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DIRETORIA ACADÊMICA

COLEGIADO DE DIREITO
ALUNO: TURMA: TURNO:
xxxxxx DTO VI NOT ( ) CAL (X)
DISCIPLINA: PROFESSOR:
xxxxxxx xxxxxxx
As informações acima devem permitir ao professor e ao CCAF localizarem a turma que
esteja sendo ministrada a disciplina. Assim, o aluno de período diferente ao da
turma correspondente ao fichamento não deverá informar seu período, mas o período e
a turma correspondentes à obra indicada.

FICHAMENTO
“Título do Livro”
Nota Nota Nota de
Itens avaliados
Máxima obtida Recurso
Não atende(1) N/A
Metodologia e Estrutura 1,0
Citações representativas por capítulo 3,0
Parecer Crítico, correlacionando
teorias/conceitos/argumentos das obras do
6,0
fichamento e aspectos levantados pelo Relatório
do Projeto Integrador
Total 10,0
(1) Plágio; somente citações; ausência de relação direta e fundamentada com o Relatório do
Projeto Integrador no parecer crítico; fichamento não atingir o mínimo de três laudas; parecer
crítico com menos de uma lauda.

Recurso Recurso
Nota
1ª Instância 2ª Instância

Observações do professor:

Alunos de outros períodos:


Autorização do Professor Orientador da Produção Única (P.U.)(2)
__________________________________, em / / 2019.

(2)A autorização está condicionada à apresentação de extrato do horário do semestre, em


impressão simples obtida através do Portal do Aluno (https://escola1.info/ages).

PARIPIRANGA/2019-2
1. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA DA OBRA FICHADA
CHALITA, Gabriel. A sedução no discurso: o poder da linguagem nos tribunais de júri. 4. ed.
rev. São Paulo: Saraiva, 2007.

2. CITAÇÕES POR CAPÍTULO


Prefácio da primeira edição
Numa determinada manhã de abril, quando ministrava aula de Direito Processual
Civil no curso de graduação da Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, fui procurado por um dos alunos, que me relatou um
problema a fim de que pudéssemos resolvê-lo em conjunto, já que era do interesse
geral da matéria. Fiquei impressionado com a inteligência e a perspicácia do aluno,
que demonstrou maturidade para enfrentar, como ninguém, as questões de seu curso
de graduação. Disse-me que tinha 18 anos de idade, era vereador e presidia a
Câmara Municipal de Cachoeira Paulista, cidade do Vale do Paraíba (p. IX).

[...] Conheço, portanto, de perto o desenvolvimento acadêmico de Gabriel Chalita


desde o curso de graduação até o doutorado. Posso, afiançar o seu preparo
intelectual, sua sensibilidade para os temas e os problemas da ciência, sem
fronteiras, já que transita com naturalidade e competência pela Filosofia, pela
Semiótica, pela Literatura e pelo Direito (p. IX-X).

Ser mestre e doutor por duas vezes, quer dizer, alcançar quatro títulos de pós-
graduação stricto sensu antes dos 30 anos de idade é tarefa que bem poucos
conseguem cumprir com a determinação e competência do autor. Além disso, ele é
professor de Filosofia do Direito e de Lógica Jurídica da Faculdade de Direito da
PUC-SP, lecionando ainda em outros cursos matérias ligadas às áreas de Filosofia,
Teatro e Direito (p. X).

Trata-se de obra que consegue amalgamar os preceitos da Semiótica com os do


Direito, no caminho multidisciplinar da universalidade da ciência e do
conhecimento, o que me parece salutar, à medida que é demonstração viva de que a
ciência não é estanque nem pode ser objeto de monopólio, mas é dinâmica e plural
por excelência (p. X).

Depois de apresentar a sedução como componente histórico do Direito Penal, o


autor trabalha com exemplos de filmes recentes, com o objetivo precípuo de
demonstrar que a sedução é utilizada nos discursos dos advogados e promotores de
justiça, com a finalidade de procurar convencer os auditórios e os tribunais das
premissas por eles defendidas (p. X).

Os filmes Tempo de matar, Filadélfia, Questão de honra e Assassinato em primeiro


grau são trabalhados com maestria e o autor consegue demonstrar onde se
encontram, nos referidos filmes, os pontos principais do discurso dos advogados e
promotores de justiça, que caracterizam, em última instância, a retórica indicativa da
sedução daqueles discursos. O poder de convencimento dos discursos proferidos em
tribunais do júri é fruto de inteligência, de retórica e de sedução, atributos que em
algumas pessoas parecem ser inatos, mas que, conforme bem o demonstra o autor,
podem ser trabalhados e adquiridos por qualquer um que se disponha, com
determinação e método, a alcançá-los (p. X-XI).

Nelson Nery Jr.


Professor titular da Faculdade de Direito da PUC-SP
1998

Capítulo I
O direito de seduzir e a sedução no Direito
Este livro tem como horizonte temático o discurso jurídico em sua manifestação
mais fundamental e antiga: os debates entre promotores e advogados, entre acusação
e defesa. Para começarmos a abordar o assunto, vamos refletir brevemente sobre a
própria atividade dos praticantes do Direito (p. 1).

O código de ética dos advogados, além de apresentar urna série de normas que
orientam o seu trabalho, delineia um determinado caráter que se espera tenham os
profissionais da área. Dele se deduz, por exemplo, que o advogado não deve ter
paixões nem preconceitos. Em outras palavras, devem, os praticantes, obedecer às
regras e leis rigorosa e objetivamente. Dura lex, sed lex, informa o dito latino que é
genericamente aplicado à prática do Direito (p.1).

No entanto, o Direito é uma ciência humana, e por isso não pode ser entendido e
aplicado como se fosse meramente uma técnica, um conhecimento exato. Conhecer
e dominar o Direito não se resume ao conhecimento das normas, dos ordenamentos
jurídicos [...] (p. 1).

Os procedimentos jurídicos dizem respeito a subjetividades que precisam, de alguma


forma, ser atendidas, para que uma decisão justa possa ser alcançada em cada caso.
É preciso levar em consideração o fator humano de todos os envolvidos na ação da
justiça: réu, vítima e os membros da comunidade. Muitas vezes, as provas,
consideradas isoladamente, são insuficientes ou contestáveis. Ao mesmo tempo,
frequentemente os testemunhos podem ser atacados em sua credibilidade. Além
disso, laudos, cuja realização foi ordenada pelo Judiciário, podem não ser
conclusivos (p. 1-2).

Quando um ou mais desses elementos estão presentes (e sempre estarão) num


processo, semeando dúvidas importantes, qual fator será determinante para a escolha
entre condenar ou absolver um réu? Sem dúvida, as falas do promotor de justiça e do
advogado de defesa terão um papel decisivo. E, ao ponderar este aspecto, somos
obrigados a considerar o poder de sedução de cada parte como um elemento
fundamental no cumprimento das condições intrínsecas u aplicação do Direito,
assim como à sua complexidade e à sua subjetividade (p.2).

Tão importantes são os discursos desses profissionais em seu ofício, que podemos
conceber o Direito — dentre outras formas possíveis — como uma ciência da
argumentação. Advogado e promotor devem argumentar em favor da parte que cada
um representa. Esta é a essência de sua atuação (p. 2).

Utilizamos, no título deste trabalho, a palavra sedução. O vocábulo traz uma carga
de significados que inclui atração, encanto, fascínio. O processo de sedução é de
cumplicidade: ao deixar-se seduzir, aquele que é seduzido recebe algo em troca de
sua disposição em ouvir, em apreender o que se comunica; da mesma forma, ao
sedutor parece estar implícito oferecer algo em troca da atenção daquele a quem
seduz. A sedução é um processo emocional — ela não ocorre por vias do raciocínio
puro, da demonstração. O discurso do sedutor não se fundamenta puramente em
argumentos lógicos; recorre a artifícios retóricos e alegóricos a fim de envolver e
comover (p. 2).

Em alguns momentos, no decorrer do trabalho, utilizamos a palavra persuasão, de


significado similar ao de sedução, mas que sugere maior envolvimento do raciocínio
e da lógica. Persuadir significa interiorizar uma determinada convicção em alguém.
Portanto, persuadir constitui um processo racional. Evidentemente, essa distinção
não é exaustiva. Há quem considere a persuasão na esfera específica do discurso
emocional (p. 2-3).

No discurso de advogados e promotores no tribunal do júri, comparecem tanto


aspectos racionais quanto emocionais; os dois elementos se fundem na elaboração
das frases escolhidas pelos profissionais do Direito. Procuramos mostrar, neste livro,
que(o elemento emocional 6 o fator crucial para convencer os ouvintes, que ele é o
fator de maior influência e o mais determinante para a decisão que os jurados devem
tomar [...] (p. 3).

[...]o advogado argumenta para convencer o interlocutor, assim como promotores e


defensores pretendem convencer os receptores de seus discursos [...] Em certo
sentido, a persuasão supera a importância dos testemunhos e das provas, à medida
que nela se exercita plenamente a vontade de quem discursa, ou seja, trata-se de uma
ação deliberada para defender os interesses de uma parte — réu, cliente ou a
sociedade — mais do que um instrumento de investigação e esclarecimento da
verdade dos autos. Este é um ponto muito importante, e deve ser interpretado
cuidadosamente; afinal, o que se afirma é que no tribunal do júri cada uma das
partes está em busca de alcançar um determinado resultado, absolvição ou
condenação, e para isso fará as interpretações dos fatos de modo a beneficiar uma ou
outra causa, mais do que procurar estabelecer uma verdade empírica sobre as
circunstâncias (p. 4).

O discurso, para além desta dimensão, mas na mesma perspectiva da necessidade de


atingir determinados objetivos, de defender os interesses de alguém, pretende
comprometer ideologicamente o seu receptor. O discurso fascina, seduz (p. 4).

1. Delimitação do objeto de pesquisa

O Direito é uma ciência bastante complexa; divide-se em diferentes categorias e é


formado por vários sistemas [...] (p. 5).

Nesse contexto tão variegado, era preciso desenvolver nossa pesquisa sobre a fala
dos profissionais do Direito num campo menos amplo. E assim que fizemos uma
primeira delimitação, optando por estudar o discurso jurídico dentro do Direito
Penal [...] O Direito Penal é essencialmente discursivo. Isso não quer dizer que em
outras áreas do Direito o discurso não tenha nenhuma importância —- advogar é
sempre, de uma ou de outra maneira, falar em lugar de alguém, em nome de alguém;
a demarcação proposta tem por objetivo propiciar uma visão mais clara sobre a
importância da sedução no discurso, acima de tudo. (p. 6).

Para uma segunda delimitação do campo de pesquisa, buscamos, no interior do


processo penal, o espaço em que se pode perceber da maneira mais clara o exercício
do poder de persuasão e de sedução dos advogados e promotores. Deste modo,
fomos levados a concentrar a atenção sobre os debates entre acusação e defesa nos
tribunais do júri, pois são neles, sem dúvida, que mais intensamente se articulam e
se batem as habilidades dos profissionais do Direito, envolvidos na tarefa de
conduzir um corpo de jurados rumo a uma determinada decisão (p. 6).

O convencimento por meio da sedução é uma arte capaz de validar argumentos


bastante variados. No caso do tribunal do júri, o núcleo do debate entre acusação e
defesa é provar se o réu representa ou não um risco à sociedade; convencer o júri a
decidir de uma ou de outra forma é o objetivo mais relevante no discurso de cada
parte (p. 6).

Assim, podemos demarcar as questões que trabalhamos neste livro a partir dos
seguintes elementos: a construção dos discursos de acusação e defesa, endereçados
ao júri.; os elementos retóricos que compõem esse discurso; o peso do discurso na
decisão, a força de influência que o discurso tem sobre o julgamento a ser realizado
pelos jurados. Deste modo, durante a pesquisa recolhemos argumentos de
promotores e advogados, expondo-os aqui com a finalidade de explicitar seu poder
de persuasão e de sedução — com ênfase no último, como mencionamos antes — no
interior do processo penal (p. 7).
2. Sedução, o tema
Dois homens dividem uma cela. Um deles é prisioneiro político e seu nome é
Valentin. O outro, Molina, foi preso sob a acusação de corromper menores. O lugar é
imundo, a cela é obscura, fétida e pequena demais para duas pessoas. O cubículo, de
fato, mal abriga os dois. E quase impossível viver ali dentro. Um dos enjaulados, no
entanto, rejeita o encarceramento de sua mente; pelo menos em espírito, encontra
uma forma de estar do lado de fora, livre dos muros da cadeia: ele sonha, relembra
histórias que vira no cinema e as narra ao companheiro, acrescentando boas doses de
imaginação e criatividade. Nesta convivência, fundada sobre a privação da liberdade
e a narrativa de aventuras oníricas, cada um revela um pouco de si mesmo, o vínculo
entre os prisioneiros se aprofunda pouco a pouco (p. 7).

Estes são os elementos que fundamentam a trama do romance O beijo da mulher


aranha, do escritor argentino Manuel Puig. Sua narrativa se configura como um
grande jogo de palavras, construído numa situação análoga aos debates praticados
nos tribunais do júri: a linguagem é cuidadosamente manipulada para que se esfume
a distinção entre a vida dos personagens e as histórias que são contadas [...] (p. 7).

Quase todos os capítulos do romance são diálogos entre os dois presos. Não há
descrições detalhadas do ambiente, nem narrativas longas. Ao fundo, como subtexto,
emerge progressivamente o contexto sociopolítico e a personalidade dos presos,
ambos vítimas de um sistema penal, jurídico e político violento, arbitrário, despótico
e inquisitório [...] (p. 8).

O romance de Puig cabe neste livro porque ilustra de maneira exemplar o processo
de sedução por meio das palavras [...] (p. 8).

Em O beijo da mulher aranha ocorre, por força do discurso, a aproximação e o


choque entre dois universos pessoais diferentes. Toda a força dramática e a estrutura
da obra se apoiam na profunda disparidade de sentimentos, crenças e ideais que
existe entre Valentin e Molina. Para Molina, toda comunicação se dá no plano da
sensibilidade; Valentin busca sempre esquemas analíticos para aplicar à realidade. O
primeiro é detalhista ao se expressar; o segundo prefere a síntese. Molina simboliza
a emoção, os sentimentos, o desejo; Valentin, a razão, a doutrina, a ética. Molina se
entrega à fantasia, quer se dedicar ao prazer, a suas ilusões amorosas; Valentin é
dominado pela lógica rígida, entrega sua vida à revolução, a ideais políticos e
sociais, à utopia. Molina é coração e corpo; Valentin, cérebro e mente. Um
representa o estereótipo do universo feminino, aparentemente mais sensível e
subjetivo; o outro, o do universo masculino, aparentemente mais científico e
objetivo (p. 9).

Muitas vezes, basta transportar uma pessoa de um ambiente para outro para que ela
mude de opinião. Podemos, portanto, marcar aqui a concepção de seduzir como
“tirar do caminho”, como faz Molina em relação ao seu colega de cela. O emissor
seduz quando transporta o receptor para o seu universo. Seduzir é, em certo sentido,
desvirtuar. E exatamente isso que Molina faz ao seduzir Valentin: tira-o do caminho
que ele havia estabelecido para si e o conduz pelo caminho desejado, aquele que
provocará certos sentimentos, que o levará ao seu universo. E é também o que
acontece no tribunal do júri: o advogado ou promotor, para convencer os jurados de
sua tese, ] deve transportá-los ao seu imaginário, fazê-los enxergar o que ele quer
que enxerguem (p. 9).

0 estímulo dos sentidos

O primeiro ponto essencial do discurso que visa a sedução é a sua característica de


ser uma [comunicação direcionada sobretudo a estimular os sentidos e despertar
sentimentos, muito mais do que a falar à razão. Desta forma, o discurso sedutor não
respeita necessariamente os padrões da lógica formal, pois não visa demonstrar algo
e sim influenciar pessoas. Para isso, o discurso deve se revestir de elementos
agradáveis, com palavras carregadas de poesia e sentidos enigmáticos. Não deve ser
construído a partir das balizas da concisão e da objetividade; ao contrário, deve se
basear na subjetividade e nas diferentes maneiras de mobilizar as emoções, deve se
estender no que for necessário para produzir uma exposição ornamentada e colorida
sobre o assunto em questão. Para seduzir, o discurso precisa ter mais de sonoridade
do que de concatenação (p. 10).

Fica evidente na última fala de Valentin o poder sensorial e sentimental exercido


pelo discurso de Molina, chegando mesmo a criar em sua mente imagens eróticas.
Não é a razão de Valentin que se comove (e é seduzida) pelo discurso de Molina,
mas sim seus sentimentos e sentidos (p. 11).

0 poder da imaginação

O discurso sedutor tem a característica essencial não apenas de estimular os sentidos


e as emoções do receptor, mas também de incitar a sua imaginação. Ao utilizar as
palavras com a finalidade de seduzir, o emissor do discurso deve buscar ordená-las e
dar-lhes forma verossímil, de maneira a fazer com que o receptor recrie era sua
mente as imagens e sensações transmitidas pela fala (p. 11-12).

O desafio de quem busca seduzir através do discurso consiste em fazer das palavras
imagens, o que se obtém por meio de descrições de detalhes que prendem a atenção
do receptor, das pequenas coisas que compõem um cenário e que exercem atração
sobre quem ouve (p. 12).

A linguagem kitsch

A linguagem utilizada por Molina é bastante coloquial, algumas vezes chula e, não
por acaso, kitsch. Nisto reside um pouco do charme sedutor que a narrativa contém
[...] (p. 13).

O kitsch é algo profundamente ligado ao repertório sentimental do homem, latino.


As telenovelas, tão populares, e os filmes do espanhol Pedro Almodóvar, como A
flor de meu segredo, Tudo sobre minha mãe e Fale com ela, corroboram essa visão.
A linguagem kitsch é, em certo sentido, a ideal para o discurso sedutor, porque não
busca alimentar a atenção racional do receptor, mas o atinge através do uso de
símbolos e referências familiares, ligado às vicissitudes da intimidade das pessoas na
sociedade, sempre com elementos facilmente identificáveis por parte de quem ouve
o discurso (p. 13).

No sétimo capítulo de O beijo da mulher aranha, Molina canta um bolero. Ao ouvi-


lo, Valentin começa a chorar. Esta é a chave da mudança do homem doutrinário e
racional para uma pessoa emotiva, sensível, humana. Evidências da efetividade da
sedução almejada por Molina (p. 15).

Identificação e aproximação

Na aplicação da estratégia que Molina escolhe para construir seu discurso sedutor,
por meio da narração de histórias do cinema, o primeiro filme contado é real. Trata-
se de Catpeople, um clássico norte-americano, refilmado em 1982 com o mesmo
título (em português, A marca da pantera) (p. 15-16).

Este é (outro elemento fundamental do discurso sedutor, para que seja efetivo: ele
deve promover uma identificação simbólica do receptor com algo ou alguém que
apareçam na narrativa que o compõe. O conteúdo da história, do discurso, precisa
incluir algo com que o ouvinte possa se identificar, uma situação em que ele possa se
imaginar (17-18).

Esse processo, que permite ao receptor se identificar com a mensagem do discurso, é


muito importante dentro do tribunal do júri. Para que o júri declare o réu inocente, o
advogado deve promover a identificação entre cada um dos jurados e seu cliente. Da
mesma forma, cabe ao promotor fazer os jurados se identificarem com a vítima e
seus familiares, para que, desta forma, condenem o réu (p. 18).

As mensagens implícitas

Ao narrar um segundo filme, Molina inventa a história de uma cantora francesa que
se apaixona por um soldado alemão em plena Segunda Guerra Mundial. Ou seja, ela
trata do amor entre duas pessoas de ideologias e visões de mundo completamente
diferentes (p. 18).

A trama criada por Molina é mais uma evidência de sua estratégia sedutora. Fica
subentendido, no relato sobre o amor entre a francesa e o nazista, que o objetivo de
Molina é demonstrar a Valentin que duas pessoas completamente diferentes podem
se amar. Trata-se de uma mensagem implícita. Aquilo que poderia ser feito por meio
da demonstração, por meio de argumentos lógicos que sustentassem a tese, é feito
por meio de uma narrativa em que a tese está implícita. A narrativa é a própria
argumentação. É uma mensagem trabalhada por Molina para convencer Valentin,
para seduzi-lo a aceitar a conjunção carnal com ele. Trata-se de mais uma das
ferramentas do discurso de sedução (p. 18-19).

Conhecimento do universo pessoa! do receptor

O que atrai, o que seduz, parece nunca ser aquilo que é semelhante. O velho ditame
popular sobre a atração dos opostos parece ser mais uma vez corroborado. O
discurso, se quiser seduzir, deve oferecer ao receptor algo diferente do seu
repertório. Nesse sentido, faz-se necessário que o emissor conheça o universo
pessoal do receptor (p. 20).

0 desfecho

No fim do .romance, Puig ratifica a transformação que os personagens sofreram.


Molina, que em outro momento do livro previra o próprio sacrifício, entra na luta
armada e morre em decorrência dos conflitos em que ele e os revolucionários se
envolvem. Valentin, por sua vez, continua preso. No cárcere, é torturado e drogado;
em seus delírios, imagina estar na mesma praia do Haiti que aparecia na história
contada por Molina. Ele se refugia, assim, num paraíso imaginário, mas muito
carnal, lugar em que se desenvolve o amor entre ele e seu companheiro de cela. Ao
concluir dessa maneira, Puig ressalta a completa inversão dos universos pessoais de
seus personagens (p. 21).

[...] Assim como a teia de seu discurso envolve seu companheiro de cela, também o
discurso dos advogados e promotores no tribunal do júri deve envolver os jurados
em uma teia, minuciosamente construída, de gestos, palavras, inflexões e
argumentos (p. 22).

3. PARECER CRÍTICO DA OBRA (Deve trazer a compreensão do acadêmico acerca


da obra fichada, a compreensão do acadêmico acerca do Relatório/Caso do Projeto Integrador
2019-1, bem como a relação, direta e fundamentada, entre a obra fichada e o relatório do
Projeto Integrador 2019-1. Caso o acadêmico entenda que não há relação entre a obra
fichada e o relatório, deverá justificar a razão do entendimento. Não basta, portanto, afirmar
que não há relação, mas justificar, a partir da compreensão da obra e do relatório do Projeto
Integrador, a ausência de relação. O Parecer Crítico é um esforço interpretativo e
argumentativo sobre as ideias trabalhadas pelo autor, relacionando, fundamentadamente, ao
campo de observação do Projeto Integrador. Número de Laudas: mínimo uma e máximo
três. Parecer com menos de uma lauda completa será considerado Não Atende).

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