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FRANCISCO BISSOLI FILHO

A COMINAÇÃO
DAS SANÇÕES PENAIS

FLORIANÓPOLIS
2018

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO....................................................................................................................
CAPÍTULO I – O ESTUDO DOGMÁTICO DO DIREITO PENAL............................
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................
SEÇÃO I - O OBJETO DA CIÊNCIA DO DIREITO PENAL.............................................
Subseção I – O objeto tradicional da ciência do direito penal.........................................
Suseção II – A crítica ao objeto tradicional da ciência do direito penal.........................
Subseção III – A reconfiguração do objeto da ciência do direito penal..........................
SEÇÃO II - A TAREFA DA CIÊNCIA DO DIREITO PENAL............................................
Subseção I – A tarefa tradicional da ciência do direito penal..........................................
Subseção II – A crítica à tarefa tradicional da ciência do direito penal..........................
Subseção III – A reconfiguração da tarefa da ciência do direito penal...........................
SEÇÃO III - O MÉTODO DA CIÊNCIA DO DIREITO PENAL........................................
Subseção I – O método tradicional da ciência do direito penal.......................................
Subseção II – A crítica ao método tradicional da ciência do direito penal.....................
Subseção III – A reconfiguração do método da ciência do penal....................................
CAPÍTULO II – ASPECTOS TEÓRICOS RELATIVOS À COMINAÇÃO DAS
SANÇÕES PENAIS.............................................................................................................
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................
SEÇÃO I - CONCEITO, CARÁTER E FORMA DA COMINAÇÃO.................................
SEÇÃO II - CONTEÚDO DA COMINAÇÃO.....................................................................
SEÇÃO III – CARÁTER.......................................................................................................
SEÇÃO IV - TIPOS DE COMINAÇÃO...............................................................................
SEÇÃO V - FUNÇÕES DAS SANÇÕES PENAIS NO PLANO DA
COMINAÇÃO.......................................................................................................................
CAPÍTULO III – ASPECTOS CONSTITUCIONAIS RELATIVOS À
COMINAÇÃO DAS SANÇÕES PENAIS.........................................................................
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................
SEÇÃO I – AS SANÇÕES PENAIS PERMITIDAS PELA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL..............................................................................................................................
Subseção I – Privação ou restrição da liberdade..............................................................
§ 1º A privação da liberdade..................................................................................................
§ 2º A restrição da liberdade.................................................................................................
Subseção II – Perda de bens................................................ ...............................................
Subseção III – Prestação social alternativa.......................................................................
Subseção IV – Multa............................................................................................................
Subseção V – Interdição ou suspensão de direitos............................................................
SEÇÃO II – AS SANÇÕES PENAIS PRIBIDAS PELA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL..............................................................................................................................
Subseção I – Pena de morte.................................................................................................
Subseção II – Penas de caráter perpétuo...........................................................................
§ 1º A proibição da perpetuidade da prisão..........................................................................
§ 2º A proibição da perpetuidade das medidas de segurança...............................................
§ 3º A proibição da perpetuidade dos antecedentes criminais..............................................

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§ 4º A proibição da perpetuidade dos efeitos secundários da condenação e das medidas
penais consensuais.................................................................................................................
Subseção III – Penas trabalhos forçados...........................................................................
Subseção IV - Pena de banimento.....................................................................................
Subseção V – Penas cruéis...................................................................................................
CAPÍTULO IV – SANÇÕES PENAIS E DIREITO INTERNACIONAL.....................
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................
SEÇÃO I - AS NORMAS PENAIS INTERNACIONAIS RELATIVAS A DIREITOS
HUMANOS COMO OBJETO DA CIÊNCIA DO DIREITO PENAL.................................
Subseção I - A positivação das normas internacionais relativas a direitos
humanos................................................................................................................................
Subseção II – A convivência entre os sistemas internacional e nacional.........................
SEÇÃO II - NORMAS INTERNACIONAIS SOBRE SANÇÕES PENAIS CONTIDAS
NO SISTEMA GLOBAL DE DIREITOS HUMANOS........................................................
Subseção I - Normas penais contidas no sistema global-geral.........................................
Subseção II - Normas penais contidas no sistema global-especial...................................
SEÇÃO III - NORMAS INTERNACIONAIS SOBRE SANÇÕES PENAIS CONTIDAS
NO SISTEMA REGIONAL DE DIREITOS HUMANOS....................................................
Subseção I - Normas penais contidas no sistema regional-geral.....................................
Subseção II - Normas penais contidas no sistema regional-especial...............................
CAPÍTULO V – ESPÉCIES DE SANÇÕES PENAIS COMINADAS NA
LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL BRASILEIRA.........................................
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................
SEÇÃO I - A ESTRUTURA DO CÓDIGO PENAL RELATIVA ÀS SANÇÕES PENAIS.
SEÇÃO II - AS SANÇÕES PENAIS COMINADAS NO CÓDIGO PENAL......................
Subseção I – Penas...............................................................................................................
Subseção II - Medidas de segurança..................................................................................
Subseção III – Efeitos secundários penais e extrapenais..................................................
SEÇÃO III - AS SANÇÕES PENAIS COMINADAS NA LEGISLAÇÃO ESPECIAL.....
Subseção I - Na Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais.......................................
§1º Medidas penais obtidas por meio de transação penal....................................................
§ 2º Medidas penais obtidas por meio de suspensão condicional do processo.....................
Subseção II - Na Lei de Contravenções Penais.................................................................
Subseção III - No Código de Trânsito Brasileiro..............................................................
§ 1º A suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir
veículo automotor terrestre (artigos 292, 293 e 296 do CTB)...............................................
§ 2º A multa reparatória (artigo 297 do CTB).......................................................................
Subseção IV - Lei de Abuso de Autoridade.......................................................................
Subseção IV - Na Lei das Infrações Penais Ambientais...................................................
Subseção V - Na Lei de Drogas...........................................................................................
Subseção VI - No Estatuto do Torcedor.............................................................................
CAPÍTULO VI – PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE COMINADAS NO
ORDENAMENTO JURÍDICO-PENAL BRASILEIRO..................................................
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................
SEÇÃO I - ASPECTOS HISTÓRICOS E TEÓRICOS RELATIVOS ÀS PENAS
PRIVATIVAS DE LIBERDADE...........................................................................................

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Subseção I - Conceito de prisão e distinções entre a pena de prisão e a prisão
cautelar..................................................................................................................................
§1º Conceito de pena privativa de liberdade.........................................................................
§ 2º Distinção entre a pena de prisão e a prisão cautelar.....................................................
Subseção II - Condições que propiciaram o surgimento e a sedimentação da pena de
prisão.....................................................................................................................................
§ 1º Condições religiosas.......................................................................................................
§ 2º Condições sociais...........................................................................................................
§ 3º Condições econômicas...................................................................................................
§ 4º Condições filosóficas......................................................................................................
§ 5º Condições políticas........................................................................................................
Subseção III - Os primeiros estabelecimentos prisionais.................................................
§ 1º As Bridewells, houses of corrections e workhouses…………………………………...
§ 2º As Rasp-huis..................................................................................................................
§ 3º O panótico......................................................................................................................
Subseção IV - Espécies de penas privativas de liberdade cominadas no ordenamento
jurídico-penal brasileiro......................................................................................................
§ 1º Penas privativas de liberdade previstas no Código Penal.............................................
1.1 A reclusão.........................................................................................................................
1.2 A detenção........................................................................................................................
§ 2º A pena privativa de liberdade prevista na Lei de Contravenção Penal.........................
§ 3º Distinção entre a reclusão, a detenção e a prisão simples.............................................
§ 4º Importância da distinção entre reclusão, detenção e prisão simples.............................
Subseção V - Regimes e estabelecimentos de cumprimento das penas privativas de
liberdade...............................................................................................................................
§ 1º Aspectos históricos.........................................................................................................
1.1 A recepção parcial do sistema progressivo pelo Código Penal de 1940..........................
1.1.1 Regra de cumprimento da pena de reclusão.................................................................
1.1.1.1 Isolamento celular......................................................................................................
1.1.1.2 Trabalho em comum dentro do estabelecimento.......................................................
1.1.2 A transferência para colônia penal................................................................................
1.2 A instituição dos regimes fechado, semiaberto e aberto pela Lei n. 6.416, de 24 de
maio de 1977 (Reforma Penal de 1977)................................................................................
1.2.1 Regras comuns para a reclusão e a detenção................................................................
1.2.2 Regras para a reclusão..................................................................................................
1.2.3 Regras para a detenção..................................................................................................
§ 2º O regime fechado e a penitenciária................................................................................
2.1 Conceito de regime fechado.............................................................................................
2.2 A penitenciária como o local apropriado para o cumprimento da pena de reclusão em
regime fechado.......................................................................................................................
2.2.1 Requisitos da cela individual........................................................................................
2.2.2 Penitenciárias femininas...............................................................................................
2.2.3 Penitenciárias masculinas.............................................................................................
2.3 O estabelecimento adequado para o cumprimento da pena de detenção em regime
fechado...................................................................................................................................
2.3.1 A penitenciária..............................................................................................................

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2.3.2 A colônia agrícola, industrial ou similar.......................................................................
§ 3º O regime semiaberto e a colônia agrícola, industrial ou similar...................................
3.1 Conceito de regime semiaberto........................................................................................
3.2 A colônia agrícola, industrial ou similar como o estabelecimento apropriado para o
cumprimento da pena privativa de liberdade em regime semiaberto....................................
3.3 Requisitos do alojamento coletivo...................................................................................
3.3.1 Salubridade...................................................................................................................
3.3.2 Seleção adequada de presos..........................................................................................
3.3.3 Limite de capacidade máxima que atenda os objetivos de individualização da
pena........................................................................................................................................
3.4 Controvérsias sobre a possibilidade de saída do preso do regime semiaberto para o
trabalho externo em empresa privada sem vigilância............................................................
3.5 Controvérsias sobre a desnecessidade do cumprimento de 1/6 (um sexto) da pena pelo
preso em regime semiaberto para realizar trabalho externo ou frequentar curso fora do
estabelecimento......................................................................................................................
3.6 A saída temporária como um dos benefícios a serem usufruídos pelos presos do
regime semiaberto..................................................................................................................
3.7 A monitoração eletrônica da saída temporária.................................................................
§ 4º O regime aberto e a casa de albergado..........................................................................
4.1 Conceito de regime aberto...............................................................................................
4.2 A casa de albergado como estabelecimento apropriado para o cumprimento da pena
em regime aberto....................................................................................................................
4.3 Requisitos e condições para a concessão do regime aberto.............................................
4.3.1 Requisitos para a concessão do regime aberto..............................................................
4.3.2 Condições gerais e especiais para a concessão do regime aberto.................................
4.4 Modificação das condições do regime aberto..................................................................
4.5 Legislação local...............................................................................................................
4.6 Recolhimento domiciliar..................................................................................................
4.7 A monitoração eletrônica do recolhimento domiciliar.....................................................
4.8 Conversão da pena privativa de liberdade em restritivas de direitos...............................
§ 5º Legislação especial.........................................................................................................
Subseção VI - A detração penal..........................................................................................
§ 1º Conceito..........................................................................................................................
§ 2º Detração de período de prisão provisória ou internação impostas em outro
processo.................................................................................................................................
§ 3º Aspectos históricos.........................................................................................................
§ 4º Hipóteses de cabimento da detração penal....................................................................
4.1 Só é cabível a detração do período de prisão provisória decretada no mesmo
processo..................................................................................................................................
4.2 É cabível a detração do período de prisão provisória decretada em outro
processo..................................................................................................................................
§ 5º Competência para aplicar a detração............................................................................
5.1 Competência do juízo da execução penal........................................................................
5.2 Competência do juízo da condenação..............................................................................
Subseção VII - Classificação e separação dos presos........................................................
§ 1º Conceito de classificação dos presos.............................................................................

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§ 2º Aspectos as serem considerados na classificação dos presos........................................
§ 3º Competência...................................................................................................................
§ 4º O exame criminológico de classificação........................................................................
§5º O estabelecimento adequado para a realização do exame criminológico......................
Subseção VIII - Regras especiais para as mulheres..........................................................
Subseção IX - Assistência, Direitos, Deveres e Disciplina do Preso.................................
§ 1º Assistência ao preso........................................................................................................
1.1 Assistência material.........................................................................................................
1.2 Assistência à saúde...........................................................................................................
1.3 Assistência jurídica..........................................................................................................
1.4 Assistência educacional...................................................................................................
1.5 Assistência social.............................................................................................................
1.6 Assistência religiosa.........................................................................................................
1.7 Assistência ao egresso......................................................................................................
§ 2º Os deveres do preso........................................................................................................
§ 3º Os direitos do preso........................................................................................................
3.1 Previstos no Código Penal...............................................................................................
3.2 Previstos na Lei de Execução Penal.................................................................................
3.3 Direitos que podem ser suspensos ou restringidos..........................................................
§ 4º A disciplina do preso......................................................................................................
4.1 Conceito legal de disciplina.............................................................................................
4.2 Abrangência.....................................................................................................................
4.3 Observância ao princípio da legalidade em sentido amplo..............................................
4.4 Sanções disciplinares proibidas.......................................................................................
4.5 Cientificação do condenado sobre as normas disciplinares.............................................
4.6 Competência para exercer o poder disciplinar.................................................................
4.7 Faltas disciplinares...........................................................................................................
4.8 Formas de exercício da disciplina....................................................................................
Subseção X - Superveniência de Doença Mental..............................................................
Subseção XI - A polêmica sobre a privatização dos presídios..........................................
SEÇÃO II - O TRABALHO DO PRESO E A REMIÇÃO DA PENA PELO
TRABALHO, PELO ESTUDO E PELA LEITURA.............................................................
Subseção I - Aspectos introdutórios e históricos...............................................................
§ 1º Aspectos introdutórios....................................................................................................
§ 2º Aspectos históricos.........................................................................................................
§ 3º Fontes normativas..........................................................................................................
3.1 Fontes normativas constitucionais...................................................................................
3.2 Fontes normativas internacionais.....................................................................................
3.3 Fontes infraconstitucionais..............................................................................................
Subseção II - O trabalho do preso......................................................................................
§ 1º O trabalho como um dever do preso..............................................................................
§ 2º O trabalho e a sua remuneração como um direito do preso..........................................
§ 3º Obrigatoriedade do trabalho..........................................................................................
§ 4º Facultatividade do trabalho do preso...........................................................................
4.1 Facultatividade do trabalho do preso provisório............................................................
4.2 Facultatividade do trabalho do preso político.................................................................

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4.3 Facultatividade do trabalho do condenado por contravenção, à prisão simples, cuja
pena seja igual ou inferior a 15 (quinze) dias........................................................................
§ 5º Disposições constitucionais e internacionais sobre os trabalhos forçados...................
5.1 Proibição constitucional da pena de trabalhos forçados..................................................
5.2 Disposições internacionais sobre a possibilidade do trabalho do preso e sobre a
distinção entre os trabalhos forçados e o trabalho prisional..................................................
§ 6º Normas gerais sobre o trabalho do preso......................................................................
§ 7º A finalidade trabalho do preso como dever social e condição de dignidade humana..
§ 8º Segurança e higiene do trabalho....................................................................................
§ 9º Não sujeição do trabalho do preso à Consolidação das Leis do Trabalho...................
§ 10 A remuneração do trabalho do preso............................................................................
10.1 Aspectos históricos.........................................................................................................
10.2 Normatização sobre a remuneração do trabalho prisional.............................................
10.3 Parâmetros da remuneração do trabalho do preso ........................................................
10.3.1 Parâmetro mínimo......................................................................................................
10.3.2 Prévia tabela...............................................................................................................
10.4 Destinação da remuneração...........................................................................................
§ 11 A não remuneração das tarefas executadas como prestação de serviços à
comunidade............................................................................................................................
§ 12 O direito do preso à Previdência Social........................................................................
§ 13 A obrigatoriedade da execução do trabalho sob o controle e a vigilância das
autoridades públicas..............................................................................................................
§ 14 O trabalho interno.........................................................................................................
14.1 Regras para a atribuição do trabalho ao preso...............................................................
14.2 Trabalho a ser evitado....................................................................................................
14.3 O trabalho dos maiores de 60 (sessenta) anos...............................................................
14.4 O trabalho dos doentes ou deficientes físicos................................................................
14.5 A jornada de trabalho do preso.......................................................................................
14.6 Possibilidade de atribuição de horário especial de trabalho para os presos designados
para os serviços de conservação e manutenção do estabelecimento penal............................
14.7 A supervisão do trabalho prisional.................................................................................
14.8 O gerenciamento do trabalho do preso..........................................................................
§ 15 O trabalho externo.........................................................................................................
15.1 Possibilidade do trabalho externo dos presos em regime fechado................................
15.2 Possibilidade do trabalho externo dos presos em regime semiaberto...........................
§ 16 O trabalho dos presos em regime aberto.......................................................................
Subseção III - A remição e as suas espécies.......................................................................
§ 1º Aspectos históricos.........................................................................................................
§ 2º Aspectos teóricos............................................................................................................
2.1 Conceito de remição........................................................................................................
2.2 Espécies de remição.........................................................................................................
2.3 Disposições legais............................................................................................................
§ 3º A remição pelo trabalho.................................................................................................
3.1 Previsão legal...................................................................................................................
3.2 A contagem do tempo da remição pelo trabalho..............................................................
3.3 Beneficiários da remição pelo trabalho............................................................................

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3.4 Possibilidade de acumulação da remição pelo estudo com a remição pelo trabalho.......
3.5 A impossibilidade de o preso prosseguir no trabalho ou no estudo por acidente não
impede a concessão da remição.............................................................................................
§ 4º A remição pelo estudo.....................................................................................................
4.1 Previsão legal...................................................................................................................
4.2 A contagem do tempo da remição pelo estudo.................................................................
4.3 Beneficiários da remição pelo estudo..............................................................................
4.4 Forma de desenvolvimento do ensino..............................................................................
4.5 Necessidade de certificação pelas autoridades educacionais competentes......................
4.6 Acréscimo no tempo a remir em função do estudo em caso de conclusão do curso de
ensino fundamental, médio ou superior.................................................................................
4.7 Possibilidade de acumulação da remição pelo estudo com a remição pelo trabalho.......
4.8 A impossibilidade de o preso prosseguir no trabalho ou no estudo por acidente não
impede a concessão da remição.............................................................................................
§ 5º A remição pela leitura....................................................................................................
§ 6º Competência para declarar a remição...........................................................................
§ 7º Possibilidade de revogação de 1/3 (um terço) do tempo remido, em caso de falta
grave......................................................................................................................................
§ 8º Efeitos do tempo remido.................................................................................................
§ 10 Declaração mensal da autoridade administrativa sobre os condenados que
estiverem trabalhando ou estudando.....................................................................................
§ 10 Informação do condenado que estudar fora do estabelecimento..................................
§ 11 Declaração dos dias remidos.........................................................................................
§ 12 Declaração falsa............................................................................................................
SEÇÃO III - O SISTEMA PROGRESSIVO E REGRESSIVO DE CUMPRIMENTO
DAS PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE.....................................................................
Subseção I - Aspectos históricos.........................................................................................
§ 1º Os principais modelos de execução da prisão...............................................................
1.1 O sistema pensilvânico, filadélfico ou celular (solitary confinement system) (1776).....
1.2 O sistema auburniano (silent system) (1816)...................................................................
1.3 O sistema progressivo......................................................................................................
§ 2º O sistema progressivo e o seu surgimento da crítica aos sistemas filadélfico e
auburniano.............................................................................................................................
§ 3º O ingresso do sistema progressivo no ordenamento jurídico penal brasileiro..............
Subseção II - A recepção do sistema progressivo e regressivo pelo Código Penal e
pela Lei de Execução Penal.................................................................................................
Subseção III - Regras para o estabelecimento do regime inicial.....................................
§ 1º Variáveis a serem levadas em consideração na fixação do regime inicial.....................
1.1 Espécie, caráter ou natureza da infração penal................................................................
1.2 Espécie, caráter ou natureza da pena privativa de liberdade...........................................
1.3 Quantidade da pena..........................................................................................................
1.4 Reincidência genérica......................................................................................................
1.5 Circunstâncias judiciais...................................................................................................
§ 2º A competência para a fixação do regime inicial............................................................
2.1 Competência do juízo da condenação..............................................................................
2.2 Competência para o juízo da execução............................................................................

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§ 3º A necessidade de fundamentação idônea da fixação do regime inicial.........................
3.1 A necessidade de fundamentação idônea para a fixação de regime mais severo do que
aquele que a pena aplicada permitir.......................................................................................
3.2 A opinião do julgador sobre a gravidade abstrata do crime não constitui motivação
idônea.....................................................................................................................................
Subseção IV - A progressão de regimes.............................................................................
§ 1º Regras gerais..................................................................................................................
1.1 Requisito objetivo da progressão de regimes...................................................................
1.2 Requisito subjetivo da progressão de regimes.................................................................
§ 2º Regras específicas para os condenados por crimes contra a administração pública...
§ 3º Regras específicas para a progressão para o regime aberto.........................................
3.1 Requisitos.........................................................................................................................
3.2 Condições para o regime aberto.......................................................................................
3.3 Modificação das condições..............................................................................................
3.4 Recolhimento domiciliar..................................................................................................
§ 4º Regras específicas para a progressão de regimes nas condenações por crimes
hediondos ou assemelhados...................................................................................................
4.1 Requisito objetivo............................................................................................................
4.2 Requisito subjetivo...........................................................................................................
§ 5º Inadmissibilidade da progressão per saltum..................................................................
Subseção V - A regressão de regimes..................................................................................
§ 1º Hipóteses que autorizam a regressão de regime............................................................
1.1 Prática de fato definido como crime doloso ou falta grave.............................................
1.2 Condenação por crime anterior, cuja pena somada ao restante da pena em execução
torne incabível o regime.........................................................................................................
1.3 No caso de condenado em regime aberto, quando este frustrar a execução ou não
pagar a multa imposta............................................................................................................
§ 2º Necessidade da prévia instauração de processo administrativo....................................
§ 3º A necessidade da prévia oitiva do condenado................................................................
SEÇÃO IV - O LIVRAMENTO CONDICIONAL...............................................................
Subseção I – Conceito..........................................................................................................
Subseção II - Aspectos históricos........................................................................................
Subseção III - Competência para a concessão...................................................................
Subseção IV – Requisitos.....................................................................................................
§ 1º Requisitos objetivos do livramento condicional: cumprimento de uma fração da pena
imposta...................................................................................................................................
1.1 Em caso de condenação por crime não hediondo ou assemelhado e desde que o
condenado não seja reincidente.............................................................................................
1.2 Em caso de condenação por crime não hediondo ou assemelhado, se o condenado
reincidente em crime doloso..................................................................................................
1.3 Em caso de condenação por crime hediondo ou assemelhado, desde que não
reincidente específico nesses crimes......................................................................................
1.4 Soma das penas em caso de infrações diversas...............................................................
§ 2º Requisitos subjetivos do livramento condicional...........................................................
2.1 Comprovação de comportamento satisfatório (bom) durante a execução da pena..........
2.2 Bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído........................................................

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2.3 Aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto...........................
2.4 Reparação, salvo efetiva impossibilidade para fazê-lo, do dano causado pela infração
penal.......................................................................................................................................
Subseção V - Condições do livramento..............................................................................
§ 1º Condições obrigatórias..................................................................................................
1.1 Obtenção de ocupação lícita, dentro de prazo razoável, se for apto para o trabalho.......
1.2 Comunicação periódica da ocupação ao juiz da execução penal.....................................
1.3 Proibição de se afastar do território da comarca do juízo da execução, sem prévia
autorização deste....................................................................................................................
§ 2º Condições facultativas....................................................................................................
2.1 Proibição de mudar de residência sem prévia comunicação ao juiz e à autoridade
incumbida da observação cautelar e de proteção...................................................................
2.2 Recolhimento à habitação em hora fixada.......................................................................
2.3 Proibição de frequentar determinados lugares.................................................................
Subseção VI - Possibilidade do cumprimento das condições em outra
comarca.................................................................................................................................
Subseção VII - Carta de livramento...................................................................................
Subseção VIII - Cerimônia do livramento condicional....................................................
§ 1º Atribuição para a realização da cerimônia de livramento condicional.........................
1.1 Conselho Penitenciário, por seu presidente ou outro membro designado, no
estabelecimento onde está sendo cumprida a pena................................................................
1.2 Pelo juízo da execução penal no interior do Estado........................................................
§ 2º Atos da cerimônia de livramento condicional................................................................
2.1 Leitura da sentença concessiva do livramento condicional ao liberado na presença dos
demais condenados................................................................................................................
2.2 Advertência do liberado acerca das condições estabelecidas..........................................
2.3 O liberado deverá declarar se aceita ou não as condições impostas................................
2.4 Lavratura da cerimônia em livro próprio.........................................................................
2.5 Remessa de cópia ao juiz da execução, quando a cerimônia for realizada pelo
Conselho Penitenciário..........................................................................................................
Subseção IX - A caderneta do liberado e o salvo-conduto................................................
§ 1º A caderneta do liberado.................................................................................................
§ 2º O salvo-conduto..............................................................................................................
Subseção X - A observação cautelar e a proteção do liberado condicional....................
§ 1º Atribuição para realizar a observação cautelar ou a proteção do liberado
condicional.............................................................................................................................
1.1 Serviço social penitenciário.............................................................................................
1.2 Patronato..........................................................................................................................
1.3 Conselho da Comunidade................................................................................................
§ 2º A observação cautelar ou proteção do liberado condicional na prática.......................
§ 3º Finalidade da observação cautelar ou da proteção do liberado condicional...............
Subseção XI - Modificação das condições..........................................................................
Subseção XII - Suspensão do livramento condicional......................................................
Subseção XIII - Prorrogação do período de prova do livramento condicional..............
Subseção XIV - A revogação do livramento condicional..................................................
§ 1º Espécies de revogação do livramento condicional.........................................................

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1.1 Revogação obrigatória.....................................................................................................
1.2 Revogação facultativa......................................................................................................
§ 2º Iniciativa e competência para a revogação....................................................................
2.1 Iniciativa..........................................................................................................................
2.2 Competência para a revogação........................................................................................
§ 3º Efeitos da revogação do livramento condicional...........................................................
3.1 Impossibilidade de concessão de novo livramento condicional......................................
3.2 Impossibilidade de se descontar o tempo em que esteve solto o condenado, se a
revogação ocorreu pela prática em crime ocorrido durante o período do livramento...........
Subseção XV - Cumprimento das condições e extinção da pena.....................................
SEÇÃO V - A DURAÇÃO MÁXIMA DO CUMPRIMENTO DAS PENAS
PRIVATIVAS DE LIBERDADE NO ORDENAMENTO JURÍDICO-PENAL
BRASILEIRO........................................................................................................................
Subseção I - Fontes normativas e jurisprudenciais..........................................................
Subseção II - Aspectos históricos........................................................................................
Subseção III - A duração máxima do cumprimento das penas de reclusão e de
detenção................................................................................................................................
Subseção IV - A duração máxima do cumprimento da pena de prisão simples.............
Subseção V - Efeitos da unificação das penas....................................................................
CAPÍTULO VII - AS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS COMINADAS NO
ORDENAMENTO JURÍDICO-PENAL BRASILEIRO..................................................
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................
SEÇÃO I - ASPECTOS HISTÓRICOS E TEÓRICOS.........................................................
Subseção I - Aspectos históricos.........................................................................................
Subseção II - Aspectos teóricos...........................................................................................
§ 1º Conceito..........................................................................................................................
§ 2º Tipos de cominações das penas restritivas de direitos...................................................
2.1 Cominações no tipo e fora dele........................................................................................
2.2 Cominações cumulativas e alternativas...........................................................................
2.3 A cominação substitutiva das penas restritivas de direito (artigos 43 e 44 do Código
Penal).....................................................................................................................................
§ 3º Formas de substituição...................................................................................................
3.1 Em caso de pena privativa de liberdade igual ou inferior a 1 (um) ano: substituição ou
por 1 (uma) pena restritiva de direito ou por 1 (uma) multa (Artigo 44, parágrafo 2o, 1a
parte, do Código Penal)..........................................................................................................
3.2 Em caso de pena privativa de liberdade superior a 2 (dois) anos: substituição ou por 2
(duas) penas restritivas de direitos ou por 1 (uma) pena restritiva de direitos e 1 (uma)
multa (Artigo 44, parágrafo 2o, 2a parte, do Código Penal)...................................................
§ 4º Espécies de sanções penais restritivas de direitos cominadas no ordenamento
jurídico-penal brasileiro........................................................................................................
4.1 Espécies de sanções penais restritivas de direitos cominadas no Código Penal..............
4.2 Espécies de sanções penais restritivas de direitos cominadas na Lei das Infrações
penais ambientais...................................................................................................................
4.3 As sanções penais restritivas de direitos cominadas no Código de Trânsito Brasileiro
4.4 As sanções penais restritivas de direitos cominadas no Estatuto do Torcedor.................
4.5 As sanções penais restritivas de direitos cominadas na Lei de Abuso de Autoridade.....

11
4.6 As sanções penais restritivas de direitos cominadas na Lei de Drogas............................
SEÇÃO II - ASPECTOS ESPECÍFICOS DA EXECUÇÃO DAS PENAS RESTRITIVAS
DE DIREITOS.......................................................................................................................
Subseção I - Projeções normativas.....................................................................................
Subseção II - A conversão das penas restritivas de direitos em privativa de
liberdade...............................................................................................................................
§ 1º Hipótese..........................................................................................................................
§ 2º Forma de cálculo............................................................................................................
§ 3º Superveniência de condenação à pena privativa de liberdade......................................
3.1 O juiz decidirá pela conversão.........................................................................................
3.2 O juiz decidirá pela não conversão..................................................................................
Subseção III - A duração das penas restritivas de direitos...............................................
§ 1º A regra geral de duração das penas restritivas de direito que se estendem no tempo
§ 2º A quantidade da pena de prestação pecuniária.............................................................
2.1 Critérios adotados pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina na fixação da prestação
pecuniária...............................................................................................................................
2.2 Critérios adotados pelo Superior Tribunal de Justiça para a dosagem da prestação
pecuniária...............................................................................................................................
§ 3º A quantidade da pena de perda de bens e valores..........................................................
§ 4º A duração da pena de suspensão da habilitação ou de proibição de obter a
habilitação para dirigir veículo automotor terrestre prevista no Código de Trânsito
Brasileiro (Lei n 9.503, de 23 de setembro de 1997).............................................................
§ 5º A duração da pena de impedimento de comparecimento a estádio prevista no
Estatuto do Torcedor (Lei n. 10.671, de 15 de maio de 2003)...............................................
§ 6º A duração da pena de exílio funcional prevista na Lei do Abuso de Autoridade (Lei
n. 4.898, de 9 de dezembro de 1965).....................................................................................
SEÇÃO III - VERDADES, FALÁCIAS E DESCRENÇAS SOBRE AS PENAS
RESTRITIVAS DE DIREITOS.............................................................................................
Subseção I – Verdades.........................................................................................................
Subseção II – Falácias..........................................................................................................
Subseção III – Descrenças...................................................................................................
CAPÍTULO VIII - A PENA DE MULTA COMINADA NO ORDENAMENTO
JURÍDICO-PENAL BRASILEIRO...................................................................................
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................
SEÇÃO I - ASPECTOS HISTÓRICOS E TEÓRICOS.........................................................
Subseção I - Aspectos históricos.........................................................................................
Subseção II - Conceitos e distinções...................................................................................
§ 1º Conceito..........................................................................................................................
§ 2º Distinções entre a multa, a prestação pecuniária, a multa reparatória e a perda de
bens e valores.........................................................................................................................
2.1 A multa.............................................................................................................................
2.2 A prestação pecuniária.....................................................................................................
2.3 A multa reparatória...........................................................................................................
2.4 A perda de bens e valores.................................................................................................
Subseção III - Espécies de pena de multa..........................................................................
§ 1º A multa-tipo....................................................................................................................

12
§ 2 A multa substitutiva..........................................................................................................
2.1 Substituição da pena privativa de liberdade igual ou inferior a 1 (um) ano....................
2.2 Substituição da pena privativa de liberdade igual ou inferior a 6 (seis) meses...............
§ 3º A impossibilidade da substituição da pena privativa de liberdade cumulada com
multa em lei especial..............................................................................................................
SEÇÃO II - ASPECTOS ESPECÍFICOS DA APLICAÇÃO DA PENA DE MULTA.........
Subseção I - Partes da pena de multa................................................................................
§ 1º Aspectos gerais...............................................................................................................
§ 2º Quantidade de dias-multa..............................................................................................
§ 3º Valor do dia-multa..........................................................................................................
Subseção II - A aplicação da pena de multa......................................................................
SEÇÃO III - ASPECTOS ESPECÍFICOS DA EXECUÇÃO DA PENA DE MULTA.........
Subseção I - O título executivo da pena de multa.............................................................
Subseção II - Prazo para pagamento da pena de multa...................................................
Subseção III - Parcelamento da pena de multa.................................................................
Subseção IV - Pagamento da pena de multa mediante desconto em folha.....................
Subseção V - Proibição de o desconto comprometer o sustento pessoal e familiar........
Subseção VI - Impossibilidade da conversão da pena de multa em pena privativa de
liberdade...............................................................................................................................
Subseção VII - Legitimidade para a execução da pena de multa....................................
§ 1º A legitimidade é do Ministério Público..........................................................................
§ 2º Legitimidade da Procuradoria da Fazenda Nacional....................................................
Subseção VIII - Suspensão da execução da pena de multa..............................................
CAPÍTULO IX - A SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA PRIVATIVA DE
LIBERDADE........................................................................................................................
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................
SEÇÃO I -ASPECTOS HISTÓRICOS E TEÓRICOS.........................................................
Subseção I - Aspectos históricos.........................................................................................
Subseção II - Conceitos e distinções...................................................................................
§ 1º Conceito..........................................................................................................................
§ 2º Distinções da suspensão condicional da pena em relação ao “probation” e à
suspensão condicional do processo.......................................................................................
2.1 Probation.........................................................................................................................
2.2 A suspensão condicional do processo..............................................................................
Subseção III - Espécies de suspensão condicional da pena..............................................
§ 1º Sursis comum..................................................................................................................
§ 2º Sursis especial................................................................................................................
§ 3º Sursis etário....................................................................................................................
§ 4º Sursis humanitário..........................................................................................................
§ 5º Sursis da Lei de Contravenções Penais..........................................................................
§ 6º Aplicação às contravenções das espécies de sursis previstas no Código Penal............
SEÇÃO II - ASPECTOS ESPECÍFICOS DA CONCESSÃO DA SUSPENSÃO
CONDICIONAL DA PENA..................................................................................................
Subseção I - Competência para a concessão......................................................................
Subseção II - Hipóteses de cabimento da suspensão condicional da pena......................
Subseção III - Requisitos da suspensão condicional da pena...........................................

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§ 1º Não ser o condenado reincidente em crime doloso, salvo se essa condenação
anterior for, apenas, à pena de multa....................................................................................
§ 2º Serem favoráveis as circunstâncias judiciais indicadas no inciso II do artigo 77,
caput, do Código Penal..........................................................................................................
§ 3º Não ter a pena privativa de liberdade sido substituída por outras modalidades
punitivas.................................................................................................................................
Subseção IV - Períodos de prova da suspensão condicional da pena..............................
§ 1º Como regra geral............................................................................................................
§ 2º Do sursis humanitário e etário.......................................................................................
§ 3º Do sursis da Lei de Contravenções Penais....................................................................
Subseção V - Condições da suspensão condicional da pena.............................................
§ 1º Condições obrigatórias da suspensão da pena..............................................................
1.1 Prestação de serviços à comunidade ou limitação de final de semana no primeiro ano
do período de prova...............................................................................................................
1.2 Possibilidade de substituição da prestação de serviços à comunidade ou da limitação
de fim de semana por outras condições.................................................................................
§ 2º Condições facultativas da suspensão da pena...............................................................
SEÇÃO III - ASPECTOS ESPECÍFICOS DA EXECUÇÃO DA SUSPENSÃO
CONDICIONAL DA PENA..................................................................................................
Subseção I - A audiência admonitória da suspensão condicional da pena.....................
Subseção II - A fiscalização das condições da suspensão condicional da pena...............
Subseção III - Modificação das condições da suspensão condicional da pena...............
Subseção IV - Possibilidade de cumprimento das condições da suspensão
condicional da pena em outra Comarca............................................................................
Subseção V - Revogação da suspensão condicional da pena............................................
§ 1º Revogação automática...................................................................................................
§ 2º A revogação obrigatória.................................................................................................
§ 3º A revogação facultativa..................................................................................................
Subseção VI - Prorrogação do período de prova da suspensão condicional da pena....
§ 1º Prorrogação obrigatória até o julgamento definitivo....................................................
§ 2º Prorrogação facultativa até o máximo do período de prova..........................................
Subseção VII - Cumprimento das condições da suspensão condicional da pena e
extinção da pena...................................................................................................................
Subseção VIII - Registros e sigilo acerca da suspensão condicional da pena.................
CAPÍTULO X - AS MEDIDAS DE SEGURANÇA COMINADAS NO
ORDENAMENTO JURÍDICO-PENAL BRASILEIRO..................................................
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................
SEÇÃO I - ASPECTOS TEÓRICOS, FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS.............................
Subseção I – Conceito..........................................................................................................
Subseção II - Fundamentos Filosóficos..............................................................................
Subseção III - Aspectos históricos......................................................................................
Subseção IV – Sistemas.......................................................................................................
§ 1º O sistema do duplo binário ou critério dualista cumulativo..........................................
§ 2º O sistema vicariante ou critério dualista alternativo.....................................................
Subseção V – Espécies..........................................................................................................
§ 1º Internação.......................................................................................................................

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§ 2º Tratamento ambulatorial................................................................................................
SEÇÃO II – ASPECTOS ESPECÍFICOS DA APLICAÇÃO DAS MEDIDAS DE
SEGURANÇA.......................................................................................................................
Subseção I - A imposição de medidas de segurança a inimputáveis................................
Subseção II - A imposição de medidas de segurança a semi-inimputáveis.....................
Subseção III - A duração das medidas de segurança........................................................
§ 1º Prazo mínimo..................................................................................................................
§ 2º Prazo máximo.................................................................................................................
§ 3º A limitação jurisprudencial da duração máxima da medida de segurança...................
3.1 Limitações decorrentes da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que fixou em
30 (trinta) anos a duração máxima das medidas de segurança..............................................
3.2 Limitações decorrentes da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, que fixou a
duração das medidas de segurança como sendo a pena máxima cominada no tipo penal.....
Subseção IV - Medidas de segurança e contravenções penais.........................................
SEÇÃO III – ASPECTOS ESPECÍFICOS DA EXECUÇÃO DAS MEDIDAS DE
SEGURANÇA.......................................................................................................................
Subseção I - A necessidade do trânsito em julgado da sentença para a execução da
medida de segurança............................................................................................................
Subseção II - A expedição da guia de execução da medida de segurança.......................
Subseção III - A necessidade da classificação dos internos..............................................
Subseção IV - A realização de perícia médica períodica..................................................
§ 1º Data de realização da perícia........................................................................................
§ 2º Possibilidade de realização do exame antes de transcorrido o prazo mínimo da
medida de segurança.............................................................................................................
§ 3º Aspectos a serem analisados durante o exame de cessação de periculosidade.............
§ 4º Procedimento da verificação da cessação de periculosidade........................................
4.1 Relatório da autoridade administrativa............................................................................
4.2 Documento que deverá instruir o relatório da autoridade administrativa........................
4.3 Oitiva do Ministério Público e do curador ou do defensor do internado.........................
4.4 Nomeação de curador ou de defensor..............................................................................
4.5 Diligências judiciais.........................................................................................................
4.6 Proferimento da decisão em 5 (cinco) dias......................................................................
§ 5º Procedimentos nos exames sucessivos de verificação da cessação da periculosidade.
Subseção V - Desinternação, liberação e conversão..........................................................
§ 1º Desinternação e liberação..............................................................................................
§ 2º A conversão.....................................................................................................................
Subseção VI - Direitos do internado...................................................................................
CAPÍTULO XI - OS EFEITOS SECUNDÁRIOS DA CONDENAÇÃO
COMINADOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO-PENAL BRASILEIRO................
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................
SEÇÃO I - ASPECTOS HISTÓRICOS, CONCEITOS E DISTINÇÕES............................
SEÇÃO II - ESPÉCIES DE EFEITOS SECUNDÁRIOS DA CONDENAÇÃO..................
Subseção I - Efeitos penais secundários da condenação...................................................
§ 1º O impedimento para a concessão da suspensão condicional do processo....................
§ 2º O impedimento para a concessão da suspensão condicional da pena...........................
§ 3º A revogação obrigatória da suspensão condicional da pena.........................................

15
§ 4º A revogação facultativa da suspensão condicional da pena..........................................
§ 5º A revogação obrigatória do livramento condicional......................................................
§ 6º A revogação facultativa do livramento condicional.......................................................
§ 7º A revogação da reabilitação criminal............................................................................
§ 8º A determinação dos efeitos da reincidência...................................................................
Subseção II - Efeitos extrapenais secundários da condenação........................................
§ 1º Efeitos extrapenais secundários genéricos ou automáticos...........................................
§ 2º Efeitos extrapenais secundários específicos ou não automáticos..................................
Subseção III - Extinção dos efeitos secundários da condenação.....................................
CAPÍTULO XII - AS MEDIDAS PENAIS CONSENSUAIS COMINADAS NO
ORDENAMENTO JURÍDICO-PENAL BRASILEIRO..................................................
CONSIDERAÇÕES INICIAIS.............................................................................................
SEÇÃO I - A RECEPÇÃO DO CONSENSUALISMO PENAL PELO ORDENAMENTO
JURÍDICO PENAL BRASILEIRO.......................................................................................
SEÇÃO II - CONCEITO E DISTINÇÕES DE MEDIDAS PENAIS CONSENSUAIS......
Subseção I – Conceito..........................................................................................................
Subseção II – Distinções......................................................................................................
SEÇÃO III - MEDIDAS PENAIS CONSENSUAIS OBTIDAS POR MEIO DE
TRANSAÇÃO PENAL.........................................................................................................
Subseção I – Conceito..........................................................................................................
Subseção II – Distinções......................................................................................................
Subseção III – Cabimento...................................................................................................
Subseção IV – Requisitos.....................................................................................................
§ 1º Não ter o autor do fato sido condenado, anteriormente, por sentença definitiva, à
pena privativa de liberdade...................................................................................................
§ 2º Não ter o autor do fato sido beneficiado pela transação penal no período de 5
(cinco) anos............................................................................................................................
§ 3º Serem favoráveis as circunstâncias judiciais relativas àos antecedentes, conduta
social, personalidade, motivos e circunstâncias do crime.....................................................
Subseção V - Transação penal no juízo comum ou do tribunal do júri..........................
SEÇÃO IV - MEDIDAS PENAIS CONSENSUAIS OBTIDAS POR MEIO DE
SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO................................................................
Subseção I – Conceito..........................................................................................................
Subseção II – Distinções......................................................................................................
Subseção III – Cabimento...................................................................................................
Subseção IV – Requisitos.....................................................................................................
§ 1º Não estar o réu sendo processado..................................................................................
§ 2º Não ter o réu sido condenado.........................................................................................
§ 3º Estarem presentes os requisitos da suspensão condicional da pena..............................
Subseção V – Condições......................................................................................................
§ 1º Condições obrigatórias..................................................................................................
1.1 Reparação do dano, salvo a impossibilidade de fazê-lo..................................................
1.2 Proibição de frequentar determinados lugares.................................................................
1.3 Proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do juiz....................
1.4 Comparecimento periódico ao juízo para informar atividades........................................
§ 2º Condições facultativas....................................................................................................

16
Subseção VI - Suspensão da prescrição.............................................................................
Subseção VII – Revogação..................................................................................................
§ 1º Revogação obrigatória...................................................................................................
§ 2º Revogação facultativa....................................................................................................
Subseção VIII - Extinção da punibilidade.........................................................................

17
INTRODUÇÃO

Conforme estabelece o artigo 48 da Constituição Federal, “cabe ao


Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República [...], dispor sobre todas
as matérias de competência da União”. Entre essas matérias, está a penal, conforme
estabelece o artigo 22, inciso I, da Constituição Federal, ressalvada a hipótese de
autorização específica aos Estados, por meio de lei complementar, para legislar sobre
questões específicas, nos termos do parágrafo único desse mesmo artigo.
A cominação é a previsão da sanção penal na lei penal, isto é, a sua
adequação ao fato e ao seu autor que o legislador realiza, no plano abstrato da legislação,
por meio do processo legislativo. Portanto, cabe á União Federal não somente definir as
condutas que devem ser consideradas típicas, mas, também, cominar as sanções penais
correspondentes, uma vez que, segundo a garantia da legalidade penal, prevista no inciso
XXXIX do artigo 5º da Constituição Federal, “não há crime sem lei anterior que o
defina, nem pena, sem prévia cominação legal”.
Assim, cabendo à União Federal, por meio do Congresso Nacional e com a
sanção presidencial, produzir as leis que definirão dos crimes – e também as
contravenções penais -, como, também, as que cominarão as penas, ou, em sentido mais
amplo, as sanções penais.
O problema que se formula é o seguinte: quais são as sanções penais
cominadas no ordenamento jurídico-penal brasileiro e quais são as regras que lhe dizem
respeito?
O propósito deste livro é, pois, responder a essa indagação, ou seja, é realizar
um estudo dogmático crítico acerca das espécies de sanções penais previstas no
ordenamento jurídico-penal brasileiro e dos diversos aspectos que lhes dizem respeito.
Diz-se estudo dogmático crítico, porquanto está orientado por uma
abordagem interdisciplinar, uma vez que, além de envolver aspectos teóricos, incorpora
elementos históricos e procura fazer a interconexão entre as normas constitucionais,
internacionais e infraconsticionais, sempre com um viés voltado aos direitos humanos,
tanto dos sujeitos passivos das condutas puníveis quanto dos seus sujeitos ativos.

18
É importante ressaltar que o estudo dogmático das sanções penais se realiza
em três planos, ou seja, no plano da cominação, no plano da aplicação e no plano da
execução, os quais não são estanques ou plenamente definidos, mas, sim,
intercomunicam-se entre si.
O trabalho que se apresenta está relacionado, sobretudo, com o plano da
cominação das sanções penais, de modo que a aplicação e a execução destas será
remetida para trabalhos futuros, evitando-se, assim, que o texto deste resulte por demais
extenso e caro para os estudantes do direito, devido à necessidade das constantes
atualizações.
A presente exposição obedecerá o método dogmático, próprio da ciência do
direito penal, que visa a construir conceitos e sistematizá-los, a partir do material
normativo, de forma a que se possa compreender a temática estudada. Nessa construção e
sistematização, serão importantes as interpretações doutrinárias e jurisprudenciais.
O livro está divido em doze capítulos, estando o primeiro voltado à
apresentação das principais linhas que caracterizam o estudo dogmático do direito penal;
o segundo, aos aspectos teóricos relativos à cominação das sanções penais; o terceiro, aos
aspectos constitucionais relativos à cominação das sanções penais; o quarto, às sanções
penais e ao direito internacional; o quinto, às espécies de sanções penais cominadas na
legislação infraconstitucional brasileira; o sexto, às penas privativas de liberdade; o
sétimo, às penas restritivas de direitos; o oitavo, à pena de multa; o nono, à suspensão
condicional da pena privativa de liberdade (sursis); o décimo, às medidas de segurança; o
décimo primeiro, aos efeitos secundários da condenação penal; e o décimo segundo, às
medidas penais consensuais.
É fácil perceber que se trata de uma obra que vai além do que tratam os
manuais de direito penal, pois pretende expor, de forma científica, o seu objeto de estudo
com a observância de um método técnico-jurídico interdisciplinar e com o propósito de
realizar uma construção sistemática de conceitos que possibilitem a aplicação prática dos
textos normativos.
A tarefa desse estudo é propiciar a aplicação equânime dos textos normativos
e produzir, assim, segurança jurídica, sem relegar ao segundo plano a importância dos
direitos humanos, próprios dos Estados democráticos constitucionais.

19
Trata-se de um estudo que se realiza no marco do constitucionalismo e de
modo a conciliar duas forças que se opõem no campo desses direitos: por um lado, o
direito fundamental à não intervenção estatal, a fim de reduzir a violência institucional, e,
por outro, o direito fundamental de tutela penal de bens jurídicos fundamentais, a fim de
evitar a violação individual ou grupal de direitos humanos.
Por fim, é importante ressaltar que a presente obra se destina a todos os
estudiosos do direito penal, em especial aos que visam a se aprofundar na compreensão
das consequências penais previstas no ordenamento jurídico-penal brasileiro e das regras
que lhe dizem respeito, de modo que, estando o seu conteúdo exposto de forma didática,
interessa, especificamente, tanto aos estudantes do direito penal e aos profissionais do
sistema penal quanto às demais pessoas que, de alguma forma, interessam-se por essa
temática, em especial, os parlamentares e os assessores parlamentares, pois são estes que
se debruçam sobre as novas cominações e sobre as alterações das sanções penais já
existentes, bem como aos profissionais que se dedicam a informar a comunidade em
geral, entre eles escritores e jornalistas.

20
CAPÍTULO I
O ESTUDO DOGMÁTICO DO DIREITO PENAL

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O presente capítulo trata de uma breve exposição acerca do estudo dogmático


do direito penal, isto é, de como se realiza o estudo científico do direito penal, um estudo
um tanto quanto incompreendido e cuja cientificidade é questionada.
Todavia, é necessário ter em mente que a principal atividade dos estudiosos
do direito penal é produzir conceitos sobre o material normativo – objeto principal da
ciência do direito penal – e sistematizá-los, interconectando-os com os demais conceitos
que lhes dizem respeito, propiciando, assim, uma visão interdisciplinar acerca desse
material, com o propósito de viabilizar a sua aplicação e realizar as suas funções de
garantia do indivíduo e de tutela de bens jurídico-penais, sempre com a plena observância
dos direitos humanos.
Para realizar esses objetivos, dividiu-se este capítulo em três seções, estando
a primeira voltada a descrever o objeto da ciência do direito penal; a segunda, a tarefa
dessa ciência; e a terceira, o seu método.

SEÇÃO I
O OBJETO DA CIÊNCIA DO DIREITO PENAL

Subseção I
O objeto tradicional da ciência do direito penal

A ciência do direito penal é conceituada, por José A. Sainz Cantero, como “a


disciplina que tem por objeto de estudo o ordenamento penal positivo” e, por missão,
“desenvolver sistematicamente o interpretar, em sua conexão interna, o conteúdo das

21
normas que constituem o ordenamento jurídico penal”.1 É assim que surge e é concebida,
tradicionalmente, essa ciência, conhecida, também, como dogmática jurídico-penal.
Trata-se, como se percebe, de um conceito que abrange tanto a ciência do
direito penal material quanto a ciência do direito penal processual, pois, para Paul Johann
Anselm Ritter von Feuerbach, essa ciência estaria integrada: 1) pelos “princípios sobre a
punição das ações antijurídicas em geral (parte filosófica ou geral)”; 2) pelos “direitos
particulares do Estado que tem por fim a punição das categorias especiais das ações
antijurídicas individuais (parte positiva ou especial)”; e 3) pela “doutrina da forma como
o Estado faz valer legalmente seus direitos emergentes das leis penais (processo
criminal)”, o que significa que “é, por certo, uma parte do direito processual, que
permanece vinculada ao direito criminal em sentido estrito só pelas necessidades que se
derivam do ensino acadêmico”.2

Subseção II
A crítica ao objeto tradicional da ciência do direito penal

Há uma intensa crítica ao dogmatismo jurídico-penal puro – a qual foi


produzida nos âmbitos filosófico, sociológico e criminológico -3, esse objeto deve ser
ampliado para abranger conteúdos estudados por outras áreas do conhecimento humano e
que estão relacionados à questão penal. É que a ciência do direito penal, como uma área
específica do conhecimento jurídico, depende, também, do conhecimento de outras áreas,
sendo alguns fundamentais, para não dizer imprescindíveis, para a sua compreensão,
sobretudo quando se propõe a estudar o direito penal objetivo de forma mais abrangente.
Esses conhecimentos podem ser originários tanto da filosofia – cujas
reflexões acerca do mundo não têm o compromisso de estabelecer uma relação de

1
CANTERO, Jose A. Sainz. La ciencia del derecho penal y su evolucion. Barcelona: Bosch, 1970. p. 14.
2
FEUERBACH, Paul Johann Anselm Ritter Von. Tratado de Derecho Penal: común vigente em
Alemanha. Buenos Aires: Hammurabi, 1989. p. 48.
3
Sobre a crítica filosófica, sociológica e criminológica ao objeto da ciência do direito penal tradicional,
sugere-se a leitura do capítulo II da obra: BISSOLI FILHO, Franciso. O Objeto da Ciência do Direito
Penal. Florianóplis: Empório do Direito, 2015.

22
verdade em face da realidade, mas, apenas, de verdades possíveis, pois ela se atém aos
significados mais profundos dos objetos, o que implica a produção de um conhecimento
sempre em mutação, ou seja, que não seja definitivo - quanto de outras ciências – cujo
conhecimento é obtido em relação a objetos específicos, por meio de métodos de análise
e de leis também próprios, com vistas a estabelecer relações de causa e efeito -, como é o
caso da sociologia, da história, da ciência política, da economia e, sobretudo, da
criminologia e da política criminal.
Além disso, o que se percebe é que, na sua concepão tradicional, embora as
normas penais e processuais penais constitucionais e internacionais integrem o direito
penal objetivo, o conceito tradicional desse direito não enfatiza a importância dessas
normas, de modo que o estudo dessa ciência acaba recaindo, basicamente, sobre a
legislação infraconstitucional, ou seja, sobre os códigos penais e processuais penais e
sobre a legislação penal e processual penal extravagante.

Subseção III
A reconfiguração do objeto da ciência do direito penal

A legislação infraconstitucional, obviamente, deve continuar integrando o


objeto de estudo dessa ciência, mas não se pode deixar de ressaltar que ela deve ser
estudada em conjunto com as normas de direito internacional sobre direitos humanos e
com as normas constitucionais, isso porque, na contemporaneidade, constata-se um
movimento no sentido da constitucionalização desses direitos.
No Brasil, muitos dos direitos humanos já fazem parte da Constituição de
1988, mais especificamente nos seus artigos 5o ao 7o, que apresentam um rol extenso de
direitos e garantias individuais, coletivos, sociais, da nacionalidade e políticos.
É importante destacar que a norma do artigo 5o, parágrafo 1o, da Constituição
Federal prevê, também, a aplicabilidade imediata dos direitos e das garantias
fundamentais, e que a norma do inciso II desse mesmo artigo confere especial relevo ao
princípio geral da reserva legal, expresso sob a fórmula de que “ninguém será obrigado a
fazer ou a deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. Essa norma consagra a

23
ideia de que qualquer intervenção permitida constitucionalmente na disciplina dos
direitos fundamentais há de ocorrer mediante lei formal, isto é, por força de decisão do
legislador e, quando ocorrer no âmbito das liberdades individuais, deve estar autorizada
pela Constituição.
Outro aspecto a ser enfatizado é o princípio da dignidade da pessoa humana,
que se encontra inserido no inciso III do artigo 1o da Constituição Federal como um dos
fundamentos do Estado Democrático de Direito e espelha o respeito ao ser humano, o que
se realiza não só pelo reconhecimento mas também pela garantia de um conjunto de bens
ou valores imprescindíveis, essenciais mesmo, ao indivíduo e à comunidade da qual faz
parte.
O conteúdo do significado da dignidade da pessoa humana, segundo Ingo
Wolfganf Sarlet, inclui uma quantidade maior de elementos na constituição do conceito
de dignidade da pessoa humana, a qual é concebida como "a qualidade intrínseca e
distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e
consideração por parte do Estado e da comunidade". Isso implica reconhecer, segundo
esse autor, que, nesse sentido, a dignidade humana abrange "um complexo de direitos e
deveres fundamentais" que visam a: 1) assegurar a pessoa "contra todo e qualquer ato de
cunho degradante e desumano"; 2) garantir-lhe "as condições existenciais mínimas para
uma vida saudável"; e 3) propiciar e promover sua "participação ativa e co-responsável
nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres
humanos".4
A importância do princípio da dignidade da pessoa humana para o Direito
Penal é evidente, uma vez que o sujeito passivo da atividade punitiva estatal é a pessoa
humana, que, mesmo sendo a autora ou partícipe da infração penal, não perde essa
condição. A propósito, Sarlet alerta para o fato de que "não se deverá olvidar que a
dignidade – ao menos de acordo com o que parece ser a opinião largamente majoritária
– independe das circunstâncias concretas, já que inerente a toda e qualquer pessoa
humana". Isso significa admitir "que, em princípio, todos – mesmo o maior dos
criminosos – são iguais em dignidade, no sentido de serem reconhecidos como pessoas –

4
SARLET, Ingo Wolfganf. As dimensões da dignidade da pessoa humana: construindo uma compreensão-
constitucional necessária e possível. In:___ (Org). Dimensões da dignidade: ensaios de filosofia do
Direto e Direito Constitucional. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 13-43. p. 37.

24
ainda que não se portem de forma igualmente digna nas suas relações com seus
semelhantes, inclusive consigo mesmos".5
Nessa mesma linha, Michael Kloepfer acentua que todas as pessoas possuem
dignidade, independentemente de qualquer atributo, inclusive se o indivíduo não tiver
consciência dela. Esse autor corrobora a compreensão de que não é possível perdê-la,
devendo ser respeitada da mesma maneira a dignidade de um criminoso, seja qual for o
ato praticado. Por fim, esse mesmo autor defende que é possível ocorrerem intervenções
na dignidade da pessoa humana justificadas pela proteção de “bens comunitários
importantes”, uma vez que os titulares de direitos fundamentais estão inseridos em uma
comunidade e que a dignidade da pessoa humana está contida na constituição.6
No dizer de Sarlet, a dignidade da pessoa humana tem duas dimensões, ou
seja, uma dimensão negativa e outra prestacional, pois ela "é simultaneamente limite e
tarefa dos poderes estatais e, no nosso sentir, da comunidade em geral de todos e de cada
um, condição dúplice esta que também aponta para uma paralela e conexa dimensão
defensiva e prestacional da dignidade". Na sua dimensão negativa, "a dignidade implica
não apenas que a pessoa não pode ser reduzida à condição de mero objeto da ação
própria e de terceiros, mas também o fato de a dignidade gera direitos fundamentais
(negativos) contra atos que a violem ou a exponham a graves ameaças". Já, da sua
dimensão positiva "decorrem deveres concretos de tutela por parte dos órgãos estatais,
no sentido de proteger a dignidade de todos, assegurando-lhe também por meio de
medidas positivas (prestações) o devido respeito e promoção".7
Assim, por ser desenvolvida, integralmente, em ambiente estatal, em face do
monopólio estatal da violência, deve o princípio da dignidade da pessoa humana,
também, orientar a atividade punitiva estatal, tendo sempre em mente que, como suspeito,
acusado, condenado ou apenado, o indivíduo não perde a sua condição humana.

5
SARLET, Ingo Wolfganf. As dimensões da dignidade da pessoa humana: construindo uma compreensão-
constitucional necessária e possível. In:___ (Org). Dimensões da dignidade: ensaios de filosofia do
Direto e Direito Constitucional. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 13-43. p. 20.
6
KLOEPFER, Michael. Vida e dignidade da pessoa humana. In: ___ (Org.). Dimensões da Dignidade:
Ensaios de Filosofia do Direito e Direito Constitucional. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2009. p. 152-153 e 168.
7
SARLET, Ingo Wolfganf. As dimensões da dignidade da pessoa humana: construindo uma compreensão-
constitucional necessária e possível. In:___ (Org). Dimensões da dignidade: ensaios de filosofia do
Direto e Direito Constitucional. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 13-43. p. 32.

25
Embora as normas sobre direitos fundamentais estejam diluídas em diversos
artigos da Constituição Federal de 1988, há de se ressaltar a existência de normas
constitucionais penais e processuais penais específicas previstas, sobretudo, no capítulo
dos direitos e garantias individuais, as quais interessam ao campo mais estrito da ciência
do direito penal. Entre essas normas, estão as que dispõem sobre a legalidade penal
(artigo 5o, inciso XXXIX), sobre a irretroatividade da lei penal maléfica e retroatividade
da lei penal benéfica (artigo 5o, inciso XL), sobre as penas permitidas e o princípio da
individualização das penas (artigo 5o, inciso XLVI), sobre o princípio da humanidade e as
penas proibidas (artigo 5o, inciso XLVII), sobre o respeito à integridade física e moral dos
presos (artigo 5o, XLIX), sobre a imprescritibilidade e a inafiançabilidade dos crimes de
racismo e da ação de grupos armados contra a ordem constitucional e o Estado
democrático (artigo 5o, incisos XLII e XLIV), sobre o princípio da pessoalidade, da
personalidade ou da intranscendência da sanção penal (artigo 5o, inciso XLV), sobre a
separação dos presos (artigo 5o, inciso XLVIII), sobre o direito de amamentação às
presidiárias (artigo 5o, inciso L), sobre a inimputabilidade dos menores de 18 (dezoito)
anos (artigo 228), sobre a vedação dos tribunais de exceção (artigo 5o, inciso XXXVII),
sobre o tribunal do júri (artigo 5o, inciso XXXVIII), sobre a inafiançabilidade e a
insuscetibilidade à anistia e à graça dos crimes hediondos e assemelhados (artigo 5o,
inciso XLIII), sobre o estado de inocência ou a não culpabilidade (artigo 5 o, inciso
LVIII), sobre as limitações à extradição (artigo 5o, incisos LI e LII), sobre a
jurisdicionalidade (artigo 5o, inciso LIII), sobre o devido e justo processo legal (artigo 5o,
inciso LIV), sobre o contraditório e a ampla defesa (artigo 5o, inciso LV), sobre a
inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos (artigo 5o, inciso LVI), sobre as
limitações à identificação criminal (artigo 5o, inciso LVIII), sobre a admissibilidade da
ação penal privada subsidiária da pública (artigo 5o, inciso LIX), sobre a publicidade dos
atos processuais (artigo 5o, inciso LX), sobre as limitações à prisão provisória (artigo 5 o,
inciso LXI), sobre necessidade da comunicação imediata da prisão à família do preso ou
pessoa por ele indicada (artigo 5o, inciso LXII), sobre o direito do preso à identificação
dos responsáveis pela sua prisão (artigo 5o, inciso LXIV), sobre o relaxamento imediato
da prisão ilegal (artigo 5o, inciso LXV), sobre a obrigatoriedade da liberdade provisória
quando a lei a admitir (artigo 5o, inciso LXVI), sobre o habeas corpus (artigo 5o, inciso

26
LXVIII), sobre o mandado de segurança (artigo 5o, incisos LXIX e LXX) e sobre a
assistência judiciária gratuita (artigo 5o, inciso LXXIV).
Essas normas penais e processuais não têm, ainda, merecido a devida atenção
no estudo sistemático da ciência penal, em face, sobretudo, de uma visão atomizada que
leva a que essas normas sejam estudadas, muitas vezes, apenas, pela ciência do direito
constitucional, não integrando o objeto específico de estudo da ciência do direito penal.
Também as normas penais e processuais penais internacionais relativas a
direitos humanos devem integrar o objeto de estudo da ciência do direito penal em face
da sua relevância e da sua positivação.8
Não se pode perder de vista que a positivação dos direitos humanos
fundamentais, nos moldes atuais, iniciou-se com a Carta das Nações Unidas de 1945 e
com a Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948, após o que surgiram
vários tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos. Esses diplomas
podem ser sistematizados conforme sejam de interesse universal (sistema universal) ou
de interesse regional (sistema regional) e por tratarem de temas gerais (sistema geral) ou
especiais (sistema especial).9 Tem-se, portanto, um sistema universal-geral10 e um sistema

8
Sobre o processo de positivação dos direitos humanos, ver o parágrafo 4 o da subseção II da seção I do
capítulo III, da obra: BISSOLI FILHO, Francisco. O Objeto da Ciência do Direito Penal: Descrição –
Crítica – Reconfiguração. Florianópolis: Empório do Direito, 2015. Esse processo de positivação dos
direitos humanos no plano internacional deu-se, no dizer de Araújo e Andreiuolo, em duas etapas, isto é,
num primeiro momento, por meio de declarações e, depois, pelos tratados, isto é, “inicialmente, os direitos
humanos foram individualizados e explicitados em declarações (internacional e interamericana) cujo valor
jurídico é, em princípio, não vinculante, mas cujo conteúdo pode passar a ser obrigatório na medida em
que contenha ou expresse uma fonte de direito internacional. Em um segundo momento, os direitos foram
plasmados em tratados – instrumentos jurídicos obrigatórios por natureza -, para aqueles que manifestem
seu consentimento em obrigar-se, e relativos a um conjunto de direitos em particular”. (ARAÚJO, Nádia
de; ANDREIULO, Inês da Matta. A internalização dos tratados no Brasil e os direitos humanos. In:
BOUCAULT, Carlos Eduardo de Abreu; ARAÚJO, Nadia de (Org). Os direitos humanos e o direito
internacional. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. p. 63-113. p. 72).
9
Piovesan explica que “os sistemas geral e especial são sistemas de proteção complementares, na medida
em que o sistema especial de proteção é voltado, fundamentalmente, à prevenção da discriminação ou à
proteção de pessoas os grupos de pessoas particularmente vulneráveis, que merecem proteção especial.
Daí apontar-se não mais o indivíduo genérica e abstratamente considerado, mas ao indivíduo
‘especificado’, considerando-se categorizações relativas ao gênero, idade, etnia, raça, etc. O sistema
internacional passa a reconhecer direitos endereçados às crianças, aos idosos, à mulheres, às pessoas
vítimas de tortura, às pessoas vítimas de discriminação racial, dentre outros”. (PIOVESAN, Flávia.
Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 5. ed. São Paulo: Max Limonad, 2003. p.
188).
10
Entre os diplomas de direito internacional que formam o sistema universal-geral, além da Carta das
Nações Unidas de 1945 e da Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948 antes mencionados,
estão o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966; o Pacto Internacional
dos Direitos Civis e Políticos de 1966; o Protocolo Facultativo Relativo ao Pacto Internacional dos

27
universal-especial,11 assim como sistemas regionais-gerais12 e sistemas regionais-
especiais.13 Os sistemas regionais buscam a proteção dos direitos humanos no plano
regional, podendo-se destacar, entre esses sistemas, o europeu, americano e africano.14
Faz parte da tradição da ciência do direito penal o estudo das normas penais e
processuais penais infraconstitucionais, como é o caso dos códigos penais e processuais
penais e da legislação penal e processual esparsa. No entanto, o que deve ser ressaltado é
que essas normas devem ser estudadas em conjunto com as normas de direito
internacional sobre direitos humanos e com as normas constitucionais, as quais devem
integrar o objeto de estudo dessa ciência. Por isso, nenhum estudo sobre as normas penais
e processuais penais infraconstitucionais pode ser realizado sem que sejam observadas as
normas constitucionais e internacionais sobre direitos humanos, em face da posição
hierárquica superior por estas ocupadas no ordenamento jurídico.

Direitos Civis e Políticos de 1966; e o Segundo Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional de Direitos
Civis e Políticos para a Abolição da Pena de Morte de 1989.
11
Entre os diplomas de direito internacional do sistema global-especial que tratam, entre outras, de normas
relativas ao direito penal e ao direito processual penal, cabe citar a Convenção sobre a Prevenção e a
Sanção do Crime de Genocídio de 1948; a Convenção n. 105 da Organização Internacional do Trabalho
Relativa à Abolição do Trabalho Forçado de 1957; a Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou
Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes de 1984; as Regras Mínimas das Nações Unidas Para a
Administração da Justiça da Infância e da Juventude (Regras de Beijing) de 1985; a Convenção sobre os
Direitos da Criança de 1989; os Princípios Básicos Para o Tratamento de Reclusos de 1990; a Convenção
Contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas de 1991; o Estatuto de Roma Sobre
o Tribunal Penal Internacional de 1998; a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado
Transnacional de 2000 (Convenção de Palermo); o Protocolo Relativo ao Combate ao Tráfico de
Migrantes por Via Terrestre, Marítima e Aérea de 2000; o Protocolo Relativo à Prevenção, Repressão e
Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças de 2000; o Protocolo Contra a
Fabricação e o Tráfico Ilícito de Armas de Fogo, suas Peças e Componentes e Munições de 2001.
12
Entre os diplomas normativos do sistema regional-geral, encontram-se a Declaração Americana dos
Direitos do Homem de 1948; a Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969 (Pacto de São José da
Costa Rica); e o Protocolo Adicional à Convenção Americana de Direitos Humanos em Matéria de
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1988 (Protocolo de San Salvador).
13
Entre os diplomas do sistema regional-especial, por conterem, também, normas penais e processuais
penais, cabe uma referência especial ao Tratado para a Proscrição das Armas Nucleares na América
Latina e no Caribe de 1967 (Tratado de Tlatelolco); à Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a
Tortura de 1985; ao Protocolo Adicional à Convenção Americana Sobre Direitos Humanos à Abolição da
Pena de Morte de 1990; à Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra
a Mulher 1994 (Convenção de Belém do Pará); e à Convenção Interamericana Contra a Corrupção de
1996, que são diplomas de direito internacional que tratam de aspectos penais e processuais.
14
Piovesan afirma que “cada qual dos sistemas regionais de proteção apresenta um aparato jurídico
próprio”¸ de modo que “o sistema interamericano tem como principal instrumento a Convenção
americana de Direitos Humanos de 1969, que estabelece a Comissão Interamericana de Direitos Humanos
e a Corte Interamericana. Já o sistema europeu conta com a Convenção Européia de Direitos Humanos de
1950, que estabelece a Comissão e a Corte Européia de Direitos Humanos. Por fim, o sistema africano
apresenta como principal instrumento a Carta Africana de Direitos Humanos” (PIOVESAN, Flávia.
Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 5. ed. São Paulo: Max Limonad, 2003. p.
226).

28
Embora as teorias gerais do Estado, da constituição, do direito e dos direitos
humanos, assim como as teorias penais e processuais penais específicas, não possam ser
confundidas com a legislação penal e processual penal, devem elas integrar, também, o
objeto de estudo da ciência do direito penal, mesmo quando não recepcionadas pelo
direito penal objetivo.
Sobre a distinção entre as teorias jurídicas e a dogmática jurídica, esclarece-se
que aquelas não são normas jurídicas, pois restringem-se à análise lógica, formal e
abstrata de hipóteses construídas pelos seus autores, sem que estejam adstritas aos
conteúdos dos textos normativos, embora possam por estes ser recepcionadas. Elas
podem, inclusive, preceder os textos normativos, que são os reais objetos da dogmática
jurídica, e servir de “lentes” por meio das quais o dogmático procede à leitura do material
normativo e realiza a sua explicação, resultando, nesse caso, conectadas, intimamente, ao
produto da interpretação.
Por isso, as teorias devem integrar o objeto da ciência do direito penal ao lado
dos textos normativos sem se confundirem com estes. Há, portanto, uma diferença
substancial em relação à dogmática jurídico-penal tradicional, pois aquilo que era
pressuposto teórico do estudo dogmático, passa a integrar o objeto de estudo da ciência
do direito penal, em face da sua influência na produção do resultado científico.
Assim, as teorias do Estado, do direito, da constituição e dos hireitos
humanos, além das teorias penais e processuais penais específicas, devem integrar,
necessariamente, o objeto de estudo da ciência do direito penal, pois é a partir dessas
teorias que a ciência constrói os sentidos dos textos normativos.
Também as metarregras15 devem integrar o objeto estudo da ciência do direito
penal. Não sendo escritas, as metarregas, também denominadas regras de aplicação, são
assim denominadas por regularem a aplicação das demais regras, que são chamadas de
regras de superfície. As metarregras interferem na interpretação dessas regras de
superfície e lhes dão contorno e efetividade, razão pela qual elas, também, são por demais
importantes para o estudo da ciência do direito penal.

15
Sobre o conceito de metarregras, ver a subseção II da seção III do capítulo III da obra: BISSOLI FILHO,
Francisco. O Objeto da Ciência do Direito Penal: Descrição – Crítica – Reconfiguração. Florianópolis:
Empório do Direito, 2015.

29
As metarregras podem ser gerais, quando orientam a aplicação de qualquer
regra jurídica, como é o caso da ideologia, e específicas, quando orientam a aplicação das
normas penais e processuais penais, como ocorre com as ideologias penais específicas e
com os estereótipos e estimas criminais.
Também o conjunto das decisões jurídicas adotadas nas mais variadas
instâncias do sistema de justiça criminal sobre os mais diversos problemas deve integrar
o objeto de estudo da ciência do direito penal, uma vez que são essas decisões e
problemas que dão efetividade ao direito penal e processual penal.
Portanto, dada a sua importância, os problemas ou casos que se apresentam às
agências o controle penal e as suas decisões em face desses problemas ou casos devem
integrar o objeto de estudo da ciência do direito penal, à qual cabe a análise dos atos de
fala e dos discursos dessas agências de controle na interpretação e aplicação das regras
nos casos concretos.
Em suma, pode-se dizer que o objeto da ciência do direito penal ou dogmática
jurídico-penal deverá abranger os seguintes conteúdos: 1) os fundamentos filosóficos,
sociológicos, históricos, políticos, econômicos, criminológicos e político-criminais do
direito penal e processual penal; 2) a legislação penal e processual penal constitucional e
internacional sobre direitos humanos; 3) a legislação penal e processual penal
infraconstitucional; 4) as teorias gerais relacionadas com a ciência do direito penal, ou
seja, as teorias do Estado, as teorias constitucionais, as teorias do direito e as teorias dos
direitos humanos; 5) as teorias penais e processuais penais específicas; 6) as metarregras
penais e processuais penais, que compreendem as ideologias gerais e específicas e os
estereótipos e os estigmas criminais, por influenciarem, como regras de aplicação, a
interpretação das demais normas penais e processuais penais; e 7) as decisões jurídicas,
que formam a jurisprudência e os problemas e os casos penais e processuais penais.
É sobre esse objeto ampliado que se deve debruçar a dogmática jurídico-
penal, de modo a propiciar uma interpretação mais abrangente acerca do material
normativo, ou seja, uma sistema de conceitos que contenham sentidos mais adequados e
que garantam, com efetividade e eficácia, os direitos humanos.

30
SEÇÃO II
A TAREFA DA CIÊNCIA DO DIREITO PENAL

Subseção I
A tarefa tradicional da ciência do direito penal

Tradicionalmente, conforme explica Arturo Rocco, “a tarefa e a função da


ciência da ciência do direito penal” tem sido “a elaboração técnico-jurídica do direito
penal positivo vigente”.16
Isso significa dizer que, no dizer de Hans Kelsen, a ciência do direito penal
tem o propósito de realizar a interpretação científica das leis, para servir à decisão dos
órgãos aplicadores das leis, repudiando, assim, a atividade criadora da interpretação
científica. Segundo esse autor, deve-se “distinguir-se rigorosamente a interpretação do
Direito feita pela ciência jurídica como não autêntica, da interpretação realizada pelos
órgãos jurídicos”. Para Kelsen, “a interpretação científica é pura determinação
cognoscitiva do sentido das normas jurídicas” e, “diferentemente da interpretação feita
pelos órgãos jurídicos, ela não é criação jurídica”. Segundo esse autor, “a ideia de que
é possível, através de uma interpretação simplesmente cognoscitiva, obter direito novo, é
o fundamento da chamada jurisprudência dos conceitos, que é repudiada pela Teoria
Pura do Direito”. A interpretração científica do direito, para Kelsen, seria “incapaz de
colmatar as pretensas lacunas do direito”, pois “o preenchimento da chamada lacuna do
direito é uma função criadora de direito que somente pode ser realizada por um órgão
aplicador do mesmo; e esta função não é realizada pela via da interpretação do direito
vigente”. No dizer desse autor, “a interpretação jurídico científica não pode fazer outra
coisa se não estabelecer as possíveis significações de uma norma jurídica”, de modo
que, “como conhecimento do seu objeto, ela não pode tomar qualquer decisão entre as
possibilidades por si mesmas reveladas, mas tem de deixar tal decisão ao órgão que,
segundo a ordem jurídica, é competente para aplicar o direito”. Sobre as distinções entre
as funções jurídico-científicas e jurídico-política, Kelsen explica que, quando um

16
ROCCO, Arturo. El problema y el método del derecho penal. Bogotá: Temis, 1982. p. 15.

31
advogado que, no interesse do seu constituinte, “propõe ao tribunal apenas uma das
várias interpretações possíveis da norma jurídica a aplicar a certo caso” e quanto e um
escritor, em seu comentário, “elege uma interpretação determinada, de entre as várias
interpretações possíveis, como a única ‘acertada’”, estão realizando funções jurídico-
política (política jurídica) e não funções jurídico-científicas, isto porque “eles procuram
exercer influência sobre a criação do Direito”, oque “não lhes pode evidentemente ser
proibido”, todavia, “não o podem fazer em nome da ciência jurídica, como
freqüentemente fazem”.17
Kelsen ressalta, também, uma tarefa importante da interpretação jurídico-
científica, relacionada com a tarefa do legislador (lege ferenda) e não, somente, a servir à
decisão, pois, segundo esse autor, uma interpretação estritamente científica de uma lei ou
de um tratado de direito internacional pode revelar “todas as significações possíveis,
mesmo aquelas que são politicamente indesejáveis e que, porventura, não foram de
forma alguma pretendidas pelo legislador ou pelas partes que celebraram o tratado, mas
que estão compreendidas na fórmula verbal por eles escolhida”, de modo que “pode ter
um efeito prático que supere de longe a vantagem política da ficção do sentido único”.
Isso significa dizer, explica Kelsen, “que uma tal interpretação científica pode mostrar à
autoridade legisladora quão longe está a sua obra de satisfazer a exigência técnico-
jurídica de uma formulação de normas jurídicas o mais possível inequívocas”. Além
disso, afirma esse autor que a interpretação científica pode demonstrar que a formulação
legislativa pode ser feita de “maneira tal que a inevitável pluralidade de significações
seja reduzida a um mínimo e, assim, se obtenha um maior grau possível de segurança
jurídica”.18
No âmbito do pensamento marxista, Eugeny Pasukanis explica que a
dogmática jurídica tem se ocupado do “desenvolvimento dos conceitos jurídicos
fundamentais, isto é, os mais abstratos”, entre os quais estão, por exemplo, “as
definições de ‘norma jurídica’, de ‘relação jurídica’, de ‘sujeito do direito’, etc.”, os
quais “são o resultado de uma elaboração lógica das normas de direito positivo e
representam, em comparação com o caráter espontâneo das relações jurídicas e das

17
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 395-396.
18
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 396-397.

32
normas que os exprimem, o produto tardio e superior de uma criação consciente”. Em
suma, “a tarefa dessa ciência do direito limita-se, portanto, exclusivamente a ordenar
lógica e sistematicamente os diferentes conteúdos normativos”.19
A interpretação jurídico-científica serve, também, para orientar as pessoas em
geral a se guiarem conforme os textos legais.
Especificamente sobre o papel exercido pela ciência do direito penal,
Francesco Carrara o expõe no prefácio da quinta edição da sua obra Programa do Curso
de Direito Penal, segundo a qual essa ciência tem o propósito de “resumir na fórmula
mais simples a verdade reguladora de toda a ciência”. Isso significa dizer, explica esse
autor, que ela deve “conter em si o princípio da solução de todos os problemas que o
criminalista deve estudar, bem como todos os preceitos que governam a vida prática da
mesma ciência nos três grandes fatos que lhe constituem o objeto”, pois “tem ela por
missão enfrear as aberrações da autoridade social, na proibição, na repressão e no
juízo, para que tal autoridade se mantenha nos caminhos da justiça e não degenere em
tirania”. Dito de outra forma, segundo Carrara, “a ciência tem por função moderar os
abusos da autoridade no exercício daqueles três grandes fatos”. Para esse autor, “está
nessa obra, que constitui a atividade substancial e a razão de ser da organização social,
o complemento da ordem, quando os mesmos fatos são devidamente regulados”. Por sua
vez, explica Carrara, quando esses fatos não estiverem regulados ou se estivessem
entregues às paixões ou aos caprichos do legislador, seriam eles “uma perene fonte de
desordens e iniquidades”. Por isso, “os preceitos destinados a moderar por essa forma o
poder legislativo devem remontar a um princípio comum e fundamental; e a fórmula que
exprime tal princípio é o programa da ciência criminal.20
Mais explícito, Hans Welzel afirma que “é missão da ciência do direito penal
desenvolver o conteúdo dessas regras jurídicas e sua conexão interior, isto é,
sistematicamente, e interpretá-las”, cuja sistematicidade “dá o fundamento para uma
equânime e justa administração da justiça, já que somente a compreensão dessa
estrutura interior do direito eleva sua aplicação sobre a causalidade e arbitrariedade”.

19
PASUKANIS, Eugeny Bronislanovich. A teoria geral do direito e o marxismo. Rio de Janeiro: Renovar,
1989. p. 11 e 15.
20
CARRARA, Francesco. Programa do curso de direito criminal. Campinas: LZN, 2002. v. 1, p. 49, e v.
2. p. 23-24.

33
Por isso, além de ser uma ciência sistemática, Welzel afirma que a ciência do direito
penal é uma ciência prática, tanto porque é sua vocação servir à administração justiça,
“mas, também, em sentido mais profundo, porque é uma teoria do atuar humano justo e
injusto, de maneira que suas últimas raízes chegam até os conceitos básicos da filosofia
prática.21
Também para Francisco de Assis Toledo, a ciência do direito penal “é um
conjunto de conhecimentos e princípios, ordenados metodicamente, de modo a tornar
possível a elucidação do conteúdo das normas penais e dos institutos em que elas se
agrupam, com vistas à sua aplicação aos casos ocorrentes, segundo critérios rigorosos
de justiça”.22
O propósito dessa ciência, na visão tradicional, é a explicação do direito penal
objetivo, do qual procura extrair os seus sentidos e construir, a partir deles, um sistema de
conceitos interconectados internamente, com vistas à propiciar a sua aplicação prática.

Subseção II
A crítica à tarefa tradicional da ciência do direito penal

Há, no entanto, uma crítica filosófica, sociológica e criminológica acerca


dessa tarefa tradicional da ciência do direito penal.
A crítica filosófica se direciona, sobretudo, à tentativa kelseniana de
purificação da ciência das concepções valorativas, isso porque o direito somente pode ser
compreendido no âmbito dos valores, pois é uma manifestação cultural, de modo que a
jurisprudência deve estar orientada não somente por interesses, mas, sobretudo, por
valores, que se evidenciam no discurso das teorias dos direitos humanos, que são a base
dos Estados democráticos constitucionais.
A propósito, Claus Roxin afirma que “o caminho correto só pode ser deixar
as decisões valorativas político-criminais introduzirem-se no sistema do direito penal”.
Com isso, explica esse autor, “submissão ao direito e adequação a fins político-criminais

21
WELZEL, Hans. Direito penal. Campinas: Romana, 2004. p. 27.
22
TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal. 5.ed. São Paulo: Saraiva, 1994. p.1-2.

34
não podem contradizer-se, mas devem ser unidas numa síntese, da mesma forma que
Estado de Direito e Estado Social não são opostos inconciliáveis, mas compõem uma
unidade dialética”. Roxin é enfático ao afirmar que “uma ordem jurídica sem justiça
social não é um Estado de Direito material, e tampouco pode utilizar-se da denominação
Estado Social um Estado planejador e providencialista que não acolha as garantias de
liberdade do Estado de Direito”.23
A crítica sociológica, por sua vez, indica que é necessário ter em mente que
os textos normativos, objetos da dogmática jurídico-penal, não são neutros, pois são
produtos da luta política, de modo que a realidade criminal é construída a partir desses
textos, que são produtos do “poder de definição” dos grupos políticos vitoriosos.
Por fim, a crítica criminológica concita a não se perder de vista que, se as leis
são produtos da luta política, elas violam os direitos humanos dos grupos vencidos. Além
disso, se a tarefa executada pela dogmática jurídico-penal é sistematizar os conceitos a
partir dessas leis, como instância oficial do sistema de controle penal, essa ciência pode
contribuir para a violação institucional de direitos humanos, pois pode servir para a
manutenção do sistema desigual de criminalização.
Nessa perpectiva, Eugênio Raúl Zaffaroni sustenta que a ciência do direito
penal tem a tarefa de realizar “a construção discursiva que interpreta as leis de conteúdo
punitivo (leis penais) para dotar a jurisdição dos limites exatos para o exercício de seu
poder decisório e dos modelos ou opiniões não contraditórios para os conflitos que o
poder das demais agências seleciona a fim de submetê-los à sua decisão, de modo a
proceder de forma socialmente menos violenta”.24
Portanto, se a produção do material normativo nas instâncias políticas não é
uma atividade neutra, por resultar dos embates entre grupos, os quais se defendem
valores, também a construção discursiva da ciência do direito penal não pode ser neutra e
avalorativa. Ela deve ter como valores os mesmos encerrados no conteúdo normativo,
que não pode ser dissociado dos direitos humanos, por conterem estes o aporte normativo
e teórico nos Estados democráticos de direito.

23
ROXIN, Claus. Política criminal e sistema jurídico-penal. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. p. 20.
24
ZAFFARONI, Eugênio Raúl. Em Busca das Penas Perdidas: a perda de legitimidade do sistema
penal. Rio de Janeiro: Revan, 1991, p. 206.

35
Subseção III
A reconfiguração da tarefa da ciência do direito penal

Assim, a ciência do direito penal deve tomar consciência do seu caráter


valorativo e de que, nos Estados democráticos constitucionais, esses valores são os que
estão expressos nas normas constitucionais e internacionais sobre direitos humanos. Além
disso, é necessário não perder de vista que a sua tarefa não é somente de propiciar a
sistematização do conhecimento jurídico-penal com vistas à correção das decisões
judiciais, mas, sobretudo, a construir um conhecimento voltado à proteção dos direitos
humanos. Isso significa dizer que essa ciência para a ter, por tarefa principal, a busca do
equilíbrio entre não intervenção estatal na esfera penal (direito a ações estatais negativas)
e a tutela penal de bens jurídicos (direitos a ações estatais positivas), o que decorre da
importância dos direitos humanos nos Estados democráticos constitucionais.
Trata-se, na realidade, de reavaliar as funções que devem ser exercidas por
essa ciência, que, tadicionalmente, estão relacionadas com a construção sistemática de
conceitos que possibilitem a aplicação prática dos textos normativos, a fim de que se
possa propiciar a sua aplicação equânime, produzindo, assim, segurança jurídica.
Nessa nova conformidade, passa-se a exigir da ciência do direito penal que a
construção conceitual encerre, também, tarefa conciliatória entre duas forças que se
opõem no campo dos direitos humanos: por um lado, o direito fundamental à não
intervenção estatal, a fim de reduzir a violência institucional, e, por outro, o direito
fundamental de tutela penal de bens jurídicos fundamentais, a fim de evitar a violação
individual ou grupal de direitos humanos e possibilitar a criminalização igualitária dos
violadores das normas penais.
Trata-se de uma tarefa que, visando a construção de um sistema de conceitos
que busque a conciliação de duas forças que parecem opostas, mas que, levando em
consideração as normas e as teorias relacionadas com os direitos humanos, revela que
essas forças tidas como opostas, são, na realidade, convergentes, pois procuram garantir,
pela tutela penal, a satisfação das necessidades reais para cada um dos indivíduos, na sua
relação com os demais indivíduos e com a coletividade e desta relação àqueles.

36
SEÇÃO III
O MÉTODO DA CIÊNCIA DO DIREITO PENAL

Subseção I
O método tradicional da ciência do direito penal

Na realização da sua tarefa, a ciência do direito penal se utiliza do método


técnico-jurídico ou lógico-abstrato, que, segundo Luís Alberto Warat, é “considerado
pela dogmática jurídica como o único método possível de estudo da ciência jurídica” e
consiste em “um trabalho de lógica e de técnica jurídica, através do qual se realizam
operações de análise e síntese, de dedução e indução que dariam como resultado uma
série de conceitos e princípios pro meio dos quais se obteria uma interpretação clara de
regras legais integrantes do direito positivo”.25
Esse método, explica Warat, divide-se em três etapas: a “exegese”, a
“dogmatização” e a “sistematização”. A primeira etapa, a da “exegese”, explica esse
autor, “compreende a época da conceitualização dos textos legais” e tem, como
pressuposto, “que não há mais direito que o ordenamento jurídico estabelecido através
das leis validamente ditadas e vigentes”. Assim, para Warat, realiza-se a “interpretação
da lei através do método denominado exegético”.26 A “dogmatização jurídica”, segunda
etapa do método técnico-jurídico, no dizer desse autor, consiste na “fixação dos dogmas
jurídicos, da elaboração das preposições, categorias e princípios obtidos a partir de
conceitos jurídicos, extraídos dos textos legais”. Assim, segundo Warat, “obtém-se os
princípios gerais”, o que dignifica dizer, “os dogmas que marcam a pauta diretora, que
ordenam teoricamente o funcionamento do conjunto das normas legais vigentes para
qualquer situação jurídica através dos institutos ou construções jurídicas”.27 Por fim, a
terceira etapa do método técnico-jurídico, da “sistematização”, no dizer desse autor, é a

25
WARAT, Luis Alberto. Introdução geral ao direito II: a epistemologia jurídica da modernidade.
Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1995. p. 16.
26
WARAT, Luis Alberto. Introdução geral ao direito II: a epistemologia jurídica da modernidade.
Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1995. p. 17.
27
WARAT, Luis Alberto. Introdução geral ao direito II: a epistemologia jurídica da modernidade.
Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1995. p. 18.

37
etapa em que “se dá unidade às construções jurídicas”, ou seja, em que “se estabelece
uma série de conceitos e princípios que mostram certos traços de universalidade e
invariabilidade a algumas presenças estruturais comuns a todos os institutos ou
construções jurídicas”.28
Como se pode perceber, o tecnicismo jurídico nada mais fez do que
reconhecer as heranças dos métodos anteriores e reunir, em um mesmo método, isto é, as
práticas dos glosadores e dos comentadores medievais, que deram origem à exegese e à
dogmática, e dos pensadores jusracionalistas, que foram os idealizadores da
sistematização, de modo a possibilitar a obtenção de resultados mais precisos pela ciência
jurídica.
O método técnico-jurídico teve ampla aceitação, também, no âmbito da
ciência do direito penal, sobretudo a partir da conferência proferida, no dia 15 de janeiro
de 1910, pelo jurista italiano Arturo Rocco, professor da Universidade de Sássari (Itália),
como aula inaugural no curso de direito e procedimento penal dessa mesma universidade,
intitulada O Problema e o Método da Ciência do Direito Penal, na qual esse autor
procura sustentar que o método adequado para essa ciência é o da “investigação técnico-
jurídica”, a qual “se resume em três ordens de procedimentos ou de investigações: 1o)
uma investigação exegética; 2o) uma investigação dogmática e sistemática; 3o) uma
investigação crítica do direito”. Para esse autor, na exegese, considerada “a primeira
forma, a primeira manifestação do estudo científico do direito”, o investigador do direito
“se detém no mero exame do documento legislativo e em que se traduz por meio da
interpretação da lei, segundo a ordem seguida por ela mesma”. A investigação
dogmática, por sua vez, segundo esse mesmo autor, é, “como o termo mesmo o diz, a
investigação dogmaticamente descritiva e expositiva dos princípios fundamentais do
direito positivo em sua coordenação lógica e sistemática”. Por fim, a investigação crítica
é aquela que “pergunta a si mesma se tem e até que ponto uma necessidade e uma razão
de ser e se eventualmente deva substituir-se dito direito por outro diferente”. Assim, para

28
WARAT, Luis Alberto. Introdução geral ao direito II: a epistemologia jurídica da modernidade.
Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1995. p. 19.

38
Rocco, enquanto a exegese trata da “ciência da lei”, a dogmática se ocupa da “ciência do
direito”, enquanto que a crítica busca “o direito ideal”.29
Deve-se chamar a atenção que Rocco estrutura o método técnico-jurídico em
procedimentos destinados tanto à lege lata, como é o caso dos procedimentos relativos à
exegese, dogmática e sistemática, quanto à lege ferenda, quando propõe, também,
procedimentos destinados à crítica, buscando uma elaboração legislativa ideal.
Mais detalhadamente, Nilo Batista prefere designar o método da ciência do
direito penal como “método dogmático” e o divide em quatro etapas: a primeira delas é a
“demarcação do universo jurídico”, que nada mais do que “a catalogação completa dos
textos legais vigentes na área objeto de interesse”; a segunda etapa é a “análise e a
ordenação” dos textos legais válidos, o que significa dizer que as leis, primeiramente, são
“apreciadas individualmente”, para, em seguida, “a partir das suas semelhanças e
disparidades”, serem “submetidas a exercícios de agrupamento que permitirão
estabelecer a uma ainda que provisória ordem lógica”; a terceira etapa é a da
“simplificação e a categorização”, na qual “o material resultante das etapas anteriores é
simplificado, quantitativa e qualitativamente, dando origem aos princípios
classificatórios, que funcionarão como eixos categoriais”; a quarta e última etapa é a da
“reconstrução dogmática”, na qual ocorre “a classificação e a reorganização da
‘matéria’ legal”, que, “assim reconstruída, produz um sistema que revelará e demarcará
o conteúdo e o inter-relacionamento lógico dos textos legais”, os quais “são ‘devolvidos’
sob a condição de serem conhecidos através da mediação desse mesmo sistema”.30
Ao se estabelecer que as duas primeiras etapas são a catalogação dos textos
jurídicos e a sua análise e ordenação, está se afirmando que o objeto dessa ciência é,
somente, o direito positivo e, por isso, conforme Warat, está se vinculando a dogmática
jurídica “diretamente com o positivismo, limitando sua função à interpretação da lei
através do método denominado exegético que, inclusive, para alguns autores determina a
denominação desta etapa como exegética”.31

29
ROCCO, Arturo. El problema y el método de la ciencia del derecho penal. 2. ed. Bogotá: Temis, 1982.
p. 18-36.
30
BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao direito pena brasileiro. Rio de Janeiro: Revan, 1990. p. 119.
31
WARAT, Luis Alberto. Introdução geral do direito II: a epistemologia jurídica da modernidade.
Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1995. p. 17.

39
Por sua vez, quando se afirma que, após a catalogação, análise e ordenação
desses textos legislativos, deve-se extrair deles os princípios que decorrem dos conceitos
que foram os eixos categoriais, para, depois, reconstruí-los sistematicamente, o que se
constitui na reprodução e explicação do conteúdo dos referidos textos legislativos, está se
admitindo que a dogmática jurídica realiza uma atividade formal, pois, segundo Warat,
trata-se de uma atividade que “busca tão só decifrar seu significado exato, que supõe
unívoco e suscetível de ser estabelecido plenamente como tal através da
conceitualização”, o que significa dizer que “esta instância metodológica identifica o
significado do termo com o conceito referencial, o que conduz ao estabelecimento de um
conteúdo exato para a lei”. Nessa etapa do método dogmático, explica esse autor, “o
conceito seria, então, uma categoria conceitual estável, indiscutível, com significação
fechada”, razão pela qual, assim compreendida, “a dogmática jurídica se identifica com
a lógica jurídica”, caracterizando-se, principalmente, “pela conceitualização do discurso
jurídico e, por tal razão, denominou-se, também, ‘disciplina de conceitos jurídicos’”.32
A etapa da produção dos conceitos é considerada por Warat a etapa da
dogmatização jurídica, isto é da fixação dos dogmas jurídicos, pois é nela que ocorre a
“elaboração das proposições, categorias e princípios obtidos a partir de conceitos
jurídicos, extraídos dos textos legais”, os quais são “os dogmas que marcam a pauta
diretora, que ordenam teoricamente o funcionamento do conjunto das normas legais
vigentes para qualquer situação jurídica através dos institutos ou construções jurídicas”,
o que implica dizer que “o ordenamento jurídico estabelecido adquire completude, mas,
ao mesmo tempo, se reduz a categorias intelectuais”. O produto da dogmática jurídica
segundo esse autor, são os “princípios gerais de direito”, que são concebidos por alguns
autores como “diretrizes retóricas” e, pela semiótica, como “estereótipos”, que nada mais
são do que “fórmulas ocas, sem significação de base, través das quais veladamente se
introduzem critérios axiológicos, cuja participação na interpretação da lei nega a
dogmática”, mas que, por meio deles, obtém-se a completude, “logicamente exigível,
mas que a lógica não pode proporcionar sem o concurso da ideologia e da axiologia”.

32
WARAT, Luis Alberto. Introdução geral do direito II: a epistemologia jurídica da modernidade.
Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1995. p. 17-18.

40
Assim, “a alteração ou substituição de um princípio no processo de interpretação
permite obter modos indiretos de redefinição das palavras da lei”.33
No que diz respeito à sistematização dos conceitos, que também se insere da
etapa final do estudo dogmático, trata-se, segundo Warat, da atividade que busca dar
“unidade às construções jurídicas”, já que “se estabelece uma série de conceitos e
princípios que mostram certos traços de universalidade e invariabilidade a algumas
presenças estruturais comuns a todos os institutos ou construções jurídicas”, de modo a
possibiltiar o que seria a dogmática geral” ou uma “teoria geral do direito”. Nesse
estágio, explica esse autor, chega-se ao cúmulo, como proposto por Kelsen, de se
eliminar do seio da dogmática jurídica “toda noção metajurídica e não só a valoração
jurídica (a axiologia), senão também a facticidade (os fatos), ficando tão só com a norma
e seu enfoque técnico-jurídico, o qual se reduz à demonstração lógica da validade das
normas jurídicas”, de modo que “o conteúdo do direito se identifica com a norma”, o
que significa dizer que “realidade jurídica advém da norma, categoria do conhecimento
desvinculada da dinâmica existencial e do seu objetivo de valoração e justificação”. Dito
de outra forma, “a realidade jurídica não é significativa, senão tão só a norma, que é
constituinte daquela”.34
O método dogmático, explica Batista, orienta-se por dois princípios ou leis,
ou seja, a “lei da proibição da negação, segundo a qual não pode o jurista negar os
pontos de partida das séries argumentativas”, pontos estes contidos nos textos legais,
que, por isso, têm o caráter de dogma, “para que o trabalho de desenvolvimento lógico
não induza a erros sobre o conteúdo do direito”; e a “lei da proibição da contradição”,
que “exprime a impossibilidade de haver princípios ou proposições contraditórias”.35

33
WARAT, Luis Alberto. Introdução geral do direito II: a epistemologia jurídica da modernidade.
Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1995. p. 18-19.
34
WARAT, Luis Alberto. Introdução geral do direito II: a epistemologia jurídica da modernidade.
Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1995. p. 19.
35
BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao direito pena brasileiro. Rio de Janeiro: Revan, 1990. p. 118 e
119-120.

41
Subseção II
Crítica ao método tradicional da ciência do direito penal

O método tradicional de estudo das ciências penais, assim como ocorre com
as ciências jurídicas e as ciências em geral, vêm sofrendo inúmeras críticas, as quais são
produzidas, entre outros, nos âmbitos da filosofia, da sociologia e da criminologia.
Para a filosofia, a interpretação jurídica deve levar em consideração a
indeterminação do direito, de modo que os textos normativos não carregam sentidos pré-
estabelecidos, bem como a constatação, no âmbito da filosofia da linguagem, de que,
sendo a linguagem o o locus onde a realidade se constitui, também os sentidos desses
textos podem ser construídos conforme os diversos contextos quando da sua aplicação.
A crítica sociológica ao método da ciência do direito penal está relacionada à
eficácia do direito, porquanto, segundo Max Weber, é necessário levar em consideração a
racionalidade dos processos de criação e de aplicação do direito, uma vez que, “por
‘criação do direito’ entendemos atualmente o estabelecimento de normas gerais
estatuídas das quais cada uma na linguagem dos juristas, assume o caráter de uma ou
várias ‘disposições racionais’”, enquanto que a “‘aplicação do direito’ significa para nós
a utilização daquelas normas estatuídas e das respectivas ‘disposições jurídicas’ (a
serem deduzidas das primeiras pelo esforço do pensamento jurídico) a ‘fatos’ concretos
que são a elas ‘subsumidos’”.36
Essa racionalidade do direito e do procedimento jurídico, no dizer de Weber,
desenvolve-se, historicamente, “a partir da combinação de um formalismo magicamente
condicionado a uma irracionalidade determinada pela origem em revelações, no
procedimento jurídico primitivo”. Segundo esse autor, passa-se, assim, “eventualmente,
por uma racionalidade material ou não formal, ligada a um fim e patrimonialmente ou
teocraticamente condicionada, rumo a uma racionalidade e sistemática jurídica
crescentemente especializada, e portanto, lógica e, por essa via – sob aspectos

36
WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília: UnB; São
Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1999. v. 2. p. 10.

42
puramente externos -, ao progresso de sublimação lógica e do rigor dedutivo do direito e
da técnica racional do procedimento jurídico”.37
Especificamente sobre a crítica relacionada às limitações e deturpações que as
ciências jurídicas tradicionais têm imprimido na obtenção do conhecimento sobre o
direito, ressalta-se que, como não é propósito deste ensaio esgotar a crítica sociológica à
dogmática jurídica, faz-se menção, novamente, a Weber, sobretudo em face distinção que
esse autor apresentou sobre as formas de ensinar o pensamento jurídico, que podem ser o
ensinamento empírico ou “artesanal” do direito por práticos e o ensinamento teórico do
direito em escolas e na forma de um tratamento racional e sistemático, merecendo
destaque, para os propósitos deste trabalho, essa segunda forma de ensinamento do
direito.38 Entre as formas teóricas, segundo Weber, a formação universitária jurídica
racional é a mais pura, pois, somente, admite-se à prática do direito quem terminou este
curso, essa forma detém o monopólio do ensino jurídico. No entanto, esse autor apresenta
uma crítica a essa forma de produzir o conhecimento do direito pela ciência jurídica, pois,
para ele, “os conceitos que cria têm caráter de normas abstratas que, pelo menos em
princípio, são construídas de modo rigorosamente formal e racional, mediante a
interpretação lógica do sentido, e delimitadas entre si”. Ocorre que, segundo Weber, esse
“seu caráter racional-sistemático pode conduzir o pensamento jurídico a uma
considerável emancipação das necessidades cotidianas dos interessados no direito, e
mesmo efeito tem a falta relativa de elementos concretos e ilustrativos”, de modo que,
“uma vez desencadeadas as necessidades puramente lógicas da doutrina jurídica, sua
força, e a da prática por elas dominadas, pode ter a consequência de que as
necessidades dos interessados, como força motriz da elaboração do direito, acabem
quase eliminadas.39
No âmbito do pensamento marxista, merece destaque a crítica formulada, por
Eugeny Pasukanis, contra a metodologia da dogmática jurídica, uma vez que, segundo
esse autor, seria necessário “começar com a análise da forma jurídica em sua

37
WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília: UnB; São
Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1999. v. 2. p. 143.
38
WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília: UnB; São
Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1999. v. 2. p. 86.
39
WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília: UnB; São
Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1999. v. 2. p. 89.

43
configuração mais abstrata e mais pura, e, em seguida, ir pela complicação progressiva
ao concreto histórico”, ressaltando, no entanto, que “a evolução histórica não implica
apenas uma mudança no conteúdo das normas jurídicas e uma modificação das
instituições jurídicas, mas também um desenvolvimento da forma jurídica enquanto tal”.
Para esse autor, “uma tal teoria nada tem a ver com ciência”, porquanto “não pretende
analisar o direito, a forma jurídica enquanto forma histórica, pois não visa a estudar a
realidade”. Assim, não se contentando com essa limitação, esse autor sustenta ser
impossível a ciência do direito desenvolver-se sem dissolver-se na psicologia ou mesmo
na sociologia, pois as teorias jurídicas denominadas sociológicas ou psicológicas, para
ele, “buscam, com o auxílio de seu método, uma explicação do direito enquanto
fenômeno real, em sua origem e desenvolvimento”. No entanto, esse autor faz uma
importante advertência, pois “as teorias jurídicas sociológicas e psicológicas deixam
usualmente a forma jurídica fora de seus círculos de reflexões; em outros termos, elas
não percebem, pura e simplesmente, o problema que está posto”. Dito de outra forma,
essas teorias “trabalham desde o começo com conceitos extrajurídicos e ainda que
eventualmente levem em consideração definições jurídicas, somente o fazem para
apresentá-las como ‘ficção’, ‘fantasmas ideológicos’, ‘projeções’, etc.”, cuja “atitude
naturalista ou niilista inspira, à primeira abordagem, uma certa simpatia,
particularmente se opusermos às teorias jurídicas idealistas totalmente impregnadas de
teleologia e de ‘moralismo’”. Em suma, Pasukanis afirma que, para essas teorias, “o
conceito de direito é aqui considerado exclusivamente do ponto de vista de seu conteúdo;
a questão da forma jurídica enquanto tal não é colocada”. Para a teoria marxista do
direito, no entanto, sustenta esse autor, a ciência do direito “não deve apenas examinar o
conteúdo concreto dos ordenamentos jurídicos nas diferentes épocas históricas, mas
fornecer também uma explicação materialista do ordenamento jurídico como forma
histórica determinada”, de modo que “os autores marxistas, quando falam de conceitos
jurídicos, pensam essencialmente no conteúdo concreto do ordenamento jurídico
característico de uma época dada”, ou seja, “o direito em uma determinada etapa da
evolução”.40

40
PASUKANIS, Eugeny Bronislanovich. A teoria geral do direito e o marxismo. Rio de Janeiro: Renovar,
1989. p. 11, 15-18 e 38.

44
A crítica criminológica afirma que o formalismo e o tecnicismo jurídico estão
relacionados aos períodos dos regimes totalitários, uma vez que, segundo Alessandro
Baratta, o desenvolvimento dessas correntes “se produziram no clima cultural
correspondente, na Europa continental, à involução autoritária e reacionária dos
regimes políticos”, de modo que, “pondo de lado a própria ciência social burguesa, os
regimes fascistas mostraram também preferirem um tipo de jurista sociologicamente
desinformado e portador de uma ideologia atrasada, compatível, embora nem sempre
idêntica, com a ideologia oficial do fascismo”, tanto que, “na Itália, Arturo Rocco, o
fundador da orientação técnico-jurídica na ciência penal e o inspirador do Código Penal
de 1932 (infelizmente ainda vigente na Itália republicana), era um jurista oficial do
regime fascista”.41

Subseção III
A reconfiguração do método da ciência do direito penal

Buscando uma reconfiguração do método da ciência do direito penal, não se


pode deixar de admitir que esse continua sendo o técnico-jurídico ou dogmático, mas a
sua preocupação principal deixa de ser a “descoberta” dos sentidos pré-constituídos dos
textos legislativos com o propósito de sistematizá-los. É que os sentidos dos textos
legislativos são, na realidade, “construídos” na interpretação jurídica, o que é objeto,
também, da ciência do direito penal. Assim, o que se pretende na sua nova configuração é
que a ciência do direito penal passe a se ocupar da “construção interdisciplinar” desses
sentidos.
Esse método, portanto, passa a ter a preocupação de “construir” sentidos aos
textos legislativos e o produto dessa construção deve estar em consonância com as tarefas
da ciência do direito penal. Por isso, toma força a interdisciplinaridade, isto é, a
necessidade da colaboração das demais ciências no estudo dos seus objetos, com vistas à
produção de conceitos, que, a partir dessa colaboração, sintetizem um novo discurso, o
qual esteja voltado à proteção dos direitos humanos.
41
Baratta (1997, p. 154)

45
A metodologia da ciência do direito penal, portanto, passa a agregar, também,
a interdisciplinaridade. Isso significa dizer o seu objeto de estudo deverá continuar sendo,
principalmente, o conjunto de normas jurídicas, o que inclui, sobretudo, as normas
constitucionais e internacionais de direitos humanos, sem desprestígio das normas
infraconstitucionais, como, tradicionalmente, tem ocorrido. Mas essse estudo deverá
observar os já realizados pela filosofia, pela sociologia e pela história do direito, pela
economia, pela criminologia, pela política criminal, pelas teorias gerais, especificamente,
as teorias do Estado, da Constituição e dos Direitos Humanos, e pelas teorias específicas
do direito penal e processual penal, e deve ter a finalidade de um saber sistemático que
propicie a realização das promessas declaradas do direito penal e processual penal, que
são a conciliação da limitação do poder punitivo Estado e a tutela de bens jurídico-penais,
e deverá possibilitar a compreensão e a efetivação do direito penal e processual penal,
com vistas, especialmente, à sua aplicação.
Nesse estudo, deverão ser observadas as três ordens de procedimentos
investigativos mencionadas por Arturo Rocco, isto é, a investigação exegética, a
investigação dogmática e sistemática e a investigação crítica do direito, bem como, no
que diz respeito à investigação dogmática, as quatro etapas sugeridas por Nilo Batista, ou
seja, a catalogação dos textos jurídicos na área de interesse, a análise e a ordenação
desses textos, agrupando-os e separando-os a partir das suas semelhanças e disparidades,
a simplificação e a categorização com a identificação dos princípios obtidos a partir de
conceitos jurídicos que os unem em torno de eixos categoriais, e a reconstrução
dogmática, com a classificação e a reorganização da matéria estudada, o que se realiza
em forma de um sistema de conceitos que revelará e demarcará o conteúdo e o inter-
relacionamento lógico dos textos legais.
Por se tratar de um estudo domático, devem ser observadas a lei da proibição
da negação, que não permite negar os pontos de partida das séries argumentativas, e a lei
da proibição da contradição, que não permite haver haver princípios ou proposições
contraditórias.
Todavia, diante dos questionamentos existentes acerca do método técnico-
jurídico ou método dogmático de interpretação da lei, ou, ainda, do método abstrato

46
lógico, faz-se necessário operar nele a transformação necessária, a fim de adequá-lo às
novas exigências.
Não se pode negar que as normas jurídicas fazem parte do cotidiano das
pessoas e que o conjunto do ordenamento jurídico, assim como as decisões que dele
decorrem, formam uma complexidade que merece ser estudado cientificamente, com
vistas à apresentação das respostas de que se necessita, sobretudo sobre a integração
dessas normas, sobre os seus conflitos, sobre a sua validade, sobre a sua eficácia e sobre
os seus propósitos. Esse estudo há de ser realizado cientificamente, isto é, de forma a
propiciar a resposta que mais se aproxime da correta, já que não se está diante de uma
área do conhecimento que possa ser exato.
Nesse estudo, a ciência do direito penal deve selecionar, catalogar, analisar e
ordenar tanto os textos normativos constitucionais quanto internacionais e
infraconstitucionais, que são objeto de outras disciplinas jurídicas, mas que devem ser
estudados, também, no âmbito da ciência do direito penal. Devem integrar essa seleção,
catalogação e ordenação as decisões já existentes sobre a matéria a ser estudada, assim
como as metarregas, isto é, as regras que regem a aplicação daquelas regras, entre as
quais se encontram as teorias já existentes. Delineia-se, assim, o método técnico-jurídico
interdisciplinar já na seleção, catalogação e ordenação do material objeto de estudo da
ciência do direito penal.
A análise dos textos estudados, a construção dos conceitos que permeiam os
referidos textos normativos e, sobretudo, a sua reconstrução devem ser realizadas
interdisciplinarmente, isto é, considerando a pesquisa já realizada no campo das demais
áreas do conhecimento, em especial da criminologia e da política criminal e das teorias
do Estado, do direito, da constituição e dos direitos humanos, além das teorias específicas
do direito penal e do direito processual penal.
Isso significa dizer que essa análise não deve ser realizada, somente, como
base no direito vigente, mas, também, no direito válido, o que implica incluir o direito
constitucional no estudo do direito penal positivo. Essa análise deve levar em
consideração, também, a eficácia do direito positivo penal, para o qual é impostante a
contribuição da criminologia e da política criminal no estudo do direito penal. Essa
análise deve levar em consideração o modelo de Estado, razão pela qual é importante a

47
contribuição das teorias que lhes dizem respeito no estudo do direito penal. Por fim, por
ser tarefa da ciência do direito penal a proteção dos direitos humanos, é importante
incluir nesse estudo não somente as normas internacionais que versem sobre esses
direitos, mas, também, reconhecer a relevância do papel a ser exercido pelas teorias que
lhe são atinentes no estudo do direito penal.
A sistematização dos conceitos deve ser realizada com observância da
prevalência hierárquica das normas constitucionais e internacionais de direitos humanos,
bem como das normas legais infraconstitucionais. Uma vez internalizadas as normas de
direitos humanos, devem elas ser objeto de estudo sistemático pela dogmática jurídica,
conforme, a propósito, afirma Heleno Fragoso, ao sustentar que “os direitos do homem
podem, dessa forma, receber estudo sistemático, numa perspectiva técnico-jurídica”, o
que significa dizer que “cada um deles é suscetível de receber definição, interpretação e
aplicação jurídicas, inserindo-se num conjunto coerente de normas estabelecidas”.42
Não se pode perder de vista que a exegese ou a “jurisprudência inferior” não
é suficiente para a resolução de todos os problemas normativos, razão pela qual diversos
autores se dedicaram à “jurisprudência dos conceitos”, sustentando que a tarefa da
ciência jurídica é a elaboração de um sistema conceitual. Nesse campo, é importante
ressaltar o debate baseado no dedutivismo e no indutivismo sistêmico, liderado,
sobretudo, por Georg Friedrich Puchta e Rudolf Von Ihering.
Antes dessa referência a Puchta e Von Ihering, há de se ressaltar que, após o
jusracionalismo natural, Friedrich Carl von Savigny já havia enfatizado ser tarefa da
ciência jurídica “a elaboração sistemática da jurisprudência”. Para esse autor, “o
conteúdo do sistema é a legislação, isto é, os princípios do direito”, sendo necessário
“um meio lógico da forma, ou seja, da condição lógica do conhecimento de todo o
conteúdo da legislação para conhecer esses princípios, em parte de forma particular, em
parte de sua conexão”, para que se possa fazer a “definição”, a “distinção”, a
“ordenação” e a “vinculação de vários princípios particulares e sua conexão”43.
Como se pode perceber, após o jusracionalismo, Savigny iniciou uma
importante reflexão acerca da sistematização do direito, o que vem a ser desenvolvido,

42
FRAGOSO, Heleno. Direito penal e direitos humanos. Rio de Janeiro: Forense, 1977. p. 133.
43
SAVIGNY, Friedrich Karl. Metodologia jurídica. São Paulo: Rideel, 2005. p. 22 e 48.

48
com mais profundidade, por Puchta, por influência tanto de Georg Wilhelm Friedrich
Hegel quanto de Savigny, ainda no século XIX.
No dizer de Larenz, Puchta “conclamou a ciência jurídica do seu tempo a
tomar o caminho de um sistema lógico no estilo de uma ‘pirâmide de conceitos’,
decidindo, assim, a sua evolução no sentido de uma ‘Jurisprudência dos conceitos
formal’”, o que significa dizer que “cada conceito superior autoriza certas afirmações
[...]; por conseguinte, se um conceito inferior se subsumir ao superior, valerão para ele
‘forçosamente’ todas as afirmações que se fizerem sobre o conceito superior”. Dito de
outra forma, “a ‘genealogia dos conceitos’ ensina, portanto, que o conceito supremo, de
que se deduzem todos os outros, codetermina os restantes através do seu conteúdo”, de
modo que “a construção dedutiva do sistema depende absolutamente da pressuposição
de um conceito fundamental determinado quanto ao seu conteúdo, conceito que não é,
por sua vez, inferido do Direito positivo, mas dado previamente à ciência jurídica pela
filosofia do Direito”. Assim, “só pode ser ‘Direito’ o que se deixe subordinar a esse
conceito fundamental”.44
Segundo Larenz, diferentemente de Puchta, que adota o método dedutivo,
Ihering, no seu primeiro momento, prefere o método indutivo, pois, “ao contrário de
Puchta, não arranca de um conceito fundamental que seja prévio ao Direito positivo e
que a este sirva de alicerce mas, pelo contrário, o seu método de construção de
conceitos, que se assemelha ao das ciências ‘exatas’ da natureza, repousa
exclusivamente indução”.45 No entanto, Larenz ressalta que “a ‘racionalidade’ da lei é
entendida pelos autores citados – e aí começa o afastamento da ‘jurisprudência dos
conceitos’ formal – não apenas em sentido formal, como um nexo lógico entre os
conceitos, mas também em sentido material, como racionalidade dos fins, ou seja como
uma teleologia imanente”. Larenz faz referência, sobretudo, a Kohler, para quem “a
unidade interna da ordem jurídica repousa na validade de princípios jurídicos gerais,

44
LARENZ, Karl. Metodologia da ciência do direito. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997.
p. 23-26.
45
LARENZ, Karl. Metodologia da ciência do direito. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997.
p. 31.

49
princípios que ele entende como máximas ordenadoras, e não como sínteses conceituais
abstratas”.46
A interdisciplinaridade, segundo Pires, é uma idéia que tomou corpo nos anos
setenta do Século XX, a partir de um movimento marcadamente revolucionário dos
estudantes universitários na Europa e na América Latina, que “tinha como eixo a crítica à
organização do ensino universitário e o papel do conhecimento na sociedade capitalista,
discutindo-se, entre outras coisas, a ruptura teórica e prática e a função social dos
conteúdos escolares”. Em face desse movimento, “as instituições responderam a algumas
exigências do movimento estudantil, iniciando a busca de novos pressupostos que
levaram à superação da super especialização e da desarticulação teórica e prática, como
alternativa à disciplinaridade”, resultando evidenciado que “as discussões acerca da
interdisciplinaridade têm inspiração na crítica à organização social capitalista, à divisão
social do trabalho e à busca da formação integral do gênero humano”. Assim, “a
interdisciplinaridade pode ser tomada como uma possibilidade de quebrar a rigidez dos
compartimentos em que se encontram isoladas as disciplinas dos currículos escolares”,
devendo ser vista não como uma superação das disciplinas, mas, sim, como “uma etapa
superior das disciplinas, disciplinas essas que se constituem como um recorte mais amplo
do conhecimento em uma determinada área”. Ressalta-se que “esse recorte tem o objetivo
de possibilitar o aprofundamento de seu estudo”, sendo “uma necessidade metodológica
legítima e necessária, porém insuficiente para garantir a formação integral dos
indivíduos”. Sublinha-se, também, que “a etapa superior referida diz respeito à busca da
integração para muito além da troca de informação sobre objetivos, conteúdos,
procedimentos e compatibilização de bibliografia entre os professores, pois é uma
tentativa de maior integração dos caminhos epistemológicos, da metodologia e da
organização do ensino nas escolas”. Citando Follari, Pires diz, resumidamente, que “a
interdisciplinaridade é uma conceituação comum, orgânica, entre as várias disciplinas”.47

46
LARENZ, Karl. Metodologia da ciência do direito. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997.
p. 42.
47
PIRES, Marília Freitas de Campos. Multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade no
ensino. Interface - Comunicação, Saúde, Educação. UNESP, v. 2, n. 2, p. 173-182, 1998. Disponível em:
<http://hdl.handle.net/11449/30363>Acesso em 3 de abril de 2019. Há contudo, também, os conceitos de
transdisciplinaridade e de multidisciplinaridade. No dizer de Pires, “a multidisciplinariedade parece
esgotar-se nas tentativas de trabalho conjunto, pelos professores, entre disciplinas em que cada uma trata de
temas comuns sob sua própria ótica, articulando, algumas vezes bibliografia, técnicas de ensino e

50
Quando se fala em interdisciplinaridade, convém reportar-se, também, ao
pensamento sistêmico, que se contrapõe ao pensamento cartesiano, cujo paralelo é
realizado por Capra, na sua obra A Teia da Vida, a partir do pensamento processual de
Whitehead, que é a parte do pensamento mecanicista que leva em consideração as forças
e mecanismos por meio dos quais as estruturas fundamentais interagem, dando, assim,
origem a processos.
O pensamento sistêmico é, pois, segundo Capra, sempre processual, pois leva
em consideração somente esta parte do pensamento mecanicista. Outro pressuposto do
pensamento sistêmico é a Tectologia, de Bogdanov, originária da palavra tekton
(construtor), que significa “ciência das estruturas”, a qual busca esclarecer e generalizar
os princípios de organização de todas as estruturas vivas e não-(vivas). Assim, a teoria
geral dos sistemas (von Bertalanffy) é uma ciência geral de “totalidade”, aplicável a
várias ciências. Para essa teoria, o organismo não é um sistema estático fechado ao
mundo exterior e contendo sempre os componentes idênticos, mas, sim, um sistema
aberto num estado (quase) estacionário, onde materiais ingressam continuamente vindos
do meio ambiente exterior, e no qual são deixados materiais provenientes do organismo.48
Os seguintes critérios, no dizer de Capra, identificam o pensamento
sistêmico: a) mudança das partes para o todo, uma vez que os sistemas vivos são
totalidades integradas cujas propriedades não podem ser reduzidas às das partes menores;
b) capacidade de deslocar a própria atenção de um lado para o outro entre níveis
sistêmicos, porquanto existem sistemas aninhados dentro de outros sistemas de tal forma
que, aplicando-se os mesmos conceitos a diferentes níveis sistêmicos, pode-se, muitas

procedimentos de avaliação. Poder-se-ia dizer que na multidisciplinaridade as pessoas, no caso as


disciplinas do currículo escolar, estudam perto mas não juntas. A idéia aqui é de justaposição de
disciplinas”. No que diz respeito à transdisciplinaridade, Pires diz que “tem sido discutida de forma ainda
mais vaga”, de modo que “parece trazer em seu interior a possibilidade de um vale tudo um pouco
perigoso”. A transdisciplinaridade “busca, como referência teórica, o holismo e a teoria da complexidade,
que, embora venham se constituindo em um referencial interessante, ainda estão pouco compreendidos”.
Todavia, ressalta que “a totaliddae anunciada para o holismo tem sido tomada de forma factual”, uma vez
que “total é tudo e, assim, pode apresentar um caráter de a-historicidade”. Dessa forma, o mais importante é
“garantir a categoria da historicidade nestas reflexões, historicidade material”. A conclusão é que “o
conceito de interdisciplinaridade parece o mais indicado na garantia desta necessidade, constituindo-se em
um importante eixo organizativo da educação e do ensino”. (PIRES, Marília Freitas de Campos.
Multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade no ensino. Interface - Comunicação,
Saúde, Educação. UNESP, v. 2, n. 2, p. 173-182, 1998. Disponível em:
<http://hdl.handle.net/11449/30363>Acesso em 3 de abril de 2019).
48
CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. 13. ed. São
Paulo: Cultrix, 2004. p. 50-55.

51
vezes, obter importantes introvisões; c) inversão na relação entre as partes e o todo, pois,
enquanto, no pensamento mecanicista ou cartesiano, o comportamento do todo é
analisado em termos das propriedades de suas partes, no pensamento sistêmico, os
sistemas vivos não podem ser compreendidos por meio de análise, pois as propriedades
das partes somente podem ser compreendidas dentro do contexto do todo, razão pela qual
o pensamento sistêmico é contextual, pois considera o meio ambiente, sendo também
denominado pensamento ambientalista; d) inexistência de partes em absoluto, uma vez
que aquilo que se denomina partes é apenas um padrão numa teia inseparável de relações,
no qual os objetos são colocados em uma rede inseparável de relações; e) pensar em
termos de rede, porquanto não se fala mais em leis ou princípios fundamentais, sobre os
quais se constrói o edifício do pensamento científico, mas, sim, em redes, nas quais não
há fundamentos, pois nenhuma das propriedades de qualquer das partes dessa teia é
fundamental, uma vez que elas resultam das propriedades das outras partes, e a
consistência global de suas inter-relações determina a estrutura de toda a teia; f) mudança
da ciência objetiva para a ciência epistêmica, pois o pensamento sistêmico adota um
arcabouço no qual o método de questionamento torna-se parte integral das teorias
científicas; g) descoberta de que há somente conhecimento aproximado, uma vez que,
enquanto o velho paradigma ou paradigma cartesiano se baseava na crença da certeza do
conhecimento científico, o novo reconhece que todas as concepções e teorias científicas
são limitadas e aproximadas.49
Muito embora a obra de Capra se refira aos sistemas vivos, a teoria sistêmica
é perfeitamente aplicável ao relacionamento entre as ciências e os diversos ramos do
Direito, que não podem ser compreendidos como sistemas fechados, tanto que, ao tratar
da teoria do ordenamento jurídico, Bobbio descreve os problemas referentes ao
relacionamento entre tais ordenamentos, inclusive tratando dos seus métodos de
integração.50
Outro importante autor que se dedicou ao estudo conceito de sistema e da sua
importância para a ciência do direito foi Claus-Wilhelm Canaris, segundo o qual “as
características do conceito geral do sistema são a ordem e a unidade” e que “a função

49
CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. 13. ed. São
Paulo: Cultrix, 2004. p. 46-50.
50
BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico, p. 146 e ss.

52
do sistema na Ciência do Direito reside, por consequência, em traduzir e desenvolver a
adequação valorativa e a unidade interior da ordem jurídica”. Assim, para esse autor, o
conceito de sistema é determinado “com referência às ideias de adequação valorativa e
unidade interior do Direito”, podendo ele ser definido “como ‘ordem axiológica ou
teleológica de princípios jurídicos gerais’”, ou seja, como a “ordem de valores, de
conceitos teleológicos ou de institutos jurídicos”. Canaris ressalta que “este sistema não
é fechado, mas antes aberto” e essa constatação “vale tanto para o sistema de
proposições doutrinárias ou ‘sistema científico’, como para o próprio sistema da ordem
jurídica, o ‘sistema objetivo’”, o que importa dizer que, no sistema científico, “abertura
significa a incompletude do conhecimento científico” e, no sistema da ordem jurídica, a
abertura significa “mutabilidade dos valores jurídicos fundamentais”.51
A abertura do sistema jurídico contraria o legado do positivismo jurídico,
fundado na ideia de que a ciência do direito é uma “ciência pura” e, a partir dela, de que o
conhecimento haverá de ser o específico, de modo que o aprofundamento do
conhecimento científico viria pela especialização, a qual se constroi no confinamento de
cada “disciplina”.
A especialização e o confinamento do saber em disciplinas, segundo Georges
Gusdorf, estabelecem-se e se solidificam no século XIX, quando “as tecnologias da
pesquisa, em todos os domínios, se enriquecem prodigiosamente; mas esta riqueza
crescente tem como contrapartida uma desmultiplicação das tarefas. É chegado o tempo
dos especialistas; o território espistemológico, alargando-se, não pára de se fragmentar;
as certezas se estreitam ao se tornarem precisas”.52
Em oposição a essa compartimentalização do conhecimento, desde a
Antiguidade, o tema sobre a unidade do conhecimento é uma constante epistemológica, o
que, no dizer de Gusdorf, significa que “o projeto da interdisciplinaridade assinala,
através das épocas, um dos grandes eixos da história do conhecimento”, de modo que “à
medida que o progresso do saber se realiza por especialização, a preocupação com a
unidade suscita o desejo de um reagrupamento que viria remediar o intolerável

51
CANARIS, Claus-Wilhelm. Pensamento sistemático e conceito de sistema na ciência do direito. 5. ed.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2012. p. 279-281.
52
GUSDORF, Georges. Passado, presente e futuro da pesquisa interdisciplinar. Revista Tempo Brasileiro:
interdisciplinaridade, 3. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1995. abr./jun. n. 121. p. 7-27. p. 12.

53
esfacelamento dos domínios do conhecimento e dos homens de ciência”. Assim, explica
esse autor, “os maiores espíritos, nas épocas mais fecundas, afirmam esse tema da
unidade que deve ser mantida sob pena de dispersão e de anarquia epistemológica”.53
Essa busca pela unidade do conhecimento remete às reflexões acerca da
pluridisciplinariedade ou multidisciplinariedade, interdisciplinariedade e
transdisciplinariedade. Segundo Eric Jantsch, há, na atualidade, uma extrema confusão
no uso de termos como “pluri-inter- e transdisciplinaridade”. Para esse autor, a “pluri-ou
multidisciplinariedade” pode ser definida como “a justaposição de disciplinas variadas,
sem nenhum esforço de síntese”, enquanto que a “interdisciplinaridade” seria a “síntese
de duas ou mais disciplinas, de modo a instaurar um novo nível do discurso (metanível),
caracterizado por uma nova lingaugem descritiva e novas relações estruturais”. Por fim,
a “transdisciplinariedade” “é o reconhecimento da interdependência de todos os
aspectos da realidade”, o que “implica uma perspectiva dinânima em conjunto que
consiga transcender a dinâmica da simples síntese dialética e que corresponda a uma
tentativa de apreensão da dinâmica da realidade enquanto totalidade”.54
A interdisciplinaridade, segundo Marília Freitas de Campos Pires, é uma idéia
que tomou corpo nos anos setenta do Século XX, a partir de um movimento
marcadamente revolucionário dos estudantes universitários na Europa e na América
Latina, que “tinha como eixo a crítica à organização do ensino universitário e o papel do
conhecimento na sociedade capitalista, discutindo-se, entre outras coisas, a ruptura
teórica e prática e a função social dos conteúdos escolares”. Em face desse movimento,
“as instituições responderam a algumas exigências do movimento estudantil, iniciando a
busca de novos pressupostos que levaram à superação da super especialização e da
desarticulação teórica e prática, como alternativa à disciplinaridade”, resultando
evidenciado que “as discussões acerca da interdisciplinaridade têm inspiração na crítica
à organização social capitalista, à divisão social do trabalho e à busca da formação
integral do gênero humano”. Assim, “a interdisciplinaridade pode ser tomada como uma
possibilidade de quebrar a rigidez dos compartimentos em que se encontram isoladas as

53
GUSDORF, Georges. Passado, presente e futuro da pesquisa interdisciplinar. Revista Tempo Brasileiro:
interdisciplinaridade, 3. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1995. abr./jun. n. 121. p. 7-27. p. 8-9.
54
JANTSCH, Eric. Interdisciplinaridade: os sonhos e a realidade. Revista Tempo Brasileiro:
interdisciplinaridade, 3. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1995. abr./jun. n. 121. p. 29-41. p. 30-31.

54
disciplinas dos currículos escolares”, devendo ser vista não como uma superação das
disciplinas, mas, sim, como “uma etapa superior das disciplinas, disciplinas essas que se
constituem como um recorte mais amplo do conhecimento em uma determinada área”.
Ressalta-se que “esse recorte tem o objetivo de possibilitar o aprofundamento de seu
estudo”, sendo “uma necessidade metodológica legítima e necessária, porém insuficiente
para garantir a formação integral dos indivíduos”. Sublinha-se, também, que “a etapa
superior referida diz respeito à busca da integração para muito além da troca de
informação sobre objetivos, conteúdos, procedimentos e compatibilização de bibliografia
entre os professores, pois é uma tentativa de maior integração dos caminhos
epistemológicos, da metodologia e da organização do ensino nas escolas”. Citando
Follari, Pires diz, resumidamente, que “a interdisciplinaridade é uma conceituação
comum, orgânica, entre as várias disciplinas”.55
Quando se fala em interdisciplinaridade, convém reportar-se, também, ao
pensamento sistêmico, que se contrapõe ao pensamento cartesiano, cujo paralelo é
realizado por Fritjof Capra, na sua obra A Teia da Vida, a partir do pensamento processual
de Alfred North Whitehead, que é a parte do pensamento mecanicista que leva em
consideração as forças e mecanismos por meio dos quais as estruturas fundamentais
interagem, dando, assim, origem a processos.

55
PIRES, Marília Freitas de Campos. Multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade no
ensino. Interface - Comunicação, Saúde, Educação. UNESP, v. 2, n. 2, p. 173-182, 1998. Disponível em:
<http://hdl.handle.net/11449/30363>. Acesso em 3 de abril de 2019. Há contudo, também, os conceitos de
transdisciplinaridade e de multidisciplinaridade. No dizer de Pires, “a multidisciplinariedade parece
esgotar-se nas tentativas de trabalho conjunto, pelos professores, entre disciplinas em que cada uma trata de
temas comuns sob sua própria ótica, articulando, algumas vezes bibliografia, técnicas de ensino e
procedimentos de avaliação. Poder-se-ia dizer que na multidisciplinaridade as pessoas, no caso as
disciplinas do currículo escolar, estudam perto mas não juntas. A idéia aqui é de justaposição de
disciplinas”. No que diz respeito à transdisciplinaridade, Pires diz que “tem sido discutida de forma ainda
mais vaga”, de modo que “parece trazer em seu interior a possibilidade de um vale tudo um pouco
perigoso”. A transdisciplinaridade “busca, como referência teórica, o holismo e a teoria da complexidade,
que, embora venham se constituindo em um referencial interessante, ainda estão pouco compreendidos”.
Todavia, ressalta que “a totaliddae anunciada para o holismo tem sido tomada de forma factual”, uma vez
que “total é tudo e, assim, pode apresentar um caráter de a-historicidade”. Dessa forma, o mais importante é
“garantir a categoria da historicidade nestas reflexões, historicidade material”. A conclusão é que “o
conceito de interdisciplinaridade parece o mais indicado na garantia desta necessidade, constituindo-se em
um importante eixo organizativo da educação e do ensino”. (PIRES, Marília Freitas de Campos.
Multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade no ensino. Interface - Comunicação,
Saúde, Educação. UNESP, v. 2, n. 2, p. 173-182, 1998. Disponível em:
<http://hdl.handle.net/11449/30363>. Acesso em 3 de abril de 2019).

55
O pensamento sistêmico é, pois, segundo Capra, sempre processual, pois leva
em consideração somente esta parte do pensamento mecanicista. Outro pressuposto do
pensamento sistêmico é a Tectologia, de Alexander Aleksandrovich Bogdanov, originária
da palavra tekton (construtor), que significa “ciência das estruturas”, a qual busca
esclarecer e generalizar os princípios de organização de todas as estruturas vivas e não-
(vivas). Além disso, há a teoria geral dos sistemas, criada por Karl Ludwig von
Bertalanffy, também conhecida como a ciência geral de “totalidade”, aplicável a várias
ciências. Para essa teoria, o organismo não é um sistema estático fechado ao mundo
exterior e contendo sempre os componentes idênticos, mas, sim, um sistema aberto num
estado (quase) estacionário, onde materiais ingressam continuamente vindos do meio
ambiente exterior, e no qual são deixados materiais provenientes do organismo.56
Os seguintes critérios, no dizer de Capra, identificam o pensamento
sistêmico: a) mudança das partes para o todo, uma vez que os sistemas vivos são
totalidades integradas cujas propriedades não podem ser reduzidas às das partes menores;
b) capacidade de deslocar a própria atenção de um lado para o outro entre níveis
sistêmicos, porquanto existem sistemas aninhados dentro de outros sistemas de tal forma
que, aplicando-se os mesmos conceitos a diferentes níveis sistêmicos, pode-se, muitas
vezes, obter importantes introvisões; c) inversão na relação entre as partes e o todo, pois,
enquanto, no pensamento mecanicista ou cartesiano, o comportamento do todo é
analisado em termos das propriedades de suas partes, no pensamento sistêmico, os
sistemas vivos não podem ser compreendidos por meio de análise, pois as propriedades
das partes somente podem ser compreendidas dentro do contexto do todo, razão pela qual
o pensamento sistêmico é contextual, pois considera o meio ambiente, sendo também
denominado pensamento ambientalista; d) inexistência de partes em absoluto, uma vez
que aquilo que se denomina partes é apenas um padrão numa teia inseparável de relações,
no qual os objetos são colocados em uma rede inseparável de relações; e) pensar em
termos de rede, porquanto não se fala mais em leis ou princípios fundamentais, sobre os
quais se constrói o edifício do pensamento científico, mas, sim, em redes, nas quais não
há fundamentos, pois nenhuma das propriedades de qualquer das partes dessa teia é

56
CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida: uma nova compreensão científica dos seres vivos. Tradução de
Newton Roberval Eichemberg. 4. ed. São Paulo: Cultrix, 1999. p. 50-55.

56
fundamental, uma vez que elas resultam das propriedades das outras partes, e a
consistência global de suas inter-relações determina a estrutura de toda a teia; f) mudança
da ciência objetiva para a ciência epistêmica, pois o pensamento sistêmico adota um
arcabouço no qual o método de questionamento torna-se parte integral das teorias
científicas; g) descoberta de que há somente conhecimento aproximado, uma vez que,
enquanto o velho paradigma ou paradigma cartesiano se baseava na crença da certeza do
conhecimento científico, o novo reconhece que todas as concepções e teorias científicas
são limitadas e aproximadas.57
Muito embora a obra de Capra se refira aos sistemas vivos, a teoria sistêmica
é perfeitamente aplicável ao relacionamento entre as ciências e os diversos ramos do
Direito, que não podem ser compreendidos como sistemas fechados, tanto que, ao tratar
da teoria do ordenamento jurídico, Norberto Bobbio descreve os problemas referentes ao
relacionamento entre tais ordenamentos, inclusive tratando dos seus métodos de
integração.58
Discorrendo, especificamente, sobre a interdisciplinariedade “científica”,
Ivani Catarina Arantes Fazenda afirma que a construção de saberes interdisciplinares se
realiza por meio da “estruturação hierárquica das disciplinas, sua organização e
dinâmica, a interação dos artefatos que as compõem, sua mobilidade conceitual, a
comunicação dos saberes nas seqüências a serem organizadas”, o que “conduziria à
busca da cientificidade disciplinar e com ela o surgimento de novas motivações
epistemológicas, de novas fronteiras existenciais”. É que, para essa autora, “cada
disciplina precisa ser analisada não apenas no lugar que ocupa ou ocuparia na grade,
mas nos saberese que contemplam, nos conceitos enunciados e no movimetno que esses
saberes engendram, próprios do seu lócus de cientificidade”.59
No âmbito das ciências jurídicas, explica Rubens Sant’Anna que, “assim
como as questões das ciências físicas não são estritamente submetidas a rígidos
postulados de uma área específica, as indagações jurídicas não encontram adequada

57
CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida: uma nova compreensão científica dos seres vivos. Tradução de
Newton Roberval Eichemberg. 4. ed. São Paulo: Cultrix, 1999. p. 46-50.
58
BOBBIO, Norberto. Teoria do Ordenamento Jurídico. Tradução de Maria Celeste Cordeiro Leite dos
Santos. Brasília: Polis e Editora da Universidade de Brasília, 1991. p. 146 e ss.
59
FAZENDA, Ivani. Interdisciplinaridade-transdisciplinaridade: visões culturais e espistemológicas. In:
____ (Org.) O que é interdisciplinariedade? São Paulo: Cortez, 2008. p. 17-28. p. 18.

57
solução à luz de estratificadas regras formais de uma disciplina ou de um texto legal,
mas sim sob o enfoque de princípios básicos e universais dentro do sistema jurídico”, de
modo que estaria “afirmada a ideia de interdisciplinaridade do universo jurídico”, pois
“as disciplinas que o compõem interagem umas com as outras, posto que temas
fundamentais de umas deitam raízes em outras”.60
Especificamente no campo da ciência do direito penal, é necessário ressaltar
que é indispensável a interdisciplinaridade entre essa ciência e as demais ciências penais
– criminologia e política criminal –, as ciências jurídicas fundamentais - filosofia e
sociologia do direito –, as disciplinas jurídicas – direito civil, direito do trabalho, direito
administrativo, direito constitucional, direito tributário, direito comercial etc. -, as
ciências auxiliares – medicina legal, psiquiatria forense etc – e as ciências em geral –
matemática, gramática, história, física e química.

60
SANT’ANNA, Rubens. A interdisciplinaridade no direito. Porto Alegre: [s.n.], 1976. p. 3.

58
CAPÍTULO II
ASPECTOS TEÓRICOS RELATIVOS À COMINAÇÃO DAS SANÇÕES PENAIS

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O presente capítulo trata dos aspectos teóricos relativos à cominação das


sanções penais, ou seja, do conceito, do âmbito e da forma da cominação, do seu
conteúdo, do seu caráter, dos seus tipos e das funções das sanções penais no plano da
cominação.
Com essas categorias, visa-se a afinar a linguagem acerca da cominação
penal, a fim de que se possa acerca dela refletir.
O presente capítulo está dividido em cinco seções, estando a primeira voltada
ao conceito, ao âmbito e à forma da cominação penal; a segunda, ao seu conteúdo; a
terceira, ao seu caráter; a quarta aos tipos de cominação; e a quinta às funções das
sanções penais no plano da cominação penal.

SEÇÃO I
CONCEITO, ÂMBITO E FORMA DA COMINAÇÃO PENAL

A cominação é a previsão das sanções penais na lei penal, bem como das
regras que lhe dizem respeito. É uma atividade que se realiza, portanto, âmbito legislativo
e com a observância das formalidades do processo legislativo,61 em observância do
princípio da legalidade penal, previsto no inciso XXXIX do artigo 5º da Constituição
Federal. A lei penal, por tanto, haverá de ser estrita, escrita, certa e prévia.
No Brasil, essa é uma atividade da competência privativa da União Federal,
conforme estabelece o artigo 22, inciso I, da Constituição Federal, mais especifificamente
do Congresso Nacional, nos termos do seu artigo 48, caput, embora, conforme dispõe o

61
Esse processo está previsto na Constituição Federal e nos regimentos internos das Casas Legislativas
federais.

59
parágrafo único daquele mesmo artigo, os estados-membros podem ser autorizados a
legislar sobre questões penais específicas.

SEÇÃO II
CONTEÚDO DA COMINAÇÃO

O conteúdo da cominação penal pode ser compreendido no seu sentido estrito


e no seu sentido amplo. Em um sentido estrito, o conteúdo da cominação se limita à
previsão das sanções penais, em espécie e quantidade, na lei penal, com base na
importância do bem jurídico tutelado. Em sentido amplo, no entanto, a cominação pode
abranger, também, as regras que tratam da previsão de outros institutos penais e das
circunstâncias, dos critérios e das regras que devem ser levados em consideração na
aplicação e na execução das sanções penais.

SEÇÃO III
CARÁTER DA COMINAÇÃO

Diz-se que a cominação tem um caráter abstrato e normativo, isto é,


deontológico, pois está fundada em hipóteses concebidas ou imaginadas pelo legislador
acerca das espécies de sanções penais estabelecidas na lei penal para determinada
conduta, das suas respectivas quantidades, durações ou intensidades, ou seja, dos seus
patamares mínimos e máximos, assim como dos institutos, das circunstâncias, regras e
critérios que devem ser observados na aplicação e na execução das sanções penais.
Não se trata, como se pode perceber, de uma atividade em que a sanção penal
está, de fato, sendo sentida pelo condenado, isto é, em que o direito deste esteja sendo
afetado pela sanção penal. É um plano, portanto, ainda, imaginário, abstrato, hipotético,
meramente normativo, do dever-ser, e não do ser.

60
SEÇÃO IV
TIPOS DE COMINAÇÃO

A cominação pode ser realizada no preceito secundário do tipo penal


incriminador ou fora dele. No tipo penal incriminador, a cominação pode ser individual,
isolada ou única, e, ainda, cumulativa e alternativa. Fora do tipo penal incriminador, a
cominação pode ser substitutiva, cumulativa e alternativa.
A cominação individual, isolada ou única é aquela em que o legislador prevê,
apenas, uma espécie de pena para a conduta típica, como se pode constatar, por exemplo,
no artigo 121, caput, Código Penal, que, para a conduta “Matar alguém”, está cominada a
pena de “reclusão, de seis a vinte anos”.
A cominação cumulativa, por sua vez, é aquela em que o legislador prevê
duas ou mais espécies de pena para a mesma conduta, ligadas pela conjunção aditiva “e”,
as quais, portanto, devem ser aplicadas cumulativamente, como ocorre, por exemplo, no
artigo 155, caput, Código Penal, que prevê, para a conduta “subtrair, para si ou para
outrem, coisa alheia móvel”, as penas de “reclusão, de um a quatro anos, e multa”.
Por fim, a cominação alternativa é aquela em que o legislador prevê duas ou
mais espécies de pena para a mesma conduta, ligadas pela conjunção alternativa “ou”, as
quais devem ser aplicadas alternativamente, ou seja, o juiz deverá proceder a uma escolha
entre elas, como se pode perceber no artigo 147 do Código Penal, que prevê, para a
conduta de “ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio
simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave”, as penas de “detenção, de um a seis
meses, ou multa”.
A cominação fora do tipo penal incriminador, conforme já dito, pode ser
substitutiva, cumulativa e alternativa.
A cominação substitutiva é aquela em que o legislador prevê, fora do tipo,
outras espécies de pena que podem ou devem substituir a pena cominada no tipo penal,
como ocorre, por exemplo, nos artigos 44 e 60, parágrafo 2o, do Código Penal.62

62
"Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando:
"Art. 60. [...] Multa substitutiva § 2º - A pena privativa de liberdade aplicada, não superior a 6 (seis)

61
A cominação cumulativa, por sua vez, é aquela em que o legislador prevê,
fora do tipo penal, outra(s) espécie(s) de pena(s) que deve(m) ser aplicada(s),
cumulativamente, com aquela cominada no tipo penal, conforme se pode constatar, por
exemplo, nos artigos 292, 293, 295, 296 e 297 do Código de Trânsito Brasileiro.63
A cominação alternativa, por fim, é aquela em que o legislador prevê, fora do
tipo penal, outras espécies de pena que devem ser aplicadas, alternativamente, em relação
àquela cominada no tipo penal, como ocorre, por exemplo, no artigo 6o, parágrafo 4o, da
Lei n. 4.898, de 9 de dezembro de 1965, que estabelece penas que podem ser aplicadas,
entre outras, de forma alternativa àquelas previstas no parágrafo 3o desse mesmo artigo.64
Esses diversos tipos de cominação exigem tanto do estudioso do direito penal
quanto dos seus aplicadores a devida atenção, para não incorrerem em erros de
compreensão, ou seja, de que a consequência penal aplicável a determinada conduta é,
somente, aquela prevista no preceito secundário do tipo penal, ou de que a uma
determinada conduta é aplicável, apenas, uma sanção.

meses, pode ser substituída pela de multa, observados os critérios dos incisos II e III do art. 44 deste
Código".
63
Art. 292. A suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo
automotor pode ser imposta isolada ou cumulativamente com outras penalidades"."Art. 293. A penalidade
de suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou a habilitação, para dirigir veículo automotor, tem a
duração de dois meses a cinco anos. § 1º Transitada em julgado a sentença condenatória, o réu será
intimado a entregar à autoridade judiciária, em quarenta e oito horas, a Permissão para Dirigir ou a Carteira
de Habilitação. § 2º A penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou a habilitação
para dirigir veículo automotor não se inicia enquanto o sentenciado, por efeito de condenação penal, estiver
recolhido a estabelecimento prisional". "Art. 295. A suspensão para dirigir veículo automotor ou a
proibição de se obter a permissão ou a habilitação será sempre comunicada pela autoridade judiciária ao
Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN, e ao órgão de trânsito do Estado em que o indiciado ou réu
for domiciliado ou residente". "Art. 296. Se o réu for reincidente na prática de crime previsto neste Código,
o juiz aplicará a penalidade de suspensão da permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor, sem
prejuízo das demais sanções penais cabíveis". "Art. 297. A penalidade de multa reparatória consiste no
pagamento, mediante depósito judicial em favor da vítima, ou seus sucessores, de quantia calculada com
base no disposto no § 1º do art. 49 do Código Penal, sempre que houver prejuízo material resultante do
crime. § 1º A multa reparatória não poderá ser superior ao valor do prejuízo demonstrado no processo. § 2º
Aplica-se à multa reparatória o disposto nos arts. 50 a 52 do Código Penal. § 3º Na indenização civil do
dano, o valor da multa reparatória será descontado".
64
"Art. 6º O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção administrativa civil e penal. [...] § 3º A
sanção penal será aplicada de acordo com as regras dos artigos 42 a 56 do Código Penal e consistirá em: a)
multa de cem a cinco mil cruzeiros; b) detenção por dez dias a seis meses; c) perda do cargo e a inabilitação
para o exercício de qualquer outra função pública por prazo até três anos. § 4º As penas previstas no
parágrafo anterior poderão ser aplicadas autônoma ou cumulativamente. § 5º Quando o abuso for cometido
por agente de autoridade policial, civil ou militar, de qualquer categoria, poderá ser cominada a pena
autônoma ou acessória, de não poder o acusado exercer funções de natureza policial ou militar no
município da culpa, por prazo de um a cinco anos".

62
SEÇÃO V
A FUNÇÃO DAS SANÇÕES PENAIS NO PLANO DA COMINAÇÃO

No plano da cominação, a principal função das sanções penais é a


intimidação, coação psicológica ou prevenção geral negativa, como se convencionou
denominar essa função no âmbito do pensamento criminológico contemporâneo.
O maior aporte teórico da prevenção geral negativa está no pensamento de
Paul Johann Anselm Ritter von Feuerbach, que, em 1801, já dizia que “o Estado tem o
direito e o dever de criar institutos por meio dos quais se impeçam as lesões jurídicas”.
Esses institutos podem ocorrer por coerção física ou por coação psicológica. Por meio da
coerção física, o Estado somente pode cancelar lesões jurídicas se conseguir antecipar-se
a essa lesão, impedindo que se realize uma lesão ainda não consumada, ou, após,
obrigando a reparação da lesão causada. A coerção física, no entanto, não é suficiente
para impedir a ocorrência de lesões jurídicas, pois, para que possa antecipar-se à lesão,
pressupõe-se o conhecimento antecipado de todos os fatos reais. Por outro lado, a coerção
posterior somente pode produzir efeitos em relação a direitos reparáveis.65
Segundo Von Feuerbach, resulta necessária, pois, a coação psicológica, pois
“todas as contravenções têm sua causa psicológica na sensualidade, na medida em que a
concupiscência do homem é o que o impulsiona, por prazer, a cometer a ação”. Para esse
autor, “esse impulso sensual possa ser cancelado, se, em face da prática do ato se seguir
um mal maior que torna desgostoso ou desgostosa a prática desse ato”.66
Para Von Feuerbach, a forma de se estabelecer a coação psicológica é a
cominação legal, ou seja, impõe-se “que uma lei estabeleça como necessária uma
consequência do fato”. Além disso, para que a imaginação se converta em realidade, é
necessário que seja provado o efeito da cominação legal, infligindo-se o mal anunciado
na cominação por meio da execução, de modo que “a coação psicológica se configura,

65
FEUERBACH, Paul Johann Anselm Ritter von. Tratado de derecho penal común vigente en Alemania.
Buenos Aires: Hammurabi, 1989. p. 59.
66
FEUERBACH, Paul Johann Anselm Ritter von. Tratado de derecho penal común vigente en Alemania.
Buenos Aires: Hammurabi, 1989. p. 60.

63
pois, mediante a efetividade harmônica dos poderes legislativo e executivo no comum
objetivo intimidatório”.67
Na concepção de Von Feuerbach, portanto, toda sanção penal “tem, como
objetivo principal e necessário, afastar todos do crime mediante sua ameaça”, sendo “o
mal cominado por uma lei do Estado e infligido em virtude dessa lei”, de modo que “o
objetivo da cominação da pena na lei é a intimidação de todos como possíveis
protagonistas de lesões jurídicas”, enquanto que “o objetivo de sua aplicação é o de dar
fundamento efetivo à cominação legal, dado que sem a aplicação a cominação resultaria
oca (seria ineficaz)”.68
Na sua obra Teoria Del Delito en la Discusión Actual, Claus Roxin afirma
que a pena exerce distintas funções e pesos conforme a sua dimensão temporal, ou seja,
no momento da sua cominação, no momento da sua imposição e no momento da sua
execução. Mais precisamente, explica esse autor que, no momento da cominação, a pena
tem uma função exclusivamente preventivo-geral, isto é, produz o efeito de intimidação e
de aprendizagem, razão pela qual os tipos penais devem estar perfeitamente definidos e
fáceis de ser compreendidos. Quando o processo penal culmina em uma condenação,
passam ao primeiro plano, na imposição da sanção, os pontos de vista de prevenção geral
e prevenção especial. Quanto mais grave seja o delito, tanto mais exige a prevenção geral
um esgotamento da medida de culpabilidade. E, quando se trata de delitos gravíssimos, a
confiança no ordenamento jurídico somente pode manter-se e a paz jurídica somente
pode restabelecer-se quando se produza uma repressão adequada à culpabilidade. Pelo
contrário, nos delitos leves e de média gravidade, que são, de fato, a maioria na prática,
pode praticar-se mais tolerância quando isto seja necessário por razões de prevenção
especial. Para esse autor, os delitos menores, por sua vez, comovem a paz social de
maneira comparativamente leve, e uma reintegração social do delinqüente serve mais à
seguridade pública que um rigor promotor da reincidência. Então, na imposição de
sanções influem conjuntamente a prevenção geral e a prevenção especial, se bem que o
fazem de uma maneira escalonada segundo a gravidade do delito. Por fim, Roxin sustenta

67
FEUERBACH, Paul Johann Anselm Ritter von. Tratado de derecho penal común vigente en Alemania.
Buenos Aires: Hammurabi, 1989. p. 60.
68
FEUERBACH, Paul Johann Anselm Ritter von. Tratado de derecho penal común vigente en Alemania.
Buenos Aires: Hammurabi, 1989. p. 61 e 125.

64
que, “na execução da pena, segundo uma nova concepção, deveria buscar-se somente a
ressocialização. Roxin afirma, também, que em épocas anteriores se tem querido alcançar
efeitos preventivos precisamente mediante um rigor escalonado segundo a gravidade do
delito, rigor que inclusive chegava à crueldade da execução penal. Na compreensão de
que isto é falso radica uma transformação muito importante na teoria moderna dos fins da
pena. É que uma execução penal baseada na imposição de um mal e que renuncie à
ressocialização somente pode levar ao condenado uma dessocialização definitiva e não
pode ser para ele um aliciante para formas de conduta humanas e sociais que ele necessita
urgentemente. Em síntese, Roxin explica que a teoria dos fins da pena tem que tomar em
conta a dimensão temporal da realização do direito penal. Essa dimensão temporal vai
desde a pura prevenção geral nas cominações penais, passando pela vinculação entre
prevenção geral e prevenção especial no momento de impor a sanção, até chegar à clara
prevalência da prevenção especial na execução da pena e das sanções não privativas de
liberdade.69
Como se pode perceber, Roxin sustenta que as funções das sanções penais se
realizam diferentemente em cada um dos planos. Assim, na cominação, a função
predominante é a prevenção geral negativa; na aplicação, é a prevenção geral positiva,
para delitos graves, e a prevenção especial positiva, para delitos leves e médios; na
execução, é a prevenção especial positiva, isto é, a ressocialização
O que interessa sublinhar, aqui, é que, no plano da cominação, as sanções
penais prometem cumprir, sobretudo, a função de prevenção geral negativa, ou seja, de
dissuasão ou coação psicológica (Feuerbach) e, também, de aprendizagem (Roxin).

69
ROXIN, Claus. Las diferentes acentuación de los fines de la pena em los estádios de la realización del
Derecho Penal. In: ___. La teoria del delito em la discusión actual. Lima: Grijley, 2007. p. 82-84.

65
CAPÍTULO III
ASPECTOS CONSTITUCIONAIS RELATIVOS À COMINAÇÃO DAS
SANÇÕES PENAIS

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O estudo da cominação das sanções penais não pode prescindir das normas
constitucionais que estabelecem as sanções penais permitidas e as sanções penais
proibidas, as quais previstas, respectivamente, nos incisos XLVI e XLVII do artigo 5º da
Constituição Federal.
Por isso, o presente capítulo trata dos aspectos constitucionais relativos à
cominação. Ele está dividido em duas seções, de modo que a primeira tratará das sanções
penais permitidas; e a segunda, das sanções penais proibidas, bem como a respectiva
interpretação que o Supremo Tribunal Federal realiza a cerca dessas normas
constitucionais.

SEÇÃO I
AS SANÇÕES PENAIS PERMITIDAS PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

O artigo 5o, inciso XLVI, da Constituição Federal apresenta um rol das


sanções penais permitidas:
Art. 5o
[...]
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as
seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;

Trata-se, como se pode perceber, de um rol exemplificativo, tanto que o


próprio inciso contém a expressão “entre outras”, o que significa dizer que o legislador

66
infraconstitucional poderá cominar outras sanções que não as previstas no inciso XLVI
do artigo 5º da Constituição Federal, desde que, evidentemente, não estejam previstas no
rol das sanções penais proibidas, o qual está exposto no inciso XLVII desse mesmo
artigo, e será objeto da seção II deste capítulo.

Subseção I
A privação ou restrição da liberdade

A alínea a do inciso XLVI do artigo 5º da Constituição Federal refere-se tanto


às penas de privação da liberdade quanto as de sua restrição. A liberdade à qual se refere
essa alínea é a de locomoção, isto é, a liberdade de ir, vir ou ficar. Antes de se adentrar,
especificamente, na distinção entre restrição e privação da liberdade, é necessário ter em
mente que o direito fundamental à liberdade de locomoção não é absoluto, pois não se
pode ir ou permanecer onde se deseja, pois há leis que restringem esse direito, como, por
exemplo, é possível depreender da própria Constituição Federal, quando esta estabelece,
no inciso XI do seu artigo 5º, que “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela
podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial”.

§ 1º A privação da liberdade de locomoção

As penas privativas de liberdade são aquelas consequências penais que


subtraem a liberdade de locomoção do condenado, isto é, que o impedem de ir, vir ou
ficar onde desejar. Não significa a subtração plena, total ou absoluta da liberdade de
locomoção, pois, mesmo no interior de uma cela, sempre há algum espaço para a
locomoção física, uma vez que, no Brasil, segundo o artigo 88, parágrafo único, alínea b,
da Lei n. 7.210, de 11 de julho de 1984 – Lei de Execução Penal -, a unidade celular
deverá ter, no mínimo 6,0 (seis) metros quatros. Todavia, a parcela de liberdade que
permanece com o preso é tão limitada que se pode dizer que essa modalidade de penas
priva a sua liberdade.

67
De qualquer forma, é necessário ter em mente que a privação da liberdade é
um gênero, do qual a reclusão, a detenção e a prisão simples são espécies, conforme
estabelecem o artigo 33 do Código Penal e o artigo 6o da Lei de Contravenções Penais, as
quais serão objeto de detalhamento no capítulo VI.

§ 2º A restrição da liberdade de locomoção

A restrição da liberdade compreende as medidas que não privam a liberdade


do condenado, mas, apenas, restringem-na, de modo que este ficaria com parcela
considerável desse direito com o condenado. A legislação infraconstitucional não se
refere, expressamente, a penas restritivas da liberdade, apenas, a penas privativas de
liberdade, conforme já exposto no parágrafo anterior, e se pode conferir no artigo 32 do
Código Penal. Todavia, determinados regimes, como o regime aberto (artigo 33,
parágrafo 1o, alínea c, do Código Penal e artigo 115 da Lei de Execução Penal) e a prisão
domiciliar (artigo 117 da Lei de Execução Penal), e etapas do cumprimento da pena
privativa, como o livramento condicional (artigo 83 do Código Penal), ou mesmo
algumas espécies de penas restritivas de direitos, como a limitação de fim de semana
(artigo 48 do Código Penal), que recaem sobre parcela da liberdade do condenado,
deixando com este amplas possibilidades de ir, vir ou ficar, acabam se constituindo em
penas restritivas da liberdade e não penas privativas de liberdade.

Subseção II
A perda de bens

A alínea b do inciso XLVI do artigo 5º da Constituição Federal refere-se à


pena de perda de bens, que é uma espécie de pena de caráter patrimonial, ou seja, que
recai sobre o patrimônio do condenado. No Código Penal, a pena perda de bens está
definida, como perda de bens e valores, no parágrafo 3º do seu artigo 45, e se constitui
em uma espécie de pena restritiva de direitos. Essa espécie de pena se distingue da perda

68
de bens prevista no artigo 91, inciso I, alínea b, do Código Penal, pois esta é um efeito
secundário, enquanto que aquela é um efeito primário da condenação penal.

Subseção III
A pena de multa

A alínea c do inciso XLVI do artigo 5º da Constituição Federal refere-se à


pena de multa, que está regulada nos artigos 49 a 52, 58 e 60 do Código Penal e é devida
ao fundo penitenciário. Ela se distingue da prestação pecuniária, que é uma pena
restritiva de direitos e é devida à vítima ou à entidade pública ou à entidade privada com
destinação social (artigo 45, parágrafo 1o, do Código Penal), e da multa reparatória,
prevista no artigo 297 do Código de Trânsito Brasileiro, que, embora tenha um
tratamento semelhante à multa, desta se distingue, pois aquela é devida aos sucessores da
vítima, quando do crime de trânsito resultar dano patrimonial. A multa também se
distingue da pena de perda de bens e valores, pois esta, embora também seja devida ao
fundo penitenciário, deve ser calculada com base em outros critérios, isto é, deverá ter o
valor do prejuízo causado ou do proveito obtido com a prática do crime, aquele que for
maior, enquanto que aquela é calculada em dias-multa.

Subseção IV
A prestração social alternativa

A alínea d do inciso XLVI do artigo 5º da Constituição Federal refere-se à


pena de prestação social alternativa, a qual constitui um gênero, uma vez que nela podem
ser enquadradas diversas espécies. A propósito, a posição do Supremo Tribunal Federal
que se pode depreender da ementa parcial do acórdão proferido, no dia 11 de abril de
1995, pela sua Segunda Turma, nos autos do Habeas Corpus n. 72233, de São Paulo, nos
quais foi relator o Ministro Maurício Corrêa, estabeleceu a correlação entre a prestação

69
social alternativa e a prestação de serviços à comunidade: “A Constituição Federal
preconiza que a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, a
prestação social alternativa (art. 5., XLVI, ‘d’). Seu conceito e condições estão definidos
no art. 46 e seu parágrafo único, do Código Penal.”
Além da prestação de serviços à comunidade, prevista no artigo 46 do Código
Penal e já admitida pelo Supremo Tribunal Federal como espécie de prestação social
alternativa, também se pode compreender, como espécie desta modalidade constitucional
de sanção penal, a prestação pecuniária, quando esta for paga em proveito de entidade
pública ou de entidade de privada com destinação social, conforme estabelece o artigo
45, parágrafo 1o, do Código Penal.

Subseção V
A suspensão ou interdição de direitos

Por fim, a alínea e do inciso XLVI do artigo 5º da Constituição Federal


refere-se às penas tanto de suspensão quando de interdição de direito, que são espécies
constitucionais de penas reguladas no artigo 47 do Código Penal.
A suspensão de direitos é o mesmo que interrupção temporária de direitos.
Por sua vez, a interdição é a proibição do exercício de determinados direitos. Podem
consistir, por exemplo, na proibição do exercício de profissão ou de função pública, na
suspensão da carteira de habilitação, na proibição de frequentar determinados locais etc.
Como, na alínea b do inciso XLVI do artigo 5º da Constituição Federal, há
vedação para as penas de caráter perpétuo, tanto a suspensão quanto a interdição de
direitos devem ser temporárias.

70
SEÇÃO II
AS SANÇÕES PENAIS PROIBIDAS PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

As sanções penais proibidas estão definidas no artigo 5o, inciso XLVII, da


Constituição Federal:
Art. 5o
[...]
XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis.

O rol de penas proibidas previstos no inciso XLVII do artigo 5º da


Constituição Federal é exaustivo, de modo que o legislador infraconstitucional tem a
liberdade de cominar outras penas, desde que não previstas nesse inciso.
A palavra “pena”, contida no inciso XLVI do artigo 5o da Constituição
Federal, deve ser compreendida no seu sentido amplo, ou seja, de “sanção penal”, tanto
que o Supremo Tribunal Federal, conforme será exposto no 2º parágrafo da Seção II desta
Seção, estendeu a vedação da perpetuidade às medidas de segurança, não compreendidas
como penas em sentido estrito, mas, sim, como sanções penais.

Subseção I
A pena de morte

A alínea a do inciso XLVII do artigo 5o da Constituição Federal proibe a


cominação da pena de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do inciso
XIX do seu art. 84. Estabelece este inciso que é atribuição do Presidente da República,
“declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso Nacional
ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas[...]”.

71
Como se pode perceber, essa declaração de guerra somente poderá ocorrer em
caso de agressão estrangeira, ou seja, para fins de guerra externa, não se admitindo em
caso de comoção intestina.
Nos períodos colonial e imperial a pena de morte foi aplicada em larga escala,
uma vez que se constituia na pena hegemônica. Todavia, ela deixou de ser cominada no
Código Penal de 1890 e foi abolida em parte, expressamente, pela Constituição de 1891,
somente sendo admitida se o Brasil declarar guerra externa, situação em que terá
aplicabilidade o Código Penal Militar, que, entre outros, define os crimes militares em
tempo de guerra (muitos deles apenados com a morte), o que pode alcançar, inclusive,
civis, como é o caso do crime de traição previsto no artigo 355 desse mesmo diploma
legal.70
Durante o Estado Novo71 e no período dos governos militares72, houve uma
ampliação das possibilidades do uso da pena de morte, sem registro, no entanto, de
execuções legais.

70
“Traição Art. 355. Tomar o nacional armas contra o Brasil ou Estado aliado, ou prestar serviço nas
fôrças armadas de nação em guerra contra o Brasil: Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos,
grau mínimo”.
71
A Constituição de 1937, após a Lei Constitucional de 1938, mais especificamente no seu artigo 122,
estabelecia: “Art 122 - A Constituição assegura aos brasileiros e estrangeiros residentes no País o direito à
liberdade, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes:[...] 13) Não haverá penas
corpóreas perpétuas. As penas estabelecidas ou agravadas na lei nova não se aplicam aos fatos anteriores.
Além dos casos previstos na legislação militar para o tempo de guerra, a pena de morte será aplicada nos
seguintes crimes: a) tentar submeter o território da Nação ou parte dele à soberania de Estado estrangeiro;
b) atentar, com auxilio ou subsidio de Estado estrangeiro ou organização de caráter internacional, contra a
unidade da Nação, procurando desmembrar o território sujeito à sua soberania; c) tentar por meio de
movimento armado o desmembramento do território nacional, desde que para reprimi-lo se torne necessário
proceder a operações de guerra; d) tentar, com auxilio ou subsidio de Estado estrangeiro ou organização de
caráter internacional, a mudança da ordem política ou social estabelecida na Constituição; e) tentar
subverter por meios violentos a ordem política e social, com o fim de apoderar-se do Estado para o
estabelecimento da ditadura de uma classe social; f) a insurreição armada contra os Poderes do Estado,
assim considerada ainda que as armas se encontrem em depósito; g) praticar atos destinados a provocar a
guerra civil, se esta sobrevém em virtude deles; h) atentar contra a segurança do Estado praticando
devastação, saque, incêndio, depredação ou quaisquer atos destinados a suscitar terror; i) atentar contra a
vida, a incolumidade ou a liberdade do Presidente da República; j) o homicídio cometido por motivo fútil
ou com extremos de perversidade”.
72
A Constituição de 1967, após o Ato Institucional n. 14, de 1969, estabeleceu, no parágrafo 11 do seu
artigo 150, o seguinte: “Não haverá pena de morte, de prisão perpétua, de banimento, ou confisco, salvo
nos casos de guerra externa psicológica adversa, ou revolucionária ou subversiva nos termos que a lei
determinar. Esta disporá também, sobre o perdimento de bens por danos causados ao Erário, ou no caso de
enriquecimento ilícito no exercício de cargo, função ou emprego na Administração Pública, Direta ou
Indireta”.

72
Todavia, na Constituição atual, a pena de morte somente é admitida em caso
de guerra externa declarada e, conforme dispõe o artigo 56 do Código Penal Militar, "é
executada por fuzilamento".

Subseção II
Penas de caráter perpétuo

A alínea b do inciso XLVII do artigo 5º da Constituição Federal proíbe as


penas “de caráter perpétuo”, o que abrange qualquer espécie de sanção penal, não se
restrindo, portanto, à proibição da prisão perpétua, mas sim, alcançando toda e qualquer
pena criminal, isto é, as penas privativas de liberdade, restritivas de direitos e a multa.
Assim, não pode o legislador, por exemplo, cominar penas que extrapolem o tempo de
vida médio de um ser humano, porquanto isso configuraria a perpetuidade penal.
Igualmente, essa proibição se aplica, também, às medidas de segurança, aos
efeitos secundários da condenação e às medidas penais consensuais.

§ 1º A proibição da perpetuidade da prisão

Nos períodos colonial e imperial, as galés perpétuas73 e de prisão perpétua


com trabalho74 estavam cominadas da legislação penal e foram aplicadas em larga escala.
Essas penas deixaram de vigorar partir da vigência do Decreto n. 774, de 20 de setembro
de 1890, no início do período republicano brasileiro.

73
O artigo 169 do Código Criminal do Imério, de 1830, estabelecia: “Art. 169. Jurar falso em juizo. Se a
causa, em que se prestar o juramento fôr civil.Penas - de prisão com trabalho por um mez a um anno, e de
multa de cinco a vinte por cento do valor da causa. Se a causa fôr criminal, e o juramento para absolvição
do réo. Penas - de prisão com trabalho por dous mezes a dous annos, e de multa correspondente á metade
do tempo. Se fôr para a condemnação do réo em causa capital. Penas - de gales perpetuas no gráo maximo
prisão com trabalho por quinze annos no médio; e por oito no minimo.”
74
Dispunha o Código Criminal do Império, de 1830, no seu artigo 68: “Art. 68. Tentar directamente, e por
factos, destruir a independencia ou a integridade do Imperio. Penas - de prisão com trabalho por cinco a
quinze annos. Se o crime se consummar. Penas - de prisão perpetua com trabalho no gráo maximo; prisão
com trabalho por vinte annos no medio; e por dez no minimo”.

73
Uma das principais preocupações dos republicanos, logo após a proclamação
da República, foi deixar de cominar e até proibir as penas corporais, em especial a pena
de morte, e de transformar a privação da liberdade de locomoção em pena hegemônica,
uma vez que, nos períodos colonial e imperial, vigoravam, majoritariamente, as penas
corporais. Além disso, os republicanos aboliram as galés perpétuas e estabeleceram uma
duração máxima para as penas privativas de liberdade, que passaram, assim, a ser
temporárias, ou seja, passaram a ter a duração máxima de 30 (trinta) anos, ressalvadas as
hipóteses de condenações por crimes ocorridos durante a execução, em que esse período
poderá ser ampliado, conforme a regra do artigo 75, parágrafo 2º, do Código Penal.
Desde então, com exceção no período dos governos militares75, a excecução
da pena privativa de liberdade, passaram a ter essa limitação temporal.

§ 2º A proibição da perpetuidade das medidas de segurança

Conforme já mencionado nos parágrafos iniciais desta seção, atribui-se ao


termo “pena”, existente na alínea b do inciso XLVI do artigo 5º da Constituição Federal,
o sentido de “sanção penal”, de modo que a vedação contida nessa alínea abrange,
também, as medidas de segurança.
Apesar do disposto na 1ª parte do parágrafo 1º do artigo 97 do Código Penal,
segundo a qual “a internação, ou tratamento ambulatorial, será por tempo
indeterminado, perdurando enquanto não for averiguada, mediante perícia médica, a
cessação de periculosidade”, conforme se pode depreender da ementa parcial do acórdão
proferido, no dia 16 de agosto de 1985, pela Primeira Turma do Supremo Tribunal
Federal, nos autos do Hábeas Corpus n. 84.219, de São Paulo, em que foi relator o
Ministro Marco Aurélio, foi afastada a perpetuidade dessas medidas:
MEDIDA DE SEGURANÇA - PROJEÇÃO NO TEMPO - LIMITE. A
interpretação sistemática e teleológica dos artigos 75, 97 e 183, os dois
primeiros do Código Penal e o último da Lei de Execuções Penais, deve fazer-

75
A Constituição de 1967, após o Ato Institucional n. 14, de 1969, estabeleceu, no parágrafo 11 do seu
artigo 150, o seguinte: “Não haverá pena de morte, de prisão perpétua, de banimento, ou confisco, salvo
nos casos de guerra externa psicológica adversa, ou revolucionária ou subversiva nos termos que a lei
determinar. Esta disporá também, sobre o perdimento de bens por danos causados ao Erário, ou no caso de
enriquecimento ilícito no exercício de cargo, função ou emprego na Administração Pública, Direta ou
Indireta”.

74
se considerada a garantia constitucional abolidora das prisões perpétuas. A
medida de segurança fica jungida ao período máximo de trinta anos.

Como se pode perceber, segundo o Supremo Tribunal Federal, a duração


máxima das medidas de segurança está limitada a 30 (trinta) anos. Todavia, a Súmula n.
527 do Superior Tribunal de Justiça reduziu, ainda mais, esse tempo máximo de duração
das medidas de segurança, ao estabelecer que “o tempo de duração da medida de
segurança não deve ultrapassar o limite máximo da pena abstratamente cominada ao
delito praticado”. Assim, no caso do autor de uma conduta de lesões corporais graves,
caso venha ele a ser considerado inimputável e lhe seja aplicada medida de segurança, a
duração máxima dessa sanção penal não poderá ultrapassar o parâmetro máximo da pena
privativa de liberdade cominada no tipo penal do artigo 129, parágrafo 1º, do Código
Penal, que é de 5 (cinco) anos.
Todavia, no caso de o agente necessitar de tratamento após vencido o prazo
da medida de segurança, é possível a internação compulsória, nos termos do artigo 1.777
do Código Civil e na Lei n. 10.216, de 6 de abril de 2001, deixando o liberado, assim, de
ser tratado no âmbito da justiça penal e passando à justiça cível.

§ 3º A proibição da perpetuidade dos antecedentes criminais

A lei infraconstitucional não contém nenhuma proibição acerca da


perpetuidade dos antecedentes. Todavia, a vedação contida na alínea b do inciso XLVII
do artigo 5o da Constituição Federal se estende, também, ao período em que determinada
circunstância possa produzir efeitos na aplicação ou na execução da pena, proibindo-se,
assim, a sua perpetuidade.
A propósito, a aplicação da vedação da perpetuidade dos efeitos dos
antecedentes criminais já foi admitida pelo Supremo Tribunal Federal, conforme se pode
depreender da ementa do acórdão proferido, no dia 11 de fevereiro de 2014, pela sua
Primeira Turma, nos autos do Habeas Corpus n. 119200, do Paraná, nos quais foi relator
o Ministro Dias Toffoli:
Habeas corpus. Tráfico de entorpecentes. Dosimetria. Fixação da pena-base
acima do mínimo legal em decorrência de maus antecedentes. Condenações
extintas há mais de cinco anos. Pretensão à aplicação do disposto no inciso I

75
do art. 64 do Código Penal. Admissibilidade. Precedente. Writ extinto. Ordem
concedida de ofício. 1. Impetração dirigida contra decisão singular não
submetida ao crivo do colegiado competente por intermédio de agravo
regimental, o que configura o não exaurimento da instância antecedente,
impossibilitando o conhecimento do writ. Precedentes. 2. Quando o paciente
não pode ser considerado reincidente, diante do transcurso de lapso temporal
superior a cinco anos, conforme previsto no art. 64, I, do Código Penal, a
existência de condenações anteriores não caracteriza maus antecedentes.
Precedentes. 3. Writ extinto. Ordem concedida de ofício. (O grifo não está na
redação original).

Também há precedentes do Tribunal de Justiça de Santa Catarina contrários à


perpetuidade dos antecedentes criminais, conforme se pode depreender da ementa parcial
do seguinte acórdão proferido, no dia 30 de janeiro de 2007, pela sua Primeira Câmara
Criminal, nos autos da Apelação Criminal n. 2006.032349-4, de Blumenau, nos quais foi
relator o Desembargador José Carlos Carstens Köhler:
DOSIMETRIA - CONDENAÇÃO ANTERIOR - VERIFICAÇÃO DO PRAZO
DEPURADOR DO INCISO I DO ART. 64 DO CÓDIGO PENAL -
IMPOSSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃO DO PROCESSO A TÍTULO DE
ANTECEDENTES, SOB PENA DE SE ADOTAR O SISTEMA DA
PERPETUIDADE DAS SANÇÕES NÃO ALBERGADO PELA "CARTA DA
PRIMAVERA" - ADEQUAÇÃO DA PENA-BASE DE OFÍCIO.

No mesmo sentido, é a ementa parcial do acórdão proferido, no dia 24 de


agosto de 2010, pela Terceira Câmara Criminal desse mesmo Tribunal de Justiça, nos
autos da Apelação Criminal n. 2010.029201-3, de São Bento do Sul, nos quais foi relator
o Desembargador Moacyr de Moraes Lima Filho:
APELAÇÕES CRIMINAIS [...] DOSIMETRIA - PENA-BASE -
CONDENAÇÕES DEFINITIVAS CONSIDERADAS COMO MAUS
ANTECEDENTES - TRANSCURSO DO PRAZO DEPURADOR DA
REINCIDÊNCIA - REDUÇÃO DE OFÍCIO – [...] 1 "Não caracterizam maus
antecedentes processos cuja condenação pretérita se enquadra no inciso I do
artigo 64 do Código Penal, porquanto decorridos mais de 5 (cinco) anos do
cumprimento ou da extinção da pena" (Des. Amaral e Silva).[...].

De fato, se a reincidência não é perpétua, não haveria razão para que os


antecedentes o sejam.
Todavia, mais recentemente, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina refluiu,
em parte, desse entendimento, deixando de observar a orientação jurisprudencial do
Supremo Tribunal Federal. Embora continuasse admitindo a temporariedade dos efeitos
dos antecedentes criminais, aquela tribunal passou a considerar não o tempo máximo de 5

76
(cinco) anos, mas, sim, de 10 (dez) anos, conforme se pode depreender da ementa parcial
do acórdão proferido, no dia 25 de abril de 2018, pelo seu Segundo Grupo de Câmaras
Criminais, nos autos da Revisão Criminal n. 4028135-18.2017.8.24.0000, de Gaspar, nos
quais foi relator o Desembargador Luiz Antônio Zanini Fornerolli:
REVISÃO CRIMINAL - CRIME DE FURTO (ART. 155, CAPUT, DO
CÓDIGO PENAL) - DOSIMETRIA - PRIMEIRA FASE - RECONHECIDA A
EXISTÊNCIA DE MAUS ANTECEDENTES - IMPOSSIBILIDADE -
VALORAÇÃO PAUTADA EM CONDENAÇÃO CRIMINAL CUJA EXTINÇÃO
DO CUMPRIMENTO DA PENA OCORREU HÁ MAIS DE 10 (DEZ) ANOS.
A fim de evitar uma perpétua valoração de condenação definitiva, esta
Câmara Criminal passou a entender que os efeitos dos antecedentes criminais
também devem ser limitados no tempo, a exemplo do que ocorre com a
reincidência - a qual, aliás, não deixa de ser uma espécie de antecedente. Em
homenagem ao princípio da proporcionalidade e da individualização da pena,
as condenações transitadas em julgado que não se prestem à configuração da
reincidência devem conservar seus efeitos, para fins de maus antecedentes, por
mais cinco anos, a contar da prescrição quinquenal prevista no art. 64, I, do
Código Penal (TJSC, ACr n. 0002915-10.2015.8.24.0048, rel. Des. Roberto
Lucas Pacheco, j. em 25.01.2018).[...]

Como se pode perceber, embora o Tribunal de Justiça catarinense não tivesse


mencionado a vedação constitucional da perpetuidade dos antecedentes, fez constar na
citada ementa a necessidade da perpétua valoração da condenação definitiva para efeitos
de antecedentes criminais.

§ 4º A proibição da perpetuidade dos efeitos secundários da condenação e das medidas


penais consensuais

Se a jurisprudência, inclusive a do Supremo Tribunal Federal, já admitiu que


a vedação da perpetuidade das penas se estende, também, às medidas de segurança e, se
há precedentes, também, quanto à impossibilidade da perpetuidade dos efeitos dos
antecedentes criminais, outra não deve ser a interpretação que não a que nega a
perpetuidade aos efeitos secundários da condenação e às medidas penais consensuais.
Assim, contraria a vedação constitucional das sanções penais de caráter
perpétuo, entre outras, a perda do cargo, da função pública e do mandado eletivo ou do
poder familiar, a duração desses efeitos por tempo indeterminado, ou a transação que
tenha por objeto qualquer consequência de caráter penal que não seja temporária.

77
Subseção III
Penas de trabalhos forçados

A alínea c do inciso XLVII do artigo 5º da Constituição Federal estabelece


que não haverá penas “de trabalhos forçados”. Essa vedação se aplica aos trabalhos que
constituem a pena em si e não ao trabalho que seja elemento a ser considerado na
execução da pena privativa de liberdade.
No período imperial, havia as penas de galés76 e de prisão com trabalho.77
Nesses casos, sem o trabalho, a pena não era executada.
No direito atual, o trabalho é um componente da avaliação da ressocialização
do condenado por ocasião da execução da pena privativa de liberdade, razão pela qual,
embora seja obrigatório, se não houver cumprido esse dever, não estará o preso deixado
de cumprir a pena. É possível que, por descumprir esse dever, o preso não seja merecedor
de algum benefício da execução penal, mas, enquanto estiver preso, estará cumprindo a
sua pena, não sendo estendido, por isso, o tempo da condenação.
O trabalho do preso, por isso, não viola a proibição em análise. No direito
brasileiro, esse trabalho é considerado um dever, mas, também, um direito, de modo que
possibilitar ao preso adquirir diversos direitos, entre os quais a remuneração e a remição
de um dia de pena para cada três trabalhados.
No que diz respeito à prestação de serviços à comunidade, embora constitua
um trabalho e seja a pena em si, deve-se sublinhar que, se o condenado se recusar a
prestar tarefas gratuitas em benefício de entidades sociais, essa pena poderá ser
convertida em prisão.78

76
O Código Criminal do Império, de 1830, estabelecia, no seu artigo 44, que “A pena de galés sujeitará os
réos a andarem com calceta no pé, e corrente de ferro, juntos ou separados, e a empregarem-se nos
trabalhos publicos da provincia, onde tiver sido commettido o delicto, á disposição do Governo”.
77
O Código Criminal do Império, de 1830, estabelecia, no seu artigo 46, que “A pena de prisão com
trabalho, obrigará aos réos a occuparem-se diariamente no trabalho, que lhes fôr destinado dentro do
recinto das prisões, na conformidade das sentenças, e dos regulamentos policiaes das mesmas prisões”.
78
O Código Penal atual, no parágrafo 4º do seu artigo 44, estabelece que “A pena restritiva de direitos
converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrição
imposta”.

78
Subseção IV
A pena de banimento

A alínea d do inciso XLVII do artigo 5º da Constituição Federal estabelece


que não haverá penas “de banimento”. O banimento impõe ao condenado à saída do país,
impedindo, assim, a sua permanência no território nacional. Essa espécie de pena deixou
de existir em nosso país com a Constituição de 1891.79
Não se pode confundir o banimento com as medidas de retirada compulsória
previstas nos artigos 46 a 60 da Lei n. 13.445, de 24 de maio de 2017 (Lei de Migração),
entre as quais a repatriação,80 a deportação81 e a expulsão,82 que são medidas de caráter
administrativo e não penal.

79
A Constituição Federal de 1891, no parágrafo 20 do seu artigo 72, foi estabelecido o seguinte: “Fica
abolida a pena de galés e a de banimento judicial”.
80
Dispõe o caput do artigo 49 da Lei de Migração que: “A repatriação consiste em medida administrativa de
devolução de pessoa em situação de impedimento ao país de procedência ou de nacionalidade”. Por sua
vez, o artigo 45 desse mesmo diploma legal estabelece que: “Art. 45. Poderá ser impedida de ingressar no
País, após entrevista individual e mediante ato fundamentado, a pessoa: I - anteriormente expulsa do País,
enquanto os efeitos da expulsão vigorarem; II - condenada ou respondendo a processo por ato de terrorismo
ou por crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos termos
definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998, promulgado pelo Decreto
no 4.388, de 25 de setembro de 2002; III - condenada ou respondendo a processo em outro país por crime
doloso passível de extradição segundo a lei brasileira; IV - que tenha o nome incluído em lista de restrições
por ordem judicial ou por compromisso assumido pelo Brasil perante organismo internacional; V - que
apresente documento de viagem que: a) não seja válido para o Brasil; b) esteja com o prazo de validade
vencido; ou c) esteja com rasura ou indício de falsificação; VI - que não apresente documento de viagem ou
documento de identidade, quando admitido; VII - cuja razão da viagem não seja condizente com o visto ou
com o motivo alegado para a isenção de visto; VIII - que tenha, comprovadamente, fraudado documentação
ou prestado informação falsa por ocasião da solicitação de visto; ou IX - que tenha praticado ato contrário
aos princípios e objetivos dispostos na Constituição Federal. Parágrafo único. Ninguém será impedido de
ingressar no País por motivo de raça, religião, nacionalidade, pertinência a grupo social ou opinião política.
81
Dispõe o caput do artigo 50 da Lei de Migração que: “A deportação é medida decorrente de procedimento
administrativo que consiste na retirada compulsória de pessoa que se encontre em situação migratória
irregular em território nacional”.
82
Dispõe o caput do artigo 54 da Lei de Migração que: “A expulsão consiste em medida administrativa de
retirada compulsória de migrante ou visitante do território nacional, conjugada com o impedimento de
reingresso por prazo determinado. § 1o Poderá dar causa à expulsão a condenação com sentença transitada
em julgado relativa à prática de: I - crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou
crime de agressão, nos termos definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998,
promulgado pelo Decreto no 4.388, de 25 de setembro de 2002; ou II - crime comum doloso passível de
pena privativa de liberdade, consideradas a gravidade e as possibilidades de ressocialização em território
nacional”.

79
Subseção V
Penas cruéis

A alínea e do inciso XLVII do artigo 5º da Constituição Federal estabelece que


não haverá penas “cruéis”, ou seja, as penas que atentam contra a condição humana do
condenado, produzindo-lhe um dano físico ou psíquico exagerado e irreversível, como,
por exemplo as penas que inviabilizam a existência física – pena de morte - ou retiram
dele a sua integridade física ou psíquica, tais como a castração, esterilização, marcas
cutâneas, amputação e intervenções neurológicas, ou, então, que o convertam em alguém
inferior (capitis diminutio), como as penas que visam a produzir um menosprezo social.

80
CAPÍTULO IV
AS SANÇÕES PENAIS E O DIREITO INTERNACIONAL

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

É importante atentar-se para as disposições contidas nos tratados e nas


convenções internacionais, tanto aquelas concernentes ao sistema global de direitos
humanos quanto aquelas do sistema regional americano e entre essas, tanto as do sistema
geral quanto as do especial.
O presente capítulo trata das matérias admitidas no direito internacional como
passíveis de serem sancionadas penalmente. Dividido em duas seções, tratará a primeira
das normas penais internacionais relativas a direitos humanos como objeto da ciência do
direito penal; a segunda, das normas sobre as sanções penais contidas no sistema glogal
de direitos humanos; e a terceira, das normas penais contidas no sistema regional.

SEÇÃO I
AS NORMAS PENAIS INTERNACIONAIS RELATIVAS A DIREITOS HUMANOS
COMO OBJETO DA CIÊNCIA DO DIREITO PENAL

Subseção I
A positivação das normas internacionais relativas a direitos humanos

As normas penais internacionais relativas a direitos humanos devem integrar o


objeto de estudo da ciência do direito penal em face da sua relevância e da sua
positivação. Sobre o processo de positivação dos direitos humanosno plano internacional,
não se pode perder de vista que, no dizer de Araújo e Andreiuolo, ocorreu em duas
etapas, isto é, num primeiro momento, por meio de declarações e, depois, pelos tratados.
Quanto ao seu primeiro momento, essas autoras ressaltam que “os direitos humanos
foram individualizados e explicitados em declarações (internacional e interamericana)

81
cujo valor jurídico é, em princípio, não vinculante, mas cujo conteúdo pode passar a ser
obrigatório na medida em que contenha ou expresse uma fonte de direito internacional”.
Depois, “os direitos foram plasmados em tratados – instrumentos jurídicos obrigatórios
por natureza -, para aqueles que manifestem seu consentimento em obrigar-se, e
relativos a um conjunto de direitos em particular”. 83
Assim, a positivação dos direitos humanos fundamentais, nos moldes atuais,
iniciou-se com a Carta das Nações Unidas, de 1945, e com a Declaração Universal dos
Direitos do Homem de, 1948, após o que surgiram vários tratados e convenções
internacionais sobre direitos humanos. Esses diplomas podem ser sistematizados
conforme sejam de interesse universal (sistema universal) ou de interesse regional
(sistema regional) e por tratarem de temas gerais (sistema geral) ou especiais (sistema
especial).84 Tem-se, portanto, um sistema universal-geral85 e um sistema universal-
especial,86 assim como de sistemas regionais-gerais87 e sistemas regionais-especiais.88 Os

83
ARAÚJO, Nádia de; ANDREIULO, Inês da Matta. A internalização dos tratados no Brasil e os direitos
humanos. In: BOUCAULT, Carlos Eduardo de Abreu; ARAÚJO, Nadia de (Org). Os direitos humanos e
o direito internacional. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. p. 63-113. p. 72.
84
Piovesan explica que “os sistemas geral e especial são sistemas de proteção complementares, na medida
em que o sistema especial de proteção é voltado, fundamentalmente, à prevenção da discriminação ou à
proteção de pessoas os grupos de pessoas particularmente vulneráveis, que merecem proteção especial.
Daí apontar-se não mais o indivíduo genérica e abstratamente considerado, mas ao indivíduo
‘especificado’, considerando-se categorizações relativas ao gênero, idade, etnia, raça, etc. O sistema
internacional passa a reconhecer direitos endereçados às crianças, aos idosos, à mulheres, às pessoas
vítimas de tortura, às pessoas vítimas de discriminação racial, dentre outros”. (PIOVESAN, Flávia.
Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 5. ed. São Paulo: Max Limonad, 2003. p.
188).
85
Entre os diplomas de direito internacional que formam o sistema universal-geral, além da Carta das
Nações Unidas de 1945 e da Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948 antes mencionados,
estão o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966; o Pacto Internacional
dos Direitos Civis e Políticos de 1966; o Protocolo Facultativo Relativo ao Pacto Internacional dos
Direitos Civis e Políticos de 1966; e o Segundo Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional de Direitos
Civis e Políticos para a Abolição da Pena de Morte de 1989.
86
Entre os diplomas de direito internacional do sistema global-especial que tratam, entre outras, de normas
relativas ao direito penal e ao direito processual penal, cabe citar a Convenção sobre a Prevenção e a
Sanção do Crime de Genocídio de 1948; a Convenção n. 105 da Organização Internacional do Trabalho
Relativa à Abolição do Trabalho Forçado de 1957; a Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou
Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes de 1984; as Regras Mínimas das Nações Unidas Para a
Administração da Justiça da Infância e da Juventude (Regras de Beijing) de 1985; a Convenção sobre os
Direitos da Criança de 1989; os Princípios Básicos Para o Tratamento de Reclusos de 1990; a Convenção
Contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas de 1991; o Estatuto de Roma Sobre
o Tribunal Penal Internacional de 1998; a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado
Transnacional de 2000 (Convenção de Palermo); o Protocolo Relativo ao Combate ao Tráfico de
Migrantes por Via Terrestre, Marítima e Aérea de 2000; o Protocolo Relativo à Prevenção, Repressão e
Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças de 2000; o Protocolo Contra a
Fabricação e o Tráfico Ilícito de Armas de Fogo, suas Peças e Componentes e Munições de 2001.

82
sistemas regionais buscam a proteção dos direitos humanos no plano regional, podendo-
se destacar, entre esses sistemas, o europeu, americano e africano.89
A propósito, Piovesan explica “o sistema internacional de proteção dos direitos
humanos”, formado a partir dos diplomas de direito internacional antes mencionados,
“pode apresentar diferentes âmbitos de aplicação”, razão pela qual é comum “falar-se
nos sistemas global e regional de proteção dos direitos humanos”, os quais “não são
dicotômicos, mas, ao revés, são complementares”, uma vez que, “inspirados pelos
valores e princípios da Declaração Universal, compõem o universo instrumental de
proteção dos direitos humanos, no plano internacional”. Isso significa dizer que “os
diversos sistemas de proteção de direitos humanos interagem em benefício dos indivíduos
protegidos”, pois o propósito da coexistência de distintos instrumentos jurídicos é
“ampliar e fortalecer a proteção dos direitos humanos”.90

87
Entre os diplomas normativos do sistema regional-geral, encontram-se a Declaração Americana dos
Direitos do Homem de 1948; a Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969 (Pacto de São José da
Costa Rica); e o Protocolo Adicional à Convenção Americana de Direitos Humanos em Matéria de
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1988 (Protocolo de San Salvador).
88
Entre os diplomas do sistema regional-especial, por conterem, também, normas penais e processuais
penais, cabe uma referência especial ao Tratado para a Proscrição das Armas Nucleares na América
Latina e no Caribe de 1967 (Tratado de Tlatelolco); à Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a
Tortura de 1985; ao Protocolo Adicional à Convenção Americana Sobre Direitos Humanos à Abolição da
Pena de Morte de 1990; à Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra
a Mulher 1994 (Convenção de Belém do Pará); e à Convenção Interamericana Contra a Corrupção de
1996, que são diplomas de direito internacional que tratam de aspectos penais e processuais.
89
Piovesan afirma que “cada qual dos sistemas regionais de proteção apresenta um aparato jurídico
próprio”¸ de modo que “o sistema interamericano tem como principal instrumento a Convenção
americana de Direitos Humanos de 1969, que estabelece a Comissão Interamericana de Direitos Humanos
e a Corte Interamericana. Já o sistema europeu conta com a Convenção Européia de Direitos Humanos de
1950, que estabelece a Comissão e a Corte Européia de Direitos Humanos. Por fim, o sistema africano
apresenta como principal instrumento a Carta Africana de Direitos Humanos” (PIOVESAN, Flávia.
Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 5. ed. São Paulo: Max Limonad, 2003. p.
226).
90
PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 5. ed. São Paulo: Max
Limonad, 2002. p. 225 e 228. Tem-se, assim, um sistema global de direitos humanos, cujo campo de
incidência, no dizer de Piovesan, “não se limita a uma determinada região, mas pode alcançar, em tese,
qualquer Estado integrante da ordem internacional, a depender do consentimento do Estado no que se
atém aos instrumentos internacionais de proteção”. (PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito
constitucional internacional. 5. ed. São Paulo: Max Limonad, 2002. p. 225).

83
Subseção II
A convivência entre os sistemas internacional e nacional

Na convivência entre sistemas normativos distintos, ou seja, entre o sistema


nacional e o sistema internacional e entre o sistema global e o sistema regional, aplica-se,
segundo Comparato, “o princípio da prevalência dos direitos mais vantajosos para a
pessoa humana”, ou seja, “deve ser aplicado aquele que melhor protege o ser
humano”.91
Entre as normas internacionais de direitos humanos, há aquelas que, uma vez
internalizadas, passam a integrar o ordenamento jurídico-penal e processual penal,
embora se deva reconhecer que, de uma forma ou de outra, todas as normas relativas a
direitos humanos tenham, mesmo que mediatamente, alguma relação com o direito penal
e processual penal. Assim, há normas que dispõem sobre a legalidade penal e sobre a
vigência das normas penais e processuais, assim como há normas que estabelecem sobre
bens jurídicos a serem protegidos, sobre a imputabilidade, sobre as limitações existentes à
sanção penal e sobre o processo penal.92
Sobre a internalização das normas de direito internacional, não se pode deixar de
mencionar que, não obstante o intenso debate entre monistas e dualistas sobre as relações
do direito internacional e o direito interno,93 o Supremo Tribunal Federal brasileiro, com

91
COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 8. ed. São Paulo: Saraiva,
2013. P. 380.
92
Por sua importância para o objeto da ciência do direito penal, merecem destaque, entre os diplomas de
direito internacional, os seguintes: a) o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos de 1966,
promulgado por meio do Decreto Presidencial n. 592, de 6 de julho de 1992, e a Convenção Americana de
Direitos Humanos; e b) a Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969 (Pacto de São José da
Costa Rica) foi promulgada pelo Decreto Presidencial n. 678, de 6 de novembro de 1992. Nesses diplomas,
são encontradas normas penais e processuais penais que devem ser integrar o estudo do direito penal.
93
Sobre as relações entre o direito internacional e o direito interno, há duas teorias: a) a teoria dualista,
sustentada pelo jurista alemão Karl Heinrich Triepel, professor de direito constitucional da Universidade de
Leipzig (Alemanha), que sustenta que “uma fonte de direito internacional é também incapaz de criar, por si
mesma, uma regra de direito interno, tanto quanto uma fonte de direito interno não se encontra em
condições de produzir, por si mesma, direito internacional. A doutrina que acaba de ser exposta pode ser
denominada: teoria dualista das relações entre o direito internacional e o direito interno”. (TRIEPEL,
Henrich Karl. As relações entre o direito interno e o direito internacional. Belo Horizonte: Revista da
Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, 1964. p. 17-18); e b) a teoria monista,
sustentada por Hans Kelsen, na sua Teoria Geral do Direito e do Estado (1944), segundo o qual a “visão
monista é o resultado de uma análise das normas do Direito internacional positivo referente aos Estados,
ou seja, às ordens jurídicas nacionais”, o que significa dizer que, “a partir do ponto de vista do Direito
internacional, vê-se a sua conexão com o Direito nacional e, por conseguinte, com uma ordem jurídica

84
base na Constituição Federal, adotou a posição no sentido de que as normas de direito
internacional integram-se ao ordenamento jurídico interno, desde que observado o iter
procedimental de incorporação dos tratados internacionais. Assim, superadas as fases
prévias da celebração da convenção internacional, de sua aprovação congressional e da
ratificação pelo Chefe de Estado, o procedimento se conclui com a expedição, pelo
Presidente da República, de decreto, de cuja edição derivam três efeitos básicos que lhe
são inerentes: (a) a promulgação do tratado internacional; (b) a publicação oficial de seu
texto; e (c) a executoriedade do ato internacional, que passa, somente então, a vincular e a
obrigar no plano do direito positivo interno.94
No que diz respeito à posição hierárquica dos tratados internacionais em relação
ao ordenamento jurídico interno, há quatro95 posições: 1) as normas internacionais têm a

universal”. (KELSEN, Hans. Teoria geral do direito e do estado. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p.
516). Para Kelsen, explica Silvia Helena de Figueiredo Steiner, existe uma unidade no ordenamento
jurídico, não se admitindo uma dicotomia entre os dois ordenamentos, já que, de um lado, o Estado firma
tratados no exercício de sua soberania – soberania esta que só existe se reconhecida no direito internacional
– e, de outro, o tratado obrigaria não só o Estado, mas também os súditos desse Estado, criando-lhes
direitos e obrigações. (STEINER, Sylvia Helena de Figueiredo. A convenção americana sobre direitos
humanos e sua integração ao processo penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p. 61-66).
94
Essas fases do procedimento de incorporação dos tratados internacionais firmados pelo Brasil foram
estabelecidas pelo Pleno do Supremo Tribunal Federal, na ementa do acórdão proferido, no dia 4 de
setembro de 1997, nos autos da Medida Cautelar em Ação Direta de Constitucionalidade n. 1.480, do
Distrito Federal, nos quais foi relator o Ministro Celso de Mello, nos seguinte termos: “É na Constituição
da República - e não na controvérsia doutrinária que antagoniza monistas e dualistas - que se deve buscar
a solução normativa para a questão da incorporação dos atos internacionais ao sistema de direito positivo
interno brasileiro. O exame da vigente Constituição Federal permite constatar que a execução dos
tratados internacionais e a sua incorporação à ordem jurídica interna decorrem, no sistema adotado pelo
Brasil, de um ato subjetivamente complexo, resultante da conjugação de duas vontades homogêneas: a do
Congresso Nacional, que resolve, definitivamente, mediante decreto legislativo, sobre tratados, acordos ou
atos internacionais (CF, art. 49, I) e a do Presidente da República, que, além de poder celebrar esses atos
de direito internacional (CF, art. 84, VIII), também dispõe - enquanto Chefe de Estado que é - da
competência para promulgá-los mediante decreto. O iter procedimental de incorporação dos tratados
internacionais - superadas as fases prévias da celebração da convenção internacional, de sua aprovação
congressional e da ratificação pelo Chefe de Estado - conclui-se com a expedição, pelo Presidente da
República, de decreto, de cuja edição derivam três efeitos básicos que lhe são inerentes: (a) a promulgação
do tratado internacional; (b) a publicação oficial de seu texto; e (c) a executoriedade do ato internacional,
que passa, então, e somente então, a vincular e a obrigar no plano do direito positivo interno.
Precedentes.”
95
Sobre a posição hierárquica dos tratados internacionais em relação ao ordenamento jurídico interno,
Araújo e Andreiulo fazem distinção entre o monismo radical e o monismo moderado, de modo que “o
radical pregaria a primazia do tratado sobre a ordem jurídica interna, e o moderado procederia à
equiparação hierárquica do tratado à lei ordinária, subordinando-o, portanto, à Constituição e à
aplicação do critério cronológico, no caso de conflito”. (ARAÚJO, Nádia de; ANDREIULO, Inês da
Matta. A internalização dos tratados no Brasil e os direitos humanos. In: BOUCAULT, Carlos Eduardo de
Abreu; ARAÚJO, Nadia de (Org). Os direitos humanos e o direito internacional. Rio de Janeiro:
Renovar, 1999. p. 63-113. p. 88).

85
mesma hierarquia das leis ordinárias;96 2) as normas internacionais têm posição
hierárquica superior às leis ordinárias, mas inferior às normas constitucionais;97 3) as
normas internacionais podem ter posição hierárquica igual às normas constitucionais,
quando se tratar de normas sobre direitos humanos, em face do critério da interpretação
mais favorável, que é a posição adotada pelo Supremo Tribunal Federal;98 e 4) as normas
internacionais tem posição hierárquica superior às normas constitucionais.99

96
A primeira posição, ou seja, de que os tratados e as convenções internacionais têm a mesma posição
hierárquica das leis ordinárias, é sustentada pelo jurista brasileiro Francisco Rezek, conforme referido pela
também jurista brasileira Sylvia Helena de Figueiredo (STEINER, Sylvia Helena de Figueiredo. A
convenção americana sobre direitos humanos e sua integração ao processo penal. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2000. p. 69-80), e foi a linha adotada, inicialmente, pelo Pleno do Supremo Tribunal Federal,
conforme se pode depreender da ementa parcial do acórdão proferido, no dia 4 de setembro de 1997, nos
autos da Medida Cautelar em Ação Direta de Constitucionalidade n. 1.480, do Distrito Federal, nos quais
foi relator o Ministro Celso de Mello: “[...] PARIDADE NORMATIVA ENTRE ATOS INTERNACIONAIS E
NORMAS INFRACONSTITUCIONAIS DE DIREITO INTERNO. - Os tratados ou convenções
internacionais, uma vez regularmente incorporados ao direito interno, situam-se, no sistema jurídico
brasileiro, nos mesmos planos de validade, de eficácia e de autoridade em que se posicionam as leis
ordinárias, havendo, em conseqüência, entre estas e os atos de direito internacional público, mera relação
de paridade normativa. Precedentes. No sistema jurídico brasileiro, os atos internacionais não dispõem de
primazia hierárquica sobre as normas de direito interno. A eventual precedência dos tratados ou
convenções internacionais sobre as regras infraconstitucionais de direito interno somente se justificará
quando a situação de antinomia com o ordenamento doméstico impuser, para a solução do conflito, a
aplicação alternativa do critério cronológico (‘lex posterior derogat priori’) ou, quando cabível, do
critério da especialidade. Precedentes”.
97
A segunda posição, isto é, de que as normas de direito internacional sobre direitos humanos têm posição
inferior à Constituição, mas superior à norma legal, foi a adotada, posteriormente, pelo Pleno do Supremo
Tribunal Federal, conforme se pode depreender da ementa do acorda proferido, no dia 3 de dezembro de
2008, nos autos do Recurso Extraordinário n. 349703, do Rio Grande do Sul, nos quais foi relator o
Ministro Carlos Brito: “[...] POSIÇÃO HIERÁRQUICO-NORMATIVA DOS TRATADOS
INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO. Desde a
adesão do Brasil, sem qualquer reserva, ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (art. 11) e à
Convenção Americana sobre Direitos Humanos - Pacto de San José da Costa Rica (art. 7º, 7), ambos no
ano de 1992, não há mais base legal para prisão civil do depositário infiel, pois o caráter especial desses
diplomas internacionais sobre direitos humanos lhes reserva lugar específico no ordenamento jurídico,
estando abaixo da Constituição, porém acima da legislação interna. O status normativo supralegal dos
tratados internacionais de direitos humanos subscritos pelo Brasil torna inaplicável a legislação
infraconstitucional com ele conflitante, seja ela anterior ou posterior ao ato de adesão. [...]”.
98
A terceira posição, ou seja, de que as normas de direito internacional, quando versarem sobre direitos
humanos, gozam de paridade com as normas constitucionais, em face do critério da interpretação mais
favorável, vem sendo a adotada pelo Supremo Tribunal Federal, com base no artigo 5 o, parágrafo 2o, da
Constituição Federal, como se pode depreender da ementa do acórdão proferido, no dia 9 de junho de 2009,
pela sua Segunda Turma, nos autos do Habeas Corpus n. 96772, de São Paulo, nos quais foi relator o
Ministro Celso de Mello: “[...] TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS: AS SUAS
RELAÇÕES COM O DIREITO INTERNO BRASILEIRO E A QUESTÃO DE SUA POSIÇÃO
HIERÁRQUICA. - A Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Art. 7º, n. 7). Caráter subordinante
dos tratados internacionais em matéria de direitos humanos e o sistema de proteção dos direitos básicos da
pessoa humana. - Relações entre o direito interno brasileiro e as convenções internacionais de direitos
humanos (CF, art. 5º e §§ 2º e 3º). Precedentes. - Posição hierárquica dos tratados internacionais de
direitos humanos no ordenamento positivo interno do Brasil: natureza constitucional ou caráter de
supralegalidade? - Entendimento do Relator, Min. CELSO DE MELLO, que atribui hierarquia

86
Não obstante o referido debate sobre as diversas posições das normas
internacionais sobre direitos humanos em relação ao direito interno, não se pode deixar
de ressaltar que a Constituição Federal de 1988 não somente previu um amplo rol de
direitos considerados fundamentais do ser humano como, também, permitiu que esse
mesmo rol fosse aumentado em face dos tratados internacionais100 dos quais o Brasil seja
firmatário. Segundo o artigo 5o, parágrafo 2o, da Constituição Federal, “Os direitos e
garantias expressas nesta constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos
princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República

constitucional às convenções internacionais em matéria de direitos humanos. A INTERPRETAÇÃO


JUDICIAL COMO INSTRUMENTO DE MUTAÇÃO INFORMAL DA CONSTITUIÇÃO. - A questão dos
processos informais de mutação constitucional e o papel do Poder Judiciário: a interpretação judicial
como instrumento juridicamente idôneo de mudança informal da Constituição. A legitimidade da
adequação, mediante interpretação do Poder Judiciário, da própria Constituição da República, se e
quando imperioso compatibilizá-la, mediante exegese atualizadora, com as novas exigências, necessidades
e transformações resultantes dos processos sociais, econômicos e políticos que caracterizam, em seus
múltiplos e complexos aspectos, a sociedade contemporânea. HERMENÊUTICA E DIREITOS HUMANOS:
A NORMA MAIS FAVORÁVEL COMO CRITÉRIO QUE DEVE REGER A INTERPRETAÇÃO DO PODER
JUDICIÁRIO. - Os magistrados e Tribunais, no exercício de sua atividade interpretativa, especialmente no
âmbito dos tratados internacionais de direitos humanos, devem observar um princípio hermenêutico básico
(tal como aquele proclamado no Artigo 29 da Convenção Americana de Direitos Humanos), consistente em
atribuir primazia à norma que se revele mais favorável à pessoa humana, em ordem a dispensar-lhe a mais
ampla proteção jurídica. - O Poder Judiciário, nesse processo hermenêutico que prestigia o critério da
norma mais favorável (que tanto pode ser aquela prevista no tratado internacional como a que se acha
positivada no próprio direito interno do Estado), deverá extrair a máxima eficácia das declarações
internacionais e das proclamações constitucionais de direitos, como forma de viabilizar o acesso dos
indivíduos e dos grupos sociais, notadamente os mais vulneráveis, a sistemas institucionalizados de
proteção aos direitos fundamentais da pessoa humana, sob pena de a liberdade, a tolerância e o respeito à
alteridade humana tornarem-se palavras vãs. - Aplicação, ao caso, do Artigo 7º, n. 7, c/c o Artigo 29,
ambos da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica): um caso típico
de primazia da regra mais favorável à proteção efetiva do ser humano.” Ressalta-se que a votação da
turma foi unânime, no sentido de acolher o voto do relator.
99
Por fim, Steiner cita que, entre os autores que admitem que as normas de direito internacional possuem
um status superior ao das normas constitucionais, estão Pontes de Miranda, Hildebrando Accioly, João
Gracindo Rodas e Oliveiros Litrento. (STEINER, Sylvia Helena de Figueiredo. A convenção americana
sobre direitos humanos e sua integração ao processo penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p.
71-73).
100
Para tal, deve-se ter em mente o processo de elaboração dos tratados internacionais, a sua aprovação pelo
Congresso Nacional brasileiro, a sua ratificação pelo Governo brasileiro e a sua promulgação pela
Presidência da República. Conforme dispõe o artigo 84, inciso VIII, da Constituição Federal, “compete,
privativamente, ao Presidente da República: [...] celebrar tratados, convenções e atos internacionais,
sujeitos a referendo do Congresso Nacional”. Por sua vez, segundo a regra do artigo 49, inciso I, da
Constituição Federal, “é competência exclusiva do Congresso Nacional [...] resolver definitivamente sobre
tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio
nacional”, cuja aprovação deve ser objeto de decreto legislativo. Deve-se ressaltar o que dispõe o artigo 1o
da Convenção de Viena Sobre o Direito dos Tratados, segundo o qual “‘tratado’ significa um acordo
internacional celebrado entre Estados em forma escrita e regido pelo direito internacional, que conste, ou
de um instrumento único ou de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja a sua denominação
específica”. Assim, os tratados internacionais podem ser designados, também, entre outros, como
“convenções”, “acordos”, “pactos” e “ajustes”.

87
Federativa do Brasil seja parte”. Substancial alteração imprimida pela Emenda
Constitucional no 45, de 8 de dezembro de 2004, que acrescentou o parágrafo 3o ao artigo
5o da Constituição da República Federativa do Brasil, segundo o qual “os tratados e
convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa
do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos
membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”. Portanto, desde que
aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos
votos dos respectivos membros, os tratados e as convenções internacionais sobre direitos
humanos, terão status de norma constitucional.

SEÇÃO II
NORMAS INTERNACIONAIS SOBRE SANÇÕES PENAIS CONTIDAS NO
SISTEMA GLOBAL DE DIREITOS HUMANOS

Subseção I
Normas penais contidas no sistema global-geral

Entre os diplomas de direito internacional que formam o sistema universal-geral,


importa mencionar a Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948, o Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Políticos de 1966 e o Segundo Protocolo Facultativo
ao Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos para a Abolição da Pena de Morte
de 1989.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948101, estabeleceu, no seu
artigo 5º, que “Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis,
desumanos ou degradantes”. Já o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, de
1966102, estabeceu, no seu artigo 6º, o seguinte:

101
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada e proclamada pela Resolução nº 217 A (III) da
Assembléia Geral das Nações Unidas em em 10 de dezembro de 1948. Assinada pelo Brasil na mesma data.
102
O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos foi adotado, pela XXI Sessão da Assembléia-Geral
das Nações Unidas, em 16 de dezembro de 1966, tendo sido aprovado, pelo Congresso Nacional, por meio
do Decreto Legislativo n. 226, de 12 de dezembro de 1966, sido depositada a respectiva Carta de Adesão

88
a) em relação à pena de morte, nos intens 2, 3, 4, 5 e 6 desse artigo, está
estabelecido que:
2. Nos países em que a pena de morte não tenha sido abolida, esta poderá ser
imposta apenas nos casos de crimes mais graves, em conformidade com
legislação vigente na época em que o crime foi cometido e que não esteja em
conflito com as disposições do presente Pacto, nem com a Convenção sobra a
Prevenção e a Punição do Crime de Genocídio. Poder-se-á aplicar essa pena
apenas em decorrência de uma sentença transitada em julgado e proferida por
tribunal competente.
3. Quando a privação da vida constituir crime de genocídio, entende-se que
nenhuma disposição do presente artigo autorizará qualquer Estado Parte do
presente Pacto a eximir-se, de modo algum, do cumprimento de qualquer das
obrigações que tenham assumido em virtude das disposições da Convenção
sobre a Prevenção e a Punição do Crime de Genocídio.
4. Qualquer condenado à morte terá o direito de pedir indulto ou comutação
da pena. A anistia, o indulto ou a comutação da pena poderá ser concedido em
todos os casos.
5. A pena de morte não deverá ser imposta em casos de crimes cometidos por
pessoas menores de 18 anos, nem aplicada a mulheres em estado de gravidez.
6. Não se poderá invocar disposição alguma do presente artigo para retardar
ou impedir a abolição da pena de morte por um Estado Parte do presente
Pacto.

b) em relação às penas desumanas, o referido Pacto dispôs, no seu artigo 7º, que
“Ninguém poderá ser submetido à tortura, nem a penas ou tratamento cruéis, desumanos
ou degradantes. Será proibido sobretudo, submeter uma pessoa, sem seu livre
consentimento, a experiências médias ou cientificas”.
c) em relação à pena de trabalhos forçados, o Pacto dos Direitos Civis e Políticos
estabeleceu, no item 3 do seu artigo 8º, que:
3. a) Ninguém poderá ser obrigado a executar trabalhos forçados ou
obrigatórios;
b) A alínea a) do presente parágrafo não poderá ser interpretada no sentido de
proibir, nos países em que certos crimes sejam punidos com prisão e trabalhos
forçados, o cumprimento de uma pena de trabalhos forçados, imposta por um
tribunal competente;
c) Para os efeitos do presente parágrafo, não serão considerados "trabalhos
forçados ou obrigatórios":i) qualquer trabalho ou serviço, não previsto na
alínea b) normalmente exigido de um individuo que tenha sido encarcerado em
cumprimento de decisão judicial ou que, tendo sido objeto de tal decisão,
ache-se em liberdade condicional;

em 24 de janeiro de 1992, entrando em vigor, para o Brasil, em 24 de abril de 1992, e sendo promulgado,
pela Presidência da República, por meio do Decreto n. 592, de 6 de julho de 1992.
;

89
c) em relação à pena de prisão, esse mesmo Pacto estabeleceu, nos seus artigos 9º
e 10, que:

ARTIGO 9
1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoais. Ninguém
poderá ser preso ou encarcerado arbitrariamente. Ninguém poderá ser
privado de liberdade, salvo pelos motivos previstos em lei e em conformidade
com os procedimentos nela estabelecidos.
2. Qualquer pessoa, ao ser presa, deverá ser informada das razões da prisão e
notificada, sem demora, das acusações formuladas contra ela.
3. Qualquer pessoa presa ou encarcerada em virtude de infração penal deverá
ser conduzida, sem demora, à presença do juiz ou de outra autoridade
habilitada por lei a exercer funções judiciais e terá o direito de ser julgada em
prazo razoável ou de ser posta em liberdade. A prisão preventiva de pessoas
que aguardam julgamento não deverá constituir a regra geral, mas a soltura
poderá estar condicionada a garantias que assegurem o comparecimento da
pessoa em questão à audiência, a todos os atos do processo e, se necessário
for, para a execução da sentença.
4. Qualquer pessoa que seja privada de sua liberdade por prisão ou
encarceramento terá o direito de recorrer a um tribunal para que este decida
sobre a legislação de seu encarceramento e ordene sua soltura, caso a prisão
tenha sido ilegal.
5. Qualquer pessoa vítima de prisão ou encarceramento ilegais terá direito à
repartição.
ARTIGO 10
1. Toda pessoa privada de sua liberdade deverá ser tratada com humanidade e
respeito à dignidade inerente à pessoa humana.
2. a) As pessoas processadas deverão ser separadas, salvo em circunstâncias
excepcionais, das pessoas condenadas e receber tratamento distinto,
condizente com sua condição de pessoa não-condenada.
b) As pessoas processadas, jovens, deverão ser separadas das adultas e
julgadas o mais rápido possível.
3. O regime penitenciário consistirá num tratamento cujo objetivo principal
seja a reforma e a reabilitação normal dos prisioneiros. Os delinqüentes
juvenis deverão ser separados dos adultos e receber tratamento condizente
com sua idade e condição jurídica.

Por sua vez, o Segundo Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional de Direitos


Civis e Políticos para a Abolição da Pena de Morte de 1989103 estabeleceu, no item 1 do
seu artigo 1º, que “Nenhum indivíduo sujeito à jurisdição de um Estado Parte no presente
Protocolo será executado, e, no item 2 desse mesmo artigo, que “Os Estados Partes
devem tomar as medidas adequadas para abolir a pena de morte no âmbito da sua
jurisdição”.

103
O Segundo Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos com vistas à
Abolição da Pena de Morte foi adotado e proclamado, pela Assembléia Geral das Nações Unidas, por meio
da Resolução nº 44/128, de 15 de dezembro de 1989, foi aprovado pelo Congresso Nacional, por meio do
Decreto Legislativo nº 311, de 16 de junho de 2009.

90
Conforme se pode perceber, há restrições às penas de morte, de trabalhos
forçados, à tortura e às penas desumanas e cruéis. Além disso, na execução das penas
privativas de liberdade, deve-se assegurar a separação dos presos.

Subseção II
Normas penais contidas no sistema global-especial

Entre os diplomas de direito internacional do sistema global-especial que tratam,


entre outras, de normas relativas ao direito penal e ao direito processual penal, cabe citar
a Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou
Degradantes, de 1984104, que, no seu artigo 1º, definiu a tortura como sendo:
Para fins da presente Convenção, o termo "tortura" designa qualquer ato pelo
qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos
intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de terceira pessoa,
informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou terceira pessoa
tenha cometido ou seja suspeita de Ter cometido; de intimidar ou coagir esta
pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação
de qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimentos são infligidos por um
funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, ou por
sua instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência. Não se
considerará como tortura as dores ou sofrimentos que sejam conseqüência
unicamente de sanções legítimas, ou que sejam inerentes a tais sanções ou
delas decorram.

No seu artigo 4º, essa Convenção estabeleceu obrigação dos estados contratantes
de tipificar o crime de tortura e de sancioná-lo com penas graves.
Artigo 4º
§1. Cada Estado Membro assegurará que todos os atos de tortura sejam
considerados crimes segundo a sua legislação penal. O mesmo aplicar-se-á à
tentativa de tortura e a todo ato de qualquer pessoa que constitua
cumplicidade ou participação na tortura.
§2. Cada Estado Membro punirá esses crimes com penas adequadas que levem
em conta a sua gravidade.

104
A Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes foi
adotada pela Assembléia Geral das Nações Unidas, na sua XL Sessão, realizada em Nova York, no dia 10
de dezembro de 1984, sendo aprovada por meio da Resolução n. 39/46, em 23 de setembro de 1985, sendo
aprovada, pelo Congresso Nacional, por meio do Decreto Legislativo nº 4, de 23 de maio de 1989. A Carta
de Ratificação da Convenção foi depositada em 28 de setembro de 1989. Esta entrou em vigor no Brasil em
28 de outubro de 1989 e foi promulgada pelo Decreto Presidencial nº 40, de 15 de fevereiro de 1991.

91
Além disso, no seu artigo 16, a referida Convenção estabeleceu o compromisso
dos Estados membros de proibir o tratamento e as penas cruéis, desumanos ou
degradantes.
Artigo 16
§1. Cada Estado Membro se comprometerá a proibir, em qualquer território
sob a sua jurisdição, outros atos que constituam tratamentos ou penas cruéis,
desumanos ou degradantes que não constituam tortura tal como definida no
"artigo 1º", quando tais atos forem cometidos por funcionário público ou outra
pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou com o seu
consentimento ou aquiescência. Aplicar-se-ão, em particular, as obrigações
mencionadas nos "artigos 10, 11, 12 e 13", com a substituição das referências
a outras formas de tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes.

Nos Princípios Básicos Para o Tratamento de Reclusos, de 1990 (Regras de


Mandela)105, estabeleceu-se que:
1. Todos os reclusos devem ser tratados com o respeito devido à dignidade e
ao valor inerentes ao ser humano.
2. Não haverá discriminações em razão de raça, sexo, cor, língua, religião,
opinião política ou outra, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou
outra condição.
3. É, no entanto, desejável respeitar as convicções religiosas e preceitos
culturais do grupo ao qual pertencem os reclusos sempre que assim o exijam
as condições do local.
4. A responsabilidade das prisões pela guarda dos reclusos e pela proteções
da sociedade contra a criminalidade, deve ser cumprida em conformidade com
os demais objetivos sociais do Estado e com sua responsabilidade fundamental
de promoção do bem estar e de desenvolvimento de todos os membros da
sociedade.
5. Exceto no que se refere às limitações evidentemente necessárias pelo fato da
sua prisão, todos os reclusos devem continuar a gozar os direitos do homem e
das liberdade fundamentais, enunciados na Declaração Universal dos Direitos
do Homem e, caso o Estado interessado neles seja parte, no Pacto
Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, no Pacto
Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos e no Protocolo
Facultativo que o acompanham bem como de todos os outros direitos
enunciados em outros instrumentos das Nações Unidas.
6. Todos os reclusos devem ter o direito de participar das atividades culturais
e de beneficiar de uma educação visando o pleno desenvolvimento da
personalidade humana.
7. Devem empreender-se esforços tendentes à abolição ou restrição do regime
de isolamento, como médida disciplinar ou de castigo.
8. Devem ser criadas condições que permitam aos reclusos ter um emprego
útil e remunerado, o qual facilitará a sua integração no mercado de trabalho
dos país e lhes permitirá contribuir para sustentar as suas próprias
necessidades financeiras e as das suas famílias.
9. Os reclusos devem ter acesso aos serviços de saúde existentes no país, sem
discriminação nenhuma decorrente do seu estatuto jurídico.

105
Os Princípios Básicos para o Tratamento de Reclusos, também conhecidos como “Regras de Mandela”,
foram reconhecidos pela LXVIII Reunião Plenária da Assembleia Geral das Nações Unidas, por meio da
Resolução n. 45/111, de 14 de dezembro de 1990.

92
10. Com a participação e ajuda da comunidade e das instituições sociais, e
com o devido respeito pelos interesses das vítimas devem ser criadas
condições favoráveis à reinserção do antigo recluso na sociedade, nas
melhores condições possíveis.
11. Os princípios acima referenciados devem ser aplicados de forma
imparcial.

O Estatuto de Roma Sobre o Tribunal Penal Internacional, de 1998106, estabeleu,


no seu artigo 5º, os crimes da competência desse tribunal:
Artigo 5o
Crimes da Competência do Tribunal
1. A competência do Tribunal restringir-se-á aos crimes mais graves, que
afetam a comunidade internacional no seu conjunto. Nos termos do presente
Estatuto, o Tribunal terá competência para julgar os seguintes crimes: a) O
crime de genocídio; b) Crimes contra a humanidade; c) Crimes de guerra; d)
O crime de agressão.

No seu artigo 77, o Estatuto de Roma estabeleceu as penas aplicáveis:


Artigo 77
Penas Aplicáveis
1. Sem prejuízo do disposto no artigo 110, o Tribunal pode impor à pessoa
condenada por um dos crimes previstos no artigo 5 o do presente Estatuto uma
das seguintes penas:
a) Pena de prisão por um número determinado de anos, até ao limite máximo
de 30 anos; ou
b) Pena de prisão perpétua, se o elevado grau de ilicitude do fato e as
condições pessoais do condenado o justificarem,
2. Além da pena de prisão, o Tribunal poderá aplicar:
a) Uma multa, de acordo com os critérios previstos no Regulamento
Processual;
b) A perda de produtos, bens e haveres provenientes, direta ou indiretamente,
do crime, sem prejuízo dos direitos de terceiros que tenham agido de boa fé.

A Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional de


2000 (Convenção de Palermo)107, por fim, definiu, na alínea “a” do artigo 2º, que “Grupo
criminoso organizado” é o

106
O Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional foi aprovado, pelas Nações Unidas, em 17 de julho
de 1998, e assinado, pelo Brasil, em 7 de fevereiro de 2000, foi aprovado, pelo Congresso Nacional, por
meio do Decreto Legislativo no 112, de 6 de junho de 2002, entrando em vigor no âmbito internacional em
1o de julho de 2002, passou a vigorar, para o Brasil, em 1o de setembro de 2002. Foi promulgado, pela
Presidência da República, por meio do Decreto n. 4.388, de 25 de setembro de 2002.
107
A Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, adotada, em Nova York,
em 15 de novembro de 2000, foi aprovada, pelo Congresso Nacional, por meio do Decreto Legislativo
no 231, de 29 de maio de 2003. A Convenção entrou em vigor internacional em 29 de setembro de 2003. A
Carta de Ratificação do Governo brasileiro foi depositada, junto à Secretaria-Geral da ONU, em 29 de
janeiro de 2004, e entrou em vigor, para o Brasil, em 28 de fevereiro de 2004. Foi promulgada, pela
Presidência da República, por meio do Decreto n. 5.015, de 12 de março de 2004.

93
[...] grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente há algum tempo e
atuando concertadamente com o propósito de cometer uma ou mais infrações
graves ou enunciadas na presente Convenção, com a intenção de obter, direta
ou indiretamente, um benefício econômico ou outro benefício material.

Além disso, essa Convenção previu a possibilidade de os Estados partes


celebrarem acordos “relativos à transferência para o seu território de pessoas
condenadas a penas de prisão ou outras penas de privação de liberdade devido a
infrações previstas na presente Convenção, para que aí possam cumprir o resto da
pena”.
Em síntese, o sistema especial global de direitos humanos prevê a necessidade do
grave sancionamento da tortura e das penas degradantes, desumanas e cruéis e que as
penas privativas de liberdade sejam executadas com a observância do princípio da
dignidade da pessoa humana, evitando-se o isolamento disciplinar e assegurando-se aos
presos a assistência à saúde, à cultura, ao trabalho remunerado, tudo com vistas à
reinserção social do apenado e ao mercado de trabalho quando do seu retorno à liberdade.

SEÇÃO III
NORMAS INTERNACIONAIS SOBRE SANÇÕES PENAIS CONTIDAS NO
SISTEMA REGIONAL DE DIREITOS HUMANOS

Subseção I
Normas penais contidas no sistema regional-geral

Entre os diplomas normativos do sistema regional-geral, merecem ser citadas a


Declaração Americana dos Direitos do Homem, de 1948, e a Convenção Americana de
Direitos Humanos, de 1969, (Pacto de São José da Costa Rica).
A Declaração Americana dos Direitos do Homem, de 1948,108 estabeleceu, nos
seus artigos XXV e XXVI, a obrigação de os Estados contratantes garantirem tratamento

108
A Declaração Americana dos Direitos do Homem, de 1948, foi aprovada na IX Conferência Internacional
Americana, realizada em Bogotá, Colômbia, em 1948.

94
humano durante o tempo em que o indivíduo for privado da sua liberdade, bem como a
proibição de se infligir penas cruéis, infamantes ou inusitadas:
Artigo XXV.
Ninguém pode ser privado da sua liberdade, a não ser nos casos previstos pelas
leis e segundo as praxes estabelecidas pelas leis já existentes.
[...]
Todo indivíduo, que tenha sido privado da sua liberdade, tem o direito de que o
juiz verifique sem demora a legalidade da medida, e de que o julgue sem
protelação injustificada, ou, no caso contrário, de ser posto em liberdade. Tem
também direito a um tratamento humano durante o tempo em que o privarem da
sua liberdade.
Artigo XXVI.
Parte-se do princípio que todo acusado é inocente, até provar-se-lhe a
culpabilidade.
Toda pessoa acusada de um delito tem o direito de ser ouvida numa forma
imparcial e pública, de ser julgada por tribunais já estabelecidos de acordo com
leis preexistentes, e de que se lhe não inflijam penas cruéis, infamantes ou
inusitadas.

A Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969 (Pacto de São José da


Costa Rica)109 estabeleceu, nos itens 2 a 6 do seu artigo 4º, restrições à pena de morte e a
proibição de sua reinstituição nos países que a houverem abolido:
Artigo 4. Direito à vida
[...]
2. Nos países que não houverem abolido a pena de morte, esta só poderá ser
imposta pelos delitos mais graves, em cumprimento de sentença final de tribunal
competente e em conformidade com lei que estabeleça tal pena, promulgada antes
de haver o delito sido cometido. Tampouco se estenderá sua aplicação a delitos
aos quais não se aplique atualmente.
3. Não se pode restabelecer a pena de morte nos Estados que a hajam abolido.
4.Em nenhum caso pode a pena de morte ser aplicada por delitos políticos, nem
por delitos comuns conexos com delitos políticos.
5.Não se deve impor a pena de morte a pessoa que, no momento da perpetração
do delito, for menor de dezoito anos, ou maior de setenta, nem aplicá-la a mulher
em estado de gravidez.
6. Toda pessoa condenada à morte tem direito a solicitar anistia, indulto ou
comutação da pena, os quais podem ser concedidos em todos os casos. Não se
pode executar a pena de morte enquanto o pedido estiver pendente de decisão
ante a autoridade competente.

Sobre o direito à integridade pessoal, essa mesma Convenção estabeleceu, no seu


artigo 5º, a obrigação de se respeitar a integridade física, psíquica e moral da pessoa

109
A Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969 (Pacto de São José da Costa Rica) foi adotada no
âmbito da Organização dos Estados Americanos, em São José da Costa Rica, em 22 de novembro de 1969,
por ocasião da Conferência especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, e entrou em vigor
internacional em 18 de julho de 1978. A Convenção foi aprovada, pelo Congresso Nacional, por meio do
Decreto Legislativo nº 27 de 26 de maio de 1992. O Governo brasileiro depositou a carta de adesão a essa
convenção em 25 de setembro de 1992, entrando em vigor, para o Brasil, nesta data. Foi promulgada pelo
Decreto Presidencial n. 678, de 6 de novembro de 1992.

95
humana, e de se garantir a separação dos presos, a proibição da tortura e das penas ou
tratos cruéis, desumanos e degradantes e da transcendência da pena da pessoa do
condenado, e a finalidade das penas privativas de liberdade como sendo a reforma e a
readaptação social dos condenados.
Artigo 5. Direito à integridade pessoal
1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua integridade física, psíquica e
moral.
2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis,
desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada da liberdade deve ser tratada
com o respeito devido à dignidade inerente ao ser humano.
3. A pena não pode passar da pessoa do delinqüente.
4. Os processados devem ficar separados dos condenados, salvo em
circunstâncias excepcionais, e ser submetidos a tratamento adequado à sua
condição de pessoas não condenadas.
5. Os menores, quando puderem ser processados, devem ser separados dos
adultos e conduzidos a tribunal especializado, com a maior rapidez possível, para
seu tratamento.
6. As penas privativas da liberdade devem ter por finalidade essencial a
reforma e a readaptação social dos condenados.

Sobre o trabalho do preso, a referida Convenção estabeleceu, no seu artigo 6º, que
não constituem trabalhos forçados os trabalhos realizados no cumprimento da pena
privativa de liberdade, desde que não afetem a dignidade, a capacidade física e intelectual
do recluso, devendo ser executados sob a vigilância e controle das autoridades públicos e
sem que os reclusos sejam colocados à disposição de particulares e de pessoas jurídicas
de direitos privados.
Artigo 6. Proibição da escravidão e da servidão
1. Ninguém pode ser submetido a escravidão ou a servidão, e tanto estas como o
tráfico de escravos e o tráfico de mulheres são proibidos em todas as suas formas.
2. Ninguém deve ser constrangido a executar trabalho forçado ou obrigatório.
Nos países em que se prescreve, para certos delitos, pena privativa da liberdade
acompanhada de trabalhos forçados, esta disposição não pode ser interpretada
no sentido de que proíbe o cumprimento da dita pena, imposta por juiz ou
tribunal competente. O trabalho forçado não deve afetar a dignidade nem a
capacidade física e intelectual do recluso.
3. Não constituem trabalhos forçados ou obrigatórios para os efeitos deste artigo:
a. os trabalhos ou serviços normalmente exigidos de pessoa reclusa em
cumprimento de sentença ou resolução formal expedida pela autoridade
judiciária competente. Tais trabalhos ou serviços devem ser executados sob a
vigilância e controle das autoridades públicas, e os indivíduos que os
executarem não devem ser postos à disposição de particulares, companhias ou
pessoas jurídicas de caráter privado;
b. o serviço militar e, nos países onde se admite a isenção por motivos de
consciência, o serviço nacional que a lei estabelecer em lugar daquele;
c. o serviço imposto em casos de perigo ou calamidade que ameace a existência
ou o bem-estar da comunidade; e
d. o trabalho ou serviço que faça parte das obrigações cívicas normais.

96
Em suma, os tratados internacionais do sistema regional-geral estabelecem a
obrigação de os Estados contratantes garantirem tratamento humano durante o tempo em
que o indivíduo estiver privado da sua liberdade, bem como a proibição de se infligir
penas cruéis, infamantes ou inusitadas, a imposição de restrições à pena de morte e a
proibição de sua reinstituição nos países que a houverem abolido, a obrigação de se
respeitar a integridade física, psíquica e moral da pessoa humana e de se garantir a
separação dos presos, a proibição da tortura e das penas ou tratos cruéis, desumanos e
degradantes e da transcendência da pena da pessoa do condenado, o estabelecimento da
finalidade das penas privativas de liberdade como sendo a reforma e a readaptação social
dos condenados, que não constituem trabalhos forçados os trabalhos realizados no
cumprimento da pena privativa de liberdade, desde que não afetem a dignidade, a
capacidade física e intelectual do recluso, devendo esses trabalhos ser executados sob a
vigilância e controle das autoridades públicos e sem que os reclusos sejam colocados à
disposição de particulares e de pessoas jurídicas de direitos privados.

Subseção II
Normas penais contidas no sistema regional-especial

Entre os diplomas do sistema regional-especial, por conterem, também, normas


penais e processuais penais, cabe uma referência especial à Convenção Interamericana
para Prevenir e Punir a Tortura, de 1985; ao Protocolo Adicional à Convenção
Americana Sobre Direitos Humanos à Abolição da Pena de Morte, de 1990; à Convenção
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, de 1994
(Convenção de Belém do Pará); e à Convenção Interamericana Contra a Corrupção, de
1996, que são diplomas de direito internacional que tratam, entre outros, de aspectos
penais.

97
A Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, de 1985110, no seu
artigo 1º, estabeleceu a obrigação dos Estados Partes de “prevenir e a punir a tortura”,
definindo a tortura nos seguintes termos:
Artigo 2 Para os efeitos desta Convenção, entender-se-á por tortura todo ato
pelo qual são infligidos intencionalmente a uma pessoa penas ou sofrimentos
físicos ou mentais, com fins de investigação criminal, como meio de
intimidação, como castigo pessoal, como medida preventiva, como pena ou
com qualquer outro fim. Entender-se-á também como tortura a aplicação
sobre uma pessoa, de métodos tendentes a anular a personalidade da vítima,
ou a diminuir sua capacidade física ou mental, embora não causem dor física
ou angústia psíquica. Não estarão compreendidos no conceito de tortura as
penas ou sofrimentos físicos ou mentais que sejam conseqüência de medidas
legais ou inerentes a elas, contanto que não incluam a realização dos atos ou a
aplicação dos métodos a que se refere este artigo.

Essa mesma Convenção, no seu artigo 6º, estabeleceu a obrigação dos Estados
Partes de, em conformidade com o disposto no artigo 1º, tomarem “medidas efetivas a
fim de prevenir e punir a tortura no âmbito de sua jurisdição”, de modo a que “os atos de
tortura e as tentativas de praticar atos dessa natureza sejam considerados delitos em seu
direito penal, estabelecendo penas severas para sua punição, que levem em conta sua
gravidade”. Além disso, “Os Estados Partes obrigam-se também a tomar medidas efetivas
para prevenir e punir outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes, no
âmbito de sua jurisdição”.
O Protocolo Adicional à Convenção Americana Sobre Direitos Humanos à
Abolição da Pena de Morte, de 1990111, estabeleceu, no seu artigo 1º, que os Estados-
Partes “não aplicarão em seu território a pena de morte a nenhuma pessoa submetida a
sua jurisdição”. Todavia, ao depositar o seu Instrumento de Ratificação do referido

110
A Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, de 1985, foi concluída, em Cartagena,
Colômbia, no dia 9 de dezembro de 1985, foi aprovada, pelo Congresso Nacional, por meio do Decreto
Legislativo nº 5, de 31 de maio de 1989, foi ratificada, pelo Brasil, em 20 de julho de 1989, e foi
promulgada, pela Presidência da República, por meio do Decreto n. 98.386, de 9 de novembro de 1989.
111
O Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos Referente à Abolição da Pena
de Morte foi adotado, em Assunção, Paraguai, em 8 de junho de 1990, entrando em vigor internacional em
28 de agosto de 1991, e foi assinado, pelo Brasil, em 7 de junho de 1994, e aprovado, pelo Congresso
Nacional, por meio do Decreto Legislativo nº 56, de 19 de abril de 1995. O Governo brasileiro depositou o
Instrumento de Ratificação do referido Protocolo, em 13 de agosto de 1996, com a aposição de reserva, nos
termos do Artigo II, no qual é assegurado aos Estados Partes o direito de aplicar a pena de morte, em tempo
de guerra, de acordo com o Direito Internacional, por delitos sumamente graves de caráter militar, passando
o mesmo a vigorar, para o Brasil, em 13 de agosto de 1996. Essa convenção foi promulgada por meio do
Decreto Presidencial n. 2.754, de 27 de agosto de 1998.

98
Protocolo, em 13 de agosto de 1996, o Governo Brasileiro, nos termos do Artigo 2º,
reservou-se o direito de aplicar a pena de morte, em tempo de guerra, de acordo com o
Direito Internacional, por delitos sumamente graves de caráter militar.
A Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra
a Mulher 1994 (Convenção de Belém do Pará) definiu, no seu artigo 1º, que violência
contra a mulher é “qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou
sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera
privada”.
Além disso, essa Convenção estabeleceu que:
Artigo 7
Os Estados Partes condenam todas as formas de violência contra a mulher e
convêm em adotar, por todos os meios apropriados e sem demora, políticas
destinadas a prevenir, punir e erradicar tal violência e a empenhar-se em:
a. abster-se de qualquer ato ou prática de violência contra a mulher e velar
por que as autoridades, seus funcionários e pessoal, bem como agentes e
instituições públicos ajam de conformidade com essa obrigação;
b. agir com o devido zelo para prevenir, investigar e punir a violência contra a
mulher;
c. incorporar na sua legislação interna normas penais, civis, administrativas e
de outra natureza, que sejam necessárias para prevenir, punir e erradicar a
violência contra a mulher, bem como adotar as medidas administrativas
adequadas que forem aplicáveis;
d. adotar medidas jurídicas que exijam do agressor que se abstenha de
perseguir, intimidar e ameaçar a mulher ou de fazer uso de qualquer método
que danifique ou ponha em perigo sua vida ou integridade ou danifique sua
propriedade;
e. tomar todas as medidas adequadas, inclusive legislativas, para modificar ou
abolir leis e regulamentos vigentes ou modificar práticas jurídicas ou
consuetudinárias que respaldem a persistência e a tolerância da violência contra
a mulher;
f. estabelecer procedimentos jurídicos justos e eficazes para a mulher sujeitada a
violência, inclusive, entre outros, medidas de proteção, juízo oportuno e efetivo
acesso a tais processos;
g. estabelecer mecanismos judiciais e administrativos necessários para
assegurar que a mulher sujeitada a violência tenha efetivo acesso a restituição,
reparação do dano e outros meios de compensação justos e eficazes;
h. adotar as medidas legislativas ou de outra natureza necessárias à vigência
desta Convenção.

A Convenção Interamericana Contra a Corrupção, de 1996112, por fim, definiu,


nas alíneas “a” a “e” do seu artigo 7º, como atos de corrupção, os seguintes:

112
A Convenção Interamericana Contra a Corrupção foi adotada, em Caracas, em 29 de março de 1996, e
aprovada, pelo Congresso Nacional, meio do Decreto Legislativo no 152, de 25 de junho de 2002, com
reserva para o art. XI, parágrafo 1o, inciso "c", entrando em vigor, para o Brasil, em 24 de agosto de 2002.
Foi promulgada pelo Decreto Presidencial n. 4.410, de 7 de outubro de 2002.

99
a. a solicitação ou a aceitação, direta ou indiretamente, por um funcionário
público ou pessoa que exerça funções públicas, de qualquer objeto de valor
pecuniário ou de outros benefícios como dádivas, favores, promessas ou
vantagens para si mesmo ou para outra pessoa ou entidade em troca da
realização ou omissão de qualquer ato no exercício de suas funções públicas;
b. a oferta ou outorga, direta ou indiretamente, a um funcionário público ou
pessoa que exerça funções públicas, de qualquer objeto de valor pecuniário ou
de outros benefícios como dádivas, favores, promessas ou vantagens a esse
funcionário público ou outra pessoa ou entidade em troca da realização ou
omissão de qualquer ato no exercício de suas funções públicas;
c. a realização, por parte de um funcionário público ou pessoa que exerça
funções públicas, de qualquer ato ou omissão no exercício de suas funções, a
fim de obter ilicitamente benefícios para si mesmo ou para um terceiro;
d. o aproveitamento doloso ou a ocultação de bens provenientes de qualquer
dos atos a que se refere este artigo; e
e. a participação, como autor, co-autor, instigador, cúmplice, acobertador ou
mediante qualquer outro modo na perpetração, na tentativa de perpetração ou
na associação ou confabulação para perpetrar qualquer dos atos a que se
refere este artigo.

Segundo os itens 1 e 2 do artigo 2º dessa mesma Convenção, são propósitos desta:


l. promover e fortalecer o desenvolvimento, por cada um dos Estados Partes,
dos mecanismos necessários para prevenir, detectar, punir e erradicar a
corrupção; e
2. promover, facilitar e regular a cooperação entre os Estados Partes a fim de
assegurar a eficácia das medidas e ações adotadas para prevenir, detectar,
punir e erradicar a corrupção no exercício das funções públicas, bem como os
atos de corrupção especificamente vinculados a seu exercício.

Em suma, as normas internacionais do sistema regional-especial interamericano


estabeleceram a obrigação dos Estados Partes de prevenir e a punir a tortura, de adotar,
por todos os meios apropriados e sem demora, políticas destinadas a prevenir, punir e
erradicar a violência contra a mulher e de promover e fortalecer o desenvolvimento, por
cada um dos Estados Partes, dos mecanismos necessários para prevenir, detectar, punir e
erradicar a corrupção e de promover, facilitar e regular a cooperação entre eles, bem
como a proibição da aplicação, em seus territórios, da pena de morte.

100
CAPÍTULO V
AS ESPÉCIES DE SANÇÕES PENAIS COMINADAS NA LEGISLAÇÃO PENAL
INFRACONSTITUCIONAL BRASILEIRA

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

As sanções penais estão cominadas tanto no Código Penal quanto na


legislação especial, esparsa ou extravagante. O Código Penal prevê tanto penas quanto
medidas de segurança e efeitos secundários da condenação. Os meios de obtenção de
medidas penais consensuais estão previstos na Lei n. 9.099, de 26 de setembro de 1995.
Há, também, sanções penais previstas na legislação especial que não estão previstas no
Código Penal, como há sanções penas que se repetem, isto é, que estão previstas tanto no
Código Penal quanto na legislação especial.
O presente capítulo tratará das sanções cominadas na legislação
infraconstitucional brasileira, salvo as sanções penais militares, que pertencem ao direito
penal especial. Divido em três seções, tratará a primeira da estrutura do código penal
relativa às sanções penais; a segunda, das sanções penais cominadas no código penal; e,
por fim, a terceira, das sanções penais cominadas na legislação especial.

SEÇÃO I
A ESTRUTURA DO CÓDIGO PENAL RELATIVA ÀS SANÇÕES PENAIS

A parte geral do Código Penal brasileiro (Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro


de 1940, modificada pela Lei n. 7.209, de 11 de julho de 1984), está assim estruturada:
Título I: Da aplicação da lei penal (arts. 1o a 12); Título II: Do crime (arts. 13 a 25);
Título III: Da imputabilidade penal (arts. 26 a 28); Título IV: Do concurso de
pessoas (arts. 29 a 31); Título V: Das penas (arts. 32 a 95) Capítulo I: Das espécies de
penas Seção I: Das penas privativas de liberdade (artigos 33 a 42); Seção II: Das penas
restritivas de direitos (artigos 43 a 48); Seção III: Da pena de multa (artigos 49 a 52);

101
Capítulo II: Da cominação das penas (artigos 53 a 58); Capítulo III: Da aplicação da
pena (artigos 59 a 76);Capítulo IV: Da suspensão condicional da pena (artigos 77 a 82);
Capítulo V: Do livramento condicional (artigos 83 a 90); Capítulo VI: Dos efeitos da
condenação (artigos 91 e 92); Capítulo VII: Da reabilitação (arts. 93 a 95); Título VI:
Das medidas de segurança (arts. 96 a 99); Título VII: Da ação penal (arts. 100 a
106); e Título VIII: Da extinção da punibilidade (arts 107 a 120).

SEÇÃO II
AS SANÇÕES PENAIS COMINADAS NO CÓDIGO PENAL

Subseção I
Penas

O Código Penal, no seu artigo 32, prevê três espécies de penas, ou seja, as penas
privativas de liberdade, as penas restritivas de direito e a pena de multa. “TÍTULO V
DAS PENAS - CAPÍTULO I DAS ESPÉCIES DE PENA - Art. 32 - As penas são: I -
privativas de liberdade; II - restritivas de direitos; III - de multa”.

Subseção II
Medidas de segurança

O Código Penal, no seu artigo 96, prevê duas espécies de medidas de segurança,
ou seja, a internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico e o tratamento
ambulatorial.
TÍTULO VI DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA - Espécies de medidas de
segurança Art. 96. As medidas de segurança são: I - Internação em hospital de
custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro estabelecimento
adequado; II - sujeição a tratamento ambulatorial.

102
Subseção III
Efeitos secundários penais e extrapenais

Os efeitos secundários penais e extrapenais da condenação estão previstos no


Código Penal e na legislação especial. Quanto aos efeitos penais previstos no Código
Penal, ressalta-se que são os que decorrem da sentença penal condenatória e se realizam
no âmbito da justiça penal. Ex.: a reincidência – artigos 63 e 64 do Código Penal.
Os efeitos extrapenais são os efeitos que, embora possam ser impostos na
sentença penal condenatória, não são realizados no âmbito da justiça penal, mas sim no
âmbito da justiça civil ou nas instâncias administrativas ou políticas. Estão previstos nos
artigos 91 e 92 do Código Penal:
CAPÍTULO VI DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO Efeitos genéricos e
específicos - Art. 91 - São efeitos da condenação: I - tornar certa a obrigação
de indenizar o dano causado pelo crime; II - a perda em favor da União,
ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé: a) dos instrumentos do
crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou
detenção constitua fato ilícito; b) do produto do crime ou de qualquer bem ou
valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato
criminoso. § 1º Poderá ser decretada a perda de bens ou valores equivalentes
ao produto ou proveito do crime quando estes não forem encontrados ou
quando se localizarem no exterior. § 2º Na hipótese do § 1o, as medidas
assecuratórias previstas na legislação processual poderão abranger bens ou
valores equivalentes do investigado ou acusado para posterior decretação de
perda. Art. 92 - São também efeitos da condenação: I - a perda de cargo,
função pública ou mandato eletivo: a) quando aplicada pena privativa de
liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com
abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública; b)
quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4
(quatro) anos nos demais casos. II - a incapacidade para o exercício do pátrio
poder, tutela ou curatela, nos crimes dolosos, sujeitos à pena de reclusão,
cometidos contra filho, tutelado ou curatelado; III - a inabilitação para dirigir
veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso.
Parágrafo único - Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos,
devendo ser motivadamente declarados na sentença.

SEÇÃO III
AS SANÇÕES PENAIS COMINADAS NA LEGISLAÇÃO ESPECIAL

Há diversas leis esparsas que estabelecem sanções penais, inclusive que criam
sanções penais diversas daquelas previstas no Código Penal, conforme se verá nos itens

103
seguintes. Os meios de se obter as medidas consensuais estão previstos na Lei n. 9.099,
de 26 de setembro de 1995, mais especificamente nos artigos 76 e 89.
Outros diplomas legais podem prever outras modalidades de sanções penais,
como, por exemplo, a prisão simples, prevista nos artigos 5o, inciso I, e 6o da Lei de
Contravenções Penais (Decreto-lei n. 3.688, de 3 de outubro de 1941), e a multa
reparatória, prevista no artigo 297 do Código de Trânsito Brasileiro (Lei n. 9.503, de 23
de setembro de 1998).

Subseção I
Na Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais

Artigos 72, 76 e 89 da Lei n. 9.099, de 26 de setembro de 1995, definem as


espécies de instrumentos destinados à obtenção de medidas penais consensuais.

§1º Medidas penais obtidas por meio de transação penal

Estabelece o artigo 72 da Lei n. 9.099/1995:


Art. 72. Na audiência preliminar, presente o representante do Ministério
Público, o autor do fato e a vítima e, se possível, o responsável civil,
acompanhados por seus advogados, o Juiz esclarecerá sobre a possibilidade
da composição dos danos e da aceitação da proposta de aplicação imediata de
pena não privativa de liberdade. [...]Art. 76. Havendo representação ou
tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de
arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de
pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta. § 1º Nas
hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá reduzi-la até
a metade. § 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado: I - ter sido o
autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de
liberdade, por sentença definitiva; II - ter sido o agente beneficiado
anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou
multa, nos termos deste artigo; III - não indicarem os antecedentes, a conduta
social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias,
ser necessária e suficiente a adoção da medida. § 3º Aceita a proposta pelo
autor da infração e seu defensor, será submetida à apreciação do Juiz. § 4º
Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração, o
Juiz aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em
reincidência, sendo registrada apenas para impedir novamente o mesmo
benefício no prazo de cinco anos. § 5º Da sentença prevista no parágrafo
anterior caberá a apelação referida no art. 82 desta Lei. § 6º A imposição da
sanção de que trata o § 4º deste artigo não constará de certidão de

104
antecedentes criminais, salvo para os fins previstos no mesmo dispositivo, e
não terá efeitos civis, cabendo aos interessados propor ação cabível no juízo
cível.

§ 2º Medidas penais obtidas por meio de suspensão condicional do processo

Estabelece o artigo 89 da Lei n. 9.099/1995:


Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um
ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a
denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos,
desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido
condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a
suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal). § 1º Aceita a
proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este, recebendo a
denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o acusado a período de
prova, sob as seguintes condições: I - reparação do dano, salvo
impossibilidade de fazê-lo; II - proibição de freqüentar determinados lugares;
III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do
Juiz; IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para
informar e justificar suas atividades. § 2º O Juiz poderá especificar outras
condições a que fica subordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e
à situação pessoal do acusado. § 3º A suspensão será revogada se, no curso do
prazo, o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar, sem
motivo justificado, a reparação do dano. § 4º A suspensão poderá ser
revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por
contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta. § 5º Expirado
o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade. § 6º Não
correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo. § 7º Se o
acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, o processo prosseguirá
em seus ulteriores termos.

Subseção II
Na Lei de Contravenções Penais

Os Artigos 5o, inciso I e II, e 6o, do Decreto-Lei n. 3.688, de 3 de outubro de 1941,


que preveem as penas de prisão simples e de multa.
Art. 5º As penas principais são: I – prisão simples. II – multa. Art. 6º A pena de
prisão simples deve ser cumprida, sem rigor penitenciário, em estabelecimento
especial ou seção especial de prisão comum, em regime semi-aberto ou aberto.
§ 1º O condenado a pena de prisão simples fica sempre separado dos
condenados a pena de reclusão ou de detenção. § 2º O trabalho é facultativo,
se a pena aplicada, não excede a quinze dias.

105
Subseção III
No Código de Trânsito Brasileiro

Artigos 292, 293, 296 e 297 da Lei n. 9.503, de 23 de dezembro de 1997. Ex.: a
multa reparatória e a suspensão da habilitação para dirigir.

§ 1º A suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para


dirigir veículo automotor terrestre (artigos 292, 293 e 296 do CTB)

Art. 292. A suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação


para dirigir veículo automotor pode ser imposta como penalidade principal,
isolada ou cumulativamente com outras penalidades. Art. 293. A penalidade de
suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou a habilitação, para
dirigir veículo automotor, tem a duração de dois meses a cinco anos. § 1º
Transitada em julgado a sentença condenatória, o réu será intimado a
entregar à autoridade judiciária, em quarenta e oito horas, a Permissão para
Dirigir ou a Carteira de Habilitação. § 2º A penalidade de suspensão ou de
proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo
automotor não se inicia enquanto o sentenciado, por efeito de condenação
penal, estiver recolhido a estabelecimento prisional. [...]. Art. 296. Se o réu
for reincidente na prática de crime previsto neste Código, o juiz aplicará a
penalidade de suspensão da permissão ou habilitação para dirigir veículo
automotor, sem prejuízo das demais sanções penais cabíveis.

§ 2º A multa reparatória (artigo 297 do CTB)

O artigo 297 do Código de Trânsito Brasileiro estabelece:


Art. 297. A penalidade de multa reparatória consiste no pagamento, mediante
depósito judicial em favor da vítima, ou seus sucessores, de quantia calculada
com base no disposto no § 1º do art. 49 do Código Penal, sempre que houver
prejuízo material resultante do crime. § 1º A multa reparatória não poderá ser
superior ao valor do prejuízo demonstrado no processo. § 2º Aplica-se à multa
reparatória o disposto nos arts. 50 a 52 do Código Penal. § 3º Na indenização
civil do dano, o valor da multa reparatória será descontado.

106
Subseção IV
Lei de Abuso de Autoridade

Artigo 6o, parágrafos 3o a 5o, da Lei n. 4.898, de 9 de dezembro de 1965. Ex.: o


exílio funcional.
Art. 6º O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção administrativa
civil e penal. [...] § 3º A sanção penal será aplicada de acordo com as regras
dos artigos 42 a 56 do Código Penal e consistirá em: a) multa de cem a cinco
mil cruzeiros; b) detenção por dez dias a seis meses; c) perda do cargo e a
inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública por prazo até
três anos. § 4º As penas previstas no parágrafo anterior poderão ser aplicadas
autônoma ou cumulativamente. § 5º Quando o abuso for cometido por agente
de autoridade policial, civil ou militar, de qualquer categoria, poderá ser
cominada a pena autônoma ou acessória, de não poder o acusado exercer
funções de natureza policial ou militar no município da culpa, por prazo de um
a cinco anos. (O grifo não está na redação original).

Subseção IV
Na Lei das Infrações Penais Ambientais

O Artigo 8o ao 13 e 21 a 23, da Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Ex.: o


recolhimento domiciliar.
Art. 8º As penas restritivas de direito são: I - prestação de serviços à
comunidade; II - interdição temporária de direitos; III - suspensão parcial ou
total de atividades; IV - prestação pecuniária; V - recolhimento domiciliar.
Art. 9º A prestação de serviços à comunidade consiste na atribuição ao
condenado de tarefas gratuitas junto a parques e jardins públicos e unidades
de conservação, e, no caso de dano da coisa particular, pública ou tombada,
na restauração desta, se possível. Art. 10. As penas de interdição temporária
de direito são a proibição de o condenado contratar com o Poder Público, de
receber incentivos fiscais ou quaisquer outros benefícios, bem como de
participar de licitações, pelo prazo de cinco anos, no caso de crimes dolosos, e
de três anos, no de crimes culposos. Art. 11. A suspensão de atividades será
aplicada quando estas não estiverem obedecendo às prescrições legais. Art.
12. A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima ou à
entidade pública ou privada com fim social, de importância, fixada pelo juiz,
não inferior a um salário mínimo nem superior a trezentos e sessenta salários
mínimos. O valor pago será deduzido do montante de eventual reparação civil
a que for condenado o infrator. Art. 13. O recolhimento domiciliar baseia-se
na autodisciplina e senso de responsabilidade do condenado, que deverá, sem
vigilância, trabalhar, frequentar curso ou exercer atividade autorizada,
permanecendo recolhido nos dias e horários de folga em residência ou em
qualquer local destinado a sua moradia habitual, conforme estabelecido na
sentença condenatória. [...] Art. 21. As penas aplicáveis isolada, cumulativa

107
ou alternativamente às pessoas jurídicas, de acordo com o disposto no art. 3º,
são: I - multa; II - restritivas de direitos; III - prestação de serviços à
comunidade. Art. 22. As penas restritivas de direitos da pessoa jurídica são: I -
suspensão parcial ou total de atividades; II - interdição temporária de
estabelecimento, obra ou atividade; III - proibição de contratar com o Poder
Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações. § 1º A
suspensão de atividades será aplicada quando estas não estiverem obedecendo
às disposições legais ou regulamentares, relativas à proteção do meio
ambiente. § 2º A interdição será aplicada quando o estabelecimento, obra ou
atividade estiver funcionando sem a devida autorização, ou em desacordo com
a concedida, ou com violação de disposição legal ou regulamentar. § 3º A
proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios, subvenções
ou doações não poderá exceder o prazo de dez anos. Art. 23. A prestação de
serviços à comunidade pela pessoa jurídica consistirá em: I - custeio de
programas e de projetos ambientais; II - execução de obras de recuperação de
áreas degradadas; III - manutenção de espaços públicos; IV - contribuições a
entidades ambientais ou culturais públicas. (O grifo não está na redação
original).

Subseção V
Na Lei de Drogas

Artigos 28 e 29 da Lei n. 11.343, de 23 de agosto de 2006. Ex.: frequência a


programas educativos.
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer
consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I -
advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à
comunidade; III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso
educativo. § 1o Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo
pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena
quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou
psíquica. § 2o Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o
juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e
às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e
pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente. § 3o As penas
previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo
máximo de 5 (cinco) meses. § 4o Em caso de reincidência, as penas previstas
nos incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de
10 (dez) meses. § 5o A prestação de serviços à comunidade será cumprida em
programas comunitários, entidades educacionais ou assistenciais, hospitais,
estabelecimentos congêneres, públicos ou privados sem fins lucrativos, que se
ocupem, preferencialmente, da prevenção do consumo ou da recuperação de
usuários e dependentes de drogas. § 6o Para garantia do cumprimento das
medidas educativas a que se refere o caput, nos incisos I, II e III, a que
injustificadamente se recuse o agente, poderá o juiz submetê-lo,
sucessivamente a: I - admoestação verbal; II - multa. § 7o O juiz determinará
ao Poder Público que coloque à disposição do infrator, gratuitamente,
estabelecimento de saúde, preferencialmente ambulatorial, para tratamento

108
especializado. Art. 29. Na imposição da medida educativa a que se refere o
inciso II do § 6o do art. 28, o juiz, atendendo à reprovabilidade da conduta,
fixará o número de dias-multa, em quantidade nunca inferior a 40 (quarenta)
nem superior a 100 (cem), atribuindo depois a cada um, segundo a capacidade
econômica do agente, o valor de um trinta avos até 3 (três) vezes o valor do
maior salário mínimo. Parágrafo único. Os valores decorrentes da imposição
da multa a que se refere o § 6o do art. 28 serão creditados à conta do Fundo
Nacional Antidrogas. (Os grifos não estão na redação original).

Subseção VI
No Estatuto do Torcedor

Artigo 41-B, parágrafos 2o e 4o, da Lei n. 10.671, de 15 de maio de 2003 –


impedimento de frequentar estádios.
Art. 41-B. Promover tumulto, praticar ou incitar a violência, ou invadir local
restrito aos competidores em eventos esportivos: Pena - reclusão de 1 (um) a 2
(dois) anos e multa. § 1o Incorrerá nas mesmas penas o torcedor que: I -
promover tumulto, praticar ou incitar a violência num raio de 5.000 (cinco
mil) metros ao redor do local de realização do evento esportivo, ou durante o
trajeto de ida e volta do local da realização do evento; II - portar, deter ou
transportar, no interior do estádio, em suas imediações ou no seu trajeto, em
dia de realização de evento esportivo, quaisquer instrumentos que possam
servir para a prática de violência. § 2o Na sentença penal condenatória, o juiz
deverá converter a pena de reclusão em pena impeditiva de comparecimento
às proximidades do estádio, bem como a qualquer local em que se realize
evento esportivo, pelo prazo de 3 (três) meses a 3 (três) anos, de acordo com a
gravidade da conduta, na hipótese de o agente ser primário, ter bons
antecedentes e não ter sido punido anteriormente pela prática de condutas
previstas neste artigo. § 3o A pena impeditiva de comparecimento às
proximidades do estádio, bem como a qualquer local em que se realize evento
esportivo, converter-se-á em privativa de liberdade quando ocorrer o
descumprimento injustificado da restrição imposta. § 4o Na conversão de pena
prevista no § 2o, a sentença deverá determinar, ainda, a obrigatoriedade
suplementar de o agente permanecer em estabelecimento indicado pelo juiz, no
período compreendido entre as 2 (duas) horas antecedentes e as 2 (duas)
horas posteriores à realização de partidas de entidade de prática desportiva
ou de competição determinada. § 5o Na hipótese de o representante do
Ministério Público propor aplicação da pena restritiva de direito prevista no
art. 76 da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, o juiz aplicará a sanção
prevista no § 2o. (Os grifos não estão na redação original).

109
CAPÍTULO VI
AS PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE COMINADAS NO ORDENAMENTO
JURÍDICO-PENAL BRASILEIRO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O presente capítulo trata, especificamente, das penas privativas de liberdade


cominadas no ordenamento jurídico-penal brasileiro. Ele está dividido em cinco seções,
tratando a primeira dos aspectos históricos e teóricos relativos às penas privativas de
liberdade; a segunda, do trabalho do preso e da remição da pena pelo trabalho, pelo
estudo e pela leitura; a terceira, do sistema progressivo e regressivo de cumprimento das
penas privativas de liberdade; a quarta, do livramento condicional; e, por fim, a quinta, da
duração máxima do cumprimento das penas privativas de liberdade no ordenamento
jurídico-penal brasileiro.

SEÇÃO I
ASPECTOS HISTÓRICOS E TEÓRICOS RELATIVOS ÀS PENAS PRIVATIVAS DE
LIBERDADE

Subseção I
Conceito de prisão e distinções entre a pena de prisão e a prisão cautelar

§1º Conceito de pena privativa de liberdade

A prisão é a privação da liberdade de ir, vir e ficar. A pena privativa de


liberdade é a pena que tem por finalidade impedir que o indivíduo possa se locomover ou
ficar onde e quando bem entender, isto é, é a forma de punição que recai,
prioritariamente, sobre a liberdade do condenado, limitando as suas possibilidades de ir,
vir e ficar. Impõem, assim, severos limites à locomoção física do condenado. A privação

110
da liberdade distingue-se da restrição da liberdade, pois esta compreende as medidas que
não privam, por inteiro, a liberdade o indivíduo, mas, apenas, restringem-na, como é o
caso do livramento condicional (artigo 83 do Código Penal) e da limitação de fim de
semana (artigo 48 do Código Penal).

§ 2º Distinção entre a pena de prisão e a prisão cautelar

Deve-se distinguir a pena de prisão ou carcer ad poenam (pena privativa de


liberdade) e a prisão cautelar ou prisão provisória ou prisão-custódia ou carcer ad
custodiam (prisão preventiva e prisão temporária), pois, enquanto aquela é a sanção em
si, é a sanção final, esta é um meio para a aplicação da sanção final. A prisão preventiva
está regulada no artigo 312 do Código de Processo Penal e a prisão temporária está
regulada na Lei n. 7.960, de 21 de dezembro de 1989 (Lei da Prisão Temporária). A pena
de prisão é objeto do direito penal material ou substantivo, enquanto que a prisão cautelar
é objeto do direito penal processual ou adjetivo.

Subseção II
Condições que propiciaram o surgimento e a sedimentação da pena de prisão

Diferente da prisão cautelar, que existe desde os tempos mais remotos, a pena
de prisão surgiu na Modernidade. Diversas condições concorreram para o surgimento das
penas privativas de liberdade, entre elas as condições religiosas, sociais, econômicas,
políticas e filosóficas].

§ 1º Condições religiosas

A pena de prisão moderna tem suas origens no Direito Canônico medieval,


mais precisamente na prisão eclesiástica, isto porque a prisão eclesiástica era destinada
aos membros do clero para que estes, pelo isolamento e penitência refletissem sobre seus
pecados e se arrependessem.

111
§ 2º Condições sociais

A grande explosão demográfica ocorrida no final da Idade Média e início da


Idade Moderna ocasionou o aumento da pobreza e uma pressão crescente sobre a oferta
limitada de recursos. Essas condições se agravaram com a fome e a miséria, com
períodos de más colheitas, pragas, pestes e surtos de doenças epidêmicas em quase todas
as regiões e pela ocorrência de guerras civis e religiosas. Segundo os principais
historiadores da punição, Rusche e Kirchheimer, Melossi e Pavarini e Foucault, o cárcere
surgiu para converter em mão de obra útil para a fábrica e consequentemente para o
sistema capitalista, aqueles indivíduos que, separados dos meios de produção,
constituíam boa parte da população de mendigos, viúvas, loucos, órfãos, etc., revelando-
se a antítese de um sistema baseado na exploração da força de trabalho.

§ 3º Condições econômicas

Na Baixa Idade Média e início da Idade Moderna, ocorreu o aumento de


preços de todas as mercadorias, em face da introdução do capitalismo mercantil. A
derrocada do feudalismo e a ascensão do capitalismo provocou uma situação de miséria,
que se associou à imigração de camponeses para os grandes centros, engrossando as
fileiras dos desempregados, desabrigados, prostitutas etc., gerando uma série de ameaças
ao poder do Estado. Para se conter a multiplicação dessas pessoas, consideradas
criminosas, surgiram as primeiras instituições de correção no século XVI: as casas de
correção (hauses of corrections) e as casas de trabalho (workhouses), conhecidas, na
Inglaterra, também, como Bridewells, e, na Holanda, como Rasp-huis. O surgimento do
capitalismo industrial, também, passou a exigir que a população estivesse preparada para
atender as novas demandas econômicas. A privação da liberdade, como forma de pena
(prisão-pena), inicia-se, portanto, no século XVI, possuindo uma ínfima função punitiva,
pois se destinava, apenas, aos pequenos delitos, enquanto os delitos graves continuavam
sendo punidos com penas corporais. Para Rusche e Kirchheimer (1984, p. 48), o cárcere
nasce com a função de transformar em socialmente útil a mão de obra desocupada. Sendo

112
obrigados a trabalhar dentro da instituição, os prisioneiros adquiriam hábitos laborais ao
mesmo tempo em que recebiam um adestramento profissional, a fim de que, uma vez em
liberdade, pudessem se incorporar voluntariamente ao mercado de trabalho. Para
Foucault (1991, p. 207), a prisão se constitui em processo para repartir os indivíduos,
fixá-los e distribuí-los espacialmente, classificá-los, tirar deles o máximo de tempo, e o
máximo de forças, treinar seus corpos, codificar seu comportamento contínuo, mantê-los
numa visibilidade sem lacuna, formar em torno deles um aparelho completo de
observação, registro e notações, constituir sobre eles um saber que se acumula e se
centraliza. O cárcere é o melhor exemplo do poder disciplinar exercido no contexto social
por quem detém o poder; modelo que assume aspectos quase metafísicos, e que perde,
precisamente por sua abstração e generalização, uma dimensão histórica precisa. Para
Melossi e Pavarini (1987, p. 9), o cárcere está intimamente relacionado com a
organização econômica e política da sociedade, ou seja, representa a concepção burguesa
de vida e de sociedade, em preparar os homens, em especial os pobres e trabalhadores,
para que aceitem uma ordem e uma disciplina tais que os façam instrumentos dóceis da
exploração.

§ 4º Condições filosóficas

As idéias do Iluminismo, a defesa dos Direitos Humanos concretizados com a


Revolução Francesa e o desenvolvimento da indústria, levaram à consagração da prisão
como a “pena própria dos países civilizados”, pois esse movimento de ideias propugnava
por uma forma mais humana de punir.

§ 5º Condições políticas

O surgimento do Estado absolutista como a primeira versão do Estado


moderno e, posteriormente, do Estado Liberal, propiciou o surgimento da prisão. São
características do Estado Absolutista: a) centralização de todos os poderes na pessoa do
rei; b) é territorial e nacional; c) reveste-se de um poder supremo e ilimitado: a soberania;
d) é secular, isto é, está separado da Igreja; e) materializa-se no conceito laicizado de

113
Direito, produto da generalidade, dessacralização e racionalização burguesa; f) propiciou
o desenvolvimento do mercantilismo econômico e o advento da economia monetária
(Wolkmer). O Estado Absolutista manteve a tradição das penas corporais (pena de morte,
mutilação, açoite, difamação, trabalho forçado nas galés dos navios e o desterro, etc.). O
Estado Liberal, por sua vez, que sofreu influência das idéias iluministas, propugnava por
uma forma de controle social completamente diferenciada do Estado Absolutista, baseado
no respeito às liberdades individuais e legitimado pela legalidade (princípio da
legalidade), isto é, buscava uma limitação no exercício do poder punitivo estatal, o que
propiciou o uso da prisão em vez das penas corporais. Por isso, a privação da liberdade,
como forma principal de punição, veio a se sedimentar, apenas, na Idade Moderna, mais
precisamente na passagem do Século XVIII para o Século XIX, com a queda do Estado
Absolutista e o surgimento do Estado Liberal.

Subseção III
Os primeiros estabelecimentos prisionais

§ 1º As Bridewells, houses of corrections e workhouses

As Bridewells eram instituições criadas, na Inglaterra, a pedido do clero, em


meados do século XVI, com a finalidade de recolher vagabundos, ociosos, ladrões e
autores de delitos menores, transformando-os por meio do trabalho e da disciplina. Foram
também chamadas houses of correction (casas de correção) ou workhouses (casas de
trabalho).

§ 2º As Rasp-huis

Na Holanda, as casas de trabalho foram conhecidas por Rasp-huis, porque a


atividade laboral fundamental que ali se realizava era raspar com uma serra várias horas
certo tipo de madeira fina até fazê-la pó, do qual os tintureiros tiravam o pigmento
necessário para tingir os fios utilizados na indústria têxtil.

114
§ 3º O panótico

O panótico de Bentham é uma casa de penitência, idealizada pelo inglês


Jeremy Bentham, que contém dois edifícios circulares encaixados um no outro, cujas
celas são abertas para a parte interna, tendo uma grade de ferro que deixa os presos
totalmente à vista. Uma torre ocupa o centro, que é o lugar dos inspetores, de tal forma
que estes dominam (visualizam) completamente as celas, sem serem vistos. O nome
“panótico” expressa em uma só palavra a sua utilidade essencial, que é a faculdade de ver
com um olhar tudo o que nele se faz.

Subseção IV
Espécies de penas privativas de liberdade cominadas no ordenamento jurídico-penal
brasileiro

O Código Penal, no seu artigo 33, caput, prevê, como espécie de penas
privativas de liberdade, a reclusão e a detenção, e a Lei de Contravenções Penais prevê,
nos seu artigos 5o, I, e 6o, a prisão simples.

§ 1º Penas privativas de liberdade previstas no Código Penal

A reclusão e a detenção estão previstas no caput do artigo 33 do Código


Penal:

SEÇÃO I - DAS PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE - Reclusão e detenção


Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-
aberto ou aberto. A de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo
necessidade de transferência a regime fechado.

115
1.1 A reclusão

A pena de reclusão, segundo dispõe o artigo 33, caput, 1a parte, do Código


Penal, deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. “Art. 33 - A pena de
reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. [...]”.

1.2 A detenção

A pena de detenção, segundo dispõe o artigo 33, caput, 2a parte, do Código


Penal, deve ser cumprida em regime semi-aberto ou aberto, salvo necessidade de
transferência a regime fechado, isto é, em caso de regressão de regime, nos termos do
artigo 118 da Lei de Execução Penal. Art. 33 – [...] A de detenção, em regime semi-
aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado”.

§ 2º A pena privativa de liberdade prevista na Lei de Contravenção Penal

A prisão simples é a pena privativa de liberdade prevista na Lei de


Contravenções Penais (Decreto-Lei no 3.688, de 3 de outubro de 1941), mais
precisamente nos seus artigos 5o, inciso I, e 6o.
Art. 5º As penas principais são: I – prisão simples. [...] Art. 6º A pena de
prisão simples deve ser cumprida, sem rigor penitenciário, em estabelecimento
especial ou seção especial de prisão comum, em regime semi-aberto ou aberto.
§ 1º O condenado a pena de prisão simples fica sempre separado dos
condenados a pena de reclusão ou de detenção. § 2º O trabalho é facultativo,
se a pena aplicada, não excede a quinze dias.

§ 3º Distinção entre a reclusão, a detenção e a prisão simples

A principal distinção entre a reclusão, a detenção e a prisão simples está nos


seus regimes de cumprimento, pois a reclusão pode ser cumprida em qualquer dos
regimes, ou seja, nos regimes fechado, semiaberto e aberto (art. 33, caput, 1a parte, do
Código Penal). Art. 33 – [...] A de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo
necessidade de transferência a regime fechado. Contudo, a detenção somente pode ser
cumprida nos regimes semiaberto ou aberto, salvo a necessidade de cumpri-la em regime

116
fechado, isto é, não pode ser cumprida em regime inicial fechado, somente em caso de
regressão (art. 33, caput, 2a parte, do Código Penal). “Art. 33 – [...] A de detenção, em
regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado”.
Igualmente, a prisão simples somente pode ser cumprida em regime semiaberto ou
aberto, isto é, não admite o regime fechado nem em caso de regressão. (art. 6, caput, da
Lei de Contravenções Penais). Art. 6º A pena de prisão simples deve ser cumprida, sem
rigor penitenciário, em estabelecimento especial ou seção especial de prisão comum, em
regime semi-aberto ou aberto.
Na prática, devido à falta ou insuficiência de estabelecimentos apropriados, a
distinção entre a forma de cumprimento das penas acaba sendo menos sensível em muitos
casos.

§ 4º Importância da distinção entre reclusão, detenção e prisão simples

A distinção entre a reclusão, a detenção e a prisão simples é importante na


ordem de execução em caso de aplicação cumulativa de distintas penas privativas de
liberdade, no caso da decretação da incapacidade para o exercício do poder familiar e no
caso da escolha da espécie de medida de segurança a ser aplicada.

4.1 Na definição da ordem de execução das penas em caso de aplicação


cumulativa de penas privativas de liberdade distintas

Segundo o artigo 69, caput, 2a parte, do Código Penal, no caso de aplicação


cumulativa de penas privativas de liberdade, devem ser executadas, primeiramente, as
mais graves, ou seja, deve ser executada, antes, a reclusão, depois a detenção e, somente
após, a prisão simples. Art. 69 [...] No caso de aplicação cumulativa de penas de
reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela.

117
4.2 Na possibilidade de impor o efeito secundário da condenação relativa à
incapacidade para o exercício do poder familiar

Segundo o artigo 92, inciso II, do Código Penal, o efeito secundário da


condenação relativo à impossibilidade do exercício do poder familiar somente pode ser
aplicado em caso de condenação à pena de reclusão. Art. 92 - São também efeitos da
condenação: [...] II - a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela,
nos crimes dolosos, sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou
curatelado”.

4.3 Escolha da espécie da medida de segurança

Segundo o artigo 97, caput, do Código Penal, a escolha pode recair na


internação se o crime for punido com reclusão, e, no tratamento ambulatorial, se o crime
for punido com detenção. Art. 97 - Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua
internação (art. 26). Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção,
poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial.

Subseção V
Regimes e estabelecimentos de cumprimento das penas privativas de liberdade

Os regimes de cumprimento de pena e os respectivos estabelecimentos estão


previstos nos artigos 33, parágrafo 1o, 34 a 36, do Código Penal, e nos artigos 110 a 119
da Lei de Execução Penal.
O regime de cumprimento, como já visto, é aspecto importante na distinção
das diversas espécies de penas privativas de liberdade. Os regimes podem ser o fechado,
o semiaberto e o aberto. No regime aberto, existe a possibilidade da prisão domiciliar].

118
§ 1º Aspectos históricos

1.1 A recepção parcial do sistema progressivo pelo Código Penal de 1940

Embora não tenha mencionado expressamente a recepção do sistema


progressivo e regressivo de cumprimento da pena privativa de liberdade e nem
estabelecido os diversos regimes, como o fechado, o semiaberto e o aberto, o Código
Penal esboçou normas que deram início a esse sistema, que foi, posteriormente,
aperfeiçoado, quando previu diferenças entre as penas de reclusão e de detenção e previu,
também, em relação à reclusão, a possibilidade de o apenado, depois de ter cumprido
certa quantidade de pena, a passar do isolamento celular para o trabalho em comum, para,
depois, passar a cumpri-la em colônia penal ou estabelecimento similar].

1.1.1 Regra de cumprimento da pena de reclusão

1.1.1.1 Isolamento celular

O artigo 30 do Código Penal de 1940 estabelecia: “Art 30. No período inicial


do cumprimento da pena de reclusão, se o permitem as suas condições pessoais, fica o
recluso também sujeito a isolamento durante o dia, por tempo não superior a três
meses”.
O Código Penal de 1940, no seu artigo 32, parágrafo único, estabeleceu
restrições ao isolamento disciplinar do preso. “Art. 32. [...] Parágrafo único . Salvo o
disposto no art. 30, ou quando o exija interesse relevante da disciplina, o isolamento não
é permitido fora das horas de repouso noturno”.

1.1.1.2 Trabalho em comum dentro do estabelecimento

O parágrafo 1º do artigo 30 do Código Penal de 1940 estabeleceu o trabalho


em comum dentro do estabelecimento: "Art. 30 [...] § 1° O recluso passará,

119
posteriormente, a trabalhar em comum, dentro do estabelecimento, ou, em obras ou
serviços públicos, fora dele”.

1.1.2 A transferência para colônia penal

O parágrafo 2º do artigo 30 estabeleceu a transferência para a colônia penal:


"Art. 30 [...] § 2º O recluso de bom procedimento pode ser transferido para colônia
penal ou estabelecimento similar: I - se já cumpriu metade da pena, quando esta não é
superior a três anos; II - se já cumpriu um terço da pena, quando esta é superior a três
anos”.

1.2 A instituição dos regimes fechado, semiaberto e aberto pela Lei n. 6.416,
de 24 de maio de 1977 (Reforma Penal de 1977)

A instituição dos regimes fechado, semi-aberto e aberto e a adoção do sistema


progressivo e repressivo para o cumprimento das penas privativas de liberdade ocorreu na
reforma penal de 1977, por meio da Lei n. 6.416, de 24 de maio de 1977.

1.2.1 Regras comuns para a reclusão e a detenção

A redação do artigo 29 do Código Penal, por força da Lei n. 6.416/1977,


definiu as seguintes regras para a reclusão e a detenção:
Regras comuns às penas privativas de liberdade Art. 29. A pena de reclusão e
a de detenção devem ser cumpridas em penitenciária, ou, à falta, em secção
especial de prisão comum. [...] § 2º As mulheres cumprem pena em
estabelecimento especial, ou, à sua falta, em seção adequada de penitenciária
ou prisão comum, sujeitas a trabalho interno, admitido o benefício do trabalho
externo.(Os grifos não estão na redação original).

1.2.2 Regras para a reclusão

A redação do artigo 30 do Código Penal, por força da Lei n. 6.416/1977,


definiu as seguintes regras para a reclusão:
Reclusão Art. 30 O período inicial, do cumprimento de pena privativa da
liberdade, consiste na observação do recluso, sujeito ou não a isolamento

120
celular, por tempo não superior a três meses, com atividades que permitam
completar o conhecimento de sua personalidade. § 1º O recluso passará,
posteriormente, a trabalhar em comum dentro do estabelecimento em que
cumpre a pena ou fora dele, na conformidade de suas aptidões ou ocupações
anteriores, deste que haja compatibilidade com os objetivos da pena. § 2º O
trabalho externo é compatível com os regimes fechado, semi-aberto e aberto,
desde que tomadas as cautelas próprias, contra a fuga e em favor da
disciplina; os condenados que cumprem pena em regime fechado somente se
dedicarão a trabalho externo em serviços ou obras públicas, sob vigilância do
essoal penitenciário. § 3º O trabalho do recluso será remunerado, aplicando-
se o seu produto: a) na indenização dos danos causados pelo crime, desde que
determinados judicialmente e não reparados por outros meios; b) na
assistência à família, segundo a lei civil; c) em pequenas despesas pessoais; d)
ressalvadas outras aplicações legais, em depósito da parte restante, para
constituição de pecúlio, em caderneta de poupança da Caixa Econômica
Federal, a qual lhe será entregue no ato de ser posto em liberdade. § 4º A
freqüência a cursos profissionalizantes, bem como de instrução de segundo
grau ou superior, fora da prisão, só é compatível com os regimes semi-aberto e
aberto. § 5º O condenado não perigoso, cuja pena não ultrapasse oito anos,
poderá ser recolhido a estabelecimento de regime semi-aberto, desde o início,
ou, se ultrapassar, após ter cumprido um terço dela em regime fechado. I - Se a
pena não for superior a quatro anos, poderá ser recolhido a estabelecimento
de regime aberto, deste o início, ou, a) se for superior a quatro até oito, após
ter cumprido um terço em outro regime; b) se for superior a oito, após ter
cumprido dois quintos em outro regime. II - Observados os termos do caput
deste artigo e os deste parágrafo, e guardada a separação dos presos
provisórios, a pena poderá ser cumprida em prisão da comarca da
condenação ou da residência do condenado. § 6º Deverão ser regulamentadas
por lei local ou, à sua falta, por provimento do Conselho Superior da
Magistratura ou órgão equivalente, as seguintes concessões a serem
outorgadas pelo juiz, a requerimento do interessado, seu cônjuge ou
ascendente, ou na falta desses, de descendente, ou irmão, ou por iniciativa de
órgão para isso competente, ou, ainda, quanto às três primeiras, também de
ofício: I - cada um dos três regimes, bem como a transferência e o retorno de
um para outro; II - prisão-albergue, espécie do regime aberto; III -
cumprimento da pena em prisão na comarca da condenação ou da residência
do condenado; IV - trabalho externo; V - freqüência a curso profissionalizante,
bem como de segundo grau ou superior, fora do estabelecimento; VI - licença
para visitar a família, em datas ou ocasiões especiais; VII - licenças
periódicas, combinadas ou não com as concessões dos incisos IV e V deste
parágrafo, para visitar a família e ir à sua igreja, bem como licença para
participar de atividades que concorram para a emenda e reintegração no
convívio social, aos condenados que estão em regime aberto e, com menos
amplitude, aos que estão em regime semi-aberto. § 7º As normas supletivas,
referidas no parágrafo anterior estabelecerão, quanto a qualquer das
concessões: I - os requisitos objetivos e subjetivos que os condenados deverão
ter para a sua obtenção; II - as condições e normas de conduta a serem
observadas pelos contemplados, e os casos de modificação facultativa e
obrigatória de umas e de outras; III - os casos de revogação e os requisitos
para nova obtenção; IV - a audiência da Administração Penitenciária, bem
como a do Ministério Publico e, quanto às dos incisos IV e V, a do Conselho
Penitenciário; V - a competência judicial; VI - exceto quanto às concessões
dos incisos I, II e III, a expedição de documento similar ao descrito no artigo
724 do Código de Processo Penal, e a indicação da entidade fiscalizadora. (Os
grifos não estão na redação original).

121
1.2.3 Regras para a detenção

A redação do artigo 31 do Código Penal, por força da Lei n. 6.416/1977,


definiu as seguintes regras para a reclusão:
Detenção Art. 31. O condenado a pena de detenção fica sempre separado dos
condenados a pena de reclusão e não está sujeito ao período inicial de
isolamento diurno. Parágrafo único. O trabalho, desde que tenha carater
educativo, pode ser escolhido pelo detento, na conformidade de suas aptidões
ou de suas ocupações anteriores. Parágrafo único. Aplica-se ao detento o
disposto nos parágrafos do artigo anterior. (Os grifos não estão na redação
original).

§ 2º O regime fechado e a penitenciária

2.1 Conceito de regime fechado

O regime fechado, segundo dispõem os artigos 33, parágrafo 1o, alínea a, e 34


do Código Penal, é o realizado em estabelecimentos de segurança máxima ou média, com
trabalho em comum durante o dia, ou externo com vigilância, e recolhimento em cela
individual durante a noite.
Art. 33
[...]
§ 1º - Considera-se: a) regime fechado a execução da pena em estabelecimento
de segurança máxima ou média”. [...] “Regras do regime fechado Art. 34 - O
condenado será submetido, no início do cumprimento da pena, a exame
criminológico de classificação para individualização da execução. § 1º - O
condenado fica sujeito a trabalho no período diurno e a isolamento durante o
repouso noturno. § 2º - O trabalho será em comum dentro do estabelecimento,
na conformidade das aptidões ou ocupações anteriores do condenado, desde
que compatíveis com a execução da pena. § 3º - O trabalho externo é
admissível, no regime fechado, em serviços ou obras públicas.

O trabalho externo do preso em regime fechado será realizado sempre com


escolta policial, conforme dispõem os artigos 36 e 37 da Lei de Execução Penal.
Art. 36. O trabalho externo será admissível para os presos em regime fechado
somente em serviço ou obras públicas realizadas por órgãos da Administração
Direta ou Indireta, ou entidades privadas, desde que tomadas as cautelas
contra a fuga e em favor da disciplina. § 1º O limite máximo do número de
presos será de 10% (dez por cento) do total de empregados na obra. § 2º
Caberá ao órgão da administração, à entidade ou à empresa empreiteira a
remuneração desse trabalho. § 3º A prestação de trabalho à entidade privada
depende do consentimento expresso do preso. Art. 37. A prestação de trabalho
externo, a ser autorizada pela direção do estabelecimento, dependerá de
aptidão, disciplina e responsabilidade, além do cumprimento mínimo de 1/6

122
(um sexto) da pena. Parágrafo único. Revogar-se-á a autorização de trabalho
externo ao preso que vier a praticar fato definido como crime, for punido por
falta grave, ou tiver comportamento contrário aos requisitos estabelecidos
neste artigo. (Os grifos não estão na redação original).

2.2 A penitenciária como o local apropriado para o cumprimento da pena de


reclusão em regime fechado

O estabelecimento a que se refere o artigo 33, parágrafo 1o, alínea a, do


Código Penal é a penitenciária, cuja regulamentação está prevista nos artigos 87 a 90 da
Lei de Execução Penal e poderá ser femimina ou masculina.
A Lei de Execução Penal, mais especificamente os seus artigos 87 a 90,
estabelece que é a penitenciária o local destinado ao cumprimento da pena de reclusão,
em regime fechado, devendo o condenado ser alojado em cela individual.
CAPÍTULO II - Da Penitenciária - Art. 87. A penitenciária destina-se ao
condenado à pena de reclusão, em regime fechado. Parágrafo único. A União
Federal, os Estados, o Distrito Federal e os Territórios poderão construir
Penitenciárias destinadas, exclusivamente, aos presos provisórios e
condenados que estejam em regime fechado, sujeitos ao regime disciplinar
diferenciado, nos termos do art. 52 desta Lei. (O grifo não está na redação
original).

2.2.1 Requisitos da cela individual

A cela individual, segundo dispõe o artigo 88 da Lei de Execução Penal,


deverá conter dormitório, aparelho sanitário e lavatório, sendo requisitos básicos da
unidade celular: a) salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de aeração,
insolação e condicionamento térmico adequado à existência humana; b) área mínima de 6
m2 (seis metros quadrados).
Art. 88. O condenado será alojado em cela individual que conterá dormitório,
aparelho sanitário e lavatório. Parágrafo único. São requisitos básicos da
unidade celular: a) salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de
aeração, insolação e condicionamento térmico adequado à existência humana;
b) área mínima de 6,00m2 (seis metros quadrados).

123
2.2.2 Penitenciárias femininas

As penitenciárias destinadas a mulheres, nos termos do artigo 89 da Lei de


Execução Penal, serão dotadas, também, de seção para gestante e parturiente e de creche
com a finalidade de assistir ao menor desamparado cuja responsável esteja presa.
Art. 89. Além dos requisitos referidos no art. 88, a penitenciária de mulheres
será dotada de seção para gestante e parturiente e de creche para abrigar
crianças maiores de 6 (seis) meses e menores de 7 (sete) anos, com a
finalidade de assistir a criança desamparada cuja responsável estiver presa.
Parágrafo único. São requisitos básicos da seção e da creche referidas neste
artigo: I – atendimento por pessoal qualificado, de acordo com as diretrizes
adotadas pela legislação educacional e em unidades autônomas; e II – horário
de funcionamento que garanta a melhor assistência à criança e à sua
responsável.

2.2.3 Penitenciárias masculinas

Segundo o artigo 90 da Lei de Execução Penal, as penitenciárias destinadas a


homens serão construídas em local afastado do centro urbano, mas de modo a não
prejudicar a visitação. “Art. 90. A penitenciária de homens será construída, em local
afastado do centro urbano, à distância que não restrinja a visitação”.

2.3 O estabelecimento adequado para o cumprimento da pena de detenção em


regime fechado

Há controvérsia sobre qual deve ser o estabelecimento de cumprimento da


pena de detenção em regime fechado, isto é, quando há de regressão, nos termos do artigo
118 da Lei de Execução Penal, para esse regime durante o cumprimento da pena de
detenção].

2.3.1 A penitenciária

Para Fernando Galvão, no seu curso de Direito Penal: parte geral. São Paulo:
Saraiva, 2013. p. 560, o estabelecimento adequado para cumprimento da pena de

124
detenção em regime fechado, quando ocorrer a regressão para esse regime, deve ser a
penitenciária.

2.3.2 A colônia agrícola, industrial ou similar

Contudo, o entendimento anterior não se sustenta, pois o estabelecimento


adequado para o cumprimento da pena de detenção em regime fechado deve ser a colônia
agrícola, industrial ou similar, que deve ter setor destinado para esses presos, o qual deve
atender aos requisitos do parágrafo 1o do artigo 34 do Código Penal. Essa posição está
fundada no artigo 87 da Lei de Execução Penal, que restringe a penitenciária para,
apenas, os condenados punidos com reclusão em regime fechado, não podendo o
estabelecimento mais severo ser destinado para os condenados punidos com detenção.

§ 3º O regime semiaberto e a colônia agrícola, industrial ou similar

3.1 Conceito de regime semiaberto

O regime semiaberto, segundo dispõem os artigos 33, parágrafo 1o, alínea b, e


35 do Código Penal, é o cumprido em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento
similar, com trabalho em comum, ou externo sem vigilância, durante o dia, com
recolhimento durante a noite, que pode ser em alojamento coletivo, conforme a regra do
artigo 93 da Lei de Execução Penal.
Art. 33
[...]
§ 1º - Considera-se:
[...]
b) regime semi-aberto a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou
estabelecimento similar”;
[...]
Regras do regime semiaberto
Art. 35 - Aplica-se a norma do art. 34 deste Código, caput, ao condenado que
inicie o cumprimento da pena em regime semi-aberto.
§ 1º - O condenado fica sujeito a trabalho em comum durante o período
diurno, em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar.
§ 2º - O trabalho externo é admissível, bem como a freqüência a cursos
supletivos profissionalizantes, de instrução de segundo grau ou superior.

125
3.2 A colônia agrícola, industrial ou similar como o estabelecimento
apropriado para o cumprimento da pena privativa de liberdade em regime semiaberto

Estabelece a Lei de Execução Penal, mais especificamente os seus artigos 91


e 92, que o condenado sujeito ao regime semi-aberto poderá ser alojado em
compartimento coletivo, observados os requisitos mínimos previstos para as
penitenciárias. Para ser alojado em compartimento coletivo, deverá ser realizada uma
seleção adequada dos presos e deverá ser observado o limite de capacidade máxima que
atenda os objetivos de individualização da pena. “CAPÍTULO III - Da Colônia Agrícola,
Industrial ou Similar - Art. 91. A Colônia Agrícola, Industrial ou Similar destina-se ao
cumprimento da pena em regime semi-aberto”.

3.3 Requisitos do alojamento coletivo

Segundo se pode depreender do artigo 92, combinado com o artigo 88,


parágrafo único, alínea a, da Lei de Execução Penal, os requisitos do alojamento coletivo
são a salubridade, a necessidade de prévia e adequada seleção de presos e o limite da
capacidade máxima que atenda os objetivos da individualização da pena.
Art. 92. O condenado poderá ser alojado em compartimento coletivo,
observados os requisitos da letra a, do parágrafo único, do artigo 88, desta
Lei. Parágrafo único. São também requisitos básicos das dependências
coletivas: a) a seleção adequada dos presos; b) o limite de capacidade máxima
que atenda os objetivos de individualização da pena.

3.3.1 Salubridade

A salubridade deverá decorrer da concorrência dos fatores de aeração,


insolação, condicionamento término adequado, conforme estabelece o artigo 88,
parágrafo único, alínea a, da Lei de Execução Penal, por força do que dispõe o artigo 92,
caput, desse mesmo diploma legal.

3.3.2 Seleção adequada de presos

126
A seleção adequada dos presos está estabelecida no artigo 92, parágrafo
único, alínea a, da Lei de Execução Penal.

3.3.3 Limite de capacidade máxima que atenda os objetivos de


individualização da pena

O limite de capacidade do alojamento coletivo está estabelecido no artigo 92,


parágrafo único, alínea b, da Lei de Execução Penal].

3.4 Controvérsias sobre a possibilidade de saída do preso do regime


semiaberto para o trabalho externo em empresa privada sem vigilância

Embora não haja restrições legais, há controvérsias sobre a necessidade ou


não de escolta para o trabalho externo dos presos do regime semiaberto. Os precedentes
mais atuais, no entanto, são no sentido de que é desnecessária, nessa hipótese, a
vigilância estatal. É o que se pode depreender da ementa do seguinte acórdão, proferido,
no dia 11 de dezembro de 2014, pela Colenda Quarta Câmara Criminal do Egrégio
Tribunal de Justiça de Santa Catarina, nos autos do Recurso de Agravo n. 2014.064515-1,
de São Francisco do Sul, nos quais foi relator o Desembargador Roberto Lucas Pacheco:
AGRAVO. EXECUÇÃO PENAL. INSURGÊNCIA CONTRA A DECISÃO QUE
NEGOU AUTORIZAÇÃO PARA TRABALHO EXTERNO E PRISÃO
DOMICILIAR. PRISÃO DOMICILIAR. ANÁLISE POSTERGADA PELO
JUIZ DE PRIMEIRO GRAU. REALIZAÇÃO DE PERÍCIA. NÃO
CONHECIMENTO. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. Não tendo o juiz a quo
proferido decisão definitiva quanto ao pedido de prisão domiciliar,
aguardando apenas a realização de perícia do apenado, não pode o tribunal
ad quem analisar a questão, sob pena de supressão de instância.
TRABALHO EXTERNO. ACOLHIMENTO. DESNECESSIDADE DE
VIGILÂNCIA PERIÓDICA E DIRETA. CARACTERÍSTICAS DO REGIME
SEMIABERTO. A fiscalização do trabalho externo, exercido por apenado que
cumpre pena no regime semiaberto, não necessita ser direta e permanente,
como ocorre com aquele que a cumpre no regime fechado, bastando, para
tanto, a comprovação do vínculo e da frequência laboral, bem como a
compatibilidade de tal exercício com o recolhimento ao ergástulo no período
noturno e fins de semana. AGRAVO PARCIALMENTE CONHECIDO E,
NESTA PARTE, PROVIDO.

127
3.5 Controvérsias sobre a desnecessidade do cumprimento de 1/6 (um sexto)
da pena pelo preso em regime semiaberto para realizar trabalho externo ou frequentar
curso fora do estabelecimento

Há corrente que sustenta ser aplicável a regra do artigo 37 da Lei de


Execução Penal, que exige o cumprimento de 1/6 (um) sexto da pena, para que possa ser
deferido o benefício do trabalho externo ou de frequência a curso fora do
estabelecimento. Todavia, os precedentes jurisprudenciais são no sentido de que essa
regra não se aplica aos presos do regime semiaberto. É o que se pode depreender da
ementa do seguinte acórdão, proferido, no dia 7 de agosto de 2014, pela Colenda Quarta
Câmara Criminal do Egrégio Tribunal de Justiça de Santa Catarina, nos autos do Recurso
de Agravo n. 2014.035135-7, de Tijucas, nos quais foi relator o Desembargador Roberto
Lucas Pacheco:
AGRAVO. EXECUÇÃO PENAL. INSURGÊNCIA CONTRA A DECISÃO QUE
NEGOU AUTORIZAÇÃO PARA TRABALHO EXTERNO. REGIME
PRISIONAL. QUANTUM DE PENA E PREDICADOS PESSOAIS DO
REEDUCANDO. CIRCUNSTÂNCIAS QUE NÃO AUTORIZAM A
MODIFICAÇÃO DO REGIME PRISIONAL PELO JUIZ DA EXECUÇÃO
PENAL. Não cabe ao juízo da execução modificar o regime inicial de
cumprimento da pena, uma vez que tal situação importaria em transversa
rescisão do julgado, possível apenas pela via excepcional da revisão criminal.
TRABALHO EXTERNO. 1. REQUISITO OBJETIVO. IMPOSIÇÃO DO
REGIME INICIAL SEMIABERTO. CUMPRIMENTO DE 1/6 DA PENA.
EXIGÊNCIA QUE SE APLICA APENAS AOS CONDENADOS QUE
CUMPREM PENA EM REGIME FECHADO. PRECEDENTES. 2. APTIDÃO
TÉCNICA. SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL. INGRESSO MEDIANTE
CONCURSO PÚBLICO. CONDIÇÃO MANTIDA MESMO COM A
CONDENAÇÃO. CARGO QUE CONTINUA À DISPOSIÇÃO DO
REEDUCANDO. COMPROVAÇÃO POR MEIO DE DECLARAÇÃO DO
EMPREGADOR. 3. DESNECESSIDADE DE VIGILÂNCIA PERIÓDICA E
DIRETA. CARACTERÍSTICAS DO REGIME SEMIABERTO. REQUISITOS
SUBJETIVOS PREENCHIDOS. 1. É possível a concessão do trabalho
externo ao condenado em regime semiaberto, independentemente do
cumprimento de 1/6 da pena, uma vez que a exigência legal se dá somente ao
condenado em regime fechado. 2. A aptidão para o trabalho bem como a
existência de vaga à disposição do reeducando (servidor público municipal
com ingresso mediante concurso público) podem ser comprovadas por meio de
declaração do empregador. 3. A fiscalização do trabalho externo, exercido
por apenado que cumpre pena no regime semiaberto, não necessita ser direta e
permanente, como ocorre com aquele que a cumpre no regime fechado,
bastando, para tanto, a comprovação do vínculo e da frequência laboral, bem
como a compatibilidade de tal exercício com o recolhimento ao ergástulo no
período noturno e finais de semana. RECURSO PARCIALMENTE
CONHECIDO E NESSA PARTE PROVIDO (O grifo não está na redação
original).

128
3.6 A saída temporária como um dos benefícios a serem usufruídos pelos
presos do regime semiaberto

Entre os benefícios previstos para os presos do regime aberto está a saída


temporária do estabelecimento sem escolta policial, conforme estabelecem os artigos 122
a 125 da Lei de Execução Penal.
SUBSEÇÃO II - Da Saída Temporária
Art. 122. Os condenados que cumprem pena em regime semi-aberto poderão
obter autorização para saída temporária do estabelecimento, sem vigilância
direta, nos seguintes casos: I - visita à família; II - freqüência a curso supletivo
profissionalizante, bem como de instrução do 2º grau ou superior, na Comarca
do Juízo da Execução; III - participação em atividades que concorram para o
retorno ao convívio social. Parágrafo único. A ausência de vigilância direta
não impede a utilização de equipamento de monitoração eletrônica pelo
condenado, quando assim determinar o juiz da execução. Art. 123. A
autorização será concedida por ato motivado do Juiz da execução, ouvidos o
Ministério Público e a administração penitenciária e dependerá da satisfação
dos seguintes requisitos: I - comportamento adequado; II - cumprimento
mínimo de 1/6 (um sexto) da pena, se o condenado for primário, e 1/4 (um
quarto), se reincidente; III - compatibilidade do benefício com os objetivos da
pena. Art. 124. A autorização será concedida por prazo não superior a 7 (sete)
dias, podendo ser renovada por mais 4 (quatro) vezes durante o ano. § 1o Ao
conceder a saída temporária, o juiz imporá ao beneficiário as seguintes
condições, entre outras que entender compatíveis com as circunstâncias do
caso e a situação pessoal do condenado: I - fornecimento do endereço onde
reside a família a ser visitada ou onde poderá ser encontrado durante o gozo
do benefício; II - recolhimento à residência visitada, no período noturno; III -
proibição de frequentar bares, casas noturnas e estabelecimentos congêneres.
§ 2o Quando se tratar de frequência a curso profissionalizante, de instrução
de ensino médio ou superior, o tempo de saída será o necessário para o
cumprimento das atividades discentes. § 3o Nos demais casos, as autorizações
de saída somente poderão ser concedidas com prazo mínimo de 45 (quarenta e
cinco) dias de intervalo entre uma e outra. Art. 125. O benefício será
automaticamente revogado quando o condenado praticar fato definido como
crime doloso, for punido por falta grave, desatender as condições impostas na
autorização ou revelar baixo grau de aproveitamento do curso. Parágrafo
único. A recuperação do direito à saída temporária dependerá da absolvição
no processo penal, do cancelamento da punição disciplinar ou da
demonstração do merecimento do condenado.

A saída temporária poderá ser monitorada eletronicamente, conforme a regra


do artigo 146-B, inciso II, da Lei de Execução Penal. “Art. 146-B. O juiz poderá definir
a fiscalização por meio da monitoração eletrônica quando: [...] II - autorizar a saída
temporária no regime semiaberto;”.

129
Observa-se que não se exige que, para a revogação do benefício da saída
temporária, seja o preso condenado pela prática de novo crime. Basta que pratique a ação.
Se for absolvido, restabelece-se o direito à saída temporária. É caso em que se faz um
juízo de probabilidade apenas e não de certeza acerca da culpabilidade sobre o novo
fato].

3.7 A monitoração eletrônica da saída temporária

A monitoração eletrônica é uma providência que pode ser determinada pelo


juízo da execução penal, entre outras, para fins de fiscalização da saída temporária dos
presos do regime semiaberto. É uma possibilidade criada pela Lei n. 12.258, de 15 de
junho de 2010, que inseriu os artigos 146-A a 146-D.
Seção VI - Da Monitoração Eletrônica –
Art. 146-A. (VETADO). Art. 146-B. O juiz poderá definir a fiscalização por
meio da monitoração eletrônica quando:
I - (VETADO).
II - autorizar a saída temporária no regime semiaberto;
III - (VETADO);
IV - determinar a prisão domiciliar;
V - (VETADO);
Parágrafo único. (VETADO).
Art. 146-C. O condenado será instruído acerca dos cuidados que deverá
adotar com o equipamento eletrônico e dos seguintes deveres:
I - receber visitas do servidor responsável pela monitoração eletrônica,
responder aos seus contatos e cumprir suas orientações;
II - abster-se de remover, de violar, de modificar, de danificar de qualquer
forma o dispositivo de monitoração eletrônica ou de permitir que outrem o
faça;
III - (VETADO).
Parágrafo único. A violação comprovada dos deveres previstos neste artigo
poderá acarretar, a critério do juiz da execução, ouvidos o Ministério Público
e a defesa:
I - a regressão do regime;
II - a revogação da autorização de saída temporária;
III - (VETADO);
IV - (VETADO);
V - (VETADO);
VI - a revogação da prisão domiciliar;
VII - advertência, por escrito, para todos os casos em que o juiz da execução
decida não aplicar alguma das medidas previstas nos incisos de I a VI deste
parágrafo.
Art. 146-D. A monitoração eletrônica poderá ser revogada:
I - quando se tornar desnecessária ou inadequada;
II - se o acusado ou condenado violar os deveres a que estiver sujeito durante
a sua vigência ou cometer falta grave.

130
§ 4º O regime aberto e a casa de albergado

4.1 Conceito de regime aberto

O regime aberto, segundo os artigos 33, parágrafo 1 o, alínea c, e 37 do


Código Penal, é o regime cumprido com autodisciplina e senso de responsabilidade do
preso em casa de albergado ou estabelecimento adequado, sem obstáculos contra a fuga,
com trabalho externo, sem vigilância e com recolhimento à noite e nos finais de semana e
feriados.
Art. 33
[...]
§ 1º - Considera-se:
[...]
c) regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento
adequado.
[...]
Regras do regime aberto
Art. 36 - O regime aberto baseia-se na autodisciplina e senso de
responsabilidade do condenado.
§ 1º - O condenado deverá, fora do estabelecimento e sem vigilância,
trabalhar, freqüentar curso ou exercer outra atividade autorizada,
permanecendo recolhido durante o período noturno e nos dias de folga.
§ 2º - O condenado será transferido do regime aberto, se praticar fato definido
como crime doloso, se frustrar os fins da execução ou se, podendo, não pagar
a multa cumulativamente aplicada.

4.2 A casa de albergado como estabelecimento apropriado para o


cumprimento da pena em regime aberto

A Lei de Execução Penal, mais especificamente os seus artigos 93 a 95,


estabelece que a casa de albergado é o estabelecimento apropriado para o cumprimento
da pena em regime aberto, o qual deverá situar-se em centro urbano, separado dos demais
estabelecimentos, e caracterizar-se pela ausência de obstáculos físicos contra fuga,
devendo haver, em cada região, pelo menos, uma casa de albergado, a qual deverá conter,
além dos aposentos para acomodar os presos, local adequado para cursos e palestras,
destinado ao cumprimento da sanção de limitação de fim de semana, devendo, também,
ter instalações para os serviços de fiscalização e orientação dos condenados.
CAPÍTULO IV - Da Casa do Albergado

131
Art. 93. A Casa do Albergado destina-se ao cumprimento de pena privativa de
liberdade, em regime aberto, e da pena de limitação de fim de semana.
Art. 94. O prédio deverá situar-se em centro urbano, separado dos demais
estabelecimentos, e caracterizar-se pela ausência de obstáculos físicos contra
a fuga.
Art. 95. Em cada região haverá, pelo menos, uma Casa do Albergado, a qual
deverá conter, além dos aposentos para acomodar os presos, local adequado
para cursos e palestras. Parágrafo único. O estabelecimento terá instalações
para os serviços de fiscalização e orientação dos condenados.

4.3 Requisitos e condições para a concessão do regime aberto

A Lei de Execução Penal, nos seus artigos 113 a 116, estabelece tanto os
requisitos quanto as condições gerais e obrigatórias para a concessão do regime aberto.

4.3.1 Requisitos para a concessão do regime aberto

O regime aberto depende, para a sua concessão, segundo dispõem os artigos


113 e 114 da Lei de Execução Penal, que estejam presentes os seguintes requisitos: 1)
esteja trabalhando ou que comprove a possibilidade fazê-lo imediatamente; 2) e que
apresente, por seus antecedentes ou pelo resultado dos exames a que foi submetido,
fundados indícios de que irá ajustar-se, com autodisciplina e senso de responsabilidade,
ao novo regime.
Art. 113. O ingresso do condenado em regime aberto supõe a aceitação de seu
programa e das condições impostas pelo Juiz.
Art. 114. Somente poderá ingressar no regime aberto o condenado que:
I - estiver trabalhando ou comprovar a possibilidade de fazê-lo imediatamente;
II - apresentar, pelos seus antecedentes ou pelo resultado dos exames a que foi
submetido, fundados indícios de que irá ajustar-se, com autodisciplina e senso
de responsabilidade, ao novo regime. Parágrafo único. Poderão ser
dispensadas do trabalho as pessoas referidas no artigo 117 desta Lei.

4.3.2 Condições gerais e especiais para a concessão do regime aberto

Além dos requisitos previstas nos artigos 113 e 114 da Lei de Execução
Penal, a concessão do regime pressupõe que o condenado aceite as seguintes condições
gerais ou obrigatórias e especiais, conforme prevê o artigo 115 da LEP, que podem ser
modificadas de ofício ou a requerimento do Ministério Público, da autoridade
administrativa ou do condenado, desde que as circunstâncias assim o recomendem: a)

132
permanecer no local que for designado, durante o repouso e nos dias de folga; b) sair para
o trabalho e retornar, nos horários fixados; c) não se ausentar da cidade onde reside sem
autorização judicial; d) comparecer a juízo, para informar e justificar as suas atividades,
quando for determinado.
Art. 115. O Juiz poderá estabelecer condições especiais para a concessão de
regime aberto, sem prejuízo das seguintes condições gerais e obrigatórias:
I - permanecer no local que for designado, durante o repouso e nos dias de
folga;
II - sair para o trabalho e retornar, nos horários fixados;
III - não se ausentar da cidade onde reside, sem autorização judicial;
IV - comparecer a Juízo, para informar e justificar as suas atividades, quando
for determinado.

Deve-se ressaltar, no entanto, que o enunciado da Súmula n. 493 do Egrégio


Superior Tribunal de Justiça proíbe a fixação de pena substitutiva como condição especial
do regime aberto: "É inadmissível a fixação de pena substitutiva (art. 44 do CP) como
condição especial ao regime aberto".

4.4 Modificação das condições do regime aberto

É possível a modificação das condições estabelecidas para o cumprimento da


pena em regime aberto, conforme estabelece o artigo 116 da LEP. “Art. 116. O Juiz
poderá modificar as condições estabelecidas, de ofício, a requerimento do Ministério
Público, da autoridade administrativa ou do condenado, desde que as circunstâncias
assim o recomendem”.

4.5 Legislação local

A Lei de Execução Penal prevê a possibilidade de a legislação local


estabelecer normas complementares para o cumprimento da pena em regime aberto. “Art.
119. A legislação local poderá estabelecer normas complementares para o cumprimento
da pena privativa de liberdade em regime aberto (artigo 36, § 1º, do Código Penal)”.
No âmbito do Estado de Santa Catarina, a Lei Complementar Estadual n.
529, de 17 de janeiro de 2011, em face da competência concorrente estabelecida no artigo

133
24, inciso I, da Constituição Federal, dispõe sobre normas de direito penitenciário a
serem aplicadas nos estabelecimentos prisionais desse Estado.

4.6 Recolhimento domiciliar

O recolhimento domiciliar não é, propriamente, um regime de cumprimento


da pena, mas, sim, uma particularidade ou uma excepcionalidade que pode ocorrer em
relação aos condenados que estão cumprindo a pena em regime aberto. Assim, segundo o
artigo 117 da Lei de Execução Penal, será admitido o recolhimento domiciliar, em
residência particular, somente dos condenados que estiveram cumprindo pena em regime
aberto, quando se tratar de condenado maior de 70 (setenta) anos ou acometido de doença
grave ou com filho menor, que dependa da presença física da mãe, ou deficiente físico ou
mental ou, ainda, se a condenada for gestante.
Art. 117. Somente se admitirá o recolhimento do beneficiário de regime aberto
em residência particular quando se tratar de:
I - condenado maior de 70 (setenta) anos;
II - condenado acometido de doença grave;
III - condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental;
IV - condenada gestante.

O recolhimento domiciliar poderá ser monitorado eletronicamente, conforme


a regra do artigo 146-B, inciso IV, da Lei de Execução Penal. “Art. 146-B. O juiz poderá
definir a fiscalização por meio da monitoração eletrônica quando: [...] IV - determinar a
prisão domiciliar”.

4.7 A monitoração eletrônica do recolhimento domiciliar

A monitoração eletrônica é uma providência que pode ser determinada pelo


juízo da execução penal, entre outras, para fins de fiscalização da prisão domiciliar dos
presos do regime aberto. É uma possibilidade criada pela Lei n. 12.258, de 15 de junho de
2010, que inseriu os artigos 146-A a 146-D.
Seção VI - Da Monitoração Eletrônica
Art. 146-A. (VETADO).
Art. 146-B. O juiz poderá definir a fiscalização por meio da monitoração
eletrônica quando:
I - (VETADO).

134
II - autorizar a saída temporária no regime semiaberto;
III - (VETADO);
IV - determinar a prisão domiciliar;
V - (VETADO);
Parágrafo único. (VETADO).
Art. 146-C. O condenado será instruído acerca dos cuidados que deverá
adotar com o equipamento eletrônico e dos seguintes deveres:
I - receber visitas do servidor responsável pela monitoração eletrônica,
responder aos seus contatos e cumprir suas orientações;
II - abster-se de remover, de violar, de modificar, de danificar de qualquer
forma o dispositivo de monitoração eletrônica ou de permitir que outrem o
faça;
III - (VETADO).
Parágrafo único. A violação comprovada dos deveres previstos neste artigo
poderá acarretar, a critério do juiz da execução, ouvidos o Ministério Público
e a defesa:
I - a regressão do regime;
II - a revogação da autorização de saída temporária;
III - (VETADO);
IV - (VETADO);
V - (VETADO);
VI - a revogação da prisão domiciliar;
VII - advertência, por escrito, para todos os casos em que o juiz da execução
decida não aplicar alguma das medidas previstas nos incisos de I a VI deste
parágrafo.
Art. 146-D. A monitoração eletrônica poderá ser revogada:
I - quando se tornar desnecessária ou inadequada;
II - se o acusado ou condenado violar os deveres a que estiver sujeito durante
a sua vigência ou cometer falta grave.

4.8 Conversão da pena privativa de liberdade em restritivas de direitos

O instituto da conversão da pena privativa de liberdade em restritivas de


direitos, conforme prevê o artigo 180 da Lei de Execução Penal, somente é possível em
relação aos condenados que estejam cumprindo penas iguais ou inferiores a 2 (dois) anos,
em regime aberto.
Art. 180. A pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá
ser convertida em restritiva de direitos, desde que: I - o condenado a esteja
cumprindo em regime aberto; II - tenha sido cumprido pelo menos 1/4 (um
quarto) da pena; III - os antecedentes e a personalidade do condenado
indiquem ser a conversão recomendável.

Trata-se, no entanto, de instituto que tem sua aplicação limitada na prática,


em face do alcance mais amplo do instituto da substituição penal, previsto no artigo 44 do
Código Penal.

135
§ 5º Legislação especial

O artigo 40 do Código Penal remete à legislação especial, que é a Lei n.


7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal), a complementação da regulação
relacionada aos direitos e deveres dos presos, progressão e regressão de regimes,
infrações disciplinars e sanções disciplinares correspondentes.
Legislação especial
Art. 40 - A legislação especial regulará a matéria prevista nos arts. 38 e 39
deste Código, bem como especificará os deveres e direitos do preso, os
critérios para revogação e transferência dos regimes e estabelecerá as
infrações disciplinares e correspondentes sanções.

Subseção VI
A detração penal

O instituto da detração penal está previsto nortigo 42 do Código Penal; no


artigo 387, parágrafo 2o, do Código de Processo Penal; e no artigo 66, inciso III, alínea c,
da Lei de Execução Penal.

§ 1º Conceito

A detração é o instituto jurídico-penal que possibilita o cômputo do período


de prisão provisória ou de internação provisória na pena a ser cumprida (artigo 42 do
Código Penal).
Detração
Art. 42 - Computam-se, na pena privativa de liberdade e na medida de
segurança, o tempo de prisão provisória, no Brasil ou no estrangeiro, o de
prisão administrativa e o de internação em qualquer dos estabelecimentos
referidos no artigo anterior.

136
§ 2º Detração de período de prisão provisória ou internação impostas em
outro processo

O instituto da detração se aplica, em regra, em relação ao período de prisão


provisória ou de internação impostas em um mesmo processo. No entanto,
excepcionalmente, é possível que se reconheça a detração a período da prisão provisória
ou internação impostas em outro processo, desde que esse período seja posterior à
ocorrência da conduta que motivou o processo no qual se dará a incidência da detração, a
fim de evitar o crédito para fins de detração posterior. Se esse período de prisão ou de
internação for anterior, geraria um crédito, razão pela qual, nesse caso, não se aplica a
detração.

§ 3º Aspectos históricos

O instituto da detração ingressou no ordenamento jurídico-penal pátrio por


meio do artigo 3o do Decreto n. 774, de 20 de setembro de 1890, isto é, logo após a
proclamação da República e antes mesmo da entrada em vigor do Código Penal de 1890,
de 11 de outubro, e da Constituição republicana de 1891. Dispunha o artigo 3o do Decreto
n. 774/1890: “Art. 3º A prisão preventiva será computada na execução da pena, sendo
posto em liberdade o réo que, contado ou addicionado o tempo da mesma prisão, houver
completado o da condemnação”.

§ 4º Hipóteses de cabimento da detração penal

4.1 Só é cabível a detração do período de prisão provisória decretada no


mesmo processo

A a detração é possível em relação ao período de prisão preventiva ou de


internação provisória ocorrido no mesmo processo, não havendo nenhuma dúvida nesse
caso em relação a sua aplicação, pois a prisão provisória é posterior à conduta que
motivou a prisão.

137
4.2 É cabível a detração do período de prisão provisória decretada em outro
processo

A detração somente é possível em relação ao período de prova de outro


processo se o período a ser computado for posterior à conduta que motivou a condenação
na qual será aquele período deduzido.

§ 5º Competência para aplicar a detração

5.1 Competência do juízo da execução penal

Em regra, a detração deve ser aplicada pelo juízo da execução penal,


conforme estabelece o artigo 66, inciso III, alínea c, da Lei de Execução Penal.

5.2 Competência do juízo da condenação

No entanto, é possível que o juízo da condenação aplique a detração, quando


o período de prova influir na fixação do regime inicial, conforme autoriza o artigo 387,
parágrafo 2o, do Código Penal.

Subseção VII
Classificação e separação dos presos

Artigo 5o, inciso XLVIII, da Constituição Federal; artigos 5o a 9o; e artigos 82


a 84 da Lei de Execução Penal.

138
§ 1º Conceito de classificação dos presos

O condenado do regime fechado, conforme estabelece o artigo 34 do Código


Penal, e o do semiaberto, conforme prevê o artigo 35 do Código Penal, quando ingressam
no estabelecimento prisional, devem ser submetidos à classificação, conforme as regras
dos artigos 5o a 9 da Lei de Execução Penal.
CAPÍTULO I
Da Classificação
Art. 5º Os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e
personalidade, para orientar a individualização da execução penal.
Art. 6o A classificação será feita por Comissão Técnica de Classificação que
elaborará o programa individualizador da pena privativa de liberdade
adequada ao condenado ou preso provisório.
Art. 7º A Comissão Técnica de Classificação, existente em cada
estabelecimento, será presidida pelo diretor e composta, no mínimo, por 2
(dois) chefes de serviço, 1 (um) psiquiatra, 1 (um) psicólogo e 1 (um)
assistente social, quando se tratar de condenado à pena privativa de liberdade.
Parágrafo único. Nos demais casos a Comissão atuará junto ao Juízo da
Execução e será integrada por fiscais do serviço social.
Art. 8º O condenado ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em
regime fechado, será submetido a exame criminológico para a obtenção dos
elementos necessários a uma adequada classificação e com vistas à
individualização da execução. Parágrafo único. Ao exame de que trata este
artigo poderá ser submetido o condenado ao cumprimento da pena privativa
de liberdade em regime semi-aberto.
Art. 9º A Comissão, no exame para a obtenção de dados reveladores da
personalidade, observando a ética profissional e tendo sempre presentes peças
ou informações do processo, poderá:
I - entrevistar pessoas;
II - requisitar, de repartições ou estabelecimentos privados, dados e
informações a respeito do condenado;
III - realizar outras diligências e exames necessários.

Por sua vez, a Constituição Federal, no seu artigo 5o, inciso XLVIII,
estabelece que: “XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo
com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado”.
Essa providência é desnecessária em relação aos condenados do regime
aberto, pois estes somente permanecem na casa de albergado à noite e nos fins de
semana. Também os artigos 82, 83-B a 84 da Lei de Execução Penal, em face das
alterações introduzidas pelas Leis n. 9.460, de 4 de junho de 1997, 13.167, de 6 de
outubro de 2015, 13.190, de 19 de novembro de 2015, dispõem sobre a separação dos
presos:
Art. 82. Os estabelecimentos penais destinam-se ao condenado, ao submetido à
medida de segurança, ao preso provisório e ao egresso. § 1° A mulher e o

139
maior de sessenta anos, separadamente, serão recolhidos a estabelecimento
próprio e adequado à sua condição pessoal.
[...]
Art. 83-B. São indelegáveis as funções de direção, chefia e coordenação no
âmbito do sistema penal, bem como todas as atividades que exijam o exercício
do poder de polícia, e notadamente:
I - classificação de condenados;
[...]
Art. 84. O preso provisório ficará separado do condenado por sentença
transitada em julgado.
§ 1o Os presos provisórios ficarão separados de acordo com os seguintes
critérios:
I - acusados pela prática de crimes hediondos ou equiparados;
II - acusados pela prática de crimes cometidos com violência ou grave
ameaça à pessoa;
III - acusados pela prática de outros crimes ou contravenções diversos dos
apontados nos incisos I e II.
§ 2° O preso que, ao tempo do fato, era funcionário da Administração da
Justiça Criminal ficará em dependência separada.
§ 3o Os presos condenados ficarão separados de acordo com os seguintes
critérios:
I - condenados pela prática de crimes hediondos ou equiparados;
II - reincidentes condenados pela prática de crimes cometidos com violência
ou grave ameaça à pessoa;
III - primários condenados pela prática de crimes cometidos com violência ou
grave ameaça à pessoa;
IV - demais condenados pela prática de outros crimes ou contravenções em
situação diversa das previstas nos incisos I, II e III.
§ 4o O preso que tiver sua integridade física, moral ou psicológica ameaçada
pela convivência com os demais presos ficará segregado em local próprio.

Portanto, a classificação dos presos é o procedimento por meio do qual se


demarca o início da execução das penas privativas de liberdade e da medida de segurança
detentiva (internação), com vistas a assegurar a individualização da pena na fase
executiva.
Na prática, a classificação dos presos acaba ocorrendo somente em relação ao
sexo dos presos, havendo deficiência na classificação em relação aos demais aspectos.

§ 2º Aspectos as serem considerados na classificação dos presos

Em suma, segundo o inciso XLVIII do artigo 5º da Constituição Federal,


devem ser considerados, na classificação dos presos, a natureza do crime e a idade e o
sexo do preso. Mais explícita, a Lei de Execução Penal, nos seus artigos 5º e 84,
estabelecem que devem ser observados a personalidade e os antecedentes do apenado,

140
mas, também, o caráter da prisão, se provisória ou se decorrente de codenação transitada
em julgada, os quais devem permanecer separados.
Entre os presos provisórios e condenados, devem ser separados os acusados e
os condenados pela prática de crime hediondo ou a estes equiparados, os acusados e os
condenados pela prática de crimes violentos ou que foram levados a efeitos mediante
grave ameaça à pessoa e os acusados e os condenados pela prática de crimes ou
contravenções diversos dos anteriormente mencionados.
Entre os presos condenados, devem ser separados dos demais, também, os
reincidentes dos primários, sobretudos os que foram condenados pela prática de crimes
levados a efeitos mediante violência ou grave ameaça.
Por fim, devem ser separadosos presos que, ao tempo do fato, era funcionário
da Administração da Justiça Criminal e os que tiverem sua integridade física, moral ou
psicológica ameaçada pela convivência com os demais presos.

§ 3º Competência

A classificação dos presos, segundo os artigos 6º e 7º da Lei de Execução


Penal, é da competência da Comissão Técnica de Classificação dos Estabelecimentos,
que é composta pelo diretor do estabelecimento, que é o seu presidente, e, no mínimo,
por um psiquiatra, um psicólogo, dois chefes de serviço e um assistente social.
Art. 6o A classificação será feita por Comissão Técnica de Classificação que
elaborará o programa individualizador da pena privativa de liberdade
adequada ao condenado ou preso provisório.
Art. 7º A Comissão Técnica de Classificação, existente em cada
estabelecimento, será presidida pelo diretor e composta, no mínimo, por 2
(dois) chefes de serviço, 1 (um) psiquiatra, 1 (um) psicólogo e 1 (um)
assistente social, quando se tratar de condenado à pena privativa de liberdade.
Parágrafo único. Nos demais casos a Comissão atuará junto ao Juízo da
Execução e será integrada por fiscais do serviço social.

§ 4º O exame criminológico de classificação

O exame criminológico de classificação deverá ser realizado nos presos do


regime fechado e do regime semiaberto e será realizado com base nos dados da

141
personalidade destes contidos no processo e nos dados que podem ser requisitados pela
comissão ou que sejam obtidos em entrevistas e outras diligências e exames.
Art. 8º O condenado ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em
regime fechado, será submetido a exame criminológico para a obtenção dos
elementos necessários a uma adequada classificação e com vistas à
individualização da execução. Parágrafo único. Ao exame de que trata este
artigo poderá ser submetido o condenado ao cumprimento da pena privativa
de liberdade em regime semi-aberto.
Art. 9º A Comissão, no exame para a obtenção de dados reveladores da
personalidade, observando a ética profissional e tendo sempre presentes peças
ou informações do processo, poderá:
I - entrevistar pessoas;
II - requisitar, de repartições ou estabelecimentos privados, dados e
informações a respeito do condenado;
III - realizar outras diligências e exames necessários.(Os grifos não estão na
redação original).

Observa-se que, em relação aos presos do regime aberto, não há a previsão da


realização de exame criminológico de classificação, em face das características do
regime, uma vez que o condenado apenas deve repousar no estabelecimento no período
noturno e nos finais de semana e feriados, em casa de albergado, não sendo necessária
essa separação dos presos.

§5º O estabelecimento adequado para a realização do exame criminológico

Conforme dispõe o artigo 96 e 97 da Lei de Execução Penal, os exames


criminológicos de classificação deverão ser realizados nos Centros de Observação, que
deverão ser instalados em unidades autônomas ou anexas a estabelecimento penal.
CAPÍTULO V
Do Centro de Observação
Art. 96. No Centro de Observação realizar-se-ão os exames gerais e o
criminológico, cujos resultados serão encaminhados à Comissão Técnica de
Classificação. Parágrafo único. No Centro poderão ser realizadas pesquisas
criminológicas. Art. 97. O Centro de Observação será instalado em unidade
autônoma ou em anexo a estabelecimento penal. Art. 98. Os exames poderão
ser realizados pela Comissão Técnica de Classificação, na falta do Centro de
Observação. (Os grifos não estão na redação original).

142
Subseção VIII
Regras especiais para as mulheres

O artigo 37 do Código Penal estabelece que as mulheres cumprirão pena em


estabelecimento próprio e com direitos e deveres inerentes à sua condição pessoal.
“Regime especial Art. 37 - As mulheres cumprem pena em estabelecimento próprio,
observando-se os deveres e direitos inerentes à sua condição pessoal, bem como, no que
couber, o disposto neste Capítulo”. Por sua vez, o artigo 89 da Lei de Execução Penal,
conforme já visto, estabelece os requisitos das penitenciárias femininas, que deve conter
seção para gestante e parturiente e creche.

Subseção IX
Assistência, Direitos, Deveres e Disciplina do Preso

O respeito aos direitos do preso está garantido pel anorma do artigo 38 do


Código Penal. Também os artigos 10 a 27 e 38 a 60 da Lei de Execução Penal
estabelecem sobre a regras relativas à assistência, aos direitos e à disciplina do preso.

§ 1º Assistência ao preso

A assistência ao preso está prevista nos artigos 10 a 27 da Lei de Execução


Penal e compreende a assistência material, a assistência à saúde, a assistência jurídica, a
assistência educacional, a assistência social, a assistência religiosa e a assistência ao
egresso.
CAPÍTULO II
Da Assistência
SEÇÃO I
Disposições Gerais
Art. 10. A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando
prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade. Parágrafo
único. A assistência estende-se ao egresso. Art. 11. A assistência será: I -
material; II - à saúde; III -jurídica; IV - educacional; V - social; VI – religiosa.

143
1.1 Assistência material

A assistência material está prevista nos artigos 12 e 13 da Lei de Execução


Penal.
SEÇÃO II
Da Assistência Material
Art. 12. A assistência material ao preso e ao internado consistirá no
fornecimento de alimentação, vestuário e instalações higiênicas. Art. 13. O
estabelecimento disporá de instalações e serviços que atendam aos presos nas
suas necessidades pessoais, além de locais destinados à venda de produtos e
objetos permitidos e não fornecidos pela Administração.

1.2 Assistência à saúde

A assistência à saúde está prevista no artigo 14 da Lei de Execução Penal.


SEÇÃO III
Da Assistência à Saúde
Art. 14. A assistência à saúde do preso e do internado de caráter preventivo e
curativo, compreenderá atendimento médico, farmacêutico e odontológico.
§ 1º (Vetado).
§ 2º Quando o estabelecimento penal não estiver aparelhado para prover a
assistência médica necessária, esta será prestada em outro local, mediante
autorização da direção do estabelecimento.
§ 3o Será assegurado acompanhamento médico à mulher, principalmente no
pré-natal e no pós-parto, extensivo ao recém-nascido.

1.3 Assistência jurídica

A assistência jurídica está prevista nos artigos 15 e 16 da Lei de Execução


Penal.
SEÇÃO IV
Da Assistência Jurídica
Art. 15. A assistência jurídica é destinada aos presos e aos internados sem
recursos financeiros para constituir advogado.
Art. 16. As Unidades da Federação deverão ter serviços de assistência
jurídica, integral e gratuita, pela Defensoria Pública, dentro e fora dos
estabelecimentos penais.
§ 1o As Unidades da Federação deverão prestar auxílio estrutural, pessoal e
material à Defensoria Pública, no exercício de suas funções, dentro e fora dos
estabelecimentos penais.
§ 2o Em todos os estabelecimentos penais, haverá local apropriado destinado
ao atendimento pelo Defensor Público.
§ 3o Fora dos estabelecimentos penais, serão implementados Núcleos
Especializados da Defensoria Pública para a prestação de assistência jurídica

144
integral e gratuita aos réus, sentenciados em liberdade, egressos e seus
familiares, sem recursos financeiros para constituir advogado.

1.4 Assistência educacional

A assistência educacional está prevista nos artigos 17 a 21 da Lei de


Execução Penal.
SEÇÃO V
Da Assistência Educacional
Art. 17. A assistência educacional compreenderá a instrução escolar e a
formação profissional do preso e do internado.
Art. 18. O ensino de 1º grau será obrigatório, integrando-se no sistema escolar
da Unidade Federativa.
Art. 19. O ensino profissional será ministrado em nível de iniciação ou de
aperfeiçoamento técnico. Parágrafo único. A mulher condenada terá ensino
profissional adequado à sua condição.
Art. 20. As atividades educacionais podem ser objeto de convênio com
entidades públicas ou particulares, que instalem escolas ou ofereçam cursos
especializados.
Art. 21. Em atendimento às condições locais, dotar-se-á cada estabelecimento
de uma biblioteca, para uso de todas as categorias de reclusos, provida de
livros instrutivos, recreativos e didáticos.

O sistema escolar está disciplinado na Constituição Federal e na Lei de


Diretrizes Básicas da Educação (Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996).
Segundo o artigo 208 da Constituição Federal,
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a
garantia de: I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17
(dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos
os que a ela não tiveram acesso na idade própria. (O grifo não está na redação
original).

Por sua vez, a Lei n. 9.394/1996, no seu artigo 32, dispõe que:
O Art. 32 da Lei de Diretrizes Básicas da Educação – Lei n. 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, estabelece que “O ensino fundamental obrigatório, com
duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis)
anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão.(O grifo não
está na redação original).

1.5 Assistência social

A assistência social ao preso está disciplinada nos artigos 22 a 23 da Lei de


Execução Penal.
SEÇÃO VI

145
Da Assistência Social
Art. 22. A assistência social tem por finalidade amparar o preso e o internado
e prepará-los para o retorno à liberdade.
Art. 23. Incumbe ao serviço de assistência social:
I - conhecer os resultados dos diagnósticos ou exames;
II - relatar, por escrito, ao Diretor do estabelecimento, os problemas e as
dificuldades enfrentadas pelo assistido;
III - acompanhar o resultado das permissões de saídas e das saídas
temporárias;
IV - promover, no estabelecimento, pelos meios disponíveis, a recreação;
V - promover a orientação do assistido, na fase final do cumprimento da pena,
e do liberando, de modo a facilitar o seu retorno à liberdade;
VI - providenciar a obtenção de documentos, dos benefícios da Previdência
Social e do seguro por acidente no trabalho;
VII - orientar e amparar, quando necessário, a família do preso, do internado e
da vítima.

1.6 Assistência religiosa

A assistência religiosa ao preso está prevista no artigo 24 da Lei de Execução


Penal.
SEÇÃO VII
Da Assistência Religiosa
Art. 24. A assistência religiosa, com liberdade de culto, será prestada aos
presos e aos internados, permitindo-se-lhes a participação nos serviços
organizados no estabelecimento penal, bem como a posse de livros de
instrução religiosa.
§ 1º No estabelecimento haverá local apropriado para os cultos religiosos.
§ 2º Nenhum preso ou internado poderá ser obrigado a participar de atividade
religiosa.

1.7 Assistência ao egresso

A assistência ao egresso está prevista nos artigos 25 a 27 da Lei de Execução


Penal.
SEÇÃO VIII
Da Assistência ao Egresso
Art. 25. A assistência ao egresso consiste:
I - na orientação e apoio para reintegrá-lo à vida em liberdade;
II - na concessão, se necessário, de alojamento e alimentação, em
estabelecimento adequado, pelo prazo de 2 (dois) meses.
Parágrafo único. O prazo estabelecido no inciso II poderá ser prorrogado uma
única vez, comprovado, por declaração do assistente social, o empenho na
obtenção de emprego.
Art. 26. Considera-se egresso para os efeitos desta Lei:
I - o liberado definitivo, pelo prazo de 1 (um) ano a contar da saída do
estabelecimento;

146
II - o liberado condicional, durante o período de prova. Art. 27.O serviço de
assistência social colaborará com o egresso para a obtenção de trabalho.

§ 2º Os deveres do preso

Os deveres do preso estão estabelecidos no artigo 38 do Código Penal e nos


artigos 38 e 39 da Lei de Execução Penal.
SEÇÃO I
Dos Deveres
Art. 38. Cumpre ao condenado, além das obrigações legais inerentes ao seu
estado, submeter-se às normas de execução da pena.
Art. 39. Constituem deveres do condenado:
I - comportamento disciplinado e cumprimento fiel da sentença;
II - obediência ao servidor e respeito a qualquer pessoa com quem deva
relacionar-se;
III - urbanidade e respeito no trato com os demais condenados;
IV - conduta oposta aos movimentos individuais ou coletivos de fuga ou de
subversão à ordem ou à disciplina;
V - execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas;
VI - submissão à sanção disciplinar imposta;
VII - indenização à vitima ou aos seus sucessores;
VIII - indenização ao Estado, quando possível, das despesas realizadas com a
sua manutenção, mediante desconto proporcional da remuneração do
trabalho;
IX - higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento;
X - conservação dos objetos de uso pessoal.
Parágrafo único. Aplica-se ao preso provisório, no que couber, o disposto
neste artigo.

§ 3º Os direitos do preso

3.1 Previstos no Código Penal

Os direitos do preso estão previstos no artigo 38 do Código Penal e nos


artigos 40 a 43 da Lei de Execução Penal. Dispõe o artigo 38 do Código Penal: “Direitos
do preso Art. 38 - O preso conserva todos os direitos não atingidos pela perda da
liberdade, impondo-se a todas as autoridades o respeito à sua integridade física e
moral”.

147
3.2 Previstos na Lei de Execução Penal

SEÇÃO II
Dos Direitos
Art. 40 - Impõe-se a todas as autoridades o respeito à integridade física e
moral dos condenados e dos presos provisórios.
Art. 41 - Constituem direitos do preso:
I - alimentação suficiente e vestuário;
II - atribuição de trabalho e sua remuneração;
III - Previdência Social;
IV - constituição de pecúlio;
V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e
a recreação;
VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas
anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena;
VII - assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa;
VIII - proteção contra qualquer forma de sensacionalismo;
IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado;
X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias
determinados;
XI - chamamento nominal;
XII - igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização
da pena;
XIII - audiência especial com o diretor do estabelecimento;
XIV - representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito;
XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da
leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os
bons costumes.
XVI – atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da
responsabilidade da autoridade judiciária competente.
Parágrafo único. Os direitos previstos nos incisos V, X e XV poderão ser
suspensos ou restringidos mediante ato motivado do diretor do
estabelecimento.
Art. 42 - Aplica-se ao preso provisório e ao submetido à medida de segurança,
no que couber, o disposto nesta Seção.
Art. 43 - É garantida a liberdade de contratar médico de confiança pessoal do
internado ou do submetido a tratamento ambulatorial, por seus familiares ou
dependentes, a fim de orientar e acompanhar o tratamento.
Parágrafo único. As divergências entre o médico oficial e o particular serão
resolvidas pelo Juiz da execução.

3.3 Direitos que podem ser suspensos ou restringidos

A Lei de Execução Penal, no seu artigo 41, parágrafo único, relaciona os


direitos que podem ser suspensos ou sofrer restrições.

3.3.1 Proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso


e a recreação

148
3.3.2 Visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias
determinados

3.3.3 Contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da


leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons
costumes.

§ 4º A disciplina do preso

A disciplina dos presos está regulada nos artigos 44 a 60 da Lei de Execução


Penal, e nos artigos 98 e 99 da Lei Complementar Estadual n. 529, de 17 de janeiro de
2011.

4.1 Conceito legal de disciplina

A disciplina do preso está prevista no caput do artigo 44 da Lei de Execução


Penal. “Art. 44. A disciplina consiste na colaboração com a ordem, na obediência às
determinações das autoridades e seus agentes e no desempenho do trabalho”.

4.2 Abrangência

A disciplina do preso abrange tanto os presos condenados quanto os


provisórios, conforme estabelece o artigo 44, parágrafo único, da Lei de Execução Penal.
“Art. 44. [...] Parágrafo único. Estão sujeitos à disciplina o condenado à pena privativa
de liberdade ou restritiva de direitos e o preso provisório”.

149
4.3 Observância ao princípio da legalidade em sentido amplo

A necessidade da observância do princípio da legalidade está prevista no


caput do artigo 45 da Lei de Execução Penal. “Art. 45. Não haverá falta nem sanção
disciplinar sem expressa e anterior previsão legal ou regulamentar”.
Observa-se que a previsão da sanção disciplinar poderá estar em regimento, o
que implica reconhecer que a legalidade não é estrita, mas ampla.

4.4 Sanções disciplinares proibidas

Os parágrafos 1o, 2o e 3o do artigo 45 da Lei de Execução Penal estabelecem


as sanções disciplinares proibidas.

4.4.1 O uso de sanções disciplinares que coloquem em perigo a integridade


física e moral do condenado

Dispõe o parágrafo 1o do artigo 45 da Lei de Execução Penal: “Art. 45. [...] §


1º As sanções não poderão colocar em perigo a integridade física e moral do
condenado”.

4.4.2 O uso de cela escura

Dispõe o parágrafo 2o do artigo 45 da Lei de Execução Penal: “Art. 45. [...] §


2º É vedado o emprego de cela escura”.

4.4.3 O uso de sanções disciplinares coletivas

Dispõe o parágrafo 3o do artigo 45 da Lei de Execução Penal: “Art. 45. [...] §


3º São vedadas as sanções coletivas”.

150
4.5 Cientificação do condenado sobre as normas disciplinares

Dispõe o artigo 46 da Lei de Execução Penal: “Art. 46. O condenado ou


denunciado, no início da execução da pena ou da prisão, será cientificado das normas
disciplinares”.

4.6 Competência para exercer o poder disciplinar

O poder disciplinar será exercido pela autoridade administrava ou pela


autoridade judicial.

4.6.1 Autoridade administrativa

Dispõem os artigos 47 e 48 da Lei de Execução Penal:


Art. 47. O poder disciplinar, na execução da pena privativa de liberdade, será
exercido pela autoridade administrativa conforme as disposições
regulamentares. Art. 48. Na execução das penas restritivas de direitos, o poder
disciplinar será exercido pela autoridade administrativa a que estiver sujeito o
condenado. Parágrafo único. Nas faltas graves, a autoridade representará ao
Juiz da execução para os fins dos artigos 118, inciso I, 125, 127, 181, §§ 1º,
letra d, e 2º desta Lei.

4.6.2 Autoridade judiciária

Dispõe o artigo 54 da Lei de Execução Penal: “Art. 54. As sanções dos


incisos I a IV do art. 53 serão aplicadas por ato motivado do diretor do estabelecimento
e a do inciso V, por prévio e fundamentado despacho do juiz competente”.

4.7 Faltas disciplinares

As faltas disciplinares estão previstas nos artigos 49 a 52 da Lei de Execução


Penal e podem ser classificadas em faltas graves, faltas médias ou leves e faltas que
podem implicar a inserção do preso em regime disciplinar diferenciado. “Art. 49. As
faltas disciplinares classificam-se em leves, médias e graves. A legislação local

151
especificará as leves e médias, bem assim as respectivas sanções. Parágrafo único.
Pune-se a tentativa com a sanção correspondente à falta consumada”.

4.7.1 Faltas graves

As faltas graves no cumprimento das penas privativas de liberdade e no


cumprimento das penas restritivas de direitos estão previstas, respectivamente, nos
artigos 50 e 51 da Lei de Execução Penal].

4.7.1.1 Faltas graves no cumprimento das penas privativas de liberdade

As faltas graves no cumprimento das penas privativas de liberdade estão


descritas no artigo 50 da Lei de Execução Penal.
Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que:
I - incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina;
II - fugir;
III - possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade física
de outrem;
IV - provocar acidente de trabalho;
V - descumprir, no regime aberto, as condições impostas;
VI - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta Lei.
VII – tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou
similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente
externo.
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao preso
provisório.

4.7.1.2 Faltas graves no cumprimento das penas restritivas de direitos

As faltas graves no cumprimento das penas restritivas de direitos estão


descritas no artigo 51 da Lei de Execução Penal.
Art. 51. Comete falta grave o condenado à pena restritiva de direitos que:
I - descumprir, injustificadamente, a restrição imposta;
II - retardar, injustificadamente, o cumprimento da obrigação imposta;
III - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta Lei.

152
4.7.2 Faltas médias e leves

Segundo dispõe o artigo 49, caput, 2a parte, da Lei de Execução Penal, as


faltas médias e leves podem ser definidas na legislação local. “Art. 49. As faltas
disciplinares classificam-se em leves, médias e graves. A legislação local especificará as
leves e médias, bem assim as respectivas sanções. Parágrafo único. Pune-se a tentativa
com a sanção correspondente à falta consumada”.
No âmbito do Estado de Santa Catarina, a Lei Complementar Estadual n. 529,
de 17 de janeiro de 2011, aprovou o Regimento Interno dos Estabelecimentos Penais do
Estado de Santa Catarina, que estabeleceu, no seu artigo 66, que: “Art. 66. Serão
consideradas faltas disciplinares leves e médias todas as ações ou omissões do interno,
infringentes de normas constantes nesta Lei Complementar, e graves as previstas na Lei
federal nº 7.210, de 1984”.
Essa mesma Lei Complementar Estadual definiu, nos seus artigos 95 e 96,
respectivamente, as seguintes faltas disciplinares leves e médias:
Seção V
Das Faltas Disciplinares
Art. 95. São faltas disciplinares leves:
I - ocultar fato ou coisa relacionada com a falta de outrem, para dificultar
averiguações;
II - utilizar material, ferramenta ou utensílio do estabelecimento penal, em
proveito próprio, sem a autorização competente;
III - portar objeto de valor, além do regularmente permitido;
IV - transitar pelo estabelecimento penal ou por suas dependências em
desobediência às normas estabelecidas;
V - desobedecer às prescrições médicas, recusando o tratamento necessário ou
utilizando medicamentos não prescritos ou autorizados pelo órgão médico
competente;
VI - enviar correspondência sem autorização do gestor do estabelecimento
penal;
VII - utilizar-se de local impróprio para satisfação de necessidades
fisiológicas;
VIII - utilizar-se de objeto pertencente a outro preso sem o devido
consentimento;
IX - proceder grosseira ou imoralmente em relação a outro interno;
X - simular doença ou estado de precariedade física para eximir-se de
obrigação; e
XI - cometer desatenção propositada durante estudos ou aula de serviço.
Art. 96. São faltas disciplinares médias:
I - praticar ou contribuir para a prática de jogos proibidos, agravando-se a
falta quando essa prática envolver exploração de outros presos;
II - resistir, inclusive por atitude passiva, à execução de ordem ou ato
administrativo;
III - ofender funcionários;

153
IV - praticar compra ou venda não autorizada em relação a outro preso; V -
faltar à verdade com o fim de obter vantagem ou eximir-se de
responsabilidade;
VI - formular queixa ou reclamação com improcedência, reveladora de motivo
reprovável;
VII - explorar companheiro sob qualquer pretexto ou forma;
VIII - desobedecer aos horários regulamentares;
IX - recusar-se sem motivo justo ao trabalho que for determinado;
X - recusar-se à assistência ou ao dever escolar sem razão justificada;
XI - entregar ou receber objetos sem a devida autorização;
XII - desleixar-se da higiene corporal, do asseio da cela ou alojamento e
descurar da conservação de objetos de uso pessoal;
XIII - lançar nos pátios águas servidas ou objetos, bem como lavar, estender
ou secar roupas em local não permitido;
XIV - produzir ruídos para perturbar a ordem nas ocasiões de descanso, de
trabalho ou de reunião;
XV - desrespeitar os visitantes, seus ou de outros internos;
XVI - retardar o cumprimento de ordem com intuito de procrastinação;
XVII - descurar da execução de tarefa; e
XVIII - ausentar-se dos lugares em que deva permanecer.

4.7.3 Faltas que podem implicar regime disciplinar diferenciado

O artigo 52 da Lei de Execução Penal estabelece que poderão implicar regime


disciplinar diferenciado a prática de crime doloso e a prática de fato que ocasione
subversão da ordem ou da disciplina internas.
Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e,
quando ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso
provisório, ou condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar
diferenciado, com as seguintes características:[...].

4.8 Formas de exercício da disciplina

A disciplina dos presos deverá ser mantida por sanções disciplinares e


recompensas, conforme disposto nos artigos 53 a 56 da Lei de Execução Penal.

4.8.1 Sanções

As sanções disciplinares estão previstas no artigo 53 da Lei de Execução


Penal.
Art. 53. Constituem sanções disciplinares:
I - advertência verbal;
II - repreensão;

154
III - suspensão ou restrição de direitos (artigo 41, parágrafo único);
IV - isolamento na própria cela, ou em local adequado, nos estabelecimentos
que possuam alojamento coletivo, observado o disposto no artigo 88 desta Lei.
V - inclusão no regime disciplinar diferenciado.

4.8.2 Regime disciplinar diferenciado

4.8.2.1 Conceito

O regime disciplinar diferenciado foi criado, inicialmente, como medida


disciplinar no Estado de São Paulo, sendo instituído, depois, pela Lei n. 10.792, de 1o de
dezembro de 2003, que alterou a redação do artigo 52 da Lei de Execução Penal. Não se
trata, propriamente, um regime de cumprimento de pena, mas uma medida cautelar ou um
instrumento excepcional e provisório para sancionamento administrativo, de competência
judicial, com o único propósito de tutelar a próprio a execução penal. A ele são
submetidos os presos provisórios ou definitivos que praticam crimes dolosos que
ocasionem a subversão da ordem ou da disciplina internas. A União Federal, os Estados,
o Distrito Federal e os Territórios poderão construir penitenciárias destinadas,
exclusivamente, aos presos provisórios e condenados que estejam em regime fechado,
sujeitos ao regime disciplinar diferenciado, nos termos do artigo 52 da Lei de Execução
Penal.
4.8.2.2 Previsão normativa

O regime disciplinar diferenciado está previsto no artigo 52 da Lei de


Execuções Penais.
Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e,
quando ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso
provisório, ou condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar
diferenciado, com as seguintes características:
I - duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição da
sanção por nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da
pena aplicada;
II - recolhimento em cela individual;
III - visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de
duas horas;
IV - o preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho de sol.
§ 1o O regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar presos
provisórios ou condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto
risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade.

155
§ 2o Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso
provisório ou o condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de
envolvimento ou participação, a qualquer título, em organizações criminosas,
quadrilha ou bando.

4.8.2.3 Discussões sobre a (in)constitucionalidade do regime disciplinar


diferenciado

Há discussões sobre a (in)constitucionalidade do regime disciplinar


diferenciado, uma vez que, segundo alegam alguns, esse instrumento conflitaria com a
Constituição Federal e com tratados internacionais ratificados pelo Brasil. Segundo essas
alegações, o regime disciplinar diferenciado ofende o princípio da taxatividade, uma vez
que o artigo 52 e seus parágrafos da Lei de Execução Penal são extremamente vagos,
contrariando o inciso XXXIX do artigo 5o da Constituição Federal. Além disso, essa
medida seria extremamente cruel, desumana e degradante, o que contraria o inciso III do
artigo 1o, os incisos III, LVII e XLIX do artigo 5o, da Constituição Federal; os artigos 7o e
10, n. 1, do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos de Nova Iorque (PIDCP); o
artigo 5o, n. 1 e 2, da Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH); e o artigo 40
da Lei de Execução Penal (LEP).
O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, ao julgar os autos do Habeas
Corpus n. 978.305.3/0-000-000, em 15 de agosto de 2006, nos quais foi relator o
Desembargador Borges Pereira, e do Habeas Corpus n. 893.915-3/5-00, nos quais foi
relator o Desembargador Marco Nahum, já decidiu que o regime disciplinar diferenciado
é inconstitucional, por ofender princípios constitucionais, uma vez que se trata de medida
desumana, degradante e cruel, que, por isso, ofende a dignidade da pessoa humana.
Apesar dessas posições, não se pode desconhecer que a criminalidade
organizada no âmbito dos estabelecimentos prisionais tem sido fator de insegurança e de
perturbação da ordem interna desses estabelecimentos, de modo a não se poder abrir mão
desse instrumento, o qual, no entanto, não pode ser usado sem a devida ponderação.

156
4.8.3 Recompensas

As recompensas que podem ser concedidas aos presos estão previstas nos
artigos 55 e 56 da Lei de Execução Penal.
Art. 55. As recompensas têm em vista o bom comportamento reconhecido em
favor do condenado, de sua colaboração com a disciplina e de sua dedicação
ao trabalho.
Art. 56. São recompensas:
I - o elogio;
II - a concessão de regalias.
Parágrafo único. A legislação local e os regulamentos estabelecerão a
natureza e a forma de concessão de regalias.

4.8.4 Regras para a aplicação das sanções disciplinares

A aplicação das sanções penais deverá observar as regras previstas nos artigos
54, 57 e 58 da Lei de Execução Penal:
Art. 54. As sanções dos incisos I a IV do art. 53 serão aplicadas por ato
motivado do diretor do estabelecimento e a do inciso V, por prévio e
fundamentado despacho do juiz competente. § 1 o A autorização para a
inclusão do preso em regime disciplinar dependerá de requerimento
circunstanciado elaborado pelo diretor do estabelecimento ou outra
autoridade administrativa. § 2o A decisão judicial sobre inclusão de preso em
regime disciplinar será precedida de manifestação do Ministério Público e da
defesa e prolatada no prazo máximo de quinze dias. [...]SUBSEÇÃO IV - Da
Aplicação das Sanções - Art. 57. Na aplicação das sanções disciplinares,
levar-se-ão em conta a natureza, os motivos, as circunstâncias e as
conseqüências do fato, bem como a pessoa do faltoso e seu tempo de prisão.
Parágrafo único. Nas faltas graves, aplicam-se as sanções previstas nos
incisos III a V do art. 53 desta Lei. Art. 58. O isolamento, a suspensão e a
restrição de direitos não poderão exceder a trinta dias, ressalvada a hipótese
do regime disciplinar diferenciado. Parágrafo único. O isolamento será
sempre comunicado ao Juiz da execução.

4.8.5 Procedimento disciplinar

O procedimento disciplinar está previsto nos artigos 59 a 60 da Lei de


Execução Penal e nos artigos 83 a 94 da Lei Complementar Estadual n. 529, de 17 de
janeiro de 2011.
Dispõem os artigos 59 e 60 da Lei de Execução Penal:
SUBSEÇÃO V
Do Procedimento Disciplinar

157
Art. 59. Praticada a falta disciplinar, deverá ser instaurado o procedimento
para sua apuração, conforme regulamento, assegurado o direito de defesa.
Parágrafo único. A decisão será motivada.
Art. 60. A autoridade administrativa poderá decretar o isolamento preventivo
do faltoso pelo prazo de até dez dias. A inclusão do preso no regime disciplinar
diferenciado, no interesse da disciplina e da averiguação do fato, dependerá
de despacho do juiz competente.
Parágrafo único. O tempo de isolamento ou inclusão preventiva no regime
disciplinar diferenciado será computado no período de cumprimento da
sanção disciplinar.

Por sua vez, dispõem os artigos 83 a 94 da Lei Complementar Estadual n.


529/2011:
Seção IV
Do Procedimento Disciplinar
Art. 83. Cometida a infração, deverá o preso ser conduzido ao agente
penitenciário chefe de plantão ou supervisor, para a lavratura da ocorrência.
Art. 84. O agente penitenciário chefe de plantão ou supervisor comunicará
imediatamente a ocorrência ao gestor do estabelecimento penal, a fim de que
este mantenha ou revogue as providências inicialmente tomadas em parecer no
Registro de Ocorrência.
Art. 85. O agente penitenciário chefe de plantão ou supervisor deverá, tendo
em vista a gravidade da falta, adotar as providências preliminares que o caso
requeira e, sendo necessário, determinar o isolamento preventivo do preso.
Art. 86. Cabe ao gestor do estabelecimento penal encaminhar à Comissão
Técnica de Classificação e ao Conselho Disciplinar a comunicação de que
trata o art. 85 desta Lei Complementar.
Art. 87. O Conselho Disciplinar realizará as diligências indispensáveis à
precisa elucidação do fato, velando pelo direito de defesa do infrator.
Art. 88. Concluído o incidente disciplinar, o Conselho o remeterá, com seu
parecer, no prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas, ao gestor do
estabelecimento penal para julgamento.
Art. 89. No parecer de que trata o artigo anterior, o Conselho opinará quanto
à culpabilidade do interno e proporá ao gestor do estabelecimento penal a
punição que entender cabível.
Art. 90. As faltas cometidas no serviço externo serão julgadas pelo gestor do
estabelecimento penal, depois de exarado o parecer do Conselho Disciplinar.
Art. 91. Será admitido como prova todo elemento de informação que o
Conselho Disciplinar entender necessário ao esclarecimento do fato.
Art. 92. O interno poderá solicitar reconsideração do ato punitivo no prazo de
8 (oito) dias úteis, contados daquele em que a decisão seja comunicada ao
preso, quando:
I - não tiver sido unânime o parecer do Conselho Diretor em que se
fundamentou o ato punitivo; e
II - o ato punitivo tiver sido aplicado em desacordo com o parecer do
Conselho.
Parágrafo único. O pedido de reconsideração não pode ser reiterado.
Art. 93. Somente após tornar-se definitivo, o ato punitivo será anotado no
prontuário do preso.
Art. 94. A qualquer momento o preso poderá requerer a revisão da punição
sofrida, desde que prove haver sido:
I - a decisão fundamentada em testemunha ou fato comprovadamente falso; e
II - aplicada a punição em desacordo com esta Lei Complementar.

158
Parágrafo único. O pedido de revisão só se admitirá se fundado em provas não
apresentadas anteriormente.

Subseção X
Superveniência de Doença Mental

Em caso de superveniência de doença mental no curso da execução da pena


privativa de liberdade, deverão ser observadas as regras do artigo 41 do Código Penal e
do artigo 183 da Lei de Execução Penal, devendo a pena privativa de liberdade ser
substituída por medida de segurança e o condenado ser recolhido a hospital de custódia e
tratamento psiquiátrico ou, na sua falta, a outro estabelecimento adequado.
Estabelece o artigo 41 do Código Penal: “Superveniência de doença mental.
Art. 41 - O condenado a quem sobrevém doença mental deve ser recolhido a hospital de
custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, a outro estabelecimento adequado”.
Por sua vez, o artigo 183 da Lei de Execução Penal estabelece que:
Art. 183. Quando, no curso da execução da pena privativa de liberdade,
sobrevier doença mental ou perturbação da saúde mental, o Juiz, de ofício, a
requerimento do Ministério Público, da Defensoria Pública ou da autoridade
administrativa, poderá determinar a substituição da pena por medida de
segurança.

Subseção XI
A polêmica sobre a privatização dos presídios

A polêmica sobre a privatização dos presídios, sobretudo uma posição


contrária à possibilidade de privatização dos estabelecimentos prisionais é abordada por
Juarez Cirino dos Santos.113 Também Paulo César Busato trata dessa questão, embora
esse autor não deixe certa a sua posição contrária ou a favor da privatização dos
presídios.114

113
SANTOS, Juarez Cirino dos. Direito Penal: parte geral. Rio de Janeiro: Lumen Juris; Curitiba: ICCP,
2006. p. 503-505.
114
BUSATO, Paulo César. Direito penal: parte geral. São Paulo: Atlas, 2013. p. 832-833.

159
Não se pode confundir privatização dos presídios com parcerias público-
privadas, por meio de convênios, conforme estabelecem os artigos 34, parágrafo 2º, e 83-
A e 83-B, todos da Lei de Execução Penal.
Dispõe o artigo 34, parágrafo 2º, da Lei de Execução Penal:
Art. 34. O trabalho poderá ser gerenciado por fundação, ou empresa pública,
com autonomia administrativa, e terá por objetivo a formação profissional do
condenado.
[...]
§ 2o Os governos federal, estadual e municipal poderão celebrar convênio com
a iniciativa privada, para implantação de oficinas de trabalho referentes a
setores de apoio dos presídios.

Por sua vez, dispõem os artigos 83-A e 83-B da Lei de Execução Penal:
Art. 83-A. Poderão ser objeto de execução indireta as atividades materiais
acessórias, instrumentais ou complementares desenvolvidas em
estabelecimentos penais, e notadamente:
I - serviços de conservação, limpeza, informática, copeiragem, portaria,
recepção, reprografia, telecomunicações, lavanderia e manutenção de prédios,
instalações e equipamentos internos e externos;
II - serviços relacionados à execução de trabalho pelo preso.
§ 1o A execução indireta será realizada sob supervisão e fiscalização do poder
público.
§ 2o Os serviços relacionados neste artigo poderão compreender o
fornecimento de materiais, equipamentos, máquinas e profissionais.
Art. 83-B. São indelegáveis as funções de direção, chefia e coordenação no
âmbito do sistema penal, bem como todas as atividades que exijam o exercício
do poder de polícia, e notadamente:
I - classificação de condenados;
II - aplicação de sanções disciplinares;
III - controle de rebeliões;
IV - transporte de presos para órgãos do Poder Judiciário, hospitais e outros
locais externos aos estabelecimentos penais.

160
SEÇÃO II
O TRABALHO DO PRESO E A REMIÇÃO DA PENA PELO TRABALHO, PELO
ESTUDO E PELA LEITURA

Subseção I
Aspectos introdutórios e históricos

§ 1º Aspectos introdutórios

A laborterapia, conforme estabelece o artigo 28 da Lei de Execução Penal, é


importante para a reintegração do condenado, pois o trabalho é considerado tanto um
dever social quanto uma condição de dignidade humana e deverá ser desenvolvido com
as finalidades educativa e produtiva. “Art. 28. O trabalho do condenado, como dever
social e condição de dignidade humana, terá finalidade educativa e produtiva”.

§ 2º Aspectos históricos

O trabalho acompanhou a história das sanções penais no Brasil desde o


período colonial. Nesse período, havia as sanções penais específicas de trabalhos
forçados e galés, que perduraram durante o período imperial.
Com o Decreto n. 774, de 20 de setembro de 1890, foram abolidas as penas
de trabalhos forçados e de galés, sendo mantida a prisão com trabalho.
A Lei n. 6.416, de 24 de maio de 1977, alterou a redação do parágrafo 3º do
artigo 30 do Código Penal, dispondo sobre a remuneração do trabalho do preso e sobre a
sua remuneração.
A Lei n. 7.210, de 11 de julho de 1984, disciplinou o trabalho prisional como
um dever e um direito do preso.
Assim, o trabalho é, em regra, obrigatório, constituindo-se em importante
aspecto para a avaliação da ressocialização do condenado. Contudo, não é a pena em si,
mas, somente, aspecto que integra o cumprimento da pena, de modo que, se o condenado
não quiser realizar o trabalho, poderá perder benefícios e retardar a sua saída da prisão,

161
mas estará cumprindo a sua pena e, ao seu término, alcançará a liberdade. Constituição
Federal veda as penas de trabalhos forçados, mas autoriza a pena de prestação social
alternativa, que, segundo o Supremo Tribunal Federal, equipara-se à prestação de
serviços à comunidade, que envolve a prestação de trabalhos gratuitos. A normatização
internacional (Pacto dos Direitos Civis e Políticos, de 1966, artigo 8º; Convenção
Americana de Direitos Humanos, de 1969, artigo 6º) fez distinção entre a pena de
trabalho forçados e o trabalho prestado pelo condenado durante o cumprimento da pena
de prisão, proibindo aqueles e autorizando este.

§ 3º Fontes normativas

3.1 Fontes normativas constitucionais

A normatização do trabalho do preso não pode prescindir das disposições


previstas no artigo 5o, incisos XLVI, alínea d (que permite a prestação social alternativa),
XLVII, alínea c (que veda os trabalhos forçados), da Constituição Federal.

3.2 Fontes normativas internacionais

3.2.1 Pacto Internacional Sobre os Direitos Civis e Políticos de 1966

O artigo 8o, item 3, do Pacto Internacional Sobre os Direitos Civis e Políticos


de 1966 dispõe sobre a distinção entre os trabalhos forçados e o trabalho realizado no
cumprimento das penas privativas de liberdade, proibindo aqueles e autorizando estes.

3.2.2 Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969

O artigo 6o, itens 2 e 3, da Convenção Americana de Direitos Humanos de


1969, também, dispõe sobre a distinção entre os trabalhos forçados e o trabalho realizado
no cumprimento das penas privativas de liberdade, proibindo aqueles e autorizando estes.

162
3.3 Fontes infraconstitucionais

3.3.1 Código Penal

Os artigos 33, parágrafo 1o, 34 a 36 e 39 a 40 do Código Penal estabelecem as


regras sobre o trabalho prisional.

3.3.2 Lei de Execução Penal

Os artigos 28 a 37 e 126 a 130 da Lei de Execução Penal estabelecem as


regras detalhadas sobre o trabalho prisional e sobre a remição pelo trabalho e pelo estudo.

3.3.3 Lei Complementar Estadual n. 529, de 17 de janeiro de 2011

Os artigos 51 a 60 estabelecem regras sobre o trabalho prisional.

Subseção II
O trabalho do preso

O trabalho do preso está regulado nos artigos 33 a 37 e 39 a 40 do Código


Penal; nos artigos 28 a 37 da Lei de Execução Penal; e nos artigos 51 a 60 da Lei
Complementar Estadual n. 529/2011.

§ 1º O trabalho como um dever do preso

Estabelecem os artigos 31, caput, e 39, inciso V, da Lei de Execução Penal,


que o trabalho do preso é um dever deste. “Art. 31. O condenado à pena privativa de
liberdade está obrigado ao trabalho na medida de suas aptidões e capacidade. [...] Art.
39. Constituem deveres do condenado: [...] V - execução do trabalho, das tarefas e das
ordens recebidas”.

163
§ 2º O trabalho e a sua remuneração como um direito do preso

Estabelece o artigo 41, inciso II, da Lei de Execução Penal, também, que o
trabalho do preso é um direito. “Art. 41 - Constituem direitos do preso: [...] II -
atribuição de trabalho e sua remuneração”.

§ 3º Obrigatoriedade do trabalho

O artigo 31, caput, da Lei de Execução Penal estabelece que: “SEÇÃO II -


Do Trabalho Interno - Art. 31. O condenado à pena privativa de liberdade está obrigado
ao trabalho na medida de suas aptidões e capacidade”.

§ 4º Facultatividade do trabalho do preso

É facultativo o trabalho dos presos provisórios, do condenado por crime


político e do condenado por contravenção penal à pena de prisão simples igual ou inferior
a 15 (quinze) dias.

4.1 Facultatividade do trabalho do preso provisório

O artigo 31, parágrafo único, da Lei de Execução Penal estabelece que: “Art.
31. [...] Para o preso provisório, o trabalho não é obrigatório e só poderá ser executado
no interior do estabelecimento”.

4.2 Facultatividade do trabalho do preso político

Há outros casos de trabalho facultativo, como é o caso do condenado por


crime político, conforme prevê o artigo 200 da Lei de Execução Penal, que tem o
seguinte teor: "Art. 200. O condenado por crime político não está obrigado ao trabalho".

164
4.3 Facultatividade do trabalho do condenado por contravenção, à prisão
simples, cuja pena seja igual ou inferior a 15 (quinze) dias

Também o artigo 6o, parágrafo 2o, da Lei de Contravenções Penais estabelece


que é facultativo o trabalho do condenado por contravenção à prisão simples igual ou
inferior a 15 (quinze) dias. "Art. 6º A pena de prisão simples deve ser cumprida, sem
rigor penitenciário, em estabelecimento especial ou seção especial de prisão comum, em
regime semi-aberto ou aberto. [...]§ 2º O trabalho é facultativo, se a pena aplicada, não
excede a quinze dias".

§ 5º Disposições constitucionais e internacionais sobre os trabalhos forçados

5.1 Proibição constitucional da pena de trabalhos forçados

A Constituição Federal, no seu artigo 5o, inciso XLVII, alínea c, estabelece


que: “XLVII - não haverá penas: [...] c) de trabalhos forçados”.

5.2 Disposições internacionais sobre a possibilidade do trabalho do preso e


sobre a distinção entre os trabalhos forçados e o trabalho prisional

5.2.1 O Pacto Internacional Sobre os Direitos Civis e Políticos de 1966

O Pacto Internacional Sobre os Direitos Civis e Políticos de 1966, no seu


artigo 8o, item 3, sobre o trabalho penal, estabelece:
ARTIGO 8
1. Ninguém poderá ser submetido á escravidão; a escravidão e o tráfico de
escravos, em todos as suas formas, ficam proibidos.
2. Ninguém poderá ser submetido à servidão.
3. a) Ninguém poderá ser obrigado a executar trabalhos forçados ou
obrigatórios;
b) A alínea a) do presente parágrafo não poderá ser interpretada no sentido
de proibir, nos países em que certos crimes sejam punidos com prisão e
trabalhos forçados, o cumprimento de uma pena de trabalhos forçados,
imposta por um tribunal competente;
c) Para os efeitos do presente parágrafo, não serão considerados "trabalhos
forçados ou obrigatórios":

165
i) qualquer trabalho ou serviço, não previsto na alínea b) normalmente
exigido de um individuo que tenha sido encarcerado em cumprimento de
decisão judicial ou que, tendo sido objeto de tal decisão, ache-se em liberdade
condicional;
ii) qualquer serviço de caráter militar e, nos países em que se admite a
isenção por motivo de consciência, qualquer serviço nacional que a lei venha
a exigir daqueles que se oponham ao serviço militar por motivo de
consciência;
iii) qualquer serviço exigido em casos de emergência ou de calamidade que
ameacem o bem-estar da comunidade;
iv) qualquer trabalho ou serviço que faça parte das obrigações cívicas
normais. (O grifo não está na redação original).

5.2.2 A Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969

A Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969, no seu artigo 6o,


itens 2 e 3, sobre o trabalho penal, estabelece:

Artigo 6º - Proibição da escravidão e da servidão


1. Ninguém poderá ser submetido a escravidão ou servidão e tanto estas como
o tráfico de escravos e o tráfico de mulheres são proibidos em todas as suas
formas.
2. Ninguém deve ser constrangido a executar trabalho forçado ou obrigatório.
Nos países em que se prescreve, para certos delitos, pena privativa de
liberdade acompanhada de trabalhos forçados, esta disposição não pode ser
interpretada no sentido de proibir o cumprimento da dita pena, imposta por
um juiz ou tribunal competente. O trabalho forçado não deve afetar a
dignidade, nem a capacidade física e intelectual do recluso.
3. Não constituem trabalhos forçados ou obrigatórios para os efeitos deste
artigo:
a) os trabalhos ou serviços normalmente exigidos de pessoa reclusa em
cumprimento de sentença ou resolução formal expedida pela autoridade
judiciária competente. Tais trabalhos ou serviços devem ser executados sob a
vigilância e controle das autoridades públicas, e os indivíduos que os
executarem não devem ser postos à disposição de particulares, companhias ou
pessoas jurídicas de caráter privado;
b) serviço militar e, nos países em que se admite a isenção por motivo de
consciência, qualquer serviço nacional que a lei estabelecer em lugar daquele;
c) o serviço exigido em casos de perigo ou de calamidade que ameacem a
existência ou o bem-estar da comunidade;
d) o trabalho ou serviço que faça parte das obrigações cívicas normais. (O
grifo não está na redação original).

166
§ 6º Normas gerais sobre o trabalho do preso

As normas gerais sobre o trabalho do preso estão previstas nos artigos 33 a 37


e 39 a 40 do Código Penal; nos artigos 28 a 37 da Lei de Execução Penal; e nos artigos
51 a 60 da Lei Complementar Estadual n. 529/2011.

§ 7º A finalidade trabalho do preso como dever social e condição de


dignidade humana

Segundo a regra do artigo 28, caput, da Lei de Execução Penal, a finalidade


do trabalho do preso é educativa e produtiva: “Art. 28. O trabalho do condenado, como
dever social e condição de dignidade humana, terá finalidade educativa e produtiva”.

§ 8º Segurança e higiene do trabalho

Segundo o artigo 28, parágrafo 1o, da Lei de Execução Penal: “Art. 28. [...] §
1º Aplicam-se à organização e aos métodos de trabalho as precauções relativas à
segurança e à higiene”.

§ 9º Não sujeição do trabalho do preso à Consolidação das Leis do Trabalho

O artigo 28, parágrafo 2o, da Lei de Execução Penal estabelece que: “Art. 28.
[...] § 2º O trabalho do preso não está sujeito ao regime da Consolidação das Leis do
Trabalho”.

167
§ 10 A remuneração do trabalho do preso

10.1 Aspectos históricos

A remuneração do trabalho prisional foi instituída por meio do artigo 1o da


Lei n. 6.416, de 24 de maio de 1977, que introduziu o parágrafo 3o do artigo 30 do
Código Penal então em vigor.
Art. 1º O Código Penal (Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940),
passa a vigorar com as seguintes alterações:
[...]
Art. 30
[...]
§ 3º O trabalho do recluso será remunerado, aplicando-se o seu produto:
a) na indenização dos danos causados pelo crime, desde que determinados
judicialmente e não reparados por outros meios;
b) na assistência à família, segundo a lei civil;
c) em pequenas despesas pessoais;
d) ressalvadas outras aplicações legais, em depósito da parte restante, para
constituição de pecúlio, em caderneta de poupança da Caixa Econômica
Federal, a qual lhe será entregue no ato de ser posto em liberdade.

Em 1984, por meio da Lei n. 7.210, de 11 de julho (Lei de Execução Penal), a


remuneração foi mantida nos artigos 29 a 30.

10.2 Normatização sobre a remuneração do trabalho prisional

A remuneração do trabalho prisional está regulada no artigo 29 da Lei de


Execução Penal.

10.3 Parâmetros da remuneração do trabalho do preso

10.3.1 Parâmetro mínimo

O artigo 29, caput, da Lei de Execução Penal estabelece o valor mínimo da


remuneração do trabalho do preso não poderá ser inferior a ¾ (três quartos) do salário
mínimo: “Art. 29. O trabalho do preso será remunerado, mediante prévia tabela, não

168
podendo ser inferior a 3/4 (três quartos) do salário mínimo”. (O grifo não está na
redação original)].

10.3.2 Prévia tabela

O artigo 29, caput, da Lei de Execução Penal estabelece o valor mínimo da


remuneração do trabalho do preso não poderá ser inferior a ¾ (três quartos) do salário
mínimo: “Art. 29. O trabalho do preso será remunerado, mediante prévia tabela, não
podendo ser inferior a 3/4 (três quartos) do salário mínimo”. (O grifo não está na
redação original).

10.4 Destinação da remuneração

Sobre a destinação da remuneração do trabalho prisional, dispõem os


parágrafos 1o e 2o do artigo 29 da Lei de Execução Penal:
Art. 29.
[...]
§ 1° O produto da remuneração pelo trabalho deverá atender:
a) à indenização dos danos causados pelo crime, desde que determinados
judicialmente e não reparados por outros meios;
b) à assistência à família;
c) a pequenas despesas pessoais;
d) ao ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a manutenção do
condenado, em proporção a ser fixada e sem prejuízo da destinação prevista
nas letras anteriores.
§ 2º Ressalvadas outras aplicações legais, será depositada a parte restante
para constituição do pecúlio, em Caderneta de Poupança, que será entregue
ao condenado quando posto em liberdade.

10.4.1 Indenização dos danos causados pelo crime, desde que determinados
judicialmente e não reparados por outros meios. Dispõe a alínea a do parágrafo 1o do
artigo 29 da Lei de Execução Penal: “Art. 29.[...] § 1° [...] a) à indenização dos danos
causados pelo crime, desde que determinados judicialmente e não reparados por outros
meios”.

169
10.4.2 Assistência à família

Dispõe a alínea b do parágrafo 1o, do artigo 29 da Lei de Execução Penal:


“Art. 29.[...] § 1° [...] b) à assistência à família; c) a pequenas despesas pessoais”.

10.4.3 Pequenas despesas pessoais

Dispõe a alínea c do parágrafo 1o do artigo 29 da Lei de Execução Penal:


“Art. 29.[...] § 1° [...] c) a pequenas despesas pessoais”.

10.4.4 Ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a manutenção


do condenado, em proporção a ser fixada e sem prejuízo das demais destinações

Dispõe a alínea d do parágrafo 1o do artigo 29 da Lei de Execução Penal:


“Art. 29.[...] § 1° [...] d) ao ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a
manutenção do condenado, em proporção a ser fixada e sem prejuízo da destinação
prevista nas letras anteriores”.

10.4.5 Constituição de pecúlio

Dispõe o parágrafo 2o do artigo 29 da Lei de Execução Penal: “Art. 29.[...] §


2º Ressalvadas outras aplicações legais, será depositada a parte restante para
constituição do pecúlio, em Caderneta de Poupança, que será entregue ao condenado
quando posto em liberdade”.

§ 11 A não remuneração das tarefas executadas como prestação de serviços à


comunidade

Dispõe o artigo 30 da Lei de Execução Penal: “Art. 30. As tarefas executadas


como prestação de serviço à comunidade não serão remuneradas”.

170
§ 12 O direito do preso à Previdência Social

Conforme o artigo 41, inciso III, da Lei de Execução Penal: "Art. 41.
Constituem direitos do preso: [...] III - Previdência Social".
Por outro lado, estabelece o inciso VI do artigo 23 desse mesmo diploma
legal, também, que "Art. 23. Incumbe ao serviço de assistência social:[...] VI -
providenciar a obtenção de documentos, dos benefícios da Previdência Social e do
seguro por acidente no trabalho".
O artigo 39 do Código Penal, por sua vez, estabelece que "O trabalho do
preso será sempre remunerado, sendo-lhe garantidos os benefícios da Previdência
Social".

§ 13 A obrigatoriedade da execução do trabalho sob o controle e a vigilância


das autoridades públicas

O artigo 6o, item 3, alínea a, da Convenção Americana dos Direitos Humanos


estabelece que a execução do trabalho prisional deverá ocorrer sob o controle e a
vigilância das autoridade públicas).
a) os trabalhos ou serviços normalmente exigidos de pessoa reclusa em
cumprimento de sentença ou resolução formal expedida pela autoridade
judiciária competente. Tais trabalhos ou serviços devem ser executados sob a
vigilância e controle das autoridades públicas, e os indivíduos que os
executarem não devem ser postos à disposição de particulares, companhias ou
pessoas jurídicas de caráter privado.

§ 14 O trabalho interno

O trabalho interno é o que é realizado no interior do estabelecimento


prisional, conforme as disposições existentes nos artigos 31 a 35 da Lei de Execução
Penal.

171
14.1 Regras para a atribuição do trabalho ao preso

A atribuição do trabalho interno ao preso, conforme dispõe o artigo 32, caput,


da Lei de Execução Penal, depende da sua habilitação, das suas condições pessoais e das
suas necessidades futuras, bem como das oportunidades oferecidas no mercado: “Art. 32.
Na atribuição do trabalho deverão ser levadas em conta a habilitação, a condição
pessoal e as necessidades futuras do preso, bem como as oportunidades oferecidas pelo
mercado”.

14.2 Trabalho a ser evitado

Segundo o artigo 32, parágrafo 1o, da Lei de Execução Penal, deve ser
evitado o trabalho de artesanato sem expressão econômica, salvo nas regiões de turismo:
“Art. 32. [...] § 1º Deverá ser limitado, tanto quanto possível, o artesanato sem
expressão econômica, salvo nas regiões de turismo”.

14.3 O trabalho dos maiores de 60 (sessenta) anos

O parágrafo 2o do artigo 32 da Lei de Execução Penal estabelece que os


condenados maiores de 60 (sessenta) anos terão ocupação adequada à sua saúde: “Art.
32. [...] § 2º Os maiores de 60 (sessenta) anos poderão solicitar ocupação adequada à
sua idade”.

14.4 O trabalho dos doentes ou deficientes físicos

Segundo o parágrafo 3o do artigo 32 da Lei de Execução Penal, os doentes ou


deficientes físicos deverão exercer trabalho apropriado aos seus estados físicos: “Art. 32.
[...] § 3º Os doentes ou deficientes físicos somente exercerão atividades apropriadas ao
seu estado”.

172
14.5 A jornada de trabalho do preso

O caput do artigo 33 da Lei de Execução Penal estabelece que a jornada de


trabalho dos presos não pode ser inferior a 6 (seis) horas, nem superior a 8 (oito) horas,
com descanso nos domingos e feriados: “Art. 33. A jornada normal de trabalho não será
inferior a 6 (seis) nem superior a 8 (oito) horas, com descanso nos domingos e feriados”.

14.6 Possibilidade de atribuição de horário especial de trabalho para os presos


designados para os serviços de conservação e manutenção do estabelecimento penal

O parágrafo único do artigo 33 da Lei de Execução Penal estabelece que é


possível a atribuição de horário especial de trabalho para os presos designados para os
serviços de conservação e manutenção do estabelecimento penal: “Art. 33. [...]
Parágrafo único. Poderá ser atribuído horário especial de trabalho aos presos
designados para os serviços de conservação e manutenção do estabelecimento penal”.

14.7 A supervisão do trabalho prisional

O parágrafo 4º do artigo 54 da Lei Complementar Estadual n. 529, de 17 de


janeiro de 2011, estabelece que "O condenado deverá ter seu trabalho supervisionado
por profissional da área".

14.8 O gerenciamento do trabalho do preso

O gerenciamento do trabalho dos presos está regulado no artigo 34 da Lei de


Execução Penal.

173
14.8.1 Possibilidade de gerenciamento do trabalho do preso por fundação ou
empresa pública

Segundo o artigo 34, caput, da Lei de Execução Penal, o gerenciamento do


trabalho do preso poderá ser realizado por fundação ou empresa pública: “Art. 34. O
trabalho poderá ser gerenciado por fundação, ou empresa pública, com autonomia
administrativa, e terá por objetivo a formação profissional do condenado”.

14.8.2 Métodos empresariais na produção prisional

Conforme o artigo 34, parágrafo 1o, 1a parte, da Lei de Execução Penal, a


fundação ou a empresa pública que gerenciar o trabalho prisional deverá empregar
critérios e métodos empresariais:
Art. 34.
[...]
§ 1o. Nessa hipótese, incumbirá à entidade gerenciadora promover e
supervisionar a produção, com critérios e métodos empresariais, encarregar-
se de sua comercialização, bem como suportar despesas, inclusive pagamento
de remuneração adequada.

14.8.3 Os encargos da entidade gerenciadora do trabalho prisional

Conforme o artigo 34, parágrafo 1o, 2a parte, da Lei de Execução Penal, a


entidade gerenciadora do trabalho prisional deverá ficar encarregada de promover e
supervisionar a produção, de comercializá-la e de suportar despesas com a produção, bem
como da remuneração adequada do trabalho do preso:
Art. 34.
[...]
§ 1o. Nessa hipótese, incumbirá à entidade gerenciadora promover e
supervisionar a produção, com critérios e métodos empresariais, encarregar-
se de sua comercialização, bem como suportar despesas, inclusive pagamento
de remuneração adequada.

174
14.8.4 Possibilidade de celebração de convênios para a implantação de
oficinas de trabalho e de delegação de certas tarefas nos estabelecimentos prisionais

O parágrafo 2o do artigo 34 da Lei de Execução Penal autoriza a celebração


de convênios para a implantação de oficinas de trabalho: “Art. 34. [...] § 2o Os governos
federal, estadual e municipal poderão celebrar convênio com a iniciativa privada, para
implantação de oficinas de trabalho referentes a setores de apoio dos presídios”.
Este parágrafo foi incluído pela Lei n. 10.792, de 1º de dezembro de 2003.
Não significa privatização de presídios, mas, apenas, terceirização de certos
serviços. Sobre a possibilidade de execução indireta de certas atividades e os limites
dessa delegação a entidades privadas, deve-se ter em mente os artigos 83-A e 83-B da Lei
de Execução Penal, incluídos pela Lei n. 13.190, de 19 de novembro de 2015:
Art. 83-A. Poderão ser objeto de execução indireta as atividades materiais
acessórias, instrumentais ou complementares desenvolvidas em
estabelecimentos penais, e notadamente:
I - serviços de conservação, limpeza, informática, copeiragem, portaria,
recepção, reprografia, telecomunicações, lavanderia e manutenção de prédios,
instalações e equipamentos internos e externos;
II - serviços relacionados à execução de trabalho pelo preso.
§ 1o A execução indireta será realizada sob supervisão e fiscalização do poder
público.
§ 2o Os serviços relacionados neste artigo poderão compreender o
fornecimento de materiais, equipamentos, máquinas e profissionais.
Art. 83-B. São indelegáveis as funções de direção, chefia e coordenação no
âmbito do sistema penal, bem como todas as atividades que exijam o exercício
do poder de polícia, e notadamente:
I - classificação de condenados;
II - aplicação de sanções disciplinares;
III - controle de rebeliões;
IV - transporte de presos para órgãos do Poder Judiciário, hospitais e outros
locais externos aos estabelecimentos penais. (Os grifos não estão na redação
original).

14.8.5 Aquisição, sem licitação dos bens e produtos do trabalho prisional


pelos órgãos da administração direta e indireta

O artigo 35, caput, da Lei de Execução Penal obriga os órgãos da


Administração Direta ou Indireta da União, Estados, Territórios, Distrito Federal e dos
Municípios a adquirirem produtos do trabalho prisional:

175
Art. 35. Os órgãos da Administração Direta ou Indireta da União, Estados,
Territórios, Distrito Federal e dos Municípios adquirirão, com dispensa de
concorrência pública, os bens ou produtos do trabalho prisional, sempre que
não for possível ou recomendável realizar-se a venda a particulares.

14.8.6 Destinação do produto da venda à fundação ou à empresa pública que


gerenciar a produção

O artigo 35, parágrafo único, da Lei de Execução Penal estabelece que as


importâncias arrecadadas com as vendas devem ser revertidas em favor da fundação ou
empresa pública encarregada do gerenciamento ou, na sua falta, ao estabelecimento
penal: “Art. 35. [...] Parágrafo único. Todas as importâncias arrecadadas com as vendas
reverterão em favor da fundação ou empresa pública a que alude o artigo anterior ou, na
sua falta, do estabelecimento penal”.

§ 15 O trabalho externo

O trabalho externo é o que é realizado no exterior do estabelecimento


prisional, conforme a regulamentação contida nos artigos 36 e 37 da Lei de Execução
Penal.

15.1 Possibilidade do trabalho externo dos presos em regime fechado

O artigo 36, caput, da Lei de Execução Penal prevê a possibilidade do


trabalho externo do preso do regime fechado, desde que adotadas cautelas contra a fuga e
em favor da disciplina:
SEÇÃO III
Do Trabalho Externo
Art. 36. O trabalho externo será admissível para os presos em regime fechado
somente em serviço ou obras públicas realizadas por órgãos da Administração
Direta ou Indireta, ou entidades privadas, desde que tomadas as cautelas
contra a fuga e em favor da disciplina.

15.1.1 O trabalho externo do preso somente em serviços ou obras públicas

176
Segundo o artigo 36, caput, da Lei de Execução Penal, o trabalho externo do
preso em regime fechado somente pode ser prestado em serviços ou obras públicas:
Art. 36. O trabalho externo será admissível para os presos em regime fechado
somente em serviço ou obras públicas realizadas por órgãos da Administração
Direta ou Indireta, ou entidades privadas, desde que tomadas as cautelas
contra a fuga e em favor da disciplina.

15.1.2 Necessidade de adotar cautelas contra a fuga e em favor da disciplina

O artigo 36, caput, da Lei de Execução Penal estabelece que, para a


realização do trabalho externo do preso em regime fechado, deverão ser adotadas cautelas
contra a fuga e em favor da disciplina:
Art. 36. O trabalho externo será admissível para os presos em regime fechado
somente em serviço ou obras públicas realizadas por órgãos da Administração
Direta ou Indireta, ou entidades privadas, desde que tomadas as cautelas
contra a fuga e em favor da disciplina.

15.1.3 O trabalho externo realizado por órgãos da Administração Direta ou


Indireta ou por entidades públicas

O artigo 36, caput, da Lei de Execução Penal estabelece que o trabalho


externo do preso em regime fechado pode ser prestado em órgãos da Administração
Direta ou Indireta ou em entidades públicas, desde que prestem serviços ou obras
públicas:
Art. 36. O trabalho externo será admissível para os presos em regime fechado
somente em serviço ou obras públicas realizadas por órgãos da Administração
Direta ou Indireta, ou entidades privadas, desde que tomadas as cautelas
contra a fuga e em favor da disciplina.

15.1.4 Número máximo de presos do total de empregados da obra

O número máximo de presos que podem ser empregados em uma obra ou


serviço público, segundo o parágrafo 1o do artigo 36 da Lei de Execução Penal, não
poderá ser superior a 10 (dez) % do total dos empregados da obra: “Art. 36. [...] § 1º O
limite máximo do número de presos será de 10% (dez por cento) do total de empregados
na obra”.

177
15.1.5 Responsabilidade pela remuneração do preso

A responsabilidade pela remuneração do preso, conforme dispõe o parágrafo


2o do artigo 36 da Lei de Execução Penal, deve ser do órgão da Administração, da
entidade ou da empresa empreiteira: “Art. 36. [...] § 2º Caberá ao órgão da
administração, à entidade ou à empresa empreiteira a remuneração desse trabalho”.

15.1.6 Necessidade do consentimento do preso para o trabalho em entidade


privada

Conforme dispõe o artigo 36, parágrafo 3o, da Lei de Execução Penal, o


trabalho do preso em entidade privada depende do seu prévio e expresso consentimento:
“Art. 36. [...] § 3º A prestação de trabalho à entidade privada depende do consentimento
expresso do preso”.

15.1.7 Competência para a autorização do trabalho externo do preso do


regime fechado

Segundo a regra do caput do artigo 37 da Lei de Execução Penal, a


competência para a autorização do trabalho externo do preso em regime fechado deve ser
do diretor do estabelecimento: “Art. 37. A prestação de trabalho externo, a ser
autorizada pela direção do estabelecimento, dependerá de aptidão, disciplina e
responsabilidade, além do cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena”.
Todavia, o artigo 57 da Lei Complementar Estadual n. 529, de 17 de janeiro
de 2011, estabelece que:
O trabalho externo para os presos em regime fechado será admissível somente
em serviço ou obras públicas, que sejam realizadas por órgãos da
Administração Pública estadual direta ou indireta ou por entidades privadas,
desde que tomadas as cautelas contra a fuga, em favor da disciplina e com
autorização judicial.

178
15.1.8 Requisitos para autorização do trabalho externo do preso em regime
fechado

Conforme dispõe a 2a parte do caput do artigo 37 da Lei de Execução Penal, a


autorização do trabalho externo do preso em regime fechado depende da sua aptidão, da
sua disciplina, da sua responsabilidade e do cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da
pena imposta: “Art. 37. A prestação de trabalho externo, a ser autorizada pela direção
do estabelecimento, dependerá de aptidão, disciplina e responsabilidade, além do
cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena”.

15.1.9 Revogação da autorização para o trabalho externo

Conforme dispõe o parágrafo único do artigo 37 da Lei de Execução Penal,


deverá ser revogada a autorização para o trabalho externo quando o preso praticar fato
definido como crime, quando for punido por falta grave ou quando tiver comportamento
contrário aos requisitos estabelecidos para a sua concessão: "Art. 37. [...] Parágrafo
único. Revogar-se-á a autorização de trabalho externo ao preso que vier a praticar fato
definido como crime, for punido por falta grave, ou tiver comportamento contrário aos
requisitos estabelecidos neste artigo”.

15.1.10 Proibição de um preso fiscalizar o outro

Segundo o artigo 59 da Lei Complementar Estadual n. 529, de 17 de janeiro


de 2011, "Será proibido qualquer tipo de trabalho que importe em fiscalização ou
controle de um preso sobre outro".

15.2 Possibilidade do trabalho externo dos presos em regime semiaberto

A possibilidade do trabalho externo dos presos em regime semiaberto está


prevista no artigo 35, parágrafo 2o, do Código Penal: "Art. 35 - [...]§ 2º - O trabalho

179
externo é admissível, bem como a freqüência a cursos supletivos profissionalizantes, de
instrução de segundo grau ou superior".

15.2.1 (Des)necessidade de cumprir 1/6 (um sexto) da pena

Há divergência jurisprudencial sobre a necessidade do cumprimento de 1/6


(um sexto) da pena para o deferimento do trabalho externo aos presos do regime
semiaberto.

15.2.1.1 Desnecessidade do cumprimento de (um sexto) da pena

O Superior Tribunal de Justiça e as Segunda, Terceira e Quarta Câmaras


Criminais do Tribunal de Justiça de Santa Catarina firmaram entendimento no sentido de
que é desnecessário o cumprimento de 1/6 (um sexto) da pena em regime semiaberto para
o deferimento do trabalho externo, uma vez que essa exigência se impõe, apenas, aos
presos do regime fechado.
É o que se pode depreender da seguinte ementa do acórdão proferido, no dia
15 de maio de 2014, pela Colenda Quinta Turma do Egrégio Tribunal de Justiça, nos
autos do Habeas Corpus n. 282.192, do Rio Grande do Sul, nos quais foi relator o
Ministro Moura Ribeiro:
HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL.
DESCABIMENTO. EXECUÇÃO DA PENA. REGIME SEMIABERTO.
CASSAÇÃO DA AUTORIZAÇÃO PARA TRABALHO EXTERNO. AUSÊNCIA
DE REQUISITO OBJETIVO. PRESCINDIBILIDADE DO CUMPRIMENTO
DE 1/6 DA PENA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO. 1. É
assente o entendimento desta Corte no sentido de ser desnecessário o
cumprimento de 1/6 (um sexto) da pena, no mínimo, para a concessão do
benefício do trabalho externo ao condenado a cumprir a reprimenda no regime
semiaberto, desde que satisfeitos os demais requisitos necessários, de natureza
subjetiva. 2. A exigência do cumprimento de 1/6 da pena para a concessão da
benesse do trabalho externo aos que se encontram no regime semiaberto
configura constrangimento ilegal sanável, de ofício. 3. Habeas corpus
concedido, de ofício, para cassar o acórdão impugnado e restabelecer a
decisão do Juízo das Execuções Criminais.

No mesmo sentido, é a seguinte ementa do acórdão proferido, no dia 7 de


fevereiro de 2013, pela Colenda Sexta Turma do Egrégio Superior Tribunal de Justiça,

180
nos autos do Habeas Corpus n. 255.781, do Rio Grande do Sul, nos quais foi relatora a
Ministra Maria Thereza de Assis Moura:
EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS.[...] (2) REGIME SEMIABERTO.
TRABALHO EXTERNO. CUMPRIMENTO DE 1/6 DA PENA.
DESNECESSIDADE. PRECEDENTES. PATENTE ILEGALIDADE.
CONCESSÃO DA ORDEM DE OFÍCIO. [...] 2. Este Superior Tribunal de
Justiça sufragou o entendimento de que não é necessário o cumprimento de
1/6 (um sexto) da pena para se autorizar o condenado em regime inicial
semiaberto a exercer trabalho externo.[...] 3. Ordem não conhecida;
concedido habeas corpus de ofício para restabelecer a decisão de primeiro
grau, que assegurou ao paciente o benefício do trabalho externo,
independentemente do cumprimento de 1/6 (um sexto) da pena.

Igual entendimento está expresso na seguinte ementa do acórdão proferido,


no dia 29 de 29 de julho de 2014, pela Colenda Segunda Câmara Criminal do Egrégio
Tribunal de Justiça de Santa Catarina, nos autos do Recurso de Agravo n. 2014.036492-1,
de Tijucas, nos quais foi relator o Desembargador Getúlio Corrêa:
AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL - DECISÃO QUE INDEFERIU O
PEDIDO DE TRABALHO EXTERNO E FREQUÊNCIA EM CURSO
PROFISSIONALIZANTE A APENADO EM REGIME SEMIABERTO -
INSURGÊNCIA DA DEFESA - DESNECESSIDADE DO CUMPRIMENTO DE
1/6 (UM SEXTO) DA PENA - ART. 37 DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL QUE
SE REFERE AO CUMPRIMENTO DE PENA EM REGIME FECHADO -
PRECEDENTES DESTA CORTE E DOS TRIBUNAIS SUPERIORES – [...]
RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.

O mesmo entendimento se pode depreender da seguinte ementa do acórdão


proferido, no dia 12 de agosto de 2014, pela Colenda Terceira Câmara Criminal do
Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, nos autos do Recurso de Agravo
n. 2014.041205-7, de Chapecó, nos quais foi relator o Desembargador Rui Fortes:
RECURSO DE AGRAVO. EXECUÇÃO PENAL. PLEITO DE TRABALHO
EXTERNO. INDEFERIMENTO ANTE A AUSÊNCIA DO REQUISITO
OBJETIVO. INSURGÊNCIA DA DEFESA. REEDUCANDO QUE CUMPRE
PENA NO REGIME SEMIABERTO. DESNECESSIDADE DO
CUMPRIMENTO MÍNIMO DE 1/6 DA PENA. PRECEDENTES DO
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. AUSÊNCIA, TODAVIA, DE
COMPROVAÇÃO DOS REQUISITOS SUBJETIVOS. NECESSIDADE DE
ANÁLISE PELO JUÍZO DA EXECUÇÃO PENAL. RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO.

Entendimento igual está na ementa do acórdão proferido, no dia 7 de agosto


de 2014, pela Colenda Quarta Câmara Criminal do Egrégio Tribunal de Justiça de Santa
Catarina, nos autos do Recurso de Agravo n. 2014.035135-7, de Tijucas, nos quais foi
relator o Desembargador Roberto Lucas Pacheco:

181
AGRAVO. EXECUÇÃO PENAL. INSURGÊNCIA CONTRA A DECISÃO QUE
NEGOU AUTORIZAÇÃO PARA TRABALHO EXTERNO. [...] TRABALHO
EXTERNO. 1. REQUISITO OBJETIVO. IMPOSIÇÃO DO REGIME INICIAL
SEMIABERTO. CUMPRIMENTO DE 1/6 DA PENA. EXIGÊNCIA QUE SE
APLICA APENAS AOS CONDENADOS QUE CUMPREM PENA EM
REGIME FECHADO. PRECEDENTES.[...] 1. É possível a concessão do
trabalho externo ao condenado em regime semiaberto, independentemente do
cumprimento de 1/6 da pena, uma vez que a exigência legal se dá somente ao
condenado em regime fechado.[...] RECURSO PARCIALMENTE
CONHECIDO E NESSA PARTE PROVIDO.

15.2.1.2 Necessidade do cumprimento de 1/6 (um sexto) da pena em regime


semiaberto

Sustentando a necessidade do cumprimento de 1/6 (um sexto) da pena em


regime semiaberto para a obtenção do direito de exercer o trabalho externo ao
estabelecimento prisional e aplicando analogicamente a regra do caput do artigo 37 da
Lei de Execução Penal aos presos do regime semiaberto, transcreve-se a ementa do
acórdão proferido, no dia 19 de agosto de 2014, pela Colenda Primeira Câmara Criminal
do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, nos autos Habeas Corpus n.
2014.010393-8, de Concórdia, nos quais foi relatora a Desembargadora Marli Mosimann
Vargas:
HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. PACIENTE QUE CUMPRE PENA
EM REGIME SEMIABERTO. PRETENDO DEFERIMENTO DE
AUTORIZAÇÃO PARA TRABALHO EXTERNO EM EMPRESA PRÓPRIA.
IMPOSSIBILIDADE. BENESSE QUE EXIGE PREENCHIMENTO DE
REQUISITOS OBJETIVOS E SUBJETIVOS (ARTS. 36 E 37 DA LEP).
EMPRESA PRIVADA DE PROPRIEDADE DA PACIENTE. FISCALIZAÇÃO
RÍGIDA E IDÔNEA DO EMPREGADOR PREJUDICADA. ORDEM
CONHECIDA E DENEGADA.

15.2.2 (Des)necessidade de vigilância contra a fuga

15.2.2.1 Desnecessidade de vigilância direta e periódica

Há entendimento no sentido de que não é necessária a vigilância direta e


periódica do apenado no exercício do trabalho externo, conforme se pode depreender da
ementa do acórdão proferido, no dia 7 de agosto de 2014, pela Colenda Quarta Câmara
Criminal do Egrégio Tribunal de Justiça de Santa Catarina, nos autos do Recurso de

182
Agravo n. 2014.035135-7, de Tijucas, nos quais foi relator o Desembargador Roberto
Lucas Pacheco:
AGRAVO. EXECUÇÃO PENAL. INSURGÊNCIA CONTRA A DECISÃO QUE
NEGOU AUTORIZAÇÃO PARA TRABALHO EXTERNO.[...] TRABALHO
EXTERNO. [...] 3. DESNECESSIDADE DE VIGILÂNCIA PERIÓDICA E
DIRETA. CARACTERÍSTICAS DO REGIME SEMIABERTO. REQUISITOS
SUBJETIVOS PREENCHIDOS. [...] 3. A fiscalização do trabalho externo,
exercido por apenado que cumpre pena no regime semiaberto, não necessita
ser direta e permanente, como ocorre com aquele que a cumpre no regime
fechado, bastando, para tanto, a comprovação do vínculo e da frequência
laboral, bem como a compatibilidade de tal exercício com o recolhimento ao
ergástulo no período noturno e finais de semana. RECURSO
PARCIALMENTE CONHECIDO E NESSA PARTE PROVIDO.

No mesmo sentido, inclusive ressaltando que a autorização para o trabalho


externo em empresa privada sem vigilância direta e permanente não implica burla ao
sistema de progressão de penas, pois visa à ressocialização do condenado, conforme se
pode depreender da seguinte ementa do acórdão proferido, no dia 26 de março de 2013,
pela Colenda Terceira Câmara Criminal do Egrégio Tribunal de Justiça, nos autos do
Habeas Corpus n. 2013.014062-7, de Itajaí, nos quais foi relator o Desembargador Torres
Marques:
HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. TRABALHO EXTERNO.
INDEFERIMENTO. PACIENTE CONDENADO À PENA EM REGIME
SEMIABERTO. DESNECESSIDADE DE CUMPRIMENTO DE UM SEXTO
DA SANÇÃO CORPORAL. AUSÊNCIA DE ÓBICE AO EXERCÍCIO DE
LABOR EM ESTABELECIMENTO PRIVADO. PRESCINDIBILIDADE DE
VIGILÂNCIA DIRETA. BENEFÍCIO, ADEMAIS, QUE NÃO IMPORTA
BURLA AO SISTEMA DE PROGRESSÃO DE REGIMES. OBJETIVADA A
REINSERÇÃO GRADATIVA DO CONDENADO NO MEIO SOCIAL.
IMPEDIMENTOS DE CARÁTER OBJETIVO NÃO VERIFICADOS.
NECESSÁRIA, TODAVIA, A ANÁLISE DOS REQUISITOS SUBJETIVOS.
ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA PARA ESTE FIM. (O grifo não está
na redação original).

Reforçando o entendimento no sentido de que não é necessária a vigilância


direta do trabalho externo do preso em regime semiaberto, há o artigo 122, caput, da Lei
de Execução Penal, que dispõe sobre a possibilidade de saída temporária do preso desse
regime sem a necessidade da vigilância ou escolta:
Art. 122. Os condenados que cumprem pena em regime semi-aberto poderão
obter autorização para saída temporária do estabelecimento, sem vigilância
direta, nos seguintes casos:
I - visita à família;
II - freqüência a curso supletivo profissionalizante, bem como de instrução do
2º grau ou superior, na Comarca do Juízo da Execução;

183
III - participação em atividades que concorram para o retorno ao convívio
social.(O grifo não está na redação original)].

15.2.2.2 Necessidade de que o trabalho seja intra muros para que possa haver
uma mínima fiscalização pelo empregador

Há entendimento no sentido de que, embora não se exija a vigilância


ostensiva do apenado no exercício do trabalho externo em empresa privada, é necessária
a mínima fiscalizador do empregador, conforme se pode depreender da seguinte ementa
do acórdão proferido, no dia 22 de julho de 2014, pela Colenda Terceira Câmara Criminal
do Egrégio Tribunal de Justiça, nos autos do Recurso de Agravo n. 2014.014158-1, da
Capital, nos quais foi relator o Desembargador Ernani Guetten de Almeida:
AGRAVO DE EXECUÇÃO PENAL. INDEFERIMENTO DE PEDIDO DE
TRABALHO EXTERNO, EM REGIME SEMIABERTO. EMPRESA PRIVADA.
CARGO DE VENDEDOR EXTERNO.[...] DECISÃO QUE INDEFERIU O
PEDIDO PELA INCOMPATIBILIDADE DO CARGO OFERECIDO AO
AGRAVANTE COM A BENESSE. EMBORA O REGIME SEMIABERTO NÃO
EXIJA OSTENSIVA VIGILÂNCIA DA ATIVIDADE LABORAL, NECESSÁRIA
A MÍNIMA FISCALIZAÇÃO PELO EMPREGADOR, O QUE É
INEXEQUÍVEL NA FUNÇÃO DE VENDEDOR EXTERNO. RECURSO
CONHECIDO E DESPROVIDO.

Nesse mesmo sentido, transcreve-se a ementa do acórdão proferido, no dia 24


de maio de 2012, pela Colenda Quarta Câmara Criminal do Egrégio Tribunal de Justiça
de Santa Catarina, nos autos do Recurso de Agravo n. 2012.023976-3, de Videira, nos
quais foi relator o Desembargador Roberto Lucas Pacheco:
AGRAVO. EXECUÇÃO PENAL. PRESO EM REGIME SEMIABERTO.
INSURGÊNCIA CONTRA A DECISÃO QUE NEGOU AUTORIZAÇÃO PARA
TRABALHO EXTERNO. LABOR DESENVOLVIDO EM
ESTABELECIMENTO COMERCIAL PRÓPRIO. DESNECESSIDADE DE
VIGILÂNCIA PERMANENTE. REQUISITO OBJETIVO PREENCHIDO.
REQUISITO SUBJETIVO NÃO APRECIADO NO JUÍZO A QUO. INVIÁVEL
O DEFERIMENTO DO BENEFÍCIO PELO JUÍZO AD QUEM, SOB PENA
DE SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. É possível a concessão do trabalho
externo ao condenado em regime semiaberto (CP, art. 35). A fiscalização do
trabalho, no entanto, não necessita ser direta e permanente, como ocorre no
regime fechado, bastando, por exemplo, a verificação de que o apenado se
encontra no local de trabalho e de que respeita os horários de recolhimento ao
ergástulo. Contudo, é vedado ao órgão fracionário, sob pena de supressão de
instância, analisar se o apenado preenche os requisitos subjetivos para a
autorização de trabalho externo se tal questão não foi analisada pelo juiz a
quo. Logo, concluindo a Câmara pelo preenchimento do requisito objetivo, os
autos devem retornar à origem para análise dos requisitos subjetivos.
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.

184
15.2.2.3 Necessidade da vigilância direta pelo Poder Público

Há, também, entendimento no sentido de que não é possível o exercício de


trabalho externo em empresa privada, pois caracteriza burla ao sistema de progressão de
regime, uma vez que não é possível a vigilância direta pelo Poder Público, conforme se
pode depreender da seguinte ementa do acórdão proferido, no dia 13 de março de 2012,
pela Colenda Segunda Câmara Criminal do Egrégio Tribunal de Justiça de Santa
Catarina, nos autos do Recurso de Agravo n. 2011.097371-4, da Capital, nos quais foi
relator o Desembargador Francisco Oliveira Neto:
RECURSO DE AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL. PLEITO DE TRABALHO
EXTERNO NEGADO. CUMPRIMENTO DE PENA EM REGIME
SEMIABERTO. SERVIÇO A SER EXECUTADO EM EMPRESA PRIVADA.
INVIABILIDADE DE CONTROLE E FISCALIZAÇÃO DO APENADO.
PERMISSÃO QUE CONFIGURARIA BURLA AO SISTEMA DE
PROGRESSÃO DE REGIME, UMA VEZ QUE SE EQUIPARARIA AO
CUMPRIMENTO EM REGIME ABERTO. DECISÃO MANTIDA. RECURSO
DESPROVIDO "(...) O trabalho externo, no regime fechado e semiaberto, é
admitido em obras públicas ou particulares, desde que regido por regras de
direito público (art. 35 do CP). 3. O trabalho externo em empresa privada
afasta o regime público do benefício, de modo que impossibilita um mínimo de
vigilância, inerente ao regime prisional fechado e semiaberto, uma vez que se
desenvolverá em local onde o Poder Público não poderá exercer o seu dever
de fiscalização disciplinar, por ser atividade externa" (STJ, HC n. 98.849/SC,
rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Quinta Turma, j. 5.5.09).

§ 16 O trabalho dos presos em regime aberto

O trabalho dos presos em regime aberto são sempre realizados em ambiente


externo e sem vigilância, conforme se pode depreender da regra do artigo 36, parágrafo
1o, do Código Penal:
Art. 36 - O regime aberto baseia-se na autodisciplina e senso de
responsabilidade do condenado.
§ 1º - O condenado deverá, fora do estabelecimento e sem vigilância,
trabalhar, freqüentar curso ou exercer outra atividade autorizada,
permanecendo recolhido durante o período noturno e nos dias de folga. (Os
grifos não estão na redação original).

185
Subseção III
A remição e as suas espécies

§ 1º Aspectos históricos

A remição pelo trabalho ingressou no ordenamento jurídico-penal brasileiro


com a Lei n. 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal).
A remição pelo estudo, por sua vez, apesar da já existência de precedentes
jurisprudenciais, ingressou no ordenamento jurídico-penal positivo por meio da Lei n.
12.433, de 29 de julho de 2011, que alterou os artigos 126 a 130 da Lei de Execução
penal.
Por fim, a remição pela leitura está sendo admitida em território pátrio a partir
da Portaria Conjunta n. 276, de 20 de junho de 2012, firmada entre o Departamento
Penitenciário Nacional (MJ) e a Corregedoria-Geral da Justiça Federal (STJ). Há
experiências realizadas, em Santa Catarina, entre outras, na Comarca de Joinville, em que
a remição pela leitura está regulamentadana Portaria n. 8/2013, do Juízo de Direito da 3ª
Vara Criminal da Comarca de Joinville; e na Comarca de Videira, em que essa espécie de
remição está regulada por meio da Portaria n. 01/2015, do Juízo de Direito da Vara
Criminal dessa Comarca.

§ 2º Aspectos teóricos

2.1 Conceito de remição

A remição é a compensação, o pagamento ou a quitação da pena pelo trabalho


ou pelo estudo. Distingue-se da “remissão”, que corresponde ao perdão.

2.2 Espécies de remição

São espécies de remição: a remição pelo trabalho; a remição pelo estudo; e a


remição pela leitura.

186
2.3 Disposições legais

A remição está prevista nos artigos 126 a 130 da Lei de Execução Penal

§ 3º A remição pelo trabalho

3.1 Previsão legal

A remição pelo trabalho está prevista no artigo 126, caput, da Lei de


Execução Penal: “Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou
semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da
pena”.

3.2 A contagem do tempo da remição pelo trabalho

Conforme dispõe o inciso I do parágrafo 1o do artigo 126 da Lei de Execução


Penal, a contagem do tempo a ser remido pelo estudo será realizada na razão de 1 (um)
dia de pena para cada 12 (doze) horas de freqüência escolar – atividade de ensino
fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação
profissional – divididas, no mínimo em 3 (três) dias, “Art. 126. [...] § 1o A contagem de
tempo referida no caput será feita à razão de: [...] II - 1 (um) dia de pena a cada 3 (três)
dias de trabalho”.

3.3 Beneficiários da remição pelo trabalho

Conforme dispõe o artigo 126, caput, e parágrafo 7o, da Lei de Execução


Penal, a remição pelo trabalho é possível de ser deferida aos condenados do regime
fechado e semiaberto e ao preso provisório: “Art. 126. O condenado que cumpre a pena
em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do

187
tempo de execução da pena [...]§ 7o O disposto neste artigo aplica-se às hipóteses de
prisão cautelar”.
Observa-se que não há a previsão legal para o deferimento da remição pelo
trabalho para os presos do regime aberto e para o liberado condicional. É que, segundo
dispõe o inciso I do artigo 114 da Lei de Execução Penal, é condição obrigatória para o
ingresso no regime aberto que o condenado esteja trabalhando ou que ele comprove a
possibilidade de fazê-lo imediatamente: “Art. 114. Somente poderá ingressar no regime
aberto o condenado que: I - estiver trabalhando ou comprovar a possibilidade de fazê-lo
imediatamente”.
Também o artigo 132, parágrafo 1o, alínea a, da Lei de Execução Penal
estabelece, como condição obrigatória do livramento condicional, que o liberado obtenha
ocupação lícita, dentro do prazo razoável se for apto para o trabalho: “Art. 132. Deferido
o pedido, o Juiz especificará as condições a que fica subordinado o livramento. § 1º
Serão sempre impostas ao liberado condicional as obrigações seguintes: a) obter
ocupação lícita, dentro de prazo razoável se for apto para o trabalho”.

3.4 Possibilidade de acumulação da remição pelo estudo com a remição pelo


trabalho

Segundo o parágrafo 3o do artigo 126 da Lei de Execução Penal, é possível a


cumulação da remição pelo estudo e pelo trabalho, desde que sejam compatibilizados os
horários; “Art. 126. [...] § 3o Para fins de cumulação dos casos de remição, as horas
diárias de trabalho e de estudo serão definidas de forma a se compatibilizarem”.

3.5 A impossibilidade de o preso prosseguir no trabalho ou no estudo por


acidente não impede a concessão da remição

Dispõe o parágrafo 4o do artigo 126 da Lei de Execução Penal, que, se o


preso estiver impossibilitado, por acidente, de prosseguir no trabalho ou no estudo não
estará impedido de beneficiar-se com a remição: “Art. 126. [...]§ 4o O preso

188
impossibilitado, por acidente, de prosseguir no trabalho ou nos estudos continuará a
beneficiar-se com a remição”.

§ 4º A remição pelo estudo

4.1 Previsão legal

A remição pelo estudo está prevista no artigo 126, caput, da Lei de Execução
Penal: “Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto
poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena”.
A remição pelo estudo ingressou no ordenamento jurídico-penal brasileiro por
meio da Lei n. 12.433, de 29 de junho de 2011.

4.2 A contagem do tempo da remição pelo estudo

Conforme dispõe o inciso I do parágrafo 1o do artigo 126 da Lei de Execução


Penal, a contagem do tempo a ser remido pelo estudo será realizada na razão de 1 (um)
dia de pena para cada 12 (doze) horas de freqüência escolar – atividade de ensino
fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação
profissional – divididas, no mínimo em 3 (três) dias.
Art. 126.
[...]
§ 1o A contagem de tempo referida no caput será feita à razão de:
I - 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar - atividade
de ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou
ainda de requalificação profissional - divididas, no mínimo, em 3 (três) dias.

4.3 Beneficiários da remição pelo estudo

Conforme dispõe o artigo 126, caput, e parágrafos 6o e 7o, da Lei de


Execução Penal, a remição pelo estudo é possível de ser deferida aos condenados do
regime fechado, semiaberto e aberto, ao liberado condicional e ao preso provisório:
Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto
poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena
[...] § 6o O condenado que cumpre pena em regime aberto ou semiaberto e o

189
que usufrui liberdade condicional poderão remir, pela frequência a curso de
ensino regular ou de educação profissional, parte do tempo de execução da
pena ou do período de prova, observado o disposto no inciso I do § 1o deste
artigo. § 7o O disposto neste artigo aplica-se às hipóteses de prisão cautelar.

4.4 Forma de desenvolvimento do ensino

Segundo a 1a parte do parágrafo 2o do artigo 126 da Lei de Execução Penal, a


remição pelo estudo pode ser deferida tanto aos beneficiários que realizarem atividades
de ensino presencial quanto àqueles que realizarem essas atividades à distância:
Art. 126.
[...]
§ 2o As atividades de estudo a que se refere o § 1 o deste artigo poderão ser
desenvolvidas de forma presencial ou por metodologia de ensino a distância e
deverão ser certificadas pelas autoridades educacionais competentes dos
cursos freqüentados.

4.5 Necessidade de certificação pelas autoridades educacionais competentes

Para que possa ser deferida a remição pelo estudo, faz-se necessário,
conforme o artigo 126, parágrafo 2o, 2a parte, da Lei de Execução Penal, que as
atividades de ensino realizadas pelo pretenso beneficiário desse instituto sejam
certificadas pelas autoridades educacionais competentes:
Art. 126.
[...]
§ 2o As atividades de estudo a que se refere o § 1 o deste artigo poderão ser
desenvolvidas de forma presencial ou por metodologia de ensino a distância e
deverão ser certificadas pelas autoridades educacionais competentes dos
cursos freqüentados.

4.6 Acréscimo no tempo a remir em função do estudo em caso de conclusão


do curso de ensino fundamental, médio ou superior

Conforme dispõe o parágrafo 5o do artigo 126 da Lei de Execução Penal,


deverá ser acrescido 1/3 (um terço) no tempo a ser remido pelo estudo, caso o preso
conclua curso de ensino fundamental, médio ou superior durante o cumprimento da pena
e desde que haja sido certificada essa conclusão pela autoridade competente:
Art. 126.
[...]

190
§ 5o O tempo a remir em função das horas de estudo será acrescido de 1/3
(um terço) no caso de conclusão do ensino fundamental, médio ou superior
durante o cumprimento da pena, desde que certificada pelo órgão competente
do sistema de educação.

4.7 Possibilidade de acumulação da remição pelo estudo com a remição pelo


trabalho

Segundo o parágrafo 3o do artigo 126 da Lei de Execução Penal, é possível a


cumulação da remição pelo estudo e pelo trabalho, desde que sejam compatibilizados os
horários. “Art. 126. [...] § 3o Para fins de cumulação dos casos de remição, as horas
diárias de trabalho e de estudo serão definidas de forma a se compatibilizarem”.

4.8 A impossibilidade de o preso prosseguir no trabalho ou no estudo por


acidente não impede a concessão da remição

Dispõe o parágrafo 4o do artigo 126 da Lei de Execução Penal, que, se o


preso estiver impossibilitado, por acidente, de prosseguir no trabalho ou no estudo não
estará impedido de beneficiar-se com a remição: “Art. 126. [...]§ 4o O preso
impossibilitado, por acidente, de prosseguir no trabalho ou nos estudos continuará a
beneficiar-se com a remição”.

§ 5º A remição pela leitura

A remição pela leitura está está regulamentada, apenas, em norma infralegal,


ou seja, na Portaria Conjunta n. 276, de 20 de junho de 2012, firmada entre o
Departamento Penitenciário Nacional e a Corregedoria-Geral da Justiça Federal.
Art. 3º A participação do preso dar-se-á de forma voluntária, sendo
disponibilizado ao participante 01 (um) exemplar de obra literária, clássica,
científica ou filosófica, dentre outras, de acordo com as obras disponíveis na
Unidade, adquiridas pela Justiça Federal, pelo Departamento Penitenciário
Nacional e doadas às Penitenciárias Federais. Parágrafo único. Tendo em
vista a real efetivação do projeto, é necessário que haja nos acervos das
Bibliotecas das Penitenciárias Federais, no mínimo, 20 (vinte) exemplares de
cada obra a serem trabalhadas no projeto. Art. 4º Segundo o critério objetivo,
o preso terá o prazo de 21 (vinte e um) a 30 (trinta) dias para leitura de uma
obra literária, apresentando ao final deste período uma resenha a respeito do

191
assunto, possibilitando, segundo critério legal de avaliação, a remição de 04
(quatro) dias de sua pena e ao final de até 12 (doze) obras lidas e avaliadas,
terá a possibilidade de remir 48 (quarenta e oito) dias, no prazo de 12 (doze)
meses, de acordo com a capacidade gerencial da Unidade. Art. 5º O critério
subjetivo possui embasamento legal no artigo 126 da nº 7210, de 11 de julho
de 1984, equiparando-se ao trabalho intelectual, e considerar-se-á a
fidedignidade e a clareza da resenha, sendo desconsideradas aquelas que não
atenderem a esse pressuposto.

§ 6º Competência para declarar a remição

Conforme estabelece o parágrafo 8o do artigo 126 da Lei de Execução Penal,


compete ao juiz da execução penal, ouvidos o Ministério Público e a defesa, a declaração
da remição pelo estudo e pelo trabalho: “Art. 126. [...] § 8o A remição será declarada
pelo juiz da execução, ouvidos o Ministério Público e a defesa”.

§ 7º Possibilidade de revogação de 1/3 (um terço) do tempo remido, em caso


de falta grave

Conforme dispõe o artigo 127 da Lei de Execução Penal, o juiz poderá


revogar em até 1/3 (um terço) o tempo remido pelo estudo ou pelo trabalho, se o
beneficiário praticar falta grave. As faltas graves estão descritas nos artigos 50 a 52 dessa
mesma Lei: “Art. 127. Em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3 (um terço)
do tempo remido, observado o disposto no art. 57, recomeçando a contagem a partir da
data da infração disciplinar”.
Em relação ao livramento condicional, no entanto, há a Súmula n. 441 do
Superior Tribunal de Justiça, cujo enunciado estabelece que "a falta grave não
interrompe o prazo para obtenção de livramento condicional".

§ 8º Efeitos do tempo remido

Conforme estabelece o artigo 128 da Lei de Execução Penal, o tempo remido


será computado para todos os efeitos: “Art. 128. O tempo remido será computado como
pena cumprida, para todos os efeitos”.

192
§ 9º Declaração mensal da autoridade administrativa sobre os condenados
que estiverem trabalhando ou estudando

Dispõe o caput do artigo 129 da Lei de Execução Penal, que a autoridade


administrativa deverá informar, mensalmente, o juízo da execução penal, os nomes dos
condenados que estiverem trabalhando ou estudando, os dias trabalhados e as horas de
freqüência escolar ou de atividade de ensino de cada um:
Art. 129. A autoridade administrativa encaminhará mensalmente ao juízo da
execução cópia do registro de todos os condenados que estejam trabalhando
ou estudando, com informação dos dias de trabalho ou das horas de
frequência escolar ou de atividades de ensino de cada um deles.

§ 10 Informação do condenado que estudar fora do estabelecimento

Conforme a regra do parágrafo 1o do artigo 129 da Lei de Execução Penal, o


condenado que estudar fora do estabelecimento deverá comprovar, mensalmente, por
meio de declaração da respectiva unidade de ensino, a frequência e o aproveitamento
escolar: “Art. 129. [...] § 1o O condenado autorizado a estudar fora do estabelecimento
penal deverá comprovar mensalmente, por meio de declaração da respectiva unidade de
ensino, a frequência e o aproveitamento escolar”.

§ 11 Declaração dos dias remidos

Dispõe o parágrafo 2o do artigo 129 da Lei de Execução Penal, que a


declaração judicial dos dias será fornecida ao condenado: “Art. 129. [...] § 2o Ao
condenado dar-se-á a relação de seus dias remidos”.

§ 12 Declaração falsa

O artigo 130 da Lei de Execução Penal estabelece que constitui o crime do


art. 299 do Código Penal declarar ou atestar falsamente prestação de serviço para fins de
instruir pedido de remição: “Art. 130. Constitui o crime do artigo 299 do Código Penal

193
declarar ou atestar falsamente prestação de serviço para fim de instruir pedido de
remição”.

SEÇÃO III
O SISTEMA PROGRESSIVO E REGRESSIVO DE CUMPRIMENTO DAS PENAS
PRIVATIVAS DE LIBERDADE

Subseção I
Aspectos históricos

§ 1º Os principais modelos de execução da prisão

A privação da liberdade como forma punitiva pode ser realizada de maneiras


distintas, enfatizando um ou outro aspecto no trato com os reclusos, bem como
possibilitando-lhes ou dificultando-lhes o retorno ao convívio social. Há, portanto,
diversos modelos de execução da prisão, entre os quais o filadélfico, pensilvânico ou do
isolamento celular, o auburniano ou do silêncio e o progressivo, que compreende diversas
variações.

1.1 O sistema pensilvânico, filadélfico ou celular (solitary confinement


system) (1776)

O sistema pensilvânico, filadélfico ou celular possui este nome por ter sido
implantado, na Pensilvânia, no Estado da Filadélfia (EUA), em 1776, na prisão de
Walmut Street, por Benjamin Franklin e Willian Bradford, influenciado pelas idéias de
John Howard, principal representante do penitenciarismo, e pela religiosidade.
As características essenciais desta forma de purgar a pena são o isolamento
celular (solitary confinement), a obrigação estrita do silêncio, a meditação e a oração.
Acreditava-se que o isolamento em uma cela, a oração e a abstinência total de bebidas

194
alcoólicas deveriam criar os meios para salvar as criaturas infelizes pelo
“arrependimento”.
Para se chegar ao silêncio absoluto, colocava-se no preso, quando do seu
ingresso na prisão, uma carapuça escura, sendo o mesmo levado à cela, de onde saía
somente após extinta a pena. O preso não deveria ver mais nenhum rosto, nem ouvir
nenhuma voz, que não a do seu vigilante. As suas únicas companhias eram um estado
angustiante e um imenso desespero.
O sistema pensilvânico passou a ser adotado pelos países da Europa.
Severas críticas foram formuladas a este sistema, uma vez que levava à
loucura o condenado, debilitava ainda mais o seu senso moral e social, era ineficaz, pois
o isolamento absoluto a que se propunha era muito difícil de ser alcançado e era caro
demais.

1.2 O sistema auburniano (silent system) (1816)

O sistema auburniano (silent system), criado em Auburn (NY), em 1816,


sofreu a influência do capitão Elan Lynds, militarista implacável, que não acreditava nas
possibilidades de reforma do recluso e somente se preocupava em conseguir prisioneiros
obedientes, mantendo-os encarcerados com o máximo de segurança.
Esse sistema não tinha a orientação mística e otimista que inspirou o sistema
pensilvânico, não estando orientado para a recuperação do delinquente, mas sim para a
exploração da mão-de-obra carcerária. A regra é o trabalho em comum e o silêncio
absoluto, podendo assim ser controlada a multidão de presos por poucos vigilantes. O
enquadramento hierárquico não permite a relação lateral e a comunicação somente pode
ser vertical. A disciplina é prioritária e imposta por um poder de castigar sem nenhum
controle institucional e absolutamente discricionário, entre outros através do uso do
chicote.
O sistema auburniano continuou sendo adotado nos Estados Unidos da
América em prejuízo do sistema pensilvânico.
A principal crítica deste sistema reside no fato de que a dureza dos métodos
disciplinares não garantiam nem a ordem nem a recuperação dos delinqüentes.

195
1.3 O sistema progressivo

O sistema progressivo possui como característica principal a distribuição do


tempo de duração da condenação em períodos, ampliando-se em cada um os privilégios
que o recluso possa desfrutar de acordo com sua boa conduta e o aproveitamento
demonstrado do tratamento reformador.
Outro aspecto importante é o fato de possibilitar ao recluso reincorporar-se à
sociedade antes do término da condenação.
Este sistema possui variações, entre os quais o sistema inglês, o sistema
irlandês e o sistema de Montesinos.

1.3.1 O sistema progressivo de Montesinos (1835)

O sistema de Montesinos leva este nome por ter sido idealizado pelo coronel
Manuel Montesinos e Molina, em 1835, ao ter sido nomeado governador do Presídio de
Valência (Espanha). Este sistema atribui importância às relações com os presos, fundadas
em sentimentos de confiança e estímulo, procurando construir no recluso uma definida
autoconsciência.
Por isso, este sistema propugna o respeito à dignidade do preso, atribui um
fim ressocializador à pena, que tem uma função reabilitadora pelo trabalho, é contrário ao
regime celular, admite a concessão de licenças de saídas, considera benéfica a integração
de grupos mais ou menos homogêneos, cria a prática da prisão aberta como antecedentes
ao livramento condicional.
Esse sistema deu origem ao regime aberto e às saídas temporárias.

1.3.2 O sistema progressivo inglês (mark system) (1840)

O sistema progressivo inglês ou mark system foi desenvolvido pelo capitão


Alexander Maconochie, em 1840, na Ilha Norfolk (Austrália), adotando a substituição da
severidade pela benignidade e os castigos pelos prêmios.

196
Esse sistema foi denominado também como mark system (sistema de vales),
pois consistia em medir a duração da pena por uma soma de trabalho e de boa conduta
imposta ao condenado. Referida soma era representada por um certo número de marcas
ou vales, de tal maneira que a quantidade de vales que cada condenado necessitava obter
antes de sua liberação deveria ser proporcional com a gravidade do delito.
Diariamente, segundo a quantidade de trabalho produzido, a administração do
estabelecimento creditava-lhe uma soma ou várias marcas, deduzidos os suplementos de
alimentação ou de outros fatores que lhes eram feitos. Em caso de má conduta impunha-
se-lhe uma multa. Somente o excedente destas marcas, o remanescente destes “débitos-
créditos” seria a pena a ser cumprida.
Assim, a duração da condenação determinava-se pela gravidade do delito,
pelo aproveitamento no trabalho e pela boa conduta de cada apenado.
Esse sistema deu origem ao instituto da remição da pena.

1.3.3 O sistema progressivo irlandês (1854)

O sistema progressivo Irlandês centraliza-se na diminuição que a intensidade


da pena experimenta como conseqüência da conduta e do comportamento do recluso.
Propugnado por Walter Crofton, diretor das prisões na Irlanda, em 1854, o
sistema visava uma melhor preparação do recluso para voltar à liberdade plena, motivo
pelo qual fazia necessário o estabelecimento de “prisões intermediárias” entre a prisão e a
liberdade condicional, a fim de que o recluso pudesse provar a aptidão para a vida em
liberdade.
Esse sistema deu origem ao regime semiaberto.

1.3.4 Crítica ao sistema progressivo

O sistema progressivo, não obstante adotado em larga escala, inclusive no


Brasil, apresenta uma serie de limitações, dentre as quais: a) a sua efetividade é
questionada, pois o cumprimento da pena começa em regimes mais rigorosos,
especialmente o fechado; b) o afrouxamento do regime não significa propriamente a

197
aquisição de um maior conhecimento da personalidade e da responsabilidade do interno;
c) não é plausível que o preso esteja disposto a admitir voluntariamente a disciplina
imposta pela instituição penitenciária; d) as diversas etapas da progressão se estabelecem
de forma rigidamente estereotipada; e) a boa conduta manifestada pelo preso pode ser
somente aparente.

§ 2º O sistema progressivo e o seu surgimento da crítica aos sistemas


filadélfico e auburniano

O sistema progressivo surgiu da crítica aos sistemas filadélfico e auburniano.


O sistema filadélfico é criticado pelo excessivo isolamento que impõe ao
preso, do qual, muitas vezes, resulta a loucura.
O sistema auburniano é criticado pelo rigor disciplinar e excessiva
preocupação com o silêncio e o trabalho, que resulta, muitas vezes em revoltas.
Ambos os sistemas não estão preocupados com o retorno do condenado ao
convívio social.
O sistema progressivo apresenta-se como um sistema que procura investir na
ressocialização do condenado e, por isso, preocupa-se com o seu retorno ao convívio
social. Na realidade, o sistema progressivo surge da temporalidade das penas privativas
de liberdade, o que faz com que o condenado tenha de retornar ao convívio social em
liberdade.

§ 3º O ingresso do sistema progressivo no ordenamento jurídico penal


brasileiro

O sistema progressivo ingressou no direito brasileiro por meio a Lei n. 6.416,


de 24 de maio de 1977, que alterou os artigos 29 a 31 do Código Penal. Ressalta-se, no
entanto, que o instituto do livramento condicional ingressou no ordenamento jurídico-
penal brasileiro por meio do Código Penal de 1890.

198
Subseção II
A recepção do sistema progressivo e regressivo pelo Código Penal e pela Lei de
Execução Penal

O ordenamento jurídico-penal brasileiro, conforme se depreende do artigo 33,


parágrafo 2o, do Código Penal, dos artigos 112 e 118 da Lei de Execução Penal (Lei n.
7.210, de 11 de julho de 1984) e do artigo 2o, parágrafos 1o e 2o, da Lei dos Crimes
Hediondos (Lei n. 8.072, de 25 de julho de 1990), adota os sistemas progressivo e
regressivo, compreendendo a execução das sanções privativas de liberdade os regimes
fechado, semi-aberto e aberto.
Isso implica a criação de regras para o estabelecimento do regime inicial, para
a progressão e para a regressão de regimes de cumprimento das penas privativas de
liberdade. “Art. 33 [...] § 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas
em forma progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes critérios
e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso”(Os grifos não estão
na redação original).
Por sua vez, dispõem os artigos 112 e 118 da Lei de Execução Penal:
Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva
com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz,
quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior
e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do
estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a progressão.
§ 1o A decisão será sempre motivada e precedida de manifestação do
Ministério Público e do defensor.
§ 2o Idêntico procedimento será adotado na concessão de livramento
condicional, indulto e comutação de penas, respeitados os prazos previstos nas
normas vigentes.
[...]
Art. 118. A execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma
regressiva, com a transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos,
quando o condenado:
I - praticar fato definido como crime doloso ou falta grave;
II - sofrer condenação, por crime anterior, cuja pena, somada ao restante da
pena em execução, torne incabível o regime (artigo 111).
§ 1° O condenado será transferido do regime aberto se, além das hipóteses
referidas nos incisos anteriores, frustrar os fins da execução ou não pagar,
podendo, a multa cumulativamente imposta.
§ 2º Nas hipóteses do inciso I e do parágrafo anterior, deverá ser ouvido
previamente o condenado.

199
Os parágrafos 1o e 2o do artigo 2o da Lei dos Crimes Hediondos, por fim,
estabelecem que:
Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de:
[...]
§ 1o A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em
regime fechado.
§ 2o A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos
neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o
apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente.

Subseção III
Regras para o estabelecimento do regime inicial

§ 1º Variáveis a serem levadas em consideração na fixação do regime inicial

A fixação do regime inicial de cumprimento da pena será realizado pelo Juízo


da condenação, na sentença penal condenatória, e deverá levar em consideração os
seguintes aspectos: a) caráter, natureza ou espécie de infração penal, se hediondo ou
assemelhado ou não (aspecto polêmico jurisprudencialmente); b) o caráter, natureza ou
espécie da pena (reclusão, detenção ou prisão simples); c) quantidade da pena; d)
reincidência genérica; e) as circunstâncias judiciais.

1.1 Espécie, caráter ou natureza da infração penal

A espécie, o caráter ou a natureza do crime, quando era ele hediondo ou


assemelhado, por força do disposto no parágrafo 1o do artigo 2o da Lei n. 8.072/1990, era
uma variável importante na fixação do regime inicial de cumprimento da pena privativa
de liberdade. No entanto, a constitucionalidade dessa variável passou a ser questionada
juridicamente.

1.1.1 A redação original do parágrafo 1o do artigo 2o da Lei n. 8.072/1990


(Lei dos Crimes Hediondos)

200
Segundo a redação original do parágrafo 1o do artigo 2o da Lei n. 8.072/1990,
a pena privativa de liberdade imposta pela prática de crimes hediondos ou assemelhados
deveria ser cumprida, integralmente, em regime fechado. É o que se depreende da
redação original desse parágrafo: “Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: [...] §
1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida integralmente em regime
fechado”. (O grifo não está na redação original)].

1.1.2 A declaração de inconstitucionalidade incidental da redação originária


do parágrafo 1o do artigo 2o da Lei n. 8.072/1990 (Lei dos Crimes Hediondos)

O Pleno do Supremo Tribunal Federal, nos autos do Habeas Corpus n.


82.959, de São Paulo, julgado em 23 de fevereiro de 2006, nos quais foi relator o
Ministro Marco Aurélio, declarou a inconstitucionalidade do parágrafo 1o do artigo 2o da
Lei n. 8.072/1990, fundamentando essa declaração de inconstitucionalidade na lesão ao
princípio da individualização da pena no plano da execução, por força do disposto no
inciso XLVI do artigo 5o da Constituição Federal.
PENA. REGIME DE CUMPRIMENTO. PROGRESSÃO. RAZÃO DE SER. A
progressão no regime de cumprimento da pena, nas espécies fechado, semi-
aberto e aberto, tem como razão maior a ressocialização do preso que, mais
dia ou menos dia, voltará ao convívio social. PENA. CRIMES HEDIONDOS.
REGIME DE CUMPRIMENTO PROGRESSÃO. ÓBICE. ARTIGO 2º, § lº, DA
LEI Nº 8.072/90. INCONSTITUCIONALIDADE. EVOLUÇÃO
JURISPRUDENCIAL. Conflita com a garantia da individualização da pena –
artigo 5º, inciso XLVI, da Constituição Federal – a imposição, mediante
norma, do cumprimento da pena em regime integralmente fechado. Nova
inteligência do princípio da individualização da pena, em evolução
jurisprudencial, assentada a inconstitucionalidade do artigo 2º, §1º, da Lei nº
8.072/90.

1.1.3 A edição da Lei n. 11.464, de 28 de março de 2007

Em face da declaração de inconstitucionalidade ocorrida nos autos do Habeas


Corpus n. 82.959, foi promulgada nova lei, modificando a redação do parágrafo 1o do

201
artigo 2o da Lei dos Crimes Hediondos, o qual dispõe que a pena pela prática de crimes
hediondos e assemelhados deveria ser cumprida inicialmente em regime fechado.
Essa nova lei é a Lei n. 11.464, de 28 de março de 2007, que alterou a
redação do artigo 2o da Lei n. 8.072/90, estabelecendo que o fechado deverá ser o inicial,
passando a admitir a progressão de regime em crimes hediondos ou assemelhados e
estabelecendo regra diferenciada das demais infrações penais para a progressão de
regimes. Assim, em caso de crime hediondo ou assemelhado, a progressão de regime,
segundo dispõem os parágrafos 1o e 2o do artigo 2o da Lei dos Crimes Hediondos, o
regime inicial de cumprimento das penas privativas de liberdade impostas pela prática
dos crimes hediondos ou assemelhados deverá ser o fechado e a progressão de regimes
dependerá do cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se primário o condenado, e 3/5
(três quintos), se reincidente.
Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: [...] § 1 o A
pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime
fechado. § 2o A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes
previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da
pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente. (O
grifo não está na redação original).

1.1.4 Nova declaração de inconstitucionalidade incidental da nova redação do


parágrafo 1o do artigo 2o da Lei n. 8.072/1990 pelo Supremo Tribunal Federal

O Pleno do Supremo Tribunal Federal, em julgamento ocorrido no dia 27 de


junho de 2012, nos autos do Habeas Corpus n. 111.840, do Espírito Santo, nos quais foi
relator o Ministro Dias Toffoli, declarou a inconstitucionalidade incidental do referido
parágrafo.
Habeas corpus. Penal. Tráfico de entorpecentes. Crime praticado durante a
vigência da Lei nº 11.464/07. Pena inferior a 8 anos de reclusão.
Obrigatoriedade de imposição do regime inicial fechado. Declaração
incidental de inconstitucionalidade do § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/90.
Ofensa à garantia constitucional da individualização da pena (inciso XLVI do
art. 5º da CF/88).Fundamentação necessária (CP, art. 33, § 3º, c/c o art. 59).
Possibilidade de fixação, no caso em exame, do regime semiaberto para o
início de cumprimento da pena privativa de liberdade. Ordem concedida. 1.
Verifica-se que o delito foi praticado em 10/10/09, já na vigência da Lei nº
11.464/07, a qual instituiu a obrigatoriedade da imposição do regime
inicialmente fechado aos crimes hediondos e assemelhados. 2. Se a
Constituição Federal menciona que a lei regulará a individualização da pena,
é natural que ela exista. Do mesmo modo, os critérios para a fixação do

202
regime prisional inicial devem-se harmonizar com as garantias
constitucionais, sendo necessário exigir-se sempre a fundamentação do regime
imposto, ainda que se trate de crime hediondo ou equiparado. 3. Na situação
em análise, em que o paciente, condenado a cumprir pena de seis (6) anos de
reclusão, ostenta circunstâncias subjetivas favoráveis, o regime prisional, à luz
do art. 33, § 2º, alínea b, deve ser o semiaberto. 4. Tais circunstâncias não
elidem a possibilidade de o magistrado, em eventual apreciação das condições
subjetivas desfavoráveis, vir a estabelecer regime prisional mais severo, desde
que o faça em razão de elementos concretos e individualizados, aptos a
demonstrar a necessidade de maior rigor da medida privativa de liberdade do
indivíduo, nos termos do § 3º do art. 33, c/c o art. 59, do Código Penal. 5.
Ordem concedida tão somente para remover o óbice constante do § 1º do art.
2º da Lei nº 8.072/90, com a redação dada pela Lei nº 11.464/07, o qual
determina que “[a] pena por crime previsto neste artigo será cumprida
inicialmente em regime fechado“. Declaração incidental de
inconstitucionalidade, com efeito ex nunc, da obrigatoriedade de fixação do
regime fechado para início do cumprimento de pena decorrente da
condenação por crime hediondo ou equiparado.

1.1.5 A posição do Superior Tribunal de Justiça

O Superior Tribunal de Justiça seguiu o entendimento do Supremo Tribunal


Federal antes mencionado e firmou jurisprudência no sentido de que a hediondez ou a
equiparação do crime a hediondo não é motivo suficiente para impor ao condenado o
regime inicial fechado. É o que se pode depreender da ementa do acórdão proferido, no
dia 26 de agosto de 2014, pela sua Colenda Quinta Turma, nos autos do Habeas Corpus
n. 292926, do Rio de Janeiro, nos quais foi relatora a Ministra Laurita Vaz:
HABEAS CORPUS IMPETRADO ORIGINARIAMENTE, A DESPEITO DA
POSSIBILIDADE DE IMPUGNAÇÃO AO ACÓRDÃO DO TRIBUNAL A QUO
POR INTERMÉDIO DE RECURSO ESPECIAL. INADEQUAÇÃO DA VIA
ELEITA (RESSALVA DO ENTENDIMENTO DA RELATORA). TRÁFICO
ILÍCITO DE DROGAS. OBRIGATORIEDADE DO REGIME INICIAL
FECHADO AFASTADA. DECLARAÇÃO INCIDENTAL DE
INCONSTITUCIONALIDADE DO § 1.º DO ART. 2.º DA LEI DE CRIMES
HEDIONDOS, COM REDAÇÃO DADA PELA LEI N.º 11.464/2007, PELO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS
FAVORÁVEIS. RÉU PRIMÁRIO E SEM MAUS ANTECEDENTES. REGIME
PRISIONAL MAIS GRAVOSO. IMPROPRIEDADE. INOBSERVÂNCIA DO
DISPOSTO NO ART. 33, § 2.º, ALÍNEA C, E § 3.º DO CÓDIGO PENAL. [...]
3. O Plenário do Supremo Tribunal Federal, no dia 27 de junho de 2012, ao
julgar o HC n.º 111.840/ES, por maioria, declarou incidentalmente a
inconstitucionalidade do § 1.º do art. 2.º da Lei n.º 8.072/90, com a redação
que lhe foi dada pela Lei n.º 11.464/07, afastando, dessa forma, a
obrigatoriedade do regime inicial fechado para os condenados por crimes
hediondos e equiparados. 4. Desse modo, independentemente da hediondez do
crime, quando da fixação do regime inicial de cumprimento da pena privativa
de liberdade, deve o julgador observar o disposto no art. 33, §§ 2.º e 3.º, c.c.
art. 59, ambos do Código Penal[...].

203
Igual entendimento é possível depreender-se da seguinte ementa parcial do
acórdão proferido, no dia 7 de agosto de 2014, pela Colenda Sexta Turma desse mesmo
Egrégio Tribunal, nos autos do Habeas Corpus n. 251337, de São Paulo, nos quais foi
relatora a Ministra Maria Thereza de Assis Moura:
HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS E ASSOCIAÇÃO PARA O
TRÁFICO. [...] REGIME INICIAL FECHADO COM BASE NA HEDIONDEZ
DO DELITO. ILEGALIDADE MANIFESTA. OCORRÊNCIA. FIXAÇÃO DE
REGIME MENOS GRAVOSO. POSSIBILIDADE EM TESE. AFERIÇÃO IN
CONCRETO DEVE SER REALIZADA PELO JUÍZO DAS EXECUÇÕES.
WRIT NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA, DE OFÍCIO. [...] 8. In
casu, foi fixado o regime inicial fechado com base, exclusivamente, na
hediondez do delito, em manifesta contrariedade ao hodierno entendimento
dos Tribunais Superiores. 9. Com o trânsito em julgado da condenação, cabe
ao Juízo das Execuções avaliar o caso sub judice, uma vez que o Tribunal a
quo não procedeu à análise dos elementos concretos constantes dos autos à luz
das balizas delineadas pelos arts. 33, §§ 2º e 3º do Código Penal. 10. Writ não
conhecido. Ordem concedida, de ofício, tão somente para que, afastada a
obrigatoriedade do regime inicial fechado no tocante ao crime de tráfico de
drogas, o Juízo das Execuções, analisando o caso concreto, avalie a
possibilidade de modificação do regime inicial de cumprimento de pena.

1.1.6 A posição do Tribunal de Justiça de Santa Catarina

Com exceção da Terceira Câmara Criminal (Ap. Crim. n. 2013.056325-8, de


São Joaquim, rel. Des. Alexandre D'Ivanenko, j. 15.10.2013), há precedentes das demais
câmaras do Egrégio Tribunal de Justiça de Santa Catarina, admitindo a aplicação de
regime menos gravoso (1a C. Cr., Ap. Crim. N. 2011.046023-1, de Gaspar, rel. Des.
Altamiro de Oliveira, julgado em 11.7.2012; 2a C. Cr., Ap. Crim. N. 2012.010408-2,
Canoinhas, rel. Des. Ricardo Roesler, julgado em 31.7.2012; e 4a C. Crim., Ap. Crim n.
2012.012279-8, de Blumenau, rel. Des. Jorge Schaefer Martins, julgado em 7.7.2012).
Transcreve-se, em seguida, a ementa parcial do acórdão proferido, no dia 15
de outubro de 2013, pela Colenda Terceira Câmara Criminal, nos autos da Apelação
Criminal n. 2013.056326-8, de São Joaquim, nos quais foi relator o Desembargador
Alexandre D’Ivanenko:
APELAÇÃO CRIMINAL. [...] REGIME CARCERÁRIO. ALTERAÇÃO PARA O
SEMIABERTO. INVIABILIDADE. CRIME QUE É EQUIPARADO A
HEDIONDO E CIRCUNSTÂNCIAS DA APREENSÃO E TIPO DE DROGA
QUE, ADEMAIS, DENOTAM A PERICULOSIDADE DOS AGENTES E NÃO
RECOMENDAM A CONCESSÃO DO PLEITO.[...].

204
1.2 Espécie, caráter ou natureza da pena privativa de liberdade

A segunda variável que interfere na fixação do regime inicial de cumprimento


de pena é a espécie, caráter ou natureza da pena privativa de liberdade aplicada, que pode
ser a reclusão, a detenção e a prisão simples (caput do artigo 33 do Código Penal; caput
do artigo 6o da Lei de Contravenções Penais).
Esses artigos estabelecem, portanto, um vínculo entre a espécie de pena
privativa de liberdade e o(s) regimes no(s) qual (ais) pode ser aquela cumprida. Dispõe o
artigo 33, caput, do Código Penal: “Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em
regime fechado, semi-aberto ou aberto. A de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto,
salvo necessidade de transferência a regime fechado”.
Por sua vez, o caput do artigo 6o da Lei de Contravenções Penais estabelece
que: “Art. 6º A pena de prisão simples deve ser cumprida, sem rigor penitenciário, em
estabelecimento especial ou seção especial de prisão comum, em regime semi-aberto ou
aberto”.
Portanto, enquanto a pena de reclusão pode ser cumprida em qualquer dos
regimes (fechado, semiaberto ou aberto), a detenção e a prisão simples somente pode ser
cumprida em regimes semiaberto ou aberto. Quanto à detenção, é possível a regressão
para regime mais gravoso, mais não a fixação do regime fechado como o regime inicial.

1.2.1 Reclusão

Conforme a 1a parte do caput do artigo 33 do Código Penal, a reclusão


admite, como regime inicial, tanto o regime fechado, quanto o semiaberto e o aberto:
“Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou
aberto”.

1.2.2 Detenção

Conforme a 2a parte do caput do artigo 33 do Código Penal, a detenção


admite, como regime inicial, somente os regimes semiaberto e o aberto. Conforme a

205
doutrina, a possibilidade do regime fechado é admitida no citado artigo ocorre, somente,
em caso de regressão e não de regime inicial. “Art. 33 – [...]A de detenção, em regime
semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado”.

1.2.3 Prisão simples

Conforme o artigo 6o, caput, da Lei de Contravenções Penais, a prisão


simples admite somente os regimes semiaberto e o aberto. Nem a regressão para o regime
fechado é admitida nesse caso. “Art. 6º A pena de prisão simples deve ser cumprida, sem
rigor penitenciário, em estabelecimento especial ou seção especial de prisão comum, em
regime semi-aberto ou aberto”.

1.3 Quantidade da pena

A terceira variável que influi na fixação do regime inicial de cumprimento da


pena privativa de liberdade é a quantidade da pena aplicada (artigo 33, parágrafo 2 o,
alíneas a, b e c, do Código Penal).
Para a apuração da quantidade da pena, deve-se levar em consideração a
detração da pena, conforme estabelece o artigo 387, parágrafo 2º, do Código Penal,
segundo o qual “O tempo de prisão provisória, de prisão administrativa ou de
internação, no Brasil ou no estrangeiro, será computado para fins de determinação do
regime inicial de pena privativa de liberdade”.
Nessas alíneas, o legislador fez um escalonamento entre as penas iguais ou
inferiores a 4 (quatro) anos; as penas superiores a 4 (quatro) anos e iguais ou inferiores a
8 (oito) anos; e, por fim, as penas superiores a 8 (oito) anos. É o que dispõem as alíneas
a, b e c do parágrafo 2o do artigo 33 do Código Penal:
Art. 33
[...]
§ 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma
progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes critérios
e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso: a) o
condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em
regime fechado; b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4
(quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la em

206
regime semi-aberto; c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou
inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto.

Pena Regime
P > 8 F
4 < P < 8 SA
P < 4 A

1.3.1 Penas iguais ou inferiores a 4 (quatro) anos

Conforme o artigo 33, parágrafo 2o, alínea c, do Código Penal, as penas


iguais ou inferiores a 4 (quatro) anos admitem o regime aberto: “Art. 33 [...] § 2º [...] c) o
condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá,
desde o início, cumpri-la em regime aberto”.

1.3.2 Penas superiores a 4 (quatro) anos e iguais ou inferiores a 8 (oito) anos

Conforme o artigo 33, parágrafo 2o, alínea b, do Código Penal, as penas


aplicadas superiores a 4 (quatro) anos e iguais ou inferiores a 8 (oito) anos, admitem o
regime inicial semiaberto: “Art. 33 [...] § 2º [...] b) o condenado não reincidente, cuja
pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio,
cumpri-la em regime semi-aberto;[...]”.

1.3.3 Penas superiores a 8 (oito) anos exigem o regime fechado

Segundo o artigo 33, parágrafo 2o, alínea a, do Código Penal, as penas


superiores a 8 (oito) anos devem ser cumprida em regime inicial fechado: “Art. 33 [...] §
2º [...] a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em
regime fechado”.

207
1.4 Reincidência genérica

A quarta variável que influi na fixação do regime inicial de cumprimento da


pena privativa de liberdade é a reincidência genérica, conforme se pode depreender das
alíneas b e c do parágrafo 2o do artigo 33 do Código Penal.
Art. 33
[...]
§ 2º
[...]
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e
não exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semi-
aberto; c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4
(quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto.

Como se pode perceber nas alíneas b e c do parágrafo 2o do artigo 33 do


Código Penal, a reincidência genérica faz alterar o regime para o imediatamente mais
grave.
Deve-se observar, ainda, a Súmula n. 269 do Superior Tribunal de Justiça,
que tem o seguinte teor: “É admissível a adoção do regime prisional semi-aberto aos
reincidentes condenados a pena igual ou inferior a quatro anos se favoráveis as
circunstâncias judiciais”. Isso significa dizer que, se as circunstâncias judiciais forem
favoráveis ao condenado, não se impõe regime fechado ao condenado reincidente à pena
igual ou inferior a 4 (quatro) anos.

1.5 Circunstâncias judiciais

A quinta variável que influi na fixação do regime inicial de cumprimento da


pena privativa de liberdade são as circunstâncias judiciais, conforme prevê o artigo 33,
parágrafo 3o, e o artigo 59, inciso III, do Código Penal. Dispõe o artigo 33, parágrafo 3o,
do Código Penal: “Art. 33 [...] § 3º - A determinação do regime inicial de cumprimento
da pena far-se-á com observância dos critérios previstos no art. 59 deste Código”.
Por sua vez, dispõem o caput e o inciso III desse mesmo diploma legal:
Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social,
à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do
crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja
necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime:[...] III - o
regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade.

208
No caso dos crimes de drogas, observar o artigo 42 da Lei n. 11.343, de 23 de
agosto de 2006 (Lei de Drogas). Assim, o juiz, na sentença penal condenatória, deve levar
em consideração as circunstâncias previstas no caput do artigo 59 do Código Penal, isto
é, a culpabilidade, os antecedentes, a personalidade, a conduta social, os motivos, as
circunstâncias e as conseqüências do crime e o comportamento do ofendido.
Deve-se observar, ainda, o enunciado da Súmula n. 269 do Superior Tribunal
de Justiça, que tem o seguinte teor: “É admissível a adoção do regime prisional semi-
aberto aos reincidentes condenados a pena igual ou inferior a quatro anos se favoráveis
as circunstâncias judiciais”.

§ 2º A competência para a fixação do regime inicial

2.1 Competência do juízo da condenação

Conforme a regra do artigo 110 da Lei de Execução Penal, cabe ao juízo da


condenação, na sentença, a fixação do regime inicial de cumprimento da pena: “Art. 110.
O Juiz, na sentença, estabelecerá o regime no qual o condenado iniciará o cumprimento
da pena privativa de liberdade, observado o disposto no artigo 33 e seus parágrafos do
Código Penal”.

2.2 Competência para o juízo da execução

A regra do artigo 66, inciso III, alínea a, combinada com o artigo 111 da Lei
de Execução Penal, estabelece a competência do juízo da execução penal para decidir
sobre a unificação ou soma das penas e para a fixação, nesse caso, no regime de
cumprimento das penas unificadas ou somadas:
Art. 66. Compete ao Juiz da execução:[...] III - decidir sobre: a) soma ou
unificação de penas; [...] Art. 111. Quando houver condenação por mais de um
crime, no mesmo processo ou em processos distintos, a determinação do
regime de cumprimento será feita pelo resultado da soma ou unificação das
penas, observada, quando for o caso, a detração ou remição.

209
§ 3º A necessidade de fundamentação idônea da fixação do regime inicial

3.1 A necessidade de fundamentação idônea para a fixação de regime mais


severo do que aquele que a pena aplicada permitir

Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Superior


Tribunal de Justiça, o estabelecimento de regime de cumprimento de pena mais severo do
que o permitido pela quantidade da pena aplicada exige fundamentação idônea.
É o que dispõe a Súmula n. 719 do Supremo Tribunal Federal, que tem o
seguinte enunciado: “a imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena
aplicada permitir exige motivação idônea”.
Nesse mesmo sentido, é o que consta do enunciado da Súmula n. 440 do
Superior Tribunal de Justiça: “fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o
estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção
imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito”.

3.2 A opinião do julgador sobre a gravidade abstrata do crime não constitui


motivação idônea

Conforme o enunciado da Súmula n. 718 do Supremo Tribunal Federal, não


constitui motivação idônea a opinião do julgador sobre a gravidade abstrata do crime: “a
opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação
idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena
aplicada”. Igual orientação está contida na Súmula 440 do Superior Tribunal de Justiça
anteriormente transcrita.

210
Subseção IV
A progressão de regimes

As regras da progressão de regime estão nos artigos 112 a 117 da Lei de


Execução Penal e no parágrafo 2o do artigo 2o da Lei n. 8.072, de 25 de julho de 1990
(Lei dos Crimes Hediondos e Assemelhados).

§ 1º Regras gerais

As regras gerais da progressão de regime estão previstas no artigo 112 da Lei


de Execução Penal:
Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva
com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz,
quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior
e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do
estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a progressão.

1.1 Requisito objetivo da progressão de regimes

O requisito objetivo para a progressão de regime é o cumprimento da fração


mínima de 1/6 (um sexto) da pena imposta no regime anterior.

1.2 Requisito subjetivo da progressão de regimes

O requisito subjetivo para a progressão de regime é ter o condenado bom


comportamento, atestado pelo diretor do estabelecimento.

§ 2º Regras específicas para os condenados por crimes contra a


administração pública

O parágrafo 4o do artigo 33 do Código Penal estabelece um requisito objetivo


específico para a progressão de regime dos condenados por crime contra a administração
pública: “Art. 33 [...] § 4o O condenado por crime contra a administração pública terá a

211
progressão de regime do cumprimento da pena condicionada à reparação do dano que
causou, ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais”.

§ 3º Regras específicas para a progressão para o regime aberto

As regras específicas para o regime aberto estão previstas nos artigos 113 e
116 da Lei de Execução Penal.

3.1 Requisitos

Além dos requisitos gerais previstos no artigo 112 da Lei de Execução Penal,
a progressão para o regime aberto pressupõe, também, o preenchimento dos requisitos
previstos nos artigo 113 e 114 da Lei de Execução Penal:
Art. 113. O ingresso do condenado em regime aberto supõe a aceitação de seu
programa e das condições impostas pelo Juiz.
Art. 114. Somente poderá ingressar no regime aberto o condenado que:
I - estiver trabalhando ou comprovar a possibilidade de fazê-lo imediatamente;
II - apresentar, pelos seus antecedentes ou pelo resultado dos exames a que foi
submetido, fundados indícios de que irá ajustar-se, com autodisciplina e senso
de responsabilidade, ao novo regime.
Parágrafo único. Poderão ser dispensadas do trabalho as pessoas referidas no
artigo 117 desta Lei.

3.1.1 Comprovação de estar trabalhando ou da possibilidade de fazê-lo


imediatamente

Conforme se pode depreender do artigo 114, inciso I, da Lei de Execução


Penal, e como acréscimo ao requisito objetivo previsto no artigo 112 dessa mesma Lei,
exige-se, como requisito para a concessão do regime aberto, a comprovação, pelo preso,
de que ele está trabalhando ou a sua possibilidade de fazê-lo imediatamente: “Art. 114.
Somente poderá ingressar no regime aberto o condenado que: I - estiver trabalhando ou
comprovar a possibilidade de fazê-lo imediatamente”.

3.1.2 Existência de indícios de que o condenado irá se ajustar, com


autodisciplina e senso de responsabilidade ao novo regime

212
Como acréscimo ao requisito subjetivo contido no artigo 112 da Lei de
Execução Penal, impõe-se, também, a demonstração, ao menos por indícios, conforme
estabelece o artigo 114, inciso II, da Lei de Execução Penal, que o condenado irá se
ajustar, com autodisciplina e senso de responsabilidade, novo regime:
Art. 114. Somente poderá ingressar no regime aberto o condenado que: I – [...]
II - apresentar, pelos seus antecedentes ou pelo resultado dos exames a que foi
submetido, fundados indícios de que irá ajustar-se, com autodisciplina e senso
de responsabilidade, ao novo regime.

3.1.3 Aceitação das condições pelo apenado

Conforme estabelece o artigo 113 da Lei de Execução Penal, o ingresso do


apenado em regime aberto depende aceitação, por ele, das condições gerais e especiais
fixadas pelo juízo da execução penal: “Art. 113. O ingresso do condenado em regime
aberto supõe a aceitação de seu programa e das condições impostas pelo Juiz”.

3.2 Condições para o regime aberto

Segundo o artigo 115 da Lei de Execução Penal, a concessão do regime


aberto pressupõe a fixação de condições obrigatórias e facultativas.

3.2.1 Condições obrigatórias

As condições obrigatórias do regime aberto estão estabelecidas nos incisos I a


IV do artigo 115 da Lei de Execução Penal:
Art. 115. O Juiz poderá estabelecer condições especiais para a concessão de
regime aberto, sem prejuízo das seguintes condições gerais e obrigatórias:
I - permanecer no local que for designado, durante o repouso e nos dias de
folga;
II - sair para o trabalho e retornar, nos horários fixados;
III - não se ausentar da cidade onde reside, sem autorização judicial;
IV - comparecer a Juízo, para informar e justificar as suas atividades, quando
for determinado.

213
3.2.2 Condições facultativas

Por outro lado, o caput do artigo 115 da da Lei de Execução Penal permite a
fixação de outras condições ao regime aberto. Todavia, a orientação jurisprudencial
pacificada do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que não pode ser fixada pena
substitutiva como condição do regime aberto, conforme se pode depreender do enunciado
da sua Súmula n. 493: “É inadmissível a fixação de pena substitutiva (art. 44 do CP)
como condição especial ao regime aberto”.

3.3 Modificação das condições

Conforme dispõe o artigo 116 da Lei de Execução Penal, as condições do


regime aberto podem ser modificadas pelo juiz da execução penal: “Art. 116. O Juiz
poderá modificar as condições estabelecidas, de ofício, a requerimento do Ministério
Público, da autoridade administrativa ou do condenado, desde que as circunstâncias
assim o recomendem”.

3.4 Recolhimento domiciliar

O artigo 117 da Lei de Execução Penal estabelece casos excepcionais de


recolhimento domiciliar para presos do regime aberto:
Art. 117. Somente se admitirá o recolhimento do beneficiário de regime aberto
em residência particular quando se tratar de: I - condenado maior de 70
(setenta) anos; II - condenado acometido de doença grave; III - condenada
com filho menor ou deficiente físico ou mental; IV - condenada gestante.

§ 4º Regras específicas para a progressão de regimes nas condenações por


crimes hediondos ou assemelhados

O parágrafo 2o do artigo 2o da Lei n. 8.072/1990, com a redação imprimida


pela Lei n. 11.464, de 28 de março de 2007, estabeleceu regras específicas para a
progressão de regimes, quando a pena foi imposta pela prática de crime hediondo ou
assemelhado. Dispõe o referido parágrafo:

214
Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: [...] § 2 o A
progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos neste
artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o
apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente.

Por sua vez, a Súmula n. 471 do Superior Tribunal de Justiça resguardou a


regra geral prevista no artigo 112 da Lei de Execução Penal para as condenações por
crimes hediondos ou assemelhados anteriores à vigência da Lei n. 11.464, de 28 de março
de 2007, conforme se pode depreender do seguinte enunciado: “Os condenados por
crimes hediondos ou assemelhados cometidos antes da vigência da Lei n. 11.464/2007
sujeitam-se ao disposto no art. 112 da Lei n. 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) para a
progressão de regime prisional”.

4.1 Requisito objetivo

Conforme o parágrafo 2o do artigo 2o da Lei n. 8.072/1990, para que possa


progredir de regime, o condenado por crime hediondo ou assemelhado deverá cumprir a
fração mínima de 2/5 da pena imposta, se for primário, e de 3/5, se for reincidente, salvo
em relação às condenações ocorridas antes da Lei n. 11.464/2007, em que as progressões
serão orientadas pela regra geral do artigo 112 da Lei de Execução Penal.

4.2 Requisito subjetivo

Conforme dispõe o caput do artigo 112 da Lei de Execução Penal, para que
possa progredir de regime, o condenado por crime hediondo ou assemelhado deverá,
também, apresentar bom comportamento carcerário atestado pelo diretor do
estabelecimento.
Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva
com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz,
quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior
e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do
estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a progressão. (O grifo não
está na redação original).

215
§ 5º Inadmissibilidade da progressão per saltum

Conforme a orientação jurisprudencial contida na Súmula n. 491 do Superior


Tribunal de Justiça, o condenado que cumpre pena em regime fechado não poderá
progredir diretamente para o regime aberto, devendo, antes, cumprir 1/6 (um sexto) da
pena em regime semiaberto: “É inadmissível a chamada progressão per saltum de regime
prisional”.

Subseção V
A regressão de regimes

As regras relativas à regressão de regime, para qualquer apenado, estão


previstas no artigo 118 da Lei de Execução Penal:
Art. 118. A execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma
regressiva, com a transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos,
quando o condenado:
I - praticar fato definido como crime doloso ou falta grave;
II - sofrer condenação, por crime anterior, cuja pena, somada ao restante da
pena em execução, torne incabível o regime (artigo 111).
§ 1° O condenado será transferido do regime aberto se, além das hipóteses
referidas nos incisos anteriores, frustrar os fins da execução ou não pagar,
podendo, a multa cumulativamente imposta.
§ 2º Nas hipóteses do inciso I e do parágrafo anterior, deverá ser ouvido
previamente o condenado.

§ 1º Hipóteses que autorizam a regressão de regime

1.1 Prática de fato definido como crime doloso ou falta grave

A primeira hipótese de regressão de regime está prevista no artigo 118, inciso


I, da Lei de Execução Penal: “Art. 118. A execução da pena privativa de liberdade ficará
sujeita à forma regressiva, com a transferência para qualquer dos regimes mais
rigorosos, quando o condenado: I - praticar fato definido como crime doloso ou falta
grave”.

216
Ressalta-se que a norma se refere à “prática” e não à condenação e a
orientação jurisprudencial do Egrégio Superior Tribunal de Justiça é no sentido, também,
de que é prescindível o trânsito em julgado da sentença penal condenatória para a
decretação da regressão de regimes, bastando o cometimento da infração.
É o que se pode depreender da seguinte ementa parcial do acórdão proferido,
no dia 6 de maio de 2014, nos autos do Hábeas Corpus n. 281536, do Rio Grande do Sul,
nos quais foi relatora a Ministra Laurita Vaz:
HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL. NÃO
CABIMENTO. [...] EXECUÇÃO PENAL. PRÁTICA DE CRIME DOLOSO
DURANTE A EXECUÇÃO DA PENA. FALTA GRAVE. ANOTAÇÃO.
TRÂNSITO EM JULGADO. PRESCINDIBILIDADE. REGRESSÃO E PERDA
DE 1/3 DOS DIAS REMIDOS. [...] 3. Basta o cometimento do crime doloso
para reconhecimento da falta grave, sendo prescindível o trânsito em julgado
da condenação para a aplicação das sanções disciplinares. Precedentes.

Ressalta-se, também, que a prática de crime doloso, também, constitui falta


grave, conforme dispõe o artigo 52, caput, 1a parte, da Lei de Execução Penal: “Art. 52.
A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave[...]”.
Também, constituem falta grave, no cumprimento da pena privativa de
liberdade, as hipóteses previstas no artigo 50 da Lei de Execução Penal:
Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que:
I - incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina;
II - fugir;
III - possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade física
de outrem;
IV - provocar acidente de trabalho;
V - descumprir, no regime aberto, as condições impostas;
VI - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta Lei.
VII – tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou
similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente
externo.
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao preso
provisório.

1.2 Condenação por crime anterior, cuja pena somada ao restante da pena em
execução torne incabível o regime

Conforme dispõe o artigo 118, inciso II, da Lei de Execução Penal, a


condenação por crime anterior, cuja pena somada ao restante da pena em execução torne
incabível o regime, implica regressão de regime:

217
Art. 118. A execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma
regressiva, com a transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos,
quando o condenado: [...] II - sofrer condenação, por crime anterior, cuja
pena, somada ao restante da pena em execução, torne incabível o regime
(artigo 111).

É necessário ressaltar que, conforme o artigo 111 da Lei de Execução Penal,


as penas de distintas condenações devem ser somadas (em caso de concurso material) ou
unificadas (em caso de concurso formal ou de crime continuado), devendo o regime ser
estabelecido a partir dessa soma ou unificação: “Art. 111. Quando houver condenação
por mais de um crime, no mesmo processo ou em processos distintos, a determinação do
regime de cumprimento será feita pelo resultado da soma ou unificação das penas,
observada, quando for o caso, a detração ou remição”.

1.3 No caso de condenado em regime aberto, quando este frustrar a execução


ou não pagar a multa imposta

Além das hipóteses anteriores, segundo o artigo 118, parágrafo 1o, da Lei de
Execução Penal, quando frustrar a execução ou não pagar, podendo, a multa
cumulativamente aplicada:
Art. 118. A execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma
regressiva, com a transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos,
quando o condenado: [...] § 1° O condenado será transferido do regime aberto
se, além das hipóteses referidas nos incisos anteriores, frustrar os fins da
execução ou não pagar, podendo, a multa cumulativamente imposta.

§ 2º Necessidade da prévia instauração de processo administrativo

Segundo o artigo 59, caput, da Lei de Execução Penal, “Praticada a falta


disciplinar, deverá ser instaurado o procedimento para sua apuração, conforme
regulamento, assegurado o direito de defesa. Parágrafo único. A decisão será motivada”.
A necessidade de prévia instauração do procedimento administrativo
disciplinar é, também, objeto da orientação jurisprudencial do Egrégio Superior Tribunal
de Justiça, conforme se pode depreender da ementa do acórdão proferido, no dia 23 de
outubro de 2013, pela Colenda Terceira Seção, nos autos do Recurso Especial n.
1378557, do Rio Grande do Sul, nos quais foi relator o Ministro Marco Aurélio Bellizze:

218
RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA.
EXECUÇÃO PENAL. 1. RECONHECIMENTO DE FALTA GRAVE.
IMPRESCINDIBILIDADE DE INSTAURAÇÃO DE PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR (PAD). DETERMINAÇÃO EXPRESSA DO
ART. 59 DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL. PODER DISCIPLINAR.
ATRIBUIÇÃO DO DIRETOR DO PRESÍDIO (LEP, ARTS. 47 E 48). DIREITO
DE DEFESA A SER EXERCIDO POR ADVOGADO CONSTITUÍDO OU
DEFENSOR PÚBLICO NOMEADO. OBSERVÂNCIA DA GARANTIA DO
DEVIDO PROCESSO LEGAL, DA AMPLA DEFESA E DO
CONTRADITÓRIO. 2. RECURSO NÃO PROVIDO. 1. Para o reconhecimento
da prática de falta disciplinar, no âmbito da execução penal, é imprescindível
a instauração de procedimento administrativo pelo diretor do estabelecimento
prisional, assegurado o direito de defesa, a ser realizado por advogado
constituído ou defensor público nomeado. 2. Recurso especial não provido.

O Egrégio Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula n. 533, com o


seguinte teor:
Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar no âmbito da execução
penal, é imprescindível a instauração de procedimento administrativo pelo
diretor do estabelecimento prisional, assegurado o direito de defesa, a ser
realizado por advogado constituído ou defensor público nomeado.

A competência para a instauração do procedimento administrativo para


apuração da falta grave é do diretor do estabelecimento prisional, conforme se pode
depreender dos artigos 47 e 48 da Lei de Execução Penal.
Art. 47. O poder disciplinar, na execução da pena privativa de liberdade, será
exercido pela autoridade administrativa conforme as disposições
regulamentares. Art. 48. Na execução das penas restritivas de direitos, o poder
disciplinar será exercido pela autoridade administrativa a que estiver sujeito o
condenado. Parágrafo único. Nas faltas graves, a autoridade representará ao
Juiz da execução para os fins dos artigos 118, inciso I, 125, 127, 181, §§ 1º,
letra d, e 2º desta Lei.

A competência para a instauração do procedimento administrativo para a


apuração da falta grave está reafirmada na Súmula n. 533 do Superior Tribunal de Justiça,
anteriormente transcrita.

§ 3º A necessidade da prévia oitiva do condenado

Segundo o parágrafo 2º do artigo 118 da Lei de Execução Penal: “Nas


hipóteses do inciso I e do parágrafo anterior, deverá ser ouvido previamente o
condenado”.

219
Ressalta-se que a prévia oitiva do condenado na hipótese do inciso II do
artigo 118 da Lei de Execução Penal é desnecessárioa, pois essa oitiva já ocorreu durante
o processo principal, na qual ocorreu a condenação.

SEÇÃO IV
O LIVRAMENTO CONDICIONAL

Subseção I
Conceito

O livramento condicional é um instituto jurídico-penal do plano da execução,


em que o apenado, após cumprir determinada fração da pena e desde que presentes os
demais requisitos objetivos e subjetivos, alcança a liberdade, porém de forma restrita,
porquanto terá de cumprir as condições obrigatórias e facultativas estabelecidas pelo
juízo da execução penal, caso essas condições sejam aceitas por ele.
Trata-se, na realidade, de uma etapa do cumprimento da pena privativa de
liberdade e não de um regime de cumprimento de pena.
O livramento condicional está regulamentado nos artigos 83 a 90 do Código
Penal e nos artigo 131 a 146 da Lei de Execução Penal.

Subseção II
Aspectos históricos

O livramento condicional foi instituído pelo artigo 51 do Código Penal de


1890, como benefício a ser concedido por ato do Poder Executivo Federal ou Estadual,
sem a interferência judicial.
Na Consolidação das Leis Penais de 1932, no entanto, ocorreu o
aperfeiçoamento da regulamentação do livramento condicional e a proibição de esse

220
benefício ser concedido por autoridade administrativa, de modo que se impôs a sua
judicialização, conforme se pode depreender do seu artigo 50.

Subseção III
Competência para a concessão

A competência para a concessão do livramento condicional é do juízo da


execução penal, conforme dispõe os artigos 66, inciso III, e, 131, Lei de Execução Penal:
“Art. 66. Compete ao Juiz da execução: [...] III - decidir sobre: [...] e) livramento
condicional”.
Esse benefício, conforme dispõe o artigo 131 desse mesmo diploma legal,
depende da prévia manifestação do Ministério Público. Havia, também, a exigência da
prévia manifestação do Conselho Penitenciário Estadual, conforme de pode depreender
do referido artigo: “O livramento condicional poderá ser concedido pelo Juiz da
execução, presentes os requisitos do artigo 83, incisos e parágrafo único, do Código
Penal, ouvidos o Ministério Público e Conselho Penitenciário”.
Ocorre que a Lei n. 10.792, de 1o de dezembro de 2003, alterou a Lei de
Execução Penal e suprimiu a atribuição do Conselho Penitenciário de manifestar-se em
pedidos de livramentos condicionais, deixando, após essa Lei, de ser necessária a prévia
oitiva do referido Conselho para a concessão desses benefícios prisionais.

Subseção IV
Requisitos

Os requisitos do livramento condicional estão estabelecidos no artigo 83 do


Código Penal e se distinguem entre crimes hediondos e assemelhados e os crimes que não
estão inseridos nesta categoria, e os condenados não reincidentes, reincidentes e
reincidentes específicos.

221
Há, também, regramento específico para os crimes praticados com violência
ou grave ameaça à pessoa.
Para a verificação dos requisitos, deve-se proceder à soma das penas, caso se
trate de infrações penais diversas. Esses requisitos podem ser objetivos e subjetivos:
Requisitos do livramento condicional
Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena
privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que:
I - cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for reincidente em
crime doloso e tiver bons antecedentes;
II - cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em crime doloso;
III - comprovado comportamento satisfatório durante a execução da pena,
bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído e aptidão para prover à
própria subsistência mediante trabalho honesto;
IV - tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano causado
pela infração;
V - cumprido mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime
hediondo, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e
terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa
natureza. Parágrafo único - Para o condenado por crime doloso, cometido
com violência ou grave ameaça à pessoa, a concessão do livramento ficará
também subordinada à constatação de condições pessoais que façam presumir
que o liberado não voltará a delinqüir.
Soma de penas
Art. 84 - As penas que correspondem a infrações diversas devem somar-se
para efeito do livramento.

§ 1º Requisitos objetivos do livramento condicional: cumprimento de uma


fração da pena imposta

1.1 Em caso de condenação por crime não hediondo ou assemelhado e desde


que o condenado não seja reincidente

Conforme dispõe o inciso I do artigo 83 do Código Penal, o condenado por


crime não hediondo ou assemelhado deverá cumprir mais 1/3 (um terço) da pena imposta
para poder receber o benefício do livramento condicional:

222
Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena
privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que: I -
cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for reincidente em
crime doloso e tiver bons antecedentes.

1.2 Em caso de condenação por crime não hediondo ou assemelhado, se o


condenado reincidente em crime doloso

Conforme o inciso II do artigo 83 do Código Penal, se a condenação não for


pela prática de crime hediondo ou assemelhado, mas se o condenado for reincidente em
crime doloso, para obter o livramento condicional, deverá cumprir mais de ½ (metade) da
pena imposta: “Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a
pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que: I – [...]II -
cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em crime doloso”.

1.3 Em caso de condenação por crime hediondo ou assemelhado, desde que


não reincidente específico nesses crimes

Todavia, segundo a regra do inciso V do artigo 83 do Código Penal, se a


condenação for por crime hediondo ou assemelhado e se o condenado não for reincidente
específico nesses crimes, para receber o benefício do livramento condicional, o
condenado deverá cumprir mais de 2/3 (dois terços) da pena imposta:
Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena
privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que: I – [...] V -
cumprido mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime
hediondo, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e
terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa
natureza.

1.4 Soma das penas em caso de infrações diversas

Conforme dispõe o artigo 84 do Código Penal, em caso de infrações penais


diversas, para fins do cálculo da pena a ser cumprida, deverá ser levada em consideração
a soma das penas impostas para cada uma delas: “Soma de penas Art. 84 - As penas que
correspondem a infrações diversas devem somar-se para efeito do livramento”.

223
§ 2º Requisitos subjetivos do livramento condicional

2.1 Comprovação de comportamento satisfatório (bom) durante a execução


da pena

Para fazer jus ao benefício do livramento condicional, conforme estabelece o


inciso III do artigo 83 do Código penal, o condenado deverá, ainda, comprovar que
adotou comportamento satisfatório, isto é, bom, durante a execução da pena:
Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena
privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que: [....]III -
comprovado comportamento satisfatório durante a execução da pena, bom
desempenho no trabalho que lhe foi atribuído e aptidão para prover à própria
subsistência mediante trabalho honesto” (O grifo não está na redação
original)].

2.2 Bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído

Ainda conforme o inciso III do artigo 83 do Código Penal, para ser merecedor
do livramento condicional, o condenado deverá comprovar bom desempenho no trabalho
que lhe for atribuído:
Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena
privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que: [...] III -
comprovado comportamento satisfatório durante a execução da pena, bom
desempenho no trabalho que lhe foi atribuído e aptidão para prover à própria
subsistência mediante trabalho honesto. (O grifo não está na redação original).

2.3 Aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto

Estabelece o inciso III do artigo 83 do Código Penal, por fim, que o


condenado, para poder merecer o livramento condicional, deverá comprovar aptidão para
prover a própria subsistência mediante trabalho honesto:
Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena
privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que: [...] III -
comprovado comportamento satisfatório durante a execução da pena, bom
desempenho no trabalho que lhe foi atribuído e aptidão para prover à própria
subsistência mediante trabalho honesto” (O grifo não está na redação original).

224
2.4 Reparação, salvo efetiva impossibilidade para fazê-lo, do dano causado
pela infração penal

Para poder ser beneficiado pelo livramento condicional, conforme dispõe o


inciso IV do artigo 83 do Código Penal, o condenado dever comprovar, ainda, que
reparou o dano causado pela infração penal: “Art. 83 - O juiz poderá conceder
livramento condicional ao condenado a pena privativa de liberdade igual ou superior a 2
(dois) anos, desde que: [...] IV - tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo,
o dano causado pela infração”.

Subseção V
Condições do livramento

As condições do livramento condicional, conforme estabelece o artigo 85 do


Código Penal, deverão ser especificadas na sentença que conceder o livramento
condicional. “Especificações das condições Art. 85 - A sentença especificará as
condições a que fica subordinado o livramento”.
As condições do livramento condicional estão estabelecidas no artigo 132 da
Lei de Execução Penal, podendo ser distinguidas entre condições obrigatórias e
condições facultativas:
Art. 132. Deferido o pedido, o Juiz especificará as condições a que fica
subordinado o livramento. § 1º Serão sempre impostas ao liberado condicional
as obrigações seguintes: a) obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável se
for apto para o trabalho; b) comunicar periodicamente ao Juiz sua ocupação;
c) não mudar do território da comarca do Juízo da execução, sem prévia
autorização deste. § 2° Poderão ainda ser impostas ao liberado condicional,
entre outras obrigações, as seguintes: a) não mudar de residência sem
comunicação ao Juiz e à autoridade incumbida da observação cautelar e de
proteção; b) recolher-se à habitação em hora fixada; c) não freqüentar
determinados lugares.

225
§ 1º Condições obrigatórias

As condições obrigatórias do livramento condicional estão relacionadas no


parágrafo 1o do artigo 132 da Lei de Execução Penal: “Art. 132. [...] § 1º Serão sempre
impostas ao liberado condicional as obrigações seguintes: a) obter ocupação lícita,
dentro de prazo razoável se for apto para o trabalho; b) comunicar periodicamente ao
Juiz sua ocupação; c) não mudar do território da comarca do Juízo da execução, sem
prévia autorização deste”.

1.1 Obtenção de ocupação lícita, dentro de prazo razoável, se for apto para o
trabalho

Segundo a alínea a do parágrafo 1o do artigo 132 da Lei de Execução Penal,


será sempre imposta ao liberado condicional a obrigação de obter ocupação lícita, dentro
de prazo razoável se for apto para o trabalho: “Art. 132. [...] § 1º [...] a) obter ocupação
lícita, dentro de prazo razoável se for apto para o trabalho”.

1.2 Comunicação periódica da ocupação ao juiz da execução penal

Segundo a alínea b do parágrafo 1o do artigo 132 da Lei de Execução Penal,


será sempre imposta ao liberado condicional a obrigação de comunicar, periodicamente, a
ocupação ao juiz da execução penal: “Art. 132. [...] § 1º [...] b) comunicar
periodicamente ao Juiz sua ocupação”.

1.3 Proibição de se afastar do território da comarca do juízo da execução, sem


prévia autorização deste

Segundo a alínea c do parágrafo 1o do artigo 132 da Lei de Execução Penal,


será sempre imposta ao liberado condicional a proibição de se afastar do território da
comarca do juízo da execução sem prévia autorização deste: “Art. 132. [...] § 1º [...] c)

226
não mudar do território da comarca do Juízo da execução, sem prévia autorização
deste”.

§ 2º Condições facultativas

As condições facultativas do livramento condicional estão relacionadas no


parágrafo 2o do artigo 132 da Lei de Execução Penal:
Art. 132.
[...]
§ 2° Poderão ainda ser impostas ao liberado condicional, entre outras
obrigações, as seguintes: a) não mudar de residência sem comunicação ao
Juiz e à autoridade incumbida da observação cautelar e de proteção; b)
recolher-se à habitação em hora fixada; c) não freqüentar determinados
lugares.

2.1 Proibição de mudar de residência sem prévia comunicação ao juiz e à


autoridade incumbida da observação cautelar e de proteção

Segundo a alínea a do parágrafo 2o do artigo 132 da Lei de Execução Penal,


ao conceder o livramento condicional, o juízo da execução penal poderá impor ao
liberado condicional a proibição de mudar de residência sem a prévia comunicação ao
juiz e à autoridade incumbida da observação cautelar e de proteção “Art. 132. [...] § 2°
[...] a) não mudar de residência sem comunicação ao Juiz e à autoridade incumbida da
observação cautelar e de proteção”.

2.2 Recolhimento à habitação em hora fixada

Segundo a alínea b do parágrafo 2o do artigo 132 da Lei de Execução Penal,


ao conceder o livramento condicional, o juízo da execução penal poderá impor ao
liberado condicional a obrigação de de se recolher à habitação em hora fixada. “Art. 132.
[...] § 2° [...] b) recolher-se à habitação em hora fixada”.

227
2.3 Proibição de frequentar determinados lugares

Segundo a alínea c do parágrafo 2o do artigo 132 da Lei de Execução Penal,


ao conceder o livramento condicional, o juízo da execução penal poderá impor ao
liberado condicional a proibição de freqüentar determinados lugares. “Art. 132. [...] § 2°
[...] c) não freqüentar determinados lugares”.

Subseção VI
Possibilidade do cumprimento das condições em outra comarca

A Lei de Execução Penal, nos seus artigos 133 e 134, estabelece a


possibilidade de o liberado condicional cumprir as condições em outra comarca, na qual
deverá apresentar-se ao Juízo da execução respectivo e às autoridades encarregadas da
observação cautelar e proteção.
Art. 133. Se for permitido ao liberado residir fora da comarca do Juízo da
execução, remeter-se-á cópia da sentença do livramento ao Juízo do lugar
para onde ele se houver transferido e à autoridade incumbida da observação
cautelar e de proteção. Art. 134. O liberado será advertido da obrigação de
apresentar-se imediatamente às autoridades referidas no artigo anterior.

Subseção VII
Carta de livramento

Conforme dispõe o artigo 136 da Lei de Execução Penal, a carta de


livramento é o documento que deverá ser expedido com cópia ao Conselho Penitenciário
e à autoridade administrativa incumbida da execução: “Art. 136. Concedido o benefício,
será expedida a carta de livramento com a cópia integral da sentença em 2 (duas) vias,
remetendo-se uma à autoridade administrativa incumbida da execução e outra ao
Conselho Penitenciário”.

228
Subseção VIII
Cerimônia do livramento condicional

Conforme dispõe o artigo 137 da Lei de Execução Penal, a cerimônia do


livramento condicional é a cerimônia que marca o início dessa nova fase da execução da
pena privativa de liberdade, que deve ser realizada pelo Presidente do Conselho
Penitenciário ou membro por ele designado ou pelo Juízo da Execução Penal:
Art. 137. A cerimônia do livramento condicional será realizada solenemente
no dia marcado pelo Presidente do Conselho Penitenciário, no
estabelecimento onde está sendo cumprida a pena, observando-se o seguinte: I
- a sentença será lida ao liberando, na presença dos demais condenados, pelo
Presidente do Conselho Penitenciário ou membro por ele designado, ou, na
falta, pelo Juiz; II - a autoridade administrativa chamará a atenção do
liberando para as condições impostas na sentença de livramento; III - o
liberando declarará se aceita as condições. § 1º De tudo em livro próprio, será
lavrado termo subscrito por quem presidir a cerimônia e pelo liberando, ou
alguém a seu rogo, se não souber ou não puder escrever. § 2º Cópia desse
termo deverá ser remetida ao Juiz da execução.

§ 1º Atribuição para a realização da cerimônia de livramento condicional

1.1 Conselho Penitenciário, por seu presidente ou outro membro designado,


no estabelecimento onde está sendo cumprida a pena

A competência para a realização da cerimônia de livramento condicional, em


regra geral, segundo dispõe o inciso I do artigo 137 da Lei de Execução Penal, é da
competência do presidente do Conselho Penitenciário ou por outro membro por ele
designado, sobretudo, na capital do Estado, onde se está sediado esse Conselho: “Art.
137.[...] I - a sentença será lida ao liberando, na presença dos demais condenados, pelo
Presidente do Conselho Penitenciário ou membro por ele designado, ou, na falta, pelo
Juiz” (O grifo não está na redação original).

229
1.2 Pelo juízo da execução penal no interior do Estado

Conforme estabelece a parte final do inciso I do artigo 137 da Lei de


Execução Penal, na falta de Conselho Penitenciário, a cerimônia de livramento
condicional deverá ser realizada pelo juiz da execução penal: “Art. 137. [...] I - a
sentença será lida ao liberando, na presença dos demais condenados, pelo Presidente do
Conselho Penitenciário ou membro por ele designado, ou, na falta, pelo Juiz”(O grifo
não está na redação original).

§ 2º Atos da cerimônia de livramento condicional

2.1 Leitura da sentença concessiva do livramento condicional ao liberado na


presença dos demais condenados

Na cerimônia de livramento condicional, conforme consta do inciso I do


artigo 137 da Lei de Execução Penal, deverá ser lida a sentença concessiva do referido
benefício na presença dos demais condenados:“Art. 137. [...] I - a sentença será lida ao
liberando, na presença dos demais condenados, pelo Presidente do Conselho
Penitenciário ou membro por ele designado, ou, na falta, pelo Juiz”(O grifo não está na
redação original).

2.2 Advertência do liberado acerca das condições estabelecidas

Segundo dispõe o inciso II do artigo 137 da Lei de Execução Penal, em


seguida, o liberado condicional será chamado a atenção acerca das condições
estabelecidas: “Art. 137. [...] II - a autoridade administrativa chamará a atenção do
liberando para as condições impostas na sentença de livramento”.

230
2.3 O liberado deverá declarar se aceita ou não as condições impostas

O terceiro momento da cerimônia de livramento, conforme o inciso III do


artigo 137 da Lei de Execução Penal, compreende a aceitação ou não, pelo liberado
condicional, das condições impostas: “Art. 137.[...] III - o liberando declarará se aceita
as condições”.

2.4 Lavratura da cerimônia em livro próprio

Em seguida, conforme estabelece o parágrafo 1o do artigo 137 da Lei de


Execução Penal, será procedida à lavratura do termo de cerimônia de livramento em livro
próprio, que será assinado por quem presidir o ato e pelo liberado ou alguém a seu rogo,
caso este não souber escrever: “Art. 137.[...] § 1º De tudo em livro próprio, será lavrado
termo subscrito por quem presidir a cerimônia e pelo liberando, ou alguém a seu rogo,
se não souber ou não puder escrever”.

2.5 Remessa de cópia ao juiz da execução, quando a cerimônia for realizada


pelo Conselho Penitenciário

Por fim, conforme o parágrafo 2o do artigo 137 da Lei de Execução Penal,


será remetida cópia do termo de cerimônia de lavramento ao juiz da execução penal:
“Art. 137. [...] § 2º Cópia desse termo deverá ser remetida ao Juiz da execução”.

Subseção IX
A caderneta do liberado e o salvo-conduto

§ 1º A caderneta do liberado

A caderneta do liberado condicional, segundo dispõe o caput do artigo 138 da


Lei de Execução Penal, é o documento que deve ser entregue ao liberado na saída do

231
estabelecimento prisional, por ocasião do livramento condicional, para ser exibida à
autoridade judiciária ou administrativa, sempre que lhe for exigida Os dados que devem
constar da caderneta estão previstos no parágrafo 1o do artigo 138 da já mencionada Lei,
ou seja, a identificação do liberado condicional, o texto do capítulo da Lei de Execução
Penal relativo ao livramento condicional e as condições impostas ao liberado:
Art. 138. Ao sair o liberado do estabelecimento penal, ser-lhe-á entregue, além
do saldo de seu pecúlio e do que lhe pertencer, uma caderneta, que exibirá à
autoridade judiciária ou administrativa, sempre que lhe for exigida.
§ 1º A caderneta conterá:
a) a identificação do liberado;
b) o texto impresso do presente Capítulo;
c) as condições impostas.
§ 2º Na falta de caderneta, será entregue ao liberado um salvo-conduto, em
que constem as condições do livramento, podendo substituir-se a ficha de
identificação ou o seu retrato pela descrição dos sinais que possam identificá-
lo.
§ 3º Na caderneta e no salvo-conduto deverá haver espaço para consignar-se
o cumprimento das condições referidas no artigo 132 desta Lei.

§ 2º O salvo-conduto

Não havendo caderneta para ser entregue ao liberado condicional, conforme o


parágrafo 2o do artigo 138 da Lei de Execução Penal, deverá ser entregue a este um
salvo-conduto: “Art. 138. [...]§ 2º Na falta de caderneta, será entregue ao liberado um
salvo-conduto, em que constem as condições do livramento, podendo substituir-se a ficha
de identificação ou o seu retrato pela descrição dos sinais que possam identificá-lo”.

Subseção X
A observação cautelar e a proteção do liberado condicional

Conforme dispõe o artigo 139 da Lei de Execução Penal, deve ser realizada a
observação cautelar e a proteção do liberado durante o período de livramento condicional
pelo serviço social penitenciário, pelo Patronato ou pelo Conselho da Comunidade, que
devem apresentar o respectivo relatório:
Art. 139. A observação cautelar e a proteção realizadas por serviço social
penitenciário, Patronato ou Conselho da Comunidade terão a finalidade de:

232
I - fazer observar o cumprimento das condições especificadas na sentença
concessiva do benefício;
II - proteger o beneficiário, orientando-o na execução de suas obrigações e
auxiliando-o na obtenção de atividade laborativa.
Parágrafo único. A entidade encarregada da observação cautelar e da
proteção do liberado apresentará relatório ao Conselho Penitenciário, para
efeito da representação prevista nos artigos 143 e 144 desta Lei.

§ 1º Atribuição para realizar a observação cautelar ou a proteção do


liberado condicional

Conforme dispõe o artigo 139 da Lei de Execução Penal, a observação


cautelar e a proteção do liberado condicional durante o período de livramento deve ser
realizada pelo serviço social penitenciário, pelo Patronato ou pelo Conselho da
Comunidade: “Art. 139. A observação cautelar e a proteção realizadas por serviço social
penitenciário, Patronato ou Conselho da Comunidade terão a finalidade de:”

1.1 Serviço social penitenciário

O serviço social penitenciário tem a função de exercer a observação cautelar e


a proteção do liberado condicional.

1.2 Patronato

Além das funções de observação cautelar e de proteção do liberado


condicional, o Patronato tem as funções estabelecidas nos artigos 78 e 79 da Lei de
Execução Penal:
Art. 78. O Patronato público ou particular destina-se a prestar assistência aos
albergados e aos egressos (artigo 26).
Art. 79. Incumbe também ao Patronato:
I - orientar os condenados à pena restritiva de direitos;
II - fiscalizar o cumprimento das penas de prestação de serviço à comunidade
e de limitação de fim de semana;
III - colaborar na fiscalização do cumprimento das condições da suspensão e
do livramento condicional.

233
1.3 Conselho da Comunidade

Além das funções de observação cautelar e de proteção do liberado


condicional, o Conselho da Comunidade tem as funções estabelecidas nos artigos 80 e 81
da Lei de Execução Penal:
Art. 80. Haverá, em cada comarca, um Conselho da Comunidade composto,
no mínimo, por 1 (um) representante de associação comercial ou industrial, 1
(um) advogado indicado pela Seção da Ordem dos Advogados do Brasil, 1
(um) Defensor Público indicado pelo Defensor Público Geral e 1 (um)
assistente social escolhido pela Delegacia Seccional do Conselho Nacional de
Assistentes Sociais. Parágrafo único. Na falta da representação prevista neste
artigo, ficará a critério do Juiz da execução a escolha dos integrantes do
Conselho. Art. 81. Incumbe ao Conselho da Comunidade:
I - visitar, pelo menos mensalmente, os estabelecimentos penais existentes na
comarca;
II - entrevistar presos;
III - apresentar relatórios mensais ao Juiz da execução e ao Conselho
Penitenciário;
IV - diligenciar a obtenção de recursos materiais e humanos para melhor
assistência ao preso ou internado, em harmonia com a direção do
estabelecimento.

§ 2º A observação cautelar ou proteção do liberado condicional na prática

Na prática, eessa observação cautelar é realizada, de forma eventual, pelas


instituições policiais.

§ 3º Finalidade da observação cautelar ou da proteção do liberado


condicional

Conforme dispõem os incisos I e II do caput do artigo 139 da Lei de


Execução Penal, os órgãos encarregados de exercer a observação cautelar e a proteção do
liberado condicional deverão cumprir as seguintes atribuições:
Art. 139.
[...]
I - fazer observar o cumprimento das condições especificadas na sentença
concessiva do benefício;
II - proteger o beneficiário, orientando-o na execução de suas obrigações e
auxiliando-o na obtenção de atividade laborativa.
Parágrafo único. A entidade encarregada da observação cautelar e da
proteção do liberado apresentará relatório ao Conselho Penitenciário, para
efeito da representação prevista nos artigos 143 e 144 desta Lei.

234
Subseção XI
Modificação das condições

A Lei de Execução Penal, no seu artigo 144, estabelece a possibilidade de


serem modificadas as condições do livramento condicional. Essas modificações, no
entanto, podem alcançar, apenas, as condições facultativas:
Art. 144. O Juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público, da
Defensoria Pública ou mediante representação do Conselho Penitenciário, e
ouvido o liberado, poderá modificar as condições especificadas na sentença,
devendo o respectivo ato decisório ser lido ao liberado por uma das
autoridades ou funcionários indicados no inciso I do caput do art. 137 desta
Lei, observado o disposto nos incisos II e III e §§ 1 o e 2o do mesmo artigo.

Subseção XII
Suspensão do livramento condicional

Segundo o artigo 145 da Lei de Execução Penal, é possível a suspensão do


livramento condicional, caso o liberado pratique infração penal durante o período de
prova do livramento condicional. O juízo acerca da prática da infração não precisa ser
definitivo e certo, isto é, não há a necessidade de uma sentença condenatória transitada
em julgada, bastando um juízo de probabilidade. A suspensão do livramento condicional
não é obrigatória, no entanto, a sua revogação depende de decisão final e definitiva no
processo penal condenatório: “Art. 145. Praticada pelo liberado outra infração penal, o
Juiz poderá ordenar a sua prisão, ouvidos o Conselho Penitenciário e o Ministério
Público, suspendendo o curso do livramento condicional, cuja revogação, entretanto,
ficará dependendo da decisão final”.

235
Subseção XIII
Prorrogação do período de prova do livramento condicional

O artigo 89 do Código Penal estabelece a possibilidade da prorrogação do


período de prova do livramento condicional enquanto o liberado responde a processo por
crime cometido durante esse período.
Assim, enquanto o liberado estiver sendo processado por crime ocorrido
durante o livramento, desde que não tenha ocorrido a suspensão do livramento, o juiz não
poderá declarar extinta a pena, prorrogando, assim, o período de prova enquanto durar o
processo: “Art. 89 - O juiz não poderá declarar extinta a pena, enquanto não passar em
julgado a sentença em processo a que responde o liberado, por crime cometido na
vigência do livramento”.
Ressalta-se que a norma do artigo 88 do Código Penal estabelece que o
período do livramento condicional na pena não pode ser computado na pena, se o crime
for praticado durante o período de prova.

Subseção XIV
A revogação do livramento condicional

A legislação penal e de execução penal prevê hipóteses de revogação


obrigatória e hipóteses de revogação facultativa do livramento condicional, conforme se
pode depreender dos artigos 86 e 87 do Código Penal e artigos 140 a 143 da Lei de
Execução Penal. O artigo 140 da Lei de Execução Penal estabelece: “Art. 140. A
revogação do livramento condicional dar-se-á nas hipóteses previstas nos artigos 86 e 87
do Código Penal”.

236
§ 1º Espécies de revogação do livramento condicional

Conforme estabelecem os artigos 86 e 87 do Código Penal, a revogação do


livramento condicional poderá ser obrigatória ou facultativa.

1.1 Revogação obrigatória

A revogação obrigatória está prevista no artigo 86 do Código Penal, nos casos


de condenação por crime ocorrido durante a vigência do benefício de livramento
condicional ou por crime praticado antes desse período, à pena privativa de liberdade:
Revogação do livramento Art. 86 - Revoga-se o livramento, se o liberado vem
a ser condenado a pena privativa de liberdade, em sentença irrecorrível:
I - por crime cometido durante a vigência do benefício;
II - por crime anterior, observado o disposto no art. 84 deste Código.

1.1.1 Por condenação à pena privativa de liberdade pela prática de crime


cometido durante a vigência do benefício

A primeira hipótese de revogação obrigatória do livramento condicional está


prevista no inciso I do artigo 86 do Código Penal, isto é, quando o liberado condicional é
condenado, à pena privativa de liberdade praticado na durante o período de prova do
livramento: “Art. 86 - Revoga-se o livramento, se o liberado vem a ser condenado a pena
privativa de liberdade, em sentença irrecorrível: I - por crime cometido durante a
vigência do benefício”.
Conforme se pode perceber, não está incluída a condenação por contravenção
penal.

1.1.2 Por condenação à pena privativa de liberdade pela prática, antes da


concessão do livramento, de crime

A segunda hipótese de revogação obrigatória do livramento condicional está


prevista no inciso II do artigo 86 do Código Penal, ou seja, quando o liberado for
condenado à pena privativa de liberdade pela prática, antes da concessão do livramento,

237
de crime: “Art. 86 - Revoga-se o livramento, se o liberado vem a ser condenado a pena
privativa de liberdade, em sentença irrecorrível: [...] II - por crime anterior, observado o
disposto no art. 84 deste Código”.
Não está incluída a condenação por contravenção penal. Todavia, nesse caso,
deverá ser observado o disposto no artigo 84 do Código Penal, segundo o qual “Art. 84 -
As penas que correspondem a infrações diversas devem somar-se para efeito do
livramento”.
Também o artigo 141 da Lei de Execução Penal estabelece que
Art. 141. Se a revogação for motivada por infração penal anterior à vigência
do livramento, computar-se-á como tempo de cumprimento da pena o período
de prova, sendo permitida, para a concessão de novo livramento, a soma do
tempo das 2 (duas) penas.

1.2 Revogação facultativa

A revogação facultativa está prevista no artigo 87 do Código Penal, nos casos


de descumprimento das condições impostas ou de condenação por crime ou contravenção
à pena não privativa de liberdade:
Revogação facultativa Art. 87 - O juiz poderá, também, revogar o livramento,
se o liberado deixar de cumprir qualquer das obrigações constantes da
sentença, ou for irrecorrivelmente condenado, por crime ou contravenção, a
pena que não seja privativa de liberdade.

1.2.1 Por descumprimento de qualquer das obrigações constantes da sentença

A primeira hipótese de revogação facultativa, prevista na primeira parte do


artigo 87 do Código Penal, é o descumprimento, pelo liberado condicional, de qualquer
das obrigações constantes na sentença. “Art. 87 - O juiz poderá, também, revogar o
livramento, se o liberado deixar de cumprir qualquer das obrigações constantes da
sentença, ou for irrecorrivelmente condenado, por crime ou contravenção, a pena que
não seja privativa de liberdade”. (O grifo não está na redação original).

238
1.2.2 Por condenação irrecorrível, por crime ou contravenção, à pena que não
seja privativa de liberdade

A segunda hipótese de revogação facultativa do livramento condicional,


prevista na segunda parte do artigo 87 do Código Penal, é a condenação irrecorrível, por
crime ou contravenção, à pena que não seja privativa de liberdade. “Art. 87 - O juiz
poderá, também, revogar o livramento, se o liberado deixar de cumprir qualquer das
obrigações constantes da sentença, ou for irrecorrivelmente condenado, por crime ou
contravenção, a pena que não seja privativa de liberdade”. (O grifo não está na redação
original).
A indagação que surge é a seguinte: e se a condenação for à pena privativa de
liberdade em face da prática de contravenção penal?
Renato Marcão explica que, nesse caso, “seria incompreensível permitir ao
juiz a revogação facultativa do livramento quando imposta pena de multa pela prática
contravencional e não permitir a mesma providência quando a pena impsota for privativa
de libedade, sabidamente mais severa e com repercussões mais sensíveis”. (Curso de
Execução Penal. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 262).

1.2.3 Advertência do liberado ou agravamento das condições

Conforme dispõe o artigo 140, parágrafo único, da Lei de Execução Penal,


que é possível que, em vez de revogar o benefício do livramento condicional, o juiz da
execução advirta o liberado ou agrave as suas condições do livramento. Essa advertência
do liberado ou o agravamento das condições somente são possíveis nas hipóteses em que
caberia a revogação facultativa e quando o juiz decidiu não revogar o livramento
condicional. “Art. 140. [...] Parágrafo único. Mantido o livramento condicional, na
hipótese da revogação facultativa, o Juiz deverá advertir o liberado ou agravar as
condições”.

239
§ 2º Iniciativa e competência para a revogação

O artigo 143 da Lei de Execução Penal estabelece a iniciativa e a


competência para a decretação da revogação do livramento condicional. “Art. 143. A
revogação será decretada a requerimento do Ministério Público, mediante representação
do Conselho Penitenciário, ou, de ofício, pelo Juiz, ouvido o liberado”.

2.1 Iniciativa

A iniciativa para a revogação do livramento condicional pode ser do


Ministério Público, do Conselho Penitenciário do Estado e do Juízo. “Art. 143. A
revogação será decretada a requerimento do Ministério Público, mediante representação
do Conselho Penitenciário, ou, de ofício, pelo Juiz, ouvido o liberado”.

2.2 Competência para a revogação

A competência para a revogação do juízo da execução penal, conforme dispõe


o artigo 66, inciso III, alínea e, da Lei de Execução Penal: “Art. 66. Compete ao Juiz da
execução: [...] III - decidir sobre: [...] e) livramento condicional”.

§ 3º Efeitos da revogação do livramento condicional

Os efeitos da revogação do livramento condicional e a contagem do tempo da


pena a ser cumprida estão regulados no artigo 88 do Código Penal e nos artigos 141 e 142
da Lei de Execução Penal.
O artigo 88 do Código Penal estabelece: “Efeitos da revogação Art. 88 -
Revogado o livramento, não poderá ser novamente concedido, e, salvo quando a
revogação resulta de condenação por outro crime anterior àquele benefício, não se
desconta na pena o tempo em que esteve solto o condenado”.
Por sua vez, os artigos 141 e 142 da Lei de Execução Penal dispõem que:
Art. 141. Se a revogação for motivada por infração penal anterior à vigência
do livramento, computar-se-á como tempo de cumprimento da pena o período

240
de prova, sendo permitida, para a concessão de novo livramento, a soma do
tempo das 2 (duas) penas.
Art. 142. No caso de revogação por outro motivo, não se computará na pena o
tempo em que esteve solto o liberado, e tampouco se concederá, em relação à
mesma pena, novo livramento.

3.1 Impossibilidade de concessão de novo livramento condicional

O artigo 88, 1a parte, do Código Penal estabelece que, uma vez revogado o
livramento condicional, não poderá ele ser novamente concedido, salvo se a revogação
ocorreu por crime ocorrido antes da concessão desse benefício.
Também o artigo 141 da Lei de Execução penal esclarece que, se a revogação
ocorreu em virtude da prática de crime anterior à concessão do livramento, é possível a
soma das duas penas e o reinício da contagem de um novo período de cumprimento de
pena para a concessão de novo livramento condicional.
Nas demais hipóteses de revogação – crime ou contravenção cometidos
durante o período de livramento condicional ou descumprimento de condição
estabelecida - não haverá concessão de livramento em relação à mesma pena, conforme
estabelece o artigo 142 da Lei de Execução Penal: “Art. 142. No caso de revogação por
outro motivo, não se computará na pena o tempo em que esteve solto o liberado, e
tampouco se concederá, em relação à mesma pena, novo livramento”. (O grifo não está
na redação original).

3.2 Impossibilidade de se descontar o tempo em que esteve solto o


condenado, se a revogação ocorreu pela prática em crime ocorrido durante o período do
livramento

A contrário senso do que estabelece a 2a parte do artigo 88 do Código Penal,


se a revogação ocorreu pela prática de crime – e, analogicamente, por contravenção -
anterior à concessão do livramento condicional, deve ser computado o tempo em que o
condenado esteve solto em livramento condicional.
Por sua vez, o artigo 142 da Lei de Execução Penal veda o desconto do
período em que o condenado esteve solto em livramento condicional nas hipóteses de

241
descumprimento de condição imposta. “Art. 142. No caso de revogação por outro
motivo, não se computará na pena o tempo em que esteve solto o liberado, e tampouco se
concederá, em relação à mesma pena, novo livramento”. (O grifo não está na redação
original).

Subseção XV
Cumprimento das condições e extinção da pena

O artigo 90 do Código Penal e o artigo 146 da Lei de Execução Penal


determinam a extinção da pena do liberado, se não ocorrer a revogação do livramento
durante o período de prova. Dispõe o artigo 90 do Código Penal: “Art. 90 - Se até o seu
término o livramento não é revogado, considera-se extinta a pena privativa de
liberdade”.
O artigo 146 da Lei de Execução Penal dispõe: “Art. 146. O Juiz, de ofício, a
requerimento do interessado, do Ministério Público ou mediante representação do
Conselho Penitenciário, julgará extinta a pena privativa de liberdade, se expirar o prazo
do livramento sem revogação”.
Isso somente ocorrerá se não houver prorrogação, nos termos do artigo 89 do
Código Penal.

242
SEÇÃO V
A DURAÇÃO MÁXIMA DO CUMPRIMENTO DAS PENAS PRIVATIVAS DE
LIBERDADE NO ORDENAMENTO JURÍDICO-PENAL BRASILEIRO

Subseção I
Fontes normativas e jurisprudenciais

A duração máxima das penas privativas de liberdade, como conseqüência da


vedação prevista na alínea b do inciso XLVII do artigo 5o da Constitucional, está prevista
no artigo 75 do Código Penal e no artigo 10 da Lei de Contravenções Penais.
Também o Supremo Tribunal Federal, estabelece, por meio da Súmula n. 715,
os limites da aplicação da regra do artigo 75 do Código Penal.

Subseção II
Aspectos históricos

Não se pode perder de vista que o Decreto n. 774, de 20 de setembro de 1890,


foi um marco importante na extinção das penas de caráter perpétuo no Brasil, uma vez
que limitou as penas privativas de liberdade a um máximo de 30 (trinta) anos.

Subseção III
A duração máxima do cumprimento das penas de reclusão e de detenção

O limite máximo para o cumprimento das penas de detenção e reclusão,


segundo dispõe o artigo 75 do Código Penal, é de 30 (trinta) anos, ressalvada a
ocorrência de apenamento por fato praticado durante cumprimento da pena privativa de
liberdade, em relação ao qual será somada a pena restante da pena anterior.
Limite das penas

243
Art. 75 - O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode
ser superior a 30 (trinta) anos.
§ 1º - Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja
soma seja superior a 30 (trinta) anos, devem elas ser unificadas para atender
ao limite máximo deste artigo.
§ 2º - Sobrevindo condenação por fato posterior ao início do cumprimento da
pena, far-se-á nova unificação, desprezando-se, para esse fim, o período de
pena já cumprido.

Subseção IV
A duração máxima do cumprimento da pena de prisão simples

No que diz respeito, especificamente, à prisão simples, aplicável às


contravenções penais, não pode ela ultrapassar a 5 (cinco) anos, segundo estabelece o
artigo 10 da Lei de Contravenções Penais (Decreto-Lei n. 3.688/41): “Art. 10. A duração
da pena de prisão simples não pode, em caso algum, ser superior a cinco anos, nem a
importância das multas ultrapassar cinquenta contos”.

Subseção V
Efeitos da unificação das penas

O Supremo Tribunal Federal por meio da Súmula 715, estabeleceu que “a


pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento, determinado pelo
art. 75 do Código Penal, não é considerada para a concessão de outros benefícios, como
o livramento condicional ou o regime mais favorável de execução”.
Isso significa dizer que o limite previsto no artigo 75 do Código Penal
somente produz efeito para fins de fixação de um período máximo do cumprimento da
pena, não servindo de base para o cálculo dos diversos benefícios.

244
CAPÍTULO VII
AS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS COMINADAS NO ORDENAMENTO
JURÍDICO-PENAL BRASILEIRO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O presente capítulo trata das penas restritivas de direitos cominadas no


ordenamento jurídico-penal brasileiro. Ele está dividido em três seções, tratando a
primeira dos aspectos históricos, teóricos e jurídicos dessa modalidade de sanção penal; a
segunda, dos aspectos específicos da sua execução das penas restritivas de direitos; e, por
fim, a terceira, das verdades, falácias e descrenças que envolvem essas modalidades
punitivas.

SEÇÃO I
ASPECTOS HISTÓRICOS, TEÓRICOS E JURÍDICOS DAS PENAS RESTRITIVAS
DE DIREITOS

Subseção I
Aspectos históricos

Código Criminal do Império, já previa, nos seus artigos 58 e 59, as penas de


suspensão e perda de emprego, que foram mantidas nos diplomas posteriores. Esse
Código Criminal previa, também, as penas de banimento, de degredo e de desterro.
O Código Penal Republicano de 11 de outubro de 1890 (Decreto n. 847, de 11
de outubro de 1890) estabelecia a pena de interdição.
O Código Penal de 1940 (Decreto-lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940)
estabelecia, no seu artigo 67, como penas acessórias, a perda da função pública, eletiva
ou de nomeação e a interdição de direitos.

245
Mas foi, somente, após a reforma penal de 1984 (Lei no 7.209, de 11 de julho
de 1984) que as penas restritivas de direitos tomaram força, com a criação de outras
modalidades dessas penas e com a possibilidade de substituição das penas privativas de
liberdade por penas restritivas de direito ou multa.
A Lei dos Juizados Especiais Criminais (Lei no 9.099, de 26 de setembro de
1995) e a Lei dos Juizados Especiais Federais (Lei no 10.259, de 12 de julho de 2001)
regulamentaram o consensualismo no direito penal e a possibilidade da transação penal
em relação a penas não privativas de liberdade, quando se tratar de infrações penais de
menor potencial ofensivo, inclusive as penas restritivas de direitos.
A Reforma Penal de 1998 (Lei n. 9.714/1998) ampliou o rol de penas
restritivas de direitos e as possibilidades de substituição das penas privativas de liberdade
pelas penas restritivas de direitos ou multas.

Subseção II
Aspectos teóricos

§ 1º Conceito

As penas restritivas de direitos são as penas que têm por finalidade restringir
os direitos do indivíduo condenado, obrigando-o a fazer algo, como, por exemplo, a pena
de prestação de serviços à comunidade e a prestação pecuniária, ou impedindo-o ou
proibindo-o de fazê-lo, como é o caso da suspensão ou interdição de direitos ou, ainda, da
perda de bens e valores.
Essa modalidade de pena não abrange o direito ir, vir ou ficar, que é
alcançado pelas penas privativas de liberdade, e a pena de multa, que está classificada
pelo Código Penal como modalidade distinta de pena.
Não há, no entanto, uma linha nítida entre o campo das penas restritivas de
direitos e os campos aos quais pertencem as demais penas, pois essas sanções penais
lesam bens jurídicos diversificados, como a limitação de fim de semana, que incide sobre
a liberdade do condenado, e a prestação pecuniária, que incide sobre o seu patrimônio.

246
§ 2º Tipos de cominações das penas restritivas de direitos

2.1 Cominações no tipo e fora dele

As penas restritivas de direitos estão cominadas tanto no Código Penal quanto


nas leis penais extravagantes. A cominação das penas restritivas de direitos pode ocorrer
tanto no tipo penal quanto fora dele, o que é mais comum. Assim, no Código Penal,
conforme o seu artigo 44, a cominação é substitutiva; no Código de Trânsito Brasileiro
(Lei n. 9.503, de 23 de setembro de 1997), a cominação ocorre tanto no tipo penal (ex. a
suspensão da habilitação prevista no art. 302) quanto fora dele (ex. a multa reparatória
prevista no art. 297).

2.2 Cominações cumulativas e alternativas

Essas sanções penais são cominadas cumulativa ou alternativamente.


Art. 292. A suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação
para dirigir veículo automotor pode ser imposta como penalidade principal,
isolada ou cumulativamente com outras penalidades.
[...]
Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor: Penas
- detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

A Lei das Infrações penais ambientais (Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de


1998) prevê penas restritivas de direito no seu art. 8o. A Lei do Abuso de Autoridade
também estabelece penas restritivas de direitos. Outras modalidades de penas restritivas
de direitos podem ser criadas pelo legislador.

2.3 A cominação substitutiva das penas restritivas de direito

As penas cominadas no artigo 43 do Código Penal são substitutivas das penas


privativas de liberdade cominadas no tipo penal ou fora deste, conforme estabelece o
artigo 44 desse mesmo diploma legal.

247
Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as
privativas de liberdade, quando:
I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime
não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que
seja a pena aplicada, se o crime for culposo;
II – o réu não for reincidente em crime doloso;
III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do
condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa
substituição seja suficiente.
§ 1o
§ 2o Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita
por multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena
privativa de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos
e multa ou por duas restritivas de direitos.
§ 3o Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde
que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável
e a reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime.

2.3.1 Requisitos para a substituição da pena privativa de liberdade por penas


restritivas de direitos

Os requisitos para a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas


de direitos estão previstos no artigo 44, caput, Código Penal:

2.3.1.1 Ser a pena igual ou inferior a 4 (quatro) anos, nos crimes dolosos, ou
qualquer que seja a pena se o crime for culposo

Conforme estabelece o inciso I do artigo 44 do Código Penal, em se tratando


de crimes dolosos, somente é possível a substituição da pena privativa de liberdade por
pena restritiva de direitos, se a pena aplicada não exceder a 4 (quatro) anos. Em caso de
crimes culposos, não há limite de pena máxima.

2.3.1.2 Não se tratar de crime praticado com violência ou grave ameaça à


pessoa

Ainda conforme estabelece o inciso I do artigo 44 do Código Penal, não é


possível a substituição da pena privativa de liberadde por pena restritiva de direitos em
caso de crime praticado com violência ou grave ameaça à pessoa, independentemente da
pena aplicada.

248
2.3.1.3 Não ser o réu reincidente em crime doloso

Estabelece o inciso II do artigo 44 do Código Penal, a impossibilidade da


substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos, se o réu for
considerado reincidente em crime doloso. Se a condenação anterior envolver
contravenção penal ou crime culposo, não haverá impedimento.

2.3.1.4 Mitigação dos efeitos da reincidência na substituição

Todavia, conforme o parágrafo 3º do artigo 44 do Código Penal autoriza a


mitigação dos efeitos da reincidência para fins de substituição por penas restritivas de
direitos, se o réu não for reincidente específico ou se a substituição for socialmente
recomendável.

2.3.1.5 Circunstâncias judiciais favoráveis

Conforme dispõe o artigo 44, inciso III, do Código Penal, para a substituição
da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, é necessário que a culpabilidade,
os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos
e as circunstâncias do crime, indiquem que a substituição seja suficiente.

§ 3º Formas de substituição

As formas de substituição das penas privativas de liberdade por penas


restritivas de direitos estão previstas no parágrafo 2o do artigo 44 do Código Penal.
Art. 44. [...]
[...]
§ 2o Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita
por multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena
privativa de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos
e multa ou por duas restritivas de direitos.

249
3.1 Substituição ou por 1 (uma) pena restritiva de direito ou por 1 (uma)
multa no caso de pena privativa de liberdade igual ou inferior a 1 (um) ano

Estabelece a 1ª parte do parágrafo 2º do artigo 44 do Código Penal que, em


caso de condenação à pena privativa de liberdade igual ou inferior a 1 (um) ano, a
substituição da pena privativa de liberdade poderá se dar por 1 (uma) pena restritiva de
direitos ou por 1 (uma) multa.

3.2 Substituição ou por 2 (duas) penas restritivas de direitos ou por 1 (uma)


pena restritiva de direitos e 1 (uma) multa no caso de pena privativa de liberdade superior
a 2 (dois) anos

Estabelece a 2ª parte do parágrafo 2º do artigo 44 do Código Penal que, em


caso de condenação à pena privativa de liberdade superior a 2 (dois) anos poderá se dar
por 2 (duas) penas restritivas de direitos ou por 1 (uma) pena restritiva de direitos e mais
1 (uma) pena de multa.

§ 4º Espécies de sanções penais restritivas de direitos cominadas no


ordenamento jurídico-penal brasileiro

4.1 Espécies de sanções penais restritivas de direitos cominadas no Código


Penal

4.1.1 Aspectos gerais

Em seu art. 43, o Código Penal (Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de


1940, com as alterações impostas pelas Leis no 7.209, de 11 de julho de 1984, e 9.714, de
25 de novembro de 1998), faz um detalhamento das espécies de penas restritivas de
direito, fazendo menção à prestação pecuniária, à perda de bens ou valores, à prestação
de serviços à comunidade ou a entidades públicas, à interdição temporária de direitos e à
limitação de fim de semana. “Art. 43. As penas restritivas de direitos são: I - prestação

250
pecuniária; II - perda de bens e valores; III - (VETADO); IV - prestação de serviço à
comunidade ou a entidades públicas; V - interdição temporária de direitos; VI -
limitação de fim de semana”.
Observa-se que, no Código Penal, essas sanções penais estão cominadas,
somente, como sanções penais substitutivas.

4.1.2 A prestação pecuniária

4.1.2.1 Origens históricas

As origens históricas da prestação pecuniária estão na wergeld, que era a pena


pecuniária prevista no antigo Direito germânico e imposta ao autor de uma morte ou de
lesões corporais que devia ser paga à vítima ou aos seus herdeiros. Essa espécie de
sanção penal foi incluída no Código Penal por meio da Lei n. 9.714, de 25 de novembro
de 1998.

4.1.2.2 Previsão legal e conceituação

A sanção penal de prestação pecuniária, prevista no artigo 45, parágrafo 1 o, 1a


parte, do Código Penal:
Art. 45 [...]
§ 1o A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima, a
seus dependentes ou a entidade pública ou privada com destinação social, de
importância fixada pelo juiz, não inferior a 1 (um) salário mínimo nem
superior a 360 (trezentos e sessenta) salários mínimos.

4.1.2.3 Possibilidade de dedução da prestação pecuniária do montante da


indenização obtida em ação de reparação civil [Caso os destinatários sejam coincidentes,
segundo dispõe a 2a parte desse mesmo parágrafo, é possível a dedução desse valor do
montante da indenização obtida em ação de reparação civil: “Art. 45 [...] § 1o [...] O
valor pago será deduzido do montante de eventual condenação em ação de reparação
civil, se coincidentes os beneficiários., “o valor pago será deduzido do montante de
eventual condenação em ação de reparação civil”.

251
4.1.2.4 Prestação pecuniária de outra natureza

É possível que a prestação pecuniária seja de outra natureza, se houver


aceitação do beneficiário, conforme estabelece o parágrafo 2o do artigo 45 do Código
Penal: “Art. 45 [...] § 1o [...] § 2o No caso do parágrafo anterior, se houver aceitação do
beneficiário, a prestação pecuniária pode consistir em prestação de outra natureza”.

4.1.3 A perda de bens e valores

4.1.3.1 Aspectos históricos

Essa espécie de sanção penal foi incluída no Código Penal, também, por meio
da Lei n. 9.714, de 25 de novembro de 1998.

4.1.3.2 Previsão e conceituação

A sanção penal de perda de bens e valores pertencentes ao condenado está


prevista no parágrafo 3o do artigo 45 do Código Penal nos seguintes termos:
Art. 45
[...]
§ 3o A perda de bens e valores pertencentes aos condenados dar-se-á,
ressalvada a legislação especial, em favor do Fundo Penitenciário Nacional, e
seu valor terá como teto - o que for maior - o montante do prejuízo causado ou
do provento obtido pelo agente ou por terceiro, em conseqüência da prática do
crime.

4.1.3.3 Distinção entre a obrigação de reparar o dano e à perda de bens e


valores

A obrigação de reparar o dano é um efeito secundário da condenação; a perda


de bens e valores é um efeito primário da condenação. Aquela abrange somente o
prejuízo causado; esta, apenas, o prejuízo causado ou o proveito do crime, o que for
maior. Aquela se destina à vítima ou seus sucessores; esta ao fundo penitenciário
nacional.

252
4.1.4 A prestação de serviços à comunidade ou entidades públicas

4.1.4.1 Aspectos históricos

A sanção penal de prestação de serviços à comunidade foi instituída pela Lei


n. 7.209, de 11 de julho de 1984, que alterou a parte geral do Código Penal de 1940.

4.1.4.2 Previsão legal e conceituação

A sanção penal de prestação de serviços à comunidade ou entidades públicas


está prevista no artigo 46 do Código Penal nos seguintes termos:
Prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas
Art. 46. A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas é
aplicável às condenações superiores a seis meses de privação da liberdade.
§ 1o A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas consiste na
atribuição de tarefas gratuitas ao condenado.
§ 2o A prestação de serviço à comunidade dar-se-á em entidades assistenciais,
hospitais, escolas, orfanatos e outros estabelecimentos congêneres, em
programas comunitários ou estatais.
§ 3o As tarefas a que se refere o § 1o serão atribuídas conforme as aptidões do
condenado, devendo ser cumpridas à razão de uma hora de tarefa por dia de
condenação, fixadas de modo a não prejudicar a jornada normal de trabalho.
§ 4o Se a pena substituída for superior a um ano, é facultado ao condenado
cumprir a pena substitutiva em menor tempo (art. 55), nunca inferior à metade
da pena privativa de liberdade fixada.

4.1.4.3 A execução da sanção penal de prestação de serviços à comunidade

A Lei de Execução Penal, em seus artigos 149 e 150, estabelece as normas


relativas à execução da pena de prestação de serviços à comunidade.
SEÇÃO II
Da Prestação de Serviços à Comunidade
Art. 149. Caberá ao Juiz da execução:
I - designar a entidade ou programa comunitário ou estatal, devidamente
credenciado ou convencionado, junto ao qual o condenado deverá trabalhar
gratuitamente, de acordo com as suas aptidões;
II - determinar a intimação do condenado, cientificando-o da entidade, dias e
horário em que deverá cumprir a pena;
III - alterar a forma de execução, a fim de ajustá-la às modificações ocorridas
na jornada de trabalho.

253
§ 1º o trabalho terá a duração de 8 (oito) horas semanais e será realizado aos
sábados, domingos e feriados, ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a
jornada normal de trabalho, nos horários estabelecidos pelo Juiz.
§ 2º A execução terá início a partir da data do primeiro comparecimento.
Art. 150. A entidade beneficiada com a prestação de serviços encaminhará
mensalmente, ao Juiz da execução, relatório circunstanciado das atividades do
condenado, bem como, a qualquer tempo, comunicação sobre ausência ou
falta disciplinar.

A restrição às penas inferiores a 6 (seis) meses está revogada tacitamente pelo


parágrafo 2º, 1ª parte, do artigo 44 do Código Penal.

4.1.5 A interdição temporária de direitos

4.1.5.1 Aspectos históricos

Trata-se de espécie de sanção penal já prevista no ordenamento jurídico desde


o Código Criminal do Império, na forma de suspensão ou perda do emprego.

4.1.5.2 Previsão legal e conceituação

A sanção penal de interdição temporária de direitos está prevista no art. 47 do


Código Penal nos seguintes termos:
Interdição temporária de direitos
Art. 47 - As penas de interdição temporária de direitos são:
I - proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de
mandato eletivo;
II - proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de
habilitação especial, de licença ou autorização do poder público;
III - suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo.
IV - proibição de freqüentar determinados lugares.
V - proibição de inscrever-se em concurso, avaliação ou exame públicos.

4.1.5.3 A execução das sanções penais de interdição temporária de direitos

A Lei de Execução Penal, em seus artigos 154 e 155, estabelece as normas


relativas à execução da pena de interdição temporária de direitos.
SEÇÃO IV
Da Interdição Temporária de Direitos

254
Art. 154. Caberá ao Juiz da execução comunicar à autoridade competente a
pena aplicada, determinada a intimação do condenado.
§ 1º Na hipótese de pena de interdição do artigo 47, inciso I, do Código Penal,
a autoridade deverá, em 24 (vinte e quatro) horas, contadas do recebimento do
ofício, baixar ato, a partir do qual a execução terá seu início.
§ 2º Nas hipóteses do artigo 47, incisos II e III, do Código Penal, o Juízo da
execução determinará a apreensão dos documentos, que autorizam o exercício
do direito interditado.
Art. 155. A autoridade deverá comunicar imediatamente ao Juiz da execução o
descumprimento da pena.
Parágrafo único. A comunicação prevista neste artigo poderá ser feita por
qualquer prejudicado.

4.1.6 A limitação de fim de semana

4.1.6.1 Aspectos históricos

A sanção penal de limitação de fim de semana foi instituída pela Lei n. 7.209,
de 11 de julho de 1984, que alterou a parte geral do Código Penal de 1940.

4.1.6.2 Previsão legal e conceituação

A sanção penal de limitação de fim de semana está prevista no artigo 48 do


Código Penal nos seguintes termos:
Limitação de fim de semana
Art. 48 - A limitação de fim de semana consiste na obrigação de permanecer,
aos sábados e domingos, por 5 (cinco) horas diárias, em casa de albergado ou
outro estabelecimento adequado.
Parágrafo único - Durante a permanência poderão ser ministrados ao
condenado cursos e palestras ou atribuídas atividades educativas.

4.1.6.3 A execução da sanção penal de limitação de fim de semana

A Lei de Execução Penal, em seus artigos 151 e 153, estabelece as normas


relativas à execução da pena de limitação de fim de semana.
SEÇÃO III
Da Limitação de Fim de Semana
Art. 151. Caberá ao Juiz da execução determinar a intimação do condenado,
cientificando-o do local, dias e horário em que deverá cumprir a pena.
Parágrafo único. A execução terá início a partir da data do primeiro
comparecimento.

255
Art. 152. Poderão ser ministrados ao condenado, durante o tempo de
permanência, cursos e palestras, ou atribuídas atividades educativas.
Parágrafo único. Nos casos de violência doméstica contra a mulher, o juiz
poderá determinar o comparecimento obrigatório do agressor a programas de
recuperação e reeducação.
Art. 153. O estabelecimento designado encaminhará, mensalmente, ao Juiz da
execução, relatório, bem assim comunicará, a qualquer tempo, a ausência ou
falta disciplinar do condenado.

4.2 Espécies de sanções penais restritivas de direitos cominadas na Lei das


Infrações penais ambientais

4.2.1 Aspectos gerais

A Lei das Infrações Penais Ambientais (Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de


1998) define os crimes ambientais e estabelece, no seu art. 8o, as seguintes sanções
penais: “Art. 8º As penas restritivas de direito são: I - prestação de serviços à
comunidade; II - interdição temporária de direitos; III - suspensão parcial ou total de
atividades; IV - prestação pecuniária; V - recolhimento domiciliar”.
Como se pode perceber, trata-se de cominação fora do tipo penal e
substitutiva, conforme estabelece o artigo 7o dessa mesma Lei:
Art. 7º As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as
privativas de liberdade quando:
I - tratar-se de crime culposo ou for aplicada a pena privativa de liberdade
inferior a quatro anos;
II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do
condenado, bem como os motivos e as circunstâncias do crime indicarem que a
substituição seja suficiente para efeitos de reprovação e prevenção do crime.
Parágrafo único. As penas restritivas de direitos a que se refere este artigo
terão a mesma duração da pena privativa de liberdade substituída. (O grifo
não está na redação original).

4.2.2 A prestação de serviços à comunidade

A sanção penal de prestação de serviços à comunidade está prevista no artigo


9o da Lei dos Crimes Ambientais nos seguintes termos: “Art. 9º A prestação de serviços à
comunidade consiste na atribuição ao condenado de tarefas gratuitas junto a parques e
jardins públicos e unidades de conservação, e, no caso de dano da coisa particular,
pública ou tombada, na restauração desta, se possível”.

256
4.2.3 A interdição temporária de direitos

A sanção penal de interdição temporária de direito está prevista no artigo 10


da Lei dos Crimes Ambientais nos seguintes termos: “Art. 10. As penas de interdição
temporária de direito são a proibição de o condenado contratar com o Poder Público, de
receber incentivos fiscais ou quaisquer outros benefícios, bem como de participar de
licitações, pelo prazo de cinco anos, no caso de crimes dolosos, e de três anos, no de
crimes culposos”.

4.2.4 A suspensão de atividades

A sanção penal de suspensão de atividades está prevista no artigo 11 da Lei


dos Crimes Ambientais nos seguintes termos: “Art. 11. A suspensão de atividades será
aplicada quando estas não estiverem obedecendo às prescrições legais”.

4.2.5 A prestação pecuniária

A sanção penal de prestação pecuniária está prevista no artigo 12 da Lei dos


Crimes Ambientais nos seguintes termos:
Art. 12. A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima ou
à entidade pública ou privada com fim social, de importância, fixada pelo juiz,
não inferior a um salário mínimo nem superior a trezentos e sessenta salários
mínimos. O valor pago será deduzido do montante de eventual reparação civil
a que for condenado o infrator.

4.2.6 O recolhimento domiciliar

A sanção penal de recolhimento domiciliar está prevista no artigo 13 da Lei


dos Crimes Ambientais nos seguintes termos:
Art. 13. O recolhimento domiciliar baseia-se na autodisciplina e senso de
responsabilidade do condenado, que deverá, sem vigilância, trabalhar,
freqüentar curso ou exercer atividade autorizada, permanecendo recolhido nos
dias e horários de folga em residência ou em qualquer local destinado a sua
moradia habitual, conforme estabelecido na sentença condenatória.

257
Ressalta-se que o recolhimento domiciliar, que seria incluído pelo inciso III
do artigo 43 do Código Penal, por força da Lei n. 9.714, de 25 de novembro de 1998, foi
vetado pelo presidente da República, apesar de ser este um projeto contemporâneo à Lei
n. 9.605/1998.

4.3 As sanções penais restritivas de direitos cominadas no Código de Trânsito


Brasileiro

4.3.1 Aspectos gerais

Também o Código de Trânsito Brasileiro (Lei no 9.503, de 23 de setembro de


1997) estabeleceu outras sanções penais restritivas de direitos, tais como a suspensão ou
proibição de se obter permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor e a multa
reparatória, as quais estão cominadas no tipo penal e fora dele, podendo ser aplicadas
cumulativamente.

4.3.2 A suspensão da habilitação ou proibição de se obter a permissão ou a


habilitação para dirigir veículo automotor terrestre

A sanção penal de suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou a


habilitação para dirigir veículo automotor terrestre está prevista nos artigos 292 e 293 do
Código de Trânsito Brasileiro e pode ser imposta como penalidade principal, isolada ou
cumulativamente com outras penalidades e tem a duração de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
Art. 292. A suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação
para dirigir veículo automotor pode ser imposta como penalidade principal,
isolada ou cumulativamente com outras penalidades. Art. 293. A penalidade de
suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou a habilitação, para
dirigir veículo automotor, tem a duração de dois meses a cinco anos.

Essa sanção penal é aplicável nos casos de crimes de trânsito com veículos
automotores terrestres, por força do artigo 1º, caput, do Código de Trânsito Brasileiro.
Por isso, ela se distingue daquela prevista no inciso III do artigo 47 do Código Penal, que
se aplica à autorização ou habilitação para dirigir qualquer veículo.

258
4.3.3 A multa reparatória

A sanção penal de multa reparatória está prevista no artigo 297 do Código de


Trânsito Brasileiro nos seguintes termos:
Art. 297. A penalidade de multa reparatória consiste no pagamento, mediante
depósito judicial em favor da vítima, ou seus sucessores, de quantia calculada
com base no disposto no § 1º do art. 49 do Código Penal, sempre que houver
prejuízo material resultante do crime.
§ 1º A multa reparatória não poderá ser superior ao valor do prejuízo
demonstrado no processo.
§ 2º Aplica-se à multa reparatória o disposto nos arts. 50 a 52 do Código
Penal.
§ 3º Na indenização civil do dano, o valor da multa reparatória será
descontado.

Discute-se o caráter dessa pena, ou seja, se ela pertence ao grupo das penas
restritivas de direitos ou se é uma espécie de pena de multa. Todavia, tendo em vista o
parágrafo 2o do artigo 297 do Código de Trânsito Brasileiro, há fortes razões para se
caracterizá-la como espécie de pena de multa e não como pena restritiva de direitos, não
se podendo, por isso, convertê-la em pena privativa de liberdade.

4.4 As sanções penais restritivas de direitos cominadas no Estatuto do


Torcedor

O Estatuto do Torcedor (Lei no 10.671, de 15 de maio de 2003), nos


parágrafos 2o e 4o do artigo 41-B, estabelece as sanções penais de impedimento de
comparecimento às proximidades do estádio, bem como a qualquer local em que se
realize evento esportivo, pelo prazo de 3 (três) meses a 3 (três) anos (parágrafo 2 o do
artigo 41-B da Lei n. 10.671/2003) e de obrigatoriedade de o agente permanecer em
estabelecimento indicado pelo juiz, no período compreendido entre as 2 (duas) horas
antecedentes e as 2 (duas) horas posteriores à realização de partidas de entidade de
prática desportiva ou de competição determinada proibição de comparecer às
proximidades, bem como a qualquer local em que se realize evento esportivo, pelo prazo
de até 3 (três) anos (parágrafo 4o do artigo 41-B da Lei n. 10.671/2003).
Art. 41-B. Promover tumulto, praticar ou incitar a violência, ou invadir local
restrito aos competidores em eventos esportivos: Pena - reclusão de 1 (um) a 2
(dois) anos e multa.

259
§ 1o Incorrerá nas mesmas penas o torcedor que:
I - promover tumulto, praticar ou incitar a violência num raio de 5.000 (cinco
mil) metros ao redor do local de realização do evento esportivo, ou durante o
trajeto de ida e volta do local da realização do evento;
II - portar, deter ou transportar, no interior do estádio, em suas imediações ou
no seu trajeto, em dia de realização de evento esportivo, quaisquer
instrumentos que possam servir para a prática de violência.
§ 2o Na sentença penal condenatória, o juiz deverá converter a pena de
reclusão em pena impeditiva de comparecimento às proximidades do estádio,
bem como a qualquer local em que se realize evento esportivo, pelo prazo de 3
(três) meses a 3 (três) anos, de acordo com a gravidade da conduta, na
hipótese de o agente ser primário, ter bons antecedentes e não ter sido punido
anteriormente pela prática de condutas previstas neste artigo.
§ 3o A pena impeditiva de comparecimento às proximidades do estádio, bem
como a qualquer local em que se realize evento esportivo, converter-se-á em
privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado da
restrição imposta.
§ 4o Na conversão de pena prevista no § 2o, a sentença deverá determinar,
ainda, a obrigatoriedade suplementar de o agente permanecer em
estabelecimento indicado pelo juiz, no período compreendido entre as 2 (duas)
horas antecedentes e as 2 (duas) horas posteriores à realização de partidas de
entidade de prática desportiva ou de competição determinada.(Os grifos não
estão na redação original).

4.4.1 Impedimento de comparecimento às proximidades do estádio, bem


como a qualquer local em que se realize evento esportivo pelo prazo de 3 (três) meses a 3
(três) anos (parágrafo 2o do artigo 41-B da Lei n. 10.671/2003)
Art. 41-B.
[...]
§ 2o Na sentença penal condenatória, o juiz deverá converter a pena de
reclusão em pena impeditiva de comparecimento às proximidades do estádio,
bem como a qualquer local em que se realize evento esportivo, pelo prazo de 3
(três) meses a 3 (três) anos, de acordo com a gravidade da conduta, na
hipótese de o agente ser primário, ter bons antecedentes e não ter sido punido
anteriormente pela prática de condutas previstas neste artigo.

4.4.2 Obrigatoriedade de o agente permanecer em estabelecimento indicado


pelo juiz, no período compreendido entre as 2 (duas) horas antecedentes e as 2 (duas)
horas posteriores à realização de partidas de entidade de prática desportiva ou de
competição determinada (parágrafo 4o do artigo 41-B da Lei n. 10.671/2003) pelo prazo
de 3 (três) meses a 2 (dois) anos
Art. 41-B.
[...]
§ 4o Na conversão de pena prevista no § 2o, a sentença deverá determinar,
ainda, a obrigatoriedade suplementar de o agente permanecer em
estabelecimento indicado pelo juiz, no período compreendido entre as 2 (duas)
horas antecedentes e as 2 (duas) horas posteriores à realização de partidas de
entidade de prática desportiva ou de competição determinada.

260
4.5 As sanções penais restritivas de direitos cominadas na Lei de Abuso de
Autoridade

A Lei de Abuso de Autoridade (Lei no 4.898, de 9 de dezembro de 1965)


estabelece, como sanções penais restritivas de direitos, a perda do cargo, a inabilitação
para o exercício de qualquer outra função pública por prazo de até 3 (três) anos (artigo 6o,
parágrafo 3o, alínea c) e o exílio funcional (parágrafo 5º do artigo 6º), nos seguintes
termos:
Art. 6º O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção administrativa
civil e penal. [...] § 3º A sanção penal será aplicada de acordo com as regras
dos artigos 42 a 56 do Código Penal e consistirá em: [...] c) perda do cargo e
a inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública por prazo até
três anos. § 4º As penas previstas no parágrafo anterior poderão ser aplicadas
autônoma ou cumulativamente. § 5º Quando o abuso for cometido por agente
de autoridade policial, civil ou militar, de qualquer categoria, poderá ser
cominada a pena autônoma ou acessória, de não poder o acusado exercer
funções de natureza policial ou militar no município da culpa, por prazo de um
a cinco anos.

4.5.1 Perda do cargo e a inabilitação para o exercício de qualquer outra


função pública por prazo até três anos (artigo 6o, § 3o, alínea c, da Lei n. 4.898/1965)
Art. 6º O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção administrativa
civil e penal. [...] § 3º A sanção penal será aplicada de acordo com as regras
dos artigos 42 a 56 do Código Penal e consistirá em: [...] c) perda do cargo e
a inabilitação para o exercício de qualquer outra função pública por prazo até
três anos.

4.5.2 Exílio funcional

A pena de exílio funcional, prevista no artigo 6o, parágrafo 5o, da Lei n.


4.898/1965, é aplicável quando o abuso for cometido por agente de autoridade policial,
civil ou militar, de qualquer categoria, podendo ser aplicada como pena autônoma ou
acessória, e consiste em não poder o acusado exercer funções de natureza policial ou
militar no município da culpa, por prazo de um a cinco anos.
Art. 6º O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção administrativa
civil e penal. [...] § 4º As penas previstas no parágrafo anterior poderão ser
aplicadas autônoma ou cumulativamente. § 5º Quando o abuso for cometido
por agente de autoridade policial, civil ou militar, de qualquer categoria,
poderá ser cominada a pena autônoma ou acessória, de não poder o acusado

261
exercer funções de natureza policial ou militar no município da culpa, por
prazo de um a cinco anos.

4.6 As sanções penais restritivas de direitos cominadas na Lei de Drogas

4.6.1 Aspectos gerais

A Lei de Drogas (Lei n. 11.343, de 23 de agosto de 2006), no seu artigo 28,


estabelece, para quem tem a posse de drogas para o consumo próprio, as sanções penais
de advertência, prestação de serviços à comunidade e a medida educativa de
comparecimento a programa ou curso educativo, as duas últimas pelo prazo máximo de 5
(cinco) meses.
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer
consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:
I - advertência sobre os efeitos das drogas;
II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.
§ 1o Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia,
cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de
substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica.
§ 2o Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz
atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às
condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais,
bem como à conduta e aos antecedentes do agente.
§ 3o As penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão
aplicadas pelo prazo máximo de 5 (cinco) meses.
§ 4o Em caso de reincidência, as penas previstas nos incisos II e III do caput
deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 10 (dez) meses.
§ 5o A prestação de serviços à comunidade será cumprida em programas
comunitários, entidades educacionais ou assistenciais, hospitais,
estabelecimentos congêneres, públicos ou privados sem fins lucrativos, que se
ocupem, preferencialmente, da prevenção do consumo ou da recuperação de
usuários e dependentes de drogas.
§ 6o Para garantia do cumprimento das medidas educativas a que se refere o
caput, nos incisos I, II e III, a que injustificadamente se recuse o agente,
poderá o juiz submetê-lo, sucessivamente a: I - admoestação verbal; II - multa.
§ 7o O juiz determinará ao Poder Público que coloque à disposição do
infrator, gratuitamente, estabelecimento de saúde, preferencialmente
ambulatorial, para tratamento especializado.
Art. 29. Na imposição da medida educativa a que se refere o inciso II do § 6 o
do art. 28, o juiz, atendendo à reprovabilidade da conduta, fixará o número de
dias-multa, em quantidade nunca inferior a 40 (quarenta) nem superior a 100
(cem), atribuindo depois a cada um, segundo a capacidade econômica do
agente, o valor de um trinta avos até 3 (três) vezes o valor do maior salário
mínimo.

262
Parágrafo único. Os valores decorrentes da imposição da multa a que se
refere o § 6o do art. 28 serão creditados à conta do Fundo Nacional
Antidrogas. (Os grifos não estão na redação original).

4.6.2 Advertência sobre efeitos das drogas

A advertência sobre os efeitos da droga está prevista no artigo 28, inciso I, da


Lei n. 11.343/2006, e consiste na orientação do condenado sobre os efeitos nocivos do
uso das drogas.

4.6.3 Prestação de serviços à comunidade pelo prazo máximo de 5 (cinco)


meses ou, em caso de reincidência, pelo prazo de 10 (dez) meses

A pena de prestação de serviços à comunidade está prevista no inciso II e no


parágrafo 5o do artigo 28 da Lei n. 11.343/2006,
[...] será cumprida em programas comunitários, entidades educacionais ou
assistenciais, hospitais, estabelecimentos congêneres, públicos ou privados
sem fins lucrativos, que se ocupem, preferencialmente, da prevenção do
consumo ou da recuperação de usuários e dependentes de drogas.

4.6.4 Medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo

A pena de medida educativa de comparecimento a programa ou curso


educativo está prevista no inciso III e regulamentada nos parágrafos 4o e 6o, todos do
artigo 28 da Lei n. 11.343/2006, e será aplicada pelo prazo máximo de 5 (cinco) meses
ou, em caso de reincidência, pelo prazo de 10 (dez) meses.

4.6.5 Garantia do cumprimento das medidas educativas previstas nos incisos


I, II e III do artigo 28 da Lei de Drogas

Para a garantia do cumprimento das medidas educativas a que se referem os


incisos I, II e III do caput do artigo 28 da Lei de Drogas, a que injustificadamente se
recuse o agente, poderá o juiz, segundo dispõe o § 6o do artigo 28 e o artigo 29 dessa
mesma Lei, submetê-lo, sucessivamente, à admoestação verbal e à multa.

263
4.6.5.1 Admoestação verbal, em caso de descumprimento injustificado das
medidas anteriores

A pena de admoestação vergal, em caso de descumprimento das demais


medidas, está prevista no inciso I do parágrafo 6o do artigo 28 da Lei n. 11.343/2006, e
será aplicada quando houver o descumprimento das sanções previstas nos incisos I, II e
III do caput do artigo 28 dessa mesma Lei.

4.6.5.2 Multa

A pena de multa, prevista no inciso II do parágrafo 6o do artigo 28 da Lei n.


11.343/2006, também poderá ser aplicada em caso de descumprimento das sanções
previstas nos incisos I, II e III do caput do artigo 28 dessa mesma Lei, em quantidade
nunca inferior a 40 (quarenta) nem superior a 100 (cem) dias-multa, atribuindo a cada
dia-multa, observada a capacidade econômica do agente, o valor de 1/30 (um trinta avos)
até 3 (três) vezes o valor do maior salário mínimo.

SEÇÃO II
ASPECTOS ESPECÍFICOS DA EXECUÇÃO DAS PENAS RESTRITIVAS DE
DIREITOS

Subseção I
Projeções normativas

O Código Penal, no seu artigo 44, parágrafo 4º, e a Lei de Execução Penal,
nos seus artigos 147 a 155, estabelecem normas para a execução das penas restritivas de
direitos, especialmente das penas de prestação de serviços à comunidade, de interdição
temporária de direitos e da pena de limitação de fim de semana.
CAPÍTULO II

264
Das Penas Restritivas de Direitos
SEÇÃO I
Disposições Gerais
Art. 147. Transitada em julgado a sentença que aplicou a pena restritiva de
direitos, o Juiz da execução, de ofício ou a requerimento do Ministério
Público, promoverá a execução, podendo, para tanto, requisitar, quando
necessário, a colaboração de entidades públicas ou solicitá-la a particulares.
Art. 148. Em qualquer fase da execução, poderá o Juiz, motivadamente,
alterar, a forma de cumprimento das penas de prestação de serviços à
comunidade e de limitação de fim de semana, ajustando-as às condições
pessoais do condenado e às características do estabelecimento, da entidade ou
do programa comunitário ou estatal.

Em relação às demais espécies de penas restritivas de direitos, por terem sido


cominadas em datas posteriores à vigência da Lei de Execução Penal, não há a previsão
legal, aplicando-se, no que couber, as normas relativas às demais espécies de penas.

Subseção II
A conversão das penas restritivas de direitos em privativa de liberdade

A conversão das penas restritivas de direito em privativa de liberdade, em


caso de descumprimento, está prevista no parágrafo 4o do artigo 44 do Código Penal.
Art. 44.
[...]
§ 4o A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando
ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta. No cálculo da
pena privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo cumprido da
pena restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta dias de
detenção ou reclusão.

§ 1º Hipótese

A conversão da pena restritiva de direitos em privativa de liberdade,


conforme dispõe a 1a parte do parágrafo 4o do artigo 44 do Código Penal, será possível
quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta. “Art. 44. [...] § 4o A
pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer o
descumprimento injustificado da restrição imposta”.

265
§ 2º Forma de cálculo

Na conversão da pena restritiva de direitos em privativa de liberdade, deverá


ser deduzido o tempo cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo
de 30 (trinta) dias de reclusão ou de detenção. “Art. 44. [...] § 4o [...]No cálculo da pena
privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo cumprido da pena restritiva de
direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta dias de detenção ou reclusão”.

§ 3º Superveniência de condenação à pena privativa de liberdade

Em caso de condenação à pena privativa de liberdade durante o cumprimento


da pena restritiva de direitos, conforme o parágrafo 5o do artigo 44 do Código Penal, o
juiz poderá, conforme o caso, decidir pela conversão ou não desta pena em privação da
liberdade. “Art. 44. [...] § 5o Sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por
outro crime, o juiz da execução penal decidirá sobre a conversão, podendo deixar de
aplicá-la se for possível ao condenado cumprir a pena substitutiva anterior”.

3.1 O juiz decidirá pela conversão

O juiz decidirá pela conversão em caso de ser impossível o cumprimento da


pena restritiva de direito anterior.

3.2 O juiz decidirá pela não conversão

O juiz decidirá pela não conversão em caso de ser possível o cumprimento da


pena restritiva de direito anterior.

266
Subseção III
A duração das penas restritivas de direitos

§ 1º A regra geral de duração das penas restritivas de direito que se estendem


no tempo

As penas restritivas de direitos, segundo a norma do artigo 55 do Código


Penal, têm a mesma duração das penas privativas de liberdade no caso das penas
previstas nos incisos IV, V e VI do artigo 43 do Código Penal, uma vez que, em regra, são
aplicadas em substituição a estas. “Art. 55. As penas restritivas de direitos referidas nos
incisos III, IV, V e VI do art. 43 terão a mesma duração da pena privativa de liberdade
substituída, ressalvado o disposto no § 4o do art. 46”.

§ 2º A quantidade da pena de prestação pecuniária

No entanto, quanto às penas de prestação pecuniária, a sua quantidade varia


entre um mínimo de 1 (um) salário mínimo e um máximo de 360 (trezentos e sessenta)
salários mínimos (art. 45, parágrafo 1o, do Código Penal).
Art. 45.
[...]
§ 1o A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima, a
seus dependentes ou a entidade pública ou privada com destinação social, de
importância fixada pelo juiz, não inferior a 1 (um) salário mínimo nem
superior a 360 (trezentos e sessenta) salários mínimos. O valor pago será
deduzido do montante de eventual condenação em ação de reparação civil, se
coincidentes os beneficiários.

A quantidade da pena de prestação pecuniária a ser aplicada dependerá da


gravidade do dano e da capacidade patrimonial do condenado.

2.1 Critérios adotados pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina na fixação


da prestação pecuniária

Segundo a jurisprudência do Egrégio Tribunal de Justiça de Santa Catarina, a


dosagem da prestação pecuniária deverá levar em consideração a situação econômica do

267
condenado e o grau de reprovabilidade da conduta. É o que se pode depreender da ementa
parcial do acórdão proferido, no dia 28 de julho de 2009, nos autos da Apelação Criminal
n. 2009.014270-7, de São José do Cedro, nos quais foi relator o Desembargador Sérgio
Paladino:
PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA SUBSTITUTIVA DA SANÇÃO CORPORAL
ARBITRADA EM VALOR EXAGERADO SEM FUNDAMENTAÇÃO.
OBRIGAÇÃO DO JUIZ DE ATENTAR PARA A CONDIÇÃO ECONÔMICA
DO RÉU E O GRAU DE REPROVABILIDADE DA CONDUTA. MITIGAÇÃO
QUE SE FAZ MISTER. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. A prestação
pecuniária substitutiva da pena corporal deve ser fixada atendendo às
condições econômicas do apenado e o grau de reprovabilidade da conduta,
incumbindo ao juiz fundamentar a respectiva imposição.

2.2 Critérios adotados pelo Superior Tribunal de Justiça para a dosagem da


prestação pecuniária

Segundo o Superior Tribunal de Justiça, deve-se adotar o critério da


capacidade patrimonial e do dano causado na fixação da quantidade de prestação
pecuniária. É o que se extrai da ementa parcial do seguinte acórdão, proferido, no dia 27
de março de 2012, pela sua Colenda Quinta Turma, nos autos do Habeas Corpus n.
224881, do Mato Grosso do Sul, nos quais foi relator o Ministro Marco Aurélio Bellizze:
[...] 3. Em que pese o comum perfil pecuniário, a prestação pecuniária,
conquanto seja igualmente mensurada com base na capacidade econômica do
réu, possui outra destinação e o claro objetivo de promover a reparação do
dano causado pelo delito, não possuindo uma relação indissociável e
vinculativa com as circunstâncias previstas no artigo 59, do Código Penal,
baseando a sua legitimidade nas razões que determinaram a sua fixação.

§ 3º A quantidade da pena de perda de bens e valores

A pena de perda de bens e valores é quantificada com base no montante do


prejuízo causado ou do proveito obtido pelo agente ou por terceiro, em consequência da
prática do crime (o que for maior), nos termos do art. 45, parágrafo 3o, do Código Penal.
Art. 45.
[...]
§ 3o A perda de bens e valores pertencentes aos condenados dar-se-á,
ressalvada a legislação especial, em favor do Fundo Penitenciário Nacional, e
seu valor terá como teto - o que for maior - o montante do prejuízo causado ou
do provento obtido pelo agente ou por terceiro, em conseqüência da prática do
crime.

268
§ 4º A duração da pena de suspensão da habilitação ou de proibição de obter
a habilitação para dirigir veículo automotor terrestre prevista no Código de Trânsito
Brasileiro (Lei n 9.503, de 23 de setembro de 1997)

Segundo dispõe o artigo 293 do Código de Trânsito Brasileiro, “A penalidade


de suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou a habilitação, para dirigir
veículo automotor, tem a duração de dois meses a cinco anos".

§ 5º A duração da pena de impedimento de comparecimento a estádio


prevista no Estatuto do Torcedor (Lei n. 10.671, de 15 de maio de 2003)
Art. 41-B. Promover tumulto, praticar ou incitar a violência, ou invadir local
restrito aos competidores em eventos esportivos:
Pena - reclusão de 1 (um) a 2 (dois) anos e multa.
§ 1o Incorrerá nas mesmas penas o torcedor que:
I - promover tumulto, praticar ou incitar a violência num raio de 5.000 (cinco
mil) metros ao redor do local de realização do evento esportivo, ou durante o
trajeto de ida e volta do local da realização do evento;
II - portar, deter ou transportar, no interior do estádio, em suas imediações ou
no seu trajeto, em dia de realização de evento esportivo, quaisquer
instrumentos que possam servir para a prática de violência.
§ 2o Na sentença penal condenatória, o juiz deverá converter a pena de
reclusão em pena impeditiva de comparecimento às proximidades do estádio,
bem como a qualquer local em que se realize evento esportivo, pelo prazo de 3
(três) meses a 3 (três) anos, de acordo com a gravidade da conduta, na
hipótese de o agente ser primário, ter bons antecedentes e não ter sido punido
anteriormente pela prática de condutas previstas neste artigo.
§ 3o A pena impeditiva de comparecimento às proximidades do estádio, bem
como a qualquer local em que se realize evento esportivo, converter-se-á em
privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado da
restrição imposta.
§ 4o Na conversão de pena prevista no § 2o, a sentença deverá determinar,
ainda, a obrigatoriedade suplementar de o agente permanecer em
estabelecimento indicado pelo juiz, no período compreendido entre as 2 (duas)
horas antecedentes e as 2 (duas) horas posteriores à realização de partidas de
entidade de prática desportiva ou de competição determinada. (Os grifos não
estão na redação original).

§ 6º A duração da pena de exílio funcional prevista na Lei do Abuso de


Autoridade (Lei n. 4.898, de 9 de dezembro de 1965)
Art. 6º O abuso de autoridade sujeitará o seu autor à sanção administrativa
civil e penal.
§ 1º A sanção administrativa será aplicada de acordo com a gravidade do
abuso cometido e consistirá em: a) advertência; b) repreensão; c) suspensão
do cargo, função ou posto por prazo de cinco a cento e oitenta dias, com perda

269
de vencimentos e vantagens; d) destituição de função; e) demissão; f)
demissão, a bem do serviço público.
§ 2º A sanção civil, caso não seja possível fixar o valor do dano, consistirá no
pagamento de uma indenização de quinhentos a dez mil cruzeiros.
§ 3º A sanção penal será aplicada de acordo com as regras dos artigos 42 a 56
do Código Penal e consistirá em: a) multa de cem a cinco mil cruzeiros; b)
detenção por dez dias a seis meses; c) perda do cargo e a inabilitação para o
exercício de qualquer outra função pública por prazo até três anos.
§ 4º As penas previstas no parágrafo anterior poderão ser aplicadas autônoma
ou cumulativamente.
§ 5º Quando o abuso for cometido por agente de autoridade policial, civil ou
militar, de qualquer categoria, poderá ser cominada a pena autônoma ou
acessória, de não poder o acusado exercer funções de natureza policial ou
militar no município da culpa, por prazo de um a cinco anos" (O grifo não está
na redação original).

SEÇÃO III
VERDADES, FALÁCIAS E DESCRENÇAS SOBRE AS PENAS RESTRITIVAS DE
DIREITOS

Subseção I
Verdades

As penas restritivas de direitos possibilitam pensar em termos de


desprisionalização, porquando, enquando elas são aplicadas, evitam-se as penas
privativas de liberdade.

Subseção II
Falácias

As penas restritivas de direitos diminuem a execução das penas privativas de


liberdade. Essa afirmação não corresponde à realidade, pois, enquanto são aplicadas e
executadas penas restritivas de direitos, resultam mais vagas para a execução das penas
privativas de liberdade, de modo que, em termos numéricos, não há um menor número de
execuções desta modalidade punitiva.

270
Subseção III
Descrenças

As penas restritivas de direitos possibilitam um controle mais efetivo das


condutas infracionais. Não se acredita que essas modalidades punitivas tenham,
efetivamente, contribuído para o controle das condutas penais, o que, também, pode ser
atribuído à falta de estruturas para a sua execução.

271
CAPÍTULO VIII
A PENA DE MULTA COMINADA NO ORDENAMENTO JURÍDICO-PENAL
BRASILEIRO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O presente capítulo trata, especificamente, da pena de multa cominada no


ordenamento jurídico-penal brasileiro. Dividido em três seções, tratará a primeira dos
aspectos históricos e teóricos dessa modaliade de pena; a segunda, dos aspectos
específicos da sua aplicação; e a terceira, dos aspectos específicos da sua execução.

SEÇÃO I
ASPECTOS HISTÓRICOS E TEÓRICOS

Subseção I
Aspectos históricos

A multa é uma modalidade punitiva que encontra suas origens no Direito


germânico, mais especificamente na friedgeld ou fredus, que correspondia à indenização
que o agressor pagava ao soberano para que este não aplicasse a “expulsão da paz”.
A multa (friedgeld ou fredus) se distingue da busse, que era a compra do
direito de vingança da vítima pelo agressor, o que o livrava da vingança.
Trata-se, também, de forma de punição que se distingue da penace, que era a
pena pecuniária devida ao injuriado e imposta por uma autoridade distinta da autoridade
judicial. Era a multa administrativa.
A multa é modalidade punitiva usada desde o Brasil colonial, quando era
aplicada, sobretudo, em fidalgos. A multa esteve presente no ordenamento jurídico penal
desde o Código Penal do Império (art. 55), mantendo-se no Código Penal da República

272
(art. 43, h), na Consolidação das Leis Penais de 1932 (art. 43, h), no Código Penal de
1940 (art. 28, III, e 35) e na Reforma Penal de 1984 (arts. 32. III, e 49 a 58, 60 e 72), bem
como na Lei de Execução Penal (arts. 164 a 170).
O artigo 2o da Lei n. 7.209/1984 (nova Parte Geral do Código Penal) dispôs
sobre o cancelamento das multas na Parte Especial do Código Penal e na legislação
esparsa anterior, isto é, das penas em mil réis, cruzeiros etc., passando a adotar o sistema
de dias-multa.

Subseção II
Conceitos e distinções

§ 1º Conceito

A multa é a espécie de pena definida no artigo 49, caput, Código Penal, que
consiste no pagamento, realizado em dinheiro, ao fundo penitenciário, cuja quantia deve
ser calculada em dias-multa e o valor de cada dia-multa calculado em fração do salário
mínimo vigente à época do fato. “Art. 49 - A pena de multa consiste no pagamento ao
fundo penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no
mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa”.
A multa pode estar prevista na legislação especial em patamares diversos,
como ocorre, por exemplo, no artigo 33, caput, da Lei de Drogas (Lei n. 11.343, de 23 de
agosto de 2006).

§ 2º Distinções entre a multa, a prestação pecuniária, a multa reparatória e a


perda de bens e valores

2.1 A multa

A multa está prevista nos artigos 49 a 51 e 60 do Código Penal, a multa é


devida ao fundo penitenciário e calculada em dias-multa.

273
2.2 A prestação pecuniária

A prestação pecuniária está prevista no artigo 45, parágrafo 1o, do Código


Penal, a prestação pecuniária é devida à vítima, seus dependentes ou a entidades públicas
ou a entidades privadas com destinação social e calculada em salários-mínimos.

2.3 A multa reparatória

A multa reparatória, prevista no artigo 297 do Código de Trânsito Brasileiro,


é devida à vítima ou aos seus sucessores e calculada em dias-multa.

2.4 A perda de bens e valores

A perda de bens e valores está prevista no artigo 45, parágrafo 2o, Código
Penal, a pena de perda de bens e valores é devida ao fundo penitenciário e corresponde ao
montante do prejuízo causado ou ao montante do proveito obtido pelo agente ou por
terceiro, em conseqüência da prática do crime – o que for maior.

Subseção III
Espécies de pena de multa

§ 1º A multa-tipo

A multa-tipo é a prevista, isolada, cumulativa ou alternativamente, no


preceito secundário do tipo penal, como ocorre, por exemplo, no artigo 138 do Código
Penal e na legislação especial, por exemplo, o artigo 33 da Lei 11.343/2006.

274
§ 2 A multa substitutiva

2.1 Substituição da pena privativa de liberdade igual ou inferior a 1 (um) ano

A multa substitutiva está prevista nos artigos 44, parágrafo 2o, 1a parte, e 60,
parágrafo 2o, do Código Penal. “Art. 44. [...] § 2o Na condenação igual ou inferior a um
ano, a substituição pode ser feita por multa ou por uma pena restritiva de direitos;[...]”.
A primeira parte do parágrafo 2o do artigo 44 do Código Penal autoriza a
substituição da pena privativa de liberdade igual ou inferior a 1 (um) ano por multa,
desde que o crime não tenha sido praticado com violência ou grave ameaça à pessoa e
desde que presentes os demais requisitos previstos nos incisos I, II e III desse mesmo
artigo.

2.2 Substituição da pena privativa de liberdade igual ou inferior a 6 (seis)


meses

Também o parágrafo 2o do artigo 60 do Código Penal dispõe que: “Art. 60.


[...] § 2º - A pena privativa de liberdade aplicada, não superior a 6 (seis) meses, pode ser
substituída pela de multa, observados os critérios dos incisos II e III do art. 44 deste
Código”.
O parágrafo 2o do artigo 60 do Código Penal autoriza a substituição da pena
privativa de liberdade igual ou inferior a 6 (seis) meses por multa, independentemente de
ter sido o crime praticado com violência ou grave ameaça à pessoa, desde que presentes
os requisitos previstos nos incisos II e III do artigo 44 desse mesmo Código.

§ 3º A impossibilidade da substituição da pena privativa de liberdade


cumulada com multa em lei especial

A Súmula n. 171 do STJ, sobre a impossibilidade de substituição da pena


privativa de liberdade cominada cumulativamente com multa na legislação especial:

275
“cominadas cumulativamente, em lei especial, penas privativa de liberdade e pecuniária,
e defeso a substituição da prisão por multa”.

SEÇÃO II
ASPECTOS ESPECÍFICOS DA APLICAÇÃO DA PENA DE MULTA

Subseção I
Partes da pena de multa

§ 1º Aspectos gerais

A cominação da pena de multa leva em consideração a quantidade de dias-


multa e o valor do dia-multa. A regra geral estabelecida no Código Penal é no sentido de
que a quantidade de dias-multa será no mínimo de 10 (dez) e no máximo 360 (trezentos e
sessenta) dias-multa (art. 49, caput, do Código Penal). O valor do dia-multa, por sua vez,
não poderá ser inferior a 1/30 (um trigésimo do salário mínimo e nem superior a 5 (cinco)
vezes esse salário.
Art. 49 - A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da
quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 10
(dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa. § 1º - O valor do
dia-multa será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a um trigésimo do
maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5
(cinco) vezes esse salário. § 2º - O valor da multa será atualizado, quando da
execução, pelos índices de correção monetária.

As partes da multa estão previstas no caput e no parágrafo 1o do artigo 49 do


Código Penal.

§ 2º Quantidade de dias-multa

A quantidade de dias-multa segue os parâmetros do artigo 49, caput, do


Código Penal, e o critério trifásico para a sua aplicação, conforme prevê o artigo 68 do

276
Código Penal, havendo uma causa geral de aumento no artigo 60, parágrafo 1o, do
Código Penal.

§ 3º Valor do dia-multa

A fixação do valor do dia-multa segue os parâmetros estabelecidos no artigo


49, parágrafo 1o, do Código Penal, sendo calculado com base na situação econômica do
condenado, conforme estabelece o caput do art. 60 do Código Penal.

Subseção II
A aplicação da pena de multa

Na aplicação da pena, levando em consideração a situação econômica do


condenado, o juiz poderá triplicar o valor do dia-multa (artigo 60, parágrafo 1o, do
Código Penal. “Art. 60 - Na fixação da pena de multa o juiz deve atender,
principalmente, à situação econômica do réu. § 1º - A multa pode ser aumentada até o
triplo, se o juiz considerar que, em virtude da situação econômica do réu, é ineficaz,
embora aplicada no máximo.”

SEÇÃO III
ASPECTOS ESPECÍFICOS DA EXECUÇÃO DA PENA DE MULTA

A execução da pena de multa está prevista nos artigos 50 a 52 do Código


Penal e nos artigos 164 a 170 da Lei n. 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução
Penal). Além disso, em face das alterações imprimidas pela Lei n. 9.268, de 1o de abril de
1996 ao artigo 51 do Código Penal, deverão ser observadas as disposições da Lei n.
6.830, de 22 de setembro de 1980.

277
Subseção I
O título executivo da pena de multa

Segundo a regra do artigo 164 da Lei de Execução Fiscal, “Extraída certidão


da sentença condenatória com trânsito em julgado, que valerá como título executivo
judicial[...]”. Portanto, procede-se a execução da pena de multa a partir da partir da
certidão da sentença condenatória transitada em julgado.

Subseção II
Prazo para pagamento da pena de multa

Conforme a 1a parte do artigo 50 do Código Penal, o prazo para o pagamento


da multa será de 10 (dez) dias. “Pagamento da multa Art. 50 - A multa deve ser paga
dentro de 10 (dez) dias depois de transitada em julgado a sentença”. Esse é o prazo
inicial estipulado para o pagamento, independentemente da propositura da ação
executiva.

Subseção III
Parcelamento da pena de multa

O pagamento da multa, conforme dispõe a 2a parte do caput do artigo 50 do


Código Penal, pode ser parcelado. “Art. 50 – [...] A requerimento do condenado e
conforme as circunstâncias, o juiz pode permitir que o pagamento se realize em parcelas
mensais.”
Além disso, o artigo 169 da Lei de Execução Penal estabelece que:
Art. 169. Até o término do prazo a que se refere o artigo 164 desta Lei, poderá
o condenado requerer ao Juiz o pagamento da multa em prestações mensais,
iguais e sucessivas.

278
§ 1° O Juiz, antes de decidir, poderá determinar diligências para verificar a
real situação econômica do condenado e, ouvido o Ministério Público, fixará o
número de prestações.
§ 2º Se o condenado for impontual ou se melhorar de situação econômica, o
Juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, revogará o benefício
executando-se a multa, na forma prevista neste Capítulo, ou prosseguindo-se
na execução já iniciada.

Subseção IV
Pagamento da pena de multa mediante desconto em folha

O pagamento da multa, conforme dispõe o parágrafo 1º do artigo 50 do


Código Penal, pode ser realizado mediante desconto em folha. “Art. 50 – [...] § 1º - A
cobrança da multa pode efetuar-se mediante desconto no vencimento ou salário do
condenado quando: a) aplicada isoladamente; b) aplicada cumulativamente com pena
restritiva de direitos; c) concedida a suspensão condicional da pena”.
Além disso, os artigos 168 e 170 da Lei de Execução Penal estabelecem que:
Art. 168. O Juiz poderá determinar que a cobrança da multa se efetue
mediante desconto no vencimento ou salário do condenado, nas hipóteses
do artigo 50, § 1º, do Código Penal, observando-se o seguinte:
I - o limite máximo do desconto mensal será o da quarta parte da remuneração
e o mínimo o de um décimo;
II - o desconto será feito mediante ordem do Juiz a quem de direito;
III - o responsável pelo desconto será intimado a recolher mensalmente, até o
dia fixado pelo Juiz, a importância determinada.
[...]
Art. 170. Quando a pena de multa for aplicada cumulativamente com pena
privativa da liberdade, enquanto esta estiver sendo executada, poderá aquela
ser cobrada mediante desconto na remuneração do condenado (artigo 168).
§ 1º Se o condenado cumprir a pena privativa de liberdade ou obtiver
livramento condicional, sem haver resgatado a multa, far-se-á a cobrança nos
termos deste Capítulo.
§ 2º Aplicar-se-á o disposto no parágrafo anterior aos casos em que for
concedida a suspensão condicional da pena.

279
Subseção V
Proibição de o desconto comprometer o sustento pessoal e familiar

Segundo o parágrafo 2º do artigo 50 do Código Penal, o desconto da pena de


multa não poderá comprometer o sustento pessoal e familiar. “Art. 50 – [...] § 2º - O
desconto não deve incidir sobre os recursos indispensáveis ao sustento do condenado e
de sua família”.

Subseção VI
Impossibilidade da conversão da pena de multa em pena privativa de liberdade

O não pagamento da multa, segundo dispõe o artigo 51 do Código Penal, não


pode resultar em conversão em pena privativa de liberdade, devendo a multa ser tratada,
apenas, como dívida de valor, observada a legislação relativa à execução da dívida ativa.
Conversão da Multa e revogação Art. 51 - Transitada em julgado a sentença
condenatória, a multa será considerada dívida de valor, aplicando-se-lhes as
normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no
que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição.

A lei que regula a execução da dívida ativida é a Lei no 6.830, de 22 de


setembro de 1980.
Ressalta-se que ocorreu a revogação tácita do artigo 9o da Lei de
Contravenções Penai pela norma do art. 51 do Código Penal, que é aplicável à Lei de
Contravenções Penais por força do art. 1o desta, de modo que a conversão da pena de
multa em pena privativa de liberdade também se aplica à multa aplicada pela prática de
contravenção penal.

280
Subseção VII
Legitimidade para a execução da pena de multa

Há controvérsia sobre quem detém legitimidade para a propor ação de


execução da pena de multa, se do Ministério Público ou da Procuradoria da Fazenda
nacional.

§ 1º A legitimidade é do Ministério Público

Para uma corrente, a legitimidade para propor ação de execução da pena de


multa é do do Ministério Público, conforme previsto no caput do artigo 164 da Lei de
Execução Penal:
Art. 164. Extraída certidão da sentença condenatória com trânsito em julgado,
que valerá como título executivo judicial, o Ministério Público requererá, em
autos apartados, a citação do condenado para, no prazo de 10 (dez) dias,
pagar o valor da multa ou nomear bens à penhora. (O grifo não está na
redação original).

Além disso, essa legitimidade é uma decorrência da legitimidade prevista no


inciso I do artigo 129 da Constituição Federal, que estabelece que “Art. 129. São funções
institucionais do Ministério Público: I - promover, privativamente, a ação penal pública,
na forma da lei;”. Como o legislador constituinte não fez distinção entre as fases de
conhecimento, catelares e executiva, estaria preservada a legitimidade do Ministério
Público para a propositura para qualquer espécie de ação penal, seja ela de conhecimento,
cautelar ou executiva. Está em curso, no Supremo Tribunal Federal, o julgamento da
Ação Declaratória de Inconstitucionalidade n. 3150, que trata da constitucionalidade do
artigo 51 do Código Penal, em especial no que tange à legitimidade do Ministério Público
para a propositura da ação executiva da pena de multa.

§ 2º Legitimidade da Procuradoria da Fazenda Nacional

Em face da redação imprimida ao artigo 51 do Código Penal, pela Lei n.


9.268, de 1o de abril de 1996, passou a surgir uma corrente no sentido de que a

281
legitimidade para a execução da pena de multa passou a ser da Procuradoria da Fazenda
Nacional, uma vez que a pena de multa passou a ser concebida como dívida de valor e é
devida ao fundo penitenciário nacional. Nesse sentido, também, é o entendimento
pacificado pelo Egrégio Superior Tribunal de Justiça, conforme o enunciado da sua
Súmula n. 521: "A legitimidade para a execução fiscal de multa pendente de pagamento
imposta em sentença condenatória é exclusiva da Procuradoria da Fazenda Pública".

Subseção VII
Suspensão da execução da pena de multa

Em caso de superveniência de doença mental, conforme dispõe o art. 52 do


Código Penal, a execução da pena de multa deverá ser suspensa. “Art. 52 - É suspensa a
execução da pena de multa, se sobrevém ao condenado doença mental”. Igualmente, o
artigo 167 da Lei de Execução Penal estabelece que “A execução da pena de multa será
suspensa quando sobrevier ao condenado doença mental (artigo 52 do Código Penal)”.

282
CAPÍTULO IX
A SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O presente capítulo trata do instituto da suspensão condicional da pena


privativa de liberdade, também conhecido como sursis. Dividido em três seções, este
capítulo tratará, na primeira, dos aspectos históricos e teóricos desse instituto; a segunda,
dos aspectos específicos da concessão desse benefício; e a terceira, dos aspectos
específicos da sua execução.

SEÇÃO I
ASPECTOS HISTÓRICOS E TEÓRICOS

Subseção I
Aspectos históricos

A suspensão condicional da pena ingressou no ordenamento jurídico penal


brasileiro por meio do Decreto n. 16.588, de 6 de setembro de 1924, e sofreu limitações à
sua aplicação na Consolidação das Leis Penais de 1932, uma vez que não podia ser
aplicada em relação a algumas infrações penais, tais como alguns delitos de opinião, o
tráfico de drogas, o atentado contra direitos políticos e a contravenção do jogo do bicho.
A Lei n. 6.416, de 24 de maio de 1977, ampliou as possibilidades de
aplicação da suspensão condicional da pena, limitando a restrição decorrente da
condenação anterior ao prazo de 5 (cinco) anos, ou seja, a enquanto durarem os efeitos da
reincidência.
Com a ampliação, pela Lei n. 9.714, de 25 de novembro de 1998, das
hipóteses de substituição da pena privativa de liberdade por outras modalidades punitivas,

283
passando a abranger, em regra, as condenações de até 4 (quatro) anos, desde que não
relativas a crimes dolosos praticados com violência ou grave ameaça à pessoa, a
suspensão condicional da pena teve a sua aplicação reduzida, sobretudo aos crimes
praticados com violência ou grave ameaça.

Subseção II
Conceitos e distinções

§ 1º Conceito

Conforme se pode depreender dos artigos 77 e seguintes do Código Penal e


dos artigos 156 a 163 da Lei de Execução Penal, a suspensão condicional da pena ou
sursis é um instituto desprisionalizador de origem francesa que incide no momento da
condenação, apenas, em relação à pena privativa de liberdade, não alcançando, portanto,
as penas restritivas de direito e a multa, conforme estabelece, expressamente, o artigo 80
do Código Penal.
O juiz da condenação deve analisar o mérito do pedido e, em caso de
condenação, deverá aplicar a pena correspondente, podendo suspendê-la
condicionalmente, caso tenha aplicado a pena privativa de liberdade, não seja caso de
substituí-la e se estiverem presentes os requisitos legais.
Assim, vencida a etapa dos substitutivos penais e não sendo a hipótese de
substituição da pena privativa de liberdade por multa ou pena restritiva de direito, deverá
o juiz passar à fase da análise, se for o caso, da concessão ou não da suspensão
condicional da pena.
Diz-se que o sursis é um instituto desprisionalizador, uma vez que evita que o
condenado ingresse no sistema prisional. Há dúvida, no entanto, se tal instituto é também
despenalizador, pois tem como condições medidas definidas como penas restritivas de
direitos. De qualquer forma, não há dúvidas sobre o caráter sancionatório desse instituto,
uma vez que as condições estabelecidas representam consequências que não podem ser
desconsideradas.

284
§ 2º Distinções da suspensão condicional da pena em relação ao “probation”
e à suspensão condicional do processo

A suspensão condicional da pena distingue-se dos institutos do probation e da


suspensão condicional do processo.

2.1 Probation

O probation é um instituto do direito estadounidense, que incide antes da


aplicação da pena. Nesse caso, o juiz condena o réu, mas não aplica a pena, pois
determina, antes, que o condenado seja submetido à prova, o que significa dizer que o
condenado é posto em prova sem conhecer a pena que lhe poderá ser imposta e deverá
cumprir em caso de revogação do benefício.
No sursis, diferentemente, o réu é condenado e lhe é aplicada a pena privativa
de liberdade, que é suspensa, desde que presentes os requisitos legais, de modo a ter,
desde já, a possibilidade de conhecer a pena que lhe foi imposta e que terá de cumprir em
caso de revogação do benefício.

2.2 A suspensão condicional do processo

A suspensão condicional do processo ou sursis processual é um instituto


muito semelhante ao sursis da pena, embora incida no momento inicial do processo, isto
é, após o oferecimento da denúncia, e desde que presentes os requisitos legais, por
proposta do Ministério Público, caso seja aceita, pelo réu e seu defensor, conforme os
artigos 89 e seguintes da Lei n. 9.099, de 26 de setembro de 1995.
Conforme se pode perceber, esse benefício se distingue do sursis, pois este é
concedido, unilateralmente, pelo juiz, na sentença penal condenatória, isto é, ao término
do processo, enquanto que a suspensão condicional do processo, fruto do consenso entre
as partes, pode ser concedido desde o início do processo.

285
Além disso, o sursis tem como parâmetro de cabimento a pena aplicada, que
não poderá exceder, em regra, a 2 (dois) anos, ou 4 (quatro) anos, em se tratando de
sursis etário e sursis humanitário, enquanto que a suspensão condicional do processo é
cabível se a pena mínima cominada for igual ou inferior a 1 (um) ano.

Subseção III
Espécies de suspensão condicional da pena

As espécies de sursis estão previstas nos artigos 77, caput e parágrafo 2o, e
78, parágrafos 1o e 2o, todos do Código Penal. O sursis comum está previsto no artigo 77,
caput e 78, parágrafo 1o, do Código Penal; o sursis especial, por sua vez, está previsto no
artigo 77, caput, e parágrafo 2o do artigo 78 do Código Penal; e os sursis humanitário e
etário, por fim, estão previstos no parágrafo 2o do artigo 77 do Código Penal.

§ 1º Sursis comum

O sursis comum está previsto no artigo 77, caput, e no artigo 78, parágrafo
1o, ambos do Código Penal, quando, no primeiro ano do período de prova, o condenado
fica obrigado a prestar serviços à comunidade ou à limitação de fim de semana.
Art. 78 - Durante o prazo da suspensão, o condenado ficará sujeito à
observação e ao cumprimento das condições estabelecidas pelo juiz.
§ 1º - No primeiro ano do prazo, deverá o condenado prestar serviços à
comunidade (art. 46) ou submeter-se à limitação de fim de semana (art. 48).

§ 2º Sursis especial

O sursis especial está previsto no artigo 77, caput, e no artigo 78, parágrafo
2o, ambos do Código Penal, quando as condições do parágrafo 1o do artigo 78 forem
substituídas por outras condições, desde que as circunstâncias judiciais forem
inteiramente favoráveis.
Art. 78 - Durante o prazo da suspensão, o condenado ficará sujeito à
observação e ao cumprimento das condições estabelecidas pelo juiz.
§ 1º

286
[...]
§ 2° Se o condenado houver reparado o dano, salvo impossibilidade de fazê-lo,
e se as circunstâncias do art. 59 deste Código lhe forem inteiramente
favoráveis, o juiz poderá substituir a exigência do parágrafo anterior pelas
seguintes condições, aplicadas cumulativamente:
a) proibição de freqüentar determinados lugares;
b) proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do juiz;
c) comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar
e justificar suas atividades.

§ 3º Sursis etário

O sursis etário, que foi inserido no Código Penal por meio da Lei n. 9.714, de
25 de novembro de 1998, está previsto no parágrafo 2º do seu artigo 77 e é cabível
quando a pena aplicada não exceder a 4 (quatro) anos, desde que o condenado seja maior
de setenta anos de idade: “Art. 77 [...] § 2o A execução da pena privativa de liberdade,
não superior a quatro anos, poderá ser suspensa, por quatro a seis anos, desde que o
condenado seja maior de setenta anos de idade, ou razões de saúde justifiquem a
suspensão”. (O grifo não está na redação original)].

§ 4º Sursis humanitário

O sursis humanitário, igualmente previsto no parágrafo 2o do artigo 77 do


Código Penal e também inserido pela Lei n. 9.714/1998, é cabível quando o condenado
apresentar condições precárias de saúde que justifiquem a suspensão, quando a pena
aplicada não exceder a 4 (quatro) anos: “Art. 77 [...] § 2o A execução da pena privativa
de liberdade, não superior a quatro anos, poderá ser suspensa, por quatro a seis anos,
desde que o condenado seja maior de setenta anos de idade, ou razões de saúde
justifiquem a suspensão”. (O grifo não está na redação original).

§ 5º Sursis da Lei de Contravenções Penais

Conforme estabelecem os artigos 1o e 11 da Lei de Contravenções Penais,


combinados com o artigo 77, caput e parágrafo 2o, do Código Penal, é possível a
concessão do sursis aos condenados à prisão simples, se esta não exceder a 2 (dois) anos,

287
ou 4 (quatro) anos, no caso dos sursis etário e humanitário, pelo período de prova de 1
(um) a 3 (três) anos. “Art. 11. Desde que reunidas as condições legais, o juiz pode
suspender por tempo não inferior a um ano nem superior a três, a execução da pena de
prisão simples, bem como conceder livramento condicional”.

§ 6º Aplicação às contravenções das espécies de sursis previstas no Código


Penal

Por força do artigo 1o da Lei de Contravenções Penais, aplica-se o Código


Penal às contravenções penais, no que não for conflitante. Assim, há, em relação ao sursis
previsto na Lei das Contravenções Penais, também, as espécies de sursis previstas no
Código Penal.

SEÇÃO II
ASPECTOS ESPECÍFICOS DA CONCESSÃO DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DA
PENA

Subseção I
Competência para a concessão

Segundo o artigo 157 da Lei de Execução penal, a concessão do sursis é da


competência do juiz ou tribunal que aplicar a pena privativa de liberdade, ou seja, do
juízo da condenação: “Art. 157. O Juiz ou Tribunal, na sentença que aplicar pena
privativa de liberdade, na situação determinada no artigo anterior, deverá pronunciar-se,
motivadamente, sobre a suspensão condicional, quer a conceda, quer a denegue”.
Conforme se pode perceber, a suspensão condicional da pena deve ser objeto
de análise obrigatória por ocasião da prolação da sentença condenatória, em caso de
aplicação de pena privativa de liberdade.
Ressalta-se, no entanto, que, mesmo sendo concedida pela autoridade
judiciária, pode o apenado recusá-la, bastando que não compareça na audiência

288
admonitória referida no artigo 160 da Lei de Execução Penal, para a qual haja sido,
pessoal ou editaliciamente intimado, cuja ausência, imotivada, implicará a execução
imediata da pena privativa de liberdade, resultando sem efeito a suspensão da pena,
conforme disposto no artigo 161 desse mesmo diploma legal.
Essa hipótese revela a necessidade de aceitação do benefício, o que significa
dizer que este é regido, também, pelo princípio da consensualidade.

Subseção II
Hipóteses de cabimento da suspensão condicional da pena

As hipóteses de cabimento da suspensão condicional da pena estão previstas


no artigo 77, caput, no seu inciso III e no seu parágrafo 2o, do Código Penal, isto é, a
suspensão condicional da pena somente é cabível em relação às penas privativas de
liberdade que, como regra geral, não excederem a 2 (dois) anos, ou que não excederem a
4 (quatro) anos, em se tratando de sursis etário e humanitário. Além disso, segundo se
depreende do inciso III do artigo 77 do Código Penal, a suspensão condicional da pena
somente é possível se não for indicada ou cabível a substituição prevista no artigo 44 do
Código Penal.
Como a aplicação do instituto da substituição penal resultou ampliada após a
vigência da Lei no 9.714, de 25 de novembro de 1998, abrangendo os crimes dolosos
praticados sem violência ou grave ameaça cuja pena aplicada não ultrapassar a 4 (quatro)
anos e os crimes culposos, qualquer que seja a pena aplicada, o sursis resultou cabível,
somente para os crimes praticados com violência ou grave ameaça à pessoa.
Assim, como regra geral, é possível a suspensão condicional da pena quando
não foi aplicada pena privativa de liberdade superior a 2 (dois) anos: “Art. 77 - A
execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser
suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos,[...]”. E, como hipóteses especiais, é possível a
concessão desse benefício desprisionalizador, também, quando não foi aplicada pena
privativa de liberdade superior a 4 (quatro) anos: “Art. 77 [...] § 2o A execução da pena
privativa de liberdade, não superior a quatro anos, poderá ser suspensa, por quatro a

289
seis anos, desde que o condenado seja maior de setenta anos de idade, ou razões de
saúde justifiquem a suspensão”.

Subseção III
Requisitos da suspensão condicional da pena

Conforme dispõe o artigo 77, caput, I a III, e parágrafo 1o, do Código Penal,
para a concessão da suspensão condicional da pena, exigem-se os seguintes requisitos:

§ 1º Não ser o condenado reincidente em crime doloso, salvo se essa


condenação anterior for, apenas, à pena de multa

Conforme dispõe o artigo 77, caput, inciso I, e parágrafo 1o, do Código Penal,
para que ser concedido o benefício da suspensão condicional da pena, o condenado não
pode ter sido condenado, por crime doloso, às penas privativa de liberdade ou restritivas
de direito. Conforme a Súmula n. 499 do Supremo Tribunal Federal, “não obsta à
concessão do ‘sursis’ condenação anterior à pena de multa”.

§ 2º Serem favoráveis as circunstâncias judiciais indicadas no inciso II do


artigo 77, caput, do Código Penal

As circunstâncias judiciais que devem ser favoráveis são a culpabilidade, os


antecedentes, a conduta social, a personalidade do agente, bem como os motivos e as
circunstâncias do crime.

§ 3º Não ter a pena privativa de liberdade sido substituída por outras


modalidades punitivas

Conforme o artigo 77, caput, inciso III, do Código Penal, não será cabível a
suspensão condicional da pena, se a pena privativa de liberdade for substituída por outras

290
modalidades punitivas, isto porque aquele benefício somente é cabível em relação às
penas privativas de liberdade.

Subseção IV
Períodos de prova da suspensão condicional da pena

Os períodos de prova da suspensão condicional do processo estão


estabelecidos no artigo 77, caput e § 2o, Código Penal, e no artigo 11 da Lei de
Contravenções Penais.

§ 1º Como regra geral

Como regra geral, conforme dispõe o caput do artigo 77 do Código penal, o


período de prova da suspensão condicional da pena comum é de 2 (dois) a 4 (quatro)
anos.

§ 2º Do sursis humanitário e etário

Como regra especial, conforme dispõe o parágrafo 2o do artigo 77 do Código


Penal, o período de prova do sursis etário e humanitário é de 4 (quatro) a 6 (seis) anos.

§ 3º Do sursis da Lei de Contravenções Penais

Segundo dispõe o artigo 11 da Lei de Contravenções Penais, o período de


prova do sursis da Lei de Contravenções Penais é de 1 (um) ano a 3 (três) anos.

291
Subseção V
Condições da suspensão condicional da pena

As condições da suspensão da pena podem ser obrigatórias ou facultativas.

§ 1º Condições obrigatórias da suspensão da pena

As condições obrigatórias da suspensão condicional do processo estão


previstas nos parágrafos 1o e 2o do artigo 78 do Código Penal:
Art. 78 - Durante o prazo da suspensão, o condenado ficará sujeito à
observação e ao cumprimento das condições estabelecidas pelo juiz. § 1º - No
primeiro ano do prazo, deverá o condenado prestar serviços à comunidade
(art. 46) ou submeter-se à limitação de fim de semana (art. 48). § 2° Se o
condenado houver reparado o dano, salvo impossibilidade de fazê-lo, e se as
circunstâncias do art. 59 deste Código lhe forem inteiramente favoráveis, o
juiz poderá substituir a exigência do parágrafo anterior pelas seguintes
condições, aplicadas cumulativamente: a) proibição de freqüentar
determinados lugares; b) proibição de ausentar-se da comarca onde reside,
sem autorização do juiz; c) comparecimento pessoal e obrigatório a juízo,
mensalmente, para informar e justificar suas atividades.

1.1 Prestação de serviços à comunidade ou limitação de final de semana no


primeiro ano do período de prova

Conforme o parágrafo 1o do artigo 78 do Código Penal, o juiz deverá


estabelecer, como condição da suspensão da pena, no primeiro ano do período de prova,
que o condenado preste serviços à comunidade ou que se submeta à limitação de fim de
semana. Como se pode perceber, o que ocorrer é uma espécie de substituição da pena
privativa de liberdade por pena restritiva de direitos, pelo menos no primeiro ano do
período de prova, o que permite afirmar que a suspensão condicional da pena não é uma
medida despenalizadora, mas sim, tão somente, desprisionalizadora: “Art. 78 [...] § 1º -
No primeiro ano do prazo, deverá o condenado prestar serviços à comunidade (art. 46)
ou submeter-se à limitação de fim de semana (art. 48)”.

292
1.2 Possibilidade de substituição da prestação de serviços à comunidade ou da
limitação de fim de semana por outras condições

Conforme autoriza o parágrafo 2o do artigo 78 do Código penal, se o


condenado houver reparado o dano, salvo impossibilidade de fazê-lo, e se as
circunstâncias do artigo 59 deste Código lhe forem inteiramente favoráveis, o juiz poderá
substituir a prestação de serviços à comunidade ou a limitação de fim de semana, no
primeiro ano do período de prova, pelas seguintes condições: a) proibição de freqüentar
determinados lugares; b) proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem
autorização do juiz; e c) comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente,
para informar e justificar suas atividades:
Art. 78 [...] § 2° Se o condenado houver reparado o dano, salvo
impossibilidade de fazê-lo, e se as circunstâncias do art. 59 deste Código lhe
forem inteiramente favoráveis, o juiz poderá substituir a exigência do
parágrafo anterior pelas seguintes condições, aplicadas cumulativamente: a)
proibição de freqüentar determinados lugares; b) proibição de ausentar-se da
comarca onde reside, sem autorização do juiz; c) comparecimento pessoal e
obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades.

Os requisitos para essa substituição, conforme estabelece o parágrafo 2o do


artigo 78 do Código Penal, são os seguintes: a) a reparação do dano causado pelo
condenado, salvo a impossibilidade de fazê-lo; b) as circunstâncias judiciais do artigo 59,
caput, do Código Penal, devem ser inteiramente favoráveis.

§ 2º Condições facultativas da suspensão da pena

As condições facultativas estão autorizadas no artigo 79 do Código Penal e


podem ser fixadas pelo juiz, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do
condenado: “Art. 79 - A sentença poderá especificar outras condições a que fica
subordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do
condenado”.

293
SEÇÃO III
ASPECTOS ESPECÍFICOS DA EXECUÇÃO DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DA
PENA

Subseção I
A audiência admonitória da suspensão condicional da pena

Fixadas as condições da suspensão da pena e transitada em julgado a sentença


penal condenatória, deverá ser designada audiência admonitória, nos termos do artigo
160 da Lei de Execução Penal: “Art. 160. Transitada em julgado a sentença
condenatória, o Juiz a lerá ao condenado, em audiência, advertindo-o das conseqüências
de nova infração penal e do descumprimento das condições impostas”.

Subseção II
A fiscalização das condições da suspensão condicional da pena

Segundo o artigo 158, parágrafos 3o, 4o e 5o, da Lei de Execução Penal, a


fiscalização do cumprimento das condições da suspensão da pena deverá ser realizada
pelo serviço social penitenciário, pelo Patronato, pelo Conselho da Comunidade ou pela
instituição beneficiada com a prestação de serviços:
Art. 158.
[...]
§ 3º A fiscalização do cumprimento das condições, reguladas nos Estados,
Territórios e Distrito Federal por normas supletivas, será atribuída a serviço
social penitenciário, Patronato, Conselho da Comunidade ou instituição
beneficiada com a prestação de serviços, inspecionados pelo Conselho
Penitenciário, pelo Ministério Público, ou ambos, devendo o Juiz da execução
suprir, por ato, a falta das normas supletivas.
§ 4º O beneficiário, ao comparecer periodicamente à entidade fiscalizadora,
para comprovar a observância das condições a que está sujeito, comunicará,
também, a sua ocupação e os salários ou proventos de que vive.
§ 5º A entidade fiscalizadora deverá comunicar imediatamente ao órgão de
inspeção, para os fins legais, qualquer fato capaz de acarretar a revogação do
benefício, a prorrogação do prazo ou a modificação das condições.

294
Subseção III
Modificação das condições da suspensão condicional da pena

A modificação das condições e as regras da suspensão da pena, segundo os


artigos 158, parágrafo 2o, e 159 da Lei de Execução Penal, poderão ser realizadas de
ofício ou a pedido do Ministério Público ou mediante proposta do Conselho Penitenciário
do Estado, após ouvido o condenado. “Art. 158.[...] § 2º O Juiz poderá, a qualquer
tempo, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante proposta do
Conselho Penitenciário, modificar as condições e regras estabelecidas na sentença,
ouvido o condenado”.

Subseção IV
Possibilidade de cumprimento das condições da suspensão condicional da pena em
outra Comarca

Conforme dispõe o artigo 158, parágrafo 6o, da Lei de Execução Penal, é


possível o cumprimento das condições da suspensão da pena em outra comarca: “Art.
158. [...] § 6º Se for permitido ao beneficiário mudar-se, será feita comunicação ao Juiz
e à entidade fiscalizadora do local da nova residência, aos quais o primeiro deverá
apresentar-se imediatamente”.

Subseção V
Revogação da suspensão condicional da pena

A suspensão condicional da pena pode ser revogada, podendo essa revogação


ser automática, obrigatória e facultativa. Conforme dispõe o artigo 162 da Lei de
Execução Penal, “a revogação da suspensão condicional da pena e a prorrogação do

295
período de prova dar-se-ão na forma do artigo 81 e respectivos parágrafos do Código
Penal”.

§ 1º Revogação automática

Conforme se pode depreender do artigo 161 da Lei de Execução Penal,


quando o beneficiário da suspensão condicional da pena, desde que intimado
pessoalmente, não comparecer na audiência admonitória de que trata o artigo 160 dessa
mesma Lei, ocorrerá a suspensão ficará sem efeito e será executada imediatamente a
pena, o que implica reconhecer que ocorre a revogação automática desse benefício: “Art.
161. Se, intimado pessoalmente ou por edital com prazo de 20 (vinte) dias, o réu não
comparecer injustificadamente à audiência admonitória, a suspensão ficará sem efeito e
será executada imediatamente a pena”.

§ 2º A revogação obrigatória

As hipóteses de revogação obrigatória da suspensão condicional da pena


estão previstas no caput do artigo 81 do Código Penal:
Revogação obrigatória
Art. 81 - A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário:
I - é condenado, em sentença irrecorrível, por crime doloso;
II - frustra, embora solvente, a execução de pena de multa ou não efetua, sem
motivo justificado, a reparação do dano;
III - descumpre a condição do § 1º do art. 78 deste Código.

§ 3º A revogação facultativa

As hipóteses de revogação facultativa estão previstas no parágrafo 1o do


artigo 81 do Código Penal: “Art. 81. [...] Revogação facultativa - § 1º - A suspensão
poderá ser revogada se o condenado descumpre qualquer outra condição imposta ou é
irrecorrivelmente condenado, por crime culposo ou por contravenção, a pena privativa
de liberdade ou restritiva de direitos”.
No tange à condenação irrecorrível, por crime culposo ou por contravenção, à
pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos, deve-se ressaltar que, como a

296
condenação anterior à pena de multa não é óbice à concessão da suspensão condicional
da pena (artigo 77, parágrafo 1o, do Código Penal), a condenação posterior também não é
causa para a revogação do benefício.

Subseção VI
Prorrogação do período de prova da suspensão condicional da pena

O artigo 81, parágrafo 2o, do Código Penal estabelece a possibilidade de


prorrogação do período de prova da suspensão condicional da pena, que poderá ser
obrigatória ou facultativa.

§ 1º Prorrogação obrigatória até o julgamento definitivo

Quando o beneficiário está sendo processado por outro crime ou


contravenção [Conforme o artigo 81, parágrafo 2o, do Código Penal, considera-se
prorrogado, obrigatoriamente, o prazo da suspensão até o julgamento definitivo do
processo, se o beneficiário da suspensão condicional da pena estiver sendo processado
por outro crime ou contravenção penal: “Art. 81. [...] Prorrogação do período de prova -
§ 2º - Se o beneficiário está sendo processado por outro crime ou contravenção,
considera-se prorrogado o prazo da suspensão até o julgamento definitivo”.

§ 2º Prorrogação facultativa até o máximo do período de prova

O artigo 81, parágrafo 3o, do Código Penal, por outro lado, dispõe que poderá
ocorrer a prorrogação facultativa do período de prova, até o limite máximo permitido, se
este já não houver sido fixado, nas hipóteses de revogação facultativa do benefício,
podendo o juiz optar entre a revogação e a prorrogação. “Art. 81. [...] Prorrogação do
período de prova - § 3º - Quando facultativa a revogação, o juiz pode, ao invés de
decretá-la, prorrogar o período de prova até o máximo, se este não foi o fixado”.

297
Subseção VII
Cumprimento das condições da suspensão condicional da pena e extinção da pena

Dispõe o artigo 82 do Código Penal que, expirado o período de prova, ou


seja, o prazo da suspensão condicional da pena, sem que tenha havido revogação,
considera-se extinta a pena privativa de liberdade: “Cumprimento das condições - Art. 82
- Expirado o prazo sem que tenha havido revogação, considera-se extinta a pena
privativa de liberdade”.
Todavia, segundo o entendimento firmado, pela Segunda Turma do Supremo
Tribunal Federal, nos autos do Habeas Corpus n. 91562, do Paraná, nos quais foi relator
o Ministro Joaquim Barbosa, em julgamento ocorrido no dia 9 de outubro de 2007, é
possível a revogação da suspensão condicional da pena, em face do descumprimento das
condições impostas ocorrido durante o período de prova, mesmo que a decisão tenha
ocorrido após o transcurso deste:
HABEAS CORPUS. SUSPENSÃO CONDICIONAL DA EXECUÇÃO DA
PENA. DESCUMPRIMENTO DOS REQUISITOS. REVOGAÇÃO APÓS O
TÉRMINO DO PERÍODO DE PROVA. POSSIBILIDADE. EXTINÇÃO DA
PRETENSÃO EXECUTÓRIA PELA PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA.
DURANTE O PERÍODO DE PROVA DO SURSIS NÃO CORRE PRAZO DE
PRESCRIÇÃO. ORDEM DENEGADA. 1. Constatado o descumprimento de
condição imposta durante o período de prova do sursis, é perfeitamente
cabível a revogação do benefício, ainda que a decisão venha a ser proferida
após o término do período de prova. Precedentes. 2. Alegação de extinção da
pretensão executória pela ocorrência da prescrição. Embora o Código Penal
não considere, de forma explícita, a suspensão condicional (sursis) como
causa impeditiva da prescrição, esse efeito deflui da lógica do sistema vigente.
Precedentes. Prescrição da pretensão executória que não se verifica na
espécie. 3. Ordem denegada.

Subseção VIII
Registros e sigilo acerca da suspensão condicional da pena

Estabelece o artigo 163 da Lei de Execução Penal que:

298
Art. 163. A sentença condenatória será registrada, com a nota de suspensão
em livro especial do Juízo a que couber a execução da pena. § 1º Revogada a
suspensão ou extinta a pena, será o fato averbado à margem do registro. § 2º
O registro e a averbação serão sigilosos, salvo para efeito de informações
requisitadas por órgão judiciário ou pelo Ministério Público, para instruir
processo penal.

299
CAPÍTULO X
AS MEDIDAS DE SEGURANÇA COMINADAS NO ORDENAMENTO
JURÍDICO-PENAL BRASILEIRO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O presente capítulo trata das medidas de segurança cominadas no


ordenamento jurídico penal brasileiro. Dividido em três seções, a primeira tratará dos
aspectos teóricos, filosóficos e históricos das medidas de segurança; a segunda, dos
aspectos específicos dda aplicação dessa espécie de sanção penal; e a terceira, dos
aspectos específicos da sua execução.

SEÇÃO I
ASPECTOS TEÓRICOS, FILOSÓFICOS E HISTÓRICOS

Subseção I
Conceito

As medidas de segurança são consequências penais passíveis de serem


impostas a inimputáveis e a semi-imputáveis que necessitarem de tratamento psiquiátrico,
neste caso, em substituição à pena privativa de liberdade. Pode-se dizer, em suma, que a
medida de segurança é a consequência penal primária aplicável aos inimputáveis, pela
prática de uma conduta qualificada, na sentença penal absolutória, após um juízo
definitivo e de certeza, como um injusto penal (conduta típica e antijurídica), porquanto
presumida, neste caso, a periculosidade. Essas medidas, também, podem ser aplicadas aos
semi-imputáveis que necessitarem de tratamento psiquiátrico, sendo, por isso,
considerados perigosos, pela prática de uma conduta qualificada, na sentença penal
condenatória, como crime ou contravenção penal. Essas consequências penais devem
estar cominadas na lei penal estrita, escrita, certa e prévia, sendo passíveis de serem

300
aplicadas pelo Poder Judiciário, em face de uma ação penal e no devido e justo processo
penal, e de serem executadas conforme os limites legais com o propósito predominante
de prevenir a ocorrência de outras condutas lesivas.115

Subseção II
Fundamentos Filosóficos

Enquanto a Escola Clássica fundamentou a responsabilidade penal no livre-


arbítrio (responsabilidade moral) e sustentou que a resposta penal deveria ser, somente, a
pena, a Escola Positiva, fundamentou a responsabilidade penal no determinismo
(responsabilidade social ou legal) e sustentou que a resposta penal deveria ser, somente, a
medida de segurança. A Escola técnico-jurídica ou neoclássica defende a necessidade de
um o sistema misto, em que as respostas penais podiam abranger tanto as penas quanto as
medidas de segurança. Portanto, as medidas de segurança são modalidades de sanções
penais que encontram seus fundamentos filosóficos na Escola Positiva.

Subseção III
Aspectos históricos

As medidas de segurança foram instituídas, no Brasil, por meio do Código


Penal de 1940. Até então, os doentes mentais que praticavam ilícitos penais não estavam
sujeitos a consequências penais, pois eram tratado como doentes e não como criminosos.
A propósito, na vigência do Código Penal de 1890, conforme o seu artigo 27,
não podiam ser tratados como criminosos os loucos, os doentes mentais, os que tivessem
privados de sentidos e inteligência e os surdos-mudos que não obrarem com
discernimento.
Art. 27. Não são criminosos:
[...]

115
BISSOLI FILHO, Francisco. A sanção penal e as suas espécies. Curitiba: Juruá, 2010. p. 112.

301
§ 3º Os que por imbecilidade nativa, ou enfraquecimento senil, forem
absolutamente incapazes de imputação;
§ 4º Os que se acharem em estado de completa privação de sentidos e de
intelligencia no acto de commetter o crime;
[...]
§ 7º Os surdos-mudos de nascimento, que não tiverem recebido educação nem
instrucção, salvo provando-se que obraram com discernimento.

Além disso, referido diploma legal, nos seus artigos 29 e 68, estabelecia que
os doentes mentais deveriam ser entregues às suas famílias ou ser internados em hospitais
para alineados, de modo que os isentos de culpabilidade e os que se achassem em estado
de loucura eram submetidos a tratamento diferenciado em outra instância, que não a
penal.
Art. 29. Os individuos isentos de culpabilidade em resultado de affecção
mental serão entregues a suas familias, ou recolhidos a hospitaes de alineados,
si o seu estado mental assim exigir para segurança do publico.
[...]
Art. 68. O condemnado que achar-se em estado de loucura só entrará em
cumprimento de pena quando recuperar as suas faculdades intellectuaes.
Paragrapho unico. Si a enfermidade manifestar-se depois que o comdemnado
estiver cumprindo a pena, ficará suspensa a sua execução, não se computando
o tempo de suspensão no da condemnação.

Esse tratamento diferenciado aos doentes mentais foi mantido pela


Consolidação das Leis Penais de 1932, a qual, no seu artigo 29, estabeleceu que os
doentes mentais continuavam sendo entregues às suas famílias ou sendo internados em
hospitais psiquiátricos se assim o exigisse a segurança pública, embora não existissem, na
época, medidas de segurança.
Art. 29. Os indivíduos isentos de culpabilidade em resultado de affecção
mental serão entregues a suas famílias ou recolhidos em hospitais de
alienados, se o seu estado mental assim exigir para segurança do público.
Enquanto não possuírem os EStados manicomios criminais, os alienados
delinquentes e os condenados alienados somente poderão permanecer em
asylos públicos, nos pavilhões que especialmente se lhes reservem.

302
Subseção IV
Sistemas

§ 1º O sistema do duplo binário ou critério dualista cumulativo

O sistema do duplo binário vigorou de 1940 até a reforma de 1984.


Aplicavam-se penas e medidas de segurança, cumulativamente, aos imputáveis. Juarez
Cirino dos Santos refere-se ao critério adotado por esse sistema como “critério dualista
cumulativo” (Direito penal: parte geral. Rio de Janeiro: Lumen Juris; Curitiba: ICCP,
2006. p. 508).

§ 2º O sistema vicariante ou critério dualista alternativo

O sistema vicariante passou a vigorar após a reforma de 1984, conforme


consta do item 87 da Exposição de Motivos da Lei n. 7.209, de 11 de julho de 1984
(Reforma Penal de 1984). Aplica-se somente a pena aos imputáveis e semi-imputáveis
que não necessitarem de tratamento psiquiátrico e somente medida de segurança aos
inimputáveis e aos semi-imputáveis que necessitarem de tratamento psiquiátrico. Juarez
Cirino dos Santos refere-se ao critério adotado por esse sistema como “critério dualista
alternativo”.116

Subseção V
Espécies

As espécies de medidas de segurança estão descritas nos incisos I e II do


artigo 96 do Código Penal e podem ser detentivas ou de internação em hospital de
custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro estabelecimento adequado, e
medidas de segurança restritivas ou de tratamento ambulatorial.

116
SANTOS, Juarez Cirino dos. Direito penal: parte geral. Rio de Janeiro: Lumen Juris; Curitiba: ICCP,
2006. p. 508.

303
TÍTULO VI DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA
Espécies de medidas de segurança
Art. 96. As medidas de segurança são:
I - Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta,
em outro estabelecimento adequado;
II - sujeição a tratamento ambulatorial”.

§ 1º Internação

Na internação, prevista no inciso I do artigo 96 do Código Penal, o tratamento


ocorre, em Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico, em ambiente fechado.

§ 2º Tratamento ambulatorial

Como o próprio nome diz, o tratamento ambulatorial, previsto no inciso II do


artigo 96 do Código Penal, é o que ocorre em ambulatório, em ambiente aberto.

SEÇÃO II
ASPECTOS ESPECÍFICOS DA APLICAÇÃO DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA

Primeiramente, é necessário ter em mente que, conforme estabelece o


parágrafo único do artigo 96 do Código Penal, se for extinta a punibilidade, não se impõe
medida de segurança nem subsiste a que tenha sido imposta. “Art. 96. [...] Parágrafo
único - Extinta a punibilidade, não se impõe medida de segurança nem subsiste a que
tenha sido imposta”.
Além disso, não se pode perder de vista que a imposição de medidas de
segurança a inimputáveis e a semi-imputáveis não obedece, exatamente, as mesmas
etapas.

304
Subseção I
A imposição de medidas de segurança a inimputáveis

Segundo o caput do artigo 97 do Código Penal, os inimputáveis estão sujeitos


a medidas de segurança, que podem ser de internação, caso o crime cometido seja punido
com reclusão, ou de tratamento ambulatorial, se o crime for punido com detenção.
Imposição da medida de segurança para inimputável
Art. 97 - Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art.
26). Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá
o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial.

Como se pode perceber, se o agente for inimputável, não se perquire acerca


da necessidade ou não da imposição de medida de segurança, partindo-se, diretamente,
para a espécie dessa medida que seja aplicável.

Subseção II
A imposição de medidas de segurança a semi-inimputáveis

Conforme dispõe o artigo 98 do Código Penal, os semi-imputáveis estão


sujeitos a medidas de segurança substitutivas, quando houver a necessidade de que o
agente seja submetido a tratamento psiquiátrico.
Art. 98 - Na hipótese do parágrafo único do art. 26 deste Código e
necessitando o condenado de especial tratamento curativo, a pena privativa de
liberdade pode ser substituída pela internação, ou tratamento ambulatorial,
pelo prazo mínimo de 1 (um) a 3 (três) anos, nos termos do artigo anterior e
respectivos §§ 1º a 4º.

Portanto, para que haja a aplicação de medida de segurança, primeiramente,


deve ser indagada acerca da necessidade ou não de medida de segurança, cuja resposta
deverá estar no laudo de exame de sanidade mental, que concluiu pela existência da semi-
imputabilidade.

305
Subseção III
A duração das medidas de segurança

As medidas de segurança, quanto à quantidade, conforme dispõe o parágrafo


1o do artigo 97 do Código Penal, não têm previsão máxima, somente mínima, que é 1
(um) ano, dependendo a permanência da medida aplicada de exame periódico de
cessação de periculosidade. “Art. 97. [...] § 1º - A internação, ou tratamento
ambulatorial, será por tempo indeterminado, perdurando enquanto não for averiguada,
mediante perícia médica, a cessação de periculosidade. O prazo mínimo deverá ser de 1
(um) a 3 (três) anos".

§ 1º Prazo mínimo

Conforme dispõe o parágrafo 1o do artigo 97 do Código Penal, o prazo


mínimo de duração das medidas de segurança é de 1 (um) a 3 (três) anos). Todavia,
conforme o artigo 176 da Lei de Execução Penal, é possível realizar o exame de cessação
de periculosidade antes de transcorrido o prazo mínimo, de modo que a duração da
medida de segurança poderá ser menor que o prazo mínimo legalmente previsto.

§ 2º Prazo máximo

Conforme dispõe o parágrafo 1o do artigo 97 do Código Penal, o prazo


máximo das medidas de segurança é indeterminado e dependerá de exame periódico de
cessação de periculosidade, conforme preveem os parágrafos 2o, 3o e 4o desse mesmo
artigo.
Art. 97
[...]
Prazo
§ 1º - A internação, ou tratamento ambulatorial, será por tempo
indeterminado, perdurando enquanto não for averiguada, mediante perícia
médica, a cessação de periculosidade. O prazo mínimo deverá ser de 1 (um) a
3 (três) anos. Perícia médica
§ 2º - A perícia médica realizar-se-á ao termo do prazo mínimo fixado e deverá
ser repetida de ano em ano, ou a qualquer tempo, se o determinar o juiz da
execução. Desinternação ou liberação condicional

306
§ 3º - A desinternação, ou a liberação, será sempre condicional devendo ser
restabelecida a situação anterior se o agente, antes do decurso de 1 (um) ano,
pratica fato indicativo de persistência de sua periculosidade.
§ 4º - Em qualquer fase do tratamento ambulatorial, poderá o juiz determinar
a internação do agente, se essa providência for necessária para fins curativos.

§ 3º A limitação jurisprudencial da duração máxima da medida de segurança

Tanto a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal quanto a do Superior


Tribunal de Justiça limitam a duração máxima das medidas de segurança.

3.1 Limitações decorrentes da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal,


que fixou em 30 (trinta) anos a duração máxima das medidas de segurança

Devido aos questionamentos havidos em relação ao caráter perpétuo das


medidas de segurança, o Supremo Tribunal Federal limitou em 30 (trinta) anos o tempo
máximo de duração dessas medidas, em face da vedação da perpetuidade contida na
alínea b do inciso LVII do artigo 5o da Constituição Federal, conforme se pode
depreender da ementa, abaixo transcrita, do acórdão proferido, no dia 16 de agosto de
2005, pela sua Colenda 1a Turma, nos autos do Habeas Corpus n. 84.219-4, de São
Paulo, nos quais foi relator o Ministro Marco Aurélio.
MEDIDA DE SEGURANÇA - PROJEÇÃO NO TEMPO - LIMITE. A
interpretação sistemática e teleológica dos artigos 75, 97 e 183, os dois
primeiros do Código Penal e o último da Lei de Execuções Penais, deve fazer-
se considerada a garantia constitucional abolidora das prisões perpétuas. A
medida de segurança fica jungida ao período máximo de trinta anos.

3.2 Limitações decorrentes da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça,


que fixou a duração das medidas de segurança como sendo a pena máxima cominada no
tipo penal

A Súmula n. 527 do Superior Tribunal de Justiça, editada no dia 13 de maio


de 2015, estabeleceu que "o tempo de duração da medida de segurança não deve
ultrapassar o limite máximo da pena abstratamente cominada ao delito praticado".

307
Subseção IV
Medidas de segurança e contravenções penais

As medidas de segurança são aplicáveis, também, às contravenções penais,


pois, conforme dispõe o artigo 13 da Lei de Contravenções Penais, "Aplicam-se, por
motivo de contravenção, os medidas de segurança estabelecidas no Código Penal, à
exceção do exílio local".

SEÇÃO III
ASPECTOS ESPECÍFICOS DA EXECUÇÃO DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA

Além das regras contidas no parágrafo 3º do artigo 97 do Código Penal,


regulam a execução das medidas de segurança os artigos 171 a 179 da Lei de Execução
Penal, as quais dispõem tanto acerca da expedição de guia para a execução quanto da
realização da perícia periódica e dos procedimentos respectivos, bem como sobre os
institutos classificação dos internos, da dua desinternação, da sua liberação, da conversão
de medidas de segurança e dos direitos do internado.

Subseção I
A necessidade do trânsito em julgado da sentença para a execução da medida de
segurança

Para dar início à execução da medida de segurança, conforme dispõe o artigo


171 da Lei de Execução Penal, é necessário o trânsito em julgado da sentença penal. "Art.
171. Transitada em julgado a sentença que aplicar medida de segurança, será ordenada
a expedição de guia para a execução".

308
Subseção II
A expedição da guia de execução da medida de segurança

Para iniciar a execução da medida de segurança de internação, conforme


dispõe o artigo 172 da Lei de Execução Penal, é necessária, também, a expedição de guia
de internação. "Art. 172. Ninguém será internado em Hospital de Custódia e Tratamento
Psiquiátrico, ou submetido a tratamento ambulatorial, para cumprimento de medida de
segurança, sem a guia expedida pela autoridade judiciária".
As informações que deverão constar da guia de internação estão previstas no
artigo 173 da Lei de Execução Penal:
Art. 173. A guia de internamento ou de tratamento ambulatorial, extraída pelo
escrivão, que a rubricará em todas as folhas e a subscreverá com o Juiz, será
remetida à autoridade administrativa incumbida da execução e conterá: I - a
qualificação do agente e o número do registro geral do órgão oficial de
identificação; II - o inteiro teor da denúncia e da sentença que tiver aplicado a
medida de segurança, bem como a certidão do trânsito em julgado; III - a data
em que terminará o prazo mínimo de internação, ou do tratamento
ambulatorial; IV - outras peças do processo reputadas indispensáveis ao
adequado tratamento ou internamento. § 1° Ao Ministério Público será dada
ciência da guia de recolhimento e de sujeição a tratamento. § 2° A guia será
retificada sempre que sobrevier modificações quanto ao prazo de execução.

Subseção III
A necessidade da classificação dos internos

Conforme estabelece o artigo 174 da Lei de Execução Penal, os internos


deverão, também, ser submetidos à classificação: "Art. 174. Aplicar-se-á, na execução da
medida de segurança, naquilo que couber, o disposto nos artigos 8° e 9° desta Lei”.

309
Subseção IV
A realização de perícia médica períodica

§ 1º Data de realização da perícia

Conforme dispõem o artigo 97, parágrafo 2o, do Código Penal e o artigo 175,
caput, da Lei de Execução Penal, a perícia médica no agente internado ou submetido a
tratamento ambulatorial realizar-se-á ao termo do prazo mínimo fixado e deverá ser
repetida de ano em ano, ou a qualquer tempo, se o determinar o juiz da execução. “Art.
97.[...] Perícia médica § 2º - A perícia médica realizar-se-á ao termo do prazo mínimo
fixado e deverá ser repetida de ano em ano, ou a qualquer tempo, se o determinar o juiz
da execução". A Lei de Execução Penal, nos seus artigos 175 a 179, regula a realização
do exame de cessação de periculosidade, que pode ser realizado antes mesmo do prazo
mínimo estabelecido. “CAPÍTULO II Da Cessação da Periculosidade Art. 175. A
cessação da periculosidade será averiguada no fim do prazo mínimo de duração da
medida de segurança, [...]”.

§ 2º Possibilidade de realização do exame antes de transcorrido o prazo


mínimo da medida de segurança

O artigo 176 da Lei de Execução Penal permite a realização de exame de


cessação, antes mesmo de transcorrido o prazo mínimo:
Art. 176. Em qualquer tempo, ainda no decorrer do prazo mínimo de duração
da medida de segurança, poderá o Juiz da execução, diante de requerimento
fundamentado do Ministério Público ou do interessado, seu procurador ou
defensor, ordenar o exame para que se verifique a cessação da periculosidade,
procedendo-se nos termos do artigo anterior.

§ 3º Aspectos a serem analisados durante o exame de cessação de


periculosidade

Segundo o artigo 175, caput, da Lei de Execução Penal, durante o exame de


cessação de periculosidade, deverão ser analisadas as condições pessoais do agente. “Art.

310
175. A cessação da periculosidade será averiguada no fim do prazo mínimo de duração
da medida de segurança, pelo exame das condições pessoais do agente,[...]".

§ 4º Procedimento da verificação da cessação de periculosidade

O procedimento para a averiguação da cessação da periculosidade está


previsto no artigo 175 e seus incisos da Lei de Execução Penal:
Art. 175. A cessação da periculosidade será averiguada no fim do prazo
mínimo de duração da medida de segurança, pelo exame das condições
pessoais do agente, observando-se o seguinte: I - a autoridade administrativa,
até 1 (um) mês antes de expirar o prazo de duração mínima da medida,
remeterá ao Juiz minucioso relatório que o habilite a resolver sobre a
revogação ou permanência da medida; II - o relatório será instruído com o
laudo psiquiátrico; III - juntado aos autos o relatório ou realizadas as
diligências, serão ouvidos, sucessivamente, o Ministério Público e o curador
ou defensor, no prazo de 3 (três) dias para cada um; IV - o Juiz nomeará
curador ou defensor para o agente que não o tiver; V - o Juiz, de ofício ou a
requerimento de qualquer das partes, poderá determinar novas diligências,
ainda que expirado o prazo de duração mínima da medida de segurança; VI -
ouvidas as partes ou realizadas as diligências a que se refere o inciso anterior,
o Juiz proferirá a sua decisão, no prazo de 5 (cinco) dias.

4.1 Relatório da autoridade administrativa

Conforme dispõe o inciso I do artigo 175 da Lei de Execução Penal, a


autoridade administrativa, até 1 (um) mês antes de expirar o prazo de duração mínima da
medida, remeterá ao Juiz minucioso relatório que o habilite a resolver sobre a revogação
ou permanência da medida.

4.2 Documento que deverá instruir o relatório da autoridade administrativa

Conforme dispõe o inciso II do artigo 175 da Lei de Execução Penal, o


relatório da autoridade administrativa deverá ser instruído com o laudo psiquiátrico.

311
4.3 Oitiva do Ministério Público e do curador ou do defensor do internado

Conforme dispõe o inciso III do artigo 175 da Lei de Execução Penal, juntado
aos autos o relatório ou realizadas as diligências, serão ouvidos, sucessivamente, o
Ministério Público e o curador ou defensor, no prazo de 3 (três) dias para cada um.

4.4 Nomeação de curador ou de defensor

Conforme dispõe o inciso IV do artigo 175 da Lei de Execução Penal, o juiz


nomeará curador ou defensor para o agente que não o tiver.

4.5 Diligências judiciais

Conforme dispõe o inciso V do artigo 175 da Lei de Execução Penal, o juiz,


de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, poderá determinar novas diligências,
ainda que expirado o prazo de duração mínima da medida de segurança.

4.6 Proferimento da decisão em 5 (cinco) dias

Conforme dispõe o inciso VI do artigo 175 da Lei de Execução Penal, após


ouvidas as partes ou realizadas as diligências a que se refere o inciso anterior, o juiz
proferirá a sua decisão, no prazo de 5 (cinco) dias.

§ 5º Procedimentos nos exames sucessivos de verificação da cessação da


periculosidade

Conforme dispõe o artigo 177 da Lei de Execução Penal, nos exames


sucessivos para verificar-se a cessação da periculosidade, observar-se-á, no que lhes for
aplicável, o disposto nos artigos 175 e 176, sobre a possibilidade de realização dos
exames a qualquer tempo. “Art. 177. Nos exames sucessivos para verificar-se a cessação

312
da periculosidade, observar-se-á, no que lhes for aplicável, o disposto no artigo
anterior”.

Subseção V
Desinternação, liberação e conversão

§ 1º Desinternação e liberação

A desinternação é a transferência da internação para o tratamento


ambulatorial, isto é, de um ambiente fechado para um aberto. A liberação ocorre com a
cessação da periculosidade e marca o fim da medida de segurança.
Conforme o artigo 97, parágrafo 3o, do Código Penal, e os artigos 178 e 179
da Lei de Execução Penal, a desinternação e a liberação serão sempre condicionais, o que
significa dizer que, caso seja o agente desinternado ou liberado, deverão lhe ser impostas
as condições previstas nos artigos 132 e 133 da Lei de Execução Penal para o liberado
condicional, podendo a medida de segurança ser restabelecida se houver a prática de fato
indicativo de persistência de sua periculosidade.
Desinternação ou liberação condicional
Art. 97.
[...]
§ 3º - A desinternação, ou a liberação, será sempre condicional devendo ser
restabelecida a situação anterior se o agente, antes do decurso de 1 (um) ano,
pratica fato indicativo de persistência de sua periculosidade.

A desinternação e a liberação serão sempre condicionais, com observância do


que dispõe os artigos 132 e 133 da Lei de Execução Penal. Ao conceder a desinternação
ou a liberação, o juiz deverá estabelecer as seguintes condições:
Art. 132. Deferido o pedido, o Juiz especificará as condições a que fica
subordinado o livramento.
§ 1º Serão sempre impostas ao liberado condicional as obrigações seguintes:
a) obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável se for apto para o trabalho;
b) comunicar periodicamente ao Juiz sua ocupação; c) não mudar do
território da comarca do Juízo da execução, sem prévia autorização deste.
§ 2° Poderão ainda ser impostas ao liberado condicional, entre outras
obrigações, as seguintes:
a) não mudar de residência sem comunicação ao Juiz e à autoridade
incumbida da observação cautelar e de proteção;

313
b) recolher-se à habitação em hora fixada;
c) não freqüentar determinados lugares.
d) (VETADO)
Art. 133. Se for permitido ao liberado residir fora da comarca do Juízo da
execução, remeter-se-á cópia da sentença do livramento ao Juízo do lugar
para onde ele se houver transferido e à autoridade incumbida da observação
cautelar e de proteção.

Conforme dispõe o parágrafo 3o do artigo 97 do Código Penal, anteriormente


transcrito, poderá haver o restabelecimento da situação anterior, se o agente, antes do
decurso do prazo de 1 (um) ano, pratica fato indicativo de persistência de sua
periculosidade.
Em outra decisão, o conforme se pode depreender da seguinte ementa do acórdão
proferido, no dia 22 de novembro de 2011, a Primeira Turma do Supremo Tribunal
Federal, nos autos do Hábeas Corpus n. 102.489, do Rio Grande do Sul, nos quais foi
relator o Ministro Luiz Fux, admitiu a desinternação progressiva:
PENAL. HABEAS CORPUS. MEDIDA DE SEGURANÇA. CUMPRIMENTO
DA MEDIDA EM PRAZO SUPERIOR AO DA PENA MÁXIMA COMINADA
AO DELITO. PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. INÍCIO DO
CUMPRIMENTO. MARCO INTERRUPTIVO. PRAZO MÁXIMO DA
MEDIDA. 30 (TRINTA) ANOS. PRECEDENTES DO STF. DESINTERNAÇÃO
PROGRESSIVA. ART. 5º DA LEI 10.216/2001. APLICABILIDADE. ALTA
PROGRESSIVA DA MEDIDA DE SEGURANÇA. PRAZO DE 6 (SEIS)
MESES. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. 1. A prescrição da medida de
segurança deve ser calculada pelo máximo da pena cominada ao delito
cometido pelo agente, ocorrendo o marco interruptivo do prazo pelo início do
cumprimento daquela, sendo certo que deve perdurar enquanto não haja
cessado a periculosidade do agente, limitada, contudo, ao período máximo de
30 (trinta) anos, conforme a jurisprudência pacificada do STF. Precedentes:
RHC 100.383/AP, Relator Min. Luiz Fux, Primeira Turma, Julgamento em
18/10/2011; HC 107.432/RS, Relator Min. Ricardo Lewandowski, Primeira
Turma, Julgamento em 24/5/2011; HC 97.621/RS, Relator Min. Cezar Peluso,
Julgamento em 2/6/2009. 2. In casu: a) o paciente incidiu nas condutas
tipificadas pelos artigos 147 (ameaça) e 233 (ato obsceno), do Código Penal;
instaurado incidente de insanidade mental, concluíram os peritos que o
paciente sofria de esquizofrenia paranoide e retardo mental leve, sendo
reconhecida a sua inimputabilidade, nos termos do caput do artigo 26 do CP.
b) processada a ação penal, ao recorrente foi aplicada a medida de segurança
de internação hospitalar em hospital de custódia e tratamento Supremo
Tribunal Federal Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-
2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas
Brasileira - ICP-Brasil. O documento pode ser acessado no endereço
eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 1643663.
DJe 01/02/2012 Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 16 Ementa HC 102.489
/ RS psiquiátrico, pelo prazo mínimo de 3 (três) anos, sendo certo que o
recorrente foi internado no Instituto Psiquiátrico Forense, onde permanece até
a presente data, decorridos mais de 17 (dezessete) anos desde a sua
segregação; c) o recorrente está em regime de alta progressiva desde 1997,
sendo que o magistrado de primeira instância, em sua decisão liberatória,

314
realizou histórico completo da execução da medida de segurança, que foi
renovada sucessivamente, tendo sido empreendidas diversas fugas e retornos
voluntários do paciente ao Instituto Psiquiátrico Forense, sem notícia nos
autos de reincidência delitiva. 3. A desinternação progressiva é medida que se
impõe, concedendo-se a ordem de ofício para o restabelecimento da decisão de
primeiro grau, que aplicou o art. 5º da Lei 10.216/2001, autorizando-se a
desinternação progressiva pelo prazo de 6 (seis) meses. 4. Ordem concedida de
ofício. (O grifo não está na redação original).

§ 2º A conversão

Conforme dispõe o artigo 97, parágrafo 4o, do Código Penal, poderá ocorrer a
conversão do tratamento ambulatorial em internação, o que equivale a uma regressão de
regime, pois o desinterno passará para a condição de interno. "Art. 97.[...] § 4º - Em
qualquer fase do tratamento ambulatorial, poderá o juiz determinar a internação do
agente, se essa providência for necessária para fins curativos”.

Subseção VI
Direitos do internado

O artigo 99 do Código Penal estabelece o direito de o internado ser recolhido


em estabelecimento hospitalar ou dotado de características similares. “Direitos do
internado Art. 99 - O internado será recolhido a estabelecimento dotado de
características hospitalares e será submetido a tratamento”.

315
CAPÍTULO XI
OS EFEITOS SECUNDÁRIOS DA CONDENAÇÃO COMINADOS NO
ORDENAMENTO JURÍDICO-PENAL BRASILEIRO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O presente capítulo trata da cominação dos efeitos secundários da condenação


no ordenamento jurídico-penal brasileiro, que são, também, consequências penais
aplicáveis aos condenados de forma mediata e estão previstos tanto no Código Penal
quanto na legislação especial, esparsa ou extravagante.
Dividido em duas seções, este capítulo tratará, na primeira, dos aspectos
históricos, dos conceitos e das distinções relativos aos efeitos secundários da condenação
e, na segunda, das espécies desses efeitos.

SEÇÃO I
ASPECTOS HISTÓRICOS, CONCEITOS E DISTINÇÕES

Os efeitos secundários foram previstos, pela primeira vez, no Código Penal


de 1890, que, no seu artigo 69, estabeleceu, claramente, os efeitos da sentença penal
condenatória: “a) perda, em favor da Nação ou dos Estados, dos instrumentos e
resultados do crime, nos casos em que o offendido não tiver direito á restituição; b) a
obrigação de indemnizar o damno; c) a obrigação de satisfazer as despezas judiciaes”.
Os efeitos da condenação são todos aqueles que, de modo direto ou indireto,
atingem a vida do condenado por sentença penal irrecorrível.
Os efeitos da sentença penal condenatória podem ser principais ou
secundários.
Os efeitos principais ou primários da condenação são os efeitos imediatos
decorrentes da condenação, os quais são as penas privativas de liberdade, as penas

316
restritivas de direitos e a pena de multa, aplicáveis a imputáveis ou a semi-imputáveis que
não necessitam de tratamento psiquiátrico, e as medida de segurança, de internação ou de
tratamento ambulatorial, as quais podem ser aplicadas inimputáveis e a semi-imputáveis
que necessitarem de tratamento psiquiátrico, embora, no que tange aos inimputáveis, não
sejam efeitos da condenação, mas sim da absolvição imprópria.
Os efeitos secundários da condenação são também consequências penais
acessórias e mediatas que, embora secundárias, por decorrerem da condenação e,
sobretudo, da aplicação das penas aos imputáveis e das medidas de segurança aplicadas
aos semi-imputáveis, que podem produzir efeitos dentro ou fora do Direito Penal e
Processual penal, devendo, também, estar cominadas na lei penal estrita, escrita, certa e
prévia. Portanto, eles são impostos, apenas, quando houver uma consequência primária,
isto é, a pena ou a medida de segurança, imposta em sentença condenatória. Esses efeitos,
quando automáticos, independem de declaração formal do Poder Judiciário, embora,
quando não automáticos, devem ser expressamente declarados e motivados na sentença
penal condenatória. Aplicam-se, pois, aos imputáveis e aos semi-imputáveis, em face de
uma ação penal, no devido e justo processo penal, pela prática de uma conduta
qualificada, na sentença penal condenatória, após um juízo definitivo e de certeza, como
crime ou contravenção penal, por ser considerada conduta típica, antijurídica, culpável e
punível, e passível de ser executada conforme os limites legais, com o propósito tanto de
retribuição quanto de prevenção de outras condutas lesivas. Os inimputáveis não estão
sujeitos a efeitos secundários da condenação, pelo simples motivo de que não podem ser
condenados, pois não são culpáveis. (BISSOLI FILHO, Francisco. A sanção penal e as
suas espécies. Curitiba: Juruá, 2010. p. 117).
Trata-se de consequências que não têm propósito predominantemente
retributivo, mas sim preventivo, na medida em que inviabilizam a manutenção de
situações que propiciam a prática do fato delituoso, assim o desestimulando, uma vez que
o fato de estar o réu compelido à execução da pena aplicada pela sentença condenatória
não afasta a existência de efeitos outros, secundários, reflexos ou acessórios, de natureza
penal e extrapenal, que em alguns casos, necessariamente, acompanham-na.

317
SEÇÃO II
ESPÉCIES DE EFEITOS SECUNDÁRIOS DA CONDENAÇÃO

Os efeitos secundários da condenação podem ser produzidos dentro ou fora


do Direito Penal e Processual penal e do sistema de justiça penal, razão pela qual se
dividem em efeitos penais e extrapenais. De qualquer forma, os efeitos secundários
devem também, estar cominados na lei penal estrita, escrita, certa e prévia. Embora esses
efeitos possam ser extrapenais, todos eles têm suas origens na condenação penal, daí
porque, indiretamente, ao menos, não pode ser afastado o seu caráter penal.

Subseção I
Efeitos penais secundários da condenação

Os efeitos penais secundários da condenação são os realizados no âmbito da


justiça penal, embora em outro processo penal.
São exemplos de efeitos penais secundários da condenação:

§ 1º O impedimento para a concessão da suspensão condicional do processo.

Segundo o artigo 89, caput, da Lei no 9.099/ 1995:


Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano,
abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia,
poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o
acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro
crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão
condicional da pena (art. 77 do Código Penal) (O grifo não está na redação
original).

§ 2º O impedimento para a concessão da suspensão condicional da pena

Estabelece o artigo 77, inciso I, do Código Penal: “Art. 77 - A execução da


pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser suspensa, por 2

318
(dois) a 4 (quatro) anos, desde que: I - o condenado não seja reincidente em crime
doloso”.

§ 3º A revogação obrigatória da suspensão condicional da pena

A revogação obrigatória da suspensão condicional da pena, se a condenação


irrecorrível versar sobre crime doloso [Artigo 81, inciso I, do Código Penal prevê
hipótese de efeito penal secundário da condenação: “Art. 81 - A suspensão será revogada
se, no curso do prazo, o beneficiário: I - é condenado, em sentença irrecorrível, por
crime doloso”.

§ 4º A revogação facultativa da suspensão condicional da pena

A revogação facultativa da suspensão condicional da pena, se a condenação


versar sobre crime culposo ou sobre contravenção [Artigo 81, parágrafo 1o, do Código
Penal: “Art. 81 [...] Revogação facultativa § 1º - A suspensão poderá ser revogada se o
condenado descumpre qualquer outra condição imposta ou é irrecorrivelmente
condenado, por crime culposo ou por contravenção, a pena privativa de liberdade ou
restritiva de direitos”.

§ 5º A revogação obrigatória do livramento condicional

A revogação obrigatória do livramento condicional, se a condenação versar


sobre crime ou contravenção à pena privativa de liberdade [Artigo 86 do Código Penal:
“Revogação do livramento - Art. 86 - Revoga-se o livramento, se o liberado vem a ser
condenado a pena privativa de liberdade, em sentença irrecorrível: I - por crime
cometido durante a vigência do benefício; II - por crime anterior, observado o disposto
no art. 84 deste Código”.

319
§ 6º A revogação facultativa do livramento condicional

A revogação facultativa do livramento condicional, se a condenação versar


sobre crime ou contravenção penal, à pena que não seja privativa de liberdade [Artigo 87
do Código Penal: “Revogação facultativa - Art. 87 - O juiz poderá, também, revogar o
livramento, se o liberado deixar de cumprir qualquer das obrigações constantes da
sentença, ou for irrecorrivelmente condenado, por crime ou contravenção, a pena que
não seja privativa de liberdade”.

§ 7º A revogação da reabilitação criminal

A revogação da reabilitação criminal, se a condenação for definitiva, à pena


que não seja de multa, e o condenado for considerado reincidente [Artigo 95 do Código
Penal: “Art. 95 - A reabilitação será revogada, de ofício ou a requerimento do
Ministério Público, se o reabilitado for condenado, como reincidente, por decisão
definitiva, a pena que não seja de multa”.

§ 8º A determinação dos efeitos da reincidência

A reincidência está definida no artigo 63 Código Penal e a duração dos seus


efeitos está prevista no artigo 64 desse mesmo diploma legal. Entre os efeitos da
reincidência, podem ser citados os seguintes: a) constitui circunstância agravante,
conforme prevê o artigo 61, inciso I, do Código Penal; b) é causa de aumento do prazo
para a ocorrência da prescrição da pretensão executória do Estado (art. 110, caput, in fine,
do Código Penal); c) é óbice à substituição da pena (artigo 44, inciso II, do Código
Penal), à suspensão condicional da pena (artigo 77, inciso I, do Código Penal) e à
concessão dos regimes aberto e regime semiaberto (artigo 33, parágrafo 2 o, alíneas b e c,
do Código Penal); d) é causa do aumento do período de cumprimento da pena para a
obtenção dos benefícios da saída temporária (artigo 123, inciso II, da Lei de Execução
Penal) e do livramento condicional (artigo 83, inciso II, do Código Penal) etc..

320
Subseção II
Efeitos extrapenais secundários da condenação

Os efeitos extrapenais da sentença penal condenatória são os efeitos


realizados no âmbito civil, administrativo ou político etc., isto é, aqueles que, embora
sejam decorrência dessa sentença penal, são efetivados fora do âmbito penal. Esses
efeitos se subdividem em genéricos ou automáticos e específicos ou não-automáticos e
podem estar previstos tanto no Código Penal (artigos 91 e 92) quanto na legislação
especial, extravagante ou esparsa, como é o caso da Lei de Contravenções Penais (artigo
12), da Lei de Drogas (artigos 60 a 63), do Estatuto da Criança e do Adolescente (artigo
244-A, parágrafo 2º) e do Estatuto do Desarmamento (artigo 25).

§ 1º Efeitos extrapenais secundários genéricos ou automáticos

Os efeitos extrapenais secundários genéricos ou automáticos são os que não


precisam ser declarados na sentença penal condenatória e se operam nas condenações em
geral, isto é, independem de declaração formal Poder Judiciário. Esses efeitos estão
previstos no artigo 91 do Código Penal e consistem na obrigação de reparar o dano
causado pelo crime; na perda, em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de
terceiro de boa-fé, dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo
fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito, bem como do produto do
crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a
prática do fato criminoso.
CAPÍTULO VI - DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO - Efeitos genéricos e
específicos - Art. 91 - São efeitos da condenação: I - tornar certa a obrigação
de indenizar o dano causado pelo crime; II - a perda em favor da União,
ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé: a) dos instrumentos do
crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou
detenção constitua fato ilícito; b) do produto do crime ou de qualquer bem ou
valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato
criminoso.

321
Esses efeitos são considerados automáticos, pois, conforme se pode extrair da
interpretação em sentido contrário da regra do parágrafo único do artigo 92 do Código
Penal, não precisam ser declarados na sentença condenatória. Trata-se, como se percebe,
de efeitos civis da condenação. Também podem estar previstos em outros diplomas, como
é o caso da perda dos direitos políticos, previstos no artigo 15, inciso III, da Constituição
Federal, como, também, podem estar previstos na legislação especial que, também, pode
estabelecer outros efeitos genéricos ou automáticos da condenação, como, por exemplo, a
cassação da licença de localização do estabelecimento e do funcionamento do
estabelecimento no qual adolescente ou criança for submetida à exploração da
prostituição, conforme prevê o artigo 244-A, parágrafo 2o, da Lei n. 8.069, de 13 de julho
de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente):
Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais definidos no caput do
art. 2o desta Lei, à prostituição ou à exploração sexual: Pena - reclusão de
quatro a dez anos, e multa. § 1o Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o
gerente ou o responsável pelo local em que se verifique a submissão de criança
ou adolescente às práticas referidas no caput deste artigo. § 2o Constitui efeito
obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e de
funcionamento do estabelecimento. (O grifo não está na redação original).

Deve-se ressaltar, ainda, que, segundo dispõe o artigo 12 da Lei de


Contravenções Penais "As penas acessórias são a publicação da sentença e as seguintes
interdições de direitos: I – a incapacidade temporária para profissão ou atividade, cujo
exercício dependa de habilitação especial, licença ou autorização do poder público; lI –
a suspensão dos direitos políticos".

§ 2º Efeitos extrapenais secundários específicos ou não automáticos

Os efeitos específicos ou não automáticos da condenação são os que, segundo


dispõe o parágrafo único do artigo 92 do Código Penal, precisam ser declarados,
motivadamente, na sentença penal condenatória. Estão previstos no Código Penal como,
também, podem estar previstos em outros diplomas legais, como é o caso dos artigos 60 a
63 da Lei n. 11.343, de 23 de agosto de 2006 (Lei de Drogas). Portanto, esses efeitos não
se limitam à esfera penal; ao contrário, incidem também, conforme o caso, no âmbito
extrapenal (cível, administrativo, político, trabalhista). Esses efeitos, segundo dispõe o

322
artigo 92 do Código Penal, são, entre outros, a perda de cargo, da função pública ou do
mandato eletivo; a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela; e a
inabilitação para dirigir veículo automotor.
Art. 92 - São também efeitos da condenação: I - a perda de cargo, função
pública ou mandato eletivo: a) quando aplicada pena privativa de liberdade
por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de
poder ou violação de dever para com a Administração Pública; b) quando for
aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos
demais casos. II - a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou
curatela, nos crimes dolosos, sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra
filho, tutelado ou curatelado; III - a inabilitação para dirigir veículo, quando
utilizado como meio para a prática de crime doloso.

Os efeitos previstos no inciso I são considerados efeitos administrativos,


quando relativos ao cargo ou função pública, e efeitos políticos, quando relativos ao
mandato eletivo. Os efeitos do inciso II são considerados efeitos civis e os efeitos do
inciso III são considerados efeitos administrativos. Esses efeitos são considerados não
automáticos, pois, conforme a regra do parágrafo único do artigo 92 do Código Penal,
devem ser motivadamente declarados na sentença condenatória. “Art. 92. [...] Parágrafo
único - Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser
motivadamente declarados na sentença”.
Sobre a perda do mandato de deputado e de senador em caso de condenação
criminal transitada em julgado, deve-se atentar para os artigos 15, inciso III, e 5o, inciso
VI e parágrafo 2o, da Constituição Federal:
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só
se dará nos casos de:
[...]
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus
efeitos;
[...]
Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador:
[...]
VI - que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado.
[...]
§ 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será decidida pela
Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por maioria absoluta,
mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado
no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 76, de 2013).

Conforme consta nos artigos 60 a 63 da Lei n. 11.343/2006, é possível a


decretação do perdimento, em favor da União Federal, do produto, bem ou valor

323
apreendido, sequestrado ou declarado, quando consistentes em produtos dos crimes
previstos na referida lei, ou que constituam proveito auferido com a sua prática.
Além disso, conforme estabelece o artigo 25 da Lei n. 10.826, de 22 de
dezembro de 2003 (Estatuto do Desarmamento),
As armas de fogo apreendidas, após a elaboração do laudo pericial e sua
juntada aos autos, quando não mais interessarem à persecução penal serão
encaminhadas pelo juiz competente ao Comando do Exército, no prazo
máximo de 48 (quarenta e oito) horas, para destruição ou doação aos órgãos
de segurança pública ou às Forças Armadas, na forma do regulamento desta
Lei.

Subseção III
Extinção dos efeitos secundários da condenação

Extinguem-se os efeitos secundários da condenação somente com a


reabilitação, mas essa extinção alcança, apenas, o efeito secundário do inciso III do artigo
92 do CP, ou seja, a perda do direito de dirigir, conforme estabelece o artigo 93, parágrafo
único, desse mesmo diploma legal. Isso significa dizer que, no caso da perda de cargo, da
função pública ou de mandato eletivo e no caso da incapacitação para o exercício do
pátrio poder, tutela ou curatela, é vedada a reintegração na situação anterior, ou seja, não
pode o reabilitado ser reintegrado no mesmo cargo, função ou mandato, assim como não
pode exercer o pátrio poder, tutela ou curatela em relação à vítima. “Art. 93. [...]
Parágrafo único - A reabilitação poderá, também, atingir os efeitos da condenação,
previstos no art. 92 deste Código, vedada reintegração na situação anterior, nos casos
dos incisos I e II do mesmo artigo”.
Como se pode perceber, o parágrafo único do artigo 93 do Código Penal
implica reconhecer a perpetuidade de alguns efeitos secundários da condenação, o que
pode ser questionado à luz da alínea b do inciso LVII do artigo 5o da Constituição
Federal, que veda as "penas" de caráter perpétuo. Se o Supremo Tribunal Federal, no
acórdão proferido, no dia 16 de agosto de 2005, pela sua Colenda 1a Turma, nos autos do
Habeas Corpus n. 84.219, de São Paulo, nos quais foi relator o Ministro Marco Aurélio,

324
estendeu o sentido da palavra "penas", alcançando as medidas de segurança, poderá, pelas
mesmas razões, estendê-lo, também, para alcançar os efeitos secundários da condenação.

325
CAPÍTULO XII
AS MEDIDAS PENAIS CONSENSUAIS COMINADAS NO ORDENAMENTO
JURÍDICO-PENAL BRASILEIRO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O presente capítulo trata das medidas penais consensuais cominadas no


ordenamento jurídico-penal brasileiro, ou seja, das consequências penais que são frutos
de acordos na esfera penal, mas que, também, representam consequências jurídico-penais.
Dividido em três seções, este capítulo tratará, na primeira, da recepção do
consensualismo pelo ordenamento jurídico-penal brasileiro; a segunda, das medidas
penais consensuais obtidas por meio de transação penal; e, por fim, na terceira, daquelas
obtidas por meio de suspensão condicional do processo.

SEÇÃO I
A RECEPÇÃO DO CONSENSUALISMO PENAL PELO ORDENAMENTO
JURÍDICO PENAL BRASILEIRO

O artigo 98, inciso I, da Constituição Federal recepcionou o consensualismo


na área penal, fazendo menção expressa às infrações penais de menor potencial ofensivo:
Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: I
- juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos,
competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de
menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante
os procedimentos oral e sumariíssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em
lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro
grau. (Os grifos não estão na redação original).

Os institutos da transação penal e da suspensão condicional do processo


foram regulamentados pela Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais Estaduais
(Artigos 76 e 89 da Lei n. 9.099, de 26 de setembro de 1995).

326
Posteriormente, o Código de Trânsito Brasileiro (Lei n. 9.503, de 23 de
setembro de 1997) dispôs, no seu artigo 291 que:
Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos neste
Código, aplicam-se as normas gerais do Código Penal e do Código de
Processo Penal, se este Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a
Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, no que couber. § 1º Aplica-se aos
crimes de trânsito de lesão corporal culposa o disposto nos arts. 74, 76 e 88
da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, exceto se o agente estiver:[...]. (Os
grifos não estão na redação original).

Também a Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais Federais (Lei n.


10.259, de 12 de julho de 2001), no seu artigo 2o, ampliou o conceito de infração de
menor potencial ofensivo e dispôs sobre a aplicabilidade da Lei n. 9.099/1995 ao âmbito
da competência federal.
Também a Lei de Drogas (Lei n. 11.343, de 23 de agosto de 2006), no seu
artigo 48, parágrafo 1o, dispôs sobre a aplicação da Lei dos Juizados Especiais aos crimes
de posse de droga para uso próprio.

SEÇÃO II
CONCEITO E DISTINÇÕES DE MEDIDAS PENAIS CONSENSUAIS

Subseção I
Conceito

As medidas penais consensuais são as consequências penais decorrentes de


transação penal ou de suspensão condicional do processo, ou seja, que resultam de uma
proposta do Ministério Público, que é aceita pelo autor do fato ou pelo réu e seu defensor
e aplicada pela autoridade judiciária, orientada pelo princípio da consensualidade. No
Direito Penal brasileiro, essas medidas não podem envolver a privação da liberdade de
locomoção.

327
Subseção II
Distinções

As medidas penais consensuais distinguem-se do plea bargaining previsto no


direito estadounidense, pois este pode recair sobre qualquer espécie de consequência,
inclusive a privação da liberdade, enquanto aquelas somente podem envolver
consequências penais não privativas da liberdade. Também se distingue do guilty plea
previsto no direito estadounidense, pois este presume a confissão de culpa, enquanto
aquelas não.

SEÇÃO III
MEDIDAS PENAIS CONSENSUAIS OBTIDAS POR MEIO DE TRANSAÇÃO
PENAL

As medidas penais consensuais decorrentes de transação estão disciplinadas


no artigo 76 da Lei n. 9.099/1995.

Subseção I
Conceito

As medidas penais consensuais obtidas por meio de transação são medidas


decorrentes de proposta aceita e homologada, formulada com base no artigo 76 da Lei n.
9.099/1995, ou seja, quando se tratar de infração penal de menor potencial ofensivo, cuja
definição está no artigo 61 dessa mesma Lei, e que compreende as contravenções penais
e os crimes cuja pena máxima cominada não exceder a 2 (dois) anos.

328
Subseção II
Distinções

A transação penal se distingue da suspensão condicional do processo, pois é


forma de exclusão do processo acusatório, já que ocorre antes do oferecimento da
denúncia, salvo a exceção do artigo 79 da Lei n. 9.099/1995. Essas medidas não
dependem de período de prova, de modo que, uma vez cumprida a medida transacionada,
a punibilidade deve ser extinta imediatamente. A suspensão condicional do processo, por
sua vez, ocorre com o oferecimento da denúncia e, uma vez aceita, submete o réu ao
período de prova, mediante condições, somente se extinguindo a punibilidade após
transcorrido o período de prova, se não ocorrer revogação. Na transação penal, por sua
vez, essa extinção da punibilidade ocorre assim que for cumprida a medida penal
consensual.

Subseção III
Cabimento

A transação penal somente é cabível nas infrações penais de menor potencial


ofensivo, ou seja, em relação às contravenções penais e aos crimes cuja sanção penal
privativa de liberdade máxima cominada não ultrapasse a 2 (dois) anos, conforme dispõe
o artigo 61 da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995 (Lei dos Juizados Especiais
Criminais), com as suas alterações posteriores, em especial as imprimidas pela Lei n.
11.313, de 28 de junho de 2006: “Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor
potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a
lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa".
Em caso de concurso de crimes, deve ser observada a soma das penas ou o
aumento decorrente do concurso formal ou crime continuidade. É o que se pode
depreender da ementa parcial do seguinte acórdão, proferido, no dia 11 de fevereiro de
2014, pela Quinta Turma do Egrégio Superior Tribunal de Justiça, nos autos do Habeas

329
Corpus n. 171.425, do Pará, nos quais foi relator o Ministro Jorge Mussi: "1. A soma das
penas máximas previstas para os crimes imputados ao paciente supera 2 (dois) anos,
circunstância que evidencia o óbice objetivo à aplicação dos institutos despenalizadores
previstos na Lei n. 9.099/95. Precedentes".
Também a jurisprudência do Tribunal de Justiça de Santa Catarina é no
sentido de que deve ser observada a soma das penas no caso de concurso de crimes, É o
que se pode depreender da ementa do seguinte acórdão proferido, no dia 24 de junho de
2014, pela sua Primeira Câmara Criminal, nos autos do Recurso Criminal n.
2014.028261-2, de Videira, nos quais foi relator o Desembargador Paulo Roberto
Sartorato:
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. DENÚNCIA QUE IMPUTA A PRÁTICA,
EM TESE, DOS CRIMES DE POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE
USO PERMITIDO (ART. 12 DA LEI N. 10.826/03) E GUARDA DE
ESPÉCIMES DA FAUNA SILVESTRE, INCLUINDO EXEMPLARES EM
EXTINÇÃO (ART. 29, § 1º, III, E § 4º, I, DA LEI N. 9.605/98). REJEIÇÃO DA
DENÚNCIA EM RELAÇÃO AO ÚLTIMO DELITO, POR FALTA DE
PRESSUPOSTO PROCESSUAL PARA O EXERCÍCIO DA AÇÃO PENAL
(ART. 395, II, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL). MAGISTRADA
SINGULAR QUE ENTENDE PELO CABIMENTO DA TRANSAÇÃO PENAL
NO TOCANTE À REFERIDA CONDUTA. IRRESIGNAÇÃO MINISTERIAL.
CONCURSO MATERIAL ENTRE INFRAÇÃO PENAL DE MENOR
POTENCIAL OFENSIVO E CRIME COMUM. ANÁLISE DA VIABILIDADE
DE OFERTA DA TRANSAÇÃO PENAL QUE DEVE LEVAR EM CONTA A
SOMA DAS SANÇÕES MÁXIMAS ABSTRATAMENTE COMINADAS AOS
DELITOS. QUANTUM QUE ULTRAPASSA O PATAMAR DE 02 (DOIS)
ANOS. IMPOSSIBILIDADE DE CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. INDICIADO,
ADEMAIS, REINCIDENTE. REQUISITO SUBJETIVO IGUALMENTE NÃO
ATENDIDO. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS PARA A DEFLAGRAÇÃO DA
AÇÃO PENAL PREENCHIDOS. RECEBIMENTO DA DENÚNCIA QUE SE
IMPÕE. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. "Para fins de aplicação dos
benefícios previstos na Lei n.º 9.099/95, tratando-se de delitos praticados em
concurso material, deve-se considerar a soma das penas máximas cominadas.
Precedentes". (STJ - Habeas Corpus n. 276.921/RJ, Rel. Min. Jorge Mussi,
Quinta Turma, j. em 17/09/2013). Ainda que assim não fosse, estaria obstada
a oferta de transação penal na hipótese em tela, por ser o denunciado
reincidente - não preenchendo, assim, um dos requisitos subjetivos exigidos à
concessão do benefício (art. 76, § 2º, I, da Lei n. 9.099/95). (O grifo não está
na redação original).

330
Subseção IV
Requisitos

A transação penal, segundo dispõe o artigo 76 da Lei dos Juizados Especiais


Criminais, somente pode envolver sanções penais restritivas de direitos e multas, ou seja,
não pode haver transação penal em torno da privação da liberdade. Para que ocorra a
transação penal, deve haver uma proposta pelo Ministério Público, com base em um
termo circunstanciado ou em peças de informação ou inquérito policial ou qualquer outro
procedimento investigatório criminal preparatório, após um juízo de probabilidade acerca
do fato punível. A proposta somente pode ocorrer se o autor do fato não houver sido
condenado à pena privativa de liberdade, nem se houver sido beneficiado pela transação
penal no prazo de 5 (cinco) anos e somente se as circunstâncias judiciais lhe forem
favoráveis. Uma vez aceita a proposta pelo autor do fato e seu defensor, deve ela ser
homologada pela autoridade judiciária competente.
Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública
incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá
propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser
especificada na proposta. § 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única
aplicável, o Juiz poderá reduzi-la até a metade. § 2º Não se admitirá a
proposta se ficar comprovado: I - ter sido o autor da infração condenado, pela
prática de crime, à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva; II - ter
sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela
aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo; III - não
indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem
como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da
medida. § 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será
submetida à apreciação do Juiz. § 4º Acolhendo a proposta do Ministério
Público aceita pelo autor da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva de
direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo registrada apenas
para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos. § 5º Da
sentença prevista no parágrafo anterior caberá a apelação referida no art. 82
desta Lei. § 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não
constará de certidão de antecedentes criminais, salvo para os fins previstos no
mesmo dispositivo, e não terá efeitos civis, cabendo aos interessados propor
ação cabível no juízo cível.

331
§ 1º Não ter o autor do fato sido condenado, anteriormente, por sentença
definitiva, à pena privativa de liberdade

Conforme estabelece o artigo 76, parágrafo 2o, inciso I, Lei n. 9.099/1995, a


transação penal não poderá ser proposta ao autor do fato que já haja sido condenado,
anteriormente, por sentença definitiva, à pena privativa de liberdade.: “Art. 76. [...] § 2º
Não se admitirá a proposta se ficar comprovado: I - ter sido o autor da infração
condenado, pela prática de crime, à pena privativa de liberdade, por sentença
definitiva”.

§ 2º Não ter o autor do fato sido beneficiado pela transação penal no período
de 5 (cinco) anos

Dispõe o artigo 76, parágrafo 2o, inciso II, da Lei n. 9.099/1995 que a
proposta de transação penal não poderá ser formulada ao autor do fato se este jáhouve
sido beneficiado pela transação penal no período de 5 (cinco) anos “Art. 76. [...] § 2º
Não se admitirá a proposta se ficar comprovado: [...] II - ter sido o agente beneficiado
anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos
termos deste artigo”.

§ 3º Serem favoráveis as circunstâncias judiciais relativas àos antecedentes,


conduta social, personalidade, motivos e circunstâncias do crime

Para que possa ser formulada a proposta de transação penal, é necessário que
que as circunstâncias judiciais mencionadas no inciso III do parágrafo 2o do artigo 76 da
Lei n. 9.099/1995 sejam favoráveis: “Art. 76. [...] § 2º Não se admitirá a proposta se
ficar comprovado: [...]III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a
personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e
suficiente a adoção da medida”.

332
Subseção V
Transação penal no juízo comum ou do tribunal do júri

Segundo o parágrafo único do artigo 60 da Lei n. 9.099/1995, com a redação


decorrente da Lei n. 11.313, de 28 de junho de 2006, deverá ser observada a transação
penal, também, quando ocorrer a reunião do processos por força de conexão ou de
continência, em caso de reunião de processos, por força de conexão ou continência, no
juízo comum ou no tribunal do júri: "Art. 60.[...] Parágrafo único. Na reunião de
processos, perante o juízo comum ou o tribunal do júri, decorrentes da aplicação das
regras de conexão e continência, observar-se-ão os institutos da transação penal e da
composição dos danos civis".

SEÇÃO IV
MEDIDAS PENAIS CONSENSUAIS OBTIDAS POR MEIO DE SUSPENSÃO
CONDICIONAL DO PROCESSO

As medidas penais consensuais decorrentes da suspensão condicional do


processo estão previstas no artigo 89 da Lei n. 9.099/1995.

Subseção I
Conceito

As medidas penais consensuais decorrentes da suspensão condicional do


processo são as medidas que advêm de proposta aceita e homologada formulada na
hipótese do artigo 89 da Lei n. 9.099, de 26 de setembro de 1995, ou seja, quando o crime
não possui pena mínima cominada superior a 1 (um) ano. A suspensão condicional do
processo é uma medida despenalizadora, mas sancionadora.

333
Subseção II
Distinções

A suspensão condicional do processo se distingue da transação penal, pois


aquela depende do oferecimento e do recebimento da denúncia e submete o réu a período
de prova já no início do processo. A transação penal não depende de denúncia prévia e
não submete o autor do fato a período de prova, de modo que, uma vez cumprida a
sanção transacionada, extingue-se, imediatamente, a punibilidade, sem que o autor do
fato ou o réu seja submetido a período de prova. Na suspensão condicional do processo, a
extinção da punibilidade ocorre, apenas, ao final do período de prova, se houver o
cumprimento das condições. Por sua vez, a suspensão condicional do processo se
distingue, também, da suspensão condicional da pena, pois esta ocorre ao final do
processo, na sentença, após a pena aplicada, enquanto que aquela ocorre no seu início,
após o recebimento da denúncia. A suspensão condicional do processo se distingue,
ainda, do probation previsto no direito estadounidense, pois este ocorre, somente, após o
veredictum e antes da aplicação da pena, ou seja, no final do processo, enquanto que
aquela ocorre no ínicio do processo, com o oferecimento da denúncia.

Subseção III
Cabimento

A suspensão condicional do processo é cabível, somente, em relação aos


crimes em que a pena mínima cominada não exceder a 1 (um) ano, conforme o artigo 89,
caput, da Lei n. 9.099/1995.
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um
ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a
denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos,
desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido
condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a
suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).

334
§ 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este,
recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o acusado a
período de prova, sob as seguintes condições:
I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;
II - proibição de freqüentar determinados lugares;
III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do
Juiz;
IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para
informar e justificar suas atividades.
§ 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a
suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.
§ 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser
processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a
reparação do dano.
§ 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no
curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição
imposta.
§ 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade.
§ 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo.
§ 7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, o processo
prosseguirá em seus ulteriores termos.

No caso de concurso de crimes, se, em face da soma das penas ou do aumento


decorrente da continuidade ou do concurso formal, a pena ultrapassar o parâmetro antes
mencionado, não é cabível a suspensão condicional do processo, conforme a orientação
jurisprudencial contida na Súmula no 723 do Supremo Tribunal Federal: “Não se admite
a suspensão condicional do processo por crime continuado, se a soma da pena mínima
da infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a um ano”.
No mesmo sentido é a orientação jurisprudencial contida na Súmula n. 243 do
Superior Tribunal de Justiça: “O benefício da suspensão do processo não é aplicável em
relação às infrações penais cometidas em concurso material, concurso formal ou
continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela
incidência da majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano”.

Subseção IV
Requisitos

Conforme estabelece o artigo 89, caput, Lei n. 9.099/1995, a proposta deve


ser formulada pelo Ministério Público em caso de oferecimento da denúncia e
compreende a suspensão do processo, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, mediante o
335
estabelecimento de algumas condições, algumas obrigatórias e outras facultativas, desde
que o denunciado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro
crime.
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um
ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a
denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos,
desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido
condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a
suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).

Sendo aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, o juiz profere decisão de
suspensão do processo e do prazo prescricional, conforme estabelece o parágrafo 1o desse
mesmo artigo: “Art. 89. [...] § 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na
presença do Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo
o acusado a período de prova, sob as seguintes condições:”
Se, porventura, não for aceita a proposta, o processo prosseguirá, conforme
estabelece o parágrafo 7o desse mesmo artigo: “Art. 89.[...] § 7º Se o acusado não aceitar
a proposta prevista neste artigo, o processo prosseguirá em seus ulteriores termos”.

§ 1º Não estar o réu sendo processado

A orientação jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça, na esteira do


caput do artigo 89 da Lei n. 9.099/1995, é no sentido de que não pode ser concedido o
benefício da suspensão condicional do processo ao réu que estiver sendo processado. É o
que se pode depreender da ementa do seguinte acórdão, proferido, no dia 12 de abril de
2011, pela Quinta Turma do Egrégio Superior Tribunal de Justiça, nos autos do Habeas
Corpus n. 115.815, do Rio de Janeiro, nos quais foi relator o Ministro Napoleão Nunes
Maia Filho:
PENAL. HABEAS CORPUS. FURTO. PACIENTE CONDENADO A 1 ANO DE
RECLUSÃO, EM REGIME ABERTO E 10 DIAS-MULTA. PLEITO DE
CONCESSÃO DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO APÓS A
PROLAÇÃO DA SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA. RÉU QUE
RESPONDIA A OUTRO PROCESSO À ÉPOCA DA CONDENAÇÃO.
VEDAÇÃO LEGAL AO BENEFICIO. ARTIGO 89 DA LEI 9.099⁄95. PARECER
DO MPF PELA CONCESSÃO DA ORDEM. WRIT DENEGADO. 1. É firme o
entendimento desta Corte Superior quanto à inadmissibilidade da suspensão
condicional do processo - nos termos do art. 89 da Lei 9.099⁄95 - se o paciente
estava sendo processado pela prática de outro delito. 2.Ordem denegada, em

336
que pese o parecer ministerial em sentido contrário". (O grifo não está na
redação original).

§ 2º Não ter o réu sido condenado

Questiona-se, nesse caso, se deve ser aplicada, analogicamente, a regra do


artigo 64, inciso I, do Código Penal, a fim de se evitar a influência perpétua da
condenação anterior.

§ 3º Estarem presentes os requisitos da suspensão condicional da pena

Devem estar os requisitos da suspensão condicional da pena, os quais estão


previstos no artigo 77 do Código Penal.
Art. 77 - A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois)
anos, poderá ser suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que: I - o
condenado não seja reincidente em crime doloso; II - a culpabilidade, os
antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os
motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do benefício; III - Não seja
indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste Código.

Subseção V
Condições

As condições da suspensão condicional do processo podem ser obrigatórias e


facultativas.

§ 1º Condições obrigatórias

As condições obrigatórias estão prevista no parágrafo 1 o do artigo 89 da Lei


n. 9.099/1995 e são: a obrigação de reparar o dano, a proibição de freqüentar
determinados lugares e de ausentar-se da comarca sem prévia autorização judicial, bem
como a obrigação de apresentar-se periodicamente em juízo para informar acerca das
suas atividades.

337
Art. 89.
[...]
§ 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este,
recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o acusado a
período de prova, sob as seguintes condições: I - reparação do dano, salvo
impossibilidade de fazê-lo; II - proibição de freqüentar determinados lugares;
III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do
Juiz; IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para
informar e justificar suas atividades.

1.1 Reparação do dano, salvo a impossibilidade de fazê-lo

Conforme estabelece o inciso I do parágrafo 1º do artigo 89 da Lei n.


9.099/1995, uma das condições a serem obrigatoriamente propostas para o réu em sede
de suspensão condicional do processo é a obrigação de reparar o dano causado com a
prática do crime, o que pode abranger tanto o dano material quanto o dano moral,
imediatos ou mediatos. Caso o réu não tenha possibilidades financeiras para arcar com
essa obrigação, não ficará obstada a proposta de suspensão do processo. O proponente
deverá se fundamentar em documentos, depoimentos ou perícias acerca dos quantum a
ser fixado.

1.2 Proibição de frequentar determinados lugares

Por sua vez, o inciso II do parágrafo 1º artigo 89 da Lei n. 9.099/1995


estabelece a condição relativa à proibição de frequentar determinados lugares, o que deve
ter relação com a prática do crime, como, por exemplo, quando o crime é praticado em
bares, boates, praças ou estádios esportivos e tem relação com a ida frequente ou
exporádica do réu a esses lugares. No entanto, é necessário levar em consideração que
essa condição não pode afetar o exercício funcional, quando o réu exercer cargo que
exige a ida ao lugar a ser indicado, como ocorre, por exemplo, quando se tratar de
policiais, funcionários públicos ou mandatários políticos que, por lei ou regulamento,
devam se dirigir a determinados lugares para exercer o seu poder de polícia ou de
fiscalização. Essa condição, também, não poderá afetar a atividade profissional do réu,
como, por exemplo, de quem exerce atividades nos estabelecimentos indicados.

338
1.3 Proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do juiz

O inciso III do parágrafo 1º do artigo 89 da Lei n. 9.099/1995 estabelece,


como condição obrigatória para a suspensão condicional do processo, a proibição de o
réu ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização judicial. Trata-se, como se
percebe, de uma condição que não poderá afetar o exercício da função pública, como, por
exemplo, de funcionários públicos ou mandatários políticos que tem o dever
constitucional, legal ou regulamentar de se deslocar de uma comarca a outra, como é o
caso de juízes, promotores e delegados substitutos, de fiscais regionais, de prefeitos,
vereadores, governadores, senadores e deputados federais e estaduais, que devem
participar de audiências ou reuniões nas capitais estaduais e federal, como, também, não
pode afetar o exercício profissional, como de motoristas, representantes comerciais e
vendedores, não sendo razoável que se exija dessas pessoas autorização para cada
deslocamento.

1.4 Comparecimento periódico ao juízo para informar atividades

Por fim, o inciso IV do parágrafo 1º do artigo 89 da Lei n. 9.099/1995


estabelece, como condição para a suspensão do processo, a condição de o réu
comparecer, periodicamente, ao juízo, para informar as suas atividades. Há de se
considerar, no entanto, em face da publicidade e da notoriedade, que essa exigência se
manifesta inócua e, por isso, inexigível, quando se tratar de mandatários públicos e de
pessoas que, devido às atividades, como é o caso de jornalistas, repórteres, artistas de
renome, desportistas etc., estão sempre sendo referidas no jornalismo local, regional e
nacional, de modo a tornar despiciendo o mencionado comparecimento a juízo.

§ 2º Condições facultativas

As condições facultativas podem ser estabelecidas, conforme dispõe o artigo


89, parágrafo 2o, da Lei n. 9.099/1995: “Art. 89.[...] § 2º O Juiz poderá especificar

339
outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à
situação pessoal do acusado”.

Subseção VI
Suspensão da prescrição

Durante o período da suspensão, não fluirá o prazo prescricional, conforme


estabelece o artigo 89, parágrafo 6o, da Lei n. 9.099/1995: “Art. 89.[...]§ 6º Não correrá
a prescrição durante o prazo de suspensão do processo”.

Subseção VII
Revogação

A revogação da suspensão condicional do processo, também, poderá ser


obrigatória ou facultativa.

§ 1º Revogação obrigatória

A revogação obrigatória da suspensão condicional do processo deverá ocorrer


nas hipóteses previstas no artigo 89, parágrafo 3o, da Lei n. 9.099/1995: “Art. 89.[...] § 3º
A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado
por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano”.
Sobre a revogação da suspensão condicional do processo do réu que vier a ser
processado, transcreve-se a ementa do seguinte acórdão proferido, no dia 3 de fevereiro
de 2015, pela Colenda Sexta Turma do Egrégio Superior Tribunal de Justiça, nos autos do
Agravo Regimental no Agravo em Recurso Especial n. 319.958, do Rio Grande do Sul,
nos quais foi relator o Ministro Rogério Schietti Cruz:

340
PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. REVOGAÇÃO DO
BENEFÍCIO ANTE A DENÚNCIA DE NOVO DELITO. ART. 83, § 3°, DA LEI
N. 9.099⁄95. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. Conforme entendimento do Superior
Tribunal de Justiça, nos termos dos §§ 3º e 4º do art. 89 da Lei nº 9.099⁄95, a
suspensão condicional do processo deve ser revogada se o réu vier a ser
processado por outro crime, no curso do período de prova. Incidência da
Súmula n. 83 do STJ, aplicável, outrossim, à alínea "a" do permissivo
constitucional. 2. Agravo regimental não provido.

§ 2º Revogação facultativa

A revogação facultativa da suspensão condicional do processo deverá ocorrer


nas hipóteses previstas no artigo 89, parágrafo 4o, da Lei n. 9.099/1995: “Art. 89.[...] § 4º
A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo,
por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta”.

Subseção VIII
Extinção da punibilidade

Conforme estabelece o parágrafo 5o do artigo 89 da Lei n. 9.099/1995,


expirado o prazo sem revogação, o juiz declarará extinta a punibilidade. “Art. 89.[...] § 5º
Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade”.

341
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