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ISSN 1413-389X Temas em Psicologia - 2009, Vol.

17, no 2, 553 – 567

O desafio histórico de “tornar-se um homem


homossexual”: um exercício de construção de identidades

Anderson Fontes Passos Guimarães


Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública – BA – Brasil

Resumo
Este trabalho é o resultado de leituras atentas e sistemáticas, os quais serviram para a fundamentação
teórica. O problema que orienta este trabalho está centrado nas contribuições do discurso religioso e
do médico-psicológico para a construção das Identidades dos Homens Homossexuais, e, a partir disso,
apresentamos a repercussão que estes construtos tem produzido na atualidade. Este tema foi estudado,
pois, dessa forma, nos garantiu informações suficientes para tecer o panorama de escritos científicos
sobre a temática e tomar conhecimento de quais foram os caminhos trilhados pelos diversos autores
para tratar do assunto, além de ter nos fornecido referenciais para contextualizar a nossa pesquisa.
Assim, discutimos a importância e os perigos de se buscar afirmar as Identidades Homossexuais, entre
tantos vieses, e demonstramos o momento histórico que esta população está vivenciando; por conta
disso, e havendo inúmeros discursos sobre a temática, expomos, assim, como esta dinâmica acontece
e como precisamos nos posicionar, enquanto psicólogos, para não só resgatarmos a autoestima desta
comunidade e lhes proporcionar espaço nesta sociedade, como também para tentarmos saldar o que
chamamos de “uma dívida histórica” que a Psicologia possui com este seguimento social.
Palavras-chave: Homossexualidade, Heteronormatividade, Psicologia.

The Historic Challenge "to become a homosexual man": An


exercise of construction of identities

Abstract
This work is about the result of intent and systematic readings, followed of notations and registers,
which had served for the theoretical recital. The problem that guides this work is centered in the
contributions of the religious speech and of medical-psychological for the construction of the
Identities of the Homosexual Men, under which a critical analysis was made, from this we present the
repercussion that such phenomenon has produced in the present time. This subject was studied
through literature revision, therefore, of this form, with its guaranteed information get enough data to
weave the panorama of scientific writings on the thematic and to take knowledge of which they had
been the ways trod for the diverse authors to deal with the subject, beyond giving use supplied
references to contextualize our research. Thus, we argue the importance and the risks of searching to
affirm the Identities of Homosexuals, between as many obliquities, and demonstrate the historical
moment that this population is living deeply; on account of this, and having innumerable speeches on
the thematic , we display, then, as this dynamics happens and as we need to locate them, also while
psychologists, not only to rescue auto-esteem of this community and to provide space to them in this
society, as well as to try to liquidate what we call “a historical debt” that Psychology has with this
social pursuing.
Keywords: Homosexuality; Heteronormativity; Psychology.

Sabe-se o quão comum é ouvir relacionamentos, enfim, sobre uma série de


comentários acerca de relacionamentos entre situações comuns em qualquer tipo de relação.
dois seres humanos de sexos diferentes. Sobre Mesmo que sem nenhuma intenção,
os seus problemas, suas dificuldades, a naturalizamos esse tipo de situação. Os
intensidade com que se mantêm ou não esses discursos que versam sobre as sexualidades,
554 Guimarães, A. F. P.

embora não tenham o objetivo explícito, Em meio a este tipo de relação de poder,
acabam contribuindo para normatizar essa estão os discursos que dizem e caracterizam o
condição, mesmo porque esses discursos são que nos faz pertencer ou não a este ou àquele
apropriados pelo senso comum. gênero. Por se tratar de “uma categoria de
Ao se falar sobre homossexualidades e análise importante que atravessa quase todos os
sobre os discursos que tentam se ajustar a essa níveis do social, incluindo: a família, o
condição de ser, explicando-nos e trabalho, o prestígio, a idade, etc.” (Passos,
esclarecendo-nos (sem sucesso) a respeito de 1999, p. 54), o homossexual defronta-se com
sua origem e das motivações que levam um uma questão existencial: “ser ou não ser” (leia-
sujeito a ser homossexual, precisamos nos se: assumir-se ou não se assumir) em uma
remeter também à “condição de ser sociedade que, de maneira implícita, avisa-lhe
heterossexual”, ou, mais precisamente, à das perdas e dos prejuízos que terá a depender
condição de ser um homem heterossexual, pois, da sua decisão, através de seus discursos
como afirma Badinter (1993), a construção da moralistas que desqualificam e distorcem a
identidade masculina se dá de forma mais maneira como se gostaria de ser.
dificultosa. Para afirmar sua masculinidade, o Com isso, é a partir da reflexão de como se
homem procura negar suas características dão as experiências homossexuais num mundo
femininas, o seu comportamento é feito de que, historicamente através de seus discursos
manobras, rejeitando e matando tudo aquilo sobre essa “condição de ser”, o identificou
que possa se identificar com o feminino, o que como sodomita, pervertido, criminoso,
socialmente pode ser visto como um indício de anormal, doente e, às grandes custas, como
homossexualidade. homossexual, que procuramos compreender
Nossa sociedade atrelou o conceito de como o discurso religioso e o médico-
sexualidade ao de gênero e por esse motivo psicológico contribuíram para a construção de
influenciou determinantemente a forma como uma identidade homossexual, diante de
deveria ser a realização da primeira em função “transformações ocorridas durante os séculos
do que é ser homem e do que é ser mulher, o XVIII e XIX, que construíram um novo
que, via de regra, também é determinado por discurso sobre o sexo e também sobre os
características biológicas que condicionam as indivíduos, dissecando e especificando práticas,
possibilidades físicas de ambos os sexos, as desvios, doenças e seus sujeitos” (Foucault,
quais são munidas de significados sociais, 1984), e como isso se repercute na atualidade,
delimitando os espaços que cada um deve tendo em vista a construção da identidade do
ocupar (Passos, 1999), estabelecendo homossexual sob um viés heteronormativo.
características no nível social, de Neste trabalho, fizemos uso de livros e
comportamento, enfim, de como se deve ser periódicos de alguns autores que são referência
para garantir o estereótipo sexual na temática como, por exemplo, Jurandir Freire
disponibilizado por uma sociedade sexista, Costa, Luiz Mott e Michael Foucault. Todo o
machista e heteronormativa. material recolhido foi submetido a uma seleção,
Quando falamos em gênero, estamos nos a partir da qual estabelecemos um plano de
referindo ao sentimento e à convicção que se leitura, que serviram para a fundamentação
tem de pertencer a um sexo, ou seja, uma teórica do nosso estudo. Nosso estudo divide-se
construção social que é feita a partir do desta forma: primeiramente, apresentamos um
biológico – condição de ter um pênis: macho; panorama histórico da homossexualidade no
condição de ter uma vagina: fêmea (Badinter, Brasil e no mundo, e por isso, buscamos
1993). Tendo isso em vista, fica, a priori, conhecer a obra de Luiz Mott, a qual nos
difícil para o sujeito homossexual garantir o seu auxiliou bastante na construção dessa linha
status de homem ou de mulher, inclusive histórica; em seguida, discutimos as
porque já existe uma significação social a contribuições do discurso religioso e do
respeito dessas duas condições de ser, médico-psicológico para a construção da
significados estes que acolhem quaisquer Identidades do Homem Homossexual, e com
pessoas que venham a nascer, daí, ou elas se isso recorremos a Trevisan e, principalmente, a
transformam em homens e mulheres ditados Foucault, os quais nos apresentam uma visão
pela sociedade, ou irão ter que pagar um preço crítica e antropológica das perspectivas que
muito alto se quiserem dar voz aos seus desejos ajudaram a construir o entendimento da
e vontades. homossexualidade; depois, discutimos sobre
Identidades Homossexuais em construção 555

que atenção a Psicologia tem dado a este plano de leitura, como identificar as diferentes
assunto, e quais os rumos apresentados por esta contribuições científicas disponíveis sobre o
ciência na conscientização das pessoas no tema proposto.
intuito de um tratamento igualitário e menos Para o aprofundamento deste trabalho,
preconceituoso no que diz respeito ao que fizemos ainda uso de teses, dissertações e
possa ser de interesse dos homossexuais; logo monografias disponíveis em sites acadêmicos,
em seguida, fazemos algumas considerações além de artigos e livros consultados na
sobre construção de Identidades; biblioteca da Escola Bahiana de Medicina e
posteriormente, apresentamos nossos resultados Saúde Pública. Através de informativos e
e discussões sobre as consequências produzidas periódicos publicados no meio LGBT
por tais contribuições; e por fim, apresentamos (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
nossas considerações finais, sugerindo novas Transexuais), pudemos checar algumas
saídas de estudo e ações para benefício da informações e incrementá-las para o
comunidade homossexual. enriquecimento da nossa pesquisa.
Com isso, ao longo do texto, discutimos
quais as consequências socioculturais
(enquanto potencializadores da Revisão de Literatura
heteronormatização) para estas identidades,
História da Homossexualidade
bem como os tipos de contribuições da
Psicologia para esta temática e os caminhos O primeiro registro que possuímos acerca
apontados por esta ciência para a construção de da homossexualidade data de 4500 anos antes
uma sociedade mais justa de Cristo, ocorrendo entre Oros e Seti, na
sociedade egípcia. Ela sempre existiu, em todos
os povos e nos mais diferentes status sociais.
Metodologia Podemos ainda citar, o Batalhão dos Amantes,
Esta é uma pesquisa bibliográfica em que um exército composto apenas por
se buscou resgatar a história da homossexuais na Grécia, nação onde também
homossexualidade a partir do discurso religioso existiu Alexandre Magno e os grandes
e do médico-psicológico, evidenciando as suas filósofos, como Platão e Sócrates, todos
contribuições para a construção das identidades homossexuais. Embora a história não tenha
homossexuais. O trabalho fornece um breve dado a devida atenção ao lesbianismo, podemos
histórico de como a homossexualidade foi vista resgatar dessa mesma época a primeira e mais
ao longo do tempo e as diversas reações da famosa lésbica da história, a Safos de Lesbos,
sociedade diante da sua prática. A partir disso, daí o nome lesbianismo para se referir à
fazemos algumas considerações sobre quais homossexualidade de seres humanos do sexo
influências essas atitudes tiveram para feminino. Considerando que os primeiros
legitimizar e naturalizar certas crenças que tais registros escritos da história da humanidade
discursos propagam até hoje. Com isso, datam por volta de cinco mil anos antes de
procuramos caracterizar o que seria essa Cristo, eis porque podemos afirmar que a
identidade homossexual a partir desses homossexualidade é tão antiga quanto a história
discursos, e analisamos quais os da humanidade (Mott, 1994).
encaminhamentos socioculturais desses A sexualidade humana manifesta-se
posicionamentos discursivos, enquanto através de padrões culturais historicamente
potencializadores da heteronormatização e construídos e determinados, sendo que a
quais as contribuições da Psicologia para esta sociedade se incumbe de reforçá-los. Ao longo
temática e os caminhos apontados por esta da nossa história, a sexualidade pôde ser vivida
ciência para a garantia de uma equidade social. e experienciada por culturas e períodos de
Neste trabalho, fizemos uso de livros e abertura sexual, intercalados por outros
periódicos de autores relevantes na abordagem momentos de recato e de privações sexuais
do tema, tais, como: Michael Foucault (1996, (Foucault, 1984).
1981, 1984, 1988, 1999), Luiz Mott (1994, O termo homossexual foi criado em 1869
2001a, 2001b), Jurandir Freire Costa (1991, pelo escritor e jornalista austro-húngaro Karl-
1992, 1994) e João Trevisan (1998, 2001, Maria Kertbeny. Deriva do grego: homos, que
2004). O material foi submetido a uma seleção, significa semelhante, igual. Já sexualidade,
a partir da qual pudemos tanto estabelecer um segundo Passos (1999), se refere a como o
556 Guimarães, A. F. P.

sujeito vivencia a experiência do sexo sob todas colaboram para a manutenção do preconceito
as crenças e valores que se tem a respeito do em nossa sociedade. É importante lembrarmos
assunto. Portanto, nada mais evidente do que que a homossexualidade chegou tanto a
definirmos homossexualidade como sendo um incomodar a ponto de os homossexuais terem
estilo de vida sexual compartilhada e sido condenados às mais diferentes penas de
vivenciada com pessoas do mesmo sexo (sexo morte como: apedrejamento, segundo as leis
semelhante, igual); haja vista que a judaicas; decapitação, por ordem de
heterossexualidade é reconhecida assim por se Constantino em 342 d.C.; seres humanos foram
tratar de uma relação entre sujeitos de sexos enforcados, afogados e queimados nas
diferentes. fogueiras da Inquisição; despedaçados na boca
Historiadores afirmam que, embora o de um canhão, como se registrou no Maranhão
termo seja recente, a prática da colonial; até mesmo foram queimados pelos
homossexualidade existe desde os primórdios nazistas nos campos de concentração (Mott,
da humanidade, tendo havido diversas formas 1994). E não é surpresa alguma se dissermos
de abordar a questão. Em 1870, um texto de que este tipo de prática sexual continua sendo
Westphal intitulado “As Sensações Sexuais mal vista e brutalmente reprimida em nossa
Contrárias” definiu a homossexualidade em sociedade, ao lembrarmos que o nosso país é
termos psiquiátricos como um desvio sexual, um dos campeões mundiais em crimes
uma inversão do masculino e do feminino. A homofóbicos: a cada dois dias um homossexual
partir de então, no ramo da Sexologia, a é assassinado no Brasil (Mott & Cerqueira,
homossexualidade foi descrita como uma das 2001).
formas emblemáticas da degeneração. Nessa Segundo Mott (2001a), das minorias
época já existiam leis que proibiam as relações sociais constitutivas do povo brasileiro, são os
entre pessoas do mesmo sexo (Fray & Macrae, homossexuais que representam o grupo social
1991). que possui as maiores contradições e surpresas
A partir dos movimentos de liberação em sua história, pois, por incrível que se possa
Homossexual, após o incidente de Stonewall imaginar, os gays, lésbicas e travestis
em Nova York, em junho de 1969, emergiu o constituem um dos grupos cuja memória é a
termo gay como meio para apagar o teor mais rica de detalhes. Mott (2001a) ainda diz
psiquiátrico por trás da palavra homossexual. que por se tratar de um crime gravíssimo (assim
Dessa forma, gay é um termo politizado, e considerada no Brasil antigo), a
menos estigmatizante, de militância. Chamava- homossexualidade ou sodomia, como era
se originariamente gay ao homossexual conhecida, equiparada à traição nacional, foi o
masculino passivo; a mulher homossexual ativa delito que mais deixou registros e, por isso
chamava-se sapatão (no Brasil) por alusão à sua mesmo, o que mais oferece recursos para o
feição comportamental sexual tipicamente resgate de sua memória e das punições aos
masculina: ela seria o homem para outra quais foram submetidos os seus praticantes.
mulher, esta, por seu turno, classicamente era Segundo a legislação metropolitana à
chamada de lésbica; atualmente, o termo gay época da descoberta do Brasil, encontramos os
aplica-se indistintamente quer ao homem que se seguintes escritos:
relaciona sexualmente com outro homem, quer
Dentre todos os pecados, bem parece ser
à mulher que se relaciona sexualmente com
o mais torpe, sujo e desonesto o pecado
outra mulher (Cronologia dos Direitos
de Sodomia, e não é achado um outro tão
Homossexuais, n.d.).
aborrecido ante a Deus e o mundo, pois
Na realidade, ao longo de todo este tempo,
por ele não somente é feita ofensa ao
a homossexualidade pôde contar com inúmeros
Criador da natureza, que é Deus, mais
nomes que serviram (e insistentemente ainda
ainda se pode dizer, que toda a natureza
continuam servindo) para associá-la a práticas
criada, assim celestial como humana, é
maléficas para a sociedade: sodomia, desvio,
grandemente ofendida (Ordenações
doença, pecado nefando, crime contra a
Afonsinas, Livro V, Título XVII, citado
natureza, viadagem, frescura etc. Como
por Aguiar, 1926, p. 519).
consequência disso, reproduz-se o enorme e
absurdo grau de reprovação a esta prática Desde o início da colonização do Brasil,
sexual e, desta forma, legitimam-se e há registros sobre a homossexualidade neste
naturalizam-se as crenças e discursos que país, inclusive sobre a discriminação e o
Identidades Homossexuais em construção 557

preconceito direcionado aos homossexuais. Por implicar o máximo de desordem


Mott (2001b) realiza importantes registros possível na procriação, a sodomia era
acerca desta história, entre eles podemos considerada um pecado gravíssimo, que não
encontrar diversos homicídios contra prescrevia jamais, continuando digno de
homossexuais sem nenhuma preocupação no punição por muito tempo. “Como se tratava de
que diz respeito à sua dignidade (Cronologia um desvio ditado diretamente pelo demônio, a
dos Direitos Homossexuais, n.d.). Mott (2001b) Igreja e a Inquisição associavam a prática da
ainda destaca os principais anos que foram de sodomia com a bruxaria e às heresias dos
grande importância para a homossexualidade cátaros e templários” (Trevisan, 2004, p. 110).
no país e alguns trágicos acontecimentos que Em seu período de maior poder, na Idade
deixaram marcas para a memória desse Média, a partir do século XI, a Igreja
seguimento no decorrer da história brasileira. desenvolveu uma caça aos homossexuais e a
Ainda sobre datas importantes, temos todos aqueles que se levantavam contra a moral
enquanto registros no panorama mundial fatos católica. Além das centenas de lésbicas que
relevantes para entendermos melhor a dinâmica foram queimadas como bruxas, homossexuais
que girou em torno desta visão preconceituosa em geral eram usados como “lenha” para as
(Cronologia dos Direitos Homossexuais, n.d.), fogueiras purificadoras da Santa Igreja.
abordando desde a criminalização da Com o desenvolvimento e a expansão do
homossexualidade em outros países em seus cristianismo como religião dominante, a
contextos até a evolução da prática e do discriminação contra os homossexuais adquiriu
reconhecimento da homossexualidade, formas elaboradas, e a prática da
acompanhada sempre de uma corrente do homossexualidade começou a ser não somente
contra no desenrolar desta história. condenada pela sociedade, como também
punida de forma exemplar. A questão da
reprodução aqui ganha novos contornos; a
O Discurso Religioso relação sexual que não tivesse como
No Brasil, a questão da homossexualidade consequência produzir descendentes dentro de
remonta aos primeiros habitantes. Em 1576, o um dado modelo familiar era considerada
português Pero de Magalhães Gândavo já imoral e antinatural.
observara entre os índios brasileiros a sua Fray e Macrae (1991) explicam: “em
prática; e o botânico alemão Carl Friedrich Von 1707, o Arcebispado da Bahia, através das
Martius, que esteve por estas terras no princípio Constituições Primeiras, qualifica a
do século XIX, declarou, em 1843, que os homossexualidade de ‘hediondo pecado,
descobridores do Brasil ficaram assombrados péssimo e horrendo, provocador da ira de Deus
ante a constatação dos autóctones “maculados e execrável até pelo próprio Diabo’ e que podia
pelo peccatum nefandum e pela antropofagia”. ser punida com morte na fogueira” (p. 60).
O pesquisador Abelardo Romero (1967, citado A sociedade, ao invés de proibir, impôs
por Trevisan, 2004), em seu livro “Origem da maneiras rigorosas para regular o sexo. Incitou-
imoralidade no Brasil”, afirma que nada mais se cada vez mais a falar do assunto, nos seus
chocava os cristãos que chegaram por aqui que minuciosos detalhes, produzindo assim
a prática do “pecado nefando”, “sodomia” ou variados discursos sobre ele. A hipótese de que
“sujidade” que “grassava há séculos, entre os a Igreja culminava uma forte repressão ao sexo
brasis, como uma doença contagiosa” traduz-se, na verdade, como um poderoso
(Trevisan, 2004). Conforme Fray e Macrae mecanismo de poder que induzia o surgimento
(1991): de novos discursos sobre o sexo e ditava como
ele deveria funcionar, ser praticado (Foucault,
Com a presença da Inquisição no
1984).
Nordeste, entre os anos de 1591 e 1620,
Uma vez que o sexo torna-se um elemento
várias confissões e denúncias de práticas
fundamental para a gerência do Estado através
homossexuais foram feitas ao Santo
da população, não caberia mais afirmar que o
Ofício. O antropólogo Luiz Mott, da
poder que regia essa sociedade era unicamente
Universidade Federal da Bahia,
repressor, como se afirma no senso comum.
estudando documentos da época,
Foucault (1984) debate o que ele chama de
conseguiu identificar 135 sodomitas.
“hipótese repressiva”. Através dessa hipótese,
(p.50)
formulou-se a ideia de que a partir do século
558 Guimarães, A. F. P.

XVII ocorreu um forte movimento de repressão termos psiquiátricos como um desvio sexual,
ao sexo em todas as suas manifestações, e esta uma inversão do masculino e do feminino.
repressão estaria atrelada ao início do Desde então, a homossexualidade foi descrita
capitalismo, sendo que a nova forma de como uma das formas emblemáticas da
produção ajustaria o sexo de acordo com suas degeneração, no ramo da Sexologia.
necessidades: Mudou-se, assim, o paradigma para
Esse discurso sobre a repressão moderna interpretar a sexualidade fora dos padrões da
do sexo se sustenta. Sem dúvida porque é heteronormatividade. Os médicos também
fácil de ser dominado. Uma grave caução reivindicaram o seu direito de falar sobre a
histórica e política o protege; pondo a sexualidade, transformando a
origem da Idade da Repressão no século homossexualidade de “crime” e “pecado” em
XVII, após centenas de anos de “doença”. O crime merece punição, a doença,
arejamento e de expressão livre, faz-se “cura” e “correção” (Fray e Macrae, 1991).
com que coincida com o Como afirma Foucault (1984): “as
desenvolvimento do capitalismo: ela transformações ocorridas durante o século
faria parte da ordem burguesa. A crônica XVIII e XIX construíram um novo discurso
menor do sexo e de suas vexações se sobre o sexo e também sobre os indivíduos,
transpõe, imediatamente, na cerimoniosa dissecando e especificando práticas, desvios,
história dos modos de produção: sua doenças e seus sujeitos” (p. 43).
futilidade se dissipa (Foucault, 1984, p. Estava aberta, então, a possibilidade para o
11). entendimento da homossexualidade como
patologia, para a segregação dos homossexuais
Os discursos que surgem a respeito dessa nos sanatórios e outras entidades psiquiátricas,
questão deveriam levar a público o que se passa bem como para as “experiências científicas” de
em torno dela. E o propósito de toda essa “cura”.
argumentação não é somente o de julgar ou
condenar, mas o de ordenar, regular o seu a medicina penetrou com grande aparato
funcionamento para o bem geral, fazer com que nos prazeres do casal: inventou toda uma
ocorra em função de um padrão estabelecido. patologia orgânica, funcional ou mental,
Assim, é preciso administrar o sexo, regulá-lo originada das práticas sexuais
por meio de discursos conhecidos a todos e não ‘incompletas’; classificou com desvelo
simplesmente por uma proibição descabida, todas as formas de prazeres anexos;
para que melhor seja o êxito da tão desejada integrou-os ao ‘desenvolvimento’ e às
funcionalidade do sexo (Foucault, 1984). ‘perturbações’ do instinto; empreendeu a
Os discursos que permeiam as gestão de todos eles (Foucault, 1996, p.
sexualidades ainda estão vinculados a discursos 41).
moralistas e naturalistas. Por esse motivo, é Nas primeiras décadas do século XIX, por
necessário que haja essa desvinculação e que a conta da alta taxa de mortalidade e das
heterossexualidade seja vista como uma condições sanitárias de muitos lares no Brasil, o
possibilidade entre muitas outras. Estado liberal interveio nas classes menos
favorecidas com campanhas de moralização e
O Discurso Médico-psicológico higiene coletiva:
O discurso médico também teve um Com livre trânsito nesse espaço outrora
importante papel na formação do conceito de impenetrável à ciência, o médico-
homossexualidade. Com o decorrer da história, higienista acabou impondo sua
as relações entre pessoas do mesmo sexo, autoridade em vários níveis. Além do
principalmente entre homens, foi sendo corpo, também as emoções e a
apropriada por diversos campos do saber, sexualidade dos cidadãos passaram a
transformando o sodomita em pervertido, sofrer interferências desses especialistas
doente e, finalmente, em homossexual. cujos padrões higiênicos visavam
Conforme relatamos anteriormente, Fray e melhorar a raça e, assim, engrandecer a
Macrae (1991) explicam que em 1870, o texto pátria. [...] criavam-se rigorosos modelos
“As Sensações Sexuais Contrárias”, de de boa conduta moral, através da
Westphal, definiu a homossexualidade em imposição de uma sexualidade
Identidades Homossexuais em construção 559

higienizada dentro da família (Trevisan, como resultado de um processo desastroso, e


2004, p. 172). até mesmo como uma anormalidade do
comportamento, referenciada, por vezes, como
Somente no século XIX, contudo, surgiu o inversão sexual, o que não lhe garantia o status
termo “homossexualismo” para denominar as de natural, já que se tratava de uma inversão
relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo. (da “natureza”).
O termo foi rapidamente vinculado a uma Teorias como o Complexo de Édipo, de
“doença”, que deveria ser tratada. Essa Sigmund Freud, sustentavam este tipo de
concepção vigorou em grande parte do mundo pensamento. Embora Freud viesse a mudar seu
até os anos 1980, quando a Organização ponto de vista em relação à temática, o criador
Mundial de Saúde, em 1985, finalmente retira o da Psicanálise chegou ainda a correlacionar a
“homossexualismo” da lista das fatalidades homossexualidade com limitações dos instintos
patológicas, justificando-se contra qualquer sexuais na infância, o que inibiria o
tipo de discriminação e violência contra gays e desenvolvimento da heterossexualidade.
lésbicas. Tal medida foi em grande parte Durante alguns anos, a Psicologia, através de
consequência da mobilização do movimento alguns autores, pôde dar a sua parcela de
homossexual internacional. contribuição para a construção de pensamentos
Desde 1973, a homossexualidade já havia e crenças sobre a homossexualidade, que até
deixado de ser classificada como tal pela hoje são reproduzidos e explicados como
Associação Americana de Psiquiatria e, na verdades por pessoas homofóbicas.
mesma época, foi retirada do Código Contudo, devemos a Freud a possibilidade
Internacional de Doenças (CID-10). A de enxergarmos a sexualidade humana e
Assembleia-Geral da Organização Mundial de reconhecê-la como um campo praticamente
Saúde (OMS), no dia 17 de maio de 1990, desconhecido e sob o qual não detemos sequer
retirou a homossexualidade da sua lista de de alguma autonomia, quando, principalmente,
doenças mentais, declarando que “a nos referimos à preferência sexual de alguém
homossexualidade não constitui doença, nem ou a nossa própria (Freud, 1976a). Quando
distúrbio e nem perversão” e que os psicólogos Freud diz que o inconsciente possui leis que
não colaborariam com eventos e serviços que desconhecemos e às quais apenas obedecemos,
proponham tratamento e cura da podemos então tornar útil este pensamento para
homossexualidade (Cronologia dos Direitos “compreendermos” porque alguém sente
Homossexuais, n.d.). Apesar disso, e mesmo atração sexual por homens e outros por
contra as recomendações do Conselho Federal mulheres, ou seja, para mostrarmos que a
de Psicologia do Brasil (CFP), existem orientação sexual não é uma escolha livre ou
psicólogos e técnicos da saúde que veem a opção, a qual alguém possa decidir de maneira
homossexualidade como uma doença, consciente e feliz por quais dos dois sexos irá
perturbação ou desvio do desejo sexual – algo se sentir atraída. Não. “O que leva uma pessoa
que pode necessitar de tratamento ou a se tornar homossexual é algo tão absurdo ou
reabilitação –, aos quais está associado o natural quanto o que leva uma pessoa a se
movimento ex-gay, dedicado à “conversão” de tornar heterossexual” (Foucault, 1988, p.122).
indivíduos homossexuais para a Devido a tantos preconceitos e
heterossexualidade. pensamentos equivocados para “acolher” a
homossexualidade, os protagonistas desta
trama, ou seja, os homossexuais, contam até
Contribuições da Psicologia hoje com uma série de prejuízos, especialmente
Em torno desses discursos e de todo este no nível social (sem contar com os da esfera da
cenário que foi levantado para ora explicar a subjetividade) para poder circular nos
homossexualidade e justificar preconceitos em diferentes setores da sociedade e atuar de forma
fundamentos insustentáveis, ora para significativa, com efetiva participação,
problematizá-la, a Psicologia enquanto ciência, inclusive, nas decisões relativas exclusivamente
também colaborou para a legitimização de à sua própria trajetória dentro desta dinâmica
pensamentos aversivos à homossexualidade. social.
Talvez pelo zeitgheist (espírito da época), Assim, o Movimento Homossexual ainda
alguns pensadores inclinaram seus escritos e conta com um enorme número de conquistas a
teorias que colocavam a homossexualidade serem realizadas, que vão desde o
560 Guimarães, A. F. P.

reconhecimento público da sua identidade até a humano está inserido, caracteriza-se também
efetiva aplicação da igualdade de direitos no por ser simbólico e linguístico, movimentando
que se refere ao casamento e à adoção, por diferentes e complexas forças na constituição
exemplo. Entre tais situações, o não das dimensões individual e coletiva (Correia,
reconhecimento do homossexual enquanto uma 2006).
pessoa munida de direitos e um ser que como Essa reflexão é de suma importância para
todos os outros possui um desejo que clama por nos atermos à problemática que é o desafio de
ser realizado, se mantém justamente quando tornar-se homossexual. Com a maioria dos seus
esse movimento aparece, ou seja, quando faz direitos desrespeitados e outra grande parte
política, como se tivesse sido concedida aos fingidos que estão sendo cumpridos, os
homossexuais uma espécie de liberdade homossexuais precisam saber de que lugar ele
tolerada, desde que eles permanecessem está falando e quais os discursos produzidos ao
invisíveis (Arán & Corrêa, 2004). Nas palavras seu respeito, e com isso ter a consciência de
de Fassin (1998), é “como se quando falasse de quem se é para o que se quer ser, para a partir
homossexualidade, fosse necessário somente daí poder reclamar seus direitos e trilhar um
regular situações de fato, e não produzir caminho em que os discursos reproduzidos
sentido” (p. 45). serão aqueles que o identificarão com seres
É por este motivo também que a humanos que tem que ser respeitados. Esta é
homofobia na nossa sociedade se propaga cada uma das importâncias das identidades: nos
vez mais, e na mesma proporção que esta garantir posição, vez e voz para exigirmos o
invisibilidade faz-se parecer como natural. A que já se é de direito, bem como nos esclarece
homofobia funciona em diversos níveis e com Hall (2000):
muitas variáveis, englobando fenômenos
Utilizo o termo “identidade” para
díspares, que vão desde as discriminações no
significar o ponto de encontro, o ponto
âmbito doméstico a crimes com fins de lucro.
de sutura, entre, por um lado, os
Assim, precisamos direcionar nossas medidas
discursos e as práticas que tentam nos
tal como Ramos e Carrara (2006) sugerem: “as
“interpelar”, nos falar ou nos convocar
estratégias de enfrentamento desses fenômenos
para que assumamos nossos lugares
e os discursos produzidos pelo movimento
como sujeitos sociais de discursos
homossexual têm que reconhecer essa
particulares e, por outro lado, os
complexidade e mobilizar demandas
processos que produzem subjetividades,
específicas para diferentes violências” (p. 84).
que nos constroem como sujeitos dos
É imprescindível o reconhecimento dos
quais se pode “falar”. (p. 111-112)
diversos níveis de violência, para abrangermos
a questão estudada nos seus mais variados Ainda é de relevante preocupação
contextos. expormos que a construção de identidades
(posições que assumimos e com as quais nos
identificamos) reflete sobremaneira na
Reflexões sobre construção de subjetividade (compreensão que temos do
Identidades nosso eu, envolvendo aspectos conscientes e
Quando discutimos sobre identidades, inconscientes) dos sujeitos, como afirma
pretendemos esclarecer questões sobre “quem Woodward (2000):
sou eu” e/ou “quem somos nós”, considerando
o conceito de subjetividade permite uma
que cada pessoa está inserida num determinado
exploração dos sentimentos que estão
contexto sócio-histórico com suas mais
envolvidos no processo de produção da
diversas e variadas condições de ser e estar no
identidade e do investimento pessoal que
mundo. Com isso, as experiências de vida vão
fazemos em posições específicas de
adquirindo significados a partir do
identidade. Ele nos permite explicar as
conhecimento e do reconhecimento de si, de
razões pelas quais nós nos apegamos a
quem se quer ser, ao qual grupo se pertence e,
identidades particulares. (p. 55)
inclusive, da apropriação de determinados
discursos que produzem sentido. Nessa Nestas construções de identidades, nos
perspectiva, estaremos sempre falando sobre deparamos com um fascinante jogo de poder,
identidades e não de identidade, pois ainda há que, segundo a teoria foucaultiana, é uma
de se considerar que no contexto em que o ser estratégia em que manobras, táticas e técnicas
Identidades Homossexuais em construção 561

são utilizadas pelos participantes para exercê-lo. realidade homossexual ganhem dimensões
Neste contexto, em especial onde há inacreditáveis a nível social. É, portanto,
grande resistência à aceitação das identidades mediante as práticas discursivas forjadas nas
homossexuais e com isso um intenso práticas sociais que o ser humano transforma-se
movimento de dominação – o que já marca este em sujeito do discurso, assumindo posições
cenário com tensões, conflitos, confrontos, discursivas impregnadas das marcas do
avanços, recuos –, é preciso entendermos que histórico e do social, sem vislumbrar outras
como efeitos negativos do poder não podemos possibilidades de entender uma determinada
descrevê-los como exclusão, repressão, realidade, senão a que já absorveu.
recalque, censura, marginalização, mas sim, Não podemos esquecer o que Foucault
como produção: o poder produz; reproduz (1996) chamou de dispositivo da sexualidade,
realidade, produz campos de objetos e rituais da pelo qual a sexualidade seria produzida e
verdade, inclusive, o conhecimento e o regida, assim como o sexo, e disciplinada. O
indivíduo que obtém se origina desta produção dispositivo da sexualidade produziu prescrição
(Foucault, 1996). de normas e regras para o funcionamento do
Assim, é preciso ficar atento para que este sexo, e continua interferindo na constituição
processo de afirmação das identidades das identidades sexuais dos sujeitos.
homossexuais não se corrobore em um sedutor Segundo Foucault (1996), o dispositivo da
jogo de poder e acabe produzindo efeito sexualidade englobaria “discursos, instituições,
contrário ao que se esperava, ou seja, ao invés organizações arquitetônicas, decisões
de colocar estes sujeitos como protagonistas regulamentares, leis, medidas administrativas,
dos seus direitos e donos de uma memória que enunciados científicos, proposições filosóficas,
não se pode apagar, fazer com que eles morais, filantrópicas. Em suma, o dito e o não
entendam a lógica que faz funcionar a dito são os elementos do dispositivo” (p. 96).
heteronormatividade e busquem se posicionar Este dispositivo esteve e parece estar em
abaixo dela. função, dentre outras coisas e principalmente,
Considerando que as identidades dos da heteronormatividade. Compreende-se
homossexuais, a priori, não são construídas por enquanto práticas discursivas e não discursivas,
eles, e sim por uma sociedade heterossexual, e poderes e saberes que visam a normatizar,
que só depois de eles terem passado por este controlar e estabelecer “verdades” a respeito do
agressivo e ameaçador processo de construção corpo e seus prazeres (Madlener & Dinis,
da sua identidade é que se poderá tomar 2007).
consciência das regras que ditam quaisquer Paralelo ao movimento de afirmação da
negociação que envolvam homossexuais, identidade homossexual existe este dispositivo,
inclusive da sua identidade enquanto tal, que sem o menor esforço contribui para a
podemos então compreender o que torna ainda manutenção de um certo tradicionalismo das
mais dificultosa a sua identificação enquanto ideias e uma forte tendência para não querer
homossexual e a reprodução em escala cada mudar: reconhecer a diversidade enquanto real
vez maior de discursos que colaboram e funcional. A simples atitude de não querer se
justamente para o contrário: a discriminação, o posicionar diante deste tema já implica numa
preconceito. perigosa estratégia social ao qual o sujeito é
Para Foucault (1999), o sujeito produz-se levado a realizar, ou seja, deixar com que o
nas relações de poder como um efeito do dispositivo da sexualidade exerça sua função
discurso. O sujeito não tem autonomia sobre com grande êxito e sem maiores dificuldades.
seu discurso, porquanto este se materializa Tal dispositivo, com suas verdades e
pelas posições de sujeito que definem os valores morais, históricos e socialmente
discursos “pela situação que lhe é possível construídos, dita aquilo que deve ser praticado,
ocupar em relação aos diversos domínios ou influencia nas subjetividades dos sujeitos,
grupos de objetos.” (Foucault, 1999, p. 59). inferindo padrões de comportamento e
Sendo assim, o sujeito não faz o que quer, mas construções individuais referentes ao corpo e
aquilo que lhe é possível, condicionado às aos prazeres (Madlener & Dinis, 2007). É nesse
posições que ocupa em determinado tempo- ritmo de funcionamento que as crenças
espaço, subordinado a uma ordem disciplinar aversivas à homossexualidade são
determinada. O que torna quase que impossível retroalimentadas e ganham força diante de
evitar com que discursos distorcidos sobre a qualquer tentativa de afirmação do valor de
562 Guimarães, A. F. P.

suas identidades. Independentemente de se que, inclusive, não se perca de vista a história


existe ou não um movimento para o desse movimento enquanto grupo social. A
reconhecimento dessa afirmação, o dispositivo afirmação da identidade seria uma fase na sua
da sexualidade continua cumprindo sua função, história, recheada de discriminação e negação,
e parece ser favorecido também quando sendo fundamental no momento para
encontra tal manifestação que visa a afirmar restabelecer sua autoestima e norteá-lo quanto
uma identidade homossexual. aos seus direitos frente a esta sociedade. Dar-
É muito importante não perder de vista se-iam, assim, as identidades mais como uma
que, mesmo dentro da comunidade LGBT, há, e bandeira política (para dar vez e voz a estes
não poderia ser diferente, uma grande personagens) do que como um delimitador e
diversidade, a qual deve ser reconhecida e tida padronizador do comportamento, uma vez que
como legítima, para demonstrar o respeito que esta luta também precisa ser orientada pelo
se quer, e não continuar reproduzindo um ideal de que diversas maneiras de ser coexistem
esquema de discriminação, que hierarquiza a concomitantemente, e que devem ser prezadas
diferença e as deixa com maior ou menor valor, para que continuem existindo.
resultando, assim, na falta de respeito e no A condição de homossexual jamais
preconceito, por desconhecer o que se é implicaria em impor regras de comportamentos
diferente. ou ditar como deveriam funcionar suas práticas
A afirmação das identidades homossexuais sexuais, pois esta última acontece
dá-se por diversas vias, através de discursos independentemente de alguém ser hetero ou
(dos mais equivocados aos mais coerentes), e homossexual. Basta lembrarmos que
por meio de quaisquer formas de reprodução de massivamente homens homossexuais que
conceitos e ideias que regem o universo desta levam suas vidas dentro de um padrão
temática. Para Foucault (1996), estes heteronormativo (casados com mulheres), ou
movimentos que visam à afirmação de suas vice-versa, têm práticas sexuais com pessoas do
identidades deveriam lutar por algo que sexo oposto, embora sejam homossexuais.
superasse o sexual, transcendendo a Um momento posterior a este seria o que
reivindicação da especificidade sexual e as preocupações de Foucault (1981) nos
deslocando-se para reivindicar formas de apresentam: inventar um modo de vida que
cultura, de discurso, de linguagem. supere as questões sexuais. Para alcançar este
Historicamente, a homossexualidade, bem estágio é importante que compreendamos a
como todo grupo marginalizado socialmente, homossexualidade sem os preconceitos que
passa por fases necessárias ou impostas por este permeiam o imaginário humano, pois uma das
sistema capitalista. O movimento homossexual, indagações que Foucault (1981) propõe seria:
carregado por uma bagagem de discriminação e “quais relações podem ser estabelecidas,
uma memória vergonhosa nesta sociedade, inventadas, multiplicadas, moduladas através
precisa buscar a afirmação da sua identidade e da homossexualidade?” (p. 73). Daí, podemos
fazer ser reconhecida pelo social; neste sentido, inferir que fundamental primeiro se faça
é relevante colocarmos que o que Foucault reconhecermos as homossexualidades como
propõe faria parte de uma outra etapa nesta condições possíveis de realização humana para
história, mais adiante; não se pode superar algo que, em seguida, pensemos nas diversas
que ainda não existe, e é isto que os possibilidades que esta condição nos
homossexuais buscam conquistar: o direito de oportunizaria para nos relacionarmos.
ser sexuais. Pois, como o próprio Foucault
(1996) compreende:
Resultados e Discussões
os movimentos homossexuais continuam
Conforme observado, a homo e a
muito presos à reivindicação dos direitos
heterossexualidade são diferentes orientações
de sua sexualidade, à dimensão do
sexuais que convivem lado a lado desde o
sexológico. Mas isso é normal, pois a
princípio da humanidade. Estudos
homossexualidade é uma prática sexual
antropológicos realizados em todo o mundo
que, enquanto tal, é combatida, barrada,
demonstram inclusive que em grande parte das
desqualificada. (p. 268)
sociedades primitivas os homossexuais
É por este e outros tantos motivos que se exerciam um papel de importante destaque,
faz necessária esta afirmação no momento, para sendo respeitados como conselheiros,
Identidades Homossexuais em construção 563

curandeiros ou em outras tarefas. Inclusive, a forma bastante natural e aceita pela sociedade,
invenção do amor romântico é originariamente são feitas demonstrações de proibição e
homossexual, como afirma Mott (2001b): reprovação a esta maneira de se comportar
Romeu e Romeu se amaram muito antes que sexualmente.
Romeu e Julieta. Ainda nos reportando a estas
Estes mesmos estudos nos levam a crer consequências, trazemos como ponto
que a opressão ao homossexual pôde, em parte, fundamental para nossa discussão as
ser explicada no mesmo contexto em que se terminologias utilizadas para nos referirmos à
originou a discriminação e a opressão contra as sexualidade vivida entre sexos iguais. Costa
mulheres. A introdução da propriedade privada (1991) propõe o uso do termo homoerotismo
e a transformação das antigas sociedades em substituição do termo homossexualidade.
matriarcais em patriarcais, como foi analisado Ele alega que o termo homossexualidade é
por Engels (2005), por exemplo, provocou insuficiente para descrever a diversidade das
alterações nas relações sociais e sexuais. A experiências psíquicas dos sujeitos
necessidade de se determinar quem era o homoeroticamente inclinados. O autor trata da
herdeiro das propriedades acumuladas homossexualidade em seu texto como se ela
submeteu as mulheres ao domínio masculino e tivesse um significado semelhante ao que tem o
deu início à discriminação em relação a toda termo homossexualismo, o qual se refere à
atividade sexual que não tivesse na reprodução homossexualidade como patologia, tendo sido
“controlada” seu objetivo. Como cita Foucault normalmente usado até 1985 quando o
(1984): Conselho Federal de Medicina a retira da
Classificação Internacional das Doenças. A
Ao que sobra só resta encobrir-se; o
partir daí, a homossexualidade pode ser
decoro das atitudes esconde os corpos, a
entendida como uma possibilidade de vivenciar
decência das palavras limpa os discursos.
a sexualidade (neste caso com um parceiro do
E se o estéril insiste, e se mostra
mesmo sexo), o que em hipótese alguma
demasiadamente, vira anormal: receberá
deixaria de abranger a diversidade sexual entre
esse status e deverá pagar as sanções. (p.
esses sujeitos e nem se igualaria à ideia que o
10)
termo homossexualismo traz consigo.
Esse processo, obviamente, teve ritmos Costa (1991) ainda critica a suposta
próprios nas diferentes sociedades do mundo identidade homossexual, a qual os indivíduos
antigo. Em civilizações como a romana, e homoeroticamente inclinados são impelidos a
principalmente a grega, a homossexualidade aceitar, pertencendo, assim, a uma comunidade
seguiu sendo respeitada quando ligada aos de tradição, aceitando um só passado, uma só
rituais sagrados, na iniciação dos adolescentes herança cultural e uma só identidade de desejos
na vida adulta, e mesmo ao aparato militar e aspirações. E o que parece é que realmente
(como no famoso “bando sagrado de Tebas”, essa “identidade homossexual” é o que
um exército formado exclusivamente por identifica o homossexual para a sociedade e
amantes homossexuais). que cada vez mais ele é incitado a aceitá-la e a
Ao longo da nossa história, a sexualidade incorporá-la para “se tornar homossexual”
pôde ser vivida e experienciada por culturas e (pelo menos o qual é conhecido pela
períodos de abertura sexual, intercalados por sociedade). É preciso reconhecermos que
períodos de recato e de privações sexuais dentro desta comunidade existe uma enorme
(Foucault, 1984). O que também deve ser diversidade entre seus membros, para não
levado em consideração, e é também merecedor cairmos no estereótipo e acabarmos excluindo
da nossa atençao, é o fato de que quando nos quem não consiga se adequar a ele.
reportamos aos homossexuais atualmente, Este talvez seja um dos processos mais
podemos perceber de maneira muito notória, sofridos e penosos no qual um ser humano
como uma consequência desta identidade precise passar: reconhecer-se homossexual. Nas
homossexual construída a partir destes relações sociais, é necessário desenvolver
discursos, que essa população vive estratégias de enfrentamento ou de esquiva, até
costumeiramente seus momentos de liberdade e que se amadureça o suficiente para não se
de expressão nos conhecidos “guetos” (lugares desestruturar emocionalmente diante de tanta
frequentados comumente apenas por estupidez e preconceito. Nesta esfera do social,
homossexuais), enquanto em via pública, de aprende-se muito cedo que o que é
564 Guimarães, A. F. P.

homossexual tem menos valor e que não se tem deixa de ser o preconceito em si para se tornar a
moral para reivindicar por nada, nem mesmo histórica decisão de tornar-se homossexual: é
pelos seus desejos, e isso seria ridicularizar-se. como se tal parcela de pessoas (homossexuais
Saindo então desta terra de ninguém, mas que ou não) que encontraram este novo estilo de
se sabe muito bem quem são os donos, e vida se juntassem aos heterossexuais e
regressando para a esfera do privado, do demonstrassem aos homossexuais que no novo
ambiente doméstico, onde se espera o apoio dos mundo o que mais incomoda não é mais o
entes queridos, descobre-se que por vezes não preconceito, mas sim, essa luta incansável e
se é querido. Não com estes desejos, não com insistente de fazer com que eles (não
este tipo de aspirações sexuais, não com esta homossexuais) passem a reconhecê-los como
orientação sexual. É preciso mais uma vez pessoas, como homens e mulheres e como
desenvolver manobras para driblar a falta de homossexuais.
reconhecimento com dignidade e para tolerar a
rejeição que deturpa e agride a imagem que se
tem de si. É uma cilada: “se correr o bicho Considerações Finais
pega, se ficar o bicho come”. E, em verdade, o Podemos perceber, com todas estas
homossexual precisa fazer esse movimento de discussões, que a luta do Movimento Gay e o
idas e vindas, pois afinal é aí que acontece a desafio que existe para “tornar-se um
vida: na sociedade e na família; no trabalho, homossexual” abrangem questões das mais
escola ou faculdade e em casa. diversas, possuindo discursos dos mais
É neste cenário, onde nada, nem ninguém contraditórios.
colabora para a formação de sua identidade, Tendo isso em vista, e à medida que
que o homossexual tenta “tornar-se formos compreendendo o direito que cada um
homossexual”, desafio este que é permanente, possui de pensar de forma diferente,
desgastante e cansativo. Muitas vezes, depara- precisamos nos colocar, enquanto psicólogos, à
se com pessoas ou instituições munidas de disposição para a pesquisa e para a produção de
algum poder que reproduzem discursos estudos sobre esta questão. Pois, nessa
homofóbicos como se fossem a mais pura temática, a Psicologia também pode contribuir
verdade e algo que devesse ser discursado por sobremaneira, com a incorporação de temas
todos como filosofia de vida. Assim, o relacionados à homossexualidade, pautando
homossexual perde força (seja para reivindicar seus estudos na exigência por respeito, sem
sua condição sexual, ou até mesmo para viver) perder a afirmação da sexualidade e na
e, dessa maneira, existem duas possibilidades: demanda da criminalização da homofobia, sem
tentar encontrar forças para dar continuidade a a regulação da diversidade sexual.
este desafio (histórico) ou engolir a lógica Considerando que a Psicologia possui uma
dominante, passando a pensar assim: “para quê dívida histórica para com os movimentos
se assumir?”, “que importância tem isso?”, sociais em geral, e particularmente com o
“não me defino homossexual”, “sou muito mais Movimento Gay, e que durante muito tempo a
que isso”. Eis, então, mais uma lamentável Psicologia com seu caráter elitista mostrou-se
situação de quem, talvez, não quer ocupar um bastante omissa diante das problemáticas
lugar na sociedade e que faz da sua própria sociais, das questões de discriminação em razão
marginalização um estilo de vida. da orientação sexual e/ou identidade de gênero,
É nessa linha de raciocínio que muitas e não raro, contribuindo até mesmo para a
pessoas preferem se engajar e viver suas vidas manutenção de estereótipos e da patologização
como se nada disso se referisse a elas. O mais das práticas homoeróticas, é que se faz
lastimável é que dentro do próprio Movimento necessário, com caráter de urgência, uma
Gay (e fora também) muitos pensadores e efetiva produção de estudos e consequente
lideranças compram este pensamento (de modo aplicabilidade de suas diretrizes e resoluções
muito feliz) e o vendem a “preço de banana”, em relação ao tema.
reproduzindo e reforçando de certa forma o A Psicologia, paralelamente a este
preconceito aos homossexuais, em outras movimento de produção científica, precisa
palavras, desvalorizando a luta política e aliar-se a organizações que visem a promover a
expondo aos demais sexuais que eles que estão cidadania e defender os direitos dessa
certos por não reivindicarem nada dessa população, contribuindo para a construção de
natureza (como se precisassem!), daí o foco uma democracia sem quaisquer formas de
Identidades Homossexuais em construção 565

discriminação, afirmando a livre orientação (SUS), direito a bens, herança e pensão,


sexual e identidades de gênero. É neste âmbito reconhecimento da permanência do
que a Psicologia deve incorporar nas suas companheiro estrangeiro no país e a parceria
práticas a possibilidade de propor diretrizes com o Ministério Público.
para a implementação de políticas públicas e o Como uma das principais lutas do
plano nacional de promoção da cidadania e Movimento, os psicólogos devem apoiar as
direitos humanos da comunidade LGBT, além iniciativas para a retirada de uma designação
de buscar avaliar e propor estratégias para o patologizante da Classificação Internacional
fortalecimento do Programa Brasil sem das Doenças (CID 10), referente aos travestis e
Homofobia. sujeitos transexuais, que persiste ainda hoje na
O Conselho Federal de Psicologia (CFP) classificação Transtornos da Identidade Sexual.
já lançou, com muito labor, uma cartilha É louvável que o Brasil se apresente hoje
voltada para a adoção de crianças por casais como o único país da América Latina cujos
homossexuais, a qual traz estudos feitos por representantes dos poderes públicos, em
psicólogos sobre esta problemática, com o parceria com a sociedade civil organizada,
objetivo de desconstruir preconceitos, propuseram-se a um processo de diálogo para
estereótipos estigmatizados, já que não há construção de políticas públicas que garantam
nenhum fundamento teórico/científico que direitos humanos e cidadania à população
condicione a orientação sexual como fator LGBT, por isso mesmo, é de alta relevância a
determinante para o exercício da parentalidade. necessidade de se assegurar a laicidade do
São atitudes como estas que devem ser Estado Brasileiro, para que não distorçamos
estimuladas e divulgadas, para que exerçam nem enviesemos as tomadas de decisões em
influência sob um maior número de pessoas, relação à homossexualidade.
contribuindo, assim, para o seu esclarecimento. É importante ainda lembrarmos que todos
Dentre muitos direcionamentos que a os estudos e práticas sobre o assunto devem
Psicologia precisa realizar para ficar a par desta sempre estar norteados nestes principais eixos
mobilização social, eis aqui umas das principais temáticos: saúde, educação, justiça, segurança
medidas de posicionamento: recolocar cada vez pública, cultura, comunicação, turismo,
mais o lugar desta ciência e de seus trabalho e emprego, previdência social, cidades
profissionais no apoio aos movimentos sociais; e esportes, dentre outros, pois, como grupo de
tentar saldar uma certa “dívida histórica” que a pessoas, estão inevitavelmente inseridas num
Psicologia tem com as questões LGBT; contexto sócio-histórico-político e econômico.
denunciar a ação de psicólogos E quanto à sociedade, o que de mais
fundamentalistas e religiosos; reforçar a urgente nos é exigido é a maneira pela qual
construção de uma rede de profissionais psi que pensamos as nossas relações e pela qual as
trabalhem com as questões LGBT; fortalecer a fazemos funcionar: cercadas de regras a priori,
ação dos sistemas e conselhos locais, no sentido delimitando espaços e inferindo ações possíveis
do combater a discriminação em razão de aos personagens envolvidos, destruindo, assim,
orientação sexual; divulgar mais e fazer valer a qualquer possibilidade da criação de novas
resolução CFP 01/99; cobrar mais ações formas de ser e estar no mundo, e sufocando
afirmativas e punitivas do CFP frente aos casos qualquer esperança para a criatividade nas
de desrespeito a tal resolução, assim como ao relações sociais.
Código de Ética Profissional do Psicólogo. É importante entendermos de uma vez por
Para que se faça efetiva a participação da todas que, atualmente, esta sociedade não
Psicologia nesta temática, é preciso lembrar oferece nada que possa sustentar uma relação
que essa comunidade conta com uma série de homossexual: nem direitos legais e nem
questões por parte dos Poderes Públicos e que a aprovação social, e, mesmo assim, paralelo a
Psicologia pode contribuir para otimizar e este cenário, homossexuais continuam
esclarecer a todos quanto à importância destas querendo viver suas vidas de maneira natural,
realizações, que são: reconhecimento da união lutando para sustentar uma relação como esta.
civil estável, a criminalização da homofobia, o Por esse motivo, a homossexualidade, de uma
projeto que favorece a mudança de nome das forma em geral, traz para as relações humanas
Transexuais no documento de identidade, o algo que não poderia ser nutrido numa
projeto que regulamenta a cirurgia de sociedade com estas normas de funcionamento;
transgenitalização no Sistema Único de Saúde e que com as condições que lhes são impostas
566 Guimarães, A. F. P.

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para fazer funcionar suas relações e a vontade
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(“mais do que consciente”) para imaginar
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Albuquerque, & J. A. G. Albuquerque,
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Enviado em Março de 2010
homossexualidade no Brasil, da colônia à
Texto reformulado em Junho de 2010
atualidade (6a ed). Rio de Janeiro: Record.
Aceite em Agosto de 2010
Publicado em Outubro de 2010

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