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PROCESSO Nº TST-RR-655-88.2013.5.03.

0007

A C Ó R D Ã O
(4ª Turma)
GMALR/VCS

A) AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO


DE REVISTA INTERPOSTO PELA PRIMEIRA
RECLAMADA (A & C CENTRO DE CONTATOS
S.A.). RECURSO INTERPOSTO DE DECISÃO
PUBLICADA ANTES DA VIGÊNCIA DAS LEIS
13.015/2014 E 13.467/2017.

1. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL. POSSIBILIDADE DE
DECIDIR O MÉRITO FAVORAVELMENTE À
PARTE RECORRENTE. APLICAÇÃO DO ARTIGO
282, § 2º, DO CPC.
Nos termos do disposto no § 2º do
art. 282 do CPC/2015, deixa-se de
analisar a preliminar de nulidade
processual, tendo em vista a
possibilidade de julgamento do mérito
em favor da parte a quem aproveitaria
a decretação de nulidade processual
por negativa de prestação
jurisdicional.

2. TERCEIRIZAÇÃO. TELEMARKETING.
LICITUDE. ADPF Nº 324 E RE Nº
958.252. TESE FIRMADA PELO STF EM
SEDE DE REPERCUSSÃO GERAL. APLICAÇÃO
DA SÚMULA Nº 331 DO TST À LUZ DOS
PRECEDENTES DO STF. PROVIMENTO.
I. O Tribunal de origem entendeu pela
ilicitude da terceirização em relação
às atividades desenvolvidas pela
parte Autora, com consequente
reconhecimento dos benefícios
previstos em normas coletivas
aplicáveis aos empregados da empresa
tomadora de serviços. Esse
entendimento parece divergir da tese
jurídica de caráter vinculante fixada
pelo Supremo Tribunal Federal acerca
da matéria, consolidada em
30/08/2018, com o julgamento do RE nº
958.252 e da ADPF nº 324. Sob esse
enfoque, o recurso de revista merece
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MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
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processamento, por possível violação


do art. 5º, II, da CF. II. Agravo de
instrumento de que se conhece e a que
se dá provimento, para determinar o
processamento do recurso de revista,
observando-se o disposto na Resolução
Administrativa nº 928/2003 do TST.

B) RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELA


PRIMEIRA RECLAMADA (A & C CENTRO DE
CONTATOS S.A.)

1. TERCEIRIZAÇÃO. TELEMARKETING.
LICITUDE. ADPF Nº 324 E RE Nº
958.252. TESE FIRMADA PELO STF EM
SEDE DE REPERCUSSÃO GERAL. APLICAÇÃO
DA SÚMULA Nº 331 DO TST À LUZ DOS
PRECEDENTES DO STF. CONHECIMENTO E
PROVIMENTO.
I. O Supremo Tribunal Federal
reconheceu a repercussão geral em
relação ao tema da terceirização,
cujo deslinde se deu em 30/08/2018,
com o julgamento do RE nº 958.252 e
da ADPF nº 324, de que resultou a
fixação da seguinte tese jurídica de
caráter vinculante: "é lícita a
terceirização ou qualquer outra
forma de divisão do trabalho entre
pessoas jurídicas distintas,
independentemente do objeto social
das empresas envolvidas, mantida a
responsabilidade subsidiária da
empresa contratante". A partir de
então, esse entendimento passou a ser
de aplicação obrigatória aos
processos judiciais em curso em que
se discute a terceirização, impondo-
se, inclusive, a leitura e a
aplicação da Súmula nº 331 do TST à
luz desses precedentes. II. No caso
dos autos, o Tribunal de origem
entendeu pela ilicitude da
terceirização em relação às
atividades desenvolvidas pela parte
Autora, com consequente
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reconhecimento dos benefícios


previstos em normas coletivas
aplicáveis aos empregados da empresa
tomadora de serviços. Esse
entendimento diverge da
jurisprudência atual, notória e de
caráter vinculante do Supremo
Tribunal Federal acerca da matéria,
razão pela o provimento ao recurso de
revista é medida que se impõe. III.
Recurso de revista de que se conhece,
por violação do art. 5º, II, da CF, e
a que se dá provimento.

C) RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELA


SEGUNDA RECLAMADA (CEMIG DISTRIBUIÇÃO
S.A.)

1. Em razão do provimento do recurso


de revista interposto pela primeira
Reclamada (A & C CENTRO DE CONTATOS
S.A.), quanto ao tema
"TERCEIRIZAÇÃO. TELEMARKETING.
LICITUDE. ADPF Nº 324 E RE Nº
958.252. TESE FIRMADA PELO STF EM
SEDE DE REPERCUSSÃO GERAL. APLICAÇÃO
DA SÚMULA Nº 331 DO TST À LUZ DOS
PRECEDENTES DO STF", com
improcedência dos pedidos formulados
na presente ação trabalhista, julga-
se prejudicada a análise integral do
recurso de revista interposto pela
segunda Reclamada (CEMIG DISTRIBUIÇÃO
S.A.).

Vistos, relatados e discutidos estes autos de


Recurso de Revista n° TST-RR-655-88.2013.5.03.0007, em que é
Recorrente e Recorrida A & C CENTRO DE CONTATOS S.A., Recorrente e
Recorrida CEMIG DISTRIBUIÇÃO S.A. e Recorrida NAIA DE CASTRO
VICENTE.

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O Presidente do Tribunal Regional do Trabalho da


3ª Região denegou seguimento ao recurso de revista interposto pela
primeira Reclamada A & C CENTRO DE CONTATOS S.A. (decisão de fls.
758/762), o que ensejou a interposição do presente agravo de
instrumento (fls. 773/782).
A Agravada NAIA DE CASTRO VICENTE apresentou
contraminuta ao agravo de instrumento e contrarrazões ao recurso de
revista (fls. 765/771 e 786/790).
Os autos não foram remetidos ao Ministério Público
do Trabalho.
É o relatório.

V O T O

A) AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA


INTERPOSTO PELA PRIMEIRA RECLAMADA (A & C CENTRO DE CONTATOS S.A.)

1. CONHECIMENTO
Atendidos os pressupostos legais de
admissibilidade do agravo de instrumento, dele conheço.

2. MÉRITO
A decisão denegatória está assim fundamentada:
"RECURSO DE: A & C CENTRO DE CONTATOS S.A.
PRESSUPOSTOS EXTRÍNSECOS
Tempestivo o recurso (decisão publicada em 07/03/2014 - fl. 710;
recurso apresentado em 14/03/2014 - fl. 743).
Regular a representação processual, fls. 560/561.
Satisfeito o preparo (fls. 595, 640 e 641).
PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS
DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO / Recurso /
Transcendência.
Nos termos do art. 896-A da CLT, não compete aos Tribunais
Regionais, mas exclusivamente ao TST, examinar se a causa oferece

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transcendência em relação aos reflexos gerais de natureza econômica,


política, social ou jurídica.
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA/SUBSIDIÁRIA / TOMADOR
DE SERVIÇOS/TERCEIRIZAÇÃO / LICITUDE / ILICITUDE DA
TERCEIRIZAÇÃO.
REMUNERAÇÃO, VERBAS INDENIZATÓRIAS E BENEFÍCIOS /
SALÁRIO/DIFERENÇA SALARIAL / SALÁRIO POR
EQUIPARAÇÃO/ISONOMIA.
SENTENÇA NORMATIVA/CONVENÇÃO E ACORDO
COLETIVOS DE TRABALHO / APLICABILIDADE/CUMPRIMENTO.
Consta do acórdão (fl. 702):
Ressalte-se que os documentos acima mencionados indicam que a
reclamante prestou serviços para a 2ª reclamada, que é a CEMIG,
desempenhando atividade de atendimento aos clientes.
Nesse contexto, considerando as atividades desenvolvidas pela
autora, por meio do telemarketing, não há dúvidas de que a mesma
executou tarefas inerentes à atividade-fim da segunda reclamada.
Entretanto, não há cogitar de nulidade do contrato de trabalho com a
primeira reclamada e reconhecimento do vínculo empregatício direto com
a CEMIG em face da vedação constitucional, pois em se tratando de
sociedade de economia mista, os seus empregados devem ser admitidos
mediante concurso público, requisito não preenchido pela autora.
De qualquer forma, o trabalhador que na CEMIG prestou serviços
relacionados à sua atividade fim tem o direito de receber da empresa
fornecedora da mão-de-obra, sua real empregadora, os benefícios
percebidos pelos empregados da tomadora nas mesmas funções, em
respeito ao princípio da isonomia. Não se pode olvidar também da
proibição contida no art. 7º, XXXII da CF/88, quanto à distinção
laborativa. Salienta-se que até mesmo aos trabalhadores temporários é
assegurado o tratamento igual ao dispensado aos empregados de mesma
categoria da tomadora, nos termos do disposto no art. 12, letra "a" da Lei
nº 6.019/74.
Assim, em conclusão, entendo que a reclamante, mesmo sendo
empregada da 1ª reclamada faz jus aos benefícios previstos nos
instrumentos normativos aplicáveis aos empregados da segunda
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reclamada, para quem prestou serviços de forma exclusiva, em atividade-


fim. (grifos inexistentes no original)
Analisados os fundamentos do acórdão, constato que o recurso, em
seus temas e desdobramentos, não demonstra divergência jurisprudencial
válida e específica, tampouco violação literal e direta de qualquer
dispositivo de lei federal e/ou da Constituição da República, como exigem
as alíneas "a" e "c" do art. 896 da CLT.
A Turma julgadora decidiu em sintonia com a Súmula 331, II, III e
IV, do TST, em ordem a tornar superados os arestos que adotam tese
diversa.
Também não existem as violações apontadas, por não ser razoável
supor que o TST fixasse sua jurisprudência com base em decisões que já
não correspondessem mais a uma compreensão adequada do direito
positivo (§ 4º do art. 896 da CLT e Súmula 333 do TST).
A análise das alegações implicaria reexame de fatos e provas, o que
encontra óbice na Súmula 126 do TST.
A Turma julgadora decidiu em sintonia com a OJ 383 da SBDI-I do
TST, em ordem a tornar superados os arestos que adotam tese diversa.
Também não existem as violações apontadas, por não ser razoável supor
que o TST fixasse sua jurisprudência com base em decisões que já não
correspondessem mais a uma compreensão adequada do direito positivo (§
4º do art. 896 da CLT e Súmula 333 do TST).
CONCLUSÃO
DENEGO seguimento ao recurso de revista" (fls. 758/760).

O agravo de instrumento merece provimento, pelas


seguintes razões:

2.1. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL


A parte Agravante (A & C CENTRO DE CONTATOS S.A.)
insiste no processamento do seu recurso de revista, por violação dos
arts. 5º, § 2º, 93, IX, da CF, 832 da CLT, 165 do CPC.
Argumenta que "não houve uma análise detida da
fundamentação contida no apelo, especialmente, diante da relevância
da matéria discutida nos autos" e que "a ausência de análise das
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alegações e dos fundamentos apresentados pela Recorrente violou o


princípio de que toda a prestação jurisdicional deve ser
fundamentada, conforme as disposições literais contidas nos arts.
93, IX da CF/88, 832 da CLT e 165 do CPC" (fl. 776).
Nos termos do disposto no §2º do art. 282 do
CPC/15, deixa-se de analisar a nulidade processual arguida, tendo em
vista a possibilidade de julgamento de mérito em favor da parte a
quem aproveitaria a decretação de nulidade do acórdão por negativa
de prestação jurisdicional.

2.2. TERCEIRIZAÇÃO. TELEMARKETING. LICITUDE. ADPF


Nº 324 E RE Nº 958.252. TESE FIRMADA PELO STF EM SEDE DE REPERCUSSÃO
GERAL. APLICAÇÃO DA SÚMULA Nº 331 DO TST À LUZ DOS PRECEDENTES DO
STF
A parte Agravante (A & C CENTRO DE CONTATOS S.A.)
insiste no processamento do seu recurso de revista, por violação dos
arts. 1º, IV, 5º, II, 7º, XXXI, XXVI, 8º, III, 37, II, 97, 170 da
CF, contrariedade à Súmula nº 331 do TST, contrariedade à Súmula
Vinculante nº 10 do STF.
Argumenta que "a declaração de ilicitude da
terceirização no presente caso é inconstitucional por violar
diretamente o art. 5º da CF/88, incisos: II, LIV, LV, art. 22, I;
art. 48; inciso XI, art. 49; art. 59; alínea "a", I, art. 96; art
170, caput e parágrafo único, todos da CF/88, mormente porque, como
não há Lei que impeça a terceirização da atividade fim, ao contrário
existe lei que a autoriza, Lei 8.987/97, há inconstitucionalidade,
na aplicação de súmula de jurisprudência uniforme para fundamentar a
condenação" (fl. 780).
Alega que "o serviço prestado pela A&C Centro de
Contatos S/A, ora Agravante, é especializado e não guarda relação
com a atividade-fim da tomadora, concessionária de serviços de
energia elétrica" e que "a A&C e a Cemig são empresas distintas e
cada uma possui atividade fim e objetos sociais completamente
diversos" (fl. 781).

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Afirma, ainda, que a decisão recorrida diverge do


entendimento de outros Tribunais acerca da matéria. Transcreve
arestos para demonstração de divergência jurisprudencial.
Consta do acórdão recorrido:
"As reclamadas não se conformam com a declaração de ilicitude da
terceirização realizada entre ambas e o reconhecimento da isonomia entre a
autora e os empregados da CEMIG, bem como também se insurgem contra
o deferimento dos direitos concedidos por meio dos instrumentos coletivos.
A 2ª reclamada, CEMIG, também pretende o afastamento da sua
responsabilidade subsidiária para com o adimplemento do crédito
trabalhista deferido.
A questão dos autos exige análise minuciosa acerca das atribuições da
reclamante, em prol das reclamadas, bem como dos serviços desenvolvidos
pela empresa que a contratou.
As fichas de registros de empregados (f. 125 e 128), os espelhos de
ponto (f. 1371182) e os demonstrativos de pagamento de f. 1831236
indicam que a reclamante foi admitida em 02.02.2009, na função de
Atendente júnior, e promovida, em 01.03.2009, na função de Atendente
Pleno Setor Elétrico, prestando serviços para a CEMIG.
O fenômeno da terceirização consiste em transferir para outrem
atividades consideradas secundárias, ou seja, de suporte, atendo-se a
empresa à sua atividade-fim. Nesse sentido, tem-se que a terceirização não
é uma prática ilegal, por si só, mas terceirizar desvirtuando a correta
formação do vínculo empregatício, contratando mão-de-obra por meio de
empresas interpostas para o desempenho de atividade essencial, conduz à
exacerbação do desequilíbrio entre o capital e o trabalho.
Nesta linha de raciocínio, as denominadas terceirizações lícitas estão
claramente definidas, enquadrando-se em quatro grupos de situações sócio-
jurídicas delimitadas, ou seja, situações empresariais que autorizam a
contratação de trabalho temporário (expressamente especificadas pela Lei
6019/74), atividades de vigilância (regidas pela Lei 7102/83), atividades de
conservação e limpeza e serviços especializados ligados à atividade meio
do tomador.
Assim, à exceção destas atividades, a contratação de trabalhadores
por empresa interposta é ilegal, formando-se o vínculo diretamente com o
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tomador de serviços, porquanto não se admite que a mão-de-obra seja


explorada por um terceiro intermediário como se fosse mercadoria.
Leciona o professor Maurício Godinho Delgado, em sua obra Curso
de Direito do Trabalho 7ª edição, 2008 LTr, página 442, que:
[ ... ] Atividades-fim podem ser conceituadas como as
funções e tarefas empresariais que se ajustam ao núcleo da
dinâmica empresarial do tomador dos serviços, compondo a
essência dessa dinâmica e contribuindo inclusive para a
definição de seu posicionamento e classificação no contexto
empresarial e econômico. São, portanto, atividades nucleares e
definitórias da essência da dinâmica empresarial do tomador de
serviço.
Ressalte-se que os documentos acima mencionados indicam que a
reclamante prestou serviços para a 2ª reclamada, que é a CEMIG,
desempenhando atividade de atendimento aos clientes.
Nesse contexto, considerando as atividades desenvolvidas pela
autora, por meio do telemarketing, não há dúvidas de que a mesma
executou tarefas inerentes à atividade-fim da segunda reclamada.
Entretanto, não há cogitar de nulidade do contrato de trabalho com a
primeira reclamada e reconhecimento do vínculo empregatício direto com a
CEMIG em face da vedação constitucional, pois em se tratando de
sociedade de economia mista, os seus empregados devem ser admitidos
mediante concurso público, requisito não preenchido pela autora.
De qualquer forma, o trabalhador que na CEMIG prestou serviços
relacionados à sua atividade fim tem o direito de receber da empresa
fornecedora da mão-de-obra, sua real empregadora, os benefícios
percebidos pelos empregados da tomadora nas mesmas funções, em
respeito ao princípio da isonomia. Não se pode olvidar também da
proibição contida no art. 7º, XXXII da CF/88, quanto à distinção laborativa.
Salienta-se que até mesmo aos trabalhadores temporários é assegurado o
tratamento igual ao dispensado aos empregados de mesma categoria da
tomadora, nos termos do disposto no art. 12, letra "a" da Lei nº 6.019/74.
Assim, em conclusão, entendo que a reclamante, mesmo sendo
empregada da 1ª reclamada faz jus aos benefícios previstos nos
instrumentos normativos aplicáveis aos empregados da segunda reclamada,
para quem prestou serviços de forma exclusiva, em atividade-fim.

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No que se refere à responsabilidade da 2ª reclamada, é incontroverso


o fato de que foi ela é a beneficiária dos serviços prestados pela reclamante,
mediante terceirização ilícita, que atividade essencial ou atividade-fim,
consistente no atendimento de seus clientes em linha própria, sendo que os
serviços da reclamante lhe foram integralmente direcionados, como ficou
claro das provas carreadas.
Assim, diante da fraude havida no caso - art. 9º/CLT - tratando-se a
hipótese de terceirização envolvendo atividade-fim do tomador de serviços,
o que, a princípio, estabeleceria com ele o vínculo empregatício, o que não
pode ser acatado por se tratar de empresa integrante da Administração
Pública Indireta, diante da vedação contida no inciso II da Súmula
331/TST, de acordo com o que dispõe o art. 942 do CCB, entendo que a
responsabilidade a ser atribuída à CEMIG no caso é a solidária e não
apenas a subsidiária prevista no inciso IV do enunciado já citado, conforme
foi deferido em 1º grau. Entretanto, a despeito desse entendimento, ele não
pode prevalecer no caso, eis que a r. sentença impôs à CEMIG a
responsabilização subsidiária, não havendo recurso da reclamante no
aspecto.
Não se aplica ao caso o disposto no art. 71 da Lei n. 8.666/93, que
trata da responsabilidade da Administração Pública nas hipóteses de
terceirizações lícitas, o que não é o caso.
Na hipótese, deveria ser declarada a responsabilidade solidária à 2ª
reclamada, com base no art. 942 CCB, que impõe essa responsabilidade aos
autores do dano, que, no caso, foram ambas as reclamadas, participando de
terceirização de atividade-fim, o que é vedado pela Súmula 331/TST,
causando lesão a direito da autora, respondendo ambas pela reparação da
mesma. No entanto, como acima registrado, não houve recurso da autora
em relação a esse ponto, razão pela qual deve ser mantida a r. sentença que
declarou a responsabilidade subsidiária.
Registre-se, ainda, ser inaplicável ao caso o disposto na Súmula
Vinculante nº 10 e ao ADC n. 16, pois a 2ª reclamada participou
efetivamente da fraude (art. 9 2/CLT), na medida em que contratou empresa
terceira para prestação de serviços inseridos na sua atividade-fim
(atendimento aos clientes) o que não poderia ocorrer. Assim, aplicar-se-ia
ao caso, como acima exposto, o art. 942/CCB, autorizando sua
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responsabilização solidária, que é inclusive mais abrangente que a de corte


subsidiário, como foi deferido pela condenação aqui imposta à segunda
reclamada.
Note-se ser irrelevante a discussão acerca de culpa in eligendo e in
vigilando, pois o objetivo da 2ª reclamada, desde o primeiro momento foi o
de terceirizar atividade-fim, colocando uma empresa interposta entre o
trabalhador e ela própria, com o fim de obstaculizar a aplicação dos arts. 2º
e 3º/CLT, em clara fraude (art. 9º/CLT). Ou seja, o desrespeito aos direitos
da reclamante teve origem em ato conjunto da primeira e também da
segunda reclamada.
Nem mesmo o fato de a 1ª reclamada ter várias empresas como
clientes, conforme alegação inserida à f. 456-v1457, afasta a terceirização
ilícita, pois está demonstrado nos autos que a autora prestou serviços
exclusivos no atendimento dos clientes da CEMIG. Serviço este
desenvolvido em área afeta à atividade-fim da empresa.
Por fim, o fato de a reclamante não ter prestado concurso público
impede o reconhecimento do vínculo empregatício direto com a CEMIG,
mas não constitui obstáculo à aplicação do princípio da isonomia no que diz
respeito aos direitos trabalhistas a ela assegurados.
Registre-se, ainda, que a reclamante não requereu equiparação salarial
nos moldes do art. 461 da CLT, mas enquadramento em uma categoria
profissional determinada e consequente tratamento isonômico. Não há
cogitar tampouco de desrespeito ao disposto no art. 611/CLT, pois o vínculo
empregatício apenas não está sendo estabelecido de forma direta com a 2ª
reclamada, em face da vedação constitucional contida no art. 37, II, da
CF/88. Entretanto, tal vedação não impede seja aplicado à obreira o
tratamento isonômico, eis que trabalhou em atividade-fim da segunda ré.
Pelos mesmos fundamentos, não há cogitar de violação ao inciso XXVI do
art. 7/CF, bem como ao inciso VI do art. 8 9/CF e tampouco à súmula
374/TST.
O só fato de não haver na 2ª reclamada empregado exercendo as
mesmas atribuições da reclamante não impede o tratamento isonômico
postulado, pois pleiteia ela o piso salarial assegurado aos empregados da
CEMIG, o que é juridicamente possível a partir dos instrumentos
normativos acostados aos autos.
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Assim, a autora faz jus aos mesmos direitos e salários previstos nos
instrumentos normativos aplicáveis à 2ª reclamada, conforme deferido em
1º grau.
Nego provimento" (fls. 700/704).

Como se observa, a Corte Regional entendeu pela


ilicitude da terceirização em relação às atividades desenvolvidas
pela parte Autora, com consequente reconhecimento dos benefícios
previstos em normas coletivas aplicáveis aos empregados da empresa
tomadora de serviços.
Esse entendimento parece divergir da tese jurídica
de caráter vinculante fixada pelo Supremo Tribunal Federal acerca da
matéria, consolidada em 30/08/2018, com o julgamento do RE nº
958.252 e da ADPF nº 324, assim estabelecida: "é lícita a
terceirização ou qualquer outra forma de divisão do trabalho entre
pessoas jurídicas distintas, independentemente do objeto social das
empresas envolvidas, mantida a responsabilidade subsidiária da
empresa contratante".
Há de se ressaltar que, fixada a tese pela Suprema
Corte em matéria de repercussão geral, sua aplicação passa a ser
obrigatória aos processos judiciais em curso em que se discute a
terceirização, impondo-se, inclusive, a leitura e a aplicação da
Súmula nº 331 do TST à luz desses precedentes.
Sob esse enfoque, o recurso de revista merece
processamento, por possível violação do art. 5º, II, da CF.
Diante do exposto, dou provimento ao agravo de
instrumento interposto pela primeira Reclamada (A & C CENTRO DE
CONTATOS S.A.), para determinar o processamento do seu recurso de
revista, observando-se o disposto na Resolução Administrativa nº
928/2003 do TST.

B) RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELA PRIMEIRA


RECLAMADA (A & C CENTRO DE CONTATOS S.A.)

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O recurso de revista é tempestivo, está subscrito


por advogado regularmente constituído e cumpre os demais
pressupostos extrínsecos de admissibilidade.

1.1. TERCEIRIZAÇÃO. TELEMARKETING. LICITUDE. ADPF


Nº 324 E RE Nº 958.252. TESE FIRMADA PELO STF EM SEDE DE REPERCUSSÃO
GERAL. APLICAÇÃO DA SÚMULA Nº 331 DO TST À LUZ DOS PRECEDENTES DO
STF
Pelas razões já consignadas por ocasião do
julgamento e provimento do agravo de instrumento, conheço do recurso
de revista, por violação do art. 5º, II, da CF.

2. MÉRITO

2.1. TERCEIRIZAÇÃO. TELEMARKETING. LICITUDE. ADPF


Nº 324 E RE Nº 958.252. TESE FIRMADA PELO STF EM SEDE DE REPERCUSSÃO
GERAL. APLICAÇÃO DA SÚMULA Nº 331 DO TST À LUZ DOS PRECEDENTES DO
STF
Discute-se a licitude da terceirização em relação
às atividades desenvolvidas pela parte Autora.
O modelo de contratação de força de trabalho
privilegiado na Consolidação das Leis do Trabalho foi o da
contratação direta e por prazo indeterminado. Mesmo a contratação
direta por prazo determinado deve observar os pressupostos
excepcionais previstos no § 2º do art. 443 da CLT. Contudo, a
dinâmica do mercado produtivo demandou novas formas de contratação,
surgindo a intermediação de mão-de-obra prevista na Lei nº 6.019, de
03/01/1974, para atender substituição transitória de pessoal regular
ou para atender acréscimo extraordinário de serviço. Neste caso, a
inserção do trabalhador temporário estava autorizada em qualquer
atividade da empresa, sem distinção de ser meio ou fim.
Com o desenvolvimento da tecnologia e a competição
econômica internacional surgida com a globalização, houve a
necessidade de adaptação da atividade econômica, com a adoção de

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PROCESSO Nº TST-RR-655-88.2013.5.03.0007

modelos de produção descentralizados, seja pela terceirização de


produção, seja pela terceirização de serviços.
A Lei nº 7.102, de 20/06/1983, autorizou a
terceirização da atividade especializada de segurança nos
estabelecimentos financeiros. Quanto a esta última forma de
terceirização, o Tribunal Superior do Trabalho editou primeiramente
a Súmula nº 256, restringindo a contração por interposta empresa
somente aos casos das Leis nºs 6.019 e 7.102. Mais recentemente, a
jurisprudência desta Corte Superior se sedimentou no sentido de
reconhecer a licitude da terceirização quanto à atividade-meio das
empresas contratantes, como se observa da redação da Súmula nº 331:
"CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. LEGALIDADE
(nova redação do item IV e inseridos os itens V e VI à redação) - Res.
174/2011, DEJT divulgado em 27, 30 e 31.05.2011
I - A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal,
formando-se o vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no
caso de trabalho temporário (Lei nº 6.019, de 03.01.1974).
[...]
III - Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de
serviços de vigilância (Lei nº 7.102, de 20.06.1983) e de conservação e
limpeza, bem como a de serviços especializados ligados à atividade-meio
do tomador, desde que inexistente a pessoalidade e a subordinação direta.
IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do
empregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos
serviços quanto àquelas obrigações, desde que haja participado da relação
processual e conste também do título executivo judicial.
[...]".

Por sua vez, o Supremo Tribunal Federal firmou


entendimento quanto à inaplicabilidade da responsabilidade
subsidiária quando o tomador de serviço for a Administração Pública,
declarando constitucional o art. 71 da Lei de Licitações (Lei nº.
8.666, de 21/06/1993), manifestando-se sobre o tema da
terceirização:

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PROCESSO Nº TST-RR-655-88.2013.5.03.0007

"RECURSO EXTRAORDINÁRIO REPRESENTATIVO DE


CONTROVÉRSIA COM REPERCUSSÃO GERAL. DIREITO
CONSTITUCIONAL. DIREITO DO TRABALHO. TERCEIRIZAÇÃO
NO ÂMBITO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. SÚMULA 331, IV E V,
DO TST. CONSTITUCIONALIDADE DO ART. 71, § 1º, DA LEI Nº
8.666/93. TERCEIRIZAÇÃO COMO MECANISMO ESSENCIAL PARA
A PRESERVAÇÃO DE POSTOS DE TRABALHO E ATENDIMENTO
DAS DEMANDAS DOS CIDADÃOS. HISTÓRICO CIENTÍFICO.
LITERATURA: ECONOMIA E ADMINISTRAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE
PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO HUMANO. RESPEITO ÀS
ESCOLHAS LEGÍTIMAS DO LEGISLADOR. PRECEDENTE: ADC 16.
EFEITOS VINCULANTES. RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO
E PROVIDO. FIXAÇÃO DE TESE PARA APLICAÇÃO EM CASOS
SEMELHANTES.
1. A dicotomia entre "atividade-fim" e "atividade-meio" é
imprecisa, artificial e ignora a dinâmica da economia moderna,
caracterizada pela especialização e divisão de tarefas com vistas à maior
eficiência possível, de modo que frequentemente o produto ou serviço final
comercializado por uma entidade comercial é fabricado ou prestado por
agente distinto, sendo também comum a mutação constante do objeto social
das empresas para atender a necessidades da sociedade, como revelam as
mais valiosas empresas do mundo. É que a doutrina no campo econômico é
uníssona no sentido de que as "Firmas mudaram o escopo de suas
atividades, tipicamente reconcentrando em seus negócios principais e
terceirizando muitas das atividades que previamente consideravam como
centrais" (ROBERTS, John. The Modern Firm: Organizational Design for
Performance and Growth. Oxford: Oxford University Press, 2007).
2. A cisão de atividades entre pessoas jurídicas distintas não revela
qualquer intuito fraudulento, consubstanciando estratégia, garantida pelos
artigos 1º, IV, e 170 da Constituição brasileira, de configuração das
empresas, incorporada à Administração Pública por imperativo de
eficiência (art. 37, caput, CRFB), para fazer frente às exigências dos
consumidores e cidadãos em geral, justamente porque a perda de eficiência
representa ameaça à sobrevivência da empresa e ao emprego dos
trabalhadores.
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PROCESSO Nº TST-RR-655-88.2013.5.03.0007

3. Histórico científico: Ronald H. Coase, "The Nature of The Firm",


Economica (new series), Vol. 4, Issue 16, p. 386-405, 1937. O objetivo de
uma organização empresarial é o de reproduzir a distribuição de fatores sob
competição atomística dentro da firma, apenas fazendo sentido a produção
de um bem ou serviço internamente em sua estrutura quando os custos
disso não ultrapassarem os custos de obtenção perante terceiros no
mercado, estes denominados "custos de transação", método segundo o qual
firma e sociedade desfrutam de maior produção e menor desperdício.
4. A Teoria da Administração qualifica a terceirização (outsourcing)
como modelo organizacional de desintegração vertical, destinado ao
alcance de ganhos de performance por meio da transferência para outros do
fornecimento de bens e serviços anteriormente providos pela própria firma,
a fim de que esta se concentre somente naquelas atividades em que pode
gerar o maior valor, adotando a função de "arquiteto vertical" ou
"organizador da cadeia de valor".
5. A terceirização apresenta os seguintes benefícios: (i)
aprimoramento de tarefas pelo aprendizado especializado; (ii) economias de
escala e de escopo; (iii) redução da complexidade organizacional; (iv)
redução de problemas de cálculo e atribuição, facilitando a provisão de
incentivos mais fortes a empregados; (v) precificação mais precisa de
custos e maior transparência; (vi) estímulo à competição de fornecedores
externos; (vii) maior facilidade de adaptação a necessidades de
modificações estruturais; (viii) eliminação de problemas de possíveis
excessos de produção; (ix) maior eficiência pelo fim de subsídios cruzados
entre departamentos com desempenhos diferentes; (x) redução dos custos
iniciais de entrada no mercado, facilitando o surgimento de novos
concorrentes; (xi) superação de eventuais limitações de acesso a tecnologias
ou matérias-primas; (xii) menor alavancagem operacional, diminuindo a
exposição da companhia a riscos e oscilações de balanço, pela redução de
seus custos fixos; (xiii) maior flexibilidade para adaptação ao mercado;
(xiii) não comprometimento de recursos que poderiam ser utilizados em
setores estratégicos; (xiv) diminuição da possibilidade de falhas de um setor
se comunicarem a outros; e (xv) melhor adaptação a diferentes
requerimentos de administração, know-how e estrutura, para setores e
atividades distintas.
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6. A Administração Pública, pautada pelo dever de eficiência (art. 37,


caput, da Constituição), deve empregar as soluções de mercado adequadas à
prestação de serviços de excelência à população com os recursos
disponíveis, mormente quando demonstrado, pela teoria e pela prática
internacional, que a terceirização não importa precarização às condições
dos trabalhadores.
7. O art. 71, § 1º, da Lei nº 8.666/93, ao definir que a inadimplência
do contratado, com referência aos encargos trabalhistas, não transfere à
Administração Pública a responsabilidade por seu pagamento, representa
legítima escolha do legislador, máxime porque a Lei nº 9.032/95 incluiu no
dispositivo exceção à regra de não responsabilização com referência a
encargos trabalhistas.
8. Constitucionalidade do art. 71, § 1º, da Lei nº 8.666/93 já
reconhecida por esta Corte em caráter erga omnes e vinculante: ADC 16,
Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, Tribunal Pleno, julgado em 24/11/2010.
9. Recurso Extraordinário parcialmente conhecido e, na parte
admitida, julgado procedente para fixar a seguinte tese para casos
semelhantes: "O inadimplemento dos encargos trabalhistas dos empregados
do contratado não transfere automaticamente ao Poder Público contratante a
responsabilidade pelo seu pagamento, seja em caráter solidário ou
subsidiário, nos termos do art. 71, § 1º, da Lei nº 8.666/93" (STF- RE
nº 760.931/DF, Redator Ministro Luiz Fux, julgado
em 30/03/2017) (destaques nossos).

Ainda, o STF reconheceu repercussão geral em dois


temas referentes à terceirização, apontando para possível violação
inclusive do princípio da legalidade, inserto no art. 5º, II, da CF.
São eles:
"a) Tema 725 - Terceirização de serviços para a consecução da
atividade-fim da empresa: Recurso extraordinário em que se discute, à luz
dos arts. 2º, 5º, II, XXXVI, LIV e LV e 97 da Constituição federal, a
licitude da contratação de mão-de-obra terceirizada, para prestação de
serviços relacionados com a atividade-fim da empresa tomadora de
serviços, haja vista o que dispõe a Súmula 331 do Tribunal Superior do

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PROCESSO Nº TST-RR-655-88.2013.5.03.0007

Trabalho e o alcance da liberdade de contratar na esfera trabalhista (Rel.


Min. Luiz Fux, no RE 958252);

b) Tema 739 - Possibilidade de recusa de aplicação do art. 94, II,


da Lei 9.472/1997 em razão da invocação da Súmula 331 do Tribunal
Superior do Trabalho, sem observância da regra de reserva de
plenário. Recurso extraordinário em que se discute, à luz da Súmula
Vinculante 10 e dos arts. 5º, II e LIV; 97; 170, III, e 175 da Constituição
Federal, a possibilidade de utilização da Súmula 331 do Tribunal Superior
do Trabalho para se reconhecer vínculo empregatício entre trabalhador
terceirizado e empresa concessionária de serviços de telecomunicação,
afastando-se a aplicação do art. 94, II, da Lei Federal 9.472/1997, sem
observância da cláusula de reserva de plenário (Rel. Min. Alexandre de
Moraes, no ARE 791932)".

Com efeito, a legislação atinente às concessões de


serviços públicos em geral (Lei nº 8.987/95) e de telecomunicações
em especial (Lei nº 9.472/97) é clara ao dispor:
"Art. 25. Incumbe à concessionária a execução do serviço concedido,
cabendo-lhe responder por todos os prejuízos causados ao poder
concedente, aos usuários ou a terceiros, sem que a fiscalização exercida
pelo órgão competente exclua ou atenue essa responsabilidade.
§ 1º Sem prejuízo da responsabilidade a que se refere este artigo, a
concessionária poderá contratar com terceiros o desenvolvimento de
atividades inerentes, acessórias ou complementares ao serviço
concedido, bem como a implementação de projetos associados" (Lei
8.987/95, destaques nossos).

Art. 94. No cumprimento de seus deveres, a concessionária poderá,


observadas as condições e limites estabelecidos pela Agência:
[...]
II - contratar com terceiros o desenvolvimento de atividades
inerentes, acessórias ou complementares ao serviço, bem como a
implementação de projetos associados" (Lei 9.472/1997,
destaques nossos).
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PROCESSO Nº TST-RR-655-88.2013.5.03.0007

Cabe registrar que o Supremo Tribunal voltou a


sinalizar quanto à legalidade da terceirização de atividades-fim ao
tratar da questão do setor de transporte rodoviário, como se observa
do seguinte julgado:
"DIREITO DO TRABALHO. MEDIDA CAUTELAR EM AÇÃO
DECLARATÓRIA DA CONSTITUCIONALIDADE. TRANSPORTE
RODOVIÁRIO DE CARGAS. TERCEIRIZAÇÃO DA ATIVIDADE-FIM.
MEDIDA CAUTELAR DEFERIDA.
1. A Lei nº 11.442/2007 (i) regulamentou a contratação de
transportadores autônomos de carga por proprietários de carga e por
empresas transportadoras de carga; (ii) autorizou a terceirização da
atividade-fim pelas empresas transportadoras; e (iii) afastou a configuração
de vínculo de emprego nessa hipótese. 2. É legítima a terceirização das
atividades-fim de uma empresa. A Constituição Federal não impõe uma
única forma de estruturar a produção. Ao contrário, o princípio
constitucional da livre iniciativa garante aos agentes econômicos
liberdade para eleger suas estratégias empresariais dentro do marco
vigente (CF/1988, art. 170). 3. A proteção constitucional ao trabalho não
impõe que toda e qualquer prestação remunerada de serviços configure
relação de emprego (CF/1988, art. 7º). 4. A persistência de decisões
judiciais contraditórias, após tantos anos de vigência da Lei
11.442/2007, reforça a presença de perigo de dano de difícil reparação e
gera grave insegurança jurídica, em prejuízo a todas as partes que integram
a relação contratual de transporte autônomo de carga. 5. Verossimilhança do
direito e perigo da demora demonstrados. Medida cautelar deferida" (ADC
48 MC/DF, Relator Ministro Roberto Barroso,
liminar deferida em 19/12/2017) (destaques
nossos).

Ao apreciar e julgar o Tema nº 725 da Tabela de


Repercussão Geral, no RE nº 958.252 (Relator Ministro Luiz Fux),
conjuntamente com a ADPF nº 324 (Relator Ministro Roberto Barroso)
sobre o mesmo tema, o Pretório Excelso fixou a seguinte tese

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jurídica, em 30/08/2018, com efeito vinculante para todo o Poder


Judiciário:
"É lícita a terceirização ou qualquer outra forma de divisão do
trabalho entre pessoas jurídicas distintas, independentemente do objeto
social das empresas envolvidas, mantida a responsabilidade subsidiária da
empresa contratante" (grifos nossos).

Assim, a partir de 30/08/2018, esse entendimento


passou a ser de aplicação obrigatória aos processos judiciais em
curso em que se discute a terceirização, fundada na ideia de que a
Constituição Federal não estabelece uma única forma de contratação
de atividade, podendo ser direta ou por interposta empresa, na
atividade-meio ou na atividade-fim. À luz desses precedentes,
reitere-se, de caráter vinculante, impõe-se a leitura e a aplicação
da Súmula nº 331 do TST, inclusive aos processos pendentes de
julgamento, como o caso dos autos.
Cabe ainda ressaltar que a jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de que, para efeito de
aplicação da sistemática da repercussão geral e consequente
observância da orientação estabelecida, não é necessário aguardar o
trânsito em julgado do acórdão paradigma. Nesse sentido:
"Agravo regimental em recurso extraordinário. 2. Direito Processual
Civil. 3. Insurgência quanto à aplicação de entendimento firmado em sede
de repercussão geral. Desnecessidade de se aguardar a publicação da
decisão ou o trânsito em julgado do paradigma. Precedentes. 4. Ausência de
argumentos capazes de infirmar a decisão agravada. 5. Negativa de
provimento ao agravo regimental" (RE 1.129.931-AgR, Rel.
Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJe de
24/8/2018).

"DIREITO TRIBUTÁRIO. AGRAVO INTERNO EM RECURSO


EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. SISTEMÁTICA.
APLICAÇÃO. PENDÊNCIA DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO
PARADIGMA. IRRELEVÂNCIA. JULGAMENTO IMEDIATO DA
CAUSA. PRECEDENTES. 1. A existência de decisão de mérito julgada
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sob a sistemática da repercussão geral autoriza o julgamento imediato de


causas que versarem sobre o mesmo tema, independente do trânsito em
julgado do paradigma. Precedentes. [...]. 3. Agravo interno a que se nega
provimento, com aplicação da multa prevista no art. 1.021, § 4º, do
CPC/2015" (RE 1.112.500-AgR, Rel. Min. Roberto
Barroso, Primeira Turma, DJe de 10/8/2018).

Na hipótese, o Tribunal de origem entendeu pela


ilicitude da terceirização em relação às atividades desenvolvidas
pela parte Autora, com consequente reconhecimento dos benefícios
previstos em normas coletivas aplicáveis aos empregados da empresa
tomadora de serviços (CEMIG DISTRIBUIÇÃO S.A.).
Esse entendimento diverge da jurisprudência atual,
notória e de caráter vinculante do Supremo Tribunal Federal acerca
da matéria, razão pela qual o provimento ao recurso de revista é
medida que se impõe.
Nesses termos, dou provimento ao recurso de
revista interposto pela primeira Reclamada (A & C CENTRO DE CONTATOS
S.A.), para afastar a ilicitude da terceirização.
Em consequência do provimento do recurso quanto a
ilicitude da terceirização, dou provimento ao apelo para afastar a
condenação ao pagamento das parcelas estipuladas nas normas
coletivas aplicáveis à categoria dos empregados da concessionária
pública tomadora de serviços (CEMIG DISTRIBUIÇÃO S.A.).
Tendo em vista que a condenação teve por objeto os
direitos decorrentes do enquadramento da Reclamante na categoria dos
empregados da concessionária pública tomadora de serviços (CEMIG
DISTRIBUIÇÃO S.A.), ora afastado, julgo improcedentes os pedidos
formulados na presente ação trabalhista.

C) RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELA SEGUNDA


RECLAMADA (CEMIG DISTRIBUIÇÃO S.A.)
Em razão do provimento do recurso de revista
interposto pela primeira Reclamada (A & C CENTRO DE CONTATOS S.A.),
quanto ao tema "TERCEIRIZAÇÃO. TELEMARKETING. LICITUDE. ADPF Nº 324
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E RE Nº 958.252. TESE FIRMADA PELO STF EM SEDE DE REPERCUSSÃO GERAL.


APLICAÇÃO DA SÚMULA Nº 331 DO TST À LUZ DOS PRECEDENTES DO STF", com
improcedência dos pedidos formulados na presente ação trabalhista,
julga-se prejudicada a análise integral do recurso de revista
interposto pela segunda Reclamada (CEMIG DISTRIBUIÇÃO S.A.).

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Quarta Turma do Tribunal


Superior do Trabalho, à unanimidade:
(a) conhecer do agravo de instrumento e, no
mérito, dar-lhe provimento para determinar o processamento do
recurso de revista, nos termos da Resolução Administrativa nº
928/2003 do TST;
(b) conhecer do recurso de revista interposto pela
primeira Reclamada (A & C CENTRO DE CONTATOS S.A.) quanto ao tema
"TERCEIRIZAÇÃO. CALL CENTER. LICITUDE. ADPF Nº 324 E RE Nº 958.252.
TESE FIRMADA PELO STF EM SEDE DE REPERCUSSÃO GERAL. APLICAÇÃO DA
SÚMULA Nº 331 DO TST À LUZ DOS PRECEDENTES DO STF", por violação do
art. 5º, II, da CF e, no mérito, dar-lhe provimento, para (b1)
afastar a ilicitude da terceirização, (b2) afastar a condenação ao
pagamento das parcelas estipuladas nas normas coletivas aplicáveis à
categoria dos empregados da concessionária pública tomadora de
serviços (CEMIG DISTRIBUIÇÃO S.A.), (b3) julgar improcedentes os
pedidos formulados na presente ação trabalhista;
(c)  julgar prejudicada a análise integral do
recurso de revista interposto pela segunda Reclamada (CEMIG
DISTRIBUIÇÃO S.A.).
Custas   processuais   atribuídas   à   Reclamante,   no
valor de R$ 1.000,00 (um mil reais), calculadas à razão de 2% (dois
por cento) sobre o valor atribuído à causa na petição inicial, de R$
50.000,00   (cinquenta   mil   reais),   de   cujo   recolhimento   está
dispensada por ser beneficiária da justiça gratuita (sentença, fl.
594).
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PROCESSO Nº TST-RR-655-88.2013.5.03.0007

Brasília, 14 de novembro de 2018.

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ALEXANDRE LUIZ RAMOS
Ministro Relator

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