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4. A política onipresente
Introdução -
"Ora, nem a liberdade de comércio nem o estatuto de Reino Unido foram questionado
pelas Cortes. Por isso não se pode falar em recolonização" (p. 106).
"... e seduzindo em grande parte de suas elites dos dois lados do Atlântico. Tratava-se de
ampliar, com a mudança de regime, a participação dessas elites nos processos decisórios
através de seus representantes no Legislativo, enfraquecendo em contrapartida, e na
mesma medida, o poder real".
"O interesse dos governantes deve ser o mesmo que os dos governados; e que cumpre
fazer causa comum com o patriotismo do povo, e com as ideias sãs dos homens virtuosos
e instruídos".
Afinal, para ele (Bonifácio), os brasileiros "Não estão em estado de fazer sacrifícios
contínuos pessoais, para figurarem nas assembleias e na administração: assim temo muito
que o nosso edifício social não acabe em pouco tempo, logo que afrouxe o entusiamo
momentâneo, que o gerou".
"Queremos [...] aquela liberdade de que somos capazes, aquela liberdade que faz a
felicidade do Estado e não a liberdade que dura momentos; e que é sempre a causa e o
fim de terríveis desordens. Que quadro nos apresenta a desgraçada América! Há catorze
anos que se dilaceram os povos, que tendo saído de um governo monárquico pretendem
estabelecer uma licenciosa liberdade; e depois de terem nadado em sangue, não são mais
que vítimas da desordem, da pobreza e da miséria. Que temos visto na Europa todas as
vezes que homens alucinados por princípios metafísicos, e sem conhecimento da natureza
humana, quiseram criar poderes impossívelis de sustentar? Vimos os horre
"Seu projeto, portanto, se apontava para uma revolução nas relações econômicas,
sociais e políticas da ex-colônia escravista, nada tinha, em outro sentiido, de
revolucionário: ele na verdade desconfiava profundamente da massa de negros e
mestiços, especialmente aqueles submetidos à escravidão. Se a sua perspectiva
ilustrada o levava a repudiar a escravidão, considerada então um obstáculo ao
desenvolvimento, à civilização e à própria manutenção da ordem, cabia à elite
branca emancipar, guiar, educar e civilizar os escravos, para que um dia viessem a
se tornar cidadãos, mesmo se em condição que ainda os privasse da igualdade
política e cultural".
Agenda reformista: educação(jesuítas expulsos por Pombal fizeram com que a educação
ficasse precária na colônia), civilização de índios e integração de negros, mudanças na
administração política, um terceiro ponto central na agenda reformista, era a necessidade
imperiosa de uma verdadeira reforma da propriedade da terra e, por fim, previa-se, nesta
agenda reformista, uma transferência da capital para o interior do Brasil (sim, próximo de
onde é Brasília), pois, assim, protegia-se a capital de ataques marítimos e terrestres,
expandia-se o território, dava-se alternativa para desempregados e vadios que lotavam as
cidades mercantis e marítimas e, ainda por cima, facilitava a comunicação com o restante
do Império.
Já em São Paulo, Bonifácio tocava um projeto onde buscava-se, através das ciências e das
tecnologias adquiridas da Europa e de experiências, fazer avançar a educação, a
agricultura e a indústria em São Paulo, tomou-se medidas para tais, os investimentos
necessários eram oriundos do poder público, ou seja, do governo, quanto do privado, da
elite econômica. Além de público e privado deverem assim se associar para, através da
ciência, promover a modernização econômica e sua diversificação, também se evidencia
uma perspectiva do papel da administração pública como dinamizadora da economia,
condensava-se, assim, a conjunção da experiência paulista com a tradição portuguesa.
As ordens lisboetas chegaram ao Brasil em dezembro, e foi imediata a reação das elites
americanas: repúdio e articulação em torno da permanência de d. Pedro no Rio de
Janeiro. Os líderes da câmara municipal fluminense começaram prontamente a recolher
assinaturas em uma representação que pendia a d. Pedro para desobedecer às Cortes e
ficar no Brasil. Mandaram ainda emissários para São Paulo e Minas Gerais, a fim de
obter o apoio das elites dessas províncias.A junta de São Paulo, que já se articulava sob a
liderança de José Bonifácio, enviou uma carta a príncipe, ainda em dezembro de 1821,
igualmente o incitando a desobedecer às Cortes e permanecer no Brasil. Argumentava-se
que: os lisboetas aprovaram leis para o Brasil antes de os deputados de ultramar
chegarem a Lisboa; em seguida, radicalizando-se as acusações, afirmou-se que no projeto
de constituição então discutido, "a cada página se desobre o maquiavelismo com que,
com douradas cadeias, se intenta escravizar este riquíssimo país e reduzi-lo a mera
colônia", pois, "esta medida a mais impolítica que o espírito humano podia ditar, tomada
sem consultar os representantes do Brasil, é o maior insulto que se podia fazer a seus
habitantes..." Também em dezembro, Bonifácio enviou à junta de Minas Gerais ofício no
qual propunha uma aliança mesmo tempo ofensiva e defensiva contra quaisquer atos das
cortes considerados arbitrários e "anticonstitucionais" e que tivessem o intuito de reduzir
as províncias do Brasil à condição de colônia. Bonifácio, juntamente com os outros
membros da elite luso-americana, começava assima construir sua versão da história: as
Cortes pretendiam recolonizar o Brasil, daí a legitimidade de sua luta contra elas.
Iniciava-se também oe sforço de uma ação conjunta em torno da figura de d. Pedro.
Ainda não se abria mão, porém, de continuar como parte do Império português. Nesse
mesmo ofício, Bonifácio expressava sua esperança de que as Cortes afinal recuassem, de
modo que a união fosse preservada. Sem esse recuo, por outro lado, a independência se
tornava inevitável: "Sempre fomos portugueses e queremos ser irmãos dos da Europa,
mas não seus escravos". Em sua visão, portanto, não havia uma luta nacionalista, de
brasileiros contra portugueses, mas uma disputa política entre portugueses dos dois lados
do Atlântico.
D. Pedro recebeu a carta dos paulistas no dia 1° de janeiro de 1822, e no dia 9, uma
deputação do Senado da Câmara do Rio de Janeiro entregou-lhe sua representação com 8
mil assinaturas. Em resposta, o príncipe anunciou que não pretendia deixar o Brasil, no
que ficou conhecido como o Dia do Fico.
Bonifácio, convidado por d. Pedro, foi o primeiro homem nascido na colônia a assumir
um cargo de primeiro escalão.
Coube a Bonifácio e a d.Pedro que, principiavam juntos a carreira política, que para
ambos seria relativamente breve, mas compreenderia um momento histórico impar: a
construção de uma nova nação. Percebe-se, pelas cartas, uma íntima relação entre d.
Pedro e Bonifácio que apresentavam grande sintonia e que, nas possíveis divergências,
demonstrava d.Pedro disposição para ouvir e acatar as ideias daquele que se tornara seu
principal conselheiro.
Pressionado de ambos os lados, d. Pedro optou por se aliar às elites locais para, num
primeiro momento, evitar a independência; em seguida, contudo, em nome da
manutenção dessa aliança, foi ele a proclamá-la. Ao recorrerem ao príncipe,
aproveitando-se de sua presença para reivindicar a sua permanência, as elites brasileiras
procuravam garantir seus interesses e, ao mesmo tempo, minimizar o risco de um abalo
maior de ordem interna. Pois se acaso tornasse inevitável, a separação de Portugal seria
tão comandada pelo governo instalado no Rio de Janeiro, as ordens de d. Pedro, príncipe
herdeiro do trono português, buscando-se assim evitar uma guerra, além da consequente
mobilização da sociedade. Era a mudança com ordem que tanto agradava Bonifácio que,
agora ministro, ficava em situação privilegiada para dirigir o processo.