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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA
MESTRADO EM ARQUEOLOGIA
PRÁTICAS FUNERÁRIAS
Professora: Viviane Castro
Aluno: Anderson Luiz S. de Oliveira

Resenha crítica do artigo “Las prácticas funerarias: su estudio y su potencial” de Lewis


Binford. PYRENAE, núm. 42, vol. 1, 2011. p. 11-47.

O presente texto tem início com a abordagem da importância dos enterramentos humanos
e sua documentação e observação pela Arqueologia, e a partir dela, desenvolver-se uma
conceitualidade para a análise das sepulturas humanas, pois as diferentes posições do
corpo (fletido, de bruços, em decúbito, etc.) podem denotar características específicas,
similitudes e divergências entre povos e culturas. Com o avanço da literatura sobre o
tema, surgem três tipos de informações coletadas, que vão desde pesquisas anteriores e
passando por levantamentos de “inventário” até o estudo espacial da configuração das
áreas de sepultamento e sequencias temporais relacionadas as práticas funerárias. A
importância do estudo das práticas reside no fator antropológico, pois os primeiros
estudos sobre religião primitiva. O animismo esteve nos debates iniciais, pois Tylor
(1871) e Frazer (1886) acreditavam que esta prática, caracterizada pela crença em seres
espirituais, experiências oníricas e presença, mesmo em vida, dos que já se foram, numa
espécie de “controle espirito-alma” após a destruição corporal. Daí, advém a teoria ideal-
racionalista, no qual as crenças variavam e tinham características específicas que
poderiam fornecer informações acerca do comportamento humano. Com o avanço dos
estudos, outros pesquisadores desenvolveram teorias e estudos sobre o tema; Robertson
Smith passou a enxergar as práticas sob um olhar mais atento na crença, no ritual e no
costume tradicional do ato, pois acreditava-se que o rito estava relacionado com outras
instituições sociais daquele grupo, variando em forma e estrutura. Com Hertz, o “horror”
da decomposição corpórea era mitigado pela relevância social do morto e com isso, havia
variações nos tipos de práticas funerárias, levando em conta a posição social de quem
morrera. A potencialidade dos ritos funerários passa pelos fenômenos que o integram,
divididos em técnicos (que tinham por finalidade minimizar o aspecto desagradável do
corpo) e o ritualístico (atos simbólicos que variavam nos símbolos e significado dos
mesmos). O ato de criar símbolos é de certa forma arbitrário e designa alguma
característica específica a uma forma, variada. Isso se verifica na designação e
contextualização. As formas simbólicas se conservam em comum nos núcleos
socioculturais e evoluem, dentro dos sistemas de vivências. A identidade cultural nas
práticas funerárias pode ser influenciada pelo difusionismo e interação cultural, de várias
formas (tanto com o uso de símbolos exclusivos quanto de similares), influenciando ou
compartilhando formas. Segundo Binford, pode advir um problema na variabilidade
estrutural, que depende do grau de isomorfismo que porventura exista nos membros de
uma determinada sociedade ou grupo social analisado e dos sistemas socioculturais
comparados e os atributos simbólicos. O simbolismo é visto como um fenômeno social,
no qual o morto pode ter uma “persona social” e ser visto como um grupo de “identidades
sociais”, mantidas em vida e consideradas ao morrer; isso se relaciona com a posição do
falecido e as pessoas ligadas a ele (por um possível respeito, temor, ou quaisquer
sentimento), variando as faces desta persona social dentro do ritual funerário, de acordo
com a participação coletiva no ritual. Com essa magnitude primária da persona social
dentro das práticas funerárias ao longo do tempo, um tratamento diferenciado poderia ser
dado, variando na questão do sexo, idade, posição do morto no grupo social, causa mortis,
gerando um “simbolismo intersocial”. Esta complexidade estrutural do sistema
sociocultural era repercutida nos cerimoniais fúnebres, onde estruturas mais simples (de
sociedades vistas como menos evoluídas denotavam práticas funerárias mais igualitárias
e ao contrário, práticas mais hierarquizadas e estratificadas. Isso gerava uma
variabilidade, com a preparação do corpo, do tratamento e a sua disposição no contexto
funerário; com a cova, sua forma, orientação e localização e por fim os acompanhamentos
são analisados, com a morfologia deles, a quantidade, forma e qualidade.

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