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TEORIA DO DIREITO
FILOSOFIA DO DIREITO
CONCEITOS DA JUSTIÇA
FILÓSOFOS DO DIREITO
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A grandeza da justiça consiste no fato de ela ser uma virtude que supõe o
relacionar-se com o outro.
INTRODUÇÃO
A concepção aristotélica de virtude enquanto “mediania” ou “meio-
termo” entre dois vícios é constantemente utilizada como referência na Filosofia
do Direito.
A partir disso, pode-se dizer que a ação moralmente boa é aquela que
consiste em um (i) ato voluntário, decorrente da (ii) escolha (iii) deliberada
tendo o (iv) bem como intenção.
Comecemos, pois, por frisar que está na natureza dessas coisas o serem
destruídas pela falta e pelo excesso, como se observa no referente à força e à
saúde (pois, a fim de obter alguma luz sobre coisas imperceptíveis, devemos
recorrer à evidência das coisas sensíveis). Tanto a deficiência como o excesso
de exercício destroem a força; e, da mesma forma, o alimento ou a bebida que
ultrapassem determinados limites, tanto para mais como para menos, destroem
a saúde ao passo que, sendo tomados nas devidas proporções, a produzem,
aumentam e preservam.
Assim como na saúde é necessário alcançar o meio-termo, dado que a
deficiência e o excesso são os seus contrários, o mesmo se dará com a
virtude.
(…) é preciso ter presente que em todo objeto contínuo e divisível podem-
se distinguir três coisas: um excesso, um defeito e um meio. Estas distinções
podem ser consideradas, seja em relação às coisas mesmas, seja em relação
a nós; por exemplo, pode-se estudá-las na ginástica, na medicina, na
arquitetura, nas artes náuticas ou em qualquer outro desenvolvimento da nossa
atividade, seja ou não científico, seja conforme as regras da arte seja ao
contrários delas. O movimento, com efeito, é uma continuidade, e a ação não é
mais do que um movimento. Em todas as coisas, o médio, com relação à nós,
é o melhor e o que nos prescrevem a ciência e a razão. Sempre e em todas as
coisas, o médio tem a vantagem de produzir o melhor modo de ser, que pode
demonstrar-se, por sua vez, pela indução ou pelo raciocínio. E assim, os
contrários se destroem reciprocamente, e os extremos são, por sua vez,
opostos entre si e opostos ao médio, porque este médio é um e outro extremo
relativamente a cada um deles; por exemplo, o igual é maior que o menor e
menor que o maior. Donde se segue que, a virtude ética deve consistir em
certos meios e em uma posição mediana. (tradução livre)[6].
Tendo explicitado que o meio-termo é a perfeição a ser atingida,
cumpre determinar se esse termo médio seria constante ou mudaria diante das
circunstâncias que envolveriam o agente e a ação.
Para esclarecer tal distinção, Aristóteles (EN, II, 6, 1106a) utiliza dois
exemplos: tendo como parâmetro, ao considerar um objeto, que dez seria
demasiado e dois seria insuficiente, pode-se alcançar o meio-termo pela média
aritmética entre os dois, identificando o seis como o meio, pelo fato de essa
quantidade exceder e ser excedida de modo semelhante.
Por outro lado, parece certo que entre os dois extremos que se referem
à conduta virtuosa, um deles é mais errôneo do que o outro, em razão de
aquilo que é mais natural ao homem não poder ser visto como pior do que
aquilo que é o seu extremo oposto. Portanto, tendo ciência de que o alcance do
meio-termo é algo extremamente difícil, algumas vezes é necessário se
contentar com o menor dos males[7].
a virtude da coragem (EN, III, 6-9, 1115a – 1117b), que tem como
extremo a temeridade e defeito a covardia;
a virtude da temperança (EN, III, 10-11, 1117b – 1119b), que tem como
extremo a intemperança, não existindo um termo específico para o
defeito;
Dado que essas relações são várias, mas que haveria uma atitude
correta em cada um dos casos, seria possível falar em uma espécie de justiça
geral, que englobaria todas essas situações. Além da justiça geral, Aristóteles
considera algumas formas de justiça particular, quais sejam: a justiça
distributiva, a justiça corretiva, a reciprocidade, a justiça política e a equidade.
Por fim, a equidade (EN, V, 10, 1137b – 1138a) se coloca como uma
correção da justiça legal. Na medida em que a lei pretende ser universal e não
abrange todos os casos concretos, pode-se implementar um determinado caso
em que a previsão legal implique em uma situação que não seria a mais justa
(no sentido geral do termo, e não legal).
CONCLUSÃO
Em síntese, foi estabelecido que as virtudes éticas não são inatas, mas
consistem em uma disposição ou hábito adquiridos a partir da prática de ações
moralmente boas. Por sua vez, “ações moralmente boas” seriam aquelas
consistentes em atos voluntários, decorrentes da escolha deliberada tendo o
bem como intenção.
Por fim, analisou-se a virtude da justiça, que tem como contrário, tanto
no excesso quanto na falta a injustiça, bem como as várias espécies de justiça
em particular. Destacou-se que a grandeza da justiça consiste no fato de ela
ser uma virtude que supõe o relacionar-se com o outro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARISTÓTELES. Moral a Eudemo. 4.ed. Trad. Patricio de Azcárate.
Buenos Aires: Espasa-Calpe, 1948.
NOTAS
[1] Enquanto a voluntariedade e a intenção têm em conta a finalidade
do ato, a escolha e a deliberação observam os meios que serão utilizados para
que se atinja tal ou qual fim.
[3] Para uma análise sobre a escolha vide EN (III, 2, 1111b). Ainda
nesse sentido, vide Marie-Dominique Philippe (2002, p. 46).
[4] Para uma análise sobre a deliberação vide EN (III, 2, 1112a). Ainda
nesse sentido, vide Marie-Dominique Philippe (2002, p. 48-49). É importante ter
presente que a deliberação precede à escolha, o que leva a Aristóteles (EN, III,
2, 1113a) a afirmar que “(...) a escolha é um desejo deliberado de coisas que
estão ao nosso alcance, pois, após decidir em decorrência de uma deliberação,
passamos a desejar de acordo com o que deliberamos”.
[5] Nas palavras de Aristóteles (EN, III, 5, 1114b), “(...) visar ao fim não
depende da nossa escolha, mas é preciso ter nascido com um sexto sentido,
por assim dizer, que nos permita julgar com acerto e escolher o que é
verdadeiramente bom; e realmente bem dotado pela natureza é quem o possui.
Com efeito, isso é o que há de mais nobre, e não podemos adquiri-lo nem
aprendê-lo de outrem, mas o possuímos sempre tal como nos foi dado ao
nascer; e ser bem e nobremente dotado dessa qualidade é a perfeição e a
cúpula de ouro dos dotes naturais”.