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Como meditar

Controle do Corpo

Os sete aspectos do Buda Vairochana sentado formam o alicerce da meditação


budista. Segue-se uma discussão a esse respeito

1 1. A postura de lótus

De maneira geral, a postura de lótus é comprovadamente a melhor para a


meditação sentada. O lótus completo é uma postura de pernas cruzadas em
que os pés ficam sobre as coxas, logo acima dos joelhos. O meio-lótus é uma
postura de pernas cruzadas em que apenas um pé é colocado sobre a coxa,
enquanto o outro permanece sob a outra coxa.
Considera-se a postura de lótus completo a melhor para meditação, porque ela
é muito eficaz para estabilizar o corpo. Caso seja incômoda, adota-se o meio-
lótus e, se tampouco esta se mostrar confortável, pode-se sentar em uma
cadeira ou banquinho de meditação. Independentemente da postura escolhida,
a coisa mais importante é que a coluna esteja ereta e não apoiada em nada.

Fontes chinesas geralmente reconhecem dois tipos de posição de lótus


completo. Em uma delas, o pé esquerdo é colocado sobre a coxa direita e
depois o pé direito sobre a coxa oposta, na chamada “postura auspiciosa”,
utilizada para alcançar bênçãos. Quando a ordem de colocação dos pés é
invertida, a posição é utilizada para dominar Mara (Demônio da morte) e
chamada de “postura de dominação de Mara”.

2. Posição das mãos

Depois de se colocar na postura sentada, o praticante deve repousar as mãos


confortavelmente no colo, com o dorso de uma sobre a palma da outra. A ponta
dos polegares deve se tocar levemente. Esse gesto é ótimo para a circulação
de energias do organismo e é chamado Darmadhatu mudra.

3. Posição da coluna

A coluna é o principal centro nervoso do corpo, onde as energias das


extremidades se reúnem, e, portanto, é importante que ela fique ereta durante
a meditação. Quem tem costas fracas ou não está habituado a sentar-se sem
apoio talvez necessite de algum tempo para se acostumar. Para a maioria das
pessoas, não haverá maiores dificuldades para sentar corretamente sem
necessidade de muita prática. A coluna deve ficar ereta durante a meditação,
mas não rígida, tesa ou artificialmente ereta. Acima de tudo, a postura de
meditação deve suscitar uma sensação de relaxamento e comodidade. Não
leva muito tempo para se aprender a gostar do ato físico de se sentar para
meditar.

4. Posição dos ombros e do peito

Os ombros devem ficar confortavelmente abertos, em posição tal que permita o


relaxamento do peito e deixe a respiração fluir suavemente.
5. Posição do pescoço e da cabeça

Manter a cabeça e o pescoço eretos. Se a cabeça ficar demasiadamente


inclinada para a frente, a circulação no pescoço será prejudicada. Em uma
visão lateral, as orelhas devem estar alinhadas diretamente sobre os ombros.
Dessa forma, a inspiração poderá fluir suavemente pelo nariz em seu caminho
para os pulmões e a circulação por todo o abdome e pela cavidade torácica
será excelente. Atenção aos músculos da nuca: se estiverem relaxados e bem
alinhados, eles levarão as costas à posição correta com a maior facilidade.

6. Boca

Os maxilares e os lábios devem ficar levemente cerrados. A ponta da língua


será mantida suavemente atrás dos dentes superiores.

7. Olhos

Em regra, é melhor que os iniciantes em meditação deixem os olhos


ligeiramente abertos e fixem o olhar em um ponto imaginário à sua frente numa
distância de no máximo um metro. Assim, evita-se a sonolência.
Essas são as sete posturas básicas para a prática da meditação. A seguir,
darei outros oito detalhes que também se mostram importantes para o conforto
e a eficácia da postura de meditação.

1. Paz

Arranjar o assento e a sala onde se medita de forma a promover sensação de


paz e conforto.

2. Vestimentas

Roupas justas, cintos, relógio, óculos, joias ou qualquer vestimenta que


restrinja a circulação devem ser desapertados ou retirados antes da meditação.

3. O assento

Utilizar uma almofada ou colchonete confortável, que não escorregue nem se


deforme facilmente, ao se sentar em lótus ou meio-lótus. A boa almofada é
larga o suficiente para apoiar pernas e joelhos e tem espessura de cerca de
quatro dedos.

Se essa posição não for confortável, recorrer a um banquinho próprio para


meditação, ou à borda de uma cadeira ou cama dura. A posição é muito
importante na meditação. O corpo e os hábitos das pessoas são tão diferentes
que é impossível definir apenas uma ou duas regras para o sentar-se.

Repetindo: conforto e coluna ereta sem apoio são os elementos fundamentais


da boa postura para a meditação.

4. Cobrir os joelhos

A circulação se desacelera durante a meditação; portanto, é fundamental


manter os joelhos aquecidos. Se o clima estiver frio, os joelhos devem ser
cobertos com uma manta ou toalha.

5. Purificar a respiração

Repita o seguinte exercício três vezes: inspire pelo nariz e expire pela boca. Ao
expirar, imagine que está eliminando toxinas e impurezas de seu organismo.
Tanto a inspiração como a expiração devem ser lentas e conscientes.

Quem ainda não se sentir relaxado após o exercício deve repeti-lo.

6. Achar a posição confortável


Faça algumas torções da coluna para ambos os lados e depois fique imóvel.
Caso a postura ainda não esteja confortável, torça novamente e observe. É
muito importante manter a imobilidade durante a meditação. Movimentos
eventuais são tolerados, mas o meditador precisa se esforçar para ficar
totalmente imóvel por longos períodos de tempo.

7. Rosto

Assim como todas as outras partes do corpo, o rosto deve ficar relaxado. Um
sorriso muito sutil, desde que natural, é uma boa expressão facial para a
meditação. O rosto não deve ficar rígido ou severo.

8. As costas não devem se apoiar em nada

Durante a meditação, as energias do organismo naturalmente começam a se


canalizar na coluna e subir por seu interior. Se as costas estiverem apoiadas,
esse fluxo natural será bloqueado.

Os três elementos mais fundamentais da postura de meditação são conforto,


imobilidade e coluna ereta sem apoio. A meditação deve ser uma experiência
agradável; assim, o conforto precisará ser o maior possível. A imobilidade
durante a meditação ajuda a canalizar e elevar todas as energias do
organismo. A coluna ereta que não se apoia em nada cria um canal para essas
energias subirem a centros mais elevados.

O samádi é como a água pura e limpa, pois lava todas as impurezas.

Tratado sobre a Perfeição da Grande Sabedoria

Controle da respiração

A principal finalidade do controle da respiração é tornar mais calmo e refinado


um ritmo irregular ou pesado. Quando o corpo estiver imóvel e a respiração
controlada, a mente naturalmente se acalmará.

Falamos de “controle” da respiração, mas é importante lembrar que isso se


consegue por meio da observação. Querer forçar a respiração a se tranquilizar
só trará problemas. A simples observação da respiração é a melhor forma de
desacelerar e acalmar seu ritmo.

As fontes chinesas geralmente reconhecem quatro tipos de respiração.

1. Respiração com vento: o tipo que produz som nas narinas.


2. Respiração irregular: é silenciosa mas irregular, com interrupções.
3. Respiração não refinada: é silenciosa e regular, mas não é refinada. Não é tão
confortável quanto a do quarto tipo.
4. Respiração correta: é silenciosa, regular e refinada, além de ser tranquila e
agradável. Esse tipo de respiração infunde grande paz na mente e no coração.

A forma mais rápida de conseguir o quarto tipo de respiração é simplesmente


pela observação. Se você tentar forçar determinado tipo de respiração, é quase
certo que irá fracassar. A paz criada ao redor do praticante durante a
meditação crescerá continuamente com a prática. Com o tempo, será possível
alcançar paz e serenidade com facilidade. Quando a respiração e o corpo
estão tranquilos, a mente tem, por assim dizer, um lugar de onde pode
efetivamente contemplar e compreender a si própria. Quando a respiração e o
corpo estão em paz, a mente pode entrar em samádi.

A importância da respiração é evidenciada no seguinte trecho de Seis


Maravilhosos Ensinamentos, um prestigiado livro sobre meditação que registra
uma palestra proferida pelo grande monge Zhiyi (538-597) no Templo Wa-
Guan, localizado onde hoje é a Província Jiangsu. Desconhece-se a data
precisa da palestra.

A “maravilhosa porta do acompanhamento” abre caminho para dezesseis


darmas (fenômenos) excepcionais. O primeiro deles é observar a inspiração. O
segundo é observar a expiração. O terceiro é observar a extensão das
inspirações e expirações. O quarto é observar o ar inspirado preencher
inteiramente o corpo. O quinto é eliminar todos os movimentos corporais. O
sexto é absorver felicidade na mente. O sétimo é absorver alegria na mente. O
oitavo é absorver todas as atividades mentais na mente. O nono é criar
felicidade na mente. O décimo é unir todas essas atividades na mente. O
décimo primeiro é descobrir libertação na mente. O décimo segundo é
contemplar a impermanência. O décimo terceiro é contemplar a dispersão de
todas as coisas. O décimo quarto é contemplar a ausência de desejo. O
décimo quinto é contemplar a extinção. O décimo sexto é contemplar o perfeito
desapego.

Controle da mente

A mente sem treino tem vontade própria. Meditadores costumam compará-la a


um macaco embriagado que cambaleia a esmo pela floresta, sem
compreensão e sem o mínimo autocontrole. Nossa mente parece nos
pertencer, mas basta sentar com o objetivo de examinar seu funcionamento
mais de perto para percebermos que ela simplesmente não nos obedece.

O Shastra Yogacharabhumi descreve nove diferentes níveis de equilíbrio


meditativo, ou “permanência mental”. Podemos começar a aprender a controlar
a mente estudando esses estágios de equilíbrio e comparando-os com nossa
própria meditação.

1. Permanência interiorizada
Esse é o primeiro estágio, em que a atenção é retirada do exterior e
completamente interiorizada.

2. Permanência nivelada

No início desse estágio, a mente está interiorizada, mas a atenção caracteriza-


se por ser descontinuada e errática. Ora há um tipo de percepção, ora outro e
ainda outro.

A forma de trabalhar com esse estado mental é simplesmente deixar que os


pensamentos fluam. Acompanhe-os de momento a momento sem se apegar a
nenhum deles. Com a prática, esse tipo de consciência descontínua se
transformará gradualmente em um estado de tranquila uniformidade, no qual a
percepção se apresenta clara e contínua.

3. Permanência serena

Calma e paz maravilhosas são suas características. A chegada desse estágio


assemelha-se à chegada do outono em climas temperados: a estação não vem
de uma vez só. À medida que vai se acabando o verão e o outono e o inverno
se aproximam, a Terra se esfria gradualmente. Um ou dois dias de
temperaturas mais baixas serão seguidos por séries de três ou quatro dias de
temperatura ainda mais baixa. Mais adiante, haverá frentes frias prolongadas.
Enfim, quando o inverno se instalou, os dias quentes terão se transformado em
saudade.

Nessa metáfora, o surgir da permanência serena é como a chegada do outono


e do inverno. Inicialmente, a pessoa percebe uma leve mudança; depois
habitua-se a ela. Quando reconhecer o aparecimento da permanência serena
em sua meditação, perceba suas qualidades e valorize seu aprofundamento.

4. Quase permanência

Nesse estágio de sua prática, o meditador vivencia períodos em que nenhum


pensamento ilusório é gerado. É o momento em que ele aprende a perceber
quando os pensamentos ilusórios estão prestes a surgir, antes mesmo que
apareçam. Essa capacidade lhe possibilita proteger sua meditação contra
distrações externas e internas.

5. Controle

Nesse estágio, existe uma compreensão profunda dos méritos do samádi e o


pleno entendimento de que os Dez Aspectos são as causas de toda ilusão. Os
Dez Aspectos são forma, som, cheiro, paladar, toque, ganância, raiva,
ignorância, masculinidade e feminilidade. Quem chega a esse ponto conquistou
a própria mente e não mais será presa de sua excitabilidade.
6. Grande paz

Esse estágio caracteriza-se por uma calma profunda gerada pela compreensão
plena de que a ganância, a raiva e a ignorância constituem a fonte de toda
ilusão.

7. Paz suprema

Nesse estágio, pensamentos ilusórios não têm a menor possibilidade de surgir.


A mente fica em estado de completa naturalidade e liberdade. O que quer que
entre ou saia dela simplesmente entra ou sai, não deixando nenhum resíduo.

8. Concentração

Estágio em que a mente se concentra em um único ponto, descansando em si


mesma e completa em si mesma. Nada falta e nenhuma interrupção da
consciência pode ocorrer. Algum esforço é necessário para se alcançar este
estágio.

9. Equanimidade

Esse estágio só chega depois de longa prática. Nenhum esforço é necessário


para alcançá-lo. Nele, a mente entra na plenitude do samádi. A virtude é
mantida sem esforço e o mal fica à distância, sem tentar entrar.

Enquanto você observa esses nove estágios, é sempre bom procurar descobrir
onde está sua mente. A mente búdica não ocupa um lugar — está além de
qualquer localização; portanto, uma vez que as profundezas da sua própria
mente são a mente búdica, deduz-se que sua mente, em termos fundamentais,
também está além da localização.

Nosso apego ao pensamento ilusório é o que nos prende ao samsara. E é esse


mesmo apego que nos impede de alcançar estados profundos de samádi na
meditação. A ilusão mais fundamental da mente é sua obstinada necessidade
de se aferrar às coisas – ideias, conceitos, desejos, formas, emoções, pessoas
etc. A mente é como uma grande mão que sempre quer agarrar tudo o que se
aproxima. Os budistas chineses aproveitam essa necessidade da mente para
fazê-la se apegar a algo que seja uma ferramenta para sua libertação.

A Explicação Graduada sobre a Perfeição na Meditação ensina cinco métodos


que utilizam a própria tendência de se aferrar às coisas como ferramenta para
nos libertar dela. Esses métodos agem como uma armadilha para o habitual
apego da mente, fazendo-a se fixar em algo que a libertará da ilusão.

A palavra chinesa usada para a ideia de apego é zhi, que significa “prender”,
“acoplar”, “afivelar”. É o mesmo termo utilizado nas situações em que se
pretende denotar o estado de quem está preso ao samsara ou ao próprio
carma. No contexto desses cinco métodos, zhi pode ser traduzido como
“concentrar”; infelizmente, uma distinção importante seria perdida. Nestes
exercícios, tira-se proveito da tendência de fixar-se, que é própria da mente, e
que é também a mesma tendência utilizada para formar desejos, medos ou
quaisquer outros apegos que nos prendam a este mundo.

1. Fixe a mente na coroa da cabeça

A Explicação Graduada sobre a Perfeição da Meditação aconselha-nos a “fixar


a mente na coroa da cabeça” como meio de superar a sonolência e o torpor. A
mente pode ser preguiçosa em seus apegos. O sono, a confusão e as
tumultuadas emoções de tateante ignorância são geralmente tão atraentes
para ela quanto as resplandecentes formas e cores dos desejos percebidos
com clareza. Elevando os apegos inferiores à coroa da cabeça, avançamos
muito rumo à superação daquilo que nos prende à ilusão. Esse mesmo texto
adverte que, em alguns casos, o abuso dessa técnica pode causar sensações
físicas descritas como “vento no corpo” ou relacionadas à impressão de flutuar.
Caso isso aconteça, convém interromper o uso da técnica.

2. Fixe a mente nos pontos onde os cabelos se prendem ao couro


cabeludo

Esses são excelentes pontos para a concentração, pois é fácil senti-los. A


maioria das pessoas tem bons resultados ao tentar essa técnica. É uma prática
que pode levar à compreensão quase visual do esqueleto humano e à
percepção do quanto o corpo é efêmero. O abuso dessa técnica pode, em
alguns casos, levar os olhos a virar para cima e a se ver nuvens de cores
brilhantes ou mosaicos abstratos coloridos. Essas formas podem levar a mente
a ver imagens ainda mais confusas e até mesmo provocar desmaios. Por isso,
é importante não se exceder na prática desse tipo de meditação.

3. Fixe a mente no interior das narinas

As narinas são portais que permitem a passagem do ar para dentro e para fora
do corpo. Se a atenção focalizar seu interior, logo a mente se perde no
movimento de entrada e saída do ar. Em pouco tempo, os pensamentos param
de surgir. Essa técnica é ótima para ajudar a perceber a impermanência do
corpo e de todas as coisas. É também uma das melhores para acalmar a
mente e levá-la ao samádi.

4. Fixe a mente no umbigo

O umbigo é o “oceano da respiração”, constituindo uma fonte central de


energia vital no corpo humano. Dada sua importância, esse ponto é também
chamado de “palácio central” em chinês. Ao fixar a mente no umbigo durante a
meditação, fazemos com que sangue e linfa fluam para o centro do corpo. Esse
fluxo tem muitas propriedades medicinais e pode curar muitas doenças. Ao
utilizar tal técnica, é também possível ter a visão das 36 principais partes do
corpo reconhecidas no budismo. As mulheres devem ser cautelosas, evitando
recorrer a essa técnica com demasiada frequência, porque ela pode causar
excessivo sangramento menstrual.

5. Fixe a mente no solo

Concentrando a mente na área sob a almofada de meditação promovemos


grande estabilidade em nossa meditação.

Desses cinco métodos, fixar a mente no interior das narinas, no umbigo e no


solo são os que trazem mais estabilidade e, normalmente, os que se mostram
mais eficazes. Ao meditar, um princípio geral a ser sempre seguido é: se o
praticante sentir que seu corpo ficou extremamente leve e tiver a sensação de
estar flutuando, deve baixar o foco de atenção. Caso a sensação seja de estar
com o corpo muito pesado, como se estivesse afundando, ele deve elevar o
foco da atenção.

Desembaraçar-se do desejo e dos caminhos nocivos exige tanto visão quanto


sabedoria.
Desembaraçar-se do mundo e descobrir alegria interior é o início da meditação.

Tratado sobre a Perfeição da Grande Sabedoria

Concluindo a meditação

Tão importante quanto o processo de preparação para a meditação é o


processo de saída dela. Se simplesmente pularmos do assento e já
começarmos a fazer tudo apressadamente, sem uma transição adequada,
podemos perder tudo o que foi ganho durante a meditação e até mesmo vir a
adoecer.

Quando entramos em meditação, afastamo-nos do que é grosseiro e agressivo


e nos aproximamos do que é refinado e suave. Ao terminar a prática, fazemos
o movimento oposto – o calmo e tranquilo mundo da luminosa mente interior
precisa gradualmente abrir espaço para as necessidades de movimento físico,
para a fala e para os pensamentos que nos acompanham ao longo do dia.

Se nos levantarmos abruptamente após a meditação e nos lançarmos de volta


ao ritmo do mundo, poderemos sentir dor de cabeça, desenvolver rigidez nas
articulações ou algum outro problema físico. Transições descuidadas da
meditação para a consciência comum também chegam a provocar estresse
emocional ou irritabilidade. Por isso, ao sair do estado meditativo, é importante
atentar para os cinco pontos descritos a seguir:

1. Mude seu foco, trazendo-o para as novas condições


Quando decidir que é o momento de encerrar a meditação, desloque seu foco
de atenção do mundo interior para o exterior. À medida que a mente vai
voltando a perceber as sensações externas, concentre-se no processo de
conclusão da meditação.

2. Expire pela boca algumas vezes

Ao fazer isso, imagine que os últimos venenos presentes no organismo estão


sendo expelidos. Sinta que o corpo inteiro participa do ato de respirar.

3. Movimente a parte superior do corpo

Ainda sentado, comece por movimentar delicadamente o tronco para a frente e


para trás algumas vezes. Depois, faça torções e movimentos com outras partes
do corpo, mas sem forçar. Por fim, massageie suavemente seus ombros,
braços, mãos, pescoço e cabeça.

4. Movimente as pernas

Terminada a etapa anterior, comece a movimentar e esticar as pernas devagar,


de modo a sentir que elas voltam gradativamente a se mostrar flexíveis e
firmes. Atenção: se você fizer a movimentação de modo brusco ou repentino, a
sensação será de rigidez e desconforto.

5. Massageie a pele

Massageie suavemente a pele até sentir um agradável formigamento.

6. Massageie os olhos

Quando sentir que o corpo e as mãos já estiverem começando a ficar


estimulados de novo, massageie delicadamente os olhos até sentir quer a
circulação se normalizou. Quando perceber que os olhos estão confortáveis e
prontos, abra-os.

7. Elimine calor

A meditação costuma elevar a temperatura corporal. Tanto assim que há quem


transpire durante a prática. Portanto, ao sair da meditação, é importante
eliminar o calor ou permitir que ele se estabilize. O corpo pode estar bastante
sensível após a meditação. Sensações diferentes devem ser respeitadas e é
preciso permitir que o organismo recupere naturalmente sua homeostase.

Ao concluir a prática, é bom refletir sobre a razão pela qual meditamos. A


meditação é uma técnica destinada a acalmar nossos pensamentos ilusórios
para que a verdadeira sabedoria possa finalmente florescer. À medida que,
gradativamente, conseguimos perceber as ilusões da mente, também vai
aumentando nossa compreensão da iluminação. Conforme cresce nosso
entendimento, intensifica-se nosso desejo pela iluminação. Esse não é um
desejo de poder ou de habilidades psíquicas, como os desejos típicos
do samsara; mas de aperfeiçoamento da sabedoria e da compaixão. É desejo
de levar mais e maiores benefícios para os outros seres sencientes; desejo de
se tornar tão benevolente quanto um Buda.

A sabedoria que se desenvolve em nós como resultado da meditação deve ser


aplicada à vida no mundo real. Certamente carece de rumo a meditação que
não gere uma sabedoria prática e socialmente útil. Huineng, sexto patriarca do
Budismo Chan, disse:

O que é a meditação que praticamos sentados? Ela consiste em nos afastar de


todas as distrações externas e acalmar a mente. A isso damos o nome de
“sentar”. Observar a natureza interior em perfeita calma é o que chamamos de
“meditação”.

Huineng também disse:

Afastar-se de todas as formas exteriores é chamado “meditação” (dhyana).


Estar perfeitamente interiorizado e sereno é chamado “samádi”.

A meditação não nos leva a um outro mundo, mas revela as mais profundas e
assombrosas dimensões do mundo em que já vivemos. Contemplar
calmamente tais dimensões, colocando-as a serviço da compaixão e da
bondade, constitui a forma correta de rapidamente auferir ganhos na
meditação, assim como na vida.

Na meditação, abandonamos os fogos da impureza pelo frescor do claro


samádi.
A sensação é a da alegria de cair em água fresca e clara após nos termos
queimado ao calor do sol.

Como alcançar o samádi


A melhor forma de chegar ao samádi é aprendê-lo através da meditação sentada. Essa
prática, quando realizada por tempo suficientemente longo, ensina o praticante a entrar em
samádi enquanto caminha – seja por um bosque, seja acompanhando um regato na
montanha ou atravessando uma campina. Logo que essa capacidade é conquistada, torna-
se possível entrar em samádi mesmo numa rua movimentada, no meio de uma cidade
barulhenta. No início, os estados de samádi mostram-se frágeis, mas se fortalecem muito
com a prática.

Para começar, aprende-se a entrar em samádi em um ambiente tranquilo, com poucas


distrações. A luminosidade deve ser suave, mas sem mergulhar o ambiente em total
escuridão, pois isso induziria ao sono. Pode-se ter um altar com a imagem do Buda na sala
de meditação, fazer reverência e acender incenso antes da prática. Deve-se acalmar os
pensamentos ao acender o incenso e focar a atenção no Buda. Não convém que o local
escolhido para meditar seja exposto ao vento nem ao sol; e a sala não deve ser úmida. O
objetivo da meditação é elevar a consciência, e não provocar doenças.

É indicado usar roupas largas e confortáveis para meditar. O estômago não deve estar cheio.
Depois de uma refeição, é melhor esperar no mínimo uma hora antes de meditar. Para evitar
sonolência, a pessoa não deve meditar se estiver cansada.

Em geral, a meditação envolve três áreas: o corpo, a respiração e a mente. Aprendendo a


controlar e tranquilizar esses três elementos do nosso ser, aprendemos a perceber a
impressionante beleza do Buda que já habita em nosso interior.

A grandeza do samádi assemelha-se à grandeza de um rei, porque o samádi tudo governa.


Sutra Mahaprajnaparamita

M EDIT AÇ ÃO Z EN III - N ÍVEIS D A M ED IT AÇ ÃO


A prática formal da meditação vai tendo um efeito gradual na nossa mente. Mesmo que não se
pratique mais nenhuma forma de meditação que a que aqui temos apresentamos, é certo que se
observarão resultados, a mente acalma e começamos a desenvolver um sentido mais apurado de
introspecção. O processo de ficar só a observar a mente e o mundo à nossa volta sem se tentar
interferir num ou no outro é o que se chama em Chan "Iluminação Silenciosa" (shikantaza em
Japonês e zhiguan da zuo em Mandarim).

Á medida que praticamos vamos observando os seguintes níveis na nossa meditação:

1. ficamos alerta para com o que se passa à nossa volta e com a nossa mente - apercebemo-
nos de ruídos quando meditamos, apercebemo-nos das pequenas comichões e
desconfortos, da temperatura da sala em que estamos, da presença de quem está à nossa
volta, do que se passa com o nosso corpo, com a nossa respiração, com os pensamentos
que aparecem e desaparecem quase sem parar.
2. acalmamos a confusão da mente - a hipérbole usada pelos mestres Chan é que o macaco
cobre os olhos e os ouvidos, ou seja, neste estado perdemos o sentido ao que vemos e
ouvimos quando meditamos, a nossa concentração é inteiramente dirigida ao nosso
mundo interior, os objectos e eventos externos têm uma influência reduzida na nossa
meditação
3. voltamos constantemente ao método - os mestres usam o exemplo de um macaco (a
mente) que está amarrado a um poste: não pode ir muito longe e volta sempre para
junto do poste. De forma similar, nesta fase somos capazes de voltar a focar a mente na
observação cada vez que ela se dispersa atrás de um pensamento ou distracção.
4. concentração unificada - nesta fase não há envolvimento com objectos externos e
mesmo os objectos externos perdem expressão. O macaco da nossa mente está calmo
5. consciência da respiração ainda está presente - ainda temos a noção de sermos entes
com identidade e natureza própria mas nesta fase paramos espontaneamente de contar
a respiração
6. unificação dos mundos externos e internos - o corpo e a mente, o mundo interior e o
exterior ainda existem para nós mas já não os consideramos como est
SIM PL IC ID AD E D O C H AN

Viver o CHAN, é viver o dia-a-dia, é viver o momento presente, é viver.


O CHAN não tem regras nem dogmas, não se aprende pelo mensageiro mas sim
pela mensagem. “Se encontrar o buda na estrada, mate-o.”
Viver o CHAN, é prestar atenção a tudo o que fazemos no nosso dia-a-dia de
forma plena e consciente sem quaisquer automatismos, é entregarmo-nos de
corpo e alma a tudo o queemos e a tudo o que somos.
Na era da informação e da multitarefa, o CHAN remete-nos para o contrário,
para o processamento simples de uma tarefa de cada vez com uma atenção
plena, para vivenciar avida um passo de cada vez, saboreando o nosso bem mais
precioso, a Via.
Ao passado não podemos alterar uma vírgula, o futuro não sabemos o que é e
nunca lá chegaremos portanto a nossa existência deve-se centrar no presente, é
no presente que nosrealizamos de forma completa e plena.
Em cada actividade da nossa vida há uma oportunidade para viver o Chan. Nas
palavras de Núvem Vazia: "As nossas actividades diárias têm lugar na Via.
Haverá um lugar onde não se pratique a Via? Um salão de meditação não deve
ser necessário para tal."
É através desta simplicidade de viver que encontramos a paz, a alegria e nos
libertamos dos desejos que nos levam a dukkha.
Não estamos de forma alguma a fugir dos problemas ou da vida, pelo contrário,
estamos a viver cada momento, preocupando-nos com aquilo que de facto é
mais importante. Aquilo que não depende de nós, não vale a nossa preocupação.
Como aquela celebre frase que diz “ se um problema tem solução não vale a
pena nos preocuparmos, e se não tiver solução também não.”
É esta simplicidade e paz que devemos levar para a meditação, para nos
encontrarmos com o nosso centro e partir dai para o encontro com o outro, é a
descoberta do eu liberto do nosso ego. É a nossa forma mais pura e simples de
ser e estar. É a forma de viver o momento, de nos sentirmos vivos em comunhão
com o todo o universo.
É esta a via do CHAN, a via da simplicidade e do momento.
Ser budista CHAN é apenas isto:SER.

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