Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
COLEGIADO DE DIREITO
ALUNO: TURMA: TURNO:
xxxxxx DTO VI NOT ( ) CAL (X)
DISCIPLINA: PROFESSOR:
xxxxxxx xxxxxxx
As informações acima devem permitir ao professor e ao CCAF localizarem a turma que
esteja sendo ministrada a disciplina. Assim, o aluno de período diferente ao da
turma correspondente ao fichamento não deverá informar seu período, mas o período e
a turma correspondentes à obra indicada.
FICHAMENTO
“Título do Livro”
Nota Nota Nota de
Itens avaliados
Máxima obtida Recurso
Não atende(1) N/A
Metodologia e Estrutura 1,0
Citações representativas por capítulo 3,0
Parecer Crítico, correlacionando
teorias/conceitos/argumentos das obras do
6,0
fichamento e aspectos levantados pelo Relatório
do Projeto Integrador
Total 10,0
(1) Plágio; somente citações; ausência de relação direta e fundamentada com o Relatório do
Projeto Integrador no parecer crítico; fichamento não atingir o mínimo de três laudas; parecer
crítico com menos de uma lauda.
Recurso Recurso
Nota
1ª Instância 2ª Instância
Observações do professor:
PARIPIRANGA/2019-2
1. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA DA OBRA FICHADA
CHALITA, Gabriel. A sedução no discurso: o poder da linguagem nos tribunais de júri. 4. ed.
rev. São Paulo: Saraiva, 2007.
Ser mestre e doutor por duas vezes, quer dizer, alcançar quatro títulos de pós-
graduação stricto sensu antes dos 30 anos de idade é tarefa que bem poucos
conseguem cumprir com a determinação e competência do autor. Além disso, ele é
professor de Filosofia do Direito e de Lógica Jurídica da Faculdade de Direito da
PUC-SP, lecionando ainda em outros cursos matérias ligadas às áreas de Filosofia,
Teatro e Direito (p. X).
Capítulo I
O direito de seduzir e a sedução no Direito
Este livro tem como horizonte temático o discurso jurídico em sua manifestação
mais fundamental e antiga: os debates entre promotores e advogados, entre acusação
e defesa. Para começarmos a abordar o assunto, vamos refletir brevemente sobre a
própria atividade dos praticantes do Direito (p. 1).
O código de ética dos advogados, além de apresentar urna série de normas que
orientam o seu trabalho, delineia um determinado caráter que se espera tenham os
profissionais da área. Dele se deduz, por exemplo, que o advogado não deve ter
paixões nem preconceitos. Em outras palavras, devem, os praticantes, obedecer às
regras e leis rigorosa e objetivamente. Dura lex, sed lex, informa o dito latino que é
genericamente aplicado à prática do Direito (p.1).
No entanto, o Direito é uma ciência humana, e por isso não pode ser entendido e
aplicado como se fosse meramente uma técnica, um conhecimento exato. Conhecer
e dominar o Direito não se resume ao conhecimento das normas, dos ordenamentos
jurídicos [...] (p. 1).
Tão importantes são os discursos desses profissionais em seu ofício, que podemos
conceber o Direito — dentre outras formas possíveis — como uma ciência da
argumentação. Advogado e promotor devem argumentar em favor da parte que cada
um representa. Esta é a essência de sua atuação (p. 2).
Utilizamos, no título deste trabalho, a palavra sedução. O vocábulo traz uma carga
de significados que inclui atração, encanto, fascínio. O processo de sedução é de
cumplicidade: ao deixar-se seduzir, aquele que é seduzido recebe algo em troca de
sua disposição em ouvir, em apreender o que se comunica; da mesma forma, ao
sedutor parece estar implícito oferecer algo em troca da atenção daquele a quem
seduz. A sedução é um processo emocional — ela não ocorre por vias do raciocínio
puro, da demonstração. O discurso do sedutor não se fundamenta puramente em
argumentos lógicos; recorre a artifícios retóricos e alegóricos a fim de envolver e
comover (p. 2).
Nesse contexto tão variegado, era preciso desenvolver nossa pesquisa sobre a fala
dos profissionais do Direito num campo menos amplo. E assim que fizemos uma
primeira delimitação, optando por estudar o discurso jurídico dentro do Direito
Penal [...] O Direito Penal é essencialmente discursivo. Isso não quer dizer que em
outras áreas do Direito o discurso não tenha nenhuma importância —- advogar é
sempre, de uma ou de outra maneira, falar em lugar de alguém, em nome de alguém;
a demarcação proposta tem por objetivo propiciar uma visão mais clara sobre a
importância da sedução no discurso, acima de tudo. (p. 6).
Assim, podemos demarcar as questões que trabalhamos neste livro a partir dos
seguintes elementos: a construção dos discursos de acusação e defesa, endereçados
ao júri.; os elementos retóricos que compõem esse discurso; o peso do discurso na
decisão, a força de influência que o discurso tem sobre o julgamento a ser realizado
pelos jurados. Deste modo, durante a pesquisa recolhemos argumentos de
promotores e advogados, expondo-os aqui com a finalidade de explicitar seu poder
de persuasão e de sedução — com ênfase no último, como mencionamos antes — no
interior do processo penal (p. 7).
2. Sedução, o tema
Dois homens dividem uma cela. Um deles é prisioneiro político e seu nome é
Valentin. O outro, Molina, foi preso sob a acusação de corromper menores. O lugar é
imundo, a cela é obscura, fétida e pequena demais para duas pessoas. O cubículo, de
fato, mal abriga os dois. E quase impossível viver ali dentro. Um dos enjaulados, no
entanto, rejeita o encarceramento de sua mente; pelo menos em espírito, encontra
uma forma de estar do lado de fora, livre dos muros da cadeia: ele sonha, relembra
histórias que vira no cinema e as narra ao companheiro, acrescentando boas doses de
imaginação e criatividade. Nesta convivência, fundada sobre a privação da liberdade
e a narrativa de aventuras oníricas, cada um revela um pouco de si mesmo, o vínculo
entre os prisioneiros se aprofunda pouco a pouco (p. 7).
Quase todos os capítulos do romance são diálogos entre os dois presos. Não há
descrições detalhadas do ambiente, nem narrativas longas. Ao fundo, como subtexto,
emerge progressivamente o contexto sociopolítico e a personalidade dos presos,
ambos vítimas de um sistema penal, jurídico e político violento, arbitrário, despótico
e inquisitório [...] (p. 8).
O romance de Puig cabe neste livro porque ilustra de maneira exemplar o processo
de sedução por meio das palavras [...] (p. 8).
Muitas vezes, basta transportar uma pessoa de um ambiente para outro para que ela
mude de opinião. Podemos, portanto, marcar aqui a concepção de seduzir como
“tirar do caminho”, como faz Molina em relação ao seu colega de cela. O emissor
seduz quando transporta o receptor para o seu universo. Seduzir é, em certo sentido,
desvirtuar. E exatamente isso que Molina faz ao seduzir Valentin: tira-o do caminho
que ele havia estabelecido para si e o conduz pelo caminho desejado, aquele que
provocará certos sentimentos, que o levará ao seu universo. E é também o que
acontece no tribunal do júri: o advogado ou promotor, para convencer os jurados de
sua tese, ] deve transportá-los ao seu imaginário, fazê-los enxergar o que ele quer
que enxerguem (p. 9).
0 poder da imaginação
O desafio de quem busca seduzir através do discurso consiste em fazer das palavras
imagens, o que se obtém por meio de descrições de detalhes que prendem a atenção
do receptor, das pequenas coisas que compõem um cenário e que exercem atração
sobre quem ouve (p. 12).
A linguagem kitsch
A linguagem utilizada por Molina é bastante coloquial, algumas vezes chula e, não
por acaso, kitsch. Nisto reside um pouco do charme sedutor que a narrativa contém
[...] (p. 13).
Identificação e aproximação
Na aplicação da estratégia que Molina escolhe para construir seu discurso sedutor,
por meio da narração de histórias do cinema, o primeiro filme contado é real. Trata-
se de Catpeople, um clássico norte-americano, refilmado em 1982 com o mesmo
título (em português, A marca da pantera) (p. 15-16).
Este é (outro elemento fundamental do discurso sedutor, para que seja efetivo: ele
deve promover uma identificação simbólica do receptor com algo ou alguém que
apareçam na narrativa que o compõe. O conteúdo da história, do discurso, precisa
incluir algo com que o ouvinte possa se identificar, uma situação em que ele possa se
imaginar (17-18).
As mensagens implícitas
Ao narrar um segundo filme, Molina inventa a história de uma cantora francesa que
se apaixona por um soldado alemão em plena Segunda Guerra Mundial. Ou seja, ela
trata do amor entre duas pessoas de ideologias e visões de mundo completamente
diferentes (p. 18).
A trama criada por Molina é mais uma evidência de sua estratégia sedutora. Fica
subentendido, no relato sobre o amor entre a francesa e o nazista, que o objetivo de
Molina é demonstrar a Valentin que duas pessoas completamente diferentes podem
se amar. Trata-se de uma mensagem implícita. Aquilo que poderia ser feito por meio
da demonstração, por meio de argumentos lógicos que sustentassem a tese, é feito
por meio de uma narrativa em que a tese está implícita. A narrativa é a própria
argumentação. É uma mensagem trabalhada por Molina para convencer Valentin,
para seduzi-lo a aceitar a conjunção carnal com ele. Trata-se de mais uma das
ferramentas do discurso de sedução (p. 18-19).
O que atrai, o que seduz, parece nunca ser aquilo que é semelhante. O velho ditame
popular sobre a atração dos opostos parece ser mais uma vez corroborado. O
discurso, se quiser seduzir, deve oferecer ao receptor algo diferente do seu
repertório. Nesse sentido, faz-se necessário que o emissor conheça o universo
pessoal do receptor (p. 20).
0 desfecho
[...] Assim como a teia de seu discurso envolve seu companheiro de cela, também o
discurso dos advogados e promotores no tribunal do júri deve envolver os jurados
em uma teia, minuciosamente construída, de gestos, palavras, inflexões e
argumentos (p. 22).