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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA

Ensaio crítico sobre o artigo Arqueologia E Edificação – A


Representação da Identidade da Elite Paulistana A Partir da
Construção do Edifício Altino Arantes – O “Banespão‟, Na Década de
Quarenta, de Gladys Mary Santos Sales

Ensaio crítico sobre artigo científico realizado


por Anderson Luiz Silva de Oliveira para
complemento de avaliação da disciplina
Arqueologia Histórica, do curso de Arqueologia
da UPFE, ministrada pelo professor Scott J.
Allen.

Recife
JUNHO, 2017
ARQUEOLOGIA E EDIFICAÇÃO – A REPRESENTAÇÃO DA IDENTIDADE DA
ELITE PAULISTANA A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DO EDIFÍCIO ALTINO
ARANTES – O “BANESPÃO‟, NA DÉCADA DE QUARENTA.

Gladys Mary Santos Sales1


Anderson Luiz Silva de Oliveira2

1) Mestranda do Programa de Pós-Graduação do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo - MAE/ USP.

2) Aluno do quinto período de Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco

A representação de identidade da elite paulistana é analisada a partir do estudo da

materialidade da construção do Edifício Altino Arantes – o “Banespão”, na década de

quarenta, dentro das suas relações existentes entre a materialidade deste imóvel com a

identidade e a memória paulistana, a fim de se compreender a ideologia elitista paulistana, a

sua concepção de superioridade étnica, política e econômica. O artigo foi desenvolvido entre

agosto e setembro de 2014 e fez uma análise da relevância social do edifício no imaginário

social do paulistano da época da construção, onde a autora buscou “compreender os processos

de (re)construção, transformação e (re)significação do espaço” (SILVA, 2007). Este trabalho

estimulou uma reflexão sobre os dados levantados e da aplicação destes no campo da

Arqueologia Histórica e no estudo da Cultura Material e Patrimônio.

A pesquisa da autora para a concepção do artigo baseou-se em aspectos pós-

processuais, buscando vincular a imagem do prédio, a sua construção e o seu significado para

a elite paulistana e sua ligação com a identidade, a paisagem e a memória paulistana, dentro

das relações de poder da sociedade da época. Visualiza-se no artigo publicado na Revista

Memorare a importância do estudo e compreensão do imaginário e da ideologia da elite

paulistana da década de 40 do século XX, bem como se visualiza no mesmo as representações

imateriais imbuídas na formação do espaço construído, dentro da descrição da construção do

Edifício Altino Arantes – o “Banespão”. Com isso, a autora utiliza elementos pós-processuais,

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nos quais a pesquisa se norteou, trilhando pela busca de vínculos entre a materialidade do

edifício e as relações de poder existentes na época, desenvolvendo um trabalho que procura

entender que aspectos da construção do imóvel ressaltam o poderio econômico da elite

paulistana e estão incutidos no imaginário e no paisagístico local.

Dentro da construção do conceito de paisagem, existem uma série de situações que

englobam uma variedade de processos, tanto relacionados à organização desse espaço, quanto

a sua modificação em função de uma diversidade de propósitos que incluem: subsistência,

questões de ordem econômica, social, política, cognitiva, ideológica, de poder, simbólica ou

religiosa. Com isso, a paisagem estudada adquire características de fenômeno social, inserida

em contextos históricos específicos, transmitindo significados. A partir daí a autora promove

uma reflexão para o leitor, dentro da Arqueologia Urbana, onde o edifício-sede do BANESPA

tornou-se patrimônio histórico da cidade de São Paulo, não apenas por sua antiguidade, mas

por tratar-se de “indício material” com caráter valorativo dentre as produções arquitetônicas

do passado da cidade.

Para que se compreenda a presença cultural do Edifício Altino Arantes dentro do

conceito de Cultura Material, faz-se necessário recorrer as palavras de Tânia Andrade Lima

(2011, pág.12):

“Essa circunstância, inquestionavelmente, a tornou a disciplina mais qualificada para

investigar o rico e complexo domínio material da cultura, cuja história é tão longa, [...]

quanto o próprio gênero humano.”

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Dentro do estudo de Arqueologia Histórica, a autora segue fazendo a utilização de

vários conceitos que destacam as características materiais da identidade da elite de São Paulo,

pois aborda os termos que ressaltam uma declaração de identidade paulistana de superioridade

aos demais estados da federação, resultando numa cultura material que se adapta ao meio, de

forma não biológica, realizada “fora do corpo (extrassomática) e, portanto, cultural, sendo

entendida como uma resposta às pressões de diversas naturezas sofridas pelos grupos

humanos” (LIMA, 2011). A necessidade de se estudar as formas de representação ideológica

dentro da Arqueologia Histórica se faz necessária, pelo fato do estudo da materialidade e do

cotidiano, ilustrados na representação do ideal de poder transmitida pela representação do

prédio.

Os questionamentos elencados pela autora no trabalho, referentes ao espaço construído

e a afirmação de poder e a construção em si como sinônimo de exaltação de poderio

econômico-político-social ilustram a importância da pesquisa e desenvolvem o tema, após as

constatações do sentimento paulista de superioridade étnica, econômica e política. As

hipóteses são elaboradas e desenvolvidas pela autora no tocante ao imaginário social e a

construção do caráter através da materialidade.

Pela análise da autora do artigo, a cultura material representa o suporte pelo qual se

ampara a reprodução do social, porém a matéria é o alicerce da produção; sendo que somente

descrevendo a matéria, corre-se o risco de ficar só no campo descritivo. Daí a importância de

se compreender a cultura material e o seu entorno simbólico, pois os artefatos tem vários

significados a ser interpretados. Dentro do contexto arqueológico, a partir de edifícios

históricos e documentos, deve-se prestar atenção a informações “ocultas”, “subjacentes” ao

texto, decorrentes do uso/ocupação de determinado espaço geográfico. Daí, para que se

entenda o sentimento de supremacia paulistana frente aos demais estados, escolheu-se uma

edificação no centro de São Paulo, símbolo da arquitetura paulista do início do século XX,

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onde a história do Banco do Estado de São Paulo se mistura com a história da cidade,

vinculado ao crescimento econômico e identidade.

Destarte, a autora procurou unir os estudos de Arqueologia Histórica, Cultura Material

e Paisagem para traçar um panorama do imaginário social e econômico através do estudo da

materialidade da construção do “Banespão”, em seu suporte físico e concreto. A representação

do prédio e a sua suntuosidade e opulência (no período) representa a oligarquia paulista queria

“transmitir‟ e “impor” de um espírito paulista aguerrido, que não se abala, mas se fortalece,

concretizando a aspiração da elite por grandiosidade, num momento do país em que havia

uma forte recessão financeira (crise da bolsa de Nova York em 1922) e a transferência do

poder para as cidades (concentrado nas mãos dos banqueiros). A partir desta análise, as

questões elencadas pela autora foram respondidas e a fundamentação teórica deu suporte e

estimulou a reflexão em Arqueologia Histórica no entendimento histórico vivenciado pelos

paulistanos no momento em que é construído o Edifício Altino Arantes, por meio da análise

da cultura material em constante diálogo com a fonte textual, pois possui características que

endossam o contexto social e cultural e nele imbuídas, representando assim um processo no

qual se leva em consideração o contexto social e cultural e de que forma ele é apropriado e

moldado pelas pessoas e ideologias.

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BIBLIOGRAFIA

COSTA, M. O urbano e a arqueologia: uma fronteira transdisciplinar. Vestígios – Revista


Latino-Americana de Arqueologia Histórica Vol. 8 Nº 2 Jul/Dez 2014. Disponível em
https://docs.wixstatic.com/ugd/f98efd_d154beec91674d6d84870e2857c33ec2.pdf Acesso em
06/jun/2017.

FAGUNDES, Marcelo., PIUZANA, Danielle. Estudo teórico sobre o uso conceito de


paisagem em pesquisas arqueológicas. - Revista Latinoamericana de Ciencias Sociales.
Universidad de Manizales y el Cinde, vol. 8, núm. 1, (enero-junio), 2010, pp 203-218.

LIMA, Tania Andrade. Cultura material: a dimensão concreta das relações sociais -
Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, v. 6, n. 1, p. 11-23, jan-abr.
2011.

SILVA, Adriana Fraga da. Caminhos e Percepções que Constituem Paisagens. Vestígios –
Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica Vol. 1 Nº 2 Jul/Dez. 2007. Disponível em
https://docs.wixstatic.com/ugd/f98efd_a5381704ee2e679e6a0a05c59d7aed69.pdf. Acesso em
07/jun/2017.

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