Você está na página 1de 8

1037

Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício


ISSN 1981-9900 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b p f e x . c o m . b r

EFEITOS DA PERIODIZAÇÃO LINEAR VERSUS ONDULATÓRIA DIÁRIA


NO TREINAMENTO DE FORÇA SOBRE A FLEXIBILIDADE

Cássio Zacarias Lopes de Lima1, Eladio Nascimento Borges1


Eliane Aragão da Silva1, Sérgio Eduardo Nassar1
Euzébio de Oliveira1, Déborah de Araújo Farias2

RESUMO ABSTRACT

O treinamento de força (TF) tem sido um dos Effects of linear periodization versus daily
exercícios mais implementados, afim de undulating periodization of resistance training
desenvolver aptidão física e o on flexibility
condicionamento atlético. Vários métodos têm
sido aplicados no TF, afim de maximizar os The resistance training (RT) has been one of
resultados, principalmente os relacionados a the most implemented exercises in order to
manifestação da força, resistência muscular develop physical fitness and athletic
localizada, hipertrofia muscular e potência. A conditioning. Most of the models have been
periodização é a manipulação planejada no used in RT in order to obtain optimized results,
volume e intensidade do treinamento. especially those related to the manifestation of
Portanto, o objetivo deste estudo foi comparar strength, localized muscular endurance,
os efeitos dos modelos de periodização linear muscle hypertrophy and power. Periodization
(PL) e periodização ondulatória diária (POD) is a planned manipulation of the volume and
no treinamento de força (TF) sobre a intensity of training. Therefore, The aim of this
flexibilidade por um período de 24 semanas. study was to compare the effects of linear
Foram avaliados 13 participantes de ambos os periodization (LP) and daily undulating
sexos sendo divididos de forma randômica em periodization (DUP) models of resistance
grupo PL ou grupo POD. Os participantes training (RT) on flexibility for a period of 24
foram testados no período pré-treinamento e weeks. Thirteen participants of both genders
nas semanas 8, 16 e 24 (pós) no teste de were evaluated being randomly assigned into
sentar e alcançar. Ao final o estudou LP or DUP group. Participants were tested in
observou-se que ambos os grupos não the pre-training period and at weeks 8, 16 and
apresentaram ganhos significativos de 24 (post-test) in the sit-and-reach test. At the
flexibilidade. Estes achados demonstram que end of the study it was observed that both
o TF, de forma isolada, não apresenta groups did not present significant gains of
aumento considerável de flexibilidade no flexibility. These findings demonstrate that RT,
decorrer de 24 semanas, porém a POD pode alone, does not present a considerable
elicitar resultados superiores nos ganhos de increase of flexibility over the course of 24
flexibilidade se comparada à PL. weeks. However, DUP can elicit higher results
in flexibility gains compared to PL.
Palavras-chave: Força Muscular. Amplitude
de Movimento Articular. Exercício. Key words: Muscle Strength. Range of
Motion. Exercise.

E-mails dos autores:


1-Faculdade de Educação Física, cassiolima3ef@gmail.com
Universidade Federal do Pará (UFPA), eladio.nb@gmail.com
Campus Castanhal, Castanhal-PA, Brasil. eliaragao19@gmail.com
2-Universidade Federal do Pará (UFPA), prof.sergionassar@gmail.com
Campus Castanhal, Castanhal-PA, Brasil. euzebio21@yahoo.com.br
dafarias18@gmail.com

Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, São Paulo. v.12. n.79. Suplementar 2. p.1037-1044. Jul./Dez. 2018.
ISSN 1981-9900.
1038
Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício
ISSN 1981-9900 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b p f e x . c o m . b r

INTRODUÇÃO adaptação fisiológica ao indivíduo (Bradley-


Popovich e colaboradores, 2001).
O treinamento de força (TF) tem sido Sabe-se que o TF tem o intuito de
um dos exercícios mais implementados, afim otimizar as diferentes manifestações da força,
de desenvolver aptidão física e o e para além disso, o American College of
condicionamento atlético (Fleck e Kraemer, Sports Medicine (ACSM, 2009) preconiza que
2014). o TF pode ser utilizado também para melhoria
Vários métodos têm sido aplicados no do desempenho atlético e saúde.
TF, afim de maximizar os resultados, Desta forma, o TF tem papel muito
principalmente os relacionados a manifestação mais abrangente, podendo desenvolver outras
da força, resistência muscular localizada, capacidades físicas importantes para a saúde,
hipertrofia muscular e potência (Naclerio e como capacidade funcional, capacidade
colaboradores, 2013). aeróbia, flexibilidade, dentre outras. Pode-se
As variáveis metodológicas como observar na literatura estudos que buscaram
volume, intensidade, ordem dos exercícios, avaliar os efeitos de diferentes modelos de
cadência e frequência, manuseadas de periodização sobre a força muscular (Barjaste
diferentes formas, são responsáveis pelas e Mirzaei, 2017; Colquhoun e colaboradores,
diferenças destes métodos (Simão e 2017; Williams e colaboradores, 2017)
colaboradores, 2012). contudo, que seja do nosso conhecimento,
Com isso, a variação destes poucos estudos buscaram analisar os efeitos
programas acaba proporcionando estímulos e de diferentes modelos de periodização no
resultados distintos ao praticante (Carregaro e treinamento de força sobre a flexibilidade,
colaboradores, 2013; Tillin e colaboradores, utilizando períodos de tempo superiores a 12
2012). semanas de treinamento (Leite e
Periodização é a manipulação colaboradores, 2015; Moraes e colaboradores,
planejada no volume e intensidade do 2013).
treinamento. Além das variáveis supracitadas, Moraes e colaboradores (2013)
outras variáveis também são importantes compararam dois modelos de periodização no
como, ordem dos exercícios e intervalo de TF, sendo modelo não periodizado versus
recuperação (Fleck e Kraemer, 2014). periodização ondulatória diária (POD), para
Os diferentes tipos periodizações, avaliar força, potência e flexibilidade.
introduzem fases cíclicas e períodos de tempo Participaram deste estudo 38
variados, com distintos programas de adolescentes, sendo divididos em três grupos:
treinamento, com o objetivo de melhorar os grupo controle (GC), grupo não periodizado e
efeitos do treinamento (Deweese e grupo de POD, no qual, participaram de um
colaboradores, 2015). treinamento de força com duração de 12
Dois modelos de periodização mais semanas. Os autores observaram maior
conhecidos na literatura são, periodização eficiência da POD para o desenvolvimento de
linear (LP) e periodização ondulatória diária flexibilidade, apresentando um aumento de
(POD) (Ahmadizad e colaboradores, 2014, 22,3% se comparada ao GC, já o modelo não
Simão e colaboradores, 2012). periodizado teve um aumento de 16%
O modelo de PL é caracterizado por comparado ao GC.
pouca variação no volume e intensidade por Leite e colaboradores (2015)
um período prolongado de tempo, começando analisaram os ganhos de força e flexibilidade
com um volume de treinamento alto e após 12 semanas de TF e flexibilidade de
intensidade baixa, havendo a inversão dessas forma isolada ou combinados. Participaram do
variáveis (diminuindo o volume e aumentando estudo 28 mulheres treinadas, sendo divididas
a intensidade) com o passar dos mesociclos em 4 grupos de forma aleatória, com
definidos (Simão e colaboradores, 2012). metodologias de treinamento diferentes:
Já o modelo POD tem um maior treinamento de força (TF), flexibilidade (FLEX),
incremento de mudanças dessas variáveis (TF + FLEX), (FLEX + TF), todos os grupos
metodológicas a cada dia de treinamento, apresentaram pequenos efeitos sobre a
criando assim maior variação no estímulo do flexibilidade, pois não houve resultados
treinamento, capaz de produzir maior significativos.

Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, São Paulo. v.12. n.79. Suplementar 2. p.1037-1044. Jul./Dez. 2018.
ISSN 1981-9900.
1039
Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício
ISSN 1981-9900 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b p f e x . c o m . b r

Dessa forma, observa-se uma lacuna A cada oito semanas esse teste foi
na literatura referente à periodização do reaplicado para avaliar a flexibilidade dos
treinamento de força sobre a flexibilidade. indivíduos participantes. Desta forma, a
Ressalta-se ainda a importância de ter avaliação foi realizada antes do início das
o conhecimento sobre a aplicabilidade dos sessões de treinamento (pré), na semana 8,
diferentes modelos de periodização no TF, de na semana 16, e ao final das 24 semanas
forma crônica, afim de observar o progresso (pós), totalizando assim 4 avaliações no
da aptidão física. decorrer das 24 semanas.
Portanto, o objetivo do presente Foram mensuradas a estatura e
estudo foi comparar os efeitos de dois massa corporal. A mensuração da massa
modelos de periodização (PL e POD) no corporal (kg) foi realizada em uma balança
treinamento de força sobre a flexibilidade por digital de marca Toledo 2096 PP (São
um período de 24 semanas. Bernardo do Campo-SP, Brasil) enquanto a
altura (cm) foi realizada em um estadiômetro
MATERIAIS E MÉTODOS da marca Wiso (Florianópolis-SC, Brasil).
Estas variáveis foram medidas apenas no
A amostra foi composta por 13 período pré-experimental para caracterização
participantes (adultos jovens: mínimo 20 e do grupo.
máximo 45 anos) de ambos os gêneros (seis O teste utilizado para avaliar a
homens e oito mulheres) com os seguintes flexibilidade dos músculos isquiotibiais foi o de
critérios de exclusão: possuir limitação Sentar e Alcançar proposto originalmente por
funcional para a realização dos exercícios Wells e Dillon (1952), seguindo a
propostos; possuir qualquer condição médica padronização canadense para os testes de
que impeça a realização das condições avaliação da aptidão física do Canadian
experimentais. Standardized Test of Fitness (CSTF).
Como critérios de inclusão foram O teste é realizado numa caixa
adotados: ser aluno regularmente matriculado medindo 30,5 cm x 30,5 cm x 30,5 cm com
na Universidade Federal do Pará (UFPA). uma escala de 26,0 cm em seu
Durante a primeira visita ao laboratório foi feita prolongamento, sendo que o ponto zero se
uma explanação do procedimento encontra na extremidade mais próxima do
experimental e assinatura do termo de avaliado e o 26°cm coincide com o ponto de
consentimento livre e esclarecido (TCLE) apoio dos pés. O avaliado deverá retirar o
aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da calçado e na posição sentada encostar os pés
Instituição. O projeto foi submetido ao comitê na caixa com os joelhos estendidos. Com
de ética em Pesquisa sob o protocolo ombros flexionados, cotovelos estendidos e
CAAE 70890717.3.0000.0018, conforme mãos sobrepostas deverá executar a flexão do
resolução 466/2012 do Conselho Nacional de tronco à frente devendo este tocar o ponto
Saúde para pesquisa com seres humanos. máximo da escala com as mãos. Foram
Os participantes da coleta foram realizadas três tentativas sendo considerada
divididos em dois grupos sendo: grupo apenas a melhor marca. Os sujeitos foram
periodização linear (PL) (n = 7; 59,71 ± 4,57kg; submetidos a uma única sessão de avaliação.
1,66 ± 0,05m) e grupo periodização Após o intervalo de 48 horas do teste
ondulatória diária (POD) (n = 6; 65,16 ± de flexibilidade foi dado início às sessões de
9,62kg; 1,69 ± 0,13m). treinamento. Cada participante realizou quatro
A sequência de entrada dos sessões semanais de treinamento, totalizando
participantes nos diferentes modelos de 96 sessões no decorrer das 24 semanas.
periodização (PL e POD) foi determinada Foram realizadas quatro sessões semanais,
randomicamente. Foi realizada uma visita ao sendo que o treinamento foi parcelado, sendo
laboratório antes do início das 24 semanas de uma prescrição de treinamento para membros
treinamento. superiores (MMSS) e uma prescrição de
Durante a primeira visita foram treinamento para membros inferiores (MMII).
mensuradas a massa corporal (kg) e a As sessões de treinamento tiveram uma
estatura (m), bem como foram aplicados os duração máxima de 50 minutos.
testes de flexibilidade. As sessões de treinamento estão
descritas na tabela 1.

Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, São Paulo. v.12. n.79. Suplementar 2. p.1037-1044. Jul./Dez. 2018.
ISSN 1981-9900.
1040
Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício
ISSN 1981-9900 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b p f e x . c o m . b r

Tabela 1 - Descrição das sessões de treinamento para periodização linear e ondulatória diária.
Periodização linear
Segunda-Feira Terça-feira Quinta-feira Sexta-feira
Quarta-
Semanas Parcelamento Parcelamento Parcelamento Parcelamento
feira
A (MMSS) B (MMII) A (MMSS) B (MMII)
PRÉ TESTES
1ª a 7ª 3 x 12–15RM Descanso 3 x 12–15RM
8ª Testes
9ª a 15ª 4 x 4–5RM Descanso 4 x 4–5RM
16ª Testes
17ª a 23ª 3 x 8–10RM Descanso 3 x 8–10RM
24ª Testes
Periodização ondulatória diária
1ª,4ª,7ª, 11ª, 14ª, 18ª, 21ª 3 x 12–15RM Descanso 3 x 8–10RM
2ª, 5ª, 9ª, 12ª, 15ª, 19ª, 22ª 4 x 4–5RM Descanso 3 x 12–15RM
3ª, 6ª, 10ª, 13ª, 17ª, 20ª, 23ª 3 x 8–10RM Descanso 4 x 4–5RM
PRÉ, 8ª, 16ª, 24ª Testes

Os exercícios escolhidos foram maiores ganhos de força serão atingidos caso


designados como estruturais ou o treinamento ou o teste sejam realizados
multiarticulares, pois requerem coordenação utilizando o mesmo tipo de ação muscular
neural entre os músculos e promovem o uso (Fleck e Kraemer, 2014).
coordenado de movimentos multiarculares e
de múltiplos grupos musculares e exercícios Estatística
monoarticulares para pequenos grupos
musculares (Fleck e Kraemer, 2014). Os valores foram expressos em média
O protocolo de treino foi dividido em e desvio padrão. A análise da normalidade foi
parcelamento A (supino reto, voador, tríceps feita a partir do teste de Shapiro-Wilk. Foi
na polia, tração frente, remada sentado e constatada a normalidade das variáveis (p >
rosca bíceps) e parcelamento B (mesa flexora, 0,05). Uma ANOVA (two-way) de medidas
agachamento no smith machine, leg press 45º, repetidas foi aplicada para analisar as
flexão plantar no aparelho e abdominal) diferenças entre os diferentes momentos de
seguindo essa ordem de exercícios testes (PRÉ, semana 8, semana 16 e PÓS)
respectivamente. nos diferentes modelos de periodização. O
A duração do intervalo de recuperação valor alfa utilizado para todas as etapas de
(IR) entre séries e exercícios foi utilizado de análises experimentais foi de p ≤ 0,05.
acordo com a recomendação do American O tamanho do efeito (d) foi utilizado
College of Sports Medicine (ACSM, 2009), para avaliar a diferença entre os diferentes
sendo para RML um minuto entre séries e modelos de periodização, onde 0,2 < d < 0,5
exercícios, para hipertrofia muscular 90 apresenta um tamanho do efeito pequeno, 0,5
segundos, e para força muscular foi dado um < d < 0,8 médio e 0,8 < d um tamanho do
IR de dois minutos. A cadência do movimento efeito grande (Cohen, 1988). A versão 22.0 do
para RML foi de um segundo de ação SPSS software for Mac (SPSS Inc., Chicago,
concêntrica e um segundo de excêntrica; para IL, USA) foi aplicada em todas as análises
hipertrofia dois segundos de ação concêntrica estatísticas.
e dois segundos de excêntrica e para força
dois segundos de ação concêntrica e quatro RESULTADOS
segundos de ação excêntrica.
Foram realizadas quatro sessões O teste de sentar e alcançar (F =
semanais, sendo uma prescrição de 1,462; Eta2 = 0,117; p = 0,242) não apresentou
treinamento para membros superiores (MMSS) diferenças significativas entre os diferentes
e uma prescrição de treinamento para momentos de testes tanto no grupo que
membros inferiores (MMII). Os tipos de ações realizou periodização linear como no grupo
musculares aplicadas para o estudo foram que realizou periodização ondulatória diária
ações concêntricas e excêntricas, partindo de como descrito na tabela 2.
um aspecto importante para cada tipo de ação O grupo PL apresentou uma
que é a especificidade da força onde os diminuição da semana pré, em relação ao

Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, São Paulo. v.12. n.79. Suplementar 2. p.1037-1044. Jul./Dez. 2018.
ISSN 1981-9900.
1041
Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício
ISSN 1981-9900 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b p f e x . c o m . b r

teste da oitava semana (31,28 ± 6,73 para As diferenças entre os modelos de


30,64 ± 5,22; p = 1,000) e PÓS (31,28 ± 6,73 periodização foram apresentadas através do
para 29,32 ± 6,92; p = 0,991) respectivamente. tamanho do efeito como apresentado na
A avaliação que ocorreu na 16ª semana, tabela 3.
apresentou aumento em comparação com o O momento no qual as duas
teste pré (0,07cm) e com a semana 8 periodizações obtiveram maior índice de
(0,71cm), ambos sem diferença significativa. diferença foram nos períodos pré e pós, em
O estudo também mostrou que, o que o tamanho do efeito (d) foi de 0,39 e – 0,3
grupo POD apresentou aumento desde a respectivamente, considerado pequeno na
semana pré, até a última avaliação feita, com analise estatística.
valores de 2,42cm do pré para o segundo As avaliações que ocorreram na 8ª e
teste (p = 0,348), de 1,17cm da semana 8 para 16ª semana não apresentaram tamanho do
a semana 16 (p = 1,000) e de 0,25cm da efeito relevante quando comparadas.
semana 16 para o teste pós (p = 1,000), não
sendo estes resultados significativo.

Tabela 2 - Média e desvio padrão intra-grupos dos momentos de testes para os grupos periodização
linear e ondulatória diária.
Momentos PL POD
Pré 31,28 ± 6,73 28,16 ± 8,95
Semana 8 30,64 ± 5,22 30,58 ± 9,59
Semana 16 31,35 ± 6,70 31,75 ± 11,27
Pós 29,32 ± 6,92 32,00 ± 10,20
Legenda: PL: periodização Linear; POD: periodização ondulatória diária.

Tabela 3 - Tamanho do Efeito entre os modelos de periodização.


Momentos PL - POD
Pré Pequeno (0,39)
Semana 8 0
Semana
0
16
Pós Pequeno (-0,3)

DISCUSSÃO semana 8 e no teste PÓS houve diminuição


em relação ao teste PRÉ.
O objetivo do presente estudo foi No entanto a semana 16 apresentou
comparar os efeitos de dois modelos de aumento em reação ao teste PRÉ, porém em
periodização (linear e ondulatória diária) no todos os momentos não houve diferença
treinamento de força sobre a flexibilidade em significativa. Já no grupo POD, foram
indivíduos saudáveis, durante 24 semanas de observadas progressões nos valores do teste
treinamento. Os resultados mostraram que de sentar e alcançar, porém, sem diferenças
ambas as periodizações não apresentaram significativas.
ganhos significativos intra-grupos sobre a Fleck e Kraemer (2014) afirmam que
flexibilidade no decorrer dos quatro momentos desenvolvimento de flexibilidade em um
de teste, sendo ainda observado também um programa de treinamento de força ocorre, pois,
tamanho do efeito pequeno da PL com relação os exercícios estimulam a amplitude máxima
à POD no período pré treinamento e um das articulações, o que em conjunto, com o
tamanho do efeito pequeno da POD com aumento do tecido conjuntivo que acompanha
relação à PL no período pós treinamento. a hipertrofia muscular, proporciona este
O presente estudo não observou benefício.
diferença significativa em nenhum dos dois Porém, essa afirmação contrasta com
modelos de periodização (PL e POD), o presente estudo, tendo em vista que o grupo
constatando que 24 semanas de TF não irão que realizou PL apresentou um decréscimo de
influenciar nessa capacidade física. Os flexibilidade após 24 semanas de treinamento
resultados mostraram pequenas variações e o grupo POD apresentou pouco aumento da
intra-grupos, para o grupo PL, sendo que na flexibilidade, porém sem diferenças
significativas.

Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, São Paulo. v.12. n.79. Suplementar 2. p.1037-1044. Jul./Dez. 2018.
ISSN 1981-9900.
1042
Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício
ISSN 1981-9900 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b p f e x . c o m . b r

Alguns estudos que avaliaram o efeito apresentou maior valor da PL em relação a


de diferentes programas de TF sobre a POD. Nas semanas 8 e 16, o tamanho do
flexibilidade, observaram melhorias no efeito foi trivial, e quando comparadas as
decorrer do treinamento como o estudo de periodizações no período PÓS, foi observado
Simão e colaboradores, (2011) que analisaram um tamanho do efeito pequeno.
os ganhos de força e flexibilidade após A grande diferença do presente estudo
treinamentos isolados ou combinados de é o tempo de duração de 24 semanas de um
treinamento de força (TF) e flexibilidade programa de TF periodizado analisando
(FLEX). flexibilidade, pois parte dos estudos que
O estudo teve duração de 16 analisam periodização, utilizam um período de
semanas, onde participaram 80 mulheres 12 semanas (Lima e colaboradores, 2012;
destreinadas, que foram divididas em 4 Miranda e colaboradores, 2011; Souza e
grupos. Os grupos realizaram treinamentos colaboradores, 2018).
diferentes sendo: Treinamento de força (TF), Moraes e colaboradores (2013)
treinamento de flexibilidade (FLEX), avaliaram os ganhos de força, potência e
(TF+FLEX) e grupo controle (GC). Todos flexibilidade em 38 adolescentes não
esses grupos apresentaram ganhos treinados, após 12 semanas de um TF
significativos na flexibilidade em relação ao comparando dois modelos de periodização
GC. (modelo não periodizado versus POD). Os
Leite e colaboradores (2017) achados dos autores diferiram do presente
investigaram os efeitos de três diferentes estudo, pois em nenhum dos momentos, os
series de TF durante 6 meses, sobre a grupos POD e modelo não periodizado
flexibilidade em 47 homens jovens, no qual apresentaram diferenças significativas entre
foram divididos em três grupos de treinamento eles. Em contrapartida, no presente estudo, ao
(G1S) executou uma serie, (G3S) executou 3 final das 24 semanas o grupo POD apresentou
series e (G5S) executou 5 series e um grupo tamanho efeito pequeno quando comparada
controle (GC). Os resultados mostraram ao grupo PL.
diferenças significativas entre os testes pré e O presente estudo apresentou
pós treinamento, para todos os grupos, porém algumas limitações, como baixo número de
apenas o (G5S) apresentou resultado participantes, volume de treinamento que não
significativo em relação ao GC (31,04 ± 5,94 foi equacionado para os dois modelos de
cm vs. 23,56 ± 6,76). Os estudos supracitados periodização, e também a não utilização de
contrastam com os achados do presente um grupo controle (GC), na qual poder-se-iam
estudo, tendo em vista que não foram utilizar comparações de ambas as
observadas melhorias na flexibilidade após 24 periodizações, em relação ao grupo que nao
semanas de TF. realizou nenhum tipo de treinamento.
Vale, porém, ressaltar que que ambos
os estudos não fizeram comparações entre CONCLUSÃO
diferentes modelos de periodização. Uma
outra explicação para tal acontecimento é que Portanto, o presente estudo mostra
os estudos de Simão e colaboradores (2011) e que a peridização ondulatoria diaria e
Leite e colaboradores (2015) utilizaram em periodização linar no treinamento força, sobre
suas metodologias, treinamento de o ganho de flexibilidade não apresentaram
flexibilidade combinados com TF, e o estudo resultados significativos, porém a POD pode
de Moraes e colaboradores (2013) utilizaram elicitar resultados ou superiores nos ganhos
alongamentos antes do teste de flexibilidade, de flexibilidade se comparada a PL.
métodos estes que não foram utilizados no Vale ressaltar que os diferentes
presente estudo. De acordo com Fleck e resultados observados nos dois modelos de
Kraemer (2014), o TF acompanhado de um periodização, é favorecido pela maneira com a
treinamento de flexibilidade é fundamental qual as variaveis metodológicas, volume e
para manutenção e desenvolvimento desta intensidade, são manipuladas de acordo com
capacidade. seus mesosiclos.
A PL e POD tiverem resultados Faz-se necessário ainda, um maior
relevantes na análise inter-grupos, o momento número de estudos comparando diferentes
pré foi onde o tamanho do efeito (d) modelos de periodização, podendo também

Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, São Paulo. v.12. n.79. Suplementar 2. p.1037-1044. Jul./Dez. 2018.
ISSN 1981-9900.
1043
Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício
ISSN 1981-9900 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b p f e x . c o m . b r

investigar o incremento de exercicios de 8-DeWeese, B.H.; Hornsby, G.; Stone; M.;


flexibilidade em conjunto com programas de Stone, M.H. The training process: Planning for
TF, buscando avaliar se os mesmos strength-power training in track and field. Part
proporcionam ganhos segnificativos de 2: Practical and applied aspects. Journal of
flexibilidade. Sport and Health Science. Vol. 4. Num. 4.
2015. p. 318-324.
REFERÊNCIAS
9-Fleck, S.J.; Kraemer, W.J. Fundamentos do
1-American College of Sports Medicine. Treinamento de Forca Muscular. 4ª edição.
Progression models in resistance training for ArtMed. 2014.
healthy adults. Medicine and science in sports
and exercise. Vol. 41. Num. 3. 2009. P. 687- 10-Leite, T.; Costa, P.; Leite, R.; Novaes, J.;
708. Fleck, S.; Simão, R. Effects of different number
of sets of resistance training on flexibility.
2-Ahmadizad, S.; Ghorbani, S.; International journal of exercise science. Vol.
Ghasemikaram, M.; Bahmanzadeh, M. Effects 10. Num. 3. 2017. p. 354-364.
of short-term nonperiodized, linear periodized
and daily undulating periodized resistance 11-Leite, T.; Teixeira, A.; Saveedra, F.; Leite,
training on plasma adiponectin, leptin and R.; Rhea, M.; Simão, R. Influence of strength
insulin resistance. Clinical Biochemistry. Vol. and flexibility training, combined or isolated, on
47. Num. 6. 2014. p. 417-422. strength an flexibility gains. Journal of strength
and conditioning research. Vol. 29. Num. 4.
3-Barjaste, A.; Mirzae, B. The periodization of 2015. p. 1083-1088.
resistance training in soccer players: changes
in maximal strength, lower extremity power, 12-Lima. C.; Boullosa, D.; Frollini, A.; Donato,
body composition, and muscle volume. The F.; Leite, R.; Gonelli, P.; Montebello, M.;
Journal of sports medicine and physical Prestes, J.; Cesar M. Linear and daily
fitness. 2017. undulating resistance training periodizations
have diferential beneficial effects in young
4-Bradley-Popovich, G.E.; Haff, G. Non-linear sedentary women. Sports medicine. Vol. 33.
versus linear periodization models point. Num. 9. 2012. p. 723-727.
Strength and conditioning Journal. Vol. 23.
Num. 1. 2001. p. 42-44. 13-Moraes, E.; Fleck, S.; Dias, M.; Simão, R.
Effects on strength, power, and flexibility in
5-Carregaro, R.; Cunha, R.; Oliveira, C.G.; adolescents of nonperiodized vs. daily
Brown, L.E.; Bottaro, M. Muscle fatigue and nonlinear periodized weight training. Journal of
metabolic responses following three different Strength and Conditioning Research. Vol. 27.
antagonist pre-load resistance exercises. Num. 12. 2013. p. 3310-3321.
Journal of electromyography and kinesiology:
official journal of the International Society of 14-Miranda, F.; Simão, R.; Rhea, M.; Bunker,
Electrophysiological Kinesiology. Vol. 23. Num. D.; Prestes, J.; Leite, R.; Miranda, H.; Salles,
5. 2013. p. 1090-1096. B.; Novaes, J. Effects on linear vs. daily
undulatory periodized resistance training on
6-Cohen, J. Statistical power analysis for the maximal and submaximal strength gains.
behavioral sciences (2nd ed.). 1988. Hillsdale, Journal of strength and conditioning research.
NJ: Erlbaum. Vol. 25. Num. 7. 2011. p.1824-1830.

7-Colquhoun, R.J.; Gai, C.M.; Walters, J.; 15-Naclerio, F.; Faigenbaum, A.D.; Larumbe-
Brannon, A.R.; Kilpatrick, M.W.; D'agostino, zabala, E.; Perez-bibao, T.; Kang, J.;
D.P.; Campbell, W.I. Comparison of Ratamess, N.A.; Triplett, N.T. Effects of
Powerlifting Performance in Trained Men different resistance training volumes on
Using Traditional and Flexible Daily Undulating strength and power in team sport athletes.
Periodization. Journal of Strength and Journal of strength and conditioning research.
Conditioning Research. Vol. 31. Nùm. 2 p 283- Vol. 27. Num. 7. 2013. p. 1832-1840.
291, 2017.

Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, São Paulo. v.12. n.79. Suplementar 2. p.1037-1044. Jul./Dez. 2018.
ISSN 1981-9900.
1044
Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício
ISSN 1981-9900 versão eletrônica
P e r i ó d i c o do I n s t i t u t o B r a s i l e i r o d e P e sq u i s a e E n si n o e m F i s i o l o gi a do E x e r c í c i o
w w w . i b p e f e x . c o m . b r / w w w . r b p f e x . c o m . b r

16-Simão, R.; Salles, B.F.; Figueiredo, T.;


Dias, I.; Willardson, J.M. Exercise order in
resistance training. Sports medicine. Vol. 42.
Num. 3. 2012. p. 251-265.

17-Simão, R.; Lemos, A.; Salles, B.; Leite, T.;


Oliveira, E.; Rhea, M.; Reis V. the influence of
strength, flexibility, and simultaneous training
on flexibility and strength gains. Journal of
strength and conditioning research. Vol. 25.
Num. 5. 2011. p.1333-1338.

18-Souza, E.; Tricoli, V.; Rauch, J.; Alvarez,


M.; Laurentino, G.; Aihara, A.; Cardoso, F.;
Roschel, H.; Ugrinowitsch, C. Different
patterns in muscular strength and adaptation in
untrained individuals undergoing non-
periodized strength regimes. Journal of
strength and conditioning research. 2018.

19-Tillin, N.A.; Pain, M.T.; Folland, J.P. Short-


term training for explosive strength causes
neural and mechanical adaptations.
Experimental physiology. Vol. 97. Num. 5.
2012. p. 630-641.

20-Wells, K.F.; Dillon, E.K. The sit and reach: a


test of back and leg flexibility. Research
Quarterly for Exercise and Sport, Washington.
Vol. 23. p. 115-118. 1952.

21-Williams, T.D.; Tolusso, D.V.; Fedewa,


M.V.; Esco, M.R. Comparison of periodized
and non-periodized resistance training on
maximal strength: a meta-analysis. Sports
medicine. Vol. 47. Num. 10. 2017. p. 2083-
2100.

Recebido para publicação 22/03/2018


Aceito em 06/08/2018

Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, São Paulo. v.12. n.79. Suplementar 2. p.1037-1044. Jul./Dez. 2018.
ISSN 1981-9900.

Você também pode gostar