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CAPITULO

Introdução à Psicologia
Cognitiva i

EXPLORANDO A PSICOLOGIA COGNITIVA

1. O que é Psicologia Cognitiva?


2. De que modo a Psicologia evoluiu como ciência?
3. De que modo a Psicologia Cognitiva evoluiu a partir da Psicologia?
4. De que modo as outras disciplinas contribuíram para o desenvolvimento da teoria e
da pesquisa na Psicologia Cognitiva?
5. De quais métodos a Psicologia Cognitiva se utiliza para estudar a maneira como as
pessoas pensam?
6. Quais são as questões atuais e os vários campos de estudo dentro da Psicologia
Cognitiva?

Definindo Psicologia Cognitiva


O que você vai estudar em um livro sobre Psicologia Cognitiva?

1. Cognição: as pessoas pensam.


2. Psicologia Cognitiva: os cientistas pensam sobre como as pessoas pensam.
3. Estudantes de Psicologia Cognitiva: as pessoas pensam sobre o que os cientistas pen
sam sobre como as pessoas pensam.
4. Professores que lecionam Psicologia Cognitiva: releia os itens anteriores.

Para sermos mais específicos, a Psicologia Cognitiva é o estudo de como as pessoas perce
bem, aprendem, lembram-se e pensam sobre a informação. Um psicólogo cognitivo poderá
estudar como as pessoas percebem várias formas, porquese lembram de alguns fatos e se es
quecem de outros, ou mesmo porque aprendem uma língua. Vejamos alguns exemplos:

• Por que os objetos parecem estar mais distantes do que realmente estão em dias ne
bulosos? Essa discrepância pode ser perigosa, inclusive enganando motoristas e cau
sando acidentes.
• Por que muitas pessoas conseguem se lembrar de uma experiência em especial, por
exemplo de um momento muito feliz ou algum constrangimento na infância, mas es
quecem os nomes de pessoas que conhecem há muitos anos?
2 Psicologia Cognitiva

• Por que muitas pessoas têm mais medo de viajar de avião do que de carro? Afinal, as
chances de acidente e morte são muito maiores no carro do que no avião.
• Por que sempre me lembro mais de alguém da minha infância do que de alguém que
conheci na semana passada?
• Por que os políticos gastam tanto dinheiro com suas campanhas na televisão?

Consideremos apenas a última dessas perguntas: Por que os políticos gastam tanto di
nheiro com suas campanhas na televisão? Afinal, quantas pessoas conseguem se lembrar dos
detalhes das propostas políticas dos candidatos ou de que maneira essas propostas diferem das
dos outros candidatos? Uma das razões pelas quais os políticos gastam tanto é a disponibili
dade heurística, que vamos estudar, no Capítulo 12, em "Raciocínio e tomada de decisão".
Com a utilização da heurística, podemos fazer julgamentos baseados em quão facilmente
recordamos algo percebido como instâncias relevantes de um fenômeno (Tversky, Kahne-
man, 1973). Tais julgamentos constituem a questão: em quem se deve votar em uma elei
ção. A tendência é votar em nomes familiares. Tom Vilsack, governador do estado de Iowa,
Estados Unidos, na ocasião da campanha pelas primárias em 2008, iniciou, mas rapida
mente desistiu, da competição para ser indicado como candidato à presidência dos Estados
Unidos. Sua desistência não ocorreu porque suas idéias diferiam das do partido. Ao contrá
rio, o Partido Democratagostava muito de suaplataforma. Na verdade, Vilsack desistiu por
que a falta de reconhecimento de seu nome inviabilizou o levantamento de recursos para
sua campanha. Ao final, os possíveis doadores sentiram que o nome de Vilsack não tinha
disponibilidade suficiente para que os eleitores votassem nele. Mitt Romney, outro candi
dato republicano não tão conhecido, entrou na disputa das primárias com John McCain e
Rudy Giuliani. Investiu muito dinheiro apenas para fazer com que seu nome pudesse ficar
psicologicamente disponível ao grande público. A verdade é que com a compreensão da
Psicologia Cognitiva, as pessoas conseguem entender muito daquilo que acontece no dia-
-a-dia de suas vidas.
Este capítulo introduz o campo da Psicologia Cognitiva. Descreve um pouco da histó
ria intelectual do estudo do pensamento humano. Dá ênfase especial a algumas questões
que surgem sempre que pensamos em como as pessoas pensam. A seguir, um breve resumo
dos métodos mais importantes, das questões e das áreas temáticas da Psicologia Cognitiva.
Por que estudamos a história deste campo ou de qualquer outro, então? De um lado,
quando se sabe de onde se vem, pode-se compreender melhor o percurso da jornada. Porou
tro, o ser humano aprende com os erros passados. Dessa forma, quando se comete algum erro,
este é novo, ou seja, já não é mais igual ao anterior. Mudou-se muito a maneira de lidar com
as questões fundamentais da vida. Contudo, algumas permanecem iguais. Em última análise,
pode-se aprender alguma coisa sobre como as pessoas pensam estudando como pensam sobre
o pensar.
O avanço das idéias, muitas vezes, implica uma dialética. Dialética é um processo de in
cremento em queas idéias evoluem como passar do tempo por meio de umpadrão de trans
formação. Qual é este padrão? Em uma dialética:

• Propõe-se uma tese. Uma tese é o enunciado de uma opinião. Por exemplo, muita
gente acredita que a natureza humana governa muitos aspectos do comportamento
humano, como a inteligência ou a personalidade (Sternberg, 1999). Entretanto, de
pois de algum tempo, alguns indivíduos observam falhas nessa tese.
• Cedo ou tarde, ou talvez logo em seguida, surge uma antítese. Uma antítese é um
enunciado que contraria a primeira opinião. Por exemplo, uma visão alternativa é
Capítulo 1 • Introdução à Psicologia Cognitiva 3

que nossa criação (o contexto ambiental em que somos criados) determina quase
inteiramente muitos aspectos do comportamento humano.
• Impreterivelmente, o debate entre a tese e a antítese conduz a uma síntese. Uma
síntese integra os aspectos mais confiáveis de cada uma das duas (ou mais) visões.
Por exemplo, no debate sobre a relação entre inato e adquirido, a interação entre
a nossa natureza inata e o contexto ambiental pode reger a natureza humana.

E importante compreender a dialética porque, às vezes, podemos pensar que, se uma


opinião está certa, outra, aparentemente contrastante, então, deverá estar errada. Por
exemplo, no meu próprio campo de conhecimento, ocorreu, muitas vezes, uma tendência
a se acreditar que a inteligência tanto pode ser inteira ou quase totalmente determinada
pela genética, ou então, que é completa ou quase inteiramente determinada pelo am
biente. Um debate similar também surgiu no campo de aquisição da linguagem. Embora
quase sempre, para nós, é melhor acreditar que tais assuntos não são questões excludentes
por si só, mas que são apenas exames de como as forças diferentes variam e interagem umas
com as outras. Na verdade, a mais recente controvérsia é que as opiniões sobre "natureza"
e "criação" são incompletas. Em nosso desenvolvimento, natureza e criação operam de ma
neira conjunta.
Se uma síntese fizer avançar o conhecimento sobre um determinado assunto, então ser
virá como uma tese nova. Em seguida, surgirá uma nova antítese, e assim por diante. Georg
Hegel (1770-1831) observou essa progressão dialética de idéias. Hegel foi um filósofo ale
mão que chegou às próprias idéiaspor intermédio da dialética, sintetizando algumas das opi
niões de seus antecessores e contemporâneos.

Antecedentes Filosóficos da Psicologia:


Racionalismo versus Empirismo
Onde e como começou o estudo da Psicologia Cognitiva? Normalmente, os historiadores
da Psicologia identificam suas primeiras raízes em duas abordagens diferentes para a com
preensão da mente humana:

• A Filosofia busca entender a natureza geral de muitos aspectos do mundo, parte por
meio da introspecção, ou seja, o exame das idéias e experiências internas (íntro = para
dentro; spectione = olhar, inspecionar).
• A Fisiologia busca um estudo científico das funções vitais dos organismos vivos, basi
camente por meio de métodos empíricos (baseados na observação).

O Racionalismo e o Empirismo são duas abordagens para o estudo da mente. O racio


nalista acredita que o caminho para o conhecimento se dá por meio da análise lógica. Em
contrapartida, Aristóteles (naturalista e biólogo, além de filósofo) foi um empirista. O em-
pirista acredita que se adquire conhecimento por meio da evidência empírica, ou seja, esta
evidência é obtida por intermédio da experiência e da observação (Figura 1.1).
O Empirismo orienta diretamente à investigação empírica da Psicologia. Ao contrário,
o Racionalismo é muito importante no desenvolvimento da fundamentação teórica. As teo
rias racionalistas, sem qualquer ligação com a observação, não podem ser, portanto, válidas.
Entretanto, grandes quantidades de dados empíricos, sem uma estrutura teórica organizadora,
também podem não fazer sentido. Podemos considerar a visão racionalista do mundo como
uma tese, enquanto a visão empirista seria a antítese. A maioria dos psicólogos, atualmente,
Psicologia Cognitiva

FIGURA 1.1

(a)

(a) Segundo oracionalista, o único caminho para a verdade é a reflexão contemplativa; (b)Segundo o empirista, oúnico
caminho para a verdade é a observação meticulosa. A Psicologia Cognitiva, assim como outras ciências, depende do
trabalho tanto dos racionaiistas como dos empiristas.

buscam a síntese dessas duas teses. Fundamentam suas observações empíricas na teoria. Por
outro lado, usam essas observações para revisar suas próprias teorias.
As idéias contrastantes do Racionalismo e do Empirismo tomaram-se notórias a partir
do racionalista francês René Descartes (1596-1650) e do empirista inglês John Locke
(1632-1704). Descartes considerava o método introspectivo e reflexivo superior aos méto
dos empíricos parase encontrar a verdade. Locke, por sua vez, era muitoentusiasmado com
o método da observação empírica (Leahey, 2003).
Locke acreditava que os seres humanos nascem sem qualquer conhecimento e, por
tanto, precisam buscá-lo por meio da observação empírica. O conceito de Locke para isso é
o termo tabula rasa (que em latim significa "folha de papel em branco"). Sua idéia é de que
a vida e a experiência "escrevem" o conhecimento no indivíduo. Sendo assim, para Locke,
o estudo da aprendizagem era fundamental para a compreensão da mente humana. Ele acre
ditava que não existiam de forma alguma idéias inatas. No século XVIII, o filósofo alemão
Immanuel Kant (1724-1804) sintetizou dialeticamente as idéias de Descartes e Locke argu
mentando que tanto o Racionalismo como o Empirismo têm seu lugar e que ambos devem
trabalhar juntos na busca pela verdade. Atualmente, a maioria dos psicólogos aceita a sín
tese de Kant.

Antecedentes Psicológicos da Psicologia Cognitiva


As Primeiras Dialéticas na Psicologia da Cognição
Estruturalismo
Uma das primeiras dialéticas na história da Psicologia ocorreu entre o Estruturalismo e o
Funcionalismo (Leahey, 2003; Morawski, 2000). O Estruturalismo foi a primeira grande es
colade pensamento na Psicologia, que busca entendera estrutura (configuração dos elemen
tos) da mente e suas percepções pela análise dessas percepções em seus componentes
constitutivos. Consideremos, por exemplo, a percepção de uma flor.
Os estruturalistas analisam essapercepção em termos de cor, forma geométrica, relações
de tamanho e assim por diante.
Capítulo 1 • Introdução à Psicologia Cognitiva 5

Um psicólogo alemão cujas ídeias mais tarde contribuiriam para o desenvolvimento do


Estruturalismo foi Wilhelm Wundt (1832-1920). Wundt nem sempre foi considerado o fun
dador da Psicologia Experimental e usava uma grande variedade de métodos em suas pesqui
sas. Um deles era a introspecção. Introspecção é um olhar interior para as informações que
passam pela consciência. Um exemplo são as sensações experimentadas quando se olha para
uma flor. Com efeito, analisamos nossas próprias percepções. Wundt defendia o estudo das ex
periências sensoriais por meio da introspecção.
Wundt teve muitos seguidores, sendo um deles o norte-americano Edward Titche-
ner (1867-1927). Titchener (1910) ajudou a trazer o Estruturalismo para os Estados Uni
dos. Outros psicólogos pioneiros criticaram tanto o método (introspecção) como o foco
(estruturas elementares da sensação) do Estruturalismo.

Funcionalismo: Uma Alternativa para


o Estruturalismo
Uma alternativa para o Estruturalismo sugeria que os psicólogos deveriam concentrar-se mais
nos processos do pensamento do que nos conteúdos. O Funcionalismo busca entender o que as
pessoas fazem e por que o fazem. Esta pergunta principal estava em desacordo com os estru-
turalistas, que queriam saber quais eram os conteúdos elementares (estruturas) da mente
humana. Os funcionalistas sustentavam que a chave para o entendimento da mente humana
e dos comportamentos era o estudo dos processos de como e por que a mente funciona como
funciona, em vez de estudar os conteúdos e os elementos estruturais da mente.
Os funcionalistas estavam unidos pelos tipos de perguntas que faziam, mas não necessa
riamente pelas respostas que encontravam ou pelos métodos que utilizavam para chegar a es
sas respostas. Como os funcionalistas acreditavam no uso de qualquer método que melhor
respondesse às perguntas de um determinado pesquisador, parece natural que o Funcionalismo
tenha levado ao Pragmatismo. Os pragmatistas acreditam que o conhecimento só pode ser va
lidado por sua utilidade: o que se pode fazer com isto? Estão interessados não apenas em sa
ber o que as pessoasfazem, mas também querem descobrir o que podemos fazer com o nosso
conhecimento sobre o que as pessoas fazem. Por exemplo, eles acreditam na importância da
Psicologia do Aprendizado e da Memória. Por quê? Porque pode nos ajudar a melhorar o de
sempenho das crianças na escola. O Pragmatismo também pode nos auxiliar a lembrar o
nome de pessoas que conhecemos, mas do qual nos esquecemos rapidamente.

Agora, imagine-se colocando a idéia do Pragmatismo em prática. Pense so APLICAÇÕES


bre as maneiras de tornar a infonnação que você está aprendendo neste livro PRÁTICAS DA
de modo que sejam mais úteis a você. Parte desse trabalho já foi feito - veja PSICOLOGIA
que o capítulo começa com questões que tornam as informações mais COGNITIVA
coerentes e úteis, e o resumo retorna a essas perguntas. O texto responde
de modo satisfatório às questões apresentadas no início do capítulo? Ela
bore suas perguntas e suas anotações sob a forma de respostas. Além disso,
tente estabelecer uma relação deste material com o de outros cursos ou
atividades das quais participa. Por exemplo, você pode ser chamado a ex
plicar a um amigo como funciona um programa de computador. Uma boa
forma de começar seria perguntar a essapessoa se ela tem alguma pergunta
a respeito. Assim, as informações que você oferecer serão mais úteis ao seu
amigo, em vez de obrigá-lo a buscar a informação de que necessita em uma
exposição longa e unilateral.
6 Psicologia Cognitiva

Um líder na condução do Funcionalismo em direção ao Pragmatismo foi William James


(1842-1910). Sua principal contribuição ao campo da Psicologia foi um único livro: Prin
cípios da Psicologia (1890/1970). Ainda hoje, os psicólogos cognitivos apontam, com fre
qüência, os escritos de James nas discussões de questões centrais em seu campo de
conhecimento, como atenção, consciência e percepção. John Dewey (1859-1952) foi mais
um dos primeiros pragmatistas que influenciaram de maneira profunda o pensamento con
temporâneo na Psicologia Cognitiva. Dewey é lembrado basicamente por sua abordagem
pragmática acerca do pensamento e da educação.

Associacionismo: Uma Síntese Integradora


O Associacionismo, assim como o Funcionalismo, foi menos uma escola sistemática de
Psicologia e mais uma forma de pensar influente. O Associacionismo investiga como os even
tos e as idéias podem se associar na mente propiciando a aprendizagem. Por exemplo, as
associações podem resultar da contiguidade (associar informações que tendem a ocorrer jun
tas ou quase ao mesmo tempo), da similaridade (associarassuntoscom traços ou propriedades
semelhantes) ou do contraste (associar assuntos que parecem apresentar polaridades, como
quente/frio, claro/escuro, dia/noite).
No fim dos anos 1800, o associacionista Hermann Ebbinghaus (1850-1909) foi o pri
meiro pesquisador a aplicar os princípios associacionistas de maneira sistemática. Ebbin
ghaus estudou e observou especificamente seus próprios processos mentais. Contou os
próprios erros e registrou seus tempos de resposta. Por meio de autoobservações, estudou
como as pessoas aprendem e se lembram dos conteúdos por meio da repetição consciente do
material a ser aprendido. Entre outras conclusões, descobriu que a repetição possibilita fi
xar as associações mentais de maneira mais consistente na memória. Dessa forma, a repeti
ção auxilia o aprendizado (ver o Capítulo 6).
Outro associacionista influente, Edward Lee Thorndike (1874-1949), sustentava que
o papel da "satisfação" é a chave para a formação de associações. Thorndike chamou esse
princípio de Lei do Efeito (1905): um estímulo tenderá a produzir uma determinada resposta
ao longo do tempo se o organismo for recompensado com essa resposta. Ele acreditava que
um organismo aprendia a responder de uma determinada maneira (o efeito) em uma dada
situação se fosse constantemente recompensado por isso (a satisfação, que serve como estí
mulo para ações futuras). Assim, uma criança que recebe uma recompensa por resolver cor
retamente problemas de aritmética, irá aprender a fazê-lo sempre assim, porque estabelece
uma associação entre a solução válida e a recompensa.

Do Associacionismo ao Behaviorismo
Outros pesquisadores contemporâneos de Thorndike conduziram experimentos com ani
mais para investigar as relações de estímulo e resposta com métodos diferentes dos utilizados
por Thorndike e seus colegas associacionistas. Esses cientistas transpuseram a linha entre o
Associacionismo e o campo emergente do Behaviorismo. O Behaviorismo é uma perspectiva
teórica segundo a qual a Psicologia deveria se concentrar apenas na relação entre o com
portamento observável, de um lado, e os eventos ou estímulos ambientais, de outro. A idéia
era materializar o que quer que tenha sido denominado de "mental" (Lycan, 2003). Alguns
desses pesquisadores, como Thorndike e outros associacionistas, estudaram respostas volun
tárias (embora, talvez, carecessem de algum pensamento consciente, como no trabalho de
Thorndike). Outros estudaram respostas desencadeadas involuntariamente em resposta ao
que parecem ter sido eventos externos não relacionados.
Capítulo 1 • Introdução à Psicologia Cognitiva 7

Na Rússia, o fisiologista ganhador do Prêmio Nobel, Ivan Pavlov (1849-1936) pesquisou


esse tipo de comportamento de aprendizado involuntário, começando com a observação de
cachorros salivando ao, simplesmente, verem o técnico do laboratório que os alimentava.
Essa respostaocorria antes mesmoque os cachorros vissem se o técnico lhes trazia comida ou
não. Para Pavlov, essa resposta indicava uma forma de aprendizado: o aprendizado clássico
condicionado, sobre o qual os cachorros não tinham qualquer controle consciente..Na mente
deles, algum tipo de aprendizado involuntário relacionava o técnico à comida (Pavlov,
1955). O extraordinário trabalho de Pavlov abriu caminho para o desenvolvimento do
Behaviorismo. O condicionamento clássico compreende mais do que uma simples associa
ção com base na contiguidade temporal, por exemplo, a comida e o estímulo condicionado
que ocorriam quase ao mesmo tempo (Rescorla, 1967). O condicionamento eficaz requer
contingência, por exemplo, a apresentação de comida sendo contingente com a apresenta
ção do estímulo condicionado (Rescorla e Wagner, 1972; Wagner e Rescorla, 1972).
O Behaviorismo pode ser interpretado como uma versão extrema do Associacionismo,
que se concentra inteiramente na associação entre o ambiente e um comportamento obser
vável. Segundo alguns behavioristas radicais, quaisquer hipóteses a respeito de pensamen
tos e formas de pensar internas são mera especulação.

Os Proponentes do Behaviorismo
O "pai" do Behaviorismo radical foi John Watson (1878-1958). Watson não via qualquer
utilidade para os conteúdos ou mecanismos mentais internos e acreditava que os psicólogos
deveriam se concentrar apenas no estudo do comportamento observável (Doyle, 2000).
Ele descartou o pensamento como fala subvocalizado. O Behaviorismo era também diferente
dos movimentos anteriores da Psicologia por redirecionar a ênfase da pesquisa experimental
em animais ao invés de humanos. Historicamente, grande parte do trabalho behaviorista
tem sido até hoje realizada com animais de laboratório, como ratos, por possibilitarem um
controle muito maior sobre os relacionamentos entre o ambiente e o comportamento em
relação a ele. Contudo, um problema com relação à utilização de animais é determinar se a
pesquisa pode sergeneralizada em seres humanos (ou seja, aplicada de forma mais geral a seres
humanos ao invés de apenas aos tipos de animais estudados).
B. F. Skinner (1904-1990), behaviorista radical, acreditava que quase todas as formas do
comportamento humano, e não apenas o aprendizado, podiam ser explicadas por compor
tamentos emitidos em resposta ao ambiente. Skinner desenvolveu pesquisas basicamente
com animais não-humanos e rejeitou os mecanismos mentais, acreditando, por outro lado,
que o condicionamento operante - que envolvia o fortalecimento ou o enfraquecimento do
comportamento, dependente da presença ou ausência de reforço (recompensa) ou punição
- pudessem explicar todas as formas do comportamento humano. Skinner aplicou sua aná
lise experimental do comportamento a muitos fenômenos psicológicos, tais como a aprendi
zagem, a aquisição da linguagem e a resolução de problemas. Principalmente por causa da
presença intensa de Skinner, o Behaviorismo dominou o campo de estudosda Psicologia por
muitas décadas.

Os Behavioristas se Atrevem a Espiar Dentro da Caixa Preta


Alguns psicólogos rejeitaram o Behaviorismo radical. Tinham muita curiosidade em saber
o que havia nessa caixa misteriosa. Por exemplo, Edward Tolman (1886-1959) acreditava
que, para entender o comportamento, era necessáriose levar em conta o propósito e o plano
para o comportamento. Tolman (1932) acreditava que todo comportamento era dirigido a
algum objetivo. Por exemplo: o objetivo de um rato em um labirinto de laboratório seria o
de encontrar comida dentro desse labirinto. Tolman é tido, por vezes, como um precursor
da moderna Psicologia Cognitiva.
8 Psicologia Cognitiva

Outra crítica ao Behaviorismo (Bandura, 1977b) é que, nele, o aprendizado surge não
apenas em função de recompensas diretas pelo comportamento. Também pode ser social,
resultando de observações das recompensas ou punições dadas aos outros. A capacidade
para aprender por meio da observação está bem documentada e pode ser comprovada em
seres humanos, macacos, cães, pássaros e até mesmo em peixes (Brown, Laland, 2001; La-
land, 2004; Nagell, Olguin, Tomasello, 1993). No ser humano, essa habilidade está pre
sente em todas as idades, sendo observada tanto em crianças como em adultos (Mejia-Arauz,
Rogoff, Paradise, 2005). Essa teoria dá ênfase à maneira como se observa, se modela, o pró
prio comportamento a partir do comportamento dos outros. Aprendemos pelo exemplo.
Esta consideração de aprendizado social abre caminho para se examinar o que está aconte
cendo na mente do indivíduo.

Psicologia da Gestalt
Dentre os inúmeros críticos do Behaviorismo, os psicólogos da Gestalt certamente estão
entre os mais ávidos. A Psicologia da Gestalt afirma que se compreende melhor os fenôme
nos psicológicos quando se olha para eles como todos organizados e estruturados. Se
gundo essa visão, não se pode compreender totalmente o comportamento quando se
desmembram os fenômenos em partes menores. Por exemplo, os behavioristas têm a ten
dência de estudar a resolução de problemas buscando o processamento subvocal - eles
buscam o comportamento observável por meio do qual a resolução do problema pode ser
compreendida. Os gestaltistas, ao contrário, estudam o insight, buscando entender o
evento mental não observável por meio do qual alguém vai do ponto em que não tem
idéia de como resolver um problema até o ponto em que entende completamente em um
simples instante de tempo.
A máxima "o todo é diferente da soma de suas partes" resume muito bem a perspectiva
gestaltista. Para entender a percepção de uma flor, por exemplo, teríamos de levar em conta
o todo da experiência. Não se poderia entender essa percepção em termos de uma descri
ção de formas, cores, tamanhos e assim por diante. Da mesma forma, como mencionado no
parágrafo anterior, não poderíamos entender a resolução de problemas simplesmente exa
minando os elementos isolados do comportamento observável (Kõhler, 1927, 1940; Wer-
theimer, 1945/1959).

O Surgimento da Psicologia Cognitiva


Uma abordagem mais recente é o Cognitifismo, ou seja, a crença de que grande parte do
comportamento humano pode ser compreendida a partir de como as pessoas pensam. O
Cognitivismo é, em parte, uma síntese das formas anteriores de análise, como o Behavio
rismo e o Gestaltismo. Da mesma forma que o Gestaltismo, a Psicologia Cognitiva utiliza
uma análise quantitativa precisa para estudar como as pessoas aprendem e pensam.

O Papel Inicial da Psicobiologia


Ironicamente, um dos ex-alunos de Watson, Karl Spencer Lashley (1890-1958), questionou
de forma contundente a teoria behaviorista de que o cérebro é um órgão passivo que simples
mente reage às contingências comportamentais fora do indivíduo (Gardner, 1985). Ao con
trário, Lashleyconsidera o cérebro como um organizadorativo e dinâmico do comportamento.

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