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Diná.
(Texto: Gn 34:1~31)
1. Introdução.
Um dos mais terríveis eventos históricos foi o genocídio praticado pelos alemães
nazistas foi o Holocausto judeu. A partir do século XIX a palavra holocausto passou a
designar grandes catástrofes e massacres, até que após a Segunda Guerra Mundial o
termo Holocausto (com inicial maiúscula) foi utilizado especificamente para se referir
ao extermínio de milhões de pessoas que faziam parte de grupos politicamente
indesejados pelo então regime nazista fundado por Adolf Hitler. Havia judeus,
militantes comunistas, homossexuais, ciganos, eslavos, deficientes motores, deficientes
mentais, prisioneiros de guerra soviéticos, membros da elite intelectual polaca, russa e
de outros países do Leste Europeu, além de ativistas políticos, Testemunhas de Jeová,
alguns sacerdotes católicos, alguns membros mórmons e sindicalistas, pacientes
psiquiátricos e criminosos de delito comum. Cristãos protestantes como o eminente
pastor Dietrich Bonhoeffer (morto em 1945) também foram vítimas do nazismo2.
Mais tarde, no correr do julgamento dos responsáveis por esse extermínio, o termo foi
sendo aos poucos adotado somente para se referir ao massacre dos judeus durante o
regime nazista. Todos esses grupos pereceram lado a lado nos campos de concentração
e de extermínio, de acordo com textos, fotografias e testemunhos de sobreviventes, além
de uma extensa documentação deixada pelos próprios nazistas com o saldo de registros
estatísticos de vários países sob ocupação.
A Bíblia também nos relata uma história de um genocídio. Tiago 1:15 diz o seguinte:
"Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez
consumado, gera a morte". Essa é uma terrível história sobre um pecado grave que foi
chamando um outro, e mais outro, até que uma cidade inteira foi dizimada, naquilo que
é o primeiro grande genocídio que Bíblia nos relata.
Se há algo que costuma ser algo insaciável, um buraco negro mesmo, é o pecado.
Dependendo da maneira que lidamos com o pecado, podemos ter vida ou afundarmos
no lamaçal da morte, escravidão, desgraça. Mesmo grandes homens de Deus não estão
imunes ao poder do pecado, uma vez que nesse pecado fomos concebidos. O pecado
pode se transformar em uma máquina mortífera sem freios. Na história de hoje, tudo
começou com um ato monstruoso: um estupro.
1
Pregado no MEP dia 14 de novembro de 2010.
2
Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Holocausto acessado em 12.11.2010.
3
Hebraico, "saiu para ver". O verbo ver precedido da preposição B. indica a ideia de que Diná foi àquela cidade ver
como eram as mulheres de lá, cf. NET Bible.
4
Hebraico, "filhas".
5
O verbo hn"[' no Piel indica, nesse caso, que Siquém humilhou Diná estuprando-a, cf. NET Bible.
6
A tradução da NET Bible acrescenta: "about Dinah", cf. NET Bible.
7
O verbo pode assumir três variações semânticas dependendo do contexto: 1. "ser lesado, prejudicado" (Sl 56:5, Ec
10:9, 1Cr 4:10); 2. "experimentar dor emocional, estar deprimido emocionalmente, estar preocupado" (2Sm 19:2, Is
54:6, Ne 8:10,11); 3."ser insultado, ofendido" aponto de causar ira a outrem (Gn 6:6, 45:5, 1Sm 20:3, 34:1, 1Re 1:6,
Is 63:10, Sl 78:40)
No caso, a terceira alternativa se encaixa melhor no contexto. Cf, NET Bible.
8
34.7 Ou contra.
9
Essa união resultaria numa relação de aliados pelo casamento
10
34.10 Ou movam-se livremente; também no versículo 21.
11
34.17 Hebraico: filha.
25
Três dias depois, quando ainda sofriam dores, dois filhos de Jacó, Simeão e Levi,
irmãos de Diná, pegaram suas espadas e atacaram a cidade desprevenida, matando todos os
homens. 26 Mataram ao fio da espada Hamor e seu filho Siquém, tiraram Diná da casa de
Siquém e partiram. 27 Vieram então os outros filhos de Jacó e, passando pelos corpos,
saquearam a cidade onde12 sua irmã tinha sido desonrada. 28 Apoderaram-se das ovelhas,
dos bois e dos jumentos, e de tudo o que havia na cidade e no campo. 29 Levaram as
mulheres e as crianças, e saquearam todos os bens e tudo o que havia nas casas.
30
Então Jacó disse a Simeão e a Levi: “Vocês me puseram em grandes apuros13,
atraindo sobre mim o ódio14 dos cananeus e dos ferezeus, habitantes desta terra. Somos
poucos15, e se eles juntarem suas forças e nos atacarem, eu e a minha família seremos
destruídos”.
31
Mas eles16 responderam: “Está certo ele tratar nossa irmã como uma prostituta?”.
1. Já começou errado.
A história começa com Diná, filha de Jacó em Lia. Geralmente, ao menos que a mulher
assuma uma posição, um destaque na história, ela não costuma ser citada nominalmente
no Antigo Testamento. Ela era a única filha de Jacó que um dia resolveu dar uma volta
pela cidade de Siquém para como viviam e eram as mulheres daquele lugar. Parece que
foi uma atitude até muito inocente.
Porém, um grande desastre aconteceu: "Certa vez, Diná, a filha que Lia dera a Jacó,
saiu para conhecer as mulheres daquela terra. Siquém, filho de Hamor, o heveu,
governador daquela região, viu-a, agarrou-a e a violentou." (vss 1,2).
A essa altura parece que o amor de Siquém a Diná apagaria o grave erro que ele
cometeu. Mas não é assim. Ainda que dentro de Siquém tenha brotado um sentimento
de afeição real, não podemos nos esquecer de que o que ele fez foi algo totalmente
pecaminoso. Toda a história já começou de maneira errada. Quando começamos com
passos errados, o que vem pela frente são apenas reflexos e conseqüências dos nossos
pecados. Começar errado coloca em risco toda a caminhada futura.
Siquém pode ter pensado que o seu pecado era pequeno, uma vez que só atingiu uma
pessoa. Mas o ato de estuprar Diná implicou em desonrar toda a família de Jacó:
12
34.27 Ou porque.
13
Cf. NET Bible, a tradução tradicional é "problema", porém, o verbo indica uma tragédia pessoal ou nacional ,
sugere ruína completa.
14
34.30 Hebraico: transformando-me em mau cheiro para os do verbo va;B'.
15
A NET Bible traduz: "I am few in number". Nesse caso, a primeira pessoa do singular indica que Jacó está se
colocando como representante da família inteira.
16
Simeão e Levi.
"Quando Jacó soube que sua filha Diná tinha sido desonrada, seus filhos estavam no
campo, com os rebanhos; por isso esperou calado até que regressassem. Então Hamor,
pai de Siquém, foi conversar com Jacó. Quando os filhos de Jacó voltaram do campo e
souberam de tudo, ficaram profundamente entristecidos e irados, porque Siquém tinha
cometido um ato vergonhoso em Israel, ao deitar-se com a filha de Jacó — coisa que
não se faz." (vss. 5~7).
O mais assustador na história é que diante dos fatos, Jacó se mostra apático. São os seus
filhos que expressaram a revolta com relação àquela situação. Era de Jacó que
esperávamos ter a reação mais violenta contra tudo aquilo, mas parece que ele
apaticamente recebeu Hamor e seu filho para uma conversa sobre o casamento com
Diná.
Qual deve ser a nossa atitude com relação ao pecado? Como devemos nos comportar
diante da injustiça praticada muitas vezes diante de nós? A resposta bíblica é a seguinte:
se revolte contra o pecado. Ser santo não significa que você esteja imune ao pecado,
muito pelo contrário, todos nós pecamos, pois o pecado faz parte da nossa natureza
carnal. Entretanto, a nossa santidade deve ser expressa no quanto nos posicionamos
contra aquilo que Deus considera errado.
Quem nos dá um exemplo prático disso é o próprio Jesus. Aquele que é o Príncipe da
paz e sereno como uma ovelha, diante da profanação do templo pelos comerciantes,
demonstrou ira e fúria: "No pátio do templo viu alguns vendendo bois, ovelhas e pombas, e
outros assentados diante de mesas, trocando dinheiro. Então ele fez um chicote de cordas e
expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e os bois; espalhou as moedas dos
cambistas e virou as suas mesas. Aos que vendiam pombas disse: “Tirem estas coisas
daqui! Parem de fazer da casa de meu Pai um mercado!”. Seus discípulos lembraram-se
que está escrito: “O zelo pela tua casa me consumirá”17." (Jo 2:14~17).
3. O convite ao pecado
"Mas Hamor lhes disse: “Meu filho Siquém apaixonou-se pela filha de vocês. Por favor,
entreguem-na a ele para que seja sua mulher. Casem-se entre nós; dêem-nos suas filhas e
tomem para si as nossas. Estabeleçam-se entre nós. A terra está aberta para vocês:
habitem-na, façam comércio nela e adquiram propriedades”. Então Siquém disse ao pai e
aos irmãos de Diná: “Concedam-me este favor, e eu lhes darei o que me pedirem.
Aumentem quanto quiserem o preço e o presente pela noiva, e pagarei o que me pedirem.
Tão-somente me dêem a moça por mulher”." (vss. 8~12).
Hamor, pai de Siquém, pede a mão de Diná a Jacó fazendo um convite muito tentador:
Deixe que a sua filha case-se com o meu para que nossos dois povos possam ser um só.
Deixe que a sua filha case-se com o meu e lhe daremos o quanto de presentes vocês
pedirem!
Mas por que esse convite era uma tentação? Porque se misturar com pessoas pagãs, não
era o propósito de Deus para aquela hora. Deus havia escolhido a família de Abraão
17
Citando Sl 69.9.
para ser o seu povo. A mistura com outros povos implicaria também na mistura dos
costumes e da religião. Desse modo, da mesma maneira que as famílias se misturavam a
adoração a deuses também se misturava. Aquele convite era uma sedução muito
perigosa. Todo o pecado nos seduz: "Te darei isso se você fizer aquilo". Também foi
esse o teor da tentação que Jesus sofreu no deserto: "“Tudo isto te darei, se te
prostrares e me adorares”" (Mt 4:8). Mais tarde, Dt 7 proibiria qualquer
relacionamento entre o povo de Israel com os cananeus18.
"Os filhos de Jacó, porém, responderam com falsidade a Siquém e a seu pai Hamor, por ter
Siquém desonrado Diná, a irmã deles. Disseram: “Não podemos fazer isso; jamais
entregaremos nossa irmã a um homem que não seja circuncidado. Seria uma vergonha
para nós. Daremos nosso consentimento a vocês com uma condição: que vocês se tornem
como nós, circuncidando todos os do sexo masculino. Só então lhes daremos as nossas
filhas e poderemos casar-nos com as suas. Nós nos estabeleceremos entre vocês e seremos
um só povo. Mas se não aceitarem circuncidar-se, tomaremos nossa irmã e partiremos”. A
proposta deles pareceu boa a Hamor e a seu filho Siquém. O jovem, que era o mais
respeitado de todos os da casa de seu pai, não demorou em cumprir o que pediram, porque
realmente gostava da filha de Jacó." (vss. 13~19)
Essa poderia ser uma história de heróis que resgatam a princesa e que tudo termina bem
e todos vivem felizes para sempre. Nem a Bíblia e nem a vida são assim. No ímpeto de
fazer justiça, os filhos de Jacó deram um passo à frente, fazendo com a cidade
exatamente o que Siquém fez com Diná: violentando.
Os irmãos de Diná bolaram um plano genial. Eles queriam justiça diante da desonra que
sua irmã foi submetida. Eles não poderiam deixar que incircuncisos fizessem parte da
sua família. Por isso, insistiram que todos os siquemitas fossem circuncidados. Parecia
uma solução boa, uma vez que a circuncisão era a marca primária para se fazer parte da
Aliança de Deus. Mas não foi com esse intuito que os filhos de Jacó fizeram isso. Eles
queriam matar todos os homens daquela cidade durante o período em que os siquemitas
sofreriam as dores causadas pela circuncisão. Além de quererem se vingar, eles usaram
um artifício não muito nobre: um mandamento divino.
18
Westermann diz que a história é um reflexo dessa lei, ou seja, é de redação posterior à Dt 7.
19
Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Dietrich_Bonhoeffer. Acessado em 12.11/2010.
Quantas e quantas vezes nós usamos a palavra de Deus e o nome de Jesus para fazer
aquilo que interessa a mim?
"Todos os que saíram para reunir-se à porta da cidade concordaram com Hamor e com seu
filho Siquém, e todos os homens e meninos da cidade foram circuncidados. Três dias depois,
quando ainda sofriam dores, dois filhos de Jacó, Simeão e Levi, irmãos de Diná, pegaram
suas espadas e atacaram a cidade desprevenida, matando todos os homens. Mataram ao fio
da espada Hamor e seu filho Siquém, tiraram Diná da casa de Siquém e partiram. Vieram
então os outros filhos de Jacó e, passando pelos corpos, saquearam a cidade onde sua irmã
tinha sido desonrada. Apoderaram-se das ovelhas, dos bois e dos jumentos, e de tudo o que
havia na cidade e no campo. Levaram as mulheres e as crianças, e saquearam todos os
bens e tudo o que havia nas casas." (vss. 24~29).
No terceiro dia, quando dizem que é o período de maior dor, os irmãos de Diná
atacaram a cidade, mataram todos os homens, saquearam as casas, levaram os animais,
tomaram as mulheres e suas crianças como servos. Essa é a "justiça" e a "vingança" que
o homem consegue fazer: pagando o mal com mais maudade.
Toda vingança humana é falha por que o homem não tem a condição de saber o que é
justo. Só Deus pode fazer isso. Se por um lado não podemos ficar como Jacó, apáticos e
conformados com o pecado, também não podemos sair querendo fazer justiça com as
nossas próprias mãos. Qual é a saída para isso e como devemos então nos comportar
diante da injustiça e pecado? Os filhos de Jacó queriam punir a violação de sua irmã
violando da mesma forma a cidade inteira. A vingança que nós fazemos e a justiça pelas
nossas próprias mãos nunca pode ser justa.
A primeira atitude é denunciar o pecado. Essa é a tarefa de todos aqueles que conhecem
a Deus e Sua palavra. Não podemos ter medo de denunciar o pecado e desmascará-lo.
Mas ao mesmo tempo, devemos deixar com que Deus traga a solução final. Devemos
aprender com o que o apóstolo Paulo ensinou "Não retribuam a ninguém mal por mal.
Procurem fazer o que é correto aos olhos de todos. Façam todo o possível para viver
em paz com todos. Amados, nunca procurem vingar-se, mas deixem com Deus a ira,
pois está escrito: “Minha é a vingança; eu retribuirei”20, diz o Senhor. Ao contrário:
“Se o seu inimigo tiver fome, dê-lhe de comer; se tiver sede, dê-lhe de beber. Fazendo
isso, você amontoará brasas vivas sobre a cabeça dele”21. Não se deixem vencer pelo
mal, mas vençam o mal com o bem." (Rm 12:17~21).
20
Citando Dt 32:35.
21
Citando Pv 25:21,22.