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Texto 1) José Bonifácio - Miriam Dolhnikoff (capítulo IV).

4. A política onipresente

Introdução -

Faz-se, no texto, em um primeiro movimento, uma menção à Revolução do Porto em


Portugal que tinha como objetivo... e concluiu-se em... e desembocou na história do
Brasil de maneira...

No prosseguimento do texto, a autora faz menção à uma teoria, defasada, de que a


Revolução do Porto buscava a recolonização do Brasil. Tal teoria que "carece de
fundamento" foi contestada no decorrer do texto. Mostra a autora que, ao invés de uma
Recolonização, buscava-se, na verdade, uma centralização político-administrativa em
Lisboa, o que, em fato, não significava revogar nenhuma das concessões liberadas à ex-
colônia. Todavia, os americanos foram contrários a tal decisão, pois, estes, visavam uma
espécie de "federação", ou seja, uma maior autonomia para decisões próprias da borda à
direita do Atlântico. Ou seja, não estava em discussão uma espécie de recolonização,
mas, estava-se em pauta, como seria o perfil desta Monarquia Constitucional. Tal forma
de governo - monarquia constitucional - era defendida pelas elites dos dois lados do
Atlântico. Evidentemente, tal forma de governar inspirava-se na Inglaterra, França e
Estados Unidos, pois, neste modelo, afastava-se a tirania do absolutismo, mas, em
contrapartida, não trazia o fantasma da anaquia popular. Apesar das elites desejarem um
modelo representativo, ou seja, que determinados agente políticos que outrora não eram
diretamente representados, pudessem, agora, obter tal representação, isso significa dizer
que no século XIX suas características eram distintas das democracias contemporâneas.
Não existia, por exemplo, o voto universal, nem sequer a concepção de que o direito de
partipação política deveria ser estendido a toda população. Em verdade, em palavras do
próprio Bonifácio, advogava-se que "o interesse dos governantes deve ser o mesmo que
os dos governados; e que cumpre fazer causa comum com o patriotismo do povo, e com
as ideias sãs dos homens virtuosos e instruídos". Ou seja, a busca de res-publica, deveria
ser tomada por indivíduos que estariam, de certa forma, acima dos ditos "comuns".
Diferenciava-se por rendas ou letramento. Bonifácio era defensor do sistema
representativo e afirmava que "querer já governar sem ele é querer desordens e correr
riscos horríveis". Ou seja, a monaquia constitucional era uma maneira de institucionalizar
os conflitos e garantir que eles fossem resolvidos no interior das instituições e não através
de confrontos armados ou movimentos populares, daí a importância da legitimidade
adquirida pela participação pelo voto. Tratava-se de um regime que estabelecia o
chamado império da lei. A monaquia constitucional, se de um lado afastava a tirania do
absolutismo, de outro não trazia o fantasma da anaquia popular, associada à república no
ideário da elite". "Por fim, significava um governo representativo, em que uma câmara
de representantes eleitos por parte do povo redigiria as leis a que todos se submeteriam,
inclusive o rei". A disputa entre os representantes da América e os de Portugal teve na
verdade outro conteúdo. O que estava em jogo era o perfil que teria a nova monarquia
constitucional. Enquanto os americanos queriam autonomia política para decidir sobre
seus interesses específicos, portanto um regime descentralizado, os portugueses do reino
estavam decididos a organizar uma monaquia constitucional centralizada em Lisboa".
"Era a centralização que os luso-brasileiros consideravam inaceitável, apesar do fato de
que estariam representados na Assembleia Geral e de que as liberdades conquistada em
1808, especialmente a de comércio, permaneceria inalteradas".

Citações (da introdução) -

"Por muito tempo, a historiografia brasileira atribuiu a proclamação da independência às


intenções das Cortes de recolonizar o Brasil, mas pesquisas recentes têm demonstrado
que tal interpretação carece de fundamento. Em primeiro lugar, a análise dos anais dos
debates realizados nas Cortes lisboetas, feita pela historiadora Márcia Berbel, demonstra
que em momento algum os deputados manifestaram essa intenção, nem propuseram,
portanto, qualquer medida legislativa nesse sentido. Além disso, estavam conscientes da
inexequibilidade desse projeto, que não seria aceito nem pela elite da ex-colônia nem
pelo governo britânico, entãoc om grande influência sobre o destino português, tanto do
ponto de vista político quanto econômico. Recolonizar o Brasil significaria duas medidas
imprescindíveis para recompor o pacto colonial: restabelecer o exclusivo metropolitano,
ou seja, revogar a Abertura dos Portos e os tratados com a Inglaterra e anular a elevação
do Brasil a Reino Unido a Portugal e Algarves (p.105).

"Ora, nem a liberdade de comércio nem o estatuto de Reino Unido foram questionado
pelas Cortes. Por isso não se pode falar em recolonização" (p. 106).

"... e seduzindo em grande parte de suas elites dos dois lados do Atlântico. Tratava-se de
ampliar, com a mudança de regime, a participação dessas elites nos processos decisórios
através de seus representantes no Legislativo, enfraquecendo em contrapartida, e na
mesma medida, o poder real".

"O interesse dos governantes deve ser o mesmo que os dos governados; e que cumpre
fazer causa comum com o patriotismo do povo, e com as ideias sãs dos homens virtuosos
e instruídos".

Afinal, para ele (Bonifácio), os brasileiros "Não estão em estado de fazer sacrifícios
contínuos pessoais, para figurarem nas assembleias e na administração: assim temo muito
que o nosso edifício social não acabe em pouco tempo, logo que afrouxe o entusiamo
momentâneo, que o gerou".
"Queremos [...] aquela liberdade de que somos capazes, aquela liberdade que faz a
felicidade do Estado e não a liberdade que dura momentos; e que é sempre a causa e o
fim de terríveis desordens. Que quadro nos apresenta a desgraçada América! Há catorze
anos que se dilaceram os povos, que tendo saído de um governo monárquico pretendem
estabelecer uma licenciosa liberdade; e depois de terem nadado em sangue, não são mais
que vítimas da desordem, da pobreza e da miséria. Que temos visto na Europa todas as
vezes que homens alucinados por princípios metafísicos, e sem conhecimento da natureza
humana, quiseram criar poderes impossívelis de sustentar? Vimos os horre

A presença de São Paulo nas Cortes de Lisboa -

Nas Cortes de Lisboa, a única deputação luso-americana com um programa previamente


definido era a de São Paulo (Lembranças e apontamentos aos deputados paulistas à
cortes). Nele não se fala em independência, nem há qualquer crítica à manutenção da
América portuguesa no Império lusitano. Na verdade, o texto tem o sentido oposto".
Logo no início, Bonifácio afirma que as propostas ali contidas garantiriam "que os laços
indissolúveis, que hão de prender as diferentes partes da monarquia em ambos os
hemisférios sejam eternos como esperamos". Nas cortes de Lisboa, o que estava em jogo
para os luso-brasileiros era o desenho que deveria ser dado à monarquia constitucional,
de modo a preservar um governo próprio na América, que respondesse com autonomia
pela administração do seu território.

Defendia o modelo de Montesquieu de divisão em três poderes, Executivo, Legislativo e


Judiciário, mas adotava a perspectiva de parte dos pensadores franceses liberais que
advogavam a necessidade de uma espécie de quarto poder para fiscalizar os outros três".
No texto de 1824, adotando a fórmula de um desse pensadores franceses, Benjamin
Constant, essa instância tomaria a forma do Poder Moderador, exercido pelo imperador. A
proposta original de Bonifácio era mais "democrática", uma vez que a atribuição seria
conferida a cidadãos eleitos (os censores). Defende-se, no segundo capítulo, "Negócios
do Reino do Brasil", a necessidade de se adotar política para civilizar os índios e
emancipar gradualmente os escravos: ou seja, para integrar tanto índios quanto escravos
de origem africana como cidadãos da nova monarquia constitucional. No que dizia
respeito aos escravos, era preciso que, enquanto não fossem definitivamente libertados,
seus senhores fossem fiscalizados pelo governo para garantir que dessem a eles um
tratamento condizente com sua condição de homens e cristãos, evitando o serem tratados
como "bruto animais".

"Seu projeto, portanto, se apontava para uma revolução nas relações econômicas,
sociais e políticas da ex-colônia escravista, nada tinha, em outro sentiido, de
revolucionário: ele na verdade desconfiava profundamente da massa de negros e
mestiços, especialmente aqueles submetidos à escravidão. Se a sua perspectiva
ilustrada o levava a repudiar a escravidão, considerada então um obstáculo ao
desenvolvimento, à civilização e à própria manutenção da ordem, cabia à elite
branca emancipar, guiar, educar e civilizar os escravos, para que um dia viessem a
se tornar cidadãos, mesmo se em condição que ainda os privasse da igualdade
política e cultural".

Agenda reformista: educação(jesuítas expulsos por Pombal fizeram com que a educação
ficasse precária na colônia), civilização de índios e integração de negros, mudanças na
administração política, um terceiro ponto central na agenda reformista, era a necessidade
imperiosa de uma verdadeira reforma da propriedade da terra e, por fim, previa-se, nesta
agenda reformista, uma transferência da capital para o interior do Brasil (sim, próximo de
onde é Brasília), pois, assim, protegia-se a capital de ataques marítimos e terrestres,
expandia-se o território, dava-se alternativa para desempregados e vadios que lotavam as
cidades mercantis e marítimas e, ainda por cima, facilitava a comunicação com o restante
do Império.

Alarga-se o oceano (minha parte) -

As diferenças entre as províncias da colônia não eram apenas econômicas. Dadas a


grandeza do território e a diversidade da forma pela qual fora ocupado, elas eram também
de costumes e de culturas. Por isso, os deputados em Lisboa não atuavam como
representantes de um único conjunto, o Brasil, mas sim como representantes cada qual de
suas províncias, com interesses e posições muitas vezes antagônicos entre si. Lino
Coutinho, deputado pela Bahia, assim resumia a situação: "As províncias do Brasil são
outros tantos reinos, que não têm ligação uns com os outros, não reconhecem
necessidades gerais, cada um governa-se por leis particulares de municipalidade". Mas
apesar de sua diversidade, ou por causa dela, os representantes das várias províncias
encontraram um solo comum justamente no texto escrito por Bonifácio, como salienta a
historiadora Márcia Berbel, "... tratava-se de defender o esboço do "poderoso Império"
luso-brasileiro, ou seja, o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, contra as teses
nacionalistas dos deputados de Portugal. Para tanto, fazia-se necessário o diálogo com as
delegações do Nordeste, e o "mais novo dos andradas", ex-revolucionário de 1817, tinha
o perfil adequado para a tarefa". O projeto de monarquia constitucional defendido pelos
deputados o reino se opunha, assim, aos anseios dos representantes da ex-colônia
americana. A questão-chave era a autonomia.

Já em São Paulo, Bonifácio tocava um projeto onde buscava-se, através das ciências e das
tecnologias adquiridas da Europa e de experiências, fazer avançar a educação, a
agricultura e a indústria em São Paulo, tomou-se medidas para tais, os investimentos
necessários eram oriundos do poder público, ou seja, do governo, quanto do privado, da
elite econômica. Além de público e privado deverem assim se associar para, através da
ciência, promover a modernização econômica e sua diversificação, também se evidencia
uma perspectiva do papel da administração pública como dinamizadora da economia,
condensava-se, assim, a conjunção da experiência paulista com a tradição portuguesa.

A oposição entre luso-americanos e portugueses em Lisboa começou a se radicalizar aos


poucos. Em setembro de 1821, as Cortes promulgaram um decreto ordenando que
d.Pedro retornasse a Portugal. Outro decreto determinava a extinção dos tribuinais
criados por d. João VI no Brasil a partir de 1808. Era um duro golpe contra as pretensões
de se manter um governo autônomo no Rio de Janeiro. As dificuldades dos deputados
brasileiros em Lisboa em fazer aprovar um governo autônomo para o Brasil juntavam-se
agora, à dispoição dos portugueses de tornar esse projeto inviável na prática.

As ordens lisboetas chegaram ao Brasil em dezembro, e foi imediata a reação das elites
americanas: repúdio e articulação em torno da permanência de d. Pedro no Rio de
Janeiro. Os líderes da câmara municipal fluminense começaram prontamente a recolher
assinaturas em uma representação que pendia a d. Pedro para desobedecer às Cortes e
ficar no Brasil. Mandaram ainda emissários para São Paulo e Minas Gerais, a fim de
obter o apoio das elites dessas províncias.A junta de São Paulo, que já se articulava sob a
liderança de José Bonifácio, enviou uma carta a príncipe, ainda em dezembro de 1821,
igualmente o incitando a desobedecer às Cortes e permanecer no Brasil. Argumentava-se
que: os lisboetas aprovaram leis para o Brasil antes de os deputados de ultramar
chegarem a Lisboa; em seguida, radicalizando-se as acusações, afirmou-se que no projeto
de constituição então discutido, "a cada página se desobre o maquiavelismo com que,
com douradas cadeias, se intenta escravizar este riquíssimo país e reduzi-lo a mera
colônia", pois, "esta medida a mais impolítica que o espírito humano podia ditar, tomada
sem consultar os representantes do Brasil, é o maior insulto que se podia fazer a seus
habitantes..." Também em dezembro, Bonifácio enviou à junta de Minas Gerais ofício no
qual propunha uma aliança mesmo tempo ofensiva e defensiva contra quaisquer atos das
cortes considerados arbitrários e "anticonstitucionais" e que tivessem o intuito de reduzir
as províncias do Brasil à condição de colônia. Bonifácio, juntamente com os outros
membros da elite luso-americana, começava assima construir sua versão da história: as
Cortes pretendiam recolonizar o Brasil, daí a legitimidade de sua luta contra elas.
Iniciava-se também oe sforço de uma ação conjunta em torno da figura de d. Pedro.

Ainda não se abria mão, porém, de continuar como parte do Império português. Nesse
mesmo ofício, Bonifácio expressava sua esperança de que as Cortes afinal recuassem, de
modo que a união fosse preservada. Sem esse recuo, por outro lado, a independência se
tornava inevitável: "Sempre fomos portugueses e queremos ser irmãos dos da Europa,
mas não seus escravos". Em sua visão, portanto, não havia uma luta nacionalista, de
brasileiros contra portugueses, mas uma disputa política entre portugueses dos dois lados
do Atlântico.

D. Pedro recebeu a carta dos paulistas no dia 1° de janeiro de 1822, e no dia 9, uma
deputação do Senado da Câmara do Rio de Janeiro entregou-lhe sua representação com 8
mil assinaturas. Em resposta, o príncipe anunciou que não pretendia deixar o Brasil, no
que ficou conhecido como o Dia do Fico.

Bonifácio, convidado por d. Pedro, foi o primeiro homem nascido na colônia a assumir
um cargo de primeiro escalão.

Bonifácio, em discurso e texto, criticava as medidas tomadas pelos deputados de Lisboa e


deixava claro que os paulistas estavam em consonância com seus representantes em
Lisboa. Criticando, com palavras duras, o plano dos portugueses de fazer retonar a lisboa
todo o aparato institucional instalado no Rio de Janeiro a partir de 1808 que, nos dizeres
de bonifácio, d. João, ao chegar naquele ano, havia fundado o "Império brasílico", ou
seja, pela primeira vez, a ex-colônia aparecia como uma entidade diferenciada, um
império que tinha nome próprio, e já não era simplesmente português. Então, sem meias
palavras, avisava que a obediência às Cortes, com a partida de d. Pedro para Lisboa,
resultaria em guerra civil, ameaçando o príncipe que, se o fizesse, teria de responder.
Todavia, na mesma carta, Bonifácio deixava, porém, aberta uma porta para a união,
afirmando em seguida que os signatários não desejavam a separação de Portugal, e que a
unidade dependia do recuo das Cortes e da aceitação de um governo autônomo para o
Brasil.

Bonifácio lançou as sementes da independência e assumiu um papel central nos


acontecimentos, estabelecendo os parâmetros pelos quais as negociações e a possível
separação deveriam seguir.

Coube a Bonifácio e a d.Pedro que, principiavam juntos a carreira política, que para
ambos seria relativamente breve, mas compreenderia um momento histórico impar: a
construção de uma nova nação. Percebe-se, pelas cartas, uma íntima relação entre d.
Pedro e Bonifácio que apresentavam grande sintonia e que, nas possíveis divergências,
demonstrava d.Pedro disposição para ouvir e acatar as ideias daquele que se tornara seu
principal conselheiro.

Pressionado de ambos os lados, d. Pedro optou por se aliar às elites locais para, num
primeiro momento, evitar a independência; em seguida, contudo, em nome da
manutenção dessa aliança, foi ele a proclamá-la. Ao recorrerem ao príncipe,
aproveitando-se de sua presença para reivindicar a sua permanência, as elites brasileiras
procuravam garantir seus interesses e, ao mesmo tempo, minimizar o risco de um abalo
maior de ordem interna. Pois se acaso tornasse inevitável, a separação de Portugal seria
tão comandada pelo governo instalado no Rio de Janeiro, as ordens de d. Pedro, príncipe
herdeiro do trono português, buscando-se assim evitar uma guerra, além da consequente
mobilização da sociedade. Era a mudança com ordem que tanto agradava Bonifácio que,
agora ministro, ficava em situação privilegiada para dirigir o processo.

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