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Uma reflexão sobre a Extrafiscalidade no Imposto de Importação

Alexander Marques Silva* 1

RESUMO

O ordenamento jurídico brasileiro é deficitário no que tange ao protecionismo


econômico, sobretudo, na utilização unicamente do instituto da Extrafiscalidade
inserido no Imposto de Importação. A utilização do mencionado instituto no tributo
proporciona uma exceção aos princípios da legalidade, da anterioridade e espera
nonagesimal para regular as alíquotas incidentes quando da ocorrência do fato gerador.
Foi realizada ainda uma análise acurada dos meios ministeriais que regulamentam
através da CAMEX toda e qualquer política referente ao Comércio Exterior. Ressalta-se
que o Imposto de Importação possui o caráter extrafiscal em maior proporção, o que não
o exime do caráter fiscal. Demonstrado através de diversas fontes de estudos sobre o
tema conclui-se quanto à necessidade de aprofundamento do estudo e de uma
reformulação das políticas públicas que permeiam à distribuição e à utilização racional
das políticas econômicas voltadas para o setor de importação e de comércio exterior.

Palavras-Chave: Imposto de importação; Extrafiscalidade; Flexibilidade de alíquota;

ABSTRACT

The Brazilian legal system is deficient with respect to economic protectionism, especially in the
use solely of the Institute of extrafiscality inserted in import taxes . The use of the mentioned
institute in tribute provides an exception to the principles of legality, and expects nonagesimal
prior to the regular tax rates when the triggering event . Was further performed an accurate
analysis of the means by which govern ministerial CAMEX all policies relating to foreign trade
. It is emphasized that the import tariff has the character extrafiscal in greater proportion, which
does not relieve the fiscal character . Demonstrated through various sources of studies on the

1
* Pós-Graduado em Direito Público pela Universidade Cândido Mendes (UCAM) SP –
Monografia: “Extraterritorialidade do Imposto Territorial Rural”;
Graduado em Direito pelo Centro Universitário UNA – Monografia: “Intervenção estatal: Uma
reflexão sobre o instituto do Tombamento”
Professor do Curso Preparatório para concursos Públicos CEP – Belo Horizonte/MG
subject concludes on the need for further study and an overhaul of public policies that permeate
distribution and rational use of economic policies aimed at the import sector and foreign trade .

INTRODUÇÃO

O interesse público torna o estado um interventor do bem particular. Diante


dessa afirmativa, o presente estudo visa criar uma reflexão sobre a intervenção estatal
no âmbito do Direito de propriedade através de uma análise do princípio da
Extrafiscalidade existente no Imposto de Importação.
O Imposto de Importação, também conhecido popularmente como tarifa
aduaneira, direitos de importação, tarifa das alfândegas ou direitos aduaneiros, é um
tributo de competência da União, nada mais justo, já que, em se tratando de um imposto
com implicações no relacionamento do país com outros países e organismos
internacionais, seu trato deve caber à União, que é logicamente o ente responsável por
este relacionamento, que evidentemente deve ser uniforme no âmbito internacional, não
se projetando a personalidade jurídica dos Estados-membros, mas da Federação como
um todo.
Outro fator de suma importância é o princípio da Extrafiscalidade existente no
Imposto de importação, que, dessarte justifica a espistemologia ora desenvolvida. No
Capítulo inaugural explicitam-se as Noções Gerais desse instituto da Extrafiscalidade,
tão importante na regulamentação da balança comercial, adentrando em seguida nas
limitações constitucionais inerentes ao instituto citado.
No segundo capítulo, adentra-se ao tributo propriamente dito, iniciando a
explanação com uma breve análise do Direito de Propriedade, uma vez que o objeto ora
tributado pelo Imposto de Importação, ou seja, o Produto importado trespassa o
conceito de propriedade, uma vez que, vg, o sujeito passivo da obrigação tributária se
confunde com o proprietário do produto, o que não obsta em haver responsaveis
solidários. Em seguida, faz-se uma reflexão quanto as noções gerais do Imposto de
Importação seguido dos processo necessários e inerentes ao ato administrativo de
lançamento e exigência da obrigação tributária, denominado neste estudo como Das
classificações dos produtos e incorporação à economia nacional.
Por fim, o capítulo derradeiro soma as análises dos capítulos antecedentes
demonstrando um pouco da prática do Instituto da Extrafiscalidade no Imposto de
Importação, subdividindo-se em Noções gerais e Ato de Variação da Alíquota do
Imposto de Importação.
Desde os primórdios no Brasil, tornaram-se comuns os litígios envolvendo o
Poder Público, em todas as suas vertentes, que, por meio de políticas públicas ou de
outros instrumentos estatais, visa promover a efetivação do princípio funcional
proprietário importador, seja pessoa física ou jurídica e, assim, proporciona um
dinamismo nas questões doutrinária, conceitual e jurisprudencial.
Este estudo visa lançar um olhar crítico e renovador ao tradicional instituto
tributário da Extrafiscalidade como instrumento do Imposto de Importação, estatuído a
fim de controlar a balança comercial, estimulando ou desetimulando determinado
comportamento, aplicando-se alíquotas mais altas à medida que se necessita ou que o
princípio da seletividade assim o exigir, sem, contudo, abandonar o princípio
constitucional da função social, dos direitos difusos ao mesmo tempo o direito
individual à propriedade.
A exposição do tema e seus desdobramentos neste estudo é primorosa, de salutar
e fácil absorção, sendo abordada de forma simples e objetiva, convidando o leitor a
deliciar-se com sua leitura.
CAPÍTULO I

DA EXTRAFISCALIDADE

1.1 – Noções Gerais

A finalidade dos tributos no Brasil, em regra, é que seja de caráter


meramente arrecadatório. Porém, o Direito Tributário nacional possui alguns princípios
que refletem diretamente na natureza da cobrança do tributo, entre esses princípios
destaca-se o da Extrafiscalidade. Tal princípio encontra escopo na previsão
constitucional (BRASIL,1988) insculpida no artigo 150, §1º, in verbis:

Art. 150 - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é


vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
(...)
III - cobrar tributos:
a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei
que os houver instituído ou aumentado;
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os
instituiu ou aumentou;
c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei
que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b;
(...)
§ 1º - A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos arts.
148, I, 153, I, II, IV e V; e 154, II; e a vedação do inciso III, c, não se aplica
aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, III e V; e 154, II, nem à
fixação da base de cálculo dos impostos previstos nos arts. 155, III, e 156, I.
(BRASIL, 1988)

Conforme exposto, a fiscalidade ou o caráter fiscal dos tributos é a


regra, já que o Estado depende de recursos financeiros para exercer seu caráter precípuo
intervencionista na sociedade. A exceção ocorre quando a cobrança de determinado
tributo não visa à finalidade arrecadatória.
Cabe ressaltar, que as exceções previstas no texto constitucional do
artigo 150, §1º, constituem taxativamente a Extrafiscalidade dos tributos mencionados e
que se correlacionam com alguns outros princípios como o da seletividade, do não
confisco, da progressividade entre outros, como será tratado oportunamente.
Roque Antônio Carrazza, nos demonstra que;

A Extrafiscalidade consiste no uso de instrumentos tributários com fins


diversos, ou seja, com fins não fiscais ou extrafiscais. No caso, o uso
extrafiscal dos tributos tem por objetivo disciplinar, favorecer ou
desestimular os contribuintes a realizar determinadas ações, por considerá-las
convenientes ou nocivas ao interesse público. (CARRAZZA, 2006, P.374)

Raimundo Bezerra Falcão, brilhantemente, demonstra a distinção


entre fiscalidade e Extrafiscalidade, como adiante se vê;

Considerando a tributação como ato ou efeito de tributar, ou ainda, como o


conjunto dos tributos, podemos afirmar que: a) a tributação se diz fiscal
enquanto objetiva retirar do patrimônio dos particulares os recursos
pecuniários – ou transformáveis em pecúnia – destinados às necessidades
públicas do Estado; b) tributação extrafiscal é o conceito que decorre do de
tributação fiscal, levando a que entendamos extrafiscalidade como atividade
financeira que o Estado desenvolve sem o fim precípuo de obter recursos
para seu erário, mas sim com vistas a ordenar a economia e as relações
sociais, sendo, portanto, conceito que abarca, em sua amplitude, extensa
gama de opções e que tem reflexos não somente econômicos e sociais, mas
também políticos [...] (FALCÃO, 1981, p. 118)

Dessarte, a Extrafiscalidade apresenta-se como instrumento tributário


com o objetivo de estimular, coibir ou induzir outros comportamentos, tendo em vista
outra finalidade que não a de caráter meramente arrecadatório, mas tendo como escopo
valores até mesmo constitucionalmente tutelados.
No estudo atual sobre a Extrafiscalidade, os doutrinadores
tributaristas divergem quanto ao entendimento aprofundado da conceituação de tal
princípio e seus reflexos. Discussão que atinge mais o caráter epistemológico do que
propriamente prático. Senão vejamos.
As divergências doutrinárias contabilizam-se com maior enfoque em
duas correntes. A corrente precípua e majoritária, defendida por doutrinadores como
Sacha Calmon, Misabel Derzi, Aliomar Baleeiro, Rui Barbosa Nogueira, Fábio
Fanucchi, entre outros, entende a forma restritiva do caráter extrafiscal, ou seja,
endossado constitucionalmente, o objetivo de uma política fiscal não seria somente o
arrecadatório, mas de utilizar o tributo para outros fins, como o de estimular ou
desestimular comportamentos, pelas vias da oneração ou da desoneração, por exemplo.
A segunda corrente, defendida por autores como Ricardo Lobo
Torres e por Marcos de Freitas Gouvêa, denominada por grande parte como Teoria
Ampla ou Amplo em Relação à Matéria, defende que além do caráter indutor capaz de
estimular e desestimular comportamentos sem objetivos arrecadatórios, a
Extrafiscalidade abarca outra faceta do Direito Tributário finalístico, qual seja, atividade
indutora, subjacente mas não dissociada do parâmetro arrecadatório. Logo, conforme
entendimento de Ricardo Lobo Torres, a Extrafiscalidade caracteriza-se por encontrar
identidade em uma espécie autônoma de ingressos públicos, com intuito de produzir
prestações de naturezas não tributárias.
Como já citado, a divergência exposta trata apenas de uma dicotomia
conceitual e epistemológica, mas que de fato, observa-se nitidamente em comum que a
Extrafiscalidade reflete o objetivo excepcional do tributo, o qual transcende o caráter
meramente financeiro com reflexos nos âmbitos sociais, políticos e econômicos.
Outrossim, é de bom alvitre ressaltar que ainda que um tributo possua
a conotação da Extrafiscalidade, ele ainda possuirá o caráter arrecadatório, uma vez que
a arrecadação é uma condição sine qua non, não só para a vida do Estado, mas da
própria criação e existência dos tributos, no caso em epígrafe, o caráter fiscal apenas
não será o ponto essencial de sua instituição.
De certo modo, torna-se mais adequada a teoria restritiva, haja vista
que existem outros princípios e institutos que se correlacionam não só com tributos, mas
com outros gêneros de agregação pecuniária ao patrimônio estatal que não são fiscais,
mas também não se enquadram no paradigma da Extrafiscalidade, já que não têm a
conotação de estimular ou desestimular dado comportamento ou, sequer, guardam
qualquer tipo de vínculo com as ações emanadas dos contribuintes. Como exemplos,
citamos as Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico - CIDEs, as Taxas de
exercício Poder de Polícia, isenções, entre outras.
Enfim, sabias as palavras da inenarrável mestra Misabel Derzi;

(…) não se trata apenas de reconhecer a existência de desigualdades, mas


usa-se o Direito Tributário como instrumento de política social, atenuadora
das grandes diferenças econômicas ocorrentes entre pessoas, grupos e
regiões. (…) a Carta fundamental brasileira, ao contrário da alemã, estabelece
as bases em que se assenta o Estado Democrático de Direito, fixando-lhes
metas de justiça e igualdade social e, coerentemente, faz repercutir o
princípio do Capítulo do Sistema Tributário. Pessoalidade, seletividade,
extrafiscalidade e progressidade são princípios que espelham a busca da
maior justiça tributária. (DERZI, 2000).
Portanto, a Extrafiscalidade é um dos maiores reflexos da busca
suprema de nossa Carta Magna, de justiça e de aspiração constante das igualdades
econômicas, sociais e culturais, já que tal instituto estimula ou desestimula certos
comportamentos danosos ou que comprometam o alcance da sociedade igualitária tão
almejada.

1.2 – Das Limitações Constitucionais

Em que pese haver a incidência de correntes doutrinarias distintas


quanto ao ponto de vista conceitual da Extrafiscalidade, do ponto de vista pragmático,
ambas as correntes compactuam que o princípio base deste capítulo, segue (e deve
seguir) as permissões e vedações constitucionais do poder de tributar, ainda que essas se
apresentem mais benéficas ao sujeito passivo do tributo.
Diante dos princípios tributários previstos na Constituição Federal,
sobretudo, no Titulo VI – Da Tributação e do Orçamento, Capítulo I - Sistema
Tributário Nacional, Seção II – da Limitação do Poder de Tributar, o instituto da
Extrafiscalidade deve coadunar com todos, bastando, no entanto, o conflito aparente
com os princípios do Não-confisco e da Capacidade Contributiva, em casos
especificamente estudados mais adiante.
Inaugurando este item de estudo citamos o princípio da legalidade
frente à Extrafiscalidade. Ora, como é nítido e certo, qualquer que seja o tema versado
em direito tributário, a legalidade é princípio obrigatório a ser observado, conforme se
depreende do artigo 9º c/c I do Código Tributário Nacional – CTN, in verbis:

Art. 9º É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:


I - instituir ou majorar tributos sem que a lei o estabeleça, ressalvado, quanto
à majoração, o disposto nos artigos 21, 26 e 65;(BRASIL, 1966)

Assim, observa-se que a exceção posta no artigo supracitado,


enquadra-se no instituto da Extrafiscalidade de alguns tributos como Imposto de
Importação, Imposto de Exportação, entre outros. Mas conforme previsto no artigo 150,
I da CRFB/88, in verbis:

Art. 150 - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é


vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça; (BRASIL,1988)
Conforme já exposto no início do Capítulo, a exceção que legitima a
Extrafiscalidade advém do próprio texto constitucional brasileiro, inclusive no mesmo
artigo 150, porém, dessa sorte, no parágrafo único. Há que se salientar, que o texto
permissivo, não só versa sobre a excepcionalidade aos princípios da anterioridade e da
espera nonagesimal, mas também a outros princípios dentre os quais encontramos o da
Legalidade.
Outrossim, ressaltemos ainda que a exceção ao princípio da
legalidade atrelado à Extrafiscalidade, não implica que as alterações de alíquotas ou de
bases de cálculos não sejam vinculados. Ora, a própria definição de tributo trazida à luz
pelo Código Tributário Nacional, no artigo 3º, estabelece como sendo inerente à
existência do tributo a obrigatoriedade de ser um ato vinculado, in verbis:

Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo


valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída
em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.
(BRASIL,1966)

A Extrafiscalidade, persí, para surtir efeitos deverá estar legalmente


prevista de acordo com o próprio tributo a ser extrafiscal. Dessarte, a Constituição
Federal e o Código Tributário Nacional, preveem quais os casos em que estão
autorizados a aplicação do pluricitado instituto. Atente-se que mesmo sendo
desnecessária a edição de uma lei para a alteração seja da base de cálculo seja da
alíquota de um tributo, não quer dizer que o princípio da legalidade não esteja presente,
haja vista que a dispensa da lei que altera somente subsistirá quando houver lei que
autorize previamente.
Em segunda análise, o princípio da Não-surpresa deverá ser
observado quando da majoração de tributos, mesmo aqueles que sejam iminentemente
extrafiscais, como é o caso do Imposto de Importação, do Imposto de Exportação, do
Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos ou
Valores Mobiliários – IOF, do Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI.
Importante atentar que, por vezes o tributo não está obrigado a
observar o princípio da anterioridade, por vezes, alternadamente, o princípio da espera
nonagesimal, também denominado noventena com derivações para a nova noventena.
Assim, tomemos como exemplo uma suposta majoração da alíquota exercida no IPI,
essa somente produziria efeitos após noventa dias de sua decretação, uma vez que, a
alteração da alíquota do IPI, apesar de não seguir o princípio da anterioridade, deverá
sempre obedecer ao princípio da espera nonagesimal, e, por conseguinte, atingindo a
contento, a obediência ao princípio da Não-surpresa.

Em análise seguinte, o princípio da igualdade também encontra


escopo junto à Extrafiscalidade. Esse estudo merece ser analisado com maior
parcimônia haja vista que certos cientistas do direito entendem que por se tratar a
Extrafiscalidade de uma exceção à regra dos tributos tornar-se-ia exceção também ao
princípio da igualdade, já que tal paridade seria dispare frente a um instituto de via
excipiente.
Outrossim, diverge a douta corrente majoritária, possuidora de
célebres estudiosos como Sacha Calmon e Misabel Derzi, entre outros, donde se
depreende que, independentemente de ser exceção quanto à aplicabilidade prática, a
Extrafiscalidade é um instituto do Direito Tributário e, para tanto, deverá seguir a
premissa da igualdade, conforme predispõe a Constituição Cidadã de 1988.
Um ponto exemplificativo do ora exposto, analisamos ao nos
depararmos com o entendimento diverso, ainda que mínimo, mas diverso, quando se
trata da imunidade dada ao proprietário de pequenas glebas rurais quando se diz respeito
ao Imposto Territorial Rural.
Ora, nada divergente o é. A imunidade dada ao pequeno proprietário
rural, além de atender ao caráter jurídico de justiça, quando trata os iguais com
igualdade e os desiguais com desigualdade, na medida de sua desigualdade, é previsto
no artigo 153, §4º II da CRFB/88 regulamentado pelo artigo 2º da lei 9393/96, in verbis:

Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:


(...)
§ 4º O imposto previsto no inciso VI do caput:
(...)
II - não incidirá sobre pequenas glebas rurais, definidas em lei, quando as
explore o proprietário que não possua outro imóvel. (BRASIL, 1988)

Art. 2º Nos termos do art. 153, § 4º, in fine, da Constituição, o imposto não
incide sobre pequenas glebas rurais, quando as explore, só ou com sua
família, o proprietário que não possua outro imóvel.
Parágrafo único. Para os efeitos deste artigo, pequenas glebas rurais são os
imóveis com área igual ou inferior a :
I - 100 ha, se localizado em município compreendido na Amazônia Ocidental
ou no Pantanal mato-grossense e sul-mato-grossense;
II - 50 ha, se localizado em município compreendido no Polígono das Secas
ou na Amazônia Oriental;
III - 30 ha, se localizado em qualquer outro município. (BRASIL, 1996)

Assim, se o próprio texto constitucional e a norma infraconstitucional


convalidam a distinção dada ao proprietário da gleba rural, não há que prosperar tal
antagonismo criado por parte minoritária da doutrina.
Em momentos oportunos também, serão analisados os princípios da
Capacidade Contributiva e do Não-confisco, sobretudo, com ênfase da Extrafiscalidade
no Imposto de Importação.
Enfim, a Extrafiscalidade é um instituto do Direito Tributário que
deverá atender os requisitos e demais princípios da matéria jurídica estudada. Com
exceções extremamente pontuais, a Extrafiscalidade guardará sempre as mesmas
características do Direito tributário, até mesmo porque está inserida em seu contexto em
condições precípuas.
CAPÍTULO II

DO IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO

2.1 – Conceito de propriedade

A Propriedade é o mais amplo e importante Direito Real no


ordenamento brasileiro. Possui inclusive outros direitos reais inseridos em suas
características básicas que congrega os poderes de usar, gozar, dispor e reivindicar a
coisa de qualquer pessoa que, injustamente, a detenha ou possua. Desse modo preceitua
o Código Civil brasileiro em seu artigo 1228, in verbis:

Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e


o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou
detenha. (BRASIL, 2002)

A etimologia do vocábulo propriedade origina-se do latim proprietas,


derivado de proprius, denotando-se o que pertence a uma pessoa.
O mestre civilista Carlos Roberto Gonçalves, demonstra-nos que;

O direito de propriedade recai tanto sobre coisas corpóreas quanto


incorpóreas. Quando recai exclusivamente sobre coisas corpóreas tem a
denominação peculiar de domínio, expressão oriunda de domare, (...)
correspondendo à ideia de senhor ou dominus. (GONÇALVES,2010, p.229.)

A definição jurídica de propriedade varia de acordo com o país assim


como com a contextualização histórica. Destarte preceitua LACERDA DE ALMEIDA
(1908, p.22) que o direito das coisas “é a expressão jurídica do estado atual da
propriedade”.
Ora, não há que se falar em fixação ou rigidez da conceituação tendo
em vista que a primária garantia constitucional não estabeleceu tal definição, sendo,
portanto, parametrizado o texto magno por normas infraconstitucionais, sobretudo, pela
legislação ordinária.
Sabias as palavras do soberano mestre Caio Mário da Silva Pereira,
em que se denota que a conceituação de propriedade:

Mais se sente do que se define (...), pois a ideia de ‘meu e teu’, a noção do
assenhoramento de bens corpóreos e incorpóreos independe do grau de
conhecimento ou do desenvolvimento intelectual. (PEREIRA, 2004, vol. IV,
p.89)

Destacamos ainda a definição proposta por Cunha Gonçalves na qual

O direito de propriedade é aquele que uma pessoa singular ou coletiva


efetivamente exerce numa coisa determinada em regra perpetuamente, de
modo normal e absoluto, sempre exclusivo, e que todas as outras pessoas são
obrigadas a respeitar. (CUNHA GONÇALVES, 1952)

Ressalta-se ainda que a propriedade em si divide-se em plena (ou


absoluta) e limitada. Em conformidade com o já citado artigo 1.228 do Código Civil
brasileiro, o proprietário possui o direito de usar, gozar, fruir e reivindicar a coisa de
quem injustamente a detenha.
A propriedade plena ou absoluta é exercida por quem agrega todos os
direitos inerentes ao proprietário de forma simultânea e irrestrita. Enquanto a
propriedade limitada observa a restrição a algum ou alguns dos mesmos direitos, desde
que os demais permaneçam de forma plena.
Já o artigo 1.331 do Código Civil brasileiro prevê, in verbis:

Art. 1.331. A propriedade presume-se plena e exclusiva, até prova em


contrário. (BRASIL, 2002)

Há que se entender o direito de propriedade de forma plena com certa


parcimônia no que tange sua definição e suas consequências, tendo em vista que mesmo
o proprietário absoluto no auge do pleno gozo de seus direitos ainda é limitado pela
forma jurídica.
A Constituição Federal (BRASIL, 1998) privilegia e determina que a
propriedade deverá atender à sua função social, conforme encontra-se insculpido no
artigo 5º, XXIII 2. Sendo assim, o livre direito de gozar e fruir da coisa não consiste na
prerrogativa de abusar da coisa, de destruí-la, de inutilizá-la, de permanecer inútil.
Segundo ensinamento grandioso de Carlos Roberto Gonçalves “É de
ressaltar que o caráter absoluto e ilimitado da propriedade tem, ao longo dos anos,
sofrido limitações e restrições, importando uma incessante redução dos direitos do
proprietário” (2010, p.229).
Findadas as noções gerais sobre a Propriedade, temos definições
variadas que alcançam um profícuo âmago dos diversos tipos de propriedades
existentes. A seguir, adentraremos ao tema de forma a especificar a propriedade
sobretudo móvel, definindo parâmetros da função social e demonstrando-os de acordo
com a Constituição Federal e legislações pertinentes.

2.2 – Noções gerais sobre o Imposto de Importação

O Imposto de Importação (II) é um imposto federal, cuja finalidade é


puramente econômica (regulatória) e de proteção, assim denominada também a
extrafiscalidade. Ele age taxando produtos trazidos do exterior para que não haja
concorrência desleal com os produtos brasileiros, o que geraria um desequilibrio da
balança comercial e seria demasiadamente danos à economia do país.
A Seção III que versa sobre os impostos de competência da União, é
parte integrante do Título VI – Da Tributação e do Orçamento e do Capítulo I – Do
Sistema Tributário Nacional, definindo no artigo 153, I, quanto ao Imposto de
Importação, in verbis:

Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:


I - importação de produtos estrangeiros; (BRASIL,1988)

Igualmente dispõe o artigo 19 do Código Tributário Nacional – CTN,


in verbis:

2
A Constituição da República Federativa do Brasil. Artigo 5º, XXIII – “a propriedade atenderá a
sua função social”
Art. 19. O imposto, de competência da União, sobre a importação de
produtos estrangeiros tem como fato gerador a entrada destes no território
nacional. (BRASIL,1966)

Assim, demonstra-se que o fato gerador do Imposto de Importação é


a entrada do produto estrangeiro no territorio nacional. Adiante veremos que a entrada
do produto estrangeiro no território não se trata de simples e mera compreensão, já que
essa entra pode coincidir com a entrada física do produto, mas que a lei versa em
verdade, sobre a entrada jurídica do produto, ou seja, de sua incorporação à economia
nacional.
Interessante ressaltar, que pacificamente e incontroverso entre
doutrinas e jurisprudências, encontra-se o entendimento de que um produto nacional ora
incorporado à outra economia e posteriormente retorna ao país de origem com o fito de
incorporar definitivamente àquela economia constitui Fato Gerador do Imposto de
Importação, e, portanto, ocorre nitidamente a Hipótese de Incidência do Tributo ora
mencionado.
Exemplificando, um veículo fabricado no Brasil que, após exportado
e incorporadoà economia estrangeira, retorna ao Brasil com objetivo de novamente
compôr à economia, deverá ter seu lançamento efetivado e, portanto, ser tributado como
se nacional não o fosse.
Sabiamente pacificado entre doutrinas e jurisprudências também o é,
a questão de produtos de mera passagem não serem objetos da Hipótese de Incidência
do Imposto de Importação, uma vez que não se tornaram parte da economia nacional.
Como exemplo, citamos exposição intinerante de obra de arte que
adentra fisicamente o território nacional, mas que não possui o objetivo de permanência.
Outro exemplo, seria o produto que desembarca em território nacional, mas com destino
a outro país fronteiriço.
Cabe ressaltar que em ambos os exemplos de produtos de mera
passagem, os produtos deverão ser declarados, incluindo o tempo de permanência em
território nacional, subsistindo o direito ao lançamento tributário e persistindo a
Obrigação Tributária caso ocorra o descumprimento do prazo ora declarado.
Em conformidade com o artigo 6º e 7º do Decreto-lei 288 de 28 de
fevereiro de 1967, tributa-se inclusive por possuir isenções e imunidades ímpares, e
assim, inserir na qualidade de estrangeira, os produtos que entram no restante do
território nacional a oriundos da zona franca de Manaus – ZFM. Já que tais produtos são
importados ou produzido na ZFM, porém não são submetidas aos tributos que as tornam
nacionalizadas ou possuem tamanha isenção que as tornam incompatíveis com a livre
concorrência, vez que não completam a regra precípua referente ao Fato Gerador
constante do CTN, logo, quando importadas por importador em outro ponto do território
nacional, assim entendido por aduaneiro, deverão ser submetidas à tributação sobre
importação do II e demais tributos incidentes.
Outro item que merce uma análise acurada, é a Base de Cálculo do
tributo alvo de nossa epistemologia jurídica, já que tal base deverá adotar uma das três
formas, conforme previsto também no CTN, desta feita no artigo 20, in verbis:

Art. 20. A base de cálculo do imposto é:


I - quando a alíquota seja específica, a unidade de medida adotada pela lei
tributária;
II - quando a alíquota seja ad valorem, o preço normal que o produto, ou seu
similar, alcançaria, ao tempo da importação, em uma venda em condições de
livre concorrência, para entrega no porto ou lugar de entrada do produto no
País;
III - quando se trate de produto apreendido ou abandonado, levado a leilão, o
preço da arrematação. (BRASIL, 1966)

Minudentemente analisado adiante, o Valor Aduaneiro alcança uma


importância ímpar ao incidir o imposto de importação sobre produto cuja entrada
ocorrera em territorio nacional, adequando-se, principalmente, ao inciso II do
supracitado artigo e que, destaca-se, é o mais recorrente entre as três Bases de Cálculo
aqui apresentadas.

2.3 – Das classificações dos produtos e incorporação à economia nacional

A CAMEX – Câmara de Comércio Exterior, é um órgão que integra


o Conselho de Governo da Presidência da República e objetiva a formulação, adoção,
implementação e coordenação de políticas e atividades relativas ao comércio exterior de
bens e serviços e turismo.
Cabe ao Ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior, a presidência da CAMEX, o qual compõe a câmara juntamente com
os Ministros de Estado Chefe da Casa Civil; das Relações Exteriores; da Fazenda; da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento; do Planejamento, Orçamento e Gestão; e do
Desenvolvimento Agrário.
Como o tema comércio exterior é por demais abrangente, diversos
órgãos da administração pública possuem competências relacionadas ao assunto, bem
como executam ações e desenvolvem políticas sobre esta matéria. Dessa forma, a fim de
permitir uma coadunação de ações integradas e coerentes entre si por parte do governo,
é função da CAMEX é definir diretrizes, bem como coordenar e orientar ações desses
órgãos do governo que possuem competências na área de comércio exterior. Ademais, a
Câmara deve ser previamente consultada sobre matérias relevantes relacionadas ao
tema, que por vezes ainda estejam omissas ou obscurecidas por normas
regulamentadoras, ainda que consistam em atos de outros órgãos federais.
Dentre as diversas competências da CAMEX, destacamos com maior
rigor a de fixar as alíquotas do imposto de importação, atendidas as condições e os
limites estabelecidos em lei e de definir nomeclaturas, salvaguardas, isenções tributárias
e regulagem da balança comercial de produtos declarados pela própria câmara como
essenciais ou de similiriedade inexistente no Brasil, o que proporcionará uma redução
na alíquota utilizada que poderá chegar a índices nulos.
A CAMEX foi criada e regulamentada pelo Decreto 4.732 de 10 de
junho de 2003, a qual define sua composição, estrutura, competências e campos de
atuação, além de formas de deliberação.
Importante ressaltar que a resolução nº 79 de 01º de outubro de 2012,
define quais os parâmetros para que produtos que não possuem similariedade com
outros no Brasil, tenham alíquota aplicada em zero ou dois porcento. Bastando que tal
produto seja integrante e esteja classificado nos capítulos e códigos da NCM –
Nomeclatura Comum do MERCOSUL, conforme dispõe o artigo 1º, inciso I da
mencionada resolução. O fato de reduzir a alíquota para produtos sem produção local
recebe a denominação de ex-tarifários. Sendo que até 30 de outubro de 2013, a
CAMEX, somente durante o ano citado, já classificou 2.318 produtos como ex-
tarifários, segundo informações do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior – MDIC.
Pois bem, cabe também à CAMEX definir a essencialidade do
produto e a alíquota referente ao imposto de importação aplicável no caso em suma. O
Imposto de Importação segue o princípio da seletividade, pois varia de acordo com o
país de origem das mercadorias (devido aos acordos comerciais) e com as características
do produto, principalmente quanto à sua essencialidade, como é o caso de alimentos,
medicamentos entre outros.
Suas alíquotas estão definidas na Tarifa Externa Comum (TEC), que
é a tarifa aduaneira utilizada pelos países do MERCOSUL e é baseada na Nomenclatura
Comum do MERCOSUL (NCM). A base de cálculo do imposto de importação é o valor
aduaneiro da mercadoria. O Imposto de Importação é calculado pela aplicação das
alíquotas fixadas na TEC sobre essa base de cálculo, conforme abaixo:

Imposto de Importação = TEC (%) x Valor Aduaneiro

Cabe antes de prosseguirmos, destacarmos quanto à conceituação de


valor aduaneiro. Para a doutrina majoritária de Sacha Calmon, Aliomar Baleeiro e
Misabel Derzi, trata-se simplesmente do valor da mercadoria no comércio em geral, ou
seja, é o valor que aquele bem alcança, de forma média, no mercado comum.
A Receita Federal do Brasil, depreende que valor Aduaneiro é
apurado na forma prevista no Acordo Sobre a Implementação do Artigo VII do GATT
(Acordo de Valoração Aduaneira ou, simplesmente, AVA-GATT). O AVA-GATT
estabelece seis diferentes métodos para a determinação do valor aduaneiro das
mercadorias importadas. Esse acordo determina que, sempre que não for possível a
utilização do primeiro método de valoração, deve-se passar sucessivamente aos métodos
seguintes, até que se chegue ao primeiro que permita determinar o valor aduaneiro.
O acordo do AVA-GATT estabelece ainda, em seu Artigo 1º, que o
valor aduaneiro de mercadorias importadas seja determinado, preferencialmente, pelo
primeiro método, ou seja, o valor de transação, que é o preço efetivamente pago ou a
pagar pelas mercadorias, em uma venda para exportação para o país de importação.
O preço efetivamente pago compreende todos os pagamentos
efetuados ou a efetuar como condição da venda das mercadorias e não necessariamente
feitos em dinheiro. Dessa forma, citamos exemplificativamente, uma permuta de
mercadorias nas quais os valores são distoantes entre sí, devendo todos os valores das
mercadorias transacionadas e valores de diferenciação entrarem no cômputo da
estipulação do valor aduaneiro. Assim, toda e qualquer forma de pagamento indireto
que eventualmente seja realizado é parte integrante do valor aduaneiro, conste ele ou
não da fatura comercial apresentada à autoridade aduaneira.
Dessa forma, o valor aduaneiro da mercadoria não se confunde com o
valor faturado nem com o valor para fins de licenciamento das importações, embora
muitas vezes eles coincidam. O valor aduaneiro das mercadorias importadas significa o
valor das mercadorias para fins de incidência de direitos aduaneiros ad valorem sobre
mercadorias importadas.
Na maioria das vezes, o valor aduaneiro da mercadoria é encontrado
a partir do seu valor FOB (Free on Board), acrescido dos valores do frete e seguro
internacionais, convertendo-se esses valores para Reais, por meio da taxa de câmbio do
dia do registro da importação, ou seja, da entrada jurídica em território nacional, que,
vg, coincide com o desembaraço aduaneiro, mas que são independentes entre si.
Essa entrada jurídica do produto entende-se como sendo a
incorporação à economia nacional, que nada mais é que o fato gerador do Imposto de
Importação. Tangivelmente, ocorre com o lançamento do produto no SISCOMEX –
Sistema Integrado de Comércio Exterior, que é um sistema utilizado pelo governo do
Brasil, com seu desenvolvimento ocorrido pelo Banco Central – BACEN e sua
operacionalização pela Receita Federal, para o controle do comércio exterior, que por
um fluxo único, registra atividades, acompanhamento e controla as referidas operações,
tornando assim o momento formal de entrada e incorporação de produtos na economia
nacional.
CAPÍTULO III

DA EXTRAFISCALIDADE NO IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO

3.1 – Noções Gerais

A Extrafiscalidade no Imposto de Importação, não só no Brasil mas


em todo o mundo, possui grande importância enquanto instrumento de arrecadação de
tributos e, sobretudo, de proteção economica e social, daí o caráter essencialmente
extrafiscal do imposto de importação.
Hugo de Brito Machado, discorre sobre a importância do imposto de
importação no contexto atual.

Se não existisse imposto de importação, a maioria dos produtos


industrializados no Brasil não teria condições de competir no mercado com
seus similares produzidos em países economicamente mais desenvolvidos,
onde o custo industrial é reduzido graças aos processos de racionalização da
produção e ao desenvolvimento tecnológico de um modo geral. Além disso,
vários países subsidiam as exportações de produtos industrializados, de sorte
que seus preços ficam consideravelmente reduzidos. Assim, o imposto
funciona como valioso instrumento de política econômica (MACHADO,
2003, p. 272).

A função extrafiscal do imposto de importação vem sendo


questionada em virtude da crescente globalização que, cada vez mais, combate esta
postura protecionista por parte dos Estados, defendendo a negociação internacional.
Entretanto, a extrafiscalidade ainda é a principal função do imposto de importação,
sendo inclusive intensamente utilizada em negociações internacionais como forma de
cessão mútua.

3.2 – Ato de Variação da Alíquota do Imposto de Importação

Conforme explicitado, está autorizado pela Constituição Federal e


pelo Código Tributário Nacional, a variação da Alíquota do Imposto de Importação, por
ato fundamentado do poder executivo, com o fito de equalizar a balança comercial e
criar e coordenar a proteção comercial no Brasil, assim disposto, respectivamente, in
verbis:

Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:


I - importação de produtos estrangeiros;
§ 1º - É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os limites
estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos enumerados nos
incisos I, II, IV e V. (BRASIL, 1988).

Art. 21. O Poder Executivo pode, nas condições e nos limites estabelecidos
em lei, alterar as alíquotas ou as bases de cálculo do imposto, a fim de ajustá-
lo aos objetivos da política cambial e do comércio exterior. (BRASIL, 1966)

Excetua-se que a Constituição Federal de 1988 recepcionou em parte


esse artigo do CTN, haja vista que apenas a variação da alíquota neste caso é que foi
autorizada, inexistindo in casu, a variação da Base de Cálculo para o Imposto de
Importação, mediante ato do poder executivo, desta feita, realizado pela CAMEX.
Cumpre salientar que esta possibilidade de alteração de alíquota pelo
Poder Executivo só deve se concretizar em circunstâncias especiais que a justifiquem, e
ainda assim, restritas aos limites estabelecidos em legislação ordinária. (MACHADO,
2003, p. 299).
Como ato administrativo que são, as alterações de alíquotas pelo
Poder Executivo, devem conter, necessariamente, a motivação bem fundamentada do
uso da extrafiscalidade em cada caso, pois a motivação evita o desvio de finalidade do
ato. (MACHADO, 2003, p. 308).
Cabe salientar que a Fazenda Nacional tem utilizado
comumentemente a variação da alíquota do Imposto de Importação, sob a justificativa
de que se trata de um imposto Extrafiscal, como se este fato persí bastasse. De forma
sapientíssima nos ensina Hugo de Brito Machado:

A extrafiscalidade, porém, não elide o princípio da legalidade. Justifica, por


certo, sua atenuação, simplesmente para permitir maior rapidez nas
mudanças, sem o que o fim extrafiscal em muitos casos não seria alcançado.
Não pode, entretanto, servir de pretexto para aumentos de alíquotas do
imposto sem obediência ao princípio da legalidade mediante indicação
genérica de circunstâncias que justificam o aumento, nem muito menos
justifica a violação do principio da irretroatividade da lei (MACHADO,
2003, p.321).
Diante do exposto deve haver mais seriedade quanto ao uso da
extrafiscalidade por parte do poder executivo no Brasil. A fim de se evitar qualquer
questionamento ou mesmo sanção por parte de organismos ou da comunidade
internacional.
CONCLUSÃO

Foi realizado um estudo analítico do instituto da Extrafiscalidade no


Imposto de Importação, sob a perspectiva econômica, social e hermenêutica das
respectivas legislações sobre o tema, estabelecendo uma análise reflexiva sobre
doutrinas e jurisprudências acerca dos efeitos sociais advindos do mencionado tributo
frente ao Código Civil brasileiro e à Constituição da República Federativa do Brasil e
entre o Imposto de Importação e a legislação vigente específica.
Após a mencionada análise, concluímos que o Imposto de
Importação – II, não se trata apenas de um tributo, mas de uma forma de intervenção do
Estado sobre a propriedade particular, com o fito de regular comportamentos e tornar
racional e equitativa a economia nacional, principalmente no combate à entrada maciça
de produtos estrangeiros, o que desregularia a balança comercial e consequentemente a
economia, tudo isso instrumentalizado pelo instituto da Extrafiscalidade. Ambos
pertencentes ao direito público, tributário, que ocorre de forma vinculada, conforme
definido pelo CTN.
Entretanto, cabe ressaltar que, notoriamente, o sistema utilizado para
regulação alfandegário é falho em diversos aspectos. Tido eminentemente com
Extrafiscal, o II possui em grande parte uma conotação Fiscal, como podemos notar na
destinação do recurso para o chamado “caixa geral” do poder executivo, conforme
disposto na Constituição Federal. Notamos ainda este caráter fiscal ao percebermos que
as imunidades e isenções não abarcam números consideráveis de sujeitos ativos do
tributo.
Dessarte, ainda que subjetivamente às vistas do importador ou do
homem médio brasileiro, a forma com que é tratado o assunto, depreende mais um
caráter punitivo do que igualitário de fato. Isso ocorre devido à ausência de outras
políticas substitutivas e devido ao mínimo apoio e incentivo do estado ao sujeito
passivo, que se sente injustiçado, tolhido e desamparado pelas políticas públicas falhas e
pela alta carga tributária a que está submetido.
De certo que o Brasil, pelo fato de ser um país de história recente,
diante do contexto mundial, ainda tem bastante a aprender com outros países que
possuem um evoluído sistema protecionista, preservacionista e de incentivo, o que gera,
além da de um crescimento social, através da geração de renda e empregos, fatores
econômicos preponderantes para o aumento do PIB, gera também uma racionalização
do comércio interno.
Importante salientar que, não basta ter como resultado o acréscimo de
postos de trabalho, de renda ou de quantidade de importadores, faz-se necessária a
construção do caminho que leva a esse objetivo de tornar equanime a política de
importação, não sobretaxando aqueles que necessitam da importação para manterem sua
atividade empresária, que transpassa pela real qualificação de pessoas potencialmente
empregáveis no setor e, sobretudo, da mudança cultural estruturada pela educação
voltada à elevação da importância do sistema autoregulatório do setor, com estudos
sobre a adequação às necessidades aos diversos rincões do país já que as variáveis são
muitas, a formação dos vários profissionais necessários ao setor, entre outras estratégias
não menos importantes mas diferentes das políticas paternalistas associadas à máxima
da arrecadação a todo custo adotadas hodiernamente no Brasil.
Diante de todo o exposto, concluímos que possivelmente, a solução
para tal disparidade estaria em torno de uma política voltada ao campo e à indústria,
incentivando o crescimento sustentável e produtivo, para então depender menos
possível de tipos arcaicos e frágeis de protecionismo econômicos, pragmatizado pelo
estado com maior seriedade e mínimo interesse particular daqueles que detêm o poder
da transformação. Deixamos claro que o intuito não é de um estado socialista, neo-
liberalista, comunista ou fascista, mas realmente democrático de direitos e deveres, no
qual efetivamente o interesse coletivo sobrepõe o individual.
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