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Niterói/2009
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A PELE E AS FASES DA CICATRIZAÇÃO
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Fase proliferativa ou regenerativa: ocorre a proliferação de fibroblastos, sob a
ação de citocinas, dando origem ao prosesso de fibroplasia (síntese de colágeno).
A síntese de colágeno é estimulada pela TGF beta e IGF1, e inibida pelo INF
gama e glicicorticóides. Simultaneamente, ocorre a proliferação de células
endoteliais, com formação de rica vascularização (angiogênese) e infiltração
densa de macrófagos, formando o tecido de granulação. Minutos após a lesão,
tem inicio a ativação dos queratinócitos na borda da ferida, fenômeno que
representa a fase de epitelização. Eles secretam laminina e colágeno tipo IV,
formando a membrana basal. Pode durar de 1 a 14 dias e se caracteriza pela
formação do tecido de granulação. Nesta fase o colágeno é o principal
componente do tecido conjuntivo reposto, por isso a vitamina C auxilia muito
nesse processo metabólico da cicatrização da ferida.
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A contração da ferida é um dos principais fenômenos da fase de maturação.
Durante o processo, as bordas são aproximadas, reduzindo a quantidade de cicatriz
desorganizada. A contração caracteriza- se pelo movimento centrípeto da pela nas
bordas da ferida, impulsionada pela ação dos miofibroblastos.
Infecção
Causa mais comum de atraso do processo cicatricial. Quando a contaminação
bacteriana ultrapassa 100000 unidades formadoras de colônia (CFU) ou na presença de
qualquer estreptococo beta hemolítico, o processo de cicatrização não ocorre, mersmo
com o uso de enxertos ou retalhos. A infecção bacteriana prolonga a fase inflamatória e
interfere com a epitelização, contração e deposição de colágeno. Clinicamente há sinais
flogísticos, geralmente acompanhados de drenagem purulenta. Nesses casos, deve- se
expor a ferida, com retirada das suturas, realizar cuidados locais e antibioticoterapia, se
necessário.
Desnutrição
Níveis de albumina inferiores a 2g/dl estão relacionados a uma maior incidência
de deiscências, além de atraso na cicatrização de feridas. A deficiência de vitamina C é a
hipovitaminose mais comumente associada à falência da cicatrização de feridas. Nesses
casos, o processo pode ser interrompido na fase de fibroplasia. Doses de 100 a 1000mg/
dia corrigem a deficiência. A cerência de vitamina A também pode prejudicar o processo
de cicatrização A carência de zinco (rara, presente em queimaduras extensas, trauma
grave e cirrose hepática), compromete a fase de epitelização.
Perfusão tecidual de O2
A perfusão tecidual depende basicamente de três fatores: volemia adequada,
quantidade de hemoglobina e conteúdo de O2 no sangue. Assim, a anemia, desde que o
paciente esteja com a volemia adequada, só interfere na cicatrização se o hematócrito
estiver abaixo de 15% (VN~36).
PRODUTOS UTILIZADOS
Anti-sépticos
Para Dealey, depois da solução salina, o tipo de loção mais comumente usado é o
anti-séptico (desinfectante não-tóxico que pode ser aplicado à pele ou aos tecidos vivos
e têm a capacidade de destruir compostos vegetativos, como bactérias e impedir seu
crescimento). Porém tem que ter cuidado, pois algumas vezes o uso de agentes químicos
e anti-sépticos sobre a ferida, pode gerar danos em vez de beneficio.
Clorohexidina
A clorohexidina é eficaz contra organismos gram-positivos e gram-negativos.
Clorohexidina é uns dos anti-sépticos menos tóxicos, mas não devem ser usados em
locais enxertados. A eficácia da clorohexidina diminui rapidamente na presença de
material orgânico como pus ou sangue.
Peróxido de hidrogênio 3%
Esse produto tem um efeito oxidante que destrói as bactérias anaeróbicas, mas ele
perde seu efeito quando entra em contato com material orgânico como pus ou gaze de
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algodão. O uso do peróxido de hidrogênio deve se restringir às feridas muitos
escamosas e o produto nunca deve ser utilizado em feridas com cavidade.
Coberturas
Chumaços absorventes
Eles não são adequados como curativos primários em feridas abertas, mas
constituem um excelente curativo secundário, principalmente quando há abudante
exsudação.
Curativos aderentes em forma de “ilha”
Estes curativos consistem em um chumaço central, coberto com uma faixa mais
larga de revestimento adesivo. Tem pouca capacidade de absorção. São usados mais em
feridas pós-cirúrgicas que cicatrizam por primeira intenção, mas não são utilizados em
curativos primários para feridas abertas.
Alginatos
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Os alginatos contém os alginatos de cálcio ou sódio, que é derivado de algas
marinhas. Há vários tipos de alginatos, incluindo Algosteril, Kaltogel, Kaltostat,
Comfeel, SeaSorb, Sorbsan e Tegagen. São apropriados para feridas com exsudação de
moderada a grande e podem exigir um curativo secundário, não deve se usado em
feridas com pouco ou nenhum exsudato. Quando absorve o exsudato, o curativo muda
sua estrutura fibrosa para a consistência de um gel. Esses estão disponíveis em vários
formatos como placas ou fitas, em versões de absorvência extra e com revestimento
adesivo.
Antibacterianos
O Arglaes de liberação controlada; é um curativo de filme com um polímero que
contém íon de prata. Ele eficaz contra uma gama de bactérias, inclusive MSRA.
Flamazine é um creme que contém sulfadiazina de prata, eficaz contra pseudomonas e
Staphylococcus aureus, tem amplo uso em queimaduras. Metrotop é um gel que contém
metranidazol, ele reduz o odor e as bactérias anaeróbicas, sendo usado em tumores
fungóides.
Curativos de carvão
Esses curativos são feitos com tecido de carvão ativado, no qual é eficaz na
absorção das substancias químicas liberadas pelas as feridas fétidas (feridas infectadas,
necróticas ou fungóides). Esses curativos são apresentados em dois tipos: um chumaço
de carvão, como Actisorb Plus ou uma combinação de curativo e carvão, como
Carbonet, Clinisorb ou Lyofoam C.
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Aplicação do carvão ativado em úlcera de perna
Espumas
Os curativos de espuma são feitos de poliuretano ou silicone. Estão disponíveis em
placas, como Allevyn, Lyofoam Extra ou Tielle, ou estão disponíveis como enchimento
para feridas cavitárias. Os curativos de espuma têm seu melhor uso nas feridas com
tecido de granulação ou de epitelização, com algum exsudato.
Segundo Blanes, o filme de poliuretano é um filme transparente onde possui a
permeabilidade à gases como o O2 e CO2 e vapor de água, sendo impermeável à
líquidos e bactérias. Por sua transparência permite a inspeção contínua da ferida. São
utilizados para tratamento de feridas superficiais minimamente exsudativas, sendo
benéfico para áreas doadoras de enxertos cutâneos com baixa exsudação, proteção de
feridas cirúrgicas sem complicações, fixação de cateteres, curativo secudário, prevenção
de lesões de pele por umidade excessiva ou atrito como é o caso das úlceras de pressão.
Esses filmes reduzem a dor e promovem a epitelização das feridas. Contra-indicações:
nas feridas infectadas ou exsudativas. Deve ser trocada quando houver acumulo de
exsudato ou deslocamento do mesmo.
Hidrocolóides
Filme de Poliuretano sobre úlcera por pressão estágio I
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Constituído de celulose, gelatina e pectina e um revestimento feito de filme ou
espuma de poliuretano. Exemplos de curativos de hidrocolóides: Comfeel Plus,
Tegasorb, Cultinova Hydro, Granuflex. Os hidrocolóides são usados em ampla
variedade de feridas, mas têm maior eficácia nas feridas com exsudação de baixa ou
moderada.
Para Blanes, o hidrocolóide interage com o exsudato para formar um gel, este gel
cria um meio úmido na superfície da ferida, que estimula a síntese do colágeno e acelera
o crescimento e a migração das células epiteliais. O gel evita a aderência à ferida e
proporciona alívio da dor, por manter úmidas as terminações nervosas. Os hidrocolóides
têm diferentes apresentações em placa, pasta ou pó.
Hidrogel
Para Blanes, o Hidrogel é um gel transparente, sendo que está disponível tanto em
gel como em forma de placa e requer a utilização de cobertura secundária. São
indicados em feridas com perda tecidual parcial ou profunda, feridas com tecido
necrótico, áreas doadoras de pele, queimaduras de primeiro e segundo grau,
dermoabrasões e úlceras. Devido à reduzida capacidade de absorção é contra-indicada
em feridas exsudativas. As trocas devem ser de 1 a 3 dias.
Dealey diz que o hidrogel é também indicado para hidratar feridas ressecadas, como
escaras necróticas, e assim estimulam o desbridamento.
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Hidrogel em úlcera isquêmica do membro
Papaínas
Bandagens pastosas
Trata-se de bandagens de algodão impregnados de uma pasta de medicamentos.
Tem amplo uso em úlceras de perna especialmente quando a pele circundante se
apresenta eczematoza ou inflamada. Porém muitos pacientes desenvolvem alergias ao
teor da pasta.
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Bandagens para compressões
São utilizadas para o controle clínico da hipertensão dos membros inferiores,
auxiliando no processo da cicatrização das úlceras venosas.
Bota de Unna
É uma bandagem impregnada com pasta de óxido de zinco a 10% que não
endurece com glicerina, petrolato e agentes anti-sépticos e estimulantes de cicatrização.
É indicado em úlceras venosas de pernas e linfedemas. São contra indicadas em úlceras
arteriais e arteriovenosas.
Aloe Vera
São indicadas em queimaduras de primeiro e segundo grau, ulcerações refratárias. A
substituição do curativo é aconselhada a cada 24 horas.
PROCEDIMENTOS
Incisão cirúrgica
Segundo Dealey, no fechamento primário, ou seja, cicatrização por primeira
intenção (as bordas da pele se mantêm juntas por meio de suturas) costuma ser usado
um curativo simples tipo “ilha”, para cobrir a ferida no final da operação. Quando se usa
compressa de gaze, essa deve ser manter úmida e trocada regularmente para impedir que
seque e grude na ferida.
Deiscência
É o rompimento ou abertura, total ou parcial, de uma ferida que está cicatrizando
por primeira intenção.
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Se houver uma deiscência parcial da linha da sutura, com pouca exsudação e
necrose é apropriado utilizar hidrogel amorfo. A maioria dessas feridas são tratadas de
modo conservador.
Colostomia
A colostomia consiste em um procedimento cirúrgico onde se faz uma abertura
no abdome (estoma), exteriorizando o intestino grosso, mais comumente o cólon
transverso ou sigmóide, através da parede abdominal, para eliminação de gases ou
fezes. É feito geralmente após a ressecção intestinal, podendo ser temporária ou
permanente.
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Se não forem tomados os devidos cuidados com a bolsa de colostomia, podem
ocorrer várias complicações, desde simples irritações cutâneas até problemas
potencialmente letais. A pele ao redor da colostomia requer um cuidado especial pois o
contato prolongado com as fezes pode causar irritação. Visando manter a integridade da
pele e a aderência do dispositivo a esta, alguns cuidados são necessários:
Nunca utilizar substâncias irritantes para a pele, como por exemplo produtos que
ressecam a mesma, favorecendo o aparecimento de lesões e reações alérgicas.
A limpeza ao redor da pele deve ser feita com água e sabão neutro. Não é
necessário esfregar com força.
No pós-operatório imediato, deve ser realizada a visualização constante do
estoma, atentando para o volume e as características das fezes, para identificação
de possíveis alterações.
A bolsa de colostomia deve ser esvaziada, irrigada e limpa regularmente. A
remoção do sistema coletor deve ser realizada com movimentos delicados,
iniciando pelo deslocamento do adesivo microporoso a partir da lingueta lateral,
segurando a pele do abdome com a outra mão. É importante que a bolsa
permaneça aderida por no mínimo 24 horas. A durabilidade da bolsa será maior
se for esvaziada sempre que o conteúdo atingir um terço do dispositivo ou no
máximo a metade da sua capacidade. A abertura da bolsa deve ser compatível
com o tamanho do estoma, não ultrapassando além de 3 mm. Na aplicação da
bolsa deve-se tomar o cuidado de evitar a formação de rugas no adesivo.
Passo a passo da colocação da bolsa de colostomia:
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3- IMPORTANTE: Antes de recortar o disco, separar as partes da frente e de trás
da bolsa, a fim de evitar cortar a parte frontal.
6- Segurar a bolsa pelos dois lados (C) e posicionar o disco com a abertura sobre o
estoma.
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7- Pressionar o suporte adesivo contra a pele, assegurando-se de que ele fique liso e
sem rugas. Preste bastante atenção à área periestoma.
9- Para remover a bolsa, comece pela parte superior, pressione levemente a pele
adjacente com uma das mãos e remova cuidadosamente a barreira protetora da
pele com a outra mão, até retirar completamente a bolsa.
Drenos de feridas
Os drenos de feridas são utilizados para proporcionar ao fluido um canal até a
superfície do corpo, evitando que ele se acumule na ferida. O fluido pode ser: sangue,
pus, exsudato seroso, bile, ou outros fluidos corporais. Há vários tipos de drenos e
podem ser classificados em abertos e fechados.
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Drenos abertos podem ser tubos, borracha ou plástico corrugados. Os drenos
fechados consistem em dreno, tubo conector e receptáculo coletor; geralmente
proporcionam um vácuo e por isso têm um efeito de sucção.
Dreno de tórax
Dreno de Penrose
DEALEY, Carol. Cuidando de feridas. Um guia para as enfermeiras. São Paulo: Ed. Atheneu, segunda
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Disponível em:
http://www.unimes.br/aulas/MEDICINA/Aulas2005/1ano/Procedimentos_basicos_em_medicina/feridas_
e_curativos.html
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