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Projeto

PERGUNIE
E
RESPONDEREMOS
ON-LlNE

Apostolado Veritatis Splendor


com autorização de
Dom Estêvão Tavares Bettencourt, osb
(in mamorlam)
APRESENTAÇÃO
DA EDiÇÃO ON-LlNE
Diz sao Pedro que de....emos
estar preparados para dar a razao da
nossa esperança a todo aquele que no·/a
pedir (1 Pe<lro 3,15).
Esta RêC8ssidade de darmos
conta da nossa esperança e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
., .. '
o' . ' •.
visto Que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrárias à: fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa Clença católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.
Eis o que neste sHe Pergunte e
Responderemos propOe aos seus leitores:
aborda questões da atualidade
controvertidas, elucidando·as do ponlo de
vista cristão a fim de que as dúvidas se
.' dissipem e a vivência católica se fortaleça
_ I . no Brasil e no mundo. Queira Deus
abençoar este trabalho assim como a
equipe de Verltatis Splendor que se
encarrega do respectivo s~e .
Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.
Ptt. E.fevlo Senencourf. OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convênio com d. Estevão Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico . filosófica "Pergunte e
Responderemos~, que conta com mais de 40 anos de publicação.

A d. Estêvão Bettencourt agradecemos a confiaça


depositada em nosso trabalho, bem como pela generQsidade e
zaio pastoral assim demonstrados.
Sumário

FINALMENTE PUEBLA I ... .. . ... •. .• • ...•... • .. • .. .• . . • .. 89

Quem '5 tu, Ó I10mtm ?


O HOMEM ... PURO MACACO 91

Fan.Usmo em nONo. dia:


E O SU1CIDIO COLETIVO NA GUIANA ? 100

Mel, um. vez em 'oco :


E A VIRGINDADE DE MARIA ? 113

AIUI810 cios crlalioa:


A QUANTAS VAIO ECUMENISMO HOJE 1 117

LIVROS EM ESTANTE . . .... . . . .. . . .......... . ., .. 131

COM. APAOVAÇAO ECLEBliSTlCA

• • •
NO PRóXIMO NOMERO :

" Conversas com um gorila": os animais têm Inteligência?


- Médicos, psicó logos e teólOgos discutem o transexual lsmo.
- BénçJo para uniões não malrimonla ls.

« PERGUNTE E RESPONDEREMOS .

Direção e Rcd~o de Estêvão Bettencourt. O . S .B .


Assinatura anual ............... , .......... . Cr$ 180,00
Número avulso de qualquer mês Cr$ 18,00
ADMINIS TRAÇAO
REDAÇAO DE PR Llvrnl'la. l'tllsslonAr1a. Edlton
Cal"" Postal 2.888
R"a i\lérleo, lQ8.B (CUtelo)
ZO .Ul Rio de JlUtelro (RJ)
20 . 008 RIo de Janeiro (UJ) Tel. : 22UI0!i9
FINALMENTE, PUEBLA!
Encerrou·se aos 12/02/79 a m Assembléia do Episco·
pado Latino-americano reunido em Puebla de los Angeles
(México). Assim como houve grande expectativa em tomo
dessa reunião, há atualmente variados comentários S()bre o
significado da mesma. - Notemos, porém, que qualquer' refle·
xão sobre a mensagem de Puebla supõe a publicação do res·
pectivo documentArlo. ... publicação que ainda depende da
:'aprovação final do S. Padre João Paulo n. Como quer que
seja, podemos, de fonte limpa, transmitir aos nossos leitores
algwnas linhas-mestras da mensagem de Puebla.
1. A palavra do Papa João Paulo TI proferida aos
21/ 01/79 na abertura da Assembléia teve caráter programá.
tico; afastando posições extremadas. o Sumo Pontiflce apon-
tou tris principais temas ao estudo dos bispos reunidos:
Cristo, a Igreja e o homem.
a) Oristo; não um Cristo meramente humano, arauto
de teses politlcas. mas o Crislo que é Deus feito homem para
levar os homens à plena comunhão com Deus.
b) A Igreja: não mêra. sociedade de pessoas dispostas
a construir um Reino de Deus terrestre, mas realidade divino-
-humana instituida por Cristo para ammciar aos povos a Boa-
-Nova em toda a sua amplidão.
c) O homem ... A Assembléia de Puebln pode ser carne-
Icrl7.lldn como um debruçar-se pastoral dos bispos sobre a
condição do homem no continente latino-americano. As mais
variadas situações lanlo dos habitantes dos campos, das este-
pes, das cordilheiras e das f1ol'êStas, ~mo dos moradons das
gigantescas cidndes foram consideradas com profundo cari-
nho. Ao ver multidões em condlcôes de vida Infra·humana, os
bispos repetiram as palavras de Cristo: cTenho compaixão
dessa mulUddo, ... pois não têm o que comer» (Me 8,25).
Todavia a perspectiva dos nossos pastores não foi meramente
econõmica, sociológica ou polltlca, mas, sim, evangêlica: levou
em conta, Bntes do mais, os critérios da fé. Esta denuncia QS
injustiças e o pecado de maneira decidida, e chama lodos os
homens â conversão. Reduzir o Evangelho a instrumento de
revolução social seria trair o Senhor.
O documentário de Puebla multo Insistiu na dignidade
do homem - tema hoje amplamente apregoado. A digni-
dade do homem, porém, para o cristão, está vinculada ao
mistério do homem. .. Ora mist-érlo difere de
blema ê um sistema que encontra a sua
reto equacionamento dos seus
mistério é um !;!stema que só tem

-89-
em valorc5 transccndentnl5 ou em Deus. Isto quer dizer que
qualquer tese que reduza o homem a mero preblema, não
levando em conta o seu aspecto de mistério e transcendência,
renega o próprio homem_
A Igreja em Puebla quis optar de preferência pelos
pobres. Esta palavra, na Intenção dos bispos, tem acepçlo
ampla. Pobres são todos quantos se acham "longe da Boa-
-Nova; neste contexto, a pobreza mais radical é o pecado, . . .
pecado que inr~lizmcntc ocorre na rcaJidadt! de todos os ho-
mens, independt!-ntcrnente da sua classe social; pobre, portanto,
é a pessoa (Irogada, que tem o scu semblante desflgurado
pelo vício; pobre é 8 criança abandonada não tem pai nc:n
mãe para defendê-Ia; pobre é o médico que ganha dinheiro
praticando o aborto; pobre é o funcionário público que se
enriquece à custa do bem comum... Como se compreende,
multas vezes a miséria moral estA. associada à miséria mate_
rial; por viverem em condlçõcs econômicas infra-humanas:,
muitas pessoas são vitimas da miséria moral. Por isto a
Igreja não podc deixar de encarar com grande empenho tam-
bém a pobreza material. Na verdade, muitos e nobres valo-
res humanos deIxam de se desabrochar por causa da pobreza
material: não raramente a imajlem de Deus no homem é
deturpada por causa da indigência física de muitas 'POpula-
ções. Dai o apelo da Igreja a que cada crlstiio e cada pais
Jatino-americnno procurem r1!solver o problema do subdesen-
volvImento moral e material que afeta o nosso continente.
2. Ainda convém notar duas tomadas de posição dos
bispos em Puebla:
a) A Assembléia disse- um Não decidido a toda e qual.
quer Ideologlo, ou seja, à análise marx.ista da sociedade (da
qual se servem alguns teólogos da libertação) como também
ao capitalismo liberal (que pennite a subordinação do ser
humano ao capital) e, ainda, 'à Ideologia da Seguranca Na-
donal (que ocasiona a insegurança dos cidadâos sacriftcados
à seguranca do Estado) .
b) O termo ao qual tende a 1ibertação de que t anto
falam correntes teológicas modernas, foi definido em Puebla:
trata-se de libertar o homem para a comunhão COm Deus•...
comunhão que se deve exprimir de maneira concreta numa
justa ordem sQClal, mas que fica sendo o objetivo principal
de toda a libertação cristA.
Aguardemos ulteriores noticias de Puebla! Por ora so-
mos gratos ao Senhor pelo feliz êxito da Assembléia, penhor
de nova e sadia fase da história da Igreja latlno·amerlcana.
E.R.
-90-
" PERGUHTE E RESPOHDEREMOS"
Ano Xx. - Nt 231 - Março de 1979

Quem és tu, ó homem?

o homem... puro maca(o?


Em alntueI: Em nossos dias vários autorn tendem a nagar dlferert-
claçlo especUlcOJ entre o homem, o macaco. Ao lado desses, oulro. h6
que a lustentam. Na verd3de, devem-se apontar dlletenças caracterlalle ••
e 1:llupeu\vels entre o •• r humano. OI Irracionais ; além da linguagem.
I' abordada em PR 226/1978, pp. "23-434, citam-lê o senso moral li o
censo rel;glos0. O homem • um ser Clpaz de medir o alcance da S8Ul1
atos: por Islo é l1uJ8110 d a responsabilidade. de direitos B deveres. Ele '8
~nlll outrossim obrigado a pracuror o aanlldo da sua existência presente
(lula, trabalho, sofrimento. morte . .. ): por Islo aspira aos valores Ira na-
condentel. ou 80 Ab~oluto. que' o próprio Deus. A crença no além ou no
oncontro com o Oivlndada é uma das mal. anllgas caraclorlstlcas do ser
humano. manllestoda no eepullamcnto dos mortos e na arte das cavernas
da pre-l;i:ltÓ,la.

Mesmo os 310U8 do nossos dia::l reprod uzem catego rias rellg los••
rovestldas do rótul os leigos ou soculoflzado5: o marxismo, pol exemplo,
supõe ./I expectaUv::I messlAnlca dO Judalsmo e adoU· a dantro de parAmelros
materlallsl8s e maramente humanos. Tenham-so em vista O1J trossirn as supors -
uçe••, os mlsU:as. os "absolu tos" ou deuses (Idolos) a que estAo sujeitos
OI " 010Ils".

• • •
Comcotlrio: Em nossos dias rcgistra·se (orte tcndéncia
Q despojar o ser humano de todos os predicados que sempre
foram tidos como características excl usivamente suas. Char-
les Oarwin (t 1882) insinuava que o ser humano não vem a
ser senão um macaco aperfeiçoado; Frcud (t 1939) gloria-
va-se de haver reduzido o homem a joguete de instintos
cegos, ao passo que a filosofia estruturalista decompõe o
homem em elementos estrutUl'a.is sem conteúdo especifico;
proclama assím a morto dI) homem, como passo conseqüente
à rnorte de Deus. .
O tema assim proposto é de alto interesse. Eis por que
nos voltaremos para ele, procurando: 1) catalogar expressões
recentes desse desr;:ojo.rnento clo ho:'!\~m: 2) refletir CO!":'l ohje-
- nl -
4. «PEftGUN'rE E RESPúNDEllEMOS::. 231/1979

tivldade serena sobre tal tendência a tim de averiguar se é


ou náo o resultado de autênticas pesquisas. Verificaremos que
tal posição clespojadora é preconcebida, encontrando seus a~s·
mentidos em tatos concretos da realidade dos tempos pos·
:>..idos e de hoje.

1. As afirmações reducionistas 1

Citaremos tais dizeres tão somente a fim de evidenciar


quão longe tem Ido o ceticismo e as tentativas de degradar
o ser humano.
Salvador E. Muria em 1974 apresentava o homem como
«nada mais do que um produto (multo especial, sem duvida)
de uma série de puros acasos e de inexorâveis necessidades»
(cf. Ir-bcn _ das W1"'ollcndentc Experlment. München 1974);
retomava assim a t.ese do biólogo francês Jo.cqucs Manoel.
Em 1974, Theo Lõbsack escrevia ser o homem «uma
jogada errônea da natureza",.
Em 1!)71, Hcrbcrt Wcndt publicou em Hamburgo um
livro com o titulo Der Arfe stt.!ht auf (O macaco se levanta),
tencionando assim definir sua posicã-o filosófica.
Em 1968, I. Schwiuetzlty :\.firmava, a resl>cilo do homem,
tratar·se de «um macaco que cons~uiu falar,..
Em 1968, Oesmond Morris designava o homem como
mero macaco, que atribuiu a si mesmo o pomposo nome de
homo saplcns.
Em 1965, J . Huxley classiflcav~ o homem como «um pro-
duto de improvisações da genética c da história, cheio de
erros e atabalhoamentos».
Em 1959, J . MWler dizia ser o homem «um macn.co um
pouco melhorado às pressas».
Pode-se observar, aliás, que tais tendências não são t otal·
mente novas. Jã na década de 1870 Ernest Haeckel se esfor·
çava por desvalorizar o homem, tirando-lhe a Impressão de
ser algo de singular ~e Inédito no conjunto dos seres viv os.
1 Por "reducionismo" enlendemoa e tendência a ..... uzlr o homem
80 filo-homem, ou .ela, a Jlegar 08 pradlcados especificamente humano •.
Isto redunda em fazer do homam um lJ'Iacaco àperfelçoado.
LO.s cltaçOes QUe abaIXo laremol. 110 tiradas do artigo da Wolfgang
Kuhn mO:"lclonado nc bibliografia à p. 09.

- 92-
____________~O~H~O~M~E>~I~..~.~PU~R~O~>lA~C~A~C~O~?___________ "

o materialismo dos autores modernos leva-os a admitir


que já nas partlculas mais elementares da matéria existem
os traços que geralmente são tidos como característicos ou
típicos do ser humano: assim, por exemplo, já que o homem
tem consciência pslcol6gica. deveria haver prernJssas dessa
consciência na matéria Inanimada; o hidrogênio já conteria
lodas as InformaÇÕCs necessárias para que. através das leis
da natureza, se desenvolvesse a realidade humana hoie exis-
tente. Tal é o ponto de vista de H. v. Ditfurth (19741. ao
qual faz eco H. J. Bogen em seu livro Mensch aug J\olarerfe
lO homem R partir da matéria): este autor pretende deduzir
da matéria Inanimada tudo o que dentro do homem haja de
.. novo .. ; considera ele l! matéria como aleo de ctfio P.Tan·
dioso . . . que se pode crer tenha a potencialidade de produzir.
em determinadas circunstâncias, complexas estruturas como
são as células sensitivas, os neurônios e atê mesmo formas
de cOmportamento hum9,no. . Cf. Zusammerih.iinge. Hamburg
1974, pp. 9-11.
Todavia. ao lado de tais vozes. outras se levantam DllrR
t'Ontradizer-lhes. Citemos a do flsico Walter Heitler 119741 .
Este jul,z8 que o surto de novas cate~{)rias de ser por vIa
de evolucán constitui um problema ainda nlio resolvilio. O
gcnctlclstn Th. Dobzhl'lnskv rcjcltn a tese serunc10 a Q1181 Mo.
mos ou oartl.r.ulns subatôm§cas seriam portadores de rudl·
mentos de vida. consci&ncia ou vOntade. Afinoa QUe A evo·
Iueáo produz realidades nQVas e que este' é o seu maIs Interes·
sante aspecto :
" Perlodlcamentl1 o . . . res em evoluç!o transcendem a .1 l'l'Iesmo., 18to
6. produzem I'IOVOIl sistema! com novas proprfedades - proDrtededes Que
nos sls1ema. an1erI4"" 1'110 .. encontravam nem mesmo Ulb 11 lonna de
mlflÜ,culas tomctnl ..... (lnl'l1lgonz, MOnchon 1975, p. 124) .

A orip-p.m do vivente em meio aos não viventes e o


surto do humano no mundo dos animais ilTl"Clonaiç são.
para Dobzhansky, _as duas mais grandiosas cxoressôcs da
transcendência na história da cvolução ~ (ih. p. 125).

Perguntamo.nos ~ Quem teria razão? Os Que ne.!!!:am uma


direrencio('ão especifica. Indelével. entre o homem e o::> ani-
mais inferiores?, . Ou os Que desejam confundir ou Identl·
ficar o homem e o macaco?

A estas quest~ responderemos gradativamente.

-- 93 --
G ePERGUNTE E nESPONDERE;\'1OS, 2JVl979

2. Onde está!» as diferenças específicas?


Para distinguir radIcalmente o homem c os macacos
::;uperiores, poderiamos. entre outros. apontar. como em PR
226/1978, pp. 423-431, o fenômeno da linguagem, Que é tlpl.
('nmcnte humano e n;:o se a<:hn reproduzido pelos animais:
Neste camp~ de p2squi!;llS. novos resultados têm sido
rcgistrndos nos últimos t empos.

o chimpanzé e o gorila não podem falar nem aprender


a falar linguagem sonora desenvolvida, como demonstram to·
das as tentativas até agora realizldas. A razão disto é. antes
do mais, a configuração do crânio e do aparelho bucal des·
ses animais. Em conseqüência, os experirnentadores têm pro·
curado ensinar aos chimpanzés e 80S gorilas alguns sinais,
Que se assemelham ao!> da lingua gem dos surdo. mudos. A
aprendizagem surtiu efeito5, como se depreende do rela tório
publicado por Frnncine Pattcrson com o titulo Convcrsatfons
wlth n. Gorilln. em NnUonnl G('.nttrallhic, vol. 151, october 197R,
pp. 438·465 (a este tema, aliás, -voltaremos oportunamente
Pom PRl. Experiências anteriores ia de Francine Pntterson
foram levadas n termo pOt' c!c!ntist.1s como R. Fouts, ' Gnrdncr.
Rumbzrger, GIII, GI!\!icrfeld ... ; os resultados foram positi-
vos. . . Todavia D. PJoo.P' em 1972 verificava Que, mesmo
diante de tal êxito, se devem rc,3istrnr profunda!; difcren('[l~:
n comunicocão entre animAis e 8 ]in~UMem u.'mda nelos ho·
mens não diferem ~ntrc si apenas por diversidade de I!raus
de perfeicão dentro da mesma pretensa linha homoltênea,
mas supõem estruturas físicas e psicológicas essencialmp.nte
rtiver.;as: o hom(!m é. por sua natllre7..a mesma, um sPr rladn
:'t "ultllr:l ou prC·oro~r:\lnnrtn pnm n t'!n1tura. COITIO l'Ii'7. Eihl .
·Eihesreldt.: o m~rno n~o se oodc dizr>r a rcsneitn dos nni·
mais inferiores ao homem, Que são dadm; a repetir P. imitar
o QUe vêem, se m poder criRr algo que dependa de lógica c
rncloc!nlo.
Notn·~e também quP. O!'; chimmm7..és Dndem trnnsmltlr
uns aos outros certo!; artlficlo~: assim na linha japonesa Kn.
shlma. Que não é habitadll pOr' sores humano. uma femeR dI"!
macaco ' descobriu certA vez Que, para llmnar batatas. nAo é
necessâ.rio e~fre~·la:'õ p.ntre il~ mãos. mas bfl5ta mersru1há-lf\s
.,a AVllf\ e lavl\·IM. '..luntro nno'l "'Ai!': t~rrle. n metRcl~ (!'OC:
Indivlduos do gnlpo a que p~rtcncia tnl femetl., ~ratlcnvl\ o
-91-
o HOMEM ••• PURO MACACO?

rito de lavar as batatas; no decorrer de dez anos, 71 % dos


membros do grupo haviam adotado tal costume por via de
imitação. Deve-se, porém, observar que esta propagação dê
artit1cio nAo se deve ao desejo de educar, ensinar (lU de comu·
nicar aos semelhantes alguma novidade; ela se assemelha
muito mais à difusão por contâgio ou por Imitação.

Dito isto, importa realçar outros tipos de diferença espe.


cifica qUe distanciam entre si o homem e o macaco.

3. O senso ético

Já. Charles DarMn em 1871 procurava enumerar os


caracteres que dIstlnguem o ser humano de maneira tipica,
permitindo assim estabelecer a linha divisória entre o homem
e o animal Interlor. D1zia en.tio:
"Sem reslrlç!o. aubscravc fi leia dos especialista, que afirmam qUI,
dentre todas as dllor.nçals olllalonlOl onlr. o hOmem 8 o animai Inferior, o
81mso moral ou a conlcltncla é • mais Importanta" (Dia Abtt.....mung aa.
MaMChon, p. 14.).

Observações efetuadas em pessoa:; surdas e cegas de


nascença revelaram que ao homem a consciência é inata, cu
seja, anterior a qualquer experiê~cla.

Somente o homem tem e. noção do bem e do mal. S0-


mente O homem pode tornar-se reu ou culpado. Em conse·
qüência, só O homem tem responsabilidade.
A responsabllJdade, por sua vez, supõe liberdade de opção,
faculdade esta que falta aos animais interiores.
Não há dúvida, o animal tem uma bondade espontânea,
a qual se manifesta principalmente no Úlstinto materno; toda-
via não se pode dizer que essa bondade resulte de uma opção
consciente. :t InconscIente e indellberada; o animal reage
espontaneamente a certos estimulos como é o da prole ou dos:
filhotes. O ser humano também reage espontaneamente a
tais estimulos; haja vista como as crianças gostam de brincar
com bonecas, cachorrinhos, coelhinhos, etc. Todavia, à dife-
rença dos animais, o homem é capaz de proceder contra os
seus instintos; assim fazendo, ele se perverte ou.,. segue

-95 -
8 «P~~UNTE E RESPONDEREMOS. 23111919

um ideal e cultiva valores que ele julga superiores à satlsfa.-


ção proporcionada pelOS instintos. 50 o homem pode assu-
mlr certas atitudes aparentemente paradoxais ou antitéticas
aos instintos: a paciência, a misericórdia, o amor aos inimi.
gos, a compaixão e a benevolência com os criminosos e per.
versos; tais virtudes estão fora do alcance dos animais, mas
elas não são sobre·humanas; são, ao contrário, profunda e
tipicamente hwnanas.
Mais: () animal não é capaz de assumir deveres ou com·
promIssos; não se lhe podem impor normas, mesmo Que se
lhe imponha detennlnada aprendizagem. Por isto também a
educação é ' fenômeno especificamente humano; sem educação
não só o psiquismo do homem é prejudJcado, mas tamMm o
próprio desenvolvimento biológico e corporal do homem sofre
detrimento.
Tais ponderatões evidenciam como o senso moral carac-
teriza o ser humano, distinguindo. O espec:1ficamente dos ani·
mais, e colocando o homem em posIção singular no reIno dos
viventes.
Examinaremos agora outra caracteristica.

4. O marco religioso
Dividiremos o nosso estudo em duas portes: 1) capaci-
dade de refletir, 2) o fenômeno religioso propriamente dito.

4. 1. A capacidade d e reflellr

Ainda ao estudar as diferenças entre o ser humano c


os animais Inferiores, Oarwln apontava a consciência que o
homem tem de si mesmo: esta é a chamada consciência. psi-
cológica, à diferença da consciência moral I.
Quais as Conseqüências deste fato?

I A eons.clêncla moral , faculdade que lemos, de Julga, o que con-


vém ou nAo corMim fazer em vista da consecuçlo do n0530 11m lupremo;
• conscltncla manda. a consciência aprova, a consciência censura nossos
aloe morais. .

- 96-
o HOMEM. , . PURO MACACO? 9

1) Por sua consciência psicológica, o homem é capaz


de refletir sobre si mesmo, sobre o seu presente, o seu pas-
sado e o futuro. Essa cBpaclclade de refletir é caracterlsUca
do ser hwnano, pais só este é sujeIto de recordação propria.
mente ditaj com efeito, wn animal pode reconhecer o seu
patrão ou detenninados objetos quando estes lhe são apre-
sentados de novo; mas somente o homem pode recordar·se
de pessoas ausentes e de acontecimentos já ocorridos. Visto
que os animaJs não conseguem Isto, vivem quase exclusiva-
mente no presente como vivem os bebês.
2) E: precisamente a capacidade de recordar realldad~
ausentes que pennite a formação de conceitos universais e
de uma linguagem tal como o homem possui: linguagem que
exprime noções universais, como homem, ~anca, belo, justo,
injusto ... , recorrendo aos mais diversos sons (francês, russo,
chinês, bantu, tupi, etc.).
3) Notemos outrossim: um ser para o qual só existe o
presente ImedIato, não pode cultivar a história, como o ho·
mem a cultiva ...
4) ... Nem pode ter responsabilidades, porque não pode
prever as conseqüfnclas de detenninado comportamento seu . ..
5) .. . Nem pode ter Bollglio como o homem tem,
visto que a Rellgião ·põe o homem em contato com a trans-
cendêncIa ou com valores históricos e trans-hlstóricos. A Re-
ligião vem a ser, pois, um sinal tlpico e inconfundível do ser
humano. Detenhamo-nos um pouco mais sobre esta afirmação.
4 . Z. O fonGmeno religioso
O senso religioso, pondo o homem em contato -com valo·
res transcendentais, exprime.se, entre outras maneiras, atrn·
vés da crença na vida póstuma. 1: por isto que, desde os
remotos tempos da pré· história, o ser humano sepulta os
seus mortos. Os animais irracionais, diante dos seus seme-
lhantes exãnimes, experimentam sentimentos mistos de medo,
insegurança, curJosidade, intranqüllldnde ... Mesmo a fêmea
do macaco, apesar do seu instinto materno, não se preocupa
com o sepultamento do filhote falecido: após a morte deste,
ela ainda procura insistentemente alimentá-lo, carrega.·o para
diversos lugares, ... mas, logo que o cadáver entra em decom·
posição e as características fisicas do filhote se vão extln·
guindo, ela abundona o cadé\ver em qualquer lugar e não
mais se Interessa por ele.
- 97-
10 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 231/1919.

Ora entre os homens a atenção aos mortos é uma carac-


terística das mais anUgas.

Os fósseis do homo erectus (devidamente Identificado)


encontrados na Europa e na Asla atestam esta verdade. O
homem de Ncandertnl, por exemplo, sepultava seus mortos
na posiçâo de quem está donnindo, com a cabe;:a pousada
sobre uma pedra; sobre o cadáver lançava pó de ocre, que
tem a cor da vida (pardo, amarelo, vennelho, castanho ... );
junto ao defunto eoloeava alimentos, annas, instrumentos
diversos e figuras ornamentais, Que lhe serviriam na viagem
para o além. .. O homem de Cromagnon também adotava
tais costumes. Estes atesro.m a fê numa vida p6stuma ou
numa rea11dade transcendente.

Chamam outrossim a atenção dos estudiosos os pinturas


encontrad8.$ nas cavernas da pré· história: representam moti-
vos da caça ou da magia. Ora todo cu1tivo da arte está origi-
nariamente associado à Religião: esta sempre inspirou os pin-
tores, os poetas, OS músicos ...

Ora a Religião, voltada para os valores transcendentais,


é certamente uma caracterisUca elo espirlt-o; ela é tio antiga
quanto o homem. pois se manifesto desde a prc_histôria até
hoje, e nunca foi cultivada pelo animal irracional. A exis-
tência, no homem, de sentimento religioso e de expressões
correspondentes abre um hiato entre o ser humano e o ma-
caco, hiato este que não foi superado ou transposto até hoje.
Nem há possibIlIdade de superacão, visto que a Religião supõe,
ne ser humano, a realidade do esplrlto ou da alma espiritual,
80 passo que o principio vital dos Irracionais é meramente
material. :e a alma espiritual ou não material que faculta ao
homem ter expressões de si que transcendem os dados con-
cretos. materiais, a que estA confinado o ser Irracional. Pela
religião, o homem se · eleva aos valores lnvislvels e ao Infl·
nlto, procurando assim a resposta ls suas aspira.;ões mais
espontâneas Que são aspirações à Verdade, ao Amor, li. Jus-
t1ça, à Vida," Fellcldade sem limites. :e tão somente através
Go camlnho da Religião e ela Mistica que o homem encontra
os verdadeiros bens para os quais foi feito e dos quais o ani-
mal irracional não tem a mais pãlJda noção.
A 'Religião é Inspirada pela necessidade que o homem
experlmenta, de dar sentido à SUa vida ou de justificar, pe-

-98-
o HOMEM ..• PURO MACACO? 11

rante a sua consciêncla, a sua luta, o seu trabalho, o seu


&ofrimento e a sua
morte, Na verdade, se não existem valo-
res transcendentais que respondam às aspirações congênitas
de todo homem, a presente realidade ê vazia e frustrativ8i
o homem sc torna wn absurdo, perdido em meio às coisas
passageiras que o cercam. E o homem-absurdo seria uma
exceção no conjunto do universo, visto Que este reflete ordem
e harmonia - expressões de uma Inteligência Suprema.

Em nassos dias. a Religião continua sendo um fator tipico


da inteligência humana. Mesma os que se dizem ateus, crultl·
vam o Absoluto sob (onnas leigas ou secularizadas; é o caso
do comunismo, 80 qual o judeu Karl Marx deu a estrutura
de um messianismo sem Deus; o proletariado sacrificado na
luta de classes seria o Messias, que, morrendo, prepararia o
surto de um homem novo, morigerado e pacifico. M cate·
gorias religiosas do judaísmo foram transpostas por Kai'l
Marx para o plano da sociologia e da polltlca; sobrevivem,
porém, no esquema de pensamento marxista. - O marxismo
cultua religiosamente certos valores meramente humanos ou
profanosj este esquema caricatura! já não satisfaz a muitos
cidadãos soviéticos, que hoje em tUa se afastam do marxismo
e das suas pantomlnas para p~ar a verdadeira fê e autên·
Ucas expressões religiosas. O senso religioso, Inato em todo
homem, vem de nOVO à lona apesar das tcntntiva~ dc Cl'radl·
cação a que o marxismo o submeteu. Este fenômeno bem
evidencia quanto o senso religioso é característico do ser
humano. São sempre válidas as palavras de S. Agostinho
(t 430): «Senhor, Tu nos fizeste para Ti, e inquieto é o
nosso coração enquanto não repousa em Tb (ConI"1SSÕeS 1 1).

Atraído Irresistivelmente pelo Senhor Deus, o homem


.:nteu. de nossos dias erlo suas mIsticas, seus «absolutos.,
seus deuses, suas supersUtões, Que inadequadamente lhe télZem
as vezes do único Deus.
A propósito cll~o • • blbllograUa donde retiramos granda parte do
material des1. 111lgo :

KUHN. WOLFOANB, Dar Men,c" - nur Iln nackter Alie? In SUmmtn


d.r Zen, Jull 1978, pp. 479-489.
OVERHAGE, p" Sprect.e.pIJlmln'l mil Schlmpansen, In SUmmen der
Zalt, mal 1978, pp. 325-332.
PATTERSON, FRANCINE, CotIYlrtaUonl ",llh • OorlU., In Nallonal 010-
arephlc, vol. 15', n9 .., oclober 1978, PP. '3&-465.

-99-
e o suicídio (oletivo na guiana 1

Em .Intese: o presente .rtlgo começl por apresentar um esboço


bloGrflllco do paslor Jlm Jonas fi breve cr6nlca de S Ul ob,a ('I'emplo do
Povo ) na CallrOmla fi em Jonestown (Gul.n.) . Este homem parece ter
eofrido de megalomania paranolu. pois ,e JulVlva fgual a Deus. Conseguiu
Impor regime dlisUco aos 'IUI adeptos na Guiana. Ta' filo chegou ao.
ouvidos do deputado Leo Ryan. qUI howa por bam Investiga, a realldada
numa vislla • Jona,town; Ry.n. porém, 101 1$I •• alnado Juntamente com
membros de 11.11 comitiva, poli tonclonava a.ander lOS padld08 de crenlal
qUI desejavam trocar Jonl.lown pelos Ealados UnIdos. Clante da que o
~Ulo de vida de Joneslown 101. davusado, Jlm Jonn ordenou o aulcldlo
coletivo dOI MuS adaptos medlanta envenanllmanlO - prétlca esta lê "'rias
wz" danl•• ansalada. I titulo de teste de fidelidade ao paslor.
As ocomnclas da IIIU. "Templo do Povo" na Gula"a alonlflcam o
fanllllsmo qUI losull. ela crls. de Intallg'ncla contemporAn••• O •• nso relI-
Gioso, Inato em todo homem, t,adUl-5e em .tlelfeç~Bs &8 nlo 6 ollentado
pela Inteligência. Dal I Importtncla da Instru~lo religiosa a .. ' mlnblracle
ao h(lmem c;onltmpO"neo; tala nac:easldado se ImpO. 8Speclllmlnta no
Br1llll, onele o povo, profundamente lelloloso, esl' sujeito • con'unell, fA,
crar'lcllce • luperstlçlo e IIss lm degenerar em eua. 8"p'IISSO.. ,.Iilllo....

• •

Comentário: O mundo inteiro ficou fortemente impres-


sIonado peja noticia de que aos 18 de novembro de 1978 uma
multidão de crentes (926, como apurado posterionnente) come.
teram suicIdlo coletivo sob a orientação drástica do IIder reli-
gioso protestante Jlm Jones em Jonestown na Guiana. O
fanatismo oeorrla em pleno século XX, dito cO séeu10 das
luzes e da desmitificacáoJo. Embora os jamais tenham ampla.
mente dJvulgado o fato, é Importante tentar aqui reconstituir
8 trama dos acontecimentos e emitir algumas reflexões a
propósito.

1, Quem era Jlm Jones?


Jlm nasceu na cldade2:lnha de Lynn (1.360 habitantes)
no Estado de Indiana (U.S.A.). A região era teatro das
atividades do Ku.K1ux-KIan, organlzacão secreta e terrorista

-100 -
SUIClDIO COLETIVO NA GUIANA

norte·amerIcana; O pal de Jlm tornava parte nos encontros


semanais da seIta.
Filho único, Jim fez sua primeira profissão reUgiosa com
pouco menos de dez anos, quando a Sra. Myrtle Kennedy o
levou para a Igreja protestante do Nazareno. Via-se Jim caro
regando a sua Bib1ia para o templo, no cwnprimento dos
seus deveres religiosos. Mostrava desde então ser um lider,
dotado de temperamento forte; era capaz de reunir amIgos
em torno de si e ditar.lhes o que deViam fazer. Dizia ter tido
visões do interno, onde os pecadores eram punidos para sem~
pre - o que impressionava e atemorizava profundamente OI
ouvintes. Embora fosse violento, tinha especial benevolência
para com os animais (gatos, cachorros, macacos, camundon-
gos ... ). chegando 11 realizar rituais funerârio$ em favor de
animais falecidos.

AOs dezoito anos, casou·se com Marcelina Baldwin, enfer-


meira do Hospital onde também trabalhava. Começou a cur-
sar a Universidade de Indiana em Boomington; todavia tez
curso intermitente, interessado que estava pelos misteres de
pregador e líder religioso. Só ao oabo de dez anos conseguiu
graduar-se em pedagogia. Após haver-se fillado à denomina-
ção protestante cunitárla :t e à metodista, resolveu finalmente
fundar sua Jgreja própria, com o nome de cChrlstian As-
sembly of God:t (Assembléia de Deus eristã). Situada em
região pobre do Estado de Indiana, essa igreja crescia em
número de adeptos mediante distribuição de alimentos e pro.
cura de empregos para a populacão local. Para ganhar di·
nheiro, J1m houve por bem comprar micos que ele revendia
por US$ 29 (preço unitário) ; com isto conseguiu 50. 000 dóla-
res, que ele aplicou na compra de uma antiga sinagoga
!';Ituada em meio a população negra.

Jim teve um filho., mas adotou oito outros, inclusive ne·


gros e coreanos. Desta forma manifestava seus principios anti-
-racistas, que ele detendla na Qualidade de chefe da comissão
de direitos humanos da cidade de Indianópolis.

Em 1961, o pastor Jim teve uma visão (como ele rela-


tava) , na qua1 tomou consciência de que Indianópolis seria
destru~da por uma explosão nuclear. Impressionado, resolveu
emigrar: lera, numa revista, uma. lista de localidades tidas
como imunizadas COntra uma guerra nuclear, .. . localidades

-101-
!!-_--'."P..ER=G"UNI'E==-"E'-RES"""PO=ND="E"'R"'E"'M"OS=."23=V,,I"'' ' '=_ _ __
entre as quais estava a ddade de Belo Horizonte (MG, Bra·
sU). Decidiu então vir para o Brasil com sua mulher e três
filhos; após experimentar Belo Horizonte, verificou que a
capItal mineira MO lhe oferecia as oportunidades almejadas;
por Isto transferiu-se para o Rio. onde lecionou na escola
norte-americana. dando provas de amcr aos pequeninos e
desamparados.

Entrementes. 8 igreja em lndian6polls (que toman. o


nome de reDlplo do Povo) eareda de lIder calismático; do
seu lado, a esposa de Jlm sentia saudades da pátria. Por Isto
JIm resolveu regressar aos Estados Unidos. Filiou-se então
à denominação dos cDisc1pulos de Crlsto», onde foi ordenado
ministro em 1964. Contudo não se sentiu bem em Indianá-
polls por causa dos preconceitos racistas e mesquinhos que
lhe pareciam prejudicar a população. Emigrou então para 8
Califórnia. estabelecendo-se em Mendocino Countey, ao norte
de San Francisco: levava consigo mais de cem adeptos, ulém
de nativeI quantia de dinheiro (Marcelina Jones depositou
100.000 dólares no Banco de Ukiah, próximo â igreja de
Jones na CalIfórnia).

Em sua nova 5edc, Jim passou a desenvolver extraordl.


nAria ativldadej não somente pregava em todos os arredores,
mas sustentava amplo serviçO social para atender aos neces-
sitados da região; para atrair gente ao culto religioso e à
igreja, recorria à música e i dança. Principalmente a popu-
lação negra afluIa ao Templô do Povo (mais de 80% dos
freqüentadores deste eram negros); ô pastor os instruis não
SÓ na doutrina do Evangelho, mas também em temas sodals
e poUtlcos; ensinava a fazer demonstratões de protestos,
abaixo-assinados e movimentos de massa, propaganda elei-
toral em favor de certos candidatos politicos, etc. Levava os
seus adeptos a centros de cperegrlnação:-, como era, por exem-
plo. a casa de Myrt..Ie Kenned.y, a primeira orientadora espi-
ritual de Jim ...

Os homens publlcos e governantes se deixavam impres.


sionar profundamente pela ação propagandista do pastor do
Templo do Povo . _. O Vice-presidente Walter Mondale reco·
nheceu o auxílio que Jim lhe prestara na campanha eleitoral
de 1976 e convidou-o a vla'of em seu avião particular. Certa
vez Jones tomou parte favorável num comicio organizado por
Rosa1yn Carter, enviando-lhe centenas de adeptos; em con-

-102 -~
SUIClDIO OJLE"I'IVO NA GUIANA 15

seqüência, recebeu uma nota de agradecimento em papel


oficial da Casa Branca, com o apelativo <Dear J1m:. e a
letra de próprio punho da esposa de Carter. Jones asseve-
rava ter recebido cartas de aplausos dos senadores Hwnbert
Humphrey e Henry Jackson, entre outros personagens Impor-
tantes.
o número de adeptos do Templo do Povo tol·se é1e-
vando ... ; Jim Jones dlz1a que eram 20.000. Todavia os atos
de culto e o clima no Templo foram-se tomando cada vez
mais estranhos. O pastor pretendia curar pacientes cancero·
SOl «extraindo.lhes o cãncer~, que nada mais era do que
moela de galinha ensangUentada. Cedeu à megalomania. São
palavras de seu ex·companheiro de mllitAncia, o pastor Case:
"JIm deixou de .flrm.r que eUl • reenearnaçAo de Jesus e começou
• UMVIrar que ele ora o próprio Oaua. DIzia ser D Deus 'lho que tez. D
c::'u e a lerra", -

Certa vez, diante de runa assembléia reunida, Jim Jones


atirou a sua Blblla no chão e exclamou: ...MuIta gente estã
olhando para Isso em vez de olhar para mim!:.

Janes ordenava aos seus fiéis que vendessem ao público


estampas com o seu semblante a fim de t:esPlUltar o mal:..
PedIa aos seus adeptos que depositauem nos cofres do Tem·
pio as suas pequenas economias e os proventos, arrecadando
com isto um montante que, a quanto se julga, chegava a
US$ 15.000.000. A disciplina dentro da seita tornava· se cada
vez mais rigida, incluindo mesmo o recurso ao espancamento.
Essas atitudes não deixavam de provocar certas decep-
ções por parte dos fiéis; não obstante, o fascinlo exercido
pelo l:der superava as hesitacões suscitadas.

2. A tragédia final

2.1. A funda§ÓO na GuIana

No começo de 1~, Jim Jones resolveu fazer uma fun·


dação de sua seita na Guiana, estabelecendo·se perto da fron-
teira da Venezuela numa clareira da floresta, que tomou o

-103 -
16 cPERGUNTE E RESPO~DEREMOS~ 231/1979

nome de Jonestown; a propriedade territorial da seita abran·


gia cerca de 900 acres, I

Entrementes espalhava. se mais e mais a fama de que


OS membros da seita eram fisica e moralmente dominados
pelo pastor. Na nova colônia, os fiéis eram impelidos ao tra·
balho mais por meio de golpes e extorsão do que por amor
fraterno. Estes tatos eram revelados por pessoas que canse.
guiram fugir da comwúdade, embora sentissem que sua vida
corria perigo por causa disto. Artigos publicados nas revistas
norte-americanas cNew Wesb e cExam1ner» de agosto de
1977 confinnaram tais noticias: muitas vezes os fiéis eram
repreendidos por Jones dian te da comunidade reunida e espan·
cados com chicotes ou com batedores de roupa por terem
cometido infrações à regra comum, ou seja, por terem fumado
ou cedido a distrações durante algum sennão de Jim. Uma
mulher acusada de ter vivido uma aventura amorosa com wn
membro da seita tal compellda a praticar relações sexuais,
na presença de toda a comunidade,. com um homem que ela
repudiava. Para doutrInar as crianças, o pastor recorria 8
eletrodos amarrados aos bracos e às pernas dos pequeninos:
em tais circunstâncias, as crianças recebiam a ordem de sor·
rir cada vez que se pronunciasse o nome do llder da seita:
todos tinham a obrigação de atribuir a Jones o apelativo de
«pai».

2.2. A In.ervensõo d. a..o Ryon

Tais tatos chegaram ao conh~ 1mento do deputado demo-


crata Leo J. Ryan. Um amigo, chamado Roberto Houston,
da cAssoclated. Pres$:., dIsse a Ryan que seu filho Ban, de
33 anos, fora encontrado morto junto à ferrovia de San Fran·
cisco, no lugar onde trabalhava, precisamente um dIa apÓS
ter abandonado o Templo do Povo. Embora as autoridades
policiais afirmassem que o rapaz morrera em conseqüência
de um addente, Houston sustentava o contrário, lembrando
que O pastor ameaçava de morte aqueles que apostatassem
da seita. AliAs, semelhante asserção era confirmada por faml·
liares de outros membros do TempI~ do Povo.
e deputado Leo Ryan dirigiu-se então 80 Departamento
de Estado, a fim de pedir um InquérIto a respeito dos maus
~
.
o acr. • urna medida 811,.r18 equivalente e 4.IM8,84 IT)I .

-104 -
SUIClDIO COI.ZJ'[VO NA GUIANA 11

tratos infligidos a cidadãos norte.america.nos em Jonestown.


A Embaixada norte·americana em Georgetown enviou -dele·
gados seus à colônia de Jim j estes, de volta, relataram ter
entrevistado cerca de 75 membros da seitaj nenhwn, porém,
manifestara i) desejo de ser repatriado. Esta averiguação e
- maIs - a lei de liberdade de culto nOl"te-amerlcana eram
suricientes para sustar o Inquérito Iniciado.

O resultado náo satisfez a Ryan. Este escreveu a. Jones.


dizendo...lhe que vá.rios cidadãos norte-americanos haviam ma·
nifestado ansiedade a respeito dos seus famillares existentes
em Jonestown. Jones pediu a seu assessor Mark Lane que
respondesse ao parlamentar (Lane tornara-se famoso por
suas teorias a respeito de conspirações e assassinatos pollti.
oos). Ora Lane, em sua replica, asseverava que os membros
do Templo do Povo haviam sido constrangidos a fugir dos
Estados UnJdos por causa de .perseguição reUgiosa~ i insi-
nuava outrossim que Ryan estava. Interessado em uma «caçada
às bruxas,. Caso a pressão continuasse, a seita de Jones teria
de se transferir para algum pais que não tivesse relaç6ea
amigas com os Estados UnJdos (provavelmente RúBsia cu
CUba). Por último, Lane pedia que Ryan não fosse por ora
ã Guiana,. visto que ele nâo estava livre para acompanhM' o
deputado. Ryan recusou esperar. Então Lane dispôs-se a
guiá-lo em sua visita a Jonestown.

Ryan reuniu oito jornalistas e vârlos famWares de mem·


bros da seita, decididos a dissuadir a estes de permanecer no
Templo. A comJUva seguiu de avião, chegando a Port Kal~
toma. a seis milhas de JonestOWll. Logo se transfe'riram para
8 colônia do pastor, onde foram saudados com amáveis soro
risos de Jim.
A colônia de Jonestown ofereceu maravllhi)sa acolhida
aos visitantes. Os I"epórteres inspecionaram o pavilhão cen-
traI, que servia tanto de escola como de salão de assembléias;
foram ver a serra mecânica, a biblioteca oom seus 10 .000
volumes, a creche muito asseada. onde as crianças eram pro-
tegidas por cortinados contra os mosquitos. O ponto alto da
visita foi a tarde passada no pavilhão central da co16n!a,
quando os membros da comunJdade executaram peças musi·
cais (em rock e Jazz) e cantaram vitirantemente. O próprio
Ryan deixou-se impressionar, pois no flm da sessão declarou
à assembléia: «Pelo que acabo de ver, há muita gente aqui
-105-
18 _PERGUN1'E E RESPONDEREMOS,. 23Vl979

que julga estar vivendo o segmento mais feliz. da sua vida~.


O auditório aplaudiu com veemência; Jones de pé comandava
as palmas. Ele, aliás, dizia aos jornalistas: «Aqui as pessoas
encontraram - a feUcidade pela primeira vez em sua vida».

Em conversas partlcula-res, porém, Ryan mostrou·se reser-


vado: achava que nào poucos dos membros da assembléia
eram animados por alegria pouco natural. Alguns dos cren·
tes ~hegaram a exprimir· lhe insatlsfacão.

2 .3. O desfecho

Aconteceu que o correspondente Dom Harris da NBC


pergunteu a Jim Jones o que pensar de cert()S rumores se-
gundo os quais a colônia de Jonestown estava poderosamente
munida de annas. Jones irritou·se logo e exclamou: _Que
mentira atrevida! Até paI"êCe que estamos sendo agredidos
por mentiras! Estou derrotado! Estou perto da morte!»
Assim desfazia-se a fachada de Joncstown. Um dos resi-
dentes da colônia passou às mão:i <lo jOrnalista Harrls um
bilhete em que dizia: _Quatro de nós desejam partir!» Ryan
recebeu outras declarações de ~ que desejavam regres_
sar aos Estados Unidos. Interrogado a respelt() desses casos,
Jone; respondeu: cCada qual é l1vre para vfr e ir-se» .. . To-
davia esta atitude magnânima Coi logo contraditada pelo pro.
pno pastor: .Eles querem tentar destruir-nos... Eles sem-
pre mentem quando nos deixam~. Mais tarde, os repórteres
foram Informados, pelos sobreviventes do suicídio, de que Jo.
nes resolvera colocar entre OS desertores alguns falsos com·
panheiros, que os atacariam durante ti. viagem de retomo aos
Estados Unidos.
Os acontecimentos se pl't'Clpltaram. Quando Leo Ryan
discutia com Jlm Jones as posslbl1tdades de levar consigo os
desert()res, um dos membros da seita, chamado Don Sly, che.
gando-se por trás de Ryan, segurou-c pelo pesco ~o com uma
de lUas ml03 e t@ntou matA-Ia com um taea na outra; deIs
eompanheiros de Jones demoveram o assaltante. empedlndo-o
de cometer o assassinio, enquanto Jones assistiu Impossivel,
aem interferir.
. O golpe delxou Ryan aparentemente calmo, mas alannou
os jornalistas e tamlllares visitantes. Não obstante, prosse-
• -1<16 -
_ _ _ _ _-"S:.:Ul"ClDIO COLETIVO NA GtnANA lJl

gulram as provldenclas necessárias à partida. Finalmente, a


caravana seguiu para Port Kaltuma. onde se achava o aero·
porto, com dois BviOes à dl&postção.
POs--se então a questão de saber como fazer embarcar
tanta gente nos dois aparelhos existentes, dos quais um era
táxi aéreo Cessna com lugar para cinco passageiros apenas.
Após as primeiras dúvidas, o deputado, os jornalistas e a
grande maioria dos fugitivos encaminharam-se para o avião
maior (Otter). De repente, porém. a pista. foi atravessada por
um trator que puxava um reboque; neste. três homens anna·
dos puseram-se a atirar sobre o grupo prestes a embarcar
assim como sobre o aparelho maior. Morreram assim Ryan,
Don Harris e outros dois jornalistas, além de uma senhora
da seita, Patricia Park. que se dispunha a fugir. No mtnimo,
dez outras pessoas ficaram feridas.

Os sobreviventes do ataque passaram uma noite horrlvel


em um bar próximo ao aeroporto; julgavam que os homens
annados (emisstrlos de Jlm Jones) fossem procurá.los para
tennlnar o mortlcinio. Declararam. mais tarde, que Jlm Jo·
nes dIzia ter recebido autorlda.de do Governo guiano para
matar quem quer que tentasse fugir.

2 .4. Cadáveres e ca.dóveres'

Entrementes. em Jonestown repetia-se uma cena (dessa


vez. porém. em tennos faWs) que não era rara naquela
col&l.a.

Com efeito. Havia na comunidade as chamadas cnoites


brancas». Os elto-falantes ressoavam despertando do Bono
todos OS residentes. que eram convocados para o pavilhão
central. Lá Jones tazia-lhes uma prédica sobre a cbeleza da
morte. j a seguir, colocavam-Se em tUa e dispunham-se a rece-
ber uma bebida venenosa, que eles . tomariam preparando-se
para morrer. Acontecia, porém, que a detenninada a1tura dos
acontecimentos o pastor declarava que a bebida nio era vene-
nosa e que o exercicio estava encerrado, pois todos tinham
sido aprovados no teste d@ fidelidade. Acrescentava, contudo,
que, se algum dia a col0nta viesse a ser atacada de verdade,
o csulc1cUo revolucionádo., jã assim ensaiado, tomar-se-ia
realidade, e não mero ensaio ou simulação.

- 107-
:I) cPERGUNTE E RESPONDEREMOS:. 231/1979

Ora nas faUdicas horas que se sucederam à partida de


R;yan e companheiros, toda a populaçlo de Jonestown foi
convocada para o pavilhão central. Os acontecimentos assim
se sucederam, segundo o testemunho de Stanley Clayt.on,
jovem de 25 anos, e de companheiros que conseguiram sobre-
vIver à tragédia.

Clayton estava na cozinha da colônia preparando ervi-


lhas. quando a sirene tocou: um guarda, annado de pistola,
entrou lá, e, mostrando a arma, chamou a todos para o lugar
de Nunfões, pois JODes ordenara os preliminares para o sul.
cfd1o. Uma mulher, chamada Chr1stlane MiDer, pOs-se a pro-
testar. dizendo que tinha o direito de tazer da sua vida o
que bem lhe agradasse. TodavIa guardas armados 8 segura_
ram e levaram a Jones, que tentou convencê-la de que devia
molTer.
Em seguida, um carro entrem no pavilhão. Os homens
que dele saltaram, foram ter com Jones, e este anunciou que
Ryan morrera, e, por conseguinte, era preciso executar o plano
preconcebido. As amas deverIam encarregar-se de preparar,
sem demora, a poção para as crianças; dos adultos quem qui-
sesse escapar, seria castrado e torturado peJo exército gulano.
As amas começaram entâo a retirar as crianças das
mãos de suas mães; todavia muitas destas estavam dispostas
a dar o veneno aos seus fllhos e a bebê·lo espontaneemente.
A fim de coagir e apressar os. adultos, Que se mostravam um
tanto lentos para obedecer, os guardas da colônia intervieram,
impellndo.os a Ir beber a pocão venenosa.
Sentado em posJçio elevada ou em seu trono, Jones não
deixava de exortar a multidão. proclamando que ctodos have·
riam de encontrar·se de novo em outro lugar».

Ocorreu então um certo tumulto, pois as crianças chora-


vam e os adultos estavam confusos. Apesar disto. a ordem
se restabeleeeu e o processo foi-se desenrolando: cada mem-
bro da seita aproxlmava·se de um grande recipiente de metal
POSto no centro do pavUhão para haurir a bebida mortlfe:ra;
alSWU caminhavam de braços dados com seus familiares. O
médico da colônia, Dr. Larry Schacht, de 30 anos, colocara
tranqUU1zantes dentro da poção, de modo a amenizar os elel·
tos dolorosos do veneno. Cada indivíduo, tendo bebido. ainda
-108 _
sobrevivia c1nco minutos, às vezes manifestando tremendo
mal-estar fislco e moral, e finalmente expirava. Os cadâveres
loram-se justapondo no chão do pavilhão e nos arredores,
com intumescências que os delonnavam.

Quanto e. Jones, não se sabe exatamente como faleceu.


Foi encontrado aos pés de sua cátedra no pavilhão central
da colOnIa, com uma ferida provocada por bala na cabeça;
wn revólver jazia perto. A autópsia revelou que o pastor
não bebeu o veneno nem morreu de eâneer (eamo ele dizia
que havia de morrer) . Tudo leva a crer que se tenha suicl.
dado com um tiro.

Eis o depoimento que a propósito escreveu o repórter


Nett, da revista norte.americana -cTime~1 referindo.se 'à sua
chegada a Jonestown:
"O primeiro Cld'v.r qUI ..,..tll, tolo de um homem, de cost.. Jlllra
c1ml, com .. ,.I06M Itlchadu e o bUlto Intum'lcldo como .. f 011. 'Um
bailo. Depola vi m.l, Çlid'v.ret, que JazIam num piUo. Estavam de.flgura-
dos pell Incnaçlo, m•• IInham olhlr lranqOllo como se I$tlveelem recon-
fortado. por 'erem morrldo e.ourando os .aus familiares. Quase todo.
tInham o 68mblanla como o d. quem 1.16 mlsterfosamente ldonnactdo.

Oob,.1 uma ..quina, • apareceu-me I enorme multldlo de c.adtve,..••


O mau cheiro el'll aClbnmhanta: a o quadro, horrlval. Nlo hw\a aln." de
'Vlol6ncl. nem da ..nau" . . A dlltlftcll, .....tavem-.. Iria elaa mortOl por
envanenlmanto, Junto . . .Irada. em granela gelola, achllY.... Mr. Mug.',
c garlla da a.lImaçao da comun)dade, morto I Uroa. Em ..... ertlorlzad ..
..I..,. a cua de JonH, com .u.. Irt. peç ... Havia eadivarn _par.oa
palas Im '11.., alguns IObra cam.a, outrOl no chio. A. lre.nqOllldade era
'VIolada apena pelo miado d. um gelo fora do portlo d. Inlma...

o oflcla.l SkJp Roberts. da policia guiana. d.1sse a Neff


que os primeiros esquadrões policiais que chegaram a Jones·
town, encontraram a casa de Jones saqueada e um grande
cofre aberto e vazlo. Das vítimas que jaziam na casa, duas
haviam sido baleadas: um guarda-costas de Jones e a esposa
de Jones - Ann1e Moore. A mor parte dos oito homens que
supostamente tomaram parte na emboscada do aeroporto,
também jaziam envenenados na casa.

As primeIras buscas em Jonestown descobriram a exis..


-tência de US$ 500 .000 dólares em caixa, multos cheques ban~
cArtos, certa quantidade de ouro e cerca de 870 passaportes.
Dizia-se. porém. que Jones guardava US$ 3.000,000 na colô-
-109-
22 _ _~P~GUN~ E RESPONDEREMO~!_?:1V197.9__ ... .__ _

nla; em conseqüência, pergunta.se SI! não houve furto de


dinheiro.
Eis, em síntese, a história do fim da colônia do Templo
do Povo na Guiana. Os acontecimentos, impressionantes como
são, Jevam-nos 11 uma

3. Reflexo. final
Durante semanas após o suJcidlo coletivo em Jonesto\Vn,
foram sendo divulgadas noticlos a respeito dn pc5SCKl do pas·
tor Jlm Jones e do tipo de vida que levavam os seus adeptos.
O regime drãsUco a que era submetida a comunidade e todo
o contexto dos oco:': ccimentos finais d!l colôni..'l sugerem algu-
mas considerações.

3 .1 . Fanc:::smo

Não há. C::üvida, os residentes da eolónia do Templo do


Povo estavam fanatizados... O fanatismo é uma atitude cega
ou irracional, provocadu por Corte cmotivldadc. Sempre houve
fanatismo no decorrer da história da humanidade. Com efeito,
Dão raro o senso religioso, inato em todo homem, deixou de
ser controlado pela razão e degenerou em expressões cegas
(tenham.se em vista alguns grupos medievais, os jansenlstas
do séc. XVll •. . ). Todavia em nossos dias o fanatism o é espe-
cialmente fomentado pela crise da inteUgência. Sim; o ho-
mem só valoriza a sua inteUgéncia no setor das ciências ditas
«exatasao e da tecnologia; quando, porém. se trata de analisar
o próprio homem e seus valores incomensuráveis (como a
sede de verdade, de vida, de felicidade, de amor . . . ), a inte-
ligência é posta em descrédito; muitos professam o relati-
vismo e o ceticismo, pois ·tals valores não podem ser «calcula-
dos, mediante régua, esQuadro, compasso, prancheta .. .
Em conseqUência dessa crIse da inteligência, falta fre-
qüentemente o dlélogo entre os homens. Na verdade, o diá-
logo é o intercAmblo Inteligente entre duas pessoas que pro-
curam a verdade e o bem. Ora, se não há diAlogo, há vio·
lência. hã Imposição, há dogma tismo, como precisamente se
verifica em nossos dias.

-110 -
SUlClDIO COLETIVO NA •.!!!A_ _ _ _--=23
~U~

o fenômeno da obediência rjgida, que terminou com sui·


c1dio coleUvo em Jonestown, enquadra.se bem dentro de tal
contexto. 1:: expressão de atitude emotiva, irracional e fanã-
tica. Na verdade, o senso religioso é dos mais veementes que
existam no ser hwnano; se é desligado da razão, pode deso-
rientar-se por completo e traduzir-se de manell'a aberrante.
como ocorreu na Guiana.

Sendo assim, percebe-se o imenso valor que sempre teve,


e hoje especialmente tem, a boa formação reLigiosa dos fiéis.
~ importantissimo que cada um conheça exatamente o que a
fé proCessa e o que ela não professa, ..• que cada qual possa
distinguir, wna da outra, fé e crendice ou superstiítao. Quem
conhece bem o Evangelho, jamais acreditará. que o sulcidio
coletivo seja sinal de fideUdade ao Senhor Deus. De modo
geral. se houvesse mais estudo da Palavra de Deus, fonnu·
lada na Bíblia e na Tradição cristã. haveria menos seitas,
menos lideres fanáticos, menos falsos profetas. . . E os que
aparecessem como tais, encontrariam menos adeptos.
O Brasil é especialmente vulnerãvel por esses chefes
ccarlsmâticos», visto que a população brasileira é pro[und.a.
mente religiosa, mas pouco lnstruida. Facilmente a reiigiosi-
dade natural da nossa gente se traduz em aberrações, comO
acontece não raro nos terreiros de religiões eiro-braslleiras e
alhures. S JlotórI0 que, em 1977, um homem afogou alto
crianças na praia do Iplranga (SA) em nome das crençu da
seita cUnlversal Assembléia dos Santos»; na Serra do Ca-
verã (RS). a jovem Eliane, de 16 anos de idade, permaneceu
três dias cl,>rcgada A cruz»... Eis por que urge instruir o
povo brasUeiro e, de modo especial, instrui·lo nas verdades
da fé.

3 .2 . InlGtlsfosão _ anseios

Pode-se dizer tam~m q,ue 8. atitude dos crentes do Tem-


plo do Povo exprime a insatls!acão do homem moderno, satu-
rado pela clvllizaç10 tecnOlógica e ansioso por encontrar uma
resposta mais protunda para as suas aspirações à vida e à
felicidade. As mensagens que falam do além e propõem valo-
res transcendentais, encontram grande ressonância em muitos
cidadãos contemporAneos. Apenas é de se lamentar que, como.
dito, tais asplracões não sejam orientadas pelo estudo das ver-
dades da fé.

-111-
24. .PERGUNTE E RF.SPONDEREMO~ 23111919

Os Estados Unidos têm sido o berço de numerosas seitas


modernas fanitlc:as. embora tenham uma população de certo
nivel cultural. Isto se entende pelo contexto histórico do povo
norte-americano:
Os Estados Unidos da América foram povoados. em
grande parte, por refugiados da Inglaterra.. Com efeito, pro-
fessando crenças protestantes diferentes das do anglicanismo
ou da cHigh Church., estes procuravam abrigo na América
do Norte. Em conseqUêncla, 8. história religiosa dos Estados
Unidos é marcada pelo surto e o declínio de grupos dissiden-
tes e de seitas ccarismãticas., um tanto fanãticas, que se vão
multipUcando i aquelas qUe declinam, são substitui das por
outras que vlo surgindo . . .
Esse fanatlsmo rellgioso l! compatlvel com o grau de cul-
tura do povo norte-americano, pois tal cultura é tecnológica
e profissionalizante, não, porém, religiosa. Multas vezes hoje
em dia, enquanto a cultura dita cclentifical1 atinge elevado
niveJ, a fonnaçio reUgiosa permanece infantil.
Assim o sulcldio coletivo de Jonestown vem a ser mais
um sintoma da saturação pela tecnologia de Que sofre o ho-
mem moderno. J!: um apelo a Que o ser humano reconsidere
a sua corrlc1a para a produção, o consumo e o dinheiro, e
se lembre de que Os vaJor6 ma.teriais existem para que o
homem seja mais homem, mais cultor da inteligência e dos
valores espirituais, e assIm se tome imagem mais translúcida
do Senhor Deus. .
Na confleçlo d•• te .rtlgo multo nOl vllemo. doa no1le"rio. dI Jomal•
• revlat... eom reeurso "plelll lO "' de ''T1ME'' de ~J12I7a. pp. 10-22.
RecomlndarnOl temb6m I lenur. do artigo cle G. "".rchesl: Sulcldlo COQllt1"lo
In Ouvln.. Un traglco c..o di flnatlsmo,. In La Civil" Cettotlc.. .. 121,
"' *". 18/12/78. pp. 575-58t.
Em tempo: KftAUSE, CHARLE$, O m. . .cra de Gulan.. Ed. Rleord,
ruo de Jln.lro 1878.

-112 -
Mala uma vez em toco :
1!.::-
e a virgindade de marla ?

Em .Inte,.: A matemldada virginal da Maria, sempre professada


pelos fljls católicos, tem .Ido posta em dwlda ultimamente. Em ,,111.1 da
falos concrelO$ oconfdO$ M Es~nha e atendendo e sollclt.lçlo Ir.lante da
&eus ft61s, OS blspoa e,plnhols publicaram em 19/ 0411978 ums nota qUI
reafirma tal ertlgo do f6. ~ o texto delN Declaraçlo qua abalxo vai publi-
cado com breves comentirlos: a proflhlo de f6 na "Irglndade de M. rta
tem nua fundamentos na Tradlçlo oral e ucrl" do povo de Deus, Tradlç'o
d. qual O MaglsI6rlo da Igrell 6 o porta-voz aut6ntlco. Adem.I., o DluntO
nlo pod. . . r panelrado mo. ollcamente nem elucidado emplrlcam.nt.l, m..
6 1Iu.lrado pell própria noçlo d. Enc.maçlo do Filho de Deus: o Eu de
J .. U9 era o da segunda Peno. da SS . Trindade: o FIlho do PaI Etarno,
d",endo torn.r.... homam, precl. ava 110 lomente cf.e maa que lha d.... e
natureza tluman •• M.rla rec.beu, pol., do próprio Deus o Filho que ela
geraria como Filho do Pai portador da naturau humana.
A maternidade vlrolnl' de Maria alllm é um ,Inal de quo o Filho d.
Deu. qui. penetra, no g6n.ro lIumano na sua qualidade Inconfundlvtl do
Filho de Deus enio ctlmo •• r meramente humano.
• • •
Comentário: A proposlçlo de que Maria foI Virgem e
Mãe, é professada pelos fiéis catóIlcos desde remotas épocas.
Ultimamente, porém, estâ sendo objeto de debates, pois há.
quem queira interpretar tal artigo de fé em sentido metafó·
rico - o que equivale 8 negar a sua realidade lislca. Entre
outros, chamaram a atêncão recentemente dois téÓlogos espa-
nhois: o Pe. Xavier Plkaza, da Unlversldade de Salamanca. e
o Pe. José Ramon SchelIfer, da UnJversldade Deusto, perto
de BUbao. O primeiro publicou o lIvro Loe orlclaet de iJena.
Ens&yo de Oristologla. blbUca (Editora Slguemo!, Salamanca
1976) ao passo Que Schei!fer é autor do artigo La vleja Navldad
perdida. Estudlo blbUeo sobre la. lDfanela do lesas em Sal
Te......, (1977), pp. 835-851.
O Pe. Pedro Arrupe, Superior GeraI da Companhia de
Jesus, à qual pertence o Pe. Schelffer, refutou o artigo em
pauta. Não obstante, o SêU autor, em nOvo escrito, declarou
sustentar Integralmente 8 tese proposta.
O caso incitou os fiéis católicos de Espanha a envIar
peticôes a seus bispos no sentido de reaflnnarem a constante
doutrina da fé: 4.000 assinaturas foram recolhidas em Ma·
drid, e 10.000 em outra diocese da Espanha, solicitando tal
intelVen~ão do episcopado. Esse moVimento «lntribuiu para

-113 -
26 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS" 23Ul979

que a Comissão dos Bispos da Espanha encarregada da Dou-


trina da Fé publicasse uma nota largamente difundIda pelos
jornais da Espanha confessionais e leigos. :t este documento
que PR oferece ao público brasileiro, na certeza de que o
assunto interessa também aos Bispos e ao P()V() de Deus em
geral na nossa pãtrla.

1. A ptJlovro dos Bispos espanhois


MA COmla:lo Episcopal para a Doutrllla da F., dl.m. de Inqul.tud.
ocu lonl!da ao Povo ele Deu. por eertu pvbllcaçoll .., Julga .er nu dher
p.stO!'! racordar qUinto legua :
1. A doubln. d. vlrglndada de M. rl. , da " .egundo • mais 'lene-
t6v,1 , m1lga TrldlÇlo d. fgreja, da quI! 6 porta-voz O Concilio do VaU-
cano 11 : 'Em .ua fi • lua ob.dltncll, a b,m-av,nlurada Vlrg.m Marl. girou
... Mirra o FDfto do P.I, .em conhecer homem algum, sob a açlo do Esplrlto
8.to' (CGMt Lumen Genllurrt I'P. 83).
2 . Elt.a CominA0 IplKCIpal pade ao. le6Iogos I.nham sempre em
moftl' I "'01. eslabtloelda p.1o Concilia: 'VIsto qua a S. Escrllutl deve
..r IleIa li l:".'Prel.d. . .gunclo aquele me.mo Espldlo pelo qUII tol l.d!9Id1.,
p." apreendlar com a ..Udl o o ..nlklo dOI l'lto. ,agradOl da"_' I."ar
.", conla o camaCldo • a unktadll. da lada • ElcrUura, alllm como _ Tr.
dlçlo "IVI da IgNJa Inteira. a an.logla da ,.' (Conlt, Del Verbum n9 12).
3. Sempre que ,. .bordar o mlsttrto da concepçlo virginal nll
~çlo, na c ...qvese ou em qualquer aacrllo, devaMW .lpO' clarlll'Mlnl.
• " comum da Ig,..J •• a rim d. qUI nlo h.l_ contUlb em melo ao povo
d, Dln.
'a,. que a coftQpçlo YI'lIln.1 d. Jncn a.J. b.m CGmpfaoftdlcf. e
valorizada. 'mtlt.r leJa .,....med. no quadro dO 11111'6110 lotai da .afuçlo,
"' Enc.m~ • ,...lId.
da modo que Iom.m todo o dIVido rolavo • ,ralukfada da IntelaU"a d. Daus
do rnlsl.,lo de JesUI, .... rdlldelro D.u. a W8t".
dadolro homem, e o papel todo .speclal da Ma,l. n. dlspen"çlo da IIlYtÇlo.
4. Comém, all&l, Ilmbra, que:
8) .. concep~ ,Irgtaal da Jtsu, RIo Implica MfttIdo p.ja,lIho pai"
• "Ida c:onJugal pratlClda no mltrlm6nlo;
b) • dlm.lnul;lo da ..lIMa da !ai ",1I1'do 'evar'a OI nt. . . perda'
• ..",I tinIda. 801 "'mentol mal. cantral.. da t6 • da "Ida crlall.
Madrfd, ,. da abrn ela 1971".
Este texto merece breve comentário.

2. Refletindo ...
1 . Como se vê, a virgindade de Maria não é asstmto
qUe possa ser elucidado com recursos da filosofIa ou de dên-
cias empiricas, mas vem a ser estritamente tema de fé. Por
isto, a Comissão episcopal, ao propor de novo tal artigo, não
recorre senão à Palavra de Deus reveladora e ao autêntico
-114 -
A VIRGINDADE DE MARIA Zl

órgio de interpretação dessa Palavra que é o magistério da


Igreja.
Por conseguinte, professar a maternidade virginal de Ma~
ria é questão de coerência. Quem crê em Cristo e na Igreja,
crê outrossim em tudo aquUo que a Igreja professa como
artigo de fé.
2, OS autores que negam a maternidade vlrglna1 de
Maria, apoiam-se em nova maneira de entender os textos
blblicos sobre os quais se firma a profissão desse artigo de
fé. A propósito c1tarcmo$ um trecho da Declaração que por
ocasião do mesmo debate emitiu a Sociedade MarlolOgica
Espanhola:
"A f'na mltem'dldl 'VIrginal d. Mllla, e Igre'_ • colheu ftOI. aCflao.
do H~o TbtanI.nto, t .X,pN ... nOl 1AÚftCI0I flllos • Maria • I JoM.
No p,lmelro (LC 1,H1) 6 npUcltemente aflnud' • vltgJndad. d. Marr. par
oCllllo di AnuftCII~. Dote oleJMnlol e,tIo no Ctlfttto di IMMItPftI:
• tulul1I matemld8d1 de MIIII I o clrllllr VI'91u1 . . . . mll1emJllIdl. btI
, rt'IQldo pela p.l'pnta de Maria. a mpotta do anjo.
No an"nelo • .IQ16 (MI 1, 11-25), • ct)ncepO!O vlrglnll • pruaupoatL
o obllll'lo da IMMlgem do InJo , preC'-lIMnte o do klvlr I .10M • cef1h,li
da Intel'llnçlo dt.lnl o. con.oqGentemontto. dor-lho I olb.r o ..u papel e
• 'UI mluio no plltnO di DeUl. TodavIa o hUIJentt. tTlnemllt um por-
menor Int.,....nte. corno qUI P'fIi "',otar um potIlve' IIntldo de poIlav,.
vl'Gem que Rio co"..poncl.rta i r"Ildad.: 'AnCet que t~m coab"
lado ... '. NI ro.ndade d. cemeepçlo ylrgfnll o lVan",I_" viu D CUMpfI-
manto d. prolKlI d. 1,,1. . . rHp.11o da Virgem Mie (li 7. 14) o concluiu
reafirmando .. virgindade de M.~ dUlllnIo todo o """,,o que ~I\I o
!\aIcm.nlo d• .I...... Chamamot IamWm , atençlo para o fato di qu. a
mudança d. COftIt~lo Dlamatlul ri, g.nealollla (Mt 1,11) nlo , eQLUlL
O I ... anglllata nio I_nte nio recorre .. afl"".O'o norm.I, que terll .leIo:
'Jo", dI Maria. g.rou JHUII', m... por \Im 'aorltlo divino' ('d. qual ktl
Girado JaIUII·Q. dlSIOu I IntIIl'I.n;lo Iftftperadl a sobrenatural d. D......
Por um oulro procedlm.nto, 110 I,uCIt, fll Mil genealoal. d • .I.,,,, (3,23),
excluiu a Intel'l.n;lo d • .10M rara filhO. JlIlglY.·... de .10M"",
Ademais ê de notar que a S. EscrItura não pode ser
Interpretada Independentemente dos ensi.namentos da. Tradição
oral. que lhe é anterior e que continua a ressoar através dos
séculos no testemunho do magistórlo da I greja, Quem se
afasta. da TradicAo oral, mutila a própria Palavra de Deus e
arrlsca·se às mais variadas e subjetivas Interpretações. como
se pode averiguar nas denomlnaÇÕC8 cristãs procedentes da
reforma de Lutero. 1: o que lembra o texto da Constituição
Del Verbum do Concilio do Vaticano II citado no item 2 da
nota dos bispos espanhois.
3. Na falta de razões filosóficas e empiricas, pergun-
ta-se: haveria alWJma razão teológica que explique e justi-
fique a crença na maternidade virginal de Maria?

-115 -
28 cPERGUN1'E E RESPONDEREMOS:. 2311l.979

Sim. Notemos, antes do maJs, que a crenca na virgindade


de Maria nada tem que ver com as proposições dos mitos
pagãOSj os crIstãos eram muito ciosos da sua identidade em
meio ao rmpério Romano pagão e por isto acautelavarn~se
severamente contra toda inflltração de mJtos no depósito da
sua fé ; tenham-se em vista, por exemplo, os textos das car-
tas pastorais em que S. Paulo adverte contra tendências a
eonfundir fé e mito nas comunidades da metade do século I:
1 Tm 1,4; 4,7; 2 Tm 4,4.
Precisamente porque tencionavam evitar qualquer trai-
ção ao Evangelho, os antigos cristãos abstinham·se de parti-
cipar de festividades ou cerimônias cívicas ou sociais do 1m.
pério que pudessem ser tidas como adesão à mentalidade reli-
giosa pagã. Foi ta! a.titude que lhes valeu os apelidos de
ateus (renegadores dos deuses do Império) e misantropos e,
conseqüentemente, a perseguição movida pelo Império Ro-
mano. Não se entende, pois, Que desde os primórdios da hiI-
tórla da Igreja tenham proCessado a v1rg.1ndade de Maria se
esta era uma proposição tomada de empréstimo do paganIsmo.
Positivamente falando, dtr.se.A que 8 maternidade virgi-
nal de Maria decorre àa próprIa realidade do mistério da. En·
carnação. Com efeito, Jesus, o filho de Maria, era o Filho
de Deus que assumiu a natureza humana. Em Jesus, havia
uma só pessoa, que era a segunda da SS. Trindade; cssa peso
80a tinha um Pai no céu ; não necessitava. pois, de outro Pai,
ou seja, de um genitor térrestre, mas, encarnando-se, preci.
Eava apenas de uma genitora, ou seja, daquela que lhe daria
a natureza humana. O que Maria recebeu em seu seio. fvl·
·lhe dado pelo próprio Deus; é o Filho do Pai eterno, 80 qual
ela deu a natureza humana.
Com outras palavras: a matem1dade virginal de Maria
signifIcava que o Senhor Deus quis suprir diretamente as
funções do genltor na concepcão de um filho; signiClca con~
seqüentemente que o Filho de Deus quis penetrar no gênero
humano de maneira própria e cãracterlstica, na sua quali·
dade e dignidade lnconfuridlvel de Filho de Deus, e não como
ser meramente humano.
São estes pontQs de doutrina que ilustram e justificam
em termos teológicos a realidade da maternidade virginal de
MarIa.
A propósito mais amplas retlexões podem ser encontra-
das em PR 180/1974. pp. 471·480.
-116 -
An..1o do. crI,lloa:

a quantas vai o ecumenismo hoje?

Em alnl... : o pres.nla artl;o reproduz o conteúdo d. uma confe-


fOncla prolulda polo P., Gera«lo 8oçk6$, profea.tar do PonUflclo Ateneu
S. Anselmo e de Unl"tersklade Gregoriana, de Roma, quando de .ue puNo
gem pelo R~ de Janeiro em 1978.

A.presenta as orlgCln$ do ecumenismo em 1810. Somente em 1949 a


Igreja Cf,tóljea reconhecau tal movimento, pai. I11 enllO ere plrecll ..r
algo de puramente lIIantróplco, sem dar a devida 6nlase ls verdedes da fli
era uma forma de pancrl,Uanlamo. como d11l. o Pllpa Pio XI. O Concilio
do V.lIc.no 11, mediania o decrelo "Unlt.Ua Redlntegratlo", fomentou a par·
d. Igrel. meno. Ipolo;6IIc. do qua a ai,
tlclP41910 doa t.ólogo. e doa "'" no ecumenlamo, vaf.ndo-e8 de uma vl,1O
Intla vfaln'l li mala blbSlcl!
OI Irmlol aop.rldo. ••tlo em comunnlo Imp.t1alta com • Onlo. Igreja d.
Crlalo, que aubl"!a am plenllude na Igrej. Católica A.poatóllca Rom.na.
O ecumenl.mo pretande precllamenla. como movimento lnaplrado paIO
Eaplrlto S.nlo, l'vOl1lcar • plan. comunhlo daa eomunkladaa &aparade com
• Igreja de Crlalo.

Em vlt'a dl,to, 11m... InlUtuldo encontroa d. teólogos que vl.am I


nneUr IObre . . .trotura e a organlJ:açlo da Igraja. assim como lob... pen-
toa que alnd. aepar.m o. crl. tlo. enlre li. Multo a/v.... retro. têm . ldo OI
cotóqulo••ngllcano-católlco. e lulerano-ealóllcos sobre • Euearlatl. e OI
mlnlsl6r1oa na IClreJL Com •• p~lel .nl.... I\M col6qulos Interconte.. lonal,
t9m .Ido focalizado o cone.llo de caloUcldu.. &ta nlo 81gnllles totalidade
geogrinca ou 'Inlca, m.. totalidade 01.1 plenItude (o pMirome paullno) do.
meios de IIlvaçlo de que dlap6* s Igreja de Cristo. A cstollcldade tem a
aua dlmenalo a6clo-cullur.I, q..... lev. a respeluar a diversidade de expre..
• 60s dentro da unld.de da 'I e s unidade da fI dentro da variedade da
expreuOO. que as dlver.u culturas dia . . . ta.

• • •
Comentário: O ecumenismo é movimento ocorrente entre
os d1sclpulos de Cristo a fim de restaurar a unidade cristã
vIolada através dos tempos. Entre os fiéis católicos e pensa.-
dores de outro Credo ou Filosofia, o movimento de aproxima·
ção não se chama «ecumenismo», mas pode ser dito ed1ã10g0
inter· religioso» ou «lnter.filosóflcoJl. Para se entender o seno
tido do ecumenismo leve-se em conta o seguinte:
a) No século .v separaram·se da plena comunhão da
Igreja OI DelJtariallOII e monoflsttu, por não aceitarem respec·

-117 -
·1 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS,. 23lJ1979

Uvamente as sentencas dOS Conclllos de ltteso (431) e calce..


dônia (451) n respeito de Jesus Cristo. Hoje em dia os nes-
torianos quase jã não existem, por terem voltado numerosos
fi. comunhão da Igreja. ll.Itiversal em 1552. Os monofisitas
subsistem no Egito (captas) e na Ablssinla, perfazendo um
total de cerca de 6. 000 . 000 de flé Is.

b) No sécuJo XI (1054) deu·Se a ruptura dG Patriar.


cada de Constantinopla em relação ao de Roma por motivos
mais naclonalistas e políticos do que propriamente teológicos;
a atitude de Constantinopla encontrou seguidOrêS entre diver-
sas cornunldades cristãs do Oriente (Grécia, Bulgária, Rumê-
nia, Rússia ... ); o bloco que hoje assim existe, é chamado
ortodoxo por ter guardado a reta fé nos séculos V-VII, quando
grassavam as heresias do Nestorfanismo e do Monofisismo.
Calcula·se em 150.000.000 ou 200.000.000 o número de f iéis
ortodoxos em nossos dias. Do ponto de vista da fé e da teo·
logia, estão muito próximos dos cristãos do Ocide nte.

c) No século XVI, a partir de 1517. ocorreu 10 clsma


protestante, encabel;ado por Martinho Lutero, João Calvino
e VIr1co Zvinglto; os motivos dn ruptura (oram não apenas
teológicos. mas, em grande parte, nacionalistas e clrcunstan-
c1a1s, de tal modo que hoje em <l1a se verifiea que as diver.
g~ncias entre os protestantes c os demais cristãos não são
tão grandes quanto se julgava nos séculOS XVI e xvn. O
bloco protestante conta atualmente 260 milhões de membros
aprox1madamente.

A consciência de que a divisão é contrãria ao l!spirito do


Evangelho tem-SI! avivado entre os cristãos do século XX, a
ponto de suscitar Corte tendêncla a reconstltuk Q unidade
desintegrada. O ConclUo do Vaticano n (1962.1965) deu notá-
vel Impulso a este movimento, dito ecumênico (isto é, univcr-
sallsta).

A marcha para a unidade toma diversos aspectos: nas


camadas populares parece dlficu1tada pela falta de cultura
teológica e hist6rica. qUe leva os fiéis a tomar ou atitudes de
ind1!erenca ou posl~ extremadas (seja em favor, seja em
contrérto da restauração da unidade), No Brasil as tendên-
cias e<:Ul1lênieas se ressentem de tal lacuna por parte do povo
cristão, de modo que têm sido até agora pouco eficientes..
- Na verdade, o ecumenismo estâ longe de ser tendência a

-118-
relativizar as propostcOes de fé. como se não houvesse _ .
dadea de fé propriamente ditas. Também não é tendência a
nivelar todas. as religiões ou confissões religiosas entre si,
como se pouco importasse a perten~ a uma confissão reli·
giosa reconhecida como verdadeira. Positivamente o ecume- '
nlsmo procura reunir os cristãos separados entre si, pPOpon-
do-lhes as verdades que Cristo revelou e que são intocâvels;
tais verdades foram guardadas Integras e incólumes até hoje
na 19Te'a que o Senhor fundou e quis confiar ao ~rio
de Pedro e dos Apóstolos; a estes e aos seus sucessores legi.
timos Jesus prometeu: «Estarei convosco até a consumacão
dos séculos:. (Mt 28,20). li, pois, na linhagem de Pedro e
dos bispos que estão em comunhão tom Pedro que se acha
o depósito sagrado da Revelação. Compete, porém, à Igreja
Católica. governada por Pedro, fazer brilhar as verdades reve-
ladas de tal maneira que todos os innãos as possam reco-
nhecer.
Se entre os leigos cristãos o ecumenismo suscita proble-
mas de Incompreensão. deve.se reconhecer que entre teólogos
o d1â1ogo tem aldo fecundo e alvt.asarelro. l!: precisamente
esta faceta do movlmento ecumênico que as páginas subSe-
qUentes intencionam apresentar sumariamente. Referem o
conteúdo de uma paJestra proferida no Rio de Janeiro pala
Pe. Gerardo .Beckés O. S. B., proCessor de tcologia no Ponti-
ficio Ateneu S. Anselmo ~ na Universidade Gregoriana de
Roma. O texto foi revisado pelo próprio mestre, a quem a
redação de PR exprime 8 sua sincera gratidão.

1. O documento conciliar sobre a unidade: slgniflca,õo


O Concilio do Vaticano Ir promulgou importante documento,
dito decreto cUnltatls RedlntegraUo», sobre a restauração da
unidade cristA. - O alcance deste texto só pode selO avaliado
caso se reconstltua o respectivo pano de fundo ou a história
das origens do movimento.

1 . 1. Surto do movimento ecum8:nlco

Em 1910, por ocasião de uma Conferência Mundial das


Missões Protestantes reaUzada em Edimburgo (Escócia) foi I

posta em relevo a desagradé,vel impressão Que aos não crls-

-119 -
32 cPERGUN'I'E E RESPONDEREMOS:l 231/1979

tãos cawava a pregação do Evangelho por parte de rnlssIo.


nárJos que divergiam entre si, ... e divergiam por razões his-
tóricas, as quais em absoluto não Interessavam aos nAo cris-
tãos. À vista disto, o bispo angUcano Charles Brent resolveu
organJzar uma socledade em que todas as confissões se encon·
trassem para con1rontar as suas posições; esperava com isto
atingir a união dos cristãos divididos.
SobreveIo a prImeira guerra mundial (1914-1918), após a
qual a Conferencia de Edimburgo deu seus prImeiros frutos.
Estimulado pelas calamidades da guerra, o bispo lute-
rano sueco Natã SCSderblom deu inicio em Estocolmo a um
movimento de indole prática Intitulado eLife and Worb (Vida
e Ação), movimento que recebeu seus estatutos em 1925.
Como diz o nome, a nova obra procurava a união dos cris-
tãos no terreno pritlco da acão social internacional, não se
ocupando multo com divergências na fé, na liturgia e na orga·
nizacã,o da Igreja; Sõderblom professava o ditame: eA dou·
trina divide, mas o serviço une:., O Cristianismo era aS$im
concebido como fator de progresso social e como resposta às
aspirações pacifistas dos homens.

Em 1927, após os devidos preparativos, entravados por


dificuldades várias, o bispo anglicano Brent conseguiu cons-
tituir, numa e.ssembléla reunida em Lausanne (SuIça), o mo-
vimento eFa1th and Order. (Fé e Disciplina) '; este vol·
tava-se para questões tanto de fé como de organização da
Igreja, pois Brent afirmava, com razão, que a Igreja não é
simplesmente uma sociedade de beneficência e obras promo-
cionais, mas vem a ser essencialmente uma comunidade de
fé na mensagem divina de salvação.

Em 1937 tiveram lugar um Congresso internacional de


«Fé e Disciplina, em Edlmburgo e outro de eVlda e Ação:l
em Oxford, ambos bem sucedidos, pois os seus participantes
manifestavam a consciência de que a -Igreja não é a.penas um
movimento moralizador, mas «um outro mundo, todo sus-
penso li recepçio da Pa1avra de Deus pela fé:..
Finalmente apOS 8 segunda guerra mundIaJ. isto é, em
1948 na cidade de Amsterdam (Holanda) os dois movimentos
,. cVida e Ação:. e eFé e Disciplina:. se fundiram no chamado
1 T.mbjm dito "F' • Conllltulçlo" ou "Fé e Ordem".

-120-
ECUMENJSMOHOJE 33

cConselho MuncUal das Igrejas:t (CMI). Da grande assem-


bléia então realizada participaram 400 delegados oficiais de
150 comunJdades ecleslals autônomas, a professar um total
de aproximadamente trinta Credos. Estavam ausentes as sei..
tas antltrinJtãr:las (como a das Testemunhas de Jeová) e
alguns grupos importantes, como os batistas do Sul dos Esta-
dos Unidos da América, os luteranos do Missouri... A A!J.
sembléia houve por bem assumir uma posicão doutrinãr:ta
detlnida, rejeitando qualquer concepeão meramente prática ou
social do Cristianismo. Com efeito, para pertencer ao Con·
selho Mundial das Igrejas serIa necessário professar a fé em
cJesus Cristo Filho de Deus e Salvador do mundo". Não pou·
cos membros das diversas confissões haviam· se pronunciado
contrariamente a esta fórmula, ju1gando·a estreita demais ou
incapaz de satisfazer aos irmáos que nutrem dúvidas sobre a
divindade de Cristo; preferiam a profissão de fé em q:Cristo
Senhor e Salvador:t (omitldl1 a men~ão da Divindade); ta)
sugestão, porém, não encontrou aceitação por parte da assem·
bléia de Amsterdam.
A profissão de fé adotada pelo Conselho MundioJ das
Igrejas teve ImportAncla capital, pois suscitou mudança de
atitude da Igreja Católica frente 110 ecumenismo.

1 . 2. O reconhedmento por palt. da IgNia Cat611co

Antes do Congresso de Amsterdam, a Santa Sé proibia


aos fiéis católicos a participação no movimento ecurn~n1co.
A razão deste gesto foi explicada em 1929 pelo Papa Pio Xl
na sua enclcllca «Mortallum anlmos~: o ecumenismo então
ocorrente era tido como aeão de Interesses meramente sociais,
destitulc10s ele profissão de fé deflnida; pelo que merecia ser
condenado como cpancristlanlsmo:. (Indtscrl.minado uso ou
abuso do nome «Cristianismos).

Todavia, pouco depois da assembl~ia de Amsterdam, ou


seja, em dezembro de 1949 o Papa Pio XD sancionou a Cons-
tituição «Ecclesla Calhollca:t da Congregação do Santo Ofi-
elo, que permitia aos bispos do mundo inteiro delegar sacer-
dotes para tomarem parte no dlâlogo ecumênico. Estava assim
iniciado o processo de crescente abertura da Igreja Católica
para o movimento ecumênico ... abertura que deveria ocorrer
em fidelidade à mensagem de Cristo, sem com:'eS8Ões ao rela·
tlvismo ou a perspectivas meramente humanas.

-l21 -
M cPERGUNTE E RESPONDEREMOS. 231/1979

Novo passo na mesma direção foi efetuado pelo Papa


João XXIII. que em 1960 fundou o Secretariado para a Uni-
dade dos CrIstãos, confiado à orientação do Cardeal Agosti_
nho Bea S .J., cuja profunda !onnação bibUca o credenciava
singulannente para o diAlogo. - O mesmo Papa João xxm,
aliás, convidou deleeados náo católicos que, na qualidade de
observadores, assistiram às sessões do Concílio do Vaticano n.
Como resultado de longos estudos e debates dos padres
conciUares, foi promulgado aos 21/ 11/ 1964 o decreto «Uni.
tatis Redintegratio", UR (RestauraCâo da Unidade), Que logo
em seu proêmio reconhece o movimento ecumêni(.'O como ge-
nuina obra do Espinto Santo 1) baseada na profissão de fé
no Deus Trino e em Jesus Cristo Senhol" e Salvador e 2) des·
tinada a restaurar a unidade visível da Igreja. Eis as pala-
vras do próprio texto conciliar:
"A rnlaurllçao d. unidade .nu. todo. os cr"U'l~ , um doa obJelhOl
prfrte:lp'" da SlIg'lIdo SlnCMto Ecumlnlco Vatlc.no 8-a;unclo. O Crltto S.nhor
fundou 11m. a6 a Onlca IlIralL Tod...... mullas cemuntlha crIstAs lO aro' •
..ntam .ali homana oomo lendo • harlnp verdlãlra da ""'li Cr .10.
Tcdol, na .,.relua, la prafHlam dtscfputoe do Sant.or, m .. 11m plt1WcarH
dh'ersoe li .nd.m por camlnhctl di,.,.,.,...
como a. o pr6prio Criato aell-
.,.... dlddldo. Ella divIdO, um dúvldl, clJl'ltrldlJ: abertamente • vontlde
ele Crl..lo . . . COQUIuI am IICIndalo par. o mundo. como lamWm preludlea
• auUsa,,". caua. d. pralllçio do EYangelllo • tode criatura.
No .ntanto, o Senbor do. "cuJo.. que lull a pacientemente conUnu.
reelb:ando o propósIto de l ua graçl '"' I..or da n6s .,-cador", nal," "lu..
""" tempol começou por d.rrM'lar mia. Ilbund..,l_nte sobre OI ÇllltIoI
saparMloa antra II • compunClo da cotaçlO a G desaJo de unllG. Muilol
_ _ na, por toda • parte, aanüram o Imputa0 deite "Jaça. E lambfm, por
obrll do Eaphtlo S.nto, a.,glu .ntr. OI noaloa Irmlos ,operado. um movi·
I"IMInto ..mp" 111'" .mplo p,,, r..ln,., a ualdade da lodoI 011 crlltlos.
Este movhnenlo de unidade , ch. .edo 'MoVfm.mo ecumAnJco', Dela IM'U.
clpam OI que lmoocam o De\lI Trino • com. . . . . . JIIUS como Senhor •
Selvador, "lo IÓ Indl'lldUatrn..n.. , .... t8IBb6m reunidos 11ft! . .ambl6la • ••
QHh lodos, embor. dl ....l1Iamenl•• da..J"" um. III,e/1 de DeU$ una • vlll-
'111, qua 1.le verded.hama"'e universal a afl'llad. ao mundo Inteiro, • fim
de que o mundo .. converte 10 E,,"'gIIlho • _Im la'. salvo para. 1116"a
da Deu." (UR 1).

Pergunta-se agoTôl:

1.3. Qual a base doutrinai para o reconhaclmlltllto1

Deve.se Indicar nova maneira de focalizar a Igreja, nlA·


nelra menos apologética do que a que fora elaborada em con-
seqüência da reforma do séc. XVI, e mais blbllca.
-122 -
ECUMENISMO HOJE 35

A \'bão apologética ldenUficava a Igreja de Cristo com


a organização vls1Vel da Igreja Católica Romanaj só reco-
nheC18. como membro da Igreja quem professasse a mesma
fé, recebesse os mesmos · sacramentos e obedecesse aos mes·
mos pastores, como ensinava S. Roberto Bellarmino no séc.
xvn. Em tal perspectiva, os protestantes e ortodoxos eram
considerados como estranhos à Igreja de Cristo.

A visão bíblica é um pouco diferente. Distingue na Igreja


de Cristo vários elementos essencials: a adesão a Jesus CrISto,
a fé na Palavra de Deus e na sua mensagem (uso das Escri·
turas Sagradas), o Batismo, os outros sacramentos. o minis·
tério apostólico, o episcopadO, o Papado. .. Com efeito, todos
estes eJementos são apontados pelos escritos do Novo Testa·
mento como integrantes da Igreja de Cristo. Em conseqüên·
em, quem professa todos estes elementos está em comunhlo
perfeita com a Igreja de Cristo; tal ê o caso dos fiéis católI·
cos apostólicos romanos. Quem, porém, professa algwlS ou
apenas wn de ta1s elementos (como, por exemplo, a té na
Palavra de Deus), esté. em comunhão imperfeita com a Igreja
de Cristo,... comunhão imperfeita que deve ser levada t.
plenitude ou à perfeIção mediante a graça de Deus, da qual
o movlmento ecwnênico pode ser o instrumento vAlido. - A.a-
sim a nova perspectiva eclesIológica não fala tanto de mam·
bros da Igreja, mas, sim, e muito mais, de diversos graus de
comunhõo com a única Igreja de Cristo (que se realiza e
subsiste de modo pleno e perfeito na Igreja Cat6lica Apostó-
lica Romana).
Note·se que o reconhecimento de diversos graus de cOmU·
nhão não atinge apenas os fiéis indiyjdualmente, mas tlm·
bém as comunidades refonnadas como tais (a luterana, a
anglicana, a çalvinista e outras). A Igreja é a medianeira da
saivaçio adquirida por Cristo em favor dos homens. Ora,
esta função, a Igreja CatólIca Romana a preenche de maneira
plena e total; mas tal fato não exclui que outras comunidades
eclesiais a realizem de certo modo, na medida em que poso
suem algum ou alguns dos elementos constitutivos da imica
Igreja de Cristo: essa modalidade, embora respeitável, ainda
é deficiente ou ImperfeIta, carente de ser levada à perfeição
ou plenitude.
São os elementos ecleslals comuns a duas ou mais comu-
nidades cristãs que fundamentam uma certa comunhão (kol.
nooD1a) entre essas comunidades. Ora precisamente o movi·

-113-
as . cPERGUNTE E RESPONDEREMOS~ 23V1979

mento ecumênico procura reconhecer tais elementos comuns


e desenvolvê·los, a fim de temar perfeita a comunhão imper-
feita existente entre as comunidades separadas e a Igreja
católica Apostólica e Romana. Tal ~ a doutrina que se de.
preende do decreto UR n9 3~
"Ha una. ""In Igr.'. 4. O."', ,I deld. os prlm6rdlo!, .urgt:-alll 1Igu-
mas cls&e., quI o ApÓlltolo cemura como gravem.nl. conden6v.1s., DllSen·
s&n mal, -,"s, po""', nltcerMII fiOS Mculos potlerlores. Comunldadn
nlo pequena, ...,.rarDMII di plena cOJI'Iunhao da Igreja Católica, Ilguma
"1" nJo sem CloIlpl do. !\omana d. 1mb.. I' partes. COntudo os que agorl
em lale comunld.d .. nascem • alo 1mbuldos na 16 .m C,I,to nlu pocfem
I" ,--gQlcIot do pee.do di ' ,p"aclo, • a Ig"11 C:'16I1e. os abraça eCfft
fnll.ma fC'YO~encla e amor, Aquel" qy:. c'''m em Cristo e loram deYldamftlll
ball2ad'o•••tio constltuldol numa c.rta comunfllo, embora nl o perf.II.,
com a Igre" c.t6lIct . Com .f.lto, .. dl.crepAncl.. vlv.nlu, aob diversa
forma, enlre .1.. e a Igra}8 Cal611ee - quer Im quest6ts doutrlnafl. I .,
VlZI' 1ambtm dltelpUna,..., quar ac.rca di "Irulu" da Igr'Ja _ crl.m
nlo poucos ObaticulOl, por VIZ.. multo grava, i plena comunhlo lele-
."'lIca. O,. o movlm.nlo ecumlnlco \1ft, a IUplrar eue. obllkulOI. O.
Innlos, Jlhfflcadoa no aallamo pela '., alo Incorporaoa a CrI.to 0, por
I.to, com rulo omldos com o nome de CrflUlo, o mer,cldam.nte ,eco-
nhecldos paios mllo, da Igrell Clt61k:1 como Innlos no Slnhor.

Adama" "gun, _ I a'6 muitos. edmlos - elementos ou bltlS com


OI qu.', • IgraJ. ,
.dlllcad. I vhlflcad', podem .xt,t1r fora do imbUo d.
fpJa Ctt6tlee: a!lllm a Pllavra • • crll. dti D.u., • "Ida d. ",raça. • fi,
a e.p"ança. • carldad. CI out,o. dCII" Inlerlora. da EI.,lrllo &.nto a ala·
manta vr.lvel.. Tudo l:Iao, q'" prolt6m do Crl.to • a Crlglo conduz, por-
Ience por dlraRo • 11"lca I"rala ele Crbto.

OI 1!1dot lapI,adOI da n6tl ,.allzam tarnWm " i o pOUcal aç6ft da


n""lo orllCL &1.. podam, lem dúvkfa, po, virlOl modOI, conform• •
cond~o da cid. f,raJ. ou comunldad., produzir ".amenta • vldl da .!lça.
D~ m"",o .. , üd.. como ."las • abrir as portae .. comunhlo ..tv.dor ..

PorllftCo, mlsma _ Igre' .. I Comunldadn IIp.raclM. ImbO,. cr.1 ..


mos qUI tenham d.Rcllnda., de form. IIIguma estilo deelrulda. do IlgnRI-
~ a Importll'lClII no ml.!frlo da III"'açlo. O Esplrllo Sanlo aio t.cu..
empreg6.Jn como melo. da ..IVIÇl o, • •"Ota a vlrtuda da.lu deriva d.
pllnllud. da gr~ e verelade tonlllda .. Igre,a Cat6nca.
Contudo OI 'rmlo. di n6s .aparldo.. I.nlo OI Indlvlchlo, çomo .ua.
Comult'dadu e 'gr')II, nlo gozam daquel, un'dada qUI J ..UI Crl, lo qubr
pradlvallur • todo. lquel" qUI re"n.tou • coft'4vlllçol,.l num .6 corpo •
am novldad. d. vida ' . que a. algradll E. ctllura a • venem'l Ttadlçl o
tia 10:IJ. proI'ns,lft. Soma"" atrav" d. Iv!.ja Católica de Cr"to, auxilio
gerll de •• 'v~o, pode sar atl",teta loda a plenitude do. m.los d. satv~.o.
Crlltnlos .....~m qu. o Sanl'lor conllou todos o. bens do Novo Testam.nlo
110 "n'co collglo lpo.tóllCo, • cuja frente a.II Pedro, a flll'l d. con,Ululr
1\11 ta"a um ,6 corpo d. Crltto, .0 qual 6 neces"llo qua se Incorpor1lm
pl.namentl todo. o. qu., de .Iguma form", pert.nClm '0 povo d. D.u....

_124 -
ECUMENISMO HOJE

Em suma, é tal concepção de Igreja que torna possJvel


à Igreja Católica o reconhecimento do ecwnenismo e. canse-
qUentemente, a reallza~ão do diálogo ecwnênico.
Vejamos agora:

2. Como se tem desenvolvido o diálogo?


Após o Concilio do Vaticano li tornaram-se assaz inten-
SOS OS contatos e o diálogo entre a Igreja cat6lica e as comu-
nidades eclesiais não católicas. Esse dláIogo vem-se desenvol-
vendo de duas maneiras, ou seja, em termos gerais e em ter·
mos ma.ls especiflcos ou bOatelals.

2 .1. Diálogo prDIl

Pratica-se o diálogo geral quando diversas comunIdades


eclesiais se reunem por meio de SêUS representantes legitimas
para estudar algum tema de interesse comum. ~ o que o
Conselho Mundial das Igrejas vem promovendG em assem-
bléias cuidadosamente preparadas e planejadas.
1) Algumas dessas assembléias têm caráter estria.
mente twl6gtco, devendo·se principalmente i\ lnlclativa da
Comissão clo'é e Constituição.. Tal foi o que ocorreu em
Montréal no ano de 1963, quando as confissões cristãs reu-
nidas por meio de seus representantes debateram o tema
cIgreja católlca Universal como comunhão de Igrejas locals:t.
chegando a conclusões muito positivas ou conve.i gentes. Fol
também o que se deu em Louvain (191l) , onde o tema abor·
dado foi cA unidade da Igreja e a do gênero hum3nO:t.
As questôcs estudadas nos encontros teológicos referem-se
geralmente à estrutura e à unidade da Igreja. Antes mesmo
que a Igreja Católica partlcll)B.sse de tais encontros. haviam
os protestantes e ortodoxos chegado oà. evidência de qUe a uni.
dade da Igreja
- não é meramente lnterior, espiritual ou Invisível, mas
deve ter suas notas caracteristicas. vis!vels. como a profissão
da mesma fé e B partlclpa;õo nos mesmos aa~amentosi
-125 -

38 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS:. 23Vl979

- nem é a unidade de uma coDfedemção, na qual diver·


sas comwúdades cristAs se encontrariam vincUladas por liames
ora mais intimos, ora mais frouxos;
- nem é a unidadê resultante do lntercambio ou da
permuta de certos valores, como se tosse desejável que um
crlstão partlclpasse. em deb!rmlnados dias, da celebração euca·
rístIca. da Igreja Católlca e, em outros, do culto protestante.
Rejeitando tais tipos de unidade, os cristãos não cató-
licos se têm mostrado convictOs de que a unidade da Igreja
é a de wn corpo OrgAnico, vivente, chamado cO corpo de
Cristo», caracterizada pela mesma profissão de fé e pela
mesma vida sacramental. Como condIcão para que tal uni-
dade se realize, vê-se que é necessârio o ministério apostólico,
ou seja, a fidelidade ao pastoreio entregue por Cristo aos
ApOstolos e por estes aos seus legitimos sucessores. :t este
ministério que há de garantir a W11dade da fé e a da vida
sacramental.
2) Além dos amplos encontros destinados ao estudo
teológico, têm-se registrado assembléias gerals do Conselho
Mundial das Igrejas, que visam principalmente a aplicar à rea-
Udade prática os pontos debatidos pelos encontros de nivel
doutrinário. Dignas de nota foram, por exemplo, a m assem-
bleia do CMI em Nova Delhi (1961), que versou sobre o
tema .J'"esus Cristo, a lu2 do mundo::., a IV assembléia reu-
nida em Upsala na Suécia (1968), tendo seu int eresse cen-
trado no tema cO Esplrlto Santo e a catolicidade da Igre'a:.,
a V assembléia realIzada em Nairobi (Quênia) no ano de
1975, sobre .Jesus Cristo nos liberta e nos une • .

2.2 . DI6Jogo blkltmll


O diálogo bilateral entre duas comunidades ecIesials é
preferido pela Igreja Católica, visto que possibilita aborda.
gem maJs espec1fica e fecunda dos pontos que interessam aos
interlocutores.
O mais fecundo Intercâmbio teolÓgico da Igreja Cató-
lica tem ocorrido com os anglieanos. ProdU2lu duas impor.
tantes Declarações: a de Wlndsor, sobre a Eucaristia, e li de
Cantuária, sobre o ministério apostólico. Estes dois documen·
tos atestam B\lrpreendente convergência de ambas as partes
sobre os temas considerados. Todavia não se pode deixar de
mencionar séria dificuldade no diãlogo entre católicos e

-126 -
_ _ _ _ _ _ _-'E"'C"'UM""ENISM"'O"'"m"J,,EC _ _ _ _ __ --""
39

anglicanos (ou, de modo geral. cristãos não católicos): cn·


guant'O os teólogos católicos propôem EI mesma doutrina
representativa da Igreía Católica (apesar da variedade aci·
dentaJ de escolas teológicas do Catolicismo contcmporãnco) ,
os teólogos não católicos nAo representam sempre a sua comu·
nidade ecleslal. mas, por vezes, a sua posição pessoal ou n
de ccrl.:u correntes da sua comunidade (os próprios bispos
anglicanos nem sempre concordam entre si, mesmo em assun·
tos de té). O colÓQuio com os teólogos católicos estimula,
sem dúvida, os não católicos a procurarem a unidade da sua
doutrina.
o ponto mols nevrálgico de todos, no diálogo ecumê-
nico. em geral fica sendo o ministério apostólico e o primado
de Pedro ou, segundo tenninologla recente. o c:munus petrl-
num. , o oficio de Pedro. Contudo mesmo a tal propósito
vêm·sp. desenvolvendo sérios esforços: assim, por exemplo. aos
5/03/74 foi publicada a Declaracão cO primado do Papa.
Pontos de conve~êncI8. da autoria de teólogos católicos e
luteranos dos Estados Unidos da América: o conteúdo deste
dor:umento é altamente Interessante e alvissareiro, como se
nade depreender da resenha apresentada em PR 183/ 1975.
Eis. por exemplo, o CJue se lê logo no prólogo de tal Dcc~,3.­
ração:
"Entr. OI luler'I'I" ... "Ilmo•• um. tomada d, cOMcltncla cad. 'lU
m'llI .1.. d. . . . c... ldld. d. um ml"I,16rlo I'Declllco p.rl COMI""" "
unldad. di fgrel. I " 'u. ml.,Ao u...........I. 41ftC1U.n!O os c.t6l1cos I:XDe'I-
mlmlm clda .ez ,".h • necealdade d, umll CGmllrHndo mais matlzad.
d. funclo do pa.,.o 11. lo~l. u"lvI,,"I. Lurlr.roa. e cal611cos oodem .0 ....
CG'nl'Çar ••nelra, a possibilidade d. um _"CIo •• spa"r enconlr.r IIOtu-
ç6 .. pl,. probllm.. qUI oukOr. partelam Insolúv.... CntmOS qUI Dlu.
chama _ ... Igre' . . . . . . proa"".,em, • 0'....0• .,-r. que Itta D'ec:laJlç:1o
comum. .obre o prlmldo papa' '411' ""', el.pa em demandl dessa me....
(cl. PR 113/1875, p. IS),

Em suma, verifica-se Que os teólogos das dlver.'ias con-


fissões cristãs têm procurado exprimir a sua fé em fórmuTas
Que possam obter o consentimento de todos os cristãos. Esta
tarefa implica purificn~ão das mentalidades de oarte a parte
e das respectivas linguagens: enouanto os católicos se vêem
obrigados a fazer eco mais assíduo aos textos blbllcos, OS
protestantes redescobrem nas Escrituras certos pontos Que
lhes têm e~apado (a real presença de Cristo na Eucarb Ua,
por exemplo).
Resta agora Indagar:

127 -
40 cPERCUNTE E RESPONDEREMOS) 231/1979

3. E quais as pel'S'pectivos do movimento ecumênico?


Partamos de um fato importante: em 1968 realizou -se a
VI assemblêla geral do Conselho Mundial das Igrejas em
Upsala. Contava com a presença de 800 delegados de um
total de 250 comunidades cclesiais; ~ram 2 .000 OS respectivos
participantes, êl"ltrc os quais muitos. católicos. No ato de aber.
tura, foi lida uma carta do Papa Paulo VI, que, saudando
muito fratem:!lmente a assemblêia, foi aplaudida pelOS pre·
sentes durante cerca de cinco minutos, em demonstração de
viva simpatia pe!o PonUClcc Romano. Pôs-se então a per.
gunta: seria conven iente que a Igreja Católica se tornasse
membro efetivo do Conselho Mundial das Igrejas? - A res-
posta dada pela assembléia foi negativa. E por quê? - Por·
que a Igreja Católica é a mais numerOSa de todas as comu·
nidades eclesiais cristãs ; se, pois, se lhe Quisesse dar o devido
lugar no CMI, ela provocaria a ruptura do cquilibrlo das
representações eclesiais - o que seria inoportuno. Ficou,
pois, assentado quc, mcsmo scm se tornar membro do eMI,
R Igreja Católica colaboraria com este na procura da uni·
dade j em conseqtii!ncia, foram log:o e~olhidos nove (hoje são
quim.e) teôlogos catôlicos para Intczrar a Comissão t:Fé c
Constltul ção~ ; desta forma os católicos passaram a coop:!rar
dirctam<:nte na promoção do diálogo teológico intcrconfcs-
~Ionnl.

A Assembléia de Upsala houvc por bem aprofundar o


teml cO Espirito Santo e 8. Catollcidade da Igreja" che-
gando a conclusões quc vã o abaixo slntctizadas.

3.1. Catoli,idade dg Igroja


Embora a palavra ea.t~lIcid:lde como tol não ocorra nas
Escrituras Sagrados. ela c de origem antiqüíssima nas obras
cristãs. vIsto que foi utilizado. já por S. Inácio de Antioquia
(t 107) . Ela não significa, ni:. mente da antiga Tradição
(que os estudlosós em Upsala quiseram reavivar)
- nem unlvcrsalldndo gco,l.!rttfica, ou soja, difusão do
Evangelho por todas as partes do globo;
- nem universalidade étnica, Isto é, adeslio de todos os
povos à mensagem evang:êlica,
- nem unlversaUdnde histórlcn. isto é, transmissão do
pregão do Evangelho através de todos os séculos.

- 128-
ECUMENISMO HOJE ,i
A catollcidade, pois. da Igreja não tem, no contexto do
diálogo ecumênico, significado qWUltttatiVO, mas. sUn, quali-
tath·.o. Ela exprime a plenitude ou totalidade da salvacão,
da graça e do Esplrlto Santo contida na Igreja de Cristo.
Tal sentido do termo corresponde no que São Paulo entende
por pléromn. (plenitude) nas cartas aos Colossenses (d. 1.19;
2.1JJ e aos Efésios (d. 1.23; 3.19; 4.13) .
Em conseqüência, os onze Apóstolos e Maria 55. no dia
de Pentecostes eram a Igreja Católica (portadora da pleni.
t'oJde da salvação); cf. At 2.1·4. Os três mil fiéi s convertidos
p~la primeira pregação de Pedro também representavam a
catoUcidade da Igreja (cf. At 2.41). - lt essa catoUcldade
ou plenitude que deve procurar a unidade da Igreja esparsa
p210 mundo inteiro. como uma força que nge de dentro pare
fora no corpo vivo da Igreja. Em virtude deste principio.
muitos teólogos a finnam que o nome da unidade hoje é cato-
Ucidnd-~.

3 .2 . DimenSÓH do caloliddade
A ulterior elaboração do conceito de catollcidade leva os
teólogos a reconhecer nesta nota da Igreja quatro dimensões
ca racterls ticas:
n) tlintl'nsiio ~cl~cuUuml. Esta Implica unidade do. te
na diversidade das expressões da té e diversidade de expres·
sões na unidade dos valores essenciais. lt: isto que diferencia
a l.Inldadc almejada de uma unlrormldade 'ndesejável para a
Igrcjn de Cristo. E!rdslclI{c cm todos os continentes do globo,
a Igreja deve saber encontrar na cultura de cada povo e de
cada região as diversas formas da sua fé e da Liturgia. Isto
quer dizer, entre outras coisas, que, como atualmente são
aceitos na Igreja Católica o rito bizantino, o melqulta, o maro·
nlta, o romano e outros, no futuro também poderão encon ·
trar aceitação o rito luterono. o anglicano ... , sem prejufzo
para a validade da celebração. Como existe uma organização
eclcsiai confiada preponderantemente a clérigos, poderá em
certas regiões a Igreja confiar novos e novos ministérios a
leigos, ficando, porém. todas as funções eclesiais (clericais ou
leigas) vinculadas ao sucessor de Pedro, em autêntica comu·
nhão com a Igreja Romana. Estas perspectivas não vem a ser
senão aplicações do ramoso axioma: .Nas coIsas essenciais
(da fé e da organização da Igreja), haja unidade. Nas coisas
acidentais, haja liberdade. Em tudo. porém, haja caridade»
(cf. UR n ~ 4).
-129 -
42 .. PERGUNTE E RESPONDEREMOS) 231/1979

b) Dimensão l1l!t5rlca.. Requer·se continuidade histórica


entre a fé dos Apóstolos e ti. que a Igreja hoje professa. A
conservação da mesma fé será assegurada pelo ministério de
Pedro e de seus sucessores. Pode-se mesmo dizer que a suce:.-
são apostÓlica é a chancela que autentica a fé apostólica ou
verdadeira, assim como a fé apostólica é o conteúdo da suces·
s5.o apostólica. Em outros tel'mos ainda: a sucessão apostá-
lica é, de certo modo, sacramento (sinal portador e trans·
missor) da fé apostólica t.
c) Dimensã.;:, cclesiat As diversas comunidades cristãs,
conservando seus próprios valores Icgitimos e suas tradições,
devem convergir numa única comunhão, constituindo uma sã
Igreja.
d) DIrnclL'"-ão c6smicm.. Essa comunhão deverâ ter reper-
cussão sobre o gênero humano ou sobre o mundo inteiro,
contribuindo para unir todos os homens com Deus e entre si.
I!:, aliás, o qUe ensina \1 Constituição _Lumen Gentíum, no
seu nt 1 : ..A Igreja é o sacramento da unidadQ dos homens
com Deus e uns com os outro:n. Exercendo assim a sua duplól
missão _ a vertical e a horizontal - a Igreja c<lloca a cruz
no centro do universo e da. história.
Não f31tam em nossos dias organizações que vis:J.rn a unir
os homens entre si, provocando a convergência dos valores
dos diversos povos em prol do bem comum; tenham-se em
vista, PQr exemplo, a ONU, as sociedades internacionais de
esportcs, musica, culllvo da ciência, etc. O que falta atai;;
oocledades para preenchcrem a sua finalidade de unir real·
mente os homens, e o Espírito do Senhor, que dá efieációl
transcendental aos esrorços sempre limitados das criaturas.
Ora a 12reja c vlvlrlcada precisamente pelo Espírito de J)(!us
para poder tomar-se a alma do mundo, ou seja, a força dina-
mizadora dos valores da humanidade. Na verdade, a Igreja
ndo existe para si, lnôlS pllrn trnnsmilir n todos os homem; as
riquezas da mensagem c da vida que o Senhor Deus lhe qui!;
confiar.
Eis as perspectivas que se abrem ao movimento ecumê-
nico em nossos dias. Eis a vocação a que os cristãos, reuni-
dos n.n. catoUcldade da Igreja, são chamados. mais do que
nunco, nos tempos atuais.
EJt..~ao ~ttencDurl O. S. B_

1 A ruAo d. tio cat.g6rlc•• llrm.U.... eneonlra-'. nas pala ... ra! de Cristo
aos Apóstolos: "Eis Que .. t.ral eonvoseo .,6 • eonsumaçl o dos s'culos"
(MI 28,20). Foi, pois, lOS Apóslolos 8 aos teUS sueessor.s at. o 11m dos
tompo!l quo o $iJ:"Ihor qLh 3s:oQuror li tiUII lnlallvel asslsldnc:le.

-130 -
livros em estante
A H da "reJa, por Mlche,1 Sel1m,us , vol. IV - A Igre'a, um mb"rlo
da ". Tl'1IIduçlc de Frei Álvaro Machado 511"'1, - Ed. Vozes, Palr ~pol1s
1978, 160 J: 230 mm. 236 pp.
Mlchle' Schmlua 6 um dos grandes 18010g05 conlemporAneos, Publj..
eou um compandlo da Teologia DogmA!!ca (ou Slalemállea) com o titulo
"oer Graube dar Klrche", que • Ed. Vozas vem traduztndo. Depois de
.,..... r tratado dOI fundamentol da Teologia , de 08U8 em aua Unidade e IUI
Trindade o de Crlslo, o lutor conslder. nesle valo IV • fgre!&. como mlst6rlo
de fé, que continua o mistério do Varbo Eneamado. Schm8us ancara .r
lambdm as quosl!>os modernas da Ecleslolog1a, como sejam o papel dOI
leigo. , o primado a • Infalibilidade do Papa, o sacerdócio mInisterial d.1
mulhares. o celibato do clero. Neslas diversas abordagens o 1eOlogo alemlo
é fia' porta-voz da Igreja. apto I .aUslezer ao leItor desejoso de Inlormaçõe.
seguras aobre a. manlrra. como alo dllCutldOl oa temas da fé a Incam1-
nhadoe pare alUI IOfuçlo. Jé tivemos oeaallo de apreelar OI volum..
anteriores de SchmauI em PR 199/ 1976, p. 32": 205/19n, P. "5.
Fazemos votos para qUI a publlclçlo da obra Inteira cheguI em breve
e seu lermo.

Ja.us perfllco • IIbat110b .,catol6glea. por J. E. Martins Terra, R.


!..atourelle. B. Klpper, O. Cullmann, L. Sabour)n, E. Oh.nl., A. Vanhoye.
Sérl. blbl1ca n9 8. - Ed. Loyola, Slo Paulo 1979, 140 X 210 mm. 143 pp.
Esta livro' uma ccletlnea d. artigo. de grandea m•• ttes n8.clonal••
estrangeiros, coordenada pelo Pa. Joio E.... ngells1a Mlrtlna Terra S . J .,
Traia do cande!1le lema da IlbertaçAo, procurando reeonslHulr a oenulna
laca I o aultntlco penaamento de Cristo a respeIto, Na ... erdeda, o 1t'lfO
eborda tania a Crlltologla blbllca como a leologle da IIbartaçlo.
O prlmllro artigo, da aulorla do Pe. A. Latourelle. procura moat rar a.
.critérios par. . . dlatlngulr o Jelul hlsl6r1co do Jesus da fé a conclui mullo
lavoravelmante • autentIcidade 00' Evangelho:!l. Hoje nlo se repetiria o Que
Bullmann dizia em 1928: "ea J esus de Nau'" nlIo le sabe nada ou qu.ue
nada". O Irtlgo , Ixlr.memenle Importante para aI rlrmer a credIbilidade
dos Evangelhos.
O segundo capitulo é da lavra do Pa. Baldu lno Klppar S. J., de 510
Leopoldo (RS): mullo exalo o crllarlolo, o lulor mostra que Jeau. nlo 10t
um revoluclonérlo polllt.co, um guerrllholro ou um polltlco prolll.lof\8l; nl'o
obllanl., a sua pregoçlo tem umo dlm.nslo pollUca. porque questiona o
poder quando 8$10 llllnde a se divInizar e absolullzar.
O. Cullmann Inlerroga: ''leVII Jesus propósllos de reforma pollllca1"_
Ao que r"pande negativamente. e acrescenta eo 11m do leu artigo: ''Oln-
gl-m. nesla. linha. quer ao. cat611cOl, quer 11105 prolestanl... Oe foto, tanto
uns como oulros eslJo Igualmente ameaçadOl pala perigo da pollllzaçlo.
Se o enconlro ecumtnlco se da ao nl.... ' de pollllzaçlo, , um lalso ecume-
nismo, que nlo .omenl. compromete a causa da unidade, mas favorece tam-
bém o proC8SS0 da descrlallanb!açlo do mundo. A lu nçlo atual do .... rda-
delro ecumenismo, diante deste perigo, deve consistir em oponno-nol con-
Juntamente 111 a.la ..duçlo arbitraria do E...angelho, para dar ao Estado
O serviço que aomos Chamado•• dar·lha • .com o laslemunho d. que polaul-
mo. o mandalo" (p. 92),

-131-
44 ePERGlINTE E RESPONDEREMOS. 231/ 1979

l. Saboutln $ ,J., prolU$Or no InsUtuto BIbUco do ROlu, estuda.


_ur,.19lo de LAuro (Jo 11) e afirma a hb10rlckfado da me$ma. Bem
evidencia assim ser arbitrária a l<&5e do Allons Welser, que pro~s a Inter-
prllaçlo conlrJirll em seu livro "O que ê milagre na Blblla"j cf. PR 22~1t978,
pp. 319-334.
O. PI. Edouard Ohanls 5.J. aborda a ro"urrelçAo corporal de Jesus;
afirma a hlstoricldede do leio o aborda o valor teológico do mesmo.
L Sourln S. J. comonla com só lida piedade as palavras da Jesus
na CruL e os PP. Vanhoyo e J. E. Martins Terra comentam o sacerdócio
de Cristo segundo a epls tola aos Hebreus.
Como .. vê, o livro em loco 4 rico em conl8údo teológico a epolo-
DAUco. Vem a propós ito nasle momenlo de helllaçbas sobre lamo básicos
da fé (ressorrelçlo de JIIUS, fidelidade histórica dos Evangelhos, ascalolo-
gla e laologle da lIbertaçlo, slc.). Apena. lamanlamos nlo ha'a uma péglna
da Sumário no Inicio ou no 11m da obra, a 11m de propor em relance O. llIu-
los dOI diversos capitulo. do livro. Mes Ilto nlo faltar" na próxima edlçlo I

AI (eolo"la 40 noNO Iflnpo, por BaUlsla Mondln. - Ed. Paullnls, Slo


Paulo 1919, 130.200 mm , 226 pp,
O Pe. 8al1lstl Mondln • prolallSor de Unlvat!ddades acleal'alle .. em
Roma. Vem-8e dedicando 80 estudo do pensamento católico e do atel.mo
em nossos dias. Dal o lançamento do Intaresslnle livro aqui poslo em paula.

o aulor dlallngue cinco correnles leológlcas em nosaa épocI :


1.) a ~nO"fIÇlo 'aológlca ocorrida após I primeira guerra mundial
(11114-18): procurava . tt.stecer-se coploaamanla da S. Escritura o dos es-
critos pa.lrfsllcos. Os saUII principaIs expoentes loram Chenu, Congar, Ca-
nlélou, Da Lubac, Guardlnl .. . (da parte católica) o Karl Barth, Brunner
(da parte prolestanle) . Esta corrente ainda aubslste no Catolicismo e multo
Influiu na radaçlo dos documentos do Concilio do Vallcano 11.
2) A taolàgla "radicai" ou "da morla ele Ceus" , oa aeuI arautos.
oeralmenle prOI"t8l\t81., seguem a lIIoaolla neoposlllvlsta: Oaua .. rle um
nome lMII'T1 slgnlllcado ou uma reaUdada morta para o homem contempo-
"'nao. Da' a neces.sldade da a. reconhecar a "morte de Deus", o que
signIfica que os cria tios devem viver como ae DeUII nlo exlsll ..a ou MCU-
latlzadamente. a 11m da poderem enlrar em dljlogo e colaboraçlo com os
seUl semelhanlos Indlferent.. ou aleus Ca fj , no caso. 110 exlllllrl l em carlilar
prlvldo ou no Inllmo do, crls1los, sem m,anlfastaçOes especlllcas) ,
3) A taologla da "parança recebeu (I seu neme a partIr de livro
de Ema! Blech: D.. Prlnzlp Hollnung (O prIncipio Esperança). PropOe
uma vlelo otlmlllta d. hlatórla, preconizando a Utopia, ou seja, a censecuçlo
de um bem-estar terre, tre com que eonham todos os 1116110101 e sociólogos.
Bloch .egulu de palio Karl Ma,., mal, am vaz da repudia" a Rellgllo, atribui
••sta pepel Importenle na larll'. de c:cnalrulr um luturo melhOr; a rallgth
contrlbul para prola'ar 'o homem em damanda do lIeu futuro dan1ro da
próprla realldada terrestra, O. prlnclpal1l cultoras deste modo de pensar alo
W. Pannenberg (protestante), J . B, Metz (ea.Ollco, que dA orlantaçlo cató-
lica aa linhas de Elloch) , HaNay Cox (ballste ) ...
....> A teologl. ela "praia". Em vez da aaNlr-8e de algum slatema fI!o-
sóflco para peneIrar a Palavra de Deus, 011 mantores dota corrente partam

-132-
da praxls (açlo) pollllca, social, IconOmlcl ... Julgam qUI na açlo • qUI
devi emergir o sentido da palavra de D.us. Esta, mlls do qUI um Clnal d.
Vlrdadn, se,la um. fMie de Iça0 a Irs",formeçlo. A exprMslo mais conhe-
cida dista corrente t80]6glcI 6 • "'Io]og]a da I]bertaflo" (ao manos em ai-
gUN di nus varladoa matizas) , I qUII 'amb'm ê, por vezes, " Ieologla da
revoluçlo". Seus principais 'aulores slo GustlVO Gutierrez, Hugo Niman ...
S) A 'Iolog'a da cruz Jaz da cruz o principio de Intarpretaçlo de toda
a hlslórla di aalvaç50 e de lodo compromisso pr'tlco. Vlslo que a cruz algn~
nca renúncia, humllhaçlo, morla, esta COtranla teofóglca sujeita ao severo
Juizo da cruz as construções leologlcas, as estrulura, eclaslals, aa Inlclallv"
concreta. pa r. verlllcar sa permaneceram 1161s a Cristo até ao Calvãrlo ou l i
pr1'I8Ilram abandonA'lo com Pedro ou mesmo Ira I-lo com Judaa. O principal
cultor de.ta eacola teológica li J . Mollmann, que se Inspira remolamente
em Martinho L.utero.
O livro da Mondln • Informativo a ulll. Nlo hé dúvida, pOderl. u ,
alrlda mais complelo, levando em conll. a leologla calóllca propriamenta dita
pos tarlor ti segunda guerra mundial ( 1 939·194~ e principalmente após o
Concilio do Vaticano 11 (1962-(15). Como quer que seja, 6 obra de vel()(,
como toda tantallva de vida panortmlca • valias • .

Con.... rs •• com o meu Sanho" por Joio Ballsta Mlgale. eoleçlo "s.-
mentes" - Ed. Paullnas, Slo Paulo 1918.
O prollt. que nlo do da.. ,lo, por Joio B.Usta Magala. Coleçllo "CI-
dadlos do Reino". - Ed. Paullnas. Slo Paulo t978, 135x207 mm, 125 pp.
A ell:perllncla de O.ua, por Joio e.tlsla Magale. Coleçlo "Juventude
e Crescimento ·na 1i!J" n9 8. - Ed. Paullna•. S!o Paulo 1977, 110 x 190 mm,
75 pp.
O PI. Joio Batista Mlgale , UII'I mlssion'rlo cl.retlano de eelo Ho-
nzonte. Tem-.. dedicado a eacrever IIv(os de esplrltualldade, doa qua1e tres
'110 acima identificados.
O p,lmelro 6 uma .nlologla da belas oraç08s, formuladas a propósito
de tema. da vIda ootldlan. (amizade. paciência, inIcio do dia, Natal, etc.) .
rala livros de oraçAo ensinam o leitor a reur.
No ' egundo livro recenseado o autor comenta os textos do Ev. ngelho
relalivos a J oio Ballsla. procurando dar "nlldo alual .t IIgura do precul'lor
do Senhor : eale ler' sido um conleatador d. aocledade de consumo e um
aulêntlco minlr ou teslemunhe de CrISIO.
No I.,celro livro. mais denlo do que os anlerlores, o Pe. Megala
tenta fatar de Oeu$ e da unllo com Deua a loven., mediania estilo . lmpl'l
e clara: prop6a relJex/!es qUI se '110 eoncalenando, ~ modo a evidenciar
que Deus nto • uma palavra nem uma fórmula de Catecismo, mas, sim, o
grande Olaloglnle da criatura humana.
Parabens ao aulor, que certamente deva encontrar ampla dlvulgaç~
no público ledo r, pois é mestre em comunicar de maneira au.ve es ver-
dade. ptofundl. raferentes a OeuI a • vida crlall.
E.8 .
• • •
SE ALGU~M DESEJA DESFAZER-SE DE ALGUM NuMERO
ATRASADO DE PR, QUEIRA INDICÁ-LO AO CORONEL JOA-
QUIM LAGOA (CAIXA POSTAL 11 .730. CEP 01000 SÃO
PAULO. SP). QUE ESTÁ INTERESSADO EM ADQUIRIR CER-
TOS EXEMPLARES ANTIGOS DA NOSSA REVISTA .
SERVIR A DEUS É REINAR
"NÃO FOI POR NECESSITAR DE NOSSO SERViÇO QUE
DEUS NOS MANDOU SEGUI-LO, MAS PARA DAR-NOS A
SALVAÇÃO. POIS SEGUIR O SALVADOR ~ PARTICIPAR DA
SALVAÇÃO, E SEGUIR A LUZ ~ RECEBER A LUZ.

OUANDO OS HOMENS ESTÃO NA LUZ, NÃO SAO


ELES QUE A ILUMINAM, MAS SÃO ILUMINADOS E TOR-
NAM-SE RESPLANDECENTES PELA LUZ . NADA LHE PRO-
PORCIONAM, MAS RECEBEM O BENEFICIO DA LUZ E SilO
ILUMINADOS POR ELA. ASSIM ~ COM O SERViÇO A DEUS:
NADA LHE PROPORCIONA, NEM OEUS PRECISA DO SER-
ViÇO DOS HOMENS. MAS AOS QUE O SEGUEM E SERVEM ,
DEUS CONCEDe A VIDA, A INCORRUPTIBILlOADE E A
GLóRIA ETERNA . ..

SE DEUS SOLICITA O SERViÇO DOS HOMENS, ~ POR-


QUE, SENDO BOM E MISERICORDIOSO, QUER BENEFICIAR
OS QUE PERSEVERAM EM SEU SERViÇO. TANTO DEUS
NÃO PRECISA DE NADA QUANTO o HOMEM PRECISA DA
COMUNHIIO COM DEUS.

~ ESTA . POIS. A GLORIA DO HOMEM: PERSEVERAR E


PERMANECER NO SERViÇO DE OEUS" .

S. IRENEU, CONTRA AS HERESIAS IV 13. 4·14

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