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Apontamentos sem fronteiras 1

António Filipe Garcez José

Xiribitatatatá !!! xiribitatatatá !!!!


Huraaah ! hurraah ! hurraaah !!!

DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

Universidade Autónoma de Lisboa


Ano lectivo 2004/2005

Aulas teóricas: ……………………………Dra. Amélia Costa

Aulas práticas:………..Dra. Isabel Barbeira Almeida (turma B)

Aulas práticas............Dra. Ana Paula Zeferino Lucas (turma A)

Bibliografia : "Direito das Obrigações" do prof. L. M. T. de Menezes


Leitão

2° semestre

Apontamentos e resumos do curso, não isentos de eventuais erros ("errare


humanum est") "destilados" por António Filipe Garcez José, aluno n° 20021078,

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António Filipe Garcez José

RESPONSABILIDADE CIVIL

Responsabilidade civil
Conjunto de factos que dão origem à obrigação de indemnizar os
danos sofridos por outrem.

 Constitui uma fonte de obrigações baseada no princípio do


ressarcimento dos danos.

 Na responsabilidade civil cabe tanto a responsabilidade


contratual, como a responsabilidade extra-contratual

Responsabilidade contratual (obrigacional) (arts. 798° e ss.)


Responsabilidade proveniente da falta de cumprimento das
obrigações emergentes dos contratos, de negócios unilaterais ou da
lei.

Responsabilidade extra-contratual (delitual) (arts. 483° e ss.)


Responsabilidade resultante da violação de direitos absolutos ou da
prática de certos actos que embora lícitos, causam prejuízo a
outrém.

 A responsabilidade contratual e a responsabilidade


extra-contratual, podem nascer do mesmo facto e transitar-se
facilmente do domínio de uma delas para a esfera normativa
própria da outra.

Exemplo:

Se, no mesmo acidente de viação, o motorista culpado provocar


danos nos passageiros que transporta e nos transeuntes que
atropela...

- responderá por ilícito contratual relativamente aos passageiros


que transporta

- responderá por ilícito extra-contratual perante os transeuntes que


atropela.

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Diferença entre R. C. contratual e R.C. extra-contratual

Responsabilidade extra-contratual (delitual)


Surge como consequência da violação de direitos absolutos, que
aparecem assim desligados de qualquer relação inter-subjectiva,
previamente existente entre lesante e lesado.

Responsabilidade contratual (Obrigacional)


Pressupõe a existência de uma relação inter-subjectiva, que
primariamente atribuía ao lesado um direito à prestação, surgindo
como consequência da violação de um dever emergente dessa
relação específica.
Do devedor
Incumprimento temporário
Subjectiva Do credor
Contratual Incumprimento definitivo
(arts.798° e ss.) objectiva

R. Civil Subjectiva (com culpa)


(art. 483°)

Extra-contratual
(arts. 483° e ss.)

Objectiva (sem culpa)


(arts. 499° e ss.)

Responsabilidade civil por factos ilícitos

R. C. extra-contratual subjectiva
Pressupostos genéricos

ARTIGO 483º (responsabilidade subjectiva)


Princípio geral
1. Aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito
de outrem ou qualquer disposição legal destinada a proteger
interesses alheios fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos
resultantes da violação.

2. Só existe obrigação de indemnizar independentemente de culpa


nos casos especificados na lei. (responsabilidade objectiva)

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Pressupostos da responsabilidade civil subjectiva
(cumulativos)
Acção
1) facto voluntário
Omissão
2) ilicitude

3) culpa

4) dano

5) nexo de causalidade entre o facto e o dano

Facto voluntário

Facto voluntário
Facto objectivamente controlável ou dominável pela vontade.

 Não se exige que o comportamento do lesante seja


intencional ou sequer que consista numa actuação, bastando
que exista uma conduta que lhe possa ser imputada em
virtude de estar sob o controle da sua vontade.

 Não envolve responsabilidade civil a situação de o agente destruir um vaso de


porcelana precioso, porque cai sobre ele em consequência de uma síncope
cardíaca, ou foi submetido a coacção física para esse efeito.

 Se existir algum domínio da vontade já pode haver responsabilidade, como na


hipótese de a destruição do vaso ter resultado de um gesto brusco do agente.

O facto voluntário do agente pode revestir 2 formas...

acção (art.483°)

Facto voluntário
por... omissão (art.486°)

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Omissão
É causa do dano, sempre que haja o dever jurídico especial de
praticar um acto que seguramente ou provavelmente teria impedido
a consumação desse dano.

ARTIGO 486º
Omissões
As simples omissões dão lugar à obrigação de reparar os danos,
quando, independentemente dos outros requisitos legais, havia, por
força da lei ou do negócio jurídico, o dever de praticar o acto
omitido.

!!! Fora do domínio da responsabilidade civil ficam apenas


os danos provocados por causas de força maior ou
pela actuação irresistível de circunstância fortuitas.
!!!!

Ilicitude
Ilicitude
A ilicitude é avaliada através da prossecução de um fim não
permitido pelo Direito;

traduz –se em ...

 ilícito doloso - Intenção de praticar a lesão

ou em ...

 ilícito negligente - violação do dever objectivo de cuidado

2 modalidades de ilicitude :

Ilicitude por ...

 violação de direitos subjectivo


(“violação do direito de outrem”)

 violação de normas legais de protecção

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(“violação da lei que protege interesses alheios”.)

Ilicitude por violação de direitos subjectivos

Característica especial

Em presença de violação de um direito subjectivo específico,


a indemnização limita-se à frustação das utilidades
proporcionadas por esse direito.

Função

Este tipo de ilicitude reconduz-se à tutela das utilidades que lhe


proporcionava o direito subjectivo objecto de violação.

Aplicabilidade

São abrangidos por esta modalidade de ilicitude os direitos ...

 Sobre bens jurídicos pessoais (vida, corpo, saúde, liberdade)


 Direitos de personalidade (direito ao nome e ao pseudónimo)
 Direito à não divulgação de escritos confidenciais
 Direito à imagem
 Direito à intimidade da vida privada
 Direitos reais
 Direitos de propriedade industrial
 Direitos de autor
 Direitos pessoais de gozo (protecção possessória como o
arrendamento, o comodato e a parceria pecuária)
 Direitos familiares de natureza patrimonial (direito dos cônjuges à
meação dos bens comuns e os direitos de administração sobre os bens dos
menores)

Haverá sempre ilicitude sempre que o agente venha a lesar


alguma das utilidades proporcionadas por estes direitos

Não são abrangidos por esta modalidade de ilicitude ...

 Os direitos de crédito (porque estes geram responsabilidade contratual)

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Ilicitude por violação de normas legais de protecção

2 tipos de normas :

 Protecção de interesses privados

Normas que, embora dirigidas à tutela de interesses particulares,


não atribuem aos titulares desses interesses um verdadeiro direito
subjectivo (não lhe atribuem em exclusivo o aproveitamento de um bem)

 Protecção prioritária de interesses públicos

Normas que prioritariamente protegem interesses públicos e


reflexamente protegem interesses privados (a generalidade das normas
do Código da Estrada).

Para que haja um acto ilícito nos termos do art. 483°/1, ...

exige-se que se verifiquem cumulativamente ...

3 requisitos :

a) Que à lesão dos interesses do particular corresponda a


violação de uma norma legal.

b) Que a tutela dos interesses particulares figure, de facto,


entre os fins da norma violada.

c) A verificação de um dano no âmbito do círculo de


interesses tutelados pela norma

Casos especiais de ilicitude

 Art. 334° (Abuso do Direito)

 Art. 335° ( Colisão de direitos)

 Art. 484° ( ofensa do crédito ou do bom nome)

 Art. 485° (Conselhos, recomendações ou informações)

 Art. 486° (Omissões)

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Abuso de direito (art. 334°)

ARTIGO 334º
Abuso do direito
É ilegítimo o exercício de um direito, quando o titular exceda manifestamente os
limites impostos pela boa fé, pelos bons costumes ou pelo fim social ou
económico desse direito.

 Só na medida em que, pelo seu exercício concreto, um certo


direito subjectivo realize a finalidade para que foi incumbido, é
que aquele direito subjectivo é exercido regularmente ou não
abusivamente.

 Os limites abstractos do direito, só em concreto, na aplicação


dele, podem ser completamente caracterizados e definidos.

 O abuso de direito resulta muitas vezes de um exercício


desconforme com a boa fé.

 Quando o exercício de um direito é abusivo e gerador de


danos para outrém, culposo e preenche todos os requisitos da
responsabilidade civil, constitui os titulares do direito na
obrigação de indemnizar pelos danos causados com esse
exercício.

Colisão de direitos (art. 335°)

ARTIGO 335º
Colisão de direitos
1. Havendo colisão de direitos iguais ou da mesma espécie, devem os titulares
ceder na medida do necessário para que todos produzam igualmente o seu
efeito, sem maior detrimento para qualquer das partes.
2. Se os direitos forem desiguais ou de espécie diferente, prevalece o que deva
considerar-se superior.

 O que se disse para o abuso de direito é também válido para


a colisão de direitos.

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Quando se violam as regras relativas à colisão de direitos, o
titular do direito que as violou, se estiverem preenchidos
os restantes requisitos da responsabilidade civil, será
obrigado a indemnizar o titular do outro direito, cujo
exercício ficou prejudicado pela sua acção

Ofensa do crédito ou do bom nome (art. 484°)

ARTIGO 484º
Ofensa do crédito ou do bom nome
Quem afirmar ou difundir um facto capaz de prejudicar o crédito ou o bom nome
de qualquer pessoa, singular ou colectiva, responde pelos danos causados.

Crédito (não é um direito subjectivo)


A convicção generalizada socialmente, da solvabilidade de uma
pessoa.

Bom nome
Um direito de personalidade, direito subjectivo de natureza absoluta
.
 Há obrigação de indemnizar para aquele que afirmar ou
difundir um facto susceptível de prejudicar o crédito ou o bom
nome de outrém.

 Tanto no caso de ser falso, como de ser verdadeiro o facto


afirmado, pode haver obrigação de indemnizar. (aqui a Doutrina
divide-se)

 Para que exista responsabilidade pela afirmação ou difusão


de factos ofensivos do crédito ou do bom nome de outrém é
necessário que concorram os restantes pressupostos da
responsabilidade civil.

Conselhos, recomendações ou informações (art. 485°)

ARTIGO 485º
Conselhos, recomendações ou informações

1. Os simples conselhos, recomendações ou informações não responsabilizam


quem os dá, ainda que haja negligência da sua parte.

2. A obrigação de indemnizar existe, porém,

- quando se tenha assumido a responsabilidade pelos danos,

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- quando havia o dever jurídico de dar conselho, recomendação ou


informação e se tenha procedido com negligência ou intenção de
prejudicar, ou ...

- quando o procedimento do agente constitua facto punível.

Omissões (art. 486°)

ARTIGO 486º
Omissões

As simples omissões dão lugar à obrigação de reparar os


danos,

quando, ...

- independentemente dos outros requisitos legais, havia, por força


da lei ou do negócio jurídico, o dever de praticar o acto omitido.

!!! Quando um acto é simultaneamente constitutivo de


responsabilidade contratual e extra-contratual, só se aplica um
dos regimes, aquele que o lesado preferir !!! .

Causas de exclusão da ilicitude


Um acto que normalmente é ilícito, pode tornar-se lícito ou deixar de
ser ilícito em consequência da verificação de uma qualquer
circunstância que, em concreto exclua a ilicitude do acto.

O acto justificado juridicamente deixa por isso de ser ilícito

As causas de exclusão da ilicitude, são :

 Cumprimento de um dever

 Exercício de um direito

 Formas de tutela privada de direitos :

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- acção directa (art. 336°)

- legítima defesa (art.337°)

- estado de necessidade (339°)

Cumprimento de um dever

 O cumprimento de um dever jurídico, em certas


circunstâncias, justifica o incumprimento de outro.

Para que o cumprimento de um dever jurídico seja causa de


exclusão de ilicitude são necessários ...

... certos requisitos

 quando se tratar de deveres de cumprimento incompatível.

 Indispensável que não tenha sido o agente a colocar-se


culposamente na situação de incompatibilidade de
cumprimento dos dois deveres.

 Necessário que o dever cumprido seja de valor superior


ao dever incumprido.

Exercício de um direito

O acto de exercício de um direito, ainda que cause danos a outrem,

é um acto lícito desde que...

 o direito seja exercido em conformidade com a boa fé,

 com os bons costumes,

 com o fim económico e social do direito e ...

 respeitando as regras de compatibilização de direitos do


art. 335°

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Há casos muito raros e excepcionais em que a lei impõe o dever de
indemnizar ao autor de um acto lícito. (Estado de necessidade, Sinal, mora)

Formas de tutela privada de direitos

Acção directa

ARTIGO 336º
Acção directa
1. É lícito o recurso à força com o fim de realizar ou assegurar
o próprio direito, quando a acção directa for indispensável , ...
pela impossibilidade de recorrer em tempo útil aos meios coercivos normais,
para evitar a inutilização prática desse direito, contanto que o agente não exceda
o que for necessário para evitar o prejuízo.
2. A acção directa pode consistir na apropriação, destruição ou deterioração de
uma coisa, na eliminação da resistência irregularmente oposta ao exercício do
direito, ou noutro acto análogo.
3. A acção directa não é lícita, quando sacrifique interesses
superiores aos que o agente visa realizar ou assegurar.

Exemplo: Não posso agredir alguém que tem uma coisa minha e que pretende tomar
um avião para tentar fugir; posso tirar-lhe o passaporte, a mala ou aquilo que ele leva e
que me pertence, desde que consiga fazê-lo sem o exercício da violência que produziria
danos superiores.

Legítima defesa

ARTIGO 337º
Legítima defesa
1. Considera-se justificado o acto destinado a afastar qualquer
agressão actual e contrária à lei contra a pessoa ou património do
agente ou de terceiro, desde que não seja possível fazê-lo pelos meios normais
e o prejuízo causado pelo acto não seja manifestamente superior ao que pode
resultar da agressão.
2. O acto considera-se igualmente justificado, ainda que haja excesso de
legítima defesa, se o excesso for devido a perturbação ou medo não culposo do
agente.

Exemplo: A agride B . C intervém em defesa de B. D aparece no meio da confusão, e


vendo A a ser agarrado por C, pensa que ele está a ser agredido e agride C.
- A reacção de C foi lícita, estava em situação de legítima defesa, logo a reacção de
D não é lícita.

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ARTIGO 338º
(Erro acerca dos pressupostos da acção directa ou da legítima defesa)
Se o titular do direito agir na suposição errónea de se verificarem os
pressupostos que justificam a acção directa ou a legítima defesa, é obrigado a
indemnizar o prejuízo causado, salvo se o erro for desculpável.
Estado de necessidade

ARTIGO 339º
Estado de necessidade

1. É lícita a acção daquele que destruir ou danificar coisa alheia


com o fim de remover o perigo actual de um dano
manifestamente superior, quer do agente, quer de terceiro.
2. O autor da destruição ou do dano é, todavia, obrigado a indemnizar o lesado
pelo prejuízo sofrido, se o perigo for provocado por sua culpa exclusiva; em
qualquer outro caso, o tribunal pode fixar uma indemnização equitativa e
condenar nela não só o agente, como aqueles que tiraram proveito do acto ou
contribuíram para o estado de necessidade.

Estado de necessidade objectivo


Quando alguém pratica um acto causador de danos materiais,
para evitar o perigo iminente de um mal superior, quer do agente,
quer de terceiro.

O estado de necessidade objectivo é causa de exclusão de ilicitude !!!.

Estado de necessidade subjectivo


Estado de perturbação psicológica, a reacção emocional, que
acompanha o estado de necessidade objectivo.

O estado de necessidade subjectivo é causa de exclusão de culpabilidade

 Quando o agente, para evitar o perigo de um mal maior,


provoca danos pessoais, não se aplica o art. 339°

Dano material
Dano que se consubstancia na lesão de um bem ou de uma coisa.

Dano pessoal
Dano que se traduz na lesão de um direito da pessoa.

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Dano patrimonial
Quando o interesse lesado era um interesse susceptível de
avaliação pecuniária.

Dano não patrimonial


Quando o interesse lesado não era susceptível de avaliação em
dinheiro.
 Um dano material pode traduzir-se num dano patrimonial e/ou
num dano não patrimonial.

Exemplo:
A matou o caniche da Etelvina. O dano incidiu sobre uma coisa, o caniche, é um
dano material, donde resultou um dano patrimonial para a Etelvina, a perca do valor
do caniche. Mas resultou um dano não patrimonial também, pois Etelvina sofreu
muito com a morte do seu caniche “bien aimé”.

 Os danos pessoais também podem ser patrimoniais e/ou não


patrimoniais.

Exemplo:
A foi atropelada (dano pessoal). Esteve durante vários dias impossibilitada de exercer
a sua actividade profissional (dano patrimonial). As despesas do internamento, de
tratamento, remuneração não auferida (danos patrimoniais).
A teve dores, angústias, etc. (dano moral ou não patrimonial)

Estas três figuras têm em comum algumas características:

 A natureza preventiva

 O carácter subsidiário

 O P° da proporcionalidade

Natureza preventiva

A lei admite excepcionalmente a autotutela de direitos, com


carácter preventivo, para evitar a violação de direitos e não para
reagir à violação de direitos, não com carácter repressivo.

Carácter subsidiário

Só é lícito actuar em acção directa, em legítima defesa ou em


estado de necessidade, quando não seja possível em tempo útil
recorrer aos meios normais.

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Princípio da proporcionalidade

O acto só é lícito na medida em que cause danos previsivelmente


inferiores, àqueles que resultariam do acto que se pretende evitar.

Culpa (nexo de imputação do facto ao agente)


Culpa em sentido amplo
Abrange duas sub-modalidades, a culpa em sentido estrito,
também chamada mera culpa ou negligência e o dolo.

Consciente
Negligência ou mera culpa
Culpa Inconsciente
Directo
(S. amplo) Dolo Necessário
eventual

Culpa
Nexo de imputação do facto ao agente.

Mera culpa
Quando o agente não aplicou a diligência que o bom pai de família,
colocado naquela situação teria aplicado. (art. 487°/2)

Mera culpa consciente


Quando o agente representou a possibilidade da consequência
ilícita danosa e só actuou, porque se convenceu infundada e
megalomanamente que conseguiria evitar a produção dessa
consequência.
Exemplo::
A conduz a alta velocidade passando os semáforos vermelhos, sabendo bem que é
perigoso, mas ele acha que vai conseguir evitar qualquer acidente. Esta convicção é
objectivamente infundada e o acidente produz-se.

Mera culpa inconsciente


Nesta situação o agente não previu o resultado, não pensou nisso,
mas ele ocorreu. A culpa está na irreflexão da não previsão do resultado.
Exemplo:

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O guarda da passagem de nível estava tão excitado com a ideia de ir ter com a
namorada ao baile das “sopeiras e magalas” que se realizava na sociedade recreativa
de Renhanfoles, que se esqueceu completamente que o combóio de mercadorias das
10 ainda não passara, e lá foi ele p’ró baile tal um John Travolta. Quando o combóio
vinha a passar o burro do Ti Jaquim foi atropelado, provocando o descarrilamento da
composição. (o burro saiu ileso, foi só a carroça, não há problema !! Ah!, Ah!, Ah!)

Dolo
Quando o agente actuou por forma a aceitar, a admitir, as
consequências ilícitas da sua conduta. Diz-se dolosa a conduta do agente
que embora não tenha prefigurado as consequências danosas e ilícitas que do seu
acto iriam resultar, nada fez para as afastar porque as admitiu.

Dolo directo
Quando o agente actuou intencionalmente para o resultado ilícito.
Quando o agente actuou para obter a consequência ilícita danosa e a obteve.

Exemplo:
A levantou a mão e bateu em B, porque queria dar-lhe uma “pêra” (agressão e não
doação Ah! Ah! Ah!)

Dolo necessário
Quando o agente não tinha como objectivo do seu comportamento
o resultado ilícito, mas sabia que o seu comportamento ia ter como
resultado necessário, inevitável, o ilícito.

Exemplo:
A está a fazer tiro ao alvo e a certa altura percebe que para atingir a “mouche” no
próximo disparo vai atingir a sogra, que está na linha de mira dele. Ele não vai
disparar para matar a sogra, nem sequer para a ferir, não é isso que ele quer, ele só
quer ganhar o torneio de tiro, mas percebe que atingir a sogra é uma consequência
necessária do seu acto e, ainda assim pratica-o (podem substituir a sogra pelo Alberto
João Jardim, sempre é menos grave Ah!, Ah!, Ah!.)

Dolo eventual
Quando o agente prefigura a consequência ilícita e danosa como
uma consequência possível do seu comportamento e não faz nada
para a evitar.

Exemplo:
“João Travolta”, já nosso conhecido, guarda da passagem de nível de Renhanfoles é
informado que a sua namorada está presente no baile da “desfolhada”. João olha p’ró
relógio e pensa que se vai ao baile, arrisca-se a não estar no seu posto na altura da
passagem do combóio das 10. Mas era irresistível ir ao baile onde estava a sua
“coisinha fofa” e assim foi.

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O burro do Ti Jaquim desta vez não teve sorte e foi esborrachado horrívelmente pelas
toneladas de aço do combóio, só se aproveitando as orelhas (Hi!, Hi!, Hi!, ganda
sádico !!!)
Neste caso o ilícito danoso não é uma consequência necessária do acto do agente, é
uma consequência possível eventual. “João Travolta” actua não porque queira aquela
consequência, não porque saiba que ela vai ter lugar, mas porque não a rejeita.

Fronteira entre o dolo eventual e a mera culpa consciente

A fronteira entre o dolo eventual e a mera culpa é muito ténue e só


releva da atitude psicológica do sujeito.

Em ambos os casos o sujeito...

- Prevê a possibilidade do resultado danoso


- Actua

A diferença está em que...

- No dolo eventual , o sujeito actua porque se está


“borrifando” para o resultado.

- Na mera culpa consciente , actua porque pensa que


vai conseguir evitar a ocorrência do resultado danoso.

!!! A distinção entre dolo e mera culpa é relevante para efeitos


de aplicação do art. 494° !!!

Imputabilidade (art. 488°)

Imputabilidade
Situação do sujeito que tem liberdade intelectual e volutiva
proporcionada ao acto que pratica.

Imputável
O sujeito que tem o mínimo de inteligência para perceber o alcance
do acto que pratica e que tem a liberdade de determinação, isto é,
que é livre de decidir de praticar ou não o acto.

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Inimputável
O sujeito que, quando praticou o acto não estava em condições de
perceber o seu alcance, ou não tinha a liberdade da sua vontade.

ARTIGO 488º
Imputabilidade
1. Não responde pelas consequências do facto danoso quem, no momento em
que o facto ocorreu, estava, por qualquer causa, incapacitado de entender ou
querer, salvo se o agente se colocou culposamente nesse estado, sendo este
transitório.
2. Presume-se falta de imputabilidade nos menores de sete anos e nos interditos
por anomalia psíquica.
A presunção do art. 488°/2
É ilidível nos termos gerais do art. 350°. Um acto praticado por uma
criança de 6 anos pode constituí-la em responsabilidade civil por ser
considerado culposo, desde que se prove que a criança tinha, naquele momento
e para a prática daquele acto, o discernimento necessário e a liberdade de
determinação.

Indemnização por pessoa não imputável

ARTIGO 489º
Indemnização por pessoa não impútavel
1. Se o acto causador dos danos tiver sido praticado por pessoa não imputável,
pode esta, por motivo de equidade, ser condenada a repará-los, total ou
parcialmente, desde que não seja possível obter a devida reparação das pessoas
a quem incumbe a sua vigilância.

2. A indemnização será, todavia, calculada por forma a não privar a pessoa não
imputável dos alimentos necessários, conforme o seu estado e condição, nem
dos meios indispensáveis para cumprir os seus deveres legais de alimentos.

Responsabilidade dos vigilantes de outrem

ARTIGO 491º
R. C. das pessoas obrigadas à vigilância de outrem

As pessoas que, ...

- por lei ou...

- negócio jurídico, ...

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forem obrigadas a vigiar outras, por virtude da incapacidade natural
destas, são responsáveis pelos danos que elas causem a
terceiro, ...

salvo se ...

- mostrarem que cumpriram o seu dever de vigilância ou que...

- os danos se teriam produzido ainda que o tivessem cumprido.

!!! O art. 491° só se aplica à responsabilidade do vigilante pelos


danos causados pelo inimputável a TERCEIRO !!!
!!! O vigilante é responsável pelos danos que o inimputável
provoque a si mesmo, pelas normas gerais da
responsabilidade civil extra-contratual, mas não se
presume a sua culpa (art.487°/1)

O vigilante de inimputável pode incorrer em responsabilidade...

 Face ao vigiado
Pelos danos que o vigiado sofreu em consequência do
incumprimento do seu dever de vigilância.
Nesta situação aplica-se o regime geral da responsabilidade civil e
o ónus da prova de culpa cabe ao lesado nos termos gerais do
art. 487°/1

ARTIGO 487º
Culpa

1. É ao lesado que incumbe provar a culpa do autor da lesão, salvo havendo


presunção legal de culpa.

2. A culpa é apreciada, na falta de outro critério legal, pela diligência de um bom


pai de família, em face das circunstâncias de cada caso.

 Face a terceiros
Pelos danos que o inimputável causa a terceiros presume-se a
culpa do vigilante e aplica-se o regime geral do art. 491°

A responsabilidade do vigilante pode ser afastada de 2 formas :

 Por ilisão da presunção de culpa

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Pela prova que cumpriu com diligência o seu dever de vigilância,
provando que não houve culpa. Deixa de haver um dos requisitos
da responsabilidade civil (art. 483°), que é a culpa.

 Pela relevância negativa da causa virtual


Pela prova de que, mesmo que tivesse cumprido esse dever, os
danos teriam ocorrido na mesma. Neste caso, estão preenchidos
todos os pressupostos da responsabilidade do vigilante, incluindo a
culpa..
O que o vigilante vem provar é que teve culpa e essa foi a CAUSA
REAL do dano, mas que mesmo que não tivesse tido, o dano teria
derivado de uma outra causa, a CAUSA VIRTUAL, se não fora a
sua culpa.
!!! O vigilante pode afastar a responsabilidade na
totalidade (art. 491°), mas não exclui a culpa !!!.

Causas de exclusão da culpabilidade

Causas de exclusão da culpabilidade


Circunstâncias que em concreto afastam a culpa do agente, isto é,
fazem com que o agente não seja objecto de juízo de culpabilidade,
quando o seria, normalmente, se essas circunstâncias não tivessem
ocorrido

 Erro (art.338°)

 Medo (art.337°/2)

 Causas gerais de desculpabilidade (art.487°/2)

 Estado de necessidade subjectivo (art. 339°) (causa geral


de desculpabilidade, que corresponde ao estado psicológico
do agente.)

O Medo

Medo
O medo é uma causa de exclusão de culpabilidade ...

Desde que seja cumulativamente:

 Medo essencial

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Que tenha sido o medo a causa determinante do comportamento
do agente.

 Medo desculpável
Um medo, uma situação psicológica de intimidação, em que o bom
pai de família também teria incorrido se estivesse naquela situação.

ARTIGO 337º
Legítima defesa

2. O acto considera-se igualmente justificado, ainda que haja excesso de


legítima defesa, se o excesso for devido a perturbação ou medo não culposo do
agente.
O Erro

Erro
O erro é também uma causa de exclusão da culpa.

Desde que seja cumulativamente :

 Erro essencial
Que tenha sido o erro a causa determinante do comportamento do
agente.

 Erro desculpável
É o erro em que também o bom pai de família, com a sua diligência,
a sua prudência, o seu zelo, teria incorrido

Causas gerais de desculpabilidade (art. 487°/2)


ARTIGO 487º
Culpa
1. É ao lesado que incumbe provar a culpa do autor da lesão, salvo havendo
presunção legal de culpa.

2. A culpa é apreciada, na falta de outro critério legal, pela diligência


de um bom pai de família, em face das circunstâncias de cada caso.

Estado de necessidade subjectivo


É uma causa geral de exclusão de culpa, é o estado de perturbação
psicológica que acompanha o estado de necessidade objectivo, que
constitui uma causa de exclusão de ilicitude.

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A causa de exclusão de ilicitude só abrange os danos materiais

A causa de exclusão da culpa abrange também os danos pessoais

Culpa do lesado (art.570°)

ARTIGO 570º
Culpa do lesado

1. Quando um facto culposo do lesado tiver concorrido para a


produção ou agravamento dos danos, cabe ao tribunal determinar,
com base na gravidade das culpas de ambas as partes e nas
consequências que delas resultaram, se a indemnização deve ser
totalmente concedida, reduzida ou mesmo excluída.

2. Se a responsabilidade se basear numa simples presunção de


culpa, a culpa do lesado, na falta de disposição em contrário,
exclui o dever de indemnizar.

Na responsabilidade civil extra-contratual, a regra geral é a de


que o ónus da prova da culpa do lesante incumbe ao lesado !!!

! ! ! No domínio da responsabilidade civil contratual, a regra é


a da presunção legal de culpa ! ! !

ARTIGO 571º
Culpa dos representantes legais e auxiliares

Ao facto culposo do lesado é equiparado o facto culposo dos


seus representantes legais e das pessoas de quem ele se tenha
utilizado.

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Ónus da prova da culpa do lesado

 Em regra é o lesante que tem de provar a culpa do lesado.

 Porém, o tribunal pode conhecer oficiosamente a culpa do


lesado, mesmo que ninguém a tenha alegado.

ARTIGO 572º
Prova da culpa do lesado
Àquele que alega a culpa do lesado incumbe a prova da sua
verificação; mas o tribunal conhecerá dela, ainda que não seja
alegada.

Dano
Dano
É o prejuízo que um sujeito jurídico sofre na sua esfera jurídica. É o
pressuposto quase necessário de qualquer modalidade de
responsabilidade civil.

A responsabilidade civil só existe tipicamente se houver um dano

Excepções à regra :

 O sinal
O regime indemnizatório do sinal funciona independentemente da
prova ou da ocorrência de qualquer dano, pois o sinal funciona
como uma cláusula penal.

 Cláusula penal
O montante indemnizatório convencionalmente estabelecido pelas
partes é o montante tipicamente devido, independentemente do
credor ter sofrido danos e da extensão deles.

 Mora no cumprimento de uma obrigação pecuniária


Se o devedor se constitui em mora, fica obrigado a uma
indemnização moratória independentemente da existência de dano.

Classificação de danos

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Dano material
Dano, que se consubstancia na lesão de um bem ou de uma coisa.

Dano pessoal
Dano, que se traduz na lesão de um direito da pessoa.

Dano não patrimonial


Quando o direito ou interesse lesado, não é susceptível de
avaliação em dinheiro.

Dano patrimonial
Quando o interesse lesado é um interesse, material ou pessoal,
susceptível de avaliação pecuniária.

Danos patrimoniais

Dentro dos danos patrimoniais, há que distinguir entre :

- Dano emergente

- lucro cessante

Dano emergente
Diminuição verificada no património de alguém em consequência de
um acto ilícito e culposo de outrém ...

ou ...

de um acto não ilícito e culposo, mas constitutivo de


responsabilidade civil para outrem.

Lucro cessante
É a frustação de um aumento patrimonial, quando alguém deixa de
auferir qualquer coisa que normalmente teria auferido se não fosse
o acto que constituiu o agente de responsabilidade.

ARTIGO 564º
Cálculo da indemnização

1. O dever de indemnizar compreende não só o prejuízo causado,


como os benefícios que o lesado deixou de obter em consequência
da lesão.

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2. Na fixação da indemnização pode o tribunal atender aos danos


futuros, desde que sejam previsíveis; se não forem determináveis, a
fixação da indemnização correspondente será remetida para
decisão ulterior.

ARTIGO 495º
Indemnização a terceiros em caso de morte ou lesão corporal

1. No caso de lesão de que proveio a morte, é o responsável


obrigado a indemnizar as despesas feitas para salvar o lesado e
todas as demais, sem exceptuar as do funeral.

2 Neste caso, como em todos os outros de lesão corporal, têm


direito a indemnização aqueles que socorreram o lesado, bem como
os estabelecimentos hospitalares, médicos ou outras pessoas ou
entidades que tenham contribuído para o tratamento ou assistência
da vítima.

3. Têm igualmente direito a indemnização os que podiam exigir


alimentos ao lesado ou aqueles a quem o lesado os prestava no
cumprimento de uma obrigação natural.

Danos não patrimoniais

ARTIGO 49 6º
Danos não patrimoniais

1. Na fixação da indemnização deve atender-se aos danos não


patrimoniais que, pela sua gravidade, mereçam a tutela do direito.

2. Por morte da vítima, o direito à indemnização por danos não


patrimoniais cabe, em conjunto, ao cônjuge não separado
judicialmente de pessoas e bens e aos filhos ou outros

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descendentes; na falta destes, aos pais ou outros ascendentes; e,
por último aos irmãos ou sobrinhos que os representem.

3. O montante da indemnização será fixado equitativamente pelo


tribunal, tendo em atenção, em qualquer caso, as circunstâncias
referidas no artigo 494º; no caso de morte, podem ser atendidos
não só os danos não patrimoniais sofridos pela vítima, como os
sofridos pelas pessoas com direito a indemnização nos termos
número anterior.

Dano morte
Dano decorrente da privação da vida.

Danos futuros
Os que ainda não ocorreram no momento de apreciação pelo
tribunal do pedido indemnizatório, mas cuja ocorrência é previsível
e provável.

Danos presentes
Os que já ocorreram no momento da apreciação pelo tribunal do
pedido indemnizatório.

A distinção entre danos presentes e danos futuros


estabelece-se em função do momento da apreciação pelo
tribunal do pedido indemnizatório e não em função do
momento da prática do acto.

Dano real
É o prejuízo efectivamente verificado.

Cálculo de dano
É a avaliação pecuniária do dano real, a avaliação da
indemnização.

A avaliação da indemnização faz-se segundo a ...

TEORIA DA DIFERENÇA

 O montante indemnizatório obtém-se pela diferença entre a


situação patrimonial efectiva do lesado, depois da lesão e a

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situação patrimonial hipotética, aquela que o lesado teria não
fora a lesão.

A indemnização pecuniária tem carácter subsidiário

ARTIGO 566º
Indemnização em dinheiro
1. A indemnização é fixada em dinheiro, sempre que a
reconstituição natural não seja possível , não repare integralmente os
danos ou seja excessivamente onerosa para o devedor.
2. Sem prejuízo do preceituado noutras disposições, a indemnização em
dinheiro tem como medida a diferença entre a situação patrimonial do lesado, na
data mais recente que puder ser atendida pelo tribunal, e a que teria nessa data
se não existissem danos.
3. Se não puder ser averiguado o valor exacto dos danos, o tribunal julgará
equitativamente dentro dos limites que tiver por provados.

Nexo de causalidade
 Em qualquer das modalidades da responsabilidade civil, tem
sempre que haver uma ligação causal entre o facto e o dano
para que o autor do facto seja obrigado a indemnizar o dano.

O nexo causal estabelece-se pelo critério da ...

TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA

Um certo facto só pode ser considerado causa de um certo


dano ...

quando, ...

em abstracto, (nas condições normais da vida)


ele tenha capacidade causal, apetência causal, para provocar
aquele tipo de dano.

mas também, ...

em concreto,
ele tenha constituído uma condição necessária, “sine qua non”,
do dano,

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Exemplo:
A deu uma bofetada a B; B, doente cardíaco, com a comoção
morreu.

Em abstracto
Uma bofetada não é normalmente apta, capaz, de provocar a morte
de ninguém.

Em concreto
A bofetada foi uma condição necessária, “sine qua non” da morte.

ARTIGO 563º
Nexo de causalidade
A obrigação de indemnização só existe em relação aos danos que o
lesado provavelmente não teria sofrido se não fosse a lesão.
Formulação negativa da teoria da causalidade adequada

Quando a teoria da causalidade adequada é formulada


negativamente, o lesado não necessita de provar nada; é preciso
que o lesante, obrigado a indemnizar, prove que só em virtude de
circunstâncias anómalas e excepcionais aquele facto pode em
concreto causar aquele dano.

 A obrigação de indemnização só existe em relação aos


danos que o lesado provavelmente não teria sofrido se
não fosse a lesão

Formulação positiva da teoria da causalidade adequada

Quando a teoria da causalidade adequada é formulada


positivamente e aplicada ao caso concreto, cabe ao lesado provar
que o facto, que ele invoca como sendo gerador do dano, constitui
uma condição necessária do dano e é normalmente capaz de
produzir aquele tipo de dano.

 Os danos indemnizáveis são aqueles que com


probabilidade, resultaram da lesão, isto é, são aqueles que
a lesão era apta, em condições normais, a provocar; segundo
critérios de probabilidade, a lesão era capaz de provocar
esses danos, logo, são esses os danos indemnizáveis

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Em sede de responsabilidade civil extra-contratual quem tem
de provar a culpa do lesante é o lesado (art. 487°/1 1a parte)

Salvo...

“... havendo presunção legal de culpa” (art. 487°/1 2a parte)

Os casos previstos na lei, de presunção legal de culpa, no


domínio da responsabilidade extra-contratual subjectiva, são
designadamente os dos artigos 491°, 492° e 493°

CAUSA VIRTUAL (hipotética)

Causa virtual
É a causa que poderia ter dado origem aos danos , mas que não
deu.

Causa real
O facto que efectivamente deu origem aos danos.

Causalidade interrompida
Quando há um processo causal que se interrompe pela emergência
doutro processo causal, que é mais eficiente e que efectivamente
provoca o dano.

Exemplo :
A envenenou o cão de B, mas o cão não morreu instantaneamente,
pois o processo de intoxicação desenrola-se lentamente, não
impedindo no entanto a morte inexorável do animal..
O cão de B tinha ainda um inimigo, o vizinho C que não sabendo
que o cão já tinha sido envenenado lhe deu um tiro na cabeça,
matando-o instantaneamente.

 A causa real foi o tiro


 A causa virtual foi o envenenamento

Daqui surgem 2 questões :

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1 - Relevância negativa da causa virtual
será que o autor da causa real pode dizer que não tem de
responder pela morte do cão, argumentando que de toda a maneira
ele estava condenado a morrer devido ao envenenamento?

2 – Relevância positiva da causa virtual


Será que o autor da causa virtual pode ser responsabilizado por um
dano que efectivamente não provocou, mas que poderia ter
provocado, não fora a causa real? Não !!!

Causalidade antecipada
Quando temos uma causa real que provocou o dano e temos uma
causa hipotética subsequente, que não o chega a provocar porque
o dano já ocorreu.

Exemplo:
A incendeia a seara de B, que fica completamente destruída.
Nesse mesmo dia à noite há uma tempestade completamente
devastadora que só não destrói a seara do B porque ela já tinha
sido destruída pelo fogo (se assim não fosse tê-la-ia certamente destruído)

 A causa real foi o fogo posto


 A causa virtual foi a tempestade

!!! A causa virtual nunca releva positivamente !!!

 O autor da causa virtual nunca pode ser responsabilizado


pelo dano.

 A causa virtual releva negativamente de forma total,


afastando completamente a responsabilidade do autor da causa
real, nos casos em que a lei assim o determina

 Os casos previstos na lei, no domínio da responsabilidade


extra-contratual subjectiva, são designadamente os dos
artigos 491°, 492° e 493°

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ARTIGO 491º
Responsabilidade das pessoas obrigadas à vigilância de outrem

As pessoas que, por lei ou negócio jurídico, forem obrigadas a vigiar outras, por
virtude da incapacidade natural destas, são responsáveis pelos danos que elas
causem a terceiro, salvo se mostrarem que cumpriram o seu dever de vigilância
ou que os danos se teriam produzido ainda que o tivessem cumprido.

 A lei vem permitir aqui ao vigilante que incumpriu a sua


obrigação de vigilância, que pela prova da existência de uma
causa virtual, afaste a sua responsabilidade.

Exemplo :
O autocarro galgou o passeio. Mesmo que o vigilante tivesse a
criança pela mão a criança teria sido atropelada.
ARTIGO 492º
Danos causados por edifícios ou outras obras
1. O proprietário ou possuidor de edifício ou de outra obra que ruir, no todo ou
em parte, por vício de construção ou defeito de conservação, responde pelos
danos causados, salvo se provar que não houve culpa da sua parte ou que,
mesmo com a diligência devida, se não teriam evitado os danos.
2. A pessoa obrigada, por lei ou negócio jurídico, a conservar o edifício ou obra
responde, em lugar do proprietário ou possuidor, quando os danos forem
devidos exclusivamente a defeito de conservação.

 A lei presume a culpa do proprietário ou possuidor

 Estes poderão afastar a sua responsabilidade ilidindo a


presunção de culpa, ou...

 Provando que os danos teriam ocorrido mesmo tendo actuado


com a diligência devida.

ARTIGO 493º
Danos causados por coisas, animais ou actividades
1. Quem tiver em seu poder coisa móvel ou imóvel, com o dever de a vigiar, e
bem assim quem tiver assumido o encargo da vigilância de quaisquer animais,
responde pelos danos que a coisa ou os animais causarem, salvo se provar que
nenhuma culpa houve da sua parte ou que os danos se teriam igualmente
produzido ainda que não houvesse culpa sua.
2. Quem causar danos a outrem no exercício de uma actividade, perigosa por
sua própria natureza ou pela natureza dos meios utilizados, é obrigado a repará-
los, excepto se mostrar que empregou todas as providências exigidas pelas
circunstâncias com o fim de os prevenir.

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António Filipe Garcez José
 Aqui o vigilante da coisa afasta a sua responsabilidade, ilidindo a
presunção de culpa, ou fazendo relevar negativamente a causa
virtual.

Responsabilidade extra-contratual objectiva


Responsabilidade extra-contratual em que não há culpa do lesante

Responsabilidade pelo risco (Princípio ubi commoda ibi incommoda)


Quem aufere as vantagens inerentes ao exercício de uma
determinada actividade que é criadora de riscos, deve suportar as
desvantagens que do exercício dessa actividade resultam

 Os casos de responsabilidade objectiva não são todos, casos de


responsabilidade pelo risco.

 Há casos de responsabilidade por actos lícitos – casos em


que a lei expressamente impõe a obrigação de indemnizar,
apesar de ser lícito o acto praticado pelo lesante - ex: estado de
necessidade (art. 339 °/2)

Responsabilidade pelo risco


ARTIGO 499º
Disposições aplicáveis

São extensivas aos casos de responsabilidade pelo risco, na parte


aplicável e na falta de preceitos legais em contrário, as disposições
que regulam a responsabilidade por factos ilícitos. (arts.483°a 498°)

ARTIGO 500º

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Responsabilidade do comitente

1. Aquele que encarrega outrem de qualquer comissão responde,


independentemente de culpa, pelos danos que o comissário
causar, desde que sobre este recaia também a obrigação de
indemnizar.

2. A responsabilidade do comitente só existe se o facto danoso for


praticado pelo comissário, ainda que intencionalmente ou contra
as instruções daquele, no exercício da função que lhe foi
confiada.

3. O comitente que satisfizer a indemnização tem o direit o de


exigir do comissário o reembolso de tudo quanto haja pago,
excepto se houver também culpa da sua parte; neste caso será
aplicável o disposto no nº 2 do artigo 497º.

Para que haja responsabilidade do comitente é necessário que


se verifiquem cumulativamente...

3 requisitos :

1°- Existência de uma relação de comissão (relação de subordinação)


Para haver comissão é preciso que alguém aja por conta, no
interesse e sob as instruções de outrem.

2°- Que o acto danoso praticado pelo comissário, seja


constitutivo de responsabilidade civil para ele, comissário.
Para que haja obrigação de indemnizar para o comitente, é
indispensável que o acto do comissário constitua, para ele
comissário, uma obrigação de indemnizar.

3°- Que o comissário pratique o acto danoso no exercício da


respectiva função.
Necessário que o acto danoso seja praticado no exercício das
funções e não apenas por ocasião do exercício das suas funções.

exemplo:
Se o comitente manda o comissário entregar um documento a
alguém e este enquanto espera uma resposta, rouba um cinzeiro de
cristal, o comitente não é responsável civilmente pelo furto, pois o

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António Filipe Garcez José
comissário praticou o acto danoso por ocasião do exercício das
suas funções, mas não no exercício das suas funções.

 Quando estes três requisitos se verifiquem


cumulativamente, o comissário fica constituído na obrigação
de indemnizar o lesado, e com ele fica co-responsabilizado o
respectivo comitente, que não teve culpa nenhuma

 Mas se o comitente tiver tido culpa, então a


responsabilidade dele, comitente, já não é a responsabilidade
objectiva, mas sim a responsabilidade subjectiva.

A culpa do comitente pode revestir...

3 modalidades :

- Culpa in eligendo
- Culpa in instruendo
- Culpa in vigilando
“Culpa in eligendo”
Quando o comitente teve culpa na escolha do comissário.
(ex: contratar um motorista que não possui a carta de condução)

“Culpa in instruendo”
Quando o comitente não instruiu, instruiu mal ou instruiu
deficientemente o seu comissário

“Culpa in vigilando”
Quando o dano resulta da falta de controle que o comitente devia
ter realizado sobre o comissário

ARTIGO 502º
Danos causados por animais

Quem no seu próprio interesse utilizar quaisquer animais responde


pelos danos que eles causarem, desde que os danos resultem do
perigo especial que envolve a sua utilização.

 O artigo 493°, que tem sede em responsabilidade subjectiva


também trata da responsabilidade por danos causados por
animais, mas respeita aos casos em que os danos causados, o

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António Filipe Garcez José
foram por negligência ou por falta de vigilância daquele que
estava obrigado a vigiar.

ARTIGO 493º
Danos causados por coisas, animais ou actividades
1. Quem tiver em seu poder coisa móvel ou imóvel, com o dever de a vigiar, e
bem assim quem tiver assumido o encargo da vigilância de quaisquer animais,
responde pelos danos que a coisa ou os animais causarem, salvo se provar que
nenhuma culpa houve da sua parte ou que os danos se teriam igualmente
produzido ainda que não houvesse culpa sua.
2. Quem causar danos a outrem no exercício de uma actividade, perigosa por
sua própria natureza ou pela natureza dos meios utilizados, é obrigado a repará-
los, excepto se mostrar que empregou todas as providências exigidas pelas
circunstâncias com o fim de os prevenir.

 Quando há danos provocados por animais, muitas vezes há


concorrência de dois fundamentos de direito à indemnização.

 Nos casos em que seja simultaneamente aplicável o art. 493°/1 e


o art. 502°, cabe ao lesado a escolha do regime que vai invocar
para exercer o seu direito à indemnização
 No caso do art. 502° - não tem que haver culpa daquele que
tinha em poder o animal (responsabilidade pelo risco)

 No caso do art. 493° - a culpa do lesante presume-se, por


conseguinte, ela não tem que ser provada pelo lesado...

... porém...

Se o lesado evocou o art. 493° e o vigilante vem ...

- ilidir a presunção de culpa, ou ...


- vem fazer relevar negativamente a causa virtual,

resta sempre ao lesado a invocação do 502°, desde que ele prove


que o animal causou um dano que está dentro do perigo especial
que envolve a sua utilização.

ACIDENTES CAUSADOS POR VEÍCULOS

ARTIGO 503º
Acidentes causados por veículos

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1. Aquele que tiver a ...

- direcção efectiva de qualquer veículo de circulação terrestre e


- o utilizar no seu próprio interesse, ... ainda que...
- por intermédio de comissário,

responde pelos danos provenientes dos riscos próprios do veículo,


mesmo que este não se encontre em circulação.

2. As pessoas não imputáveis respondem nos termos do art. 489º.

3. Aquele que conduzir o veículo por conta de outrem responde


pelos danos que causar, ...

salvo se ...

- provar que não houve culpa da sua parte;

se, porém, ... o conduzir fora do exercício das suas funções de


comissário, responde nos termos do nº 1

 Tem a direcção efectiva de um veículo o seu proprietário

Ter a direcção efectiva


Significa ser o proprietário, ou o detentor, ter o poder sobre o
veículo.

!!! Pas op !!!

!!! O ladrão que furta um veículo tem a sua direcção efectiva,


logo, é sobre ele que impende a responsabilidade pelo risco !!!

 O locador pode ser co-responsabilizado com o locatário nos


termos do art. 503°, se houver danos causados a terceiros
pelo veículo, sem culpa nem dum nem doutro.

Distinção entre as situações de responsabilidade do comitente


nos termos do artigo 503°/1 e nos termos do artigo 500° :

 por força do art. 503°


a responsabilidade pelo risco impende sobre o comitente, porque
é ele mesmo o directo responsável, é ele que tem a direcção

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efectiva do veículo, que utiliza o veículo no seu próprio interesse,
mesmo que o faça através de comissário..

Exemplo:
O Sr. Passos Dias Aguiar, motorista particular de Santana Flopes,
estando a conduzir o carro do dito cujo, junto das obras do Marquês
de Pombal, tem um acidente sem culpa sua. A responsabilidade
pelos danos decorrentes desse acidente causado, sem culpa do
motorista, impende sobre Santana Flopes por força do art. 503°/1

 Por força do art. 500°


O comitente é co-responsável, tendo havido um acto danoso que
constituiu o comissário na obrigação de indemnizar, porque é
garante da responsabilidade do comissário.

Exemplo:
Suponhamos que o Sr. Passos Dias Aguiar teve culpa no tal
acidente; nesse caso Santana Flopes é co-responsável com o
motorista pelos danos causados, mas não por força do art. 503°/1
mas sim por força do art. 500° OK? Capito?

Last but not least

Sempre que no domínio dos acidentes de circulação terrestre,


existir uma relação comitente - comissário, ...

o comitente pode interessar-nos enquanto ...

 comitente
O comissário pode ser responsável pelos danos causados,
designadamente porque existe uma presunção legal de culpa que
recai sobre ele, a qual poderá não conseguir ilidir; ora, se o
comissário for responsabilizado, o comitente é chamado na
qualidade de comitente, e é co-responsável, por força do art. 500°

ou enquanto ...

 detentor do veículo
Porque o detentor do veículo é civilmente responsável pelo risco,
mesmo que utilize o veículo através de comissário, nos termos
do art. 503°/1

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ARTIGO 504º
Beneficiários da responsabilidade

1. A responsabilidade pelos danos causados por veículos


aproveita...
- a terceiros, ...
bem como ...
- às pessoas transportadas.

2. No caso de transporte por virtude de contrato, a


responsabilidade abrange só os danos que atinjam a própria pessoa
e as coisas por ela transportadas.

3. No caso de transporte gratuito, a responsabilidade abrange


apenas os danos pessoais da pessoa transportada.

4. São nulas as cláusulas que excluam ou limitem a


responsabilidade do transportador pelos acidentes que atinjam a
pessoa transportada.

Terceiros
São todos aqueles que não tenham uma ligação com a manutenção
e condução do veículo.

Pessoas transportadas por virtude de contrato


As pessoas, que com contrato ou sem contrato, são transportadas
no interesse, ou também no interesse, do transportador.

 Neste caso o transportador, detentor do veículo, é


responsável nos termos do art. 503°, por todos os danos
sofridos pela pessoa e pelas coisas que ela transporta.

Transporte gratuito
Quando efectuado altruisticamente, sem qualquer interesse para o
transportador.

 Neste caso está afastada a responsabilidade pelo risco do


transportador e ele só poderá ser responsabilizado pelos
danos causados à pessoa transportada, se houver
responsabilidade civil subjectiva.

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ARTIGO 505º
Exclusão da responsabilidade

Sem prejuízo do disposto no artigo 570º, a responsabilidade


fixada pelo nº 1 do artigo 503º ...

só é excluída quando ...

- o acidente for imputável ao próprio lesado ou a terceiro,...

- ou quando resulte de causa de força maior estranha ao


funcionamento do veículo.

 Basta qualquer facto culposo do lesado ou de terceiro para


que esteja completamente afastada a responsabilidade
prevista no art. 503°/1

Responsabilidade contratual
Falta de cumprimento e mora imputáveis ao devedor

ARTIGO 798º
Responsabilidade do devedor

O devedor que falta culposamente ao cumprimento da obrigação


torna-se responsável pelo prejuízo que causa ao credor.

 O art. 798° é uma disposição paralela à do 483°/1 e contém o


princípio geral da responsabilidade obrigacional ou contratual

ARTIGO 799º
Presunção de culpa e apreciação desta

1. Incumbe ao devedor provar que a falta de cumprimento ou o


cumprimento defeituoso da obrigação não procede de culpa sua.

2. A culpa é apreciada nos termos aplicáveis à responsabilidade


civil.

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 A responsabilidade contratual tem os mesmos
pressupostos que a responsabilidade extra-contratual

Pressupostos :

1. Facto voluntário do devedor


facto controlável objectivamente pela vontade humana

2. Facto ilícito
Consiste na violação ou incumprimento da obrigação.

3. Culpa
Dolo e mera culpa

4. dano
Tem que haver dano

5. nexo causal
Tem que haver nexo causal entre o facto e o dano
Principais diferenças de regime
entre a

responsabilidade extra-contratual e a responsabilidade contratual

1a - Quanto à ilicitude

Na responsabilidade extra-contratual
a ilicitude traduz-se na violação de direitos subjectivos absolutos, ou
de natureza familiar

Na responsabilidade contratual
A ilicitude consubstancia-se na violação dos direitos de crédito.

 As causas de exclusão da ilicitude no domínio da


responsabilidade contratual são as mesmas da
responsabilidade extra-contratual,... acrescidas de duas
causas de exclusão do incumprimento, que são exclusivas da
responsabilidade contratual :

- excepção do não cumprimento (art. 428°)

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ARTIGO 428º
Noção
1. Se nos contratos bilaterais não houver prazos diferentes para o
cumprimento das prestações, cada um dos contraentes tem a
faculdade de recusar a sua prestação enquanto o outro não
efectuar a que lhe cabe ou não oferecer o seu cumprimento
simultâneo.
2. A excepção não pode ser afastada mediante a prestação de garantias.

- Direito de retenção (art. 754°)

ARTIGO 754º
Quando existe

O devedor que disponha de um crédito contra o seu credor goza do


direito de retenção se, estando obrigado a entregar certa coisa, o
seu crédito resultar de despesas feitas por causa dela ou de danos
por ela causados.
ARTIGO 755º
Casos especiais

1. Gozam ainda do direito de retenção:

a) O transportador, sobre as coisas transportadas, pelo crédito


resultante do transporte;
b) O albergueiro, sobre as coisas que as pessoas albergadas hajam
trazido para a pousada ou acessórios dela, pelo crédito da
hospedagem;
c) O mandatário, sobre as coisas que lhe tiveram sido entregues
para execução do mandato, pelo crédito resultante da sua
actividade;
d) O gestor de negócios, sobre as coisas que tenha em seu poder
para execução da gestão, pelo crédito proveniente desta;
e) O depositário e o comodatário, sobre as coisas que lhe tiverem
sido entregues em consequência dos respectivos contratos, pelos
créditos deles resultantes;
f) O beneficiário da promessa de transmissão ou constituição de
direito real que obteve a tradição da coisa a que se refere o contrato
prometido, sobre essa coisa, pelo crédito resultante do não
cumprimento imputável à outra parte, nos termos do artigo 442º.

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2. Quando haja transportes sucessivos, mas todos os
transportadores se tenham obrigado em comum, entende-se que o
último detém as coisas em nome próprio e em nome dos outros.

ARTIGO 756º
Exclusão do direito de retenção

Não há direito de retenção:

a) A favor dos que tenham obtido por meios ilícitos a coisa que
devem entregar, ... desde que, no momento da aquisição,
conhecessem a ilicitude desta;

b) A favor dos que tenham realizado de má fé as despesas de


que proveio o seu crédito;

c) Relativamente a coisas impenhoráveis;

d) Quando a outra parte preste caução suficiente.

2a – Quanto à culpa

 A principal diferença entre o regime da responsabilidade


extra-contratual e contratual, resulta da presunção de culpa
que está consagrada no art. 799°/1

Na responsabilidade extra-contratual
o ónus da prova cabe em princípio ao lesado (art. 487°/1)

Na responsabilidade contratual
Porque a lei presume a culpa do devedor, é ao devedor que
incumbe provar que não teve culpa para afastar a sua
responsabilidade (art. 799°/1)

ARTIGO 799º
Presunção de culpa e apreciação desta

1. Incumbe ao devedor provar que a falta de cumprimento ou o


cumprimento defeituoso da obrigação não procede de culpa sua.

2. A culpa é apreciada nos termos aplicáveis à responsabilidade


civil.

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ARTIGO 800º
Actos dos representantes legais ou auxiliares

1. O devedor é responsável perante o credor pelos actos dos seus


representantes legais ou das pessoas que utilize para o
cumprimento da obrigação, como se tais actos fossem praticados
pelo próprio devedor.

2. A responsabilidade pode ser convencionalmente excluída ou


limitada, mediante acordo prévio dos interessados, desde que a
exclusão ou limitação não compreenda actos que representem a
violação de deveres impostos por normas de ordem pública.

GESTÃO DE NEGÓCIOS

ARTIGO 464º
Noção

Dá-se a gestão de negócios,


quando uma pessoa assume a direcção de negócio alheio no
interesse e por conta do respectivo dono, sem para tal estar
autorizada.

Pressupostos da gestão de negócios

Condução dum negócio ...

1. - alheio

2. - no interesse do dono

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3. – por conta do dono

4. – sem autorização do dono

No interesse de outrem
Conduzir a gestão do negócio de maneira correspondente ao
interesse do dono do negócio.

Por conta de outrem


Conduzir a gestão do negócio com a intenção de transmitir para o
dono do negócio todos os efeitos jurídicos e patrimoniais, da gestão

Deveres do gestor

ARTIGO 465º
Deveres do gestor

O gestor deve:

a) Conformar-se com o interesse e a vontade, real ou


presumível, do dono do negócio, sempre que esta não seja
contrária à lei ou à ordem pública, ou ofensiva dos bons costumes;

b) Avisar o dono do negócio, logo que seja possível, de que


assumiu a gestão;

c) Prestar contas, findo o negócio ou interrompida a gestão, ou


quando o dono as exigir;

d) Prestar a este todas as informações relativas à gestão;

e) Entregar-lhe tudo o que tenha recebido de terceiros no


exercício da gestão ou o saldo das respectivas contas, com os juros

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António Filipe Garcez José
legais, relativamente às quantias em dinheiro, a partir do momento
em que a entrega haja de ser efectuada.

Vontade real
Sempre que o gestor conheça a vontade real do “dominus”, é de
acordo com essa vontade real que ele tem de conduzir a gestão do
negócio, excepto se a vontade real do “dominus” for contrária à lei.

Exemplo :
Santana, o “dominus” disse muitas vezes na frente de Lopes, o
gestor, que queria mandar reparar as janelas da sua casa antes da
chegada do próximo Inverno. Entretanto Santana desapareceu (?)
sem que se saiba do seu paradeiro. Lopes resolve então tomar a
iniciativa de assumir a direcção do arranjo das janelas de Santana.

Vontade presumível
Sempre que o gestor desconheça a vontade real do “dominus” é
conformemente à sua vontade presumível que a gestão deve ser
conduzida.

Exemplo:
O sr. Pato Bravo tem um cão e um dia desapareceu sem dar
notícias, deixando o pobre animal triste e abandonado lá em casa.
O sr. José Caçador, vizinho do sr. Pato Bravo, não sabendo
exactamente qual a vontade real deste último, presume que a
vontade do sr. Pato Bravo seja a de que o cão deva ser alimentado,
bem tratado, até ao seu regresso. Assim fez o sr. António Caçador .

 Na falta, ou na escassez de elementos, não há grande distinção


entre o interesse e a vontade presumível do “dominus”

Responsabilidade do gestor

ARTIGO 466º
Responsabilidade do gestor

1. O gestor responde perante o dono do negócio, ...

tanto pelos ...

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- danos a que der causa, por culpa sua, no exercício da gestão,

como por ...

- aqueles que causar com a injustificada interrupção dela.

2. Considera-se culposa a actuação do gestor, ..

- quando ele agir em desconformidade com o interesse ou a


vontade, real ou presumível, do dono do negócio.

 A responsabilidade do gestor perante o “dominus” pelos danos


decorrentes do incumprimento das suas obrigações resulta do
regime geral dos arts. 798° e ss.

 O gestor não pode, uma vez iniciada a gestão, interrompê-la


sem um motivo fundamentado.

 O gestor tem a obrigação de indemnizar o “dominus” pela


interrupção da gestão se, e só se, com ela causar danos a
este.
 O gestor pode interromper a gestão se houver um motivo de
força maior que o impeça de continuar.

 O gestor pode e deve, interromper a gestão logo que o


“dominus” surja e esteja em condições de assumir ele próprio
a condução do negócio.

 A culpa é apreciada em abstracto, nos termos do art. 487°/2

 Aplicação das regras gerais da RC contratual


Se o gestor tiver tido culpa na prática do ilícito e se do ilícito
resultarem danos para o “dominus”, então o gestor é obrigado a
indemnizar o dono do negócio pelos danos sofridos em
consequência do incumprimento das obrigações do gestor.

ARTIGO 467º
Solidariedade dos gestores
Havendo dois ou mais gestores que tenham agido conjuntamente,
são solidárias as obrigações deles para com o dono do negócio.

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Obrigações do “dominus”
Gestão regular
ARTIGO 468º
Obrigações do dono do negócio

1. Se a gestão tiver sido exercida em conformidade com o


interesse e a vontade, real ou presumível, do dono do negócio, ...

é este obrigado a ...

- reembolsar o gestor das despesas que ele fundadamente tenha


considerado indispensáveis, com juros legais a contar do momento
em que foram feitas, e a ...
Gestão irregular
- indemnizá-lo do prejuízo que haja sofrido.

2. Se a gestão não foi exercida nos termos do número anterior, ...

o dono do negócio responde apenas...

- segundo as regras do enriquecimento sem causa, ...


com ressalva do disposto no artigo seguinte.
Gestão regular (art. 468°/1)
Quando não tenha havido infracção das obrigações impendentes
sobre o gestor, designadamente da obrigação de actuação
conforme ao interesse e à vontade do “dominus.

 Obrigação de reembolso
Quando a gestão for regular, o “dominus” tem de reembolsar todas
as despesas e apenas aquelas que o gestor tenha considerado
indispensáveis com fundamento, quando a situação objectivamente
o tenha justificado, acrescidas dos juros legais correspondentes ao
montante de tais despesas.

 Obrigação de indemnização
Quando a gestão for regular, o “dominus” tem de indemnizar o
gestor, se ele tiver sofrido prejuízos com a gestão.

 Obrigação de remuneração do gestor


Quando a gestão for regular, o “dominus” tem de remunerar o
gestor, sempre que a actividade desenvolvida pelo gestor
corresponder à sua actividade profissional.

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ARTIGO 470º
Remuneração do gestor

1. A gestão não dá direito a qualquer remuneração, salvo se


corresponder ao exercício da actividade profissional do gestor.

2. À fixação da remuneração é aplicável, neste caso, o disposto no


nº 2 do artigo 1158º.

Exemplo:
O caso típico do advogado que, tendo embora procuração forense
com poderes gerais, não tem poderes para transigir

Transacção
É um contrato nos termos do qual, para prevenir ou para pôr termo
a um litígio, as partes fazem um acordo em que há cedências
mútuas (art.1248° e ss.)

Atitudes possíveis do “dominus” perante a gestão

Quando o “dominus” tiver conhecimento da gestão, ...

pode tomar três atitudes:

a) Aprovar a gestão

b) Não dizer nada

c) Desaprovar a gestão

Aprovação
É uma declaração negocial dirigida pelo “dominus” ao gestor, cujo
conteúdo é um juízo de concordância global com a actividade
desenvolvida pelo gestor.

ARTIGO 469º
Aprovação da gestão

A aprovação da gestão implica ...

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- a renúncia ao direito de indemnização pelos danos devidos a


culpa do gestor e ...

- vale como reconhecimento dos direitos que a este são conferidos


no nº 1 do artigo anterior.

Efeitos jurídicos da aprovação

1° efeito da aprovação

 Implica a renúncia por parte do “dominus” a qualquer direito


indemnizatório que ele pudesse ter, contra o gestor.

2° efeito da aprovação

 Implica o reconhecimento, por parte do “dominus”, dos


direitos que são conferidos ao gestor pelo art. 468°/1

Aprovando a gestão o dominus concorda globalmente com ela

!! Com a aprovação o ónus da prova inverte-se !!

Se ... depois de ter aprovado a gestão, o “dominus”


considerar que não tem de reembolsar o gestor das
despesas que ele fundadamente considerou
indispensáveis e que realizou por isso, e ou que não
tem de o indemnizar do prejuízo eventual...
cabe ao “dominus” de provar que a gestão
em algum aspecto não foi regular. OK?

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Resumindo :

 Os direitos do gestor que actuou regularmente são sempre os


mesmos, são os que estão previstos no art. 468°/1.

 A aprovação da gestão pelo “dominus” não modifica esses


direitos, limita-se a inverter o ónus da prova, quanto ao facto
constitutivo desses direitos, que é a regularidade da gestão.

 Se o “dominus” aprova a gestão, o gestor não tem de provar


que a gestão foi regular, caberá ao “dominus” se for caso para
isso, provar que a gestão não foi regular.

Se a gestão não for regular (art.468°/2)

 Se a gestão não for regular, isto é, se houver incumprimento de alguma


obrigação por parte do gestor, designadamente a obrigação de se pautar pelo
interesse e pela vontade do “dominus”, o gestor apenas tem direito à
restituição, por parte do “dominus”, daquilo com que tenha
empobrecido, nos termos do enriquecimento sem causa.

A aprovação só tem efeitos entre o “dominus “ e o gestor

Gestão representativa e não representativa


Gestão não representativa
Quando o gestor agiu em seu próprio nome, não comunicando ao
terceiro com quem celebrou os negócios, que os negócios não eram
dele, não eram para ele e tudo se passou como se ele fosse o titular
do interesse que o negócio visava satisfazer.

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Gestão representativa
Quando o gestor comunicou ao terceiro com quem celebrou os
negócios, que os negócios não eram dele, e que estava a actuar em
nome e por conta de outrem.

Exemplo:
O sr. Passos Dias Aguiar Mota, arrendou uma casa para o verão,
na praia do Meco onde sabia que o “dominus”, o sr. Capelo Rego,
gostaria muito de passar férias.

Das duas uma...

 gestão representativa
Estamos em presença de uma gestão representativa, se o gestor
comunicou ao proprietário da casa que o arrendamento não era
para ele, não era feito por ele em seu próprio nome, mas era para
outrem,

 Gestão não representativa


Estamos em presença de uma gestão não representativa, quando o
gestor age em seu próprio nome, nada dizendo ao proprietário que
o arrendamento não era para ele

Representação sem poderes

ARTIGO 268º
Representação sem poderes

1. O negócio que uma pessoa, sem poderes de representação,


celebre em nome de outrem é ...

- ineficaz em relação a este, se não for por ele ratificado.

2. A ratificação está ...

- sujeita à forma exigida para a procuração e ...


- tem eficácia retroactiva, sem prejuízo dos direitos de terceiro.

3. Considera-se negada a ratificação, se não for feita dentro do


prazo que a outra parte fixar para o efeito.

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4. Enquanto o negócio não for ratificado, ...

tem a outra parte a faculdade de ...

- o revogar ou rejeitar, ...

salvo se, ...

no momento da conclusão, conhecia a falta de poderes do


representante.

Na gestão representativa, a representação é sempre sem poderes !

ARTIGO 471º
Representação sem poderes e mandato sem representação
Sem prejuízo do que preceituam os artigos anteriores quando às
relações entre o gestor e o dono do negócio, é aplicável aos
negócios jurídicos celebrados por aquele em nome deste o
disposto no artigo 268º; ...
Gestão representativa
Gestão não representativa

- se o gestor os realizar em seu próprio nome, são extensivas a


esses negócios, na parte aplicável, as disposições relativas ao
mandato sem representação. (arts 1180° e ss.)
Ratificação
É um negócio jurídico unilateral, pelo qual o representado por
outrem que não tinha poderes de representação, lhes atribui
“a posteriori” com eficácia retroactiva .

Efeito da ratificação
Tem como efeito o de “dominus” chamar à sua esfera jurídica os
efeitos dos actos ou negócios celebrados pelo gestor em seu nome.

Não tem nada a ver a ratificação com a aprovação !!!!

A aprovação
Diz respeito exclusivamente às relações entre o “dominus” e o
gestor.

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A ratificação
Diz respeito às relações entre o “dominus”, o gestor e o terceiro
com quem o gestor tenha celebrado negócio jurídico em
representação do “dominus”.

Pode haver aprovação sem ratificação


Se a ratificação respeitar a negócios que constituam o
essencial da actividade gestória ...

A ratificação consubstancia uma aprovação tácita

A ratificação só se aplica à gestão representativa

O regime aplicável à gestão não representativa


é o do mandato sem representação (arts. 1180° e ss.)

Mandato
É o contrato pelo qual uma das partes se obriga a praticar um ou
mais actos jurídicos por conta de outra.

Recapitulando :

Gestão não representativa

 Na gestão não representativa é o gestor que tem os direitos e


deveres resultantes dos negócios que celebrou com terceiros.

 Enquanto o “dominus” não decidir exercer os direitos de crédito,


cabe ao gestor o exercício desses direitos.

 Quanto às obrigações, elas podem sempre e só ser exigíveis do


gestor, excepto se tiverem sido transmitidas para o “dominus”
com o consentimento do terceiro credor.

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Gestão representativa

 O gestor actuou em nome do “dominus” e o “dominus” pode


ratificar ou não ratificar.

 Se o “dominus” ratificar, (tudo ok, yupppiiiiii !!)


os efeitos jurídicos são assumidos retroactivamente por ele, e a
relação jurídica inicialmente instaurada entre o gestor, em nome do
“dominus”, e o terceiro, converte-se em relação “dominus e terceiro.

 Se o “dominus” não ratificar (oh la la !! c’est la grosse


caca !!!)
Os negócios não ratificados não produzem efeitos quanto a ele
“dominus”, que é o representado. ...

Mas...

 Se o “dominus” não ratificar,


os negócios também não produzem efeitos em relação ao gestor,
porque o gestor actuou como se não fosse ele, actuou em nome do
“dominus”. Juridicamente tudo se passou como se não fosse o
gestor a actuar, donde para ele também não há efeitos jurídicos
emergentes desses negócios.

 Nesta situação de não ratificação


de um negócio celebrado em gestão representativa, é o terceiro que
se encontra em maus lençóis, pois celebrou um negócio que não
produz efeitos em relação à outra parte.

No entanto é preciso saber que :

 Alguns autores pretendem que é nulo o negócio por falta de


sujeito material.

 Quando alguém actua em representação de outrem e não exibe


os poderes de representação, o terceiro tem o ónus de pedir a
exibição desses poderes... l

logo...

 Se o terceiro não pedir a exibição dos poderes, e confiar em


que o gestor tem uma procuração, corre o risco.

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António Filipe Garcez José

 Se o terceiro pedir a exibição dos poderes, e o gestor disser


que não tem poderes de representação, corre o risco por
maioria de razão.

 Se o terceiro foi enganado , pode haver responsabilidade pré-


contratual do gestor face ao terceiro, se o induziu a acreditar na
certeza da ratificação do negócio pelo “dominus”, quando não
havia razões para tal.

Então o que é que acontece ao “palerma” do terceiro?

 Que se entenda que o negócio é nulo ou simplesmente ineficaz,


é sempre aplicável o artigo 289°, directamente ou por analogia

 O terceiro tem sempre direito à restituição daquilo que prestou e


se a restituição não for possível em espécie, será no seu
equivalente.

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António Filipe Garcez José

Salut tout le monde ! Ne soyez pas


trop sérieux, car ça rend vieux, take a
lot of fun in your life, não se
esqueçam de ser felizes, aqui e
agora, be happy!

Carpe Diem !!!!

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