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A Mulher na Idade Média

São Luis -MA


2019
Universidade Estadual do Maranhão-UEMA
Centro de Educação, Ciências Exatas e Naturais
Departamento de História e Geografia
Curso: Licenciatura História
Docente: Adriana Zierer
Discente: Lucenildo do Lago Holanda

Biografia do autor

José Rivair Macedo, possui graduação em Licenciatura em História pela


Universidade de Mogi das Cruzes (1985) e doutorado em História Social pela
Universidade de São Paulo (1993). Realizou estudos de pós-doutorado na Universidade
Nova de Lisboa em 2001.
Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
pesquisador do CNPQ e sócio fundador da Associação Brasileira de Estudos Medievais.
É também membro do Conselho editorial das revistas Signum (ABREM), Brathair:
revista de estudos celtas e germânicos, Politéia (Vitória da Conquista) e Aulas
(Campinas).
Sua experiência é na área de História, com ênfase em História Medieval,
estudando, principalmente, os seguintes temas: cultura medieval, religiosidade cristã,
imaginario medieval.
José Rivair Macedo é autor de diversos livros e artigos acadêmicos, entre os
quais: Riso, cultura e sociedade na Idade Média (EUFRGS/Ed. Unesp, 2000); Heresia,
cruzada e Inquisição na França Medieval (EDIPUCRS, 2000); Os estudos medievais no
Brasil: catálogo de teses e dissertações (EDUFRGS, 2003); Movimentos populares na
Idade Média (Ed. Moderna, 2002). A mulher na idade média (2002)

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Resenha

O autor discute a respeito do termo específico “História” que apesar de estar no


feminino as pessoas costumam enfatizá-la no masculino, e o seu estudo privilegia
geralmente os homens. Neste sentido o autor busca resgatar as marginalizadas e
esquecidas da história as mulheres, que sempre estiveram submissas à sombra do sexo
oposto.
José Rivair nesta obra faz uma análise Estrutural e social do papel feminino na
sociedade Medieval, nela ele mostra que as mulheres se distinguiam entre si, sobretudo
pela posição social que estas ocupavam, pela atividade que desempenhavam, pela faixa
etária, pela instrução e por suas opções e ideais de vida.

A sociedade medieval definiu os papéis e os lugares reservados ao sexo,


definição que era feita por homens, nos quais os valores oscilavam entre os e princípios
éticos cristãos impregnados pela ideia da culpa e do pecado que associavam a sexualidade
feminina como sendo o demônio e a própria mulher como um instrumento demoníaco e
os ideais de guerra ambos como sendo um campo restrito as mulheres.

A relação das mulheres para com os homens era, sobretudo, eram feudo-vassálico onde
a mulher era submissa ao seu senhor (marido, sogro ou a um membro da família mais
velho) ficando esta ao julgo e proteção dos mesmos. Vemos esta submissão nos próprios
símbolos que os designavam, para as mulheres seu instrumento de trabalho era a roca,
objeto de fiar tecidos, símbolo do trabalho doméstico, realizado na vida privada e aos
homens a espada símbolo de força, virilidade e violência, trabalho realizado nos campos
de batalha.

Para compreendermos o papel feminino no período medieval do século V e XV


antes de tudo se faz necessário analisar que a história desse período foi escrita por
homens, e tais lançaram olhares que estabeleceram modelos ideais de mulheres e de
comportamentos a serem seguidos por elas na sociedade em questão. Outro ponto a ser

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analisado é verificar como essas mulheres eram tratadas no interior de suas famílias, os
grupos a que pertenciam, buscar saber tanto quanto possível do espaço que de fato
ocupavam naquela sociedade.

Ao tentarmos compreendermos a história do ocidente Medieval o espaço que as


mulheres ocupavam em maior ou menor intensidade em diferentes esferas sociais, suas
experiências podemos encontrar pontos de comparação para reflexão sobre o feminismo
na sociedade atual.

No primeiro capítulo é contada a história de Agnes uma jovem que aos três
anos de idade foi prometida em casamento pelo pai (Henrique de Essex), e aos seis anos
foi morar nas dependências da família do prometido (Aubrey de Vere conde de Oxford)
que tinha quarenta e sete anos.
Acontece que ao completar doze anos, por infelicidade do destino a família da
noiva teve os bens confiscados e por consequência ela foi abandonada pelo prometido
fato comum na época. O curioso na história de Agnes é que ela decidiu buscar na justiça
os seus direitos, ao bispo de Londres, forçando a família do prometido a enfrentar um
processo judicial, fato incomum em uma sociedade comandada por homens.

Em 1166 o caso foi levado a julgamento em Roma, neste período a moça ficou
presa numa torre para desistir do casamento, finalmente no ano de 1172 o Papa Alexandre
condenou o conde a se casar com ela. De fato o casamento foi consumado (ele na ocasião
com sessenta anos e ela com vinte anos) e o casal teve cinco filhos e deu origem a casa
de Oxford.
A vida de Agnes se confunde com a história do casamento, e sua história
pessoal mostra os vários aspectos da realidade das mulheres na Europa feudal, onde laços
de afeto e laços conjugais não eram sinônimos, período em que a igreja católica não media
esforços para transformar o casamento em uma instituição social e em sacramento
religioso, fase em que as mulheres estavam presas nas relações familiares.
Na Idade Média, a vida de uma mulher era dividida em três períodos: a infância,
que dura até sete anos de idade, a juventude, até aos catorze anos, e a vida de mulher, que
vai dos catorze até cerca de trinta anos, além da qual ela entra na velhice, enquanto o
homem é considerado velho apenas aos cinquenta anos.

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Quando nasce, a criança nobre é confiada a uma ama, enquanto os pobres têm de
cuidar pessoalmente de seu recém-nascido. Aos dois ou três anos ela é desmamada. Este
é um período crucial, pois uma em cada três crianças morre antes de completar cinco anos
de idade. Muitas vezes, por causa da pobreza, a criança é abandonada, especialmente se
for uma menina.

Aos sete anos, as meninas de famílias ricas aprendem a bordar ou a tecer fitas. É
a idade em que podem ser oferecidas a um mosteiro, onde também aprendem a ler e a
escrever, ou a um noivado. No campo, a garota fica com a mãe para cuidar da casa e da
lavoura, da tecelagem e dos animais. A vocação da mulher medieval é orientada para um
único objetivo: casamento e maternidade.
Mesmo mulheres casadas podem trabalhar no comércio, nas áreas têxtil e
alimentar ou como costureiras, lavadeiras e empregadas domésticas, mas seus salários
são muito inferiores aos dos homens. No campo, participam da lavoura e dos cuidados
dos animais, mantendo a casa, a tecelagem, a preparação de refeições e o fogo.
A igreja não vê com bons olhos as mulheres educadas, e insiste especialmente na
educação religiosa. As meninas púberes são vigiadas de perto pelos pais e sua beleza é
ora temida, ora desejada. Para o clero, ela está associada ao diabo, à tentação e ao pecado,
mas é comemorada pelos trovadores do amor cortês.

A mulher ideal medieval deve ser magra, ter o cabelo loiro ondulado, tez clara,
boca pequena e rosada, dentes brancos, olhos pretos e nariz reto e fino. Os pés e as mãos
são finos e elegantes, os quadris estreitos, as pernas finas, mas curvadas, os seios
pequenos, a pele firme e a testa alta.

Por séculos, a mulher encarnou o mal. Como filha de Eva, ela é responsável por
expulsar do Jardim do Éden, em conivência com a serpente, o homem, então ela não pode
deixar de lançar feitiços. Acusadas de magia negra, feitiçaria e encantamento, as mulheres
"heréticas" queimaram aos milhares nas piras da Inquisição.

O casamento é arranjado pelos pais em todas as classes sociais. Entre os nobres,


é um meio de fortalecer ou criar alianças entre países, ampliar terras e riquezas. As
mulheres são objeto de negociações que às vezes ocorrem muito cedo, sem o

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conhecimento das partes interessadas. A idade do casamento é entre treze e dezesseis anos
para mulheres e vinte e trinta anos para o homem. Quando a mulher não pode dar
herdeiros do sexo masculino para o marido, ela pode ser repudiada.
Para uma melhor compreensão da situação da mulher na Idade Média é necessário
o entendimento dos costumes dos grupos formadores da sociedade europeia, pois estes,
em certa medida, condicionaram as tradições vigentes no Ocidente medieval.
A cultura cristã com os hábitos herdados dos germânicos, celtas e romanos teve peso
considerável na concepção de mulher durante a idade média.
As mulheres, para os romanos, sempre foram “naturalmente inferiores”, sendo excluídas
das funções públicas, políticas e administrativas, sendo restringidas ao ambiente
doméstico, sempre governado por um homem.
Mesmo quando era juridicamente livre a mulher tinha a autonomia limitada pela
família, sendo extremamente presa aos seus interesses. Em Bizâncio a mulher também
conheceu diversas limitações. Tais limitações foram comuns a maioria dos povos da
Antiguidade, mas existiram exceções como é o caso das mulheres dos povos celtas.
Depois do século X a mulher conheceu uma regressão no seu estatuto jurídico.

Com o condicionamento do tecido social entre os sécs. e XI, em algumas áreas da Europa,
ocorreu uma substancial transformação nas estruturas familiares, transformações que
visavam a manutenção do patrimônio. Até o séc. IX o parentesco era definido
horizontalmente, mas lentamente esse sistema foi sendo substituído por outro, definido
verticalmente, em que as relações familiares passaram a serem ordenadas por uma
linhagem.
Daí em diante o primogênito passou a receber a maior parte da herança.
Evidentemente essa transformação beneficiou apenas os componentes do sexo masculino.
Esta estratégia matrimonial permite a reprodução da ordem social e da ordem política
dentro da própria família.

No final do séc.XII houve um grande crescimento na quantidade de


estabelecimentos religiosos femininos, pois como as questões de transmissão dos bens

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determinavam o destino das mulheres, o “casamento com Deus” se tornou um bom
negócio para os pais das jovens aristocráticas , pois diminuía o número de prováveis
casamentos, diminuindo o risco de divisão do patrimônio e por outro lado diminuindo a
oferta de jovens aptas a casar valorizava o arras. As mulheres viam na relação conjugal
se reproduzir as formas de poder feudo-vassálicas.
O único objetivo do casamento era dar continuidade a linhagem e se isso não fosse
possível por qualquer motivo a relação perdia a sua razão de ser.
O casamento era para a Igreja um instrumento de controle sobre a sexualidade.
Transformado com o decorrer dos séculos em um sacramento o casamento se tornaria
uma forma de controle social. Não deveria ser realizado pela luxúria, mas sim pelo desejo
da procriação. Quando casados o ato sexual tem apenas a utilidade reprodutiva, não
podendo ser uma fonte de prazer.

As famílias ao se esforçarem para não ter seus patrimônios divididos incentivaram


o casamento entre parentes relativamente próximos. A igreja passou a considerar
incestuoso o casamento entre parentes até o sétimo grau, depois passou a ser considerado
para parentes de quarto grau. A maior vitória da Igreja foi solidificar na cabeça dos
homens que o casamento é indissolúvel!

Para os religiosos a mulher sempre foi vista como inferior, pois o homem foi feito
a imagem e semelhança de Deus e a mulher era apenas um reflexo da imagem masculina,
sendo de Deus uma imagem distorcida. O casamento garantia a estabilidade das relações
determinadas pelo sexo masculino, apesar de unir os diferentes sexos não os punha em pé
de igualdade. Pois a mulher é a responsável pela queda da humanidade no pecado,
portanto a dominação do esposo sobre ela e as dores do parto eram vistos como o seu
castigo.
Havia no centro da moral cristã uma aguda desconfiança em relação ao prazer,
pois ele aprisionava o espírito ao corpo, impedindo-o de se elevar à Deus.
Alguns religiosos descrevem certos traços da personalidade feminina como pérfidas,
frívolas, luxuriosas, impulsionadas naturalmente a fornicação. Os moralistas procuravam
limitar ao máximo a sexualidade.
As relações sexuais eram severamente disciplinadas e os contraceptivos eram
proibidos, haviam épocas proibidas para a relação sexual e a mulher não deveria nunca
demonstrar sensação de prazer. A posição sexual em que o sexo era praticado revelava a

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situação de submissão da mulher. Sempre o marido em cima e a mulher em baixo, sendo
qualquer outra posição condenada.
A posição dos homens em relação as mulheres não eram muito diferentes da dos
clérigos, as atitudes de desprezo às mulheres, que eram consideradas ao mesmo tempo
perigosas e frágeis, era justificada por todos os meios. Os homens, pais ou maridos,
possuíam um direito de justiça inquestionável e fundamental de castigar as mulheres.

No meio familiar a mulher podia viver três situações, a esposa, a viúva e a


mãe. A capacidade de ser mãe lhe garantia um lugar na família. Sendo mãe, quando viúva
teria certa ascendência sobre os filhos. Não o sendo havia como caminho apenas o
casamento com Cristo. Portanto não bastava ser esposa, nem viúva, era necessário ser
mãe.
Para os cavalheiros o “sexo frágil” foi feito para obedecer. Não era bom que
as mulheres soubessem ler e escrever a menos que isso interessasse a vida religiosa. Uma
moça deveria saber fiar e bordar.

A sociedade medieval, que foi machista e guerreira, nutriu um desprezo


generalizado pelas mulheres.

As diferenças sociais foram sempre tão fortes quanto as diferenças de sexo,


portanto não é possível alinhar, num mesmo plano, condessas e castelãs com servas e
camponesas, ricas burguesas com artesãs, domesticas ou escravas. A estruturação da casa
e das relações familiares lembrava uma pequena monarquia, em que a dama. a esposa do
senhor, se comporta como o marido em relação aos seus dependentes, tiranizando as
domesticas e no caso de ser sogra, menosprezando a nora.

Todas as mulheres da Idade Média foram donas-de-casa, mas em inúmeras


vezes foram forçadas pelas dificuldades e pelo tempo a desempenhar ao lado do esposo
ou mesmo sem ele diversas atividades fora do lar, participaram de quase todos os setores
da atividade econômica.

Os documentos senhoriais registram a participação feminina em diversos serviços.


Sabemos que uma camponesa deveria, quando casada, participar, ao lado do marido, de
todas as atividades desempenhadas. Quando viúva trabalhava com os filhos ou sozinha.

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Nas grandes abadias germânicas do séc. IX o trabalho de fiação do linho, de tecelagem,
e a lavagem das roupas eram incumbência das esposas dos colonos dependentes. Nos
grandes domínios da Alta Idade Média, uma parte considerável do trabalho artesanal lhes
foi reservado.

Há documentos que demonstram que durante a Idade Média a força de trabalho das
mulheres foi utilizada para mover pilão ou mó giratória uma atividade extremamente
estafante e humilhante, muitas vezes como forma de punição.

As senhoras feudais enfrentaram muitas dificuldades na administração de suas posses,


pois tiveram que sustentar pesados processos judiciais contra os homens para garantirem
seus direitos. Em um ambiente em que o uso da força era a melhor forma para garantirem
seus direitos, as mulheres tiveram que se adaptar às circunstâncias.
Precisavam, ainda, demonstrar autoridade suficiente para evitar a rebeldia dos vassalos e
impedir os ataques vizinhos ambiciosos.

Nas cidades existiam criadas semilivres e escravas, diferentes juridicamente e na


condição social. Seus serviços eram essencialmente domésticos. O grupo das criadas
livres era composto por moças recrutadas nas cidades ou nas zonas rurais adjacentes.
Essas mulheres eram engajadas por meio de um contrato que estipulava as obrigações
recíprocas do amo e do servidor.
O tempo do engajamento era consideravelmente longo e muitas moças
aceitavam as condições previstas para garantir sua subsistência.
Outro grupo considerável era composto por escravas, seu número era superior ao das
criadas semilivres. Constituíam o objeto de um lucrativo comércio. As escravas deveriam
executar todo tipo de trabalho doméstico.
Exploradas quase que unicamente pelas mulheres livres, que quando casavam
ou ganhavam uma ou a trazia da casa paterna, a escrava era um elemento indispensável
ao seu bem-estar e a sua categoria social. Quando se tornavam viúvas eram suas escravas
que lhes garantiam segurança e uma vida confortável. A escravidão feminina foi
dominada orientada e conduzida pelas mulheres burguesas, mas com o lucro dos
mercadores.
Nas cidades o trabalho feminino teve incontestável significação na vida
econômica. O excedente feminino da aristocracia era relegado aos conventos e o das

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camadas inferiores era relegado ao mundo do trabalho. A moça quando solteira ajudava
os pais. Casada ajudava o marido, viúva trabalhava sozinha para sobreviver. Executavam
tarefas ao lado dos homens nas oficinas artesanais. A esposa do mestre era responsável
pela supervisão das aprendizes, quando acabava o período de aprendizagem as moças
ganhavam um oficio de onde podiam tirar o seu sustento. Os ofícios de fiação eram
essencialmente femininos. Várias profissões ligadas a indústria do vestuário foram
dominadas pelas mulheres.

Em geral as mulheres não participavam das agremiações das corporações de


oficio, pois um dos seus preceitos básicos era a exclusividade profissional e elas tinham
que desempenhar duas e as vezes até três atividades. Algumas corporações de ofício
chegavam a recomendar que não se empregassem mulheres.
A razão dessa aversão pode ser explicada se considerarmos o valor da mão-de-
obra feminina, que muito mais barata do que a masculina, isso diminuía os custos da
produção gerando concorrência com a produção masculina a prejudicando, e os estatutos
previam o monopólio da atividade. O trabalho feminino contrariava alguns pontos das
disposições dos estatutos.

A atividade feminina não foi restrita à indústria têxtil. As mulheres tiveram


participação nas profissões que lidavam com metais, à alimentação, trabalharam até na
produção de cerveja, ainda há registros de terem trabalhado como cabeleireiras, barbeiras,
moleiras, boticárias e muitas praticaram medicina.

As mulheres de outra categoria social, parentes de pequenos ou grandes


mercadores, foram levadas pelas circunstâncias a substituir ou auxiliar os homens. As
esposas colaboravam com o companheiro, as filhas ajudavam o pai, as viúvas davam
continuidade aos negócios dos falecidos.
Algumas mulheres se envolveram em operações financeiras de todos os tipos
inclusive com a usura ao substituir seus maridos.
A mão de obra feminina foi empregada nos trabalhos agrícolas, domestico, no comércio
do vinho e de grãos. As mulheres da comunidade judaica se dedicaram essencialmente
aos empréstimos. Elas encontraram nas operações financeiras o principal meio de
sobrevivência.

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As mulheres da alta burguesia não encontraram espaço para desempenhar atividades fora
do lar.

A mulher na ausência do marido era sua substituta e não a proprietária dos bens.
No caso da aristocracia rural a ausência abria a perspectiva para sua ação. Já no caso da
aristocracia urbana não houve nenhuma possibilidade de ação social, pois a ausência do
marido fazia parte da sua atividade. Portanto as possibilidades de substituição deixaram
de ocorrer. As mulheres pobres das cidades sempre atuaram na vida profissional, mas
nunca conseguiram se livrar da tutela do marido.

Na literatura religiosa é possível constatar alguns conceitos que os clérigos


elaboraram a respeito da mulher. Nesse sentido coexistem dois conceitos diametralmente
opostos um da mulher essencialmente má e outro da mulher perfeita.
A sensualidade feminina sempre esteve no centro das reprovações. A aversão declarada
provinha da preocupação constante dos religiosos com a repressão sexualidade. Pois o
desejo destrói o homem. A mulher é por excelência inspiradora do desejo, portanto é por
excelência agente do mal e causadora do desespero, da morte, da danação eterna do sexo
masculino.
A representação da “mulher perfeita” é simbolicamente encarnada em Maria
que antes era “Mãe de Cristo” e que em 431 foi proclamada “Mãe de Deus” mulher-
símbolo da pureza, da grandeza e da santidade, tida como “nova Eva” a fonte de redenção,
já que Eva foi a responsável pelo pecado original. O ideal de perfeição é composto por
castidade e virgindade. A recusa do prazer não devia ser encarada como obrigação e sim
como um ato de purificação.

Nos séc.XII e XIII nasce no Ocidente uma refinada cultura que foi
essencialmente aristocrática, profana, cortês. As cortes abrigavam artistas de todas as
espécies, que elaboraram uma arte que representava os costumes de seus protetores. Os
literatos propuseram um modelo mental imbuído das boas maneiras aristocráticas, nascia
o “amor cortês”. Nele o poeta canta o “bom amor”, que possui o fundamental caráter de
ser estéril, inacabado, impossível, cantado a dama inatingível e inacessível.

Nesse gênero o tema central é o amor, o sujeito é o amante, a mulher


aparentemente venerada é apenas uma referência. O homem não se submete a mulher,

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mas ao seu amor, portanto o amor e não a dama engrandecia o amante.
A hipótese generalizada de uma mulher marginalizada é difícil de ser sustentada, pois o
casamento responsável pela reprodução biológica da família dava a mulher o papel de
relevo na estabilidade da ordem social.

As heresias, doutrinas contrárias as estabelecidas pela Igreja, possuíam uma


proporção considerável de mulheres na composição dos movimentos, embora o número
de homens tenha sido sempre superior ao de mulheres nesses movimentos. Um exemplo
desses movimentos foram as beguinas, que possuíam até mesmo mulheres como lideres.
As beguinas foram integradas as ordens franciscanas e dominicanas. As mulheres que
resistiram a integração foram consideradas hereges, e por causa disso, excomungadas.
Um outro exemplo de movimento herético foi o cataríssimo que não tinha lideranças
femininas, mas que lhes permitia a possibilidade de ocupar qualquer posição de sua
hierarquia.
Com as crises social e econômica muito comum nesse período surgiu uma nova
concepção do mundo, de Deus, do demônio e dos males praticados em seu nome. O medo
do demônio gerou o medo das feiticeiras. O medo de ambos gerou a perseguição e o
extermínio do inimigo visível, as bruxas. Que seriam uma ligação entre a feitiçaria, o
culto demoníaco e a depravação sexual.
Temia-se não apenas a bruxa, mas a reunião delas: o sabat, representado por uma
orgia. A bruxa era a serva do demônio. Portanto iniciou-se um combate feroz elas.
Qualquer comportamento anormal era motivo para uma mulher arder em uma fogueira.

A prostituição existiu ao longo de toda a Idade Média, no meio rural era


desorganizada, escapando ao controle das autoridades locais, mas no meio urbano se
tornou organizada, sendo em muitas das vezes controlada pelos governos municipais. O
povo errante, composto por apátridas sem miseráveis abastecia as localidades com
raparigas e prostitutas. Muitas foram vendidas como escravas, sendo exportadas para o
Oriente onde compunham a “mercadoria loira”.
As que ficavam exerciam sua profissão a noite em estradas ou feiras, outras
acompanhavam os bandos de peregrinos que se dirigiam a locais santos, ou os guerreiros
para servirem de companhia e lazer nos intervalos das batalhas. Nas cidades francesas o
meretrício não era apenas tolerado como incentivado, com a existência de prostíbulos

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públicos, espaços protegidos pelas autoridades locais onde a fornicação era exercida livre
e oficialmente.

Portanto a prostituição, apesar de imoral, colaborava para a manutenção da


sanidade da sociedade, atenuando as tensões e servindo de válvula de escape para as
limitações impostas pela Igreja. O homem com a esposa cumpria suas obrigações de
marido, com as prostitutas procuravam obter prazer. A prostituição servia ainda como
remédio as fraquezas dos clérigos diante do prazer da carne.
Apenas o direito bizantino condenava a prostituição, sendo não a mulher, mas sim o
homem considerado culpado e cabendo a ele a punição.

A devoção e a religiosidade das mulheres aristocráticas serviram de apoio


indispensável à implantação, sedimentação e sobreposição do cristianismo nas sociedades
bárbaras e dada essa devoção, não é de se admirar o grande número de mulheres
santificadas. O nome de inúmeras piedosas foi associado ao desenvolvimento do culto
cristão. A piedade feminina foi marcante a ponto de influenciar politicamente os
contemporâneos e a posteridade. Místicas, castas, ascéticas, as santas romperam a
hierarquia imposta pelos homens da Igreja.

O envolvimento da mulher no desenvolvimento literário foi considerável,


ocorreu tanto de forma indireta, com o patrocínio de artistas, quanto na criação e
reprodução de obras literárias. O desenvolvimento da lírica amorosa deve muito ao apoio
das mulheres nobres do século XIII. O envolvimento feminino com a literatura ocorria
também no processo de reprodução dos textos, deixando no fim dos manuscritos o
registro de sua participação.

A mais famosa poetisa da idade média foi Cristina de Pisan, nascida na Itália,
mas criada na França, na corte de Carlos V onde teve acesso a biblioteca real teve acesso
ao saber. Casada aos quinze anos se tornou viúva jovem, mas como não tinha
conhecimento dos negócios do marido passou a escrever poesias para sobreviver.
Nelas defendia as mulheres. Vivendo durante a época da Guerra dos Cem Anos
sentiu as dificuldades de França no início do séc. IX. No fim de sua vida teve ainda a
alegria de ouvir falar de Joana D'Arc, que mulher e guerreira lutaram pela unidade da
França, mas que capturada acabou condenada e morta pela inquisição.

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A Idade Média foi uma época em que a voz e as ações das mulheres foram
extremamente limitadas, mas ainda sim algumas mulheres conseguiram superar as
barreiras impostas pelo sexo e demonstrar aos seus contemporâneos seus desejos e
aflições.
Balanço Crítico da Obra

José Rivair Macedo, ressalta o papel da mulher na Idade Média, mas não
somente seu papel estereotipado, mas as suas relações de mulher esposa, submissa,
guerreira e cristã. Trabalha o papel da igreja como meio de controle nas vidas dos
cidadãos através do casamento, assim podendo estabelecer com a semelhanças e as
diferenças na qual a mulher desenvolveu seu papel identitário no decorrer da trajetória
histórica.

Trabalhando nas escolas os modos de costumes de vida que se encontra a mulher


no período do medievo, com as relações de amor que se apresenta nas novelas e romances
dos tempos modernos, engajando os alunos a traçarem essas questões críticas e analíticas
que a mulher se encontrava dentro do período da idade média.

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