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1 Antibióticos

1. Introdução
Os antibióticos são uma classe de fármacos utilizados para o tratamento de
doenças infecciosas. Para um antibiótico ser eficaz, existe alguns critérios que devem
ser considerados como a necessidade de existência de um alvo (ligante) dentro da
bactéria; a concentração efetiva do fármaco; e não pode ocorrer interações
farmacológicas negativas do antimicrobiano (inativação/modificação). Assim, de
acordo com alguns autores, um antibiótico ideal deveria apresentar: um alvo seletivo;
espectro de ação estreito (que não afete a microbiota residente); baixo nível tóxico;
elevados níveis terapêuticos; mínimo de reações adversas; várias vias de
administração; boa distribuição no local de infecção; não contrariar a defesa imune do
hospedeiro; não induzir resistência bacteriana; possuir boa relação custo/eficácia.
Os antibióticos podem ser: Naturais (Quando produzidos por organismos vivos);
Semissintéticos (Quando são de origem natural porém são submetidos à processos de
síntese em laboratórios) e Sintéticos (Quando sintetizados exclusivamente em
laboratório). Os antibióticos, também são classificados diante de sua ação, podendo ser
bacteriostático ou bactericida. Além disso, os antibióticos também são classificados de
acordo com seus mecanismos farmacodinâmicos, que são listados a seguir:

2. β-Lactâmicos
Os Beta-Lactâmicos são um grupo de antibióticos que possuem um anel beta-
lactâmico em sua composição. Esse anel inibe a síntese do peptídeoglicano da parede
celular. Entretanto, ele também é um determinante no principal mecanismo de
resistência bacteriana: o uso da enzima beta-lactamase, enzima essa que é inibida pelo
ácido clavulânico. Esse grupo farmacológico é formado pelas: Penicilinas,
Cefalosporinas, Carbapenéns e Monobactamos. Essa família de antibióticos é
classificada como bactericidas, por interferir na síntese do peptídeoglicano.

PENICILINAS
As Penicilinas foram o primeiro antibiótico a ser desenvolvido e utilizado contra
bactérias patogênicas ao ser humano e são até hoje as principais na terapêutica. É o
fármaco de primeira escolha para muitas infecções. É produzida pelo fungo
Penicillium chrysogenum, e na sua cultura podem ser adicionados componentes que
caracterizam antibióticos, a exemplo da Penicilina G ou Benzilpenicilina (Penicilina
+ Ácido Fenilacético) e Penicilina V ou Fenoxipenicilina/Fenoximetilpenicilina
(Penicilina + Ácido Fenoxiacético). São eficientes contra vários bacilos e cocos gram-
positivos e gram-negativos. De modo negativo, são suscetíveis à ação das Beta-
Lactamases/Amidases (enzimas bacterianas), e são antibióticos rapidamente
eliminados do organismo. Essas dificuldades são resolvidas pela adição de compostos
que protegem o anel beta-lactâmico ou por associação da penicilina com outras
moléculas que inibem a atividade enzimática da Beta-lactamase a exemplo do ácido
clavulânico, o sulbactam e o tazobactam.
Assim como todos os antibióticos β-lactâmicos, as penicilinas interferem na
síntese do peptídeoglicano da parede celular bacteriana. Seu mecanismo de ação
compreende a ligação da penicilina às proteínas ligadoras da penicilina bacteriana que
vai inibir enzimas responsáveis por fazer a ligação cruzada entre cadeias peptídicas
conectadas ao esqueleto do peptídeoglicano, ou seja, ela interfere na parede celular
impedindo a deposição de “blocos” entre si. Sua ação bactericida se deve à inativação
de um inibidor de enzimas autolíticas na parede celular, fazendo com que ocorra a lise
da bactéria.
As vias de administração das penicilinas podem ser: oral, intravenosas,
intramusculares e intratecal (não mais utilizada por causar convulsões). Sua eliminação
é feita principalmente por via renal (90%). Possuem quase nenhuma toxicidade, e os
efeitos adversos compreendem a hipersensibilidade (causada pelos seus produtos de
degradação, reconhecidos como antígenos pelo sistema imune), erupções cutâneas,
choque anafilático, alteração da microbiota intestinal levando à problemas no trato
gastrointestinal (se administrada oralmente).

CEFALOSPORINAS E CEFAMICINAS
As cefamicinas são produzidos por Streptomyces e estão intimamente
relacionados com as cefalosporinas. Possuem o mesmo mecanismo de ação que as
penicilinas. A primeira cefalosporina foi descoberta em 1945 na Itália, sendo produzida
pelo fundo Cephalosporium acremonium. Tem espectro de ação maior que o da
Penicilina G. Esses fármacos possuem isótopos C, N e P, entretanto apenas a
Cefalosporina C são desse grupo, enquanto que as N é quimicamente uma penicilina e
a P possui estrutura esteróide. Alguns compostos foram descobertos e adicionados para
promover maior estabilidade em meio ácido por esse fármaco, caracterizando-o como
semissintético. Variam na susceptibilidade às β-lactamases. E, dependendo dos grupos
químicos que são adicionados e do espectro de ação que possuem, as cefalosporinas
podem ser classificadas em 5 gerações.
As cefalosporinas podem ser administradas pelas vias: oral, parental (mais
utilizada), intramuscular ou intravenosa. Podem atravessar a barreira
hematoencefálicas. Sua excreção é feita pelos rins (maior parte) e bile.
Os efeitos adversos são semelhantes aos da penicilina, além de nefrotoxicidade
(especialmente Cefradina), intolerância ao álcool e diarreia.
GERAÇÃO CARACTERÍSTICAS ESPECTRO DE AÇÃO EXEMPLOS
Cefalotina
 Staphylococcus
Cefaloridina
 Streptococcus
Cefradina
1º Geração  E. coli
Ceradroxil
 Klebisella pneumoniae
Cefazolina
 Proteus mirabilis
Cefalexina
Cefamandol
 Mais eficazes contra
Cefaclor
Gram-negativo
2º Geração Cefoxitina
produtores de β-
Cefuroxima
lactamases
Cefotetan
Cefotaxima
 Bactérias Gram-
Cefsulodina
negativos e Gram-
Ceftriaxona
3º Geração positivos
Ceftazidima
 Usados em Infecções
Cefaperazona
Hospitalares
Cefixima
 Mesma atividade contra
Gram-negativos
 Mais potentes para
Cefepime
4º Geração Gram-positivos que a 3º
Cefpiroma
Geração
 Mais resistentes às β-
lactamases
 Atividades contra
estafilococos meticilino-
Ceftaroline
5º Geração resistentes
Ceftobiprole
 Sem ação contra
pseudomonas

CARBAPENÉNS
É o grupo de fármaco que representa a última linha no combate às infecções por
bactérias resistentes. Possuem maior espectro de ação contra bactérias Gram-negativo
e Gram-positivo aeróbicos e anaeróbicos, incluindo os microrganismos produtores de
B-lactamases. De maneira geral, é um grupo considerado como uma forte arma no
combate às bactérias. São suscetíveis às carbapenemases, enzimas que reconhecem e
hidrolisam quase todos os tipos de beta-lactâmicos (incluindo os carbapenéns), sendo
também as mais resistentes aos inibidores de beta-lactamases. Entre os exemplos de
fármacos desse grupo é possível citar 3.
O Imipenemo, que é produzido por Streptomyces cattleya, possui tempo de
meia-vida curto, e enorme espectro de ação, além de ser usado apenas em ambiente
hospitalar por via intramuscular ou intravenosa pois a absorção por via oral é reduzida,
e seu uso é apenas sugerido em casos de infecções graves.
O Meropenemo é de largo espectro e resistente à β-lactamases, mas não às
carbapenemases, é usado em infecções graves e em ambiente hospitalar, sendo mais
ativo contra Pseudomonas aeruginosa e não é metabolizado pelos rins.
O Ertapenemo é usado em infecções graves na comunidade e em ambientes
hospitalares, possui um espectro de ação mais reduzido.
Os efeitos adversos dos Carbapenéns são semelhantes aos outros β-lactâmicos,
sendo mais frequentes a náusea e êmese, e em neurotoxicidade em casos de elevadas
concentrações.

MONOBACTÂMICOS
Não possuem elevada atividade antibacteriana, não tendo atividade contra
microrganismos Gram-positivos ou anaeróbios estritos. O principal é o aztreonam,
que é mais restistentes às β-lactamases, mais ativo contra bacilos Gram-negativo
aeróbios e facultativos como as pseudomonas, Neisseria meningitis e Haemophilus
influenzae. É administrado por via intramuscular ou intravenosa devido à fraca
absorção oral, e é muito utilizado em casos de infecções do trato urinário ou do trato
respiratório inferior.
Os efeitos adversos são de modo geral, semelhantes aos outros β-lactâmicos,
porém não causam hipersensibilidade e assim podem ser administrados aos pacientes
alérgicos à penicilina.
GLICOPEPTÍDEOS
A vancomicina é o principal exemplo desse grupo, assim como a teicoplanina
que tem ação semelhante, porém é mais duradoura. A vancomicina é eficaz
principalmente contra bactérias Gram-positivas. Pode ser administrada oralmente (em
casos de infecção por C. difficile) e intravenosamente. Possui meia-vida plasmática de
8 horas. Pode ser utilizada em pacientes alérgicos à penicilina.
Os efeitos adversos incluem febre, rashes (erupções cutâneas) e flebite no local
da injeção. Pode ocorrer ototoxicidade e nefrotoxicidade, e às vezes ocorre
hipersensibilidade.

3. Inibidores da Síntese Protéica


Esse grupo compreende uma família de fármacos antimicrobianos que atuam
nos ribossomos bacterianos 30s e 50s, a exemplo dos aminoglicosídeos, tetraciclinas,
macrolídeos, anfenicóis, licosamida e oxozilinidonas. Eles irão atuar inibindo ou
modificando a síntese protéica e enzimática necessária para o metabolismo e
crescimento bacteriano.

TETRACICLINAS
São antibióticos de largo espectro que incluem a tetraciclina, a oxitetraciclina,
a demeoclocilina, a limeciclina, a doxiciclina e a minociclina. As tetraciclinas são
antibióticos bacteriostáticos, e não bactericidas. Possuem espectro antimicrobiano
muito amplo, incluindo bactérias Gram-positivas, Gram-negativas, espiroquetas e
alguns protozoários. São administradas por via oral, ou por via parenteral. Sua
absorção é reduzida na presença de leite, certos antiácidos e preparações com ferro.
Entre os efeitos adversos é possível citar alterações gastrintestinais, deficiência
de vitaminas do complexo B, superinfecções, causam manchas nos ossos, hipoplasia
dentária, deformidades ósseas. Seu uso deve ser contraindicado em crianças, gestantes,
mães em período de amamentação. Além disso, doses elevadas de tetraciclinas podem
diminuir a síntese protéica da célula hospedeira, e seu uso em longo prazo pode causar
alterações na medula óssea.
ANFENICÓIS
O principal fármaco desse grupo é o cloranfenicol que foi originalmente isolado
de culturas de Streptomyces. Seu uso deve ser reservado para as infecções graves em
que o benefício do fármaco supere a toxicidade hematológica incomum, porém grave
(infecções por Haemophilus influenzae resistentes a outros fármacos; meningite, caso
não possa ser usada penicilina; conjuntivite bacteriana). É um fármaco bacteriostático,
porém destrói o H. influenzae. Tem amplo espectro de ação, incluindo Gram-negativos
e Gram-positivos, além de riquétsias. É administrado oralmente, tem meia-vida de 2
horas e é eliminado no fígado.
Seus efeitos adversos são preocupantes, à exemplo de danos na medula óssea
resultando em pancitopenia (destruição de todos os elementos celulares sanguíneos),
causa a “síndrome do bebê cinzento” em uso não monitorado para recém-nascidos
(vômito, diarreia, cor acinzentada, mortalidade de 40%), hipersensibilidade, alterações
gastrintestinais com alteração da microbiota.

MACROLÍDEOS
Os principais fármacos desse grupo são a eritromicina, claritromicina e
azitromicina. Possui espectro semelhante ao da penicilina, e se apresenta como uma
opção segura e eficaz para pacientes sensíveis à penicilina.
A eritromicina é eficaz contra bactérias e espiroquetas Gram-positivos, porém
não tem efeitos sobre a maioria dos Gram-negativos. Pode causar resistência
bacteriana.
A azitromicina é menos eficaz contra as bactérias Gram-positivas comparada
a eritromicina, e tem excelente ação sobre o Toxoplasma Gondii.
A claritromicina é muito ativa e 2x mais eficaz que a eritromicina contra o H.
influenzae e outras infecções sistêmicas.
Os macrolídeo são administrados pela via oral. Possuem como efeitos adversos:
alterações gastrintestinais (porém não são graves), reações de hipersensibilidade,
erupções cutâneas, febre, icterícia.

4. Inibidores da Síntese do Folato


Compreende um grupo de fármacos responsáveis pela inibição da síntese do
folato, um substrato necessário para síntese de ácidos nucleicos (RNA e DNA). São
fármacos bacteriostáticos.

SULFONAMIDAS
A sulfanilamida é um análogo estrutural do ácido p-amino-benzóico (PABA),
que é um precursor essencial para a síntese do ácido fólico (folato) necessário para
síntese de DNA e RNA nas bactérias. Assim, a sulfanilamida compete com o PABA
pela enzima di-hidropteroato sintetase fazendo com que não ocorra o crescimento
bacteriano, motivo pelo qual a sulfanilamida é considerada um fármaco bacteriostático.
Possui resistência bacteriana pela síntese de enzimas insensíveis ao fármaco. São
administradas oralmente, bem absorvida e distribuída pelo corpo.
Os efeitos adversos são sérios e carecem de interrupção do tratamento, incluindo
hepatite, hipersensibilidade, rashes, síndrome de Stevens-Johnson, necrólise tóxica,
depressão da medula óssea, falência renal, náusea, êmese e depressão.

TRIMETOPRIMA
A trimetoprima é um fármaco parcialmente análogo à di-hidrofolato redutase
bacteriana, responsável pela síntese final de DNA. É um fármaco bacteriostático ativo
sobre a maioria dos patógenos bacterianos comuns e protozoários. É bem absorvida
oralmente e bem distribuída pelos tecidos e líquidos corporais. É eliminada pelo rim.
Possui efeitos adversos que incluem rashes, náusea, vômitos e alterações
sanguíneas.

5. Outros Grupos
Além dos β-lactâmicos e das tetraciclinas, existem outros grupos. Os Inibidores
de Ácido Nucleico, representado pelas classes das Fluorquinolonas, tendo como
exemplo: criprofloxacina, levofloxacina, ofloxacina, norfloxacina. Além de agentes
antibacterianos e outros menos comuns como o metronidazol (antiprotozoário),
clindamicina (antibiótico usado contra cocos Gram-positivos, estafilococos resistentes
à penicilina),

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