fiscalização tributária e fiscal; III. O elevado índice de descumprimento da legislação
trabalhista; IV. Os Regimes de Parcelamentos Especiais (Recuperação Fiscal - Refis),
que promovem níveis baixos de liquidação dos débitos previdenciários.

Ao ser trazido para as discussões das audiências que compuseram a CPI, o representante
do DIEESE estimou a sonegação decorrente da falta de registro formal dos
trabalhadores na Carteira de Trabalho em R$ 47 bilhões2, sendo tal prejuízo ampliado
pelos levantamentos da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), ao apontar que a
arrecadação rural poderia ser aumentada em R$ 5,2 bilhões caso houvesse maior
fiscalização da Receita Federal no processo de compra e venda da produção
agropecuária. (RELATÓRIO FINAL CPI PREVIDÊNCIA, p. 187-188, 2017),

Por sua vez, a SINPROFAZ, considerando os Tributos de COFINS, CSLL e


PIS/PASEP no ano de 2016, estimou que foi sonegado mais de 182 milhões de reais
(RELATÓRIO FINAL CPI PREVIDÊNCIA, p. 194, 2017). Chama atenção também o
dado do Tribunal de Contas da União, um dos órgãos de fiscalização tributária e fiscal
mais importante do Brasil, ao informar que não possuía até então, no momento da
realização da CPI, nenhum estudo que apontasse o real montante sonegado a
previdência3.

Endossando e ratificando as inúmeras contribuições dos especialistas e estudos


relacionados ao sistema previdenciário, as considerações da CPI sobre a dívida da
previdência decorrente da sonegação e inadimplência, dentre outros, revelaram que a
nossa legislação tributária não é firme, o que é agravado pela inadequação dos sistemas
de cobrança e cumprimento das determinações legais por parte da Receita Federal

2
Estudo realizado por professores da Universidade de Campinas para o período de 2014.
3
Tal situação de desconhecimento do real valor sonegado à previdência social foi corroborada pelo
Ministério da Fazenda em Documento apresentado à CPI, conforme apresentado na página 195 do
Relatório final da CPI da Previdência.
(RELATÓRIO FINAL CPI PREVIDÊNCIA, p. 207, 2017). Nesse sentido, não é com
muito espanto que se chega ao absurdo de um montante de R$ 424,8 bilhões de dívida
previdenciária devido pelo somatório dos seus cinco maiores devedores.

BRASIL. Decreto-Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial


da União, Rio de Janeiro, 31 dez. 1940.

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