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Materiais falham a todo o momento: por envelhecimento, desgaste, fadiga ou

outros fatores. Assim, é necessária a ação humana para repará-los, substituí-


los ou agir preventivamente para evitar que o componente se torne
inutilizável. Imaginem, porém, como nossas vidas, tanto pessoal como
profissional, seriam simplificadas se os materiais fossem auto reparáveis e não
precisássemos fazer monitoramento, substituições ou reparos preventivos para
evitar falhas, tampouco restaurá-lo ou trocá-lo em caso de danos. Construções
seriam mais seguras, carros batidos não precisariam ser arrumados em
oficinas e aviões não precisariam passar por um monitoramento tão rigoroso
de trincas. Pensando em tudo isso, pesquisadores do mundo todo começaram
estudos sobre materiais auto reparáveis a partir da década de 50. Um desses
materiais será apresentado agora: as ligas metálicas com memória de forma,
também conhecidas como LMF ou, do inglês, SMA (Shape-Memory Alloy).

Por definição, as ligas metálicas com memória de forma são


materiais que têm a capacidade de recuperar a sua forma, quando aquecidos,
depois de severamente deformados. Além disso, outra característica
importante é a capacidade de suportar deformações, sem se romperem,
consideravelmente maiores do que as ligas convencionais (elas suportam até
8% de deformação, enquanto o aço convencional suporta até 0,2% apenas).
Embora essas ligas possam ser feitas a partir de outros compostos, as
fabricadas por níquel e titânio são as mais comuns, devido, principalmente, à
sua estabilidade, praticidade e desempenho termomecânico. Estas, por sua
vez, são denominadas nitinol, e suas principais propriedades são efeito
térmico de memória e superelasticidade.

Antes de falar sobre suas propriedades, devemos conhecer as duas


fases que o nitinol possui quando se apresenta no estado sólido. A primeira
delas é a fase austenita, a qual tem como características alta temperatura,
dureza elevada e estrutura de cristal cúbico. A fase martensita é a fase de baixa
temperatura, flexível e facilmente deformável e com pouca simetria. Essas
fases se alteram a medida que a liga é aquecida, resfriada e deformada.

A imagem a seguir auxilia no entendimento do efeito térmico de


memória:

1. Por resfriamento, a austenita que constitui o material transforma-se em


martensita;

2. Por aplicação de uma deformação, o material assume uma nova forma;

3. Por aquecimento, o material recupera a forma original, em


consequência da transformação reversível da martensita em austenita.
Curioso, não?! Mas você deve estar se perguntando: por que isso
acontece? Existem três principais justificativas para esse evento ocorrer, a
saber: primeiro, as ligações atômicas não são quebradas durante as mudanças
de fase; segundo, esse tipo de deformação é conhecida como twinning e
consiste no rearranjo dos planos atômicos sem causar desvio ou deformação
permanente; e, por último, a transformação é reversível e instantânea em
ambas direções.

A elasticidade pode ser definida como a capacidade do material de


sofrer grandes deformações quando submetido a um carregamento e retornar
ao seu estado original com o alívio da carga. No caso do nitinol, esse efeito é
mais intenso e, por isso, dizemos que ele é superelástico. Vale ressaltar que
essa transformação não acontece com mudança de temperatura e é de origem
mecânica, diferentemente do efeito térmico de memória. Um esquema sobre
essa característica é apresentado a seguir:

Agora vamos falar um pouco das aplicações do nitinol na


construção civil, que é o nosso interesse. Dispositivos construídos de SMA
têm alta capacidade de dissipar energia e, por isso, é interessante seu uso
como atenuadores de vibrações em lugares que ocorrem processos de
carregamento-descarregamento constantemente. Nesse caso, quando uma
excitação inesperada causar excesso de vibração, mais energia será dissipada e
a vibração será atenuada. Além disso, as ligas também mostram-se eficientes
em locais com incidência de terremoto: por suportarem maior deformação,
conseguem sustentar a estrutura durante o abalo sem que esta entre em
colapso e, caso seja evidenciada alguma deformidade, o efeito térmico de
memória pode fazê-la voltar à forma original.

Percebemos, portanto, que o nitinol possui uma vasta aplicação no


ramo da engenharia civil, e mostra-se como uma boa opção para diversos
problemas de difícil solução, como: construção de edifícios em locais que
sofrem ação de terremoto, edifícios altos o suficientes para sofrerem forte
ação de ventos e pontes com vibrações constantes. Assim, cabe aos
engenheiros não se limitarem apenas ao tradicional, mas buscarem sempre
novas tecnologias antes da elaboração de um projeto, a fim de otimizá-lo e, ao
mesmo tempo, torná-lo mais seguro.

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