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Liderança e encargo

A maior necessidade na vida de um líder de célula é ter encargo ou receber um


encargo da parte de Deus. A obra de Deus simplesmente não pode prosperar se os líderes
não possuem o encargo devido. Lamentavelmente é possível liderar na casa de Deus sem
encargo. Nossa liderança precisa ter vida a ponto de suprir os membros da célula. Se não
nos importamos da nossa liderança produzir impacto algum na vida dos membros é
porque não temos encargo. Isso indica que entramos em uma situação de rotina e já não
nos importamos com a vida de Deus fluindo entre nós.
Ter encargo significa incomodar os membros da célula a tal ponto que não tenham
paz, até mostrarem compromisso com o Senhor. Se os membros são indiferentes,
precisamos buscar a face do Senhor e deixar que ele nos tire a paz, a ponto de perder o
sono ou a fome até que algo do Espírito se mova na célula. Somente esse tipo de
liderança agrada a Deus.
Os que lideram na Casa de Deus precisam ter encargo. Não podemos servir a Deus
sem esse peso no espírito.
Nossas células se reúnem 52 vezes por ano. Semana após semana, os membros vão
às reuniões. Se, após três meses, não houver mudança na vida deles, precisamos ficar
incomodados. Um vendedor que fica um mês inteiro sem vender não ficará tranqüilo,
aquilo produzirá um peso na sua alma e ele ficará aflito e preocupado. Se somos líderes
com encargo, precisamos ter a mesma atitude. Um vendedor nessa situação iria avaliar a
causa do problema, pensaria em estratégias e tentaria mudar a situação.
Um líder com encargo também não conseguirá ficar tranqüilo, mas analisará a
situação e encontrará uma forma de mudá-la. Como é possível um líder continuar se
reunindo tranqüilamente quando não obtêm nenhum resultado? Se conseguimos
continuar liderando mesmo sem ter nenhum resultado, é porque não temos encargo.
Não adianta termos uma estrutura de células bem organizada se nos falta encargo.
Ter encargo significa ter um alvo a atingir. O alvo não sai do nosso coração e não nos
permite ficar parados.
Todo líder precisa ter encargo a ponto de se sentir responsável caso a obra não seja
bem-sucedida. Ele deve ser como aquele empresário que pensa continuamente no seu
negócio, em como fazê-lo crescer e prosperar. O líder de célula também tem essa atitude.
Ele vai sempre aplicar o coração para fazer sua célula crescer e prosperar. Ele não pode
ignorar seu grupo, pois, afinal, é a sua célula, o rebanho que o Senhor lhe confiou.
A reunião da célula é muito importante. Como líder você precisa avaliar
constantemente se ela é forte ou fraca, viva ou morta. Talvez os membros estejam em
paz, mas o líder não pode ficar em paz até que a reunião da célula esteja fluindo cheia da
vida do Senhor. Algumas vezes teremos que orar com lágrimas até que os irmãos sejam
inquietados por dentro e passem a buscar o Senhor. Outras vezes, buscaremos de Deus
uma palavra viva para que eles sejam renovados.
Não podemos servir a Deus apenas por responsabilidade, mas por encargo. Líderes
responsáveis são preciosos, mas apenas aqueles com encargo são realmente úteis ao
Senhor. Sei que gostamos muito de relatórios, números e avaliações, mas tudo isso será
em vão se não temos o encargo devido. Ter o encargo é estabelecer uma meta de
crescimento, trabalhar para alcançá-la e ser determinado para atingi-la. Os que fazem por
fazer não possuem alvos e não se importam se não chegam a lugar algum. Mas aquele
que possui um encargo em sua liderança jamais se acomodará nessa situação.
Uma coisa é o encargo e outra muito diferente o fazer por obrigação ou
responsabilidade. Um jovem que vive com os pais procura cuidar com responsabilidade
da mesada que recebe deles, mas, quando esse jovem passa a viver por conta própria, ele
cuida do seu dinheiro com encargo. Uma babá cuidando de um bebê o faz com
responsabilidade, mas ela terá verdadeiro encargo pelo seu próprio filho.
Quem possui encargo chama para si a responsabilidade. Ele não lidera como se
estivesse cuidando de algo que pertence a outra pessoa, mas ele sempre vê aquele grupo
como algo que o Senhor mesmo o encarregou de conduzir.
Todo líder precisa tomar sobre si a pressão do encargo pela sua célula. Essa é uma
pressão positiva. A pressão positiva é aquela que procede do encargo do coração e do
amor. Ela é muito poderosa, mas não acontece por acaso, é fruto de uma decisão de
direcionar o coração para o foco correto. Paulo era alguém que tinha encargo e esse
encargo era como um peso no coração. Ele diz: “Além das coisas exteriores, há o que
pesa sobre mim diariamente, a preocupação com todas as igrejas” (2Co 11.28).
Ele se preocupava diariamente com todas as igrejas que ele tinha aberto. Não era
uma pressão pequena, era algo que certamente consumia energia. Todavia essa
preocupação ou pressão era resultado de um encargo de amor. Por amar os irmãos ele se
preocupava com o desenvolvimento deles. Por amar os irmãos ele se preocupava que não
houvesse divisão, que recebessem a sã doutrina e tivessem um pastoreamento apropriado.
Não há como ser um líder sem enfrentar a pressão. Mas a pressão do encargo é que deve
nos impulsionar. Essa pressão somos nós mesmos que decidimos tomar amor.
O que cada líder precisa entender é que o resultado e os frutos não estão
relacionados com o método, mas com a pessoa. Se tivermos líderes com encargo nossa
obra será viva e próspera. Mas se servimos liderando uma célula apenas por obrigação
isso nos levará a perder a presença de Deus.
Todos percebem a diferença quando oramos com encargo e quando oramos por
obrigação. Todos percebem porque o encargo libera vida. Um líder com encargo é alguém
cheio de vida para contagiar sua célula.
Nosso grande desafio é manter o encargo. Nas coisas naturais, fazer algo pela
primeira vez é sempre mais difícil, mas não é assim nas coisas do Espírito. O mais difícil
não é fazer algo pela primeira vez. Na verdade, a primeira vez é cheia de temor e tremor e
por isso também procedente de encargo espiritual. O grande desafio, na verdade, é fazer
pela décima, pela centésima vez. É fácil perder o encargo depois de certo tempo. Quando
isso acontece, passamos a servir por obrigação ou responsabilidade. Mas o serviço por
obrigação é apenas um ritual religioso degradado. O que move os céus é um coração com
encargo.
Costumo dizer que o trabalho de um líder pode ser movido por um cargo, por
desencargo ou pelo encargo. Cargo como você sabe é apenas a posição que as pessoas
assumem dentro de uma organização. Outros trabalham por desencargo de consciência
mesmo. É só uma maneira de se livrarem de algum tipo de acusação na mente. Essas
pessoas não são úteis para Deus, pois não podem edificar a Casa de Deus genuinamente.
O encargo é um desejo profundo no coração, compartilhado por aqueles que
possuem o peso do coração de Deus. O encargo procede de um desejo profundo no
coração que se transforma em zelo. Jesus disse que o zelo pela Casa de Deus deve nos
consumir (Jo 2.17). Cargos são posições que geram status; mas encargos são gerados pelo
Espírito. Quem tem encargo está disposto a fazer qualquer coisa para atingir o objetivo
proposto.

Renovando o encargo
Para que possamos caminhar nesse mover de Deus precisamos manter o nosso
encargo. Só o encargo traz a presença de Deus. O problema é que o encargo pode
diminuir ou até mesmo desaparecer. Quando isso acontece, a obra de Deus pára. Como
fazer para manter o encargo?
Manter o encargo é manter-se em movimento, ou seja, é seguir o mover de Deus. A
obra de Deus é como uma estrutura em movimento. A Igreja é essa estrutura avançando
nesse santo mover de Deus. Não sou nenhum expert em movimento mecânico, mas o
bom senso me ensina que tudo aquilo que está em movimento segue algumas leis. Se
respeitarmos essas leis, conseguiremos manter o encargo em nosso coração pela obra de
Deus.

1. Tudo que se move precisa de combustível


A obra de Deus não tem que ser pesada e nem temos que carregá-la por meio de
nossa força humana. É o combustível do Espírito Santo que moverá a Sua obra. O
encargo acaba quando sentimos sobrecarregados e o peso da obra se torna insuportável.
Precisamos fazer a obra na dependência e na força do Espírito.
Todo líder precisa aprender a trabalhar no descanso. Isso é um paradoxo. Não somos
passivos esperando que a obra de Deus aconteça por si mesma. Somos instrumentos e
queremos ser usados por Deus. Mas se ficamos angustiados cada vez que temos que fazer
algo para Deus, e se a ansiedade aumenta, ao ponto de a vida perder o sabor, é porque
tem faltado o descanso e a dependência do Espírito. A obra de Deus não se faz no
cansaço, na fadiga ou suor. Faz-se na dependência do Senhor.
Ezequiel 44.17 dá uma orientação clara àqueles que trabalham no templo: “E será
que quando os sacerdotes entrarem pelas portas do átrio interior, usarão vestes de linho,
não se porá lã sobre eles, quando servirem nas portas do átrio interior, dentro do templo.
Tiras de linho lhes estarão sobre as cabeças, e calções de linho sobre as coxas, não se
cingirão a ponto de lhes vir suor”. Na obra de Deus, não pode haver suor humano.
Nós somos sacerdotes, levitas, encarregados de servir na Casa de Deus e, quando
servimos ao Senhor, não pode haver suor. Qual é o significado do suor? O suor significa
o esforço humano tentando fazer aquilo que é obra exclusiva de Deus. Lembro-me da
canção que diz: “É meu somente meu todo o trabalho, e o teu trabalho é descansar em
mim”. Essa é a Palavra de Deus para nós.
Depender de Deus, porém, não é inatividade ou passividade; depender de Deus é
trabalhar pelo poder do Espírito Santo. Todo líder precisa do combustível celestial, do
fogo de Deus, da unção do Espírito. Quando ousamos fazer a obra de Deus sem o poder
do Espírito, logo nos sentimos completamente extenuados. Por isso perdemos o encargo.
Não há mover sem combustível.
Qualquer pessoa pode falar, mas aquele que está cheio do Espírito libera palavras
que martelarão na mente das pessoas e tocará no coração delas. Um líder pode conduzir
uma célula, mas aquele que é cheio do Espírito será como um ímã atraindo pessoas para o
Senhor e fará da reunião um lugar que flui vida de Deus. As pessoas logo perceberão isso.
O fogo de Deus é que faz todo o trabalho, mas o líder é como aquela sarça
sustentando o fogo sem se consumir.
Eventualmente você sentirá que esse combustível do Espírito estará faltando. Mas
basta que você separe tempo para orar e jejuar e deixar que o Espírito remova aquilo que
impede o seu fluir. Se você se humilha e clama pelo auxílio do Senhor, o poder vem sobre
você novamente.
Todo líder deve ter o encargo de manter uma atmosfera impregnada da presença de
Deus em sua célula. Lembre-se que o encargo no coração traz a presença de Deus.

2. Tudo que se move produz desgaste


O resultado natural do atrito é o desgaste da estrutura. É um fato da vida que toda
faca depois de algum tempo de uso precisa ser amolada, todo violão depois de tocado
precisa ser afinado. Isso não significa que a faca não presta ou o que o violão tem algum
problema, é apenas uma realidade das limitações físicas de todo material. No mesmo
princípio, preciso dizer que as células com o tempo precisam ser ajustadas e o nosso
encargo precisa ser renovado. A estrutura precisa ser periodicamente renovada.
Assim, todo líder sábio entende que precisa receber ministração de outros líderes
para ter seu coração novamente incendiado. Ele é como aquele violão sendo novamente
afinado. Precisamos de reuniões periódicas para reciclar a visão e a prática, pois com o
tempo a visão precisa ser afiada novamente.
Uma célula depois de algum tempo pode se tornar relaxada e displicente com as
práticas espirituais. Isso não significa que a célula esteja errada, é simplesmente o ajuste
normal. Se a sua célula está passando por um momento assim, programe uma reunião ou
um retiro e leve-os para ser novamente contagiado com a vida de Deus. Tudo o que se
move precisa de manutenção e a sua célula não é diferente. Por ignorar esse princípio
muitos líderes presumem que basta seguirem vivendo na mesma rotina.
O desgaste acontece por causa da rotina e da repetição. A rotina pode destruir o
encargo na vida de um líder de célula. Eletricistas que trabalham com altíssima voltagem
não podem realizar por muito tempo uma mesma rotina. Eles correm o risco, depois de
algum tempo, de se acostumarem com os procedimentos e se tornarem desleixados e
assim serem eletrocutados.
Um operador de máquina industrial que já trabalha por tantos anos pode começar a
pensar: “Já sei fazer isso de olhos fechados, posso até fazer outras coisas enquanto opero
esse maquinário”. Ele já não segue as regras de segurança, nem as técnicas de operar o
equipamento como aprendeu no treinamento. O resultado é que em um dia qualquer um
acidente acontece. Tudo porque caiu na rotina! Perdeu o zelo! Relaxou! Para usar a nossa
terminologia: perdeu o encargo!
O tempo é o grande teste na vida de um líder e a rotina pode ser destruidora. Para
vencer a rotina precisamos renovar os alvos e os desafios de nossa célula.

3. Tudo que se move produz tensão


Algumas vezes não vemos o resultado que esperamos ou não vemos o resultado no
tempo que gostaríamos. Isso produz desânimo que, se não for vencido, pode resultar na
perda de encargo pela obra de Deus.
Tensão não significa necessariamente que algo está errado, mas que algo está
acontecendo. Sempre que estruturamos e nos organizamos veremos os atritos. Se os
atritos forem tratados apropriadamente, eles permitirão que a estrutura se torne ainda
mais forte e eficiente.
Os atritos deveriam ser vistos como algo normal da vida da Igreja. Alguns
identificam o conflito como a causa de uma célula não avançar, todavia a existência de
conflitos deve ser considerada normal. O problema não são os conflitos, mas a forma
como lidamos com eles. Uma célula em que nunca há um conflito é uma célula morta ou
prestes a morrer. Na verdade, liderar uma célula e esperar não ter conflito é como pular
em um lago e esperar não se molhar.
O conflito não é bom e nem ruim, nem certo e nem errado, ele simplesmente existe.
A maneira como nós o encaramos, abordamos e resolvemos determina se somos líderes
vencedores ou não.

4. Tudo que se move produz calor


O resultado natural da tensão é o calor. Existe o fogo do Espírito, mas também existe
o calor da fricção. É preciso o óleo do Espírito para refrigerar a estrutura.
Toda estrutura precisa de uma válvula de escape para a pressão acumulada. Não
existem estruturas perfeitas. O pastor sábio criará mecanismos de escape da pressão
dentro da igreja.
Algumas vezes nosso encargo diminui por causa do atrito e pela falta de
comprometimento dos próprios membros da célula com o trabalho que fazemos. Mas não
se permita abater-se porque a promessa é que, no Senhor, o nosso trabalho não é vão.
Poucas coisas abatem mais um líder do que a falta de compromisso dos membros da
célula. Mas mantenha o seu encargo de oração por eles, pois, em algum momento, o
Espírito de Deus virá e a atitude deles será mudada. Aqueles que se mantiverem
endurecidos e refratários Deus mesmo os removerá por amor ao Seu encargo do seu
coração.

5. Tudo que se move tende à inércia


A grande ilusão é presumir que uma vez que nossa célula esteja indo bem ela irá
bem para sempre. Não precisaremos fazer coisa alguma e as coisas vão fluir
espontaneamente. Na Idade Média, eles sonhavam em construir uma estrutura, que uma
vez ativada ela nunca mais pararia. Isso era conhecido como “moto-contínuo”. Hoje
sabemos que isso é uma ilusão. Nada se move por si mesmo. Tudo o que está em
movimento tende a parar. Essa é uma realidade desse mundo natural. Se não dermos
novos impulsos para mantermos o ritmo e a velocidade, inevitavelmente a célula parará.
Nós sabemos que os objetos param por causa da força de atrito e de outras forças
contrárias. No Reino de Deus sabemos que estamos até mesmo remando contra a
correnteza e navegando contra os ventos espirituais. O diabo e seus anjos se levantarão
para nos resistir.
Nunca ignore a realidade das resistências espirituais. Se tais resistências não forem
vencidas, elas nos farão parar. Existem resistências de todos os tipos que atuam em todos
os níveis. O alvo do inimigo é tirar o seu encargo pela obra de Deus fazendo-a parar. Ele
sabe que, onde há um encargo genuíno, as resistências são vencidas.
6. Tudo o que se move precisa de direção
No final das contas nosso encargo é renovado pela visão. Perdemos o encargo por
algo quando não percebemos claramente seu propósito. Ninguém quer trabalhar em algo
em que não enxerga finalidade e propósito. E, se porventura o fazem, com o tempo
perdem completamente o encargo.
Havia três homens trabalhando assentando tijolos em uma construção. Os três
faziam a mesma coisa: assentavam tijolos. Alguém então chegou perto do primeiro e lhe
perguntou o que ele estava fazendo, ao que lhe respondeu: “não vê que estou assentado
tijolos”. Ele chegou para o segundo pedreiro e fez a mesma pergunta e ele respondeu:
“Estou respaldando uma parede”. Por fim ele chegou ao terceiro com a mesma pergunta e
ele lhe disse confiantemente: “Estou ajudando a construir um palácio”. Os três estavam
fazendo a mesma coisa: assentando tijolos, mas o encargo deles era diferente. E o
encargo de cada um pode ser medido pelo quanto cada um compreendia o propósito do
que estava fazendo. Um líder de célula que está ajudando a construir um palácio tem um
encargo completamente diferente daquele que está apenas fazendo um serviço de assentar
tijolos.
Como líder, deixe constantemente claro para cada membro da célula o que estamos
fazendo, qual é o nosso alvo e como tudo se relaciona com o propósito eterno de Deus.
Não estamos liderando células apenas, estamos edificando a morada eterna de Deus na
Terra.

Pr. Aluízio A. Silva


Videira Igreja em Células – Goiânia -GO

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