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PREFÁCIO
FALSO TEÍSMO
ATEÍSMO
DEÍSMO
TEÍSMO FINITO
PANTEÍSMO
PANENTEÍSMO
POLITEÍSMO
CONCLUSÃ O
irrelevante, a cosmovisã o influencia todo pensamento e toda decisã o que uma pessoa faz
no curso de sua vida.
Neste pequeno livreto, o Dr. Crampton e o Dr. Bacon, que graciosamente permitiram a
publicaçã o do mesmo em português, apresentam de forma concisa e clara uma cosmovisã o
cristã totalmente reformada. Consideramos de extrema importâ ncia a disponibilizaçã o de
mais um livro sobre o assunto ao pú blico brasileiro, pois a despeito da nossa era de anti-
[3]
intelectualismo, principalmente nas igrejas ditas evangélicas, como dizem os autores, “um
zelo à parte do conhecimento nã o cumprirá a vontade de Deus”.
— Felipe Sabino de Araújo Neto
Janeiro de 2009
Um antigo mito grego nos conta a estó ria do Rei Sísifo. O rei foi sentenciado pelos “deuses”
a rolar uma pedra até o topo de uma montanha eternamente. Cada vez que ele estava perto
do topo, a pedra rolava montanha abaixo e era necessá rio que ele começasse novamente a
rolar a pedra até o topo da montanha. Nã o importava quanto ou quã o duro trabalhasse no
projeto, ele estava condenado ao fracasso.
Albert Camus, o existencialista francês, afirmou que tudo na vida é simplesmente isso: fú til
e sem propó sito. Trabalhamos e pensamos que temos objetivos, mas estamos condenados a
viver de futilidades. Aproximadamente 125 anos antes de Camus, o americano Henry David
Thoreau disse que a maioria dos homens vive vidas de desesperança quieta. Até mesmo
William Shakespeare, nos séculos dezesseis e dezessete, declarou que a vida era um “conto
narrado por um idiota, cheio de ruído e fú ria, nã o significando nada”.
Há uma resposta cristã para essa visã o de mundo pessimista? O cristã o pode fornecer uma
resposta positiva para aqueles que buscam propó sito e significado na vida? A resposta deve
ser um convicto “sim!”. Mas, tristemente, muitos cristã os agem e pensam como se a vida
fosse governada pela chance ou sorte, e nã o por um soberano Criador-Deus do universo.
Nã o é tã o simples que elaboremos desculpas para nossa falta de açã o; com maior
freqü ência ainda, nã o sabemos com certeza qual é a açã o correta.
A primeira coisa de que muitos cristã os carecem é de uma visã o coerente de mundo. A
questã o nã o é tanto se temos uma filosofia de vida (alguns se referem a essa visã o de
mundo ou filosofia prá tica como uma “ weltanschauung ”, da palavra alemã que significa um
modo de observar o mundo), mas qual será essa filosofia. A maioria dos americanos é
pragmá tica por natureza. Eles cresceram em escolas pú blicas e aprenderam que o teste real
de qualquer açã o é se ela produz ou nã o os resultados desejados.
O propó sito-chave ou fundamental das séries de tratados que começam com esse, escritas
pelo Dr. Crampton e pelo Dr. Bacon, é desafiar essa visã o pragmá tica de mundo. Jesus disse
que as portas do inferno nã o prevalecerã o contra sua igreja. A igreja deve avaliar a sua
posiçã o e perceber o quanto ela avançou nos ú ltimos 2000 anos. De um punhado de crentes
temerosos num ú nico salã o, a igreja cresceu para se tornar um corpo que abrange o mundo
inteiro. Mas os cristã os também devem perceber aonde eles ainda têm que chegar.
Conhecendo e reconhecendo que nossa tarefa de levar a mensagem de Jesus Cristo para
toda á rea do globo terrestre e para cada aspecto da vida ainda nã o está finalizada, os
cristã os devem ter um plano de açã o para alcançar o restante do mundo com a mensagem
do Deus que os criou. Esse plano nã o pode ser restrito à geografia somente, mas deve ser
tanto intensivo como extensivo em seu alcance. Teó logos de escolas cristã s devem se
empreender em cada esforço da vida com um fervor devido aos diversos chamados deles
da parte do Senhorio do Rei Jesus. Deve haver uma visã o cristã da medicina, lei, política,
educaçã o, engenharia, histó ria, ciência, etc.
Fornecer uma visã o de mundo que se diriga a esses empreendimentos será a tarefa da atual
geraçã o de cristã os. Os cristã os devem despertar para a exigência que o mundo está
fazendo deles. A pró xima geraçã o de cristã os, com uma visã o de mundo coerente, um plano
de açã o, e a paixã o de colocá -la em efeito, poderá muito bem virar esse mundo de cabeça
para baixo. O mundo estava perdido em trevas quando o evangelho brilhou pela primeira
vez há 2000 anos, mas um grupo dedicado de cristã os alcançou o mundo, entã o conhecido,
numa ú nica geraçã o. Quando as trevas engolfaram o mundo novamente na Idade Média,
Deus usou um grupo relativamente pequeno de reformadores para levar a tocha do
Cristianismo novamente, de um modo tal que houve luz nas trevas ( ex tenebris lux ).
O pessimismo e a futilidade têm, uma vez mais, aprisionado o mundo no que parece ser
uma luta para a morte. Onde estã o os homens e mulheres que aceitarã o o desafio dessa
geraçã o? Será essa a pró pria razã o de Deus ter levantado o movimento de escola cristã em
nossa geraçã o? A escolha hoje nã o é tanto entre Cristo e Baal. A escolha agora é entre Cristo
e Sísifo; entre a esperança e a futilidade; entre o propó sito e a falta de sentido.
A série que começa com Em direção a uma Cosmovisão Cristã é designada para apresentar
uma cosmovisã o cristã coerente, de modo que os estudantes e teó logos cristã os possam
profeticamente tomar a Palavra de Deus e suas implicaçõ es em toda esfera da vida. Os dias
de refú gio terminaram e os dias de luz começaram. Nã o desejamos um conhecimento que
incha, mas um zelo à parte do conhecimento nã o cumprirá a vontade de Deus. Tomemos
Cristo, a esperança e o propó sito em toda á rea da vida; e façamos isso com zelo e
conhecimento.
Prefácio
Qual o propó sito deste livro? Ele foi escrito, como o título sugere, nã o para estudar
exaustivamente a questã o das cosmovisõ es, mas para introduzi-la. Todo mundo tem uma
cosmovisã o. Uma cosmovisã o é uma série de crenças, um sistema de pensamentos, sobre as
questõ es mais importantes da vida. A cosmovisã o de uma pessoa é sua filosofia.
“Cosmovisã o” e “filosofia” sã o quase palavras sinô nimas. Grandes pensadores tais como
Platã o, Aristó teles, Agostinho e Tomá s de Aquino, cada um deles tinha um sistema de
crença com respeito à filosofia, que foi escrito numa forma sistemá tica. Cada sistema
expressou a cosmovisã o do filó sofo particular. Mas mesmo que as pessoas nã o se deem
conta, todas elas (adultas), necessá ria e inescapavelmente, têm uma cosmovisã o, um
sistema filosó fico de pensamento, também. A cosmovisã o delas pode nã o ser escrita, ou
sistematizada, como as dos quatro pensadores mencionados acima, mas elas têm uma
cosmovisã o, apesar de tudo.
Este pequeno livro pretende despertar a autoconsciência do leitor a respeito de sua
cosmovisã o, a fim de que ele adquira um entendimento mais claro da cosmovisã o cristã , a
qual, na opiniã o dos escritores presentes, é a ú nica cosmovisã o ou filosofia confiá vel. A
Escritura nos ensina, como o Breve Catecismo de Westminster (Perg. 1) apropriadamente
declara, que “o fim principal do homem é glorificar a Deus [1Co 10.31; Rm 11.36], e gozá -lo
para sempre [Sl 73.25-28]”. Sendo assim, estamos obrigados a adotar uma filosofia que
honre a Deus. Nó s precisamos, como o apó stolo Paulo declara, de uma filosofia que seja
“segundo Cristo” (Cl 2.8). Neste livro, temos uma filosofia cristã que é baseada no axioma
da revelaçã o divina: a Palavra de Deus. E o melhor sumá rio desse sistema de crença é
encontrado na Confissão de Fé de Westminster , no Catecismo Maior e no Breve Catecismo .
Porque muitos elementos de uma cosmovisã o sã o filosó ficos na natureza, os
cristã os precisam se tornar mais conscientes da importâ ncia da filosofia.
Embora a filosofia e a religiã o [isto é, teologia] com frequência usem
linguagem diferente e frequentemente [de maneira errô nea] cheguem a
conclusõ es diferentes, elas tratam com as mesmas questõ es, as quais
incluem questõ es sobre o que existe (metafísica), como os humanos devem
viver (ética), e como os seres humanos conhecem (epistemologia). Filosofia
é importante! Ela é importante porque a cosmovisã o cristã tem uma relaçã o
intrínseca com a filosofia e com o mundo das ideias. Ela é importante
porque a filosofia está relacionada de uma maneira criticamente importante
com a vida, cultura e religiã o. E ela é importante porque os sistemas que se
opõ em ao Cristianismo usam os métodos e argumentos filosó ficos.
Colossenses 2.8 nos ensina que há duas cosmovisõ es filosó ficas radicalmente diferentes: a
cristã e a nã o cristã . Nã o há terreno neutro. O filó sofo anticristã o está comprometido com
uma total independência do Deus da Escritura. Assim, ele vê Deus, o homem e o mundo de
um ponto de vista antibíblico.
O filó sofo cristã o, por outro lado, está comprometido com uma dependência absoluta de
Deus e de sua Palavra. Ele filosofa sobre Deus e sua criaçã o de uma perspectiva totalmente
diferente. Ele vê Cristo, a Palavra de Deus encarnada, como central para toda a verdade.
Nele, escreve Paulo, “todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estã o ocultos” (Cl
2.3). Uma filosofia bíblica, portanto, deve estar “arraigada e edificada” em Cristo (Cl 2.7). O
filó sofo cristã o deve analisar todas as coisas por meio da revelaçã o infalível de Deus,
procurando “levar cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2Co 10.5).
A Bíblia está repleta de ensinos filosó ficos. O livro de Eclesiastes é um exemplo primá rio. O
pregador (1.1), o autor do livro, nos apresenta duas cosmovisõ es distintas e opostas. Ele
pode assim o fazer, pois esteve pessoalmente envolvido com ambas. Ele escreve como um
homem velho olhando para trá s em sua vida, e admoesta a seus leitores a prestarem
atençã o à sua instruçã o (12.1ss). Por um lado, ele vê as questõ es da vida de um ponto de
vista do homem que está debaixo do sol (1.3,9; 2.11). Esse é um homem nã o regenerado,
que somente tem uma consciência de Deus e sua criaçã o por meio da revelaçã o geral, uma
revelaçã o que ele suprime (será dito mais sobre isso adiante).
Por outro lado, o pregador apresenta a cosmovisã o apropriada do homem regenerado, que
faz uso da revelaçã o especial. Esse homem conhece a Deus como Salvador, e possui a
verdadeira sabedoria (Pv 1.7; 9.10). Sem essa sabedoria, diz o pregador, todas as coisas na
vida sã o tolas (2.25,26). Sua conclusã o é dada em 12.13,14: uma cosmovisã o apropriada
deve começar com o temor de Deus: “De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e
guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem. Porque Deus há de
trazer a juízo todas as obras, até as que estã o escondidas, quer sejam boas, quer sejam
má s”. Destituído disso, o homem está destinado à futilidade filosó fica, um “correr atrá s do
vento” (Ec 4.4, NVI).
A mensagem do pregador é clara: filosofia correta é Cristianismo correto. Sem uma filosofia
biblicamente baseada, o esforço filosó fico é inú til. Como ensinado por Francis Schaeffer, a
cosmovisã o cristã , baseada na Palavra de Deus somente, nã o é apenas uma boa filosofia, “é
a melhor filosofia… ela é a ú nica filosofia que é consistente consigo mesma e que responde
à s questõ es da vida… e trata com os problemas da vida e nos dá as respostas”. [6]
Qual, entã o, é a natureza da filosofia cristã ? É uma filosofia que é “segundo Cristo”. Ela
procura estudar a arena filosó fica inteira por meio da Palavra de Cristo. Ela reconhece que
somente o Deus trino da Escritura é sá bio: Pai (Rm 16.27), Filho (1Co 1.24,30) e Espírito
Santo (Is 11.2). E a filosofia cristã genuína entende que somente a Palavra de Deus pode
tornar uma pessoa sá bia (Sl 19.7).
Gregg Singer escreve que o verdadeiro filó sofo cristã o, usando a Escritura como seu ponto
de partida, “crê em Jesus Cristo e se compromete a ir além disso, a uma visã o de Deus, da
criaçã o, do homem, do pecado, da histó ria e de todas as atividades culturais da raça
humana, e, nessa visã o, ele encontra a interpretaçã o correta e o poder motivador para
pensar os pensamentos de Deus e fazer a sua vontade segundo ele”. [7]
Pressuposições bíblicas
Quarto, Deus criou o homem à sua pró pria imagem, tanto metafísica como eticamente (Gn
1.26-28). O homem é uma “alma vivente”, que consiste de um elemento físico (corpo) e um
nã o físico (espírito, alma ou mente) (Gn 2.7). Mas, como Calvino propriamente ensina, o
homem é o portador da imagem de Deus num sentido espiritual ou mental. Escreve
Calvino: “A mente do homem é a sua [de Deus] verdadeira imagem”. Isto é, o homem é
[9]
Os teó logos se referem a esse conhecimento inato como “revelaçã o geral”. É geral tanto em
audiência (o mundo todo) como em conteú do (teologia ampla), enquanto a revelaçã o
especial (as comunicaçõ es verbais da Escritura), por outro lado, é específica em audiência
(aqueles que leem a Bíblia) e detalhada em conteú do. A revelaçã o geral, como observado,
revela Deus como Criador, deixando assim os homens sem desculpas (Rm 1.18-21;
2.14,15). Mas ela nã o revela Cristo como o ú nico Redentor. Esse ú ltimo é encontrado
somente nas Escrituras (Rm 1.16,17; 10.17).
A Confissão (1:1) afirma:
Ainda que a luz da natureza e as obras da criaçã o e da providência de tal
modo manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens
ficam inescusá veis, contudo nã o sã o suficientes para dar aquele
conhecimento de Deus e da sua vontade necessá rio para a salvaçã o; por isso
foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e
declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservaçã o
e propagaçã o da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da
Igreja contra a corrupçã o da carne e malícia de Sataná s e do mundo, foi
igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto torna indispensá vel a
Escritura Sagrada, tendo cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a
sua vontade ao seu povo.
Quando devidamente estudada, a revelaçã o geral e a especial estã o em perfeita harmonia.
Mas a criaçã o sempre deve ser estudada à luz da revelaçã o especial. Somente a Bíblia tem o
monopó lio sobre a verdade. Como claramente ensinado em Provérbios 8, uma
compreensã o clara da criaçã o só pode ser derivada de um estudo da Escritura. Isso nã o
significa que devemos evitar um estudo da criaçã o. Antes, somos compelidos pela revelaçã o
especial a interagir com ela (p.ex., investigaçã o científica e histó rica), como visto no
mandato de domínio de Gênesis 1.26-28. Mas somente a Escritura, nã o o estudo da ciência
ou da histó ria, nos dá a verdade.
Isso nos conduz à quinta consideraçã o. Devido à Queda do homem, o pecado afetou o
cosmos inteiro (Gn 3; Rm 8.18-23). O homem e o universo estã o num estado de
anormalidade. Os efeitos da Queda têm impedido grandemente a capacidade do homem de
filosofar. Metafisicamente falando, o homem ainda é a imagem de Deus, embora a imagem
esteja desfigurada. Ele ainda é um ser espiritural, racional, moral e imortal (Gn 9.6; Tg 3.9).
Mas eticamente falando, a imagem de Deus está apagada. O homem caído está num estado
de “depravaçã o total”, incapaz de fazer algo que agrade a Deus (Rm 3.9-18; 8.7,8). Como
ensinado na Confissão (6:4), o homem caído está “totalmente indisposto, adverso a todo o
bem e inteiramente inclinado a todo o mal”. A imagem ética é restaurada somente por meio
da obra salvífica na cruz de Jesus Cristo (Ef 4.24; Cl 3.10). Para filosofar devidamente, o
homem deve ser regenerado (Jo 3.3-8). Nas palavras de Robert Reymond: “Até que ele nã o
nasça de novo, o homem nã o pode ver o reino de Deus, ou, aliá s, nã o pode ver nada
corretamente”. [12]
Filosofia e sabedoria
Como visto, a Bíblia ensina que a verdadeira sabedoria começa com “o temor do SENHOR ”
(Pv 9.10). Assim, uma pessoa que nã o conhece salvificamente o “Senhor” Jesus Cristo, que é
a sabedoria encarnada (1Co 1.24,30; Cl 2.3), nã o pode ser “sá bio” (cf. Jo 14.6). A Bíblia
descreve tal indivíduo como um “tolo”. O “tolo” é uma pessoa que odeia o conhecimento (Pv
1.22), é infantil em seu pensamento, pronta para crer em qualquer coisa (Pv 14.15), e
confiar em si mesmo (Pv 28.26), antes do que em Deus (Sl 14.1). Ele diz “no seu coraçã o:
Nã o há Deus” (Sl 14.1, ARA). O tolo pode ser um indivíduo altamente educado, uma pessoa
que é bem versada na disciplina da filosofia; todavia, ele é um tolo, pois rejeita o Deus da
Escritura, e a Bíblia como a ú nica fonte de sabedoria (Mt 7.26,27). Por conseguinte, ele
“procura a sabedoria e nã o a encontra”, pois ele sempre está procurando no lugar errado
(Pv 14.6, ARA).
O apó stolo Paulo descreve a natureza dessa tolice, da filosofia secular, em Romanos 1.18-
25. O anticristã o suprime o conhecimento de Deus que ele possui, rejeita a Palavra de Deus
como o ú nico padrã o de verdade, e atribui tudo da criaçã o a outra coisa que nã o o Deus da
Escritura (vs 18-21). Diz o apó stolo, tais tolos se tornaram “fú teis em seus pensamentos”,
“seu coraçã o insensato se obscureceu” (v. 21); “dizendo-se sá bios, tornaram-se loucos” (v.
22). E como filó sofos falsos, eles escolheram “adorar e servir a criatura em lugar do
Criador” (v. 25). O filó sofo cristã o, por outro lado, é um homem sá bio. Ele constró i seu
sistema filosó fico sobre a Rocha de Cristo e sua Palavra (Mt 7.24,25). Ele vê todas as coisas
(isto é, filosofa) por meio dos “espetá culos” da Escritura. Dessa forma, o filó sofo cristã o
[13]
Como temos visto, uma cosmovisã o ou filosofia é uma série de crenças concernentes à s
questõ es mais importatens da vida. Portanto, qualquer cosmovisã o bem modelada deve ser
capaz de tratar adequadamente com os elementos ou princípios mais bá sicos da filosofia:
epistemologia, metafísica, ética e política.
Primeiro, epistemologia é aquele ramo da filosofia que está preocupado com a teoria do
conhecimento. Como conhecemos o que conhecemos? Qual é o padrã o da verdade? A
verdade é relativa? O conhecimento sobre Deus é possível? Deus pode revelar coisas aos
seres humanos? Se sim, como?
Segundo, metafísica tem a ver com a teoria da realidade. Por que as coisas sã o como elas
sã o? Por que há algo, em vez de nada? Como pode haver unidade no meio da divernidade
no universo? O mundo é uma criaçã o? É um fato bruto? Há algum propó sito no universo?
Terceiro, a ética se preocupa com o modo como alguém deve viver. É o estudo dos
pensamentos, palavras e feitos certos e errados. Qual é o padrã o para a ética? Há uma lei
absoluta à qual todo homem deve se conformar? Há uma razã o ló gica para perguntamos o
porquê alguém “deve” fazer isso ou aquilo? A moralidade é relativa para com indivíduos,
culturas ou períodos histó ricos? Ou a moralidade transcende essas fronteiras?
Quarto, política é aquele ramo da filosofia que tem a ver com a teoria de governo. Que tipo
de governo é o correto? O governo deve ser limitado? Os cidadã os têm direito à
propriedade privada? Qual é a funçã o do magistrado civil?
Epistemologia
Conquanto a questã o de como podemos conhecer a Deus é uma pergunta
fundamental na filosofia da religiã o, por detrá s dela descansa, na filosofia
geral, a questã o ú ltima: como podemos conhecer alguma coisa? Se nã o
podemos falar inteligivelmente sobre Deus, podemos falar inteligivelmente
sobre moralidade, sobre nossas pró prias ideias, sobre arte, política —
poderíamos sequer falar sobre ciência? Como podemos saber alguma coisa?
A resposta para essa pergunta, tecnicamente chamada de teoria da
epistemologia, controla todas as questõ es subjetivas que reivindicam ser
inteligíveis ou cognitivas.
Na histó ria da filosofia, tem havido três principais teorias nã o cristã s de conhecimento:
racionalismo (puro), empirismo e irracionalismo.
PRIMEIRO , o racionalismo puro afirma que a razã o, fora da revelaçã o ou experiência
sensorial, fornece a fonte primá ria, ou a ú nica, da verdade. Os sentidos nã o sã o confiá veis, e
o nosso conhecimento apriori (o conhecimento que temos antes de qualquer observaçã o ou
experiência) deve ser aplicado à nossa experiência para que nossa experiência possa ser
feita inteligível.
Na epistemologia bíblica (que pode ser chamada de racionalismo cristã o, ou
escrituralismo), o conhecimento vem por meio da razã o, à medida que uma pessoa estuda
as proposiçõ es reveladas na Escritura. No racionalismo puro, por outro lado, o
conhecimento vem da razã o somente. A razã o humana, sem nenhum auxílio, torna-se o
padrã o ú ltimo pelo qual todas as crenças sã o julgadas. Até mesmo a revelaçã o deve ser
julgada pela razã o. Uma falsa suposiçã o feita aqui pelo racionalista é que o homem, fora da
revelaçã o, é capaz de chegar a um verdadeiro conhecimento de pelo menos algumas coisas,
incluindo o conhecimento de Deus.
Há diversos erros fundamentais no sistema racionalista de pensamento. Primeiro , homens
caídos podem e erram em seu raciocínio. A possibilidade de erros formais na ló gica é um
exemplo. Segundo , há a questã o do ponto de partida. Onde alguém começa no racionalismo
puro? Platã o, Descartes, Leibniz e Spinoza, todos os quais foram classificados como
racionalistas, tinham diferentes pontos de partida. Platã o começou com suas ideias eternas;
Descartes, com a impossibilidade de duvidar de todas as coisas (seu cogito ergo sum );
Leibniz, com seu sistema de mô nadas; e Spinoza, que era um panteísta, com seu Deus sive
Natura (“Deus, isto é, natureza”). Parace que os racionalistas nã o concordam sobre um
ponto de partida, um axioma sobre o qual o sistema deles deve ser baseado.
Terceiro , o raciocínio fora da revelaçã o nã o pode determinar se o mundo é controlado por
um Deus onipotente e bom, ou por um demô nio onipotente. Quarto , o racionalismo parece
cometer o erro de afirmar o consequente. Um argumento racionalista pode proceder da
seguinte forma: se começamos com a proposiçã o A, podemos justificar a reivindicaçã o de
que de fato temos conhecimento. Agora, é certo que temos conhecimento; portanto, a
proposiçã o A é verdadeira. Essa forma de argumentaçã o comete a falá cia ló gica de afirmar
o consequente.
Finalmente , é difícil no racionalismo puro evitar o solipsismo, que é a crença de que o eu é
tudo o que existe ou é capaz de ser conhecido. Sem uma mente divina e universal, na qual
todas as pessoas e objetos participem (tal como no teísmo cristã o), nã o é possível para o
indivíduo escapar de sua pró pria mente. Essa é, pelo menos, uma das razã oes pelas quais os
racionalistas têm adotado o argumento ontoló gico para a existência de Deus. O filó sofo
alemã o do século dezenove, G. W. F. Hegel, tentou resolver esse problema apresentando
uma Mente Absoluta, mas uma Mente da qual alguém nã o poderia racionalmente deduzir
indivíduos. Na visã o de Hegel, temos o desaparecimento do eu dentro da Mente Absoluta
(ou Espírito Mundo). Essa é outra forma de panteísmo, que é também uma falha, como
veremos abaixo.
SEGUNDO , o empirismo sustenta que todo conhecimento origina nos sentidos. De acordo
com o empirismo, a experiência ordiná ria a partir de nossos sentidos físicos produz
conhecimento. No empirismo, o método científico de investigaçã o é enfatizado. Certamente,
alega-se, os numerosos triunfos da ciência na era moderna demonstram a verdade do
método empírico. A ciência, certamente, é baseada na observaçã o, e a observaçã o repetida
e supostamente independente é enfatizada. A ideia agora é que, com observaçõ es repetidas,
o conhecimento e a certeza sã o aumentados.
Numa epistemologia empírica consistente, a mente é considerada como sendo uma tabula
rasa (“folha em branco”) no nascimento. Ela nã o tem nenhuma estrutura inata, formas ou
ideias. Portanto, todo conhecimento vem por meio dos sentidos.
Enquanto os racionalistas procedem pela deduçã o, empiristas usam o raciocínio indutivo
também. Alguém coleta suas experiências e observaçõ es e traça inferências e conclusõ es
delas. O conhecimento empírico é a posteriori , isto é, ele vem depois e por meio da
experiência. Uma pessoa deve ser capaz de cheirar, provar, sentir, ouvir ou ver algo para
que ela possa conhecê-lo. Uma vez que algo é experimentado (ou “sentido”), entã o a mente,
que é uma “folha em branco” antes da experiência, de alguma forma relembra, imagina,
combina, transpõ e, categoriza e formula a experiência sensorial em conhecimento.
Os problemas filosó ficos com o empirismo sã o milhares, alguns dos quais serã o expostos
aqui. Primeiro , todos os argumentos indutivos sã o falá cias ló gicas formais. No estudo
indutivo, cada argumento começa com premissas particulares e termina com conclusõ es
universais. A dificuldade é que nã o é possível coletar experiências suficientes sobre
nenhum assunto para alcançar uma conclusã o universal. Simplesmente em razã o de o
sistema depender da coleçã o de experiências para suas conclusõ es, ele nunca pode estar
certo de que alguma nova experiência ou observaçã o nã o mudará suas conclusõ es
anteriores. Assim, ele nunca pode ser absolutamente conclusivo. Por exemplo, alguém pode
observar 1000 corvos e perceber todos como sendo pretos. Mas quando o corvo nú mero
1001 se torna um albino, a conclusã o anterior sobre corvos pretos deve ser revisada.
Entã o, também, juntamente com essa linha de pensamento, tenha em mente quã o
frequentemente os cientistas revisam e derrubam suas conclusõ es anteriores. O fato é que
a ciência nunca pode nos dar a verdade; ela trata somente com teorias, nã o com absolutos.
Foi Albert Einstein quem disse: “Nó s [cientistas] nã o sabemos nada sobre ela [natureza], de
forma alguma. Nosso conhecimento é apenas o conhecimento do colegial... Nó s
conheceremos um pouco mais do que conhecemos agora. Mas a natureza real das coisas —
essa nó s nunca conheceremos”. E o filó sofo Karl Popper escreveu: “Na ciência, nã o há
[15]
conhecimento no sentido que Platã o e Aristó teles usaram a palavra, no sentido que implica
finalizaçã o; na ciência, nunca temos razã o suficiente para crer que alcançamos a verdade”.
[16]
Segundo , os sentidos podem e, com frequência (talvez sempre), nos enganam. Ninguém
pode ter a mesma experiência duas vezes. O antigo filó sofo Herá clito fala disso em seu
famoso ditado: “Nã o é possível banhar-se duas vezes no mesmo rio”. Coisas finitas mudam
continuamente, assim como a á gua no rio continua a fluir. Em tal sistema, a verificaçã o, que
é a inferência de uma conclusã o por consequência boa e necessá ria, nã o é possível. De fato,
o axioma bá sico do empirismo — que teorias, ideias e proposiçõ es devem ser verificadas
ou refutadas pela observaçã o sensorial — nã o pode ele mesmo ser verificado ou refutado
pela observaçã o sensorial. Assim, o empirismo descansa sobre uma autocontradiçã o e,
portanto, um falso ponto de partida.
Terceiro , como temos visto, os empiristas sustentam que todos os homens nascem com
uma mente “branca”. Mas isso nã o é possível. Uma consciência que nã o é consciente de
nada é uma contradiçã o de termos. Aqui, também, o empirismo é autocontraditó rio. [17]
Quarto , as verdades da matemá tica nã o podem ser derivadas a partir dos sentidos; as leis
da ló gica nã o podem ser abstraídas ou obtidas a partir da sensaçã o; nem podem os sentidos
nos dar ideias tais como “igual”, “paralelo” ou “justificaçã o”. Essas nunca sã o encontradas
na experiência sensorial. Jamais duas coisas que experimentamos sã o perfeitamente iguais,
paralelas ou justas. Antes, essas sã o abstraçõ es que nã o têm nada a ver com nossos
sentidos.
Essas dificuldades categó ricas com o empirismo sã o insuperá veis. O empirismo nã o pode
nos dizer como os sentidos somente podem nos dar concepçõ es. Se o “conhecedor” já nã o
está equipado com elementos conceituais ou ideias (isto é, conhecimento inato), como ele
pode conceitualizar o objeto sentido? Embora o racionalismo, com seu conceito de ideias
universais, nos forneça uma explicaçã o para categorias e similaridades, o empirismo nã o
tem explicaçã o para elas. Sem essas, o discurso racional nã o é possível.
Quinto , assim como o racionalismo puro, o solipsismo é inescapá vel numa epistemologia
empírica. As sensaçõ es de alguém sã o apenas isso: as sensaçõ es de uma pessoa. Ninguém
mais pode experimentá -las. Mas se esse é o caso, ninguém pode estar certo de que há um
mundo externo. Qualquer evidência que possa ser oferecida é apenas uma experiência
subjetiva.
Finalmente , em ética, se assumirmos que o empirismo (na melhor das hipó teses) pode nos
dizer o que é , ele nunca pode nos dizer o que deve ser . O “deve” nunca pode ser derivado
do “é”. Observaçõ es empíricas nunca podem nos dar princípios morais. Como Gordon Clark
declara: “Um princípio moral pode ser somente uma proibiçã o ou um mandamento
divinamente revelado”. [18]
Mesmo no Jardim do É den, antes da Queda, o homem era
dependente da revelaçã o proposicional de Deus para o conhecimento. Pela observaçã o
somente ele nã o poderia ter determinado seu dever diante de Deus. Apó s a Queda,
certamente, o problema foi agravado pelo pecado e corrupçã o. Em 1 Coríntios 2.9,10, o
apó stolo Paulo faz distinçã o entre filosofias construídas sobre racionalismo puro e
empirismo, e revelaçã o proposicional da parte de Deus: “Mas, como está escrito: Nem olhos
viram, nem ouvidos ouviram [empirismo], nem jamais penetrou em coraçã o [mente]
humano [racionalismo puro] o que Deus tem preparado para aqueles que o amam. Mas
Deus no-lo revelou pelo Espírito”. Qual foi a conclusã o de Paulo? Simplesmente essa: nem o
racionalismo puro nem o empirismo podem produzir conhecimento. Antes, manteve o
apó stolo, a revelaçã o proposiconal é o sine qua non do conhecimento.
TERCEIRO , o irracionalismo , promovido por homens tais como Søren Kierkegaard, (numa
extensã o menor) Immanuel Kant, Friedrich Schleiermacher, e teó logos neo-ortodoxos, é
uma forma de ceticismo. Ele é antirracional e anti-intelectual. A verdade real, dizem os
céticos, nunca pode ser obtida. As tentativas dos racionais de explicar o mundo nos deixam
em desespero. A realidade nã o pode ser comunicada proposicionalmente; ela deve ser
adquirida “pessoal e apaixonadamente” (Kierkegaard). A verdade é subjetiva. Embora o
homem nunca possa saber se há um deus que dá propó sito e significado à vida, ele deve,
todavia, dar um “salto de fé” (Kierkegaard). Ele deve viver a vida como se existisse um deus,
um ser superior, um universo com sentido, pois nã o fazê-lo seria pior (Kant).
O irracionalismo se manifesta nos círculos teoló gicos da neo-ortodoxia de Karl Barth e Emil
Brunner. Para esses homens, a ló gica deve ser desdenhada. A ló gica deve ser restringida
para permitir a fé. Afinal, eles alegam, a ló gica de Deus é diferente da “mera ló gica humana”,
de modo que podemos encontrar a verdade somente no meio de paradoxos e contradiçõ es.
Nessa “teologia do paradoxo”, Deus pode até mesmo nos ensinar por meio de falsas
declaraçõ es.
Tristemente, o irracionalismo tem afetado também a igreja ortodoxa. A grande maioria
daqueles dentro dos círculos cristã os tem sido vítima do movimento antirrazã o, anti-
intelectual e antiló gico. Os presentes autores concordam com John Robbins, que escreve:
“Nesse momento, nã o há maior ameaça diante da verdadeira igreja de Cristo do que o
irracionalismo que controla toda a nossa cultura”. Estamos vivendo, afirma Robbins, “na
era do irracionalismo”. Nã o obstante os muitos adversá rios filosó ficos que a igreja cristã
tem que enfrentar, nã o obstante as muitas ideias falsas que competem por supremacia, nã o
há ideia tã o perigosa “como a ideia que nó s nã o conhecemos nem podemos conhecer a
verdade”. [19]
negativo para a verdade. A razã o é que uma contradiçã o é sempre um sinal de erro.
Declaraçõ es contraditó rias nã o podem ser ambas verdadeiras (1Co 14.33; 1Tm 6.20).
De fato, a Bíblia nos ensina que Jesus Cristo é a Lógica (Logos) de Deus (Jo 1.1). Ele é a Razã o,
Sabedoria e Verdade encarnada (1Co 1.24,30; Cl 2.3; Jo 14.6). As leis da ló gica nã o foram
criadas por Deus ou pelo homem; elas sã o a forma de Deus pensar. E visto que as Escrituras
sã o expressã o da mente de Deus (1Co 2.16), elas sã o os pensamentos ló gicos de Deus. A
Bíblia expressa a mente de Deus numa forma logicamente coerente para a humanidade.
O homem, como o portador da imagem de Deus (Gn 1.26-28), possui inerentemente a
ló gica como parte da imagem. O homem é o “sopro de Deus” (Gn 2.7; Jó 33.4), pois o
Espírito de Deus soprou no homem seu espírito ou mente, que é a imagem. Contrá rio,
entã o, ao aparentemente piedoso absurdo dos irracionalistas, a Escritura nos ensina que
nã o há tal coisa como “mera ló gica humana”. Lemos em Joã o 1.9 que Cristo, como o Logos
(Ló gica) de Deus, é “a verdadeira Luz que dá luz a todo homem”. Sendo esse o caso, é
evidente que a ló gica de Deus e a ló gica do homem sã o a mesma ló gica.
Devemos entender, portanto, que raciocionar logicamente é raciocinar de acordo com a
Escritura (Rm 12.20), que é ela mesma uma revelaçã o dos pensamentos ló gicos de Deus. O
homem redimido deve aprender progressivamente a pensar os pensamentos de Deus (2Co
10.5). Para citar G. Clark: “A ló gica é fixa, universal, necessá ria e insubstituível. A
irracionalidade contradiz o ensino bíblico do princípio ao fim. O Deus de Abraã o, Isaque e
Jacó nã o é insano. Deus é um ser racional, a arquitetura de cuja mente é a ló gica”.
[21]
Epistemologia cristã
Nã o é inadequado observar que a epistemologia se tornou a questã o mais
profundamente perturbadora no confronto à mente moderna,
simplesmente porque a filosofia moderna rejeitou [a] soluçã o bíblica e tem
procurado respostas de vá rias outras fontes, todas as quais têm levado à
conclusã o desesperadora de que o homem simplesmente nã o pode
conhecer a realidade e que nã o há nenhuma verdade ú ltima que possa ser
conhecida.
Temos visto que todo sistema filosó fico deve ter um ponto de partida que é axiomá tico, isto
é, que nã o pode ser provado. O ponto de partida para a filosofia cristã é a Palavra de Deus.
Esse é o axioma: a Bíblia somente é a Palavra de Deus, e ela tem um monopólio sistemático
sobre a verdade . A Bíblia reivindica ser a Palavra de Deus, e o Espírito Santo produz essa
crença nas mentes dos eleitos de Deus. Nisto, o eleito concorda com a autoautenticaçã o das
Escrituras. Como declarado na Confissão (1:4-5), a Bíblia “deve ser recebida
[simplesmente], porque ela é a Palavra de Deus, e embora ela pró pria abundantemente
manifeste ser a Palavra de Deus, “nossa plena persuasã o e certeza da sua infalível verdade
e divina autoridade provém da operaçã o interna do Espírito Santo, que pela palavra e com
a palavra testifica em nossos coraçõ es”. Algumas vezes, isso é referido como “dogmatismo”,
“pressuposicionalismo bíblico”, “racionalismo cristã o” ou “escrituralismo”.
Com muita frequência, todos os críticos dizem que tal pressuposicionalismo nada mais é do
que uma questã o circular ( petitio principii ); um raciocínio circular; assume o que deve ser
provado. Alguém nã o pode assumir que a Bíblia é a Palavra de Deus, simplesmente porque
a Bíblia reivindica ser a Palavra de Deus. Primeiro, alegam, uma pessoa deve provar que a
Bíblia é, de fato, a Palavra de Deus.
Certamente é verdade que nem todo axioma é verdadeiro. Há muitas reivindicaçõ es e
requerimentos falsos. Mas nã o pode ser racionalmente negado que a Bíblia reivindica ser a
Palavra de Deus inerrante e infalível (2Tm 3.16,17; 2Pe 1.20,21). E isso é significativo. É
uma reivindicaçã o que poucos escritos fazem. Portanto, visto que a Bíblia faz tal
reivindicaçã o, explícita e predominantemente, é razoá vel crer no testemunho da pró pria
Bíblia.
Segundo, a réplica ad hominem (“para o homem”) ao crítico é que todos os sistemas devem
começar com um ponto de partida nã o demonstrá vel. De outra forma, o sistema nunca
poderia iniciar. “Questã o circular”, nesse sentido amplo da frase, nã o é uma característica
ú nica do Cristianismo. Ela é necessá ria a todos os sistemas filosó ficos.
Se alguém pudesse provar que a Bíblia é a Palavra de Deus, a Bíblia nã o seria o ponto de
partida. Haveria algo antes do ponto de partida, o qual seria então o verdadeiro ponto de
partida. Simplesmente declaro, de acordo com a Escritura, que nã o há maior autoridade do
que a Palavra autoautenticadora de Deus. Novamente, para citar o autor de Hebreus:
“porque ele [Deus] nã o podia jurar por ninguém maior, jurou por si mesmo” (6.13). Uma
pessoa deve aceitar os 66 livros do Antigo e Novo Testamento como axiomá ticos, ou
nenhum conhecimento é possível, de forma alguma.
Além disso, na epistemologia cristã , nã o há dicotomia entre a fé (revelaçã o) e a razã o
(ló gica). As duas andam de mã os dadas, pois é Cristo o Logos quem revela a verdade. O
Cristianismo é racional. De fato, a fé cristã é totalmente dependente da persuasã o da razã o
(pensamento coerente) para a sua proclamaçã o e entendimento. Deus se comunica conosco
numa forma coerente em sua Palavra por meios de declaraçõ es racionais e proposicionais.
A revelaçã o pode chegar somente a uma pessoa racional.
Ao explicar a relaçã o entre fé (revelaçã o) e razã o (ló gica), Agostinho escreveu: [23]
Pois se a razã o contradissesse a autoridade das Escrituras divinas, ela
enganaria apenas por certa semelhança com a verdade, nã o importando sua
sutileza, porque suas deduçõ es nã o podem, nesse caso, ser verdadeiras.
Todavia, se algo alega possuir a autoridade da Sagrada Escritura, contra o
mais evidente e confiá vel testemunho da razã o, quem faz isso pratica-o
mediante a má compreensã o do que leu, e opõ e à verdade nã o o real
significado da Escritura, cuja descoberta foi nula, mas sua opiniã o; nã o se
alega algo descoberto nas Escrituras, mas o que ele achou em si mesmo
como intérprete dela.
Há uma distinçã o filosó fica importante entre “conhecimento” e “opiniã o”. Há uma diferença
entre o que “sabemos” e o que “opinamos”. Conhecimento nã o é somente possuir ideias ou
pensamentos; é possuir ideias ou pensamentos verdadeiros . O conhecimento é o
conhecimento da verdade. Ele justifica a crença verdadeira. Somente a Palavra de Deus nos
dá tal conhecimento.
Opiniõ es, por outro lado, podem ser verdadeiras ou falsas. A ciência natural é uma opiniã o;
a arqueologia é uma opiniã o; a histó ria (com exceçã o da histó ria bíblica) é uma opiniã o.
Aqui nã o há nenhuma justificativa para a crença verdadeira. Opinar algo nã o é conhecê-lo,
embora a opiniã o possa ser verdadeira. Um aluno pode supor a resposta correta para uma
questã o aritmética; mas, a menos que ele possa mostrar como alcançar a resposta, ele nã o
pode dizer que a conhece . Para citar a Confissão (1:6), somente aquilo que “é
expressamente declarado na Escritura, ou por boa e necessá ria consequência possa ser
deduzido dela”, nos dá “conhecimento”. A verdade é encontrada somente na Palavra de
Deus. Paulo fala disso em 1 Timó teo 6.3-5. De acordo com o apó stolo, aqueles que nã o
concordam com as “sã s” palavras de Cristo, “a doutrina que é segundo a piedade”, sã o
aqueles que “nã o conhecem nada” e sã o “destituídos da verdade”.
Finalmente , a filosofia cristã sustenta a teoria da verdade coerente, antes do que teoria da
verdade correspondente. Isto é, a declaraçã o da teoria da verdade coerente afirma que,
sempre que uma pessoa conhecer a verdade, ela conhece o que existe na mente de Deus;
ela nã o tem uma mera representaçã o da verdade (como na teoria da verdade
correspondente); uma representaçã o da verdade nã o é a verdade.
Na visã o bíblica, uma proposiçã o é verdadeira porque Deus pensa que ela é verdadeira. E
visto que Deus é onisciente (conhece todas as coisas), se o homem há de conhecer a
verdade, ele deve conhecer o que está na mente de Deus. A mesma verdade que existe na
mente do homem existe primeiro na mente de Deus. Na teoria da verdade coerente, a
mente e o objeto do conhecimento sã o partes de um sistema, um sistema no qual todas as
partes estã o em perfeito acordo, pois elas sã o encontradas na mente de Deus.
Metafísica
De acordo com Francis Schaeffer, essa questã o tem praguejado os pensadores anticristã os
durante toda a histó ria da filosofia. Platã o enfatizou os universais e Aristó teles, os
particulares. Aquino (pelo menos implicitamente) separou os dois em sua teoria errô nea da
natureza (particulares) e graça (universais). Tanto Kant como Hegel tentou sintetizar o
problema do uno e do mú ltiplo por meio da razã o fora da revelaçã o. Kierkegaard concluiu
que a resposta pode ser encontrada somente num salto de fé no universo dos universais. Os
filó sofos da aná lise linguística afirmam que somente uma linguagem perfeita produz a
unidade desejada. Mas toda filosofia nã o cristã fica longe da soluçã o do problema. Somente
a filosofia cristã pode, adequadamente, responder à questã o do “uno e o mú ltiplo”. E a
resposta repousa na doutrina bíblica da Trindade. Diz Schaeffer: “sem a elevada ordem de
unidade e diversidade pessoal como dada na Trindade, nã o há respostas”. [25]
Deus é “uno” em essência; todavia, três (“mú ltiplo”) pessoas distintas. Ele é o eterno “Uno e
Mú ltiplo”. Como o Deus soberano, ele criou todas as coisas no universo, e ele lhes dá uma
estrutura unificada. O universo, entã o, é o temporal “uno e mú ltiplo”. Assim, as coisas
particulares no universo agem de acordo com os ditados universais do Deus triuno (Sl
147.15-18). Há ordem no universo, porque há um Deus soberano que o criou e,
providencialmente, o controla.
Agostinho afirmou que o problema do uno e do mú ltiplo encontra sua soluçã o no fato de
que os particulares desse mundo têm seus arquétipos na mente de Deus. Agostinho
chamou esses arquétipos de “razõ es eternas”. As razõ es eternas de Deus sã o os planos
arquiteturais, a partir dos quais Deus criou o mundo. O mundo foi planejado como
proposiçõ es divinas do Deus triuno. Portanto, há unidade no meio da diversidade. [26]
Agostinho continuou para ensinar que Jesus Cristo, o eterno Logos de Deus, é aquele que
nos dá uma coerência entre o infinito e o finito, o Criador e a criaçã o. Em outras palavras, é
Cristo quem revela a soluçã o para o problema do uno e do mú ltiplo. Alheia à devida
compreensã o da teologia do Logos (isto é, Cristo como a eterna Palavra que veio para
revelar a verdade de Deus ao homem), nã o há soluçã o real. [27]
Radicalmente diferente das visõ es nã o cristã s de metafísica, a Escritura ensina que todas as
coisas existem como elas sã o, porque o Deus triuno da Escritura é o Criador e Sustentador
de todas as coisas. Como ensinado na Confissão de Westminster (5:1):
Pela sua mui sá bia providência, segundo a sua infalível presciência e o livre
e imutá vel conselho da sua pró pria vontade, Deus, o grande Criador de
todas as coisas, para o louvor da gló ria da sua sabedoria, poder, justiça,
bondade e misericó rdia, sustenta, dirige, dispõ e e governa todas as suas
criaturas, todas as açõ es e todas as coisas, desde a maior até a menor.
Em razã o de ser Deus o Criador, há algo em vez de nada . E em razã o de Deus ser o Criador
e Sustentador do universo, o mundo nã o é um fato bruto, nem uma má quina sem propó sito.
Há ordem, significado e propó sito no universo, porque ele é a obra proposital do Artesã o-
Mestre. E essa ordem, significado e propó sito sã o encontrados no pacto que Deus
estabeleceu com sua criaçã o (Gn 1; 2.15-17; 3.15; 9.9-17; Jr 33.19-26). É “nele [que]
vivemos, nos movemos e temos nossa existência” (At 17.28).
Ética
Embora as pessoas, algumas vezes, considerem “ética” e “moral” como sendo virtudes
sinô nimas, tecnicamente, há uma diferença entre as duas. É tica é uma disciplina normativa,
que procura prescrever obrigaçõ es para a humanidade. Ela tem a ver com o que uma
pessoa “deve” fazer. É tica é uma questã o de autoridade. Moral, por outro lado, descreve o
comportamento padrã o de indivíduos e sociedades, isto é, o que as pessoas fazem. A ética
de alguém deve determinar sua moral.
A ética cristã depende da revelaçã o. O Cristianismo sustenta que há somente um padrã o
ético para a humanidade. Como afirmado na Confissão de Fé de Westminster (19:5): “a lei
moral [de Deus] obriga para sempre a todos a prestar-lhe obediência, tanto as pessoas
justificadas como as outras”. E o pecado é apropriadamente definido, de acordo com o
Breve Catecismo de Westminster (Perg. 14), como “qualquer falta de conformidade com a lei
de Deus, ou qualquer transgressã o dessa lei”. Se nã o houvesse nenhuma lei de Deus, entã o
nã o haveria nenhum pecado. Nossa conduta moral, portanto, deve ser guiada pelo padrã o
ético da Palavra de Deus. Novamente para citar a Confissão (16:1): “Boas obras sã o somente
aquelas que Deus ordena em sua santa palavra, nã o as que, sem autoridade dela, sã o
aconselhadas pelos homens movidos de um zelo cego ou sob qualquer outro pretexto de
boa intençã o”. Atrá s da validade da lei moral de Deus, está , certamente, a autoridade do
Deus que nos dá a lei. O pró logo dos Dez Mandamentos é: “Eu sou o SENHOR ”. Teologia, e
nã o ética, é primá ria. A distinçã o entre certo e errado é inteiramente dependente dos
mandamentos de Deus, pois ele é “o SENHOR ”. O sistema cristã o de ética é baseado na
pró pria natureza de Deus. “Sereis santos, porque eu [Deus] sou santo” (Lv 11.44; 1Pe 1.16).
Todas as éticas (e morais) nã o cristã s sã o perversõ es do ú nico padrã o verdadeiro. Como
Paulo aponta nos primeiros dois capítulos de sua Epístola aos Romanos, o homem tem
suprimido o conhecimento inato de Deus e sua Palavra, que ele sabe ser verdadeira, e
suplantado-a com os seus pró prios falsos sistemas.
Já temos observado que o homem foi criado à imagem de Deus. A Queda, contudo, deixou o
homem eticamente num estado de depravaçã o total. O homem nã o regenerado é agora
incapaz de fazer algo que agrade a Deus (Rm 3.9-18; 8.7,8). Seu padrã o ético é autô nomo;
ele nã o tem nenhum ponto de referência eterno. O homem anticristã o está entre a foice e o
martelo: ele está buscando construir um sistema ético sem uma autoridade divina e eterna
por detrá s dele. Nas palavras de Cristo, o homem caído está edificado sobre a areia (Mt
7.26,27).
As Escrituras sã o claras sobre esse assunto. Há um elo bíblico entre as cosmovisõ es nã o
cristã s e a prá tica daqueles que aderam a ela. O salmo 14 declara o assunto claramente. É “o
tolo quem diz no seu coraçã o [que] nã o há Deus” (v. 1a). E, como o salmista continua a
dizer, é por causa dessa negaçã o de Deus que eles “têm-se corrompido, fazem-se
abominá veis em suas obras, nã o há ninguém que faça o bem” (v. 1b). Paulo ensina a mesma
coisa em Romanos 3. Nos versículos 10-17, ele nos dá uma lista dos pecados que infectam o
nã o regenerado. Entã o, no versículo 18, ele resume a denú ncia dizendo que “nã o há temor
de Deus diante de seus olhos”. Isto é, quando o homem rejeita o Deus da Escritura, isso o
conduz a “obras abominá veis”.
Há muitos sistemas éticos anticristã os. R. C. Sproul observa que há , atualmente, pelo menos
oitenta teorias diferentes de ética que estã o competindo por aceitaçã o. Talvez as duas que
têm tido maior impacto (negativo) sobre o Cristianismo sã o o legalismo e o
antinomianismo, ambas as quais sã o o que Jesus se referiu como “o caminho espaçoso que
conduz a perdiçã o” (Mt 7.13,14). [28]
O legalismo, em sua forma mais consistente, reivindica que guardar a lei, por si pró prio, é a
salvaçã o tanto do homem quanto da sociedade. Ele se preocupa com a conformidade
externa a um padrã o de lei, um padrã o que é sempre, de uma forma ou de outra, uma lei
criada pelo homem. Como Paulo escreveu, os homens, “procurando estabelecer a sua
pró pria justiça, nã o se sujeitaram à justiça de Deus” (Rm 10.3). Essa forma de legalismo foi
adotada pelos fariseus dos dias de Jesus (Mt 15.1-9; 23.1-39). Esse é também o erro do
Pelagianismo. [29]
Igualmente falso e perigoso é o ensino semipelagiano da Igreja Cató lica
Romana, de que a justificaçã o é uma mistura de graça e obras.
Algumas vezes, numa forma menos consistente, o legalismo se apresenta numa forma de
listas antibíblicas de “faça” e “nã o faça”. Outras vezes ela é encontrada na mera tradiçã o.
Mas ela é sempre humanista na origem. A lei de homem é posta em oposiçã o à lei de Deus.
O legalismo implica, juntamente com a afirmaçã o de Protá goras, que “o homem é a medida”
de todas as coisas. Mas se o homem é a medida de todas as coisas, o que um homem crê é
tã o verdadeiro quanto o que qualquer outro homem creia. Ambos seriam capazes de
reivindicar estar certo. Assim, se alguém deles crê que o outro esteja errado, o segundo
homem está , necessariamente, errado. E se o segundo homem crê que o primeiro está
errado, o primeiro está , necessariamente, errado. Por conseguinte, ambos estã o certos e
errados, ao mesmo tempo, o que é uma contradiçã o. E, como temos visto, o que é
contraditó rio deve ter um axioma inescapavelmente errô neo. Jesus fala contra o legalismo
em Mateus 15 e Marcos 7. E Paulo o condena na Epístola aos Gá latas.
O Antinomianismo (“antilei”) toma diversas formas: libertinismo, espiritualismo gnó stico e
ética situacional. O libertinismo, de uma forma ou de outra, nega que a lei moral de Deus é
obrigató ria para a humanidade hoje. Tristemente, ela tem encontrado seu caminho na
(pseudo) igreja. Essa visã o é prevalecente nos círculos dispensacionalistas, nos quais a
declaraçã o de Paulo em Romanos 6.14 é frequentemente referida para estabelecer o ponto
de que na era do Novo Testamento os cristã os nã o estã o mais debaixo da lei, mas debaixo
da graça: “Porque o pecado nã o terá domínio sobre vó s, pois nã o estais debaixo da lei, mas
debaixo da graça”.
Essa, contudo, é uma declaraçã o errô nea e um entendimento incorreto do versículo. Como
o capítulo 19 da Confissão de Fé de Westminster corretamente ensina, embora as leis
cerimoniais dadas à naçã o de Israel, “considerada uma igreja sob a sua tutela”, “estejam
agora abrogadas”, todavia, os Dez Mandamentos, e “a equidade geral” das leis judiciais de
Israel, continua a “obrigar para sempre a todos a prestar-lhe obediência, tanto as pessoas
justificadas como as outras”, e nem “Cristo, no evangelho [era do Novo Testamento], nã o
desfaz de modo algum esta obrigaçã o, antes a confirma”.
Como a Confissão continua a dizer (até mesmo citando Romanos 6.14 como um texto
prova): “embora os verdadeiros crentes nã o estejam debaixo da lei como pacto de obras,
para serem por ela justificados ou condenados, contudo, ela lhes serve de grande proveito,
como aos outros; manifestando-lhes, como regra de vida, a vontade de Deus, e o dever que
eles têm, ela os dirige e os obriga a andar segundo a retidã o”. Isto é, em Romanos 6.14, o
apó stolo Paulo nã o nega que os cristã os, ou “os justificados”, estejam obrigados a obedecer
à lei de Deus; antes, ele ensina que eles nã o estã o debaixo da lei como uma maldiçã o (cf. Gl
3.10-13). Além disso, ele deixa isso claro numa passagem anterior na mesma epístola, ao
escrever: “Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma! Antes, estabelecemos a lei”
(Rm 3.31).
O espiritualismo gnó stico, encontrado, com frequência, nas igrejas carismá ticas e
pentecostais, bem como nas ordens moná sticas, eleva os sentidos e as experiências místicas
acima da lei de Deus. Aqueles que “possuem” tais experiências reividicam uma fonte ou
forma de conhecimento superior. Os mandamentos da Escritura devem ser postos de lado,
eles alegam, quando tais experiências ocorrem. O Espírito de Deus, dizem os gnó sticos,
guia-os à parte (sem a necessidade) da revelaçã o bíblica.
De acordo com a Escritura, contudo, o Espírito Santo nã o é antinomiano. Ele é “o Espírito da
verdade”, que guia a igreja “em toda verdade” (Jo 16.13). Mas ele assim o faz por meio da
Escritura, nã o à parte dela (Jo 16.13-15; 1Co 2.10-16). É a Escritura, Paulo escreveu, nã o as
experiências místicas, que equipa perfeitamente a igreja “para toda boa obra” (2Tm
3.16,17). Além do mais, escreve Salomã o: “O que confia no seu pró prio coraçã o
[sentimentos] é insensato” (Pv 28.26).
A ética situacional, ou a “nova moralidade”, é uma construçã o que nega que haja quaisquer
verdades absolutas. Antes, “a lei do amor” deve ditar a ética de alguém em cada situaçã o
específica. Isto é, o amor sempre “triunfa” sobre a lei, e torna a açã o correta. Dietrich
Bonhoeffer, Emil Brunner, Marquis de Sade e Bispo J. A. T. Robinson, para nomear apenas
alguns, sã o proponentes notá veis desse sistema. Joseph Fletcher, contudo, é talvez o
principal divulgador da ética situacional.
Como observado, na ética situacional, o ú nico absoluto, se ele pode ser assim chamado, é “a
lei do amor”. Mas essa é uma “lei” definida por Fletcher, nã o pela Palavra de Deus.
Enquanto o “amor”, de um ponto de vista bíblico, é objetivo em natureza — definido por
Jesus como “guardar os meus mandamentos” (Jo 14.15), e por Paulo como “o cumprimento
da lei [de Deus]” (Rm 13.10) — para Fletcher e os adeptos da ética situacional, ele é
meramente pessoal e subjetivo. A “situaçã o” dita; nã o há norma e nenhum padrã o absoluto
pelo qual todos devem ser julgados. A ética situacional tem mais em comum com o
altruísmo vago em contradiçã o com a ética cristã , na qual o amor é manifesto numa vida de
obediência à lei de Deus: “E o amor é este: que andemos segundo os seus [de Deus]
mandamentos” (2Jo 6).
Todos os sistemas éticos anticristã os sã o falíveis. Eles nã o têm nenhum padrã o eterno
sobre o qual permanecer. Eles nã o têm nenhuma base sobre a qual possam fazer
afirmaçõ es. Tendo rejeitado a revelaçã o divina, esses sistemas nã o fornecem nenhum grau
certo para quaisquer leis morais (Mt 7.26,27). O pregador de Eclesiastes resume a
obrigaçã o ética do homem quando escreve: “De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a
Deus e guarda os seus mandamentos; porque este é o dever de todo homem. Porque Deus
há de trazer a juízo toda obra e tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau”
(12.13,14).
Política
A cosmovisã o cristã sustenta que há três instituiçõ es bíblicas principais ordenadas por
Deus: a família, a igreja e o magistrado civil (ou Estado). As instituiçõ es exitem, assim como
todas as coisas, para glorificar a Deus (1Co 10.31). Elas sã o separadas para funcionar de
acordo com uma autoridade, e nã o como a autoridade. Todas as três devem ser governadas
pela Escritura. A família é a instituiçã o bíblica primá ria. Ela foi a primeira estabelecida (Gn
1-2), e, num sentido, as outras duas instituiçõ es estã o fundamentadas sobre a família. [30]
Isto é, o magistrado civil tornou-se necessá rio devido à Queda do homem, e o propó sito
principal do Estado é punir os malfeitores (Rm 13.1-7; 1Pe 2.13-17). E para esse propó sito
o Estado é “ministro de Deus” (Rm 13.4,6). Como ensinado na Confissã o: “Deus, o Senhor
Supremo e Rei de todo o mundo, para a sua gló ria e para o bem pú blico, constituiu sobre o
povo magistrados civis que lhe sã o sujeitos, e a este fim, os armou com o poder da espada
para defesa e incentivo dos bons e castigo dos malfeitores”.
Dois erros principais têm-se desenvolvido na histó ria da relaçã o igreja-estado: o papismo e
o erastianismo. O primeiro afirma que a igreja (a saber, o papa) governa tanto a igreja como
o Estado. O ú ltimo sustenta que ambas as instituiçõ es estã o sob a liderança do magistrado
civil.
A visã o bíblica evita ambos os erros, e ensina que a igreja e o Estado sã o instituiçõ es
ordenadas e separadas por Deus, sob a lei de Deus. Novamente, elas sã o separadas para
funcionar como uma autoridade, e nã o como a autoridade. Além do mais, é certamente uma
declaraçã o justa que qualquer tentativa de base para uma teoria de magistrado civil sobre
axiomas seculares, em vez dos revelados na Escritura, resultará logicamente em anarquia
ou totalitarismo.
Em Provérbios 14.34, lemos: “A justiça exalta as naçõ es, mas o pecado é o opró brio dos
povos”. O que constitui a justiça que exalta uma naçã o? Como a justiça é definida? Primeiro,
o Deus triuno é justo: “Justiça e juízo sã o a base do seu [de Deus] trono” (Sl 97.2). E, escreve
o salmista, assim é a Palavra de Deus: “A justiça dos teus testemunhos é eterna... pois todos
os teus mandamentos sã o justiça” (Sl 119.144,172). O apó stolo Paulo, em concordâ ncia
com o Antigo Testamento, escreve: a lei de Deus é “santa, justa e boa” (Rm 7.12).
Parece, entã o, que, de acordo com a Bíblia, uma naçã o é considerada justa quando ela
procura honrar o Deus da Escritura aplicando seu justo padrã o (isto é, sua Palavra) a todas
as facetas dos interesses da naçã o. Esse é o ensino da Confissão de Fé de Westminster
(19:2,5), que declara que a lei de Deus é uma “perfeita regra de justiça”, que “obriga para
sempre a todos a prestar-lhe obediência, tanto as pessoas justificadas como as outras [para
incluir naçõ es]”.
Virar as costas para a lei de Deus como o padrã o infalível da naçã o, por outro lado, constitui
o “pecado [que] é o opró brio dos povos”. Isso é confirmado em Provérbios 29.18, onde
lemos: “Nã o havendo profecia [revelaçã o bíblica], o povo se corrompe; mas o que guarda a
lei, esse é feliz”.
Os presentes escritores concordam com John Robbins, que, de acordo com as Escrituras, há
pelo menos sete valores bá sicos que sã o essenciais para que uma naçã o seja considerada
justa: [33]
espada”. De fato, ensina Jesus que é tã o importante que um homem seja capaz de se
defender, que, se necessá rio, ele deve “vender a sua veste” para obter a arma.
Quinto: O Trabalho Ético Protestante . Esse princípio está fundamentado no quarto
mandamento: “Seis dias trabalhará s e fará s toda a tua obra” (Ê x 20.9). O trabalho duro nã o
é uma maldiçã o da Queda. Mesmo antes da Queda, Adã o foi ordenado a “lavrar e guardar” o
Jardim do É den (Gn 2.15). Em Provérbios 14.23, lemos que “em todo trabalho há proveito”.
O homem deve trabalhar para viver. Como Robbins afirma: “O que Max Weber chama de
trabalho ético protestante é um conjunto de virtudes econô micas: honestidade,
pontualidade, diligência, obediência ao quarto mandamento — ‘seis dias trabalhará s’,
obediência ao oitavo mandamento — ‘nã o furtará s’, e obediência ao décimo mandamento
— ‘nã o cobiçará s’. Um reconhecimento da relevâ ncia do trabalho produtivo origina-se da
Bíblia e da Reforma”.
O trabalho ético protestante também inclui um entendimento apropriado do princípio
sabá tico. O homem deve trabalhar seis dias por semana, mas ele deve perceber que “o
sétimo dia é o sá bado do SENHOR , teu Deus; nã o fará s nenhuma obra, nem tu, nem o teu
filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu
estrangeiro que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez o SENHOR os céus e a
terra, o mar e tudo que neles há e ao sétimo dia descansou; portanto, abençoou o SENHOR o
dia do sá bado e o santificou” (Ê x 20.10,11).
Sexto: A Regra da Lei . De acordo com o capítulo 19 da Confissão , uma naçã o justa deve
estabelecer princípios legais que sã o fundamentados sobre os Dez Mandamentos e a
“igualdade geral” das leis judaicas que Deus deu a Israel. Toda lei substantiva deve ser
fundamentada sobre o ensino da Escritura. É também obrigató rio que as leis estabelecidas
da naçã o sejam aplicadas a todas as pessoas, incluindo os líderes. Ninguém dentro da naçã o
está acima da lei. Esse é o princípio puritano da lex rex (“a lei é o rei”), ao contrá rio da rex
lex (“o rei é a lei”).
William Symington resume a obrigaçã o de as naçõ es adotarem a lei de Deus como o padrã o
nacional da seguinte forma: [35]
É dever das naçõ es, sujeitas a Cristo, aderir à sua lei como regra. Elas sã o
capazes de pensar que é suficiente tomar — como seus padrõ es de
legislaçã o e administraçã o — a razã o humana, a consciência natural, a
opiniã o pú blica ou a conveniência política. Nenhuma delas, entretanto, e, de
fato, nem todas elas juntas, podem fornecer um guia suficiente para os
assuntos de Estado. Certamente, as naçõ es pagã s, que nã o possuem a
vontade revelada de Deus [revelaçã o especial], devem ser governadas pela
lei da natureza [revelaçã o geral]: mas essa nã o é uma boa razã o pela qual as
que possuem a revelaçã o da vontade divina devam se ater ao uso de uma
regra imperfeita. É absurdo afirmar que, pelo fato de a sociedade civil ser
fundamentada na natureza, os homens devem ser guiados, ao dirigir seus
assuntos e consultar seus interesses, somente pela luz da natureza... A
verdade é que a revelaçã o é concedida aos homens para suprir as
imperfeiçõ es da luz da natureza; e nos restringir à ú ltima, renunciando a
primeira — competente para nos guiar em qualquer caso — significa
simultaneamente condenar o dom de Deus e destruir o fim pelo qual ele foi
dado. Argumentamos, entã o, que a Bíblia é nossa regra, nã o somente em
questõ es de natureza puramente religiosa, em questõ es relacionadas com a
consciência e a adoraçã o a Deus, mas em questõ es de natureza civil ou
política. Dizer que, em relaçã o a elas, nã o temos nada que ver com a Bíblia, é
sustentar algo manifestamente injustificá vel. Requerer que as naçõ es
possuidoras do sagrado volume se confinem em seus assuntos políticos à
luz fosca da natureza nã o é menos absurdo que requerer que os homens,
com o sol nos céus, se escondam de sua resplandecência e façam seus
deveres ordiná rios à luz dos raios fracos de candeias [velas]. De fato, se as
naçõ es estã o moralmente sujeitas [e estã o], elas estã o obrigadas a conduzir-
se pessoalmente pela lei, seja qual for, que seu Governante moral tiver se
agradado em lhes outorgar; e pelo fato de estarem sujeitas do Mediador,
elas devem submeter-se à encontrada nas Escrituras... Nas Sagradas
Escrituras, ele lhes demonstrou, da forma mais justa e completa, os
princípios da justiça imutá vel e eterna, mais que os encontrados na lei da
natureza. Temos que olhar para o volume da revelaçã o somente para ter os
raciocínios confirmados.
Sétimo: Republicanismo . Modelada na forma presbiteriana de governo de igreja, uma naçã o
bíblica deve ser uma repú blica, nã o uma monarquia ou democracia. Deus advertiu a Israel
contra uma monarquia em 1 Samuel 8. Entre outras coisas, disse o Senhor, o monarca
usaria labor compulsó rio, estabeleceria burocracias, imporia taxas excessivas e
nacionalizaria os meios de produçã o. Numa monarquia, a voz do rei é como a voz de Deus.
Uma sociedade democrá tica, por outro lado, é baseada na regra majoritá ria. É à lei por
opiniã o majoritá ria que F. Schaeffer se refere como “a ditadura de 51%, com nenhum
controle e nada com o que desafiar a maioria”. Quando uma naçã o é governada pela
[36]
Conclusão
O Cristianismo é um sistema filosó fico completo que é fundamentado sobre o ponto de
partida axiomá tico da Bíblia como a Palavra de Deus. Como a Confissão de Westminster
(1:6) ensina: “Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessá rias para a
gló ria dele e para a salvaçã o, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na
Escritura ou pode ser ló gica e claramente deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará
em tempo algum, nem por novas revelaçõ es do Espírito, nem por tradiçõ es dos homens”.
Por conseguinte, o sistema cristã o inteiro procede de um ú nico axioma — que a Bíblia
somente é a Palavra de Deus, e, portanto, tem a autoridade — para milhares de teoremas.
Nesse sistema, cada uma das partes que temos estudado — epistemologia, metafísica, ética
e política — é importante. E as ideias encontradas nelas sã o todas arranjadas num sistema
ló gico, com cada parte reforçando mutuamente as outras. Se o leitor está preocupado em
seguir os ditames da Escritura, tendo sua mente transformada pelos ensinos da Escritura
(Rm 12.1,2), e levando todo pensamento cativo à obediência de Cristo (2Co 10.5); entã o, ele
deve aprender a pensar como o pró prio Logos de Deus pensa: ló gica e sistematicamente.
Isso feito, o leitor aprenderá a ú nica filosofia viá vel, uma filosofia “de acordo com Cristo”
(Cl 2.8), que é fundamentada sobre a Palavra de Deus. [37]
Ronald Nash concorda; ele declara que “o mais sério desafio ao teísmo foi, é e continuará
sendo, o problema do mal”. [39]
Os pró prios autores bíblicos trataram do assunto de Deus e o mal. O profeta Habacuque
queixou-se: “Tu [Deus], que tens olhos tã o puros que nã o podes ver o mal, nem contemplar
a perversidade, por que olhas para os que procedem traiçoeiramente e te calas enquanto o
ímpio destró i aquele que é mais justo do que ele?” (Hc 1.13). E Gideã o perguntou: “Ai,
Senhor meu, se o SENHOR é conosco, por que todo este [sofrimento] nos sobreveio?” (Jz
6.13).
Se, de acordo com a Bíblia, Deus, que é onipotente e bom, decretou desde toda a eternidade
tudo o que vem a acontecer, e se ele, soberana e providencialmente, controla todas as
coisas no seu universo criado (incluindo o mal), por que ele nã o seria o autor do mal? Como
pode o mal existir no mundo? Como justificar as açõ es de Deus na causaçã o do mal, do
sofrimento e da dor? Estas sã o as questõ es da “teodiceia”. A palavra, que supostamente foi
cunhada pelo filó sofo alemã o Gottfried Leibniz (1646-1716), derivou-se de duas palavras
gregas ( theos , “Deus”, e dike , “justiça”) e tem a ver com a justificativa da bondade e justiça
de Deus em face ao mal no mundo.
Como nó s veremos, entretanto, o problema do mal nã o é um argumento tã o corrosivo
quanto parece. Na realidade, como Gordon Clark afirmou, “enquanto diversas outras
doutrinas se desintegraram neste ponto, o sistema conhecido como Calvinismo e expresso
pela Confissão de Fé de Westminster oferece uma resposta satisfató ria e completamente
ló gica”. A resposta, como veremos, repousa no ponto de partida epistemoló gico do
[40]
Pois a vontade de Deus é de tal modo a regra má xima de retidã o que aquilo
que ele deseja, pelo simples fato de que ele o deseja, deve ser considerado
correto. Quando, portanto, alguém quer saber a razã o da vontade de Deus,
está procurando uma coisa maior e mais elevada que a vontade de Deus,
algo que nã o pode ser encontrado.
Do mesmo modo, a visã o de Leibniz também tende a eliminar a responsabilidade do
homem pelo pecado ao representar o pecado por pouco mais do que um infortú nio que lhe
sobreveio. Novamente, a Bíblia é muito clara ao declarar que o homem é responsá vel pelo
seu pecado. Na oraçã o de arrependimento de Davi, no Salmo 51, ele nã o põ e a culpa em
Deus, nem em sua mã e, nem em Adã o, embora todos eles fossem causas secundá rias na
cadeia que levava à s suas açõ es pecaminosas. Ao contrá rio, Davi, sob a inspiraçã o do
Espírito Santo, põ e a culpa, honestamente, na causa imediata: ele mesmo.
O grande filó sofo cristã o, Agostinho, também ponderou sobre a questã o da teodiceia. Ele
ensinou que, visto que Deus criou todas as coisas como boas, entã o o mal nã o pode ter uma
existência separada e independente. O mal é a ausência do bem, assim como a escuridã o é a
ausência da luz. O mal é parasita, no sentido de que ele nã o pode existir à parte do bem.
Desse modo, considerou Agostinho, o mal nã o pode ser a causa eficiente do pecado; trata-
se, sim, de uma causa deficiente no homem. O mal é o resultado de a criatura se afastar dos
bons mandamentos de Deus para buscar um bem menor: a vontade da criatura, do homem.
É o homem, nã o Deus, que é o autor do pecado. Isso, de qualquer forma, nã o é uma soluçã o
para o problema. Como Clark declara: “Causas deficientes, se é que existem tais coisas, nã o
explicam o porquê um Deus bom nã o abole o pecado e garante que os homens sempre
escolham o bem mais elevado”. [42]
O Arminianismo, como um sistema cristã o ostensivo, também falha em nos dar uma
teodiceia bíblica satisfató ria. Os teó logos arminianos atribuem o problema do mal ao livre-
arbítrio do homem. Em sua liberdade, Adã o escolheu pecar, à parte da vontade de Deus.
Adã o tinha uma “liberdade de indiferença” em relaçã o à vontade de Deus. Deus meramente
permitiu que o homem pecasse.
A ideia de Deus meramente permitir o homem para pecar, contudo, é totalmente antibíblica
e nã o nos dá uma soluçã o. Deus permitiu que Sataná s afligisse Jó (Jó 1-2). Mas, em razã o de
essa permissã o ter sido necessá ria antes da afliçã o, Deus é dificilmente excluído. Se ele
poderia ter impedido a provaçã o de Jó , e, todavia, deliberadamente a aprovou, como Deus
pode ser considerado menos repreensível do que se ele a tivesse decretado? Essa visã o de
permissã o e livre-arbítrio nã o pode coexistir com a onipotência de Deus.
Tampouco a visã o arminiana do livre-arbítrio é compatível com a onisciência de Deus, pois
a onisciência torna o futuro certo. Se Deus prevê todas as coisas, necessariamente elas
ocorrerã o; de outro modo, elas nã o poderiam ser “previstas”. Deus previu, e até mesmo
preordenou, a crucificaçã o de seu Filho pelas mã os de pecadores. Todavia, de acordo com a
Escritura, os ímpios que levaram a cabo o ato sã o responsá veis por suas açõ es má s (At
2.22,23; 4.27,28). Eles poderiam ter agido diferentemente? Poderia Judas Iscariotes nã o ter
traído Jesus Cristo? Fazer essas perguntas é respondê-las; certamente nã o! A Bíblia nos
ensina que Deus decretou todas as coisas que virã o a acontecer: “Conhecidas sã o de Deus
todas as suas obras desde toda a eternidade” (At 15.18). Por conseguinte, a tentativa do
Arminianismo de se refugiar no livre-arbítrio é tanto fú til quanto falsa; pois a Bíblia
consistentemente nega a visã o arminiana do livre-abítrio.
A teologia reformada nã o repudia o fato de que Adã o (e todos os homens apó s ele) tinha
um “livre-arbítrio” no sentido de “livre agência moral”. Todos os homens têm liberdade de
escolha no sentido do termo. Os homens necessariamente escolhem fazer o que eles
querem fazer; de fato, eles nã o podem agir de outra forma. O que a teologia reformada nega
é a “liberdade de indiferença”. Sua liberdade para escolha sempre é governada por fatores:
suas pró prias intençõ es, há bitos, e assim por diante. Certamente, todas as escolhas estã o
sujeitas aos decretos eternos de Deus.
Como mencionado, isso nã o é somente verdade com relaçã o ao homem pó s-queda. É
verdade também em relaçã o ao Adã o anterior a Gênesis 3. A maior diferença é que o
homem pó s-queda, que ainda mantém sua livre agência moral, perdeu o que Adã o possuía
originalmente: a capacidade de escolher o que Deus requer. O homem caído, em seu estado
de “depravaçã o total”, sempre escolhe fazer o que ele deseja, mas sua natureza pecaminosa
faz com que ele sempre escolha o mal (Rm 3.9-18; 8.7,8; Ef 4.17-19). A “capacidade” de
escolher o bem só é restaurada por meio da regeneraçã o (Jo 3.3-8; 2Co 3.17).
Assim, o homem nunca se encontra indiferente na sua vontade de fazer alguma coisa. Deus
determinou todas as coisas que venham a ocorrer. Contudo, a soberania de Deus nã o mina
a responsabilidade do homem. Nã o há disjunçã o aqui. A Confissão de Fé de Westminster
(3:1; 5:2,4), corretamente declara que (26-28):
Desde toda a eternidade, Deus, pelo conselho sá bio e santo de sua pró pria
vontade, livre e imutavelmente, ordenou tudo o que venha a ocorrer: ainda
assim, nem Deus é o autor do pecado, nem a vontade das criaturas é
violentada, nem a liberdade ou contingência das causas secundá rias deixa
de existir, sendo, ao invés, estabelecida.
Apesar de que, pela presciência e pelo decreto de Deus – a primeira causa –,
todas as coisas venham a ocorrer de modo imutá vel e infalível; ainda assim,
pela mesma providência, ele ordena que elas aconteçam de acordo com a
natureza das causas secundá rias, seja de modo obrigató rio, ou livre, ou
contingencial.
O poder ilimitado, a sabedoria insondá vel e a bondade infinita de Deus,
manifestam-se na sua providência, que inclui até mesmo a primeira Queda e
todos os outros pecados de anjos e homens, nã o como uma simples
permissã o, mas de modo tal que reú ne a sabedoria e o poder limitante de
Deus, que os ordena e governa para os seus objetivos sagrados; e ainda
assim, a pecaminosidade do ato procede apenas da criatura e nã o de Deus,
que, sendo o mais santo e justo, nem é nem pode ser o autor ou aprovador
do pecado.
Deus, diz a Confissão , é a causa soberana primeira de todas as coisas, muitas das quais
ocorrem por meio das açõ es livres dos homens, que sã o causas secundá rias. O fim
decretado por Deus nunca deve ser separado dos meios que ele também decretou, como
causas secundá rias. E essa é a razã o, de acordo com a Confissão , para Deus nã o ser
considerado “o autor ou aprovador do pecado”. Deus é a causa soberana primeira do
pecado, mas nã o é o seu autor. Apenas as causas secundá rias pecam e, portanto, somente
elas podem ser os autores do pecado.
Essa visã o ensinada pelos teó logos de Westminster é o conceito calvinista de
“determinismo”. A palavra determinismo geralmente carrega uma conotaçã o ruim, mas nã o
deveria ser assim. Na realidade, determinismo expressa uma visã o de Deus bastante bíblica
e elevada, além de oferecer a ú nica teodiceia plausível. Deus determina ou decreta cada
acontecimento da histó ria e cada açã o do homem.
Mais ainda, o que Deus decreta é correto, simplesmente porque Deus o decreta. Deus nunca
pode errar. Deus, diz a Escritura, nã o se justifica perante ninguém: “Porque ele nã o dá
contas de nenhum dos seus feitos” (Jó 33.13). Ele é o legislador (Is 33.22); o homem está
debaixo da lei ( sub lego ). Deus nã o tem que prestar contas a ninguém. Ele está ex lex
(“acima da lei”). Os Dez Mandamentos sã o obrigaçõ es para o homem, nã o para Deus.
Adicionalmente, a ú nica precondiçã o para a responsabilidade é que haja um legislador —
nesse caso, Deus. O homem é necessariamente responsá vel pelo seu pecado, e Deus é
completamente absolvido de ser o autor do pecado.
O determinismo ensinado na Confissão de Fé de Westminster nã o é a mesma coisa que o
fatalismo. No fatalismo, deus, ou os deuses, ou o Destino, determina todas as coisas,
enquanto que o homem permanece completamente passivo ou, até mesmo, contra o seu
destino. Em tal sistema, o homem nã o pode ser logicamente responsá vel pelas suas açõ es
pecaminosas. No determinismo bíblico, por outro lado, Deus soberanamente determina
todas as coisas, mas ele também considera o homem responsá vel, pois o homem e suas
açõ es “livremente escolhidas” sã o as causas secundá rias por meio das quais as coisas sã o
determinadas a ocorrerem.
Mas alguém poderá perguntar: “Assassinar nã o é pecado e contra a vontade de Deus?
Entã o, como Deus pode desejar isto?” A resposta é encontrada em Deuteronô mio 29.29: “As
coisas encobertas pertencem ao SENHOR nosso Deus, mas as reveladas nos pertencem a nó s
e a nossos filhos para sempre, para que observemos todas as palavras desta lei”. Nesse
versículo, Moisés distingue entre a vontade decretiva de Deus (“coisas encobertas”) e sua
vontade preceptiva (“aquelas coisas que sã o reveladas”). A vontade preceptiva de Deus é
encontrada na Escritura. Nela, nó s aprendemos o que Deus requer do homem. A vontade
decretiva de Deus, por outro lado, é a causa de todo evento. O homem é responsá vel pela
sua desobediência à vontade preceptiva de Deus, nã o à sua vontade decretiva. No exemplo
usado acima, Deus, desde toda a eternidade, decretou a crucificaçã o de Cristo (Ap 13.8), e,
ainda assim, quando levada a cabo pelas mã os de pecadores (At 2.22,23; 4.27,28), ela foi
contrá ria à lei moral, isto é, à vontade preceptiva de Deus. Assim, podemos argumentar a
partir do maior para o menor ( a majore ad minore ) que, se o ato mais vil já produzido
pelos homens foi tanto livre quanto determinado, assim também sã o todos os atos menos
vis.
Assim, sentados sobre a “fundaçã o de rocha”, que é a Palavra de Deus, como o nosso ponto
de partida axiomá tico (Mt 7.24,25), o cristã o teísta tem uma resposta à questã o da
teodiceia. Deus, que é totalmente santo e que nã o pode fazer nada errado, soberanamente
decreta que todas as coisas ocorram para os seus pró prios bons propó sitos (veja Is 45.7;
Am 3.6). E simplesmente porque ele decretou, é correto. Como o reformador Jerome
Zanchius ensinou:
A vontade de Deus é de tal modo a causa de todas as coisas, quanto ela
pró pria nã o tem causa, uma vez que nã o há nada que possa ser a causa
daquilo que causa todas as coisas. Assim, nó s encontramos todo assunto
resolvido, em ú ltima instâ ncia, na simples satisfaçã o soberana de Deus. Ele
nã o tem outro motivo para aquilo que faz, além da ‘ipsa voluntas’, sua mera
vontade – vontade esta tã o longe de ser injusta, quanto ela é a pró pria
justiça.
É bom, entã o, que o pecado exista. Deus o decretou e ele [o pecado] está trabalhando para o
objetivo final: a gló ria de Deus.
Com essa premissa bíblica em mente, é fá cil responder a antiteístas, tais como David Hume,
que argumentam que a presença do mal no mundo milita contra a existência do Deus
cristã o. Hume, por exemplo, argumenta do seguinte modo: Primeiro, uma divindade
[43]
Falso teísmo
Teísmo é aquela cosmovisã o que sustenta que há um deus que transcende o universo que
ele criou e sustenta. O Cristianismo, o Judaísmo tradicional e o Islamismo sã o cosmovisõ es
teístas. O Cristianismo é tanto monoteísta como trinitariano. Como ensinado no Breve
Catecismo de Westminster (Pergs. 5 e 6): “Há um só Deus, o Deus vivo e verdadeiro. [Além
disso], há três pessoas na Divindade: O pai, o Filho e o Espírito Santo, e estas três pessoas
sã o um Deus, da mesma substâ ncia [essência], iguais em poder e gló ria”. Aqui reside uma
das principais diferenças entre o Cristianismo e esses outros dois sistemas teístas. Embora
o Judaísmo tradicional e o Islamismo sejam monoteístas, nenhum deles é trinitariano.
Duas outras heresias principais dentro dos sistemas teístas sã o o subordinacionismo
(Arianismo, Testemunhas de Jeová , Mormonismo) e o modalismo (Sabelianismo). Os
subordinacionalistas ensinam que há somente um Deus: o Pai. O Filho e o Espírito Santo
sã o divindades menores, se é que divinas. Eles nã o sã o seres eternos; assim, eles sã o
subordinados ao Pai. O modalismo, por outro lado, afirma que Deus é um em essência e um
em pessoa. “Filho” e “Espírito Santo” sã o nomes usados com “Pai” para descrever os
diferentes papéis, ou “modos”, de Deus. Quando falamos de Deus como Criador o
chamamos de Pai, quando falamos dele como Redentor o chamamos de Filho; e quando nos
referimos a Deus como Iluminador e Regenerador usamos o nome Espírito Santo. Mas, de
acordo com essa falsa teoria, esses sã o meramente nomes para os vá rios papéis ou modos
do ser divino.
Ateísmo
suprema. Ele vive sua vida entre dois pó los de falta de sentido. Ele veio do
nada; ele vai para o nada. Sua origem nã o tem sentido; seu destino nã o tem
sentido. Todavia, de alguma forma, entre a sua origem e o seu destino, ele
adquire dignidade suprema. Onde ele consegue isso? De nenhum lugar. [46]
Outra forma de ateísmo é o existencialismo (ateísta). O existencialismo ensina, de
[47]
acordo com a avaliaçã o de Jean-Paul Sartre, que a “existência precede a essência”. Aqui os
particulares sã o importantes, nã o os universais. Há homens, mas nã o há nenhum “homem”.
E nã o importa o que os homens possam se tornar (a essência deles), eles fazem isso por si
mesmos, pois nã o há nenhuma essência divina que crie ou produza a essência do homem.
O existencialismo está intimamente relacionado ao pragmatismo (os fins justificam os
meios), relativismo (a verdade é relativa) e secularismo (sua ênfase sobre o temporal, o
aqui e agora ). Ao elevar a existência acima da essência, os homens se tornam seus pró prios
senhores; a liberdade reina suprema. Quando Sartre descreve o homem como uma “paixã o
inú til”, devemos entender que, no existencialismo, os homens nã o sã o vistos muito em
termos de suas mentes ou pensamentos, mas de seus sentimentos, suas paixõ es. E, no final
das contas, suas paixõ es sã o “inú teis”. A vida é pouco mais do que o “teatro do absurdo”. O
ú nico ato genuinamente livre, portanto, é o suicídio.
O existencialismo coloca uma ênfase errada sobre a experiência do presente à custa do
passado e futuro. Nã o há absolutos éticos; a verdade é individual e subjetiva (há
“verdades”, mas nenhuma “verdade”). Como Fió dor Dostoiévski disse: “Se nã o existe
nenhum Deus, todas as coisas sã o permitidas”. O existencialismo logicamente leva ao
niilismo, ao desespero absoluto (Friedrich Nietzsche) ou ao irracionalismo (Søren
Kierkegaard). [48]
Deísmo
Teísmo finito
O teísmo finito, exposto por homens tais como E. S. Brightman, William James, e Rabbi
Harold Kushner, apresenta a existência de um deus finito. Ele é limitado em suas perfeiçõ es
ou atributos. Ele pode ser onibenevolente, mas ele certamente nã o é onipotente. O mal é
uma coisa que limita esse deus. Nã o podemos, entã o, culpar deus pela existência do mal no
mundo, pois, embora esse deus deseje eliminar o mal do mundo, ele simplesmente nã o é
capaz de fazê-lo. Kushner vai além e afirma que devemos perdoar deus pelas suas
limitaçõ es.
Visto que o mundo opera sob a orientaçã o de leis naturais, dizem os teístas finitos,
absolutos éticos nã o devem ser assumidos. Nem devemos crer em milagres. Além do mais,
por que nã o há nenhuma revelaçã o especial, nã o podemos estar certos sobre o destino da
humanidade. Tudo o que podemos dizer é que “talvez” haja vida além do tú mulo.
Outra forma de teísmo finito é o henotismo, que ensina que há muitos deuses finitos, um
dos quais é supremo. Algumas vezes, o henotismo tem um deus por naçã o ou por grupo
étnico, tal como Baal dos cananitas, ou Dagon dos filisteus. O henotismo é um está gio de
transiçã o entre o monoteísmo e o politeísmo.
Panteísmo
A palavra panteísmo é derivada de duas palavras gregas: pan (tudo) e theos (Deus) — tudo
é Deus. Numa cosmovisã o panteísta (Hinduísmo, o movimento de “nova era”), o mundo é
deus e deus é o mundo; deus é tudo e tudo é deus. O panteísmo enfatiza a imanência de
deus, enquanto nega a sua transcendência. Nesse sentido, ele é o oposto do deísmo. Em
geral, os panteístas nã o sã o tã o tolos a ponto de afirmar que todas as coisas sã o realmente
deus. Isso tornaria a palavra “deus” virtualmente sem significado; seria o mesmo que dizer
“todas as coisas sã o todas as coisas”. O que os panteístas normalmente querem dizer
quando reivindicam que “tudo é deus”, é que deus é manifesto em todas as coisas. O
transcendentalista Ralph Waldo Emerson, por exemplo, diz isso da seguinte forma:
“Quando alguém está em contato com uma flor, ele está em contato com deus”.
Alguns panteístas ensinam que deus é impessoal, e o mundo emana dele. E devido ao fato
de que nã o existe nenhuma revelaçã o especial, nã o há nenhum absoluto ético. Alega-se a
necessidade de o homem estar unido a deus (o que é autocontrá rio, visto que o homem já é,
em certo sentido, idêntico a deus). A histó ria é considerada como sendo cíclica, e a
reencarnaçã o é, portanto, comumente assumida, baseada no karma da pessoa. A ú nica
coisa que o panteísmo e o materialismo têm em comum é que em nenhum dos dois há algo
ou alguém “fora” ou “além” do universo.
Panenteísmo
O panenteísmo é uma tentativa de unir o teísmo cristã o com o panteísmo; ele é claramente
distinto de ambos. A palavra panenteísta significa “tudo em deus”. Assim, os panenteístas
sustentam que tudo do mundo está de certa forma “em deus”. Ou, talvez seja melhor dizer,
como alguns fazem, que deus está no mundo, assim como uma alma está num corpo; isto é,
deus habita o mundo. Nesse sistema, deus nã o é identificado com o mundo (como no
panteísmo). Ele é mais do que o mundo e tem uma identidade pró pria, embora, ele nã o seja
transcendente. De fato, no panenteísmo, deus (que é pessoal) e o mundo (que é impessoal)
sã o coeternos e interdependentes. Deus precisa do mundo e o mundo precisa de deus.
Os panenteístas, tais como Alfred North Whitehead, Charles Hartshorne e Schubert M.
Ogden, ensinam que deus é bipolar. Há um pó lo concreto ou consequente, no qual deus é
visto como sendo finito, dependente e contingente. Mas há também um pó lo abstrato, no
qual deus é visto como ser infinito, independente e imutá vel. Deus está constantemente no
“processo de se tornar”, ou se movendo do primeiro pó lo para o ú ltimo. E considerando
que deus e o mundo sã o coeternos e coindependentes, todas as coisas estã o no mesmo
processo de se tornar. A histó ria nã o tem começo nem fim. Por conseguinte, o nome
“filosofia do processo”, ou “teologia do processo”, é aplicado a essa cosmovisã o.
No panenteísmo, o homem é completamente um agente moral livre. Assim, nã o existem
absolutos éticos. O homem nã o tem nenhuma imortalidade pessoal; ele meramente vive na
memó ria de um processo constante de “se tornar” deus.
Politeísmo
O politeísmo, algumas vezes encontrado entre os antigos gregos, egípcios e persas, ensina
que há dois ou mais deuses finitos que existem no universo, cada um com sua pró pria
esfera de autoridade e atividade. Os deuses normalmente têm uma influência direta sobre
os assuntos dos eventos humanos (diferente do deísmo). Eles podem até mesmo aparecer
ao homem em revelaçõ es, sonhos e visõ es. Alguns politeístas, tais como os mó rmons,
ensinam que os vá rios deuses estã o no processo de mutaçã o; isto é, há graus de perfeiçã o
que eles podem estar passando.
Diferentemente do politeísmo dos mó rmons (que assume padrõ es éticos), na maioria dos
sistemas politeístas, nã o há comumente nenhum padrã o ético. Normalmente, a ética é
relativa e localizada aos níveis de autoridade dos deuses. Todavia, paradoxalmente, o
homem poderá , no futuro, responder aos deuses pelo modo como ele viveu sua vida sobre
essa terra. No mormonismo, por exemplo, um homem exemplar pode até mesmo ascender
ao nível de divindade e governar seu pró prio universo.
Conclusão
O teísmo cristã o é a ú nica cosmovisã o ou filosofia verdadeira. Jesus Cristo, o Filó sofo
Mestre, deixa claro que ele é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14.6). Nã o há neutralidade.
Nã o há nenhuma tertium quid , nenhuma terceira alternativa. O Cristianismo, entã o, nã o é
uma espécie, é um gênero. Como ensinado em Gênesis 3, todas as falsas cosmovisõ es sã o o
resultado da Queda. Devido à Queda, o homem está alienado do Deus da Escritura,
resultando nas muitas falsas cosmovisõ es que têm aparecido ao longo da histó ria da
humanidade. É tarefa do teísta cristã o defender a verdade do teísmo cristã o contra todas as
falsas cosmovisõ es. Esperamos que essa breve visã o geral de alguns dos falsos “ismos” que
existem seja de alguma ajuda nessa tarefa.
[1]
Ronald H. Nash, Worldviews in Conflict , Zondervan (1992), pá g. 16. Publicado no Brasil como Cosmovisões em conflito
(Editora Monergismo).
[2]
Greg L. Bahnsen, “The Heart of the Matter”, em The Biblical Worldview (VII:1; Jan., 1991). Artigo disponível na
excelente coletâ nea de artigos de Bahnsen lançada pela Covenant Media (1996), com o título Always Ready: Directions For
Defending The Faith .
[3]
Entre tantos livros, veja Questões últimas (Editora Monergismo), de Vincent Cheung; O Universo ao lado: a vida
examinada (United Press), de James W. Sire; Questões Últimas da vida: uma introdução à filosofia (Editora Mackenzie), de
Ronald Nash; Cinema e fé cristã (Editora Ultimato), de Brian Godawa; A criação restaurada (Cultura Cristã ), de Albert M.
Wolters.
[4]
R. C. Sproul, Lifeviews (Old Tappan: Fleming H. Revell, 1986), pá g. 29.
[5]
Ronald H. Nash, Faith & Reason (Grand Rapids: Zondervan, 1988), pá g. 26.
[6]
Francis A. Schaeffer, The Complete Works of Francis A. Schaeffer (Westchester; Crossway Books, 1982), III:259.
[7]
C. Gregg Singer, From Rationalism to Irrationality (Phillipsburg: Presbyterian and Reformed, 1979), pá g. 37.
[8]
J. I. Packer, A Quest for Godliness (Wheaton: Crossway, 1990), pá g. 129.
[9]
J. Calvino, Commentaries , Vols. I-XXII (Grand Rapids: Baker, 1981), Commentary on Acts 17:22.
[10]
Agostinho, On Christian Doctrine 1.22; On the Soul and Its Origin 4.20.
[11]
J. Calvino, Institutes of the Christian Religion , Vols. I & II, Library of the Christian Classics, John T. McNeill, org.,
traduzido por Ford Lewis Battles (Filadélfia: Westminster, 1960), I:3:1-3.
[12]
Robert L. Reymond, A Christian View of Modern Science (Nutley: Presbyterian and Reformed, 1977), pá g. 10.
[13]
J. Calvino, Institutas , I:6:1.
[14]
Gordon H. Clark. “How Does Man Know God?” The Trinity Review (Julho/Agosto, 1989), org. John W. Robbins, pá g. 1.
[15]
Citado em Gordon H. Clark, First Corinthians (Trinity Foundation, 1991), pá g. 128.
[16]
Citado em John W. Robbins, “An Introduction to Gordon H. Clark”, Parte 2, The Trinity Review (Agosto, 1993), pá g. 3.
[17]
John W. Robbins, “An Introduction to Gordon H. Clark”, Parte 1, The Trinity Review (Julho, 1993), pá g. 4.
[18]
G. Clark, First Corinthians , pá g. 78.
[19]
John W. Robbins, Scripture Twisting in the Seminaries (Trinity Foundation, 1985), pá g. 110.
[20]
A Lei da Contradiçã o (ou Nã oContradiçã o) declara que A (que pode ser qualquer proposiçã o ou objeto) nã o pode ser
tanto B como nã oB ao mesmo tempo e no mesmo sentido.
[21]
Gordon H. Clark, “God and Logic,” The Trinity Review (Novembro/Dezembro, 1980), org. John W. Robbins, pá g. 4.
[22]
Singer, From Rationalism to Irrationality , pág. 33.
[23]
Agostinho, Letters , 143.7.
[24]
R. J. Rushdoony, The One and the Many (Fairfax: Thoburn Press, 1978), pá g. 2n.
[25]
Francis A. Schaeffer, He is There and He is Not Silent (Wheaton: Tyndale House, 1972), pá gs. 31-67, 14.
[26]
Veja Richard E. Bacon, “Two Essays,” uma resenha de Lord God of Truth , de Gordon H. Clark, e Concerning the Teacher
, de Aurélio Agostinho (Trinity Foundation, 1994), em The Blue Banner (Março & Abril, 1995), pá gs. 13-15.
[27]
Veja Ronald H. Nash, The Word of God and the Mind of Man (Grand Rapids: Zondervan, 1982), capítulos 6 e 8.
[28]
R. C. Sproul, Following Christ (Wheaton: Tyndale House, 1983), Part Four. pá g. 16.
[29]
Pelá gio foi um monge britâ nico do século quarto que propagou esse sistema de legalismo. Seus ensinos foram
firmemente combatidos por Agostinho.
[30]
Para um estudo detalhado da família e os vá rios deveres associados com essa instituiçã o, consulte a série de palestras
em á udio, A Directory of Domestic Duties , de Richard Bacon (Rowlett, TX: Blue Banner Publications, 1995).
[31]
Para um estudo adicional sobre a doutrina da igreja, veja W. Gary Crampton e Richard E. Bacon, Built Upon The Rock
(Dallas: Blue Banner Ministries, 1999).
[32]
Agostinho, City of God , 19.13-15.
[33]
John W. Robbins, “The Ethics and Economics of Health Care”, Journal of Biblical Ethics in Medicine (Florence, SC:
Biblical Medical Ethics, Inc.), org. por Hilton P. Terrell, Vol. 8, No. 2, 1994, pá gs. 23,24. O Dr. Robbins listou dez valores
bá sicos nesse artigo. Os presentes autores agruparam alguns deles com outros para sugerir um total de sete. Todas as
citaçõ es atribuídas ao Dr. Robbins nesse livro vêm das pá ginas listadas .
[34]
Interessantemente, a Segunda Emenda da Constituiçã o dos Estados Unidos da América (o “direito das pessoas de ter e
portar armas”) é baseada em 1 Samuel 13.19-22.
[35]
William Symington, Messiah the Prince (Edmonton: Still Waters Revival Books, 1990), pá gs. 234,235.
[36]
F. Schaeffer, Works , IV:27.
[37]
John W. Robbins, What is Christian Philosophy? (Trinity Foundation, 1994), pá g. 7.
[38]
Thomas B. Warren, Have Atheists Proved There is No God? (Nashville: Gospel Advocate Co., 1972), vii.
[39]
R. Nash, Faith & Reason , pá g. 177.
[40]
Gordon H. Clark, God and Evil: The Problem Solved (Trinity Foundation, 1996), pá g. 7. Na opiniã o dos presentes
autores, esse é o melhor livro já escrito sobre teodiceia.
[41]
J. Calvino, Institutas , III:23:2.
[42]
G. Clark, God and Evil , pá g. 9.
[43]
David Hume, Dialogues Concerning Natural Religion , parte 10.
[44]
Cf. Ludwig Feuerbach, Lectures on the Essence of Religion (Nova York: Harper and Row, 1967), pá g. 17; onde
Feuerbach escreve: “Essa minha doutrina é brevemente a seguinte: Teologia é antropologia”.
[45]
Um darwinista consistente nã o chamaria um homem de uma “criatura”, pois isso implicaria que o homem foi criado
por um Deus.
[46]
R. C. Sproul, Lifeviews , pá g. 71.
[47]
A palavra ateísta foi adicionada em parênteses depois de existencialismo, pois há uma forma de existencialismo
chamada de “existencialismo cristã o”, que é uma contradiçã o de termos.
[48]
Sø ren Kierkegaard é considerado por alguns como sendo um “existencialista cristã o”. Há alguns estudiosos que o
consideram como o pai do existencialismo.