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A COMINAÇÃO
DAS SANÇÕES PENAIS
FLORIANÓPOLIS
2018
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO....................................................................................................................
CAPÍTULO I – O ESTUDO DOGMÁTICO DO DIREITO PENAL............................
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................
SEÇÃO I - O OBJETO DA CIÊNCIA DO DIREITO PENAL.............................................
Subseção I – O objeto tradicional da ciência do direito penal.........................................
Suseção II – A crítica ao objeto tradicional da ciência do direito penal.........................
Subseção III – A reconfiguração do objeto da ciência do direito penal..........................
SEÇÃO II - A TAREFA DA CIÊNCIA DO DIREITO PENAL............................................
Subseção I – A tarefa tradicional da ciência do direito penal..........................................
Subseção II – A crítica à tarefa tradicional da ciência do direito penal..........................
Subseção III – A reconfiguração da tarefa da ciência do direito penal...........................
SEÇÃO III - O MÉTODO DA CIÊNCIA DO DIREITO PENAL........................................
Subseção I – O método tradicional da ciência do direito penal.......................................
Subseção II – A crítica ao método tradicional da ciência do direito penal.....................
Subseção III – A reconfiguração do método da ciência do penal....................................
CAPÍTULO II – ASPECTOS TEÓRICOS RELATIVOS À COMINAÇÃO DAS
SANÇÕES PENAIS.............................................................................................................
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................
SEÇÃO I - CONCEITO, CARÁTER E FORMA DA COMINAÇÃO.................................
SEÇÃO II - CONTEÚDO DA COMINAÇÃO.....................................................................
SEÇÃO III – CARÁTER.......................................................................................................
SEÇÃO IV - TIPOS DE COMINAÇÃO...............................................................................
SEÇÃO V - FUNÇÕES DAS SANÇÕES PENAIS NO PLANO DA
COMINAÇÃO.......................................................................................................................
CAPÍTULO III – ASPECTOS CONSTITUCIONAIS RELATIVOS À
COMINAÇÃO DAS SANÇÕES PENAIS.........................................................................
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................
SEÇÃO I – AS SANÇÕES PENAIS PERMITIDAS PELA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL..............................................................................................................................
Subseção I – Privação ou restrição da liberdade..............................................................
§ 1º A privação da liberdade..................................................................................................
§ 2º A restrição da liberdade.................................................................................................
Subseção II – Perda de bens................................................ ...............................................
Subseção III – Prestação social alternativa.......................................................................
Subseção IV – Multa............................................................................................................
Subseção V – Interdição ou suspensão de direitos............................................................
SEÇÃO II – AS SANÇÕES PENAIS PRIBIDAS PELA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL..............................................................................................................................
Subseção I – Pena de morte.................................................................................................
Subseção II – Penas de caráter perpétuo...........................................................................
§ 1º A proibição da perpetuidade da prisão..........................................................................
§ 2º A proibição da perpetuidade das medidas de segurança...............................................
§ 3º A proibição da perpetuidade dos antecedentes criminais..............................................
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§ 4º A proibição da perpetuidade dos efeitos secundários da condenação e das medidas
penais consensuais.................................................................................................................
Subseção III – Penas trabalhos forçados...........................................................................
Subseção IV - Pena de banimento.....................................................................................
Subseção V – Penas cruéis...................................................................................................
CAPÍTULO IV – SANÇÕES PENAIS E DIREITO INTERNACIONAL.....................
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................
SEÇÃO I - AS NORMAS PENAIS INTERNACIONAIS RELATIVAS A DIREITOS
HUMANOS COMO OBJETO DA CIÊNCIA DO DIREITO PENAL.................................
Subseção I - A positivação das normas internacionais relativas a direitos
humanos................................................................................................................................
Subseção II – A convivência entre os sistemas internacional e nacional.........................
SEÇÃO II - NORMAS INTERNACIONAIS SOBRE SANÇÕES PENAIS CONTIDAS
NO SISTEMA GLOBAL DE DIREITOS HUMANOS........................................................
Subseção I - Normas penais contidas no sistema global-geral.........................................
Subseção II - Normas penais contidas no sistema global-especial...................................
SEÇÃO III - NORMAS INTERNACIONAIS SOBRE SANÇÕES PENAIS CONTIDAS
NO SISTEMA REGIONAL DE DIREITOS HUMANOS....................................................
Subseção I - Normas penais contidas no sistema regional-geral.....................................
Subseção II - Normas penais contidas no sistema regional-especial...............................
CAPÍTULO V – ESPÉCIES DE SANÇÕES PENAIS COMINADAS NA
LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL BRASILEIRA.........................................
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................
SEÇÃO I - A ESTRUTURA DO CÓDIGO PENAL RELATIVA ÀS SANÇÕES PENAIS.
SEÇÃO II - AS SANÇÕES PENAIS COMINADAS NO CÓDIGO PENAL......................
Subseção I – Penas...............................................................................................................
Subseção II - Medidas de segurança..................................................................................
Subseção III – Efeitos secundários penais e extrapenais..................................................
SEÇÃO III - AS SANÇÕES PENAIS COMINADAS NA LEGISLAÇÃO ESPECIAL.....
Subseção I - Na Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais.......................................
§1º Medidas penais obtidas por meio de transação penal....................................................
§ 2º Medidas penais obtidas por meio de suspensão condicional do processo.....................
Subseção II - Na Lei de Contravenções Penais.................................................................
Subseção III - No Código de Trânsito Brasileiro..............................................................
§ 1º A suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir
veículo automotor terrestre (artigos 292, 293 e 296 do CTB)...............................................
§ 2º A multa reparatória (artigo 297 do CTB).......................................................................
Subseção IV - Lei de Abuso de Autoridade.......................................................................
Subseção IV - Na Lei das Infrações Penais Ambientais...................................................
Subseção V - Na Lei de Drogas...........................................................................................
Subseção VI - No Estatuto do Torcedor.............................................................................
CAPÍTULO VI – PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE COMINADAS NO
ORDENAMENTO JURÍDICO-PENAL BRASILEIRO..................................................
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................
SEÇÃO I - ASPECTOS HISTÓRICOS E TEÓRICOS RELATIVOS ÀS PENAS
PRIVATIVAS DE LIBERDADE...........................................................................................
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Subseção I - Conceito de prisão e distinções entre a pena de prisão e a prisão
cautelar..................................................................................................................................
§1º Conceito de pena privativa de liberdade.........................................................................
§ 2º Distinção entre a pena de prisão e a prisão cautelar.....................................................
Subseção II - Condições que propiciaram o surgimento e a sedimentação da pena de
prisão.....................................................................................................................................
§ 1º Condições religiosas.......................................................................................................
§ 2º Condições sociais...........................................................................................................
§ 3º Condições econômicas...................................................................................................
§ 4º Condições filosóficas......................................................................................................
§ 5º Condições políticas........................................................................................................
Subseção III - Os primeiros estabelecimentos prisionais.................................................
§ 1º As Bridewells, houses of corrections e workhouses…………………………………...
§ 2º As Rasp-huis..................................................................................................................
§ 3º O panótico......................................................................................................................
Subseção IV - Espécies de penas privativas de liberdade cominadas no ordenamento
jurídico-penal brasileiro......................................................................................................
§ 1º Penas privativas de liberdade previstas no Código Penal.............................................
1.1 A reclusão.........................................................................................................................
1.2 A detenção........................................................................................................................
§ 2º A pena privativa de liberdade prevista na Lei de Contravenção Penal.........................
§ 3º Distinção entre a reclusão, a detenção e a prisão simples.............................................
§ 4º Importância da distinção entre reclusão, detenção e prisão simples.............................
Subseção V - Regimes e estabelecimentos de cumprimento das penas privativas de
liberdade...............................................................................................................................
§ 1º Aspectos históricos.........................................................................................................
1.1 A recepção parcial do sistema progressivo pelo Código Penal de 1940..........................
1.1.1 Regra de cumprimento da pena de reclusão.................................................................
1.1.1.1 Isolamento celular......................................................................................................
1.1.1.2 Trabalho em comum dentro do estabelecimento.......................................................
1.1.2 A transferência para colônia penal................................................................................
1.2 A instituição dos regimes fechado, semiaberto e aberto pela Lei n. 6.416, de 24 de
maio de 1977 (Reforma Penal de 1977)................................................................................
1.2.1 Regras comuns para a reclusão e a detenção................................................................
1.2.2 Regras para a reclusão..................................................................................................
1.2.3 Regras para a detenção..................................................................................................
§ 2º O regime fechado e a penitenciária................................................................................
2.1 Conceito de regime fechado.............................................................................................
2.2 A penitenciária como o local apropriado para o cumprimento da pena de reclusão em
regime fechado.......................................................................................................................
2.2.1 Requisitos da cela individual........................................................................................
2.2.2 Penitenciárias femininas...............................................................................................
2.2.3 Penitenciárias masculinas.............................................................................................
2.3 O estabelecimento adequado para o cumprimento da pena de detenção em regime
fechado...................................................................................................................................
2.3.1 A penitenciária..............................................................................................................
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2.3.2 A colônia agrícola, industrial ou similar.......................................................................
§ 3º O regime semiaberto e a colônia agrícola, industrial ou similar...................................
3.1 Conceito de regime semiaberto........................................................................................
3.2 A colônia agrícola, industrial ou similar como o estabelecimento apropriado para o
cumprimento da pena privativa de liberdade em regime semiaberto....................................
3.3 Requisitos do alojamento coletivo...................................................................................
3.3.1 Salubridade...................................................................................................................
3.3.2 Seleção adequada de presos..........................................................................................
3.3.3 Limite de capacidade máxima que atenda os objetivos de individualização da
pena........................................................................................................................................
3.4 Controvérsias sobre a possibilidade de saída do preso do regime semiaberto para o
trabalho externo em empresa privada sem vigilância............................................................
3.5 Controvérsias sobre a desnecessidade do cumprimento de 1/6 (um sexto) da pena pelo
preso em regime semiaberto para realizar trabalho externo ou frequentar curso fora do
estabelecimento......................................................................................................................
3.6 A saída temporária como um dos benefícios a serem usufruídos pelos presos do
regime semiaberto..................................................................................................................
3.7 A monitoração eletrônica da saída temporária.................................................................
§ 4º O regime aberto e a casa de albergado..........................................................................
4.1 Conceito de regime aberto...............................................................................................
4.2 A casa de albergado como estabelecimento apropriado para o cumprimento da pena
em regime aberto....................................................................................................................
4.3 Requisitos e condições para a concessão do regime aberto.............................................
4.3.1 Requisitos para a concessão do regime aberto..............................................................
4.3.2 Condições gerais e especiais para a concessão do regime aberto.................................
4.4 Modificação das condições do regime aberto..................................................................
4.5 Legislação local...............................................................................................................
4.6 Recolhimento domiciliar..................................................................................................
4.7 A monitoração eletrônica do recolhimento domiciliar.....................................................
4.8 Conversão da pena privativa de liberdade em restritivas de direitos...............................
§ 5º Legislação especial.........................................................................................................
Subseção VI - A detração penal..........................................................................................
§ 1º Conceito..........................................................................................................................
§ 2º Detração de período de prisão provisória ou internação impostas em outro
processo.................................................................................................................................
§ 3º Aspectos históricos.........................................................................................................
§ 4º Hipóteses de cabimento da detração penal....................................................................
4.1 Só é cabível a detração do período de prisão provisória decretada no mesmo
processo..................................................................................................................................
4.2 É cabível a detração do período de prisão provisória decretada em outro
processo..................................................................................................................................
§ 5º Competência para aplicar a detração............................................................................
5.1 Competência do juízo da execução penal........................................................................
5.2 Competência do juízo da condenação..............................................................................
Subseção VII - Classificação e separação dos presos........................................................
§ 1º Conceito de classificação dos presos.............................................................................
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§ 2º Aspectos as serem considerados na classificação dos presos........................................
§ 3º Competência...................................................................................................................
§ 4º O exame criminológico de classificação........................................................................
§5º O estabelecimento adequado para a realização do exame criminológico......................
Subseção VIII - Regras especiais para as mulheres..........................................................
Subseção IX - Assistência, Direitos, Deveres e Disciplina do Preso.................................
§ 1º Assistência ao preso........................................................................................................
1.1 Assistência material.........................................................................................................
1.2 Assistência à saúde...........................................................................................................
1.3 Assistência jurídica..........................................................................................................
1.4 Assistência educacional...................................................................................................
1.5 Assistência social.............................................................................................................
1.6 Assistência religiosa.........................................................................................................
1.7 Assistência ao egresso......................................................................................................
§ 2º Os deveres do preso........................................................................................................
§ 3º Os direitos do preso........................................................................................................
3.1 Previstos no Código Penal...............................................................................................
3.2 Previstos na Lei de Execução Penal.................................................................................
3.3 Direitos que podem ser suspensos ou restringidos..........................................................
§ 4º A disciplina do preso......................................................................................................
4.1 Conceito legal de disciplina.............................................................................................
4.2 Abrangência.....................................................................................................................
4.3 Observância ao princípio da legalidade em sentido amplo..............................................
4.4 Sanções disciplinares proibidas.......................................................................................
4.5 Cientificação do condenado sobre as normas disciplinares.............................................
4.6 Competência para exercer o poder disciplinar.................................................................
4.7 Faltas disciplinares...........................................................................................................
4.8 Formas de exercício da disciplina....................................................................................
Subseção X - Superveniência de Doença Mental..............................................................
Subseção XI - A polêmica sobre a privatização dos presídios..........................................
SEÇÃO II - O TRABALHO DO PRESO E A REMIÇÃO DA PENA PELO
TRABALHO, PELO ESTUDO E PELA LEITURA.............................................................
Subseção I - Aspectos introdutórios e históricos...............................................................
§ 1º Aspectos introdutórios....................................................................................................
§ 2º Aspectos históricos.........................................................................................................
§ 3º Fontes normativas..........................................................................................................
3.1 Fontes normativas constitucionais...................................................................................
3.2 Fontes normativas internacionais.....................................................................................
3.3 Fontes infraconstitucionais..............................................................................................
Subseção II - O trabalho do preso......................................................................................
§ 1º O trabalho como um dever do preso..............................................................................
§ 2º O trabalho e a sua remuneração como um direito do preso..........................................
§ 3º Obrigatoriedade do trabalho..........................................................................................
§ 4º Facultatividade do trabalho do preso...........................................................................
4.1 Facultatividade do trabalho do preso provisório............................................................
4.2 Facultatividade do trabalho do preso político.................................................................
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4.3 Facultatividade do trabalho do condenado por contravenção, à prisão simples, cuja
pena seja igual ou inferior a 15 (quinze) dias........................................................................
§ 5º Disposições constitucionais e internacionais sobre os trabalhos forçados...................
5.1 Proibição constitucional da pena de trabalhos forçados..................................................
5.2 Disposições internacionais sobre a possibilidade do trabalho do preso e sobre a
distinção entre os trabalhos forçados e o trabalho prisional..................................................
§ 6º Normas gerais sobre o trabalho do preso......................................................................
§ 7º A finalidade trabalho do preso como dever social e condição de dignidade humana..
§ 8º Segurança e higiene do trabalho....................................................................................
§ 9º Não sujeição do trabalho do preso à Consolidação das Leis do Trabalho...................
§ 10 A remuneração do trabalho do preso............................................................................
10.1 Aspectos históricos.........................................................................................................
10.2 Normatização sobre a remuneração do trabalho prisional.............................................
10.3 Parâmetros da remuneração do trabalho do preso ........................................................
10.3.1 Parâmetro mínimo......................................................................................................
10.3.2 Prévia tabela...............................................................................................................
10.4 Destinação da remuneração...........................................................................................
§ 11 A não remuneração das tarefas executadas como prestação de serviços à
comunidade............................................................................................................................
§ 12 O direito do preso à Previdência Social........................................................................
§ 13 A obrigatoriedade da execução do trabalho sob o controle e a vigilância das
autoridades públicas..............................................................................................................
§ 14 O trabalho interno.........................................................................................................
14.1 Regras para a atribuição do trabalho ao preso...............................................................
14.2 Trabalho a ser evitado....................................................................................................
14.3 O trabalho dos maiores de 60 (sessenta) anos...............................................................
14.4 O trabalho dos doentes ou deficientes físicos................................................................
14.5 A jornada de trabalho do preso.......................................................................................
14.6 Possibilidade de atribuição de horário especial de trabalho para os presos designados
para os serviços de conservação e manutenção do estabelecimento penal............................
14.7 A supervisão do trabalho prisional.................................................................................
14.8 O gerenciamento do trabalho do preso..........................................................................
§ 15 O trabalho externo.........................................................................................................
15.1 Possibilidade do trabalho externo dos presos em regime fechado................................
15.2 Possibilidade do trabalho externo dos presos em regime semiaberto...........................
§ 16 O trabalho dos presos em regime aberto.......................................................................
Subseção III - A remição e as suas espécies.......................................................................
§ 1º Aspectos históricos.........................................................................................................
§ 2º Aspectos teóricos............................................................................................................
2.1 Conceito de remição........................................................................................................
2.2 Espécies de remição.........................................................................................................
2.3 Disposições legais............................................................................................................
§ 3º A remição pelo trabalho.................................................................................................
3.1 Previsão legal...................................................................................................................
3.2 A contagem do tempo da remição pelo trabalho..............................................................
3.3 Beneficiários da remição pelo trabalho............................................................................
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3.4 Possibilidade de acumulação da remição pelo estudo com a remição pelo trabalho.......
3.5 A impossibilidade de o preso prosseguir no trabalho ou no estudo por acidente não
impede a concessão da remição.............................................................................................
§ 4º A remição pelo estudo.....................................................................................................
4.1 Previsão legal...................................................................................................................
4.2 A contagem do tempo da remição pelo estudo.................................................................
4.3 Beneficiários da remição pelo estudo..............................................................................
4.4 Forma de desenvolvimento do ensino..............................................................................
4.5 Necessidade de certificação pelas autoridades educacionais competentes......................
4.6 Acréscimo no tempo a remir em função do estudo em caso de conclusão do curso de
ensino fundamental, médio ou superior.................................................................................
4.7 Possibilidade de acumulação da remição pelo estudo com a remição pelo trabalho.......
4.8 A impossibilidade de o preso prosseguir no trabalho ou no estudo por acidente não
impede a concessão da remição.............................................................................................
§ 5º A remição pela leitura....................................................................................................
§ 6º Competência para declarar a remição...........................................................................
§ 7º Possibilidade de revogação de 1/3 (um terço) do tempo remido, em caso de falta
grave......................................................................................................................................
§ 8º Efeitos do tempo remido.................................................................................................
§ 10 Declaração mensal da autoridade administrativa sobre os condenados que
estiverem trabalhando ou estudando.....................................................................................
§ 10 Informação do condenado que estudar fora do estabelecimento..................................
§ 11 Declaração dos dias remidos.........................................................................................
§ 12 Declaração falsa............................................................................................................
SEÇÃO III - O SISTEMA PROGRESSIVO E REGRESSIVO DE CUMPRIMENTO
DAS PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE.....................................................................
Subseção I - Aspectos históricos.........................................................................................
§ 1º Os principais modelos de execução da prisão...............................................................
1.1 O sistema pensilvânico, filadélfico ou celular (solitary confinement system) (1776).....
1.2 O sistema auburniano (silent system) (1816)...................................................................
1.3 O sistema progressivo......................................................................................................
§ 2º O sistema progressivo e o seu surgimento da crítica aos sistemas filadélfico e
auburniano.............................................................................................................................
§ 3º O ingresso do sistema progressivo no ordenamento jurídico penal brasileiro..............
Subseção II - A recepção do sistema progressivo e regressivo pelo Código Penal e
pela Lei de Execução Penal.................................................................................................
Subseção III - Regras para o estabelecimento do regime inicial.....................................
§ 1º Variáveis a serem levadas em consideração na fixação do regime inicial.....................
1.1 Espécie, caráter ou natureza da infração penal................................................................
1.2 Espécie, caráter ou natureza da pena privativa de liberdade...........................................
1.3 Quantidade da pena..........................................................................................................
1.4 Reincidência genérica......................................................................................................
1.5 Circunstâncias judiciais...................................................................................................
§ 2º A competência para a fixação do regime inicial............................................................
2.1 Competência do juízo da condenação..............................................................................
2.2 Competência para o juízo da execução............................................................................
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§ 3º A necessidade de fundamentação idônea da fixação do regime inicial.........................
3.1 A necessidade de fundamentação idônea para a fixação de regime mais severo do que
aquele que a pena aplicada permitir.......................................................................................
3.2 A opinião do julgador sobre a gravidade abstrata do crime não constitui motivação
idônea.....................................................................................................................................
Subseção IV - A progressão de regimes.............................................................................
§ 1º Regras gerais..................................................................................................................
1.1 Requisito objetivo da progressão de regimes...................................................................
1.2 Requisito subjetivo da progressão de regimes.................................................................
§ 2º Regras específicas para os condenados por crimes contra a administração pública...
§ 3º Regras específicas para a progressão para o regime aberto.........................................
3.1 Requisitos.........................................................................................................................
3.2 Condições para o regime aberto.......................................................................................
3.3 Modificação das condições..............................................................................................
3.4 Recolhimento domiciliar..................................................................................................
§ 4º Regras específicas para a progressão de regimes nas condenações por crimes
hediondos ou assemelhados...................................................................................................
4.1 Requisito objetivo............................................................................................................
4.2 Requisito subjetivo...........................................................................................................
§ 5º Inadmissibilidade da progressão per saltum..................................................................
Subseção V - A regressão de regimes..................................................................................
§ 1º Hipóteses que autorizam a regressão de regime............................................................
1.1 Prática de fato definido como crime doloso ou falta grave.............................................
1.2 Condenação por crime anterior, cuja pena somada ao restante da pena em execução
torne incabível o regime.........................................................................................................
1.3 No caso de condenado em regime aberto, quando este frustrar a execução ou não
pagar a multa imposta............................................................................................................
§ 2º Necessidade da prévia instauração de processo administrativo....................................
§ 3º A necessidade da prévia oitiva do condenado................................................................
SEÇÃO IV - O LIVRAMENTO CONDICIONAL...............................................................
Subseção I – Conceito..........................................................................................................
Subseção II - Aspectos históricos........................................................................................
Subseção III - Competência para a concessão...................................................................
Subseção IV – Requisitos.....................................................................................................
§ 1º Requisitos objetivos do livramento condicional: cumprimento de uma fração da pena
imposta...................................................................................................................................
1.1 Em caso de condenação por crime não hediondo ou assemelhado e desde que o
condenado não seja reincidente.............................................................................................
1.2 Em caso de condenação por crime não hediondo ou assemelhado, se o condenado
reincidente em crime doloso..................................................................................................
1.3 Em caso de condenação por crime hediondo ou assemelhado, desde que não
reincidente específico nesses crimes......................................................................................
1.4 Soma das penas em caso de infrações diversas...............................................................
§ 2º Requisitos subjetivos do livramento condicional...........................................................
2.1 Comprovação de comportamento satisfatório (bom) durante a execução da pena..........
2.2 Bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído........................................................
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2.3 Aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto...........................
2.4 Reparação, salvo efetiva impossibilidade para fazê-lo, do dano causado pela infração
penal.......................................................................................................................................
Subseção V - Condições do livramento..............................................................................
§ 1º Condições obrigatórias..................................................................................................
1.1 Obtenção de ocupação lícita, dentro de prazo razoável, se for apto para o trabalho.......
1.2 Comunicação periódica da ocupação ao juiz da execução penal.....................................
1.3 Proibição de se afastar do território da comarca do juízo da execução, sem prévia
autorização deste....................................................................................................................
§ 2º Condições facultativas....................................................................................................
2.1 Proibição de mudar de residência sem prévia comunicação ao juiz e à autoridade
incumbida da observação cautelar e de proteção...................................................................
2.2 Recolhimento à habitação em hora fixada.......................................................................
2.3 Proibição de frequentar determinados lugares.................................................................
Subseção VI - Possibilidade do cumprimento das condições em outra
comarca.................................................................................................................................
Subseção VII - Carta de livramento...................................................................................
Subseção VIII - Cerimônia do livramento condicional....................................................
§ 1º Atribuição para a realização da cerimônia de livramento condicional.........................
1.1 Conselho Penitenciário, por seu presidente ou outro membro designado, no
estabelecimento onde está sendo cumprida a pena................................................................
1.2 Pelo juízo da execução penal no interior do Estado........................................................
§ 2º Atos da cerimônia de livramento condicional................................................................
2.1 Leitura da sentença concessiva do livramento condicional ao liberado na presença dos
demais condenados................................................................................................................
2.2 Advertência do liberado acerca das condições estabelecidas..........................................
2.3 O liberado deverá declarar se aceita ou não as condições impostas................................
2.4 Lavratura da cerimônia em livro próprio.........................................................................
2.5 Remessa de cópia ao juiz da execução, quando a cerimônia for realizada pelo
Conselho Penitenciário..........................................................................................................
Subseção IX - A caderneta do liberado e o salvo-conduto................................................
§ 1º A caderneta do liberado.................................................................................................
§ 2º O salvo-conduto..............................................................................................................
Subseção X - A observação cautelar e a proteção do liberado condicional....................
§ 1º Atribuição para realizar a observação cautelar ou a proteção do liberado
condicional.............................................................................................................................
1.1 Serviço social penitenciário.............................................................................................
1.2 Patronato..........................................................................................................................
1.3 Conselho da Comunidade................................................................................................
§ 2º A observação cautelar ou proteção do liberado condicional na prática.......................
§ 3º Finalidade da observação cautelar ou da proteção do liberado condicional...............
Subseção XI - Modificação das condições..........................................................................
Subseção XII - Suspensão do livramento condicional......................................................
Subseção XIII - Prorrogação do período de prova do livramento condicional..............
Subseção XIV - A revogação do livramento condicional..................................................
§ 1º Espécies de revogação do livramento condicional.........................................................
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1.1 Revogação obrigatória.....................................................................................................
1.2 Revogação facultativa......................................................................................................
§ 2º Iniciativa e competência para a revogação....................................................................
2.1 Iniciativa..........................................................................................................................
2.2 Competência para a revogação........................................................................................
§ 3º Efeitos da revogação do livramento condicional...........................................................
3.1 Impossibilidade de concessão de novo livramento condicional......................................
3.2 Impossibilidade de se descontar o tempo em que esteve solto o condenado, se a
revogação ocorreu pela prática em crime ocorrido durante o período do livramento...........
Subseção XV - Cumprimento das condições e extinção da pena.....................................
SEÇÃO V - A DURAÇÃO MÁXIMA DO CUMPRIMENTO DAS PENAS
PRIVATIVAS DE LIBERDADE NO ORDENAMENTO JURÍDICO-PENAL
BRASILEIRO........................................................................................................................
Subseção I - Fontes normativas e jurisprudenciais..........................................................
Subseção II - Aspectos históricos........................................................................................
Subseção III - A duração máxima do cumprimento das penas de reclusão e de
detenção................................................................................................................................
Subseção IV - A duração máxima do cumprimento da pena de prisão simples.............
Subseção V - Efeitos da unificação das penas....................................................................
CAPÍTULO VII - AS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS COMINADAS NO
ORDENAMENTO JURÍDICO-PENAL BRASILEIRO..................................................
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................
SEÇÃO I - ASPECTOS HISTÓRICOS E TEÓRICOS.........................................................
Subseção I - Aspectos históricos.........................................................................................
Subseção II - Aspectos teóricos...........................................................................................
§ 1º Conceito..........................................................................................................................
§ 2º Tipos de cominações das penas restritivas de direitos...................................................
2.1 Cominações no tipo e fora dele........................................................................................
2.2 Cominações cumulativas e alternativas...........................................................................
2.3 A cominação substitutiva das penas restritivas de direito (artigos 43 e 44 do Código
Penal).....................................................................................................................................
§ 3º Formas de substituição...................................................................................................
3.1 Em caso de pena privativa de liberdade igual ou inferior a 1 (um) ano: substituição ou
por 1 (uma) pena restritiva de direito ou por 1 (uma) multa (Artigo 44, parágrafo 2o, 1a
parte, do Código Penal)..........................................................................................................
3.2 Em caso de pena privativa de liberdade superior a 2 (dois) anos: substituição ou por 2
(duas) penas restritivas de direitos ou por 1 (uma) pena restritiva de direitos e 1 (uma)
multa (Artigo 44, parágrafo 2o, 2a parte, do Código Penal)...................................................
§ 4º Espécies de sanções penais restritivas de direitos cominadas no ordenamento
jurídico-penal brasileiro........................................................................................................
4.1 Espécies de sanções penais restritivas de direitos cominadas no Código Penal..............
4.2 Espécies de sanções penais restritivas de direitos cominadas na Lei das Infrações
penais ambientais...................................................................................................................
4.3 As sanções penais restritivas de direitos cominadas no Código de Trânsito Brasileiro
4.4 As sanções penais restritivas de direitos cominadas no Estatuto do Torcedor.................
4.5 As sanções penais restritivas de direitos cominadas na Lei de Abuso de Autoridade.....
11
4.6 As sanções penais restritivas de direitos cominadas na Lei de Drogas............................
SEÇÃO II - ASPECTOS ESPECÍFICOS DA EXECUÇÃO DAS PENAS RESTRITIVAS
DE DIREITOS.......................................................................................................................
Subseção I - Projeções normativas.....................................................................................
Subseção II - A conversão das penas restritivas de direitos em privativa de
liberdade...............................................................................................................................
§ 1º Hipótese..........................................................................................................................
§ 2º Forma de cálculo............................................................................................................
§ 3º Superveniência de condenação à pena privativa de liberdade......................................
3.1 O juiz decidirá pela conversão.........................................................................................
3.2 O juiz decidirá pela não conversão..................................................................................
Subseção III - A duração das penas restritivas de direitos...............................................
§ 1º A regra geral de duração das penas restritivas de direito que se estendem no tempo
§ 2º A quantidade da pena de prestação pecuniária.............................................................
2.1 Critérios adotados pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina na fixação da prestação
pecuniária...............................................................................................................................
2.2 Critérios adotados pelo Superior Tribunal de Justiça para a dosagem da prestação
pecuniária...............................................................................................................................
§ 3º A quantidade da pena de perda de bens e valores..........................................................
§ 4º A duração da pena de suspensão da habilitação ou de proibição de obter a
habilitação para dirigir veículo automotor terrestre prevista no Código de Trânsito
Brasileiro (Lei n 9.503, de 23 de setembro de 1997).............................................................
§ 5º A duração da pena de impedimento de comparecimento a estádio prevista no
Estatuto do Torcedor (Lei n. 10.671, de 15 de maio de 2003)...............................................
§ 6º A duração da pena de exílio funcional prevista na Lei do Abuso de Autoridade (Lei
n. 4.898, de 9 de dezembro de 1965).....................................................................................
SEÇÃO III - VERDADES, FALÁCIAS E DESCRENÇAS SOBRE AS PENAS
RESTRITIVAS DE DIREITOS.............................................................................................
Subseção I – Verdades.........................................................................................................
Subseção II – Falácias..........................................................................................................
Subseção III – Descrenças...................................................................................................
CAPÍTULO VIII - A PENA DE MULTA COMINADA NO ORDENAMENTO
JURÍDICO-PENAL BRASILEIRO...................................................................................
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................
SEÇÃO I - ASPECTOS HISTÓRICOS E TEÓRICOS.........................................................
Subseção I - Aspectos históricos.........................................................................................
Subseção II - Conceitos e distinções...................................................................................
§ 1º Conceito..........................................................................................................................
§ 2º Distinções entre a multa, a prestação pecuniária, a multa reparatória e a perda de
bens e valores.........................................................................................................................
2.1 A multa.............................................................................................................................
2.2 A prestação pecuniária.....................................................................................................
2.3 A multa reparatória...........................................................................................................
2.4 A perda de bens e valores.................................................................................................
Subseção III - Espécies de pena de multa..........................................................................
§ 1º A multa-tipo....................................................................................................................
12
§ 2 A multa substitutiva..........................................................................................................
2.1 Substituição da pena privativa de liberdade igual ou inferior a 1 (um) ano....................
2.2 Substituição da pena privativa de liberdade igual ou inferior a 6 (seis) meses...............
§ 3º A impossibilidade da substituição da pena privativa de liberdade cumulada com
multa em lei especial..............................................................................................................
SEÇÃO II - ASPECTOS ESPECÍFICOS DA APLICAÇÃO DA PENA DE MULTA.........
Subseção I - Partes da pena de multa................................................................................
§ 1º Aspectos gerais...............................................................................................................
§ 2º Quantidade de dias-multa..............................................................................................
§ 3º Valor do dia-multa..........................................................................................................
Subseção II - A aplicação da pena de multa......................................................................
SEÇÃO III - ASPECTOS ESPECÍFICOS DA EXECUÇÃO DA PENA DE MULTA.........
Subseção I - O título executivo da pena de multa.............................................................
Subseção II - Prazo para pagamento da pena de multa...................................................
Subseção III - Parcelamento da pena de multa.................................................................
Subseção IV - Pagamento da pena de multa mediante desconto em folha.....................
Subseção V - Proibição de o desconto comprometer o sustento pessoal e familiar........
Subseção VI - Impossibilidade da conversão da pena de multa em pena privativa de
liberdade...............................................................................................................................
Subseção VII - Legitimidade para a execução da pena de multa....................................
§ 1º A legitimidade é do Ministério Público..........................................................................
§ 2º Legitimidade da Procuradoria da Fazenda Nacional....................................................
Subseção VIII - Suspensão da execução da pena de multa..............................................
CAPÍTULO IX - A SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA PRIVATIVA DE
LIBERDADE........................................................................................................................
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................
SEÇÃO I -ASPECTOS HISTÓRICOS E TEÓRICOS.........................................................
Subseção I - Aspectos históricos.........................................................................................
Subseção II - Conceitos e distinções...................................................................................
§ 1º Conceito..........................................................................................................................
§ 2º Distinções da suspensão condicional da pena em relação ao “probation” e à
suspensão condicional do processo.......................................................................................
2.1 Probation.........................................................................................................................
2.2 A suspensão condicional do processo..............................................................................
Subseção III - Espécies de suspensão condicional da pena..............................................
§ 1º Sursis comum..................................................................................................................
§ 2º Sursis especial................................................................................................................
§ 3º Sursis etário....................................................................................................................
§ 4º Sursis humanitário..........................................................................................................
§ 5º Sursis da Lei de Contravenções Penais..........................................................................
§ 6º Aplicação às contravenções das espécies de sursis previstas no Código Penal............
SEÇÃO II - ASPECTOS ESPECÍFICOS DA CONCESSÃO DA SUSPENSÃO
CONDICIONAL DA PENA..................................................................................................
Subseção I - Competência para a concessão......................................................................
Subseção II - Hipóteses de cabimento da suspensão condicional da pena......................
Subseção III - Requisitos da suspensão condicional da pena...........................................
13
§ 1º Não ser o condenado reincidente em crime doloso, salvo se essa condenação
anterior for, apenas, à pena de multa....................................................................................
§ 2º Serem favoráveis as circunstâncias judiciais indicadas no inciso II do artigo 77,
caput, do Código Penal..........................................................................................................
§ 3º Não ter a pena privativa de liberdade sido substituída por outras modalidades
punitivas.................................................................................................................................
Subseção IV - Períodos de prova da suspensão condicional da pena..............................
§ 1º Como regra geral............................................................................................................
§ 2º Do sursis humanitário e etário.......................................................................................
§ 3º Do sursis da Lei de Contravenções Penais....................................................................
Subseção V - Condições da suspensão condicional da pena.............................................
§ 1º Condições obrigatórias da suspensão da pena..............................................................
1.1 Prestação de serviços à comunidade ou limitação de final de semana no primeiro ano
do período de prova...............................................................................................................
1.2 Possibilidade de substituição da prestação de serviços à comunidade ou da limitação
de fim de semana por outras condições.................................................................................
§ 2º Condições facultativas da suspensão da pena...............................................................
SEÇÃO III - ASPECTOS ESPECÍFICOS DA EXECUÇÃO DA SUSPENSÃO
CONDICIONAL DA PENA..................................................................................................
Subseção I - A audiência admonitória da suspensão condicional da pena.....................
Subseção II - A fiscalização das condições da suspensão condicional da pena...............
Subseção III - Modificação das condições da suspensão condicional da pena...............
Subseção IV - Possibilidade de cumprimento das condições da suspensão
condicional da pena em outra Comarca............................................................................
Subseção V - Revogação da suspensão condicional da pena............................................
§ 1º Revogação automática...................................................................................................
§ 2º A revogação obrigatória.................................................................................................
§ 3º A revogação facultativa..................................................................................................
Subseção VI - Prorrogação do período de prova da suspensão condicional da pena....
§ 1º Prorrogação obrigatória até o julgamento definitivo....................................................
§ 2º Prorrogação facultativa até o máximo do período de prova..........................................
Subseção VII - Cumprimento das condições da suspensão condicional da pena e
extinção da pena...................................................................................................................
Subseção VIII - Registros e sigilo acerca da suspensão condicional da pena.................
CAPÍTULO X - AS MEDIDAS DE SEGURANÇA COMINADAS NO
ORDENAMENTO JURÍDICO-PENAL BRASILEIRO..................................................
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................
SEÇÃO I - ASPECTOS TEÓRICOS, FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS.............................
Subseção I – Conceito..........................................................................................................
Subseção II - Fundamentos Filosóficos..............................................................................
Subseção III - Aspectos históricos......................................................................................
Subseção IV – Sistemas.......................................................................................................
§ 1º O sistema do duplo binário ou critério dualista cumulativo..........................................
§ 2º O sistema vicariante ou critério dualista alternativo.....................................................
Subseção V – Espécies..........................................................................................................
§ 1º Internação.......................................................................................................................
14
§ 2º Tratamento ambulatorial................................................................................................
SEÇÃO II – ASPECTOS ESPECÍFICOS DA APLICAÇÃO DAS MEDIDAS DE
SEGURANÇA.......................................................................................................................
Subseção I - A imposição de medidas de segurança a inimputáveis................................
Subseção II - A imposição de medidas de segurança a semi-inimputáveis.....................
Subseção III - A duração das medidas de segurança........................................................
§ 1º Prazo mínimo..................................................................................................................
§ 2º Prazo máximo.................................................................................................................
§ 3º A limitação jurisprudencial da duração máxima da medida de segurança...................
3.1 Limitações decorrentes da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que fixou em
30 (trinta) anos a duração máxima das medidas de segurança..............................................
3.2 Limitações decorrentes da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, que fixou a
duração das medidas de segurança como sendo a pena máxima cominada no tipo penal.....
Subseção IV - Medidas de segurança e contravenções penais.........................................
SEÇÃO III – ASPECTOS ESPECÍFICOS DA EXECUÇÃO DAS MEDIDAS DE
SEGURANÇA.......................................................................................................................
Subseção I - A necessidade do trânsito em julgado da sentença para a execução da
medida de segurança............................................................................................................
Subseção II - A expedição da guia de execução da medida de segurança.......................
Subseção III - A necessidade da classificação dos internos..............................................
Subseção IV - A realização de perícia médica períodica..................................................
§ 1º Data de realização da perícia........................................................................................
§ 2º Possibilidade de realização do exame antes de transcorrido o prazo mínimo da
medida de segurança.............................................................................................................
§ 3º Aspectos a serem analisados durante o exame de cessação de periculosidade.............
§ 4º Procedimento da verificação da cessação de periculosidade........................................
4.1 Relatório da autoridade administrativa............................................................................
4.2 Documento que deverá instruir o relatório da autoridade administrativa........................
4.3 Oitiva do Ministério Público e do curador ou do defensor do internado.........................
4.4 Nomeação de curador ou de defensor..............................................................................
4.5 Diligências judiciais.........................................................................................................
4.6 Proferimento da decisão em 5 (cinco) dias......................................................................
§ 5º Procedimentos nos exames sucessivos de verificação da cessação da periculosidade.
Subseção V - Desinternação, liberação e conversão..........................................................
§ 1º Desinternação e liberação..............................................................................................
§ 2º A conversão.....................................................................................................................
Subseção VI - Direitos do internado...................................................................................
CAPÍTULO XI - OS EFEITOS SECUNDÁRIOS DA CONDENAÇÃO
COMINADOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO-PENAL BRASILEIRO................
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................
SEÇÃO I - ASPECTOS HISTÓRICOS, CONCEITOS E DISTINÇÕES............................
SEÇÃO II - ESPÉCIES DE EFEITOS SECUNDÁRIOS DA CONDENAÇÃO..................
Subseção I - Efeitos penais secundários da condenação...................................................
§ 1º O impedimento para a concessão da suspensão condicional do processo....................
§ 2º O impedimento para a concessão da suspensão condicional da pena...........................
§ 3º A revogação obrigatória da suspensão condicional da pena.........................................
15
§ 4º A revogação facultativa da suspensão condicional da pena..........................................
§ 5º A revogação obrigatória do livramento condicional......................................................
§ 6º A revogação facultativa do livramento condicional.......................................................
§ 7º A revogação da reabilitação criminal............................................................................
§ 8º A determinação dos efeitos da reincidência...................................................................
Subseção II - Efeitos extrapenais secundários da condenação........................................
§ 1º Efeitos extrapenais secundários genéricos ou automáticos...........................................
§ 2º Efeitos extrapenais secundários específicos ou não automáticos..................................
Subseção III - Extinção dos efeitos secundários da condenação.....................................
CAPÍTULO XII - AS MEDIDAS PENAIS CONSENSUAIS COMINADAS NO
ORDENAMENTO JURÍDICO-PENAL BRASILEIRO..................................................
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................
SEÇÃO I - A RECEPÇÃO DO CONSENSUALISMO PENAL PELO ORDENAMENTO
JURÍDICO PENAL BRASILEIRO.......................................................................................
SEÇÃO II - CONCEITO E DISTINÇÕES DE MEDIDAS PENAIS CONSENSUAIS......
Subseção I – Conceito..........................................................................................................
Subseção II – Distinções......................................................................................................
SEÇÃO III - MEDIDAS PENAIS CONSENSUAIS OBTIDAS POR MEIO DE
TRANSAÇÃO PENAL.........................................................................................................
Subseção I – Conceito..........................................................................................................
Subseção II – Distinções......................................................................................................
Subseção III – Cabimento...................................................................................................
Subseção IV – Requisitos.....................................................................................................
§ 1º Não ter o autor do fato sido condenado, anteriormente, por sentença definitiva, à
pena privativa de liberdade...................................................................................................
§ 2º Não ter o autor do fato sido beneficiado pela transação penal no período de 5
(cinco) anos............................................................................................................................
§ 3º Serem favoráveis as circunstâncias judiciais relativas àos antecedentes, conduta
social, personalidade, motivos e circunstâncias do crime.....................................................
Subseção V - Transação penal no juízo comum ou do tribunal do júri..........................
SEÇÃO IV - MEDIDAS PENAIS CONSENSUAIS OBTIDAS POR MEIO DE
SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO................................................................
Subseção I – Conceito..........................................................................................................
Subseção II – Distinções......................................................................................................
Subseção III – Cabimento...................................................................................................
Subseção IV – Requisitos.....................................................................................................
§ 1º Não estar o réu sendo processado..................................................................................
§ 2º Não ter o réu sido condenado.........................................................................................
§ 3º Estarem presentes os requisitos da suspensão condicional da pena..............................
Subseção V – Condições......................................................................................................
§ 1º Condições obrigatórias..................................................................................................
1.1 Reparação do dano, salvo a impossibilidade de fazê-lo..................................................
1.2 Proibição de frequentar determinados lugares.................................................................
1.3 Proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do juiz....................
1.4 Comparecimento periódico ao juízo para informar atividades........................................
§ 2º Condições facultativas....................................................................................................
16
Subseção VI - Suspensão da prescrição.............................................................................
Subseção VII – Revogação..................................................................................................
§ 1º Revogação obrigatória...................................................................................................
§ 2º Revogação facultativa....................................................................................................
Subseção VIII - Extinção da punibilidade.........................................................................
17
INTRODUÇÃO
18
É importante ressaltar que o estudo dogmático das sanções penais se realiza
em três planos, ou seja, no plano da cominação, no plano da aplicação e no plano da
execução, os quais não são estanques ou plenamente definidos, mas, sim,
intercomunicam-se entre si.
O trabalho que se apresenta está relacionado, sobretudo, com o plano da
cominação das sanções penais, de modo que a aplicação e a execução destas será
remetida para trabalhos futuros, evitando-se, assim, que o texto deste resulte por demais
extenso e caro para os estudantes do direito, devido à necessidade das constantes
atualizações.
A presente exposição obedecerá o método dogmático, próprio da ciência do
direito penal, que visa a construir conceitos e sistematizá-los, a partir do material
normativo, de forma a que se possa compreender a temática estudada. Nessa construção e
sistematização, serão importantes as interpretações doutrinárias e jurisprudenciais.
O livro está divido em doze capítulos, estando o primeiro voltado à
apresentação das principais linhas que caracterizam o estudo dogmático do direito penal;
o segundo, aos aspectos teóricos relativos à cominação das sanções penais; o terceiro, aos
aspectos constitucionais relativos à cominação das sanções penais; o quarto, às sanções
penais e ao direito internacional; o quinto, às espécies de sanções penais cominadas na
legislação infraconstitucional brasileira; o sexto, às penas privativas de liberdade; o
sétimo, às penas restritivas de direitos; o oitavo, à pena de multa; o nono, à suspensão
condicional da pena privativa de liberdade (sursis); o décimo, às medidas de segurança; o
décimo primeiro, aos efeitos secundários da condenação penal; e o décimo segundo, às
medidas penais consensuais.
É fácil perceber que se trata de uma obra que vai além do que tratam os
manuais de direito penal, pois pretende expor, de forma científica, o seu objeto de estudo
com a observância de um método técnico-jurídico interdisciplinar e com o propósito de
realizar uma construção sistemática de conceitos que possibilitem a aplicação prática dos
textos normativos.
A tarefa desse estudo é propiciar a aplicação equânime dos textos normativos
e produzir, assim, segurança jurídica, sem relegar ao segundo plano a importância dos
direitos humanos, próprios dos Estados democráticos constitucionais.
19
Trata-se de um estudo que se realiza no marco do constitucionalismo e de
modo a conciliar duas forças que se opõem no campo desses direitos: por um lado, o
direito fundamental à não intervenção estatal, a fim de reduzir a violência institucional, e,
por outro, o direito fundamental de tutela penal de bens jurídicos fundamentais, a fim de
evitar a violação individual ou grupal de direitos humanos.
Por fim, é importante ressaltar que a presente obra se destina a todos os
estudiosos do direito penal, em especial aos que visam a se aprofundar na compreensão
das consequências penais previstas no ordenamento jurídico-penal brasileiro e das regras
que lhe dizem respeito, de modo que, estando o seu conteúdo exposto de forma didática,
interessa, especificamente, tanto aos estudantes do direito penal e aos profissionais do
sistema penal quanto às demais pessoas que, de alguma forma, interessam-se por essa
temática, em especial, os parlamentares e os assessores parlamentares, pois são estes que
se debruçam sobre as novas cominações e sobre as alterações das sanções penais já
existentes, bem como aos profissionais que se dedicam a informar a comunidade em
geral, entre eles escritores e jornalistas.
20
CAPÍTULO I
O ESTUDO DOGMÁTICO DO DIREITO PENAL
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
SEÇÃO I
O OBJETO DA CIÊNCIA DO DIREITO PENAL
Subseção I
O objeto tradicional da ciência do direito penal
21
normas que constituem o ordenamento jurídico penal”.1 É assim que surge e é concebida,
tradicionalmente, essa ciência, conhecida, também, como dogmática jurídico-penal.
Trata-se, como se percebe, de um conceito que abrange tanto a ciência do
direito penal material quanto a ciência do direito penal processual, pois, para Paul Johann
Anselm Ritter von Feuerbach, essa ciência estaria integrada: 1) pelos “princípios sobre a
punição das ações antijurídicas em geral (parte filosófica ou geral)”; 2) pelos “direitos
particulares do Estado que tem por fim a punição das categorias especiais das ações
antijurídicas individuais (parte positiva ou especial)”; e 3) pela “doutrina da forma como
o Estado faz valer legalmente seus direitos emergentes das leis penais (processo
criminal)”, o que significa que “é, por certo, uma parte do direito processual, que
permanece vinculada ao direito criminal em sentido estrito só pelas necessidades que se
derivam do ensino acadêmico”.2
Subseção II
A crítica ao objeto tradicional da ciência do direito penal
1
CANTERO, Jose A. Sainz. La ciencia del derecho penal y su evolucion. Barcelona: Bosch, 1970. p. 14.
2
FEUERBACH, Paul Johann Anselm Ritter Von. Tratado de Derecho Penal: común vigente em
Alemanha. Buenos Aires: Hammurabi, 1989. p. 48.
3
Sobre a crítica filosófica, sociológica e criminológica ao objeto da ciência do direito penal tradicional,
sugere-se a leitura do capítulo II da obra: BISSOLI FILHO, Franciso. O Objeto da Ciência do Direito
Penal. Florianóplis: Empório do Direito, 2015.
22
verdade em face da realidade, mas, apenas, de verdades possíveis, pois ela se atém aos
significados mais profundos dos objetos, o que implica a produção de um conhecimento
sempre em mutação, ou seja, que não seja definitivo - quanto de outras ciências – cujo
conhecimento é obtido em relação a objetos específicos, por meio de métodos de análise
e de leis também próprios, com vistas a estabelecer relações de causa e efeito -, como é o
caso da sociologia, da história, da ciência política, da economia e, sobretudo, da
criminologia e da política criminal.
Além disso, o que se percebe é que, na sua concepão tradicional, embora as
normas penais e processuais penais constitucionais e internacionais integrem o direito
penal objetivo, o conceito tradicional desse direito não enfatiza a importância dessas
normas, de modo que o estudo dessa ciência acaba recaindo, basicamente, sobre a
legislação infraconstitucional, ou seja, sobre os códigos penais e processuais penais e
sobre a legislação penal e processual penal extravagante.
Subseção III
A reconfiguração do objeto da ciência do direito penal
23
ideia de que qualquer intervenção permitida constitucionalmente na disciplina dos
direitos fundamentais há de ocorrer mediante lei formal, isto é, por força de decisão do
legislador e, quando ocorrer no âmbito das liberdades individuais, deve estar autorizada
pela Constituição.
Outro aspecto a ser enfatizado é o princípio da dignidade da pessoa humana,
que se encontra inserido no inciso III do artigo 1o da Constituição Federal como um dos
fundamentos do Estado Democrático de Direito e espelha o respeito ao ser humano, o que
se realiza não só pelo reconhecimento mas também pela garantia de um conjunto de bens
ou valores imprescindíveis, essenciais mesmo, ao indivíduo e à comunidade da qual faz
parte.
O conteúdo do significado da dignidade da pessoa humana, segundo Ingo
Wolfganf Sarlet, inclui uma quantidade maior de elementos na constituição do conceito
de dignidade da pessoa humana, a qual é concebida como "a qualidade intrínseca e
distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e
consideração por parte do Estado e da comunidade". Isso implica reconhecer, segundo
esse autor, que, nesse sentido, a dignidade humana abrange "um complexo de direitos e
deveres fundamentais" que visam a: 1) assegurar a pessoa "contra todo e qualquer ato de
cunho degradante e desumano"; 2) garantir-lhe "as condições existenciais mínimas para
uma vida saudável"; e 3) propiciar e promover sua "participação ativa e co-responsável
nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres
humanos".4
A importância do princípio da dignidade da pessoa humana para o Direito
Penal é evidente, uma vez que o sujeito passivo da atividade punitiva estatal é a pessoa
humana, que, mesmo sendo a autora ou partícipe da infração penal, não perde essa
condição. A propósito, Sarlet alerta para o fato de que "não se deverá olvidar que a
dignidade – ao menos de acordo com o que parece ser a opinião largamente majoritária
– independe das circunstâncias concretas, já que inerente a toda e qualquer pessoa
humana". Isso significa admitir "que, em princípio, todos – mesmo o maior dos
criminosos – são iguais em dignidade, no sentido de serem reconhecidos como pessoas –
4
SARLET, Ingo Wolfganf. As dimensões da dignidade da pessoa humana: construindo uma compreensão-
constitucional necessária e possível. In:___ (Org). Dimensões da dignidade: ensaios de filosofia do
Direto e Direito Constitucional. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 13-43. p. 37.
24
ainda que não se portem de forma igualmente digna nas suas relações com seus
semelhantes, inclusive consigo mesmos".5
Nessa mesma linha, Michael Kloepfer acentua que todas as pessoas possuem
dignidade, independentemente de qualquer atributo, inclusive se o indivíduo não tiver
consciência dela. Esse autor corrobora a compreensão de que não é possível perdê-la,
devendo ser respeitada da mesma maneira a dignidade de um criminoso, seja qual for o
ato praticado. Por fim, esse mesmo autor defende que é possível ocorrerem intervenções
na dignidade da pessoa humana justificadas pela proteção de “bens comunitários
importantes”, uma vez que os titulares de direitos fundamentais estão inseridos em uma
comunidade e que a dignidade da pessoa humana está contida na constituição.6
No dizer de Sarlet, a dignidade da pessoa humana tem duas dimensões, ou
seja, uma dimensão negativa e outra prestacional, pois ela "é simultaneamente limite e
tarefa dos poderes estatais e, no nosso sentir, da comunidade em geral de todos e de cada
um, condição dúplice esta que também aponta para uma paralela e conexa dimensão
defensiva e prestacional da dignidade". Na sua dimensão negativa, "a dignidade implica
não apenas que a pessoa não pode ser reduzida à condição de mero objeto da ação
própria e de terceiros, mas também o fato de a dignidade gera direitos fundamentais
(negativos) contra atos que a violem ou a exponham a graves ameaças". Já, da sua
dimensão positiva "decorrem deveres concretos de tutela por parte dos órgãos estatais,
no sentido de proteger a dignidade de todos, assegurando-lhe também por meio de
medidas positivas (prestações) o devido respeito e promoção".7
Assim, por ser desenvolvida, integralmente, em ambiente estatal, em face do
monopólio estatal da violência, deve o princípio da dignidade da pessoa humana,
também, orientar a atividade punitiva estatal, tendo sempre em mente que, como suspeito,
acusado, condenado ou apenado, o indivíduo não perde a sua condição humana.
5
SARLET, Ingo Wolfganf. As dimensões da dignidade da pessoa humana: construindo uma compreensão-
constitucional necessária e possível. In:___ (Org). Dimensões da dignidade: ensaios de filosofia do
Direto e Direito Constitucional. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 13-43. p. 20.
6
KLOEPFER, Michael. Vida e dignidade da pessoa humana. In: ___ (Org.). Dimensões da Dignidade:
Ensaios de Filosofia do Direito e Direito Constitucional. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2009. p. 152-153 e 168.
7
SARLET, Ingo Wolfganf. As dimensões da dignidade da pessoa humana: construindo uma compreensão-
constitucional necessária e possível. In:___ (Org). Dimensões da dignidade: ensaios de filosofia do
Direto e Direito Constitucional. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 13-43. p. 32.
25
Embora as normas sobre direitos fundamentais estejam diluídas em diversos
artigos da Constituição Federal de 1988, há de se ressaltar a existência de normas
constitucionais penais e processuais penais específicas previstas, sobretudo, no capítulo
dos direitos e garantias individuais, as quais interessam ao campo mais estrito da ciência
do direito penal. Entre essas normas, estão as que dispõem sobre a legalidade penal
(artigo 5o, inciso XXXIX), sobre a irretroatividade da lei penal maléfica e retroatividade
da lei penal benéfica (artigo 5o, inciso XL), sobre as penas permitidas e o princípio da
individualização das penas (artigo 5o, inciso XLVI), sobre o princípio da humanidade e as
penas proibidas (artigo 5o, inciso XLVII), sobre o respeito à integridade física e moral dos
presos (artigo 5o, XLIX), sobre a imprescritibilidade e a inafiançabilidade dos crimes de
racismo e da ação de grupos armados contra a ordem constitucional e o Estado
democrático (artigo 5o, incisos XLII e XLIV), sobre o princípio da pessoalidade, da
personalidade ou da intranscendência da sanção penal (artigo 5o, inciso XLV), sobre a
separação dos presos (artigo 5o, inciso XLVIII), sobre o direito de amamentação às
presidiárias (artigo 5o, inciso L), sobre a inimputabilidade dos menores de 18 (dezoito)
anos (artigo 228), sobre a vedação dos tribunais de exceção (artigo 5o, inciso XXXVII),
sobre o tribunal do júri (artigo 5o, inciso XXXVIII), sobre a inafiançabilidade e a
insuscetibilidade à anistia e à graça dos crimes hediondos e assemelhados (artigo 5o,
inciso XLIII), sobre o estado de inocência ou a não culpabilidade (artigo 5 o, inciso
LVIII), sobre as limitações à extradição (artigo 5o, incisos LI e LII), sobre a
jurisdicionalidade (artigo 5o, inciso LIII), sobre o devido e justo processo legal (artigo 5o,
inciso LIV), sobre o contraditório e a ampla defesa (artigo 5o, inciso LV), sobre a
inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos (artigo 5o, inciso LVI), sobre as
limitações à identificação criminal (artigo 5o, inciso LVIII), sobre a admissibilidade da
ação penal privada subsidiária da pública (artigo 5o, inciso LIX), sobre a publicidade dos
atos processuais (artigo 5o, inciso LX), sobre as limitações à prisão provisória (artigo 5 o,
inciso LXI), sobre necessidade da comunicação imediata da prisão à família do preso ou
pessoa por ele indicada (artigo 5o, inciso LXII), sobre o direito do preso à identificação
dos responsáveis pela sua prisão (artigo 5o, inciso LXIV), sobre o relaxamento imediato
da prisão ilegal (artigo 5o, inciso LXV), sobre a obrigatoriedade da liberdade provisória
quando a lei a admitir (artigo 5o, inciso LXVI), sobre o habeas corpus (artigo 5o, inciso
26
LXVIII), sobre o mandado de segurança (artigo 5o, incisos LXIX e LXX) e sobre a
assistência judiciária gratuita (artigo 5o, inciso LXXIV).
Essas normas penais e processuais não têm, ainda, merecido a devida atenção
no estudo sistemático da ciência penal, em face, sobretudo, de uma visão atomizada que
leva a que essas normas sejam estudadas, muitas vezes, apenas, pela ciência do direito
constitucional, não integrando o objeto específico de estudo da ciência do direito penal.
Também as normas penais e processuais penais internacionais relativas a
direitos humanos devem integrar o objeto de estudo da ciência do direito penal em face
da sua relevância e da sua positivação.8
Não se pode perder de vista que a positivação dos direitos humanos
fundamentais, nos moldes atuais, iniciou-se com a Carta das Nações Unidas de 1945 e
com a Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948, após o que surgiram
vários tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos. Esses diplomas
podem ser sistematizados conforme sejam de interesse universal (sistema universal) ou
de interesse regional (sistema regional) e por tratarem de temas gerais (sistema geral) ou
especiais (sistema especial).9 Tem-se, portanto, um sistema universal-geral10 e um sistema
8
Sobre o processo de positivação dos direitos humanos, ver o parágrafo 4 o da subseção II da seção I do
capítulo III, da obra: BISSOLI FILHO, Francisco. O Objeto da Ciência do Direito Penal: Descrição –
Crítica – Reconfiguração. Florianópolis: Empório do Direito, 2015. Esse processo de positivação dos
direitos humanos no plano internacional deu-se, no dizer de Araújo e Andreiuolo, em duas etapas, isto é,
num primeiro momento, por meio de declarações e, depois, pelos tratados, isto é, “inicialmente, os direitos
humanos foram individualizados e explicitados em declarações (internacional e interamericana) cujo valor
jurídico é, em princípio, não vinculante, mas cujo conteúdo pode passar a ser obrigatório na medida em
que contenha ou expresse uma fonte de direito internacional. Em um segundo momento, os direitos foram
plasmados em tratados – instrumentos jurídicos obrigatórios por natureza -, para aqueles que manifestem
seu consentimento em obrigar-se, e relativos a um conjunto de direitos em particular”. (ARAÚJO, Nádia
de; ANDREIULO, Inês da Matta. A internalização dos tratados no Brasil e os direitos humanos. In:
BOUCAULT, Carlos Eduardo de Abreu; ARAÚJO, Nadia de (Org). Os direitos humanos e o direito
internacional. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. p. 63-113. p. 72).
9
Piovesan explica que “os sistemas geral e especial são sistemas de proteção complementares, na medida
em que o sistema especial de proteção é voltado, fundamentalmente, à prevenção da discriminação ou à
proteção de pessoas os grupos de pessoas particularmente vulneráveis, que merecem proteção especial.
Daí apontar-se não mais o indivíduo genérica e abstratamente considerado, mas ao indivíduo
‘especificado’, considerando-se categorizações relativas ao gênero, idade, etnia, raça, etc. O sistema
internacional passa a reconhecer direitos endereçados às crianças, aos idosos, à mulheres, às pessoas
vítimas de tortura, às pessoas vítimas de discriminação racial, dentre outros”. (PIOVESAN, Flávia.
Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 5. ed. São Paulo: Max Limonad, 2003. p.
188).
10
Entre os diplomas de direito internacional que formam o sistema universal-geral, além da Carta das
Nações Unidas de 1945 e da Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948 antes mencionados,
estão o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966; o Pacto Internacional
dos Direitos Civis e Políticos de 1966; o Protocolo Facultativo Relativo ao Pacto Internacional dos
27
universal-especial,11 assim como sistemas regionais-gerais12 e sistemas regionais-
especiais.13 Os sistemas regionais buscam a proteção dos direitos humanos no plano
regional, podendo-se destacar, entre esses sistemas, o europeu, americano e africano.14
Faz parte da tradição da ciência do direito penal o estudo das normas penais e
processuais penais infraconstitucionais, como é o caso dos códigos penais e processuais
penais e da legislação penal e processual esparsa. No entanto, o que deve ser ressaltado é
que essas normas devem ser estudadas em conjunto com as normas de direito
internacional sobre direitos humanos e com as normas constitucionais, as quais devem
integrar o objeto de estudo dessa ciência. Por isso, nenhum estudo sobre as normas penais
e processuais penais infraconstitucionais pode ser realizado sem que sejam observadas as
normas constitucionais e internacionais sobre direitos humanos, em face da posição
hierárquica superior por estas ocupadas no ordenamento jurídico.
Direitos Civis e Políticos de 1966; e o Segundo Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional de Direitos
Civis e Políticos para a Abolição da Pena de Morte de 1989.
11
Entre os diplomas de direito internacional do sistema global-especial que tratam, entre outras, de normas
relativas ao direito penal e ao direito processual penal, cabe citar a Convenção sobre a Prevenção e a
Sanção do Crime de Genocídio de 1948; a Convenção n. 105 da Organização Internacional do Trabalho
Relativa à Abolição do Trabalho Forçado de 1957; a Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou
Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes de 1984; as Regras Mínimas das Nações Unidas Para a
Administração da Justiça da Infância e da Juventude (Regras de Beijing) de 1985; a Convenção sobre os
Direitos da Criança de 1989; os Princípios Básicos Para o Tratamento de Reclusos de 1990; a Convenção
Contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas de 1991; o Estatuto de Roma Sobre
o Tribunal Penal Internacional de 1998; a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado
Transnacional de 2000 (Convenção de Palermo); o Protocolo Relativo ao Combate ao Tráfico de
Migrantes por Via Terrestre, Marítima e Aérea de 2000; o Protocolo Relativo à Prevenção, Repressão e
Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças de 2000; o Protocolo Contra a
Fabricação e o Tráfico Ilícito de Armas de Fogo, suas Peças e Componentes e Munições de 2001.
12
Entre os diplomas normativos do sistema regional-geral, encontram-se a Declaração Americana dos
Direitos do Homem de 1948; a Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969 (Pacto de São José da
Costa Rica); e o Protocolo Adicional à Convenção Americana de Direitos Humanos em Matéria de
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1988 (Protocolo de San Salvador).
13
Entre os diplomas do sistema regional-especial, por conterem, também, normas penais e processuais
penais, cabe uma referência especial ao Tratado para a Proscrição das Armas Nucleares na América
Latina e no Caribe de 1967 (Tratado de Tlatelolco); à Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a
Tortura de 1985; ao Protocolo Adicional à Convenção Americana Sobre Direitos Humanos à Abolição da
Pena de Morte de 1990; à Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra
a Mulher 1994 (Convenção de Belém do Pará); e à Convenção Interamericana Contra a Corrupção de
1996, que são diplomas de direito internacional que tratam de aspectos penais e processuais.
14
Piovesan afirma que “cada qual dos sistemas regionais de proteção apresenta um aparato jurídico
próprio”¸ de modo que “o sistema interamericano tem como principal instrumento a Convenção
americana de Direitos Humanos de 1969, que estabelece a Comissão Interamericana de Direitos Humanos
e a Corte Interamericana. Já o sistema europeu conta com a Convenção Européia de Direitos Humanos de
1950, que estabelece a Comissão e a Corte Européia de Direitos Humanos. Por fim, o sistema africano
apresenta como principal instrumento a Carta Africana de Direitos Humanos” (PIOVESAN, Flávia.
Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 5. ed. São Paulo: Max Limonad, 2003. p.
226).
28
Embora as teorias gerais do Estado, da constituição, do direito e dos direitos
humanos, assim como as teorias penais e processuais penais específicas, não possam ser
confundidas com a legislação penal e processual penal, devem elas integrar, também, o
objeto de estudo da ciência do direito penal, mesmo quando não recepcionadas pelo
direito penal objetivo.
Sobre a distinção entre as teorias jurídicas e a dogmática jurídica, esclarece-se
que aquelas não são normas jurídicas, pois restringem-se à análise lógica, formal e
abstrata de hipóteses construídas pelos seus autores, sem que estejam adstritas aos
conteúdos dos textos normativos, embora possam por estes ser recepcionadas. Elas
podem, inclusive, preceder os textos normativos, que são os reais objetos da dogmática
jurídica, e servir de “lentes” por meio das quais o dogmático procede à leitura do material
normativo e realiza a sua explicação, resultando, nesse caso, conectadas, intimamente, ao
produto da interpretação.
Por isso, as teorias devem integrar o objeto da ciência do direito penal ao lado
dos textos normativos sem se confundirem com estes. Há, portanto, uma diferença
substancial em relação à dogmática jurídico-penal tradicional, pois aquilo que era
pressuposto teórico do estudo dogmático, passa a integrar o objeto de estudo da ciência
do direito penal, em face da sua influência na produção do resultado científico.
Assim, as teorias do Estado, do direito, da constituição e dos hireitos
humanos, além das teorias penais e processuais penais específicas, devem integrar,
necessariamente, o objeto de estudo da ciência do direito penal, pois é a partir dessas
teorias que a ciência constrói os sentidos dos textos normativos.
Também as metarregras15 devem integrar o objeto estudo da ciência do direito
penal. Não sendo escritas, as metarregas, também denominadas regras de aplicação, são
assim denominadas por regularem a aplicação das demais regras, que são chamadas de
regras de superfície. As metarregras interferem na interpretação dessas regras de
superfície e lhes dão contorno e efetividade, razão pela qual elas, também, são por demais
importantes para o estudo da ciência do direito penal.
15
Sobre o conceito de metarregras, ver a subseção II da seção III do capítulo III da obra: BISSOLI FILHO,
Francisco. O Objeto da Ciência do Direito Penal: Descrição – Crítica – Reconfiguração. Florianópolis:
Empório do Direito, 2015.
29
As metarregras podem ser gerais, quando orientam a aplicação de qualquer
regra jurídica, como é o caso da ideologia, e específicas, quando orientam a aplicação das
normas penais e processuais penais, como ocorre com as ideologias penais específicas e
com os estereótipos e estimas criminais.
Também o conjunto das decisões jurídicas adotadas nas mais variadas
instâncias do sistema de justiça criminal sobre os mais diversos problemas deve integrar
o objeto de estudo da ciência do direito penal, uma vez que são essas decisões e
problemas que dão efetividade ao direito penal e processual penal.
Portanto, dada a sua importância, os problemas ou casos que se apresentam às
agências o controle penal e as suas decisões em face desses problemas ou casos devem
integrar o objeto de estudo da ciência do direito penal, à qual cabe a análise dos atos de
fala e dos discursos dessas agências de controle na interpretação e aplicação das regras
nos casos concretos.
Em suma, pode-se dizer que o objeto da ciência do direito penal ou dogmática
jurídico-penal deverá abranger os seguintes conteúdos: 1) os fundamentos filosóficos,
sociológicos, históricos, políticos, econômicos, criminológicos e político-criminais do
direito penal e processual penal; 2) a legislação penal e processual penal constitucional e
internacional sobre direitos humanos; 3) a legislação penal e processual penal
infraconstitucional; 4) as teorias gerais relacionadas com a ciência do direito penal, ou
seja, as teorias do Estado, as teorias constitucionais, as teorias do direito e as teorias dos
direitos humanos; 5) as teorias penais e processuais penais específicas; 6) as metarregras
penais e processuais penais, que compreendem as ideologias gerais e específicas e os
estereótipos e os estigmas criminais, por influenciarem, como regras de aplicação, a
interpretação das demais normas penais e processuais penais; e 7) as decisões jurídicas,
que formam a jurisprudência e os problemas e os casos penais e processuais penais.
É sobre esse objeto ampliado que se deve debruçar a dogmática jurídico-
penal, de modo a propiciar uma interpretação mais abrangente acerca do material
normativo, ou seja, uma sistema de conceitos que contenham sentidos mais adequados e
que garantam, com efetividade e eficácia, os direitos humanos.
30
SEÇÃO II
A TAREFA DA CIÊNCIA DO DIREITO PENAL
Subseção I
A tarefa tradicional da ciência do direito penal
16
ROCCO, Arturo. El problema y el método del derecho penal. Bogotá: Temis, 1982. p. 15.
31
advogado que, no interesse do seu constituinte, “propõe ao tribunal apenas uma das
várias interpretações possíveis da norma jurídica a aplicar a certo caso” e quanto e um
escritor, em seu comentário, “elege uma interpretação determinada, de entre as várias
interpretações possíveis, como a única ‘acertada’”, estão realizando funções jurídico-
política (política jurídica) e não funções jurídico-científicas, isto porque “eles procuram
exercer influência sobre a criação do Direito”, oque “não lhes pode evidentemente ser
proibido”, todavia, “não o podem fazer em nome da ciência jurídica, como
freqüentemente fazem”.17
Kelsen ressalta, também, uma tarefa importante da interpretação jurídico-
científica, relacionada com a tarefa do legislador (lege ferenda) e não, somente, a servir à
decisão, pois, segundo esse autor, uma interpretação estritamente científica de uma lei ou
de um tratado de direito internacional pode revelar “todas as significações possíveis,
mesmo aquelas que são politicamente indesejáveis e que, porventura, não foram de
forma alguma pretendidas pelo legislador ou pelas partes que celebraram o tratado, mas
que estão compreendidas na fórmula verbal por eles escolhida”, de modo que “pode ter
um efeito prático que supere de longe a vantagem política da ficção do sentido único”.
Isso significa dizer, explica Kelsen, “que uma tal interpretação científica pode mostrar à
autoridade legisladora quão longe está a sua obra de satisfazer a exigência técnico-
jurídica de uma formulação de normas jurídicas o mais possível inequívocas”. Além
disso, afirma esse autor que a interpretação científica pode demonstrar que a formulação
legislativa pode ser feita de “maneira tal que a inevitável pluralidade de significações
seja reduzida a um mínimo e, assim, se obtenha um maior grau possível de segurança
jurídica”.18
No âmbito do pensamento marxista, Eugeny Pasukanis explica que a
dogmática jurídica tem se ocupado do “desenvolvimento dos conceitos jurídicos
fundamentais, isto é, os mais abstratos”, entre os quais estão, por exemplo, “as
definições de ‘norma jurídica’, de ‘relação jurídica’, de ‘sujeito do direito’, etc.”, os
quais “são o resultado de uma elaboração lógica das normas de direito positivo e
representam, em comparação com o caráter espontâneo das relações jurídicas e das
17
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 395-396.
18
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 396-397.
32
normas que os exprimem, o produto tardio e superior de uma criação consciente”. Em
suma, “a tarefa dessa ciência do direito limita-se, portanto, exclusivamente a ordenar
lógica e sistematicamente os diferentes conteúdos normativos”.19
A interpretação jurídico-científica serve, também, para orientar as pessoas em
geral a se guiarem conforme os textos legais.
Especificamente sobre o papel exercido pela ciência do direito penal,
Francesco Carrara o expõe no prefácio da quinta edição da sua obra Programa do Curso
de Direito Penal, segundo a qual essa ciência tem o propósito de “resumir na fórmula
mais simples a verdade reguladora de toda a ciência”. Isso significa dizer, explica esse
autor, que ela deve “conter em si o princípio da solução de todos os problemas que o
criminalista deve estudar, bem como todos os preceitos que governam a vida prática da
mesma ciência nos três grandes fatos que lhe constituem o objeto”, pois “tem ela por
missão enfrear as aberrações da autoridade social, na proibição, na repressão e no
juízo, para que tal autoridade se mantenha nos caminhos da justiça e não degenere em
tirania”. Dito de outra forma, segundo Carrara, “a ciência tem por função moderar os
abusos da autoridade no exercício daqueles três grandes fatos”. Para esse autor, “está
nessa obra, que constitui a atividade substancial e a razão de ser da organização social,
o complemento da ordem, quando os mesmos fatos são devidamente regulados”. Por sua
vez, explica Carrara, quando esses fatos não estiverem regulados ou se estivessem
entregues às paixões ou aos caprichos do legislador, seriam eles “uma perene fonte de
desordens e iniquidades”. Por isso, “os preceitos destinados a moderar por essa forma o
poder legislativo devem remontar a um princípio comum e fundamental; e a fórmula que
exprime tal princípio é o programa da ciência criminal.20
Mais explícito, Hans Welzel afirma que “é missão da ciência do direito penal
desenvolver o conteúdo dessas regras jurídicas e sua conexão interior, isto é,
sistematicamente, e interpretá-las”, cuja sistematicidade “dá o fundamento para uma
equânime e justa administração da justiça, já que somente a compreensão dessa
estrutura interior do direito eleva sua aplicação sobre a causalidade e arbitrariedade”.
19
PASUKANIS, Eugeny Bronislanovich. A teoria geral do direito e o marxismo. Rio de Janeiro: Renovar,
1989. p. 11 e 15.
20
CARRARA, Francesco. Programa do curso de direito criminal. Campinas: LZN, 2002. v. 1, p. 49, e v.
2. p. 23-24.
33
Por isso, além de ser uma ciência sistemática, Welzel afirma que a ciência do direito
penal é uma ciência prática, tanto porque é sua vocação servir à administração justiça,
“mas, também, em sentido mais profundo, porque é uma teoria do atuar humano justo e
injusto, de maneira que suas últimas raízes chegam até os conceitos básicos da filosofia
prática.21
Também para Francisco de Assis Toledo, a ciência do direito penal “é um
conjunto de conhecimentos e princípios, ordenados metodicamente, de modo a tornar
possível a elucidação do conteúdo das normas penais e dos institutos em que elas se
agrupam, com vistas à sua aplicação aos casos ocorrentes, segundo critérios rigorosos
de justiça”.22
O propósito dessa ciência, na visão tradicional, é a explicação do direito penal
objetivo, do qual procura extrair os seus sentidos e construir, a partir deles, um sistema de
conceitos interconectados internamente, com vistas à propiciar a sua aplicação prática.
Subseção II
A crítica à tarefa tradicional da ciência do direito penal
21
WELZEL, Hans. Direito penal. Campinas: Romana, 2004. p. 27.
22
TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal. 5.ed. São Paulo: Saraiva, 1994. p.1-2.
34
não podem contradizer-se, mas devem ser unidas numa síntese, da mesma forma que
Estado de Direito e Estado Social não são opostos inconciliáveis, mas compõem uma
unidade dialética”. Roxin é enfático ao afirmar que “uma ordem jurídica sem justiça
social não é um Estado de Direito material, e tampouco pode utilizar-se da denominação
Estado Social um Estado planejador e providencialista que não acolha as garantias de
liberdade do Estado de Direito”.23
A crítica sociológica, por sua vez, indica que é necessário ter em mente que
os textos normativos, objetos da dogmática jurídico-penal, não são neutros, pois são
produtos da luta política, de modo que a realidade criminal é construída a partir desses
textos, que são produtos do “poder de definição” dos grupos políticos vitoriosos.
Por fim, a crítica criminológica concita a não se perder de vista que, se as leis
são produtos da luta política, elas violam os direitos humanos dos grupos vencidos. Além
disso, se a tarefa executada pela dogmática jurídico-penal é sistematizar os conceitos a
partir dessas leis, como instância oficial do sistema de controle penal, essa ciência pode
contribuir para a violação institucional de direitos humanos, pois pode servir para a
manutenção do sistema desigual de criminalização.
Nessa perpectiva, Eugênio Raúl Zaffaroni sustenta que a ciência do direito
penal tem a tarefa de realizar “a construção discursiva que interpreta as leis de conteúdo
punitivo (leis penais) para dotar a jurisdição dos limites exatos para o exercício de seu
poder decisório e dos modelos ou opiniões não contraditórios para os conflitos que o
poder das demais agências seleciona a fim de submetê-los à sua decisão, de modo a
proceder de forma socialmente menos violenta”.24
Portanto, se a produção do material normativo nas instâncias políticas não é
uma atividade neutra, por resultar dos embates entre grupos, os quais se defendem
valores, também a construção discursiva da ciência do direito penal não pode ser neutra e
avalorativa. Ela deve ter como valores os mesmos encerrados no conteúdo normativo,
que não pode ser dissociado dos direitos humanos, por conterem estes o aporte normativo
e teórico nos Estados democráticos de direito.
23
ROXIN, Claus. Política criminal e sistema jurídico-penal. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. p. 20.
24
ZAFFARONI, Eugênio Raúl. Em Busca das Penas Perdidas: a perda de legitimidade do sistema
penal. Rio de Janeiro: Revan, 1991, p. 206.
35
Subseção III
A reconfiguração da tarefa da ciência do direito penal
36
SEÇÃO III
O MÉTODO DA CIÊNCIA DO DIREITO PENAL
Subseção I
O método tradicional da ciência do direito penal
25
WARAT, Luis Alberto. Introdução geral ao direito II: a epistemologia jurídica da modernidade.
Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1995. p. 16.
26
WARAT, Luis Alberto. Introdução geral ao direito II: a epistemologia jurídica da modernidade.
Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1995. p. 17.
27
WARAT, Luis Alberto. Introdução geral ao direito II: a epistemologia jurídica da modernidade.
Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1995. p. 18.
37
etapa em que “se dá unidade às construções jurídicas”, ou seja, em que “se estabelece
uma série de conceitos e princípios que mostram certos traços de universalidade e
invariabilidade a algumas presenças estruturais comuns a todos os institutos ou
construções jurídicas”.28
Como se pode perceber, o tecnicismo jurídico nada mais fez do que
reconhecer as heranças dos métodos anteriores e reunir, em um mesmo método, isto é, as
práticas dos glosadores e dos comentadores medievais, que deram origem à exegese e à
dogmática, e dos pensadores jusracionalistas, que foram os idealizadores da
sistematização, de modo a possibilitar a obtenção de resultados mais precisos pela ciência
jurídica.
O método técnico-jurídico teve ampla aceitação, também, no âmbito da
ciência do direito penal, sobretudo a partir da conferência proferida, no dia 15 de janeiro
de 1910, pelo jurista italiano Arturo Rocco, professor da Universidade de Sássari (Itália),
como aula inaugural no curso de direito e procedimento penal dessa mesma universidade,
intitulada O Problema e o Método da Ciência do Direito Penal, na qual esse autor
procura sustentar que o método adequado para essa ciência é o da “investigação técnico-
jurídica”, a qual “se resume em três ordens de procedimentos ou de investigações: 1o)
uma investigação exegética; 2o) uma investigação dogmática e sistemática; 3o) uma
investigação crítica do direito”. Para esse autor, na exegese, considerada “a primeira
forma, a primeira manifestação do estudo científico do direito”, o investigador do direito
“se detém no mero exame do documento legislativo e em que se traduz por meio da
interpretação da lei, segundo a ordem seguida por ela mesma”. A investigação
dogmática, por sua vez, segundo esse mesmo autor, é, “como o termo mesmo o diz, a
investigação dogmaticamente descritiva e expositiva dos princípios fundamentais do
direito positivo em sua coordenação lógica e sistemática”. Por fim, a investigação crítica
é aquela que “pergunta a si mesma se tem e até que ponto uma necessidade e uma razão
de ser e se eventualmente deva substituir-se dito direito por outro diferente”. Assim, para
28
WARAT, Luis Alberto. Introdução geral ao direito II: a epistemologia jurídica da modernidade.
Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1995. p. 19.
38
Rocco, enquanto a exegese trata da “ciência da lei”, a dogmática se ocupa da “ciência do
direito”, enquanto que a crítica busca “o direito ideal”.29
Deve-se chamar a atenção que Rocco estrutura o método técnico-jurídico em
procedimentos destinados tanto à lege lata, como é o caso dos procedimentos relativos à
exegese, dogmática e sistemática, quanto à lege ferenda, quando propõe, também,
procedimentos destinados à crítica, buscando uma elaboração legislativa ideal.
Mais detalhadamente, Nilo Batista prefere designar o método da ciência do
direito penal como “método dogmático” e o divide em quatro etapas: a primeira delas é a
“demarcação do universo jurídico”, que nada mais do que “a catalogação completa dos
textos legais vigentes na área objeto de interesse”; a segunda etapa é a “análise e a
ordenação” dos textos legais válidos, o que significa dizer que as leis, primeiramente, são
“apreciadas individualmente”, para, em seguida, “a partir das suas semelhanças e
disparidades”, serem “submetidas a exercícios de agrupamento que permitirão
estabelecer a uma ainda que provisória ordem lógica”; a terceira etapa é a da
“simplificação e a categorização”, na qual “o material resultante das etapas anteriores é
simplificado, quantitativa e qualitativamente, dando origem aos princípios
classificatórios, que funcionarão como eixos categoriais”; a quarta e última etapa é a da
“reconstrução dogmática”, na qual ocorre “a classificação e a reorganização da
‘matéria’ legal”, que, “assim reconstruída, produz um sistema que revelará e demarcará
o conteúdo e o inter-relacionamento lógico dos textos legais”, os quais “são ‘devolvidos’
sob a condição de serem conhecidos através da mediação desse mesmo sistema”.30
Ao se estabelecer que as duas primeiras etapas são a catalogação dos textos
jurídicos e a sua análise e ordenação, está se afirmando que o objeto dessa ciência é,
somente, o direito positivo e, por isso, conforme Warat, está se vinculando a dogmática
jurídica “diretamente com o positivismo, limitando sua função à interpretação da lei
através do método denominado exegético que, inclusive, para alguns autores determina a
denominação desta etapa como exegética”.31
29
ROCCO, Arturo. El problema y el método de la ciencia del derecho penal. 2. ed. Bogotá: Temis, 1982.
p. 18-36.
30
BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao direito pena brasileiro. Rio de Janeiro: Revan, 1990. p. 119.
31
WARAT, Luis Alberto. Introdução geral do direito II: a epistemologia jurídica da modernidade.
Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1995. p. 17.
39
Por sua vez, quando se afirma que, após a catalogação, análise e ordenação
desses textos legislativos, deve-se extrair deles os princípios que decorrem dos conceitos
que foram os eixos categoriais, para, depois, reconstruí-los sistematicamente, o que se
constitui na reprodução e explicação do conteúdo dos referidos textos legislativos, está se
admitindo que a dogmática jurídica realiza uma atividade formal, pois, segundo Warat,
trata-se de uma atividade que “busca tão só decifrar seu significado exato, que supõe
unívoco e suscetível de ser estabelecido plenamente como tal através da
conceitualização”, o que significa dizer que “esta instância metodológica identifica o
significado do termo com o conceito referencial, o que conduz ao estabelecimento de um
conteúdo exato para a lei”. Nessa etapa do método dogmático, explica esse autor, “o
conceito seria, então, uma categoria conceitual estável, indiscutível, com significação
fechada”, razão pela qual, assim compreendida, “a dogmática jurídica se identifica com
a lógica jurídica”, caracterizando-se, principalmente, “pela conceitualização do discurso
jurídico e, por tal razão, denominou-se, também, ‘disciplina de conceitos jurídicos’”.32
A etapa da produção dos conceitos é considerada por Warat a etapa da
dogmatização jurídica, isto é da fixação dos dogmas jurídicos, pois é nela que ocorre a
“elaboração das proposições, categorias e princípios obtidos a partir de conceitos
jurídicos, extraídos dos textos legais”, os quais são “os dogmas que marcam a pauta
diretora, que ordenam teoricamente o funcionamento do conjunto das normas legais
vigentes para qualquer situação jurídica através dos institutos ou construções jurídicas”,
o que implica dizer que “o ordenamento jurídico estabelecido adquire completude, mas,
ao mesmo tempo, se reduz a categorias intelectuais”. O produto da dogmática jurídica
segundo esse autor, são os “princípios gerais de direito”, que são concebidos por alguns
autores como “diretrizes retóricas” e, pela semiótica, como “estereótipos”, que nada mais
são do que “fórmulas ocas, sem significação de base, través das quais veladamente se
introduzem critérios axiológicos, cuja participação na interpretação da lei nega a
dogmática”, mas que, por meio deles, obtém-se a completude, “logicamente exigível,
mas que a lógica não pode proporcionar sem o concurso da ideologia e da axiologia”.
32
WARAT, Luis Alberto. Introdução geral do direito II: a epistemologia jurídica da modernidade.
Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1995. p. 17-18.
40
Assim, “a alteração ou substituição de um princípio no processo de interpretação
permite obter modos indiretos de redefinição das palavras da lei”.33
No que diz respeito à sistematização dos conceitos, que também se insere da
etapa final do estudo dogmático, trata-se, segundo Warat, da atividade que busca dar
“unidade às construções jurídicas”, já que “se estabelece uma série de conceitos e
princípios que mostram certos traços de universalidade e invariabilidade a algumas
presenças estruturais comuns a todos os institutos ou construções jurídicas”, de modo a
possibiltiar o que seria a dogmática geral” ou uma “teoria geral do direito”. Nesse
estágio, explica esse autor, chega-se ao cúmulo, como proposto por Kelsen, de se
eliminar do seio da dogmática jurídica “toda noção metajurídica e não só a valoração
jurídica (a axiologia), senão também a facticidade (os fatos), ficando tão só com a norma
e seu enfoque técnico-jurídico, o qual se reduz à demonstração lógica da validade das
normas jurídicas”, de modo que “o conteúdo do direito se identifica com a norma”, o
que significa dizer que “realidade jurídica advém da norma, categoria do conhecimento
desvinculada da dinâmica existencial e do seu objetivo de valoração e justificação”. Dito
de outra forma, “a realidade jurídica não é significativa, senão tão só a norma, que é
constituinte daquela”.34
O método dogmático, explica Batista, orienta-se por dois princípios ou leis,
ou seja, a “lei da proibição da negação, segundo a qual não pode o jurista negar os
pontos de partida das séries argumentativas”, pontos estes contidos nos textos legais,
que, por isso, têm o caráter de dogma, “para que o trabalho de desenvolvimento lógico
não induza a erros sobre o conteúdo do direito”; e a “lei da proibição da contradição”,
que “exprime a impossibilidade de haver princípios ou proposições contraditórias”.35
33
WARAT, Luis Alberto. Introdução geral do direito II: a epistemologia jurídica da modernidade.
Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1995. p. 18-19.
34
WARAT, Luis Alberto. Introdução geral do direito II: a epistemologia jurídica da modernidade.
Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1995. p. 19.
35
BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao direito pena brasileiro. Rio de Janeiro: Revan, 1990. p. 118 e
119-120.
41
Subseção II
Crítica ao método tradicional da ciência do direito penal
O método tradicional de estudo das ciências penais, assim como ocorre com
as ciências jurídicas e as ciências em geral, vêm sofrendo inúmeras críticas, as quais são
produzidas, entre outros, nos âmbitos da filosofia, da sociologia e da criminologia.
Para a filosofia, a interpretação jurídica deve levar em consideração a
indeterminação do direito, de modo que os textos normativos não carregam sentidos pré-
estabelecidos, bem como a constatação, no âmbito da filosofia da linguagem, de que,
sendo a linguagem o o locus onde a realidade se constitui, também os sentidos desses
textos podem ser construídos conforme os diversos contextos quando da sua aplicação.
A crítica sociológica ao método da ciência do direito penal está relacionada à
eficácia do direito, porquanto, segundo Max Weber, é necessário levar em consideração a
racionalidade dos processos de criação e de aplicação do direito, uma vez que, “por
‘criação do direito’ entendemos atualmente o estabelecimento de normas gerais
estatuídas das quais cada uma na linguagem dos juristas, assume o caráter de uma ou
várias ‘disposições racionais’”, enquanto que a “‘aplicação do direito’ significa para nós
a utilização daquelas normas estatuídas e das respectivas ‘disposições jurídicas’ (a
serem deduzidas das primeiras pelo esforço do pensamento jurídico) a ‘fatos’ concretos
que são a elas ‘subsumidos’”.36
Essa racionalidade do direito e do procedimento jurídico, no dizer de Weber,
desenvolve-se, historicamente, “a partir da combinação de um formalismo magicamente
condicionado a uma irracionalidade determinada pela origem em revelações, no
procedimento jurídico primitivo”. Segundo esse autor, passa-se, assim, “eventualmente,
por uma racionalidade material ou não formal, ligada a um fim e patrimonialmente ou
teocraticamente condicionada, rumo a uma racionalidade e sistemática jurídica
crescentemente especializada, e portanto, lógica e, por essa via – sob aspectos
36
WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília: UnB; São
Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1999. v. 2. p. 10.
42
puramente externos -, ao progresso de sublimação lógica e do rigor dedutivo do direito e
da técnica racional do procedimento jurídico”.37
Especificamente sobre a crítica relacionada às limitações e deturpações que as
ciências jurídicas tradicionais têm imprimido na obtenção do conhecimento sobre o
direito, ressalta-se que, como não é propósito deste ensaio esgotar a crítica sociológica à
dogmática jurídica, faz-se menção, novamente, a Weber, sobretudo em face distinção que
esse autor apresentou sobre as formas de ensinar o pensamento jurídico, que podem ser o
ensinamento empírico ou “artesanal” do direito por práticos e o ensinamento teórico do
direito em escolas e na forma de um tratamento racional e sistemático, merecendo
destaque, para os propósitos deste trabalho, essa segunda forma de ensinamento do
direito.38 Entre as formas teóricas, segundo Weber, a formação universitária jurídica
racional é a mais pura, pois, somente, admite-se à prática do direito quem terminou este
curso, essa forma detém o monopólio do ensino jurídico. No entanto, esse autor apresenta
uma crítica a essa forma de produzir o conhecimento do direito pela ciência jurídica, pois,
para ele, “os conceitos que cria têm caráter de normas abstratas que, pelo menos em
princípio, são construídas de modo rigorosamente formal e racional, mediante a
interpretação lógica do sentido, e delimitadas entre si”. Ocorre que, segundo Weber, esse
“seu caráter racional-sistemático pode conduzir o pensamento jurídico a uma
considerável emancipação das necessidades cotidianas dos interessados no direito, e
mesmo efeito tem a falta relativa de elementos concretos e ilustrativos”, de modo que,
“uma vez desencadeadas as necessidades puramente lógicas da doutrina jurídica, sua
força, e a da prática por elas dominadas, pode ter a consequência de que as
necessidades dos interessados, como força motriz da elaboração do direito, acabem
quase eliminadas.39
No âmbito do pensamento marxista, merece destaque a crítica formulada, por
Eugeny Pasukanis, contra a metodologia da dogmática jurídica, uma vez que, segundo
esse autor, seria necessário “começar com a análise da forma jurídica em sua
37
WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília: UnB; São
Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1999. v. 2. p. 143.
38
WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília: UnB; São
Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1999. v. 2. p. 86.
39
WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília: UnB; São
Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1999. v. 2. p. 89.
43
configuração mais abstrata e mais pura, e, em seguida, ir pela complicação progressiva
ao concreto histórico”, ressaltando, no entanto, que “a evolução histórica não implica
apenas uma mudança no conteúdo das normas jurídicas e uma modificação das
instituições jurídicas, mas também um desenvolvimento da forma jurídica enquanto tal”.
Para esse autor, “uma tal teoria nada tem a ver com ciência”, porquanto “não pretende
analisar o direito, a forma jurídica enquanto forma histórica, pois não visa a estudar a
realidade”. Assim, não se contentando com essa limitação, esse autor sustenta ser
impossível a ciência do direito desenvolver-se sem dissolver-se na psicologia ou mesmo
na sociologia, pois as teorias jurídicas denominadas sociológicas ou psicológicas, para
ele, “buscam, com o auxílio de seu método, uma explicação do direito enquanto
fenômeno real, em sua origem e desenvolvimento”. No entanto, esse autor faz uma
importante advertência, pois “as teorias jurídicas sociológicas e psicológicas deixam
usualmente a forma jurídica fora de seus círculos de reflexões; em outros termos, elas
não percebem, pura e simplesmente, o problema que está posto”. Dito de outra forma,
essas teorias “trabalham desde o começo com conceitos extrajurídicos e ainda que
eventualmente levem em consideração definições jurídicas, somente o fazem para
apresentá-las como ‘ficção’, ‘fantasmas ideológicos’, ‘projeções’, etc.”, cuja “atitude
naturalista ou niilista inspira, à primeira abordagem, uma certa simpatia,
particularmente se opusermos às teorias jurídicas idealistas totalmente impregnadas de
teleologia e de ‘moralismo’”. Em suma, Pasukanis afirma que, para essas teorias, “o
conceito de direito é aqui considerado exclusivamente do ponto de vista de seu conteúdo;
a questão da forma jurídica enquanto tal não é colocada”. Para a teoria marxista do
direito, no entanto, sustenta esse autor, a ciência do direito “não deve apenas examinar o
conteúdo concreto dos ordenamentos jurídicos nas diferentes épocas históricas, mas
fornecer também uma explicação materialista do ordenamento jurídico como forma
histórica determinada”, de modo que “os autores marxistas, quando falam de conceitos
jurídicos, pensam essencialmente no conteúdo concreto do ordenamento jurídico
característico de uma época dada”, ou seja, “o direito em uma determinada etapa da
evolução”.40
40
PASUKANIS, Eugeny Bronislanovich. A teoria geral do direito e o marxismo. Rio de Janeiro: Renovar,
1989. p. 11, 15-18 e 38.
44
A crítica criminológica afirma que o formalismo e o tecnicismo jurídico estão
relacionados aos períodos dos regimes totalitários, uma vez que, segundo Alessandro
Baratta, o desenvolvimento dessas correntes “se produziram no clima cultural
correspondente, na Europa continental, à involução autoritária e reacionária dos
regimes políticos”, de modo que, “pondo de lado a própria ciência social burguesa, os
regimes fascistas mostraram também preferirem um tipo de jurista sociologicamente
desinformado e portador de uma ideologia atrasada, compatível, embora nem sempre
idêntica, com a ideologia oficial do fascismo”, tanto que, “na Itália, Arturo Rocco, o
fundador da orientação técnico-jurídica na ciência penal e o inspirador do Código Penal
de 1932 (infelizmente ainda vigente na Itália republicana), era um jurista oficial do
regime fascista”.41
Subseção III
A reconfiguração do método da ciência do direito penal
45
A metodologia da ciência do direito penal, portanto, passa a agregar, também,
a interdisciplinaridade. Isso significa dizer o seu objeto de estudo deverá continuar sendo,
principalmente, o conjunto de normas jurídicas, o que inclui, sobretudo, as normas
constitucionais e internacionais de direitos humanos, sem desprestígio das normas
infraconstitucionais, como, tradicionalmente, tem ocorrido. Mas essse estudo deverá
observar os já realizados pela filosofia, pela sociologia e pela história do direito, pela
economia, pela criminologia, pela política criminal, pelas teorias gerais, especificamente,
as teorias do Estado, da Constituição e dos Direitos Humanos, e pelas teorias específicas
do direito penal e processual penal, e deve ter a finalidade de um saber sistemático que
propicie a realização das promessas declaradas do direito penal e processual penal, que
são a conciliação da limitação do poder punitivo Estado e a tutela de bens jurídico-penais,
e deverá possibilitar a compreensão e a efetivação do direito penal e processual penal,
com vistas, especialmente, à sua aplicação.
Nesse estudo, deverão ser observadas as três ordens de procedimentos
investigativos mencionadas por Arturo Rocco, isto é, a investigação exegética, a
investigação dogmática e sistemática e a investigação crítica do direito, bem como, no
que diz respeito à investigação dogmática, as quatro etapas sugeridas por Nilo Batista, ou
seja, a catalogação dos textos jurídicos na área de interesse, a análise e a ordenação
desses textos, agrupando-os e separando-os a partir das suas semelhanças e disparidades,
a simplificação e a categorização com a identificação dos princípios obtidos a partir de
conceitos jurídicos que os unem em torno de eixos categoriais, e a reconstrução
dogmática, com a classificação e a reorganização da matéria estudada, o que se realiza
em forma de um sistema de conceitos que revelará e demarcará o conteúdo e o inter-
relacionamento lógico dos textos legais.
Por se tratar de um estudo domático, devem ser observadas a lei da proibição
da negação, que não permite negar os pontos de partida das séries argumentativas, e a lei
da proibição da contradição, que não permite haver haver princípios ou proposições
contraditórias.
Todavia, diante dos questionamentos existentes acerca do método técnico-
jurídico ou método dogmático de interpretação da lei, ou, ainda, do método abstrato
46
lógico, faz-se necessário operar nele a transformação necessária, a fim de adequá-lo às
novas exigências.
Não se pode negar que as normas jurídicas fazem parte do cotidiano das
pessoas e que o conjunto do ordenamento jurídico, assim como as decisões que dele
decorrem, formam uma complexidade que merece ser estudado cientificamente, com
vistas à apresentação das respostas de que se necessita, sobretudo sobre a integração
dessas normas, sobre os seus conflitos, sobre a sua validade, sobre a sua eficácia e sobre
os seus propósitos. Esse estudo há de ser realizado cientificamente, isto é, de forma a
propiciar a resposta que mais se aproxime da correta, já que não se está diante de uma
área do conhecimento que possa ser exato.
Nesse estudo, a ciência do direito penal deve selecionar, catalogar, analisar e
ordenar tanto os textos normativos constitucionais quanto internacionais e
infraconstitucionais, que são objeto de outras disciplinas jurídicas, mas que devem ser
estudados, também, no âmbito da ciência do direito penal. Devem integrar essa seleção,
catalogação e ordenação as decisões já existentes sobre a matéria a ser estudada, assim
como as metarregas, isto é, as regras que regem a aplicação daquelas regras, entre as
quais se encontram as teorias já existentes. Delineia-se, assim, o método técnico-jurídico
interdisciplinar já na seleção, catalogação e ordenação do material objeto de estudo da
ciência do direito penal.
A análise dos textos estudados, a construção dos conceitos que permeiam os
referidos textos normativos e, sobretudo, a sua reconstrução devem ser realizadas
interdisciplinarmente, isto é, considerando a pesquisa já realizada no campo das demais
áreas do conhecimento, em especial da criminologia e da política criminal e das teorias
do Estado, do direito, da constituição e dos direitos humanos, além das teorias específicas
do direito penal e do direito processual penal.
Isso significa dizer que essa análise não deve ser realizada, somente, como
base no direito vigente, mas, também, no direito válido, o que implica incluir o direito
constitucional no estudo do direito penal positivo. Essa análise deve levar em
consideração, também, a eficácia do direito positivo penal, para o qual é impostante a
contribuição da criminologia e da política criminal no estudo do direito penal. Essa
análise deve levar em consideração o modelo de Estado, razão pela qual é importante a
47
contribuição das teorias que lhes dizem respeito no estudo do direito penal. Por fim, por
ser tarefa da ciência do direito penal a proteção dos direitos humanos, é importante
incluir nesse estudo não somente as normas internacionais que versem sobre esses
direitos, mas, também, reconhecer a relevância do papel a ser exercido pelas teorias que
lhe são atinentes no estudo do direito penal.
A sistematização dos conceitos deve ser realizada com observância da
prevalência hierárquica das normas constitucionais e internacionais de direitos humanos,
bem como das normas legais infraconstitucionais. Uma vez internalizadas as normas de
direitos humanos, devem elas ser objeto de estudo sistemático pela dogmática jurídica,
conforme, a propósito, afirma Heleno Fragoso, ao sustentar que “os direitos do homem
podem, dessa forma, receber estudo sistemático, numa perspectiva técnico-jurídica”, o
que significa dizer que “cada um deles é suscetível de receber definição, interpretação e
aplicação jurídicas, inserindo-se num conjunto coerente de normas estabelecidas”.42
Não se pode perder de vista que a exegese ou a “jurisprudência inferior” não
é suficiente para a resolução de todos os problemas normativos, razão pela qual diversos
autores se dedicaram à “jurisprudência dos conceitos”, sustentando que a tarefa da
ciência jurídica é a elaboração de um sistema conceitual. Nesse campo, é importante
ressaltar o debate baseado no dedutivismo e no indutivismo sistêmico, liderado,
sobretudo, por Georg Friedrich Puchta e Rudolf Von Ihering.
Antes dessa referência a Puchta e Von Ihering, há de se ressaltar que, após o
jusracionalismo natural, Friedrich Carl von Savigny já havia enfatizado ser tarefa da
ciência jurídica “a elaboração sistemática da jurisprudência”. Para esse autor, “o
conteúdo do sistema é a legislação, isto é, os princípios do direito”, sendo necessário
“um meio lógico da forma, ou seja, da condição lógica do conhecimento de todo o
conteúdo da legislação para conhecer esses princípios, em parte de forma particular, em
parte de sua conexão”, para que se possa fazer a “definição”, a “distinção”, a
“ordenação” e a “vinculação de vários princípios particulares e sua conexão”43.
Como se pode perceber, após o jusracionalismo, Savigny iniciou uma
importante reflexão acerca da sistematização do direito, o que vem a ser desenvolvido,
42
FRAGOSO, Heleno. Direito penal e direitos humanos. Rio de Janeiro: Forense, 1977. p. 133.
43
SAVIGNY, Friedrich Karl. Metodologia jurídica. São Paulo: Rideel, 2005. p. 22 e 48.
48
com mais profundidade, por Puchta, por influência tanto de Georg Wilhelm Friedrich
Hegel quanto de Savigny, ainda no século XIX.
No dizer de Larenz, Puchta “conclamou a ciência jurídica do seu tempo a
tomar o caminho de um sistema lógico no estilo de uma ‘pirâmide de conceitos’,
decidindo, assim, a sua evolução no sentido de uma ‘Jurisprudência dos conceitos
formal’”, o que significa dizer que “cada conceito superior autoriza certas afirmações
[...]; por conseguinte, se um conceito inferior se subsumir ao superior, valerão para ele
‘forçosamente’ todas as afirmações que se fizerem sobre o conceito superior”. Dito de
outra forma, “a ‘genealogia dos conceitos’ ensina, portanto, que o conceito supremo, de
que se deduzem todos os outros, codetermina os restantes através do seu conteúdo”, de
modo que “a construção dedutiva do sistema depende absolutamente da pressuposição
de um conceito fundamental determinado quanto ao seu conteúdo, conceito que não é,
por sua vez, inferido do Direito positivo, mas dado previamente à ciência jurídica pela
filosofia do Direito”. Assim, “só pode ser ‘Direito’ o que se deixe subordinar a esse
conceito fundamental”.44
Segundo Larenz, diferentemente de Puchta, que adota o método dedutivo,
Ihering, no seu primeiro momento, prefere o método indutivo, pois, “ao contrário de
Puchta, não arranca de um conceito fundamental que seja prévio ao Direito positivo e
que a este sirva de alicerce mas, pelo contrário, o seu método de construção de
conceitos, que se assemelha ao das ciências ‘exatas’ da natureza, repousa
exclusivamente indução”.45 No entanto, Larenz ressalta que “a ‘racionalidade’ da lei é
entendida pelos autores citados – e aí começa o afastamento da ‘jurisprudência dos
conceitos’ formal – não apenas em sentido formal, como um nexo lógico entre os
conceitos, mas também em sentido material, como racionalidade dos fins, ou seja como
uma teleologia imanente”. Larenz faz referência, sobretudo, a Kohler, para quem “a
unidade interna da ordem jurídica repousa na validade de princípios jurídicos gerais,
44
LARENZ, Karl. Metodologia da ciência do direito. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997.
p. 23-26.
45
LARENZ, Karl. Metodologia da ciência do direito. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997.
p. 31.
49
princípios que ele entende como máximas ordenadoras, e não como sínteses conceituais
abstratas”.46
A interdisciplinaridade, segundo Pires, é uma idéia que tomou corpo nos anos
setenta do Século XX, a partir de um movimento marcadamente revolucionário dos
estudantes universitários na Europa e na América Latina, que “tinha como eixo a crítica à
organização do ensino universitário e o papel do conhecimento na sociedade capitalista,
discutindo-se, entre outras coisas, a ruptura teórica e prática e a função social dos
conteúdos escolares”. Em face desse movimento, “as instituições responderam a algumas
exigências do movimento estudantil, iniciando a busca de novos pressupostos que
levaram à superação da super especialização e da desarticulação teórica e prática, como
alternativa à disciplinaridade”, resultando evidenciado que “as discussões acerca da
interdisciplinaridade têm inspiração na crítica à organização social capitalista, à divisão
social do trabalho e à busca da formação integral do gênero humano”. Assim, “a
interdisciplinaridade pode ser tomada como uma possibilidade de quebrar a rigidez dos
compartimentos em que se encontram isoladas as disciplinas dos currículos escolares”,
devendo ser vista não como uma superação das disciplinas, mas, sim, como “uma etapa
superior das disciplinas, disciplinas essas que se constituem como um recorte mais amplo
do conhecimento em uma determinada área”. Ressalta-se que “esse recorte tem o objetivo
de possibilitar o aprofundamento de seu estudo”, sendo “uma necessidade metodológica
legítima e necessária, porém insuficiente para garantir a formação integral dos
indivíduos”. Sublinha-se, também, que “a etapa superior referida diz respeito à busca da
integração para muito além da troca de informação sobre objetivos, conteúdos,
procedimentos e compatibilização de bibliografia entre os professores, pois é uma
tentativa de maior integração dos caminhos epistemológicos, da metodologia e da
organização do ensino nas escolas”. Citando Follari, Pires diz, resumidamente, que “a
interdisciplinaridade é uma conceituação comum, orgânica, entre as várias disciplinas”.47
46
LARENZ, Karl. Metodologia da ciência do direito. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997.
p. 42.
47
PIRES, Marília Freitas de Campos. Multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade no
ensino. Interface - Comunicação, Saúde, Educação. UNESP, v. 2, n. 2, p. 173-182, 1998. Disponível em:
<http://hdl.handle.net/11449/30363>Acesso em 3 de abril de 2019. Há contudo, também, os conceitos de
transdisciplinaridade e de multidisciplinaridade. No dizer de Pires, “a multidisciplinariedade parece
esgotar-se nas tentativas de trabalho conjunto, pelos professores, entre disciplinas em que cada uma trata de
temas comuns sob sua própria ótica, articulando, algumas vezes bibliografia, técnicas de ensino e
50
Quando se fala em interdisciplinaridade, convém reportar-se, também, ao
pensamento sistêmico, que se contrapõe ao pensamento cartesiano, cujo paralelo é
realizado por Capra, na sua obra A Teia da Vida, a partir do pensamento processual de
Whitehead, que é a parte do pensamento mecanicista que leva em consideração as forças
e mecanismos por meio dos quais as estruturas fundamentais interagem, dando, assim,
origem a processos.
O pensamento sistêmico é, pois, segundo Capra, sempre processual, pois leva
em consideração somente esta parte do pensamento mecanicista. Outro pressuposto do
pensamento sistêmico é a Tectologia, de Bogdanov, originária da palavra tekton
(construtor), que significa “ciência das estruturas”, a qual busca esclarecer e generalizar
os princípios de organização de todas as estruturas vivas e não-(vivas). Assim, a teoria
geral dos sistemas (von Bertalanffy) é uma ciência geral de “totalidade”, aplicável a
várias ciências. Para essa teoria, o organismo não é um sistema estático fechado ao
mundo exterior e contendo sempre os componentes idênticos, mas, sim, um sistema
aberto num estado (quase) estacionário, onde materiais ingressam continuamente vindos
do meio ambiente exterior, e no qual são deixados materiais provenientes do organismo.48
Os seguintes critérios, no dizer de Capra, identificam o pensamento
sistêmico: a) mudança das partes para o todo, uma vez que os sistemas vivos são
totalidades integradas cujas propriedades não podem ser reduzidas às das partes menores;
b) capacidade de deslocar a própria atenção de um lado para o outro entre níveis
sistêmicos, porquanto existem sistemas aninhados dentro de outros sistemas de tal forma
que, aplicando-se os mesmos conceitos a diferentes níveis sistêmicos, pode-se, muitas
51
vezes, obter importantes introvisões; c) inversão na relação entre as partes e o todo, pois,
enquanto, no pensamento mecanicista ou cartesiano, o comportamento do todo é
analisado em termos das propriedades de suas partes, no pensamento sistêmico, os
sistemas vivos não podem ser compreendidos por meio de análise, pois as propriedades
das partes somente podem ser compreendidas dentro do contexto do todo, razão pela qual
o pensamento sistêmico é contextual, pois considera o meio ambiente, sendo também
denominado pensamento ambientalista; d) inexistência de partes em absoluto, uma vez
que aquilo que se denomina partes é apenas um padrão numa teia inseparável de relações,
no qual os objetos são colocados em uma rede inseparável de relações; e) pensar em
termos de rede, porquanto não se fala mais em leis ou princípios fundamentais, sobre os
quais se constrói o edifício do pensamento científico, mas, sim, em redes, nas quais não
há fundamentos, pois nenhuma das propriedades de qualquer das partes dessa teia é
fundamental, uma vez que elas resultam das propriedades das outras partes, e a
consistência global de suas inter-relações determina a estrutura de toda a teia; f) mudança
da ciência objetiva para a ciência epistêmica, pois o pensamento sistêmico adota um
arcabouço no qual o método de questionamento torna-se parte integral das teorias
científicas; g) descoberta de que há somente conhecimento aproximado, uma vez que,
enquanto o velho paradigma ou paradigma cartesiano se baseava na crença da certeza do
conhecimento científico, o novo reconhece que todas as concepções e teorias científicas
são limitadas e aproximadas.49
Muito embora a obra de Capra se refira aos sistemas vivos, a teoria sistêmica
é perfeitamente aplicável ao relacionamento entre as ciências e os diversos ramos do
Direito, que não podem ser compreendidos como sistemas fechados, tanto que, ao tratar
da teoria do ordenamento jurídico, Bobbio descreve os problemas referentes ao
relacionamento entre tais ordenamentos, inclusive tratando dos seus métodos de
integração.50
Outro importante autor que se dedicou ao estudo conceito de sistema e da sua
importância para a ciência do direito foi Claus-Wilhelm Canaris, segundo o qual “as
características do conceito geral do sistema são a ordem e a unidade” e que “a função
49
CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. 13. ed. São
Paulo: Cultrix, 2004. p. 46-50.
50
BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico, p. 146 e ss.
52
do sistema na Ciência do Direito reside, por consequência, em traduzir e desenvolver a
adequação valorativa e a unidade interior da ordem jurídica”. Assim, para esse autor, o
conceito de sistema é determinado “com referência às ideias de adequação valorativa e
unidade interior do Direito”, podendo ele ser definido “como ‘ordem axiológica ou
teleológica de princípios jurídicos gerais’”, ou seja, como a “ordem de valores, de
conceitos teleológicos ou de institutos jurídicos”. Canaris ressalta que “este sistema não
é fechado, mas antes aberto” e essa constatação “vale tanto para o sistema de
proposições doutrinárias ou ‘sistema científico’, como para o próprio sistema da ordem
jurídica, o ‘sistema objetivo’”, o que importa dizer que, no sistema científico, “abertura
significa a incompletude do conhecimento científico” e, no sistema da ordem jurídica, a
abertura significa “mutabilidade dos valores jurídicos fundamentais”.51
A abertura do sistema jurídico contraria o legado do positivismo jurídico,
fundado na ideia de que a ciência do direito é uma “ciência pura” e, a partir dela, de que o
conhecimento haverá de ser o específico, de modo que o aprofundamento do
conhecimento científico viria pela especialização, a qual se constroi no confinamento de
cada “disciplina”.
A especialização e o confinamento do saber em disciplinas, segundo Georges
Gusdorf, estabelecem-se e se solidificam no século XIX, quando “as tecnologias da
pesquisa, em todos os domínios, se enriquecem prodigiosamente; mas esta riqueza
crescente tem como contrapartida uma desmultiplicação das tarefas. É chegado o tempo
dos especialistas; o território espistemológico, alargando-se, não pára de se fragmentar;
as certezas se estreitam ao se tornarem precisas”.52
Em oposição a essa compartimentalização do conhecimento, desde a
Antiguidade, o tema sobre a unidade do conhecimento é uma constante epistemológica, o
que, no dizer de Gusdorf, significa que “o projeto da interdisciplinaridade assinala,
através das épocas, um dos grandes eixos da história do conhecimento”, de modo que “à
medida que o progresso do saber se realiza por especialização, a preocupação com a
unidade suscita o desejo de um reagrupamento que viria remediar o intolerável
51
CANARIS, Claus-Wilhelm. Pensamento sistemático e conceito de sistema na ciência do direito. 5. ed.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2012. p. 279-281.
52
GUSDORF, Georges. Passado, presente e futuro da pesquisa interdisciplinar. Revista Tempo Brasileiro:
interdisciplinaridade, 3. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1995. abr./jun. n. 121. p. 7-27. p. 12.
53
esfacelamento dos domínios do conhecimento e dos homens de ciência”. Assim, explica
esse autor, “os maiores espíritos, nas épocas mais fecundas, afirmam esse tema da
unidade que deve ser mantida sob pena de dispersão e de anarquia epistemológica”.53
Essa busca pela unidade do conhecimento remete às reflexões acerca da
pluridisciplinariedade ou multidisciplinariedade, interdisciplinariedade e
transdisciplinariedade. Segundo Eric Jantsch, há, na atualidade, uma extrema confusão
no uso de termos como “pluri-inter- e transdisciplinaridade”. Para esse autor, a “pluri-ou
multidisciplinariedade” pode ser definida como “a justaposição de disciplinas variadas,
sem nenhum esforço de síntese”, enquanto que a “interdisciplinaridade” seria a “síntese
de duas ou mais disciplinas, de modo a instaurar um novo nível do discurso (metanível),
caracterizado por uma nova lingaugem descritiva e novas relações estruturais”. Por fim,
a “transdisciplinariedade” “é o reconhecimento da interdependência de todos os
aspectos da realidade”, o que “implica uma perspectiva dinânima em conjunto que
consiga transcender a dinâmica da simples síntese dialética e que corresponda a uma
tentativa de apreensão da dinâmica da realidade enquanto totalidade”.54
A interdisciplinaridade, segundo Marília Freitas de Campos Pires, é uma idéia
que tomou corpo nos anos setenta do Século XX, a partir de um movimento
marcadamente revolucionário dos estudantes universitários na Europa e na América
Latina, que “tinha como eixo a crítica à organização do ensino universitário e o papel do
conhecimento na sociedade capitalista, discutindo-se, entre outras coisas, a ruptura
teórica e prática e a função social dos conteúdos escolares”. Em face desse movimento,
“as instituições responderam a algumas exigências do movimento estudantil, iniciando a
busca de novos pressupostos que levaram à superação da super especialização e da
desarticulação teórica e prática, como alternativa à disciplinaridade”, resultando
evidenciado que “as discussões acerca da interdisciplinaridade têm inspiração na crítica
à organização social capitalista, à divisão social do trabalho e à busca da formação
integral do gênero humano”. Assim, “a interdisciplinaridade pode ser tomada como uma
possibilidade de quebrar a rigidez dos compartimentos em que se encontram isoladas as
53
GUSDORF, Georges. Passado, presente e futuro da pesquisa interdisciplinar. Revista Tempo Brasileiro:
interdisciplinaridade, 3. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1995. abr./jun. n. 121. p. 7-27. p. 8-9.
54
JANTSCH, Eric. Interdisciplinaridade: os sonhos e a realidade. Revista Tempo Brasileiro:
interdisciplinaridade, 3. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1995. abr./jun. n. 121. p. 29-41. p. 30-31.
54
disciplinas dos currículos escolares”, devendo ser vista não como uma superação das
disciplinas, mas, sim, como “uma etapa superior das disciplinas, disciplinas essas que se
constituem como um recorte mais amplo do conhecimento em uma determinada área”.
Ressalta-se que “esse recorte tem o objetivo de possibilitar o aprofundamento de seu
estudo”, sendo “uma necessidade metodológica legítima e necessária, porém insuficiente
para garantir a formação integral dos indivíduos”. Sublinha-se, também, que “a etapa
superior referida diz respeito à busca da integração para muito além da troca de
informação sobre objetivos, conteúdos, procedimentos e compatibilização de bibliografia
entre os professores, pois é uma tentativa de maior integração dos caminhos
epistemológicos, da metodologia e da organização do ensino nas escolas”. Citando
Follari, Pires diz, resumidamente, que “a interdisciplinaridade é uma conceituação
comum, orgânica, entre as várias disciplinas”.55
Quando se fala em interdisciplinaridade, convém reportar-se, também, ao
pensamento sistêmico, que se contrapõe ao pensamento cartesiano, cujo paralelo é
realizado por Fritjof Capra, na sua obra A Teia da Vida, a partir do pensamento processual
de Alfred North Whitehead, que é a parte do pensamento mecanicista que leva em
consideração as forças e mecanismos por meio dos quais as estruturas fundamentais
interagem, dando, assim, origem a processos.
55
PIRES, Marília Freitas de Campos. Multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade no
ensino. Interface - Comunicação, Saúde, Educação. UNESP, v. 2, n. 2, p. 173-182, 1998. Disponível em:
<http://hdl.handle.net/11449/30363>. Acesso em 3 de abril de 2019. Há contudo, também, os conceitos de
transdisciplinaridade e de multidisciplinaridade. No dizer de Pires, “a multidisciplinariedade parece
esgotar-se nas tentativas de trabalho conjunto, pelos professores, entre disciplinas em que cada uma trata de
temas comuns sob sua própria ótica, articulando, algumas vezes bibliografia, técnicas de ensino e
procedimentos de avaliação. Poder-se-ia dizer que na multidisciplinaridade as pessoas, no caso as
disciplinas do currículo escolar, estudam perto mas não juntas. A idéia aqui é de justaposição de
disciplinas”. No que diz respeito à transdisciplinaridade, Pires diz que “tem sido discutida de forma ainda
mais vaga”, de modo que “parece trazer em seu interior a possibilidade de um vale tudo um pouco
perigoso”. A transdisciplinaridade “busca, como referência teórica, o holismo e a teoria da complexidade,
que, embora venham se constituindo em um referencial interessante, ainda estão pouco compreendidos”.
Todavia, ressalta que “a totaliddae anunciada para o holismo tem sido tomada de forma factual”, uma vez
que “total é tudo e, assim, pode apresentar um caráter de a-historicidade”. Dessa forma, o mais importante é
“garantir a categoria da historicidade nestas reflexões, historicidade material”. A conclusão é que “o
conceito de interdisciplinaridade parece o mais indicado na garantia desta necessidade, constituindo-se em
um importante eixo organizativo da educação e do ensino”. (PIRES, Marília Freitas de Campos.
Multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade no ensino. Interface - Comunicação,
Saúde, Educação. UNESP, v. 2, n. 2, p. 173-182, 1998. Disponível em:
<http://hdl.handle.net/11449/30363>. Acesso em 3 de abril de 2019).
55
O pensamento sistêmico é, pois, segundo Capra, sempre processual, pois leva
em consideração somente esta parte do pensamento mecanicista. Outro pressuposto do
pensamento sistêmico é a Tectologia, de Alexander Aleksandrovich Bogdanov, originária
da palavra tekton (construtor), que significa “ciência das estruturas”, a qual busca
esclarecer e generalizar os princípios de organização de todas as estruturas vivas e não-
(vivas). Além disso, há a teoria geral dos sistemas, criada por Karl Ludwig von
Bertalanffy, também conhecida como a ciência geral de “totalidade”, aplicável a várias
ciências. Para essa teoria, o organismo não é um sistema estático fechado ao mundo
exterior e contendo sempre os componentes idênticos, mas, sim, um sistema aberto num
estado (quase) estacionário, onde materiais ingressam continuamente vindos do meio
ambiente exterior, e no qual são deixados materiais provenientes do organismo.56
Os seguintes critérios, no dizer de Capra, identificam o pensamento
sistêmico: a) mudança das partes para o todo, uma vez que os sistemas vivos são
totalidades integradas cujas propriedades não podem ser reduzidas às das partes menores;
b) capacidade de deslocar a própria atenção de um lado para o outro entre níveis
sistêmicos, porquanto existem sistemas aninhados dentro de outros sistemas de tal forma
que, aplicando-se os mesmos conceitos a diferentes níveis sistêmicos, pode-se, muitas
vezes, obter importantes introvisões; c) inversão na relação entre as partes e o todo, pois,
enquanto, no pensamento mecanicista ou cartesiano, o comportamento do todo é
analisado em termos das propriedades de suas partes, no pensamento sistêmico, os
sistemas vivos não podem ser compreendidos por meio de análise, pois as propriedades
das partes somente podem ser compreendidas dentro do contexto do todo, razão pela qual
o pensamento sistêmico é contextual, pois considera o meio ambiente, sendo também
denominado pensamento ambientalista; d) inexistência de partes em absoluto, uma vez
que aquilo que se denomina partes é apenas um padrão numa teia inseparável de relações,
no qual os objetos são colocados em uma rede inseparável de relações; e) pensar em
termos de rede, porquanto não se fala mais em leis ou princípios fundamentais, sobre os
quais se constrói o edifício do pensamento científico, mas, sim, em redes, nas quais não
há fundamentos, pois nenhuma das propriedades de qualquer das partes dessa teia é
56
CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida: uma nova compreensão científica dos seres vivos. Tradução de
Newton Roberval Eichemberg. 4. ed. São Paulo: Cultrix, 1999. p. 50-55.
56
fundamental, uma vez que elas resultam das propriedades das outras partes, e a
consistência global de suas inter-relações determina a estrutura de toda a teia; f) mudança
da ciência objetiva para a ciência epistêmica, pois o pensamento sistêmico adota um
arcabouço no qual o método de questionamento torna-se parte integral das teorias
científicas; g) descoberta de que há somente conhecimento aproximado, uma vez que,
enquanto o velho paradigma ou paradigma cartesiano se baseava na crença da certeza do
conhecimento científico, o novo reconhece que todas as concepções e teorias científicas
são limitadas e aproximadas.57
Muito embora a obra de Capra se refira aos sistemas vivos, a teoria sistêmica
é perfeitamente aplicável ao relacionamento entre as ciências e os diversos ramos do
Direito, que não podem ser compreendidos como sistemas fechados, tanto que, ao tratar
da teoria do ordenamento jurídico, Norberto Bobbio descreve os problemas referentes ao
relacionamento entre tais ordenamentos, inclusive tratando dos seus métodos de
integração.58
Discorrendo, especificamente, sobre a interdisciplinariedade “científica”,
Ivani Catarina Arantes Fazenda afirma que a construção de saberes interdisciplinares se
realiza por meio da “estruturação hierárquica das disciplinas, sua organização e
dinâmica, a interação dos artefatos que as compõem, sua mobilidade conceitual, a
comunicação dos saberes nas seqüências a serem organizadas”, o que “conduziria à
busca da cientificidade disciplinar e com ela o surgimento de novas motivações
epistemológicas, de novas fronteiras existenciais”. É que, para essa autora, “cada
disciplina precisa ser analisada não apenas no lugar que ocupa ou ocuparia na grade,
mas nos saberese que contemplam, nos conceitos enunciados e no movimetno que esses
saberes engendram, próprios do seu lócus de cientificidade”.59
No âmbito das ciências jurídicas, explica Rubens Sant’Anna que, “assim
como as questões das ciências físicas não são estritamente submetidas a rígidos
postulados de uma área específica, as indagações jurídicas não encontram adequada
57
CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida: uma nova compreensão científica dos seres vivos. Tradução de
Newton Roberval Eichemberg. 4. ed. São Paulo: Cultrix, 1999. p. 46-50.
58
BOBBIO, Norberto. Teoria do Ordenamento Jurídico. Tradução de Maria Celeste Cordeiro Leite dos
Santos. Brasília: Polis e Editora da Universidade de Brasília, 1991. p. 146 e ss.
59
FAZENDA, Ivani. Interdisciplinaridade-transdisciplinaridade: visões culturais e espistemológicas. In:
____ (Org.) O que é interdisciplinariedade? São Paulo: Cortez, 2008. p. 17-28. p. 18.
57
solução à luz de estratificadas regras formais de uma disciplina ou de um texto legal,
mas sim sob o enfoque de princípios básicos e universais dentro do sistema jurídico”, de
modo que estaria “afirmada a ideia de interdisciplinaridade do universo jurídico”, pois
“as disciplinas que o compõem interagem umas com as outras, posto que temas
fundamentais de umas deitam raízes em outras”.60
Especificamente no campo da ciência do direito penal, é necessário ressaltar
que é indispensável a interdisciplinaridade entre essa ciência e as demais ciências penais
– criminologia e política criminal –, as ciências jurídicas fundamentais - filosofia e
sociologia do direito –, as disciplinas jurídicas – direito civil, direito do trabalho, direito
administrativo, direito constitucional, direito tributário, direito comercial etc. -, as
ciências auxiliares – medicina legal, psiquiatria forense etc – e as ciências em geral –
matemática, gramática, história, física e química.
60
SANT’ANNA, Rubens. A interdisciplinaridade no direito. Porto Alegre: [s.n.], 1976. p. 3.
58
CAPÍTULO II
ASPECTOS TEÓRICOS RELATIVOS À COMINAÇÃO DAS SANÇÕES PENAIS
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
SEÇÃO I
CONCEITO, ÂMBITO E FORMA DA COMINAÇÃO PENAL
A cominação é a previsão das sanções penais na lei penal, bem como das
regras que lhe dizem respeito. É uma atividade que se realiza, portanto, âmbito legislativo
e com a observância das formalidades do processo legislativo,61 em observância do
princípio da legalidade penal, previsto no inciso XXXIX do artigo 5º da Constituição
Federal. A lei penal, por tanto, haverá de ser estrita, escrita, certa e prévia.
No Brasil, essa é uma atividade da competência privativa da União Federal,
conforme estabelece o artigo 22, inciso I, da Constituição Federal, mais especifificamente
do Congresso Nacional, nos termos do seu artigo 48, caput, embora, conforme dispõe o
61
Esse processo está previsto na Constituição Federal e nos regimentos internos das Casas Legislativas
federais.
59
parágrafo único daquele mesmo artigo, os estados-membros podem ser autorizados a
legislar sobre questões penais específicas.
SEÇÃO II
CONTEÚDO DA COMINAÇÃO
SEÇÃO III
CARÁTER DA COMINAÇÃO
60
SEÇÃO IV
TIPOS DE COMINAÇÃO
62
"Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando:
"Art. 60. [...] Multa substitutiva § 2º - A pena privativa de liberdade aplicada, não superior a 6 (seis)
61
A cominação cumulativa, por sua vez, é aquela em que o legislador prevê,
fora do tipo penal, outra(s) espécie(s) de pena(s) que deve(m) ser aplicada(s),
cumulativamente, com aquela cominada no tipo penal, conforme se pode constatar, por
exemplo, nos artigos 292, 293, 295, 296 e 297 do Código de Trânsito Brasileiro.63
A cominação alternativa, por fim, é aquela em que o legislador prevê, fora do
tipo penal, outras espécies de pena que devem ser aplicadas, alternativamente, em relação
àquela cominada no tipo penal, como ocorre, por exemplo, no artigo 6o, parágrafo 4o, da
Lei n. 4.898, de 9 de dezembro de 1965, que estabelece penas que podem ser aplicadas,
entre outras, de forma alternativa àquelas previstas no parágrafo 3o desse mesmo artigo.64
Esses diversos tipos de cominação exigem tanto do estudioso do direito penal
quanto dos seus aplicadores a devida atenção, para não incorrerem em erros de
compreensão, ou seja, de que a consequência penal aplicável a determinada conduta é,
somente, aquela prevista no preceito secundário do tipo penal, ou de que a uma
determinada conduta é aplicável, apenas, uma sanção.
meses, pode ser substituída pela de multa, observados os critérios dos incisos II e III do art. 44 deste
Código".
63
Art. 292. A suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo
automotor pode ser imposta isolada ou cumulativamente com outras penalidades"."Art. 293. A penalidade
de suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou a habilitação, para dirigir veículo automotor, tem a
duração de dois meses a cinco anos. § 1º Transitada em julgado a sentença condenatória, o réu será
intimado a entregar à autoridade judiciária, em quarenta e oito horas, a Permissão para Dirigir ou a Carteira
de Habilitação. § 2º A penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou a habilitação
para dirigir veículo automotor não se inicia enquanto o sentenciado, por efeito de condenação penal, estiver
recolhido a estabelecimento prisional". "Art. 295. A suspensão para dirigir veículo automotor ou a
proibição de se obter a permissão ou a habilitação será sempre comunicada pela autoridade judiciária ao
Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN, e ao órgão de trânsito do Estado em que o indiciado ou réu
for domiciliado ou residente". "Art. 296. Se o réu for reincidente na prática de crime previsto neste Código,
o juiz aplicará a penalidade de suspensão da permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor, sem
prejuízo das demais sanções penais cabíveis". "Art. 297. A penalidade de multa reparatória consiste no
pagamento, mediante depósito judicial em favor da vítima, ou seus sucessores, de quantia calculada com
base no disposto no § 1º do art. 49 do Código Penal, sempre que houver prejuízo material resultante do
crime. § 1º A multa reparatória não poderá ser superior ao valor do prejuízo demonstrado no processo. § 2º
Aplica-se à multa reparatória o disposto nos arts. 50 a 52 do Código Penal. § 3º Na indenização civil do
dano, o valor da multa reparatória será descontado".
64
"Art. 6º O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção administrativa civil e penal. [...] § 3º A
sanção penal será aplicada de acordo com as regras dos artigos 42 a 56 do Código Penal e consistirá em: a)
multa de cem a cinco mil cruzeiros; b) detenção por dez dias a seis meses; c) perda do cargo e a inabilitação
para o exercício de qualquer outra função pública por prazo até três anos. § 4º As penas previstas no
parágrafo anterior poderão ser aplicadas autônoma ou cumulativamente. § 5º Quando o abuso for cometido
por agente de autoridade policial, civil ou militar, de qualquer categoria, poderá ser cominada a pena
autônoma ou acessória, de não poder o acusado exercer funções de natureza policial ou militar no
município da culpa, por prazo de um a cinco anos".
62
SEÇÃO V
A FUNÇÃO DAS SANÇÕES PENAIS NO PLANO DA COMINAÇÃO
65
FEUERBACH, Paul Johann Anselm Ritter von. Tratado de derecho penal común vigente en Alemania.
Buenos Aires: Hammurabi, 1989. p. 59.
66
FEUERBACH, Paul Johann Anselm Ritter von. Tratado de derecho penal común vigente en Alemania.
Buenos Aires: Hammurabi, 1989. p. 60.
63
pois, mediante a efetividade harmônica dos poderes legislativo e executivo no comum
objetivo intimidatório”.67
Na concepção de Von Feuerbach, portanto, toda sanção penal “tem, como
objetivo principal e necessário, afastar todos do crime mediante sua ameaça”, sendo “o
mal cominado por uma lei do Estado e infligido em virtude dessa lei”, de modo que “o
objetivo da cominação da pena na lei é a intimidação de todos como possíveis
protagonistas de lesões jurídicas”, enquanto que “o objetivo de sua aplicação é o de dar
fundamento efetivo à cominação legal, dado que sem a aplicação a cominação resultaria
oca (seria ineficaz)”.68
Na sua obra Teoria Del Delito en la Discusión Actual, Claus Roxin afirma
que a pena exerce distintas funções e pesos conforme a sua dimensão temporal, ou seja,
no momento da sua cominação, no momento da sua imposição e no momento da sua
execução. Mais precisamente, explica esse autor que, no momento da cominação, a pena
tem uma função exclusivamente preventivo-geral, isto é, produz o efeito de intimidação e
de aprendizagem, razão pela qual os tipos penais devem estar perfeitamente definidos e
fáceis de ser compreendidos. Quando o processo penal culmina em uma condenação,
passam ao primeiro plano, na imposição da sanção, os pontos de vista de prevenção geral
e prevenção especial. Quanto mais grave seja o delito, tanto mais exige a prevenção geral
um esgotamento da medida de culpabilidade. E, quando se trata de delitos gravíssimos, a
confiança no ordenamento jurídico somente pode manter-se e a paz jurídica somente
pode restabelecer-se quando se produza uma repressão adequada à culpabilidade. Pelo
contrário, nos delitos leves e de média gravidade, que são, de fato, a maioria na prática,
pode praticar-se mais tolerância quando isto seja necessário por razões de prevenção
especial. Para esse autor, os delitos menores, por sua vez, comovem a paz social de
maneira comparativamente leve, e uma reintegração social do delinqüente serve mais à
seguridade pública que um rigor promotor da reincidência. Então, na imposição de
sanções influem conjuntamente a prevenção geral e a prevenção especial, se bem que o
fazem de uma maneira escalonada segundo a gravidade do delito. Por fim, Roxin sustenta
67
FEUERBACH, Paul Johann Anselm Ritter von. Tratado de derecho penal común vigente en Alemania.
Buenos Aires: Hammurabi, 1989. p. 60.
68
FEUERBACH, Paul Johann Anselm Ritter von. Tratado de derecho penal común vigente en Alemania.
Buenos Aires: Hammurabi, 1989. p. 61 e 125.
64
que, “na execução da pena, segundo uma nova concepção, deveria buscar-se somente a
ressocialização. Roxin afirma, também, que em épocas anteriores se tem querido alcançar
efeitos preventivos precisamente mediante um rigor escalonado segundo a gravidade do
delito, rigor que inclusive chegava à crueldade da execução penal. Na compreensão de
que isto é falso radica uma transformação muito importante na teoria moderna dos fins da
pena. É que uma execução penal baseada na imposição de um mal e que renuncie à
ressocialização somente pode levar ao condenado uma dessocialização definitiva e não
pode ser para ele um aliciante para formas de conduta humanas e sociais que ele necessita
urgentemente. Em síntese, Roxin explica que a teoria dos fins da pena tem que tomar em
conta a dimensão temporal da realização do direito penal. Essa dimensão temporal vai
desde a pura prevenção geral nas cominações penais, passando pela vinculação entre
prevenção geral e prevenção especial no momento de impor a sanção, até chegar à clara
prevalência da prevenção especial na execução da pena e das sanções não privativas de
liberdade.69
Como se pode perceber, Roxin sustenta que as funções das sanções penais se
realizam diferentemente em cada um dos planos. Assim, na cominação, a função
predominante é a prevenção geral negativa; na aplicação, é a prevenção geral positiva,
para delitos graves, e a prevenção especial positiva, para delitos leves e médios; na
execução, é a prevenção especial positiva, isto é, a ressocialização
O que interessa sublinhar, aqui, é que, no plano da cominação, as sanções
penais prometem cumprir, sobretudo, a função de prevenção geral negativa, ou seja, de
dissuasão ou coação psicológica (Feuerbach) e, também, de aprendizagem (Roxin).
69
ROXIN, Claus. Las diferentes acentuación de los fines de la pena em los estádios de la realización del
Derecho Penal. In: ___. La teoria del delito em la discusión actual. Lima: Grijley, 2007. p. 82-84.
65
CAPÍTULO III
ASPECTOS CONSTITUCIONAIS RELATIVOS À COMINAÇÃO DAS
SANÇÕES PENAIS
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O estudo da cominação das sanções penais não pode prescindir das normas
constitucionais que estabelecem as sanções penais permitidas e as sanções penais
proibidas, as quais previstas, respectivamente, nos incisos XLVI e XLVII do artigo 5º da
Constituição Federal.
Por isso, o presente capítulo trata dos aspectos constitucionais relativos à
cominação. Ele está dividido em duas seções, de modo que a primeira tratará das sanções
penais permitidas; e a segunda, das sanções penais proibidas, bem como a respectiva
interpretação que o Supremo Tribunal Federal realiza a cerca dessas normas
constitucionais.
SEÇÃO I
AS SANÇÕES PENAIS PERMITIDAS PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
66
infraconstitucional poderá cominar outras sanções que não as previstas no inciso XLVI
do artigo 5º da Constituição Federal, desde que, evidentemente, não estejam previstas no
rol das sanções penais proibidas, o qual está exposto no inciso XLVII desse mesmo
artigo, e será objeto da seção II deste capítulo.
Subseção I
A privação ou restrição da liberdade
67
De qualquer forma, é necessário ter em mente que a privação da liberdade é
um gênero, do qual a reclusão, a detenção e a prisão simples são espécies, conforme
estabelecem o artigo 33 do Código Penal e o artigo 6o da Lei de Contravenções Penais, as
quais serão objeto de detalhamento no capítulo VI.
Subseção II
A perda de bens
68
de bens prevista no artigo 91, inciso I, alínea b, do Código Penal, pois esta é um efeito
secundário, enquanto que aquela é um efeito primário da condenação penal.
Subseção III
A pena de multa
Subseção IV
A prestração social alternativa
69
social alternativa e a prestação de serviços à comunidade: “A Constituição Federal
preconiza que a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, a
prestação social alternativa (art. 5., XLVI, ‘d’). Seu conceito e condições estão definidos
no art. 46 e seu parágrafo único, do Código Penal.”
Além da prestação de serviços à comunidade, prevista no artigo 46 do Código
Penal e já admitida pelo Supremo Tribunal Federal como espécie de prestação social
alternativa, também se pode compreender, como espécie desta modalidade constitucional
de sanção penal, a prestação pecuniária, quando esta for paga em proveito de entidade
pública ou de entidade de privada com destinação social, conforme estabelece o artigo
45, parágrafo 1o, do Código Penal.
Subseção V
A suspensão ou interdição de direitos
70
SEÇÃO II
AS SANÇÕES PENAIS PROIBIDAS PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
Subseção I
A pena de morte
71
Como se pode perceber, essa declaração de guerra somente poderá ocorrer em
caso de agressão estrangeira, ou seja, para fins de guerra externa, não se admitindo em
caso de comoção intestina.
Nos períodos colonial e imperial a pena de morte foi aplicada em larga escala,
uma vez que se constituia na pena hegemônica. Todavia, ela deixou de ser cominada no
Código Penal de 1890 e foi abolida em parte, expressamente, pela Constituição de 1891,
somente sendo admitida se o Brasil declarar guerra externa, situação em que terá
aplicabilidade o Código Penal Militar, que, entre outros, define os crimes militares em
tempo de guerra (muitos deles apenados com a morte), o que pode alcançar, inclusive,
civis, como é o caso do crime de traição previsto no artigo 355 desse mesmo diploma
legal.70
Durante o Estado Novo71 e no período dos governos militares72, houve uma
ampliação das possibilidades do uso da pena de morte, sem registro, no entanto, de
execuções legais.
70
“Traição Art. 355. Tomar o nacional armas contra o Brasil ou Estado aliado, ou prestar serviço nas
fôrças armadas de nação em guerra contra o Brasil: Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos,
grau mínimo”.
71
A Constituição de 1937, após a Lei Constitucional de 1938, mais especificamente no seu artigo 122,
estabelecia: “Art 122 - A Constituição assegura aos brasileiros e estrangeiros residentes no País o direito à
liberdade, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes:[...] 13) Não haverá penas
corpóreas perpétuas. As penas estabelecidas ou agravadas na lei nova não se aplicam aos fatos anteriores.
Além dos casos previstos na legislação militar para o tempo de guerra, a pena de morte será aplicada nos
seguintes crimes: a) tentar submeter o território da Nação ou parte dele à soberania de Estado estrangeiro;
b) atentar, com auxilio ou subsidio de Estado estrangeiro ou organização de caráter internacional, contra a
unidade da Nação, procurando desmembrar o território sujeito à sua soberania; c) tentar por meio de
movimento armado o desmembramento do território nacional, desde que para reprimi-lo se torne necessário
proceder a operações de guerra; d) tentar, com auxilio ou subsidio de Estado estrangeiro ou organização de
caráter internacional, a mudança da ordem política ou social estabelecida na Constituição; e) tentar
subverter por meios violentos a ordem política e social, com o fim de apoderar-se do Estado para o
estabelecimento da ditadura de uma classe social; f) a insurreição armada contra os Poderes do Estado,
assim considerada ainda que as armas se encontrem em depósito; g) praticar atos destinados a provocar a
guerra civil, se esta sobrevém em virtude deles; h) atentar contra a segurança do Estado praticando
devastação, saque, incêndio, depredação ou quaisquer atos destinados a suscitar terror; i) atentar contra a
vida, a incolumidade ou a liberdade do Presidente da República; j) o homicídio cometido por motivo fútil
ou com extremos de perversidade”.
72
A Constituição de 1967, após o Ato Institucional n. 14, de 1969, estabeleceu, no parágrafo 11 do seu
artigo 150, o seguinte: “Não haverá pena de morte, de prisão perpétua, de banimento, ou confisco, salvo
nos casos de guerra externa psicológica adversa, ou revolucionária ou subversiva nos termos que a lei
determinar. Esta disporá também, sobre o perdimento de bens por danos causados ao Erário, ou no caso de
enriquecimento ilícito no exercício de cargo, função ou emprego na Administração Pública, Direta ou
Indireta”.
72
Todavia, na Constituição atual, a pena de morte somente é admitida em caso
de guerra externa declarada e, conforme dispõe o artigo 56 do Código Penal Militar, "é
executada por fuzilamento".
Subseção II
Penas de caráter perpétuo
73
O artigo 169 do Código Criminal do Imério, de 1830, estabelecia: “Art. 169. Jurar falso em juizo. Se a
causa, em que se prestar o juramento fôr civil.Penas - de prisão com trabalho por um mez a um anno, e de
multa de cinco a vinte por cento do valor da causa. Se a causa fôr criminal, e o juramento para absolvição
do réo. Penas - de prisão com trabalho por dous mezes a dous annos, e de multa correspondente á metade
do tempo. Se fôr para a condemnação do réo em causa capital. Penas - de gales perpetuas no gráo maximo
prisão com trabalho por quinze annos no médio; e por oito no minimo.”
74
Dispunha o Código Criminal do Império, de 1830, no seu artigo 68: “Art. 68. Tentar directamente, e por
factos, destruir a independencia ou a integridade do Imperio. Penas - de prisão com trabalho por cinco a
quinze annos. Se o crime se consummar. Penas - de prisão perpetua com trabalho no gráo maximo; prisão
com trabalho por vinte annos no medio; e por dez no minimo”.
73
Uma das principais preocupações dos republicanos, logo após a proclamação
da República, foi deixar de cominar e até proibir as penas corporais, em especial a pena
de morte, e de transformar a privação da liberdade de locomoção em pena hegemônica,
uma vez que, nos períodos colonial e imperial, vigoravam, majoritariamente, as penas
corporais. Além disso, os republicanos aboliram as galés perpétuas e estabeleceram uma
duração máxima para as penas privativas de liberdade, que passaram, assim, a ser
temporárias, ou seja, passaram a ter a duração máxima de 30 (trinta) anos, ressalvadas as
hipóteses de condenações por crimes ocorridos durante a execução, em que esse período
poderá ser ampliado, conforme a regra do artigo 75, parágrafo 2º, do Código Penal.
Desde então, com exceção no período dos governos militares75, a excecução
da pena privativa de liberdade, passaram a ter essa limitação temporal.
75
A Constituição de 1967, após o Ato Institucional n. 14, de 1969, estabeleceu, no parágrafo 11 do seu
artigo 150, o seguinte: “Não haverá pena de morte, de prisão perpétua, de banimento, ou confisco, salvo
nos casos de guerra externa psicológica adversa, ou revolucionária ou subversiva nos termos que a lei
determinar. Esta disporá também, sobre o perdimento de bens por danos causados ao Erário, ou no caso de
enriquecimento ilícito no exercício de cargo, função ou emprego na Administração Pública, Direta ou
Indireta”.
74
se considerada a garantia constitucional abolidora das prisões perpétuas. A
medida de segurança fica jungida ao período máximo de trinta anos.
75
do art. 64 do Código Penal. Admissibilidade. Precedente. Writ extinto. Ordem
concedida de ofício. 1. Impetração dirigida contra decisão singular não
submetida ao crivo do colegiado competente por intermédio de agravo
regimental, o que configura o não exaurimento da instância antecedente,
impossibilitando o conhecimento do writ. Precedentes. 2. Quando o paciente
não pode ser considerado reincidente, diante do transcurso de lapso temporal
superior a cinco anos, conforme previsto no art. 64, I, do Código Penal, a
existência de condenações anteriores não caracteriza maus antecedentes.
Precedentes. 3. Writ extinto. Ordem concedida de ofício. (O grifo não está na
redação original).
76
(cinco) anos, mas, sim, de 10 (dez) anos, conforme se pode depreender da ementa parcial
do acórdão proferido, no dia 25 de abril de 2018, pelo seu Segundo Grupo de Câmaras
Criminais, nos autos da Revisão Criminal n. 4028135-18.2017.8.24.0000, de Gaspar, nos
quais foi relator o Desembargador Luiz Antônio Zanini Fornerolli:
REVISÃO CRIMINAL - CRIME DE FURTO (ART. 155, CAPUT, DO
CÓDIGO PENAL) - DOSIMETRIA - PRIMEIRA FASE - RECONHECIDA A
EXISTÊNCIA DE MAUS ANTECEDENTES - IMPOSSIBILIDADE -
VALORAÇÃO PAUTADA EM CONDENAÇÃO CRIMINAL CUJA EXTINÇÃO
DO CUMPRIMENTO DA PENA OCORREU HÁ MAIS DE 10 (DEZ) ANOS.
A fim de evitar uma perpétua valoração de condenação definitiva, esta
Câmara Criminal passou a entender que os efeitos dos antecedentes criminais
também devem ser limitados no tempo, a exemplo do que ocorre com a
reincidência - a qual, aliás, não deixa de ser uma espécie de antecedente. Em
homenagem ao princípio da proporcionalidade e da individualização da pena,
as condenações transitadas em julgado que não se prestem à configuração da
reincidência devem conservar seus efeitos, para fins de maus antecedentes, por
mais cinco anos, a contar da prescrição quinquenal prevista no art. 64, I, do
Código Penal (TJSC, ACr n. 0002915-10.2015.8.24.0048, rel. Des. Roberto
Lucas Pacheco, j. em 25.01.2018).[...]
77
Subseção III
Penas de trabalhos forçados
76
O Código Criminal do Império, de 1830, estabelecia, no seu artigo 44, que “A pena de galés sujeitará os
réos a andarem com calceta no pé, e corrente de ferro, juntos ou separados, e a empregarem-se nos
trabalhos publicos da provincia, onde tiver sido commettido o delicto, á disposição do Governo”.
77
O Código Criminal do Império, de 1830, estabelecia, no seu artigo 46, que “A pena de prisão com
trabalho, obrigará aos réos a occuparem-se diariamente no trabalho, que lhes fôr destinado dentro do
recinto das prisões, na conformidade das sentenças, e dos regulamentos policiaes das mesmas prisões”.
78
O Código Penal atual, no parágrafo 4º do seu artigo 44, estabelece que “A pena restritiva de direitos
converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrição
imposta”.
78
Subseção IV
A pena de banimento
79
A Constituição Federal de 1891, no parágrafo 20 do seu artigo 72, foi estabelecido o seguinte: “Fica
abolida a pena de galés e a de banimento judicial”.
80
Dispõe o caput do artigo 49 da Lei de Migração que: “A repatriação consiste em medida administrativa de
devolução de pessoa em situação de impedimento ao país de procedência ou de nacionalidade”. Por sua
vez, o artigo 45 desse mesmo diploma legal estabelece que: “Art. 45. Poderá ser impedida de ingressar no
País, após entrevista individual e mediante ato fundamentado, a pessoa: I - anteriormente expulsa do País,
enquanto os efeitos da expulsão vigorarem; II - condenada ou respondendo a processo por ato de terrorismo
ou por crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos termos
definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998, promulgado pelo Decreto
no 4.388, de 25 de setembro de 2002; III - condenada ou respondendo a processo em outro país por crime
doloso passível de extradição segundo a lei brasileira; IV - que tenha o nome incluído em lista de restrições
por ordem judicial ou por compromisso assumido pelo Brasil perante organismo internacional; V - que
apresente documento de viagem que: a) não seja válido para o Brasil; b) esteja com o prazo de validade
vencido; ou c) esteja com rasura ou indício de falsificação; VI - que não apresente documento de viagem ou
documento de identidade, quando admitido; VII - cuja razão da viagem não seja condizente com o visto ou
com o motivo alegado para a isenção de visto; VIII - que tenha, comprovadamente, fraudado documentação
ou prestado informação falsa por ocasião da solicitação de visto; ou IX - que tenha praticado ato contrário
aos princípios e objetivos dispostos na Constituição Federal. Parágrafo único. Ninguém será impedido de
ingressar no País por motivo de raça, religião, nacionalidade, pertinência a grupo social ou opinião política.
81
Dispõe o caput do artigo 50 da Lei de Migração que: “A deportação é medida decorrente de procedimento
administrativo que consiste na retirada compulsória de pessoa que se encontre em situação migratória
irregular em território nacional”.
82
Dispõe o caput do artigo 54 da Lei de Migração que: “A expulsão consiste em medida administrativa de
retirada compulsória de migrante ou visitante do território nacional, conjugada com o impedimento de
reingresso por prazo determinado. § 1o Poderá dar causa à expulsão a condenação com sentença transitada
em julgado relativa à prática de: I - crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou
crime de agressão, nos termos definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998,
promulgado pelo Decreto no 4.388, de 25 de setembro de 2002; ou II - crime comum doloso passível de
pena privativa de liberdade, consideradas a gravidade e as possibilidades de ressocialização em território
nacional”.
79
Subseção V
Penas cruéis
80
CAPÍTULO IV
AS SANÇÕES PENAIS E O DIREITO INTERNACIONAL
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
SEÇÃO I
AS NORMAS PENAIS INTERNACIONAIS RELATIVAS A DIREITOS HUMANOS
COMO OBJETO DA CIÊNCIA DO DIREITO PENAL
Subseção I
A positivação das normas internacionais relativas a direitos humanos
81
cujo valor jurídico é, em princípio, não vinculante, mas cujo conteúdo pode passar a ser
obrigatório na medida em que contenha ou expresse uma fonte de direito internacional”.
Depois, “os direitos foram plasmados em tratados – instrumentos jurídicos obrigatórios
por natureza -, para aqueles que manifestem seu consentimento em obrigar-se, e
relativos a um conjunto de direitos em particular”. 83
Assim, a positivação dos direitos humanos fundamentais, nos moldes atuais,
iniciou-se com a Carta das Nações Unidas, de 1945, e com a Declaração Universal dos
Direitos do Homem de, 1948, após o que surgiram vários tratados e convenções
internacionais sobre direitos humanos. Esses diplomas podem ser sistematizados
conforme sejam de interesse universal (sistema universal) ou de interesse regional
(sistema regional) e por tratarem de temas gerais (sistema geral) ou especiais (sistema
especial).84 Tem-se, portanto, um sistema universal-geral85 e um sistema universal-
especial,86 assim como de sistemas regionais-gerais87 e sistemas regionais-especiais.88 Os
83
ARAÚJO, Nádia de; ANDREIULO, Inês da Matta. A internalização dos tratados no Brasil e os direitos
humanos. In: BOUCAULT, Carlos Eduardo de Abreu; ARAÚJO, Nadia de (Org). Os direitos humanos e
o direito internacional. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. p. 63-113. p. 72.
84
Piovesan explica que “os sistemas geral e especial são sistemas de proteção complementares, na medida
em que o sistema especial de proteção é voltado, fundamentalmente, à prevenção da discriminação ou à
proteção de pessoas os grupos de pessoas particularmente vulneráveis, que merecem proteção especial.
Daí apontar-se não mais o indivíduo genérica e abstratamente considerado, mas ao indivíduo
‘especificado’, considerando-se categorizações relativas ao gênero, idade, etnia, raça, etc. O sistema
internacional passa a reconhecer direitos endereçados às crianças, aos idosos, à mulheres, às pessoas
vítimas de tortura, às pessoas vítimas de discriminação racial, dentre outros”. (PIOVESAN, Flávia.
Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 5. ed. São Paulo: Max Limonad, 2003. p.
188).
85
Entre os diplomas de direito internacional que formam o sistema universal-geral, além da Carta das
Nações Unidas de 1945 e da Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948 antes mencionados,
estão o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966; o Pacto Internacional
dos Direitos Civis e Políticos de 1966; o Protocolo Facultativo Relativo ao Pacto Internacional dos
Direitos Civis e Políticos de 1966; e o Segundo Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional de Direitos
Civis e Políticos para a Abolição da Pena de Morte de 1989.
86
Entre os diplomas de direito internacional do sistema global-especial que tratam, entre outras, de normas
relativas ao direito penal e ao direito processual penal, cabe citar a Convenção sobre a Prevenção e a
Sanção do Crime de Genocídio de 1948; a Convenção n. 105 da Organização Internacional do Trabalho
Relativa à Abolição do Trabalho Forçado de 1957; a Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou
Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes de 1984; as Regras Mínimas das Nações Unidas Para a
Administração da Justiça da Infância e da Juventude (Regras de Beijing) de 1985; a Convenção sobre os
Direitos da Criança de 1989; os Princípios Básicos Para o Tratamento de Reclusos de 1990; a Convenção
Contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas de 1991; o Estatuto de Roma Sobre
o Tribunal Penal Internacional de 1998; a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado
Transnacional de 2000 (Convenção de Palermo); o Protocolo Relativo ao Combate ao Tráfico de
Migrantes por Via Terrestre, Marítima e Aérea de 2000; o Protocolo Relativo à Prevenção, Repressão e
Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças de 2000; o Protocolo Contra a
Fabricação e o Tráfico Ilícito de Armas de Fogo, suas Peças e Componentes e Munições de 2001.
82
sistemas regionais buscam a proteção dos direitos humanos no plano regional, podendo-
se destacar, entre esses sistemas, o europeu, americano e africano.89
A propósito, Piovesan explica “o sistema internacional de proteção dos direitos
humanos”, formado a partir dos diplomas de direito internacional antes mencionados,
“pode apresentar diferentes âmbitos de aplicação”, razão pela qual é comum “falar-se
nos sistemas global e regional de proteção dos direitos humanos”, os quais “não são
dicotômicos, mas, ao revés, são complementares”, uma vez que, “inspirados pelos
valores e princípios da Declaração Universal, compõem o universo instrumental de
proteção dos direitos humanos, no plano internacional”. Isso significa dizer que “os
diversos sistemas de proteção de direitos humanos interagem em benefício dos indivíduos
protegidos”, pois o propósito da coexistência de distintos instrumentos jurídicos é
“ampliar e fortalecer a proteção dos direitos humanos”.90
87
Entre os diplomas normativos do sistema regional-geral, encontram-se a Declaração Americana dos
Direitos do Homem de 1948; a Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969 (Pacto de São José da
Costa Rica); e o Protocolo Adicional à Convenção Americana de Direitos Humanos em Matéria de
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1988 (Protocolo de San Salvador).
88
Entre os diplomas do sistema regional-especial, por conterem, também, normas penais e processuais
penais, cabe uma referência especial ao Tratado para a Proscrição das Armas Nucleares na América
Latina e no Caribe de 1967 (Tratado de Tlatelolco); à Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a
Tortura de 1985; ao Protocolo Adicional à Convenção Americana Sobre Direitos Humanos à Abolição da
Pena de Morte de 1990; à Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra
a Mulher 1994 (Convenção de Belém do Pará); e à Convenção Interamericana Contra a Corrupção de
1996, que são diplomas de direito internacional que tratam de aspectos penais e processuais.
89
Piovesan afirma que “cada qual dos sistemas regionais de proteção apresenta um aparato jurídico
próprio”¸ de modo que “o sistema interamericano tem como principal instrumento a Convenção
americana de Direitos Humanos de 1969, que estabelece a Comissão Interamericana de Direitos Humanos
e a Corte Interamericana. Já o sistema europeu conta com a Convenção Européia de Direitos Humanos de
1950, que estabelece a Comissão e a Corte Européia de Direitos Humanos. Por fim, o sistema africano
apresenta como principal instrumento a Carta Africana de Direitos Humanos” (PIOVESAN, Flávia.
Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 5. ed. São Paulo: Max Limonad, 2003. p.
226).
90
PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 5. ed. São Paulo: Max
Limonad, 2002. p. 225 e 228. Tem-se, assim, um sistema global de direitos humanos, cujo campo de
incidência, no dizer de Piovesan, “não se limita a uma determinada região, mas pode alcançar, em tese,
qualquer Estado integrante da ordem internacional, a depender do consentimento do Estado no que se
atém aos instrumentos internacionais de proteção”. (PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito
constitucional internacional. 5. ed. São Paulo: Max Limonad, 2002. p. 225).
83
Subseção II
A convivência entre os sistemas internacional e nacional
91
COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 8. ed. São Paulo: Saraiva,
2013. P. 380.
92
Por sua importância para o objeto da ciência do direito penal, merecem destaque, entre os diplomas de
direito internacional, os seguintes: a) o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos de 1966,
promulgado por meio do Decreto Presidencial n. 592, de 6 de julho de 1992, e a Convenção Americana de
Direitos Humanos; e b) a Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969 (Pacto de São José da
Costa Rica) foi promulgada pelo Decreto Presidencial n. 678, de 6 de novembro de 1992. Nesses diplomas,
são encontradas normas penais e processuais penais que devem ser integrar o estudo do direito penal.
93
Sobre as relações entre o direito internacional e o direito interno, há duas teorias: a) a teoria dualista,
sustentada pelo jurista alemão Karl Heinrich Triepel, professor de direito constitucional da Universidade de
Leipzig (Alemanha), que sustenta que “uma fonte de direito internacional é também incapaz de criar, por si
mesma, uma regra de direito interno, tanto quanto uma fonte de direito interno não se encontra em
condições de produzir, por si mesma, direito internacional. A doutrina que acaba de ser exposta pode ser
denominada: teoria dualista das relações entre o direito internacional e o direito interno”. (TRIEPEL,
Henrich Karl. As relações entre o direito interno e o direito internacional. Belo Horizonte: Revista da
Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, 1964. p. 17-18); e b) a teoria monista,
sustentada por Hans Kelsen, na sua Teoria Geral do Direito e do Estado (1944), segundo o qual a “visão
monista é o resultado de uma análise das normas do Direito internacional positivo referente aos Estados,
ou seja, às ordens jurídicas nacionais”, o que significa dizer que, “a partir do ponto de vista do Direito
internacional, vê-se a sua conexão com o Direito nacional e, por conseguinte, com uma ordem jurídica
84
base na Constituição Federal, adotou a posição no sentido de que as normas de direito
internacional integram-se ao ordenamento jurídico interno, desde que observado o iter
procedimental de incorporação dos tratados internacionais. Assim, superadas as fases
prévias da celebração da convenção internacional, de sua aprovação congressional e da
ratificação pelo Chefe de Estado, o procedimento se conclui com a expedição, pelo
Presidente da República, de decreto, de cuja edição derivam três efeitos básicos que lhe
são inerentes: (a) a promulgação do tratado internacional; (b) a publicação oficial de seu
texto; e (c) a executoriedade do ato internacional, que passa, somente então, a vincular e a
obrigar no plano do direito positivo interno.94
No que diz respeito à posição hierárquica dos tratados internacionais em relação
ao ordenamento jurídico interno, há quatro95 posições: 1) as normas internacionais têm a
universal”. (KELSEN, Hans. Teoria geral do direito e do estado. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p.
516). Para Kelsen, explica Silvia Helena de Figueiredo Steiner, existe uma unidade no ordenamento
jurídico, não se admitindo uma dicotomia entre os dois ordenamentos, já que, de um lado, o Estado firma
tratados no exercício de sua soberania – soberania esta que só existe se reconhecida no direito internacional
– e, de outro, o tratado obrigaria não só o Estado, mas também os súditos desse Estado, criando-lhes
direitos e obrigações. (STEINER, Sylvia Helena de Figueiredo. A convenção americana sobre direitos
humanos e sua integração ao processo penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p. 61-66).
94
Essas fases do procedimento de incorporação dos tratados internacionais firmados pelo Brasil foram
estabelecidas pelo Pleno do Supremo Tribunal Federal, na ementa do acórdão proferido, no dia 4 de
setembro de 1997, nos autos da Medida Cautelar em Ação Direta de Constitucionalidade n. 1.480, do
Distrito Federal, nos quais foi relator o Ministro Celso de Mello, nos seguinte termos: “É na Constituição
da República - e não na controvérsia doutrinária que antagoniza monistas e dualistas - que se deve buscar
a solução normativa para a questão da incorporação dos atos internacionais ao sistema de direito positivo
interno brasileiro. O exame da vigente Constituição Federal permite constatar que a execução dos
tratados internacionais e a sua incorporação à ordem jurídica interna decorrem, no sistema adotado pelo
Brasil, de um ato subjetivamente complexo, resultante da conjugação de duas vontades homogêneas: a do
Congresso Nacional, que resolve, definitivamente, mediante decreto legislativo, sobre tratados, acordos ou
atos internacionais (CF, art. 49, I) e a do Presidente da República, que, além de poder celebrar esses atos
de direito internacional (CF, art. 84, VIII), também dispõe - enquanto Chefe de Estado que é - da
competência para promulgá-los mediante decreto. O iter procedimental de incorporação dos tratados
internacionais - superadas as fases prévias da celebração da convenção internacional, de sua aprovação
congressional e da ratificação pelo Chefe de Estado - conclui-se com a expedição, pelo Presidente da
República, de decreto, de cuja edição derivam três efeitos básicos que lhe são inerentes: (a) a promulgação
do tratado internacional; (b) a publicação oficial de seu texto; e (c) a executoriedade do ato internacional,
que passa, então, e somente então, a vincular e a obrigar no plano do direito positivo interno.
Precedentes.”
95
Sobre a posição hierárquica dos tratados internacionais em relação ao ordenamento jurídico interno,
Araújo e Andreiulo fazem distinção entre o monismo radical e o monismo moderado, de modo que “o
radical pregaria a primazia do tratado sobre a ordem jurídica interna, e o moderado procederia à
equiparação hierárquica do tratado à lei ordinária, subordinando-o, portanto, à Constituição e à
aplicação do critério cronológico, no caso de conflito”. (ARAÚJO, Nádia de; ANDREIULO, Inês da
Matta. A internalização dos tratados no Brasil e os direitos humanos. In: BOUCAULT, Carlos Eduardo de
Abreu; ARAÚJO, Nadia de (Org). Os direitos humanos e o direito internacional. Rio de Janeiro:
Renovar, 1999. p. 63-113. p. 88).
85
mesma hierarquia das leis ordinárias;96 2) as normas internacionais têm posição
hierárquica superior às leis ordinárias, mas inferior às normas constitucionais;97 3) as
normas internacionais podem ter posição hierárquica igual às normas constitucionais,
quando se tratar de normas sobre direitos humanos, em face do critério da interpretação
mais favorável, que é a posição adotada pelo Supremo Tribunal Federal;98 e 4) as normas
internacionais tem posição hierárquica superior às normas constitucionais.99
96
A primeira posição, ou seja, de que os tratados e as convenções internacionais têm a mesma posição
hierárquica das leis ordinárias, é sustentada pelo jurista brasileiro Francisco Rezek, conforme referido pela
também jurista brasileira Sylvia Helena de Figueiredo (STEINER, Sylvia Helena de Figueiredo. A
convenção americana sobre direitos humanos e sua integração ao processo penal. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2000. p. 69-80), e foi a linha adotada, inicialmente, pelo Pleno do Supremo Tribunal Federal,
conforme se pode depreender da ementa parcial do acórdão proferido, no dia 4 de setembro de 1997, nos
autos da Medida Cautelar em Ação Direta de Constitucionalidade n. 1.480, do Distrito Federal, nos quais
foi relator o Ministro Celso de Mello: “[...] PARIDADE NORMATIVA ENTRE ATOS INTERNACIONAIS E
NORMAS INFRACONSTITUCIONAIS DE DIREITO INTERNO. - Os tratados ou convenções
internacionais, uma vez regularmente incorporados ao direito interno, situam-se, no sistema jurídico
brasileiro, nos mesmos planos de validade, de eficácia e de autoridade em que se posicionam as leis
ordinárias, havendo, em conseqüência, entre estas e os atos de direito internacional público, mera relação
de paridade normativa. Precedentes. No sistema jurídico brasileiro, os atos internacionais não dispõem de
primazia hierárquica sobre as normas de direito interno. A eventual precedência dos tratados ou
convenções internacionais sobre as regras infraconstitucionais de direito interno somente se justificará
quando a situação de antinomia com o ordenamento doméstico impuser, para a solução do conflito, a
aplicação alternativa do critério cronológico (‘lex posterior derogat priori’) ou, quando cabível, do
critério da especialidade. Precedentes”.
97
A segunda posição, isto é, de que as normas de direito internacional sobre direitos humanos têm posição
inferior à Constituição, mas superior à norma legal, foi a adotada, posteriormente, pelo Pleno do Supremo
Tribunal Federal, conforme se pode depreender da ementa do acorda proferido, no dia 3 de dezembro de
2008, nos autos do Recurso Extraordinário n. 349703, do Rio Grande do Sul, nos quais foi relator o
Ministro Carlos Brito: “[...] POSIÇÃO HIERÁRQUICO-NORMATIVA DOS TRATADOS
INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO. Desde a
adesão do Brasil, sem qualquer reserva, ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (art. 11) e à
Convenção Americana sobre Direitos Humanos - Pacto de San José da Costa Rica (art. 7º, 7), ambos no
ano de 1992, não há mais base legal para prisão civil do depositário infiel, pois o caráter especial desses
diplomas internacionais sobre direitos humanos lhes reserva lugar específico no ordenamento jurídico,
estando abaixo da Constituição, porém acima da legislação interna. O status normativo supralegal dos
tratados internacionais de direitos humanos subscritos pelo Brasil torna inaplicável a legislação
infraconstitucional com ele conflitante, seja ela anterior ou posterior ao ato de adesão. [...]”.
98
A terceira posição, ou seja, de que as normas de direito internacional, quando versarem sobre direitos
humanos, gozam de paridade com as normas constitucionais, em face do critério da interpretação mais
favorável, vem sendo a adotada pelo Supremo Tribunal Federal, com base no artigo 5 o, parágrafo 2o, da
Constituição Federal, como se pode depreender da ementa do acórdão proferido, no dia 9 de junho de 2009,
pela sua Segunda Turma, nos autos do Habeas Corpus n. 96772, de São Paulo, nos quais foi relator o
Ministro Celso de Mello: “[...] TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS: AS SUAS
RELAÇÕES COM O DIREITO INTERNO BRASILEIRO E A QUESTÃO DE SUA POSIÇÃO
HIERÁRQUICA. - A Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Art. 7º, n. 7). Caráter subordinante
dos tratados internacionais em matéria de direitos humanos e o sistema de proteção dos direitos básicos da
pessoa humana. - Relações entre o direito interno brasileiro e as convenções internacionais de direitos
humanos (CF, art. 5º e §§ 2º e 3º). Precedentes. - Posição hierárquica dos tratados internacionais de
direitos humanos no ordenamento positivo interno do Brasil: natureza constitucional ou caráter de
supralegalidade? - Entendimento do Relator, Min. CELSO DE MELLO, que atribui hierarquia
86
Não obstante o referido debate sobre as diversas posições das normas
internacionais sobre direitos humanos em relação ao direito interno, não se pode deixar
de ressaltar que a Constituição Federal de 1988 não somente previu um amplo rol de
direitos considerados fundamentais do ser humano como, também, permitiu que esse
mesmo rol fosse aumentado em face dos tratados internacionais100 dos quais o Brasil seja
firmatário. Segundo o artigo 5o, parágrafo 2o, da Constituição Federal, “Os direitos e
garantias expressas nesta constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos
princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República
87
Federativa do Brasil seja parte”. Substancial alteração imprimida pela Emenda
Constitucional no 45, de 8 de dezembro de 2004, que acrescentou o parágrafo 3o ao artigo
5o da Constituição da República Federativa do Brasil, segundo o qual “os tratados e
convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa
do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos
membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”. Portanto, desde que
aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos
votos dos respectivos membros, os tratados e as convenções internacionais sobre direitos
humanos, terão status de norma constitucional.
SEÇÃO II
NORMAS INTERNACIONAIS SOBRE SANÇÕES PENAIS CONTIDAS NO
SISTEMA GLOBAL DE DIREITOS HUMANOS
Subseção I
Normas penais contidas no sistema global-geral
101
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada e proclamada pela Resolução nº 217 A (III) da
Assembléia Geral das Nações Unidas em em 10 de dezembro de 1948. Assinada pelo Brasil na mesma data.
102
O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos foi adotado, pela XXI Sessão da Assembléia-Geral
das Nações Unidas, em 16 de dezembro de 1966, tendo sido aprovado, pelo Congresso Nacional, por meio
do Decreto Legislativo n. 226, de 12 de dezembro de 1966, sido depositada a respectiva Carta de Adesão
88
a) em relação à pena de morte, nos intens 2, 3, 4, 5 e 6 desse artigo, está
estabelecido que:
2. Nos países em que a pena de morte não tenha sido abolida, esta poderá ser
imposta apenas nos casos de crimes mais graves, em conformidade com
legislação vigente na época em que o crime foi cometido e que não esteja em
conflito com as disposições do presente Pacto, nem com a Convenção sobra a
Prevenção e a Punição do Crime de Genocídio. Poder-se-á aplicar essa pena
apenas em decorrência de uma sentença transitada em julgado e proferida por
tribunal competente.
3. Quando a privação da vida constituir crime de genocídio, entende-se que
nenhuma disposição do presente artigo autorizará qualquer Estado Parte do
presente Pacto a eximir-se, de modo algum, do cumprimento de qualquer das
obrigações que tenham assumido em virtude das disposições da Convenção
sobre a Prevenção e a Punição do Crime de Genocídio.
4. Qualquer condenado à morte terá o direito de pedir indulto ou comutação
da pena. A anistia, o indulto ou a comutação da pena poderá ser concedido em
todos os casos.
5. A pena de morte não deverá ser imposta em casos de crimes cometidos por
pessoas menores de 18 anos, nem aplicada a mulheres em estado de gravidez.
6. Não se poderá invocar disposição alguma do presente artigo para retardar
ou impedir a abolição da pena de morte por um Estado Parte do presente
Pacto.
b) em relação às penas desumanas, o referido Pacto dispôs, no seu artigo 7º, que
“Ninguém poderá ser submetido à tortura, nem a penas ou tratamento cruéis, desumanos
ou degradantes. Será proibido sobretudo, submeter uma pessoa, sem seu livre
consentimento, a experiências médias ou cientificas”.
c) em relação à pena de trabalhos forçados, o Pacto dos Direitos Civis e Políticos
estabeleceu, no item 3 do seu artigo 8º, que:
3. a) Ninguém poderá ser obrigado a executar trabalhos forçados ou
obrigatórios;
b) A alínea a) do presente parágrafo não poderá ser interpretada no sentido de
proibir, nos países em que certos crimes sejam punidos com prisão e trabalhos
forçados, o cumprimento de uma pena de trabalhos forçados, imposta por um
tribunal competente;
c) Para os efeitos do presente parágrafo, não serão considerados "trabalhos
forçados ou obrigatórios":i) qualquer trabalho ou serviço, não previsto na
alínea b) normalmente exigido de um individuo que tenha sido encarcerado em
cumprimento de decisão judicial ou que, tendo sido objeto de tal decisão,
ache-se em liberdade condicional;
em 24 de janeiro de 1992, entrando em vigor, para o Brasil, em 24 de abril de 1992, e sendo promulgado,
pela Presidência da República, por meio do Decreto n. 592, de 6 de julho de 1992.
;
89
c) em relação à pena de prisão, esse mesmo Pacto estabeleceu, nos seus artigos 9º
e 10, que:
ARTIGO 9
1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoais. Ninguém
poderá ser preso ou encarcerado arbitrariamente. Ninguém poderá ser
privado de liberdade, salvo pelos motivos previstos em lei e em conformidade
com os procedimentos nela estabelecidos.
2. Qualquer pessoa, ao ser presa, deverá ser informada das razões da prisão e
notificada, sem demora, das acusações formuladas contra ela.
3. Qualquer pessoa presa ou encarcerada em virtude de infração penal deverá
ser conduzida, sem demora, à presença do juiz ou de outra autoridade
habilitada por lei a exercer funções judiciais e terá o direito de ser julgada em
prazo razoável ou de ser posta em liberdade. A prisão preventiva de pessoas
que aguardam julgamento não deverá constituir a regra geral, mas a soltura
poderá estar condicionada a garantias que assegurem o comparecimento da
pessoa em questão à audiência, a todos os atos do processo e, se necessário
for, para a execução da sentença.
4. Qualquer pessoa que seja privada de sua liberdade por prisão ou
encarceramento terá o direito de recorrer a um tribunal para que este decida
sobre a legislação de seu encarceramento e ordene sua soltura, caso a prisão
tenha sido ilegal.
5. Qualquer pessoa vítima de prisão ou encarceramento ilegais terá direito à
repartição.
ARTIGO 10
1. Toda pessoa privada de sua liberdade deverá ser tratada com humanidade e
respeito à dignidade inerente à pessoa humana.
2. a) As pessoas processadas deverão ser separadas, salvo em circunstâncias
excepcionais, das pessoas condenadas e receber tratamento distinto,
condizente com sua condição de pessoa não-condenada.
b) As pessoas processadas, jovens, deverão ser separadas das adultas e
julgadas o mais rápido possível.
3. O regime penitenciário consistirá num tratamento cujo objetivo principal
seja a reforma e a reabilitação normal dos prisioneiros. Os delinqüentes
juvenis deverão ser separados dos adultos e receber tratamento condizente
com sua idade e condição jurídica.
103
O Segundo Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos com vistas à
Abolição da Pena de Morte foi adotado e proclamado, pela Assembléia Geral das Nações Unidas, por meio
da Resolução nº 44/128, de 15 de dezembro de 1989, foi aprovado pelo Congresso Nacional, por meio do
Decreto Legislativo nº 311, de 16 de junho de 2009.
90
Conforme se pode perceber, há restrições às penas de morte, de trabalhos
forçados, à tortura e às penas desumanas e cruéis. Além disso, na execução das penas
privativas de liberdade, deve-se assegurar a separação dos presos.
Subseção II
Normas penais contidas no sistema global-especial
No seu artigo 4º, essa Convenção estabeleceu obrigação dos estados contratantes
de tipificar o crime de tortura e de sancioná-lo com penas graves.
Artigo 4º
§1. Cada Estado Membro assegurará que todos os atos de tortura sejam
considerados crimes segundo a sua legislação penal. O mesmo aplicar-se-á à
tentativa de tortura e a todo ato de qualquer pessoa que constitua
cumplicidade ou participação na tortura.
§2. Cada Estado Membro punirá esses crimes com penas adequadas que levem
em conta a sua gravidade.
104
A Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes foi
adotada pela Assembléia Geral das Nações Unidas, na sua XL Sessão, realizada em Nova York, no dia 10
de dezembro de 1984, sendo aprovada por meio da Resolução n. 39/46, em 23 de setembro de 1985, sendo
aprovada, pelo Congresso Nacional, por meio do Decreto Legislativo nº 4, de 23 de maio de 1989. A Carta
de Ratificação da Convenção foi depositada em 28 de setembro de 1989. Esta entrou em vigor no Brasil em
28 de outubro de 1989 e foi promulgada pelo Decreto Presidencial nº 40, de 15 de fevereiro de 1991.
91
Além disso, no seu artigo 16, a referida Convenção estabeleceu o compromisso
dos Estados membros de proibir o tratamento e as penas cruéis, desumanos ou
degradantes.
Artigo 16
§1. Cada Estado Membro se comprometerá a proibir, em qualquer território
sob a sua jurisdição, outros atos que constituam tratamentos ou penas cruéis,
desumanos ou degradantes que não constituam tortura tal como definida no
"artigo 1º", quando tais atos forem cometidos por funcionário público ou outra
pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou com o seu
consentimento ou aquiescência. Aplicar-se-ão, em particular, as obrigações
mencionadas nos "artigos 10, 11, 12 e 13", com a substituição das referências
a outras formas de tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes.
105
Os Princípios Básicos para o Tratamento de Reclusos, também conhecidos como “Regras de Mandela”,
foram reconhecidos pela LXVIII Reunião Plenária da Assembleia Geral das Nações Unidas, por meio da
Resolução n. 45/111, de 14 de dezembro de 1990.
92
10. Com a participação e ajuda da comunidade e das instituições sociais, e
com o devido respeito pelos interesses das vítimas devem ser criadas
condições favoráveis à reinserção do antigo recluso na sociedade, nas
melhores condições possíveis.
11. Os princípios acima referenciados devem ser aplicados de forma
imparcial.
106
O Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional foi aprovado, pelas Nações Unidas, em 17 de julho
de 1998, e assinado, pelo Brasil, em 7 de fevereiro de 2000, foi aprovado, pelo Congresso Nacional, por
meio do Decreto Legislativo no 112, de 6 de junho de 2002, entrando em vigor no âmbito internacional em
1o de julho de 2002, passou a vigorar, para o Brasil, em 1o de setembro de 2002. Foi promulgado, pela
Presidência da República, por meio do Decreto n. 4.388, de 25 de setembro de 2002.
107
A Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, adotada, em Nova York,
em 15 de novembro de 2000, foi aprovada, pelo Congresso Nacional, por meio do Decreto Legislativo
no 231, de 29 de maio de 2003. A Convenção entrou em vigor internacional em 29 de setembro de 2003. A
Carta de Ratificação do Governo brasileiro foi depositada, junto à Secretaria-Geral da ONU, em 29 de
janeiro de 2004, e entrou em vigor, para o Brasil, em 28 de fevereiro de 2004. Foi promulgada, pela
Presidência da República, por meio do Decreto n. 5.015, de 12 de março de 2004.
93
[...] grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente há algum tempo e
atuando concertadamente com o propósito de cometer uma ou mais infrações
graves ou enunciadas na presente Convenção, com a intenção de obter, direta
ou indiretamente, um benefício econômico ou outro benefício material.
SEÇÃO III
NORMAS INTERNACIONAIS SOBRE SANÇÕES PENAIS CONTIDAS NO
SISTEMA REGIONAL DE DIREITOS HUMANOS
Subseção I
Normas penais contidas no sistema regional-geral
108
A Declaração Americana dos Direitos do Homem, de 1948, foi aprovada na IX Conferência Internacional
Americana, realizada em Bogotá, Colômbia, em 1948.
94
humano durante o tempo em que o indivíduo for privado da sua liberdade, bem como a
proibição de se infligir penas cruéis, infamantes ou inusitadas:
Artigo XXV.
Ninguém pode ser privado da sua liberdade, a não ser nos casos previstos pelas
leis e segundo as praxes estabelecidas pelas leis já existentes.
[...]
Todo indivíduo, que tenha sido privado da sua liberdade, tem o direito de que o
juiz verifique sem demora a legalidade da medida, e de que o julgue sem
protelação injustificada, ou, no caso contrário, de ser posto em liberdade. Tem
também direito a um tratamento humano durante o tempo em que o privarem da
sua liberdade.
Artigo XXVI.
Parte-se do princípio que todo acusado é inocente, até provar-se-lhe a
culpabilidade.
Toda pessoa acusada de um delito tem o direito de ser ouvida numa forma
imparcial e pública, de ser julgada por tribunais já estabelecidos de acordo com
leis preexistentes, e de que se lhe não inflijam penas cruéis, infamantes ou
inusitadas.
109
A Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969 (Pacto de São José da Costa Rica) foi adotada no
âmbito da Organização dos Estados Americanos, em São José da Costa Rica, em 22 de novembro de 1969,
por ocasião da Conferência especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, e entrou em vigor
internacional em 18 de julho de 1978. A Convenção foi aprovada, pelo Congresso Nacional, por meio do
Decreto Legislativo nº 27 de 26 de maio de 1992. O Governo brasileiro depositou a carta de adesão a essa
convenção em 25 de setembro de 1992, entrando em vigor, para o Brasil, nesta data. Foi promulgada pelo
Decreto Presidencial n. 678, de 6 de novembro de 1992.
95
humana, e de se garantir a separação dos presos, a proibição da tortura e das penas ou
tratos cruéis, desumanos e degradantes e da transcendência da pena da pessoa do
condenado, e a finalidade das penas privativas de liberdade como sendo a reforma e a
readaptação social dos condenados.
Artigo 5. Direito à integridade pessoal
1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua integridade física, psíquica e
moral.
2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis,
desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada da liberdade deve ser tratada
com o respeito devido à dignidade inerente ao ser humano.
3. A pena não pode passar da pessoa do delinqüente.
4. Os processados devem ficar separados dos condenados, salvo em
circunstâncias excepcionais, e ser submetidos a tratamento adequado à sua
condição de pessoas não condenadas.
5. Os menores, quando puderem ser processados, devem ser separados dos
adultos e conduzidos a tribunal especializado, com a maior rapidez possível, para
seu tratamento.
6. As penas privativas da liberdade devem ter por finalidade essencial a
reforma e a readaptação social dos condenados.
Sobre o trabalho do preso, a referida Convenção estabeleceu, no seu artigo 6º, que
não constituem trabalhos forçados os trabalhos realizados no cumprimento da pena
privativa de liberdade, desde que não afetem a dignidade, a capacidade física e intelectual
do recluso, devendo ser executados sob a vigilância e controle das autoridades públicos e
sem que os reclusos sejam colocados à disposição de particulares e de pessoas jurídicas
de direitos privados.
Artigo 6. Proibição da escravidão e da servidão
1. Ninguém pode ser submetido a escravidão ou a servidão, e tanto estas como o
tráfico de escravos e o tráfico de mulheres são proibidos em todas as suas formas.
2. Ninguém deve ser constrangido a executar trabalho forçado ou obrigatório.
Nos países em que se prescreve, para certos delitos, pena privativa da liberdade
acompanhada de trabalhos forçados, esta disposição não pode ser interpretada
no sentido de que proíbe o cumprimento da dita pena, imposta por juiz ou
tribunal competente. O trabalho forçado não deve afetar a dignidade nem a
capacidade física e intelectual do recluso.
3. Não constituem trabalhos forçados ou obrigatórios para os efeitos deste artigo:
a. os trabalhos ou serviços normalmente exigidos de pessoa reclusa em
cumprimento de sentença ou resolução formal expedida pela autoridade
judiciária competente. Tais trabalhos ou serviços devem ser executados sob a
vigilância e controle das autoridades públicas, e os indivíduos que os
executarem não devem ser postos à disposição de particulares, companhias ou
pessoas jurídicas de caráter privado;
b. o serviço militar e, nos países onde se admite a isenção por motivos de
consciência, o serviço nacional que a lei estabelecer em lugar daquele;
c. o serviço imposto em casos de perigo ou calamidade que ameace a existência
ou o bem-estar da comunidade; e
d. o trabalho ou serviço que faça parte das obrigações cívicas normais.
96
Em suma, os tratados internacionais do sistema regional-geral estabelecem a
obrigação de os Estados contratantes garantirem tratamento humano durante o tempo em
que o indivíduo estiver privado da sua liberdade, bem como a proibição de se infligir
penas cruéis, infamantes ou inusitadas, a imposição de restrições à pena de morte e a
proibição de sua reinstituição nos países que a houverem abolido, a obrigação de se
respeitar a integridade física, psíquica e moral da pessoa humana e de se garantir a
separação dos presos, a proibição da tortura e das penas ou tratos cruéis, desumanos e
degradantes e da transcendência da pena da pessoa do condenado, o estabelecimento da
finalidade das penas privativas de liberdade como sendo a reforma e a readaptação social
dos condenados, que não constituem trabalhos forçados os trabalhos realizados no
cumprimento da pena privativa de liberdade, desde que não afetem a dignidade, a
capacidade física e intelectual do recluso, devendo esses trabalhos ser executados sob a
vigilância e controle das autoridades públicos e sem que os reclusos sejam colocados à
disposição de particulares e de pessoas jurídicas de direitos privados.
Subseção II
Normas penais contidas no sistema regional-especial
97
A Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, de 1985110, no seu
artigo 1º, estabeleceu a obrigação dos Estados Partes de “prevenir e a punir a tortura”,
definindo a tortura nos seguintes termos:
Artigo 2 Para os efeitos desta Convenção, entender-se-á por tortura todo ato
pelo qual são infligidos intencionalmente a uma pessoa penas ou sofrimentos
físicos ou mentais, com fins de investigação criminal, como meio de
intimidação, como castigo pessoal, como medida preventiva, como pena ou
com qualquer outro fim. Entender-se-á também como tortura a aplicação
sobre uma pessoa, de métodos tendentes a anular a personalidade da vítima,
ou a diminuir sua capacidade física ou mental, embora não causem dor física
ou angústia psíquica. Não estarão compreendidos no conceito de tortura as
penas ou sofrimentos físicos ou mentais que sejam conseqüência de medidas
legais ou inerentes a elas, contanto que não incluam a realização dos atos ou a
aplicação dos métodos a que se refere este artigo.
Essa mesma Convenção, no seu artigo 6º, estabeleceu a obrigação dos Estados
Partes de, em conformidade com o disposto no artigo 1º, tomarem “medidas efetivas a
fim de prevenir e punir a tortura no âmbito de sua jurisdição”, de modo a que “os atos de
tortura e as tentativas de praticar atos dessa natureza sejam considerados delitos em seu
direito penal, estabelecendo penas severas para sua punição, que levem em conta sua
gravidade”. Além disso, “Os Estados Partes obrigam-se também a tomar medidas efetivas
para prevenir e punir outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes, no
âmbito de sua jurisdição”.
O Protocolo Adicional à Convenção Americana Sobre Direitos Humanos à
Abolição da Pena de Morte, de 1990111, estabeleceu, no seu artigo 1º, que os Estados-
Partes “não aplicarão em seu território a pena de morte a nenhuma pessoa submetida a
sua jurisdição”. Todavia, ao depositar o seu Instrumento de Ratificação do referido
110
A Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, de 1985, foi concluída, em Cartagena,
Colômbia, no dia 9 de dezembro de 1985, foi aprovada, pelo Congresso Nacional, por meio do Decreto
Legislativo nº 5, de 31 de maio de 1989, foi ratificada, pelo Brasil, em 20 de julho de 1989, e foi
promulgada, pela Presidência da República, por meio do Decreto n. 98.386, de 9 de novembro de 1989.
111
O Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos Referente à Abolição da Pena
de Morte foi adotado, em Assunção, Paraguai, em 8 de junho de 1990, entrando em vigor internacional em
28 de agosto de 1991, e foi assinado, pelo Brasil, em 7 de junho de 1994, e aprovado, pelo Congresso
Nacional, por meio do Decreto Legislativo nº 56, de 19 de abril de 1995. O Governo brasileiro depositou o
Instrumento de Ratificação do referido Protocolo, em 13 de agosto de 1996, com a aposição de reserva, nos
termos do Artigo II, no qual é assegurado aos Estados Partes o direito de aplicar a pena de morte, em tempo
de guerra, de acordo com o Direito Internacional, por delitos sumamente graves de caráter militar, passando
o mesmo a vigorar, para o Brasil, em 13 de agosto de 1996. Essa convenção foi promulgada por meio do
Decreto Presidencial n. 2.754, de 27 de agosto de 1998.
98
Protocolo, em 13 de agosto de 1996, o Governo Brasileiro, nos termos do Artigo 2º,
reservou-se o direito de aplicar a pena de morte, em tempo de guerra, de acordo com o
Direito Internacional, por delitos sumamente graves de caráter militar.
A Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra
a Mulher 1994 (Convenção de Belém do Pará) definiu, no seu artigo 1º, que violência
contra a mulher é “qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou
sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera
privada”.
Além disso, essa Convenção estabeleceu que:
Artigo 7
Os Estados Partes condenam todas as formas de violência contra a mulher e
convêm em adotar, por todos os meios apropriados e sem demora, políticas
destinadas a prevenir, punir e erradicar tal violência e a empenhar-se em:
a. abster-se de qualquer ato ou prática de violência contra a mulher e velar
por que as autoridades, seus funcionários e pessoal, bem como agentes e
instituições públicos ajam de conformidade com essa obrigação;
b. agir com o devido zelo para prevenir, investigar e punir a violência contra a
mulher;
c. incorporar na sua legislação interna normas penais, civis, administrativas e
de outra natureza, que sejam necessárias para prevenir, punir e erradicar a
violência contra a mulher, bem como adotar as medidas administrativas
adequadas que forem aplicáveis;
d. adotar medidas jurídicas que exijam do agressor que se abstenha de
perseguir, intimidar e ameaçar a mulher ou de fazer uso de qualquer método
que danifique ou ponha em perigo sua vida ou integridade ou danifique sua
propriedade;
e. tomar todas as medidas adequadas, inclusive legislativas, para modificar ou
abolir leis e regulamentos vigentes ou modificar práticas jurídicas ou
consuetudinárias que respaldem a persistência e a tolerância da violência contra
a mulher;
f. estabelecer procedimentos jurídicos justos e eficazes para a mulher sujeitada a
violência, inclusive, entre outros, medidas de proteção, juízo oportuno e efetivo
acesso a tais processos;
g. estabelecer mecanismos judiciais e administrativos necessários para
assegurar que a mulher sujeitada a violência tenha efetivo acesso a restituição,
reparação do dano e outros meios de compensação justos e eficazes;
h. adotar as medidas legislativas ou de outra natureza necessárias à vigência
desta Convenção.
112
A Convenção Interamericana Contra a Corrupção foi adotada, em Caracas, em 29 de março de 1996, e
aprovada, pelo Congresso Nacional, meio do Decreto Legislativo no 152, de 25 de junho de 2002, com
reserva para o art. XI, parágrafo 1o, inciso "c", entrando em vigor, para o Brasil, em 24 de agosto de 2002.
Foi promulgada pelo Decreto Presidencial n. 4.410, de 7 de outubro de 2002.
99
a. a solicitação ou a aceitação, direta ou indiretamente, por um funcionário
público ou pessoa que exerça funções públicas, de qualquer objeto de valor
pecuniário ou de outros benefícios como dádivas, favores, promessas ou
vantagens para si mesmo ou para outra pessoa ou entidade em troca da
realização ou omissão de qualquer ato no exercício de suas funções públicas;
b. a oferta ou outorga, direta ou indiretamente, a um funcionário público ou
pessoa que exerça funções públicas, de qualquer objeto de valor pecuniário ou
de outros benefícios como dádivas, favores, promessas ou vantagens a esse
funcionário público ou outra pessoa ou entidade em troca da realização ou
omissão de qualquer ato no exercício de suas funções públicas;
c. a realização, por parte de um funcionário público ou pessoa que exerça
funções públicas, de qualquer ato ou omissão no exercício de suas funções, a
fim de obter ilicitamente benefícios para si mesmo ou para um terceiro;
d. o aproveitamento doloso ou a ocultação de bens provenientes de qualquer
dos atos a que se refere este artigo; e
e. a participação, como autor, co-autor, instigador, cúmplice, acobertador ou
mediante qualquer outro modo na perpetração, na tentativa de perpetração ou
na associação ou confabulação para perpetrar qualquer dos atos a que se
refere este artigo.
100
CAPÍTULO V
AS ESPÉCIES DE SANÇÕES PENAIS COMINADAS NA LEGISLAÇÃO PENAL
INFRACONSTITUCIONAL BRASILEIRA
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
SEÇÃO I
A ESTRUTURA DO CÓDIGO PENAL RELATIVA ÀS SANÇÕES PENAIS
101
Capítulo II: Da cominação das penas (artigos 53 a 58); Capítulo III: Da aplicação da
pena (artigos 59 a 76);Capítulo IV: Da suspensão condicional da pena (artigos 77 a 82);
Capítulo V: Do livramento condicional (artigos 83 a 90); Capítulo VI: Dos efeitos da
condenação (artigos 91 e 92); Capítulo VII: Da reabilitação (arts. 93 a 95); Título VI:
Das medidas de segurança (arts. 96 a 99); Título VII: Da ação penal (arts. 100 a
106); e Título VIII: Da extinção da punibilidade (arts 107 a 120).
SEÇÃO II
AS SANÇÕES PENAIS COMINADAS NO CÓDIGO PENAL
Subseção I
Penas
O Código Penal, no seu artigo 32, prevê três espécies de penas, ou seja, as penas
privativas de liberdade, as penas restritivas de direito e a pena de multa. “TÍTULO V
DAS PENAS - CAPÍTULO I DAS ESPÉCIES DE PENA - Art. 32 - As penas são: I -
privativas de liberdade; II - restritivas de direitos; III - de multa”.
Subseção II
Medidas de segurança
O Código Penal, no seu artigo 96, prevê duas espécies de medidas de segurança,
ou seja, a internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico e o tratamento
ambulatorial.
TÍTULO VI DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA - Espécies de medidas de
segurança Art. 96. As medidas de segurança são: I - Internação em hospital de
custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro estabelecimento
adequado; II - sujeição a tratamento ambulatorial.
102
Subseção III
Efeitos secundários penais e extrapenais
SEÇÃO III
AS SANÇÕES PENAIS COMINADAS NA LEGISLAÇÃO ESPECIAL
Há diversas leis esparsas que estabelecem sanções penais, inclusive que criam
sanções penais diversas daquelas previstas no Código Penal, conforme se verá nos itens
103
seguintes. Os meios de se obter as medidas consensuais estão previstos na Lei n. 9.099,
de 26 de setembro de 1995, mais especificamente nos artigos 76 e 89.
Outros diplomas legais podem prever outras modalidades de sanções penais,
como, por exemplo, a prisão simples, prevista nos artigos 5o, inciso I, e 6o da Lei de
Contravenções Penais (Decreto-lei n. 3.688, de 3 de outubro de 1941), e a multa
reparatória, prevista no artigo 297 do Código de Trânsito Brasileiro (Lei n. 9.503, de 23
de setembro de 1998).
Subseção I
Na Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais
104
antecedentes criminais, salvo para os fins previstos no mesmo dispositivo, e
não terá efeitos civis, cabendo aos interessados propor ação cabível no juízo
cível.
Subseção II
Na Lei de Contravenções Penais
105
Subseção III
No Código de Trânsito Brasileiro
Artigos 292, 293, 296 e 297 da Lei n. 9.503, de 23 de dezembro de 1997. Ex.: a
multa reparatória e a suspensão da habilitação para dirigir.
106
Subseção IV
Lei de Abuso de Autoridade
Subseção IV
Na Lei das Infrações Penais Ambientais
107
ou alternativamente às pessoas jurídicas, de acordo com o disposto no art. 3º,
são: I - multa; II - restritivas de direitos; III - prestação de serviços à
comunidade. Art. 22. As penas restritivas de direitos da pessoa jurídica são: I -
suspensão parcial ou total de atividades; II - interdição temporária de
estabelecimento, obra ou atividade; III - proibição de contratar com o Poder
Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações. § 1º A
suspensão de atividades será aplicada quando estas não estiverem obedecendo
às disposições legais ou regulamentares, relativas à proteção do meio
ambiente. § 2º A interdição será aplicada quando o estabelecimento, obra ou
atividade estiver funcionando sem a devida autorização, ou em desacordo com
a concedida, ou com violação de disposição legal ou regulamentar. § 3º A
proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios, subvenções
ou doações não poderá exceder o prazo de dez anos. Art. 23. A prestação de
serviços à comunidade pela pessoa jurídica consistirá em: I - custeio de
programas e de projetos ambientais; II - execução de obras de recuperação de
áreas degradadas; III - manutenção de espaços públicos; IV - contribuições a
entidades ambientais ou culturais públicas. (O grifo não está na redação
original).
Subseção V
Na Lei de Drogas
108
especializado. Art. 29. Na imposição da medida educativa a que se refere o
inciso II do § 6o do art. 28, o juiz, atendendo à reprovabilidade da conduta,
fixará o número de dias-multa, em quantidade nunca inferior a 40 (quarenta)
nem superior a 100 (cem), atribuindo depois a cada um, segundo a capacidade
econômica do agente, o valor de um trinta avos até 3 (três) vezes o valor do
maior salário mínimo. Parágrafo único. Os valores decorrentes da imposição
da multa a que se refere o § 6o do art. 28 serão creditados à conta do Fundo
Nacional Antidrogas. (Os grifos não estão na redação original).
Subseção VI
No Estatuto do Torcedor
109
CAPÍTULO VI
AS PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE COMINADAS NO ORDENAMENTO
JURÍDICO-PENAL BRASILEIRO
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
SEÇÃO I
ASPECTOS HISTÓRICOS E TEÓRICOS RELATIVOS ÀS PENAS PRIVATIVAS DE
LIBERDADE
Subseção I
Conceito de prisão e distinções entre a pena de prisão e a prisão cautelar
110
da liberdade distingue-se da restrição da liberdade, pois esta compreende as medidas que
não privam, por inteiro, a liberdade o indivíduo, mas, apenas, restringem-na, como é o
caso do livramento condicional (artigo 83 do Código Penal) e da limitação de fim de
semana (artigo 48 do Código Penal).
Subseção II
Condições que propiciaram o surgimento e a sedimentação da pena de prisão
Diferente da prisão cautelar, que existe desde os tempos mais remotos, a pena
de prisão surgiu na Modernidade. Diversas condições concorreram para o surgimento das
penas privativas de liberdade, entre elas as condições religiosas, sociais, econômicas,
políticas e filosóficas].
§ 1º Condições religiosas
111
§ 2º Condições sociais
§ 3º Condições econômicas
112
obrigados a trabalhar dentro da instituição, os prisioneiros adquiriam hábitos laborais ao
mesmo tempo em que recebiam um adestramento profissional, a fim de que, uma vez em
liberdade, pudessem se incorporar voluntariamente ao mercado de trabalho. Para
Foucault (1991, p. 207), a prisão se constitui em processo para repartir os indivíduos,
fixá-los e distribuí-los espacialmente, classificá-los, tirar deles o máximo de tempo, e o
máximo de forças, treinar seus corpos, codificar seu comportamento contínuo, mantê-los
numa visibilidade sem lacuna, formar em torno deles um aparelho completo de
observação, registro e notações, constituir sobre eles um saber que se acumula e se
centraliza. O cárcere é o melhor exemplo do poder disciplinar exercido no contexto social
por quem detém o poder; modelo que assume aspectos quase metafísicos, e que perde,
precisamente por sua abstração e generalização, uma dimensão histórica precisa. Para
Melossi e Pavarini (1987, p. 9), o cárcere está intimamente relacionado com a
organização econômica e política da sociedade, ou seja, representa a concepção burguesa
de vida e de sociedade, em preparar os homens, em especial os pobres e trabalhadores,
para que aceitem uma ordem e uma disciplina tais que os façam instrumentos dóceis da
exploração.
§ 4º Condições filosóficas
§ 5º Condições políticas
113
Direito, produto da generalidade, dessacralização e racionalização burguesa; f) propiciou
o desenvolvimento do mercantilismo econômico e o advento da economia monetária
(Wolkmer). O Estado Absolutista manteve a tradição das penas corporais (pena de morte,
mutilação, açoite, difamação, trabalho forçado nas galés dos navios e o desterro, etc.). O
Estado Liberal, por sua vez, que sofreu influência das idéias iluministas, propugnava por
uma forma de controle social completamente diferenciada do Estado Absolutista, baseado
no respeito às liberdades individuais e legitimado pela legalidade (princípio da
legalidade), isto é, buscava uma limitação no exercício do poder punitivo estatal, o que
propiciou o uso da prisão em vez das penas corporais. Por isso, a privação da liberdade,
como forma principal de punição, veio a se sedimentar, apenas, na Idade Moderna, mais
precisamente na passagem do Século XVIII para o Século XIX, com a queda do Estado
Absolutista e o surgimento do Estado Liberal.
Subseção III
Os primeiros estabelecimentos prisionais
§ 2º As Rasp-huis
114
§ 3º O panótico
Subseção IV
Espécies de penas privativas de liberdade cominadas no ordenamento jurídico-penal
brasileiro
O Código Penal, no seu artigo 33, caput, prevê, como espécie de penas
privativas de liberdade, a reclusão e a detenção, e a Lei de Contravenções Penais prevê,
nos seu artigos 5o, I, e 6o, a prisão simples.
115
1.1 A reclusão
1.2 A detenção
116
fechado, isto é, não pode ser cumprida em regime inicial fechado, somente em caso de
regressão (art. 33, caput, 2a parte, do Código Penal). “Art. 33 – [...] A de detenção, em
regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado”.
Igualmente, a prisão simples somente pode ser cumprida em regime semiaberto ou
aberto, isto é, não admite o regime fechado nem em caso de regressão. (art. 6, caput, da
Lei de Contravenções Penais). Art. 6º A pena de prisão simples deve ser cumprida, sem
rigor penitenciário, em estabelecimento especial ou seção especial de prisão comum, em
regime semi-aberto ou aberto.
Na prática, devido à falta ou insuficiência de estabelecimentos apropriados, a
distinção entre a forma de cumprimento das penas acaba sendo menos sensível em muitos
casos.
117
4.2 Na possibilidade de impor o efeito secundário da condenação relativa à
incapacidade para o exercício do poder familiar
Subseção V
Regimes e estabelecimentos de cumprimento das penas privativas de liberdade
118
§ 1º Aspectos históricos
119
posteriormente, a trabalhar em comum, dentro do estabelecimento, ou, em obras ou
serviços públicos, fora dele”.
1.2 A instituição dos regimes fechado, semiaberto e aberto pela Lei n. 6.416,
de 24 de maio de 1977 (Reforma Penal de 1977)
120
celular, por tempo não superior a três meses, com atividades que permitam
completar o conhecimento de sua personalidade. § 1º O recluso passará,
posteriormente, a trabalhar em comum dentro do estabelecimento em que
cumpre a pena ou fora dele, na conformidade de suas aptidões ou ocupações
anteriores, deste que haja compatibilidade com os objetivos da pena. § 2º O
trabalho externo é compatível com os regimes fechado, semi-aberto e aberto,
desde que tomadas as cautelas próprias, contra a fuga e em favor da
disciplina; os condenados que cumprem pena em regime fechado somente se
dedicarão a trabalho externo em serviços ou obras públicas, sob vigilância do
essoal penitenciário. § 3º O trabalho do recluso será remunerado, aplicando-
se o seu produto: a) na indenização dos danos causados pelo crime, desde que
determinados judicialmente e não reparados por outros meios; b) na
assistência à família, segundo a lei civil; c) em pequenas despesas pessoais; d)
ressalvadas outras aplicações legais, em depósito da parte restante, para
constituição de pecúlio, em caderneta de poupança da Caixa Econômica
Federal, a qual lhe será entregue no ato de ser posto em liberdade. § 4º A
freqüência a cursos profissionalizantes, bem como de instrução de segundo
grau ou superior, fora da prisão, só é compatível com os regimes semi-aberto e
aberto. § 5º O condenado não perigoso, cuja pena não ultrapasse oito anos,
poderá ser recolhido a estabelecimento de regime semi-aberto, desde o início,
ou, se ultrapassar, após ter cumprido um terço dela em regime fechado. I - Se a
pena não for superior a quatro anos, poderá ser recolhido a estabelecimento
de regime aberto, deste o início, ou, a) se for superior a quatro até oito, após
ter cumprido um terço em outro regime; b) se for superior a oito, após ter
cumprido dois quintos em outro regime. II - Observados os termos do caput
deste artigo e os deste parágrafo, e guardada a separação dos presos
provisórios, a pena poderá ser cumprida em prisão da comarca da
condenação ou da residência do condenado. § 6º Deverão ser regulamentadas
por lei local ou, à sua falta, por provimento do Conselho Superior da
Magistratura ou órgão equivalente, as seguintes concessões a serem
outorgadas pelo juiz, a requerimento do interessado, seu cônjuge ou
ascendente, ou na falta desses, de descendente, ou irmão, ou por iniciativa de
órgão para isso competente, ou, ainda, quanto às três primeiras, também de
ofício: I - cada um dos três regimes, bem como a transferência e o retorno de
um para outro; II - prisão-albergue, espécie do regime aberto; III -
cumprimento da pena em prisão na comarca da condenação ou da residência
do condenado; IV - trabalho externo; V - freqüência a curso profissionalizante,
bem como de segundo grau ou superior, fora do estabelecimento; VI - licença
para visitar a família, em datas ou ocasiões especiais; VII - licenças
periódicas, combinadas ou não com as concessões dos incisos IV e V deste
parágrafo, para visitar a família e ir à sua igreja, bem como licença para
participar de atividades que concorram para a emenda e reintegração no
convívio social, aos condenados que estão em regime aberto e, com menos
amplitude, aos que estão em regime semi-aberto. § 7º As normas supletivas,
referidas no parágrafo anterior estabelecerão, quanto a qualquer das
concessões: I - os requisitos objetivos e subjetivos que os condenados deverão
ter para a sua obtenção; II - as condições e normas de conduta a serem
observadas pelos contemplados, e os casos de modificação facultativa e
obrigatória de umas e de outras; III - os casos de revogação e os requisitos
para nova obtenção; IV - a audiência da Administração Penitenciária, bem
como a do Ministério Publico e, quanto às dos incisos IV e V, a do Conselho
Penitenciário; V - a competência judicial; VI - exceto quanto às concessões
dos incisos I, II e III, a expedição de documento similar ao descrito no artigo
724 do Código de Processo Penal, e a indicação da entidade fiscalizadora. (Os
grifos não estão na redação original).
121
1.2.3 Regras para a detenção
122
(um sexto) da pena. Parágrafo único. Revogar-se-á a autorização de trabalho
externo ao preso que vier a praticar fato definido como crime, for punido por
falta grave, ou tiver comportamento contrário aos requisitos estabelecidos
neste artigo. (Os grifos não estão na redação original).
123
2.2.2 Penitenciárias femininas
2.3.1 A penitenciária
Para Fernando Galvão, no seu curso de Direito Penal: parte geral. São Paulo:
Saraiva, 2013. p. 560, o estabelecimento adequado para cumprimento da pena de
124
detenção em regime fechado, quando ocorrer a regressão para esse regime, deve ser a
penitenciária.
125
3.2 A colônia agrícola, industrial ou similar como o estabelecimento
apropriado para o cumprimento da pena privativa de liberdade em regime semiaberto
3.3.1 Salubridade
126
A seleção adequada dos presos está estabelecida no artigo 92, parágrafo
único, alínea a, da Lei de Execução Penal.
127
3.5 Controvérsias sobre a desnecessidade do cumprimento de 1/6 (um sexto)
da pena pelo preso em regime semiaberto para realizar trabalho externo ou frequentar
curso fora do estabelecimento
128
3.6 A saída temporária como um dos benefícios a serem usufruídos pelos
presos do regime semiaberto
129
Observa-se que não se exige que, para a revogação do benefício da saída
temporária, seja o preso condenado pela prática de novo crime. Basta que pratique a ação.
Se for absolvido, restabelece-se o direito à saída temporária. É caso em que se faz um
juízo de probabilidade apenas e não de certeza acerca da culpabilidade sobre o novo
fato].
130
§ 4º O regime aberto e a casa de albergado
131
Art. 93. A Casa do Albergado destina-se ao cumprimento de pena privativa de
liberdade, em regime aberto, e da pena de limitação de fim de semana.
Art. 94. O prédio deverá situar-se em centro urbano, separado dos demais
estabelecimentos, e caracterizar-se pela ausência de obstáculos físicos contra
a fuga.
Art. 95. Em cada região haverá, pelo menos, uma Casa do Albergado, a qual
deverá conter, além dos aposentos para acomodar os presos, local adequado
para cursos e palestras. Parágrafo único. O estabelecimento terá instalações
para os serviços de fiscalização e orientação dos condenados.
A Lei de Execução Penal, nos seus artigos 113 a 116, estabelece tanto os
requisitos quanto as condições gerais e obrigatórias para a concessão do regime aberto.
Além dos requisitos previstas nos artigos 113 e 114 da Lei de Execução
Penal, a concessão do regime pressupõe que o condenado aceite as seguintes condições
gerais ou obrigatórias e especiais, conforme prevê o artigo 115 da LEP, que podem ser
modificadas de ofício ou a requerimento do Ministério Público, da autoridade
administrativa ou do condenado, desde que as circunstâncias assim o recomendem: a)
132
permanecer no local que for designado, durante o repouso e nos dias de folga; b) sair para
o trabalho e retornar, nos horários fixados; c) não se ausentar da cidade onde reside sem
autorização judicial; d) comparecer a juízo, para informar e justificar as suas atividades,
quando for determinado.
Art. 115. O Juiz poderá estabelecer condições especiais para a concessão de
regime aberto, sem prejuízo das seguintes condições gerais e obrigatórias:
I - permanecer no local que for designado, durante o repouso e nos dias de
folga;
II - sair para o trabalho e retornar, nos horários fixados;
III - não se ausentar da cidade onde reside, sem autorização judicial;
IV - comparecer a Juízo, para informar e justificar as suas atividades, quando
for determinado.
133
24, inciso I, da Constituição Federal, dispõe sobre normas de direito penitenciário a
serem aplicadas nos estabelecimentos prisionais desse Estado.
134
II - autorizar a saída temporária no regime semiaberto;
III - (VETADO);
IV - determinar a prisão domiciliar;
V - (VETADO);
Parágrafo único. (VETADO).
Art. 146-C. O condenado será instruído acerca dos cuidados que deverá
adotar com o equipamento eletrônico e dos seguintes deveres:
I - receber visitas do servidor responsável pela monitoração eletrônica,
responder aos seus contatos e cumprir suas orientações;
II - abster-se de remover, de violar, de modificar, de danificar de qualquer
forma o dispositivo de monitoração eletrônica ou de permitir que outrem o
faça;
III - (VETADO).
Parágrafo único. A violação comprovada dos deveres previstos neste artigo
poderá acarretar, a critério do juiz da execução, ouvidos o Ministério Público
e a defesa:
I - a regressão do regime;
II - a revogação da autorização de saída temporária;
III - (VETADO);
IV - (VETADO);
V - (VETADO);
VI - a revogação da prisão domiciliar;
VII - advertência, por escrito, para todos os casos em que o juiz da execução
decida não aplicar alguma das medidas previstas nos incisos de I a VI deste
parágrafo.
Art. 146-D. A monitoração eletrônica poderá ser revogada:
I - quando se tornar desnecessária ou inadequada;
II - se o acusado ou condenado violar os deveres a que estiver sujeito durante
a sua vigência ou cometer falta grave.
135
§ 5º Legislação especial
Subseção VI
A detração penal
§ 1º Conceito
136
§ 2º Detração de período de prisão provisória ou internação impostas em
outro processo
§ 3º Aspectos históricos
137
4.2 É cabível a detração do período de prisão provisória decretada em outro
processo
Subseção VII
Classificação e separação dos presos
138
§ 1º Conceito de classificação dos presos
Por sua vez, a Constituição Federal, no seu artigo 5o, inciso XLVIII,
estabelece que: “XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo
com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado”.
Essa providência é desnecessária em relação aos condenados do regime
aberto, pois estes somente permanecem na casa de albergado à noite e nos fins de
semana. Também os artigos 82, 83-B a 84 da Lei de Execução Penal, em face das
alterações introduzidas pelas Leis n. 9.460, de 4 de junho de 1997, 13.167, de 6 de
outubro de 2015, 13.190, de 19 de novembro de 2015, dispõem sobre a separação dos
presos:
Art. 82. Os estabelecimentos penais destinam-se ao condenado, ao submetido à
medida de segurança, ao preso provisório e ao egresso. § 1° A mulher e o
139
maior de sessenta anos, separadamente, serão recolhidos a estabelecimento
próprio e adequado à sua condição pessoal.
[...]
Art. 83-B. São indelegáveis as funções de direção, chefia e coordenação no
âmbito do sistema penal, bem como todas as atividades que exijam o exercício
do poder de polícia, e notadamente:
I - classificação de condenados;
[...]
Art. 84. O preso provisório ficará separado do condenado por sentença
transitada em julgado.
§ 1o Os presos provisórios ficarão separados de acordo com os seguintes
critérios:
I - acusados pela prática de crimes hediondos ou equiparados;
II - acusados pela prática de crimes cometidos com violência ou grave
ameaça à pessoa;
III - acusados pela prática de outros crimes ou contravenções diversos dos
apontados nos incisos I e II.
§ 2° O preso que, ao tempo do fato, era funcionário da Administração da
Justiça Criminal ficará em dependência separada.
§ 3o Os presos condenados ficarão separados de acordo com os seguintes
critérios:
I - condenados pela prática de crimes hediondos ou equiparados;
II - reincidentes condenados pela prática de crimes cometidos com violência
ou grave ameaça à pessoa;
III - primários condenados pela prática de crimes cometidos com violência ou
grave ameaça à pessoa;
IV - demais condenados pela prática de outros crimes ou contravenções em
situação diversa das previstas nos incisos I, II e III.
§ 4o O preso que tiver sua integridade física, moral ou psicológica ameaçada
pela convivência com os demais presos ficará segregado em local próprio.
140
mas, também, o caráter da prisão, se provisória ou se decorrente de codenação transitada
em julgada, os quais devem permanecer separados.
Entre os presos provisórios e condenados, devem ser separados os acusados e
os condenados pela prática de crime hediondo ou a estes equiparados, os acusados e os
condenados pela prática de crimes violentos ou que foram levados a efeitos mediante
grave ameaça à pessoa e os acusados e os condenados pela prática de crimes ou
contravenções diversos dos anteriormente mencionados.
Entre os presos condenados, devem ser separados dos demais, também, os
reincidentes dos primários, sobretudos os que foram condenados pela prática de crimes
levados a efeitos mediante violência ou grave ameaça.
Por fim, devem ser separadosos presos que, ao tempo do fato, era funcionário
da Administração da Justiça Criminal e os que tiverem sua integridade física, moral ou
psicológica ameaçada pela convivência com os demais presos.
§ 3º Competência
141
personalidade destes contidos no processo e nos dados que podem ser requisitados pela
comissão ou que sejam obtidos em entrevistas e outras diligências e exames.
Art. 8º O condenado ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em
regime fechado, será submetido a exame criminológico para a obtenção dos
elementos necessários a uma adequada classificação e com vistas à
individualização da execução. Parágrafo único. Ao exame de que trata este
artigo poderá ser submetido o condenado ao cumprimento da pena privativa
de liberdade em regime semi-aberto.
Art. 9º A Comissão, no exame para a obtenção de dados reveladores da
personalidade, observando a ética profissional e tendo sempre presentes peças
ou informações do processo, poderá:
I - entrevistar pessoas;
II - requisitar, de repartições ou estabelecimentos privados, dados e
informações a respeito do condenado;
III - realizar outras diligências e exames necessários.(Os grifos não estão na
redação original).
142
Subseção VIII
Regras especiais para as mulheres
Subseção IX
Assistência, Direitos, Deveres e Disciplina do Preso
§ 1º Assistência ao preso
143
1.1 Assistência material
144
integral e gratuita aos réus, sentenciados em liberdade, egressos e seus
familiares, sem recursos financeiros para constituir advogado.
Por sua vez, a Lei n. 9.394/1996, no seu artigo 32, dispõe que:
O Art. 32 da Lei de Diretrizes Básicas da Educação – Lei n. 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, estabelece que “O ensino fundamental obrigatório, com
duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis)
anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão.(O grifo não
está na redação original).
145
Da Assistência Social
Art. 22. A assistência social tem por finalidade amparar o preso e o internado
e prepará-los para o retorno à liberdade.
Art. 23. Incumbe ao serviço de assistência social:
I - conhecer os resultados dos diagnósticos ou exames;
II - relatar, por escrito, ao Diretor do estabelecimento, os problemas e as
dificuldades enfrentadas pelo assistido;
III - acompanhar o resultado das permissões de saídas e das saídas
temporárias;
IV - promover, no estabelecimento, pelos meios disponíveis, a recreação;
V - promover a orientação do assistido, na fase final do cumprimento da pena,
e do liberando, de modo a facilitar o seu retorno à liberdade;
VI - providenciar a obtenção de documentos, dos benefícios da Previdência
Social e do seguro por acidente no trabalho;
VII - orientar e amparar, quando necessário, a família do preso, do internado e
da vítima.
146
II - o liberado condicional, durante o período de prova. Art. 27.O serviço de
assistência social colaborará com o egresso para a obtenção de trabalho.
§ 2º Os deveres do preso
§ 3º Os direitos do preso
147
3.2 Previstos na Lei de Execução Penal
SEÇÃO II
Dos Direitos
Art. 40 - Impõe-se a todas as autoridades o respeito à integridade física e
moral dos condenados e dos presos provisórios.
Art. 41 - Constituem direitos do preso:
I - alimentação suficiente e vestuário;
II - atribuição de trabalho e sua remuneração;
III - Previdência Social;
IV - constituição de pecúlio;
V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e
a recreação;
VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas
anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena;
VII - assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa;
VIII - proteção contra qualquer forma de sensacionalismo;
IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado;
X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias
determinados;
XI - chamamento nominal;
XII - igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização
da pena;
XIII - audiência especial com o diretor do estabelecimento;
XIV - representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito;
XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da
leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os
bons costumes.
XVI – atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da
responsabilidade da autoridade judiciária competente.
Parágrafo único. Os direitos previstos nos incisos V, X e XV poderão ser
suspensos ou restringidos mediante ato motivado do diretor do
estabelecimento.
Art. 42 - Aplica-se ao preso provisório e ao submetido à medida de segurança,
no que couber, o disposto nesta Seção.
Art. 43 - É garantida a liberdade de contratar médico de confiança pessoal do
internado ou do submetido a tratamento ambulatorial, por seus familiares ou
dependentes, a fim de orientar e acompanhar o tratamento.
Parágrafo único. As divergências entre o médico oficial e o particular serão
resolvidas pelo Juiz da execução.
148
3.3.2 Visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias
determinados
§ 4º A disciplina do preso
4.2 Abrangência
149
4.3 Observância ao princípio da legalidade em sentido amplo
150
4.5 Cientificação do condenado sobre as normas disciplinares
151
especificará as leves e médias, bem assim as respectivas sanções. Parágrafo único.
Pune-se a tentativa com a sanção correspondente à falta consumada”.
152
4.7.2 Faltas médias e leves
153
IV - praticar compra ou venda não autorizada em relação a outro preso; V -
faltar à verdade com o fim de obter vantagem ou eximir-se de
responsabilidade;
VI - formular queixa ou reclamação com improcedência, reveladora de motivo
reprovável;
VII - explorar companheiro sob qualquer pretexto ou forma;
VIII - desobedecer aos horários regulamentares;
IX - recusar-se sem motivo justo ao trabalho que for determinado;
X - recusar-se à assistência ou ao dever escolar sem razão justificada;
XI - entregar ou receber objetos sem a devida autorização;
XII - desleixar-se da higiene corporal, do asseio da cela ou alojamento e
descurar da conservação de objetos de uso pessoal;
XIII - lançar nos pátios águas servidas ou objetos, bem como lavar, estender
ou secar roupas em local não permitido;
XIV - produzir ruídos para perturbar a ordem nas ocasiões de descanso, de
trabalho ou de reunião;
XV - desrespeitar os visitantes, seus ou de outros internos;
XVI - retardar o cumprimento de ordem com intuito de procrastinação;
XVII - descurar da execução de tarefa; e
XVIII - ausentar-se dos lugares em que deva permanecer.
4.8.1 Sanções
154
III - suspensão ou restrição de direitos (artigo 41, parágrafo único);
IV - isolamento na própria cela, ou em local adequado, nos estabelecimentos
que possuam alojamento coletivo, observado o disposto no artigo 88 desta Lei.
V - inclusão no regime disciplinar diferenciado.
4.8.2.1 Conceito
155
§ 2o Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso
provisório ou o condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de
envolvimento ou participação, a qualquer título, em organizações criminosas,
quadrilha ou bando.
156
4.8.3 Recompensas
As recompensas que podem ser concedidas aos presos estão previstas nos
artigos 55 e 56 da Lei de Execução Penal.
Art. 55. As recompensas têm em vista o bom comportamento reconhecido em
favor do condenado, de sua colaboração com a disciplina e de sua dedicação
ao trabalho.
Art. 56. São recompensas:
I - o elogio;
II - a concessão de regalias.
Parágrafo único. A legislação local e os regulamentos estabelecerão a
natureza e a forma de concessão de regalias.
A aplicação das sanções penais deverá observar as regras previstas nos artigos
54, 57 e 58 da Lei de Execução Penal:
Art. 54. As sanções dos incisos I a IV do art. 53 serão aplicadas por ato
motivado do diretor do estabelecimento e a do inciso V, por prévio e
fundamentado despacho do juiz competente. § 1 o A autorização para a
inclusão do preso em regime disciplinar dependerá de requerimento
circunstanciado elaborado pelo diretor do estabelecimento ou outra
autoridade administrativa. § 2o A decisão judicial sobre inclusão de preso em
regime disciplinar será precedida de manifestação do Ministério Público e da
defesa e prolatada no prazo máximo de quinze dias. [...]SUBSEÇÃO IV - Da
Aplicação das Sanções - Art. 57. Na aplicação das sanções disciplinares,
levar-se-ão em conta a natureza, os motivos, as circunstâncias e as
conseqüências do fato, bem como a pessoa do faltoso e seu tempo de prisão.
Parágrafo único. Nas faltas graves, aplicam-se as sanções previstas nos
incisos III a V do art. 53 desta Lei. Art. 58. O isolamento, a suspensão e a
restrição de direitos não poderão exceder a trinta dias, ressalvada a hipótese
do regime disciplinar diferenciado. Parágrafo único. O isolamento será
sempre comunicado ao Juiz da execução.
157
Art. 59. Praticada a falta disciplinar, deverá ser instaurado o procedimento
para sua apuração, conforme regulamento, assegurado o direito de defesa.
Parágrafo único. A decisão será motivada.
Art. 60. A autoridade administrativa poderá decretar o isolamento preventivo
do faltoso pelo prazo de até dez dias. A inclusão do preso no regime disciplinar
diferenciado, no interesse da disciplina e da averiguação do fato, dependerá
de despacho do juiz competente.
Parágrafo único. O tempo de isolamento ou inclusão preventiva no regime
disciplinar diferenciado será computado no período de cumprimento da
sanção disciplinar.
158
Parágrafo único. O pedido de revisão só se admitirá se fundado em provas não
apresentadas anteriormente.
Subseção X
Superveniência de Doença Mental
Subseção XI
A polêmica sobre a privatização dos presídios
113
SANTOS, Juarez Cirino dos. Direito Penal: parte geral. Rio de Janeiro: Lumen Juris; Curitiba: ICCP,
2006. p. 503-505.
114
BUSATO, Paulo César. Direito penal: parte geral. São Paulo: Atlas, 2013. p. 832-833.
159
Não se pode confundir privatização dos presídios com parcerias público-
privadas, por meio de convênios, conforme estabelecem os artigos 34, parágrafo 2º, e 83-
A e 83-B, todos da Lei de Execução Penal.
Dispõe o artigo 34, parágrafo 2º, da Lei de Execução Penal:
Art. 34. O trabalho poderá ser gerenciado por fundação, ou empresa pública,
com autonomia administrativa, e terá por objetivo a formação profissional do
condenado.
[...]
§ 2o Os governos federal, estadual e municipal poderão celebrar convênio com
a iniciativa privada, para implantação de oficinas de trabalho referentes a
setores de apoio dos presídios.
Por sua vez, dispõem os artigos 83-A e 83-B da Lei de Execução Penal:
Art. 83-A. Poderão ser objeto de execução indireta as atividades materiais
acessórias, instrumentais ou complementares desenvolvidas em
estabelecimentos penais, e notadamente:
I - serviços de conservação, limpeza, informática, copeiragem, portaria,
recepção, reprografia, telecomunicações, lavanderia e manutenção de prédios,
instalações e equipamentos internos e externos;
II - serviços relacionados à execução de trabalho pelo preso.
§ 1o A execução indireta será realizada sob supervisão e fiscalização do poder
público.
§ 2o Os serviços relacionados neste artigo poderão compreender o
fornecimento de materiais, equipamentos, máquinas e profissionais.
Art. 83-B. São indelegáveis as funções de direção, chefia e coordenação no
âmbito do sistema penal, bem como todas as atividades que exijam o exercício
do poder de polícia, e notadamente:
I - classificação de condenados;
II - aplicação de sanções disciplinares;
III - controle de rebeliões;
IV - transporte de presos para órgãos do Poder Judiciário, hospitais e outros
locais externos aos estabelecimentos penais.
160
SEÇÃO II
O TRABALHO DO PRESO E A REMIÇÃO DA PENA PELO TRABALHO, PELO
ESTUDO E PELA LEITURA
Subseção I
Aspectos introdutórios e históricos
§ 1º Aspectos introdutórios
§ 2º Aspectos históricos
161
mas estará cumprindo a sua pena e, ao seu término, alcançará a liberdade. Constituição
Federal veda as penas de trabalhos forçados, mas autoriza a pena de prestação social
alternativa, que, segundo o Supremo Tribunal Federal, equipara-se à prestação de
serviços à comunidade, que envolve a prestação de trabalhos gratuitos. A normatização
internacional (Pacto dos Direitos Civis e Políticos, de 1966, artigo 8º; Convenção
Americana de Direitos Humanos, de 1969, artigo 6º) fez distinção entre a pena de
trabalho forçados e o trabalho prestado pelo condenado durante o cumprimento da pena
de prisão, proibindo aqueles e autorizando este.
§ 3º Fontes normativas
162
3.3 Fontes infraconstitucionais
Subseção II
O trabalho do preso
163
§ 2º O trabalho e a sua remuneração como um direito do preso
Estabelece o artigo 41, inciso II, da Lei de Execução Penal, também, que o
trabalho do preso é um direito. “Art. 41 - Constituem direitos do preso: [...] II -
atribuição de trabalho e sua remuneração”.
§ 3º Obrigatoriedade do trabalho
O artigo 31, parágrafo único, da Lei de Execução Penal estabelece que: “Art.
31. [...] Para o preso provisório, o trabalho não é obrigatório e só poderá ser executado
no interior do estabelecimento”.
164
4.3 Facultatividade do trabalho do condenado por contravenção, à prisão
simples, cuja pena seja igual ou inferior a 15 (quinze) dias
165
i) qualquer trabalho ou serviço, não previsto na alínea b) normalmente
exigido de um individuo que tenha sido encarcerado em cumprimento de
decisão judicial ou que, tendo sido objeto de tal decisão, ache-se em liberdade
condicional;
ii) qualquer serviço de caráter militar e, nos países em que se admite a
isenção por motivo de consciência, qualquer serviço nacional que a lei venha
a exigir daqueles que se oponham ao serviço militar por motivo de
consciência;
iii) qualquer serviço exigido em casos de emergência ou de calamidade que
ameacem o bem-estar da comunidade;
iv) qualquer trabalho ou serviço que faça parte das obrigações cívicas
normais. (O grifo não está na redação original).
166
§ 6º Normas gerais sobre o trabalho do preso
Segundo o artigo 28, parágrafo 1o, da Lei de Execução Penal: “Art. 28. [...] §
1º Aplicam-se à organização e aos métodos de trabalho as precauções relativas à
segurança e à higiene”.
O artigo 28, parágrafo 2o, da Lei de Execução Penal estabelece que: “Art. 28.
[...] § 2º O trabalho do preso não está sujeito ao regime da Consolidação das Leis do
Trabalho”.
167
§ 10 A remuneração do trabalho do preso
168
podendo ser inferior a 3/4 (três quartos) do salário mínimo”. (O grifo não está na
redação original)].
10.4.1 Indenização dos danos causados pelo crime, desde que determinados
judicialmente e não reparados por outros meios. Dispõe a alínea a do parágrafo 1o do
artigo 29 da Lei de Execução Penal: “Art. 29.[...] § 1° [...] a) à indenização dos danos
causados pelo crime, desde que determinados judicialmente e não reparados por outros
meios”.
169
10.4.2 Assistência à família
170
§ 12 O direito do preso à Previdência Social
Conforme o artigo 41, inciso III, da Lei de Execução Penal: "Art. 41.
Constituem direitos do preso: [...] III - Previdência Social".
Por outro lado, estabelece o inciso VI do artigo 23 desse mesmo diploma
legal, também, que "Art. 23. Incumbe ao serviço de assistência social:[...] VI -
providenciar a obtenção de documentos, dos benefícios da Previdência Social e do
seguro por acidente no trabalho".
O artigo 39 do Código Penal, por sua vez, estabelece que "O trabalho do
preso será sempre remunerado, sendo-lhe garantidos os benefícios da Previdência
Social".
§ 14 O trabalho interno
171
14.1 Regras para a atribuição do trabalho ao preso
Segundo o artigo 32, parágrafo 1o, da Lei de Execução Penal, deve ser
evitado o trabalho de artesanato sem expressão econômica, salvo nas regiões de turismo:
“Art. 32. [...] § 1º Deverá ser limitado, tanto quanto possível, o artesanato sem
expressão econômica, salvo nas regiões de turismo”.
172
14.5 A jornada de trabalho do preso
173
14.8.1 Possibilidade de gerenciamento do trabalho do preso por fundação ou
empresa pública
174
14.8.4 Possibilidade de celebração de convênios para a implantação de
oficinas de trabalho e de delegação de certas tarefas nos estabelecimentos prisionais
175
Art. 35. Os órgãos da Administração Direta ou Indireta da União, Estados,
Territórios, Distrito Federal e dos Municípios adquirirão, com dispensa de
concorrência pública, os bens ou produtos do trabalho prisional, sempre que
não for possível ou recomendável realizar-se a venda a particulares.
§ 15 O trabalho externo
176
Segundo o artigo 36, caput, da Lei de Execução Penal, o trabalho externo do
preso em regime fechado somente pode ser prestado em serviços ou obras públicas:
Art. 36. O trabalho externo será admissível para os presos em regime fechado
somente em serviço ou obras públicas realizadas por órgãos da Administração
Direta ou Indireta, ou entidades privadas, desde que tomadas as cautelas
contra a fuga e em favor da disciplina.
177
15.1.5 Responsabilidade pela remuneração do preso
178
15.1.8 Requisitos para autorização do trabalho externo do preso em regime
fechado
179
externo é admissível, bem como a freqüência a cursos supletivos profissionalizantes, de
instrução de segundo grau ou superior".
180
nos autos do Habeas Corpus n. 255.781, do Rio Grande do Sul, nos quais foi relatora a
Ministra Maria Thereza de Assis Moura:
EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS.[...] (2) REGIME SEMIABERTO.
TRABALHO EXTERNO. CUMPRIMENTO DE 1/6 DA PENA.
DESNECESSIDADE. PRECEDENTES. PATENTE ILEGALIDADE.
CONCESSÃO DA ORDEM DE OFÍCIO. [...] 2. Este Superior Tribunal de
Justiça sufragou o entendimento de que não é necessário o cumprimento de
1/6 (um sexto) da pena para se autorizar o condenado em regime inicial
semiaberto a exercer trabalho externo.[...] 3. Ordem não conhecida;
concedido habeas corpus de ofício para restabelecer a decisão de primeiro
grau, que assegurou ao paciente o benefício do trabalho externo,
independentemente do cumprimento de 1/6 (um sexto) da pena.
181
AGRAVO. EXECUÇÃO PENAL. INSURGÊNCIA CONTRA A DECISÃO QUE
NEGOU AUTORIZAÇÃO PARA TRABALHO EXTERNO. [...] TRABALHO
EXTERNO. 1. REQUISITO OBJETIVO. IMPOSIÇÃO DO REGIME INICIAL
SEMIABERTO. CUMPRIMENTO DE 1/6 DA PENA. EXIGÊNCIA QUE SE
APLICA APENAS AOS CONDENADOS QUE CUMPREM PENA EM
REGIME FECHADO. PRECEDENTES.[...] 1. É possível a concessão do
trabalho externo ao condenado em regime semiaberto, independentemente do
cumprimento de 1/6 da pena, uma vez que a exigência legal se dá somente ao
condenado em regime fechado.[...] RECURSO PARCIALMENTE
CONHECIDO E NESSA PARTE PROVIDO.
182
Agravo n. 2014.035135-7, de Tijucas, nos quais foi relator o Desembargador Roberto
Lucas Pacheco:
AGRAVO. EXECUÇÃO PENAL. INSURGÊNCIA CONTRA A DECISÃO QUE
NEGOU AUTORIZAÇÃO PARA TRABALHO EXTERNO.[...] TRABALHO
EXTERNO. [...] 3. DESNECESSIDADE DE VIGILÂNCIA PERIÓDICA E
DIRETA. CARACTERÍSTICAS DO REGIME SEMIABERTO. REQUISITOS
SUBJETIVOS PREENCHIDOS. [...] 3. A fiscalização do trabalho externo,
exercido por apenado que cumpre pena no regime semiaberto, não necessita
ser direta e permanente, como ocorre com aquele que a cumpre no regime
fechado, bastando, para tanto, a comprovação do vínculo e da frequência
laboral, bem como a compatibilidade de tal exercício com o recolhimento ao
ergástulo no período noturno e finais de semana. RECURSO
PARCIALMENTE CONHECIDO E NESSA PARTE PROVIDO.
183
III - participação em atividades que concorram para o retorno ao convívio
social.(O grifo não está na redação original)].
15.2.2.2 Necessidade de que o trabalho seja intra muros para que possa haver
uma mínima fiscalização pelo empregador
184
15.2.2.3 Necessidade da vigilância direta pelo Poder Público
185
Subseção III
A remição e as suas espécies
§ 1º Aspectos históricos
§ 2º Aspectos teóricos
186
2.3 Disposições legais
A remição está prevista nos artigos 126 a 130 da Lei de Execução Penal
187
tempo de execução da pena [...]§ 7o O disposto neste artigo aplica-se às hipóteses de
prisão cautelar”.
Observa-se que não há a previsão legal para o deferimento da remição pelo
trabalho para os presos do regime aberto e para o liberado condicional. É que, segundo
dispõe o inciso I do artigo 114 da Lei de Execução Penal, é condição obrigatória para o
ingresso no regime aberto que o condenado esteja trabalhando ou que ele comprove a
possibilidade de fazê-lo imediatamente: “Art. 114. Somente poderá ingressar no regime
aberto o condenado que: I - estiver trabalhando ou comprovar a possibilidade de fazê-lo
imediatamente”.
Também o artigo 132, parágrafo 1o, alínea a, da Lei de Execução Penal
estabelece, como condição obrigatória do livramento condicional, que o liberado obtenha
ocupação lícita, dentro do prazo razoável se for apto para o trabalho: “Art. 132. Deferido
o pedido, o Juiz especificará as condições a que fica subordinado o livramento. § 1º
Serão sempre impostas ao liberado condicional as obrigações seguintes: a) obter
ocupação lícita, dentro de prazo razoável se for apto para o trabalho”.
188
impossibilitado, por acidente, de prosseguir no trabalho ou nos estudos continuará a
beneficiar-se com a remição”.
A remição pelo estudo está prevista no artigo 126, caput, da Lei de Execução
Penal: “Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto
poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena”.
A remição pelo estudo ingressou no ordenamento jurídico-penal brasileiro por
meio da Lei n. 12.433, de 29 de junho de 2011.
189
que usufrui liberdade condicional poderão remir, pela frequência a curso de
ensino regular ou de educação profissional, parte do tempo de execução da
pena ou do período de prova, observado o disposto no inciso I do § 1o deste
artigo. § 7o O disposto neste artigo aplica-se às hipóteses de prisão cautelar.
Para que possa ser deferida a remição pelo estudo, faz-se necessário,
conforme o artigo 126, parágrafo 2o, 2a parte, da Lei de Execução Penal, que as
atividades de ensino realizadas pelo pretenso beneficiário desse instituto sejam
certificadas pelas autoridades educacionais competentes:
Art. 126.
[...]
§ 2o As atividades de estudo a que se refere o § 1 o deste artigo poderão ser
desenvolvidas de forma presencial ou por metodologia de ensino a distância e
deverão ser certificadas pelas autoridades educacionais competentes dos
cursos freqüentados.
190
§ 5o O tempo a remir em função das horas de estudo será acrescido de 1/3
(um terço) no caso de conclusão do ensino fundamental, médio ou superior
durante o cumprimento da pena, desde que certificada pelo órgão competente
do sistema de educação.
191
assunto, possibilitando, segundo critério legal de avaliação, a remição de 04
(quatro) dias de sua pena e ao final de até 12 (doze) obras lidas e avaliadas,
terá a possibilidade de remir 48 (quarenta e oito) dias, no prazo de 12 (doze)
meses, de acordo com a capacidade gerencial da Unidade. Art. 5º O critério
subjetivo possui embasamento legal no artigo 126 da nº 7210, de 11 de julho
de 1984, equiparando-se ao trabalho intelectual, e considerar-se-á a
fidedignidade e a clareza da resenha, sendo desconsideradas aquelas que não
atenderem a esse pressuposto.
192
§ 9º Declaração mensal da autoridade administrativa sobre os condenados
que estiverem trabalhando ou estudando
§ 12 Declaração falsa
193
declarar ou atestar falsamente prestação de serviço para fim de instruir pedido de
remição”.
SEÇÃO III
O SISTEMA PROGRESSIVO E REGRESSIVO DE CUMPRIMENTO DAS PENAS
PRIVATIVAS DE LIBERDADE
Subseção I
Aspectos históricos
O sistema pensilvânico, filadélfico ou celular possui este nome por ter sido
implantado, na Pensilvânia, no Estado da Filadélfia (EUA), em 1776, na prisão de
Walmut Street, por Benjamin Franklin e Willian Bradford, influenciado pelas idéias de
John Howard, principal representante do penitenciarismo, e pela religiosidade.
As características essenciais desta forma de purgar a pena são o isolamento
celular (solitary confinement), a obrigação estrita do silêncio, a meditação e a oração.
Acreditava-se que o isolamento em uma cela, a oração e a abstinência total de bebidas
194
alcoólicas deveriam criar os meios para salvar as criaturas infelizes pelo
“arrependimento”.
Para se chegar ao silêncio absoluto, colocava-se no preso, quando do seu
ingresso na prisão, uma carapuça escura, sendo o mesmo levado à cela, de onde saía
somente após extinta a pena. O preso não deveria ver mais nenhum rosto, nem ouvir
nenhuma voz, que não a do seu vigilante. As suas únicas companhias eram um estado
angustiante e um imenso desespero.
O sistema pensilvânico passou a ser adotado pelos países da Europa.
Severas críticas foram formuladas a este sistema, uma vez que levava à
loucura o condenado, debilitava ainda mais o seu senso moral e social, era ineficaz, pois
o isolamento absoluto a que se propunha era muito difícil de ser alcançado e era caro
demais.
195
1.3 O sistema progressivo
O sistema de Montesinos leva este nome por ter sido idealizado pelo coronel
Manuel Montesinos e Molina, em 1835, ao ter sido nomeado governador do Presídio de
Valência (Espanha). Este sistema atribui importância às relações com os presos, fundadas
em sentimentos de confiança e estímulo, procurando construir no recluso uma definida
autoconsciência.
Por isso, este sistema propugna o respeito à dignidade do preso, atribui um
fim ressocializador à pena, que tem uma função reabilitadora pelo trabalho, é contrário ao
regime celular, admite a concessão de licenças de saídas, considera benéfica a integração
de grupos mais ou menos homogêneos, cria a prática da prisão aberta como antecedentes
ao livramento condicional.
Esse sistema deu origem ao regime aberto e às saídas temporárias.
196
Esse sistema foi denominado também como mark system (sistema de vales),
pois consistia em medir a duração da pena por uma soma de trabalho e de boa conduta
imposta ao condenado. Referida soma era representada por um certo número de marcas
ou vales, de tal maneira que a quantidade de vales que cada condenado necessitava obter
antes de sua liberação deveria ser proporcional com a gravidade do delito.
Diariamente, segundo a quantidade de trabalho produzido, a administração do
estabelecimento creditava-lhe uma soma ou várias marcas, deduzidos os suplementos de
alimentação ou de outros fatores que lhes eram feitos. Em caso de má conduta impunha-
se-lhe uma multa. Somente o excedente destas marcas, o remanescente destes “débitos-
créditos” seria a pena a ser cumprida.
Assim, a duração da condenação determinava-se pela gravidade do delito,
pelo aproveitamento no trabalho e pela boa conduta de cada apenado.
Esse sistema deu origem ao instituto da remição da pena.
197
aquisição de um maior conhecimento da personalidade e da responsabilidade do interno;
c) não é plausível que o preso esteja disposto a admitir voluntariamente a disciplina
imposta pela instituição penitenciária; d) as diversas etapas da progressão se estabelecem
de forma rigidamente estereotipada; e) a boa conduta manifestada pelo preso pode ser
somente aparente.
198
Subseção II
A recepção do sistema progressivo e regressivo pelo Código Penal e pela Lei de
Execução Penal
199
Os parágrafos 1o e 2o do artigo 2o da Lei dos Crimes Hediondos, por fim,
estabelecem que:
Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de:
[...]
§ 1o A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em
regime fechado.
§ 2o A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos
neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o
apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente.
Subseção III
Regras para o estabelecimento do regime inicial
200
Segundo a redação original do parágrafo 1o do artigo 2o da Lei n. 8.072/1990,
a pena privativa de liberdade imposta pela prática de crimes hediondos ou assemelhados
deveria ser cumprida, integralmente, em regime fechado. É o que se depreende da
redação original desse parágrafo: “Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: [...] §
1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida integralmente em regime
fechado”. (O grifo não está na redação original)].
201
artigo 2o da Lei dos Crimes Hediondos, o qual dispõe que a pena pela prática de crimes
hediondos e assemelhados deveria ser cumprida inicialmente em regime fechado.
Essa nova lei é a Lei n. 11.464, de 28 de março de 2007, que alterou a
redação do artigo 2o da Lei n. 8.072/90, estabelecendo que o fechado deverá ser o inicial,
passando a admitir a progressão de regime em crimes hediondos ou assemelhados e
estabelecendo regra diferenciada das demais infrações penais para a progressão de
regimes. Assim, em caso de crime hediondo ou assemelhado, a progressão de regime,
segundo dispõem os parágrafos 1o e 2o do artigo 2o da Lei dos Crimes Hediondos, o
regime inicial de cumprimento das penas privativas de liberdade impostas pela prática
dos crimes hediondos ou assemelhados deverá ser o fechado e a progressão de regimes
dependerá do cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se primário o condenado, e 3/5
(três quintos), se reincidente.
Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: [...] § 1 o A
pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime
fechado. § 2o A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes
previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da
pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente. (O
grifo não está na redação original).
202
regime prisional inicial devem-se harmonizar com as garantias
constitucionais, sendo necessário exigir-se sempre a fundamentação do regime
imposto, ainda que se trate de crime hediondo ou equiparado. 3. Na situação
em análise, em que o paciente, condenado a cumprir pena de seis (6) anos de
reclusão, ostenta circunstâncias subjetivas favoráveis, o regime prisional, à luz
do art. 33, § 2º, alínea b, deve ser o semiaberto. 4. Tais circunstâncias não
elidem a possibilidade de o magistrado, em eventual apreciação das condições
subjetivas desfavoráveis, vir a estabelecer regime prisional mais severo, desde
que o faça em razão de elementos concretos e individualizados, aptos a
demonstrar a necessidade de maior rigor da medida privativa de liberdade do
indivíduo, nos termos do § 3º do art. 33, c/c o art. 59, do Código Penal. 5.
Ordem concedida tão somente para remover o óbice constante do § 1º do art.
2º da Lei nº 8.072/90, com a redação dada pela Lei nº 11.464/07, o qual
determina que “[a] pena por crime previsto neste artigo será cumprida
inicialmente em regime fechado“. Declaração incidental de
inconstitucionalidade, com efeito ex nunc, da obrigatoriedade de fixação do
regime fechado para início do cumprimento de pena decorrente da
condenação por crime hediondo ou equiparado.
203
Igual entendimento é possível depreender-se da seguinte ementa parcial do
acórdão proferido, no dia 7 de agosto de 2014, pela Colenda Sexta Turma desse mesmo
Egrégio Tribunal, nos autos do Habeas Corpus n. 251337, de São Paulo, nos quais foi
relatora a Ministra Maria Thereza de Assis Moura:
HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS E ASSOCIAÇÃO PARA O
TRÁFICO. [...] REGIME INICIAL FECHADO COM BASE NA HEDIONDEZ
DO DELITO. ILEGALIDADE MANIFESTA. OCORRÊNCIA. FIXAÇÃO DE
REGIME MENOS GRAVOSO. POSSIBILIDADE EM TESE. AFERIÇÃO IN
CONCRETO DEVE SER REALIZADA PELO JUÍZO DAS EXECUÇÕES.
WRIT NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA, DE OFÍCIO. [...] 8. In
casu, foi fixado o regime inicial fechado com base, exclusivamente, na
hediondez do delito, em manifesta contrariedade ao hodierno entendimento
dos Tribunais Superiores. 9. Com o trânsito em julgado da condenação, cabe
ao Juízo das Execuções avaliar o caso sub judice, uma vez que o Tribunal a
quo não procedeu à análise dos elementos concretos constantes dos autos à luz
das balizas delineadas pelos arts. 33, §§ 2º e 3º do Código Penal. 10. Writ não
conhecido. Ordem concedida, de ofício, tão somente para que, afastada a
obrigatoriedade do regime inicial fechado no tocante ao crime de tráfico de
drogas, o Juízo das Execuções, analisando o caso concreto, avalie a
possibilidade de modificação do regime inicial de cumprimento de pena.
204
1.2 Espécie, caráter ou natureza da pena privativa de liberdade
1.2.1 Reclusão
1.2.2 Detenção
205
doutrina, a possibilidade do regime fechado é admitida no citado artigo ocorre, somente,
em caso de regressão e não de regime inicial. “Art. 33 – [...]A de detenção, em regime
semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado”.
206
regime semi-aberto; c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou
inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto.
Pena Regime
P > 8 F
4 < P < 8 SA
P < 4 A
207
1.4 Reincidência genérica
208
No caso dos crimes de drogas, observar o artigo 42 da Lei n. 11.343, de 23 de
agosto de 2006 (Lei de Drogas). Assim, o juiz, na sentença penal condenatória, deve levar
em consideração as circunstâncias previstas no caput do artigo 59 do Código Penal, isto
é, a culpabilidade, os antecedentes, a personalidade, a conduta social, os motivos, as
circunstâncias e as conseqüências do crime e o comportamento do ofendido.
Deve-se observar, ainda, o enunciado da Súmula n. 269 do Superior Tribunal
de Justiça, que tem o seguinte teor: “É admissível a adoção do regime prisional semi-
aberto aos reincidentes condenados a pena igual ou inferior a quatro anos se favoráveis
as circunstâncias judiciais”.
A regra do artigo 66, inciso III, alínea a, combinada com o artigo 111 da Lei
de Execução Penal, estabelece a competência do juízo da execução penal para decidir
sobre a unificação ou soma das penas e para a fixação, nesse caso, no regime de
cumprimento das penas unificadas ou somadas:
Art. 66. Compete ao Juiz da execução:[...] III - decidir sobre: a) soma ou
unificação de penas; [...] Art. 111. Quando houver condenação por mais de um
crime, no mesmo processo ou em processos distintos, a determinação do
regime de cumprimento será feita pelo resultado da soma ou unificação das
penas, observada, quando for o caso, a detração ou remição.
209
§ 3º A necessidade de fundamentação idônea da fixação do regime inicial
210
Subseção IV
A progressão de regimes
§ 1º Regras gerais
211
progressão de regime do cumprimento da pena condicionada à reparação do dano que
causou, ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais”.
As regras específicas para o regime aberto estão previstas nos artigos 113 e
116 da Lei de Execução Penal.
3.1 Requisitos
Além dos requisitos gerais previstos no artigo 112 da Lei de Execução Penal,
a progressão para o regime aberto pressupõe, também, o preenchimento dos requisitos
previstos nos artigo 113 e 114 da Lei de Execução Penal:
Art. 113. O ingresso do condenado em regime aberto supõe a aceitação de seu
programa e das condições impostas pelo Juiz.
Art. 114. Somente poderá ingressar no regime aberto o condenado que:
I - estiver trabalhando ou comprovar a possibilidade de fazê-lo imediatamente;
II - apresentar, pelos seus antecedentes ou pelo resultado dos exames a que foi
submetido, fundados indícios de que irá ajustar-se, com autodisciplina e senso
de responsabilidade, ao novo regime.
Parágrafo único. Poderão ser dispensadas do trabalho as pessoas referidas no
artigo 117 desta Lei.
212
Como acréscimo ao requisito subjetivo contido no artigo 112 da Lei de
Execução Penal, impõe-se, também, a demonstração, ao menos por indícios, conforme
estabelece o artigo 114, inciso II, da Lei de Execução Penal, que o condenado irá se
ajustar, com autodisciplina e senso de responsabilidade, novo regime:
Art. 114. Somente poderá ingressar no regime aberto o condenado que: I – [...]
II - apresentar, pelos seus antecedentes ou pelo resultado dos exames a que foi
submetido, fundados indícios de que irá ajustar-se, com autodisciplina e senso
de responsabilidade, ao novo regime.
213
3.2.2 Condições facultativas
Por outro lado, o caput do artigo 115 da da Lei de Execução Penal permite a
fixação de outras condições ao regime aberto. Todavia, a orientação jurisprudencial
pacificada do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que não pode ser fixada pena
substitutiva como condição do regime aberto, conforme se pode depreender do enunciado
da sua Súmula n. 493: “É inadmissível a fixação de pena substitutiva (art. 44 do CP)
como condição especial ao regime aberto”.
214
Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: [...] § 2 o A
progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos neste
artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o
apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente.
Conforme dispõe o caput do artigo 112 da Lei de Execução Penal, para que
possa progredir de regime, o condenado por crime hediondo ou assemelhado deverá,
também, apresentar bom comportamento carcerário atestado pelo diretor do
estabelecimento.
Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva
com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz,
quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior
e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do
estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a progressão. (O grifo não
está na redação original).
215
§ 5º Inadmissibilidade da progressão per saltum
Subseção V
A regressão de regimes
216
Ressalta-se que a norma se refere à “prática” e não à condenação e a
orientação jurisprudencial do Egrégio Superior Tribunal de Justiça é no sentido, também,
de que é prescindível o trânsito em julgado da sentença penal condenatória para a
decretação da regressão de regimes, bastando o cometimento da infração.
É o que se pode depreender da seguinte ementa parcial do acórdão proferido,
no dia 6 de maio de 2014, nos autos do Hábeas Corpus n. 281536, do Rio Grande do Sul,
nos quais foi relatora a Ministra Laurita Vaz:
HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL. NÃO
CABIMENTO. [...] EXECUÇÃO PENAL. PRÁTICA DE CRIME DOLOSO
DURANTE A EXECUÇÃO DA PENA. FALTA GRAVE. ANOTAÇÃO.
TRÂNSITO EM JULGADO. PRESCINDIBILIDADE. REGRESSÃO E PERDA
DE 1/3 DOS DIAS REMIDOS. [...] 3. Basta o cometimento do crime doloso
para reconhecimento da falta grave, sendo prescindível o trânsito em julgado
da condenação para a aplicação das sanções disciplinares. Precedentes.
1.2 Condenação por crime anterior, cuja pena somada ao restante da pena em
execução torne incabível o regime
217
Art. 118. A execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma
regressiva, com a transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos,
quando o condenado: [...] II - sofrer condenação, por crime anterior, cuja
pena, somada ao restante da pena em execução, torne incabível o regime
(artigo 111).
Além das hipóteses anteriores, segundo o artigo 118, parágrafo 1o, da Lei de
Execução Penal, quando frustrar a execução ou não pagar, podendo, a multa
cumulativamente aplicada:
Art. 118. A execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma
regressiva, com a transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos,
quando o condenado: [...] § 1° O condenado será transferido do regime aberto
se, além das hipóteses referidas nos incisos anteriores, frustrar os fins da
execução ou não pagar, podendo, a multa cumulativamente imposta.
218
RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA.
EXECUÇÃO PENAL. 1. RECONHECIMENTO DE FALTA GRAVE.
IMPRESCINDIBILIDADE DE INSTAURAÇÃO DE PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR (PAD). DETERMINAÇÃO EXPRESSA DO
ART. 59 DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL. PODER DISCIPLINAR.
ATRIBUIÇÃO DO DIRETOR DO PRESÍDIO (LEP, ARTS. 47 E 48). DIREITO
DE DEFESA A SER EXERCIDO POR ADVOGADO CONSTITUÍDO OU
DEFENSOR PÚBLICO NOMEADO. OBSERVÂNCIA DA GARANTIA DO
DEVIDO PROCESSO LEGAL, DA AMPLA DEFESA E DO
CONTRADITÓRIO. 2. RECURSO NÃO PROVIDO. 1. Para o reconhecimento
da prática de falta disciplinar, no âmbito da execução penal, é imprescindível
a instauração de procedimento administrativo pelo diretor do estabelecimento
prisional, assegurado o direito de defesa, a ser realizado por advogado
constituído ou defensor público nomeado. 2. Recurso especial não provido.
219
Ressalta-se que a prévia oitiva do condenado na hipótese do inciso II do
artigo 118 da Lei de Execução Penal é desnecessárioa, pois essa oitiva já ocorreu durante
o processo principal, na qual ocorreu a condenação.
SEÇÃO IV
O LIVRAMENTO CONDICIONAL
Subseção I
Conceito
Subseção II
Aspectos históricos
220
benefício ser concedido por autoridade administrativa, de modo que se impôs a sua
judicialização, conforme se pode depreender do seu artigo 50.
Subseção III
Competência para a concessão
Subseção IV
Requisitos
221
Há, também, regramento específico para os crimes praticados com violência
ou grave ameaça à pessoa.
Para a verificação dos requisitos, deve-se proceder à soma das penas, caso se
trate de infrações penais diversas. Esses requisitos podem ser objetivos e subjetivos:
Requisitos do livramento condicional
Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena
privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que:
I - cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for reincidente em
crime doloso e tiver bons antecedentes;
II - cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em crime doloso;
III - comprovado comportamento satisfatório durante a execução da pena,
bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído e aptidão para prover à
própria subsistência mediante trabalho honesto;
IV - tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano causado
pela infração;
V - cumprido mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime
hediondo, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e
terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa
natureza. Parágrafo único - Para o condenado por crime doloso, cometido
com violência ou grave ameaça à pessoa, a concessão do livramento ficará
também subordinada à constatação de condições pessoais que façam presumir
que o liberado não voltará a delinqüir.
Soma de penas
Art. 84 - As penas que correspondem a infrações diversas devem somar-se
para efeito do livramento.
222
Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena
privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que: I -
cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for reincidente em
crime doloso e tiver bons antecedentes.
223
§ 2º Requisitos subjetivos do livramento condicional
Ainda conforme o inciso III do artigo 83 do Código Penal, para ser merecedor
do livramento condicional, o condenado deverá comprovar bom desempenho no trabalho
que lhe for atribuído:
Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena
privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que: [...] III -
comprovado comportamento satisfatório durante a execução da pena, bom
desempenho no trabalho que lhe foi atribuído e aptidão para prover à própria
subsistência mediante trabalho honesto. (O grifo não está na redação original).
224
2.4 Reparação, salvo efetiva impossibilidade para fazê-lo, do dano causado
pela infração penal
Subseção V
Condições do livramento
225
§ 1º Condições obrigatórias
1.1 Obtenção de ocupação lícita, dentro de prazo razoável, se for apto para o
trabalho
226
não mudar do território da comarca do Juízo da execução, sem prévia autorização
deste”.
§ 2º Condições facultativas
227
2.3 Proibição de frequentar determinados lugares
Subseção VI
Possibilidade do cumprimento das condições em outra comarca
Subseção VII
Carta de livramento
228
Subseção VIII
Cerimônia do livramento condicional
229
1.2 Pelo juízo da execução penal no interior do Estado
230
2.3 O liberado deverá declarar se aceita ou não as condições impostas
Subseção IX
A caderneta do liberado e o salvo-conduto
§ 1º A caderneta do liberado
231
estabelecimento prisional, por ocasião do livramento condicional, para ser exibida à
autoridade judiciária ou administrativa, sempre que lhe for exigida Os dados que devem
constar da caderneta estão previstos no parágrafo 1o do artigo 138 da já mencionada Lei,
ou seja, a identificação do liberado condicional, o texto do capítulo da Lei de Execução
Penal relativo ao livramento condicional e as condições impostas ao liberado:
Art. 138. Ao sair o liberado do estabelecimento penal, ser-lhe-á entregue, além
do saldo de seu pecúlio e do que lhe pertencer, uma caderneta, que exibirá à
autoridade judiciária ou administrativa, sempre que lhe for exigida.
§ 1º A caderneta conterá:
a) a identificação do liberado;
b) o texto impresso do presente Capítulo;
c) as condições impostas.
§ 2º Na falta de caderneta, será entregue ao liberado um salvo-conduto, em
que constem as condições do livramento, podendo substituir-se a ficha de
identificação ou o seu retrato pela descrição dos sinais que possam identificá-
lo.
§ 3º Na caderneta e no salvo-conduto deverá haver espaço para consignar-se
o cumprimento das condições referidas no artigo 132 desta Lei.
§ 2º O salvo-conduto
Subseção X
A observação cautelar e a proteção do liberado condicional
Conforme dispõe o artigo 139 da Lei de Execução Penal, deve ser realizada a
observação cautelar e a proteção do liberado durante o período de livramento condicional
pelo serviço social penitenciário, pelo Patronato ou pelo Conselho da Comunidade, que
devem apresentar o respectivo relatório:
Art. 139. A observação cautelar e a proteção realizadas por serviço social
penitenciário, Patronato ou Conselho da Comunidade terão a finalidade de:
232
I - fazer observar o cumprimento das condições especificadas na sentença
concessiva do benefício;
II - proteger o beneficiário, orientando-o na execução de suas obrigações e
auxiliando-o na obtenção de atividade laborativa.
Parágrafo único. A entidade encarregada da observação cautelar e da
proteção do liberado apresentará relatório ao Conselho Penitenciário, para
efeito da representação prevista nos artigos 143 e 144 desta Lei.
1.2 Patronato
233
1.3 Conselho da Comunidade
234
Subseção XI
Modificação das condições
Subseção XII
Suspensão do livramento condicional
235
Subseção XIII
Prorrogação do período de prova do livramento condicional
Subseção XIV
A revogação do livramento condicional
236
§ 1º Espécies de revogação do livramento condicional
237
de crime: “Art. 86 - Revoga-se o livramento, se o liberado vem a ser condenado a pena
privativa de liberdade, em sentença irrecorrível: [...] II - por crime anterior, observado o
disposto no art. 84 deste Código”.
Não está incluída a condenação por contravenção penal. Todavia, nesse caso,
deverá ser observado o disposto no artigo 84 do Código Penal, segundo o qual “Art. 84 -
As penas que correspondem a infrações diversas devem somar-se para efeito do
livramento”.
Também o artigo 141 da Lei de Execução Penal estabelece que
Art. 141. Se a revogação for motivada por infração penal anterior à vigência
do livramento, computar-se-á como tempo de cumprimento da pena o período
de prova, sendo permitida, para a concessão de novo livramento, a soma do
tempo das 2 (duas) penas.
238
1.2.2 Por condenação irrecorrível, por crime ou contravenção, à pena que não
seja privativa de liberdade
239
§ 2º Iniciativa e competência para a revogação
2.1 Iniciativa
240
de prova, sendo permitida, para a concessão de novo livramento, a soma do
tempo das 2 (duas) penas.
Art. 142. No caso de revogação por outro motivo, não se computará na pena o
tempo em que esteve solto o liberado, e tampouco se concederá, em relação à
mesma pena, novo livramento.
O artigo 88, 1a parte, do Código Penal estabelece que, uma vez revogado o
livramento condicional, não poderá ele ser novamente concedido, salvo se a revogação
ocorreu por crime ocorrido antes da concessão desse benefício.
Também o artigo 141 da Lei de Execução penal esclarece que, se a revogação
ocorreu em virtude da prática de crime anterior à concessão do livramento, é possível a
soma das duas penas e o reinício da contagem de um novo período de cumprimento de
pena para a concessão de novo livramento condicional.
Nas demais hipóteses de revogação – crime ou contravenção cometidos
durante o período de livramento condicional ou descumprimento de condição
estabelecida - não haverá concessão de livramento em relação à mesma pena, conforme
estabelece o artigo 142 da Lei de Execução Penal: “Art. 142. No caso de revogação por
outro motivo, não se computará na pena o tempo em que esteve solto o liberado, e
tampouco se concederá, em relação à mesma pena, novo livramento”. (O grifo não está
na redação original).
241
descumprimento de condição imposta. “Art. 142. No caso de revogação por outro
motivo, não se computará na pena o tempo em que esteve solto o liberado, e tampouco se
concederá, em relação à mesma pena, novo livramento”. (O grifo não está na redação
original).
Subseção XV
Cumprimento das condições e extinção da pena
242
SEÇÃO V
A DURAÇÃO MÁXIMA DO CUMPRIMENTO DAS PENAS PRIVATIVAS DE
LIBERDADE NO ORDENAMENTO JURÍDICO-PENAL BRASILEIRO
Subseção I
Fontes normativas e jurisprudenciais
Subseção II
Aspectos históricos
Subseção III
A duração máxima do cumprimento das penas de reclusão e de detenção
243
Art. 75 - O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode
ser superior a 30 (trinta) anos.
§ 1º - Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja
soma seja superior a 30 (trinta) anos, devem elas ser unificadas para atender
ao limite máximo deste artigo.
§ 2º - Sobrevindo condenação por fato posterior ao início do cumprimento da
pena, far-se-á nova unificação, desprezando-se, para esse fim, o período de
pena já cumprido.
Subseção IV
A duração máxima do cumprimento da pena de prisão simples
Subseção V
Efeitos da unificação das penas
244
CAPÍTULO VII
AS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS COMINADAS NO ORDENAMENTO
JURÍDICO-PENAL BRASILEIRO
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
SEÇÃO I
ASPECTOS HISTÓRICOS, TEÓRICOS E JURÍDICOS DAS PENAS RESTRITIVAS
DE DIREITOS
Subseção I
Aspectos históricos
245
Mas foi, somente, após a reforma penal de 1984 (Lei no 7.209, de 11 de julho
de 1984) que as penas restritivas de direitos tomaram força, com a criação de outras
modalidades dessas penas e com a possibilidade de substituição das penas privativas de
liberdade por penas restritivas de direito ou multa.
A Lei dos Juizados Especiais Criminais (Lei no 9.099, de 26 de setembro de
1995) e a Lei dos Juizados Especiais Federais (Lei no 10.259, de 12 de julho de 2001)
regulamentaram o consensualismo no direito penal e a possibilidade da transação penal
em relação a penas não privativas de liberdade, quando se tratar de infrações penais de
menor potencial ofensivo, inclusive as penas restritivas de direitos.
A Reforma Penal de 1998 (Lei n. 9.714/1998) ampliou o rol de penas
restritivas de direitos e as possibilidades de substituição das penas privativas de liberdade
pelas penas restritivas de direitos ou multas.
Subseção II
Aspectos teóricos
§ 1º Conceito
As penas restritivas de direitos são as penas que têm por finalidade restringir
os direitos do indivíduo condenado, obrigando-o a fazer algo, como, por exemplo, a pena
de prestação de serviços à comunidade e a prestação pecuniária, ou impedindo-o ou
proibindo-o de fazê-lo, como é o caso da suspensão ou interdição de direitos ou, ainda, da
perda de bens e valores.
Essa modalidade de pena não abrange o direito ir, vir ou ficar, que é
alcançado pelas penas privativas de liberdade, e a pena de multa, que está classificada
pelo Código Penal como modalidade distinta de pena.
Não há, no entanto, uma linha nítida entre o campo das penas restritivas de
direitos e os campos aos quais pertencem as demais penas, pois essas sanções penais
lesam bens jurídicos diversificados, como a limitação de fim de semana, que incide sobre
a liberdade do condenado, e a prestação pecuniária, que incide sobre o seu patrimônio.
246
§ 2º Tipos de cominações das penas restritivas de direitos
247
Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as
privativas de liberdade, quando:
I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime
não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que
seja a pena aplicada, se o crime for culposo;
II – o réu não for reincidente em crime doloso;
III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do
condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa
substituição seja suficiente.
§ 1o
§ 2o Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita
por multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena
privativa de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos
e multa ou por duas restritivas de direitos.
§ 3o Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde
que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável
e a reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime.
2.3.1.1 Ser a pena igual ou inferior a 4 (quatro) anos, nos crimes dolosos, ou
qualquer que seja a pena se o crime for culposo
248
2.3.1.3 Não ser o réu reincidente em crime doloso
Conforme dispõe o artigo 44, inciso III, do Código Penal, para a substituição
da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, é necessário que a culpabilidade,
os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos
e as circunstâncias do crime, indiquem que a substituição seja suficiente.
§ 3º Formas de substituição
249
3.1 Substituição ou por 1 (uma) pena restritiva de direito ou por 1 (uma)
multa no caso de pena privativa de liberdade igual ou inferior a 1 (um) ano
250
pecuniária; II - perda de bens e valores; III - (VETADO); IV - prestação de serviço à
comunidade ou a entidades públicas; V - interdição temporária de direitos; VI -
limitação de fim de semana”.
Observa-se que, no Código Penal, essas sanções penais estão cominadas,
somente, como sanções penais substitutivas.
251
4.1.2.4 Prestação pecuniária de outra natureza
Essa espécie de sanção penal foi incluída no Código Penal, também, por meio
da Lei n. 9.714, de 25 de novembro de 1998.
252
4.1.4 A prestação de serviços à comunidade ou entidades públicas
253
§ 1º o trabalho terá a duração de 8 (oito) horas semanais e será realizado aos
sábados, domingos e feriados, ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a
jornada normal de trabalho, nos horários estabelecidos pelo Juiz.
§ 2º A execução terá início a partir da data do primeiro comparecimento.
Art. 150. A entidade beneficiada com a prestação de serviços encaminhará
mensalmente, ao Juiz da execução, relatório circunstanciado das atividades do
condenado, bem como, a qualquer tempo, comunicação sobre ausência ou
falta disciplinar.
254
Art. 154. Caberá ao Juiz da execução comunicar à autoridade competente a
pena aplicada, determinada a intimação do condenado.
§ 1º Na hipótese de pena de interdição do artigo 47, inciso I, do Código Penal,
a autoridade deverá, em 24 (vinte e quatro) horas, contadas do recebimento do
ofício, baixar ato, a partir do qual a execução terá seu início.
§ 2º Nas hipóteses do artigo 47, incisos II e III, do Código Penal, o Juízo da
execução determinará a apreensão dos documentos, que autorizam o exercício
do direito interditado.
Art. 155. A autoridade deverá comunicar imediatamente ao Juiz da execução o
descumprimento da pena.
Parágrafo único. A comunicação prevista neste artigo poderá ser feita por
qualquer prejudicado.
A sanção penal de limitação de fim de semana foi instituída pela Lei n. 7.209,
de 11 de julho de 1984, que alterou a parte geral do Código Penal de 1940.
255
Art. 152. Poderão ser ministrados ao condenado, durante o tempo de
permanência, cursos e palestras, ou atribuídas atividades educativas.
Parágrafo único. Nos casos de violência doméstica contra a mulher, o juiz
poderá determinar o comparecimento obrigatório do agressor a programas de
recuperação e reeducação.
Art. 153. O estabelecimento designado encaminhará, mensalmente, ao Juiz da
execução, relatório, bem assim comunicará, a qualquer tempo, a ausência ou
falta disciplinar do condenado.
256
4.2.3 A interdição temporária de direitos
257
Ressalta-se que o recolhimento domiciliar, que seria incluído pelo inciso III
do artigo 43 do Código Penal, por força da Lei n. 9.714, de 25 de novembro de 1998, foi
vetado pelo presidente da República, apesar de ser este um projeto contemporâneo à Lei
n. 9.605/1998.
Essa sanção penal é aplicável nos casos de crimes de trânsito com veículos
automotores terrestres, por força do artigo 1º, caput, do Código de Trânsito Brasileiro.
Por isso, ela se distingue daquela prevista no inciso III do artigo 47 do Código Penal, que
se aplica à autorização ou habilitação para dirigir qualquer veículo.
258
4.3.3 A multa reparatória
Discute-se o caráter dessa pena, ou seja, se ela pertence ao grupo das penas
restritivas de direitos ou se é uma espécie de pena de multa. Todavia, tendo em vista o
parágrafo 2o do artigo 297 do Código de Trânsito Brasileiro, há fortes razões para se
caracterizá-la como espécie de pena de multa e não como pena restritiva de direitos, não
se podendo, por isso, convertê-la em pena privativa de liberdade.
259
§ 1o Incorrerá nas mesmas penas o torcedor que:
I - promover tumulto, praticar ou incitar a violência num raio de 5.000 (cinco
mil) metros ao redor do local de realização do evento esportivo, ou durante o
trajeto de ida e volta do local da realização do evento;
II - portar, deter ou transportar, no interior do estádio, em suas imediações ou
no seu trajeto, em dia de realização de evento esportivo, quaisquer
instrumentos que possam servir para a prática de violência.
§ 2o Na sentença penal condenatória, o juiz deverá converter a pena de
reclusão em pena impeditiva de comparecimento às proximidades do estádio,
bem como a qualquer local em que se realize evento esportivo, pelo prazo de 3
(três) meses a 3 (três) anos, de acordo com a gravidade da conduta, na
hipótese de o agente ser primário, ter bons antecedentes e não ter sido punido
anteriormente pela prática de condutas previstas neste artigo.
§ 3o A pena impeditiva de comparecimento às proximidades do estádio, bem
como a qualquer local em que se realize evento esportivo, converter-se-á em
privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado da
restrição imposta.
§ 4o Na conversão de pena prevista no § 2o, a sentença deverá determinar,
ainda, a obrigatoriedade suplementar de o agente permanecer em
estabelecimento indicado pelo juiz, no período compreendido entre as 2 (duas)
horas antecedentes e as 2 (duas) horas posteriores à realização de partidas de
entidade de prática desportiva ou de competição determinada.(Os grifos não
estão na redação original).
260
4.5 As sanções penais restritivas de direitos cominadas na Lei de Abuso de
Autoridade
261
exercer funções de natureza policial ou militar no município da culpa, por
prazo de um a cinco anos.
262
Parágrafo único. Os valores decorrentes da imposição da multa a que se
refere o § 6o do art. 28 serão creditados à conta do Fundo Nacional
Antidrogas. (Os grifos não estão na redação original).
263
4.6.5.1 Admoestação verbal, em caso de descumprimento injustificado das
medidas anteriores
4.6.5.2 Multa
SEÇÃO II
ASPECTOS ESPECÍFICOS DA EXECUÇÃO DAS PENAS RESTRITIVAS DE
DIREITOS
Subseção I
Projeções normativas
O Código Penal, no seu artigo 44, parágrafo 4º, e a Lei de Execução Penal,
nos seus artigos 147 a 155, estabelecem normas para a execução das penas restritivas de
direitos, especialmente das penas de prestação de serviços à comunidade, de interdição
temporária de direitos e da pena de limitação de fim de semana.
CAPÍTULO II
264
Das Penas Restritivas de Direitos
SEÇÃO I
Disposições Gerais
Art. 147. Transitada em julgado a sentença que aplicou a pena restritiva de
direitos, o Juiz da execução, de ofício ou a requerimento do Ministério
Público, promoverá a execução, podendo, para tanto, requisitar, quando
necessário, a colaboração de entidades públicas ou solicitá-la a particulares.
Art. 148. Em qualquer fase da execução, poderá o Juiz, motivadamente,
alterar, a forma de cumprimento das penas de prestação de serviços à
comunidade e de limitação de fim de semana, ajustando-as às condições
pessoais do condenado e às características do estabelecimento, da entidade ou
do programa comunitário ou estatal.
Subseção II
A conversão das penas restritivas de direitos em privativa de liberdade
§ 1º Hipótese
265
§ 2º Forma de cálculo
266
Subseção III
A duração das penas restritivas de direitos
267
condenado e o grau de reprovabilidade da conduta. É o que se pode depreender da ementa
parcial do acórdão proferido, no dia 28 de julho de 2009, nos autos da Apelação Criminal
n. 2009.014270-7, de São José do Cedro, nos quais foi relator o Desembargador Sérgio
Paladino:
PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA SUBSTITUTIVA DA SANÇÃO CORPORAL
ARBITRADA EM VALOR EXAGERADO SEM FUNDAMENTAÇÃO.
OBRIGAÇÃO DO JUIZ DE ATENTAR PARA A CONDIÇÃO ECONÔMICA
DO RÉU E O GRAU DE REPROVABILIDADE DA CONDUTA. MITIGAÇÃO
QUE SE FAZ MISTER. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. A prestação
pecuniária substitutiva da pena corporal deve ser fixada atendendo às
condições econômicas do apenado e o grau de reprovabilidade da conduta,
incumbindo ao juiz fundamentar a respectiva imposição.
268
§ 4º A duração da pena de suspensão da habilitação ou de proibição de obter
a habilitação para dirigir veículo automotor terrestre prevista no Código de Trânsito
Brasileiro (Lei n 9.503, de 23 de setembro de 1997)
269
de vencimentos e vantagens; d) destituição de função; e) demissão; f)
demissão, a bem do serviço público.
§ 2º A sanção civil, caso não seja possível fixar o valor do dano, consistirá no
pagamento de uma indenização de quinhentos a dez mil cruzeiros.
§ 3º A sanção penal será aplicada de acordo com as regras dos artigos 42 a 56
do Código Penal e consistirá em: a) multa de cem a cinco mil cruzeiros; b)
detenção por dez dias a seis meses; c) perda do cargo e a inabilitação para o
exercício de qualquer outra função pública por prazo até três anos.
§ 4º As penas previstas no parágrafo anterior poderão ser aplicadas autônoma
ou cumulativamente.
§ 5º Quando o abuso for cometido por agente de autoridade policial, civil ou
militar, de qualquer categoria, poderá ser cominada a pena autônoma ou
acessória, de não poder o acusado exercer funções de natureza policial ou
militar no município da culpa, por prazo de um a cinco anos" (O grifo não está
na redação original).
SEÇÃO III
VERDADES, FALÁCIAS E DESCRENÇAS SOBRE AS PENAS RESTRITIVAS DE
DIREITOS
Subseção I
Verdades
Subseção II
Falácias
270
Subseção III
Descrenças
271
CAPÍTULO VIII
A PENA DE MULTA COMINADA NO ORDENAMENTO JURÍDICO-PENAL
BRASILEIRO
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
SEÇÃO I
ASPECTOS HISTÓRICOS E TEÓRICOS
Subseção I
Aspectos históricos
272
(art. 43, h), na Consolidação das Leis Penais de 1932 (art. 43, h), no Código Penal de
1940 (art. 28, III, e 35) e na Reforma Penal de 1984 (arts. 32. III, e 49 a 58, 60 e 72), bem
como na Lei de Execução Penal (arts. 164 a 170).
O artigo 2o da Lei n. 7.209/1984 (nova Parte Geral do Código Penal) dispôs
sobre o cancelamento das multas na Parte Especial do Código Penal e na legislação
esparsa anterior, isto é, das penas em mil réis, cruzeiros etc., passando a adotar o sistema
de dias-multa.
Subseção II
Conceitos e distinções
§ 1º Conceito
A multa é a espécie de pena definida no artigo 49, caput, Código Penal, que
consiste no pagamento, realizado em dinheiro, ao fundo penitenciário, cuja quantia deve
ser calculada em dias-multa e o valor de cada dia-multa calculado em fração do salário
mínimo vigente à época do fato. “Art. 49 - A pena de multa consiste no pagamento ao
fundo penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no
mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa”.
A multa pode estar prevista na legislação especial em patamares diversos,
como ocorre, por exemplo, no artigo 33, caput, da Lei de Drogas (Lei n. 11.343, de 23 de
agosto de 2006).
2.1 A multa
273
2.2 A prestação pecuniária
A perda de bens e valores está prevista no artigo 45, parágrafo 2o, Código
Penal, a pena de perda de bens e valores é devida ao fundo penitenciário e corresponde ao
montante do prejuízo causado ou ao montante do proveito obtido pelo agente ou por
terceiro, em conseqüência da prática do crime – o que for maior.
Subseção III
Espécies de pena de multa
§ 1º A multa-tipo
274
§ 2 A multa substitutiva
A multa substitutiva está prevista nos artigos 44, parágrafo 2o, 1a parte, e 60,
parágrafo 2o, do Código Penal. “Art. 44. [...] § 2o Na condenação igual ou inferior a um
ano, a substituição pode ser feita por multa ou por uma pena restritiva de direitos;[...]”.
A primeira parte do parágrafo 2o do artigo 44 do Código Penal autoriza a
substituição da pena privativa de liberdade igual ou inferior a 1 (um) ano por multa,
desde que o crime não tenha sido praticado com violência ou grave ameaça à pessoa e
desde que presentes os demais requisitos previstos nos incisos I, II e III desse mesmo
artigo.
275
“cominadas cumulativamente, em lei especial, penas privativa de liberdade e pecuniária,
e defeso a substituição da prisão por multa”.
SEÇÃO II
ASPECTOS ESPECÍFICOS DA APLICAÇÃO DA PENA DE MULTA
Subseção I
Partes da pena de multa
§ 1º Aspectos gerais
§ 2º Quantidade de dias-multa
276
Código Penal, havendo uma causa geral de aumento no artigo 60, parágrafo 1o, do
Código Penal.
§ 3º Valor do dia-multa
Subseção II
A aplicação da pena de multa
SEÇÃO III
ASPECTOS ESPECÍFICOS DA EXECUÇÃO DA PENA DE MULTA
277
Subseção I
O título executivo da pena de multa
Subseção II
Prazo para pagamento da pena de multa
Subseção III
Parcelamento da pena de multa
278
§ 1° O Juiz, antes de decidir, poderá determinar diligências para verificar a
real situação econômica do condenado e, ouvido o Ministério Público, fixará o
número de prestações.
§ 2º Se o condenado for impontual ou se melhorar de situação econômica, o
Juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, revogará o benefício
executando-se a multa, na forma prevista neste Capítulo, ou prosseguindo-se
na execução já iniciada.
Subseção IV
Pagamento da pena de multa mediante desconto em folha
279
Subseção V
Proibição de o desconto comprometer o sustento pessoal e familiar
Subseção VI
Impossibilidade da conversão da pena de multa em pena privativa de liberdade
280
Subseção VII
Legitimidade para a execução da pena de multa
281
legitimidade para a execução da pena de multa passou a ser da Procuradoria da Fazenda
Nacional, uma vez que a pena de multa passou a ser concebida como dívida de valor e é
devida ao fundo penitenciário nacional. Nesse sentido, também, é o entendimento
pacificado pelo Egrégio Superior Tribunal de Justiça, conforme o enunciado da sua
Súmula n. 521: "A legitimidade para a execução fiscal de multa pendente de pagamento
imposta em sentença condenatória é exclusiva da Procuradoria da Fazenda Pública".
Subseção VII
Suspensão da execução da pena de multa
282
CAPÍTULO IX
A SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
SEÇÃO I
ASPECTOS HISTÓRICOS E TEÓRICOS
Subseção I
Aspectos históricos
283
passando a abranger, em regra, as condenações de até 4 (quatro) anos, desde que não
relativas a crimes dolosos praticados com violência ou grave ameaça à pessoa, a
suspensão condicional da pena teve a sua aplicação reduzida, sobretudo aos crimes
praticados com violência ou grave ameaça.
Subseção II
Conceitos e distinções
§ 1º Conceito
284
§ 2º Distinções da suspensão condicional da pena em relação ao “probation”
e à suspensão condicional do processo
2.1 Probation
285
Além disso, o sursis tem como parâmetro de cabimento a pena aplicada, que
não poderá exceder, em regra, a 2 (dois) anos, ou 4 (quatro) anos, em se tratando de
sursis etário e sursis humanitário, enquanto que a suspensão condicional do processo é
cabível se a pena mínima cominada for igual ou inferior a 1 (um) ano.
Subseção III
Espécies de suspensão condicional da pena
As espécies de sursis estão previstas nos artigos 77, caput e parágrafo 2o, e
78, parágrafos 1o e 2o, todos do Código Penal. O sursis comum está previsto no artigo 77,
caput e 78, parágrafo 1o, do Código Penal; o sursis especial, por sua vez, está previsto no
artigo 77, caput, e parágrafo 2o do artigo 78 do Código Penal; e os sursis humanitário e
etário, por fim, estão previstos no parágrafo 2o do artigo 77 do Código Penal.
§ 1º Sursis comum
O sursis comum está previsto no artigo 77, caput, e no artigo 78, parágrafo
1o, ambos do Código Penal, quando, no primeiro ano do período de prova, o condenado
fica obrigado a prestar serviços à comunidade ou à limitação de fim de semana.
Art. 78 - Durante o prazo da suspensão, o condenado ficará sujeito à
observação e ao cumprimento das condições estabelecidas pelo juiz.
§ 1º - No primeiro ano do prazo, deverá o condenado prestar serviços à
comunidade (art. 46) ou submeter-se à limitação de fim de semana (art. 48).
§ 2º Sursis especial
O sursis especial está previsto no artigo 77, caput, e no artigo 78, parágrafo
2o, ambos do Código Penal, quando as condições do parágrafo 1o do artigo 78 forem
substituídas por outras condições, desde que as circunstâncias judiciais forem
inteiramente favoráveis.
Art. 78 - Durante o prazo da suspensão, o condenado ficará sujeito à
observação e ao cumprimento das condições estabelecidas pelo juiz.
§ 1º
286
[...]
§ 2° Se o condenado houver reparado o dano, salvo impossibilidade de fazê-lo,
e se as circunstâncias do art. 59 deste Código lhe forem inteiramente
favoráveis, o juiz poderá substituir a exigência do parágrafo anterior pelas
seguintes condições, aplicadas cumulativamente:
a) proibição de freqüentar determinados lugares;
b) proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do juiz;
c) comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar
e justificar suas atividades.
§ 3º Sursis etário
O sursis etário, que foi inserido no Código Penal por meio da Lei n. 9.714, de
25 de novembro de 1998, está previsto no parágrafo 2º do seu artigo 77 e é cabível
quando a pena aplicada não exceder a 4 (quatro) anos, desde que o condenado seja maior
de setenta anos de idade: “Art. 77 [...] § 2o A execução da pena privativa de liberdade,
não superior a quatro anos, poderá ser suspensa, por quatro a seis anos, desde que o
condenado seja maior de setenta anos de idade, ou razões de saúde justifiquem a
suspensão”. (O grifo não está na redação original)].
§ 4º Sursis humanitário
287
ou 4 (quatro) anos, no caso dos sursis etário e humanitário, pelo período de prova de 1
(um) a 3 (três) anos. “Art. 11. Desde que reunidas as condições legais, o juiz pode
suspender por tempo não inferior a um ano nem superior a três, a execução da pena de
prisão simples, bem como conceder livramento condicional”.
SEÇÃO II
ASPECTOS ESPECÍFICOS DA CONCESSÃO DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DA
PENA
Subseção I
Competência para a concessão
288
admonitória referida no artigo 160 da Lei de Execução Penal, para a qual haja sido,
pessoal ou editaliciamente intimado, cuja ausência, imotivada, implicará a execução
imediata da pena privativa de liberdade, resultando sem efeito a suspensão da pena,
conforme disposto no artigo 161 desse mesmo diploma legal.
Essa hipótese revela a necessidade de aceitação do benefício, o que significa
dizer que este é regido, também, pelo princípio da consensualidade.
Subseção II
Hipóteses de cabimento da suspensão condicional da pena
289
seis anos, desde que o condenado seja maior de setenta anos de idade, ou razões de
saúde justifiquem a suspensão”.
Subseção III
Requisitos da suspensão condicional da pena
Conforme dispõe o artigo 77, caput, I a III, e parágrafo 1o, do Código Penal,
para a concessão da suspensão condicional da pena, exigem-se os seguintes requisitos:
Conforme dispõe o artigo 77, caput, inciso I, e parágrafo 1o, do Código Penal,
para que ser concedido o benefício da suspensão condicional da pena, o condenado não
pode ter sido condenado, por crime doloso, às penas privativa de liberdade ou restritivas
de direito. Conforme a Súmula n. 499 do Supremo Tribunal Federal, “não obsta à
concessão do ‘sursis’ condenação anterior à pena de multa”.
Conforme o artigo 77, caput, inciso III, do Código Penal, não será cabível a
suspensão condicional da pena, se a pena privativa de liberdade for substituída por outras
290
modalidades punitivas, isto porque aquele benefício somente é cabível em relação às
penas privativas de liberdade.
Subseção IV
Períodos de prova da suspensão condicional da pena
291
Subseção V
Condições da suspensão condicional da pena
292
1.2 Possibilidade de substituição da prestação de serviços à comunidade ou da
limitação de fim de semana por outras condições
293
SEÇÃO III
ASPECTOS ESPECÍFICOS DA EXECUÇÃO DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DA
PENA
Subseção I
A audiência admonitória da suspensão condicional da pena
Subseção II
A fiscalização das condições da suspensão condicional da pena
294
Subseção III
Modificação das condições da suspensão condicional da pena
Subseção IV
Possibilidade de cumprimento das condições da suspensão condicional da pena em
outra Comarca
Subseção V
Revogação da suspensão condicional da pena
295
período de prova dar-se-ão na forma do artigo 81 e respectivos parágrafos do Código
Penal”.
§ 1º Revogação automática
§ 2º A revogação obrigatória
§ 3º A revogação facultativa
296
condenação anterior à pena de multa não é óbice à concessão da suspensão condicional
da pena (artigo 77, parágrafo 1o, do Código Penal), a condenação posterior também não é
causa para a revogação do benefício.
Subseção VI
Prorrogação do período de prova da suspensão condicional da pena
O artigo 81, parágrafo 3o, do Código Penal, por outro lado, dispõe que poderá
ocorrer a prorrogação facultativa do período de prova, até o limite máximo permitido, se
este já não houver sido fixado, nas hipóteses de revogação facultativa do benefício,
podendo o juiz optar entre a revogação e a prorrogação. “Art. 81. [...] Prorrogação do
período de prova - § 3º - Quando facultativa a revogação, o juiz pode, ao invés de
decretá-la, prorrogar o período de prova até o máximo, se este não foi o fixado”.
297
Subseção VII
Cumprimento das condições da suspensão condicional da pena e extinção da pena
Subseção VIII
Registros e sigilo acerca da suspensão condicional da pena
298
Art. 163. A sentença condenatória será registrada, com a nota de suspensão
em livro especial do Juízo a que couber a execução da pena. § 1º Revogada a
suspensão ou extinta a pena, será o fato averbado à margem do registro. § 2º
O registro e a averbação serão sigilosos, salvo para efeito de informações
requisitadas por órgão judiciário ou pelo Ministério Público, para instruir
processo penal.
299
CAPÍTULO X
AS MEDIDAS DE SEGURANÇA COMINADAS NO ORDENAMENTO
JURÍDICO-PENAL BRASILEIRO
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
SEÇÃO I
ASPECTOS TEÓRICOS, FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS
Subseção I
Conceito
300
aplicadas pelo Poder Judiciário, em face de uma ação penal e no devido e justo processo
penal, e de serem executadas conforme os limites legais com o propósito predominante
de prevenir a ocorrência de outras condutas lesivas.115
Subseção II
Fundamentos Filosóficos
Subseção III
Aspectos históricos
115
BISSOLI FILHO, Francisco. A sanção penal e as suas espécies. Curitiba: Juruá, 2010. p. 112.
301
§ 3º Os que por imbecilidade nativa, ou enfraquecimento senil, forem
absolutamente incapazes de imputação;
§ 4º Os que se acharem em estado de completa privação de sentidos e de
intelligencia no acto de commetter o crime;
[...]
§ 7º Os surdos-mudos de nascimento, que não tiverem recebido educação nem
instrucção, salvo provando-se que obraram com discernimento.
Além disso, referido diploma legal, nos seus artigos 29 e 68, estabelecia que
os doentes mentais deveriam ser entregues às suas famílias ou ser internados em hospitais
para alineados, de modo que os isentos de culpabilidade e os que se achassem em estado
de loucura eram submetidos a tratamento diferenciado em outra instância, que não a
penal.
Art. 29. Os individuos isentos de culpabilidade em resultado de affecção
mental serão entregues a suas familias, ou recolhidos a hospitaes de alineados,
si o seu estado mental assim exigir para segurança do publico.
[...]
Art. 68. O condemnado que achar-se em estado de loucura só entrará em
cumprimento de pena quando recuperar as suas faculdades intellectuaes.
Paragrapho unico. Si a enfermidade manifestar-se depois que o comdemnado
estiver cumprindo a pena, ficará suspensa a sua execução, não se computando
o tempo de suspensão no da condemnação.
302
Subseção IV
Sistemas
Subseção V
Espécies
116
SANTOS, Juarez Cirino dos. Direito penal: parte geral. Rio de Janeiro: Lumen Juris; Curitiba: ICCP,
2006. p. 508.
303
TÍTULO VI DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA
Espécies de medidas de segurança
Art. 96. As medidas de segurança são:
I - Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta,
em outro estabelecimento adequado;
II - sujeição a tratamento ambulatorial”.
§ 1º Internação
§ 2º Tratamento ambulatorial
SEÇÃO II
ASPECTOS ESPECÍFICOS DA APLICAÇÃO DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA
304
Subseção I
A imposição de medidas de segurança a inimputáveis
Subseção II
A imposição de medidas de segurança a semi-inimputáveis
305
Subseção III
A duração das medidas de segurança
§ 1º Prazo mínimo
§ 2º Prazo máximo
306
§ 3º - A desinternação, ou a liberação, será sempre condicional devendo ser
restabelecida a situação anterior se o agente, antes do decurso de 1 (um) ano,
pratica fato indicativo de persistência de sua periculosidade.
§ 4º - Em qualquer fase do tratamento ambulatorial, poderá o juiz determinar
a internação do agente, se essa providência for necessária para fins curativos.
307
Subseção IV
Medidas de segurança e contravenções penais
SEÇÃO III
ASPECTOS ESPECÍFICOS DA EXECUÇÃO DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA
Subseção I
A necessidade do trânsito em julgado da sentença para a execução da medida de
segurança
308
Subseção II
A expedição da guia de execução da medida de segurança
Subseção III
A necessidade da classificação dos internos
309
Subseção IV
A realização de perícia médica períodica
Conforme dispõem o artigo 97, parágrafo 2o, do Código Penal e o artigo 175,
caput, da Lei de Execução Penal, a perícia médica no agente internado ou submetido a
tratamento ambulatorial realizar-se-á ao termo do prazo mínimo fixado e deverá ser
repetida de ano em ano, ou a qualquer tempo, se o determinar o juiz da execução. “Art.
97.[...] Perícia médica § 2º - A perícia médica realizar-se-á ao termo do prazo mínimo
fixado e deverá ser repetida de ano em ano, ou a qualquer tempo, se o determinar o juiz
da execução". A Lei de Execução Penal, nos seus artigos 175 a 179, regula a realização
do exame de cessação de periculosidade, que pode ser realizado antes mesmo do prazo
mínimo estabelecido. “CAPÍTULO II Da Cessação da Periculosidade Art. 175. A
cessação da periculosidade será averiguada no fim do prazo mínimo de duração da
medida de segurança, [...]”.
310
175. A cessação da periculosidade será averiguada no fim do prazo mínimo de duração
da medida de segurança, pelo exame das condições pessoais do agente,[...]".
311
4.3 Oitiva do Ministério Público e do curador ou do defensor do internado
Conforme dispõe o inciso III do artigo 175 da Lei de Execução Penal, juntado
aos autos o relatório ou realizadas as diligências, serão ouvidos, sucessivamente, o
Ministério Público e o curador ou defensor, no prazo de 3 (três) dias para cada um.
312
da periculosidade, observar-se-á, no que lhes for aplicável, o disposto no artigo
anterior”.
Subseção V
Desinternação, liberação e conversão
§ 1º Desinternação e liberação
313
b) recolher-se à habitação em hora fixada;
c) não freqüentar determinados lugares.
d) (VETADO)
Art. 133. Se for permitido ao liberado residir fora da comarca do Juízo da
execução, remeter-se-á cópia da sentença do livramento ao Juízo do lugar
para onde ele se houver transferido e à autoridade incumbida da observação
cautelar e de proteção.
314
realizou histórico completo da execução da medida de segurança, que foi
renovada sucessivamente, tendo sido empreendidas diversas fugas e retornos
voluntários do paciente ao Instituto Psiquiátrico Forense, sem notícia nos
autos de reincidência delitiva. 3. A desinternação progressiva é medida que se
impõe, concedendo-se a ordem de ofício para o restabelecimento da decisão de
primeiro grau, que aplicou o art. 5º da Lei 10.216/2001, autorizando-se a
desinternação progressiva pelo prazo de 6 (seis) meses. 4. Ordem concedida de
ofício. (O grifo não está na redação original).
§ 2º A conversão
Conforme dispõe o artigo 97, parágrafo 4o, do Código Penal, poderá ocorrer a
conversão do tratamento ambulatorial em internação, o que equivale a uma regressão de
regime, pois o desinterno passará para a condição de interno. "Art. 97.[...] § 4º - Em
qualquer fase do tratamento ambulatorial, poderá o juiz determinar a internação do
agente, se essa providência for necessária para fins curativos”.
Subseção VI
Direitos do internado
315
CAPÍTULO XI
OS EFEITOS SECUNDÁRIOS DA CONDENAÇÃO COMINADOS NO
ORDENAMENTO JURÍDICO-PENAL BRASILEIRO
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
SEÇÃO I
ASPECTOS HISTÓRICOS, CONCEITOS E DISTINÇÕES
316
restritivas de direitos e a pena de multa, aplicáveis a imputáveis ou a semi-imputáveis que
não necessitam de tratamento psiquiátrico, e as medida de segurança, de internação ou de
tratamento ambulatorial, as quais podem ser aplicadas inimputáveis e a semi-imputáveis
que necessitarem de tratamento psiquiátrico, embora, no que tange aos inimputáveis, não
sejam efeitos da condenação, mas sim da absolvição imprópria.
Os efeitos secundários da condenação são também consequências penais
acessórias e mediatas que, embora secundárias, por decorrerem da condenação e,
sobretudo, da aplicação das penas aos imputáveis e das medidas de segurança aplicadas
aos semi-imputáveis, que podem produzir efeitos dentro ou fora do Direito Penal e
Processual penal, devendo, também, estar cominadas na lei penal estrita, escrita, certa e
prévia. Portanto, eles são impostos, apenas, quando houver uma consequência primária,
isto é, a pena ou a medida de segurança, imposta em sentença condenatória. Esses efeitos,
quando automáticos, independem de declaração formal do Poder Judiciário, embora,
quando não automáticos, devem ser expressamente declarados e motivados na sentença
penal condenatória. Aplicam-se, pois, aos imputáveis e aos semi-imputáveis, em face de
uma ação penal, no devido e justo processo penal, pela prática de uma conduta
qualificada, na sentença penal condenatória, após um juízo definitivo e de certeza, como
crime ou contravenção penal, por ser considerada conduta típica, antijurídica, culpável e
punível, e passível de ser executada conforme os limites legais, com o propósito tanto de
retribuição quanto de prevenção de outras condutas lesivas. Os inimputáveis não estão
sujeitos a efeitos secundários da condenação, pelo simples motivo de que não podem ser
condenados, pois não são culpáveis. (BISSOLI FILHO, Francisco. A sanção penal e as
suas espécies. Curitiba: Juruá, 2010. p. 117).
Trata-se de consequências que não têm propósito predominantemente
retributivo, mas sim preventivo, na medida em que inviabilizam a manutenção de
situações que propiciam a prática do fato delituoso, assim o desestimulando, uma vez que
o fato de estar o réu compelido à execução da pena aplicada pela sentença condenatória
não afasta a existência de efeitos outros, secundários, reflexos ou acessórios, de natureza
penal e extrapenal, que em alguns casos, necessariamente, acompanham-na.
317
SEÇÃO II
ESPÉCIES DE EFEITOS SECUNDÁRIOS DA CONDENAÇÃO
Subseção I
Efeitos penais secundários da condenação
318
(dois) a 4 (quatro) anos, desde que: I - o condenado não seja reincidente em crime
doloso”.
319
§ 6º A revogação facultativa do livramento condicional
320
Subseção II
Efeitos extrapenais secundários da condenação
321
Esses efeitos são considerados automáticos, pois, conforme se pode extrair da
interpretação em sentido contrário da regra do parágrafo único do artigo 92 do Código
Penal, não precisam ser declarados na sentença condenatória. Trata-se, como se percebe,
de efeitos civis da condenação. Também podem estar previstos em outros diplomas, como
é o caso da perda dos direitos políticos, previstos no artigo 15, inciso III, da Constituição
Federal, como, também, podem estar previstos na legislação especial que, também, pode
estabelecer outros efeitos genéricos ou automáticos da condenação, como, por exemplo, a
cassação da licença de localização do estabelecimento e do funcionamento do
estabelecimento no qual adolescente ou criança for submetida à exploração da
prostituição, conforme prevê o artigo 244-A, parágrafo 2o, da Lei n. 8.069, de 13 de julho
de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente):
Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais definidos no caput do
art. 2o desta Lei, à prostituição ou à exploração sexual: Pena - reclusão de
quatro a dez anos, e multa. § 1o Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o
gerente ou o responsável pelo local em que se verifique a submissão de criança
ou adolescente às práticas referidas no caput deste artigo. § 2o Constitui efeito
obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e de
funcionamento do estabelecimento. (O grifo não está na redação original).
322
artigo 92 do Código Penal, são, entre outros, a perda de cargo, da função pública ou do
mandato eletivo; a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela; e a
inabilitação para dirigir veículo automotor.
Art. 92 - São também efeitos da condenação: I - a perda de cargo, função
pública ou mandato eletivo: a) quando aplicada pena privativa de liberdade
por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de
poder ou violação de dever para com a Administração Pública; b) quando for
aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos
demais casos. II - a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou
curatela, nos crimes dolosos, sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra
filho, tutelado ou curatelado; III - a inabilitação para dirigir veículo, quando
utilizado como meio para a prática de crime doloso.
323
apreendido, sequestrado ou declarado, quando consistentes em produtos dos crimes
previstos na referida lei, ou que constituam proveito auferido com a sua prática.
Além disso, conforme estabelece o artigo 25 da Lei n. 10.826, de 22 de
dezembro de 2003 (Estatuto do Desarmamento),
As armas de fogo apreendidas, após a elaboração do laudo pericial e sua
juntada aos autos, quando não mais interessarem à persecução penal serão
encaminhadas pelo juiz competente ao Comando do Exército, no prazo
máximo de 48 (quarenta e oito) horas, para destruição ou doação aos órgãos
de segurança pública ou às Forças Armadas, na forma do regulamento desta
Lei.
Subseção III
Extinção dos efeitos secundários da condenação
324
estendeu o sentido da palavra "penas", alcançando as medidas de segurança, poderá, pelas
mesmas razões, estendê-lo, também, para alcançar os efeitos secundários da condenação.
325
CAPÍTULO XII
AS MEDIDAS PENAIS CONSENSUAIS COMINADAS NO ORDENAMENTO
JURÍDICO-PENAL BRASILEIRO
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
SEÇÃO I
A RECEPÇÃO DO CONSENSUALISMO PENAL PELO ORDENAMENTO
JURÍDICO PENAL BRASILEIRO
326
Posteriormente, o Código de Trânsito Brasileiro (Lei n. 9.503, de 23 de
setembro de 1997) dispôs, no seu artigo 291 que:
Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos neste
Código, aplicam-se as normas gerais do Código Penal e do Código de
Processo Penal, se este Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a
Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, no que couber. § 1º Aplica-se aos
crimes de trânsito de lesão corporal culposa o disposto nos arts. 74, 76 e 88
da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, exceto se o agente estiver:[...]. (Os
grifos não estão na redação original).
SEÇÃO II
CONCEITO E DISTINÇÕES DE MEDIDAS PENAIS CONSENSUAIS
Subseção I
Conceito
327
Subseção II
Distinções
SEÇÃO III
MEDIDAS PENAIS CONSENSUAIS OBTIDAS POR MEIO DE TRANSAÇÃO
PENAL
Subseção I
Conceito
328
Subseção II
Distinções
Subseção III
Cabimento
329
Corpus n. 171.425, do Pará, nos quais foi relator o Ministro Jorge Mussi: "1. A soma das
penas máximas previstas para os crimes imputados ao paciente supera 2 (dois) anos,
circunstância que evidencia o óbice objetivo à aplicação dos institutos despenalizadores
previstos na Lei n. 9.099/95. Precedentes".
Também a jurisprudência do Tribunal de Justiça de Santa Catarina é no
sentido de que deve ser observada a soma das penas no caso de concurso de crimes, É o
que se pode depreender da ementa do seguinte acórdão proferido, no dia 24 de junho de
2014, pela sua Primeira Câmara Criminal, nos autos do Recurso Criminal n.
2014.028261-2, de Videira, nos quais foi relator o Desembargador Paulo Roberto
Sartorato:
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. DENÚNCIA QUE IMPUTA A PRÁTICA,
EM TESE, DOS CRIMES DE POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE
USO PERMITIDO (ART. 12 DA LEI N. 10.826/03) E GUARDA DE
ESPÉCIMES DA FAUNA SILVESTRE, INCLUINDO EXEMPLARES EM
EXTINÇÃO (ART. 29, § 1º, III, E § 4º, I, DA LEI N. 9.605/98). REJEIÇÃO DA
DENÚNCIA EM RELAÇÃO AO ÚLTIMO DELITO, POR FALTA DE
PRESSUPOSTO PROCESSUAL PARA O EXERCÍCIO DA AÇÃO PENAL
(ART. 395, II, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL). MAGISTRADA
SINGULAR QUE ENTENDE PELO CABIMENTO DA TRANSAÇÃO PENAL
NO TOCANTE À REFERIDA CONDUTA. IRRESIGNAÇÃO MINISTERIAL.
CONCURSO MATERIAL ENTRE INFRAÇÃO PENAL DE MENOR
POTENCIAL OFENSIVO E CRIME COMUM. ANÁLISE DA VIABILIDADE
DE OFERTA DA TRANSAÇÃO PENAL QUE DEVE LEVAR EM CONTA A
SOMA DAS SANÇÕES MÁXIMAS ABSTRATAMENTE COMINADAS AOS
DELITOS. QUANTUM QUE ULTRAPASSA O PATAMAR DE 02 (DOIS)
ANOS. IMPOSSIBILIDADE DE CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. INDICIADO,
ADEMAIS, REINCIDENTE. REQUISITO SUBJETIVO IGUALMENTE NÃO
ATENDIDO. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS PARA A DEFLAGRAÇÃO DA
AÇÃO PENAL PREENCHIDOS. RECEBIMENTO DA DENÚNCIA QUE SE
IMPÕE. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. "Para fins de aplicação dos
benefícios previstos na Lei n.º 9.099/95, tratando-se de delitos praticados em
concurso material, deve-se considerar a soma das penas máximas cominadas.
Precedentes". (STJ - Habeas Corpus n. 276.921/RJ, Rel. Min. Jorge Mussi,
Quinta Turma, j. em 17/09/2013). Ainda que assim não fosse, estaria obstada
a oferta de transação penal na hipótese em tela, por ser o denunciado
reincidente - não preenchendo, assim, um dos requisitos subjetivos exigidos à
concessão do benefício (art. 76, § 2º, I, da Lei n. 9.099/95). (O grifo não está
na redação original).
330
Subseção IV
Requisitos
331
§ 1º Não ter o autor do fato sido condenado, anteriormente, por sentença
definitiva, à pena privativa de liberdade
§ 2º Não ter o autor do fato sido beneficiado pela transação penal no período
de 5 (cinco) anos
Dispõe o artigo 76, parágrafo 2o, inciso II, da Lei n. 9.099/1995 que a
proposta de transação penal não poderá ser formulada ao autor do fato se este jáhouve
sido beneficiado pela transação penal no período de 5 (cinco) anos “Art. 76. [...] § 2º
Não se admitirá a proposta se ficar comprovado: [...] II - ter sido o agente beneficiado
anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos
termos deste artigo”.
Para que possa ser formulada a proposta de transação penal, é necessário que
que as circunstâncias judiciais mencionadas no inciso III do parágrafo 2o do artigo 76 da
Lei n. 9.099/1995 sejam favoráveis: “Art. 76. [...] § 2º Não se admitirá a proposta se
ficar comprovado: [...]III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a
personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e
suficiente a adoção da medida”.
332
Subseção V
Transação penal no juízo comum ou do tribunal do júri
SEÇÃO IV
MEDIDAS PENAIS CONSENSUAIS OBTIDAS POR MEIO DE SUSPENSÃO
CONDICIONAL DO PROCESSO
Subseção I
Conceito
333
Subseção II
Distinções
Subseção III
Cabimento
334
§ 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este,
recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o acusado a
período de prova, sob as seguintes condições:
I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;
II - proibição de freqüentar determinados lugares;
III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do
Juiz;
IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para
informar e justificar suas atividades.
§ 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a
suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.
§ 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser
processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a
reparação do dano.
§ 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no
curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição
imposta.
§ 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade.
§ 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo.
§ 7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, o processo
prosseguirá em seus ulteriores termos.
Subseção IV
Requisitos
Sendo aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, o juiz profere decisão de
suspensão do processo e do prazo prescricional, conforme estabelece o parágrafo 1o desse
mesmo artigo: “Art. 89. [...] § 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na
presença do Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo
o acusado a período de prova, sob as seguintes condições:”
Se, porventura, não for aceita a proposta, o processo prosseguirá, conforme
estabelece o parágrafo 7o desse mesmo artigo: “Art. 89.[...] § 7º Se o acusado não aceitar
a proposta prevista neste artigo, o processo prosseguirá em seus ulteriores termos”.
336
que pese o parecer ministerial em sentido contrário". (O grifo não está na
redação original).
Subseção V
Condições
§ 1º Condições obrigatórias
337
Art. 89.
[...]
§ 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este,
recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o acusado a
período de prova, sob as seguintes condições: I - reparação do dano, salvo
impossibilidade de fazê-lo; II - proibição de freqüentar determinados lugares;
III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do
Juiz; IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para
informar e justificar suas atividades.
338
1.3 Proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do juiz
§ 2º Condições facultativas
339
outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à
situação pessoal do acusado”.
Subseção VI
Suspensão da prescrição
Subseção VII
Revogação
§ 1º Revogação obrigatória
340
PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. REVOGAÇÃO DO
BENEFÍCIO ANTE A DENÚNCIA DE NOVO DELITO. ART. 83, § 3°, DA LEI
N. 9.099⁄95. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. Conforme entendimento do Superior
Tribunal de Justiça, nos termos dos §§ 3º e 4º do art. 89 da Lei nº 9.099⁄95, a
suspensão condicional do processo deve ser revogada se o réu vier a ser
processado por outro crime, no curso do período de prova. Incidência da
Súmula n. 83 do STJ, aplicável, outrossim, à alínea "a" do permissivo
constitucional. 2. Agravo regimental não provido.
§ 2º Revogação facultativa
Subseção VIII
Extinção da punibilidade
341
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Alegre: Livraria do Advogado, 2006.
342
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(Artigos mencionados na ementa).
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