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28/08/2019 E-4.

753/2017 — OAB SP

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E-4.753/2017

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - MODALIDADE QUOTA LITIS - CONTRATAÇÃO


EXCEPCIONALÍSSIMA - NECESSIDADE DE JUSTIFICAÇÃO EM FACE DA SITUAÇÃO ECONÔMICA
DO CLIENTE - LIMITES ÉTICOS - HONORÁRIOS AD EXITUM - LIMITE ÉTICO DE 20% PARA
CAUSAS CÍVEIS E 30% PARA CAUSAS PREVIDENCIÁRIAS E TRABALHISTAS.

A contratação de honorários na modalidade quota litis está prevista no artigo 50 do Código


de Ética e Disciplina. Em tal modalidade, o advogado arca com os custos do processo e
participa com o cliente no sucesso da demanda. Tal contratação, entretanto, deve ser
excepcionalíssima e justi cada na condição econômica do cliente. Sua contratação
generalizada e sem justi cativa a torna antiética. Ademais, os honorários, somados os
contratuais e os sucumbências, não podem, em hipótese alguma, superar os benefícios do
cliente. Nos honorários ad exitum, esta Turma já paci cou entendimento que o limite ético
para causas cíveis é de 20% do benefício econômico e em causas trabalhistas e
previdenciárias tal limite não pode superar o percentual de 30%. Limites em consonância
com o sugerido pela Tabela de Honorários da OAB/SP.
Proc. E-4.753/2017 - v.m., em 23/02/2017, do parecer e ementa Rel. Dr. FÁBIO
PLANTULLI, com declaração de voto divergente do Julgador Dr. SÉRGIO KEHDI
FAGUNDES, Rev. Dr. CLÁUDIO FELIPPE ZALAF - Presidente Dr. PEDRO PAULO WENDEL
GASPARINI.
Relatório - Trata-se de consulta sobre honorários advocatícios, através da qual o
consulente formula quatro questionamentos, a seguir transcritos na íntegra:

1 – A respeito da possibilidade ou não de o advogado cobrar honorários advocatícios no


importe de 30%, sobre o valor econômico da questão, nas seguintes hipóteses:

a) Atuação na esfera cível, sem quaisquer custos por parte do cliente, arcando o advogado
com todas as despesas do processo.

b) Atuação na esfera cível, arcando o cliente com eventuais despesas do processo (custas,
fotocópias, etc.).

2 – A respeito da possibilidade ou não de advogado cobrar honorários advocatícios no


percentual superior a 30%, sobre o valor econômico da questão, nas seguintes hipóteses:

a) Atuação na esfera previdenciária, sem quaisquer custos por parte do cliente, arcando o
advogado com todas as despesas do processo.

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b) Atuação na esfera previdenciária, arcando o cliente com eventuais despesas do processo


(custas, fotocópias, etc.).
PARECER - Trata-se de consulta formulada em tese e que trata de tema relevante para
nossa classe, de forma que conheço da consulta.
O Consulente trata de duas hipóteses em que o advogado arca com todos os custos do
processo, nada sendo devido pelo cliente. Tal modalidade de contração de honorários é
conhecida como quota litis, muito bem de nida por Robison Baroni, conforme transcrito
pelo brilhante Fábio Kalil Vilela Leite, na obra “Ética Aplicada à Advocacia”, páginas 83/84:

“Ao contrário do antigo Regulamento da OAB que vedava de forma expressa a aplicação da
“quota litis”, o atual Código de Ética e Disciplina estabeleceu regra para essa forma de
xação de honorários (artigo 38). Há que ser observado no entanto, que na “quota litis”,
além dos serviços pro ssionais o advogado assume o custeio integral da demanda, numa
autêntica sociedade de participação, no recebimento de honorários se houver vantagem;
perdendo tudo, inclusive o trabalho, se infrutífera a demanda; o pro ssional deve ter
atenção para que suas vantagens, inclusive os honorários de sucumbência xados em
sentença, no caso da causa, jamais sejam superiores ao que venha a receber seu
constituinte ou cliente.”

Nossa Turma também já se debruçou sobre o tema, sendo importante transcrever duas
ementas de grande didatismo:

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS – CONTRATO COM CLÁUSULA “QUOTA LITIS” – ÓBICES


QUANTO À PRETENSÃO. A cláusula “quota litis”, introduzida no atual Código de Ética e
Disciplina da OAB, é uma forma de contratação honorária permitida em casos
excepcionais, visando proporcionar a que litigantes pobres ou desprovidos de recursos,
mesmo que momentaneamente, tenham a oportunidade de exercer seu direito de ação,
podendo escolher advogado de sua con ança, para buscar guarida de sua pretensão, via
judicial, sem depender da assistência judiciária, onde não tem a possibilidade de escolha
de patrono. Esta forma de contratação é regida pelas disposições do artigo 38 do Código de
Ética e Disciplina da OAB, que impõe que os honorários devam ser representados por
pecúnia e, quando acrescidos aos honorários de sucumbência, não possam ser superiores
às vantagens advindas em favor do cliente ou constituinte. A jurisprudência desta Turma
Deontológica, visando evitar a abusividade, a imoderação e até captação de clientela na
aplicação da norma, pautou-se no sentido de alertar os advogados para que não a
tornassem uma forma generalizada de contratação, respeitando sua excepcionalidade e só
a aplicando quando efetivamente se tratasse de cliente especí co, com causa justa e sem a
menor possibilidade nanceira de litigar. Portanto, a generalização na contratação com um
universo de consumidores hipossu cientes de serviços de crédito, sob a forma honorária
da cláusula “quota litis”, objetivada na consulta, sem a veri cação especí ca se cada um
deles é realmente hipossu ciente ou mesmo desprovido momentaneamente de recursos,
contraria diretamente o objetivo da norma, encontrando sério óbice ético, para sua
consecução. Precedentes: Processos E-2.327/2001, E-3.558/2007 e E-3.746/2009. Proc. E-
4.344/2014 - v.u., em 20/02/2014, do parecer e ementa do Rel. Dr. GUILHERME
FLORINDO FIGUEIREDO - Rev. Dr. FÁBIO GUIMARÃES CORRÊA MEYER - Presidente Dr.
CARLOS JOSÉ SANTOS DA SILVA.

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HONORÁRIOS – CLÁUSULA ‘QUOTA LITIS” – ADMISSIBILIDADE EM CARÁTER


EXCEPCIONAL – QUITAÇÃO DOS HONORÁRIOS MEDIANTE DAÇÃO EM PAGAMENTO –
ADMISSIBILIDADE – NECESSIDADE DE RESPEITAREM-SE, EM QUALQUER HIPÓTESE, OS
LIMITES DA MODERAÇÃO. O parágrafo único do art. 38 do Código de Ética e Disciplina da
OAB expressamente admite a contratação de honorários advocatícios com a cláusula
“quota litis”. Entretanto, condiciona-a a situações excepcionais, desde que contratada por
escrito e diante da comprovada falta de condições pecuniárias do cliente. Na hipótese de o
cliente não conseguir quitar um contrato com seu advogado, pagando-lhe em pecúnia o
que foi contratado, nada obsta que ambos acordem quitar o débito mediante dação em
pagamento com bem móvel ou imóvel. É indiferente se esse acordo foi feito no momento
da contratação ou no momento da quitação dos honorários. Em qualquer hipótese, o valor
do bem deve ser equivalente ao valor dos honorários contratados, em homenagem ao
princípio da moderação. Proc. E-4.214/2013 - v.u., em 21/03/2013, do parecer e ementa
do Rel. Dr. ZANON DE PAULA BARROS - Rev. Dra. CÉLIA MARIA NICOLAU RODRIGUES -
Presidente Dr. CARLOS JOSÉ SANTOS DA SILVA.

Necessário consignar que o Código de Ética atualmente em vigor transcreveu, ipsis litteris,
em seu artigo 50, a redação do artigo 38 do antigo Código.

Dito isto, não há óbice ético para a contratação de honorários na modalidade quota litis,
mas, conforme destacam as ementas acima, tal contratação deve ocorrer de forma
excepcionalíssima, deve ser justi cada em face da condição de hipossu ciência do cliente,
da sua impossibilidade de arcar com os custos de determinada demanda.

A sua contratação generalizada ou injustiçada se caracterizará como antiética, uma vez que
o advogado não é e não deve ser sócio de seu cliente, deve ser remunerado
exclusivamente pelos seus serviços prestados, dentro dos critérios estabelecidos no Código
de Ética e Disciplina.

Ademais, os honorários contratuais recebidos pelo advogado, somados aos honorários de


sucumbência, não podem, em hipótese alguma, superar os bené cos auferidos pelo
cliente.

Desta forma, a resposta aos questionamentos 1-a e 2-a é positiva, pela possibilidade, em
tese, de contratação de honorários na forma lá sugerida, desde que tal contratação seja
excepcionalíssima e se justi que em face da situação econômica do cliente. Não podem,
ainda, conforme acima exposto, o total dos honorários serem superiores às vantagens
obtidas pelo cliente com o processo.

Por outro lado, nas outras duas hipóteses, o cliente trata dos honorários ad exitum, cujos
limites éticos estão de nidos em dezenas de julgados de nossa Turma: em causas cíveis, o
limite é de 20%, em causas trabalhistas ou previdenciárias, o limite é de 30%, sempre sobre
o benefício econômico do cliente.

A Tabela de Honorários da Seccional de São Paulo da Ordem dos Advogados do Brasil,


inclusive, sugere para as causas cíveis, “20% sobre o valor econômico da questão”, para as
causas trabalhistas, “20% a 30% sobre o valor econômico da questão ou eventual acordo,
sem a dedução dos encargos scais e previdenciários” e para causas previdência [arias
‘20% a 30% sobre o valor econômico da questão].”

É o parecer.

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DECLARAÇÃO DE VOTO DIVERGENTE DO JULGADOR DR. SÉRGIO KEHDI FAGUNDES

Relatório - Adoto o relatório do voto condutor.

Ouso divergir do voto do ilustre Relator em dois pontos especí cos, o primeiro relacionado
a tema de contratação de honorários na modalidade quota litis, e o segundo relativamente
à limitação de 20% imposta à contratação de honorários ad exitum.

Quanto ao primeiro ponto, a despeito de o voto condutor estar rigorosamente em linha


com o entendimento consagrado por este Tribunal Deontológico, estudei melhor o
assunto, inclusive levando em consideração decisões judiciais a respeito do tema (STJ,
RECURSO ESPECIAL Nº 1.155.200 - DF (2009/0169341-4)), assim como a novel redação dada
pelo art. 50, do Código de Ética em vigor, para alterar posicionamento anterior e rmar
entendimento de que o quota litis se trata de modalidade de contratação de honorários
livremente admitida entre advogado e cliente.

Como bem exposto pelo Relator, trata-se de modalidade de contratação em que o


advogado assume todos os riscos, inclusive custos do processo, ou seja, o cliente não tem
desembolso algum. Na hipótese de insucesso da demanda, o advogado perde tudo que
adiantou a título de manutenção da causa e não recebe honorários por serviços prestados.
Uma verdadeira exceção em relação à praxe, de elevado risco ao pro ssional. 

Neste contexto, admissível que o advogado possa cobrar honorários, os quais, quando
acrescidos da sucumbência, não podem ser superiores às vantagens advindas ao cliente.
Esta seria, a meu ver, a única limitação eticamente imposta pelo regramento ético, ou seja,
tudo que o advogado pode receber, como contrapartida pelo risco integral que assumiu,
deve ser inferior, ou no máximo igual, mas nunca superior àquilo que seu cliente tenha
direito. E o pressuposto é o de que tal remuneração seja paga em pecúnia.

Excepcionalmente, o advogado poderá receber bens do cliente, como pagamento da


honorária a que faz jus, mas apenas e se o seu cliente, comprovadamente, não tiver
condições nem meios de satisfazer os honorários em pecúnia, e isso, condicionado a que
exista contrato escrito estipulando tal possibilidade de liquidação de honorários com bens.

Assim, a meu ver, não há qualquer limitação para a contratação de honorários na


modalidade quota litis, diferentemente do que consta do voto vencedor, além da
impossibilidade de o advogado receber mais que o cliente, quando considerados
honorários de sucumbência.

Divirjo, pois, do voto condutor, somente na parte em que considera a contratação de


honorários pela modalidade quota litis algo excepcional e sujeito a determinadas
condicionantes, visto acreditar não existir qualquer restrição ética para a contratação de tal
modalidade, sendo excepcional apenas a forma do pagamento com bens do cliente, que
deverá comprovar incapacidade de pagamento em pecúnia, caso exista previsão expressa
no contrato de honorários tratando da possibilidade.

Quanto ao segundo ponto da divergência, conforme já manifestado em oportunidades


anteriores, entendo que não existe limitação para contratação da verba honorária ad
exitum a 20% do valor em disputa, relativamente a causas cíveis, por acreditar que tal
limite não pode, indistintamente, de nir ou parametrizar a indispensável moderação que
se deve ter na xação dos honorários.

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Em verdade, no meu entendimento, o Estatuto da Advocacia e o Código de Ética e


Disciplina não se ocupam em estabelecer limite máximo de valor para xação de
honorários contratuais, posto prevalecer a liberdade de contratar.

A preocupação do regramento estatutário e ético está em assegurar que o advogado


proceda de forma que o torne merecedor de respeito e contribua para o prestígio da classe
e da advocacia (art. 31, Estatuto OAB), resguardando a dignidade da pro ssão.

Tanto é assim que o art. 49, do CED determina que os honorários sejam xados com
moderação, atendendo aos elementos que relaciona1, os quais são subjetivos, e
possibilitam ao advogado considerar, casuisticamente, todas as diversas situações
relacionadas às atividades privativas da advocacia, para que, no momento da contratação,
tenha liberdade de acertar sua remuneração. Não há qualquer referência a valor
máximo para estipulação dos honorários.

Em contraste, o CED, como visto, determina que o advogado não xe honorários irrisórios
ou inferiores ao mínimo xado na Tabela de Honorários, sob pena de aviltamento (art. 48,
§6º), em linha com o disposto no art. 22, §2º, do estatuto da OAB, que prevê que, na falta de
estipulação ou acordo, a remuneração do advogado não poderá ser inferior mínimo xado
na tabela, existindo clara alusão no regramento ético quanto ao piso dos honorários. 

Realmente, a Tabela de Honorários indica para todas as atividades advocatícias ali


relacionadas valores mínimos a serem observados pelos advogados, para que não haja
aviltamento dos valores dos serviços pro ssionais, não fazendo referência a limite
máximo.

E anda bem a tabela ao não tratar de valor máximo, como faz explicitamente em relação ao
mínimo, porque, a depender de elementos subjetivos ou indeterminados, como, por
exemplo, o trabalho realizado ou o valor econômico da disputa, os diferentes percentuais
xados por atividades podem, em tese, vir a ser inferiores ao limite mínimo contido no
mesmo documento, o que justi ca não existir referência de teto, mas apenas de piso, para
que todas as hipóteses quem abarcadas. 

Sem prejuízo, é verdade, também, que existe imposição expressa para que os honorários
sejam xados com moderação.

Mas tal moderação a que se refere o art. 49, do CED, como visto, não há de ser tida como
aquela limitada a 20% do valor em disputa, nas causas cíveis, à míngua de previsão nesse
sentido.

Para ns éticos, tudo indica que moderação na contratação de honorários signi ca, em
linhas gerais, aquela que seja razoável e proporcional; que guarde relação com o trabalho
prestado; que não importe vantagem excessiva, considerando o que ordinariamente seja
cobrado para idêntico serviço; aquela em que não haja proveito do estado de necessidade
ou da inexperiência do cliente; que não evidencie má-fé, abusos nem lesão ao constituinte,
após adequadamente atendidos os elementos listados no art. 49, do CED.

Lembrando, aqui, que os honorários contratados não se confundem com verbas de


sucumbência, reguladas de maneira complementar pelo Código de Processo Civil.

No meu sentir, portanto, não existe, em tese, impedimento ou infração ético-disciplinar na


xação de honorários contratuais ad exitum, na forma e pelos valores livremente
pactuados com o cliente, ressalvada, evidentemente, a existência de eventual abuso; e/ou
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ausência de moderação, proporcionalidade, razoabilidade, etc., as quais, todavia, somente


podem ser aferidas no caso concreto. 

Do exposto, venho declarar o presente voto divergente para registrar discordância quanto:
(i) às restrições adicionais impostas pelo voto vencedor à contratação de honorários na
modalidade quota litis, para além daquelas expressamente previstas no art. 50, do CED, e
(ii) a limitação a até 20% do valor em disputa nas causas cíveis, para xação de honorários
ad exitum, por entender que deve prevalecer a liberdade de contratar das partes,
observados os princípios da moderação e razoabilidade. 

Esse é o voto.
_______________

[1] i) relevância, vulto, complexidade e di culdade das questões versadas; ii) trabalho e
tempo necessários; iii) eventual impedimento do advogado de intervir em outros casos, ou
de se desavir com outros clientes ou terceiros; iv) valor da causa, condição econômica do
cliente e  proveito para ele resultante do serviço pro ssional; v) o caráter da intervenção,
conforme se trate de serviço a cliente avulso, habitual ou permanente; vi) lugar da
prestação dos serviços, fora ou não do domicílio do advogado; vii) a competência e o
renome do pro ssional; e viii) a praxe do foro sobre trabalhos análogos.
 

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